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              Mestrado em Economia e Administração de Empresas Contabilidade, Controlo Orçamental e Auditoria     Forensic accounting: perspetivas e desenvolvimentos (20092013)      Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442 João Laranjeira ‐ n.º mecanográfico 200402049 Pedro Leitão ‐ n.º mecanográfico 200601504    Porto, outubro de 2013       

Forensic accounting: perspetivas e desenvolvimentos (2009-2013) (relatório)

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Outubro de 2013 | “Forensic accounting: perspetivas e desenvolvimentos (2009-2013)”, no âmbito da unidade curricular de Contabilidade, Controlo Orçamental e Auditoria do Mestrado em Economia e Administração de Empresas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). Autores: Cláudio Carvalho; João Laranjeira; Pedro Leitão. Avaliação: 17 em 20 valores.

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Mestrado em Economia e Administração de Empresas 

Contabilidade, Controlo Orçamental e Auditoria 

 

  

 

Forensic accounting: perspetivas e desenvolvimentos (2009‐2013) 

 

  

 

 

Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442 

João Laranjeira ‐ n.º mecanográfico 200402049 

Pedro Leitão ‐ n.º mecanográfico 200601504 

 

 

 

Porto, outubro de 2013 

   

 

 

 

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Resumo 

 

A  forensic  accounting  tem  um  profundo  enraizamento  histórico,  tendo‐se  desenvolvido 

inicialmente  numa  vertente  de  contabilidade  forense  e,  posteriormente,  numa  segunda  vertente, 

denominada  de  auditoria  da  fraude.  As  crises  do  setor  vêm  mostrando  a  natureza  cíclica  das 

problemáticas  associadas  à  fraude  ocupacional,  pelo  que  este  setor  merece  uma  preocupação 

sistemática das empresas e autoridades. 

Considerando os recentes desenvolvimentos e discussões na comunidade científica, analisaram‐se 

sete temáticas: (i) os benefícios do raciocínio estratégico e do brainstorming na identificação da fraude; 

(ii) o contributo da tecnologia; (iii) o impacto dos processos de fraude no valor de mercado da empresa; 

(iv) a forensic accounting no setor público; (v) a condição de independência dos auditores internos; (vi) 

as  competências exigidas pelo mercado da  forensic accounting e a oferta educativa e  formativa;  (vii) 

regulação e o reconhecimento socioprofissional. 

A  evidência  mostra  que  o  “raciocínio  criativo  ou  estratégico”  e  o  brainstorming  promovem 

melhorias  nos  procedimentos  de  auditoria  elaborados  por  peritos  forenses  e  que  a  tecnologia 

informática  tem  tido  um  papel  importante  no  processo  de  análise  de  fraude  e  no  combate  a  esta. 

Simultaneamente,  verifica‐se  uma maior  preocupação  com  as  questões  da  fraude  e  o  seu  potencial 

impacto económico. Quanto aos objetivos de  independência dos auditores  internos relativamente aos 

órgãos de gestão e de  implementação da  forensic accounting com  reconhecimento da sua mais‐valia, 

tardam  a  ser  alcançados,  o que pode  justificar  a maior  incidência de  fraude  registada nas  empresas 

privadas e de menor dimensão.  Identificaram‐se algumas competências‐chave para os profissionais do 

setor que se formam e apontou‐se a necessidade de se definirem padrões oficiais com um caráter mais 

universal. Finalmente, apresentou‐se uma solução apontada para mitigar alguma entropia no setor de 

certificação e formação de competências, que foi a regulação pública do setor a um nível estadual mas 

de uma forma menos intrusiva, isto é recorrendo‐se à aprovação de legislação que limite as certificações 

emitidas pelas empresas, às que cumpram determinados requisitos mínimos.   

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Índice 

   

Resumo ......................................................................................................................................................... 2 

Índice ............................................................................................................................................................. 3 

Introdução ..................................................................................................................................................... 4 

Contextualização histórica ............................................................................................................................ 6 

Benefícios do raciocínio estratégico e do brainstorming na identificação da fraude .................................. 7 

O contributo da tecnologia informática ....................................................................................................... 8 

Impacto dos processos de fraude no valor de mercado da empresa ........................................................... 9 

A forensic accounting no setor público: alguns casos .................................................................................. 9 

A condição de independência dos auditores internos................................................................................ 10 

As competências exigidas pelo mercado da forensic accounting e a (in)adequação da oferta educativa e 

formativa ..................................................................................................................................................... 11 

Regulação e reconhecimento socioprofissional do setor ........................................................................... 12 

Conclusões .................................................................................................................................................. 14 

Referências Bibliográficas ........................................................................................................................... 16 

 

   

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Introdução 

 

A fraude de cariz económico em que é cometido um ato doloso contra uma determinada entidade, 

denominada por "fraude ocupacional", segundo a "árvore da fraude"1 da Association of Certified Fraud 

Examiners (ACFE), reveste‐se por três tipologias, a saber: 

 

Apropriação  indevida de ativos – ato de fraude ocupacional mais frequente, segundo o estudo 

Report to The nations on occupational fraud and abuse 2012 da ACFE; 

Corrupção; 

Fraude nas Demonstrações Financeiras ‐ que origina mais perdas financeiras, segundo o estudo 

anteriormente elencado. 

 

Considerando  os  sucessivos  escândalos  relacionados  com  a  fraude  ocupacional  e  as  inerentes 

consequências sociais, económicas e financeiras, atentando à crescente valorização pública do combate 

a esta problemática e visto que o “combate” à fraude ocupacional pela auditoria interna e externa é tido 

como uma  responsabilidade  secundária,  ganha  cada  vez mais  importância a  forensic accounting e os 

profissionais que nela trabalham. 

Não existe uma definição uniforme para forensic accounting, pelo que adotamos a mesma definição 

que  foi  acolhida  preferencialmente  em  Moreira  (2010)  e  Akkeren,  Buckby  et  al.  (2013):  «forensic 

accounting  é  a  aplicação  de  competências  financeiras  e  de  uma  mentalidade  de  investigador  a 

problemas ainda não resolvidos, dentro de um contexto de regras de evidência de um país» 

 

Ao nível do enquadramento conceptual, sumariamo‐lo através da tabela abaixo disposta, transcrita 

na sua plenitude de (Moreira 2010). 

 

 

 

 

 

 

                                                            1 vd. http://www.acfe.com/fraud‐tree.aspx  

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1ª Vertente 

Contabilidade Forense 

(Litigation Support) 

 

Suporte pericial ou testemunhal em processos 

judiciais, sobretudo de âmbito cível, que envolvam 

questões de natureza contabilística e/ou económico‐

financeira. 

2º Vertente 

Auditoria da Fraude 

(Fraud Examination) 

Ótica proativa 

Auditoria da Fraude 

Auditoria e consultoria, perspetivando a dissuasão 

e/ou prevenção da fraude. Desenvolvida fora do 

ambiente judicial/forense, apoiando diretamente as 

empresas/organizações. 

Ótica reativa 

Auditoria Forense 

Investigação em ambiente forense, quase sempre 

relacionada com situações de suspeita de fraude ou 

em que a fraude já é um ato consumado, em que 

falta muitas vezes conhecer e apurar a sua dimensão. 

Esta atuação é desenvolvida quase sempre na esfera 

criminal. 

(Moreira 2010) 

 

Não  estando  a  profissão  reconhecida  em  Portugal,  também  segundo  o  mesmo  estudo,  pode 

considerar‐se que os administradores de  insolvência estão associados profissionalmente à vertente da 

contabilidade forense, os auditores internos à vertente da auditoria da fraude e os elementos da polícia 

judiciária trabalham frequentemente em domínios associados à auditoria forense. 

 

Este  trabalho  de  cariz  académico  no  âmbito  da  unidade  curricular  de  Contabilidade,  Controlo 

Orçamental  e  Auditoria  do Mestrado  em  Economia  e  Administração  de  Empresas,  visa,  após  esta 

introdução e a contextualização histórica sumária que se lhe segue, analisar algumas das temáticas mais 

discutidas pela comunidade científica desde o ano de 2009. Assim, este relatório analisa os benefícios do 

raciocínio  estratégico  e  do  brainstorming  na  identificação  da  fraude,  o  contributo  da  tecnologia 

informática,  alguns  casos  relativos  à  importância  da  forensic  accounting  no  setor  público,  a 

independência dos auditores internos, as competências exigidas pelo mercado e a adequação da oferta 

educativa e formativa, analisa o atual modelo de funcionamento do mercado, as suas falhas e possíveis 

incrementos  e,  ainda  se  aborda  o  reconhecimento  socioprofissional.  Findamos  com  as  conclusões  e 

algumas considerações finais sobre o objeto de estudo. 

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Contextualização histórica 

 

A  forensic  accounting,  nas  suas  diversas  denominações  e  expressões menos  contemporâneas,  é 

uma profissão antiquíssima, remontando ao Antigo Egito, em que o forensic accountant trabalhava ao 

serviço do Faraó e, sendo uma pessoa de confiança deste, supervisionava os registos de determinados 

bens,  entre  os  quais  cereais  e  ouro  (Singleton  and  Singleton  2010).  Como  evidenciam  Singleton, 

Singleton et al. (2006), mais tarde, surgem referências históricas relativas à Índia entre o século II e o IV 

d.C., mas  a  expansão  assinalável  da  preocupação  sobre  as  questões  da  fraude  surge  apenas  como 

consequência da revolução industrial no reino britânico.  

Dois  marcos  são  o  facto  de,  em  1817,  pela  primeira  vez  ter  sido  utilizada  a  vertente  da 

contabilidade forense (1º vertente da forensic accounting) numa decisão judicial e, em 1824, na Escócia, 

uma empresa  ter  iniciado a prestação de  serviços em  contabilidade  forense. De acordo  com Moreira 

(2010), até ao início do século XX, «a auditoria (...) teve um papel primário na deteção da fraude», sendo 

que  «a  partir  daí,  esta  responsabilidade  primária  foi‐se  esbatendo  gradualmente».  Por  conseguinte, 

importa salientar a publicação de diversos artigos associados à segunda vertente da forensic accounting 

(i.e. auditoria da fraude), na primeira metade do século XX, que originou, consequentemente, múltiplos 

processos  judiciais. Na década 90 surgem escândalos associados a empresas dos setores da energia e 

das telecomunicações, mas o culminar – pelo menos, devido às repercussões no mediatismo público  ‐ 

foi, indubitavelmente, o que levou à falência da Enron, no início do século XXI. Importa, de igual forma, 

destacar outros casos fraudulentos tornados públicos como são os da WorldCom, Adelphia, Fannie Mae, 

Health  South,  Waste  Management,  Phar‐mor  e  Sunbeam  (Singleton  and  Singleton  2010).  Em 

consequência, o Congresso dos EUA aprovou o Sarbanes‐Oxley Act (SOX) em 2002, com os objetivos de 

evitar (novas) fraudes, reduzir os riscos de gestão, aumentar a accountability das empresas, restaurar a 

confiança  dos  investidores  e  reduzir  a  preocupação  pública,  focando‐se  na  criação,  manutenção  e 

melhoramento  dos  controlos  internos  das  diferentes  empresas  (nomeadamente,  as  registadas  na 

Securities and Exchange Commission) e dos procedimentos de reporte financeiro. Esta  lei criou alguma 

controvérsia,  visto  que  uns  consideraram  o  custo  de  implementação  elevado  face  aos  benefícios  e 

outros assumiram que o aumento das garantias sobre o  reporte  financeiro e o processo de auditoria 

tornaram  os  gastos  despendidos  como mais‐valias  (Giles  2012).  Não  obstante  a  crise  imobiliária  e 

financeira de 2007‐08, voltou a mostrar a natureza cíclica desta problemática e que merece, portanto, 

uma preocupação sistemática das empresas e autoridades.  

 

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Benefícios  do  raciocínio  estratégico  e  do  brainstorming  na  identificação  da 

fraude 

 

Hoffman e Zimbelman  (2009), evidenciam  como matéria para o desenvolvimento do  seu estudo 

que,  embora  os  auditores  sejam  normalmente  capazes  de  diagnosticar  o  risco  de  fraude,  estes  não 

conseguem  vincular  de  forma  efetiva  a  avaliação  do  risco  de  fraude  aos  seus  procedimentos  de 

auditoria, nem realizar as adaptações necessárias. A existência de planos de auditoria padrão  faz com 

que os auditores sejam menos estimulados a adaptá‐los a cenários de risco de  fraude, assim como os 

executores de fraude veem o procedimento de auditoria como um processo repetitivo e controlável e, 

por isso, facilmente contornável. 

O estudo de Hoffman e Zimbelman  incide sobre os efeitos, e principalmente sobre os potenciais 

benefícios da comunicação interna entre os auditores, através do debate de ideias (brainstorming) e do 

raciocínio estratégico sobre a auditoria da draude na sua ótica proativa. Este processo de deteção de 

fraude divide‐se em várias etapas: 

1.   Os auditores devem estar sensíveis ao risco da fraude; 

2.   O plano e orçamento da auditoria devem contemplar procedimentos de deteção de fraude; 

3.   Os auditores devem ter conhecimento e saber interpretar os resultados obtidos; 

4.   Os auditores devem dar a resposta adequada, no caso de deteção de fraude, na conclusão da 

auditoria. 

Os benefícios potenciais de brainstorming são transversais a todas as etapas. Quando a tarefa é de 

difícil  execução,  como  é  o  caso  do  planeamento  de  procedimentos  de  deteção  de  fraudes,  o 

brainstorming favorece as decisões de planeamento dos auditores, reduzindo a sua carga cognitiva (ou 

seja,  mais  cabeças  pensam  melhor  que  uma).  Por  outro  lado,  o  pensamento  estratégico  torna  os 

procedimentos mais criativos e, por isso, com um nível de segurança mais elevado. Segundo Hoffman e 

Zimbelman, o raciocínio estratégico num contexto de auditoria ocorre quando um auditor considera as 

três questões seguintes: (1) Qual a probabilidade de terem ocorrido fraudes? (2) Como poderia a gestão 

esconder  as  possíveis  fraudes,  a  partir  do  plano  de  auditoria  padrão?  (3)  Como  é  que  o  plano  de 

auditoria pode ser modificado para detetar as fraudes ocultas? 

O estudo conclui que são óbvias as vantagens do raciocínio criativo e do brainstorming na melhoria 

da eficiência dos procedimentos de auditoria elaborados por peritos  forenses, não  sendo no entanto 

significativo o efeito combinado de ambas as operações. 

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O contributo da tecnologia informática 

 

Robert  Newman  (2009)  encontra  na  tecnologia  informática  um  método  eficiente  de  detetar 

atividades  impróprias  nas  corporações  em  que  se  suspeita  de  fraude.  De  facto,  a  maior  parte  da 

informação criada nas organizações é gerida eletronicamente, pelo que as investigações têm que estar 

preparadas para isso. 

A computação  forense permite que os  investigadores de  fraudes recolham, tratem,  identifiquem, 

analisem  e  protejam  grandes  quantidades  de  dados  e  evidências,  usando  ferramentas  sofisticadas  e 

laboratórios para conduzir uma investigação completa e precisa. Assim, a computação veio reduzir uma 

das  dificuldades  da  auditoria,  no  que  diz  respeito  ao  tratamento  de  informação  por  amostragem, 

aumentando razoavelmente a quantidade de dados tratados. Tornou‐se mais difícil esconder indícios de 

fraude e qualquer  tentativa de  fazê‐lo  irá  criar evidência  adicional apontando para uma  tentativa de 

ocultação. 

Técnicas de computação forense podem ser utilizadas nas várias situações em que um dispositivo 

digital está envolvido ou é acessório em algum tipo de crime, usado como um meio através do qual a 

atividade ilegal é cometida, ou é o alvo de alguma atividade ilegal. Incluem‐se aqui crimes financeiros e 

atividades contabilísticas  ilegais,  incluindo o roubo de  identidade e  incidentes de fraude. As técnicas e 

procedimentos de  investigação podem  identificar a  localização das contas  financeiras e outros ativos, 

provar a origem e destino de verbas, dissimular a verdadeira natureza das  transações  fraudulentas e 

identificar receitas ilegais. 

Os avanços tecnológicos mudaram, de facto, a forma como a auditoria está a ser feita (John Wang e 

James  Yang  2009).  Enquanto  a  auditoria  financeira  tradicional  é  realizada  periodicamente,  os  dados 

financeiros estão continuamente a fluir através do circuito eletrónico. Em resposta, a auditoria contínua 

é possível através do Data Mining, que processa quantidades de dados massiva de uma forma rápida e 

simples. 

São utilizadas duas aplicações de data mining no processo de análise de fraude: 

Outlier Analysis – verifica e analisa a ocorrência de  resultados diferentes de um determinado 

padrão, senso que estes podem ou não significar um caso de fraude; 

Benford’s  Law  Analysis  –  é  possível  encontrar  um  padrão  logarítmico  (padrão  de  Benford) 

através  da  compilação  e  tratamento  de  uma  grande  quantidade  de  dados.  Se  os  dados  não 

seguirem  o  padrão  de  Benford,  então  algo  de  irregular  se  passa,  podendo  ser  um  caso  de 

fraude. 

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Impacto  dos  processos  de  fraude  no  valor  de  mercado  da  empresa 

 

Christensen, Paik e Williams (2010) estudaram a forma como, assumindo um modelo que reflete de 

imediato  novos  dados  relevantes  no  preço  das  ações  no  mercado,  o  anúncio  da  prossecução  de 

processos oficiais de investigação por fraude usualmente espoleta uma forte quebra nos preços. Para a 

realidade  americana,  esse  impacto  foi  estimado  em  29%  no  conjunto  dos  três  dias  que  envolvem  a 

descoberta pelos investidores do processo de investigação (o precedente, o dia efetivo da descoberta e 

o dia seguinte). Os tipos de fraude com impacto mais relevante na baixa do preço relacionam‐se com o 

princípio de revenue recognition, a sobrevalorização de ativos e alegações de inside trading. Conclui‐se 

ainda que os investidores reagem tão prontamente a descobertas públicas de fraude como ao anúncio 

oficial de  investigações conduzidas pelas autoridades. No entanto, por mais  tardiamente promovidas, 

este segundo tipo de iniciativas provoca uma quebra menos acentuada no preço de mercado das ações 

que no primeiro caso. 

Grove  e  Basilico  (2011)  partem  precisamente  das  situações  de  fraude  supra  referidas, 

nomeadamente aquelas mais mediatizadas na opinião pública americana na primeira década do século 

XXI. Consideram os autores que, a montante, a complexidade da  informação financeira produzida não 

permitiu a plena compreensão da real situação financeira das empresas pelos investidores e acionistas. 

Paralelamente, os especialistas no tratamento da informação financeira — auditores externos, analistas, 

reguladores governamentais — terão igualmente falhado no seu trabalho de desmontar a complexidade 

da  informação, de  forma  a  torná‐la  inteligível  aos olhos dos  investidores, detetando mais  facilmente 

eventuais situações de fraude. 

 

A forensic accounting no setor público: alguns casos 

 

Huefner  (2010)  introduz a questão da pertinência da auditoria  forense no  setor público. Quatro 

anos depois do escândalo Enron, em 2001, foi descoberto um esquema fraudulento de desvio de fundos 

destinados a um conjunto de escolas públicas do estado de Nova Iorque, num valor total de 11 milhões 

de dólares. 

Esta atividade foi detetada pelo Comptroller (a autoridade estadual de controlo fiscal), a partir de 

algumas denúncias vagas de más práticas financeiras. Logo este organismo promoveu dois processos de 

auditoria: um ao auditor externo encarregue da supervisão das contas declaradas como corruptas; outro 

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para determinar a real dimensão da  fraude. Os documentos  resultantes desta  investigação são, como 

defende Huefner, exemplares na prática da auditoria forense no setor público. O seu impacto logo se fez 

sentir,  com  a  aprovação  de  legislação  que  veio  aumentar  o  controlo  financeiro  das  direções  de 

educação, em particular, e o alerta para este tipo de ocorrências no setor público, em geral. 

Posteriormente, em 2011, Huefner volta a alargar o âmbito deste tema. De acordo com dados da 

ACFE,  citados  pelo  autor,  entre  2008  e  2009,  as  organizações  vítimas  de  fraudes  distribuíam‐se  da 

seguinte  forma:  42,1%  de  empresas  privadas;  32,1%  de  empresas  públicas;  16,3%  na  administração 

pública e 9,6% em organizações sem fins lucrativos. Outro dado curioso: cerca de um terço dos casos de 

fraude ocorriam em organizações relativamente pequenas (menos de 100 trabalhadores), contrastando 

com  a ocorrência de 20% na  categoria para  as maiores  empresas  (mais de 10.000  trabalhadores). A 

investigação de Huefner corroborou estes dados no que toca à administração pública. Pequenas cidades 

e vilas estão particularmente sujeitas ao risco de fraude  já que, nas organizações públicas de pequena 

dimensão,  a  responsabilidade  de  controlo  e  prevenção  destes  riscos  cabe  a  oficiais  com  fraca 

preparação  técnica,  experiência  e  interesse  na  aplicação  de modelos  de  controlo  interno.  Huefner, 

estudando a realidade do Estado de Nova  Iorque, concluiu que em 25% deste tipo de organizações há 

fortes indícios da ocorrência de algum tipo de fraude. 

 

A condição de independência dos auditores internos 

Barnes  (2011)  estudou  a  possibilidade  da  independência  dos  auditores  internos  perante  a 

administração. Faz a  revisão da  literatura produzida sobre a matéria e conclui haver sérias ameaças a 

essa condição, sobretudo quando é percecionado que os processos de auditoria poderão prejudicar o 

valor de mercado da empresa. São estudados os  incentivos de o auditor  conformar o  seu  trabalho à 

vontade da administração, tendo sempre em consideração a punição legal como fator dissuasor de tais 

práticas.  Noutro  ponto,  são  analisadas  duas  situações  de  informação  assimétrica  que  criam 

oportunidades  para  a  fraude:  1)  como  a  informação  dos  relatórios  de  auditoria  são  conhecidos  em 

detalhe  apenas  pelo  auditor  e  pela  administração,  qualquer  oclusão  deliberada  ou  deturpação  de 

informação dificilmente será percecionada por agentes externos; 2) o auditor é colocado perante um 

cenário em que o seu conhecimento sobre a situação financeira da empresa é limitado, pelo que terá de 

recorrer à administração para preencher essa lacuna de  informação. Tal missão torna‐se difícil quando 

há uma clara tentativa da gestão de veicular falsas informações sobre a situação da empresa. 

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As  competências  exigidas  pelo  mercado  da  forensic  accounting  e  a 

(in)adequação da oferta educativa e formativa 

 

As  sucessivas  fraudes  criaram  uma  procura  elevada  por  capacidades  associadas  à  forensic 

accounting, pelo que existe, atualmente, a necessidade de formar forensic accountants que possuam os 

seguintes elementos centrais: mentalidade, método e experiência (Prabowo 2013).  

Mentalidade tida como uma capacidade, no sentido ético‐moral, de diferenciar o correto do errado 

e, ainda, de lidar com a pressão e de resolver problemas.  

Estes  profissionais  devem,  também,  adquirir  e  compreender  os  diversos  métodos  usados  na 

investigação  da  fraude:  desde  a  deteção  da  respetiva  fraude,  passando  por  todo  o  processo  de 

investigação da mesma, até à apresentação da investigação.  

Ainda de acordo com Prabowo  (2013) um  forensic accontant deve,  concomitantemente, adquirir 

experiência  em  investigação  da  fraude,  porque  só  assim  aplicará  o  conhecimento  adquirido 

anteriormente. 

 

Quanto  ao  elemento  relativo  ao  método,  importa  destacar  que  a  aquisição  específica  destes 

conhecimentos e  competências pode dar‐se  tanto pela educação  formal  como por via  formativa,  sob 

administração de instituições do ensino superior ou de outras. Na perspetiva de Prabowo (2013), apesar 

da  existência  histórica  de  preocupações  com matérias  associadas  à  fraude,  é  recente  o  estudo  da 

forensic acconting à escala universitária, relativamente à contabilidade  financeira. Ademais, apesar da 

evolução no capítulo educacional, é bastante difícil dotar os futuros profissionais da forensic accounting 

com as competências adequadas, pela falta de padrões oficiais de caráter universal. Akkeren, Buckby et 

al.  (2013),  focando‐se  mais  na  realidade  australiana,  corroboram  que  «os  serviços  profissionais 

abrangidos pelo  título de  forensic accounting  são diversos  e  complexos,  exigindo diferentes  tipos de 

competências, habilitações  literárias e experiência no setor». O mesmo estudo destaca, no domínio da 

prática  laboral, a  importância de competências ao nível da comunicação oral e escrita,  seguindo‐se o 

pensamento  crítico  ou  analítico,  competências  interpessoais  e  só  depois  competências  técnicas  no 

domínio da contabilidade  (vd.  figura 1). Minúcia, capacidades de diagnóstico, domínio de  tecnologias, 

pensamento  conceptual,  conhecimentos  jurídico‐legais  e  financeiros,  visão  comercial,  capacidade  de 

trabalho em equipa, entre outras características também são bastante valorizadas. Contudo, no domínio 

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do conhecimento, a graduação académica em contabilidade é tida como a mais decisiva para o exercício 

da atividade. Considerando o descontentamento de algumas empresas, pela ausência de algumas das 

características  supra  citadas nos  graduados,  trata‐se  atualmente de um enorme desafio,  criar planos 

curriculares mais uniformes, coerentes e alinhados com as necessidades do mercado de trabalho neste 

setor. 

 

 

 

Regulação e reconhecimento socioprofissional do setor 

 

Com o aumento da importância do setor, bem revelada pelo aumento das formações ‐ conferentes 

de grau superior ou não ‐ e de certificações associadas ao setor, surgem naturalmente questões sobre se 

a forensic accounting é, ou deve ser, um nicho da auditoria ou se deve tornar‐se  independente, sendo 

desenvolvida  por  profissionais  devidamente  regulados  (i.e.  devem  ser  reconhecimentos 

profissionalmente). Esta é uma discussão que  se vem a  intensificar nos EUA e, que  começa a ganhar 

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expressão em Portugal, como referido por Moreira (2010), havendo ainda necessidade de desenvolver 

continuamente trabalho científico nacional quanto a esta matéria. 

Particularmente,  no  caso  norte‐americano,  segundo  Huber  (2012)  «a  referência  da  forensic 

accounting como um nicho é enganosa e degrada o estatuto social da forensic accounting e dos forensic 

accountants». O autor põe em evidência que a forensic accounting, além da responsabilidade pública e 

social  inerente à sua atividade, preenche a maioria dos requisitos para ser considerada uma profissão, 

nomeadamente a existência de educação formal, formação, conhecimento especializado, competências 

comprovadas  por  intermédio  de  exames,  certificação,  a  existência  de  pelo  menos  uma  entidade 

formalizada, códigos de conduta ou de ética e, ainda, a verificação de independência ou de autonomia 

do setor.  

Contudo,  não  obstante  estes  pontos  positivos,  há  que  atender  aos  diversos  problemas  de 

transparência  e  credibilidade  de  determinadas  empresas  que  atuam  no  setor  e  à multiplicidade  de 

fatores de dispersão e de desarticulação. Como é destacado em Huber (2013), os problemas mais sérios 

são  relativos  às  múltiplas  certificações  ‐  por  vezes,  sem  exigência  educacional  prévia  ‐,  frequente 

inexistência,  quer  de  exames  para  efeito  de  certificação,  quer  de  códigos  de  ética  ou  de  conduta, 

inexistência de publicações das demonstrações financeiras das ditas empresas e o facto de constituintes 

dos  órgãos  de  gestão  serem,  em  alguns  casos,  não  qualificados. O mesmo  autor,  demonstra  que  o 

mercado  foi  e  continuará  a  ser  incapaz  de  se  autorregular  e  que  uma  agência  de  acreditação 

independente  também  não  funcionaria,  visto  que  teria  como  obstáculos  principais:  (i)  os  elevados 

encargos  financeiros;  (ii)  a  hostilidade  atual  entre  as  empresas,  evidenciando  incapacidade  de 

cooperação mútua; (iii) o facto de as empresas não estarem dispostas a revelar o seu regime jurídico, a 

difundir  publicamente  as  qualificações  dos  membros  dos  seus  órgãos  de  gestão  e  as  suas 

demonstrações  financeiras.  Alternativamente  e  considerando  o  pressuposto  importante  da  natureza 

específica da  forensic accounting, em Huber  (2013), conclui‐se que a alternativa mais  realista, menos 

intrusiva e desejável é a regulação pública do setor a um nível estadual, recorrendo‐se à aprovação de 

legislação que limite as certificações emitidas pelas empresas, às que cumpram os seguintes requisitos: 

a) Divulgação pública do seu estatuto ou regime jurídico; 

b) Publicação das qualificações dos seus constituintes; 

c) Adoção e aplicação de um código de ética e de um padrão de práticas; 

d) Publicação das suas demonstrações financeiras devidamente auditadas. 

 

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Conclusões 

 

Tendo em conta o propósito que  levou à realização deste trabalho, o  levantamento e análise das 

temáticas mais discutidas pela  comunidade  científica nos últimos  cinco  anos no  domínio da  forensic 

accounting,  é  possível  concluir  que  ainda  existem  aspetos  importantes  em  discussão,  embora  haja 

avanços significativos em certas rubricas.  

A  forensic  accounting,  preenche  a maioria  dos  requisitos  para  ser  considerada  uma  profissão, 

denotando‐se no entanto problemas de transparência e credibilidade de determinadas empresas, assim 

como falhas  importantes no sistema de certificação que põem em causa esta a qualidade do setor e a 

confiança  no mesmo.  Aguarda‐se  uma  solução  eficaz  de  regulação,  que  confronte  o mercado  com 

legislação que limite as certificações emitidas pelas empresas. Além disso, a regulação pode vir resolver 

definitivamente  a  discussão  de  enquadramento  da  forensic  accounting  como  nicho  da  auditoria  ou 

como atividade profissional independente. 

Por outro  lado, a profissionalização do  setor  levanta problemas no que diz  respeito à  formação, 

além de que se torna necessário dar resposta à crescente procura de  forensic accountants. A  falta de 

padrões  oficiais  de  caráter  universal  é  identificada  como  uma  grande  dificuldade  na  atribuição  de 

competências  adequadas  aos  formandos.  Apresentaram‐se,  algumas  das  competências  técnicas  e 

transversais mais  importantes para o  forensic accountants e os elementos centrais da sua preparação 

para a atividade profissional.  

A atuação na regulação e formação tarda a gerar resultados, pois a responsabilidade de controlo e 

prevenção de fraude continua a ser entregue a oficiais com fraca preparação técnica. No entanto, este 

continua a não ser o único problema da correta implementação da forensic accounting. Os objetivos de 

independência  dos  auditores  internos  relativamente  aos  constituintes  dos  órgãos  de  gestão  e  de 

implementação da forensic accounting com reconhecimento da sua mais‐valia, tardam a ser alcançados, 

o  que  pode  justificar  a  maior  incidência  de  fraude  registada  nas  empresas  privadas  e  de  menor 

dimensão. De  facto, os mercados e os  investidores estão cada vez mais sensíveis a questões  ligadas à 

fraude dentro das empresas, quer pelo anúncio de fraude, quer somente pela própria investigação, pelo 

que  estas  devem  estar  cada  vez  mais  disponíveis  para  introduzir  a  forensic  accounting  na  sua 

organização. 

Contudo,  fizeram‐se  notar  outros  avanços  no  setor  da  forensic  accounting.  Assinala‐se  o 

desenvolvimento de ferramentas fundamentais na área informática para acompanhar o incremento de 

informação criada, destacando‐se neste  caso o data mining. Distingue‐se  também o estudo de novas 

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técnicas, com a aplicação de conceitos como “raciocínio criativo ou estratégico” e brainstorming, com 

evidências  claras  na melhoria  da  eficiência  dos  procedimentos  de  auditoria  elaborados  por  peritos 

forenses. 

Como  consideração  final,  queremos  vincar  que  todas  as  temáticas  aqui  expostas merecem  um 

maior desenvolvimento científico e uma maior atenção das autoridades e das empresas que atuam ou 

pretendem atuar no setor. Em Portugal, estas proposições têm um relevo ainda mais acentuado. 

   

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