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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 016.841/2020-4 1 GRUPO I – CLASSE V – Plenário TC 016.841/2020-4 Natureza: Relatório de Acompanhamento Órgãos: Conselho Administrativo de Recursos Fiscais; Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil Representação legal: não há SUMÁRIO: ACOMPANHAMENTO DA ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS ADUANEIRAS E TRIBUTÁRIAS PELO GOVERNO FEDERAL EM RESPOSTA À CRISE DO CORONAVÍRUS (COVID-19). TERCEIRA ETAPA REFERENTE AOS MESES DE JUNHO E JULHO. ATUALIZAÇÃO DA EVOLUÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL E MEDIDAS ADOTADAS. AVALIAÇÃO DE RISCOS. ENCAMINHAMENTO DO RELATÓRIO AOS ÓRGÃOS INTERESSADOS PARA CONHECIMENTO E MEDIDAS CABÍVEIS. RELATÓRIO Por registrar as principais ocorrências no andamento do processo até o momento, resumindo os fundamentos das peças acostadas aos autos, adoto como relatório, com os ajustes necessários, a instrução da secretaria responsável pela análise da demanda (peça 100), que contou com a anuência do corpo diretivo da unidade (peças 101-102): INTRODUÇÃO 1. Trata-se do terceiro relatório do acompanhamento (RAcom) realizado no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), na Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB) e na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), com o objetivo de verificar tempestivamente a elaboração e implementação das medidas aduaneiras e tributárias em resposta à crise do coronavírus. 2. O primeiro relatório, referente ao mês de abril, resultou no Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário, em sessão realizada no dia 13/5/2020. O segundo, referente ao mês de maio, resultou no Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, em sessão realizada no dia 24/6/2020, todos de relatoria do Ministro Bruno Dantas. O presente relatório refere-se ao acompanhamento das medidas adotadas nos meses de junho e julho e aquelas anteriores com efeitos a partir deste mês. MEDIDAS DE RESPOSTA À CRISE NO BRASIL EM JUNHO E JULHO 3. De forma geral, as medidas de resposta à crise podem ser classificadas em três grandes grupos: desonerações, que consistem na desobrigação ou exoneração de determinado tributo; diferimentos, que consistem em postergação do pagamento do tributo; e administrativas de desburocratização, que objetivam contribuir para a desburocratização das responsabilidades tributárias. A seguir, as ações são descritas de acordo com essa classificação. Desonerações 4. A administração tributária continuou avançando em medidas de desoneração de impostos como forma de enfrentamento à pandemia do coronavírus. A desoneração diminui a carga fiscal sobre um produto ou conjunto de atividades e são apresentadas a seguir: Para verificar as assinaturas, acesse www.tcu.gov.br/autenticidade, informando o código 65416413.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 016.841/2020-4

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GRUPO I – CLASSE V – Plenário TC 016.841/2020-4 Natureza: Relatório de Acompanhamento Órgãos: Conselho Administrativo de Recursos Fiscais; Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil Representação legal: não há SUMÁRIO: ACOMPANHAMENTO DA ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS ADUANEIRAS E TRIBUTÁRIAS PELO GOVERNO FEDERAL EM RESPOSTA À CRISE DO CORONAVÍRUS (COVID-19). TERCEIRA ETAPA REFERENTE AOS MESES DE JUNHO E JULHO. ATUALIZAÇÃO DA EVOLUÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL E MEDIDAS ADOTADAS. AVALIAÇÃO DE RISCOS. ENCAMINHAMENTO DO RELATÓRIO AOS ÓRGÃOS INTERESSADOS PARA CONHECIMENTO E MEDIDAS CABÍVEIS.

RELATÓRIO

Por registrar as principais ocorrências no andamento do processo até o momento, resumindo os fundamentos das peças acostadas aos autos, adoto como relatório, com os ajustes necessários, a instrução da secretaria responsável pela análise da demanda (peça 100), que contou com a anuência do corpo diretivo da unidade (peças 101-102):

“INTRODUÇÃO

1. Trata-se do terceiro relatório do acompanhamento (RAcom) realizado no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), na Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB) e na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), com o objetivo de verificar tempestivamente a elaboração e implementação das medidas aduaneiras e tributárias em resposta à crise do coronavírus.

2. O primeiro relatório, referente ao mês de abril, resultou no Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário, em sessão realizada no dia 13/5/2020. O segundo, referente ao mês de maio, resultou no Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, em sessão realizada no dia 24/6/2020, todos de relatoria do Ministro Bruno Dantas. O presente relatório refere-se ao acompanhamento das medidas adotadas nos meses de junho e julho e aquelas anteriores com efeitos a partir deste mês.

MEDIDAS DE RESPOSTA À CRISE NO BRASIL EM JUNHO E JULHO

3. De forma geral, as medidas de resposta à crise podem ser classificadas em três grandes grupos: desonerações, que consistem na desobrigação ou exoneração de determinado tributo; diferimentos, que consistem em postergação do pagamento do tributo; e administrativas de desburocratização, que objetivam contribuir para a desburocratização das responsabilidades tributárias. A seguir, as ações são descritas de acordo com essa classificação.

Desonerações

4. A administração tributária continuou avançando em medidas de desoneração de impostos como forma de enfrentamento à pandemia do coronavírus. A desoneração diminui a carga fiscal sobre um produto ou conjunto de atividades e são apresentadas a seguir:

Para verificar as assinaturas, acesse www.tcu.gov.br/autenticidade, informando o código 65416413.

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Tabela 1 - Medidas de Des

oneração- junho e julho/2020 Medida adotada pelo ME/RFB Impacto 1. Fica reduzida a zero a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados -

IPI incidente sobre o termômetro digital classificado no código 9025.19.90 da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - TIPI. (Decreto 10.352, de 17/05/2020, Presidência da República). Impacto somado aos Decretos 10.285/2020 e 10.302/2020.

R$ 685 milhões

2. Isenta de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a operação de crédito da Conta Covid. A medida vai permitir a redução dos custos financeiros do empréstimo por antecipação de receitas por distribuidoras de energia elétrica beneficiando os consumidores de todo o país. (Decreto 10.377 de 27/05/2020, Presidência da República).

-

3. Redução da alíquota do IOF incidente sobre operações de crédito foi prorrogada pelo prazo de 90 dias. Essa medida foi inicialmente anunciada em abril deste ano (Decreto 10.305/2020) e teve prazo prorrogado até 2 de outubro de 2020. (Decreto 10.414, de 02/07/2020, Presidência da República).

R$ 7,051 bilhões

4. Instrução Normativa dispõe sobre a dispensa, o parcelamento, a compensação e a suspensão de cobrança de multa administrativa, prevista nas Leis 8.666/1993, 10.520/2002, e 12.462/2011, no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional, não inscritas em dívida ativa. (Instrução Normativa RFB 43, de 08/06/2020)

-

Fonte: RFB, peça 93.

5. A primeira medida refere-se à redução a zero da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre o termômetro digital classificado no código 9025.19.90 da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI). O impacto decorrente dessa medida foi informado pela RFB: sendo de R$ 662,94 milhões do Decreto 10.285/2020; e de R$ 22,04 milhões do Decreto 10.302/2020 (peça 93).

6. O item 2 destaca medida que isenta de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações de crédito da Conta Covid. O Decreto presidencial 10.377/2020 reduz a zero a alíquota do imposto com a finalidade de reduzir o custo financeiro para cobertura, total ou parcial, de déficit e de antecipação de receita, incorridas pelas concessionárias e permissionárias de serviço público de distribuição de energia para mitigar os impactos da crise do coronavírus em toda a cadeia do setor elétrico.

7. A medida determina que a redução de alíquota ‘somente se aplica aos fatos geradores ocorridos até 31 de dezembro de 2020.’ O auxílio financeiro ao setor elétrico foi autorizado pela Medida Provisória 950/2020 e regulamentado no Decreto 10.350/2020, que criou a Conta Covid. Essa medida ainda não possui impacto estimado.

8. Já o item 3 informa sobre a prorrogação por mais 90 dias dos efeitos da redução da alíquota do IOF incidente sobre operações de crédito. Essa medida foi inicialmente anunciada em abril deste ano, (Decreto 10.305/2020) e teve prazo prorrogado até 2 de outubro de 2020. A renúncia fiscal estimada para o trimestre é de R$ 7,051 bilhões (peça 93).

9. Por fim, o item 4 expõe a publicação da Instrução Normativa RFB 43, de 08/06/2020, que dispõe sobre a permissão concedida aos fornecedores de bens e serviços à União para solicitarem parcelamento, compensação e adiamento para o exercício 2021 do pagamento de multas provenientes de contratos administrativos. A medida também poderá ser aplicada por estados e municípios nas aquisições realizadas a partir de recursos decorrentes de transferências voluntárias da União. Essa medida ainda não possui impacto estimado.

Diferimentos

10. Os diferimentos consistem em adiamentos, suspensões e prorrogações que visam sustar ou diferir o pagamento de tributos. Essas medidas diferem o recebimento de receitas previstas em

Para verificar as assinaturas, acesse www.tcu.gov.br/autenticidade, informando o código 65416413.

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negociações ou parcelamentos feitos anteriormente com o fim de dar uma folga ao fluxo financeiro das empresas durante o período da pandemia em virtude da queda na atividade econômica. Algumas medidas foram adotadas pela RFB e outras pela PGFN, ambas no âmbito do Ministério da Economia, as quais são demonstradas na tabela a seguir:

Tabela 2 - Medidas de Diferimentos - junho e julho/2020 Medida Órgão 1. Suspensão de pagamentos das dívidas dos entes Federativos estabelecendo o

Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19, altera a Lei Complementar 101, de 04/05/2000, e dá outras providências. (Lei Complementar 173, de 27/05/2020)

ME/ RFB

2. Suspende os pagamentos de parcelamentos celebrados com base na Lei 13.485, de 2017 entre a União e os Municípios e as prestações cujos vencimentos ocorrerem entre 1º de março de 2020 e 31 de dezembro de 2020. (Portaria Conjunta RFB/PGFN 1.072, de 24/06/2020, combinada com o Decreto 10.305/2020)

ME/ RFB

3. Prorroga o prazo para o recolhimento de tributos federais, na situação que especifica, em decorrência da pandemia relacionada ao Coronavírus. Diferimento, em relação ao disposto na Portaria ME 139/20, por mais um mês das contribuições ao PIS/Pasep, Cofins e Contribuição Previdenciária Patronal. (Portaria ME 245, de 16/06/2020)

ME/ RFB

4. Fica suspenso, até 30 de junho de 2020, o início de procedimentos de exclusão de contribuintes de parcelamentos administrados pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional cuja hipótese de rescisão por inadimplência de parcelas tenha se configurado a partir do mês de fevereiro de 2020, inclusive. (Portaria PGFN/ME 13.338, de 09/06/2020)

ME/ PGFN

5. Prorrogação da suspensão temporária de medidas de cobrança administrativa da dívida ativa da União (instituída pela Portaria PGFN 7.821, de 18/03/2020) e do prazo de adesão à transação extraordinária, em função dos efeitos da pandemia causada pela COVID-19 na capacidade de geração de resultado dos devedores inscritos em DAU (instituída pela Portaria PGFN 9.924, de 14/04/2020).

ME/ PGFN

6. Prorrogação do prazo para aderir ao Acordo de Transação por Adesão Essa modalidade contempla apenas os contribuintes notificados pelo Edital PGFN 1/2019, que são aqueles que não cometeram fraudes e que possuem débitos inscritos com valor total de até R$ 15 milhões, considerados pela PGFN como irrecuperáveis ou de difícil recuperação. O prazo de adesão é até 31 de julho de 2020. (Prorrogado pelo Edital PGFN 3/2020.)

PGFN

Fonte: RFB e PGFN.

11. Nem todas as medidas apresentadas na Tabela 2 possuem estimativa de impacto, mas somente duas delas. A primeira é o item 1, que discorre sobre o advento de medida que permitirá a suspensão de pagamentos das dívidas dos entes federativos com a União no valor de R$ 35,35 bilhões. Essa medida é tratada com maior detalhamento a partir do item 27 deste relatório.

12. A segunda medida com estimativa refere-se à suspensão de pagamentos de parcelamentos celebrados com base na Lei 13.485/17, com impacto de 780 milhões (peça 93). Paralelamente, a medida contida na Portaria ME 245/2020 prorroga o prazo para o recolhimento de tributos federais com estimativa de impacto em um mês de 23,3 bilhões.

13. O resultado tanto do mês quanto do período acumulado foi bastante influenciado pelos diversos diferimentos decorrentes da pandemia de coronavírus segundo a RFB (peça 88). Os diferimentos somaram, aproximadamente, 81,3 bilhões e atingiram o montante de 20,4 bilhões em junho.

Administrativas de desburocratização

14. As medidas classificadas como administrativas de desburocratização não têm impacto direto na

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arrecadação, mas simplificam processos internos com vistas a desburocratizar e facilitar a gestão do processo tributário. Na Tabela 3, observa-se que algumas medidas tomadas sob uma situação extrema poderiam ser adaptadas para continuar com vigência em uma situação normal e realmente simplificar alguns procedimentos burocráticos.

15. Por exemplo, as medidas dos itens 2 e 7 da tabela 3, relativos ao Pronampe, simplificam o fluxo de informações de faturamento entre a RFB e a rede bancária, facilitando os procedimentos de obtenção de crédito pelas pequenas e microempresas. Outro exemplo é o item 13 referente ao CARF, que teve um acréscimo de 100% na sua produtividade nos julgamentos em relação às sessões presenciais.

Tabela 3 - Medidas de Desburocratização - junho e julho/2020 Medida Órgão 1. Flexibiliza a exigência feita às empresas que operam em Zona de

Processamento de Exportação (ZPE) de que 80% de sua receita bruta total seja obtida com exportações. Com a concessão, empresas que tenham sido prejudicadas por causa da pandemia da Covid-19 e não consigam manter o fluxo de vendas para o exterior nem alcançar o percentual mínimo decorrente de exportação exigido pela lei não precisarão responder pelo descumprimento da exigência. (Medida Provisória 973, de 27/05/2020, Presidência da República)

ME/ RFB

2. Dispõe sobre o fornecimento de informações para fins de análise para a concessão de créditos a microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), instituído pela Lei 13.999, de 18 de maio de 2020. (Portaria RFB 978/2020, Receita Federal do Brasil)

ME/ RFB

3. Simplifica normas a respeito da apresentação de documentos ao órgão, dentro do contexto da situação de emergência de saúde pública acarretada pelo novo Coronavírus. Esta nova regra elimina exigências estabelecidas por determinações anteriores. Fica suspensa, portanto, a obrigação de que ‘a cópia simples de documento apresentada para obtenção de serviços no âmbito da RFB deve estar acompanhada do documento original a fim de possibilitar sua autenticação pelo servidor público ao qual for apresentada’ (Portaria RFB 2860/ 2017). Também fica dispensada, temporariamente, a determinação de que ‘os documentos apresentados deverão ser originais ou cópias autenticadas’ (Instrução Normativa RFB 1.956/2015). Essas suspensões de exigências relativas ao atendimento da Receita vão vigorar até 30 de junho de 2020. (Instrução Normativa 1.956 de 29/05/2020- Receita Federal do Brasil)

ME/ RFB

4. Altera a Portaria RFB 543, de 20 de março de 2020, que suspende prazos para prática de atos processuais e os procedimentos administrativos que especifica, no âmbito da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB), como medida de proteção para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do Coronavírus. (Covid-19) (Portaria 936, de 29/05/2020 - Receita Federal do Brasil)

ME/ RFB

5. Facilitar o acesso a crédito por meio da disponibilização de garantias e de preservar empresas de pequeno e de médio porte diante dos impactos econômicos decorrentes da pandemia de Coronavírus (Covid-19), para a proteção de empregos e da renda. (Medida Provisória 975, de 1/06/2020)

ME/ RFB

6. Institui Grupo de Trabalho para a Consolidação das Estratégias de Governança e Gestão de Riscos do governo federal em resposta aos impactos relacionados ao Coronavírus, no âmbito do Comitê de Crise da Covid-19. (Resolução 6, de 02/06/2020, Comitê de crise para supervisão e monitoramento dos impactos da Covid-19 ME)

ME/ RFB

7. Dispõe sobre o fornecimento de informações para fins de análise para a concessão de créditos a microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno

ME/ RFB

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Porte (Pronampe), instituído pela Lei 13.999, de 18 de maio de 2020. (Portaria 978, de 08/06/2020, Receita Federal do Brasil)

8. Estabelece medidas para redução dos impactos econômicos decorrentes da doença pelo Coronavírus identificado em 2019 (Covid-19) com relação aos beneficiários do Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial de que tratam as Instruções Normativas RFB 1291, de 19 de setembro de 2012, e 1612, de 26 de janeiro de 2016. (Instrução Normativa 960, de 16/06/2020, Receita Federal do Brasil) Recof e Recof-Sped.

ME/ RFB

9. Altera o Decreto 10.277, de 16 de março de 2020, que institui o Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19. O Comitê é órgão de articulação da ação governamental, de assessoramento ao Presidente da República sobre a consciência situacional em questões decorrentes da pandemia da Covid-19 e de deliberação sobre as prioridades, as diretrizes e os aspectos estratégicos relativos aos impactos da Covid-19. (Decreto 10.404, de 22/06/2020, Presidência da República

ME/ RFB

10. Altera a Portaria RFB 978, de 8 de junho de 2020, que dispõe sobre o fornecimento de informações para fins de análise para a concessão de créditos a microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), instituído pela Lei 13.999, de 18 de maio de 2020

ME/ RFB

11. Regulamenta a Transação Excepcional na cobrança da dívida ativa da União, em função dos efeitos da pandemia pelo novo Coronavírus na capacidade de geração de resultados da pessoa jurídica e no comprometimento da renda das pessoas físicas. (Portaria 14.402, de 16 de junho de 2020)

ME/ PGFN

12. A Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) prorrogaram por mais 30 dias o prazo de validade das Certidões Negativas de Débitos (CND) e das Certidões Positivas com Efeitos de Negativas (CNEND), ambas relativas à Créditos Tributários federais e à Dívida Ativa da União. (Portaria Conjunta RFB/PGFN 1178/2020, de 13/07/2020)

ME/ PGFN

13. O CARF inaugurou, já com produtividade elevada, as primeiras reuniões de julgamento virtual das 15 turmas ordinárias e das 3 turmas da Câmara Superior. Comparando o quantitativo de processos julgados no mês de junho de 2020 e junho de 2019, sessão presencial, verificou-se um aumento de mais de 100% de produtividade.

ME/ CARF

Fonte: RFB, PGFN e CARF.

16. Houve edição por parte da RFB de medidas no âmbito do atendimento aos contribuintes na RFB de caráter administrativo, como se observa na medida constante no item 4. Tal medida possui a finalidade de simplificar normas a respeito da apresentação de documentos ao órgão, dentro do contexto da situação de emergência de saúde pública acarretada pelo novo coronavírus.

17. Esta nova regra elimina exigências estabelecidas por determinações anteriores, ficando suspensa a obrigação da apresentação de cópia simples de documento para obtenção de serviços no âmbito da RFB, ou seja, o contribuinte é dispensado de apresentar o documento original a fim de possibilitar sua autenticação pelo servidor público ao qual for apresentada. Também fica dispensada a determinação de que os documentos apresentados deverão ser cópias autenticadas. Essas suspensões de exigências relativas ao atendimento da RFB vigoraram até 30 de junho de 2020.

18. No âmbito do CARF, destaca-se a divulgação de ganho de produtividade com o advento das reuniões virtuais das 15 turmas ordinárias e das 3 turmas da câmara superior. Em comparação aos processos julgados entre os meses de junho de 2020 contra o mesmo período do ano de 2019, houve ganho de produtividade na ordem de 100%, como demonstra os dados a seguir:

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Tabela 4: Processos julgados junho/2020 versus junho/2019 Seção Junho de 2019 Sessão Presencial Junho de 2020 Sessão Virtual 1ª Seção 385 915 2ª Seção 624 1494 3ª Seção 1140 1992 Total 2149 4401

Fonte: peça 97.

Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - Pronampe

19. Dentre as medidas adotadas pela administração tributária entre os meses de junho e julho para enfretamento da pandemia covid-19, destaca-se a regulamentação pela RFB do Pronampe. O intuito do programa é beneficiar aproximadamente 4,5 milhões de pequenos negócios.

20. Antes de especificar as características desta nova medida que provê auxílio aos pequenos e médios empresários com facilitação na obtenção de financiamentos e empréstimos, cabe citar a situação identificada pela pesquisa ‘Pulso Empresa - Impacto da COVID19 nas empresas’ realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE no mês de junho.

21. Segundo essa pesquisa, entre 1,3 milhão de empresas que, na primeira quinzena de junho, estavam com atividades encerradas temporária ou definitivamente, o total de 506,65 mil empresas apontaram como causa as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus. Esse impacto no encerramento de companhias ocorreu em todos os setores da economia, distribuídos da seguinte forma:

Figura 1: Causa informada do encerramento por setor Econômico (%)

Fonte: Peça 89 e https://covid19.ibge.gov.br/pulso-empresa/.

22. Nesse contexto de deterioração da atividade econômica, surge o Pronampe que possui previsão de auxiliar as micro e pequenas empresas com a concessão de empréstimos, baseando-se no histórico de faturamento. Com essa medida, a União aumentou a participação no Fundo Garantidor de Operações em R$ 15,9 bilhões, conforme dispõe o art. 6º da Lei 13.999 de 18/05/2020, que institui o programa. O programa destina-se a reduzir o risco de crédito dos bancos nas operações com as micro e pequenas empresas, o que torna o crédito mais acessível. A proteção dessas empresas é relevante para o governo federal para impactar na velocidade da retomada da atividade econômica quando do enfraquecimento da epidemia.

23. A RFB iniciou envio de comunicado às microempresas e às empresas de pequeno porte com a informação do valor da receita bruta, com base nas declarações desses contribuintes ao fisco, para viabilizar a análise à linha de crédito a ser disponibilizada pelo Pronampe junto às instituições

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financeiras. Na primeira etapa, receberão o comunicado via Domicílio Tributário Eletrônico do Simples Nacional (DTE-SN) as ME e EPP optantes pelo Simples Nacional a partir de 9 de junho.

24. Em um segundo momento, previsto para ocorrer entre os dias 25 a 29 de junho, o comunicado será enviado via Caixa postal localizada no e-CAC às ME e EPP não incluídas no Simples Nacional. A tabela a seguir apresenta o procedimento para envio das informações aos beneficiários:

Tabela 5 -Etapas de implementação do Pronampe Etapa

Grupo de Contribuintes beneficiários

Quantidade de Contribuintes incluídos no grupo

Data de envio do comunicado

Canal de envio do comunicado

Origem das Informações enviadas pela RFB

O que o contribuinte pode fazer com o comunicado recebido para obter linha de crédito do Pronampe?

1

Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) optantes pelo Simples Nacional

Aproximadamente 3,8 milhões

09-12 de junho

Domicílio Tributário Eletrônico do Simples Nacional (DTE-SN)

Programa Gerador do Documento de Arrecadação do Simples Nacional

Permitir que o banco confirme a sua receita declarada, informando o Hash Code que receberá via DTE-SN, aumentando assim a segurança da operação bancária e a probabilidade da sua aprovação

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Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) NÃO optantes pelo Simples Nacional

Aproximadamente 780 mil

23-25 de junho

Caixa Postal localizada no Portal e-Cac

Escrituração Contábil Fiscal (ECF)

Permitir que o banco confirme a sua receita declarada, informando o Hash Code que receberá caixa postal do e-Cac, aumentando assim a segurança da operação bancária e a probabilidade da sua aprovação

Fonte: Peça 98. ME = Microempresa com faturamento anual até R$ 360 mil. EPP= Empresa de Pequeno Porte faturamento anual de R$ 4, 8 mil.

25. Desta forma, após o envio das informações pela RFB às empresas conforme o disposto acima, os empresários poderão solicitar empréstimos às instituições financeiras cadastradas. A figura a seguir apresenta todo o processo integrante do Pronampe:

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Figura 2: Fluxo de operações no Pronampe

Fonte: RFB e ME (peça 98).

26. No mês de julho, constata-se que os recursos destinados ao programa (R$ 15,9 bilhões) tiveram destinação em menos de um mês deixando empresários descobertos. Em variadas instituições financeiras, o crédito disponível para essa linha de empréstimo encontra-se esgotada, à espera de novo aporte pela União. Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Brasil (BB) e Itaú-Unibanco lideram juntas a concessão de empréstimos nessa modalidade na ordem de R$ 12 bilhões (peça 96).

27. A medida constante do item 1 (Tabela 2) trata da terceira medida de auxílio financeiro aos entes subnacionais na ordem de R$ 35,5 bilhões (...).

28. Diferentemente do observado no caso dos créditos que não especificam a quais Estados serão dirigidos, a referida lei define claramente como se dará a distribuição entre os entes, conforme foi divulgado em apresentação realizada à imprensa no mês de julho:

Figura 3: Suspensão de Dívidas com a União: Distribuição do efeito % da RCL

Fonte: Apresentação RFB sobre o auxílio ao Entes Subnacionais (peça 90, p. 19).

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29. A suspensão das dívidas chegou ao montante de R$ 32,629 milhões até o mês de julho, quase esgotando o potencial estimado de R$ 35,5 bilhões. Houve suspensão de dívidas para todos os entes subnacionais excetuando, no entanto, Tocantins e Piauí.

30. Ressalta-se que o Ministério da Economia fez o quantitativo da suspensão dos valores levando em consideração o percentual da Receita Corrente Líquida (RCL) do exercício de 2019, de acordo com a figura 3 (peça 90).

31. O estado do Rio de Janeiro teve suspensão de valores com a União de R$ 8,4 bilhões, o equivalente a 145,1% de sua RCL auferida no ano de 2019. Outro exemplo é o Rio Grande do Sul, que obteve auxílio na forma de suspensão de dívidas na ordem de R$ 3,5 bilhões, o que representa 87,9% da RCL do último ano. Diante disso, apura-se que os maiores beneficiados foram os estados que apresentavam deterioração fiscal nos últimos anos, o que fez com que o benefício da suspensão de dívidas se concentrasse nesses quatro entes em valores significantes.

32. No âmbito da PGFN, a Portaria PGFN 15.413, de 29/06/2020, prorrogou duas medidas adotadas após o início da pandemia. Primeiramente, alterou a Portaria PGFN 7.821, de 18/03/2020, prorrogando a suspensão temporária de medidas de cobrança administrativa da Dívida Ativa da União (DAU).

33. Em seguida, alterou a Portaria PGFN 9.924, de 14/04/2020, prorrogando o prazo de adesão à transação extraordinária, suspendendo até 31/07/2020 o início de procedimentos de exclusão de contribuintes de parcelamentos administrados pela PGFN cuja hipótese de rescisão por inadimplência de parcelas tenha se configurado a partir do mês de fevereiro de 2020, inclusive em função dos efeitos da pandemia causada pela covid-19 na capacidade de geração de resultado dos devedores inscritos em DAU.

34. Inicialmente, o ato publicado em março teria validade até junho, entretanto, com a manutenção do cenário econômico, a adequação da data foi necessária. Essa decisão beneficia 25 clubes das Séries A e B do campeonato brasileiro que possuem passivos tributários e previdenciários na União. Exemplificando, os maiores devedores da União, dentre os times de futebol da série A e B, concentram hoje aproximadamente R$ 915,3 milhões de passivos tributários e previdenciários (peça 94).

35. Ressalta-se que está em vigor plano de auxílio a essas entidades desportivas profissionais no que se refere ao parcelamento dos tributos no âmbito do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro - PROFUT (Lei 13.155, de 04/08/2015). O objetivo é promover a gestão transparente e democrática e o equilíbrio financeiro das entidades desportivas profissionais de futebol.

EVOLUÇÃO DA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL

36. A arrecadação tributária de 2020 foi afetada pelo coronavírus, conforme relatado pelos Acórdãos anteriores (Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário e Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário). Até o mês de maio de 2020, essa tendência de queda permaneceu, com leve aumento da arrecadação total de maio (R$ 77,42 bilhões) para junho (R$ 86,26 bilhões), mas ainda inferior à arrecadação de janeiro de 2020 (R$ 174,99 bilhões), aos mesmos meses em 2019 descontado o IPCA (R$ 115,41 bilhões em maio de 2019 e R$ 119,95 bilhões em junho de 2019) e aos montantes previstos na Lei Orçamentária Anual.

Frustração de Arrecadação

37. Inicialmente, houve em 2020 frustração da arrecadação administrada pela RFB em relação à previsão constante da LOA:

Figura 4: Receita Prevista versus Realizada

R$ em milhões

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Fonte: Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, elaboração própria. Os dados estão corrigidos pelo IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo (peça 88 e peça 95, p. 5).

38. Somente a arrecadação do mês de janeiro de 2020 superou a receita prevista da arrecadação administrada pela RFB desde o início do ano de 2020. Os demais meses apresentaram frustração de receita frente à previsão, sendo o mês de abril aquele de maior diferença absoluta entre o valor previsto e o realizado (R$ 43,5 bilhões). As previsões foram atualizadas pelos Decretos 10.295/20 e 10.385/20. No entanto, por meio dos dados de previsão constante da LOA que foi publicada ainda em 2019, demonstra-se a realidade das receitas tributárias federais, que foram impactadas pela pandemia do coronavírus.

39. O total da arrecadação administrada pela RFB prevista na LOA até o mês de junho totalizava R$ 765,678 bilhões, mas o montante efetivamente arrecadado foi de R$ 637,217 bilhões, o que representa a frustração das receitas inicialmente previstas em R$ 128,461 bilhões.

40. Embora existam atualizações da previsão de receita frente à realidade decorrente da pandemia, os meses de julho a dezembro de 2020 podem permanecer em frustração de receitas, pois a previsão inicial da LOA era de crescimento até dezembro de 2020. Paralelamente, as consequências econômicas decorrentes da pandemia ainda estão ocorrendo, bem como as medidas tributárias com impactos na arrecadação, conforme apresentado no tópico ‘Medidas de resposta à crise no Brasil em junho e julho’.

Redução de Arrecadação

41. Todos os meses do ano de 2020, até o momento, apresentaram arrecadação real inferior aos mesmos meses de 2019, exceto o mês de janeiro, conforme gráfico a seguir (Figura 5):

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Figura 5: Arrecadação Federal

R$ em milhões

Fonte: Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, elaboração própria. Os dados de 2019 estão corrigidos pelo IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo.

42. O total da arrecadação teve um leve aumento no mês de junho em comparação ao mês de maio de 2020, totalizando R$ 86,258 bilhões de reais (peça 88, p. 4). No entanto, a arrecadação do período de janeiro a junho de 2020 em relação ao mesmo período de 2019 apresentou decréscimo real de 29,59%.

43. As medidas descritas no tópico ‘Medidas de resposta à crise no Brasil em junho e julho’ contribuíram para o impacto na arrecadação, tendo em vista que as medidas de desonerações impactam diretamente a diminuição da arrecadação, bem como as medidas de adiamento, suspensões e prorrogações, que, embora sejam medidas temporárias, prorrogam o pagamento pelo contribuinte e, consequentemente, o recebimento e aumento da arrecadação federal.

Arrecadação por Tributo Federal

44. Comparando-se a arrecadação de 2020 com o mesmo período de 2019, é possível verificar redução real da arrecadação dos diferentes tipos de tributos:

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Figura 6: Arrecadação por tipo de tributo em junho de 2019 e de 2020

R$ em milhões

Fonte: Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, elaboração própria. Os dados de 2019 estão corrigidos pelo IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Cofins: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social. CSLL: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. PIS/Pasep: Programa de Integração Social e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público. IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados. IOF: Imposto sobre Operações Financeiras.

45. Somente a Contribuição do Plano de Seguridade do Servidor não apresentou arrecadação real em 2020 inferior a 2019, enquanto todos os demais tributos apresentaram arrecadação real de 2020 inferior ao período de janeiro a junho de 2019.

46. A arrecadação do imposto sobre a renda de pessoas físicas e jurídicas (IR) e sobre produtos industrializados (IPI) tem impacto ainda no Fundo de Participação dos Estados (FPE), no Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e, consequentemente, no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Portanto, a redução de tributos federais reduz diretamente os recursos disponíveis para os estados e municípios, considerando a estrutura de repartição das receitas tributárias estabelecida constitucionalmente na federação brasileira.

Arrecadação por Unidade da Federação

47. De acordo com os dados da RFB, a arrecadação federal está em queda desde janeiro de 2020, conforme apresentado nos relatórios anteriores (Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário e Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, ambos de relatoria do Ministro Bruno Dantas). A RFB apresenta essa arrecadação também por unidade da federação, que é representada a seguir:

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Figura 7: Arrecadação Tributária Federal por Unidade da Federação de janeiro a maio de 2020

R$ em bilhões

Fonte: Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, elaboração própria.

48. Analisando-se o mês de junho de 2020, a arrecadação total das Receitas Federais atingiu o valor de R$ 77,415 bilhões, registrando decréscimo real (descontada a inflação - calculada pelo IPCA) de 32,52% em relação a maio de 2019 (peça 77). A participação dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro na arrecadação federal são representativas, porém, todas as unidades da federação apresentaram queda entre janeiro e junho de 2020. O Rio de Janeiro teve a maior queda (66%), seguido do estado do Piauí (60%). As menores quedas foram de Rondônia (31%) e do Distrito Federal (22%):

Figura 8: Variação de Arrecadação Bruta de Janeiro a Junho de 2020

Fonte: Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, elaboração própria.

49. O cenário representa risco para as contas públicas federais (descrito no tópico Riscos Identificados), pois, além de a arrecadação federal estar diminuindo, isso ocorre com a arrecadação estadual. Os Estados contam com auxílio decorrente da Lei Complementar 173, de 27 de maio de 2020, que criou o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (covid-19) (item 1 da Tabela 2).

50. Ademais, o Painel das Medidas de Suporte aos Entes Federais, lançado pelo Ministério da Economia (peça 99), demonstra desequilíbrio na suficiência do suporte aos entes, pois, até junho de 2020, apenas seis estados observaram a arrecadação cair mais que o suporte oferecido pela Lei Complementar 173/2020 (RJ, RN, PA, PE, MG e CE). Por outro lado, vários estados estão

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recebendo bem mais que 120% (AP, MT e RR), com destaque para o estado do Amapá, com aproximadamente 140% de suficiência.

Figura 9: Índices de Suficiência - por Estados (Linha Horizontal em 100%)

Fonte: Peça 99.

DIVERGÊNCIAS DE INFORMAÇÕES SOBRE RECUPERAÇÃO DA ARRECADAÇÃO

51. O total de desonerações e redução de alíquotas sobre impostos torna o diferimento de tributos a principal providência em termos de ajuda às empresas, respondendo por R$ 126,5 bilhões, do total de R$ 139,6 bilhões estimados até julho de 2020, conforme relatório do IFI de junho e julho de 2020 (peça 70, p.16, e peça 91, p. 30). A figura a seguir, demonstra o impacto das medidas editadas até julho de 2020 em benefício das empresas segundo o IFI:

Figura 10: Medidas de Auxílio às Empresas pela Administração Tributária

R$ em bilhões

Fonte: Relatório IFI ref. junho e julho/2020 - peças 70 e 91 -Elaboração própria

52. De outra forma, a RFB informou que o impacto geral das medidas relacionadas com desoneração de tributos, bem como diferimento de pagamentos desses totaliza R$ 165,3 bilhões até o momento, sem considerar os impactos dos efeitos da desoneração do IOF do Decreto 10.414/2020 e do Decreto 10.305/2020 (peça 93). Há, portanto, divergências nos impactos divulgados entre a administração tributária e entidades que avaliam as medidas adotadas pela União, como no caso concreto do relatório do IFI, conforme a figura 10, no valor de R$ 169,6 bilhões, em contraponto com os dados repassados pela RFB.

53. Outra divergência identificada refere-se à quantificação dos diferimentos decorrentes da pandemia de coronavírus. Segundo a RFB (peça 88), os diferimentos somaram 81,3 bilhões e

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atingiram o montante de 20,4 bilhões em junho. Já o IFI, em relatório publicado em 13/07/2020, sugere o valor de R$ 29,9 bilhões.

54. Essa divergência encontra respaldo em dois fatores principais: i) decurso temporal da base de dados utilizada para mensuração, uma vez que as informações utilizadas pela RFB são relativas à arrecadação do mês de junho com publicação na 2ª quinzena de julho enquanto os dados utilizados pelo instituto são do mês de maio com publicação na 2ª quinzena de junho; ii) segunda divergência reside na forma de quantificação das medidas que possuem alto grau de estimativa podendo os valores flutuarem para mais ou menos.

55. Uma terceira divergência identificada refere-se às informações da RFB de retomada da economia e as informações emitidas pela Cielo no relatório do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA). Inicialmente, um importante indicador para auferir a retomada da arrecadação é a análise da emissão de notas fiscais emitidas por pequenas e grandes empresas. Atualmente, com o advento das notas fiscais eletrônicas, a apuração pode ser realizada com maior precisão e tempestividade pela administração tributária.

56. Nesse sentido, a RFB emitiu o primeiro relatório de acompanhamento da emissão de notas fiscais eletrônicas no Brasil separado por regiões com o intuito de auferir os efeitos da pandemia na economia e, em consequência, na arrecadação tributária federal (peça 69). No Boletim Impactos da Covid-19, de publicação quinzenal, a RFB apresenta ao público informações econômico-fiscais para apoio ao monitoramento dos efeitos da covid-19 sobre a economia brasileira. Os quadros baseiam-se nas vendas registradas no Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) - notas fiscais eletrônicas (NFe).

57. No Brasil, a média diária de vendas com a NFe superou R$ 20 bilhões nos meses de janeiro a março, caindo para R$ 19,0 bilhões em abril, mas subindo para R$ 21,1 bilhões em maio. Na comparação com o mês anterior, a queda acentuada em abril (-17,8%) foi seguida de aumento de 11,1% em maio. Na comparação com o mesmo mês do ano 2019, as vendas foram maiores em janeiro, fevereiro e março, porém inferiores em abril (-14,9%) e maio (-15,2%), em termos reais.

58. Após as medidas de contenção e quarentena para combate ao novo coronavírus, todas as regiões do Brasil tiveram queda do volume diário de vendas em abril, em relação ao mês de março. A maior redução foi da região Sudeste (-22,6%). Em maio, segundo o boletim da RFB, tanto quantidades como valores mostraram tendência ascendente em todas as regiões. Abaixo, a RFB apresenta por região para demonstrar a recuperação das emissões das NFe.

59. A RFB afirma que a emissão de NFe tem retomado aos níveis pré-crise provocada pela pandemia do coronavírus, o que poderia revelar uma retomada da economia de forma ampla e por regiões. No entanto, verifica-se que a retomada ocorreu de forma sensível em comparação ao mês de maio, conforme retrata o ICVA, emitido pela Cielo em seu relatório mensal.

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Figura 11: Crescimento da Receita de Vendas sem ajuste de calendário

Fonte: Relatório ICVA - Cielo - maio (peça 68) e junho (peça 92).

60. Segundo a instituição, os patamares do varejo em maio mostram recuperação quando comparados a abril e maio, meses mais atingidos pelas medidas de isolamento contra a pandemia da covid-19. Como destaque no mês, o setor de supermercados e hipermercados apresentou a maior alta, enquanto os setores de móveis, eletro e lojas de departamento e vestuário apresentaram maiores recuperações.

61. A comparação do cenário base com os cenários otimista e pessimista mostra que a perda na receita líquida da União será maior ou pior em função do crescimento esperado da economia e do comportamento das receitas não administradas. Assim, diante dos dados apresentados, é possível verificar que houve algum grau de recuperação da atividade econômica em maio, como denota o boletim da RFB, bem como o relatório emitido pela Cielo. No entanto, a afirmação de que se atingiu estágio de recuperação em patamar pré-crise pode ser considerado otimista, com potencial de influenciar decisões políticas futuras ao transparecer retomada econômica maior do que realmente está de fato ocorrendo.

RISCOS IDENTIFICADOS

Frustração de receitas originalmente previstas na LOA

62. Conforme apresentado no tópico ‘Evolução da Arrecadação Tributária Federal’, há frustração de receitas com base na previsão da LOA no total de R$ 128,461 bilhões, bem como redução real da arrecadação em comparação a 2019. Esse risco foi apresentado, inicialmente, no item 9.1.2 do Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Bruno Dantas. Com as informações atualizadas pelo presente relatório, percebe-se que esse risco permanece e é considerado de probabilidade e impacto altos, pois a queda de arrecadação pode inviabilizar o funcionamento da máquina pública, pois ficam comprometidos diversos serviços públicos, a constituição de diversos fundos, como o Fundeb, descrito no tópico ‘Arrecadação por Tributo Federal’, entre outras diversas áreas que são afetadas.

63. A queda de arrecadação teve como destaques o Cofins e o PIS/Pasep que, conjuntamente, resultaram no montante de R$ 11,683 bilhões, representando uma queda de real de 56,41% (peça 88, p. 5). O principal motivo foi a prorrogação do prazo para recolhimento dessas contribuições, decréscimos no volume de vendas (14,90%) e de serviços (19,50%) comparando-se

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maio/2019 com maio/2020. Em maio, o IOF teve um decréscimo real de 66,87% em maio, por força da alíquota zero no período de 21 de abril a 20 de maio de 2020, instituída pelo Decreto 10.305, de 1º/04/2020 (peça 77, p. 5).

64. A Receita Previdenciária decresceu, em termos reais, 38,93% em maio e 19,09% em junho, com arrecadação corrigida de R$ 21,431 bilhões e R$ 171,538 bilhões, respectivamente. O decréscimo foi induzido, principalmente, pela queda real de 3,51% e 2,14% na massa salarial de abril de 2020/2019 e maio 2020/2019, respectivamente, bem como pelo diferimento do pagamento do Simples Nacional, da Contribuição Previdenciária Patronal e dos parcelamentos especiais, num valor aproximado de R$ 12,3 bilhões em maio e 11,3 bilhões em junho de 2020. Portanto, reforçado pelas evidências de desemprego apresentadas anteriormente (peça 76), o risco de frustração de receitas originalmente previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício de 2020 é agravado pelas informações atualizadas até julho de 2020.

Ações fiscais temporárias tornarem-se de caráter continuado no período pós-pandemia

65. O impacto das medidas fiscais para combate à pandemia do covid-19 sobre as finanças públicas já é significativo e não depende apenas da duração da pandemia, mas também de quão rápida será a recuperação econômica pós-pandemia. Em contexto de setor público, o aumento do déficit oferece auxílio em escala extraordinária, entre outros instrumentos, para fomentar auxílio por parte do Estado. No entanto, a transparência é fundamental para gerenciar o recolhimento dos tributos.

66. Um dos maiores riscos decorrentes da pandemia é o efeito negativo na arrecadação de tributos, pois atingirá diretamente a atividade econômica. O Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Bruno Dantas, considerou que essa queda deve ser acompanhada de perto e a efetividade dos instrumentos do governo federal deverá ser avaliada com muita precisão pelo TCU, pois as medidas tomadas, ainda incipientes, são de cunho excepcional e permitirão algumas ações com riscos maiores do que o normalmente observado.

67. À medida que a dispersão da pandemia ocorra nos países e, em consequência, se finalizem as ações de isolamento social, a aplicação de um estímulo fiscal coordenado, com objetivos e metas factíveis, será fundamental como uma ferramenta eficaz para impulsionar a recuperação econômica. De acordo com o Relatório do Fundo Monetário Internacional referente ao mês de abril/2020, há o risco de que medidas excepcionais adotadas durante a crise, com efeitos temporários, sejam revertidas em medidas de caráter permanente (médio e longo prazos), onerando os cofres públicos com a repercussão de despesas e a frustração de receitas por tempo maior do que o necessário (peça 44).

68. De fato, os fortes impactos da crise sanitária da covid-19 sobre a atividade econômica, as finanças públicas, a pobreza e a desigualdade indicam que políticas de apoio à reconstrução da atividade econômica e social e à recomposição da situação fiscal serão necessárias. Dessa forma, não será possível simplesmente desligar a estrutura montada de suporte social.

69. Para promover o retorno ao crescimento com equidade, será preciso formular e implementar planos integrados que sirvam de estímulo econômico e que apoiem as famílias e as empresas mais vulneráveis durante o período de retorno à normalidade. Entretanto, esses planos deverão levar em consideração as restrições orçamentárias, para não comprometerem a sustentabilidade fiscal.

70. Nessa mesma linha, o Relatório de Acompanhamento Fiscal 40 da IFI alterou o cenário de projeções de receitas ‘contando que o governo instituirá um novo Refis passada a fase mais aguda da pandemia’. Em razão da lenta retomada da atividade econômica a partir do segundo semestre deste ano, e considerando a possibilidade concreta de que as empresas venham a ter dificuldades em recolher diversos tributos quando a fase mais aguda da pandemia passar, a IFI passou a considerar a premissa de que o governo federal instituirá um novo programa de parcelamento de débitos tributários (Refis) em algum momento no segundo semestre de 2020 (peça 37).

71. O refinanciamento das dívidas tributárias de devedores do fisco é procedimento comum no Brasil. Por exemplo, a Lei 8.212/1991, que promoveu refinanciamento do pagamento de tributos de devedores, tem repercussões até os dias atuais. Outro exemplo a ser reportado é a Lei 12.996/2014, que autorizou o parcelamento de dívidas de devedores de juros, multas e tributos inadimplidos até

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31/12/2013, a qual continua em vigor até os dias atuais.

72. De fato, de acordo com o Estudo sobre Impactos dos Parcelamentos Especiais, atualizado pela Receita Federal em 29/12/2017, desde o ano 2000 foram criados mais de 40 programas de parcelamentos especiais, sem contar as reaberturas e prorrogações dos programas anteriormente instituídos, ao custo de mais de R$ 176 bilhões em renúncias tributárias (peça 58). Ademais, há projetos legislativos que visam à criação de refinanciamento de tributos em função da crise, podendo frustrar o ingresso desses recursos no exercício corrente, como o Projeto de Lei 2.169/2020 (peça 47), que cria plano de recuperação fiscal para empresas em situações de calamidade pública, e o Projeto de Lei 2.735/2020 (peça 48), que institui o Programa Extraordinário de Regularização Tributária da RFB e da PGFN.

73. Por meio de sua Portaria PGFN 14.402, de 16 de junho de 2020 (peça 71), a PGFN ‘estabelece as condições para transação excepcional na cobrança da dívida ativa da União, em função dos efeitos da pandemia causada pelo Coronavírus na perspectiva de recebimento de créditos inscritos’. Ela visa repactuar créditos da União já inscritos em Dívida Ativa da União (DAU), que pode ser feita tanto por pessoas físicas ou jurídicas, enquanto os cálculos serão feitos em função do grau de recuperação econômica do crédito, do comprometimento da renda da pessoa física e do impacto na geração de resultados da pessoa jurídica, causados pela pandemia.

74. Não se trata de refinanciamento de dívidas ao estilo Refis, mas de repactuação de créditos já anteriormente negociados. Isso certamente trará queda no ingresso de recursos provenientes dessa fonte arrecadadora. O quantum dessa frustação arrecadatória só poderá ser devidamente avaliado após os primeiros resultados advindos das adesões ao programa, que poderão ser feitos de 1/7 a 29/12/2020, no portal ‘Regularize’ (www.regularize.pgfn.gov.br).

75. A IFI, em seu relatório de acompanhamento fiscal referente ao mês de junho (peça 70, p. 18), apresenta também percepção, no mesmo sentido, sobre a projeção de cenários econômicos com advento de medidas a serem adotadas no âmbito da recuperação dos tributos postergados. Afirma que ‘diferimentos regressarão aos cofres da União por meio de um Refis, entre 2021 e 2025. Foi mantida a premissa de que os diferimentos regressarão aos cofres da União entre 2021 e 2025, nos três cenários de projeção considerados podendo, ainda, se estender por prazo maior’.

76. As premissas utilizadas pelo instituto assumem que os tributos diferidos serão pagos no formato de um novo Refis em razão das dificuldades de caixa que as empresas deverão enfrentar no período posterior ao da fase mais aguda da pandemia. Há ainda o risco de os diferimentos serem estendidos por mais tempo, corroborando com a opinião da equipe, e de as medidas serem transbordadas para 2021 (peça 91, p. 36).

77. Portanto, o risco de ações fiscais temporárias tornarem-se de caráter continuado no período pós-pandemia é de probabilidade e impacto altos, pois já constava do relatório do mês de maio/2020 e foi reforçado com as evidências do presente relatório, permanecendo o risco descrito pelo item 9.1.4 do Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Bruno Dantas.

CONCLUSÃO

78. O Plano Especial de Acompanhamento das Ações de Combate à Covid-19 aprovado pelo Tribunal apresenta, como um dos objetivos, a promoção da transparência às ações governamentais adotadas no combate à emergência de saúde pública causada pelo coronavírus, que devem impactar diretamente a população. Desta forma, além dos encaminhamentos internos, e aos órgãos acompanhados, propõe-se encaminhar o resultado dos trabalhos aos demais atores governamentais envolvidos na gestão ou no controle dos atos praticados.

79. Assim, além do Ministério da Economia, sugere-se encaminhar o presente relatório à Comissão Mista Especial do Congresso Nacional de acompanhamento das medidas relacionadas ao Coronavírus (CN-Covid-19); ao Centro de Coordenação de Operações do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 (CCOP), coordenado pela Casa Civil da Presidência da República; e ao Gabinete Integrado de Acompanhamento à Epidemia do Coronavírus-19 (GIAC-COVID-19), coordenado pela Procuradoria-Geral da República, informando que:

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a) a frustração da arrecadação administrada pela RFB de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 128,461 bilhões em relação à previsão inicial da Lei Orçamentária Anual para 2020;

b) a arrecadação total das receitas federais em junho de 2020 totalizou R$ 86,258 bilhões, representando decréscimo real de 29,59% em relação a 2019;

c) a arrecadação do período de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 665,966 bilhões, representando decréscimo real de 14,91% em relação a 2019;

d) a administração tributária continuou avançando em medidas de enfrentamento à pandemia do coronavírus nos grupos de desonerações, com impacto estimado de R$ 7,7 bilhões, diferimentos, com impacto estimado de R$ 20,4 bilhões, e medidas administrativas de desburocratização, sem impacto estimado;

e) as medidas administrativas de desburocratização tomadas por conta da situação excepcional provocada pela pandemia mostraram-se promissoras como medidas que poderiam se tornar permanentes pelo desembaraço e agilidade que trazem ao processo fiscal, sem que seja necessária a criação de leis ou normas, como o ganho de produtividade de 100% dos processos julgados pelo CARF com o advento das reuniões virtuais;

f) o suporte oferecido pela Lei Complementar 173/2020 atingiu, em sua maior parte, o objetivo de recompor as perdas de arrecadação pelos entes federais, mas se percebe desequilíbrio na suficiência em alguns estados, sendo que seis não atingiram 100% de recomposição (RJ, RN, PA, PE, MG e CE), enquanto outros superaram em mais de 20% (AP, MT e RR);

g) divergências de informações sobre recuperação da arrecadação podem influenciar decisões políticas futuras ao transparecer retomada econômica maior do que realmente está de fato ocorrendo;

h) o risco de frustração de receitas originalmente previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício de 2020 constante do item 9.1, alínea c, do Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário, e dos itens 9.1.1, 9.1.2 e 9.1.3 do Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, ambos de relatoria do Ministro Bruno Dantas, permanece e é considerado de probabilidade e impacto altos; e

i) o risco de ações fiscais temporárias tornarem-se de caráter continuado no período pós-pandemia é de probabilidade e impacto altos, pois já consta do item 9.1, alínea b, do Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário, e do item 9.1.4 do Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, ambos de relatoria do Ministro Bruno Dantas.

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

80. Ante o exposto, submete-se o presente relatório à consideração superior, para posterior encaminhamento ao gabinete do Exmo. Sr. Ministro-Relator Bruno Dantas, com as seguintes propostas:

a) informar ao Ministério da Economia; à Comissão Mista Especial do Congresso Nacional de acompanhamento das medidas relacionadas ao Coronavírus (CN-Covid-19); ao Centro de Coordenação de Operações do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 (CCOP) da Casa Civil e ao Gabinete Integrado de Acompanhamento à Epidemia do Coronavírus-19 (GIAC-COVID-19) da Procuradoria-Geral da República que:

i. a frustração da arrecadação administrada pela RFB de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 128,461 bilhões em relação à previsão inicial da Lei Orçamentária Anual para 2020;

ii. a arrecadação total das receitas federais em junho de 2020 totalizou R$ 86,258 bilhões, representando decréscimo real de 29,59% em relação a 2019;

iii. a arrecadação do período de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 665,966 bilhões, representando decréscimo real de 14,91% em relação a 2019;

iv. a administração tributária continuou avançando em medidas de enfrentamento à pandemia do coronavírus nos grupos de desonerações, diferimentos e medidas administrativas de desburocratização;

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v. as medidas administrativas de desburocratização tomadas por conta da situação excepcional provocada pela pandemia mostraram-se promissoras como medidas que poderiam se tornar permanentes pelo desembaraço e agilidade que trazem ao processo fiscal, sem que seja necessária a criação de leis ou normas, como o ganho de produtividade de 100% dos processos julgados pelo CARF com o advento das reuniões virtuais;

vi. o suporte oferecido pela Lei Complementar 173/2020 atingiu, em sua maior parte, o objetivo de recompor as perdas de arrecadação pelos entes federais, mas se percebe desequilíbrio na suficiência em alguns estados, sendo que seis não atingiram 100% de recomposição (RJ, RN, PR, PE, MG e CE), enquanto outros superaram em mais de 20% (AP, MT e RR);

vii. divergências de informações sobre recuperação da arrecadação podem influenciar decisões políticas futuras ao transparecer retomada econômica maior do que realmente está de fato ocorrendo;

viii. o risco de frustração de receitas originalmente previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício de 2020 constante do item 9.1, alínea c, do Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário, e dos itens 9.1.1, 9.1.2 e 9.1.3 do Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, ambos de relatoria do Ministro Bruno Dantas, permanece e é considerado de probabilidade e impacto altos;

ix. o risco de ações fiscais temporárias tornarem-se de caráter continuado no período pós-pandemia é de probabilidade e impacto altos, pois já consta do item 9.1, alínea b, do Acórdão 1.195/2020-TCU-Plenário, do item 9.1.4 do Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário, ambos de relatoria do Ministro Bruno Dantas;

b) encaminhar o inteiro teor do acórdão que vier a ser proferido, incluindo relatório e voto, para: i) o Senado Federal; ii) a Câmara dos Deputados; iii) a Casa Civil; iv) o Ministério da Economia, e v) Procuradoria-Geral da República; e

c) restituir os autos à SecexPrevidência para continuidade do acompanhamento.” É o relatório.

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VOTO

Trata-se do terceiro relatório de acompanhamento, referente aos meses de junho e julho do corrente ano, com o objetivo de verificar a elaboração e a implementação das medidas aduaneiras e tributárias pelo governo federal em resposta à crise do coronavírus. 2. Este trabalho insere-se no Plano Especial de Acompanhamento das Ações de Combate à Covid-19 e do Programa Coopera - Programa de Atuação no Enfrentamento da Crise da Covid-19, ambos no âmbito deste Tribunal, contemplando ações de orientação, parceria e diálogo. 3. O segundo relatório deste acompanhamento, referente ao mês de maio, foi julgado por meio do Acórdão 1.638/2020-TCU-Plenário e apresentou as seguintes conclusões:

“(...) 9.1.1 antes mesmo que as primeiras ações de restrições e de distanciamento social fossem implementadas pelos estados e municípios, já era observável que a expectativa de crescimento da economia prevista na Lei Orçamentária Anual (LOA) e, por consequência, da arrecadação federal, para o exercício de 2020, não estava sendo concretizada, com uma estimativa de R$ 32,7 bilhões de frustração de receitas, de acordo com o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias relativo ao primeiro bimestre de 2020, elaborado conjuntamente pela Secretaria de Orçamento Federal, Secretaria do Tesouro Nacional e Secretaria Especial de Fazenda, todas do Ministério da Economia;

9.1.2. o impacto negativo total de arrecadação, em relação ao originalmente previsto na LOA, estimada para todo o exercício de 2020, é da ordem de R$ 166,7 bilhões, de acordo com o mesmo relatório bimestral citado acima. A frustração já verificada no primeiro quadrimestre do ano é de R$ 48,8 bilhões, segundo dados da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil;

9.1.3. quanto ao diferimento de pagamento de tributos, a frustração de receitas, já observada em abril, foi estimada em R$ 35 bilhões, segundo a Receita Federal do Brasil. Conforme dados consolidados até maio de 2020, a estimativa de déficit primário do governo central para todo o exercício de 2020, decorrente somente de diferimento de tributos, é de R$ 96,6 bilhões, de acordo com os relatórios da Instituição Fiscal Independente;

9.1.4. há o risco de que medidas excepcionais adotadas durante a crise com efeitos temporários sejam revertidas em medidas de caráter permanente (médio e longo prazos), onerando os cofres públicos com a repercussão de despesas e frustração de receitas por tempo maior do que o necessário ao combate da pandemia; e

9.1.5. foram encontrados indícios de irregularidades graves na gestão da base de dados de CPF mantida pela Receita Federal, que contava com cerca de 12,5 milhões de registros ativos além da população brasileira estimada pelo IBGE para o mesmo período. Tendo em vista a necessidade de utilização de técnicas de auditoria com o auxílio de recursos de tecnologia da informação para aprofundar a avaliação dos indícios encontrados, a análise será realizada no TC 016.834/2020-8, relativo ao Acompanhamento Especial das medidas de resposta à crise do Coronavírus para as áreas de Previdência Social, Assistência Social e Administração Tributária com Análise de dados.”

4. Nesta fase, identificaram-se as principais medidas de resposta à crise da covid-19 no país, especialmente sob o enfoque das alterações normativas no âmbito tributário federal, realizadas direta ou indiretamente pelos órgãos acompanhados: Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB) e Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). 5. Adicionalmente, a Secretaria de Controle Externo da Gestão Tributária, da Previdência e Assistência Social (SecexPrevidência) atualizou as informações sobre a evolução da arrecadação tributária federal e mapeou os seguintes riscos de natureza tributária para enfrentamento da pandemia:

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i) frustração de receitas originalmente previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020; e ii) ações fiscais temporárias tornarem-se medidas de caráter continuado no pós-pandemia. 6. Acolho, em essência, a análise empreendida e a proposta de encaminhamento sugerida pela unidade instrutora, sem prejuízo de fazer algumas considerações.

II 7. As medidas tributárias de resposta à crise foram classificadas em três grupos: desonerações, que consistem na desobrigação ou exoneração de determinado tributo; diferimentos, que compreendem postergação do pagamento do tributo; e administrativas, que objetivam contribuir para a desburocratização das responsabilidades tributárias. 8. Inicialmente, verificou-se que a administração tributária continua avançando em medidas de desoneração e de diferimento de impostos, conforme consolidações constantes nas Tabelas 1 e 2 do Relatório (que antecede este Voto), observando que, para algumas delas, não há estimativa financeira de seus impactos. 9. As medidas relativas a desonerações que tiveram seus impactos financeiros estimados foram: i) redução a zero da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre o termômetro digital, gerando impacto, segundo a Receita Federal, de cerca de R$ 687 milhões; e ii) prorrogação por mais 90 dias dos efeitos da redução da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre operações de crédito, cuja renúncia fiscal estimada para o trimestre é de R$ 7,051 bilhões. 10. No que concerne aos diferimentos do pagamento de tributos, das seis medidas instituídas, duas possuem estimativa financeira de impacto: i) suspensão de pagamentos das dívidas dos entes federativos com a União no valor de R$ 35,5 bilhões; e ii) suspensão de pagamentos de parcelamentos celebrados com base na Lei 13.485/2017, com impacto de R$ 780 milhões. 11. Em suma, as desonerações tributárias e os diferimentos decorrentes das medidas adotadas pelo governo federal somaram até o momento, aproximadamente, R$ 19,8 bilhões e R$ 145,5 bilhões, respectivamente. 12. Em tese, as receitas de tributos diferidos entrarão nos cofres da União em momento oportuno, diferentemente das desonerações, por meio das quais o governo federal renuncia às receitas de um tributo por fixado período. 13. Embora os diferimentos e as desonerações tenham, por ora, impactos significativos na arrecadação das receitas federais, essas ações são positivas para o setor produtivo nacional, especialmente sob o ponto de vista da tentativa de manutenção e de retomada da atividade econômica no país. 14. Por fim, foram identificadas treze medidas administrativas de desburocratização de cunho tributário, as quais estão consolidadas na Tabela 3 do Relatório (que antecede este Voto). 15. Neste ponto, faço observação que se releva oportuna. Algumas dessas medidas administrativas revestem-se da simplificação de procedimentos burocráticos de atendimento aos contribuintes pela Receita Federal, especialmente relativos às normas para apresentação de documentos. 16. Em outras palavras, motivada pelas medidas restritivas de isolamento social combinadas com o incremento do ambiente virtual de atendimento, a Receita Federal adotou procedimentos para facilitar a vida dos contribuintes brasileiros. Por evidente, existe espaço para que a instituição avalie a pertinência de tornar algumas dessas ações permanentes ou de incrementá-las. 17. Outro fato interessante apontado no acompanhamento diz respeito ao ganho de produtividade no âmbito do CARF com o advento das reuniões virtuais, constatando-se um aumento

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de cerca de 100% no número de processos julgados quando comparados com igual período de 2019. 18. Os resultados e as constatações acima são bem assertivos e demonstram as inúmeras oportunidades existentes na administração pública para que essa se torne menos burocrática, mais tempestiva e mais digital. 19. Em síntese, há muito o que se fazer para melhorar a gestão e a governança dos órgãos públicos na busca pelo incremento da eficiência, da redução de custos, da transparência, da probidade e, tão importante, da melhoria da tempestividade dos serviços prestados para a população brasileira. 20. Outra medida adotada no período foi a regulamentação pela RFB do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). 21. O Pronampe visa a auxiliar aproximadamente 4,5 milhões de micro e pequenas empresas com a concessão de empréstimos. Para tanto, a União destinou cerca de R$ 15,9 bilhões para o programa. 22. Os recursos podem ser utilizados para investimento, aquisição de máquinas e equipamentos, realização de reformas e/ou como capital de giro, até mesmo para o pagamento de despesas operacionais, como salários dos funcionários, contas de água, luz e aluguel, além da compra de matérias-primas e mercadorias. 23. Em virtude das consequências advindas da pandemia no setor produtivo, políticas de proteção das micro e pequenas empresas são realmente importantes, tendo em vista o papel que esses segmentos têm na geração de milhões de empregos e de renda em todas as regiões do país. 24. Embora o programa venha em boa hora, especialmente considerando os dados que indicam que mais de 500 mil empresas estariam com suas atividades encerradas temporária ou definitivamente em razão da crise da covid-19, o acompanhamento verificou que, em menos de um mês de vigência do Pronampe, os recursos destinados para tal finalidade já teriam sido esgotados, deixando empresários sem serem atendidos. 25. De outra parte, trago notícia de que o programa terá reforço de cerca de R$ 12 bilhões para uma segunda fase, a qual se iniciará ainda nesta semana. Esses novos recursos poderão socorrer aqueles que não conseguiram ser atendidos na primeira oferta pelas instituições bancárias participantes. 26. Outra medida de grande relevância diz respeito ao auxílio financeiro aos entes subnacionais da ordem de R$ 35,5 bilhões, caracterizado pela suspensão de pagamentos das dívidas de entes federativos com a União, com uma das medidas de enfrentamento da pandemia definidas pela Lei Complementar 173/2020. 27. Até julho, a suspensão de dívidas atingiu o total de R$ 32,6 milhões, quase esgotando o valor estimado de R$ 35,5 bilhões (peça 90, p. 19). Houve suspensão de dívidas para todos os estados, exceto Tocantins e Piauí. Os estados que tiveram significativos valores renegociados foram Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, que totalizaram juntos aproximadamente R$ 29 bilhões. 28. Observa-se que o Ministério da Economia definiu o quantitativo da suspensão dos valores para cada beneficiário, levando em consideração o percentual da Receita Corrente Líquida (RCL) do exercício de 2019. 29. A título de exemplo, o estado do Rio de Janeiro teve suspensão de valores com a União de R$ 8,4 bilhões, o equivalente a 145,1% de sua RCL auferida no ano de 2019. Esse dado pode indicar dificuldades futuras do estado em honrar em dia suas dívidas com a União. 30. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo, citados acima, tiveram também suspensões de suas dívidas em níveis significativos em relação ao percentual de suas receitas correntes líquidas do

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exercício de 2019, nos percentuais de 75,5, 87,9 e 76,9, respectivamente, o que indica, a exemplo do Rio de Janeiro, a necessidade de atenção sobre suas situações fiscais futuras quanto às capacidades de pagamentos de dívidas junto à União.

III 31. No que concerne à evolução das informações sobre arrecadação tributária federal, verificou-se que a arrecadação administrada pela RFB prevista na LOA até o mês de junho totalizava R$ 765,678 bilhões, mas o montante efetivamente apurado foi de R$ 637,217 bilhões, o que representa a frustração das receitas inicialmente previstas em R$ 128,461 bilhões. 32. Em junho, o total da arrecadação teve leve aumento em comparação ao mês de maio de 2020, totalizando R$ 86,258 bilhões de reais. No entanto, a arrecadação do período de janeiro a junho de 2020 em relação ao mesmo período de 2019 apresentou decréscimo real de 29,59% Houve queda na arrecadação de todos os tributos federais no período, à exceção do Plano de Seguridade do Servidor. 33. A frustração na arrecadação federal é dramática não só para as finanças da União como também para os entes subnacionais, uma vez que a arrecadação do imposto sobre a renda de pessoas físicas e jurídicas (IR) e sobre produtos industrializados (IPI) tem impacto no Fundo de Participação dos Estados (FPE), no Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e, consequentemente, no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). 34. Releva anotar que a Lei Complementar 173/2020, que estabeleceu o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19), definiu três medidas para tanto: i) a suspensão dos pagamentos das dívidas contratadas de entes federativos com a União; ii) a reestruturação de operações de crédito interno e externo junto ao sistema financeiro e instituições multilaterais de crédito; e iii) a entrega de recursos da União, na forma de auxílio financeiro, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. 35. Nesse sentido, tendo em vista as medidas acima, verifica-se que, segundo o Painel de Medidas de Suporte aos Entes Federais do Ministério da Economia (https://monitora-suporte-federativo.herokuapp.com), seis estados apresentaram perda de arrecadação maior que o suporte financeiro advindo das medidas provenientes da LC 173/2020 (RJ, RN, PR, PE, MG e CE), o que pode indicar uma situação fiscal futura mais severa. Por outro lado, outros estados (AP, MT e RR) estão recebendo suporte mais significativo que a correspondente perda de arrecadação no mesmo período.

IV 36. Desde a primeira fase deste acompanhamento, venho apontando os seguintes riscos, mais uma vez ora mapeados: i) frustração de receitas originalmente previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020 e ii) ações fiscais temporárias tornarem-se de caráter continuado no pós-pandemia. 37. Nesta oportunidade, verifica-se que ambos os riscos permanecem e são classificados como de probabilidade e impacto altos. Ademais, esses riscos estão interligados, como veremos adiante. 38. Com as medidas de isolamento social adotadas para diminuir o contágio pelo coronavírus, houve drástica redução na atividade econômica e, por conseguinte, na arrecadação de impostos federais. 39. O impacto da frustração de receitas, como relatei acima, é muito preocupante, pois tem o condão de causar impactos importantes no funcionamento da máquina administrativa e na prestação de serviços postos à população, tanto em nível federal como nos entes federativos. 40. A situação é agravada pelo aumento na taxa de desemprego no país, que já ultrapassou 13% da população ativa, bem como pela demanda de recursos extraordinários de altíssima monta para combater a crise sanitária em diferentes frentes. 41. Nesse contexto, o governo federal terá de equalizar menores receitas tributárias e

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previdenciárias com o aumento de despesas não previstas decorrentes, por exemplo, de subsídios para pessoas desassistidas e/ou para fins de manutenção de emprego, como os pagamentos do auxílio emergencial e do benefício emergencial, respectivamente. 42. Isso sem contar as novas despesas de custeio para o combate direto à doença, as quais não estavam originalmente previstas na LOA de 2020. 43. O cenário vindouro é ainda mais complexo, tendo em vista as incertezas sobre o ritmo de retomada da economia, os novos padrões de consumo e o animus de compra pela população e de investimento pelos empresários, sem mencionar a incerteza quanto à criação de vacinas e/ou tratamentos eficientes para enfrentar a covid-19 nos curto e médio prazos. 44. Na verdade, os desafios para todas as esferas de governo serão hercúleos nos próximos meses. Este novo e incerto contexto exigirá apurado planejamento, cooperação entre os entes federativos, transparência, probidade e responsabilidade fiscal dos governantes. 45. As medidas atuais e futuras têm de estimular a rápida retomada da economia, com a geração de milhões de empregos, sem perder de vista as ações do ponto de vista sanitário para que a população brasileira seja protegida neste momento de grave crise que enfrentamos. 46. Toda a análise acima vai ao encontro do segundo risco tratado neste acompanhamento, que diz respeito à possibilidade de que ações fiscais temporárias se tornem de caráter continuado no pós-pandemia. 47. Nesta oportunidade, o relatório de acompanhamento destaca informação de que o Instituto Fiscal Independente teria alterado as premissas de possíveis cenários de projeção de receitas federais, passando a considerar a instituição, ainda neste exercício, de novo Programa de Parcelamento de Débitos Tributários (Refis), ultrapassada a fase mais aguda da pandemia (peças 37 e 70). 48. Ademais, há projetos legislativos que visam à criação de refinanciamento de tributos em função da crise, podendo frustrar o ingresso desses recursos no exercício corrente, como o Projeto de Lei 2.169/2020 (peça 47), que cria plano de recuperação fiscal para empresas em situações de calamidade pública, e o Projeto de Lei 2.735/2020 (peça 48), que institui o Programa Extraordinário de Regularização Tributária da RFB e da PGFN. 49. Medida similar foi instituída pela Portaria-PGFN 14.402, de 16 de junho de 2020, a qual “estabelece as condições para transação excepcional na cobrança da dívida ativa da União, em função dos efeitos da pandemia causada pelo coronavírus na perspectiva de recebimento de créditos inscritos”. 50. Embora essa medida não trate de refinanciamento de dívidas ao estilo Refis, mas de repactuação de créditos já anteriormente negociados, é forçoso reconhecer que trará queda no ingresso de recursos provenientes dessa fonte. 51. Todas essas questões reforçam a necessidade de atenção pelo governo federal no que concerne ao cenário de contínua frustação de receitas nos próximos meses. 52. Por fim, questão também relevante diz respeito a divergências de informações emitidas pela autoridade tributária e entidades que avaliam cenários futuros sobre a retomada da atividade econômica. 53. O acompanhamento indica que a Receita Federal, em seus últimos relatórios, traz percepção mais otimista do que, por exemplo, o relatório do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), produzido pela empresa Cielo, a respeito da retomada da atividade econômica. Segundo a RFB, a emissão de notas fiscais eletrônicas teria retomado aos níveis pré-crise, o que não seria confirmado pela Cielo. 54. Verificou-se, sim, incremento e tendência de alta na emissão de notas fiscais eletrônicas a partir de maio deste ano, mas o IVCA se encontra ainda distante dos patamares anteriores à pandemia,

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conforme demonstrado na Figura 11 do Relatório (que antecede este Voto). 55. A ressalva colocada pela equipe de acompanhamento tem razão de existir, pois o viés da autoridade tributária ou qualquer outra instituição que faz projeções de cenários, seja otimista ou pessimista, tem a possibilidade de afetar a percepção do mercado e da sociedade quanto à correta dimensão da perda na receita líquida da União, que tanto será maior ou menor em função do crescimento esperado da economia e do comportamento das receitas não administradas. 56. Assim, afirmativas isoladas de que a economia já teria atingido o estágio de recuperação em patamar pré-crise devem ser vistas com cautela e ser objeto de abalizada análise pelo Ministério de Economia, para que não sejam fundamento para decisões políticas futuras ao transparecer retomada econômica maior do que realmente pode estar de fato ocorrendo, impulsionando medidas capazes de comprometer ainda mais o equilíbrio fiscal tão desejado. 57. Pela sensibilidade da matéria, reputo que essa questão merece acompanhamento pela SecexPrevidência.

V 58. Em resumo, trago abaixo as conclusões desta fase de acompanhamento, as quais devem ser encaminhadas, juntamente com o relatório de auditoria, para conhecimento, ao Ministério da Economia, à Comissão Mista Especial do Congresso Nacional de acompanhamento das medidas relacionadas ao Coronavírus (CN-Covid-19); ao Centro de Coordenação de Operações do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 (CCOP), coordenado pela Casa Civil da Presidência da República; e ao Gabinete Integrado de Acompanhamento à Epidemia do Coronavírus-19 (GIAC-COVID-19), coordenado pela Procuradoria-Geral da República:

a) a frustração da arrecadação administrada pela RFB de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 128,461 bilhões em relação à previsão inicial da Lei Orçamentária Anual para 2020; b) a arrecadação total das receitas federais em junho de 2020 totalizou R$ 86,258 bilhões, representando decréscimo real de 29,59% em relação a 2019; c) a arrecadação do período de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 665,966 bilhões, representando decréscimo real de 14,91% em relação a 2019; d) a administração tributária continuou avançando, em junho, em medidas de enfrentamento à pandemia de covid-19 por meio de: desonerações, com impacto estimado de R$ 7,7 bilhões; diferimentos, com impacto estimado de R$ 20,4 bilhões; e medidas administrativas de desburocratização, sem impacto estimado; e) as medidas administrativas de desburocratização tomadas por conta da situação excepcional provocada pela pandemia mostram-se promissoras como ações que poderiam se tornar permanentes, haja vista o desembaraço e a agilidade que trazem ao processo fiscal, sem que seja necessária a criação de leis ou normas, como o ganho de produtividade de 100% dos processos julgados pelo CARF com o advento das reuniões virtuais; f) segundo o Painel de Medidas de Suporte aos Entes Federais do Ministério da Economia (https://monitora-suporte-federativo.herokuapp.com), seis estados apresentaram perda de arrecadação maior que o suporte financeiro advindo das medidas provenientes da LC 173/2020 (RJ, RN, PR, PE, MG e CE), o que pode indicar uma situação fiscal futura mais severa. Por outro lado, outros estados (AP, MT e RR) estão recebendo suporte mais significativo que a correspondente perda de arrecadação no mesmo período; g) divergências de informações sobre recuperação da arrecadação podem influenciar decisões políticas futuras ao transparecer retomada econômica maior do que está de fato ocorrendo;

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h) o risco de frustração de receitas originalmente previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício de 2020 permanece e é considerado de probabilidade e impacto altos, conforme já apontado nos Acórdãos anteriores deste acompanhamento (1.195/2020 e 1.638/2020, ambos do Plenário); e i) o risco de ações fiscais temporárias tornarem-se de caráter continuado no período pós-pandemia é de probabilidade e impacto altos, conforme já apontado nos Acórdãos anteriores deste acompanhamento (1.195/2020 e 1.638/2020, ambos do Plenário).

59. Tendo em vista a importância da matéria ora tratada e o cenário de incertezas futuras, torna-se imprescindível continuar com o acompanhamento pela unidade instrutora. Ante o exposto, voto por que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à deliberação deste Colegiado.

Ministro BRUNO DANTAS Relator

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ACÓRDÃO Nº 2193/2020 – TCU – Plenário

1. Processo nº TC 016.841/2020-4. 2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Acompanhamento. 3. Responsáveis/Interessados: não há. 4. Órgãos: Conselho Administrativo de Recursos Fiscais; Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; e Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil. 5. Relator: Ministro Bruno Dantas. 6. Representante do Ministério Público: não atuou. 7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Gestão Tributária, da Previdência e Assistência Social (SecexPrevidência). 8. Representação legal: não há. 9. Acórdão:

VISTO, relatado e discutido este acompanhamento, referente aos meses de junho e julho do corrente ano, com vistas a verificar a elaboração e a implementação das medidas aduaneiras e tributárias pelo governo federal em resposta à crise da covid-19;

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. informar ao Ministério da Economia, à Comissão Mista Especial do Congresso Nacional de acompanhamento das medidas relacionadas ao coronavírus (CN-Covid-19), ao Centro de Coordenação de Operações do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 (CCOP) da Casa Civil da Presidência da República e ao Gabinete Integrado de Acompanhamento à Epidemia do Coronavírus-19 (GIAC-COVID-19) da Procuradoria-Geral da República que:

9.1.1. a frustração da arrecadação administrada pela RFB de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 128,461 bilhões em relação à previsão inicial da Lei Orçamentária Anual para 2020;

9.1.2. a arrecadação total das receitas federais em junho de 2020 totalizou R$ 86,258 bilhões, representando decréscimo real de 29,59% em relação a 2019;

9.1.3. a arrecadação do período de janeiro a junho de 2020 totalizou R$ 665,966 bilhões, representando decréscimo real de 14,91% em relação a 2019;

9.1.4. a administração tributária continuou avançando em medidas de enfrentamento à pandemia da covid-19 por meio de desonerações, diferimentos e medidas administrativas de desburocratização;

9.1.5. as medidas administrativas de desburocratização tomadas por conta da situação excepcional provocada pela pandemia mostram-se promissoras como ações que poderiam se tornar permanentes, haja vista o desembaraço e a agilidade que trazem ao processo fiscal, sem que seja necessária a criação de leis ou normas, como o ganho de produtividade de 100% dos processos julgados pelo CARF com o advento das reuniões virtuais;

9.1.6. segundo o Painel de Medidas de Suporte aos Entes Federais do Ministério da Economia (https://monitora-suporte-federativo.herokuapp.com), seis estados apresentaram perda de arrecadação maior que o suporte financeiro advindo das medidas provenientes da LC 173/2020 (RJ, RN, PR, PE, MG e CE), o que pode indicar uma situação fiscal futura mais severa. Por outro lado, outros estados (AP, MT e RR) estão recebendo suporte mais significativo que a correspondente perda de arrecadação no mesmo período;

9.1.7. divergências de informações sobre recuperação da arrecadação podem influenciar decisões políticas futuras ao transparecer retomada econômica maior do que está de fato ocorrendo;

9.1.8. o risco de frustração de receitas originalmente previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício de 2020 permanece e é considerado de probabilidade e impacto altos,

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conforme já apontado nos Acórdãos anteriores deste acompanhamento (1.195/2020 e 1.638/2020, ambos do Plenário); e

9.1.9. o risco de ações fiscais temporárias tornarem-se de caráter continuado no período pós-pandemia é de probabilidade e impacto altos, conforme já apontado nos Acórdãos anteriores deste acompanhamento (1.195/2020 e 1.638/2020, ambos do Plenário);

9.2. encaminhar cópia deste acórdão, além dos órgãos acima, ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados, e ao Ministério da Economia; e

9.3. restituir os autos à SecexPrevidência para continuidade do acompanhamento. 10. Ata n° 31/2020 – Plenário. 11. Data da Sessão: 19/8/2020 – Telepresencial. 12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2193-31/20-P. 13. Especificação do quórum: 13.1. Ministros presentes: José Mucio Monteiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, Ana Arraes, Bruno Dantas (Relator) e Vital do Rêgo. 13.2. Ministro-Substituto convocado: Marcos Bemquerer Costa. 13.3. Ministro-Substituto presente: Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) JOSÉ MUCIO MONTEIRO

(Assinado Eletronicamente) BRUNO DANTAS

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente) CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA

Procuradora-Geral

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