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estudos da fundação Balanço e perspetivas Coordenador Augusto Mateus

Três décadas de Portugal europeu: balanço e perspetivas

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    Director de Publicaes: Antnio Arajo

    Conhea todos os projectos da Fundao em www.ffms.pt

    Fundao Francisco Manuel dos Santos

    Coordenadora da rea de Desenvolvimento Econmico: Susana Peralta

    Outros estudos

    O cadastro e a propriedade rstica em Portugal [2013]Coordenador: Rodrigo Sarmento de Beires

    25 anos de Portugal europeu [2013]Coordenador: Augusto Mateus

    A economia do futuro: A viso de cidados, empresrios e autarcas [2014] Coordenador: Joo FerroPublicado em duas verses: estudo completo e verso resumida

    MATEUS, Augusto economista, professor do ISEG e presidente da Augusto Mateus eAssociados. Lidera mltiplos estudos de macroeconomia e poltica econmica, deavaliao de programas e polticas pblicas, de competitividade de empresas e regies. Foi secretrio de Estado da Indstria e Ministro da Economia do XIII Governo Constitucional e lanou o plano de regularizao de dvidas ao Estado tambm conhecido como Plano Mateus. Nodomnio da reforma administrativa, coordenou o projeto de investigao que baseou onovo modelo de governao de Lisboa.

    Um estudo da Fundao Francisco Manuel dos Santoswww.ffms.pt

    Este estudo apresenta os resultados do processo de atualizao doprojeto de investigao que a sociedade de consultores Augusto Mateus & Associados realizou para a Fundao Francisco Manuel dosSantos sobre o desenvolvimento de Portugal ao longo dasprimeiras trs dcadas de integrao na Unio Europeia.

    entrada de um novo ciclo de programao estrutural polarizado pelo horizonte de 2020, este novo estudo apresenta uma plataforma organizada de partilha de conceitos, de indicadores e de anlises, colocando disposio da sociedade portuguesa ferramentas decompreenso e reflexo sobre a sua prpria transformao econmica e social, permitindo a formao de leituras diversificadas eplurais sobre as profundas transformaes ocorridas no tempo de uma gerao. A partir da observao da evoluo da economia, da sociedade e dos fundos estruturais, cada leitor assim convidado a traar oseu prprio roteiro de interpretao destas trs dcadas de Portugal Europeu, alimentando e potenciando o processo de reflexo aberta ediversificada por todos os que se interessam pelo futuro da economia eda sociedade portuguesa, bem como pelo futuro da construo europeia.

    Esta obra encontra-se dividida em trs partes. Nos Olhares, observa-se a evoluo da economia e da sociedade desde a adeso Unio Europeia. Nos Retratos, cinquenta indicadores sintetizam odesenvolvimento de Portugal em comparao com a Unio Europeia em trs momentos marcantes da histria recente (1999, 2007 e 2013). Nos Fundos, analisa-se o financiamento estrutural disponibilizado aPortugal, apresentado uma viso completa do quadro de execuo doltimo ciclo de programao estrutural (2007-2013).

    estudos da fundao

    Balano eperspetivas

    Coordenador

    Augusto Mateus

  • Largo Monterroio Mascarenhas, n.1, 8. piso1099 081 LisboaTelf: 21 001 58 [email protected]

    Fundao Francisco Manuel dos Santos e Sociedade de Consultores Augusto Mateus & Associados (AM&A),Julho de 2015

    Ttulo: Trs dcadas de Portugal europeu: balano e perspetivas

    Coordenao global: Augusto MateusCoordenao executiva: Joana Mateus e Nuno FerreiraConsultores: Cristina Silva, Dalila Farinha, Hermano Rodrigues, Nuno Ferreira, Nuno Morim, Paulo Madruga, Sara Salvado, Susana Gouveia, Vitor Escria

    Agradecimentos: Agncia para o Desenvolvimento e Coeso (FEDER, FSE e Fundo de Coeso) e INE

    Reviso do texto: Isabel Branco

    Design: Ins SenaPaginao: Guidesign

    Impresso e acabamentos: Guide Artes Grficas, Lda.

    ISBN: 9789898819093Dep. Legal: 395 088/15

    As opinies expressas nesta edio so da exclusiva responsabilidadedos autores e no vinculam a Fundao Francisco Manuel dos Santos. Osautores desta publicao adotaram o novo Acordo Ortogrfico.A autorizao para reproduo total ou parcial dos contedos desta obra deve ser solicitada aos autores e ao editor.

  • TRS DCADAS DE PORTUGAL EUROPEUBalano e perspetivas

    coordenador

    Augusto Mateus

  • TRS DCADAS DE PORTUGAL EUROPEUBalano e perspetivas

    I. Olhares Evoluo da economia

    e da sociedade desde 1986

    II. Retratos Posicionamento dePortugal

    na UE em 50 indicadores

    III. Fundos Evoluo do financiamento

    estrutural da UE a Portugal

  • NDICE

    Trs dcadas de Portugal europeu: balano e perspetivas

    11 Nota introdutria30 Siglas e abreviaturas32 Nomenclaturas das atividades econmicas34 Referenciais Geogrficos

    I. Olhares

    Economia41 1. Nvel de vida e convergncia47 2. Produtividade53 3. Inflao e convergncia nominal 59 4. Procura interna e procura externa65 5. Consumo e modelos de comrcio 71 6. Investimento77 7. Atividades econmicas83 8. Especializao industrial91 9. Produes primrias99 10. Energia105 11. Comrcio internacional113 12. Viagens e turismo119 13. Transferncias comunitrias125 14. Investimento estrangeiro133 15. Balana externa141 16. Investigao & desenvolvimento einovao147 17. Posicionamento competitivo155 18. Tecido empresarial 161 19. Empresas com capital estrangeiro167 20. Financiamento das empresas175 21. Banca e bolsa183 22. Setor empresarial do Estado189 23. Carga fiscal195 24. Despesa pblica203 25. Dvida pblica e saldo oramental

    Trs dcadas de Portugal europeu: balano e perspetivas

  • Sociedade213 26. Coeso territorial221 27. Cidades e povoamento227 28. Populao 233 29. Emigrao e imigrao241 30. Estrutura etria da populao247 31. Estruturas familiares253 32. Emprego e desemprego259 33. Trabalho e estrutura social265 34. Empreendedorismo271 35. Rendimento e patrimnio277 36. Poupana e endividamento283 37. Repartio do rendimento e pobreza289 38. Desigualdade salarial295 39. Classe mdia301 40. Governao307 41. Proteo social313 42. Nvel de educao321 43. Servios de educao329 44. Sade337 45. Imobilirio e habitao345 46. Conforto e habitao351 47. Ambiente e desenvolvimento sustentvel357 48. Mobilidade e transportes363 49. Lazer e cultura371 50. Sociedade da informao

    II. Retratos

    379 Sobre os retratos389 Qualidade de vida393 Desenvolvimento inteligente396 Desenvolvimento sustentvel: ambiente e coeso territorial399 Desenvolvimento sustentvel: eficincia econmica403 Desenvolvimento sustentvel: estabilidade financeira406 Desenvolvimento sustentvel: relevncia econmica do estado409 Desenvolvimento sustentvel: demografia412 Desenvolvimento inclusivo415 Insero internacional

  • III. Fundos

    421 1. O enquadramento da Poltica de Coeso Europeia easgrandes prioridades nacionais para 2007-2013

    437 2. Aplicao dos fundos estruturais edecoeso relativos aoperodo 2007-2013

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    Nota introdutriaO presente estudo apresenta os resultados do processo de atualizao da investigao sobre os 25 anos de Portugal europeu em resposta renovao e aprofundamento do repto que nos foi lanado inicialmente pela Fundao Francisco Manuel dos Santos, nomeadamente em termos da sua leitura e apropriao por um vasto pblico no especializado.

    Com este estudo, possvel obter, dois anos depois, no s uma anlise detalhada da posio de Portugal no contexto europeu entrada de um novo ciclo de programao estrutural polarizado pelo horizonte de 2020, como uma viso completa do quadro de execuo do ciclo anterior (2007-2013).

    Esta viso completa envolve, necessariamente, aorganizao e sistemati-zao da informao sobre os diversos financiamentos estruturais disponibili-zados a Portugal neste ltimo perodo, identificando a sua afetao por fundos, objetivos, rea de interveno, setor institucional e regio. Esta viso completa envolve, tambm, osseus grandes resultados, limitaes e consequncias no seguimento da respetiva execuo comparando, nomeadamente, este ciclo com os trs que o antecederam desde a plena adeso europeia de Portugal e a situao partida (2007) com a situao chegada (2013).

    O presente estudo deve ser entendido, lido e utilizado em articulao e complementaridade com o estudo divulgado em 2013, muito embora tenha sido construdo para ter um valor prprio e tenha procurado incorporar uma dimenso de aprendizagem com as crticas e sugestes formuladas sobre o primeiro estudo.

    Este novo estudo vem alargar a base de informao e reflexo aberta pelos 25 anos de Portugal europeu, aprofundando-a em alguns temas que ganharam, nestes anos, maior importncia ou nova informao relevante ou melhorada.

    Este estudo tambm no , nem poderia ser, umestudo sobre os trs anos especficos (2011-2013) agora acrescentados, que correspondem a um momento muito particular a execuo de um programa de emergncia dominado pela austeridade e controlado por instituies internacionais e exigiriam outros objetivos, outra metodologia e outros instrumentos de anlise.

    Este novo estudo sobre as Trs dcadas de Portugal europeu agora apre-sentado, mantendo-se numa linha de anlise da evoluo de longo prazo, procura aportar mais informao e aprofundar a anlise sobre a participao de Portugal na construo europeia, no sendo, por isso, uma repetio do estudo inicial.

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    O objetivo central continua a ser o de contribuir para que a sociedade portuguesa tenha sua disposio ferramentas de compreenso e reflexo sobre a sua prpria transformao econmica e social.

    Procura-se favorecer, deste modo, aformao de consensos pragmticos sobre os desafios prioritrios a enfrentar e sobre os caminhos mais eficazes a escolher, valorizando quer a diversidade de experincias e opinies, quer a relevncia do pensamento sobre elementos de informao e conhecimento simultaneamente rigorosos e objetivos, por um lado, eabertos a um enqua-dramento em realidades e referenciais mais globais, aUnio Europeia e os seus 28 Estados-membros neste caso, suscetvel de relativizar os limites dos quadros locais, regionais ou nacionais, por outro lado.

    A Situao

    A sociedade portuguesa enfrenta uma profunda crise que vai muito alm da crise financeira do Estado portugus e que se articula com uma crise especfica da construo e governao europeia. Esta era a afirmao inicial da nota introdutria ao estudo dos 25 anos de Portugal europeu.

    Este novo estudo, agora sobre trs dcadas de Portugal europeu, apre-sentado num momento onde, por um lado, no existe nenhuma dvida nem sobre a dimenso evidente da crise econmica e social que se articulou com a crise financeira, nem sobre a concatenao entre a crise portuguesa e a crise europeia, apesar das suas substanciais diferenas, epor outro lado, sevo acumulando sinais, possibilidades, iluses, esperanas e realidades palpveis que anunciam um tempo de sada da crise ou, pelo menos, deconvalescena.

    um tempo de perceo alargada de que os problemas profundos que enfrentamos no tm uma soluo nem fcil, nem rpida. , tambm, umtempo de mudana, mas onde a mudana se vai afirmando muito mais por necessidade do que por vontade.

    Em Portugal, nocentro da perspetiva de um abandono progressivo das medidas de austeridade, mais rpido ou mais lento, mais seguro ou mais precipitado, ede uma melhoria da situao econmica e social esto os fundos europeus estruturais e de investimento, osseus montantes e a sua aplicao.

    O ciclo de programao estrutural (2014-2020) foi preparado e arranca num quadro de relevantes ameaas, riscos e incertezas sobre o desempenho da economia portuguesa, nomeadamente enquanto membro da rea do euro, esobre o desempenho da prpria Unio Europeia, sobre a sua capacidade refor-madora para alcanar, emtempo til, ummodelo de governao econmica e um modelo social ajustados sua diversidade interna e nova situao mundial, onde a perda de relevncia econmica no pode, nem deve, ser acompanhada de perda de relevncia cientfica, cultural, humanitria e poltica.

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    O ciclo de programao estrutural (2014-2020) foi preparado e arranca, tambm, num quadro de dificuldades sociais apreciveis, nomeadamente em funo do elevado nvel de desemprego j alcanado e das roturas que os custos dos ajustamentos exigidos pelo programa de auxlio econmico e financeiro a Portugal provocaram sobre as condies de vida e as expetativas dos por-tugueses e sobre os mecanismos de consenso e concertao poltica e social.

    O contexto econmico e social deste ciclo de programao estrutural comporta, noplano subjetivo, uma motivao fundamental que corresponde esperana depositada no papel a desempenhar pelos fundos estruturais na recuperao econmica e no processo de sada da presente crise econmica e financeira pela sua relevncia como principal e determinante instrumento de suporte ao investimento pblico e privado.

    O ciclo de programao estrutural que agora arranca para executar o Acordo de Parceria de Portugal com a Unio Europeia para o horizonte 2020 ser muito diferente das experincias vigentes, com alguma continuidade, nos trs primeiros quadros comunitrios de apoio, quer da experincia de crise e ajustamento que marcou o ciclo do QREN (2007-2013).

    Os objetivos e as regras de execuo dos fundos europeus estruturais e de investimento mudaram substancialmente, seja porque passa a existir uma agenda europeia comum com contributos nacionais prprios, emvez de uma coleo de agendas nacionais sujeitas a um enquadramento em grandes orien-taes de poltica muito mais flexvel, seja porque os problemas econmicos e sociais so diferentes, como diferentes so as responsabilidades das instituies responsveis pelos fundos.

    A referncia a uma programao para resultados em articulao com uma maior descentralizao estratgica que condensa as grandes orientaes comunitrias permite entender o alcance do que pode vir a, sendo que a experincia aconselha a fazer notar que, emtermos de fundos estruturais europeus, asmudanas formais so muitas vezes superadas pela inrcia quer da sua organizao e gesto, quer dos agentes econmicos, sociais e institucionais que apresentam, gerem e executam os projetos financiados.

    O ciclo 2014-2020 ser, assim, umtempo necessariamente marcado pela mudana na orientao e na governao dos financiamentos estruturais em Portugal que importa esclarecer para evitar iluses e, sobretudo, erros e des-perdcios desnecessrios.

    A concretizao com sucesso da transio de pas da coeso para pas da moeda nica, que deveria ter moldado a gesto dos ciclos de programao 2000-2006 e 2007-2013, no foi conseguida. Esta era uma concluso do primeiro estudo que sai muito reforada neste segundo estudo, sinalizando em mltiplas dimenses analisadas nos cinquenta olhares sobre a evoluo de Portugal ao

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    longo de trs dcadas e sobre a evoluo da sua posio relativa no contexto europeu, uminsustentvel posicionamento de meio caminho.

    O Portugal Europeu no pode ser uma espcie de hbrido, entre as eco-nomias mais e menos competitivas, entre as sociedades mais e menos avanadas, entre os territrios mais e menos coesos, nem no contexto europeu, nem no contexto nacional. Esta posio insustentvel requer uma trajetria de pro-gresso, emtermos de uma competitividade inseparvel de uma efetiva coeso econmica, social e territorial que, noentanto, spoder ser alcanada com prioridades e objetivos muito mais focalizados e com uma afetao de recursos muito mais concentrada e, portanto, muito mais difcil de consensualizar.

    A economia portuguesa, apesar da sua resilincia em mltiplas atividades e domnios, est confrontada com uma crise econmica e social de dimenses muito profundas onde se destaca a combinao de uma crise de emprego e de uma crise de investimento sem precedentes na histria moderna da sociedade portuguesa.

    A base de partida para este ciclo , assim, amais problemtica de todos os ciclos de fundos estruturais no Portugal Europeu, seja em termos da con-figurao do jogo das necessidades, oportunidades e desafios, seja em termos da capacidade de financiamento do investimento, pblico e privado.

    A principal consequncia destas alteraes relativamente radicais tra-duz-se na evidente necessidade de garantir o efetivo carter estrutural que as intervenes e investimentos viabilizados por este novo ciclo de fundos europeus estruturais tero de assumir, uma vez que se trata, no, uma vez mais, deuma ltima oportunidade, mas da oportunidade do pas vir a poder entender como positivo o facto de, nofuturo, vir a ter acesso a montantes bem menos relevantes, porque isso significaria ter conseguido alcanar resultados suficientes para que a maioria da populao portuguesa vivesse em regies integradas no grupo das regies europeias mais desenvolvidas.

    Este , tambm, omaior risco na execuo dos fundos, uma vez que no faltam, nem faltaro, vozes que gostariam que os fundos assumissem apenas uma dimenso conjuntural, pouco exigente qualitativamente e mais preocupada em fazer chegar os fundos aos seus destinatrios, para lanar meios financeiros sobre uma recuperao econmica que no sendo segura se arriscaria, desse modo, aconfundir-se com uma trajetria condenada ao fracasso de mais do mesmo.

    O Projeto

    O projeto de investigao das Trs dcadas de Portugal europeu que tive a honra de coordenar, foi realizado pela sociedade de consultores Augusto Mateus & Associados para a Fundao Francisco Manuel dos Santos, nasequn-cia e em articulao com o primeiro estudo apresentado em 2013, que, deste

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    modo, permitiu aprofundar e completar o estudo inicial num momento to apropriado, para a sociedade portuguesa, como o do arranque do novo ciclo de fundos estruturais 2014-2020.

    O presente estudo um trabalho coletivo que implicou uma investiga-o pesada (28 anos, 28 pases, 50 temas e muitos mais indicadores). Ele s foi possvel pelo envolvimento de uma vasta equipa de especialistas e pela competncia dedicada dos que, naequipa, assumiram a coordenao executiva do projeto e garantiram as funes, nem sempre devidamente valorizadas, degesto da informao estatstica, deelaborao de grficos e infografias e de organizao da edio global do estudo.

    Antes de proceder apresentao dos resultados deste projeto importa situar quer os principais pilares da abordagem do estudo inicial, que moldam, obviamente, ainvestigao associada atualizao dos respetivos resultados, quer os objetivos definidos para o presente estudo de atualizao.

    A abordagem do estudo 25 anos de Portugal europeu

    O projeto de investigao Os Fundos Estruturais e o Desenvolvimento Portugus procurou permitir uma compreenso das transformaes da realidade nacional ao longo dos primeiros 25 anos de plena integrao na Unio Europeia e uma contextualizao do contributo dos fundos estruturais luz desta viso objetiva sobre os resultados alcanados por Portugal entre 1986 e 2010.

    A investigao permitiu produzir uma anlise rigorosa da evoluo e da transformao das realidades portuguesas, suportada por um esforo exigente de sistematizao, compatibilizao e clarificao de fontes estatsticas e de informao.

    O projeto focou-se na produo de trs produtos ou instrumentos de aprendizagem que, sobre um mesmo referencial objetivo de observao e medida, permitem formar leituras diversificadas e plurais sobre os caminhos do passado recente, dopresente e do futuro da sociedade portuguesa:

    Um conjunto de olhares sobre a evoluo da economia e da sociedade entre 1986 e 2010, emtrs grandes planos de comparao territorial: nacional, regional e no contexto europeu; Um conjunto de retratos sobre a situao do pas na situao de partida (1986), nasituao de chegada (2010) e na viragem para o sculo xxi(1999), que tambm configura a viragem das polticas de coeso escala comunitria; Um conjunto de resultados sobre o desenvolvimento de Portugal, que enquadra a leitura do papel dos fundos estruturais na evoluo ocorrida nos ltimos 25 anos.

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    A metodologia adotada visou garantir uma articulao coerente entre o carcter limitado e focalizado do papel dos fundos estruturais e o carcter muito mais alargado e abrangente do desenvolvimento da sociedade portuguesa. Osfun-dos estruturais constituem instrumentos de poltica pblica, onde se combinam a dimenso supranacional, europeia, ea dimenso nacional, no se lhes devendo atribuir uma importncia, nem maior, nem menor, daque efetivamente assumem.

    A metodologia adotada apoiou-se, assim, numa combinao particular entre articulaes de natureza mais econmica (configurando determinados regimes de crescimento) e articulaes de natureza mais social (configurando determinados modelos sociais), num contexto mais vasto onde se interpe-netram e desenvolvem formas institucionais especficas de estruturao da democracia e do mercado.

    A dimenso institucional, noplano analtico, configura-se entre grandes organizaes estruturalmente diversificadas, isto , asfamlias, asempresas, asadministraes pblicas e os mercados.

    A metodologia adotada visou ainda alcanar, nas suas escolhas e opes, umduplo objetivo de equilbrio:

    Um, relativo ao papel dos fundos estruturais, no lhes pedindo, nasua contribuio para o desenvolvimento, nem de menos, nem de mais; Outro, relativo coerncia da combinao dos domnios analticos, no tomando partido a priori, nem por dinmicas top-down ou bottom-up, nem por dinmicas de liderana poltica ou econmica, naconfigurao dos prprios processos de transformao em anlise.

    A natureza do estudo 25 anos de Portugal europeu conferiu-lhe a con-figurao original de uma ferramenta aberta de reflexo, isto , atribuindo aos seus utilizadores a responsabilidade e o risco de produzirem, ouno, assuas prprias leituras e concluses com os seus prprios desequilbrios e de pri-vilegiarem, ouno, oseu prprio posicionamento na vida social, poltica e econmica do pas nesse processo.

    A atualizao do estudo 25 anos de Portugal europeu

    O projeto Portugal Europeu veio permitir uma compreenso das transforma-es ao longo dos primeiros 25 anos de plena integrao na Unio Europeia, recolhendo, tratando e organizando informao muito dispersa sobre a eco-nomia, asociedade e os fundos estruturais para o perodo entre 1986 e 2010.

    O pedido de assistncia financeira internacional do governo portugus, apar dos pedidos similares da Irlanda e da Grcia ou da assistncia especfica ao setor financeiro na Espanha, aadeso da Crocia Unio Europeia e a

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    concluso do Quadro de Referncia Estratgico Nacional (QREN 2007-2013) so marcos que justificam a atualizao deste projeto ao perodo 2011/2013 e agora no contexto do alargamento da Unio Europeia (UE) a 28 Estados--membros, ampliando a biblioteca sobre o Portugal Europeu.

    A atualizao do estudo relativo aos 25 anos de Portugal europeu permitiu incorporar os anos de 2011 a 2013 e, desse modo, completar o estudo inicial de forma a cobrir todos os ciclos de programao dos fundos estruturais desde a plena adeso europeia de Portugal (1989-1993, 1994-1999, 2000-2006 e 2007-2013).

    O trabalho de base deste processo de atualizao correspondeu produ-o de 50 novos olhares sobre a evoluo da economia e da sociedade portu-guesa desde 1986, agora ao longo de 28 anos, procurando manter uma estreita articulao e continuidade com o estudo inicial, nomeadamente atravs da utilizao da mesma estrutura nas dimenses de anlise.

    A produo dos novos olhares procurou, emprimeiro lugar alargar a anlise, sempre que possvel, anovos indicadores ou a quantificaes mais rigorosas de indicadores j utilizados. Areviso completa da base de informao para utilizar o novo referencial da UE28, no sendo complexa, foi trabalhosa.

    Os olhares so apresentados com base numa organizao em dois grandes grupos, como no estudo inicial:

    O primeiro grupo cobre 25 olhares que acompanham transformaes de ndole mais econmica, observando o nvel de vida e a convergncia real, aprodutividade, ainflao e a convergncia nominal, aprocura interna e a procura externa, oconsumo e modelos de comrcio, oinves-timento, asatividades econmicas, aespecializao industrial, asprodu-es primrias, aenergia, ocomrcio internacional, asviagens e turismo, astransferncias comunitrias, oinvestimento estrangeiro, abalana externa, aI&D e a inovao, oposicionamento competitivo, otecido empresarial, asempresas com capital estrangeiro, ofinanciamento das empresas, abanca e a bolsa, osetor empresarial do Estado, acarga fiscal, adespesa pblica, advida pblica e o saldo oramental; O segundo grupo cobre 25 olhares que acompanham transformaes de ndole tambm social, observando a coeso territorial, ascidades e o povoamento, apopulao, aemigrao e imigrao, aestrutura etria da populao, asestruturas familiares, oemprego e o desemprego, otrabalho e a estrutura social, oempreendedorismo, orendimento e patrimnio, apoupana e o endividamento, arepartio do rendimento e pobreza, adesigualdade salarial, aclasse mdia, agovernao, aproteo social, onvel e os servios de educao, asade, oimobilirio e habitao e o conforto da habitao, oambiente e o desenvolvimento sustentvel, amobilidade e transportes, olazer e a cultura e a sociedade da informao.

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    A produo dos novos olhares procurou, emsegundo lugar, focalizar a anlise num nmero mais limitado de quadros e grficos, minimizando a dimenso do final do estudo e estabelecendo um mesmo fio condutor para a leitura dos olhares.

    Com o presente estudo de atualizao procurou-se, ainda, que a atualiza-o e o aprofundamento em relao ao estudo original possam vir a servir de suporte a uma intensificao dos esforos de divulgao do estudo original, que a Fundao tm vindo a promover, renovando e refrescando a sua atualidade.

    O Contedo da Investigao e os Resultados

    A expresso Portugal Europeu cobre uma realidade e um processo que do conta de um vasto conjunto de transformaes experimentadas pela sociedade e pela economia portuguesa no contexto da sua plena integrao na constru-o europeia, onde se articulam momentos (anos) de maior continuidade e momentos (anos) de mudana mais significativa, como os relativos moeda nica ou ao alargamento da UE15 para a UE25.

    A investigao subjacente atualizao dos 25 anos de Portugal europeu envolveu a construo de uma nova base de dados estatstica, facilitada pelas atuais condies de organizao e divulgao da informao estatstica pelo Eurostat e pelas diferentes autoridades estatsticas nacionais.

    Este novo estudo utiliza assim, para alm do referencial atualizado a 28 pases, com a incluso da Crocia, osdados estatsticos definitivos relativos ao perodo 2007-2013, quer escala europeia, quer escala nacional, permitindo afinar e consolidar alguns dos olhares e retratos anteriormente produzidos.

    As polticas de coeso e convergncia envolvem ciclos de programao de mdio prazo que justificam a utilizao do respetivo calendrio para a organi-zao das reflexes de mais longo prazo. Apassagem do horizonte dos 25 anos para um horizonte de 28 anos permitiu, assim, incorporar completamente o quarto ciclo de programao estrutural (2007-2013).

    Com efeito, em2014 e ao longo de 2015 tm vindo a ser concludos e encerrados os projetos que deram vida ao QREN 2007-2013 permitindo o acesso a informao muito relevante relativa execuo fsica e financeira dos projetos e aos resultados concretos obtidos.

    A investigao desenvolvida passou, noterreno da anlise da execuo dos fundos estruturais em Portugal, por revisitar os relatrios de execuo dos fundos estruturais, bem como os estudos de avaliao intercalar entretanto pro-duzidos, deforma a permitir a revisitao do estudo anterior, nacomponente relativa aos fundos estruturais, para garantir que a sua atualizao permita obter uma viso de conjunto do ciclo 2007-2013 suficientemente completa.

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    O acesso informao necessria envolveu a colaborao das entidades gestoras na medida em que uma parte relevante da informao no se encontra publicada. Esta colaborao sendo efetiva, foi mais desequilibrada quando comparada com o estudo inicial, oque pode ser explicado pela menor dispo-nibilidade dos recursos mais qualificados ainda fortemente absorvidos pela preparao e arranque do ciclo 2014-2020.

    A investigao desenvolvida permitiu, neste quadro, alcanar, para alm da simples atualizao de informao, umconjunto de melhorias ao nvel da anlise onde merecem especial destaque as seguintes:

    Acomodou-se o mais recente alargamento da Unio Europeia, substi-tuindo o referencial da UE27 pelo referencial da UE28.Este processo conduziu, tambm, adesenvolver a utilizao conjunta, sempre que existissem ganhos analticos significativos, dosreferenciais da UE28 e da UE15, favorecendo desse modo a perceo das alteraes enfrentadas pelo Portugal Europeu no seu processo de convergncia antes e depois do alargamento.Utilizou-se, tambm, nesse mesmo sentido, ummais extenso recurso com-parao de Portugal com os pases do alargamento, pases onde se centram atualmente as grandes preocupaes em matria de coeso, embora alguns j tenham alcanado um nvel de vida, expresso em paridades de poder de compra, superior ao da Grcia e de Portugal, ecom os pases iniciais da coeso (Grcia, Espanha e Irlanda), que com Portugal concentraram as preocupaes em matria de coeso no referencial da UE15 que acompanhou toda a primeira fase do percurso de Portugal no seio da Unio Europeia; Reviram-se e validaram-se as estimativas utilizadas no estudo original, relativas aos anos mais recentes, nomeadamente nos pases com sistemas estatsticos menos desenvolvidos, que agora puderam ser substitudas por fontes estatsticas estabilizadas, processo que foi alargado introduo de alguns novos indicadores agora disponveis; Produziu-se, com o presente estudo, uminstrumento com valor prprio para alm da simples atualizao, ouseja, possvel l-lo e utiliz-lo autonomamente sem ter de recorrer ao estudo inicial.Os leitores que no tenham tido contacto com o estudo inicial podem comear pelo mais recente, recomendando-se, noentanto, que o visitem para beneficiar completamente de todas as informaes e anlises dispo-nibilizadas. Domesmo modo se recomenda, aos leitores que j tiveram contacto com o estudo inicial, que confrontem, interativamente, osdois relatrios para otimizarem a sua apropriao em funo dos seus inte-resses mais gerais ou mais especficos.

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    Procurou-se, assim, evitar a possibilidade do surgimento de qualquer tipo de confuso entre uma atualizao substancial e com novos contedos e uma mera repetio; Reorganizou-se a estrutura de exposio dos olhares, ofilme sobre a evoluo da economia e da sociedade desde a adeso UE.O alargamento do horizonte at 2013 foi efetuado com o cuidado de continuar a fornecer uma viso de longo prazo articulada com a sinali-zao das alteraes de ritmo e de sentido nas transformaes operadas ao nvel dos diferentes domnios temticos de observao. Procurou-se, deste modo, evitar a tentao de focalizar a novidade em 2011-2013; Redefiniu-se o modelo do texto e dos grficos dos 50 temas observados atravs dos olhares num sentido de maior uniformidade e menor dimen-so de pginas.Os olhares passaram, neste novo desenho, aobedecer a uma estrutura fixa onde trs grficos do mesmo tipo, que ilustram o percurso de Portugal entre 1986 e 2013 e a posio de Portugal no contexto da Unio Europeia, so precedidos de um texto analtico e conclusivo.Os olhares so, agora, completados com mais duas a trs pginas de grfi-cos que permitem aprofundar uma questo especfica de maior relevncia e/ou utilidade, que fundamentam a anlise includa no texto inicial; Produziram-se dois novos retratos relativos ao posicionamento de Portugal nos referenciais europeus em 50 indicadores de desenvolvi-mento selecionados para os anos de 2007 e 2013 (no estudo anterior foram produzidos retratos para 1986, 1999 e 2010) e revisitou-se o retrato de 1999 para permitir acomodar uma comparao da evoluo do referencial mdio europeu antes (UE15) e depois (UE28) do alargamento.A lgica desta organizao corresponde a traar um retrato slido sobre a situao do pas na viragem das polticas de coeso escala comunitria e no momento chave da alterao da poltica cambial (1999), noincio do ltimo ciclo de programao, depois do grande alargamento (2007) e chegada destes 28 anos de anlise (2013); Reorganizou-se completamente a estrutura de apresentao dos retratos com base em duas alteraes principais.

    A primeira alterao correspondeu a uma soluo para algumas dificul-dades de leitura, noprimeiro estudo, sobretudo quando os indicadores podem ter valores positivos e negativos ou quando o menos indicador de melhor.

    A forma adotada agora permite visualizar a posio de todos os Estados-membros, salientando a posio de Portugal, doreferencial da Unio Europeia

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    (UE28), edos pases com o valor mais elevado e o valor mais baixo (no se consideram aqui algumas situaes atpicas).

    A segunda alterao corresponde produo de uma viso de conjunto, integrando os diferentes indicadores nove indicadores sintticos cobrindo outras tantas dimenses relativas qualidade de vida (1), insero internacio-nal (2), aodesenvolvimento inteligente (3), aodesenvolvimento inclusivo (4), aodesenvolvimento sustentvel ambiente e coeso territorial (5), aodesen-volvimento sustentvel demografia (6), aodesenvolvimento sustentvel eficincia econmica (7), aodesenvolvimento sustentvel governao pblica (8) e ao desenvolvimento sustentvel estabilidade financeira (9), para propiciar uma viso de conjunto mais rica e de leitura mais facilitada.

    Os resultados obtidos esto em linha, como no podia deixar de ser, com os grandes resultados evidenciados pelo estudo inicial, sendo apresentados no corpo do relatrio na sequncia olhares, retratos e fundos.

    Os Grandes Temas de Reflexo e Ao

    O presente estudo sobre trs dcadas de Portugal europeu permite aos autores fornecer uma viso de conjunto de toda a nova informao disponibilizada e um confronto com os roteiros elaborados para o estudo inicial.

    O objetivo continuou a ser, como vimos, oda produo de uma plataforma organizada de partilha de conceitos, deindicadores e de anlises que permitam alimentar e potenciar processo de reflexo aberta e diversificada por todos os que se interessam pelo futuro da economia e da sociedade portuguesa, bem como pelo futuro da construo europeia.

    Os roteiros de interpretao e influncia nesse futuro devero ser cons-trudos a partir da plataforma de informao e conhecimento agora disponibi-lizada. Sinalizamos aqui, aterminar, dois temas de reflexo e ao que surgem, naturalmente, doprprio mbito e natureza da investigao desenvolvida.

    Trata-se, por um lado, daplena compreenso do contexto de execuo do ciclo de fundos europeus estruturais e de investimento no horizonte 2020, eda sua significativa diferenciao em relao ao ciclo anterior que agora est a terminar.

    Trata-se, por outro lado, daplena compreenso dos desafios do cres-cimento econmico depois da crise onde, para os autores, emPortugal e na Europa, setrata da construo de um novo paradigma econmico, mas tambm social, ambiental e institucional, eno de um regresso ao passado ou de uma simples retoma econmica.

    As reflexes que a seguir se sistematizam correspondem a situar a utilizao desse estudo no seu quadro temporal o mdio e o longo prazo quer em termos de anlise, quer em termos de utilidade a sustentabilidade de um futuro melhor.

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    Os fundos estruturais no horizonte 2020

    O QREN 2007-2013 foi preparado num contexto econmico marcado, escala mundial, por uma perspetiva de manuteno de um ritmo sustentado de cresci-mento econmico impulsionado pelo desenvolvimento das grandes economias emergentes. escala europeia, ootimismo baseava-se numa perspetiva de siner-gias de crescimento e criao de emprego, entre um dinamismo quantitativo, ala-vancado pela consolidao do mercado interno e pelo alargamento s economias emergentes da Europa central e oriental, eum dinamismo qualitativo associado a uma mais pragmtica implementao da Estratgia de Lisboa Renovada.

    escala nacional, ootimismo prevalecente era alimentado por uma perspetiva de inverso da tendncia de divergncia econmica, verificada no ciclo de programao estrutural de 2000-2006.

    A preparao do QREN 2007-2013 foi, assim, muito marcada pela influn-cia de um ciclo favorvel ao crescimento econmico, com a economia mundial a manter ritmos bem dinmicos situados em torno dos 5% no perodo 2004-2006, alimentado por uma crescente interpenetrao dos fluxos de investimento e comrcio internacional, com o comrcio mundial a crescer 7,4% em 2005 e 9,2% em 2006.

    Este quadro global favorvel ao crescimento econmico e ao investimento apenas foi mitigado pelos sinais, j visveis, dedificuldade associados, noplano europeu, s novas realidades de diversidade interna criadas pelo alargamento e aos novos desafios colocados pela acelerao da globalizao em articulao com um desempenho modesto em matria de crescimento e emprego.

    No plano nacional, essa mitigao era associada permanncia de impor-tantes debilidades competitivas, num contexto de concorrncia acrescida e moeda nica que se traduziam numa tendncia persistente para um relevante desequilbrio externo e para um crescimento econmico diminudo.

    O contexto econmico ento prevalecente comportava uma viso sobre o futuro cujo otimismo se centrava mais na permanncia de condies favorveis de financiamento escala global induzidas pelo crescimento da poupana nas economias emergentes, doque na expectativa de alcanar um elevado ritmo de crescimento econmico.

    As perspetivas prevalecentes altura orientavam-se mais para um cenrio de crescimento moderado onde os investimentos de reestruturao e acelerao competitiva tenderiam a prevalecer sem depararem com especiais dificuldades na obteno dos capitais alheios necessrios, emsintonia, alis, com os objetivos da promoo da economia baseada no conhecimento, dainternacionalizao na produo e distribuio de bens e servios transacionveis e da qualificao do tecido empresarial, emparticular das PME.

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    O contexto de execuo do QREN 2007-2013 foi-se alterando significati-vamente ao longo da sua vigncia, primeiro com a passagem para um cenrio de reforo da probabilidade de crescimento diminudo e, depois, com a verificao de um cenrio de crise estrutural e de recesso prolongada, colocando novos desafios sob o impulso de transformaes substanciais e profundas onde se destacam:

    As alteraes verificadas na evoluo da rendibilidade das empresas e das expetativas dos investidores, bem como na evoluo das condies de financiamento das empresas junto do sistema financeiro (custo e acesso), com reflexos muito importantes na alimentao, influncia, atratividade e procura dos instrumentos de poltica pblica; As oscilaes nos fluxos de investimento em ritmo e orientao setorial com especial incidncia nas indstrias envolvidas em cadeias de abasteci-mento mais globalizadas, onde a consolidao do alargamento da Unio Europeia produziu um relevante desvio de investimento da Europa do sul para a Europa central e oriental; As progressivas dificuldades de financiamento pblico primeiro com o incio, ainda tmido, daconsolidao oramental e, depois, com o fecho do acesso aos mercados financeiros para a emisso de dvida soberana, difi-cultando a disponibilizao da contrapartida nacional pblica e gerando grandes dificuldades financeiras na gesto financeira de universidades e outras instituies de suporte atividade empresarial.

    As perturbaes despoletadas no setor financeiro e no ncleo duro do mundo mais industrializado generalizam-se a todas as atividades econmicas e a todas as economias, numa conjuntura dominada por uma turbulncia sem precedentes na experincia da segunda metade do sculo xx, consumando uma profunda crise econmica e financeira de natureza global.

    A forte queda do comrcio mundial, naviragem para 2008, prolongada no incio de 2009, que arrastou a prpria economia mundial para um quadro recessivo, veio reforar drasticamente a presso nos mercados de trabalho fazendo aumentar rapidamente os nveis de desemprego. Aseconomias mais desenvolvidas conheceram, assim, uma recesso sem precedentes que marcou o final de 2008 e o primeiro semestre de 2009.

    O contexto econmico da preparao do ciclo de programao estrutural 2014-2020 situou-se partida, como um contexto de superao (ps) de duas experincias que importava ultrapassar com base num alargado processo de aprendizagem coletiva:

    Uma primeira, onde se manifestaram intensamente vulnerabilidades competitivas da economia portuguesa potenciadas pelos incentivos pbli-cos satisfao de uma procura interna alavancada por um endividamento

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    generalizado, alimentando a conjugao de elevados dfices da balana externa e de dfices excessivos nas contas pblicas; Uma segunda, associada execuo do programa de auxlio econmico e financeiro a Portugal por parte do FMI, doBCE e da Unio Europeia que garantiu um financiamento de mdio prazo indexado ao cumprimento de medidas de ajustamento e reforma muito exigentes, nomeadamente em matria de consolidao oramental, que se traduziram num agravamento das tendncias recessivas na produo, noconsumo e no investimento e, sobretudo, num forte agravamento do desemprego e numa intensificao da pobreza.

    Estas perturbaes econmicas, sociais e polticas, combinando de forma muito particular, nasua natureza e profundidade, complexidade e incerteza, ajudam a explicar porque prevaleceu, muitas vezes, uma lgica de expetativas adaptativas e reativas na interpretao da dimenso conjuntural e estrutural dessas mesmas perturbaes e uma insuficincia dos mecanismos de coordenao das medidas de consolidao oramental e de promoo do crescimento econmico.

    O contexto econmico da programao estrutural 2014-20 corresponde, emprimeiro lugar, escala europeia e nacional, auma adaptao s altera-es de natureza estrutural que vieram mudar de forma muito significativa as condies de concorrncia no mercado interno europeu e nos mercados internacionais e, desse modo, destabilizar modelos de negcio e fatores com-petitivos, onde importa destacar:

    A implantao de um novo motor do crescimento econmico escala mundial, polarizado pelas grandes economias emergentes e pela grande regio do Pacfico, que vai cavando um fosso crescente de dinamismo em relao ao mundo industrializado e grande regio do Atlntico Norte, noquadro mais geral da fragmentao das cadeias de produo e distribuio de bens e servios transacionveis nos mercados globaliza-dos, que vai gerando novos desequilbrios entre as lgicas da produo e do consumo e novas assimetrias que questionam a coeso econmica e social nas sociedades industriais e ps-industriais; O progressivo esgotamento da possibilidade de uma utilizao conti-nuada dos recursos naturais margem de um quadro de desenvolvimento sustentvel, pressionando os oramentos pblicos com responsabilidades de mdio e longo prazo associadas promoo de novos bens e servios pblicos ambientais, muitos deles de natureza global, e correo e miti-gao dos custos ambientais do crescimento econmico do passado recente; A consolidao do fenmeno de envelhecimento da populao nas sociedades mais industrializadas, gerando uma demografia muito mais

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    pesada para os oramentos pblicos (reformas, despesas de sade), muito menos favorvel ao crescimento econmico e favorecendo novos e diver-sificados fluxos migratrios; A afirmao das cidades como elemento estruturante dominante dos modos de produo e de consumo e dos prprios estilos de vida, emarti-culao com a consolidao dos servios como grande setor empregador e com a difuso da utilizao das tecnologias de informao numa era de comunicao de massa global de notcias, contedos e produtos, gera-dora de novos movimentos de uniformizao e diferenciao, que se vai expandindo territorialmente escala planetria.

    As orientaes comunitrias para o horizonte 2020 postulam a obteno de resultados centrados na qualidade do crescimento econmico (inteligente, inclusivo e sustentvel) mas surgem demasiado genricas e ambguas em termos de ajustamento estrutural s tendncias pesadas de transformao das economias, dosEstados e das sociedades que se desenvolvem escala global do planeta.

    Em Portugal, estas orientaes sero bastante teis se vierem a propiciar avanos em matria de territorializao das estratgias, concentrao de recursos, prosseguimento de agendas temticas focalizadas e programao para resultados.

    O contexto econmico da programao estrutural 2014-2020 corresponde, emsegundo lugar, escala nacional, auma imperiosa necessidade de relana-mento de uma trajetria de convergncia efetiva da economia nacional e das suas regies, naUnio Europeia alargada.

    Este relanamento s ser possvel, noentanto, com uma nova viso sobre as relaes entre coeso e competitividade, por um lado, eentre competitivi-dade e internacionalizao, por outro lado, isto , no com base numa vontade reforada, mas com base em melhores estratgias regionais e temticas e maior coerncia nacional e europeia.

    A preparao do QREN 2007-2013 foi inspirada, emboa medida, pela procura de um novo equilbrio global entre competitividade e coeso suscetvel de ser implementado de diferentes formas ao nvel das regies, tanto mais que, pela primeira vez, opas conhecia vrias formas de insero na programao estrutural (regies de convergncia, regies em transio e regio desenvolvida).

    A execuo do Acordo de Parceria 2014-2020 dever ser inspirada pela procura de novos crculos virtuosos entre competitividade e coeso, nomea-damente com intervenes de valorizao competitiva de infraestruturas e outros investimentos polarizados pela lgica da coeso em anteriores ciclos de programao, por um lado, ecom intervenes de reestruturao compe-titiva de atividades e empresas indutoras de resultados palpveis em matria

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    de eficincia, produtividade e reduo do desemprego melhorando duradou-ramente a coeso econmica, por outro.

    O sucesso na execuo do ciclo de fundos estruturais 2014-2020 depen-der, emboa medida, daprocura de focos muito mais especficos e muito menos genricos na promoo da competitividade.

    A diferenciao regional das estratgias poder desempenhar um impor-tante papel nesta focalizao das intervenes nas prioridades com maior potencial de inovao e renovao do paradigma competitivo da economia portuguesa, mas ser, sem dvida, aacelerao da integrao europeia e da participao na globalizao que representar o grande desafio a vencer no relanamento da convergncia real da economia portuguesa.

    Os desafios da execuo do ciclo de fundos estruturais 2014-2020 so afinal os que nos confrontam duramente com a eficincia e a organizao.

    No basta ter uma boa ideia geral, no basta estar, muitas vezes, dolado certo da resposta questo sobre o que devemos fazer (do the right thing), como quando escolhemos prioridades como educao, sade ou cultura, preciso estar do lado certo dos procedimentos que do vida aos nossos sonhos e objetivos, ganhando liberdade de escolha e materializando resultados com base na eficincia acrescida pelas competncias e pelo nvel organizacional (do the things right).

    O crescimento depois da crise

    A economia portuguesa encontra-se a meio de uma transio relativamente longa para um novo paradigma competitivo imposto pela concorrncia acres-cida nascida da acelerao da globalizao, pelo alargamento da Unio Europeia e pelo regime macroeconmico da Unio Econmica e Monetria, que importa concluir com sucesso e o mais rapidamente possvel.

    Esta transio marcada, decisivamente, por trs reas crticas de ao onde se ganha, ouse perde, osucesso na superao da crise estrutural de competitividade da economia portuguesa.

    Em primeiro lugar, trata-se de priorizar o aumento cumulativo da pro-dutividade-valor (primado do melhor sobre o mais) reconhecendo que as principais dificuldades competitivas da economia portuguesa no correspon-dem tanto a problemas de produtividade fsica nas operaes de transformao e produo (eficincia) mas, sobretudo, aproblemas de posicionamento nas atividades com maior relevncia nas cadeias de valor de satisfao de procuras de empresas e de consumidores em mercados concorrenciais (eficcia).

    Em segundo lugar, trata-se de priorizar o desenvolvimento de novos fatores competitivos no terreno da competitividade no-custo (combinao especfica de processos de inovao e de diferenciao indutores de maior valor

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    acrescentado) reconhecendo que importa sistematizar organicamente um vasto conjunto de iniciativas colaborativas de adoo, adaptao e desenvolvimento tecnolgico nas atividades que permitem mobilizar conhecimento, cultura e criatividade para produzir bens e servios transacionveis.

    Em terceiro lugar, trata-se de garantir uma muito mais ativa participao na globalizao, reequilibrando o balano de ameaas e oportunidades (afe-tao prioritria de recursos s atividades de bens e servios transacionveis com uma reduo do contedo importado das exportaes e um aumento da capacidade nacional de satisfao da procura interna) reconhecendo que a reorientao da economia portuguesa para fora, mas a partir de dentro, exige uma mudana global na afetao dos recursos.

    A promoo da competitividade e da internacionalizao da economia portu-guesa comporta, neste quadro, quatro elementos distintivos em relao aos ante-riores ciclos de utilizao de fundos estruturais e de investimento comunitrios.

    Em primeiro lugar, otempo do horizonte 2020 surge como um tempo de reestruturao e mudana e no como um tempo de adaptao e modernizao, isto , umtempo em que as polticas pblicas precisam de ser formuladas de forma mais aberta e experimental priorizando, com clareza, asmotivaes de transfor-mao estrutural sobre as motivaes de adeso ao tecido econmico vigente.

    Em segundo lugar, otempo do horizonte 2020 o tempo dominado pela complexidade e pela diferenciao, isto , umtempo onde no suficiente produzir escolhas simplificadas sobre o sentido das iniciativas e/ou sobre os domnios de aplicao dos incentivos, uma vez que importa, sobretudo, produzir escolhas sobre o foco principal e predominante das aes e sobre os mecanismos de promoo da resilincia e/ou de equilbrios dinmicos nos eixos de mudana mais relevantes.

    Em terceiro lugar, oponto de partida deste novo ciclo surge marcado por uma situao econmica e social de retrocesso em relao aos nveis de emprego, crescimento, investimento alcanados, pela economia portuguesa, durante o perodo em que efetivamente convergiu no espao da Unio Europeia, isto , uma situao onde importa construir uma estratgia de recuperao.

    Em quarto lugar, adimenso assumida pelo desemprego resulta de uma combinao especialmente adversa de formas de desemprego keynesiano (insuficincia da procura agregada) e de desemprego clssico (insuficincia da rendibilidade dos projetos e da confiana dos investidores).

    O reconhecimento dos contornos concretos e especficos da crise de competitividade da economia portuguesa, noquadro mais geral das dificul-dades experimentadas pelas economias europeias numa economia mundial onde os ritmos de crescimento econmico se tornaram muito desiguais e as economias emergentes conduzem o dinamismo econmico, constitui o guia

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    para a organizao de esforos eficazes na promoo competitividade e da internacionalizao.

    O quadro prospetivo aberto pelo diagnstico para a execuo do ciclo de programao 2014-2020 corresponde, assim, aum quadro de lenta recuperao onde as condies de financiamento da economia portuguesa podem melho-rar, emfuno do regresso aos mercados e da nova disponibilidade de fundos comunitrios e instrumentos financeiros de apoio ao investimento, depois de um ajustamento de austeridade que deixar seguramente custos econmicos e sociais muito acima do previsto, emespecial em matria de desemprego e resilincia do tecido empresarial.

    A reinveno do crescimento econmico, arecuperao lenta, mas segura depois da crise, noquadro das oportunidades abertas pela execuo dos fundos europeus estruturais e de investimento, obriga a eleger, emmatria de com-petitividade e internacionalizao, quatro direes principais.

    Em primeiro lugar situa-se a produo de um novo equilbrio entre uma agenda temtica e vrias agendas estratgicas territoriais diferenciadas, com-binando o contributo da agenda temtica para a sustentao da resposta ao como? e o contributo das agendas estratgicas territoriais para a sustentao das respostas ao onde?.

    As trs direes principais deste novo equilbrio envolvem: A valorizao de uma agenda temtica integradora dos esforos nacio-nais de promoo da competitividade, sobre a pulverizao de mltiplas procuras setoriais e regionais; A valorizao de agendas territoriais mais responsveis e autnomas e, tambm, mais diversas nos caminhos e objetivos escolhidos, onde a pro-moo da competitividade se articula com os objetivos de coeso social e de sustentabilidade para garantir a convergncia; A reinveno da configurao dos programas operacionais regionais que devem passar a desempenhar uma funo insubstituvel de charneira entre tema e territrio.

    Em segundo lugar surge a produo de uma nova orientao prioritria dos instrumentos de poltica para os processos competitivos, para garantir maior eficcia na obteno de resultados e evitar o surgimento de paradoxos relativos debilidade do retorno estrutural dos investimentos induzidos.

    Este novo equilbrio deve corresponder a um claro movimento de secunda-rizao dos elementos de orientao para as condies potenciais de competiti-vidade (a envolvente, asinfraestruturas e os equipamentos) que tm prevalecido na gesto dos fundos estruturais, afavor de uma clara emergncia e afirmao dos elementos de orientao que permitam consagrar definitivamente a eleio

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    dos resultados na melhoria sustentada da produtividade geradora de riqueza como o grande objetivo em matria de competitividade.

    Em terceiro lugar importa valorizar as empresas como protagonistas dos processos de melhoria da produtividade e da competitividade com consequn-cias significativas, emtermos oramentais, noaumento dos recursos disponibi-lizados para as iniciativas e aes com envolvimento direto das empresas, num quadro de redistribuio favorvel aos projetos cooperativos e desfavorvel aos projetos estritamente individuais.

    No se trata apenas de reconhecer que so as empresas, eno os projetos, que concorrem nos mercados. Trata-se de reconhecer que a maior ou menor qualidade, orgnica e estratgica, dasempresas portadoras dos projetos uma das principais condies crticas de sucesso dos investimentos e aes incentivados.

    Em quarto, eltimo lugar, perfila-se a necessidade de adotar uma pers-petiva global da sustentabilidade, emlinha com os objetivos do crescimento sustentvel escala europeia e com os esforos polarizados pela abordagem do desenvolvimento sustentvel escala internacional, superando as limitaes de uma perspetiva estritamente ambiental.

    Esta inflexo no s produziria nveis muito mais satisfatrios de proteo e conservao da natureza e da biodiversidade como, sobretudo, permitiria ligar muito mais solidamente, apromoo da competitividade com a renova-o dos modelos energticos e de mobilidade (em direo a uma muito menor dependncia do carbono) e com a regenerao urbana (em direo a centros mais dinmicos e periferias mais qualificadas).

    O objetivo de uma recuperao em direo a um novo modelo de cres-cimento sustentvel est indissoluvelmente ligado, nocaso portugus atual, aum objetivo de profunda reformulao do sentido da afetao dos recursos em direo s atividades de bens e servios transacionveis, isto , corrigindo a ineficcia alocativa que conduziu a economia portuguesa a uma estagnao do crescimento econmico.

    A progressiva articulao entre competitividade e internacionalizao no pode, por isso, deixar de incorporar um objetivo de reequilbrio estrutural da balana de bens e servios em articulao com um aumento significativo do valor acrescentado lquido exportado arrastado pelo progressivo ganho de peso das atividades diretas e indiretas de exportao e substituio de importaes.

    Augusto MateusCoordenador do estudo e Presidente da sociedade deconsultores Augusto Mateus & Associados.

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    Siglas e abreviaturas

    APA | Agncia Portuguesa do Ambiente

    BACH | Bank for the Accounts of Companies Harmonised

    BCE | Banco Central Europeu

    BIS | Bank for International Settlements

    CAE | Classificao das Atividades Econmicas

    CEE | Comunidade Econmica Europeia

    CELE | Comrcio Europeu de Licenas de Emisso

    CIM | Comunidades Intermunicipais

    Cnuced | Conferncia das Naes Unidas para o Comrcio e Desenvolvimento

    COICOP | Classificao do Consumo Individual por Objetivo (Classification of Individual Consumption According to Purpose)

    CMVM | Comisso do Mercado de Valores Mobilirios

    CRM | Customer Relationship Management

    CTUP | Custo em trabalho por unidade produzida

    DGEEC | Direo-Geral de Estatsticas da Educao e Cincia

    DGEG | Direo Geral de Energia e Geologia

    E-gov | Electronic Government

    EEA | Agncia Europeia do Ambiente

    ERP | Enterprise Resource Planning

    ETAR | Estao de Tratamento de guas Residuais

    Eur-lex | Legislao e outros documentos pblicos da UE

    FBCF | Formao Bruta de Capital Fixo

    FEDER | Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

    FMI | Fundo Monetrio Internacional

    FSE | Fundo Social Europeu

    GEE | Emisses de gases com efeito de estufa

    GPP | Gabinete de Planeamento, Polticas e Administrao Geral

    IAVE | Instituto de Avaliao Educativa, I.P.,

    IDE | Investimento Direto Estrangeiro

    IDPE | Investimento Direto do Pas no Exterior

    IEC | Imposto Especial sobre o Consumo

    IEFP | Instituto do Emprego e Formao Profissional

    IPC | ndice de Preos no Consumidor

    I&D | Investigao & Desenvolvimento

    I&D+I | Investigao, Desenvolvimento e Inovao

    IMI | Imposto Municipal sobre Imveis

    IMT | Imposto Municipal sobre as Transmisses Onerosas de Imveis

    INE | Instituto Nacional de Estatstica

    IPSFL | Instituies privadas sem fins lucrativos

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    IRC | Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas

    IRS | Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares

    ISCED | Classificao Internacional Normalizada da Educao (International Standard Classification of Education)

    ISFL | Instituies Sem Fins Lucrativos

    ITF | Frum Internacional dos Transportes

    IUC | Imposto nico de Circulao

    IVA | Imposto sobre o Valor Acrescentado

    NUTS | Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatsticos

    OCDE | Organizao para aCooperao e Desenvolvimento

    OMC | Organizao Mundial do Comrcio

    PAEF | Programa de Assistncia Econmica e Financeira

    PALOP | Pases Africanos deLngua Oficial Portuguesa

    PIB | Produto Interno Bruto

    PICs | Pases Iniciais da Coeso

    PISA | Programa Internacional de Avaliao de Alunos

    PLII | Posio Lquida doInvestimento Internacional

    PME | Micro, Pequenas eMdias Empresas

    PNUD | Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PPC | Paridades Poder de Compra

    p.p. | pontos percentuais

    QCA | Quadro Comunitrio de Apoio

    QREN | Quadro de Referncia Estratgico Nacional

    RNB | Rendimento Nacional Bruto

    SEE | Setor Empresarial do Estado

    SEF | Servio de Estrangeiros e Fronteiras

    TIC | Tecnologias de Informao e Comunicao

    TICE | Tecnologias de Informao, Comunicao e Eletrnica

    UE | Unio Europeia

    UEM | Unio Econmica e Monetria

    VAB | Valor Acrescentado Bruto

    WTTC | World Travel &Tourism Council

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    Nomenclaturas das atividades econmicas

    Atividades Ramos Designao detalhada

    Primrias Primrias Agricultura, silvicultura e pesca

    Indstria

    Extrativas Indstrias extrativas

    Alimentares Indstrias alimentares, das bebidas e do tabaco

    Txtil, vesturio e calado Indstria txtil, do vesturio, do couro e dos produtos de couro

    Madeira e papel Indstria da madeira, pasta, papel e carto e seus artigos e impresso

    Petrolferas Fabricao de coque e de produtos petrolferos refi nados

    Qumicas Fabricao de produtos qumicos e de fi bras sintticas e artifi ciais

    Farmacutica Fabricao de produtos farmacuticos de base e de preparaes farmacuticas

    Plstico, borracha e mineraisFabricao de artigos de borracha, de matrias plsticas e de outros produtos minerais no metlicos

    Metalurgia e produtos metlicosIndstrias metalrgicas de base e fabricao de produtos metlicos, exceto mquinas e equipamentos

    Informtica e eletrnicaFabricao de equipamentos informticos, equipamentos para comunicao, produtos eletrnicos e ticos

    Equipamento eltrico Fabricao de equipamento eltrico

    Mquinas e equipamento Fabricao de mquinas e equipamentos, n.e.

    Equipamento de transporte Fabricao de material de transporte

    Outras indstriasIndstrias transformadoras, n. e.; reparao, manuteno e instalao de mquinas e equipamentos

    Eletricidade e gs Produo e distribuio de eletricidade, gs, vapor e ar frio

    guas e resduosCaptao, tratamento e distribuio de gua; saneamento, gesto de resduos e despoluio

    Construo Construo Construo

    Comrcioe logstica

    Comrcio Comrcio por grosso e a retalho; reparao de veculos automveis e motociclos

    Transportes e armazenagem Transportes e armazenagem

    Alojamento e restaurao Atividades de alojamento e restaurao

  • 33

    Atividades Ramos Designao detalhada

    Informao e comunicao

    Media Atividades de edio, gravao e programao de rdio e televiso

    Telecomunicaes Telecomunicaes

    Informtica e informaoConsultoria, atividades relacionadas de programao informtica e atividades dos servios de informao

    Financeiras Financeiros Atividades fi nanceiras e de seguros

    Imobilirias Imobilirios Atividades imobilirias

    Cientfi case tcnicas

    Cientfi cos e tcnicos

    Atividades jurdicas, de contabilidade, gesto, arquitetura, engenharia e atividades de ensaios e anlises tcnicas

    Outras atividades de consultoria, cientfi cas e tcnicas

    I&D Investigao cientfi ca e desenvolvimento

    Atividades de suporte Atividades administrativas e dos servios de apoio

    Serviospblicos

    Administrao pblica Administrao pblica e defesa; segurana social obrigatria

    Educao Educao

    Sade Atividades de sade humana

    Apoio social Atividades de apoio social

    Cultura e lazer

    Cultura e lazer Atividades artsticas, de espetculos e recreativas

    Outros servios Outras atividades de servios

    DomsticosAtividades das famlias empregadoras de pessoal domstico. atividades de produo de bens e servios pelas famlias para uso prprio

    Outros servios Outras atividades de servios

    DomsticosAtividades das famlias empregadoras de pessoal domstico. atividades de produo de bens e servios pelas famlias para uso prprio

  • 34

    Referenciais Geogrficos

    PT ES

    FR

    BE

    NL

    DK

    SE

    FI

    EE

    LV

    LT

    UKIE

    DEPL

    CZSK

    HUATSI

    IT

    RO

    BG

    EL

    MT

    CY

    HR

  • 35

    Outros pases

    UE

    28UE

    27U

    E15

    DE Alemanha

    BE Blgica

    FR Frana

    IT Itlia

    LU Luxemburgo

    NL Holanda

    DK Dinamarca

    IE Irlanda

    UK Reino Unido

    EL Grcia

    ES Espanha

    PT Portugal

    AT ustria

    FI Finlndia

    SE Sucia

    CY Chipre

    SK Eslovquia

    SI Eslovnia

    EE Estnia

    HU Hungria

    LV Letnia

    LT Litunia

    MT Malta

    PL Polnia

    CZ Repblica Checa

    BG Bulgria

    RO Romnia

    HR Crocia

    AO Angola

    BR Brasil

    CA Canad

    US EUA

    NO Noruega

    RU Rssia

    CH Suia

    VE Venezuela

  • I

    OlharesEvoluo da economia e da sociedade desde 1986

  • Olhares

    ECONOMIA

    Da inflao dvida pblica, da produtividade ao comrcio internacional, 25 olhares observam transformaes na economia portuguesa desde aadeso Unio Europeia

  • 41

    1Nvel de vida e convergncia

    A Unio Europeia tem por objetivo promover o bem-estar dos seus povos, atravs de uma poltica assente no reforo da coeso econmica, social e territorial entre os Estados-membros. Neste sentido, imperativo averiguar at que ponto se tem conseguido reduzir a disparidade entre nveis de desen-volvimento e o atraso das regies menos favorecidas.

    A convergncia real resulta das sinergias entre a reduo das disparida-des econmicas e sociais, que os sucessivos alargamentos da Unio tendem a aumentar, eo aumento da eficcia da governana escala europeia, que fortemente limitada pelos insucessos na promoo da coeso econmica, social e territorial.

    A trajetria de aproximao do nvel de vida dos portugueses ao padro europeu avaliada tomando por medida a percentagem que o PIB per capitaportugus representa face mdia da UE28, expresso em paridades de poder de compra.

    O percurso de Portugal entre 1986 e 2013

    Em 2013, onvel de vida das famlias portuguesas era 25% inferior mdia europeia, amesma distncia que registava em 1990.

    O Portugal Europeu passou de uma rota de convergncia, concentrada nos anos seguintes adeso CEE e na segunda metade da dcada de 90 e mais intensa em termos de consumo das famlias, para um processo de visvel divergncia.

    No contexto de crise financeira e de implementao do PAEF, ena sequn-cia de uma dcada marcada pela adeso ao euro, pela acelerao do processo de globalizao e pelo alargamento da Unio Europeia a Leste, oprocesso de convergncia portugus recuou mais de 20 anos.

    A persistncia de desequilbrios macroeconmicos naeconomia portuguesa tm impedido aconvergncia com aUnio Europeia.

  • 42

    Desde 1999 que Portugal apenas se aproximou da mdia europeia em 2005 e 2009, sendo que entre 2010 e 2013 o PIB per capita portugus caiu 7% face ao padro europeu (Grfico 1.1).

    A insustentabilidade do processo de convergncia portugus visvel ao comparar a evoluo do bem-estar das famlias pela tica da criao de riqueza e pela tica do consumo. Aps a adeso CEE, oconsumo liderou o processo de convergncia nacional, elevando o diferencial entre consumo e criao de riqueza para 10% em 1993.

    Desde 2008, com a correo mais acentuada no consumo que na criao de riqueza, emvirtude do contexto de incerteza e da extroverso da economia portuguesa, odiferencial tem vindo a reduzir-se, atingindo o valor de 5% em 2013 (Grfico 1.2).

    A posio de Portugal no contexto da Unio Europeia

    No panorama europeu atual Portugal includo num segundo patamar de convergncia, composto por pases com um nvel de vida 20 a 30% abaixo do padro europeu, Eslovnia, Repblica Checa, Eslovquia, Litunia, Grcia e Estnia (Grfico 1.3).

    O alargamento a Leste e a crise financeira protagonizaram o processo de convergncia europeu na ltima dcada. Aacentuada aproximao do nvel de vida dos novos Estados-membros ao referencial europeu resultou no apenas do elevado ritmo de crescimento registado por estes pases, mas tambm pelo acentuar das dificuldades em Itlia, Finlndia e Reino Unido e o recuar do processo de convergncia na Grcia, Portugal, Espanha e Irlanda.

    Ao avaliar o nvel de vida das famlias europeias pela tica do consumo, avantagem dos pases mais bem posicionados corrigida em baixa, revelando uma UE mais homognea. Grcia, Reino Unido, Portugal e Chipre destacam--se pelo diferencial positivo entre consumo e criao de riqueza (Grfico 1.4).

    A coeso territorial e as disparidades regionais

    A Madeira e os Aores foram as nicas regies NUTS II portuguesas que conseguiram aproximar o seu nvel de vida ao padro europeu entre 2000 e 2011. Nesta evoluo importa realar que os Aores deixaram de ser a regio portuguesa com nvel de vida mais baixo, ultrapassando o Alentejo, oCentro e o Norte (Mapa 1.1).

    A comparao do ritmo de crescimento das regies NUTS III portugue-sas na ltima dcada com as regies europeias com PIB per capita semelhante

  • 43

    revela que as limitaes do processo de convergncia portugus tm sido mais pronunciadas nas regies com nvel de vida mais baixo. Entre as regies portuguesas mais pobres, so Pinhal Interior Sul registou uma aproximao ao nvel de vida europeu (16 pontos percentuais) superior mdia das regies europeias com nvel de vida idntico (12 p.p.).

    O caso portugus, noseu contraste com os pases cuja convergncia se faz nas regies mais desenvolvidas (Europa Central e Oriental, Frana) e com os pases cuja convergncia se faz nas regies menos desenvolvidas (Escandinvia, Espanha), tende a sugerir a existncia de limitaes nas regies menos desen-volvidas que vo bem para alm da redistribuio de recursos e atingem os prprios modelos de investimento e de competitividade.

    Grfi co 1.1. PIB per capita em Portugal | 1986 a 2013

    -6

    -3

    0

    +3

    +6

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    QCA I (1989-1993) QCA II (1994-1999) QCA III (2000-2006) QREN (2007-2013)

    Moeda nica

    UE12 Mercado Interno

    UE15 Circulaodo EURO

    UE25 UE27 UE28

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    07

    20

    04

    20

    13

    mdia UE28 = 100

    variao em pontos percentuais

    PIB per capita

    A crise financeira eos ajustamentos do PAEF expuseram as fragilidades estruturais da economia portuguesa, transformando a travagem e estagnao da convergncia num processo dedivergncia.

    Fonte: Ameco (acedido em novembro de 2014)

  • 44

    Grfi co 1.2. Convergncia na tica da produo e do consumo: comparao entre Portugal e a UE | 1986 a 2013

    0

    +5

    +10

    +15

    +20

    +25

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    10

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    11

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    12

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    85

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    100

    QCA I (1989-1993) QCA II (1994-1999) QCA III (2000-2006) QREN (2007-2013)

    Moeda nica

    UE12 Mercado Interno

    UE15 Circulaodo EURO

    UE25 UE27 UE28

    mdia UE28 = 100

    consumo per capita

    PIB per capita

    19

    93

    19

    86

    19

    95

    19

    99

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    02

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    20

    04

    20

    13

    diferena entre o consumo e a produo per capita

    Grfi co 1.3. PIB per capita: a posio de Portugal na UE | 1990 e 2013

    BG RO HR LV HU PL EE EL LT SK CZ SI MT CY ES IT FR UK FI BE DK DE SE AT IE NL LU0

    25

    50

    75

    100

    125

    150

    20131990

    214

    254

    PT

    UE28 = 100

    A crise financeira e os ajustamentos do PAEF tiveram um impacto maior no consumo debens e servios dasfamlias do que na criao de riqueza.

    Nota: O consumo per capita inclui as transferncias sociais em espcie.

    Fonte: Ameco (acedido em novembro de 2014)

    Portugal manteve a distncia face ao referencial europeu, num contexto marcado pela convergncia dos pases do alargamento e pelo recuo do nvel de vida na Grcia enaItlia.

    Nota: Os dados iniciais referem -se a 1991 para a Bulgria, Hungria e Malta, a1992 para a Eslovquia, a1993 para a Estnia e a 1995 para a Crocia.

    Fonte: Ameco (acedido em novembro de 2014)

  • 45

    Grfi co 1.4. Consumo e PIB per capita (UE28=100): a posio de Portugal na UE | 2013

    -30

    -25

    -20

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    -10

    -5

    0

    +5

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    40

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    110

    120

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    140

    BG RO HR LV HU PL EE EL LT SK CZ SI MT CY ES IT FR UK FI BE DK DE SE AT IE NL

    PIB per capita

    PT

    consumo per capita

    diferena entre consumo per capitae PIB

    Mapa 1.1. Variao do PIB per capita face UE: a posio das regies portuguesas naUE | 2000 a 2011

    < -20

    -20 a 0

    0 a 20

    > 20

    variao do PIB per capita face UE

    2000 a 2011

    Ao avaliar o nvel de vida pelos bens eservios consumidos pelas famlias, opanorama europeu surge bem mais homogneo.

    Nota: No inclui oLuxemburgo.

    Fonte: Ameco (acedido em dezembro de 2014)

    A Madeira e os Aores so as nicas regies portuguesas que conseguiram aproximar o seu nvel de vida ao padro europeu entre 2000 e 2011.

    Fonte: Eurostat (acedido em dezembro de 2014)

  • 46

    Conceitos e metodologia

    Convergncia realO indicador mais utilizado para avaliar o ritmo de convergncia o PIB per capita expresso em paridades de poder de compra e em percentagem damdia europeia, concentrando a anlise numa tica de produo de riqueza. Convm referir que este indicador no reflete totalmente as condies devida das populaes, apresentando vrias limitaes. ocaso do empolamento resultante da presena deempresas de capitais estrangeiros que repatriam os seus lucros (como o caso da Irlanda ou da regio da Madeira) ou o caso de uma elevada proporo da populao residente numa regio trabalhar noutra (exemplo dos residentes na Pennsula de Setbal que trabalham em Lisboa). Estas limitaes sugerem que aanlise do processo de convergncia do nvel de vida a partir da tica da produo seja complementada com a anlise a partir da tica do rendimento e do consumo.

    Paridades de poder de compraCorresponde a deflatores espaciais e conversores monetrios que, eliminando os efeitos das diferenas nos nveis dos preos entre pases, permitem comparaes em volume das componentes do PIB bem como dos nveis dos preos. Aunidade monetria resultante, euro em paridades de poder de compra padro, tem o mesmo poder de compra em todo o espao da Unio Europeia a 28, refletindo a mdia ponderada do poder de compra das moedas nacionais e dos nveis de preos de cada Estado -membro. (INE)

    Consumo final individual efetivo das famliasCompreende os bens e servios efetivamente consumidos por indivduos, independentemente de terem sido adquiridos e pagos pelas famlias, pelo governo ou por instituies ao servio das famlias. (AMECO)

    Para saber mais

    Banco de Portugal (2009) | A economia portuguesa no contexto da integrao econmica, financeira e monetriaBanco de Portugal (2013) | Relatrio do Conselho de Administrao. AEconomia Portuguesa 2013Eurostat (2014) | Eurostat regional yearbook 2014Comisso Europeia (2014) | Quarterly report on the euro areaOECD (2014) | National Accounts at a Glance 2014

  • 47

    2Produtividade

    A produtividade considerada o principal fator explicativo do crescimento econmico e da convergncia real nas economias avanadas, estando na base da melhoria sustentada dos salrios e dos padres de vida das populaes. Asua evoluo aqui enquadrada numa viso mais ampla do modelo eco-nmico nacional, confrontando-a com a intensidade da utilizao dos recur-sos humanos.

    O crescimento da produtividade, alimentado pelo alargamento da quali-ficao dos recursos humanos e o aprofundamento das respetivas competn-cias, pela intensificao do investimento em capital fsico e em tecnologias de produo e processamento da informao, pela organizao e especializao empresarial e pelo ritmo das inovaes em produtos e processos, constitui condio necessria para elevar o potencial de crescimento da economia portu-guesa, spossvel com fatores competitivos mais intensivos na criao de valor.

    As formas de crescimento extensivo (mais do mesmo) ainda encontram expresso excessiva na economia portuguesa no confronto com as formas de crescimento intensivo (melhor e diferente) que apesar de notrias ainda no ganharam expresso suficiente.

    A divergncia na evoluo relativa das horas trabalhadas face ao padro europeu exprime com nitidez esta realidade.

    O percurso de Portugal entre 1986 e 2013

    O processo de convergncia do Portugal Europeu assentou num crescimento da produtividade, por hora de trabalho, de73% entre 1986 e 2013. Neste perodo, aomesmo tempo que a taxa de atividade aumentou 14%, ataxa de emprego baixou 13%.

    O crescimento da produtividade horria foi mais intenso no perodo seguinte adeso CEE, com uma variao mdia anual de 4% entre 1986 e

    O menor dinamismo da produtividade e a regresso no grau de utilizao dos recursos humanos explicam a reduo sensvel do ritmo de crescimento do PIB per capita, aolongo deste comeo do sculo xxi.

  • 48

    1994, umvalor influenciado pelas alteraes legais que limitaram as horas de trabalho semanais. No obstante as oscilaes anuais, desde 1994 que o ritmo de crescimento anual se tem mantido acima de 1%, umnvel demasiado baixo para os desafios da convergncia de Portugal no espao europeu, sobretudo porque tem sido acompanhado por uma estabilizao do nmero de horas de trabalho por empregado (Grfico 2.1).

    Em relao intensidade na utilizao dos recursos humanos, ocontri-buto positivo da taxa de atividade na dcada de 90, marcado pela integrao das mulheres no mercado de trabalho e pelo elevado fluxo de imigrantes, foi anulado pela profunda degradao do mercado laboral na ltima dcada.

    A intensidade na utilizao de recursos humanos acentuou a trajetria negativa, desde 2008, com a taxa de atividade a registar uma queda mdia anual de 0,7% e a taxa de emprego 1,2%.

    A posio de Portugal no contexto da Unio Europeia

    Os 28 anos de Portugal Europeu registaram progressos que tm tanto de visvel como de limitado. Num contexto de profunda alterao do modelo econmico, com a utilizao dos recursos humanos a cair para um nvel abaixo da mdia europeia, aprodutividade por trabalhador nacional passou de 28% da mdia europeia em 1986 para 64% em 2013. Desde 2012 que Portugal se encontra mais perto do referencial europeu na produtividade do que na criao de riqueza (Grfico 2.2).

    A primeira dcada da plena integrao europeia de Portugal concentrou melhorias relevantes em matria de convergncia. No entanto, num contexto de desacelerao do crescimento da produtividade a nvel europeu, oprocesso de convergncia nacional marcado pelo abrandamento a partir de 1995. Aaproximao ao padro europeu passou de um ritmo anual de 7,5% entre 1986 e 1995 para menos de 1% desde ento. Sem considerar o efeito positivo das horas de trabalho por empregado, esta desacelerao foi mais intensa e comeou mais cedo, logo em 1992

    A elevada disparidade entre os Estados-membros, com a produtividade na Bulgria dez vezes menor que no Luxemburgo, revela a diversidade de mode-los econmicos na UE. Apesar de ter reduzido a distncia ao padro europeu, Portugal no tem conseguido acompanhar o ritmo de convergncia dos pases do alargamento, reduzindo substancialmente a sua vantagem (Grfico 2.3).

  • 49

    A disparidade nas produtividades setoriais

    A anlise da produtividade por setor de atividade revela a existncia de fortes assimetrias indiciadoras de uma reduzida coeso econmica em Portugal.

    O setor das atividades financeiras aquele onde Portugal se encontra melhor posicionado, com uma diferena de 6% em relao ao referencial euro-peu, odcimo melhor registo entre os Estados-membros. Aprodutividade nacional nas atividades primrias surge no extremo oposto, sendo 61% inferior ao padro europeu, oquinto pior registo europeu. Osservios no intensi-vos em conhecimento e informao mantm baixos nveis de produtividade (Grfico 2.4).

    A indstria transformadora comporta, tambm, fortes assimetrias de pro-dutividade, com setores em que apresenta mesmo um nvel de produtividade superior mdia europeia, como nos produtos petrolferos e na informtica e eletrnica (Grfico 2.5).

    O reforo da coeso econmica em Portugal requer, assim, uma muito maior ateno regulao da concorrncia, aoequilbrio setorial da carga fiscal e qualidade dos modelos de negcio em ao numa especializao mais dinmica e sustentvel.

    Grfi co 2.1. Contributos para o crescimento real do PIB per capita em Portugal | 1986 a2013

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    QCA I (1989-1993) QCA II (1994-1999) QCA III (2000-2006) QREN (2007-2013)

    Moeda nica

    UE12 Mercado Interno

    UE15 Circulaodo EURO

    UE25 UE27 UE28

    taxa de atividade

    taxa de emprego

    horas por trabalhador

    PIB por hora de trabalho

    19

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    95

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    13

    O reduzido crescimento da produtividade no tem conseguido compensar a quebra de intensidade na utilizao dos recursos humanos.

    Fonte: Ameco (acedido em novembro de 2014)

  • 50

    Grfi co 2.2. Produtividade e utilizao dos recursos humanos: comparao entre Portugal e UE | 1986 a 2013

    19

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    20

    10

    20

    11

    20

    12

    -70%

    -60%

    -50%

    -40%

    -30%

    -20%

    -10%

    UE

    +10%

    +20%

    QCA I (1989-1993) QCA II (1994-1999) QCA III (2000-2006) QREN (2007-2013)

    Moeda nica

    UE12 Mercado Interno

    UE15 Circulaodo EURO

    UE25 UE27 UE28

    PIB por trabalhador

    PIB por hora trabalhada1

    99

    3

    19

    86

    19

    95

    19

    99

    20

    02

    20

    07

    20

    04

    20

    13

    PIB per capitr capitr c aapitaapit

    horas por trabalhador

    utilizao dos recursos humanos

    Grfi co 2.3. PIB por trabalhador: a posio de Portugal na UE | 1990 e 2013

    BG RO HU PL LV LT HR CZ EE SK SI MT EL CY ES DE IT UK NL AT FR FI BE DK IE SE LU0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    20131986

    PT

    UE15 = 100

    Desde 2012 que Portugal se encontra mais perto do referencial europeu na produtividade do que na criao de riqueza.

    Fonte: Ameco (acedido em novembro de 2014)

    Num contexto de rpida aproximao dos pases do alargamento, Portugal reduziu a diferena face ao padro europeu em 30%.

    Nota: Os dados do grfico referem -se a 1991 para a Alemanha, 1992 para a Letnia, Litunia e Polnia, 1993 para a Estnia e Repblica Checa, 1995 para a Bulgria, Chipre, Eslovquia, Eslovnia e Hungria e 1996 para a Crocia.

    Fonte: Ameco (acedido em novembro de 2014)

  • 51

    Grfi co 2.4. Produtividade do trabalho por atividade econmica: a posio dePortugal na UE | 2013

    Grfi co 2.5. Produtividade do trabalho naindstria transformadora | 2000 e 2011

    BE

    IE

    IEIE

    IEIE

    LU

    LU

    LU

    MT

    NL

    UEPT

    0 50 100 150 200 250

    financeiras

    informaoe comunicao

    indstria

    cientficase tcnicas

    construo

    serviospblicos

    comrcioe logstica

    culturae lazer

    primrias

    ropssoruelimrodaahlabart

    223

    64

    43

    30

    35

    60

    28

    1616

    27

    33

    31

    21

    59

    83

    101

    53

    51

    130

    111

    72

    69

    68

    63

    60

    59

    56

    51

    50

    47

    42

    sareflortep

    informticae eletrnica

    equipamentoeltrico

    madeirae papel

    plstico, borrachae minerais

    qumicas

    alimentares

    txtil, vesturioe calado

    metalurgia eprodutos metlicos

    equipamentode transporte

    mquinase equipamento

    outras indstrias

    farmacuticaUE=100 | 2011

    UE=100 | 2000

    mil euros | 2011

    nas atividades financeiras que Portugal se encontra mais perto do padro europeu de produtividade. Dentro da indstria, destacam -se as petrolferas e a informtica e eletrnica.

    Fonte: Eurostat (acedido em dezembro de 2014)

  • 52

    Conceitos e metodologia

    PIBO produto interno bruto o resultado final da atividade econmica dos residentes num determinado perodo de tempo. a medida normalmente utilizada para avaliar o comportamento de uma economia, permitindo comparaes internacionais (Coimbra, 2011). Genericamente pode ser medido segundo trs ticas: 1) tica da oferta ou da produo (PIB=valor acrescentado bruto+impostos lquidos de subsdios sobre os produtos), 2) tica da procura ou da despesa (PIB=consumo privado+consumo pblico+investimento+exportaes -importaes) e 3) tica do rendimento (PIB=remunerao do trabalho+excedente bruto de explorao+impostos lquidos de subsdios sobre a produo e

    importao). Para garantir a comparabilidade internacional, oseu clculo segue um sistema concetual desenvolvido pela Unio Europeia (Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais) e harmonizado com a verso das Naes Unidas. Por este sistema, atica do rendimento tem um papel secundrio, sendo o apuramento do PIB um esforo de conciliao entre as estimativas independentes das ticas da produo e da despesa.

    Produtividade e taxa de utilizao dos recursos humanosA capacidade de obter um nvel de vida elevado (medido pelo PIB per capita) per capita) per capitadepende da produtividade, dataxa de emprego e das horas trabalhadas:

    PIBpc PIB

    Populao

    PIB

    Emprego

    Emprego

    Populao

    PIB

    Horas Trabalho

    Horas Trabalho

    Emprego= = =

    Emprego

    Populao Ativa

    Populao Ativa

    Populao

    Em que:

    PIB

    Horas Trabalho= Produtividade por hora de trabalho

    Horas Trabalho

    Emprego= Horas de trabalho por emprego

    Emprego

    Populao Ativa= Taxa de emprego

    Populao Ativa

    Populao= Taxa de atividade

    Produtividade aparente do trabalhoPIB

    Emprego=

    Para saber mais

    Banco de Portugal (2013) | Relatrio do Conselho de Administrao. AEconomia Portuguesa 2013Comisso Europeia (2013) | EU Industrial Structure Report 2013EU Industrial Structure Report 2013EU Industrial Structure ReportComisso Europeia (2014) | European Competitiveness Report 2014European Competitiveness Report 2014European Competitiveness ReportOECD (2013) | Compendium of Productivity Indicators

  • 53

    3Inflao e convergncia nominal

    A integrao de Portugal na Unio Econmica e Monetria traduziu-se numa profunda transformao da poltica monetria e cambial do pas. Depois de, nadcada de 80, aprioridade ter sido dada ao financiamento dos dfices pblicos e conteno dos dfices externos, com recurso a uma desvalorizao cambial ativa e programada, que induziu um maior nvel de inflao, aestabilidade dos preos tornou-se num objetivo prioritrio.

    Tratava-se no apenas de garantir os critrios para a adoo da moeda nica mas, tambm, dedefender a competitividade custo das exportaes portuguesas que se degradaria caso a inflao em Portugal fosse duradoura-mente superior verificada nos seus parceiros comerciais da rea do euro.

    A recente crise financeira e oramental na rea do euro veio por prova a adeso ao euro, colocando em evidncia os desafios e as restries decorrentes do desequilbrio entre a dimenso centralizada e supranacional da poltica monetria e cambial e a dimenso descentralizada e nacional das polticas oramentais e fiscais, embora sujeitas ao enquadramento do pacto de Estabilidade e Crescimento.

    O percurso de Portugal entre 1986 e 2013

    O Portugal Europeu passou de uma conjuntura marcada pelas presses infla-cionistas, com os preos a subirem 13% em 1986, para uma situao marcada pelas presses deflacionistas, com os preos a subirem em mdia 0,5% entre 2008 e 2013 (Grfico 3.1).

    O sucesso da integrao financeira e da convergncia nominal que pre-parou a moeda nica, refletido na convergncia das taxas de juro de curto prazo e na descida da taxa de inflao, bem como a posterior estabilidade dos preos e das condies de financiamento, deram lugar a um perodo de elevada turbulncia e desestabilizao, apartir de 2007, despoletado pela crise

    A crise financeira e oramental exps os desequilbrios da convergncia nominal nacional, mais efetiva na estabilizao dos preos que no controlo do saldo oramental.

  • 54

    financeira internacional e impulsionado pela incompleta convergncia em matria oramental.

    Num contexto de maior sensibilidade ao risco, ataxa de juro de longo prazo passou de 4% em 2007 para 11% em 2012, antes de descer para 6% em 2013, refletindo-se na degradao das condies de financiamento de toda a economia.

    Ao mesmo tempo, oarrefecimento da economia global, amoderao salarial e a conteno da procura interna comprimiram a inflao, registando--se mes