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Tribunal de Contas da União Vinculação: Ministério de Minas e Energia Dados Materiais: (com 05 volumes) Assunto: Auditoria Colegiado: Segunda Câmara Classe: Classe III Sumário: Auditoria realizada na ANP objetivando avaliar as ações de fiscalização empreendidas pela Agência na indústria do petróleo. Verificação de melhoria de desempenho em setores específicos e deficiência em outros setores. Recomendações e determinações à ANP. Inclusão de fiscalização específica em próximo Plano de Auditoria. Determinação à Secretaria Federal de Controle Interno e remessa de cópia da decisão, acompanhada do relatório e voto, à Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, à Comissão de Serviços de Infra-estrutura do Senado Federal, ao Ministro de Estado de Minas e Energia e ao Diretor-Geral da ANP. Natureza: Auditoria Data da Sessão: 27/09/2001 Relatório do Ministro Relator: Cuidam os autos de auditoria realizada na Agência Nacional do Petróleo - ANP, no período de 16 a 27.10.00, com vistas a aferir quantitativa e qualitativamente as ações de fiscalização empreendidas pela Agência nas atividades de exploração e produção de petróleo (upstream), bem como nos segmentos de refino, transporte, comercialização e abastecimento de gás natural, petróleo e seus derivados (downstream). Objetivou também verificar a evolução de diversas questões observadas na auditoria realizada na Autarquia em 1999 (TC-000.858/2000-4) e que, à época, encontravam-se em fase de planejamento ou de incipiente implantação.

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Tribunal de Contas da União

Vinculação: Ministério de Minas e Energia

Dados Materiais:

(com 05 volumes)

Assunto:

Auditoria

Colegiado:

Segunda Câmara

Classe:

Classe III

Sumário:

Auditoria realizada na ANP objetivando avaliar as ações de fiscalização empreendidas pela

Agência na indústria do petróleo. Verificação de melhoria de desempenho em setores

específicos e deficiência em outros setores. Recomendações e determinações à ANP.

Inclusão de fiscalização específica em próximo Plano de Auditoria. Determinação à

Secretaria Federal de Controle Interno e remessa de cópia da decisão, acompanhada do

relatório e voto, à Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, à Comissão de

Serviços de Infra-estrutura do Senado Federal, ao Ministro de Estado de Minas e Energia e

ao Diretor-Geral da ANP.

Natureza:

Auditoria

Data da Sessão:

27/09/2001

Relatório do Ministro Relator:

Cuidam os autos de auditoria realizada na Agência Nacional do Petróleo - ANP, no período

de 16 a 27.10.00, com vistas a aferir quantitativa e qualitativamente as ações de fiscalização

empreendidas pela Agência nas atividades de exploração e produção de petróleo

(upstream), bem como nos segmentos de refino, transporte, comercialização e

abastecimento de gás natural, petróleo e seus derivados (downstream). Objetivou também

verificar a evolução de diversas questões observadas na auditoria realizada na Autarquia em

1999 (TC-000.858/2000-4) e que, à época, encontravam-se em fase de planejamento ou de

incipiente implantação.

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2.Transcrevo a seguir excertos do relatório elaborado pela equipe de auditoria, para maior

clareza das matérias objeto da fiscalização:

“2. AS ATIVIDADES DE FISCALIZAÇÃO DA ANP

10. À ANP cabe fiscalizar um complexo de atividades econômicas relacionadas com a

exploração (pesquisa), o desenvolvimento, a produção, o refino, o processamento, o

transporte, a importação e a exportação de petróleo e seus derivados e gás natural, bem

como as atividades de distribui-ção e revenda de derivados de petróleo, de álcool etílico,

além da distribuição e estocagem de gás natural.

2.1 UPSTREAM

11. Cada etapa da cadeia produtiva da indústria do petróleo tem requerimentos próprios no

que concerne à fiscalização. Atualmente, um dos grandes desafios da Agência é o de

implementar uma fiscalização eficiente e ostensiva nas atividades do segmento do

upstream, cujo monopólio, até há pouco tempo, era exclusivamente exercido pela

PETROBRÁS. Desde a criação da Agência, em 1998, um grande número de novos agentes

passou a desenvolver as atividades de exploração (autorizatários e concessionários) além

de habilitarem-se, como operadores, às atividades de produção de petróleo e gás natural.

2.1.1 EXPLORAÇÃO (1)

12. A atividade exploratória pode ser executada mediante autorização, para a aquisição de

dados não exclusivos, ou mediante concessão, como primeira fase prevista no contrato para

exploração e produção de petróleo e gás natural. Como resultado da fiscalização, a ANP

pode instruir processo visando a aplicação aos autorizatários ou concessionários de sanções

administrativas e pecuniárias, desde que previstas na legislação e nos contratos de

concessão, pelo não cumprimento das normas, regulamentos legais e cláusulas contratuais

relativos às atividades de exploração.

(1) A exploração está detalhadamente descrita no item 1 do capítulo II do relatório da

auditoria realizada em 1999 (fls 5 a 7, vol. 1).

13. São atribuições da Superintendência de Exploração da ANP:

. fazer cumprir as melhores práticas relativas à segurança das operações e à preservação

ambiental das áreas onde serão realizadas as atividades de exploração.

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. administrar os bens reversíveis utilizados na área de exploração, quando de sua devolução

pelos concessionários, avaliando se todas as exigências estabelecidas na legislação e nos

contratos de concessão foram cumpridas.

. propor e fiscalizar a execução dos procedimentos técnicos e econômicos para o caso de

transferências de contratos de concessão, na fase de exploração, instruindo os processos

relativos a essas transferências, tendo o poder de autorizá-las ou denegá-las.

14. Por ocasião da auditoria realizada em 1999, os mecanismos de fiscalização da atividade

exploratória encontravam-se em fase de avaliação pela Agência. Na época, com base nos

rela-tórios apresentados, a ANP agendava visitas às áreas em exploração, com o enfoque

na questão ambiental e na segurança operacional. Era aventada, na ocasião, a possibilidade

de fiscaliza-ções conjuntas ANP/IBAMA, que dependeriam de acordos de cooperação que

estavam sendo dis-cutidos entre essas entidades.

15. Alguns documentos de controle são utilizados pela Agência no exercício da fiscali-zação.

São exemplos o Plano Anual de Trabalho e o Orçamento Anual, que devem ser apre-

sentados pelo concessionário em até 60 dias após a assinatura do contrato. Para a

execução de cada uma das atividades de exploração também devem ser apresentados para

análise e aprovação da ANP uma notificação inicial, um relatório mensal, uma notificação de

encerramento e um relatório final.

16. Os concessionários estão dispensados de requerer autorização para a aquisição de

dados em sua área de concessão, mas ficam obrigados a registrar junto à Agência todas as

operações de aquisição de dados que pretendam realizar por meios próprios ou através de

Empresas de Aquisição de Dados (EADs) por eles contratados. Para perfuração de poços

não há necessidade de autorização prévia, mas o conces-sionário deve notificá-la à ANP em

até 72 horas após seu início. A partir da notificação, a ANP determina o nome de cada poço

perfurado, com o objetivo de manter a uniformidade da nomenclatura, e inicia o

acompanhamento da atividade de perfuração. A cada mês deve ser apresentado um

relatório de acompanhamento. Uma vez concluída a perfura-ção, deverá ser feita uma

notificação de encerramento. Decorridos 30 dias dessa notifica-ção será apresentado um

relatório final de perfuração e, finalmente, um relatório final de poço.

17. A ocorrência de óleo em uma perfuração pode ser enquadrada como um indício ou como

uma descoberta - quando o indício é quantificável. Após uma descoberta, o conces-sionário

faz uma notificação e apresenta um plano de avaliação da descoberta, cujo obje-tivo é

dimensionar o reservatório. A partir disso, pode ser declarada ou não a sua comer-cialidade

(descoberta comercial).

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18. A Portaria ANP nº 259, de 6/12/2000, trata do Plano de Avaliação de Descobertas de

Petróleo e/ou Gás Natural, que deve ser preparado de acordo com as instruções contidas

neste Regulamento e com informações suficientes, em abrangência e detalhe, para:

. permitir a avaliação, por parte da ANP, da adequação do referido Plano aos objetivos

propostos;

. permitir à ANP conhecer e acompanhar a Avaliação da Descoberta de Petróleo e/ou Gás

Natural;

. demonstrar que a Avaliação da Descoberta se fará segundo as Melhores Práticas da

Indústria do Petróleo e em obediência às normas e regulamentações da ANP, bem como a

legislação em vigor.

A FISCALIZAÇÃO DA ATIVIDADE EXPLORATÓRIA

19. Segundo dados apurados a partir dos questionários respondidos pela Superintendência

de Exploração (fls. 59 a 80, vol. 3), dez ações de fiscalização foram empreendidas desde a

criação da Agência. Entretanto, duas das ações informadas, embora de grande

complexidade, caracterizam-se como atividades administrativas regulares e necessárias ao

funcionamento da Superintendência, mas não como ações fiscalizatórias propriamente ditas,

por isso não foram computadas para efeito de apuração dos indicadores apresentados no...

As ações excluídas tiveram o fito de preparar os critérios de devolução de blocos

exploratórios (fls. 73 e 74, vol. vol. 3) e apoiar o IBAMA na análise de relatórios para

licenciamento ambiental (fls. 79 e 80, vol. 3).

20. Do efetivo da Superintendência de exploração, oito pessoas - incluindo o

superintendente - podem atuar em fiscalizações, seguindo planejamento anual, com

previsão de metas a serem atingidas. Os relatórios de visita aos campos ou às instalações

são os instrumentos usados para o gerenciamento do cumprimento das metas estabelecidas

no planejamento, mas não há indicadores gerenciais para a avaliação da atividade

fiscalizatória. Apesar de haver planejamento, a metade das atividades, que duraram em

média 5,75 dias, foram empreendidas sem terem sido previstas.

21. Diversos foram os resultados dessas ações, tais como a coleta de informações, a

verificação do andamento de atividades de exploração e observações que vieram a

fundamentar a expedição de portarias...

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22. Diante do universo de empresas potencialmente aptas a executarem atividades

exploratórias nas bacias sedimentares brasileiras, pode-se dizer que é bastante tímido o

esforço fiscalizatório da Agência. Para se ter uma idéia do número de agentes, até o dia

12/3/2001, haviam 26 autorizações(1) para o exercício de diversas atividades exploratórias,

segundo dados constantes do sítio da ANP na Internet(2) (fls. 7 a 12, vol. 2). Somam-se a

esse número os 89 contratos de concessão assinados com a PETROBRÁS que encontram-

se em fase exploratória. Outros 33 contratos em fase exploratória estão em vigor em

decorrência das duas primeiras rodadas de licitações promovidas pela Agência. Com isso,

entre concessões e autorizações, há 148 instrumentos viabilizando a realização de

atividades exploratórias no Brasil.

(1) Empresas de Aquisição de Dados (EADs).

(2) http://www.anp.gov.br/DadosNaoExclus.html

23. Em contrapartida, a Superintendência de Exploração conta com apenas oito técnicos

para fazer a regulamentação e fiscalizar os concessionários. Considerando que os técnicos

estivessem voltados apenas para a fiscalização, mesmo assim seriam cerca de 148 áreas

com possibilidade concreta de exploração, número que deve subir depois da terceira rodada

de licitação, para serem divididas entre os oito pessoas. Nesse caso, cada técnico envolvido

com atividade de fiscalização seria responsável, em média, por 19 áreas de exploração, um

número que denota a insuficiência de pessoal dedicado à fiscalização.

24. A fiscalização efetuada pela Superintendência de Exploração é, quase que na sua

totalidade, feita com base nas declarações dos próprios concessionários. Contudo, com a

continuação das rodadas de licitação e o conseqüente aumento das atividades de

exploração, é necessário que critérios para programas de auditoria devam ser elaborados e

implementados.

25. Existe um planejamento para a fiscalização das atividades de exploração, que é levado a

cabo nos meses de outubro a dezembro do ano anterior ao da fiscalização. Mas, pelo que se

pode deduzir das repostas da Superintendência ao questionário formulado pela equipe de

auditoria, não resulta desse planejamento um documento que deixe claro quais são os

objetivos dessa fiscalização, bem como quais são as metas a serem atingidas pela

Superintendência, o que seria importante para a aferição gerencial dos resultados

alcançados.

26. Não há, segundo resposta da Superintendência ao questionário formulado pela equipe

de auditoria, instrumento gerencial algum que sirva para medir a efetividade e a

economicidade das ações de fiscalização em relação ao objetivo traçado no planejamento.

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Há apenas relatórios técnicos que não suprem a necessidade de informações gerenciais

consolidadas capazes de medir a performance das ações fiscalizatórias.

(...)

AUDITORIAS CONJUNTAS COM O IBAMA

30. Para qualquer atividade de aquisição de dados que realizem, por meios próprios ou por

contratação de empresas especializadas, os concessionários estão abrigados a obter a

necessária licença ambiental, em consonância com termo de referência IBAMA/ANP para

elaboração do estudo ambiental para atividade de levantamento de dados sísmicos,

marítimos e terrestres. A ANP não oferece nenhuma garantia de que a atividade de

exploração venha a ser licenciada pelos órgãos de controle ambiental, devendo o

concessionário ou autorizatário arcar com, por sua conta e risco, com a obtenção do

adequado licenciamento ambiental.

31. A Agência tem procurado financiamento de órgãos internacionais para propor

regulamentação referente ao meio ambiente e à segurança operacional. Contudo, o contato

mais estreito e o compartilhamento de conhecimento entre a ANP e os órgãos ambientais já

seria um importante passo adiante nesse processo.

32. Segundo informações da Agência, desde janeiro de 2000, a ANP vem apoiando o

IBAMA na análise de relatórios para licenciamento ambiental, fornecendo subsídios técnicos

para o IBAMA na expedição de novas regulamentações, tornando mais transparente o

processo de concessão de licenças ambientais. Essa participação, segundo informações do

IBAMA, não está suportada por nenhum instrumento formal de cooperação e se dá eventual

e informalmente.

(...)

O ABANDONO DOS POÇOS

35. A fiscalização do abandono de poços perfurados com vistas a exploração ou produção

de petróleo e gás natural deve ocorrer de acordo com o Regulamento de Abandono de

Poços, aprovado pela Portaria ANP nº 176, de 27/10/1999. Essa atividade tem significativos

desdobramentos ambientais e econômicos.

36. Este Regulamento disciplina os procedimentos a serem adotados no abandono de poços

de petróleo ou gás, para assegurar que outros agentes não venham a ser economicamente

afetados, bem como assegurar que os aqüíferos existentes sejam isolados de fluidos.

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37. Atualmente, encontra-se em fase de estudo a criação de um fundo de abandono de

poços que serviria para fazer frente aos custos dos procedimentos adequados de abandono

de poço, caso o agente responsável não tivesse capacidade financeira para assumí-lo,

resultando em passivos ambientais que poderiam causar danos à toda coletividade. A

equipe de auditoria entende que a efetiva implementação desse fundo garantidor será de

grande importância no sentido de diminuir os riscos da atividade sobre o meio ambiente.

38. Até hoje, praticamente apenas a PETROBRÁS perfurou poços nas bacias sedimentares

brasileiras. Essa realidade, contudo, vem mudando progressivamente com a flexibilização do

monopólio do petróleo. Muitos dos poços perfurados pela PETROBRÁS, apesar de inativos,

ainda não passaram pelo correto procedimento de abandono, que envolve a recomposição

ambiental do terreno onde houve a perfuração.

(...)

TRANSFERÊNCIA DOS CONTRATOS DE CONCESSÃO

40. As duas rodadas de licitação de blocos já realizadas aumentaram sobremodo o número

de agentes interessados nas atividades de exploração. Para a terceira rodada, a Agência já

acenou com a possibilidade de reduzir a exigência de patrimônio líquido da eventual

participante, passando de U$ 1 milhão para R$ 1 milhão. Ao câmbio da época da auditoria,

essa mudança significaria uma redução de 50% na exigência. Essa decisão poderá atrair

ainda mais participantes interessados em explorar petróleo no Brasil.

41. Já está sendo prática nesse novo mercado a união de empresas em consórcios, a fim de

diluir o risco inerente à atividade de exploração. O aumento no número de empresas

participantes eleva a possibilidade da ocorrência dessas parcerias.

42. A ANP, segundo relatado em entrevista à equipe de auditoria, tem interesse em saber

quem são os participantes do mercado e como eles estão associados. Esse tipo de

informação serve para que a Agência monitore a atuação das empresas e, com isso, garanta

que os blocos sejam convenientemente explorados, com a possibilidade, inclusive, de

intervenção da ANP na aprovação da formação de parcerias. Dessa maneira, se evitaria que

os contratos fossem transferidos ou compartilhados entre empresas sem capacidade técnica

ou financeira para cumprir regularmente os termos contratuais.

2.1.1 DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO (1)

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43. Apesar de a ANP ter sido instalada em 14/1/1998, pelo Decreto 2.455/1998, a

fiscalização da produção ainda encontra-se em estado incipiente. Tal fato agrava-se a cada

dia, pois, desde a implementação da flexibilização do monopólio do petróleo, inúmeros

agentes, além da PETROBRÁS, passaram a atuar na produção de petróleo e gás natural,

principalmente em virtude das parcerias firmadas pela estatal do setor petrolífero, que

viabilizaram a inclusão de novos operadores no mercado nacional... Além disso, em

25/10/2000, foram habilitadas mais 49 empresas operadoras que poderão concorrer à

transferência do contrato de concessão de 73 campos maduros detidos atualmente pela

PETROBRÁS.

(1) O desenvolvimento e a produção estão detalhadamente descritos no item 1.2 do capítulo

II do relatório da auditoria realizada em 1999 (fls 7 e 8, vol. 1).

(...)

A FISCALIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE PRODUÇÃO

44. O acompanhamento dos contratos de conces-são na fase de produção, que inclui

também a etapa de desenvolvimento, deve levar em conta a conservação dos recursos

petrolíferos, a preservação ambiental e a segurança operacional.

45. À época da auditoria anterior, a ANP estava se preparando para aferir a produção dos

concessionários. Na ocasião, estava sendo elaborado um diagnóstico do sistema de

medição da PETROBRÁS, com base no qual seria proposto um regulamento de medição da

produção em consonância com o INMETRO. A idéia em voga era de realizar a fiscalização

periódica dessas atividades por meio de inspeções periódicas - para aferir a situação

presente dos campos - e auditorias - para avaliação dos processos ocorridos.

46. A proposta desse regulamento de medição transformou-se na Portaria Conjunta

ANP/INMETRO nº 001, de 19/06/2000, por meio da qual se aprovou o Regulamento Técnico

de Medição de Petróleo e Gás Natural, que estabelece as condições e requisitos mínimos

que os sistemas de medição de petróleo e gás natural devem observar, com vistas a garantir

resultados acurados e completos.

47. A Portaria concedeu o prazo máximo de 24 meses, a contar da data de sua publicação,

para que os sistemas de medição, já instalados e em utilização, fossem integralmente

adequados ao Regulamento Técnico de Medição de Petróleo e Gás Natural, aprovado pelo

ato.

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48. As atividades dos concessionários são contro-ladas por meio dos seguintes documentos,

que permitem avaliar eventuais distorções e subsidiar a fiscalização: Plano de

Desenvolvimento, Programa Anual de Produção, Programa Anual de Trabalho/Orçamento e

Boletim Mensal de Produção(2).

(2) O conteúdo desses documentos é apresentado no capítulo IV do relatório da auditoria

realizada em 1999 (fls 34 e 35, vol. 1)

49. Segundo dados colhidos por meio de questionários enviados à Superintendência de

Desenvolvimento e Produção (fls. 43 a 58, vol. 3), sete técnicos - incluindo o

Superintendente - podem atuar efetivamente nas ações de fiscalização. Esse efetivo segue

planejamento anual, com previsão de metas para as ações a serem levadas a cabo.

50. Relatórios de visita, notificações de acidentes e acompanhamento dos resultados são os

instrumentos usados para o gerenciamento do cumprimento das metas estabelecidas no

planejamento. Contudo aqui também não há indicadores gerenciais para a avaliação da

atividade fiscalizatória.

51. Ainda segundo as respostas dadas ao questionário, até outubro do ano 2000, a

Superintendência realizou apenas seis ações fiscalizatórias - quatro verificações e duas

inspeções - com duração média inferior a um dia. O resultado de quase todas as ações de

verificação foi o arquivamento.

52. (...)

53. Assim como nas atividades de exploração, a fiscalização das atividades de produção

encontra-se em fase incipiente, não havendo rotinas sistemáticas nem parâmetros

objetivamente definidos. A resposta ao questionário elaborado pela equipe de auditoria dá

conta de que apenas sete pessoas, incluindo o Superintendente, estão diretamente

envolvidas na fiscalização das operações de desenvolvimento e produção.

54. Ainda segundo o que foi colhido pela equipe de auditoria, os dados obtidos por meio dos

relatórios, enviados pelos produtores à ANP, ainda não foram inseridos na Base de Dados

de Upstream , tão necessária para subsidiar as ações de acompanhamento do setor. Dessa

forma, tal como na auditoria anterior, constata-se nesta que a ANP ainda não dispõe de

informações em âmbito corporativo que possibi l i te uma ação integrada das

superintendências ligadas ao upstream no que diz respeito à fiscalização dos

concessionários.

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55. A publicação da Portaria ANP nº 100, de 26/6/2000, que dispõe sobre as questões

relacionadas com o acompanhamento e fiscalização das atividades de produção, veio a

mitigar essa situação. Referido ato, já de acordo com o estabelecido na seção V, art. 43,

inciso VII, da Lei nº 9.478/1997, estabelece a obrigação de o concessionário entregar à

ANP, nos prazos estabelecidos contratualmente, o respectivo Programa Anual de Produção,

sujeitando-o, em caso de não cumprimento dessa obrigação, às penalidades previstas na

Lei nº 9.478/1997.

56. A citada Portaria pode ser o instrumento fundamental para definir indicadores de

desempenho a serem adotados para a aferição dos resultados da fiscalização das atividades

de desenvolvimento e produção.

57. A atividade de produção de petróleo no Brasil encontra-se em fase de excepcional

dinamismo, por isso, tendem a crescer exponencialmente as implicações ambientais e de

segurança industrial decorrentes dela. Hoje, a ANP conta com apenas sete técnicos,

incluindo nesse quantitativo o próprio Superintendente, para fiscalizar a gama de instalações

existentes para a produção de petróleo. Ao longo do ano de 2000, a Superintendência

realizou seis ações fiscalização em instalações produtoras de petróleo, diante da magnitude

da atividade, contudo, este número é modesto, provavelmente conseqüência do pequeno

efetivo de pessoal à disposição da Superintendência.

Recomendações (...)

A PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E O MEIO AMBIENTE

62. É fundamental que tanto a regulamentação ambiental, em suas esferas federal e

estadual, quanto a regulamentação referente à indús-tria do petróleo, propriamente dita,

estejam perfeitamente sistematizadas e coerentes com a política energética e ambiental

traçadas pelo CNPE e CONAMA, respectivamente.

63. Todas as atividades devem ser licenciadas pelo IBAMA ou pelos órgãos estaduais de

meio ambiente (OEMAs), de acordo com a Resolução CONAMA nº 23, de 7/12/1994, que

institui critérios específicos para o licenciamento ambiental das atividades relacionadas à

perfuração e pro-dução de petróleo e gás natural.

64. Nas atividades relativas à produção de petróleo, a queima de gás natural por motivo de

contaminação e o descarte de resíduos sólidos são os dois maiores contribuintes para

agressões ao meio ambiente.

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65. Para os campos já em produção, a Portaria ANP nº 100/2000, estipula que devem ser

apresentadas as previsões dos volumes de gás natural, com teores de contaminantes que

inviabilizem sua utilização, a serem queimados ou ventilados no meio ambiente, indicando,

ainda, as razões que levaram a este enquadramento, bem como as medidas tomadas para

minimizar o impacto ambiental e salvaguardar as condições de saúde ocupacional.

66. Quanto à previsão de produção e descarte de resíduos sólidos, o concessionário se

obriga, ainda segundo o estabelecido pela Portaria ANP nº 100/2000, a informar a previsão

de borras, incrustações materiais radioativos e metais, e mais as sucatas eventualmente

geradas no processo produtivo de petróleo e gás natural.

(...)

2.2 DOWNSTREAM

68. Outro aspecto crítico é a fiscalização do segmento de downstream, cuja principal

característica é o gigantesco número de agentes que atuam nas atividades de transporte,

comercialização (importação e exportação) e abastecimento do mercado de combustíveis

(atacado e varejo), onde há grande dificuldade de garantir a qualidade dos produtos, de

coibir práticas inidôneas, de mediar as relações entre os agentes econômicos do setor no

que diz respeito à defesa da concorrência, bem como de cuidar da defesa da consumidor.

Nesse setor inclui-se a atividade de refino que, além das questões anteriormente

mencionadas, também tem problemas significativos de segurança operacional e ambiental.

2.2.1 Refino (1)

(1) As atividades de refino de petróleo e processamento de gás natural estão descritas nos

itens 2.1 e 2.2 do capítulo II do relatório da auditoria realizado em 1999, fls. 8 e 9, vol. 1.

69. Cabe à ANP autorizar a prática das atividades de refinação de petróleo e processamento

de gás natural. Qualquer empresa ou consórcio de empresas constituída sob as leis

brasileiras, com sede e administração no País, poderá submeter à ANP proposta, acompa-

nhada do respectivo projeto, para a construção e operação de refinarias, bem como para a

ampliação de sua capacidade.

70. A ANP estabelecerá os requisitos técnicos, econômicos e jurídicos a serem atendi-dos

pelos proponentes, incluindo as exigências de projeto quanto à proteção ambiental e à

segurança industrial e das populações. Atendidos esses requisitos, a ANP outorgará a

autorização, de-finindo seu objeto e sua titularidade.

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71. A Portaria ANP nº 28, de 5/2/1999, que regulamenta o Art. 53 da Lei 9.478/1997,

estabelece os requisitos para outorga de autorizações de construção, de ampliação de capa-

cidade e de operação de refinarias. Essa Porta-ria, em seu Art. 1º, estabelece os casos que

serão objeto de outorga de autorização, a saber:

. ampliação de capacidade de processamento (1);

(1) Segundo a Portaria ANP nº 28/2/1999, ampliação de capacidade é a modificação de

instalação industrial que aumente a capacidade de processamento de petróleo e de gás

natural, altere o perfil de produção ou a qualidade final dos produtos ou represente impacto

ambiental ou altere as condições de higiene e segurança da instalação industrial.

. alteração da cesta de produtos ou da qualidade final dos produtos;

. modificação que demande licenciamento ambiental.

72. Os pedidos de autorização para construção, ampliação e operação de refinarias so-

mente podem ser apresentados após a emissão da Licença Prévia pelo órgão de licencia-

mento ambiental, nesse caso o órgão estadual de meio ambiente (OEMA).

73. Apesar de pertencer ao segmento downstream, o refino guarda grandes semelhanças

com as atividades do upstream, principalmente no tocante à quantidade de agentes

econômicos envolvidos na atividade, pois o segmento de refino ainda é praticamente um

monopólio da PETROBRÁS, que detém cerca de 98,5% da produção nacional de derivados

de petróleo. As refinarias privadas de Manguinhos (RJ) e Ipiranga (RS), ambas de pequeno

porte, respondem pelos 1,5% restantes (2).

(2) Fonte: Anuário Estatístico da Indústria do Petróleo 1999-19999, ANP, Rio de Janeiro,

2000.

74. Desde de a edição da Portaria ANP nº 56, de 21/3/2000, as centrais petroquímicas

ficaram autorizadas a produzir gasolina tipo A (comum e premium), ampliando

significativamente o número de agentes na produção de combustíveis. Coube, por decisão

da Diretoria da Agência, à Superintendência de Abastecimento a fiscalização desse setor.

Essa nova atribuição deverá sobrecarregar esta Superintendência, que já se obriga a lidar

com o mais complexo e diversificado segmento da cadeia da indústria do petróleo, os ramos

de atacado e varejo de derivados. Também parece prejudicial ao fluxo informativo interno da

Agência, que o controle do fábrico de gasolina esteja fora do âmbito da Superintendência de

Refino e Processamento de Gás Natural.

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(...)

A FISCALIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE REFINO

76. A operação de uma refinaria é uma atividade complexa, geradora de grandes riscos

ambientais e de segurança operacional. É fundamental, para que os riscos da atividade

permaneçam sob controle, que o pessoal de operação seja bem treinado e que as

instalações sejam operadas de acordo com estritas normas de segurança.

77. Segundo a ANP, mesmo o grande conhecimento desses riscos, bem como a

reconhecida experiência da PETROBRÁS tem sido insuficiente para evitar que acidentes

aconteçam nas instalações das refinarias, pelas mais diversas causas.

78. Diante desse quadro e tendo em vista o potencial de gravidade de acidentes, a ANP tem

atuado no sentido de estabelecer um perfil de risco das refinarias em operação no Brasil,

para poder atacar os problemas mais crônicos com a merecida atenção.

79. No final de 2000, a ANP firmou convênio com o INMETRO(3) para a implantação da

avaliação de conformidade na indústria do petróleo e gás natural, com o objetivo de

assegurar que as atividades no setor sejam exercidas observando-se padrões de segurança

industrial, proteção ambiental, e qualidade. Segundo o Convênio, respeitadas as

peculiaridades de cada segmento da indústria do petróleo e gás natural, serão formuladas

diretrizes próprias e específicas que terão caráter mandatório para a avaliação de

conformidade de seus processos produtivos, de gestão, de produto e de pessoal.

(3) Publicado no DOU de 28/11/2000.

80. No âmbito dessa convênio, está sendo elaborado o projeto de classificação de risco das

refinarias, que consiste em estabelecer padrões de conformidade aos quais as refinarias

estarão vinculadas. Nesses termos, caberá ao INMETRO o credenciamento de empresas

que poderão emitir atestados de comissionamento para as refinarias. Essa linha de atuação,

segundo a ANP, segue a tendência mundial de terceirização da fiscalização na atividade de

refino. Preocupa a equipe de auditoria, entretanto, como será monitorada a contratação,

pelas refinarias, dessas empresas credenciadas a fim de evitar uma relação de coerção

entre as partes. A PETROBRÁS, por exemplo, que praticamente detém o monopólio do

mercado de refino no país, poderá facilmente excluir de sua carteira de fornecedores de

serviços as empresas que não atestarem o comissionamento de suas refinarias.

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81. Quando da realização desta auditoria, encontravam-se em elaboração questionários

informatizados que seriam encaminhados às unidades de refino em novembro de 2000 e,

quando respondidos, orientarão a fiscalização das refinarias, com base no que a Agência

define como Regulamento de Operação Segura. Outro objetivo a ser alcançado por este

questionário é uma medida do risco operacional de cada refinaria em operação no país. Os

resultados desta importante iniciativa da Agência devem ser encaminhados ao TCU, bem

como devem constar dos objetivos da próxima auditoria a ser realizada na ANP.

82. De acordo com as respostas dos questionários enviados à Superintendência de Refino e

Processamento de Gás Natural (fls. 91 a 108, vol. 3), são seis os técnicos envolvidos nas

ações de fiscalização relativas ao processo de refino e processamento de gás natural -

incluindo o superintendente. Não há, contudo, um planejamento anual de atividades de

fiscalização, com previsão de metas para ações a serem empreendidas (1). Por

conseguinte, também não há nem instrumentos formais que sejam utilizados no

gerenciamento do cumprimento de metas, nem indicadores gerenciais para a avaliação da

atividade fiscalizatória.

(1) Apesar de, segundo resposta da aos questionários, não haver planejamento para as

atividades de fiscalização (fl. 92, vol.3), três das oito ações de fiscalização da SRP foram

indicadas como programadas. Essa aparente incoerência pode ter ocorrido pela imprecisão

nas respostas fornecidas ou por impropriedades na elaboração, por parte desta equipe de

auditoria, dos termos do questionário elaborado. Para efeitos de consolidação, as

fiscalizações indicadas no formulário como ordinárias serão consideradas como

efetivamente planejadas.

83. Ainda segundo as respostas dadas ao questionário, até outubro do ano 2000, foram

realizadas oito ações de fiscalização. Uma delas foi uma auditoria extraordinária por

recomendação da Direção da ANP após a ocorrência do acidente com o duto que

contaminou a baía de Guanabara. Outras sete ações foram de verificação de operação de

refinarias, principalmente com o intuito de verificar o estado da arte operacional de diversas

refinarias e subsidiar a construção de uma proposta futura de regulamentação das

atividades operacionais das refinarias, com foco na segurança industrial e meio ambiente.

Essas ações tiveram duração média de dois dias.

84. (...)

A ATIVIDADE DE REFINO E O MEIO AMBIENTE

87. O licenciamento ambiental da atividade de refino é, em regra, de responsabilidade dos

órgãos estaduais de meio ambiente (OEMA), que também devem regular e fiscalizar a

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emissão de poluentes relacionada a essa atividade econômica que, na sua essência, é

ambientalmente agressiva. Por essa razão, ficam sujeitas a prévia e expressa autorização

da Agência a construção, ampliação de capacidade e operação de refinarias e de unidades

de processamento de gás natural, condicionada essa autorização à apresentação, pelo

interessado, de todo o licenciamento ambiental na adequada esfera administrativa.

Atualmente, a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), situada em Cubatão - SP, e a

Refinaria Duque de Caxias (REDUC), situada em Duque de Caxias - RJ, operam sem

licença ambiental. Isso porque a PETROBRÁS está questionando, junto aos órgãos

ambientais, a necessidade do licenciamento para algumas unidades dessas refinarias que já

estavam em operação antes da edição da Lei nº 6.939, de 31/8/1981, que dispõe sobre a

política nacional de meio ambiente.

Segundo a ANP, no período de realização da presente auditoria, a RPBC e REDUC estavam

negociando com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), de São

Paulo, e com a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), do Rio de

Janeiro, respectivamente, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) visando regularizar

essa situação. Ainda segundo a ANP, o TAC referente à REDUC foi assinado em

29/11/2000, enquanto que o referente à RPBC permanece em fase de negociação. O

superintende de refino e processamento de gás natural também registra que as demais

refinarias do país encontram-se com situação plenamente regularizada no que se refere ao

licenciamento ambiental.

88. Além da poluição relacionada à operação de refino, os riscos de acidentes de grandes

proporções e severos impactos ambientais estão fortemente presentes nessa atividade. Por

isso as refinarias devem ter plano de emergência, e a defesa civil, em cada estado, deve ter

plano de contingência. A diferença entre eles é que enquanto neste a defesa civil tem

acesso a áreas públicas e privadas, naquele as equipes das refinarias só atuam dentro dos

limites de sua propriedade nas ações de combate aos efeitos do acidente. Atualmente a

realidade é que, na maioria dos casos, a PETROBRÁS é quem elabora os dois planos e não

raro os executa, já que a defesa civil, principalmente em localidades menores, é quase

inexistente.

(...)

2.2.2 COMERCIALIZAÇÃO E MOVIMENTAÇÃO DE PETRÓLEO E SEUS DERIVADOS (2)

(2) A movimentação de gás natural, petróleo e derivados está descrita no item 2 do capítulo

II do relatório da auditoria realizado em 1999, fls. 10 e 11, vol. 1.

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90. A movimentação é o transporte de fluidos desde as instalações de produção até as

bases de distribuição. Há quatro principais modais de movimentação: aquaviário (navegação

de cabotagem, interior ou de longo curso), dutoviário, rodoviário e ferroviário.

91. Existe um sistema integrado para a movimentação de fluidos desde as áreas produtoras,

para o petróleo produzido no Brasil, ou dos terminais marítimos, no caso de importação, até

as refinarias. Depois de refinado, os derivados passam também pela rede de transporte em

direção aos centros consumidores ou aos terminais marítimos, no caso de exportação.

92. O modal mais utilizado na movimentação de fluidos combustíveis, hoje, é o dutoviário.

Os dutos são mais econômicos e podem ser construídos em terra ou em mar cobrindo

grandes distâncias. Outra característica importante é a segurança do transporte dutoviário

em relação aos demais modais. A versatilidade também é grande, pois, exceto os

gasodutos, dedicados exclusivamente ao transporte de gás natural, os polidutos permitem o

transporte de diferentes líquidos em bateladas.

93. Há duas superintendências na ANP dedicadas à movimentação de fluidos: a

Superintendência de Comercialização e Movimentação de Petróleo e seus Derivados (SCP)

e Superintendência de Comercialização e Movimentação de Gás Natural. Esta última, não

abrangida nesta auditoria, cuida das questões relacionadas aos gasodutos que, apesar de

uma rede com extensão muito próxima da dos polidutos, opera com menores riscos de

acidentes geradores de impacto ambiental, uma vez que o gás natural dilui-se rapidamente

na atmosfera, enquanto que os líquidos têm grande potencial de contaminação do solo e do

subsolo. Também deve-se registrar que o maior risco do transporte de gás natural

concentra-se nas redes de distribuição deste combustível, que é de competência estadual,

conforme o art. 25, § 2º da Constituição Federal.

94. Os serviços de movimentação de petróleo e derivados envolvem uma grande gama de

agentes, já que qualquer empresa ou consórcio de empresas constituída sob as leis

brasileiras, com sede e administração no País, pode ser autorizada pela ANP a construir

instala-ções e efetuar qualquer modalidade de transporte de petróleo, seus derivados e gás

natural, seja para suprimento interno ou para importação e exportação.

95. As distâncias, os diferentes modais e o grande número de agentes atuando no setor, faz

da movimentação uma das mais complexas e arriscadas atividades da cadeia do

downstream. A fiscalização é intrinsecamente difícil e os danos ambientais dos eventuais

acidentes tem sido, freqüentemente, de grandes proporções, como se verá adiante, na

descrição dos acidentes ocorridos nas refinarias REDUC (parágrafos 0 a 0) e REPAR

(parágrafos 0 a 0).

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A FISCALIZAÇÃO DA MOVIMENTAÇÃO DE PETRÓLEO E DERIVADOS

96. As atividades de construção, ampliação e operação de instalações (2) de transporte ou

de transferência de petróleo, seus derivados e gás natural, inclusive liqüefeito (GNL),

carecem de prévia e expressa autorização da Agência, nos termos da Portaria ANP nº 170,

de 26/11/1998. Segundo esta norma, as autorizações são concedidas em duas etapas:

Autorização de Construção (AC) e Autorização de Operação (AO).

(2)Dutos, terminais terrestres, marítimos, fluviais ou lacustres; e unidades de liquefação de

gás natural e regaseificação de GNL.

97. É da competência da SCP propor os requisitos técnicos e econômicos a serem

atendidos pelos proponentes interessados na construção ou ampliação de instalações

destinadas ao transporte de petróleo e seus derivados, bem como propor as exigências de

projeto quanto à proteção ambiental e à segurança industrial e das populações; analisar

propostas dos interessados na construção ou ampliação de instalações e propor a outorga

de autorização para os proponentes qualificados e, quando for o caso, analisar e propor a

transferência de titularidade dessa autorização.

98. As dificuldades inerentes ao transporte de petróleo e derivados levaram a ANP a

terceirizar o comissionamento das instalações, atividade essa delegada às chamadas

entidades técnicas especializadas, societariamente independentes da empresa solicitante,

que emitem Atestados de Comissionamento destinados a atestar a segurança e a

conformidade às normas técnicas das instalações de transporte, de acordo com o art. 9º, II

da Portaria ANP nº 170/1998.

99. Segundo a SCP, é intenção da Agência estabelecer critérios para o credenciamento das

entidades técnicas especializadas e que os atestados por elas emitidos sejam revalidados

periodicamente, pois, atualmente, o comissionamento não tem prazo de validade. Esses

critérios serão elaborados no âmbito do convênio para a implantação da avaliação de

conformidade na indústria do petróleo e gás natural, firmado com o INMETRO (3).

(3) Outras informações sobre esse instrumento estão no parágrafo 0 do presente relatório.

100. Como já manifestado na análise do refino (parágrafo 0), preocupa-nos a forma como a

ANP irá monitorar a contratação das entidades técnicas especializadas a fim de coibir o

abuso do poder econômico dos contratantes sobre as prestadoras desse tipo de serviço.

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101. Para as instalações existentes antes da criação da ANP, foram emitidas autorizações

por força do art. 57 da Lei n° 9.478/1997. Essa mesma Lei estabeleceu a obrigatoriedade de

a PETROBRÁS segregar a atividade de movimentação de petróleo, seus derivados e gás

natural. Nessas condições, foi criada a TRANSPETRO. Essa nova empresa enviará os

Atestados de Comissionamento emitidos por empresas independentes das instalações antes

pertencentes à PETROBRÁS.

102. Finalmente, a SCP é quem estabelece os critérios relativos ao acesso de terceiros às

instalações de transporte de petróleo e derivados, bem como aqueles que regulam a

preferência a ser atribuída ao proprietário dessas instalações (1).

(1) Informações sobre Livre Acesso e Direito de Preferência constam do item 2.3 do capítulo

II do relatório da auditoria realizada em 1999, fl. 11, vol. 1.

103. Em resposta ao questionário formulado pela equipe de auditoria (fls. 5 a 34, vol. 3), a

Superintendência de Comercialização e Movimentação de Petróleo (SCP) informou que são

nove os técnicos que podem atuar nas ações de fiscalização empreendidas no âmbito desta

superintendência.

104. A despeito de existirem critérios que determinam as ações de fiscalização, a SCP

informa que essas ações não estão associadas a metas previamente estabelecidas. Não há,

por conseqüência, instrumentos utilizados para gerenciar o cumprimento de metas, bem

como verificar eventuais desvios de planejamento. O superintendente da área avalia cada

uma das ações fiscalizatórias pela leitura dos relatórios técnicos gerados.

105. Para a SCP, a previsão de metas torna-se difícil, pois as ações fiscalizatórias, tanto no

âmbito das atividades de comercialização (importação e exportação), como de

movimentação de petróleo e seus derivados, são primordialmente motivadas por informes de

incidentes, denúncias ou investigações de cunho preventivo de possíveis irregularidades

detectadas pela equipe técnica da Superintendência, no exercício de suas atividades.

106. Ora, se há, como afirma o superintendente, investigações de cunho preventivo, nada

impede que seja elaborado um planejamento contendo a programação de fiscalizações

periódicas com metas pré-estabelecidas. Mesmo no caso de fiscalizações motivadas por

denúncias ou informes de acidentes, é possível estabelecer estimativas a partir de

ocorrências históricas e incluí-las em planejamento prévio. Esse tipo de prática é que

permite realizar avaliações a partir das divergências entre o planejado e o executado e

promover projeções que irão subsidiar o dimensionamento de pessoal, recursos materiais e

logísticos para a atividade fiscalizatória, em exercícios subseqüentes.

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107. (...)

A FISCALIZAÇÃO DA MOVIMENTAÇÃO DE GÁS NATURAL

108. A Superintendência de Comercialização e Movimentação de Gás Natural informou, por

meio do questionário (fls. 1 a 4, vol. 3), que conta com dois técnicos de nível superior para a

fiscalização que não segue um planejamento anual nem possui metas pré-estabelecidas.

Também não há indicadores gerenciais que permitam o monitoramento da atividade

fiscalizatória. Apenas uma ação de fiscalização foi realizada na área de movimentação de

gás natural desde a instalação da ANP, com duração de 2 dias.

109. Segundo o superintendente da área, a ANP atuará mais intensamente na fiscalização

das instalações de movimentação de gás natural a partir do segundo trimestre de 2001 e

esclarece que até o final de 2000 deverá ser elaborada uma previsão das vistorias a serem

realizadas no ano seguinte, as quais deverão resultar em relatórios de viagens e autos de

infração, quando couber. Ainda segundo o superintendente, nesta fase, por ele designada

de inicial, não há necessidade de indicadores gerenciais para a gestão da fiscalização, mas,

‘em uma fase mais avançada de fiscalização, em no máximo 18 meses, serão criados

alguns indicadores’. Essa fiscalização, de acordo com a Agência se dará com pessoal

próprio ou por meio de convênios com outros órgãos governamentais e universidades.

(...)

2.2.3 A FISCALIZAÇÃO DO ABASTECIMENTO (2)

(2) Informações sobre o mercado de derivados encontram-se no item 5 do capítulo IV do

relatório da auditoria realizada em 1999, fls. 44 a 52, vol. 1.

113. A Lei do Petróleo instituiu, em seu art. 7º, a ANP como órgão responsável pela

regulação, contratação e fiscalização das atividades econômicas da indústria do petróleo,

cabendo-lhe, entre outras atribuições:

. regular e autorizar as atividades relacionadas com o abastecimento nacional de

combustíveis, fiscalizando-as diretamente ou mediante convênios com outros órgãos da

União, Estados, Distrito Federal ou Municípios (grifamos);

. regular e fiscalizar as atividades de distribuição e revenda de derivados de petróleo e álcool

combustível;

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. comunicar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) as infrações à ordem

econômica, observadas no contexto da atuação da Agência, para que esse adote as

providências cabíveis, no âmbito da legislação pertinente (1).

(1) Redação dada ao art. 10 da Lei nº 9.478/1997 pela Lei nº 10.202, de 20/2/2001.

114. A regulação e a autorização das atividades relacionadas com o abastecimento nacional

de combustíveis estão previstas no art. 8º, XV, da Lei nº 9.478/1997 e compreendem o

monitoramento de distribuidoras de combustíveis, distribuidoras de gás liquefeito de petróleo

(GLP), transportadores retalhistas (TRRs) e postos revendedores. Para o exercício dessas

atividades os agentes devem obter registro fornecido pela ANP após a verificação do

cumprimento das normas.

115. As distribuidoras de combustíveis e de GLP devem ter bases para armazenagem de

combustível ou envasilhamento de GLP (botijões). A ANP fornece duas autorizações: uma

para a construção da base e outra para sua operação, concedida após uma vistoria das

instalações.

116. Para ter maior controle sobre o mercado de derivados, a ANP vem estabelecendo cotas

para o volume de combustível que o distribuidor está autorizado a retirar numa refinaria. As

cotas representam um meca-nismo de atendimento isonômico a todos os distribuidores.

117. Além da outorga de autorizações para as operações típicas do mercado de deriva-dos,

a ANP atua sobre esse segmento no sentido de garantir a qualidade dos produtos, de coibir

práticas inidôneas, de mediar as relações entra os agentes econômicos do setor no que diz

respeito à defesa da concorrência, bem como de cuidar da defesa do consumidor.

118. Interessa à ANP combater a cartelização, que impede a cobrança de preços justos aos

consumidores, aumentando extraordinariamente as margens de lucro de poucos grupos

econômicos. Também é do interesse da Agência garantir a qualidade dos produtos, que,

adulterados com adição de solventes, além da óbvia lesão aos direitos dos consumidores,

acarretam prejuízos fiscais ao Governo Federal em virtude do não pagamento da Parcela de

Preço Específica (2)-(PPE) pelos volumes de solventes misturados aos combustíveis.

(2) Detalhes sobre a PPE constam do item 5.3 do capítulo IV do relatório da auditoria

realizada em 1999, fls.46 a 48, vol. 1.

119. A área de fiscalização do mercado de derivados começou a se estruturar a partir de

julho de 1998 atuando basicamente com pessoal cedido de outros órgãos e com o pessoal

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do extinto Departamento Nacional de Combustíveis (DNC). A atual estrutura está

desconcentrada em diversos estados utilizando-se da estrutura física do Departamento

Nacional de Produção Mineral (DNPM) (via convênio). A ANP, além da sede em Brasília e

do Escritório Central no Rio de Janeiro, tem postos de fiscalização em São Paulo, Espírito

Santo, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná e Santa Catarina.

120. Com o objetivo de reestruturar o setor de distribuição e revenda de derivados de

petróleo e de modelar a área de fiscalização, ainda antes da realização da primeira auditoria

na ANP, foi contratada uma consultoria que apresentou relatório contendo a estrutura e a

metodologia associadas ao processo de fiscalização.

121. Quando da realização da auditoria de 1999, a estratégia de atuação da ANP estava

baseada em convênios, principalmente com órgãos estaduais tipo PROCON e IPEM

(instituto estaduais de pesos e medidas), para fiscalização de varejo e atuação direta da

Agência para os distribuidores, a fim de verificar, em ambas, a qualidade e o abastecimento.

122. Na presente auditoria, verificou-se que a antiga Coordenadoria de Fiscalização, que

tratava do mercado de derivados, transformou-se na Assessoria Especial de Fiscalização

(AEF), estruturada da seguinte forma: um escritório central, localizado no Rio de Janeiro e

de quatro escritórios regionais que pretendem uma cobertura de todo o território nacional.

Há também, na estrutura da AEF, como havia na extinta Coordenadoria, um Núcleo de

Planejamento e Gestão e um Setor de Análise Técnica (SAT). Este último funciona em

Brasília e tem como principal finalidade analisar e julgar, em primeira instância, os processos

administrativos instaurados no âmbito da fiscalização.

123. O que preocupa é que, tal como em 1999, o SAT permanece sem a devida

formalização na estrutura da ANP e que fracassaram as tentativas de estabelecer

cooperações com os IPEMs. Na auditoria de 2000, a Agência informou que estava se

voltando para firmar parcerias com os Corpos de Bombeiros, principalmente para atuar junto

aos revendedores de GLP, mas, novamente, em fase incipiente.

124. Em 1999, ano da auditoria anterior, a ANP havia efetuado 10.022 ações de fiscalização,

que resultaram em 514 interdições e 2.385 autuações. No ano de 2000, a meta da ANP era

realizar 12.000 fiscalizações, das quais estimava em outubro de 2000 que poderia chegar a

11.767, com 492 interdições e 3.567 autuações. Apesar de eloqüentes, os números de

fiscalização são da ordem de 25% maiores do que aqueles efetuados em 1995, cinco anos

antes (fls. 60, vol. 2).

125. A fiscalização da ANP também pretende efetivar o Plano Integrado de Fiscalização, que

consiste em sistematizar o fluxo de informações, aumentar o número de convênios com as

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universidades, além de implementar fiscalizações conjuntas, ainda com universidades, com

o uso de analisadores portáteis para verificação da qualidade do combustível.

126. Para dezembro de 2000, estava prevista a definitiva estruturação dos escritórios

regionais interligados on line com a sede da Agência, o que agilizaria a troca de informações

relativas às operações de fiscalização. Segundo a ANP, essa infra-estrutura possibilitará as

operações de fiscalização e servirá como suporte técnico e operacional para a Agência.

127. Ainda sobre informatização da operações de fiscalização de campo, a AEF imagina que

sua implementação possa fazer com que o controle da documentação da fiscalização torne-

se automático e centralizado, desde sua emissão até o julgamento do processo

administrativo, e que haja maior confiabilidade no enquadramento das irregularidades.

128. A AEF entende que o perfil do profissional de fiscalização de campo da ANP ainda não

está suficientemente delineado. Por isso, não deve haver contratação de fiscais quando da

efetivação dos primeiros concursos que a ANP vier a promover para provimento de seus

cargos.

129. O que se constata é que a ANP, após três anos de sua implantação, ainda não

conseguiu implementar uma sistemática de fiscalização ostensiva com pessoal próprio, por

restrições legais(1), nem por meio de convênios, como explicitamente prevê a Lei

9.478/1997, no abastecimento de combustíveis. Registre-se que este setor sempre esteve

aberto à iniciativa privada e, apesar de ter sofrido influência da flexibilização do monopólio

do petróleo, o impacto da abertura não se deu na mesma intensidade dos segmentos de

refino e do upstream.

(1) As dificuldades para contratação de pessoal próprio estão associadas à edição do plano

de carreira das agências reguladoras e estão mais detalhadamente descritas no tópico 3.1.

PERSPECTIVAS ORGANIZACIONAIS PARA A ANP (parágrafos 0 e 0).

130. A experiência histórica do controle governamental sobre o abastecimento de derivados

no Brasil data da década de 30, quando foi criado o Conselho Nacional do Petróleo (CNP),

sucedido pelo Departamento Nacional de Combustíveis (DNC), em 1990, e pela ANP, em

1998. Não é razoável, portanto, que não esteja nos planos da Agência a contratação de

pessoal dedicado à fiscalização do abastecimento pela alegação de que não há ainda um

‘perfil delineado’ para os profissionais que atuarão nessa área.

131. Na prática, o avanço mais significativo notado foi a implementação do CRC, que

possibilitou a recepção mais ágil e racional das demandas dos consumidores e dos agentes

econômicos, melhorando o desempenho da comunicação da Agência com o público externo,

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que praticamente inexistiu até julho de 2000. Ressalte-se, entretanto, que dentre as

agências reguladoras do setor de infra-estrutura, a ANP foi a última a implantar esse tipo de

serviço.

(2) Maiores detalhes sobre o CRC estão no tópico 3.3 A DEFESA DO CONSUMIDOR

(parágrafos 0 e 0).

(3) Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Agência Nacional de Telecomunicações

(ANATEL) e ANP.

Recomendações (...)

A ANP E O COMÉRCIO ILEGAL

134. Como principal economia da América do Sul, o Brasil sempre foi um mercado atrativo

para as empresas de distribuição de gás e derivados de petróleo, que investiram

maciçamente no país nas últimas décadas. Estes investimentos contribuíram para o

crescimento da indústria em geral e para o desenvolvimento do setor de combustíveis

líquidos (gasolina, óleo, diesel e álcool) em particular.

135. Segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis

(SINDICOM), este setor transaciona mais de R$ 60 bilhões por ano, com uma arrecadação

de impostos da ordem de R$ 21 bilhões. Dentro da indústria de distribuição de combustíveis,

contudo, há a previsão de uma redução no ritmo de crescimento em virtude de práticas

irregulares de companhias inescrupulosas, que incluem a adulteração de combustível,

fraude e evasão de impostos. Essas práticas criam falsas vantagens competitivas a

determinados agentes e prejudicam a concorrência no mercado de derivados.

136. Com a desregulamentação do mercado, além da competitividade maior no âmbito da

indústria, passaram a existir também práticas irregulares negativas, muito em função das

incipientes medidas normativas e de fiscalização.

137. Alguns distribuidores independentes, por exemplo, acharam caminhos para fornecer

combustível mais barato a seus postos de serviço, fugindo ao pagamento de impostos

federais e estaduais. Tais práticas permitiram uma conquista substancial de fatias do

mercado.

138. A fraude fiscal ocorre principalmente pela obtenção de liminares que questionam

aspectos como o pagamento antecipado de impostos à PETROBRÁS, bem como a

incostitucionalidade da incidência PIS, CONFINS e ICMS. Apesar da fragilidade das

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argumentações, a concessão de liminares tem sido freqüente e numericamente expressiva.

Ao contrário, a derrubada das liminares tem sido lenta e pouco eficiente permitindo que se

estabeleçam no mercado competidores que deterioram a concorrência, agridem os direitos

dos consumidores e sonegam tributos em todas as esferas governamentais prejudicando

toda a coletividade.

139. As irregularidades fiscais também ocorrem na venda do álcool, pois algumas usinas de

cana-de-açúcar negociam diretamente com os varejistas, evitando, assim, o pagamento do

ICMS pelo distribuidor e tornando possível a evasão de impostos.

140. A fraude fiscal, entretanto, não é o único problema que a indústria enfrenta. A

adulteração, feita por distribuidoras, de combustíveis e outros produtos ligados ao petróleo,

também tornou-se bastante freqüente e disseminada por todo o país. A gasolina, por

exemplo, é misturada a solventes químicos ou ao álcool numa proporção maior que a

permitida. Essa prática é lesiva aos consumidores e chega, segundo a área responsável da

ANP, a quadruplicar a margem de lucro daqueles distribuidores.

141. Tais práticas inescrupulosas têm tido grande efeito negativo sobre o mercado de

distribuição. A situação já afetou o volume de negócios dos distribuidores e varejistas que

trabalham dentro da lei. Só em 1998, as companhias filiadas ao SINDICOM (Sindicato

Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis) perderam 35% de sua fatia no

mercado de São Paulo, o Estado com a maior demanda do Brasil. Em conseqüência, várias

dessas companhias foram obrigadas a fechar postos de serviços em todo o país.

142. Preocupado com a evasão de impostos, o governo tem tomado medidas para resolver

o problema. A MP nº 1.807 (1) de 28/1/1999, concentrou nas refinarias a coleta do PIS e da

COFINS sobre a gasolina e o óleo diesel. Assim, distribuidores desonestos ficarão

impossibilitados de recorrer à Justiça para obter a isenção destes impostos.

(1) Atualmente sob o número 2.113 de 26/4/2001.

143. À época da auditoria, a ANP havia recém aprovado regulamentação, determinando que

os postos de gasolina que exibem uma marca identificadora comprassem seus produtos do

próprio distribuidor da marca. Em princípio, isto vai permitir aos consumidores certificar-se

de que estão comprando o produto com a qualidade da marca que os varejistas anunciam

em seus postos.

144. Essas medidas são boas notícias para os consumidores e para o mercado. Mas só a

sua continuidade vai mostrar se são efetivas. A diminuição das margens de lucro até então

devidas às liminares fará, segundo a Superintendência de Abastecimento da ANP com que

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haja, pelo menos num primeiro momento, uma tendência de crescimento da atividade de

adulteração de combustíveis.

145. Nessas condições, o saneamento de longo alcance do mercado de distribuição requer

uma fiscalização mais rigorosa em todo o país das atividades praticadas pelas distribuidoras

e postos de combustíveis, para garantir à própria indústria condições para investir e ampliar

os negócios, e aos consumidores a qualidade dos produtos que lhes são oferecidos.

(...)

2.2.4 QUALIDADE DOS PRODUTOS

147. A ANP possui em sua estrutura uma Superintendência dedicada à qualidade do

produto. Entre outras atribuições, cabe a esta Superintendência:

.assessoramento à Diretoria junto ao CNPE na formulação de políticas de qualidade de

produtos;

.proposição à Diretoria das especificações de derivados de petróleo e álcool combustível;

.plano de controle da qualidade de produtos;

.monitoramento da qualidade dos combustíveis em todo o País.

148. Inicialmente a própria refinaria certifica os derivados produzidos por força de re-

gulamento da ANP. No âmbito das distribuidoras, que adicionam álcool à gasolina, está

prevista nova regulamentação exigindo um processo de recertificação. Também está pre-

vista a obrigatoriedade para os postos de revenda no sentido de reter uma amostra lacrada

da distribuidora.

149. Para a tarefa de monitoramento, a ANP vem contratando universidades e centros de

pesquisa, que devem alcançar metas em termos de números de testes realiza-dos

diariamente. Por exemplo, para o ano de 2000, estavam previstos mais 100 mil amostras,

realizadas em cerca de 22 mil postos de revenda de combustíveis, ou seja, 76,7% dos

postos do mercado, conforme se pôde apurar do documento intitulado Monitoramento da

Qualidade de Combustíveis, (fl. 168, vol. 2).

150. Em relação auditoria anterior, a Superintendência de Qualidade de Produtos afirma que

a assinatura de novos convênios com universidades trará a cobertura completa de todo o

território nacional.

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151. Além da infra-estrutura das instituições contratadas, a ANP conta com o laboratório do

Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas (CEPAT), admi-nistrado pela UFRJ, que

divulga periodicamente um Relatório Executivo com resultados das campanhas de

monitoramento de combustíveis, abrangendo postos de serviços e bases de distribuição.

152. A gasolina é o combustível mais adulterado no mercado brasileiro. Solventes diversos e

álcool anidro em excesso são as substâncias mais comumente utilizadas pelos fraudadores.

153. O álcool anidro está no caso dos componentes já normalmente encontrados na

gasolina e a atual legislação estabelece que o percentual não pode ser inferior a 19% nem

superior a 21%. Entretanto, como o preço do álcool anidro é bastante inferior ao da gasolina

antes da mistura, os fraudadores utilizam percentuais superiores aos determinados pela

legislação.

154. No caso de adulteração de álcool, atribui-se o aumento dos casos de álcool hidratado

fora da especificação às bem sucedidas tentativas dos adulteradores de obter o produto a

partir do álcool anidro, ao qual é adicionada água. Como o álcool anidro é bem mais barato

que o hidratado, o processo é bastante lucrativo.

155. A desregulagem do motor dos veículos e o aumento do consumo são as primeiras

conseqüências da adulteração da gasolina por excesso de álcool anidro. Com o tempo, a

corrosão das partes metálicas do carro que entram em contato com o combustível vai se

acentuando, podendo chegar até a inutilização desses equipamentos.

156. Outra grande desvantagem para o consumidor no caso de gasolina adulterada com

excesso de álcool é o aumento do consumo do veículo resultando em abastecimentos mais

freqüentes. Como o poder de liberação de energia do álcool é inferior ao da gasolina, cada

vez que se coloca álcool no tanque, em lugar da gasolina pura, coloca-se menos energia.

Nesse caso, para rodar a mesma distância, o veículo terá que consumir mais combustível.

157. Uma das maneiras que o consumidor dispõe para se defender da fraude na gasolina

por excesso de álcool é exigir do posto o teste com utilização de uma proveta, de acordo

com o previsto na Portaria ANP nº 248, de 31 de outubro de 2000.

158. A adição à gasolina de solventes tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Ao

contrário do álcool anidro, não existe um teste simples capaz de apontar este tipo de fraude

para o consumidor antes do abastecimento. A verificação do excesso só é possível com a

utilização de sofisticada aparelhagem, existente no País em número muito reduzido, ou em

alguns poucos laboratórios especializados.

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159. Paradoxalmente, a adulteração dos combustíveis vem aumentando consideravelmente

a partir de vigência da Lei nº 9.990, de 21 de julho de 2000, que praticamente eliminou a

possibilidade de sonegação do PIS e da COFINS incidentes sobre a gasolina e o óleo diesel,

via liminares obtidas na Justiça contra o pagamento desses impostos.

160. Segundo a ANP, uma das maneiras que o consumidor tem para se prevenir de

eventuais adulterações é ficar atento aos postos de venda de combustível que oferecem

seus produtos a preços notavelmente mais baixos do que os da concorrência.

161. Além disso, a Agência estabeleceu que cada posto deveria possuir, em local visível, os

telefones de contato com a Agência Nacional do Petróleo que deve ser acionada em casos

de irregularidades.

162. A ANP entende que a principal ação na luta contra o comércio irregular de combustíveis

deve ser o acompanhamento da produção e do destino dos solventes fabricados pelas

indústrias petroquímicas. Para fazer isso, a Agência conseguiu selecionar uma substância

capaz de ser utilizada como marcador dos solventes, sem afetar o uso normal do produto.

Trata-se de um isótopo de hidrogênio, praticamente impossível de ser reproduzido, retirado

ou neutralizado e que, misturado aos solventes em quantidades ínfimas, permite rastreá-lo

sempre que for indevidamente adicionado à gasolina. Segundo o que apurou a equipe de

auditoria em entrevista com o Superintendente de Qualidade de Produtos, o teste piloto do

uso desses marcadores de solvente deverá ser realizado no Estado de São Paulo.

163. A Superintendência de Qualidade de Produtos, a de Abastecimento e a Assessoria

Especial de Fiscalização são da opinião de que a própria publicidade que se estará fazendo

da utilização desse método constitui um fator de inibição da compra de solventes para

adição à gasolina. Mas, caso alguém resolva insistir na prática, a gasolina cuja especificação

tiver sido alterada pela adição de solventes será facilmente identificada, no posto ou na

distribuidora que tiver vendido o produto.

164. Até agora, a ANP tem tentado monitorar a qualidade dos combustíveis por meio de

amostras colhidas nas revendas e analisadas em centros de pesquisa. A Agência, contudo,

só consegue ter acesso a cerca de 77% dos postos para fazer as devidas análises. Em

números absolutos, portanto, 23% dos postos não têm, em hipótese alguma, seus

combustíveis analisados.

165. A Agência informa também que deverá, ao longo do ano de 2000, analisar cerca de

100.000 amostras. Como a ANP analisa os combustíveis de cerca de 22.000 postos, sua

média é de, praticamente, 5 análises por posto por ano. Caso se pretenda oferecer garantia

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de qualidade ao consumidor, esta média aparenta ser bem reduzida, já que a grande maioria

dos postos gira seu estoque em menos de uma semana, isto é, na pior das hipóteses, cada

posto recebe 52 cargas de combustível por ano.

166. O mercado de distribuição, mormente as grandes marcas, contudo, já parece ir na

direção de oferecer ao consumidor, inclusive como estratégia mercadológica, a garantia de

qualidade de seus produtos. A Esso, por exemplo, à época da auditoria, lançou o programa

Gasolina Garantida, no qual a distribuidora afirma garantir ao consumidor a qualidade da

gasolina vendida em seus postos (1).

(1) A gasolina da Esso tem cor diferenciada, visível ao consumidor através de filtros

transparentes colocados nos bicos das bombas. A gasolina comum é vermelha e a aditivada

mantém sua cor verde.

167. Já implantado nas principais cidades do País, o programa da distribuidora norte

americana é, pelo que se pode ver em visita à página da empresa na internet, resultado de

pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em 20 cidades brasileiras na qual apurou-se o temor

dos consumidores quanto à qualidade do combustível vendido nos postos e sua

necessidade de encontrar postos confiáveis.

168. Marcadores exclusivos (tracers ou os chamados DNA) contidos na gasolina vendida

pela distribuidora asseguram a verificação da sua origem, segundo publicidade amplamente

difundida pela multinacional. Além disso, o programa possui certificação ISO 9003, fornecida

pelo INMETRO.

169. Em resumo, o que o distribuidora norte-americana garante é que o combustível

comercializado nos postos que aderirem à campanha Gasolina Garantida provieram da

Distribuidora Esso, nos termos da Portaria ANP n° 116, de 5 de julho de 2000, que

regulamentou o mercado varejista de combustíveis. A gasolina, contudo, ainda pode vir a ser

objeto de fraude. A fim de diminuir essa possibilidade, a Distribuidora garante a fiscalização

de seu combustível nos postos participantes de seu programa por meio de unidades móveis,

dotadas de equipamentos apropriados para testes de conformação de qualidade de

combustíveis. Não se pode confundir, portanto, a iniciativa da multinacional com a garantia

automática de qualidade de combustível.

(...)

2.3 INFORMAÇÕES CONSOLIDADAS DA FISCALIZAÇÃO

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172. Para efeito desta consolidação serão considerados estritamente as informações

prestadas pelas superintendências de Exploração, Desenvolvimento e Produção,

Comercialização e Movimentação de Gás Natural, Comercialização e Movimentação de

Petróleo e seus Derivados e Refino e Processamento de Gás Natural...

173. Para as superintendências acima mencionadas, que representam uma porção crítica e

significativa da cadeia produtiva da indústria do petróleo, fica patente a necessidade de a

ANP adotar medidas urgentes que possibilitem uma presença ostensiva do poder regulador

sobre os agentes econômicos do setor, o que não se observou até o momento (...)

2.4 OS ACIDENTES E O PAPEL DA ANP

174. Dois acidentes ocorridos em instalações de movimentação de derivados de petróleo

tiveram graves repercussões: o da baía de Guanabara e o de Araucária, no Paraná. Além

deles, um acidente na Refinaria Landulfo Alves, a RLAM, redundou na morte de um

operador. Esses eventos serão tratados com detalhes, ainda nesta seção, em estudos de

caso que tentam reproduzir as condições dos acidentes, suas conseqüências e a atuação da

ANP nos episódios. Como subsídio para esses estudos de caso, a equipe de auditoria usou,

principalmente, os relatórios técnicos confeccionados pela Agência para a instrução dos

respectivos processos.

175. O acidente ocorrido na baía de Guanabara precipitou a edição da Portaria ANP nº 14,

de 1/2/2000, que estabeleceu os procedimentos para comunicação de acidentes de natureza

operacional e liberação acidental de poluentes, a serem adotados pelos concessionários e

empresas autorizadas a exercer atividades pertinentes à exploração e produção de petróleo

e gás natural, bem como pelas empresas autorizadas a exercer as atividades de

armazenamento e transporte de petróleo, seus derivados e gás natural.

176. Nas condições da Portaria ANP nº 14, a Agência passou a ter papel preponderante, na

eventualidade de ocorrência de acidentes:

‘Art. 2º O concessionário ou empresa autorizada notificará e relatará à ANP e às demais

autoridades competentes, no prazo máximo de 12 (doze) horas da constatação de todo e

qualquer acidente que resulte em interrupção das operações por mais de 24 (vinte e quatro)

horas, prejuízos de monta ao patrimônio ou impacto ambiental, em especial nos casos

abaixo discriminados:

Vazamento de gases;

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Erupção de petróleo e gás natural em poços;

Incêndios;

Explosões;

Falhas de equipamentos relacionados direta ou indiretamente às atividades e operações do

próprio Concessionário ou Autorizado.’

177. Ainda na mesma Portaria, ficou estabelecido, dessa vez no art. 3º, que o

concessionário ou a empresa autorizada notificará e relatará à ANP e às demais autoridades

competentes, no prazo máximo de doze horas, da constatação de derramamento de

substância poluente proveniente de suas próprias instalações ou de instalações de outros

concessionários ou de empresas autorizadas que atinjam sua área de concessão, ou ainda,

derramamento de origem desconhecida.

178. Finalmente, o art. 5º estatui que, no prazo máximo de quarenta e oito horas, a contar da

ocorrência do evento de que trata o art. 2º da Portaria, o concessionário ou a empresa

autorizada apresentará à ANP o Relatório de Ocorrência de Acidentes Operacionais,

contendo, dentre outros aspectos julgados relevantes, o seguinte:

I - Descrição física do evento;

II - Data, hora e localização da instalação do concessionário ou da empresa autorizada onde

iniciou ou ocorreu o evento;

III - Identificação da pessoa responsável pela redação do relatório, incluindo cargo na

companhia;

IV - Descrição dos equipamentos ou parte destes, estruturas, tubulações, ferramentas,

aparelhos de carga, dispositivos, sistemas, compartimentos, materiais, áreas, unidades de

carga, dentre outros, envolvidos direta ou indiretamente no evento e que, de alguma forma,

contribuíram para sua ocorrência;

V - Descrição dos fatores externos que, por ventura, contribuíram para a ocorrência do

evento, como condições meteorológicas, falhas de sistemas, defeitos de equipamentos,

interação de elementos terceiros, porém não se limitando somente a estes relacionados;

VI - Descrição das prováveis causas do evento, sejam imediatas, cumulativas ou

circunstanciais;

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VII - Avaliação das conseqüências do evento no que diz respeito à continuidade operacional,

a danos ao patrimônio, à proteção ambiental e à saúde humana; e

VIII - Descrição das medidas mitigadoras tomadas.

2.4.1 ESTUDO DE CASO I (ACIDENTE NA RLAM)

179. No dia 21/6/ 2000, um grave acidente ocorrido na Refinaria Landulfo Alves, em

Mataripe-BA (RLAM), redundou na morte de um funcionário da Refinaria e provocou

queimaduras em outros três.

180. O acidente ocorreu na unidade de desasfaltação a propano, às 22:45 horas de 21 de

junho, por conta de uma grande liberação de propano no sistema de drenagem do vaso

acumulador desse solvente. A ocorrência durou cerca de cinqüenta minutos.

181. Segundo o relatório, o operador iniciou o procedimento de drenagem do vaso, mas

afastou-se do local de manobra, o que permitiu um vazamento descontrolado de gás. A

nuvem logo espalhou-se por toda a área e, quando encontrou uma fonte de ignição,

inflamou-se, provocando grande incêndio.

182. A comissão da refinaria que apurou o caso atribuiu total responsabilidade pelo acidente

ao operador falecido. No caso, o operador contrariou as regras de segurança tanto ao

efetuar a drenagem do vaso, quanto ao comportar-se durante a emergência, já que não

portava rádio e teve que comunicar pessoalmente o acidente ao superior, perdendo tempo

precioso no combate ao acidente. Saliente-se que, segundo o que confirmou a ANP, o

operador fôra suficientemente treinado nos procedimentos operacionais.

A ATUAÇÃO DA ANP

183. Em 27/6/2000, o Superintendente e um técnico da Superintendência de Refino e

Processamento de Gás Natural foram à RLAM e, por meio do documento nº 100.984, de

27/6/2000, procederam a interdição da unidade até que as causas fossem identificadas e

saneadas, bem como notificaram a Empresa a apresentar à ANP toda a documentação que

comprovasse a identificação das causas e as medidas adotadas para se evitar que

acidentes semelhantes tornassem a ocorrer.

184. Depois de analisar o relatório elaborado pela comissão encarregada de apurar o

acidente, a ANP enviou à RLAM o Ofício nº 007/SRP/2000, de 25/7/2000, visando verificar

qual era o procedimento operacional e o grau de treinamento dos operadores. No Ofício, a

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ANP também determinou à RLAM que elaborasse procedimento detalhado para a drenagem

do vaso, bem como que promovesse e documentasse o treinamento nesse procedimento a

todos os operadores envolvidos na operação da unidade. O atendimento a essa orientação

dada pela ANP seria requisito para a desinterdição da refinaria.

185. Durante nova visita que os técnicos da ANP empreenderam à RLAM, dessa vez para

analisar o atendimento ao Ofício nº 007/SRP/2000, foram-lhes apresentados dois

procedimentos. Um para a operação normal da unidade, isto é, a operação rotineira, feita no

início de cada turno, e outro para situações de distúrbios operacionais. Os dois

procedimentos foram considerados adequados pelos representantes da Agência.

186. A RLAM também comprovou, por meio de documentação, haver treinado todos os

operadores da unidade. Os técnicos da ANP, por amostragem, entrevistaram três

operadores, com o intuito de verificar a eficácia do treinamento.

187. Como conseqüência de sua visita, bem como do atendimento, por parte da RLAM, das

determinações emanadas pela ANP, os técnicos da Agência houveram por bem recomendar

a desinterdição da unidade de desasfaltação a propano daquela refinaria.

188. Apesar de recomendar a desinterdição da refinaria, foi determinado à PETROBRÁS

que apresentasse à ANP projeto alterando o sistema atual de drenagem, encontrando uma

solução que passasse a enviar o produto drenado para local seguro, vaso ou tubulação, ao

invés de enviá-lo para a atmosfera; também foi pedido um cronograma de implantação do

referido projeto.

189. Por causa do acidente ocorrido na RLAM, a ANP também pediu à PETROBRÁS

relatório descrevendo os sistemas e procedimentos operacionais de drenagem dos vasos de

propano das demais unidades de desasfaltação das refinarias da empresa.

190. Finalmente, a ANP também determinou que a PETROBRÁS lhe enviasse, num prazo

de sessenta dias, relatório contendo estudo sobre o estado da arte de drenagem operacional

de vasos que armazenem gases liqüefeitos inflamáveis de petróleo. Este relatório deveria

trazer pesquisa dessas atividades em outras companhias e em outros países, bem como o

normalização técnica internacional atualizada sobre o assunto.

Conclusões

191. Da atuação da ANP por ocasião do acidente ocorrido na RLAM, pelo menos três fatos

devem ser destacados.

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192. O primeiro deles diz respeito ao papel institucional da Agência, na eventualidade de

ocorrência de acidentes. Ao contrário do que aconteceu quando do acidente da baía de

Guanabara, no caso da RLAM a ANP foi acionada de pronto. A Agência respondeu à

convocação, interditando de ofício a área e já cobrando providências dos técnicos da

refinaria, enquanto seus próprios técnicos deslocavam-se até a Bahia.

193. Também merece destaque a atuação técnica, strictu sensu, da Agência, que teve uma

linha de conduta de extrema coerência: examinou o projeto de drenagem operacional de

vasos, sugeriu modificações nesse projeto, indicando que o produto drenado fosse enviado

para local seguro, pediu relatório sobre as condições das outras refinarias da PETROBRÁS

e, finalmente, pediu relatório sobre o estado da arte da operação de drenagem de vasos em

outros países e em outras empresas.

194. Finalmente, espera-se que, do infortúnio do acidente, a ANP tire subsídios para

questionar os diversos procedimentos operacionais das refinarias em operação no Brasil,

exigindo o cumprimento das diversas normas de segurança que instituir.

2.4.2 ESTUDO DE CASO II (O ACIDENTE DA BAÍA DE GUANABARA)

195. Em 18/1/2000, ocorreu grande vazamento de óleo combustível do duto de produtos

escuros de 16” de diâmetro, pertencente à PETROBRÁS, que interliga a Refinaria de Duque

de caxias - REDUC às instalações da Ilha D’Água. Segundo a PETROBRÁS, o volume total

aproximado despejado na baía de Guanabara foi de 1,3 mil m³.

196. Em 1997 já havia ocorrido acidente semelhante, até com um maior derramamento.

Naquela ocasião, contudo, o regime das marés acabou por mitigar os efeitos do acidente.

Não houve a mesma sorte nesse acidente do ano 2000; aqui, o regime das marés manteve

a mancha de óleo em região de importância ecológica e econômica.

DESCRIÇÃO DO ACIDENTE

197. Conforme relatório da PETROBRÁS, o duto sofreu ruptura parcial em um ponto

localizado a aproximadamente 2.600 metros do lançador da REDUC, em forma de fenda

transversal em relação ao comprimento da tubulação, abrangendo cerca de meia

circunferência do duto.

198. Segundo a PETROBRÁS, a operação de transferência de óleo da REDUC foi efetuada

inicialmente para o petroleiro NT Rebouças e em seguida para um tanque no terminal da Ilha

D’Àgua. Mas às 5:25 horas, o grupo de operação confirmou a diferença entre os volumes

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bombeados e constatou a existência de vazamento. Conforme relatórios da PETROBRÁS,

às 09:45 horas, ainda no mesmo dia, foi identificado o ponto de vazamento e as diversas

áreas da empresa envolvidas com a questão foram comunicadas.

199. De acordo com o relatório feito pela PETROBRÁS a respeito da ocorrência, o grupo

responsável pela operação de bombeamento realizou a primeira medição de volumes à

01:00 hora de 18 de janeiro. Já na medição feita às 03:00 horas, foram lançados os valores

referentes a volumes expedidos e recebidos. Contudo, e a própria PETROBRÁS admite

isso, há fortes indícios de que essa medição não tenha sido feita tal como previsto nos

procedimentos operacionais relativos à verificação de diferenças entre a recepção e

expedição de volumes. Àquela altura, a diferença de volumes, isto é, o volume vazado, já

era de 650 m³.

200. O sistema de informações usado pela PETROBRÁS, o Realflex, possibilitou o resgate

dos registros das vazões diferentes nas duas extremidades do duto acidentado, que refletem

fielmente a operação.

AS CONCLUSÕES DA PETROBRÁS

201. A PETROBRÁS concluiu, ainda segundo o seu relatório de ocorrência, que o

rompimento do duto, e o conseqüente vazamento de produto, deu-se por fratura de fadiga,

ocasionada por seguidas expansões e contrações térmicas às quais o duto estava

submetido.

202. A PETROBRÁS concluiu seu relatório afirmando que a ação operacional não causou

falha no duto, admitindo, contudo, que a detecção da anormalidade não foi feita com a

necessária velocidade, o que acarretou em ampliação do volume derramado na baía de

Guanabara.

As Conclusões da COPPETEC

203. A Coordenação dos Programas de Pós Graduação em Engenharia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro - COPPE/UFRJ possui um braço tecnológico que presta

consultoria e realiza diversos projetos em áreas tecnológicas de ponta, a COPPETEC. Foi

esta entidade que a PETROBRÁS chamou para fazer a avaliação final das causas do

acidente na baía de Guanabara.

204. As conclusões da COPPETEC, expostas em seu relatório de 30/3/2000, jogam por terra

a hipótese levantada pela PETROBRÁS de fratura por fadiga. Segundo este relatório, a

ruptura do duto ocorreu por um processo de fratura inelástica, que caracteriza-se pela

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encurvadura do tubo, chegando, ao fim do processo, a atingir níveis de deformação

permanente.

205. O relatório da COPPETEC também conclui que houve erro de projeto, uma vez que as

delicadas condições do solo na região já de conhecimento da PETROBRÁS, em virtude de

acidente anterior, ocorrido em 1997. Essas condições do solo, segundo a COPPETEC, não

foram levadas em consideração, tornando excessivamente arriscada a operação do duto.

206. Além disso, a própria manutenção do duto, também levada a efeito pela PETROBRÁS,

contribuiu para a ocorrência do acidente. O duto em questão estava parcialmente enterrado.

Estruturas parcialmente enterradas, segundo o que afirma o relatório da COPPETEC,

apresentam comportamentos diferenciados. Essa circunstância aumenta a possibilidade de

ocorrência de recalques diferenciais. Se a manutenção do duto for imperfeita, a presença

desses recalques pode levar à ruptura da estrutura.

207. Finalmente, a COPPETEC também critica a operação do duto, mencionando que, por

ocasião do acidente anterior, de 1997, a PETROBRÁS já havia sido alertada sobre a

deficiência de seus sistemas de detecção de vazamentos. As várias horas necessárias para

a detecção do vazamento, que acabaram por aumentar o volume de óleo derramado,

atestam a fragilidade do sistema da PETROBRÁS.

A ATUAÇÃO DA ANP

207. Por ocasião do acidente, as relações da ANP com os diversos agentes interessados

não estavam suficientemente institucionalizadas, de vez que a Portaria nº 14, de 1/2/2000,

foi editada depois do acidente. O improviso foi a marca da atuação dos agentes. A

consciência de que as relações entre os agentes deveriam estar estabelecidas de antemão

foi a principal causa da edição da referida Portaria, que estabeleceu os procedimentos para

comunicação de acidentes de natureza operacional e liberação acidental de poluentes, a

serem adotados pelos concessionários e empresas autorizadas a exercer atividades

pertinentes à exploração e produção de petróleo e gás natural, bem como pelas empresas

autorizadas a exercer as atividades de armazenamento e transporte de petróleo, seus

derivados e gás natural.

208. A ANP autuou a PETROBRÁS em 26/01/2000, por considerar que a empresa não

observou os requisitos de proteção ambiental e segurança de tráfego, nos termos da Lei nº

9.847/97. No mesmo dia, a Agência instaurou o Processo Administrativo nº

48610.000530/2000-98. A PETROBRÁS ficou impedida de utilizar o duto até que se

restabelecessem as condições de segurança operacionais e de meio ambiente, em

conformidade com os incisos I, II e III do art. 9º da Portaria ANP nº 170, de 26/11/98.

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209. A ANP também analisou as causas do acidente e, como conseqüência, elaborou o

Relatório Técnico de Avaliação, de 7/6/2000, que serviu como subsídio para o Processo

Administrativo nº 48610.000530/2000-98. A Agência também concluiu que as difíceis

condições de operação do duto já eram de conhecimento da empresa desde a época do

acidente anterior, ocorrido em 1997.

210. O Processo Administrativo nº 48610.000530/2000-98 acabou redundando em sanção

pecuniária contra a empresa, de R$ 2 milhões, aplicada em Decisão de Primeira Instância

pela ANP em 8/8/2000, pena máxima prevista para o tipo de infração cometida, no caso,

operar as instalações do oleoduto em desacordo com a legislação relativa aos requisitos

operacionais de proteção ambiental e segurança na transferência de combustível, nos

termos do art. 56 da Lei n.º 9.478/97 combinado com o inciso IX do art. 3º da Lei n.º

9.847/97. À época desta auditoria operacional, a ANP apreciava recurso interposto pela

PETROBRÁS contra a multa recebida, seguindo o rito proposto nos termos do Decreto nº

2.953, de 28/1/99. Em 19/12/2000, a Diretoria da ANP, em Segunda Instância, ratificou o

valor da multa aplicada à PETROBRÁS.

211. Segundo a ANP, o duto acidentado na Baía de Guanabara o PE-II, à época da

auditoria, ainda não havia sido desinterditado pela PETROBRÁS, em virtude de não terem

sido atendidas as exigências contidas no Auto de infração.

2.4.3 ESTUDO DE CASO III (O ACIDENTE DE ARAUCÁRIA)

212. Em 16/7/2000, ocorreu grave vazamento de petróleo na área da Refinaria Presidente

Getúlio Vargas (REPAR), durante a operação de bombeamento feita pelo oleoduto OSPAR

da PETROBRÁS. Segundo a empresa, o volume derramado nos rios Barigüi e Iguaçu foi de

3,9 mil m³.

DESCRIÇÃO DO ACIDENTE

213. No dia 16/7/2000, às 13:20 horas, o Terminal de São Francisco do Sul iniciou o

bombeamento de petróleo destinado ao tanqueTQ-4108 da REPAR, que tinha sido dado

pela equipe de operação da refinaria como ‘alinhado’ e pronto para receber, isto é, o tanque

havia sido medido e encontrava-se com a válvula de recebimento aberta. Entretanto, apesar

da confirmação, o alinhamento não ocorreu e a válvula de recebimento do tanque

encontrava-se bloqueada.

214. Às 15:15 horas, o pessoal da operação do painel da REPAR observou que, apesar do

bombeamento, não havia elevação no nível do tanque TQ-4108. Ao fazer contato com o

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terminal, o pessoal de operação do painel recebeu a sugestão de interromper o

bombeamento, mas preferiu verificar o alinhamento. Um operador foi ao local e constatou

que a válvula estava fechada e a abriu, às 15:24 horas.

215. Finalmente, às 15:35 horas, após constatar que o nível do tanque estava em redução, a

operação da REPAR pediu ao Terminal de São Francisco que suspendesse o

bombeamento. Os operadores de campo confirmaram que as válvulas dos outros tanque

estavam fechadas e que a redução de volume no tanque TQ 4108 só poderia ser decorrente

de vazamento. Essa suspeita confirmou-se quando a equipe de campo confirmou que havia

um vazamento pela junta de expansão que havia sido flangeada para a retirada da válvula

de controle no dia 7/6/2000.

216. Às 15:48 horas, a válvula de recebimento do tanque foi fechada. Segundo o relatório de

ocorrência feito pela comissão constituída pela PETROBRÁS para esse fim, o rompimento

ocorreu aproximadamente 30 minutos após o início do bombeamento, isto é, por volta das

13:50 horas.

ANÁLISE DO ACIDENTE

217. Como mencionado, no dia 7/6/2000 foi retirada a válvula de controle para

aprimoramento do sistema de automação. Em substituição, foi colocado um flange cego na

extremidade da junta de expansão. Por isso, a junta de expansão ficou sujeita a esforços

adicionais, já que nenhum sistema de travamento foi instalado, função esta que era exercida

pela válvula retirada. Conforme relatório elaborado por técnicos da ANP, essa situação criou

um ponto fraco no sistema.

218. A ANP também observou que antes da retirada da válvula de controle, não foi feita uma

avaliação técnica relativa às possíveis conseqüências de se deixar a junta de expansão sem

o devido travamento.

219. Os técnicos da Agência concluíram que entre 7 de junho e 16 de julho, o dia do

acidente, o duto foi operado sem segurança em relação a uma eventual sobrepressão. Mas

o aumento da pressão, causado pela falta de abertura da válvula de recebimento do tanque

TQ-4108, provocou o rompimento da junta e o conseqüente vazamento.

220. A ANP também concluiu que o tempo decorrido entre o início da operação e o primeiro

alarme, uma hora e cinqüenta e cinco minutos, indicou que o controle da operação não foi

efetuado de acordo com os procedimentos operacionais que foram entregues à Agência em

atendimento ao auto de interdição.

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221. Além da falha de manutenção, a ANP também detectou que a própria ação de abertura

da válvula de recebimento do tanque TQ-4108, efetuada pela equipe de operação da

REPAR quando da detecção da anormalidade, acarretou um aumento do volume vazado,

pois, além do petróleo expedido pelo Terminal de São Francisco, houve o escoamento do

petróleo contido no próprio tanque. Este volume foi calculado pela Comissão de Sindicância

da PETROBRÁS em cerca de 0,5 mil m³.

A ATUAÇÃO DA ANP

222. Por ocasião do acidente na REPAR, as relações da ANP com os diversos agentes

interessados, nos casos que envolvessem acidentes, já estavam institucionalizadas pela

Portaria ANP nº 14, de 1/2/2000. Nessas condições, a atuação da ANP foi bem mais efetiva

do que aquela da Baía de Guanabara.

223. A ANP concluiu, com base na descrição e na análise da ocorrência, que o acidente foi

produzido por falha operacional, caracterizada pela falta de abertura da válvula de

recebimento do tanque TQ-4108, conjugado com falha de manutenção por ocasião da

remoção da válvula de controle. Além disso, a magnitude do vazamento foi agravada por

falha de controle operacional por parte das equipes de operação do Terminal de São

Francisco do Sul e da REPAR, que não observaram os procedimentos operacionais vigentes

referentes ao controle de operação, expedição e recebimento de petróleo.

224. Devido à gravidade do acidente, representada pelo excessivo volume derramado, bem

como pelas falhas que a PETROBRÁS apresentou, a ANP houve por bem estipular, em seu

grau máximo, R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), a multa prevista no art. 3º, inciso IX

da Lei nº 9.847/99.

3. QUESTÕES VERIFICADAS NA AUDITORIA DE 1999

225. Dos aspectos verificados na auditoria realizada em 1999, além da evolução da

fiscalização, quatro outros merecem destaque: a perspectiva de remodelagem

organizacional Agência a fim de permitir a contratação de pessoal em número e perfil

adequado à regulação da indústria do petróleo, a implementação de um sistema de

informações corporativas, os mecanismos institucionais de defesa do consumidor e a

atuação da ANP na defesa da concorrência.

3.1. PERSPECTIVAS ORGANIZACIONAIS PARA A ANP

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226. Um dos aspectos críticos enfrentados pela ANP, desde sua criação, é a formação de

um quadro próprio de pessoal que permita estabilidade, continuidade administrativa e,

principalmente, investimento em capacitação e amadurecimento de um conjunto de

profissionais dedicados à Agência com uma perspectiva de longo prazo.

227. A contratação de pessoal temporário, facultada nos termos da Lei nº 9.478/1997,

regulamentada pelo Decreto nº 2.455/1998, foi discutida no TC-001.171/1998-4 e também

na Auditoria realizada em 1999 (fl. 20, vol. 1). A Agência argumentava que estava

impossibilitada de realizar concurso público por ausência de lei que definisse o plano de

cargos das agências reguladoras que, naquela ocasião, encontrava-se em fase de estudo e

ainda não havia sido enviado ao Congresso Nacional.

228.Esse problema deixou, em parte, de existir, pois, em 18/7/2000, foi publicada a Lei nº

9.986/2000 que dispôs sobre gestão de recursos humanos da agências reguladoras. Ocorre

que, em virtude de ação direta de inconstitucionalidade, impetrada pelo Partido dos

Trabalhadores, deferida liminarmente (ad referendum) por decisão monocrática do Ministro

Marco Aurélio de Melo, os efeitos de parte da norma encontram-se com eficácia suspensa

até que haja decisão do Pleno do Supremo Tribunal Federal sobre o mérito da questão

suscitada.

229.Também como etapa preparatória para a contratação de pessoal, mas não só para isso,

foi realizado um estudo intitulado Análise e Proposições sobre a Estrutura Organizacional e

Modelo de Funcionamento da Agência Nacional do Petróleo, que prevê a realização de

concurso público em 2001 (fl. 71, vol. 4). Na verdade, segundo o cronograma indicativo (fls.

13 e 14), o concurso público estava inicialmente programado para março de 2001, meta já

frustrada.

230. Esse trabalho constata que a ANP encontra-se estruturada de acordo com a cadeia

produtiva da indústria do petróleo, mas reconhece que ‘a missão de regular prevê um vetor

de expansão das atividades da Agência que pode não ser o da cadeia em si, mas sim o que

aponte para atividades que dêem conta de regulamentar, promover e fiscalizar as atividades

da indústria’ (fl. 8 vol. 4).

231. Diagnóstico semelhante já havia sido feito, em parte, pela equipe que elaborou a

auditoria de 1999, que registrou no relatório (fl. 58, vol. 1):

‘257. Após a análise que sucedeu a realização dos trabalhos de campo, a equipe de au-

ditoria considerou que a ANP está estruturada para desempenhar as atividades de

regulação e fiscalização do setor petrolífero nacional, no que diz respeito à adequação de

sua estru-tura organizacional aos macroprocessos associados à indústria do petróleo.

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258. Entretanto é necessário ampliar as ações de fiscalização nos segmentos de upstream e

downstream, bem como ter uma atuação mais ostensiva nos setores de defesa da

concorrência e defesa do consumidor. Em ambos os casos é necessário redimensionar o

efetivo de pessoal próprio e concursado da Agência, bem como rever a estrutura organiza-

cional a fim de acomodar com mais autonomia essas áreas.’

232. O cerne da questão, agora mais claro, é que a total aderência da estrutura

organizacional ao modelo da cadeia produtiva ofuscou os macroprocessos associados à

atuação da agência como órgão de estado detentor dos papéis essenciais de regular,

contratar e fiscalizar a indústria do petróleo, como deixa claro o texto do art. 8º da Lei nº

9.478/1997. O termo contratar, se interpretado strictu sensu, restringe-se à contratação das

atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante concessão,

precedida de licitação pública, de acordo com o art. 23 da Lei nº 9.478/1997. Numa

interpretação mais elástica, pode-se entender o termo contratar como a titularidade da

prerrogativa de outorgar concessão ou emitir autorização, as diversas atividades

desempenhadas pelos agentes econômicos no âmbito da indústria do petróleo. Aí pode-se

considerar desde atividades como a importação de uma pequena quantidade de derivado de

petróleo até a perfuração de um poço em águas ultraprofundas.

233. No estudo elaborado pela ANP, três funções básicas são identif icadas:

regulamentação, promoção, monitoramento e fiscalização. Essas funções perpassam as

áreas finalísticas da Agência (informações e dados técnicos, promoção de licitações,

exploração, desenvolvimento e produção, refino, comercialização e movimentação,

abastecimento, qualidade de produtos e controle das participações governamentais).

Segundo consta das conclusões do estudo realizado, ‘o realinhamento organizacional da

ANP consiste em revisar a própria concepção original da Agência, em termos de seus

princípios e lógica estrutural’.

234. Apesar disso, o estudo assume uma tônica meramente indicativa, sem elucidar como

as funções típicas da agência serão operacionalizadas pelas áreas finalísticas - associadas

aos macroprocessos da indústria do petróleo - seja pela reformulação da estrutura

organizacional, seja pela segregação ou agrupamento de processos similares. Fica

registrado, contudo, a preocupação com a redundância de esforços levados a cabo em cada

área e a estanqueidade dos fluxos informativos, principalmente pela inexistência, até o

momento, de ferramentas de tecnologia de informação em âmbito corporativo, como fica

patente no diagnóstico:

‘A maior complexidade e rápido crescimento do volume de atividades da Agência e de seus

quadros funcionais impôs a necessidade de ampliar o aparato tecnológico e de recursos de

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informática. O gerenciamento desta categoria de recursos parece ressentir-se neste

momento de tratamento estratégico e de visão planejada, de longo prazo, sob pena de

transformar-se em ponto crítico para a ANP. (fl. 6, vol. 4)’

‘Ações relacionadas à geração, tratamento e distribuição da informação e à geração de

conhecimento estão em curso na Agência, porém muitas de maneira pontualizada, refletindo

a própria dinâmica organizacional baseada nas atividades da cadeia, suas especificidades e

num esforço inicial de implantação. (fl. 7, vol. 4)’

235. Questões semelhante haviam sido levantadas quando da realização da auditoria de

1999, quando a equipe apontou o seguinte problema:

‘151. (…) a ANP ainda não dispõe de informações em âmbito corporativo que possibilite uma

ação integrada das superintendências ligadas ao upstream no que diz respeito à fiscalização

dos concessionários’

‘152. Quando da realização da auditoria, a equipe de auditoria observou que cada

superintendência mantém controle próprio de suas informações, a partir de bases de dados

locais não compartilhadas’

236. Também se observa que a estrutura de cargos proposta (fls. 57 a 60, vol. 4) tem muito

mais o intuito de adaptar a atual estrutura da Agência à Lei nº 9.986/2000 do que de

promover uma adequação às funções essenciais de regular, contratar e fiscalizar. Em outras

palavras, a estrutura da Agência continua aderente à cadeia produtiva, deixando-se num

plano auxiliar os mecanismos de atuação em áreas para as quais efetivamente a ANP foi

criada.

237. Com exceção da licitação de blocos, em que superintendências distintas atuam nas

fases de contratação (Definição de Blocos e Promoção de Licitações), regulação e

fiscalização (Exploração e Desenvolvimento e Produção), nas demais áreas da ANP não há

segregação dessas funções, pois as superintendências promovem a regulação - mesmo que

em caráter de assessoramento à instância deliberativa -, a outorga e a fiscalização, o que

parece inadequado do ponto de vista da efetividade da atuação da ANP.

238. Para ilustrar melhor, a solução de modelo organizacional adotado pela Agência

Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), apresentado na Figura 1, é bem mais apropriada à

atuação de uma agência reguladora, mesmo considerando as peculiaridades de cada setor.

VIDE TABELA NO DOCUMENTO ORIGINAL

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239. Não se pretende aqui impingir à ANP o modelo organizacional da ANEEL, mas trazer à

luz uma arquitetura que enfatiza as funções típicas da agência reguladora (regulação,

outorga e fiscalização), o que absolutamente não fica explícito na estrutura organizacional

da ANP proposta no documento Análise e Proposições sobre a Estrutura Organizacional e

Modelo de Funcionamento da Agência Nacional do Petróleo (vol. 4).

240. Pela razões expostas, entende a equipe de auditoria que se deva recomendar à

Diretoria da ANP que não se restrinja a adotar uma arquitetura organizacional cuja maior

finalidade seja a adequação à nomenclatura e aos quantitativos de cargos referenciados na

Lei nº 9.986/2000, mas que se preocupe, principalmente, em enfatizar e segregar as funções

essenciais da Agência nas diversas etapas do segmento econômico que a Lei nº 9.478/1997

lhe atribuiu regular, contratar e fiscalizar, qual seja: a indústria do petróleo.

3.2 OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DA ANP

241. Constatou-se, em 1999, durante a realização da primeira auditoria na ANP, que cada

superintendência mantinha controle próprio de suas informações, a partir de bases de dados

locais não compartilhadas. Questionada sobre o assunto, a Coordenadoria de Informática

(atualmente Assessoria Especial de Informática - AEI) informou que estava em curso um

projeto denominado Base de Dados Integrada de Upstream (BDIU), que deveria ter sido

concluído em janeiro de 2001, cujo objetivo era estabelecer um modelo de dados para

atender às necessidades e requisitos de informações das superintendências do bloco

upstream, controlando blocos, campos, poços e pagamento de royalties.

242. Segundo a AEI, em junho de 2000 estariam implantados os módulos de Definição de

Blocos, Promoção de Licitações, Exploração, mas o que se verificou é que apenas estava

em funcionamento a automação dos cálculos de participações governamentais feitos pela

Superintendência de Participações Governamentais, a partir das informações de produção

de petróleo e gás natural consolidadas dos boletins de produção pela Superintendência de

Desenvolvimento e Produção. Os demais módulos do BDIU ainda não estavam

implementados.

243. Mais recentemente foi dado início ao projeto da Base de Dados Integrado de

Downstream (BDID) para atender as Superintendências de Estudos Estratégicos,

Abastecimento, Comercialização e Movimentação de Petróleo e seus Derivados,

Comercialização e Movimentação de Gás Natural, Qualidade de Produtos, Refino de

Petróleo e Processamento de Gás Natural e a Assessoria Especial de Fiscalização.

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244. O BDID, devido sua abrangência, foi dividido em quatro módulos: cadastramento de

agentes, medições (volumes), comercialização (contratos, cotas…) e fiscalização e defesa

econômica. Quando da realização desta auditoria, a AEI estava trabalhando no segundo

módulo de medições, já tendo sido concluído o módulo de cadastro que possui informações

sobre os agentes, instalações e estabelecimentos, localização e produtos.

245. Uma questão ainda crítica é a estanqueidade dos fluxos de informações entre o BDIU e

o BDID, uma vez que a ANP atua sobre toda a cadeia produtiva (do poço ao posto). Esse

problema pode ser melhor compreendido ao se pensar, por exemplo, na regulação do livre

acesso a gasodutos na movimentação de gás natural (downstream) sem as informações de

produção dos campos de gás (upstream). Outro exemplo em que se observa com clareza a

necessidade dessa integração entre os bancos de dados é na elaboração do balanço de

massa do setor, que permitirá o controle dos volumes de petróleo produzido (upstream),

refinado e comercializado (downstream) de tal sorte a identificar os destinos dos derivados e

controlar a utilização de solventes coibindo aplicações fraudulentas desses produtos.

246. A equipe considera incipiente o estágio de desenvolvimento dos sistemas BDIU e

BDID, principalmente pelo fato de que a gestão eficiente e intensiva da informação é uma

forma de atenuar o gravíssimo problema de falta de pessoal dedicado às atividades de

fiscalização, como já foi amplamente abordado no presente relatório. Por essa razão, sugere

que seja requerido da ANP um cronograma atualizado do desenvolvimento dos sistemas

BDIU e BDID, bem como a indicação dos módulos já implantados (em fase de produção) e

as perspectivas de integração das informações entre as diferentes bases.

3.3 A DEFESA DO CONSUMIDOR

247. Na área da defesa do consumidor a ANP implementou duas importantes ferramentas

destinadas à proteção dos interesses do consumidor: o Centro de Relações com o

Consumidor (CRC) e a divulgação, com maior freqüência e escala, do levantamento de

preços da gasolina e de álcool etílico hidratado combustível.

3.3.1 O CENTRO DE RELAÇÕES COM O CONSUMIDOR

248. O CRC, gerido pela Superintendência de Gestão Interna, tem como objetivo geral atuar,

internamente, como promotor da perspectiva dos consumidores e, externamente, como

canal de comunicação direta com o público em geral. O CRC tem três núcleos:

. Núcleo de Atendimento (Call Center);

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. Núcleo de Informações e Pesquisas;

. Núcleo de Orientação ao Consumidor.

249. Em 1999, estimava-se que o Núcleo de Atendimento entraria em operação maio de

2000 e receberia cerca de dois mil contatos por dia em dez ou quinze pontos de aten-

dimento a um custo anual de operação de R$ 1 milhão. O início da operação do Núcleo de

Atendimento ocorreu efetivamente em julho de 2000 a um custo anual estimado de R$ 1,09

milhão (cláusula sexta do contrato) com 15 pontos de atendimentos (podendo ser ampliados

para até 18 pontos). As características e os quantitativos das ligações recebidas pelo Núcleo

de Atendimento constam do relatório elaborado pelo Núcleo de Atendimento ao Consumidor

(vol. 5).

250. Apesar do atraso de dois meses na implementação do CRC, pode-se dizer que este

desvio entre o planejamento e a execução é discreto considerando a monta do projeto.

Entretanto, não se pode deixar de registrar que a ANP foi a última das agências reguladoras

do setor de infra-estrutura a implantar este de serviço(1).

(1) O sistema de atendimento ao usuário da ANATEL foi implantado em 5/11/1998 e o da

ANEEL em 29/3/2000.

251. O Núcleo de Atendimento é, sem dúvida, um dos principais avanços da Agência em

relação à situação verificada um ano antes. Essa ferramenta de comunicação amplia a

interface da ANP com os consumidores ao mesmo tempo que sistematiza o direcionamento

das demandas que subsidiam o planejamento e execução das atividades da Assessoria

Especial de Fiscalização. Vale lembrar que, em 1999, as denúncias formuladas pelos

consumidores eram repassadas para o Escritório Central da ANP e processadas

diretamente pela Coordenadoria de Fiscalização, sem que houvesse um pré-processamento

das informações recebidas nem um canal adequadamente estruturado para receber as

manifestações dos consumidores.

3.3.2 O LEVANTAMENTO DE PREÇOS

252. Um estudo contendo a formação de preços da gasolina C foi divulgado pela ANP em

setembro de 1999. Por revelar as margens médias dos postos revendedores, houve

manifestações negativas dos agentes econômicos e a ANP optou por cancelar a divulgação

do estudo. No relatório de auditoria de 1999, a unidade técnica recomendou que o estudo

voltasse a ser publicado, nos seguintes termos:

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‘que a ANP divulgue periodicamente e amplie a abrangência geográfica do estudo sobre o

preço de referência dos derivados a fim de municiar os consumidores com informações que

lhes permitam a tomada de decisões em relações aos preços ofertados’.

253. A ANP, entretanto, desde de 29/8/2000 vem monitorando e publicando preços e

margens de comercialização de gasolina e de álcool etílico hidratado combustível em 4.010

postos revendedores localizados em 60 cidades, distribuídas em todas as Unidades da

Federação cobrindo, numa primeira etapa, 8.776 postos revendedores mensalmente.

254. Por essa razão, em 24/10/2000, foi noticiado ao ministro-relator da auditoria de 1999

que não incluísse a recomendação na proposta de mérito do dispositivo levado ao plenário

do TCU:

‘(…) a ANP vêm mantendo em sua página na Internet pesquisa de preços em 60 cidades

brasileiras realizada semanalmente por empresa contratada especialmente para esse fim. A

contratação dessa empresa foi, inclusive, objeto de análise por parte da 9ª SECEX.

Atualmente, a ANP está elaborando um termo de referência para a contratação de um

serviço que alcance maior número de cidades’

255. Registre-se que essa iniciativa deve ser considerada como uma boa prática de gestão

adotada pela ANP que contribui positivamente para a democratização do acesso a

informações essenciais para os consumidores de derivados de petróleo no Brasil.

3.4 A DEFESA DA CONCORRÊNCIA

256. A defesa da concorrência tem como objetivo principal promover e preservar os

mecanismos de competição entre os agentes econômicos, com o intuito de aumentar a

eficiência dos mercados.

257. A Lei nº 9.478/97 prevê em seu art. 10:

‘Art. 10 Quando, no exercício de suas atribuições, a ANP tomar conhecimento de fato que

configure ou possa configurar infração da ordem econômica deverá comunicá-lo ao

Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE para que este adote as providências

cabíveis no âmbito da legislação pertinente.’

258. Nesse sentido, foi firmado convênio com o Conselho Administrativo de Defesa

Econômica - CADE e com a Secretaria de Direito Econômico - SDE no qual a ANP terá

como atribuição a análise técnica e o levantamento dos dados, ao SDE caberá a instrução e

a investigação dos processos (art. 14, LEI n? 8.884/1994) e ao CADE (art. 7? da Lei n?

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8.884/1994) o julgamento deles. Este convênio tem prazo inicial de vi-gência de 24 meses e

para a sua operacionalização a ANP implantou uma Coordena-ção de Defesa da

Concorrência.

259. Outro exemplo de trabalho conjunto entre ANP e CADE, a Medida Provisória nº 2.056,

de 11/08/2000, alterou as Leis nºs 9.478/97 e 9847/99 e estabeleceu que o CADE, quando

julgar procedente infração contra a ordem econômica cometida nas atividades de

abastecimento nacional de combustíveis, notificará a ANP para a revogação da autorização

do exercício da atividade do agente infrator por até cinco anos.

260. A Comissão de Defesa da Concorrência da ANP foi criada pela Portaria ANP nº 60, de

5/4/2000, e, além de dar cumprimento às obrigações assumidas pela ANP no acordo com o

CADE e a SDE, também tem como atribuições elaborar propostas necessárias à

implementação das normas legais e das políticas adotadas no campo da defesa da

concorrência e cooperar com as Superintendências e demais unidades da ANP no que se

refere às atividades que tenham relação com a defesa da concorrência.

261. Finalmente, em setembro de 2000 houve a criação do Núcleo de Defesa da

Concorrência e do Abastecimento, que colocou a questão da defesa da concorrência no

âmbito do próprio organograma da ANP.

262. Depois de sua criação, o Núcleo de Defesa da Concorrência já atuou na apuração de

indícios de cartelização na revenda de combustíveis em diversas capitais, no exame do ato

de concentração de mercado, que foi a aquisição das operações brasileiras da British

Borneo Oil & Gas pela Agip Liquigas.

263. À época da auditoria, o Núcleo de Defesa da Concorrência estava empenhado no

estudo das conseqüências da aquisição de seis bases de distribuição da Shell do Brasil

também pela Agip Liquigas.

264. Os documentos, incluindo esquemas explicativos, que tratam do acordo firmado entre a

ANP, CADE e SDE, quanto a atuação da ANP na análise de atos e contratos de

concentração ou desconcentração que tenham impacto sobre a indústria do petróleo,

constam das fls. 236 a 250 do vol. 2.

(...)

271. Ante todo o exposto, encaminhamos os autos à consideração superior propondo:

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A. recomendar a ANP, em relação à fiscalização da indústria do petróleo e do gás natural:

A.1 de um modo geral:

A.1.1 que utilize intensivamente a tecnologia da informação, bem como e implemente

procedimentos de planejamento e programação, evitando a imprevisão na gestão da

fiscalização;

A.1.2 que estabeleça metas e indicadores que permitam a mensuração da eficiência, da

economicidade e da eficácia das ações fiscalizatórias, bem como os eventuais desvios

ocorridos no planejamento inicial...;

A.1.3 que intensifique as fiscalizações físicas de modo a reduzir a dependência de

informações declaratórias prestadas por concessionários e autorizatários, sem prejuízo da

análise documental já efetuada pela Agência, mediante o estabelecimento de prioridades

baseadas na materialidade, criticidade e interesse social do objeto da fiscalização...;

A.1.4 que adote mecanismos de cooperação/terceirização com entidades públicas e

privadas de forma a garantir uma ação fiscalizatória ostensiva, compensando, assim, o baixo

contingente de pessoal próprio da Agência...;

A.1.5 que defina, com a maior urgência possível, os requisitos necessários ao pessoal de

fiscalização a fim de que seja possível contratar, já no primeiro concurso que a ANP vier a

realizar, pessoal dedicado à fiscalização e a à análise do contencioso administrativo...;

A.2 em relação à atividade exploratória:

A.2.1 que implemente programas de fiscalização sistemáticos e conjuntos com o IBAMA,

suportados por instrumentos formais de cooperação (parágrafo 0);

A.2.2 que estipule prazo para que a PETROBRÁS, antiga monopolista na exploração e

produção de petróleo, execute corretamente os procedimentos de abandono de poços nos

quais não mais opere...;

A.3 em relação às atividades de desenvolvimento e produção:

A.3.1 que considere, no regulamento que será elaborado para o comissionamento das

instalações de produção, mecanismos que mitiguem a possibilidade de abuso do poder

econômico na contratação das empresas independentes credenciadas...;

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A.3.2 que implemente, de modo similar ao sugerido para as atividades de exploração,

programas de fiscalização sistemáticos e conjuntos com o IBAMA...;

A.4 em relação ao refino:

A.4.1 que promova estudos no sentido de verificar a conveniência e a oportunidade de

manter na centralizado, na Superintendência de Refino, o monitoramento e a fiscalização da

obtenção de derivados de petróleo em refinarias e petroquímicas...;

A.4.2 que considere, no regulamento que será elaborado para o comissionamento das

instalações de refino, mecanismos que mitiguem a possibilidade de abuso do poder

econômico na contratação das empresas independentes credenciadas...;

A.4.3 que exija dos concessionários do refino de petróleo planos de emergência para serem

executados em casos de acidentes...;

A.4.4 que proceda a um levantamento, junto à defesa civil das localidades onde existem

refinarias, dos planos de contingência existentes...;

A.5 em relação à movimentação de petróleo e seus derivados:

A.5.1que estabeleça norma na qual sejam explicitadas a definição, as atribuições, as

responsabilidades e as penalidades a que estarão sujeitas as entidades técnicas

especializadas, responsáveis pelo comissionamento das instalações de movimentação, sem

prejuízo da responsabilização civil e penal intrínsecas às suas atividades...;

A.5.2 que estabeleça a necessidade de prévio credenciamento das entidades técnicas

especializadas a fim de que se tornem aptas a emitirem atestados de comissionamento para

as instalações da indústria do petróleo e gás natural...;

A.5.3 que considere, no regulamento que será elaborado para o comissionamento das

instalações de transporte de petróleo e seus derivados, mecanismos que mitiguem a

possibilidade de abuso do poder econômico na contratação das empresas independentes

credenciadas...;

A.6 em relação ao abastecimento:

A.6.1 que estabeleça instrumentos de cooperação com os órgãos responsáveis pela

arrecadação de tributos que permitam a identificação dos agentes que recorrem à evasão

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fiscal como forma de aumentar sua competitividade...;

A.7 em relação ao controle da qualidade do produto:

A.7.1 que implemente o programa de marcação de solventes, inclusive estabelecendo

cronograma para extensão da medida ao restante do território nacional, na eventualidade de

serem bem sucedidos os testes piloto...;

A.7.2 que divulgue os postos revendedores onde estão sendo encontradas amostras de

combustíveis adulterados, bem como as distribuidoras nas quais ficar caracterizada a

adoção de práticas i l ícitas que implique na desconformidade dos derivados

comercial izados...;

B. recomendar à ANP, em relação às perspectivas organizacionais, que busque um modelo

organizacional que enfatize e segregue as funções essenciais atribuídas à ANP pela Lei nº

9.478/1997: regular, contratar e fiscalizar ...;

C. determinar à ANP que:

C.1 encaminhe ao TCU, no prazo de quinze dias, um cronograma atualizado do

desenvolvimento dos sistemas Base de Dados Integrada de Upstream e Base de Dados

Integrada de Downstream, bem como a indicação dos módulos já implantados (em fase de

produção) e as perspectivas de integração das informações entre as diferentes bases

(parágrafo 0);

C.2 encaminhe ao TCU, assim que dispuser das informações, os resultados do projeto de

classificação de risco das refinarias, bem como as medidas que serão adotadas, no âmbito

da Agência, a partir das informações obtidas...;

C.3 encaminhe ao TCU, no prazo de quinze dias, um relato das ações empreendidas no

sentido de implementar as recomendações contidas nos itens 8.2.1 e 8.2.2 da Decisão TCU

nº 981/2000 - Plenário, ou as razões detalhadas pelas quais não pretende implementar as

referidas recomendações;

C.4 encaminhe ao TCU, no prazo de quinze dias, um relatório indicando quais das

recomendações descritas nos itens 0 e 0 estão em fase de implementação pela Agência

(incluindo descrição do atual estágio de desenvolvimento e prazo para sua eventual

implementação) e quais não são consideradas oportunas ou convenientes (incluindo as

razões detalhadas para que não sejam implementadas);

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D recomendar ao Tribunal que, quando da análise desta proposta de mérito, inclua no Plano

de Auditoria do TCU, fiscalizações específicas na ANP e no IBAMA com o objetivo de aferir

a atuação desses órgãos no processo de licenciamento ambiental e também na fiscalização

das atividades desenvolvidas na indústria do petróleo...;”

3. O Secretário de Controle Externo Substituto da Secretaria de Fiscalização de

Desestatização - SEFIP manifestou-se de acordo com a proposta formulada pela equipe de

auditoria, acrescentando proposição no sentido de:

a) determinar à Secretaria Federal de Controle Interno que faça o acompanhamento do

cumprimento da decisão proferida e informe ao Tribunal as providências adotadas;

b) ser encaminhada cópia do relatório e voto que embasarem a decisão que vier a ser

proferida para as Comissões de Minas e Energia, da Câmara dos Deputados, e Serviços de

Infra-estrutura, do Senado Federal, bem como ao Sr. Ministro de Estado de Minas e Energia

e ao Diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo;

c) arquivar o presente processo.

Voto do Ministro Relator:

Conforme destacado no início do relatório, esta auditoria buscou especialmente aferir o

desempenho da Agência no exercício de seu papel de fiscalizadora das atividades

integrantes da indústria do petróleo, nos termos previstos no art. 8º, VII, da Lei nº 9.478/97.

2.Desde a realização da última auditoria, em 1999, a ANP implementou ações que

resultaram numa melhoria do desempenho da Agência em setores específicos, destacando-

se a automação do cálculo de participações governamentais a partir da Base de Dados de

Upstream; a operacionalização do Núcleo de Atendimento e do Centro de Relações do

Consumidor; a criação da Comissão de Defesa da Concorrência; e a divulgação do

levantamento de preços e margens de comercialização da gasolina e de álcool etílico

hidratado combustível.

3.No entanto, muitos aspectos verificados continuam sendo motivo de grande preocupação,

refletindo, em alguns casos, uma estagnação da Agência em questões críticas, como a

fiscalização da indústria do petróleo e gás natural em toda a sua escala produtiva, tendo sido

destacados os seguintes pontos: a fragilidade de infra-estrutura própria de fiscalização para

atuar nos segmentos de upstream e downstream; a escassez de parcerias com órgãos ou

entidades públicas (de todas as esferas administrativas) e privadas para suprir a carência de

pessoal próprio na área de fiscalização; a inadequação da estrutura organizacional para o

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cumprimento das funções de fiscalizar, contratar e regular; e a morosidade no

desenvolvimento e implantação dos sistemas de informação da Agência (Base de Dados de

Upstream e Base de Dados de Downstream).

4.Conforme lembrado pela equipe de auditoria, muitas dessas questões já foram discutidas

na auditoria anterior e algumas delas foram objeto de determinação constantes da Decisão

nº 981/2000-Plenário, em especial aquelas relativas à estrutura de fiscalização da Agência

tanto no segmento de upstream e de downstream.

5.No entanto, confirma-se com este trabalho que a estrutura de fiscalização da ANP

permanece subdimensionada, não se verificando providências efetivas no sentido de se

firmar parcerias que permitam a descentralização de tais atividades, objetivando suprir as

deficiências da entidade, conforme previsto na Lei nº 9.478/97 .

Ante o exposto e acolhendo as propostas da equipe de auditoria com os acréscimos do

Secretário em Substituição da SEFID, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a

deliberação que ora submeto ao Colegiado.

T.C.U., Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 27 de setembro de

2001.

UBIRATAN AGUIAR

Interessados:

Responsável: David Zylbersztajn (Diretor-Geral)

Decisão:

A Segunda Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE:

8.1 recomendar a ANP, em relação à fiscalização da indústria do petróleo e do gás natural:

8.1.1 de um modo geral:

a) que utilize intensivamente a tecnologia da informação, bem como e implemente

procedimentos de planejamento e programação, evitando a imprevisão na gestão da

fiscalização;

b) que estabeleça metas e indicadores que permitam a mensuração da eficiência, da

economicidade e da eficácia das ações fiscalizatórias, bem como os eventuais desvios

ocorridos no planejamento inicial;

Page 52: Tribunal de Contas da União Vinculação: Ministério de ...Dec\20030309\GERADO_TC... · de 16 a 27.10.00, com vistas a aferir quantitativa e qualitativamente as ações de fiscalização

c) que intensifique as fiscalizações físicas de modo a reduzir a dependência de informações

declaratórias prestadas por concessionários e autorizatários, sem prejuízo da análise

documental já efetuada pela Agência, mediante o estabelecimento de prioridades baseadas

na materialidade, criticidade e interesse social do objeto da fiscalização;

d) que adote mecanismos de cooperação/terceirização com entidades públicas e privadas

de forma a garantir uma ação fiscalizatória ostensiva, compensando, assim, o baixo

contingente de pessoal próprio da Agência ;

e) que defina, com a maior urgência possível, os requisitos necessários ao pessoal de

fiscalização a fim de que seja possível contratar, já no primeiro concurso que a ANP vier a

realizar, pessoal dedicado à fiscalização e a à análise do contencioso administrativo;

8.1.2 em relação à atividade exploratória:

a) que implemente programas de fiscalização sistemáticos e conjuntos com o IBAMA,

suportados por instrumentos formais de cooperação;

b) que estipule prazo para que a PETROBRÁS, antiga monopolista na exploração e

produção de petróleo, execute corretamente os procedimentos de abandono de poços nos

quais não mais opere;

8.1.3 em relação às atividades de desenvolvimento e produção:

a) que considere, no regulamento que será elaborado para o comissionamento das

instalações de produção, mecanismos que mitiguem a possibilidade de abuso do poder

econômico na contratação das empresas independentes credenciadas;

b) que implemente, de modo similar ao sugerido para as atividades de exploração,

programas de fiscalização sistemáticos e conjuntos com o IBAMA;

8.1.4 em relação ao refino:

a) que promova estudos no sentido de verificar a conveniência e a oportunidade de manter

centralizado, na Superintendência de Refino, o monitoramento e a fiscalização da obtenção

de derivados de petróleo em refinarias e petroquímicas;

b) que considere, no regulamento que será elaborado para o comissionamento das

instalações de refino, mecanismos que mitiguem a possibilidade de abuso do poder

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econômico na contratação das empresas independentes credenciadas;

c) que exija dos concessionários do refino de petróleo planos de emergência para serem

executados em casos de acidentes,

d) que proceda a um levantamento, junto à defesa civil das localidades onde existem

refinarias, dos planos de contingência existentes;

8.1.5 em relação à movimentação de petróleo e seus derivados:

a)que estabeleça norma na qual sejam explicitadas a definição, as atribuições, as

responsabilidades e as penalidades a que estarão sujeitas as entidades técnicas

especializadas, responsáveis pelo comissionamento das instalações de movimentação, sem

prejuízo da responsabilização civil e penal intrínsecas às suas atividades;

b) que estabeleça a necessidade de prévio credenciamento das entidades técnicas

especializadas a fim de que se tornem aptas a emitirem atestados de comissionamento para

as instalações da indústria do petróleo e gás natural;

c) que considere, no regulamento que será elaborado para o comissionamento das

instalações de transporte de petróleo e seus derivados, mecanismos que mitiguem a

possibilidade de abuso do poder econômico na contratação das empresas independentes

credenciadas);

8.1.6) em relação ao abastecimento: que estabeleça instrumentos de cooperação com os

órgãos responsáveis pela arrecadação de tributos que permitam a identificação dos agentes

que recorrem à evasão fiscal como forma de aumentar sua competitividade;

8.1.7 em relação ao controle da qualidade do produto:

a) que implemente o programa de marcação de solventes, inclusive estabelecendo

cronograma para extensão da medida ao restante do território nacional, na eventualidade de

serem bem sucedidos os testes piloto;

b) que divulgue os postos revendedores onde estão sendo encontradas amostras de

combustíveis adulterados, bem como as distribuidoras nas quais ficar caracterizada a

adoção de práticas ilícitas que implique na desconformidade dos derivados comercializados;

8.2 recomendar à ANP, em relação às perspectivas organizacionais, que busque um modelo

organizacional que enfatize e segregue as funções essenciais atribuídas à ANP pela Lei nº

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9.478/1997: regular, contratar e fiscalizar;

8.3 determinar à ANP que encaminhe ao Tribunal:

a) no prazo de quinze dias, um cronograma atualizado do desenvolvimento dos sistemas

Base de Dados Integrada de Upstream e Base de Dados Integrada de Downstream, bem

como a indicação dos módulos já implantados (em fase de produção) e as perspectivas de

integração das informações entre as diferentes bases;

b) assim que dispuser das informações, os resultados do projeto de classificação de risco

das refinarias, bem como as medidas que serão adotadas, no âmbito da Agência, a partir

das informações obtidas;

c) no prazo de quinze dias, um relato das ações empreendidas no sentido de implementar as

recomendações contidas nos itens 8.2.1 e 8.2.2 da Decisão TCU nº 981/2000 - Plenário, ou

as razões detalhadas pelas quais não pretende implementar as referidas recomendações;

d) no prazo de quinze dias, um relatório indicando quais das recomendações descritas nos

subitens 8.1 e 8.2 estão em fase de implementação pela Agência (incluindo descrição do

atual estágio de desenvolvimento e prazo para sua eventual implementação) e quais não

são consideradas oportunas ou convenientes (incluindo as razões detalhadas para que não

sejam implementadas);

8.4 determinar à Secretaria Adjunta de Fiscalização - ADFIS que inclua em próximo Plano

de Auditoria fiscalização específica na ANP e no IBAMA, com o objetivo de aferir a atuação

desses órgãos no processo de licenciamento ambiental e também na fiscalização das

atividades desenvolvidas na indústria do petróleo.

8.5 determinar à Secretaria Federal de Controle Interno que faça o acompanhamento do

cumprimento da decisão proferida e informe ao Tribunal as providências adotadas;

8.6 encaminhar cópia desta decisão, bem como do relatório e voto que a fundamentam, para

as Comissões de Minas e Energia, da Câmara dos Deputados, e Serviços de Infra-estrutura,

do Senado Federal, bem como ao Sr. Ministro de Estado de Minas e Energia e ao Diretor-

Geral da Agência Nacional do Petróleo;

Grupo:

Grupo I

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Indexação:

Auditoria; Fiscalização; Pessoal; Estrutura Organizacional; Informação; Informática;

Data da Aprovação:

04/10/2001

Unidade Técnica:

SEFID - Sec. de Fiscalização de Desestatização;

Quorum:

Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente), Adylson Motta, Ubiratan Aguiar (Relator)

e Benjamin Zymler.

Ementa:

Auditoria. Agência Nacional de Petróleo - ANP. Área de fiscalização das atividades na

indústria do petróleo. Fragilidade de infra-estrutura própria de fiscalização. Escassez de

parcerias com órgãos ou entidades públicas e privadas para suprir a carência de pessoal

próprio na área de fiscalização. Inadequação da estrutura organizacional para o

cumprimento das funções de fiscalizar, contratar e regular. Morosidade no desenvolvimento

e implantação dos sistemas de informação. Recomendação. Determinação. Arquivamento.

Data DOU:

09/10/2001

Número da Ata:

35/2001

Entidade:

Agência Nacional de Petróleo - ANP

Processo:

002.379/2001-4

Ministro Relator:

UBIRATAN AGUIAR;