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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL JORGE FERNANDO SAMPAIO MONTEVERDE ROTULAGEM DE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E O DIREITO À INFORMAÇÃO MANAUS 2016

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL

JORGE FERNANDO SAMPAIO MONTEVERDE

ROTULAGEM DE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E O DIREITO À INFORMAÇÃO

MANAUS

2016

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JORGE FERNANDO SAMPAIO MONTEVERDE

ROTULAGEM DE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E O DIREITO À INFORMAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Direito Ambiental da

Universidade Estadual do Amazonas, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Direito Ambiental.

Orientação: Prof. Dr. Mauro Augusto Ponce de

Leão Braga

MANAUS

2016

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FOLHA DE APROVAÇÃO

JORGE FERNANDO SAMPAIO MONTEVERDE

ROTULAGEM DE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E O DIREITO À INFORMAÇÃO

Dissertação aprovada pelo Programa de Pós-

Graduação em Direito Ambiental da Universidade

Estadual do Amazonas, como requisito para

obtenção do título de Mestre em Direito Ambiental.

Manaus ............. de .................................................. de ...........

Banca Examinadora:

Presidente: Prof. Dr. Mauro Augusto Ponce de Leão Braga

Universidade do Estado do Amazonas

Membro: Profa. Dra. Maria Nazareth Vasques Mota

Universidade do Estado do Amazonas

Membro: Prof. Dr. Carlos Alberto de Moraes Ramos Filho

Universidade Federal do Amazonas

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Aos meus pais a quem tanto amo, José Ubiratan Branco

Monteverde, meu maior exemplo de persistência, de

coragem, de generosidade e de justiça e à minha querida e

amada mãe Shirley Sampaio Monteverde, sei que me

acompanha, protege e me guia pelo caminho da humildade

e da honestidade.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer a Deus por me conceder saúde para que eu possa

continuar em busca da realização de outros sonhos.

Agradeço aos meus pais Ubiratan e Shirley pelo amor e educação ao longo desta

jornada.

Às minhas irmãs Andréia e Adriana.

Ao meu orientador Professor Doutor Mauro Augusto Ponce de Leão Braga pela

paciência e pela ajuda essencial na elaboração dessa dissertação, com quem divido os acertos

dessa pesquisa, pois as imperfeições são de minha inteira responsabilidade.

À Professora Maria Nazareth Vasques Mota, por contribuir com todos sem qualquer

distinção de forma suave e elegante.

Ao Professor Doutor Carlos Alberto de Moraes Ramos Filho pelos ensinamentos

mesmo que por curto tempo, estes contribuirão muito para o meu crescimento e, ainda, sou

grato e honrado por tê-lo como membro da banca no exame de qualificação.

Aos Professores e Servidores do PPGDA/UEA.

Aos colegas e amigos que conquistei ao longo desses dois anos, agradeço a cada

momento vivenciado.

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RESUMO

A Constituição Brasileira de 1988 inseriu um conjunto de diretrizes, programas e fins que

devem ser perseguidos pelo Estado e pela sociedade, conferindo caráter de plano global

normativo e dela se extrai que a defesa do consumidor é princípio que deve ser seguido pelo

Estado e pela sociedade para atingir a finalidade de existência digna e de justiça social. O

Brasil adota o modelo de economia capitalista de produção, já que a livre iniciativa é um

princípio basilar da economia de mercado. Neste sentido, fica patente que o Estado deverá

fazer a defesa do consumidor contra os possíveis abusos do fornecedor, no mercado de

consumo. Assim, os consumidores devem adquirir informações sobre os alimentos que

desejam ou que compram de uma ampla variedade de fontes, seja ela por meio da publicidade

do conhecimento familiar e ou pela mídia entre outros meios de informação. Desta forma, a

rotulagem dos alimentos em toda a cadeia alimentar deve conter todas as informações

necessárias sobre o alimento colocado à venda. Partindo deste contexto, esta pesquisa tem

como objetivo geral o de analisar o dever do Estado quanto informar aos consumidores acerca

das proporções de componentes saudáveis ou menos saudáveis dos alimentos transgênicos

que possam ocasionar doenças futuras. Para alcançar os objetivos traçados, neste estudo, a

estratégia metodológica utilizada foi pelo método dedutivo e quantos aos meios a pesquisa é

bibliográfica, com base na legislação, na Constituição Federal, em doutrinas e normas do

direito brasileiro e quanto aos fins tem caráter qualitativo.

PALAVRAS-CHAVE: Rotulagem. Transgênicos. Consumidor. Saúde. Direito. Informação.

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ABTRACT

The Brazilian Constitution of 1988 entered a set of guidelines, programs and goals to be

pursued by the state and society, providing normative global plan of character and it is

extracted that consumer protection is the principle that should be followed by the state and

society to achieve the purpose of dignified life and social justice. Brazil adopts the capitalist

economic model of production, since the free enterprise is a fundamental principle of the

market economy. In this sense, it is clear that the State must make the protection of consumers

against possible abuses of the supplier, the consumer market. Thus, consumers should get

information about the food they want or buy a wide variety of sources, whether through

family knowledge of advertising or the media and other media. Thus, the labeling of food

throughout the food chain must contain all necessary information about the food as sold.

Given this context, this research has the general objective to analyze the duty of the state and

to inform consumers about the proportions of components healthy or less healthy of GM

foods that may cause future disease. To achieve the objectives outlined in this study, the

methodological strategy used was the deductive method and how the media research is

literature based on the law, the Federal Constitution, in doctrines and standards of Brazilian

law and as the purpose is qualitative.

KEYWORD: Labelling. Transgenics. Consumer. Health. Law. Information.

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LISTA DE SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACP – Ação Civil Pública

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CCAB – Comitê do Codex Alimentarius do Brasil

CDC – Código de Defesa do Consumidor

CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica

CF – Constituição Federal de 1988

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONMETRO – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

CTNbio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança

EUA – Estados Unidos da América

FAO –Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

FUPESP – Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo

GN – Grifo Nosso

IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

ISO – Organização Internacional de Normatização

MPF – Ministério Público Federal

MS – Ministério da Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

OMS – Organização Mundial de Saúde

OMC – Organização Mundial do Comércio

OGM‘s – Organismo Geneticamente Modificados

PL – Projeto de Lei

PLC – Projeto de Lei da Câmara

PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente

RDC – Resolução de Diretoria Colegiada

SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

STJ – Superior Tribunal de Justiça

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SISAN – Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

UEA – Universidade do Estado do Amazonas

UE – União Europeia

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 101

2 ORIGEM E MOTIVAÇÃO DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS ............. 134

2.1 CONCEITO E ORIGEM DA BIOTECNOLOGIA ............................................... 189

2.2 MOTIVAÇÃO DAS EMPRESAS BIOTECNOLÓGICAS .................................... 24

2.3 ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E VENDA CASADA ........................................ 27

2.4 BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS .............................................................................. 31

3 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL E TRANSGÊNICO ..................... 36

3.1 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO .............................................................................. 40

3.2 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO............................................................................... 46

3.3 PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO ................................................................................ 48

3.4 PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE ............................................................... 53

3.5 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO ............................................................................ 57

4 DIREITO COMPARADO E ROTULAGEM ..................................................... 62

4.1 ROTULAGEM EUA ............................................................................................... 67

4.2 ROTULAGEM NA UNIÃO EUROPEIA ............................................................... 71

4.3 ROTULAGEM NO BRASIL................................................................................... 75

5 O DIREITO DE ESCOLHA DOS CONSUMIDORES E ROTULAGEM ....... 81

5.1 ROTULAGEM......................................................................................................... 85

5.2 BENEFÍCIOS DA ROTULAGEM .......................................................................... 90

5.3 ARGUMENTOS CONTRA A ROTULAGEM ....................................................... 95

5.4 SEGURANÇA ALIMENTAR ................................................................................. 96

6 CONSIDERAÇÃO FINAIS ................................................................................ 100

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 102

ANEXO A - PROJETO DE LEI Nº 4.148 DE 2008 ...................................... 11111

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1 INTRODUÇÃO

Face ao avanço da biotecnologia, questões acerca do mercado de Alimentos

Transgênicos, também conhecidos por OGM‘s – Organismos Geneticamente Modificados,

vêm sendo discutidas, com certa polêmica, no debate acadêmico e incorporada em todos os

setores da sociedade, sob variadas formas de discursos e práticas, nas pessoas, sociedades,

governos e empresas. Neste sentido, a discussão em torno desta temática abrange, portanto, as

dimensões sociais, econômicas e ambientais e perpassam pela produção industrial,

principalmente pela legislação, em razão da complexidade e do caráter sistêmico que as

entrelaçam.

Neste contexto, fica patente a necessidade de se estudar e de se apresentar uma visão

panorâmica da responsabilidade jurídica das normas regulamentadoras no âmbito nacional

sobre a rotulagem dos alimentos transgênicos e o direito à informação e segurança alimentar

dos seres humanos.

Em primeiro lugar, faz-se necessário destacar que os primeiros grãos de soja

transgênica chegaram ao Brasil de forma ilegal, na década de 90. Os alimentos transgênicos

eram novidade para a população brasileira naquela época, assim, uma nova forma de

produção se apresentava para os produtores rurais de todo o Brasil. A chegada dessas

sementes sucedeu do Estado do Rio Grande do Sul por meio de contrabando dos países

vizinhos, Uruguai e Argentina, que foram os protagonistas dessa novidade.

Apesar de os defensores dos alimentos transgênicos elencarem inúmeros benefícios

como o aumento de produção, maior resistência às pragas, resistência aos agrotóxicos,

aumento do conteúdo nutricional, maior durabilidade e tempo de estocagem, ainda assim, não

houve um estudo aprofundado da responsabilidade jurídica das normas regulamentadoras no

âmbito nacional sobre este tipo de alimento, e por isso, busca-se na legislação brasileira

ambiental o princípio da precaução, levando-se em consideração que o produto entrou em

território nacional sem a devida permissão dos órgãos competentes de fiscalização e sem

qualquer estudo científico, fato que colabora para o aumento da desconfiança pelos

consumidores, quanto ao uso dos alimentos transgênicos, em razão da falta de informações

necessárias para o consumo humano.

Conhecimento e informação são fatores estratégicos para o desenvolvimento das

nações. São também determinantes da vida cotidiana das comunidades, famílias e indivíduos,

os costumes, a cultura, os padrões estéticos, as enfermidades e as preferências locais são hoje

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transformadas pelos padrões tecnológicos globais e pela disseminação, em tempo real, de

informações sobre fatos e boatos provenientes de toda parte do mundo.

Neste contexto, há intenso debate sobre a utilização econômica dos alimentos

transgênicos, seja na agricultura ou na produção industrial. As opiniões e posições divergem

de forma vivaz e radical. Muitos são a favor da produção dos alimentos transgênicos, pois

alegam que eles abrem enormes possibilidades para a superação de velhos e novos problemas

na área de insegurança alimentar, que ainda hoje afeta bilhões de pessoas em todo mundo.

Outros entendem que os alimentos transgênicos não são tão seguros quanto afirmam

os defensores, chamando atenção para os riscos da manipulação genética para a vida humana,

desde a saúde até o meio ambiente. Desse modo, para os contrários a este alimento, certas

técnicas de plantio, como no caso de ―tratamentos diretamente no solo, podem afetar os

lençóis freáticos do local onde este está sendo realizado, dentre outras inúmeras

consequências.

Assim sendo, o consumidor não sabe, de fato, o que pode acompanhar toda a

produção deste tipo de alimento e quando já transformado em mercadoria exposta no mercado

consumidor, sem a correta informação, colabora ainda mais para que o consumidor fique em

dúvida quanto ao consumo ou não do alimento transgênico, face a diversas opiniões sobre o

assunto ou até mesmo pelo próprio desconhecimento. Embora a hesitação do consumidor não

tenha a força de paralisar o processo de reprodução em massa dos alimentos transgênicos, ele

poderá obter a sua participação efetiva no processo de informação.

Dessa maneira, o cliente, embora tenha direitos consolidados em uma legislação

moderna, não está sendo informado dos seus direitos pelas empresas fornecedoras de

alimentos transgênicos, pois faltam informações sobre os produtos que os compradores

buscam em seu dia a dia para sua devida alimentação. Trata-se de uma constatação de suma

importância, pois sem informação os consumidores são apenas compradores sem cidadania.

O problema posto nesta temática não se resolve apenas com o cumprimento formal

da legislação, exige a educação e a conscientização do consumidor pelo contínuo interesse em

não se satisfazer apenas com o que lhe é apresentado pelos produtores e empresários, ou seja,

é necessária a busca constante acerca de informação sobre este alimento, deve, portanto,

caminhar em busca da verdade real sobre este alimento, com a consciência de que estas

informações deveriam ser fornecidas pelas próprias empresas que comercializam os alimentos

geneticamente modificados. Deste modo, ao agir de forma transparente, as empresas

protegem o consumidor quando da aquisição dos produtos, visto que estes têm o direito de

serem informados antecipadamente sobre as características principais do consumo,

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ressaltando que como consumidores devem exigir que o fornecedor dê informações

detalhadas e adequadas sobre o produto ou serviço a ser adquirido.

Portanto, há que desenvolver, com relação à temática da presente pesquisa, uma

conscientização da sociedade, em geral, para alcançar de maneira efetiva o princípio basilar

ao direito à informação. Assim, acredita-se e espera-se que a ciência esteja a serviço da vida e

não a serviço do capitalismo feroz que vem se desenvolvendo de maneira desenfreada, e

afetando a vida das pessoas.

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2 ORIGEM E MOTIVAÇÃO DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

Os alimentos transgênicos, também conhecidos por OGM‘s – Organismos

Geneticamente Modificados, ocorre por meio do processo de alteração do código genético de

uma espécie pela introdução de uma ou mais sequências de genes provenientes de outra

espécie, mediante o emprego de técnicas de engenharia genética. O genoma dos organismos

transgênicos contém fragmentos do genoma de bactérias, vírus ou outros organismos em seu

DNA.

Os genes introduzidos não pertenciam ao genoma original da espécie modificada e

vão conferir-lhe novas características, como a resistência a herbicidas ou a produção de

toxinas contra pragas das culturas agrícolas, fazendo também com que essa espécie possa

produzir substâncias de interesse para o homem, como por exemplo, aumentando sua

qualidade nutritiva.

A manipulação genética combina características de um ou mais organismos de uma

forma que provavelmente não aconteceria na natureza. Assim podem ser combinados os

DNAs de organismos que não se cruzariam por métodos naturais. A transgênese tem vários

usos potenciais, entre eles a pesquisa biológica e médica e a produção de alimentos.

Inicialmente, a técnica foi saudada como a grande esperança para a solução do

problema da fome no mundo, podendo alegadamente criar cepas de culturas mais produtivas,

mais nutritivas, resistentes a pragas, a ambientes inóspitos e às mudanças climáticas, ou

contendo substâncias medicinais, podendo ainda reduzir os custos de produção e o uso de

agrotóxicos.

A própria disposição constitucional diz que o meio ambiente é bem de uso comum

do povo, portanto, sem distinção de classe econômica ou étnica. Todavia, não se deve usá-lo e

explora-lo na medida da sua vontade, pois há de se estabelecer uma razoabilidade na

utilização, sempre de forma consciente, visando à sustentabilidade.

Assim, a biotecnologia vem trabalhando em prol da necessidade humana. O processo

de globalização das sementes transgênicas possibilitou o desenvolvimento do comércio entre

as mais diversas economias do ecossistema. No campo dos transgênicos, houve uma

disseminação em larga escala pelo planeta, portanto, o desenvolvimento de organismos

geneticamente modificados tem sido impulsionado pelo potencial que representam como

sistema modelo e ferramenta para o estudo da ciência básica para ―melhoria dos produtos‖ na

biotecnologia aplicada.

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De acordo com Varella (2015, p. 5):

Foi a partir da descoberta e dos estudos sobre o DNA que o homem percebeu que

poderia alterar geneticamente as sequências de bases nitrogenadas, inserindo,

retirando ou modificando as características dos seres vivos. Tecnologia ainda mais

formidável porque permite que se retire genes de qualquer ser vivo para inserir em

outro, ainda que de reino distintos, porque todos os seres vivos são formados das

mesmas bases nitrogenadas. Houve êxito em inserir genes de castanha no feijão para

lhe dar mais proteínas e genes de escorpião em plantas agrícolas para matar insetos

indesejáveis. Assim, o homem não apenas traça novos rumos para evolução das

espécies, como consegue atingir rumos que nunca poderiam ser realizados pela

própria natureza, pois chega a intercambiar genes de espécies diferentes.

Assim, o início dos alimentos transgênicos surgiu por meio de técnicas de

biotecnologia em 1973, cujas sementes foram alteradas com o DNA de outro ser vivo, (como

uma bactéria ou fungo), pela modificação genética, quebrando barreiras sexuais de diferentes

espécies, permitindo cruzamentos que seriam impossíveis naturalmente.

Uma das vantagens é fazer que alguns organismos adquirissem características de

outros organismos, gerando um novo ser, mais produtivo, mais benéfico ou mais resistente,

adequando seu manuseio em larga escala para um mercado consumidor cuja demanda é

apenas crescente e para o qual a oferta não consegue acompanhar na mesma medida.

Estabelece Diniz (1998, p. 729):

Há alguns exemplos interessantes na mistura de genes animais e vegetais, como a

transferência do gene que provoca bioluminescência do vagalume para a célula da

planta de fumo, que passou a brilhar ou sua inserção no código genético de pés de

milho, servindo como marcadores genéticos. Genes de galinha em batatas para

terem uma melhor resistência, gene de rato na alface para ficar fresca por mais

tempo e aumentar sua produção de vitamina. Outros, mais ousados, incluem feijão

de corda resistente à seca, soja com anticorpos contra câncer, alface e tomate com

proteína antidiarreica e animais transgênicos com leito enriquecido.

Com essa tecnologia é possível produzir plantas resistentes a pragas, adaptar plantas

para cultivo em terras inóspitas, adaptá-las a condições climáticas adversas, enriquecer plantas

alimentícias com nutrientes especiais, usar as plantas como produtoras de substâncias para

fins terapêuticos, utilização industrial, entre outras coisas que a ciência pode criar. O

desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante trouxe a possibilidade de produzir

plantas geneticamente modificadas para expressarem determinadas características de

interesse.

Assim, de acordo Guerrante (2003, p. 47):

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As primeiras plantas geneticamente modificadas foram desenvolvidas a partir de

1983, quando um gene codificante para resistência a um antibiótico foi introduzido

em plantas de fumo. As primeiras autorizações para plantio experimental de culturas

GMs ocorreram na China, em 1990, e se referiam ao tabaco e ao tomate resistentes a

vírus. Entre os países desenvolvidos, no entanto, a primeira aprovação para uso

comercial de plantas geneticamente modificadas só ocorreu em 1992, nos Estados

Unidos, com o tomate Flavrsavr e, posteriormente, em 1994 com a soja

Roundupready.

Desta forma, a origem dos alimentos transgênicos vem através da busca incessante

dos norte-americanos, colocando sua capacidade intelectual em pesquisas e estudos na

intenção de alcançar melhorias na rentabilidade agrícola. Seguem tentando o aprimoramento

de um produto que possui características novas em relação àquelas que fazem parte de sua

natureza original. Tudo para ter o aumento de produção, ascensão dos lucros, diminuição dos

custos e por poder competir em um mercado cada vez mais exigente.

Todavia, os Estados Unidos da América almejam o desenvolvimento de posições

estratégicas não só no ramo alimentício, mas também em outros setores como: político,

militar, financeiro, energético e de comunicação.

Segundo, Andrioli e Fuchs (2012, p. 34):

O Presidente George W. Bush declarou como prioridade estratégica a suspensão da

proibição da União Europeia à importação e liberação de plantas e produtos

transgênicos. A solicitação de Bush foi amparada pelo anúncio de uma reclamação

dos EUA contra a União Europeia junto à Organização Mundial do Comércio. O

trabalho lobista havia alcançado até mesmo o Vaticano.

Os alimentos transgênicos foram criados com a finalidade de ajudar os países

considerados de terceiro mundo, mas para isso deveriam ser colocados através das empresas

estadunidenses, essas que contém o poder de distribuir para os países menos desenvolvidos.

Por isto, existem fatores norteadores na criação e desenvolvimento dos alimentos

transgênicos, destacando os cinco principais que contribuem para sua implantação, lembrando

que possuem relações distintas de interesses e condições adversas de sucessão.

O primeiro é composto por autoridades públicas que participam de tomada de

decisão; o segundo é relacionado às multinacionais que investem recursos grandiosos em

biotecnologia em busca do alcance de nível máximo na competitividade no mercado

internacional; o terceiro integra os agricultores que se lançam nas novas biotecnologias

alimentares ou lutam pelo melhoramento genético tradicional; o quarto envolve os

consumidores que possuem o maior poder de influência na tomada de decisões, apesar de

organizar-se de forma coletiva na defesa de seus interesses e, por último, refere-se aos grupos

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de cientistas do mundo inteiro, incumbidos da responsabilidade de demonstrar se os alimentos

transgênicos são nocivos ou não e em quais condições.

Embora os cientistas já detenham a fórmula de se fabricar organismos geneticamente

modificados, com êxito e segurança, com relação à técnica das experimentações, começaram

a surgir questionamentos envolvendo, de um lado uma corrente que defende sem limites a

liberdade de investigação, colocando para a sociedade que os riscos de contenção desta

estariam no fato de retardar o campo científico da pesquisa, levando a um retrocesso o

desenvolvimento científico e tecnológico.

Em contrapartida, desponta outra corrente que entende ser necessária a imposição de

restrições às pesquisas científicas e à disponibilidade de produtos no mercado, oriundos destas

investigações, por tratar-se de assunto inclusive de segurança pública, uma vez que ainda não

se tem uma avaliação concreta das consequências para o meio ambiente e à saúde, gerando

riscos e incertezas que não são de todo conhecidos ou ao menos foram esclarecidos, por

tratar-se de uma novidade tecnológica. A sequência de acontecimentos desagradáveis, além da

insegurança existente, trouxe por parte da sociedade a procura de esclarecimentos concretos

sobre os OGM‘s.

Todos os questionamentos levaram a debates acirrados no Brasil e no mundo. De um

lado, os defensores dos alimentos transgênicos que argumentam que a sua existência garantirá

o futuro da humanidade, pois tais alimentos seriam a solução para a fome mundial.

Junqueira (2002, p. 37):

Podemos supor que a busca desenfreada pelo aumento da produção de alimentos não

deve ser lastreada na fome, como queriam os neomalthusianos, que a partir do pós-

guerra (1945), passaram a apontar como a causa do problema da fome no mundo, as

elevadas taxas de crescimento vegetativo verificadas nos países subdesenvolvidos;

revitaliza-se assim uma antiga estratégia de dominação: culpa-se a vítima pelo mal.

Existe outra corrente, contrária aos defensores dos alimentos transgênicos, que

afirma que estes estão agindo no seu próprio interesse, tratando-se de uma briga acirrada por

lucratividade desmesurada na obtenção de sementes e do monopólio da agricultura, ainda

trabalham com a hipótese de nada dar errado, mesmo sem os devidos testes para colocar um

produto no mercado.

As pesquisas na área não param, são desenvolvidas mundialmente, de um lado seus

defensores comemoram a liberdade conquistada para a realização de pesquisas

biotecnológicas, e do outro, apartidários dessa experiência, não param de manifestar-se,

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alertando a sociedade dos riscos que podem advir do desconhecimento dos efeitos, que no

futuro poderão ser apresentados e sentidos por todos.

A biossegurança, portanto, visa precisamente ao estabelecimento dos mecanismos de

proteção para o uso da biotecnologia moderna, no que tange a experimentos laboratoriais,

como a testes de campo que possam implicar risco biológico, provocando impactos

ambientais favoráveis ou indesejáveis ou consequências para a saúde humana.

Pessanha e Wilkinson (2003, p. 263) afirma que:

Especificamente no que se refere à qualidade sanitária e nutricional dos alimentos e

aos fatores de riscos dos alimentos geneticamente modificados para o consumo

humano, os pesquisadores ressaltam os possíveis efeitos das novas proteínas

engenheiras: a) atuarem como alérgenos ou toxinas, alterarem o metabolismo da

planta ou animal, fazendo com que produzam novos alérgenos ou toxinas; b)

alterarem a composição nutricional dos alimentos, reduzindo as quantidades

disponíveis de nutrientes essenciais ou elevando a quantidade de elementos danosos

à saúde humana.

Depreende-se, do exposto acima, que é fundamental a existência de controle rigoroso

da qualidade e da segurança desses produtos para que a população possa consumi-los sem

risco. Essa regra deve estar presente para a utilização de qualquer tecnologia. É essencial a

segurança de qualquer produto colocado à disposição dos consumidores.

Existem alguns estudos que devem ser realizados para o acompanhamento dos

transgênicos por meio do consumo. Desta forma, Pessanha e Wilkinson (2003, p. 303)

defendem:

Dentre os procedimentos técnicos de biossegurança, a avaliação dos produtos

geneticamente modificados deve envolver a investigação das seguintes variáveis: a)

quantidade provável do alimento a serem consumidas pela população, incluindo o

consumo médio e o extremo; b) descrição do alimento e do seu processo produtivo;

c) histórico e qualquer possível efeitoadverso à saúde humana relacionada ao

organismo que está sendo modificado; d) descrição do processo de modificação

genética, e) avaliação de possíveis efeitos adversos –nutricionais, toxicológicos ou

microbiológicos do alimento modificado; f) avaliação de dados obtidos com pessoas

alimentadas com o alimento modificado em condições controladas

Neste sentido, há uma grande disputa nestes debates de interesse econômico,

confrontando-se na adoção de princípios jurídicos para a tomada pública e governamental de

decisões sobre a produção e consumo de alimentos transgênicos.

Normalmente, as pessoas que são favoráveis à liberação imediata dos OGMs

fundamentam sua posição nos princípios da equivalência substantiva e do benefício da dúvida

a exemplo dos Estados Unidos e das empresas multinacionais detentoras da tecnologia,

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enquanto que as pessoas contrárias a essa liberação aderem ao princípio da precaução, como

no caso, defensores do direito do consumidor, algumas empresas alimentares, organizações

civis (ONGs).

Apesar de toda as informações acerca da origem e da necessidade dos alimentos, o

consumidor brasileiro está em uma guerra silenciosa, que afeta não somente a ele, mas a uma

grande parte da população mundial, que não sabe qual direcionamento adotar.

2.1 CONCEITO E ORIGEM DA BIOTECNOLOGIA

A palavra biotecnologia passou a ser utilizada de forma continua nos últimos anos,

entretanto, é importante salientar que apesar de ainda ser desconhecido tal termo, seu processo

já era utilizado por culturas antigas, agricultores em busca de qualidade e garantia de

reprodução, por meio de técnicas distintas de aplicabilidade cujo objetivo é o de produção de

alimentos em larga escala para uma crescente população.

A biotecnologia abrange a agricultura, a medicina, as indústrias farmacêutica e têxtil,

entre outras áreas. A palavra biotecnologia possui origem grega, seu significado quer dizer:

bio - vida; logos - conhecimento e tecnos - práticas em ciência, mas muito antes dos gregos a

biotecnologia já era utilizada no início da era cristã com os processos fermentativos. A

produção de bebidas alcoólicas pela fermentação de grãos de cereais já era conhecida pelos

sumérios e babilônios antes do ano 6.000 a.C. Mais tarde, por volta do ano 2.000 a.C., os

egípcios, que já utilizavam o fermento para fabricar cerveja, passaram empregá-lo também na

fabricação de pão.

Assim afirma Acalmo, (1999, p. 348):

Muito antes mesmo que o homem entendesse a biologia, ele já lidava com a

biotecnologia na produção de vinhos e pães. Após o acúmulo de conhecimentos e

experiência a respeito da biotecnologia moderna, sua definição deve cobrir as várias

técnicas que utilizam o DNA recombinante para gerar produtos ou serviços. Não

restam dúvidas de que a biotecnologia do século XXI é muito diferente daquela

quando este termo foi, pela primeira vez, usado no século passado para descrever

procedimentos de produção de vinhos, pães e derivados lácteos.

Observa-se que são inúmeras as características da biotecnologia, o que deixa notória

sua multidisciplinaridade diante da escolha e definição de seu real significado, pode-se definir

de maneira simples, como objetivo primordial o desenvolvimento de métodos e técnicas

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associadas a seres vivos que contribuam de forma positiva à resolução de problemas e

serviços úteis voltados à agricultura, ciência dos alimentos, dentre outros.

Uma das características da biotecnologia têm contribuído para o receio que muitos

manifestam em relação à velocidade como esta ciência evoluiu nos últimos anos e como sua

aplicação em benefício da sociedade atingiu o mercado de forma tão inesperada. Assim,

quando a biotecnologia passou a ocupar a atenção dos cientistas e dos leigos de forma intensa,

a maioria das pessoas se sentia desconfortável com os debates sobre a possibilidade desta

resolver todos os problemas da produção de alimentos.

Deste modo, em determinada ocasião, chegou-se a pensar que a biotecnologia, uma

ciência emergente, fosse substituir o melhoramento genético clássico, uma ciência que

produziu variedades de milho, arroz, laranja, rosas etc. e novas linhagens de suínos, aves etc.,

contribuindo também para a maior oferta de produtos agropecuários. Essa jamais seria uma

boa notícia para aqueles que já haviam dedicado grande parte de sua vida profissional ao

desenvolvimento de variedades melhoradas ou daqueles que tinham concluído cursos de

graduação, mestrado ou doutorado em genética clássica.

Para ilustrar essa diversidade do progresso científico na modificação de genética,

podem ser citados três exemplos que possuem genes modificados: o primeiro é o algodão

Bollgard, da Monsanto, que foi inserindo no seu genoma o gene CrylA(c), originado de uma

bactéria que garante a capacidade de produzir uma proteína que age de forma tóxica a

determinados insetos, tornando a planta resistente a pragas importantes, durante todo seu ciclo

de vida. O segundo é a soja RoundupReady, igualmente da Monsanto, com a modificação a

planta cria a característica de tolerância aos herbicidas à base de glifosato, controlando de

forma mais eficaz as ervas daninhas. A terceira modificação é o milho com tecnologia

YieldGard, também de autoria da Monsanto, foi desenvolvido para ajudar a proteger a lavoura

das principais pragas da cultura no Brasil, alguns exemplo: a lagarta do cartucho, a lagarta da

espiga e a broca do colmo.

Segundo Barral (2007, p.282) assim expõe:

A evolução da biotecnologia nos surpreendem com seus avanços, criando novidades

e superando obstáculos que há vinte anos nem mesmo se podia imaginar, e tão

pouco cogitava a possibilidade de delimitar o universo de benefícios e prejuízos.

Mas a evolução também gera dúvidas e incertezas, e nossa sociedade com seu

senso crítico tem presentado discussões no campo ético, jurídico, ecológico e

sociológico, considerando a invasão da ciência em nossa sociedade com uma

velocidade alucinante. (gn)

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Do exposto, percebe-se uma contribuição da biotecnologia para o desenvolvimento

significativo do progresso da humanidade, e, significativamente, tem mostrado sua

importância no campo da genética, chamando a atenção para um mundo moderno em que a

ciência está presente, na busca de soluções para as questões sociais mais complexas que

acarretam na vida de alguns milhares de pessoas, e ao mesmo tempo comporta surpresas e

desafios. que ainda precisam ser enfrentados e ponderados.

Todas essas modificações são para proteger os alimentos plantados, mas, segundo

Guerrante (2003, p. 16):

O mecanismo de ação das proteínas sintetizadas pelo algodão, soja e milho

transgênico se dá da seguinte forma: ela atua sobre receptores específicos no

intestino médio dos insetos predadores, causando a destruição do folículo intestinal

desses insetos.

Outro exemplo de produto geneticamente modificado é o arroz dourado, que faz

parte da alimentação da população, tornou-se comum no cotidiano alimentar.

Morais (2000, p. 51) afirma que:

Ingo Potrykus, do Instituto de Tecnologia da Suíça, sediado em Zurique, e Peter

Beyer, da Universidade de Friburgo, obtiveram o arroz dourado a partir de uma

variedade japonesa de arroz (o Taipei 309, adaptado ao clima temperado da Europa),

por intermédio da introdução de um pacote genético no genoma dessa variedade de

arroz. Este pacote genético tinha a seguinte composição: genes de narciso

(Narcissuspseudinarcissus); de ervilha; de bactéria (Erwiniauredovora); do vírus

mosaico que ataca a couve-flor e genes marcadores de resistência aos antibióticos

higromicina e kanamicina.

Este determinado tipo de arroz traz consigo um considerável teor de vitamina A,

auxiliando de forma significante no combate e prevenção à cegueira. Quando ingerida em

uma quantidade considerável, pode contribuir na proteção contra várias doenças relacionadas

à ausência da vitamina citada.

Por fim, existe também outro alimento modificado que é o tomate FlavrSavr,

desenvolvido com o objetivo de realizar de forma morosa o amadurecimento e amolecimento

do fruto, implicando, assim, em uma colheita madura, não os colhendo ainda verdes. O

amolecimento é causado pela presença da enzima poligalacturonase, na qual age de forma

degradante a pectina, componente importante localizado na parede celular dos frutos não

maduros.

Assim, afirma Guerrante, (2003, p. 23):

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Isolou-se uma cópia da sequência gênica do tomate que codifica para a

poligalacturonase e esta foi transferida novamente para a planta no sentido invertido

(antisenso). Além do gene antisenso da poligalacturonase, transferiu-se também um

gene marcador, que facilita a identificação e a seleção das plantas geneticamente

modificadas.

Após a evolução dos alimentos transgênicos se faz necessária uma atenção mediante

o processo de cultivação do alimento, pois o herbicida à base de glifosato foi uma grande

evolução no combate das pragas e ervas daninha. Um ponto que deve ser ressaltado é o fato

de que o glifosato tem uma toxina que se aloca no meio ambiente e traz consequências à

saúde humana, pois contém em sua composição um surfactante, um produto que auxilia o

glifosato a penetrar no tecido celular das plantas, o que pode torná-lo mais tóxico que o

próprio glifosato.

Segundo, Guerrante, (2003, p. 42):

Embora a comercialização de herbicidas à base de glifosato seja permitida, estudos

laboratoriais detectaram efeitos adversos em todas as categorias de testes

toxicológicos. Entre estes incluem-se os testes de toxicidade a médio prazo (lesões

em glândulas salivares), toxicidade a longo prazo (inflamações nas mucosas do

estômago), danos genéticos (em células sanguíneas do corpo humano).

Destaca-se, ainda, entre outros sintomas comuns no homem: irritações nos olhos na

pele, dor de cabeça, náuseas, entorpecimento, elevação da pressão arterial e palpitação. Desta

forma, a redução de custos com a produção dos geneticamente modificados quando

comparado ao aumento da quantidade de agrotóxico aplicado, percebe-se que há significativa

redução dos gastos com combustível para o maquinário, diminuição de empregados na

pulverização, redução de lixo industrial.

Guerrante (2003, p. 29) afirma que:

Para chegar a essa conclusão, foram comparados os resultados obtidos em lavouras

de algodão convencional e geneticamente modificado, num total de 5 milhões de

acres (2 milhões de hectares). De acordo com o estudo, o algodão Bt, foi

responsável pela economia de 1,6 mil toneladas de matérias primas e de 5,6 milhões

de litros de óleo combustível, além de reduzir o total de lixo industrial em 980

toneladas. Ao exigir menor quantidade de pesticidas – 472 toneladas a menos e 2,5

vezes menos aplicações por acre – para manter saudável, a lavoura de algodão Bt

precisa de menos intervenções de máquinas e equipamentos, o que economiza

combustível. Estima-se que, no período e quantidade de hectares estudados, o

algodão Bt economizou mais de 41 mil dias de trabalho na lavoura. Ao diminuir os

custos de produção e reduzir as perdas com o ataque de pragas, esse algodão trouxe

benefícios econômicos da ordem de US$ 168 milhões.

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Importante mencionar, ainda, que a biotecnologia obtém outras formas de cultivo,

como a tecnologia de terminator, essa técnica consiste em três ações distintas: um dos genes

elimina o embrião da planta, o segundo controla a produção dessa substância e a terceira é

conhecida como gene repressor, colaborando para que a toxina seja liberada até o ponto de

impedir a reprodução, sem causar malefício as outras funções da planta.

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Desta forma, Guerrante (2003, p. 33) explica que:

Na realidade, ela é uma forma de garantir que os agricultores não guardem sementes

de uma safra para o plantio na safra posterior e que comprem, sistematicamente da

empresa detentora da tecnologia, as sementes geneticamente modificadas e os

respectivos defensivos, garantindo, assim, o papel do monopólio do mercado. Desta

forma o agricultor deixa de exercer o papel que vêm desempenhado há mais de 10

mil anos: o trabalhado de melhoramento das variedades, realizando através de

cruzamento e seleção de sementes.

O que se pode concluir, nitidamente, é a promoção da tecnologia pelas empresas que

detêm as patentes dos genes, as quais alegam que com o emprego e controle da tecnologia

terminator seria uma forma de garantir o retorno financeiro dos grandes investimentos feitos

na elaboração das sementes transgênicas.

2.2 MOTIVAÇÃO DAS EMPRESAS BIOTECNOLÓGICAS

A biotecnologia é uma inovação que veio para colaborar, pois seu escopo inicial é o

de promover o combate à fome mundial, em seguida garantir a evolução dos setores,

químicos, agrícolas e biológicos, levando sempre em consideração o bem-estar dos seres

humanos e preservação do meio ambiente, como consideração primordial para

desenvolvimento de forma macro.

Assegura Torres (2005, p.22) que ―Será com a resultante dessa nova tecnologia que

irá obter-se custo reduzido para propagação, garantindo acesso aos alimentos inclusive por

famílias de baixa renda em todo território mundial‖.

Portanto, os alimentos transgênicos possuem, como objetivo principal, o

desenvolvimento de alternativas tecnológicas de evolução, ampliar a diversidade biológica, na

tentativa de suprir a falta dos alimentos para a família de baixa renda e até mesmo as famílias

que não tem renda que vivem abaixo da linha da pobreza.

A Carta Magna de 88 assim preconiza:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) omissis III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais.

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Logo, depreende-se que o Estado tem a obrigação direta de cumprir com a

determinação da Lei Suprema, visto que as reais causas da fome em caráter mundial são a

pobreza e a desigualdade social.

Pessanha e Wilkinson (2005, p 24) explicam que:

Em contrapartida existem pesquisadores que afirmam que a real e única causa para a

fome, restringe-se à pobreza, à desigualdade social e à falta de acesso a condições de

vida. Utilizam-se inúmeros fatores norteadores para posicionamento contrário, além

das questões ambientais, ainda existem dúvidas sobre os transgênicos e a saúde

humana, apesar, de não existirem comprovações e conclusões sobre os riscos,

afirma-se que os alimentos transgênicos provocam alergias alimentares, resultando

possíveis prejuízos aos órgãos vitais.

Mesmo diante de tanto aparato tecnológico, verifica-se que o maior desafio para as

empresas biotecnológicas é exatamente no quesito informação a ser divulgada aos

consumidores, como forma de aumentar a credibilidade e diminuir as incertezas perante a

qualidade dos produtos desenvolvidos e até mesmo apresentar informações de forma

transparente sobre o risco que estes produtos possam trazer às pessoas. Logo, os

consumidores que adquirem esses alimentos não têm como avaliar se o consumo será

benéfico ou maléfico à saúde.

Sendo assim, a preocupação principal que as empresas voltadas ao plantio de

sementes geneticamente modificadas deveriam apresentar seriam com os efeitos colaterais

que podem ocorrer, considerando que estes alimentos podem colocar em risco a vida de

diversos consumidores. O cliente que consome o produto desconhece muitas informações que

são ocultadas sobre ele, não sabe como foi realizada a sua modificação e muito menos que

tipo de transgenia contém na tecnologia empregada.

Do exposto, fica subentendido, ou seja, nas entrelinhas que para as multinacionais

essas informações ao consumidor não teriam importância, pois o que tem valor é que seja

realizado o patenteamento da tecnologia utilizada com o intuito de controlar o lucro e garantir

a exclusividade do produto.

Assim, as multinacionais que detêm a patente dos produtos geneticamente

modificados realizam contratos com os agricultores de pequeno, médio e grande porte, com o

intuito de participar dos royalties da produção realizada pelos agricultores. Ademais, não

importa se são grandes, médios ou pequenos agricultores, todos devem pagar a participação

dos royalties e ainda pagar a quantidade de sementes transgênicas que foram utilizadas na

safra.

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O que importa é dar continuidade no controle do atual plantio e da próxima safra,

assim deixando os agricultores dependentes da biotecnologia. As questões a serem

respondidas são: as sementes transgênicas são seguras? Seria viável para o agricultor plantar

alimentos orgânicos? O agricultor saberia diferenciar o que é transgênico ou orgânico? Em

algumas dessas dúvidas levantadas não se sabe o que é benéfico ou maléfico ao consumidor.

Nutti e Watenabe, (2002, p. 125) defendem que:

O fato de um alimento geneticamente modificado ser substancialmente equivalente

ao análogo convencional não significa que o este seja seguro, nem elimina a

necessidade de conduzir uma avaliação rigorosa para garantir a sua segurança antes

que a comercialização seja permitida. Por outro lado, a não constatação da

equivalência substancial não significa que alimento geneticamente modificado não

seja seguro, mas que há a necessidade de se prover dados de maneira extensiva, que

demonstrem a sua segurança.

Neste, sentido estabelece o CDC:

Art. 31 A oferta a apresentação de produtos ou serviços devem assegurar

informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre as

características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de

validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à

saúde e segurança dos consumidores.

Para a difusão de um novo produto não bastam custos de produção mais baixos ou

rendimentos mais elevados, é necessário, também, que esse produto seja aceito pelo mercado

consumidor. No caso dos cultivos dos alimentos transgênicos, a aceitação do mercado está

relacionada não apenas com a preferência do cliente, mas também com as regulamentações

existentes em nosso País. Desta forma, a legislação determina que as empresas e os

comerciantes, que utilizam o material para revenda, devem informar acerca da composição

em seus produtos de maneira clara, precisa e que obedeçam às normas que o país estabelece.

Assim, as empresas deveriam apresentar todas as substancias existentes em cada item

comercializado, sem fazer qualquer distinção de revenda, seja para pessoa jurídica ou física,

pois o dever de informação cabe para todos os consumidores residentes neste País.

Como já mencionado anteriormente, as empresas que controlam os transgênicos e a

maioria das sementes comerciais transgênicas preferem os transgênicos por duas razões: ao

serem resistentes aos agrotóxicos, asseguram as vendas de ambos os itens; por ser um produto

de engenharia, as sementes são patenteadas, e assim sendo, os agricultores ao guardar uma

parte da própria colheita para o próximo plantio, estarão cometendo um ato ilegal. Ficam

assim garantidas para as empresas novas vendas a cada estação.

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Neste sentido, ficou claro que, para assegurar o controle total dos agricultores, as

corporações do agronegócio desenvolveram também uma tecnologia que atua como uma

patente biológica: as Tecnologias de Restrição do Uso Genético, popularmente conhecida

como tecnologias Terminator. Com essa tecnologia, fazem-se sementes suicidas: podem ser

plantadas, produzem grãos, mas ficam estéreis uma vez colhidas, obrigando os agricultores a

comprar sementes novas para cada plantio.

Convém aqui destacar que esta tecnologia foi condenada internacionalmente,

classificada como imoral e há uma moratória nas Nações Unidas contra ela, mas que por

pressão das empresas, poderiam ser legalizadas no Brasil, nos próximos meses.

Por tudo isso, permitir a entrada dos transgênicos em um País significa entregar a

soberania, a decisão sobre um aspecto vital da sobrevivência como é a alimentação, a umas

poucas empresas transnacionais. Isto atenta contra os direitos dos agricultores a replantar sua

própria semente, reconhecimento consignado pela Organização das Nações Unidas para a

Alimentação e a Agricultura (FAO), pelo legado de 10.000 anos de agricultura praticada pelos

camponeses para o sustento de toda a humanidade.

2.3 ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E VENDA CASADA

Durante os anos de evolução, a biotecnologia inovou inúmeras vezes, sendo essas

inovações voltadas a produtos úteis de interesse aos diversos setores (saúde,agricultura,

suplementos, etc.), apesar de motivações distintas. Por intermédio de tais finalidades podemos

destacar as empresas relacionadas à fabricação de alimentos transgênicos.

Afirma Guerrante (2003, p.10) que:

A tecnologia do DNA recombinante trouxe a possibilidade de produzir plantas

geneticamente modificadas para expressarem determinadas características de

interesse. Nos vegetais a modificação genética se dá por meio da inserção de um ou

mais genes no genoma das sementes, de modo a fazer com que estas passem a

produzir determinadas proteínas, responsáveis pela expressão de características de

interesse no vegetal.

A indústria biotecnológica voltada para a produção de alimentos transgênicos muito

investiu. Possui como um de seus slogans principais o combate ―à grande fome que assola o

planeta‖, afirmando a necessidade dos alimentos transgênicos e destacando suas

particularidades ao serem comparados aos alimentos orgânicos. Como exemplo as condições

nutritivas, quantidade de safras e resistência a variáveis climáticas.

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As empresas responsáveis pela fabricação e inserção do produto no mercado

possuem como escopo principal a valorização da qualidade dos produtos, a rentabilidade

diante de tal economia. Por tal propósito, as multinacionais biotecnológicas acabam por

buscar mecanismos para o aumento de lucro.

É prática comum ao consumidor comprar um alimento com a obrigação de levar

outro componente o qual o organismo não necessita. Essa prática é bem notada na venda de

diversos produtos, sejam medicamentos, artigos de perfumaria ou higiene pessoal.

Desse modo, a essa vinculação obrigatória ou imposição aos limites quantitativos dá-

se o nome de venda casada, destacando que o comerciante ao adotar essa prática estará

realizando uma prática abusiva, proibida pelo CDC:

Art. 39 É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas

abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro

produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos.

Portanto, a vulnerabilidade é o primeiro princípio que deve ser lembrado na relação

de consumo, muito embora não se destaca apenas a pessoa física que já se presume a sua

vulnerabilidade, logo, a pessoa jurídica é também consumidora. Entretanto, deve-se

demonstrar, no caso concreto, para ser considerado consumidor, pois caso não seja

demonstrado de maneira efetiva, denota-se em uma relação empresarial, e não de consumo.

Assim, explica Felipe Peixoto, (2011, p. 48):

São múltiplas as menções à vulnerabilidade do consumidor no CDC. A Política

Nacional das Relações de Consumo está fundada, inicialmente, no reconhecimento

da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. (art. 4º, I). Dentre os

princípios expressamente elencados na lei de proteção merece destaque o da

vulnerabilidade o qual ilumina o conceito de consumidor e assim define o âmbito de

aplicação das normas do Código. A ideia de vulnerabilidade é o cerne do conceito

de consumidor.

Desta forma, dois princípios basilares devem ser demonstrados na relação de

consumo, são eles o da transparência e informação.

A transparência está assim estabelecida no CDC:

Art. 4 A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento

das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a

proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem

como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes

princípios.

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Deste modo, exige-se transparência dos atores de consumo, impondo às partes o

dever de lealdade recíproca, a ser concretizada antes, durante e depois da relação contratual. A

transparência veda, entre outras condutas, que o fornecedor se valha de cláusulas dúbias ou

contraditórias para excluir direitos do consumidor.

Desta forma, o CDC faz as empresas fornecedoras de alimentos transgênicos terem a

necessidade e o dever de demonstrar suas características, mas não apenas sua base nutricional

e sim toda a sua rastreabilidade do alimento, para garantir a transparência necessária e o

direito da informação.

O conceito de rastreabilidade, nos dizeres de Felipe Peixoto (2011, p. 6):

Um conjunto de sistemas de informações e registros de arquivos, que permite

realizar um estudo retrospectivo dos produtos ao longo da cadeia produtiva, do

ponto de consumo até a origem das matérias primas a partir das quais foram

produzidos, passando pelos estabelecimentos onde foram industrializados,

processados ou embalados.

Portanto, entende-se rastreabilidade como uma etiqueta ou adesivo que acompanha o

produto trazendo todas as suas informações desde o início de sua fabricação incuindo a

primeira operação realizada, servindo também para informar em qual lote foi feito e por

quem. Caso o produto apresente problemas futuros saber-se-á de onde ele veio e quais peças o

acompanhavam, ajudando assim a realizar uma contenção para que este não resulte em

problemas maiores para os consumidores. Logo, a rastreabilidade traz consigo o princípio da

informação.

Estabelece Felipe Peixoto (2011, p. 50) que:

A informação é fundamental no sistema de consumo. Informação falha ou defeituosa

gera responsabilidade. A omissão da informação pode caracterizar publicidade

enganosa. É dever do fornecedor fazer chegar ao consumidor, de forma simples e

acessível, as informações relevantes, relativas ao produto ou serviço.

O CDC estabelece que o consumidor possua o direito à informação adequada e clara

sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,

características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) omissis III - A informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com

especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos

incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.

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Dessa maneira, o consumidor no meio de inúmeras informações inúteis, teria

esvaziado seu direito subjetivo de ser informado com clareza e exatidão acerca dos

transgênicos que trazem no aumento de sua produção o uso de agrotóxicos herbicidas e outros

praguicidas cada vez mais tóxicos.

Todo este contexto se traduz em gravíssimos problemas ambientais e de saúde

pública. Nos três países principais produtores de transgênicos, Estados Unidos,

BrasileArgentina, as novas gerações de sementes transgênicas são uma combinação de toxina

Bt e gens de tolerância a um ou mais herbicidas, primando assim pelo uso pesado de

herbicidas. No caso do milho Bt, a magnitude do aumento de herbicidas está cada vez mais

tóxica, o que significa o plantio de transgênicos com resistência a herbicidas1.

Os Estados Unidos da América, por meio do Professor Benbrook2, realizou uma

pesquisa direcionada aos herbicidas durante o período de 1996 a 2011, demonstrou que ao

contrário do que prometiam as empresas, a realidade dos transgênicos, com base nas

estatísticas oficiais do devido trabalho, que o maior produtor de transgênicos, em nível global,

– mostra que estes tiveram menor produtividade por hectare que as sementes que já estavam

no mercado, e trouxeram um aumento exponencial do uso de agrotóxicos.

Este quadro significou fortes impactos negativos tanto na saúde pública como no

meio ambiente, em todos os países onde eles foram cultivados em grande escala, incluindo o

Brasil. Os transgênicos foram um instrumento chave para facilitar a maior concentração

corporativa da história da alimentação e da agricultura.

O Ministério Público Federal, por meio do processo de nº 21372-34.2014.4.01.3400,

solicitou o banimento aos ingredientes 2,4-D, glifosato, glufosinato de amônio DAS 68416-4,

glufosinato de amônio DAS-44406-6 e outros herbicidas, por entender que os produtos

colocados no mercado podem ser prejudiciais à saúde e pela falta de informação necessária

para os consumidores, não sabendo se eles podem trazer benefício ou malefício.

As considerações já expostas sobre as implicações na saúde e meio ambiente não

são, e nem poderiam ser, conclusivas. Como se pode observar, nenhuma alegação sobre os

1Benbrook, Ch., (2012). ―ImpactsofGeneticallyEngineeredCropsonPesticide Use in the U.S. — The

FirstSixteenYears.‖ En Environmental Sciences Europe 2012. Disponível em:

<http://www.enveurope.springeropen.com/articles/10.1186/2190-4715-24-24>.Acesso em 01 jan. 2016 2Benbrook professor da pesquisa, centro para Sustentar Agricultura e Recursos Naturais, Universidade do Estado

de Washington, Pullman, Washington, EUA.CB tem estudado os impactos da biotecnologia agrícola desde

meados da década de 1980 em uma variedade de posições, incluindo Director Executivo, o Conselho da

Agricultura, da Academia Nacional de Ciências/ NationalResearchCouncil, e como ChiefScientist, The Organic

Center.

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riscos biológicos citados é absoluta, no sentido de serem aceitos de forma unânime entre os

cientistas, muito menos entre geneticistas.

O fato alerta para a possibilidade de um breve afastamento do princípio da

precaução,no que se refere aos transgênicos,e permite a análise da ideologia dos transgênicos

sociais. Afinal, caso um dia haja o alcance a um consenso sobre ausência dos riscos

biológicos alegados, e caso resolva-se tolerá-los na sua totalidade ou parte deles, ou ainda,

aceite-se hoje os argumentos dos cientistas que já afirmam suas inexistências, ainda assim

uma segunda etapa será necessária: a avaliação de quais transgênicos, entre os que estão, ou

estarão disponíveis, são, ou serão, de fato, úteis à sociedade.

2.4 BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS

É conhecido por grande parte da população mundial que os alimentos geneticamente

modificados se fazem presentes com cada vez mais frequência no Brasil e no mundo,

deixando para trás alguns paradigmas que o cercavam, visto que os primeiros passos dados

sobre mudanças de genes apareceram no ano 1970, e vem se expandindo desde então.

Assim, Oliveira (2008, p. 914) argumenta que:

Sementes mais produtivas, desenvolvidas pelo melhoramento tradicional, assim

sendo estas sementes, proporcionam um melhor modo de produzirem alimentos e

fibras. É melhor para os agricultores por aumentar a renda e a produtividade, e para

o meio ambiente e consumidores, porque, entre outras vantagens, reduz em até 30%

o uso de herbicidas. A biotecnologia promete tornar real a potencialidade agrícola e

no mundo

As sementes mais produtivas é que se destacam importantes nesse melhoramento,

visto que é cada vez maior a quantidade da população mundial e consequentemente demanda

um maior consumo.

O Brasil começou a desenvolver uma série de pesquisas neste sentido e ―hoje é um

dos líderes mundiais na moderna biotecnologia, com reconhecimento internacional, em

especial à FAPESP, (Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo), e à Embrapa

(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)‖.

Segundo Oliveira (2008, p. 915):

A sociedade brasileira não pode abrir mão do emprego da biotecnologia na geração

de bens sociais, pois esta ciência torna-se cada vez mais um instrumento para a

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solução de problemas relacionados à qualidade de saúde, alimentação e aos vários

problemas ambientais.

Ressalta-se que, apesar de tratar-se de um grande avanço tecnológico que visa

melhoramentos genéticos que almejam, além da qualidade de vida, soluções para um futuro

melhor, são poucas as vertentes de apoio aos alimentos transgênicos, pois a resistência acerca

do tema ainda é grande em todo o mundo.

Neste sentido, segundo Pessanha e Wilkinson, (2005, p. 24):

Pesquisadores ressaltam quanto a possíveis efeitos relacionados a essa nova

tecnologia. Ao alterar a composição natural dos alimentos, seja reduzindo ou

aumentando os elementos principais, o resultado final pode produzir alergias em

pessoas suscetíveis inclusive resistência a antibióticos.

Desta forma, é importante não apenas expor claramente acerca dos danos causados à

saúde humana como deve-se, também, observar o meio ambiente e os possíveis danos que

este vêm sofrendo, por conta dos alimentos geneticamente modificados, pois o fator de maior

relevância, na vertente de apoio a estes alimentos, é em verdade o fator econômico.

Estabelece Oliveira (2008, p. 916) que:

(...) necessária a imposição de restrições às pesquisas científicas e à disponibilidade

de produtos no mercado, oriundos dessas investigações, por tratar-se de assunto

inclusive de ―segurança pública‖, uma vez que, ainda não se tem uma avaliação

concreta das consequências para o meio ambiente e à saúde, gerando riscos e

incertezas que não são de todo conhecidos ou ao menos foram esclarecidos, por

tratar-se de uma novidade tecnológica.

Nessa situação, é imprescindível que estes fatores sejam levados em conta, pois

segundo afirma Oliveira (2008, p. 928):

Ambientalistas e alguns pesquisadores acreditam que os riscos da manipulação

genética para a saúde e o ambiente não se encontram afastados e os alimentos

transgênicos, segundo suas críticas, representariam o desrespeito aos princípios

democráticos elementares como a liberdade de escolha e o direito à informação.

Em tal caso, o uso da tecnologia remete a um vício de comodidade inexorável,

tornando a população cada vez mais dependente, mesmo quando não há simplesmente

nenhuma espécie de cautela em relação às informações relacionadas aos benefícios e

malefícios que o uso contínuo destes alimentos podem acarretar, e mais, incluindo as

agressões que poderão ser causadas ao meio ambiente.

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No tocante a esta tecnologia, que torna o ser humano tão dependente e avança cada

vez mais, nas mais diversas áreas em que vem a biotecnologia se desenvolvendo, Oliveira,

(2008, p. 911) assim coloca:

Ciências da engenharia genética visa ao uso de sistemas e organismos biológicos

para aplicações medicinais, científicas, industriais, agrícolas e ambientais. Por meio

dela os organismos vivos passaram a ser manipulados geneticamente, possibilitando-

se a criação de organismos transgênicos ou geneticamente modificados. Qualquer

aplicação tecnológica que utiliza sistema biológicos, organismos vivos ou seus

derivados para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização

especifica.

Logo, os alimentos transgênicos, independente de apresentarem fatores positivos

acerca da sua qualidade e benefícios não se pode perder de vista algumas indagações

pertinentes: o cultivo dos alimentos de que forma é feito, ou melhor, com que tipo de material

que é protegido um plantio? Será que é protegido? Há nesses alimentos benefícios ou

malefícios?

Tal alegação parte do pressuposto de que a transgênese é uma tecnologia nova,

pouco conhecida, sobre a qual ainda não se tem conhecimento suficiente, o que, dessa forma,

tornaria inócua qualquer conclusão sobre os efeitos tóxicos que poderia gerar, considerando

que estes foram liberados para uso, sem a realização dos testes necessários, causando efeitos

nefastos que só foram conhecidos posteriormente.

Quanto à rápida expansão dos agrotóxicos trouxe, e traz até hoje, inúmeras

consequências negativas. Contudo,muitos acreditam que, naquele momento, a explosão

demográfica obrigava uma maior produção de alimentos e que recurso melhor ainda não

havia. Alguns pesquisadores relatam a preocupação de certos alimentos que já contêm toxina

no seu DNA, pelo fato de ser despejado ainda mais toxina em seu cultivo.

Assim Hansen (1995, p. 19) explica que:

Há muitas plantas que possuem toxinas naturais,como o tomateiro e as folhas da

batata,devido à presença de toxinas alcalóides, como a salonina e a chaconina, para

sua defesa contra seus inimigos naturais,especialmente insetos. Os alcaloides talvez

sejam o maior grupo de pesticidas naturais encontráveis nas plantas, como a cafeína,

a nicotina, a solanina, a tomatina e achaconina. Eles são considerados relativamente

inofensivos nos níveis em que são encontrados nas plantas destinadas à alimentação.

O receio quanto à manipulação genética instala-se na possibilidade de aumentar-se

inadvertidamente estas substâncias nas plantas em consequência da introdução de

um gene que não existia antes. Ou ainda, inserir-se, por exemplo, cafeína em uma

planta destinada à alimentação com o objetivo de que esta haja como pesticida

natural ou como simples estimulante, não se podendo distinguir o alimento que a

possui daquele que não a possui.

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Logo se há substâncias tóxicas naturalmente presentes nas plantas destinadas à

alimentação e nelas se pode interferir geneticamente, haverá a possibilidade de se alterar a

planta, potencializando seus efeitos tóxicos.

Desta forma, Arantes (2003, p. 269) expõe que:

Culturas como a do milho,por exemplo, sofriam comum sério problema, os insetos-

praga,e como dentre suas variedades não havia nenhuma efetivamente resistente,

optou-se, então,pelos agrotóxicos. Com o advento da transgênese, percebeu-se que o

milho poderia adquirir tal resistência se a nele fosse introduzido o gene de uma

bactéria amplamente conhecida no meio científico, o Bacillusthuringiensis,que

codifica proteínas tóxicas somente a determinados insetos. Portanto, à medida que a

folha deste milho cresce, são produzidas dentro de suas células as proteínas, que

seriam tóxicas, por exemplo, a uma lagarta do milho,sendo inócuas aos demais

insetos,mamíferos,répteis, peixes,porque ela é a única que tem receptor no seu

intestino para estas proteínas

Convém destacar que os alimentos transgênicos estão sendo cultivados em somente

10 países, portanto 169 países não permitem seu plantio comercial. Os transgênicos, nos

campos, têm somente dois caráteres: resistência a um ou mais agrotóxicos, e cultivos

inseticidas com cepas da toxina, papel mais propagandístico, não são realidades. Por exemplo,

os cultivos resistentes à seca ou os cultivos com agregados para melhorar sua qualidade

nutricional, como o chamado arroz dourado, que aportaria vitamina A, não estão no mercado,

principalmente porque não funcionam.

As características de resistência à seca encontradas nos cultivos não transgênicos é

produto de uma adaptação ambiental e local de longo prazo feita por camponeses, o que se

pode favorecer sem transgênicos nem grandes custos de investigação. Pode-se falar, ainda, no

mito do arroz dourado, o caso dos cultivos com supostos nutricionais agregados por

transgenia, como o do arroz dourado ou arroz com provitamina3 A, têm o mesmo tipo de

falha.

Trata-se de uma pesquisa muito cara, com investimentos público-privados, que sofre

de múltiplos problemas, implica todos os riscos já foram mencionados neste trabalho, e

somam-se outros pelo tipo de manipulação, diferente das que já existem no mercado.

Depois de vinte anos e muitos milhões de dólares investidos nesta investigação,

segundo o Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz, o arroz dourado ainda está longe de

conseguir sua comercialização. Isto se deve às dificuldades que implica tratar de criar uma

rota bioquímica totalmente nova por meio da engenharia genética.

3Provitamina é umasubstância precursora que, a partir de seguidas reações químicas noorganismo, tornar-se-á

umavitamina.

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Este projeto consumiu por volta de mais de 100 milhões de dólares de instituições e

filantropia, entre estas, a Fundação Bill e Melinda Gates, e de várias outras instituições

nacionais e internacionais de ajuda ao desenvolvimento. Com este dinheiro gasto, poderiam

os envolvidos ter atendido de forma sustentável e sem alta tecnologia, a deficiência de

Vitamina A em muitos dos países onde estão presentes.

Portanto, alguns fatores mostram o quão delicado é o tema, por englobar uma grande

margem de situações díspares, mas de grande relevância para a sociedade, uma vez que não

há como pormenorizar todas as questões. Portanto, daí a importância de se abordar os

princípios basilares do ordenamento jurídico, no âmbito do tratamento dado à produção de

alimentos transgênicos.

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3 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL E TRANSGÊNICO

Para abordar sobre os princípios do direito ambiental, é necessário antes pronunciar

sobre a Legislação Brasileira que antecedeu à CF/88, pois esta vem demonstrando a devida

evolução da proteção ao Meio Ambiente. Poucas mudanças foram sentidas com o passar dos

anos. Somente a partir da década de 60, a proteção ao meio ambiente recebeu mais destaque.

Assim, com o acompanhamento das legislações brasileiras, percebe-se o

amadurecimento da relação homem e natureza, no decorrer dos anos, formando-se uma

concepção de equilíbrio e não de rivalidade como antes era pensado pelos antepassados.

Elenca-se então todo o processo de transformação da evolução histórica.

A Constituição Imperial de 1824 não faz nenhuma referência expressa à proteção

ambiental, apenas cuida da proibição de indústrias contrárias à saúde do cidadão:

Art.179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros,

que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida

pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. (...) omissis XXIV. Nenhum gênero de trabalho, de cultura, indústria, ou comércio pode ser

proibido, uma vez que não se oponha aos costumes públicos, à segurança, e saúde

dos cidadãos.

Já a Constituição Federal de 1891 não abordou grandes inovações na matéria,

somente atribuiu à União competência para legislar sobre suas minas e terras:

Art.34 - Compete privativamente ao Congresso Nacional: (...) omissis 29º) legislar sobre terras e minas de propriedade da União;

A Carta Política de 1934 inovou quanto ao domínio das águas fluviais e do subsolo:

Art 5º - Compete privativamente à União: (...) omissis XIX - legislar sobre: (...) omissis j) bens do domínio federal, riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, águas,

energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca e a sua exploração;

Nos dizeres de Milaré (2000, p.146):

A Constituição de 1934 dispensou proteção às belezas naturais, ao patrimônio

histórico, artístico e cultural (art. 10, III, e 148); conferiu à União competência em

matéria de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca e sua

exploração.

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A expressão ―competência concorrente‖, em relação à possibilidade de o Estado

legislar concorrentemente com a União, aparece pela primeira vez na Constituição de 1934:

Art 5º - Compete privativamente à União: (...) omissis § 3º - A competência federal para legislar sobre as matérias dos números XIV e

XIX, letras c e i, in fine, e sobre registros públicos, desapropriações, arbitragem

comercial, juntas comerciais e respectivos processos; requisições civis e militares,

radio comunicação, emigração, imigração e caixas econômicas; riquezas do subsolo,

mineração, metalurgia, águas, energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca, e a sua

exploração não exclui a legislação estadual supletiva ou complementar sobre as

mesmas matérias. As leis estaduais, nestes casos, poderão, atendendo às

peculiaridades locais, suprir as lacunas ou deficiências da legislação federal, sem

dispensar as exigências desta.

Machado (2002, p. 111) esclarece:

A concorrência enseja a possibilidade de iniciativa na área da legislação ambiental

para os Estados e para o Distrito Federal, se a União se mantiver inerte. A

competência concorrente poderá exercer-se não só quanto à elaboração de leis, mas

de decretos, resoluções e portarias.

Convém ressaltar que, em 1934, também foram decretados o primeiro Código

Florestal, decreto 23.796 de 03 de janeiro de 1977, e o Código de Águas 10 de julho de 1934,

na competência legislativa da União, por meio da Constituição outorgada em 1937:

Art. 134 - Os monumentos históricos, artísticos e naturais, assim como as paisagens

ou os locais particularmente dotados pela natureza, gozam da proteção e dos

cuidados especiais da Nação, dos Estados e dos Municípios. Os atentados contra eles

cometidos serão equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.

Por meio da promulgação da Constituição de 1946 mantiveram-se, numa análise

breve, as mesmas disposições dos textos anteriores. Em 1965, foi instituído o novo Código

Florestal a lei 4.771 de 15 de setembro de 1965.

A partir de 1967, foi estabelecida a competência da União por meio da CF/67, para

tentar organizar uma defesa permanente contra calamidades públicas, como secas e

inundações, a exploração direita ou mediante ―autorização ou concessão‖ de serviços e

instalações de energia elétrica, legislar sobre direito agrário, águas, saúde. Previu a

competência dos estados para legislar simultaneamente não desrespeitando lei federal, posto

que somente o fizessem quando a União se mostrasse inerte.

Ressalta Machado, (2002, p. 113):

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Suplemento é o que supre, a parte que se junta a um todo para ampliá-lo. O que

serve para suprir qualquer falta. Assim, não se suplementa a legislação que não

existia. Portanto, quando a competência da pessoa de Direito Público interno for

somente suplementar a legislação de outro ente, se inexistirem normas, não existirá

o poder supletório. Não se suplementa uma regra jurídica simplesmente pela vontade

de os Estados inovarem diante da legislação federal. A capacidade de suplementar

está condicionada à necessidade de aperfeiçoar a legislação federal ou diante da

constatação de lacunas ou imperfeições da norma geral federal.

Neste mesmo ano foram instituídos pela primeira vez por meio da Lei 5.197 de 3 de

janeiro de 1967 de Proteção à Fauna e o Decreto-Lei n. 221 de 28 de fevereiro de 1967,

dispondo sobre a proteção e estímulo à pesca.

Assim também veio a Emenda Constitucional n. 1 de 1969 que manteve os termos da

Constituição de 1967, alterando somente as competências legislativas concernentes à energia,

subdividindo-a em elétrica, térmica, nuclear ou de qualquer natureza.

Frisa-se ter sido pela primeira vez a utilidade do termo ―ecológico‖, na redação da

CF/69:

Art. 172. A lei regulará, mediante prévio levantamento ecológico, o aproveitamento

agrícola de terras sujeitas a intempéries e calamidades. O mau uso da terra impedirá

o proprietário de receber incentivos e auxílios do Governo.

Tal avanço não foi por acaso, pois o momento, em nível internacional, era de

movimentações sociais intensas. Levando em conta o uso crescente dos recursos naturais. Em

setembro de 1971 foi realizado o primeiro movimento verde. Saíram os ativistas de

Vancuover, Canada, em direção ao Pacífico Norte para protestar contra os testes nucleares

norte-americanos. Daí surgiu a palavre green (verde) e Peace (paz), sendo necessário juntá-

las, a partir disso, nasceu o Greenpeace.

Anteriomente a isso, foi criado o Clube de Roma, composto por cientistas, industriais

e políticos, em 1968. Após esse acontecimento histórico, essa reunião teve a finalidade

discutir o crescimento econômico das nações. Desta forma, os relatórios do Clube de Roma

tiveram um repercussão internacional, principalmente, no direcionamento do debate que

ocorreu no ano de 1972, na conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano,

conhecida como conferência de Estocolmo que, por meio da declaração sobre o meio

Ambiente Humano, estipulou ações para que as nações estabelecessem planos para a

preservação ambiental e desenvolvimento.

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A declaração de Estocolmo de 1972 influenciou no surgimento da Política Nacional

do Meio Ambiente, Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981, surgindo o primeiro conceito de meio

ambiente no Direito Brasileiro, através da (PNMA).

A primeira vez que a expressão ―meio ambiente‖ foi mencionada em âmbito

Constitucional foi na CF/88, no título VIII, dirigido à Ordem Social, trazendo um capítulo

específico sobre o tema:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

Nas palavras de Chagas (1998, p. 23) estabelece:

O Ambientalismo passou a ser tema de elevada importância nas Constituições mais

recentes. Entra nelas deliberadamente como direito fundamental da pessoa humana,

não como simples aspecto da atribuição de órgãos ou entidades públicas, como

ocorria nas Constituições mais antigas.

Instaurou-se, vinte anos após, a Convenção de Estocolmo, a Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a mais popularmente conhecida RIO/92.

Após a Conferência, a ideia de desenvolvimento sustentável ganhou vida própria, impondo-se

nas deliberações de organismos, desde conselhos municipais a organizações internacionais.

Foi dessa forma que os princípios foram ganhando forma dentro do estado de direito.

O conceito geral da palavra princípios se traduz em ―diretrizes e/ou nortes do ordenamento

jurídico‖. O referido termo (do latim principium, principii) encerra a ideia de começo, origem,

base. Em linguagem leiga é, de fato, o ponto de partida e o fundamento causa de um processo

qualquer.

Neste sentido, Milaré (2000, p. 111) explica que:

A palavra princípio, em sua raiz latina, significa aquilo que se toma primeiro,

designando o início, começo, ponto de partida. Princípios de uma ciência são as

proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas

subsequentes.

O Direito Ambiental é regido por princípios e normas. Trata-se de um sistema, e não

de um conjunto de normas, porque seus elementos possuem uma lógica que os vinculam entre

si, o que vai além da simples existência de alguma característica em comum. Portanto, tal

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sistema é composto não apenas por normas (leis atos normativos), como também por

princípios.

Leuzinger e Cureau, (2008, p. 1) afirmam que:

No Brasil, a primeira definição legal de meio ambiente ocorreu com edição da Lei nº

6.938, de 1981, norma geral editada pela União, que instituiu a Política Nacional de

meio ambiente. Considerando-o como um patrimônio público a ser necessariamente

assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo.

Quando se fala em proteção, não se está pretendendo a estagnação econômica ou a

não utilização absoluta dos recursos naturais. Os seres humanos são totalmente dependentes

dos elementos que a natureza lhes oferece, e é a medida da sua exploração que deve ser

levada em consideração, a fim de que não se esgotem os recursos naturais.

É esse, inclusive, o sentido de meio ambiente ecologicamente equilibrado, adotado

pela CF/88, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

Dessa maneira, lembra Canotilho (1995, p. 14):

Ambiente humano e ecologicamente equilibrado, a que os cidadãos têm direito, e

que cabe ao Estado assegurar, tem a ver fundamentalmente, com a proteção da

natureza e recursos naturais, o combate à poluição e disfunção ambientais e a

melhoria da qualidade de vida.

Consequentemente, existem vários princípios ao lado do princípio do poluidor-

pagador, o princípio da prevenção formou a base sobre a qual o Direito Ambiental foi

construído, somando-se a eles, posteriormente, outros princípios identificados e estudados. O

princípio da precaução está diretamente relacionado à natureza do dano ambiental que, ao

contrário de outras espécies de dano, atinge a uma pluralidade indefinida de vítimas,

prolonga-se no tempo, sem que se possa, muitas vezes, mensurar até quando produzirá efeitos

nefastos, é de dificílima ou mesmo de impossível reparação, e sua valoração bastante

complexa.

3.1 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

O princípio da precaução surgiu na Alemanha, no início do ano de 1970, como

resposta a uma política intervencionista e centralizadora na área de poluição atmosférica, e a

um contexto de grande agitação política e de preocupação social para com a saúde pública de

uma forma geral.

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Logo, no relacionamento com a natureza a humanidade se depara, em todas as

circunstâncias, com o risco, ou melhor, com situações de risco, Ao mesmo tempo

inexpugnável e frágil, é o ambiente natural remetente e destinatário desses riscos, resultado da

interação humana e contra esta mesma humanidade.

Assim Beck, (1997, p. 39) salienta que:

Com a modernidade industrial, que por sua vez tem suas origens em dois momentos

distintos: na Revolução Francesa e no surgimento do Estado Liberal, com o advento

de garantias de direitos mínimos ao cidadão e com a legalidade; e (b) na Revolução

Industrial e no modelo capitalista, com o incremento da apropriação sobre os

recursos naturais. Nesse período histórico, são identificáveis as primeiras reflexões

sobre a validade das ideias do bem ambiental como ―res nullius‖ e da crença da

renovabilidade dos recursos da natureza, bem como do esboço de uma introdução ao

conceito de risco ambiental.

Enquanto para o risco concreto se prescreve a prevenção, para o risco abstrato resta o

remédio da precaução, ante a evidência da invisibilidade e da imprevisibilidade, ante a

momentânea incapacidade humana de compreensão do risco em tela, da sua natureza, de suas

causas e origens, da extensão dos seus efeitos.

Segundo Bottini (2007, p. 61), coloca que:

A não comprovação do risco não implica sua inexistência, a incerteza dos resultados

de um empreendimento não significa sua segurança: logo, cabem decisões

estratégicas sobre a realização de tais atividades e sobre quais as medidas de

contenção aplicáveis. O conjunto de decisões de gestão que optem pela restrição de

atividades sobre cujo risco não existe conhecimento científico está diretamente

ligado ao chamado princípio da precaução

O princípio da Precaução é um dos princípios mais importantes para a efetiva

consolidação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois se diferencia por exigir mais

cautela na liberação de projetos que possam interferir no ecossistema.

Ao se deparar com a incerteza sobre os riscos de um empreendimento ou atividade,

prefere-se exigir alguns estudos, sociais, geológicos, geográficos entre outros. Sempre,

criando programas e monitoramento, para o fim do diagnóstico ambiental, sempre realizando

a conclusão se a intromissão humana seria suportável ou danosa.

Conforme explica Machado (2002, p. 78-79):

Incerteza não significa necessariamente inexistência, simplesmente pode não estar

bem definido, não ter sido verificado tampouco constatado. Ignorância é a incerteza

no conhecimento, que ao invés de gerar um cômodo, desconhecimento, há de

proporcionar o almejo a pesquisa ao estudo. Medo é o receio de alguma coisa e

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situação, geralmente de algo que nunca aconteceu e do temor de que algo ruim

aconteça.

Quando houver dúvida ou incerteza científica sobre se aquela ação ou omissão

ocasionará um dano ambiental, por menor que seja, utiliza-se do princípio da precaução. Esse

princípio consta também em outros acordos internacionais, por exemplo a Convenção sobre

Diversidade Biológica (CDB), como sendo um princípio ético e implica que, a

responsabilidade pelas futuras gerações. Esta Convenção é um tratado da Organização das

Nações Unidas e um dos mais importantes instrumentos relacionados ao meio ambiente.

Esta convenção foi estabelecida durante a notória ECO-92, a Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro

em junho de 1992 – e é hoje o principal fórum mundial para questões relacionadas ao tema.

No Preâmbulo da CDB lê-se o seguinte: observando também que, quando exista uma

ameaça de redução ou perda substancial da diversidade biológica, não deve ser invocada a

falta de completa certeza científica como razão para adiar a tomada de medidas destinadas a

evitar ou minimizar essa ameaça.

Neste mesmo sentido, o Protocolo4 de Cartagena sobre Biossegurança o Princípio da

Precaução também é mencionado:

Art. 11 a ausência de certeza científica devida à insuficiência das informações e dos

conhecimentos científicos relevantes sobre a dimensão dos efeitos adversos

potenciais de um organismo vivo modificado na conservação e no uso sustentável da

diversidade biológica na Parte importadora, levando também em conta os riscos para

a saúde humana, não impedirá esta Parte, a fim de evitar ou minimizar esses efeitos

adversos potenciais, de tomar uma decisão, conforme o caso, sobre a importação do

organismo vivo modificado.

O Princípio da Precaução tem quatro componentes básicos que podem ser, assim

resumidos na incerteza que passa a ser considerada na avaliação de risco, o ônus da prova

cabe ao proponente da atividade, avaliação de risco, um número razoável de alternativas ao

produto ou processo, devem ser estudadas e comparadas, e finalmente, a decisão de colocar

um produto no mercado deve ser democrática, transparente e ter a participação dos

interessados tanto da parte empresarial como da parte do consumidor final.

Existe outro dispositivo legal em que ele é mencionado, na ECO-92, o princípio 15,

que demonstra a clara preocupação com a incerteza científica e com a ameaça de danos sérios

e irreversíveis, com o fim de proteger o meio ambiente. O princípio da precaução deverá ser

4Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/biosseguranca/_arquivos/71_28112008022557.pdf>.

Acesso em: 05 jan. 2016

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amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades, pois quando houver

ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será

utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis, para prevenir a

degradação ambiental.

Como já foi observada, a incerteza científica, baseada na ignorância pela ausência de

pesquisas e conclusões, não pode servir de pretexto para imprudências, nem para o adiamento

de soluções economicamente viáveis na finalidade de evitar o dano.

Assim, Machado (2001, p. 68) estabelece:

As declarações internacionais, ainda que oriundas das Nações Unidas, não são

transpostas automaticamente para o Direito interno dos países, pois não passam pelo

procedimento de ratificação perante ao Poder Legislativo. Diferentemente, as

convenções e tratados passam a ser obrigatórios no Direito interno após sua

ratificação e entrada em vigor.

Tal autor mencionado acima se baseia na CF/88, conforme disposição:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes: (...) omissis § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem

aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos

dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Entretanto, o princípio abordado não está apenas positivado em declarações em que o

Brasil é signatário ou em legislação complementar, ordinária, decreto, resolução entre outras.

A Lei Suprema em seu art. 225, inciso VII, veda qualquer ação que possa colocar

em risco a fauna e a flora:

(...) omissis VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem

em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os

animais à crueldade.

O Princípio da Precaução insere-se no estudo prévio de Impacto Ambiental,

devidamente exigido no art. 225, inciso IV, da CF/88 e regulamentado na Resolução do

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), nº 001 de 23 de janeiro de 1986:

(...) omissis

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IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto

ambiental, a que se dará publicidade; (...) omissis Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes

atividades técnicas: (...) omissis II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de

identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis

impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e

adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e

permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e

sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.

É fundamental que exista um controle dos produtos, ou seja, o consumidor possa

consumi-los sem risco. Com esse objetivo foi criada a Lei 11.105/05, conhecida como Lei de

Biossegurança:

Art. 1º Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre

a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a

importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o

consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente

modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço

científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde

humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção

do meio ambiente.

Além disso, esta regra deve estar presente para a utilização de qualquer tecnologia.

Por isso, é fundamental a segurança de qualquer produto, tanto convencional quanto

transgênico, colocado à disposição dos consumidores.

Assim, Machado (2001, p. 96) sustenta que:

A Lei 11.105/2005 objetiva estabelecer as normas de segurança e mecanismos de

fiscalização no uso de técnicas de Engenharia Genética. Ao falar em normas de

segurança, implicitamente, a lei abarca o conceito de que a engenharia genética

implica riscos que necessitem ser geridos. Oito atividades relativas aos OGMs são

abrangidas: construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo,

liberação e descarte.

Neste mesmo sentido, entende Dalvi (2008, p. 137) que:

Os alimentos transgênicos deverão ser pautados pelos princípios da precaução e da

informação para resguardar a saúde humana e segurança alimentar ao impor a

realização de pesquisas contundentes, as informações devem ser claras e expressas

para que os consumidores tenham o direito de escolha. De igual modo, o Estado

deve ser vigilante, eficiente e eficaz no seu papel de assegurador da vida da

população.

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Então é imprescindível agregar ao crescimento e desenvolvimento da agricultura

com responsabilidade ética, uma vez que é inegável a utilização de sementes transgênicas, não

sabendo-se de que forma elas estão sendo formadas, colocando a incerteza nos alimentos

criados.

Logo, afirma Machado (2001, p. 57):

Precaução é cuidado. O princípio da precaução está ligado aos conceitos de

afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de

sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Este princípio é a tradução da

busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente como

pelo assegura mento da integridade da vida humana. A partir desta premissa, deve-se

também considerar não só o risco eminente de uma determinada atividade, como

também os riscos futuros decorrentes de empreendimentos humanos, os quais nossa

compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da ciência jamais conseguem

captar em toda densidade.

O Princípio de Precaução pretende ser uma regra geral em situações onde existam

ameaças sérias e irreversíveis à saúde e ao meio ambiente e requeiram uma ação para evitar

tais ameaças, mesmo que ainda não exista prova definitiva de dano. Este Princípio não

permite que a ausência de certeza científica seja usada para atrasar uma ação preventiva. As

lições do esperar muito tempo por provas antes de agir têm demonstrado que uma rigorosa

abordagem de precaução nestes casos foi atrasada também por muito tempo. No entanto, o

Princípio de Precaução é muitas vezes criticado como sendo não científico e por engessar o

progresso.

Dessa forma, este contexto explica porque a precaução é tão vital em relação aos

transgênicos, uma vez que demanda uma avaliação científica mais rigorosa e traz mais

democracia às decisões sobre a aceitação ou não de riscos.

Além disso, mostra também porque o Princípio de Precaução não representa uma

barreira ao progresso. A abordagem da precaução é muito melhor que considerar os

benefícios para a indústria como prioritários. O Princípio dá uma voz para o meio ambiente

por meio dos indivíduos e da sociedade que será afetada se algo errado acontecer.

Por outro lado, este princípio não deve constituir barreira à pesquisa científica e às

atividades que envolvam a manipulação de OGMs e seus derivados. Se, de um lado, é

necessário reconhecer a possibilidade de danos ainda não conhecidos e procurar antecipá-los e

dimensioná-los com base nos conhecimentos científicos existentes, resguardando os legítimos

interesses da sociedade, de outro, é necessário criar os mecanismos e procedimentos

regulatórios capazes de assegurar a atividade científica com o mínimo de risco.

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Esta revolução científica que vem ocorrendo, mesmo nos países mais desenvolvidos,

ainda não foi assimilada pela sociedade, em razão da dificuldade em compreender os novos

conceitos e os novos desenvolvimentos tecnológicos, como também pela falta de informação

adequada, acarretando a insegurança com relação à biotecnologia e à engenharia genética.

O Princípio da Precaução não visa estagnar o desenvolvimento econômico,

impedindo a ação do homem por danos incertos que podem nunca ocorrer. Entretanto, a

sociedade não deve se arriscar em ter a prova de que determinada atividade é realmente

danosa, visando a mínima eventualidade de risco eminente, não arriscar a ocorrência do dano

e preservar a sadia qualidade de vida num ambiente equilibrado.

3.2 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

Esse Princípio decorre da constatação de que as agressões ao meio ambiente são, em

regra, de difícil ou impossível reparação. Uma vez consumada uma degradação ao meio

ambiente, a sua reparação é sempre incerta e, quando possível, excessivamente custosa.

Daí a necessidade de atuação preventiva para que se consiga evitar os danos

ambientais. Além disso, corresponde também à exigência referida na CF/88, no art. 225, de

que as gerações atuais transmitam o patrimônio ambiental às gerações que nos sucederem.

O motivo para a adoção de um posicionamento dessa natureza é simples, em muitas

situações, torna-se verdadeiramente imperativa a cessação de atividades potencialmente

degradadoras do meio ambiente, mesmo diante de controvérsias científicas em relação aos

seus efeitos nocivos, o dia em que se puder ter certeza absoluta dos efeitos prejudiciais das

atividades questionadas, os danos por elas provocados no meio ambiente e na saúde e na

segurança dos consumidores deve ser utilizado tal princípio.

O Princípio da Prevenção difere ao da precaução pela existência de certeza do dano

ambiental. Tal dispositivo está previsto nas duas Cartas de Princípios da Organização das

Nações Unidas, firmadas na Conferência de Estocolmo, de 1972, e na Conferência do Rio de

Janeiro, de 1992.

A prevenção está inserida nos Princípios da Carta de Estocolmo 725:

(...) omissis Princípio 18

5 Disponível em: <http://www.silex.com.br/leis/normas/estocolmo.htm>. Acesso em: 02 fev. 2016

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Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social deve-se

utilizar a ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que

ameaçam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais e para o bem

comum da humanidade.

ECO-92 expôs, os princípios da prevenção do meio ambiente6:

(...) omissis Princípio 8 Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida

mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões

insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas

adequadas.

Todos os princípios mencionados acima foram desenvolvidos com a finalidade de

prevenir qualquer ato contra o meio ambiente e seus efeitos negativos, todos com o dever de

prevenir qualquer ato lesivo ao equilíbrio ambiental.

O princípio 18 da carta de Estocolmo é bem claro quando coloca que a ciência deve

vir com o único objetivo de descobrir erros, evitar catástrofe no meio ambiente e combater os

riscos em que a população é colocada. Já o princípio 8 da ECO-92 trata do desenvolvimento

sustentável e da qualidade de vida mais elevada para todos.

Esse método se encaixa perfeitamente aos consumidores brasileiros, pela falta de

qualidade de vida, moradia, saneamento básico, educação, saúde, alimentos. Portanto, é o

conjunto de condições que contribuem para o bem físico e espiritual dos indivíduos em

sociedade.

A prevenção é o princípio que fundamenta e que mais está presente em toda a

legislação ambiental e em todas as políticas públicas de meio ambiente.

Assim a Lei 6.938/81, determina que:

Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas

relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o

uso racional de recursos ambientais; V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e

informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a

necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.

A referida lei elenca entre os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente a

racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar, o planejamento e fiscalização do

uso dos recursos ambientais, a proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas

6 Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acessado em: 02 fev. 2016

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representativas, os incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso

racional e a proteção dos recursos ambientais, o acompanhamento do estado da qualidade

ambiental, a proteção de áreas ameaçadas de degradação e a educação ambiental a todos os

níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para

participação ativa na defesa do meio ambiente.

Devido a essas características do dano ambiental, a Constituição Federal reconheceu

que deve ser dada prioridade às medidas que impeçam o surgimento degradações ao meio

ambiente. A CF/88 inseriu no art. 225 em seu caput e § 1º, inciso I e II a preocupação com a

preservação do nosso meio ambiente ecologicamente equilibrado, para as atuais e futuras

gerações inserindo como responsáveis por essa sustentabilidade o Poder Público e a

coletividade:

(...) omissis § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

A prevenção é conquistada com atualizações periódicas em pesquisa, pois, os

ecossistemas e a modernização das práticas comerciais estão em contínuo dinamismo. Logo,

não se sabe quais os alimentos transgênicos que podem contribuir para a má nutrição ou até

mesmo realizar uma nutrição acima do pretendido, é necessário estar constantemente atento

aos estudos técnicos e científicos para que se defina se o alimento é benéfico ou maléfico ao

consumidor.

Assim, a política ambiental precisa estar em constante movimento e

aperfeiçoamento, pois isso só trará prejuízos ao equilíbrio ambiental e a não estagnação em

relação aos estudos poderá contribuir para a sadia qualidade de vida.

A sociedade deve se organizar no sentido de reivindicar sempre do Poder Público

medidas adotadas na preservação ambiental para, caso necessário, sejam formuladas novas

formas de proteção.

3.3 PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO

É fundamental a importância de princípios jurídicos norteadores de uma determinada

temática dentro do estudo de qualquer disciplina jurídica, sendo imprescindíveis a menção e

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estudo dos princípios norteadores da matéria ora abordada. Derani (2007, p. 47) sustenta o

entendimento ora explanado, quando afirma que ―os princípios são construções teóricas que

procuram desenvolver uma base comum nos instrumentos normativos de política ambiental‖.

Milaré (2007, p. 109) ressalta que:

Um princípio deverá ter fundamentação ampliada para outras ciências, não podendo

ser exclusivo de uma ciência. Contudo, isto somente é possível quando se trata de

princípios gerais, não dotados de muita especificidade. Do contrário resta impossível

que seus preceitos sejam emprestados a outras disciplinas.

O Direito Ambiental é um direito que tem uma das vertentes de sua origem nos

movimentos reivindicatórios dos cidadãos e, como tal, é essencialmente democrático. O

princípio democrático materializa-se por meio dos direitos à informação e à participação.

Logo os cidadãos detêm o direito pleno de participar na elaboração das políticas

públicas ambientais e de obter informações dos órgãos públicos sobre matéria referente à

defesa do meio ambiente e de empreendimentos utilizadores de recursos ambientais e que

tenham significativas repercussões sobre o ambiente. Assim menciona a Organização das

Nações Unidas (ONU), por intermédio da Conferência ECO/92:

Princípio 10: A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a

participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível

nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio

ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca

de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade

de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a

conscientização e a participação popular, colocando as informações à

disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e

administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos. (gn)

Neste sentido, Diniz (1998, p. 52) explica:

Forma de governo em que há participação dos cidadãos, influência popular no

governo através da livre escolha de governantes pelo voto direto. É o sistema que

procura igualar as liberdades públicas e implantar o regime de representação política

popular, é o Estado político em que a soberania pertence à totalidade dos cidadãos.

Para Bonavides (1999, p. 267):

Variam, pois, de maneira considerável as posições doutrinárias acerca do que

legitimamente se há de entender por democracia. Afigura-se-nos porém que

substancial parte dessas dúvidas se dissipariam, se atentássemos na profunda e

genial definição lincolniana de democracia: governo do povo, para o povo e pelo

povo; governo que jamais perecerá sobre a face da Terra.

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Depreende-se, do exposto acima que há a obrigatoriedade da participação do povo,

no preâmbulo da CF/88 fica claro a necessidade de se expressar a legitimidade, com o

objetivo de deixar explícito sua formação a partir da vontade soberana do povo.

A expressão Estado Democrático tem por objetivo identificar os valores políticos e

sociais que estão orientando todo conteúdo do texto constitucional.

Neste sentido, a CF/88 afirma que:

Art.1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos: I - A soberania; II - A cidadania; III - A dignidade da pessoa humana; IV - Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - O pluralismo político; Parágrafo Único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de

representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Desse modo, qualificada como estado democrático, bem como se mostram as bases

da política econômica e social adota pela CF/88, ainda neste sentido, o art. 3º tem por objeto

as metas a serem desenvolvidas por ações governamentais, por meio de políticas públicas,

visando à construção de uma sociedade livre justa e solidaria, garantido o desenvolvimento

nacional, a fim de buscar erradicar a pobreza e a marginalização e, ainda, de reduzir as

desigualdades sociais e promover o bem sem qualquer distinção.

Portanto, o princípio básico do funcionamento da democracia moderna é o direito

dos cidadãos em participarem dos assuntos de interesse coletivo a partir do voto, cuja

principal função é a escolha de representantes. Os representantes eleitos dispõem de poderes

que lhes são delegados pelos cidadãos para cuidar dos assuntos políticos da sociedade.

Destaca-se, dessa maneira, a importância dos novos caminhos da democracia,

necessariamente, pelo fortalecimento em busca de soluções a partir dos processos de

comunicação e interação. Habermas, (2003, p 58) afirma que:

Uma ordem jurídica não pode limitar-se apenas a garantir que toda pessoa seja

reconhecida em seus direitos por todas as demais pessoas; o reconhecimento

recíproco dos direitos de cada um por todos os outros deve apoiar-se, além disso, em

leis legítimas que garantam a cada um a liberdade igualitária, de modo que ‗a

liberdade do arbítrio de cada um possa manter-se junto com a liberdade de todos‘.

As leis morais preenchem esta condição per si; no caso das regras do direito

positivo, no entanto, essa condição precisa ser preenchida pelo legislador político.

No sistema jurídico, o processo da legislação constitui, pois, o lugar propriamente

dito da integração social. Por isso, temos que supor que os participantes do processo

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de legislação saem do papel de sujeitos privados do direito e assumem, através de

seu papel de cidadãos, a perspectiva de membros de uma comunidade jurídica

livremente associada, na qual um acordo sobre os princípios normativos da

regulamentação da convivência já está assegurado através da tradição ou pode ser

conseguido através de um entendimento segundo regras reconhecidas

normativamente.

Cumpre destacar a proposta do autor mencionado acima, este propõe a mudança de

posicionamento do cidadão, sustentando a necessidade de este passar de observador para

participante ativo na tomada de decisões do processo democrático.

A parceria formada entre Estado e particulares, entre indivíduo e coletividade,

prevista no caput do art. 225 da Constituição Federal de 1988, no tocante à preservação do

meio ambiente e em outros dispositivos, na normatização de matérias diversas, configura o

preceituado Estado Democrático Participativo.

Canotilho (2010, p. 282) menciona que:

O exercício da participação popular nas decisões estatais está estreitamente

relacionado com a democracia, sendo uma vertente desta, consoante se depreende do

excerto ora destacado: Em primeiro lugar, o princípio democrático acolhe os mais

importantes postulados da teoria democrática - órgãos representativos, eleições

periódicas, pluralismo partidário, separação de poderes. Em segundo lugar, o

princípio democrático implica democracia participativa, isto é, estruturação de

processos que ofereçam aos cidadãos efetivas possibilidades de aprender a

democracia, participar nos processos de decisão, exercer controle crítico na

divergência de opiniões, produzir inputs políticos democráticos

A importância do exercício do direito à participação pela sociedade no atual

momento, bem como a necessidade de estruturar um sistema que permita que tal participação

realmente ocorra e possa ter eficácia.

Duarte (2003, p. 213) certifica que:

O início do século XXI traz a necessidade de um novo modo de tratamento da

questão ambiental, onde seja permitido – de fato – o exercício de uma democracia

ambiental, essência da consolidação de um Estado Democrático do Ambiente. Como

já visto, o processo de enfraquecimento estatal e a globalização econômica trazem

indubitavelmente, como consequência, a abertura de espaços para a atuação de

atores não governamentais, para o crescimento da esfera pública autônoma (ONG‘s,

movimentos ambientalistas e grupos sociais) na formulação e execução da política

ambiental, levando a um realinhamento do poder a partir do exercício de uma

verdadeira democracia na condução dos problemas ambientais. A democratização da

sociedade contemporânea é capaz de recolocar no debate valores e interesses

universais.

Desde a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em

2005 pela Lei nº 11.105 de 24 de março, as multinacionais da biotecnologia têm se

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beneficiado com aprovações consecutivas e sem exceção de todos os pedidos de liberação de

variedades transgênicas no Brasil.

Entre 2005 e o final de 2009, a CTNBio deu carta branca ao plantio comercial de

duas variedades de soja, dez variedades de milho e seis variedades de algodão, e poderá

liberar uma variedade de arroz da multinacional Bayer, fato que colocou em risco a segurança

alimentar do País. A CTNBio tem como função prestar apoio técnico consultivo e

assessoramento ao governo federal na formulação, atualização e implementação da Política

Nacional de Biossegurança relativa aos OGMs, bem como no estabelecimento de normas

técnicas de segurança e pareceres técnicos referentes à proteção da saúde humana, dos

organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam a construção,

experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo,

armazenamento, liberação e descarte de OGM e derivado.

Os membros da CTNBio estão lá, segundo a lei, para avaliar os riscos e, assim,

deveriam ser criterioso na avaliação dos alimentos colocados no mercado.

Munõz (1998, p. 53) menciona que:

O perfil da CTNBio já começa a ser moldado na comunidade científica antes mesmo

de seus representantes integrarem seus quadros, o problema é que se dissemina no

mundo acadêmico a ideia de que a transgenia é um paradigma que veio para se

instalar. Esse paradigma está presente em todos os lares, é defendido como se fosse

uma coisa intocável, e aí muitos cientistas também já vão para a CTNBio com esse

posicionamento ideológico praticamente formado e acham que essa tecnologia é

uma tecnologia que não se discute

A CTNBio tem responsabilidade direta por qualquer contaminação das lavouras

convencionais e industriais, e em especial o colegiado por aprovar todos os produtos que lá

são apresentados pelas empresas. No entanto, as pesquisas são escassas, dessa forma a

gravidade é acentuada, pois esse produto deveria ter todos os testes possíveis para a devida

liberação, e ao não realizar tais testes colocam em risco quem os consomem. Desta forma, os

consumidores querem democracia tanto na liberação dos alimentos quanto ao acesso às

informações sobre as pesquisas desenvolvidas pelas empresas.

Um dos métodos da CTNBio é manter sigilo sobre as partes da pesquisa que seriam

tratadas como segredo industrial. Portanto, não deve ser de conhecimento como é produzido o

alimento. Deste modo, os consumidores, cientistas ou qualquer pessoa que tenha o interesse

sobre o assunto fica de mãos atadas sobre o que realmente é aquele produto, se faz bem ou

mal para o consumo, se o meio ambiente é ou não afetado em decorrência disso.

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Se o princípio da democracia fosse respeitado pelas autoridades, pelas

multinacionais, pelo capitalismo, todo e qualquer cidadão saberia que tipo de produto está

sendo colocado para seus familiares. Logo, deveria haver uma participação democrática e

efetiva para o bem da coletividade.

Em suma, o princípio democrático encontra-se na ampla aplicabilidade do direito de

uma forma global, contendo o sistema jurídico brasileiro determinações expressas no sentido

de viabilizar a aplicação no contexto das políticas ambientais. Portanto, a busca incessante

pelo crescimento, sem a devida cautela, conduz a uma exploração desmedida do planeta terra

e afeta a milhões de pessoas.

3.4 PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE

Ao longo da História o homem vem desempenhando sua atividade sem a devida

observância dos impactos negativos sobre o meio ambiente, em razão disso o

desenvolvimento sustentável deve ser analisado sob a ótica dos fatores ambientais, biológicos,

jurídicos, econômicos, físicos e culturais.

Só a efetivação do Princípio da Sustentabilidade permitirá a busca eficaz de uma

sociedade sustentável. Para isso, a sociedade deve ser vista pelos três pilares: crescimento

econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Estes devem ser entendidos

conjuntamente, na busca de um ponto de equilíbrio harmônico entre o homem e a natureza.

Desta forma Silva (2006, p. 91) explica que:

Princípio é mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição

fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e

servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por

definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e

lha dá sentido harmônico.

Os princípios do direito ambiental foram progredindo paulatinamente e evoluindo a

partir deles diversos conceitos do Direito Ambiental. Assim, afirma Comissão Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, (CMMAD), (1991, p. 46):

O ecodesenvolvimento por ser um termo mais difícil para debates em conferências

foi substituído em 1987, na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. No relatório, o presidente da comissão GroHarlemBrundtland,

utilizou e definiu Desenvolvimento Sustentável, como sendo aquele

desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a

possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades.

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Dentro desta perspectiva, a melhor alternativa vista até agora é o modelo de

desenvolvimento sustentável, como uma saída aplicável em diversos níveis da cadeia de

produção. Posto isto, o novo paradigma é o avanço desenfreado da biotecnologia nos

processos de manipulações genéticas dos alimentos. Esse novo modelo de desenvolvimento

interfere justamente na constituição fisiológica de vegetais, animais e do homem, assim como

altera toda uma cadeia alimentar, sendo necessária a reflexão dos critérios éticos, do

desenvolvimento sustentável, dos efeitos das normas de segurança alimentar, da

responsabilidade jurídica e dos princípios norteadores de proteção ao consumidor.

A CF/88, em seus artigos 170, inciso VI e 225, o primeiro artigo está inserido no

Capítulo que trata da Ordem Econômica e Financeira e o segundo no Capítulo Do Meio

Ambiente, ambos se referem ao desenvolvimento econômico e social desde que observada a

preservação e defesa do meio ambiente para as presentes e futuras gerações:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os seguintes princípios: (...) omissis VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme

o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e

prestação; (...) omissis

É nesse princípio que a legislação ambiental funciona como instrumento de

intervenção na ordem financeira e econômica. O princípio do desenvolvimento sustentável

tem como substância a conservação dos alicerces da produção e reprodução do homem e suas

atividades, conciliando o crescimento econômico e a conservação do meio ambiente, numa

relação harmônicas entre os homens e os recursos naturais para que as futuras gerações

tenham também oportunidade de ter os recursos que se têm hoje, em seu equilíbrio dinâmico.

O desenvolvimento sustentável tem o objetivo tentar harmonizar a preservação dos

recursos ambientais e o desenvolvimento econômico. Para isso, busca soluções para que, sem

causar o esgotamento desnecessário dos recursos naturais, exista a possibilidade de garantir

condições dignas e humanas de vida, possibilitando uma melhor distribuição de renda.

O princípio do direito ambiental ligado ao direito econômico é elemento de

fundamental importância para a utilização lógica dos recursos naturais e possibilita uma

apropriação racional. Diante da necessidade de apropriação racional foi editada a Política

Nacional do Meio Ambiente, Lei 6.938/81, que assim conceitua o meio ambiente:

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Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,

melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,

no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança

nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (...) omissis Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem

física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

formas.

Deste modo a PMNA afirma que:

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I - à compatibilização do desenvolvimento econômico social com a preservação da

qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico

Assim sendo, a declaração do RIO/92 dispõe no princípio 4º: ―para se alcançar o

desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do

processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste‖.

Todo esse cuidado faz-se necessário uma vez que os recursos ambientais são

esgotáveis e os recursos naturais são essenciais para a manutenção da vida humana na Terra.

Esgotados esses recursos romper-se-á a rede da vida terrestre, esgotando-se também as

possibilidades de existência humana no planeta, rompendo, portanto, o equilíbrio ecológico.

Desta forma, é inaceitável que as atividades econômicas, sociais e principalmente ambientais,

se desenvolvam alheias a esses fatos.

Neste sentido, o princípio da sustentabilidade tem como função primordial a de

proporcionar desenvolvimento humano, distribuição justa dos recursos naturais, desenvolver

trazendo saúde e qualidade de vida com as conexões entre economia, ecologia, tecnologia,

política e sociedade. São exemplos de políticas sustentáveis: agricultura orgânica, manejo

florestal, reciclagem, produção de energia limpa, etc.

Segundo, Capra (2005, p. 17):

O principal desafio deste século – para os cientistas sociais, os cientistas da natureza

e todas as pessoas – será a construção de comunidades ecologicamente sustentáveis,

organizadas de tal modo que suas tecnologias e instituições sociais – suas estruturas

materiais e sociais – não prejudiquem a capacidade intrínseca da natureza de

sustentar a vida.

Assim, busca-se o crescimento econômico, o desenvolvimento social e

paralelamente, a defesa e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, na natureza

tudo funciona em perfeita harmonia, seus eventos são cíclicos, enquanto que a economia se

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comporta de maneira linear. Um impacto provocado pelo homem poder fazer um efeito

cascata em toda a cadeia, afetando inclusive o próprio homem, pela interdependência e

interconexão dos seres vivos e os elementos do planeta.

Canotilho (2007, p. 192) afirma que:

Essas atividades, em larga escala, acabaram por formar uma sociedade de risco onde

havia um excesso de uso dos recursos naturais, sem a preocupação com as possíveis

consequências daqueles atos para a natureza e para as gerações futuras. Entretanto, o

estado percebe que estava diante de uma situação perigosa e passa a disseminar a

ideia de sustentabilidade, um Estado de Direito Ambiental.

Nesse contexto, tem-se que o princípio da sustentabilidade tem a intenção de

proteger o bem jurídico ambiental não apenas para a presente geração, mas também para as

futuras, constituindo-se um direito intergeracional, de modo a demonstrar a importância do

legado ambiental para as futuras gerações.

Adicionalmente esse princípio visa proteger o bem-estar da coletividade, regulando

os excessos da produção econômica. Na balança entre desenvolvimento econômico e proteção

ambiental, sempre almejando o meio termo, sem que a sustentabilidade seja afetada, mas

também não impedindo o crescimento econômico. Isso se faz com auxílio dos estudos de

impacto ambiental, que pressupõem além da análise dos impactos ambientais, também a

análise dos impactos sociais dos empreendimentos, sejam eles positivos ou negativos.

Milaré (2014, p. 172):

Independentemente do resultado dos estudos, a ordem econômica brasileira tem

como um de seus princípios a defesa do meio ambiente, conforme prevê a CF/88.

Sendo assim, por mais que no âmbito de crescimento econômico certa atividade

traga benefícios, os riscos assumidos no meio ambiente devem ser mensurados.

Ainda nesse sentido, quando há dúvida sobre possíveis riscos e danos da atividade,

deve prevalecer a proteção ambiental.

O desenvolvimento sustentável vai de encontro com os interesses do capitalismo

desenfreado em que vivemos, pois aquele tem metodologia voltada ao consumo consciente,

reutilização de matéria primas e produtos, visa garantir a nossa geração e as futuras em um

meio ambiente ecologicamente equilibrado e uma sadia qualidade de vida. O capitalismo

prega o consumismo desenfreado, sem pensar no futuro.

Com tantas ameaças ambientais, surge a necessidade de novas políticas que

promovam o desenvolvimento econômico sem dizimar a natureza, e colocar milhões de vida

em risco. Dentro dessa perspectiva, a melhor alternativa vista até agora é o modelo de

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desenvolvimento sustentável. Esta é uma saída aplicável em diversos níveis da cadeia de

produção desde a agricultura a grandes indústrias.

O desenvolvimento sustentável tem como função proporcionar desenvolvimento

humano; distribuição justa dos recursos naturais; desenvolver trazendo saúde e qualidade de

vida com as conexões entre economia, ecologia, tecnologia, política e sociedade. Podem ser

citados exemplos de políticas sustentáveis: agricultura orgânica, manejo florestal, reciclagem,

produção de energia limpa, etc.

Destarte, o princípio da sustentabilidade tem por conteúdo a manutenção das bases

vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma

relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente, para que as futuras gerações

também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos colocados à disposição. Deste

modo, para que tudo isso aconteça, deve-se elaborar ações que ampliem as informações para

que os cidadãos tenham a ciência como aliada na construção de um planeta sustentável.

3.5 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

O Princípio da Informação diz respeito ao direito de todo cidadão ter as informações

que julgar necessárias sobre o ambiente em que vive e a ninguém é dado o direito de sonegá-

las, haja visto que possam gerar danos irreparáveis à sociedade, prejudicando o meio

ambiente, que além de ser um bem de todos, deve ser sadio e protegido pela coletividade,

inclusive pelo Poder Público.

Este princípio vem sendo trabalhado muito antes da CF/88. A Declaração de

Estocolmo, desde 1972, expõe a importância da educação ambiental em seus princípios:

Princípio 19 - É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais,

dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao

setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião

pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das

coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e

melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente

essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a

deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de

caráter educativo sobre a necessidade de protege-lo e melhorá-lo, a fim de que o

homem possa desenvolver-se em todos os aspectos. (gn)

A participação da sociedade na elaboração e implementação de políticas públicas

ambientais somente é possível quando há informações suficientes acerca da qualidade do

meio ambiente. Desse modo, as informações ambientais devem ser sistematicamente

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transmitidas à sociedade, não podendo se restringir, para que não ocorram acidentes ou

desastres ambientais.

O direito à informação ambiental é essencial para proteger efetivamente o meio

ambiente, pois constitui um instrumento do cidadão para que, ciente dos problemas já

existentes, potenciais e da repercussão de novas políticas públicas participe e contribua junto

ao Poder Público. Entre os princípios do Direito Ambiental, o da informação ambiental

dificilmente é um dos mais aclamados.

Mas esse posicionamento vem mudando nos últimos anos, tendo em vista os

desastres ambientais ocorridos pela falta de cautela do homem e pelo fato de aplicabilidade de

alguns outros princípios que já foram aqui mencionados, prevenção, precaução etc.

O que está fortalecendo a efetividade desses princípios, no Brasil, é a crescente

atenção dos meios de comunicação à causa ambiental, e a necessidade da implementação e

efetivação das políticas públicas existentes, como a de educação ambiental.

Logo, a Carta Magna traz diversos dispositivos que tratam do direito genérico à

informação, que podem ser igualmente utilizados na esfera do Direito Ambiental. Como

referido, o princípio da informação é consagrado na CF/88, no rol dos direitos fundamentais:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes: (...) omissis XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,

quando necessário ao exercício profissional.

Portanto , esse dispositivo garante, na verdade, o acesso de todos a qualquer forma de

informação, incluindo a ambiental, cuja importância é demonstrada no fato de que constitui

direito difuso, de todos, em que o cidadão é, ao mesmo tempo, titular e destinatário desse

direito, conforme a sua posição.

O direito à informação tem sua continuidade na Lei Suprema, ainda no rol do direitos

fundamentais:

(...) omissis XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu

interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo

da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

Ainda, implicitamente, a informação ambiental está prevista na Carta Política:

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Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) omissis VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

É um dever perante a coletividade a manutenção da vida com qualidade, a ampla

informação ambiental é um fator essencial em uma sociedade na qual se visa à transparência,

à publicidade e à prevenção de danos futuros. A atribuição de direitos e deveres pressupõe

também o valor de solidariedade, sobre o qual paira a responsabilidade comunitária nos

indivíduos, alicerçada em uma dimensão participativa e social.

Em suma, apenas dessa maneira poderá caminhar rumo a um desenvolvimento

sustentável, quando governos, indústrias, ciência e população unirem esforços, pois o futuro

de todos depende de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Deste modo, somente

mediante a conscientização induzida pela educação/informação é que se forma uma sociedade

ciente da importância de proteger o ambiente natural, capaz de cumprir a obrigação

constitucional de protegê-lo e preservá-lo.

Depreende-se, do contexto apresentado que as multinacionais que trabalham

diretamente com os alimentos transgênicos devem informar aos consumidores por meio da

rotulagem desses mantimentos, facilitando, inclusive, a rastreabilidade do produto no caso de

comprovação de um determinado dano.

Dessa forma, verifica-se a importância de adequar as informações na rotulagem de

produtos destinados ao consumo humano, pois sua falta pode induzir o consumidor a adquirir

e consumir determinado produto de forma equivocada.

A inexistência de informação adequada configura, ainda, publicidade enganosa por

omissão, expressamente proibida pelo CDC:

Art. 37 É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter

publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por

omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,

características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer

outros dados sobre produtos e serviços.

Logo, o princípio da informação é divido em três modalidades: direito de informar,

direito de se informar e o direito de ser informado.

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O direito de informar é uma prerrogativa constitucional, isto é, uma permissão

concedida às pessoas físicas e jurídicas. Conforme exposto no texto magno:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob

qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o

disposto nesta Constituição.

Almeida (2000, p. 198) explica que com a ―norma constitucional do direito de

informar aparece com uma prerrogativa, tem-se uma espécie de paradoxo: permissão dos dois

lados. O direito de informar tem relação com o direito de ser informado‖.

Já no direito de se informar, é necessária como premissa a existência da informação,

para reconhecer o direito de se informar como uma prerrogativa concedida às pessoas. Por

isso, decorre do fato da existência da informação.

Estabelece Nunes (2009, p. 51) que:

O direito de se informar é ―uma prerrogativa concedida às pessoas‖ correlacionado

ao acesso da informação existente, sendo resguardado o sigilo profissional previsto

no artigo 5º, XIV, da Constituição Federal. Em caso de negativa de acesso à

informação, deve-se promover habeas data, consoante dispõe o artigo 5º, LXXII, da

Constituição.

E, por fim, o direito de ser informado nasce sempre do dever que alguém tem de

informar. No âmbito constitucional, o direito de ser informado é menos amplo do que no

sistema infraconstitucional de defesa do consumidor.

O texto magno estabelece que os órgãos públicos tem o dever de informar. Em outra

seara, aborda sobre o dever de informar das pessoas em geral e das pessoas jurídicas com

natureza jurídica privada, somente o Código de Defesa do Consumidor estabelece tal

obrigatoriedade ao fornecedor.

Segundo Nunes (2009. P. 52): ―Além disso, como a informação está ligada ao

princípio da moralidade, é de extrair daí o conteúdo ético necessário que deve pautar a

informação fornecida.‖

Dessa maneira, o consumidor pode sofrer danos por defeito não necessariamente do

produto, mas da informação inadequada ou insuficiente que o acompanhe ou, ainda, pela falta

de informação.

Verifica-se, portanto, que a rotulagem de transgênicos, no Brasil, não é novidade no

ordenamento jurídico nacional, sendo que o Decreto n. 4.680, de 24 de abril de 2003

determinou a criação de um símbolo para a rotulagem desses produtos, um triangulo com um

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fundo amarelo e com a letra ―T‖ em maiúsculo, assim, foi definido por meio da Portaria do

Ministério da Justiça n. 2.658, de 22 de dezembro de 2003.

Portanto, os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano

que contenham, ou seja, que sejam produzidos a partir de organismos geneticamente

modificados, com presença acima do limite de um por cento do produto, devem conter

informação acerca da natureza transgênica desse produto.

Logo, o Decreto nº 4.680/03 regulamenta, in verbis:

Art. 2º Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao

consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de

organismos geneticamente modificados, com presença acima do limite de um por

cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica

desse produto. (gn)

No caso dos alimentos transgênicos, percebe-se o quão é necessário e essencial que o

consumidor seja informado quanto à origem e à composição dos produtos geneticamente

modificados, por meio da informação na rotulagem dos alimentos transgênicos e assim

realizando a comparação em outros países considerados de primeiro mundo.

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4 DIREITO COMPARADO E ROTULAGEM

A rotulagem de alimentos no Brasil e noutros países do terceiro mundo, quando

comparada com a rotulagem praticada nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa, incluindo

mesmo países como Portugal e Grécia é uma verdadeira ofensa aos direitos do consumidor, à

livre economia e à saúde pública.

Se é chocante a disparidade do rótulo de um refresco brasileiro em relação a um

norte americano, inacreditável é o fato de que, muitas vezes, tratam-se de produtos de um

mesmo fabricante multinacional que realiza vendas no Brasil ou no Estado Unidos da

América, adota a mesma embalagem, a mesma marca, o mesmo design e até o mesmo rótulo,

mas é flagrante a diferença entre os países que os comercializam, pois apresentam

informações sobre ingredientes utilizados, aditivos presentes, valor nutricional, prazo de

validade, etc.

É certo, e deve-se reconhecer, que a questão rotulagem de alimentos, em muitos dos

seus aspectos, é complexa, polêmica e delicada. Outrossim, sua avaliação se prende a fatores

subjetivos, profundamente influenciados ou dependentes da percepção pública e do nível de

instrução do consumidor.

Deve-se, ainda, observar e reconhecer que, no Brasil, a rotulagem é igualmente

criticada, denunciada e combatida, o que também acontece na Europa embora seja primeiro

mundo. E de toda forma, a preocupação encontra-se em verificar se os fabricantes estão ou

não cumprindo as normas vigentes em cada um dos países, já que as leis existem para serem

mudadas, ajustadas às novas condições.

A questão da rotulagem pode ser complexa, pode ser subjetiva e, ainda, podem os

fabricantes estarem agindo em conformidade com a lei. De início pretende-se afirmar que

uma coisa é óbvia e a ela não se pode negar o consenso: existem duas, distintas, claras e

indiscutíveis formas de se rotular alimentos, muitas vezes é o mesmo alimento e do mesmo

fabricante. Uma forma, ainda que exigindo aperfeiçoamentos, é aquela praticada nos países do

primeiro mundo e, outra, a praticada nos países do terceiro mundo, que de lá importaram a

ideia dos alimentos industrializados e, quase sempre, importaram também os equipamentos, a

tecnologia, os ingredientes, os aditivos, o design da embalagem, a programação visual do

rótulo, a marca, a logomarca, o logotipo, tal forma que, à média distância, é impossível

distinguir a origem, se é brasileira, boliviana ou inglesa de um refrigerante em lata, de um

sucrilho de milho ou de um pó para refresco.

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Já as informações ao consumidor, essas não foram trazidas, traduzidas e inseridas

nos rótulos dos alimentos utilizados no Brasil. Para provar essa afirmativa existe uma

listagem de exemplos, divididos em tópicos como: rotulagem de alimentos para dietas

especiais, rotulagem de ingredientes, rotulagem de alimentos naturais, rotulagem nutricional e

rotulagem de aditivos.

Já na Europa e Estados Unidos é importante salientar que desde 2003 a doutrina já

aponta para o tema como o mais polêmico, por envolver questões de cunho econômico e

político. ParaVarella (1998, p. 29) ―No cenário internacional, percebem-se desde o início das

negociações, intensas disputas entre a Comunidade Europeia e os Estados Unidos com relação

à harmonização das regras de segurança biológica em todo o mundo‖. Ou seja, cada local

tenta fazer valer o seu ponto de vista, levando em consideração que nos Estados Unidos a

posição da população é francamente favorável aos alimentos GMs, e na Europa tem havido

resistência sistemática.

Para tentar evitar que maiores danos pudessem ocorrer, começaram a exigir que os

países que aderissem aos transgênicos deveriam, obrigatoriamente, rotular produtos que

sofressem modificações genéticas. O consumidor americano não se importa em demasia com

os produtos derivados da biotecnologia.

Os Estados Unidos, a Argentina, o Canadá e a China são os maiores produtores de

transgênicos, que correspondem a cerca de quase toda produção mundial.7 Não é por outra

razão que, segundo Adriana Carvalho Pinto Vieira, ―os Estados Unidos deixam livre a

empresa para citar no rótulo ou embalagem a existência de organismo geneticamente

modificado‖.8 , conforme coloca o professor Juma, em sua palestra

9:

[...] os transgênicos acrescentaram aos EUA 98,2 bilhões dólares para o valor da

produção agrícola global de 1996 a 2011. O uso de plantas transgênicas economizou

cerca de 473.000 mil kg de ingredientes ativos de pesticidas. Também reduziu 23,1

bilhões kg ou dióxido de carbono, o equivalente a 10,2 milhões de carros das ruas.

Sem cultivos transgênicos do mundo seriam necessários mais 108,7 milhões de

hectares de terra para o mesmo nível de produção. Os benefícios para a diversidade

biológica da tecnologia têm sido, portanto, de valor inestimável. Na frente

econômica, quase 15 milhões de agricultores e suas famílias, estimadas em 50

milhões de pessoas, têm se beneficiado da adoção dos cultivos transgênicos [...]

7FLORIANI, A. Mercado de transgênicos movimenta bilhões de dólares, Disponível em:

<http://www.terra.com.br/reporterterra/transgenicos/mundo.htm>. Acesso em: 02 fev. 2016 8 NODARI, R.; GUERRA, M. P. et al. Política Nacional de Biossegurança. Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 56,

abr. 2002. Disponível em: <jus.com.br/revista/doutrina/texto.asp?id=2880>. Acesso em: 02 fev. 2016 9 JUMA, C. Um apelo para a inovação agrícola. Montreal, Canadá: McGillUniversity, 3 jun. 2013. Notícia

fornecida por Calestous Juma em palestra na Universidade de Montreal. Disponível em: <http://belfercenter.

ksg.harvard.edu/publication/23124/plea_ for_agricultural_ innovation .html>. Acesso em: 05 fev. 2016.

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O Greenpeace tem lançado constantes campanhas contra o uso dos transgênicos nos

Estados Unidos. O mais recente foi o documentário10

―GrowingDoubt‖, denunciando os

devastadores resultados da presença da Monsanto, nesses países, que condenou produtores a

um ciclo vicioso e destrutivo. A ideia é que essa realidade sirva de exemplo e impeça a

ampliação das permissões de cultivo transgênico na Europa e o não cumprimento da

rotulagem em todos os alimentos.

Convém ressaltar que cada país estipulou regras internas por meio de acordos

internacionais para tratar da segurança dos consumidores quanto aos transgênicos, assim a

rotulagem de alimentos passou a ser regulamentada internacionalmente pelo

CodexAlimentarius.

A Comissão do Codex Alimentarius estabelece normas de segurança alimentar, e por

meio dessas normas, criou-se um código de prática no qual se pode verificar as informações

quanto às substâncias liberadas para os consumidores adquiram alimentos mais seguros. O

Codex serve de ponte para questões de interesse público, relacionadas à sanitariedade e do

tipo fitossanitariedade, prevenindo a segurança alimentar para seguir as normas da

Organização Mundial do Comércio, (OMC).

O Codex, na tentativa de facilitar o acesso às informações aos consumidores, sob os

países que acolhem as variedades transgênicas, criou um banco de dados on-line11

, servindo

para mostrar quais são os países que aceitam as variedades transgênicas. A OMC não defende

a necessidade da informação nos rótulos dos alimentos transgênicos, por entender que seria

algo desnecessário, ao contrário do protocolo de biossegurança que defende o uso da

rotulagem para os alimentos.

Nos últimos tempos, muitos países adotaram políticas de rotulagem para os

alimentos geneticamente modificados impondo análise de risco à saúde humana, para a

liberação do cultivo ou produção de alimentos.

Assim, Vieira (2005, p. 79) expõe acerca da União Europeia (UE) nas questões

contra os ideais dos norte-americanos:

Por outro lado, a União Europeia não comungava da mesma ideia dos norte-

americanos, em adotar o princípio da equivalência substancial que considera o

cultivo de GM igual ao convencional. A União Europeia adota o princípio da

precaução, que considera o cultivo de GM diferente do convencional, e o percentual

10

BAMBACE, D. Plantando dúvida. 2012. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog

/plantando-dvida/blog/42687/>. Acesso em: 05 fev. 2016 11

Banco de Dados de Aprovação de Transgênicos do ISAAA. Disponível em: <http://www. isaaa.org/

gmapprovaldatabase/eventslist/default.asp>. Acesso em: 08/02/2016

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adotado pela Comunidade Europeia é o mesmo exigido no Brasil, que é um por

cento (1%).

Desta forma, a União Européia é, reconhecidamente, rigorosa no que diz respeito à

segurança dos alimentos transgênicos, razão pela qual, antes de 2004 foi proibida a circulação

de OGMs no País, sob forte rejeição social e política, o que acabou influenciando no processo

de autorização desses alimentos.

Afirma Moraes (2012, p.191) que:

A Comissão Europeia aprovou o cultivo de apenas duas espécies de transgênicos: a

batata Amflora (Basf) e o milho MON810(Monsanto), a demora nas aprovações de

cultivo pela Comissão tem se baseado em fortes argumentos sob a biodiversidade e

no princípio da precaução, o que justifica a moratória que impede novas

autorizações de variedades de transgênico no país.

Assim, devido à proibição de novas variedades transgênicas, países produtores de

transgênicos estariam cobrando uma posição mais liberal da União Europeia e a forçando a

firmar acordos que pudessem favorecer o comércio internacional, caso contrário barrariam

seus produtos trazendo enormes impactos para a economia de política internacional.

Destaca-se que a França, nesse momento, tem se posicionado por ser um País

contrário à liberação de transgênicos, tanto que passou a liderar um movimento anti-

transgênico, rotulando os alimentos naturais com o selo de GMO-free, alimento não

modificado, priorizando a rotulagem dentro do seu país de alimentos convencionais. Outro

ponto foi à proibição do milho MON810, que segundo pesquisas recentes internacionais12

essa variedade apresenta graves riscos para o meio ambiente.

O sistema de autorização exigido pela União Europeia é mais eficiente do que os

demais países. Outro ponto merecedor de destaque é que as autoridades mantêm uma ligação

estreita com as necessidades da sociedade, dando muita importância à proteção da saúde, aos

resultados da ciência no meio ambiente e, principalmente, ao direito à informação do

consumidor, diferente do que acontece no Brasil, onde o interesse econômico prevalece ao

direito de escolha do consumidor.

Na União Europeia, destacam-se alguns regulamentos concernentes à segurança

alimentar, mas por ora não serão tratadas aqui todas as diretivas que envolvem a discussão,

apenas as mais relevantes que são: Regulamento nº 1.829/2003; Regulamento nº 1.830/2003;

12

FRANÇA proíbe cultivo de milho transgênico Monsanto MON 810, disponível em:

<http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/03/15/interna_internacional,508189/franca-proibe-

cultivo-de-milho-transgenico-monsanto-mon-810.shtml>. Acesso em: 09 fev. 2016

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Regulamento nº 258/97; Regulamento nº 18/2001; Regulamento nº 178/2002; Diretiva nº

18/2001 e Regulamento nº 172/2002 do parlamento europeu.13

O Parlamento Europeu valoriza a informação nutricional dos alimentos pelo que foi

demonstrado acima, tanto que impõe a apresentação de informações nutricionais, de forma

que seja facilmente compreendida pelos consumidores14

. Cerca de 30 milhões de toneladas de

alimentos transgênicos para consumo animal são importados para a Europa todos os anos,

para alimentar suínos, aves, gado e peixes de viveiro. Grande parte da soja e do milho

utilizado é cultivada na América do Sul, incluindo o Brasil, Argentina e o Paraguai, onde o

cultivo tem sido associado a graves violações dos direitos humanos e ambientais15

.

Wasley (2014, p. 11) demonstra que:

No Reino Unido, os alimentos que contêm material transgénico para consumo têm

de ter rótulo. No entanto, comida para consumo humano que seja proveniente de

animais alimentados com dietas transgénicas – carne, peixe, leite e seus derivados –

não precisa de ser rotulada. Isto significa que os consumidores podem,

inadvertidamente, alimentar-se de produtos geneticamente modificados. Na França,

a Carrefour lançou em 2010 um sistema de rotulagem para informar os clientes que

os animais usados para produzir alimentos não foram alimentados com transgénicos.

A empresa tomou esta medida após ter verificado em sondagens que 60% dos seus

clientes deixariam de comprar alimentos nos seus hipermercados caso soubessem

que eram produzidos a partir de animais alimentados a transgênicos. Sistemas

semelhantes estão a começar a ser adaptados por outras redes europeias de

hipermercados.

Assim a identificação em qualquer fase do processo produtivo, seja processamento,

armazenamento, distribuição e comercialização, ocorre para proteger o meio ambiente de

riscos ambientais em atenção ao princípio da precaução.

Segundo Frota (2007, p. 61):

Bem diferente de como é feito no Brasil, a liberação dos transgênicos na UE torna-

se mais rigorosa, pois somente será autorizada a circulação desses produtos após se

certificarem por meio de um processo de avaliação, o qual será autorizado e rotulado

com a especificação correta, respeitando o percentual na composição que é de 1%. É

certo que o aumento maciço da utilização de herbicidas pelos agricultores poderá

trazer impactos sociais, ambientais e econômicos graves e irreversíveis no mundo.

13

UNIÃO EUROPÉIA. A íntegra das diretivas citadas neste estudo está disponível na página da União

Européia. 2013. Disponível em: <http://www.europa.eu.int/comm/food/fs/gmo/gmo_legi>. Acesso em: 09 fev.

2016. 14

REGULAMENTO (UE) N. 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro de 2011.

Jornal Oficial da União Européia, 22 nov. 2011. Disponível em: <http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/

LexUriServ.do?uri=OJ:L:2011:304:0018:0063:PT:PDF>. Acesso em: 09 fev. 2016 15

GREENSAVERS. Consumidores ingerem alimentos geneticamente modificados sem o saberem. 2014.

Disponível em: <http://greensavers.sapo.pt/2014/02/22/consumidores-ingerem-alimentos-geneticamente-

modificados-sem-o-saberem/>. Acesso em: 10 fev. 2016.

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Logo, é necessária a autorização para a instalação no mercado de OGM por meio da

segurança alimentar. A submissão ao controle permanente decorre exatamente do

descumprimento dos requisitos da produção, responsabilizando aquele que não observar as

regras provenientes de produtos derivados de OGM, o que acarretará na proibição da

comercialização do produto que não seja seguro. Dessa forma, a União Europeia tem o nítido

objetivo de proteger e melhorar o meio ambiente, em benefício das gerações presentes e

futuras.

Após tanta pressão vinda dos Estados Unidos, a União Europeia firmou uma

proposta de acordo, conhecida como o comércio Transatlântico e Parceria de Investimento

(TTIP)16

que se efetivou ao final do ano de 2013. Este acordo tornou instável as culturas e o

modo de vida dos europeus, ameaçando a segurança alimentar por permitir que outras culturas

transgênicas possam fazer nas lavouras.

O direito comparado relata as experiências em que outros continentes tem vivenciado

sobre a importância da rotulagem que possibilita o acesso dos cidadãos à informação e desse

modo contribui para a conscientização dos assuntos ambientais em respeito ao princípio da

precaução. Todos esses acontecimentos propõem uma estratégia para reforçar e orientar a

política ambiental por meio de variados instrumentos, a fim de fomentar um mercado de

produtos mais ecológicos, levando a informação sobre a sua existência ao consumidor e a

seleção, por parte destes, dos produtos que não estão dentro dos padrões. Para tanto, não deve

o consumidor limitar-se à escolha de produtos apenas pelo preço mais barato.

4.1 ROTULAGEM EUA

Com a evolução da biotecnologia e o avanço da ciência em busca pela inovação,

crescentes preocupações acerca de seu processo tem se intensificado. Impossível não ser

atingido de forma direta ou indireta pelos ditos progressos. Abordando a Biotecnologia

moderna, nota-se ainda mais em evidência sua progressão. Deve-se esse destaque pela técnica

envolta ao DNA e suas recombinações.

A sociedade contemporânea perpassa por um cenário de incertezas concernentes

desta nova tecnologia, envolta a uma realidade volátil, ora sendo apoiado seu uso e liberação,

16

ZAHRAN, G.; PRETO, C. L. Parceria transatlântica: o Acordo de Livre Comércio e Investimentos entre

Estados Unidos e União Europeia. Panorama EUA, v. 3, n. 1, abr. 2013. Disponível em: <http://www.

opeu.org.br/wp-content/uploads/2013/04/Panorama_2013_01-Abril.pdf>. Acesso em: 09 fev. 2016.

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tendo em vista o total benefício envolvido, ora sendo expostos relatos ainda não comprovados

cientificamente, nos quais certificam os malefícios ao uso dos alimentos.

Vieira afirma (2005, p. 31) que:

Uns brandiam a bandeira da segurança pública e alertavam sobre o perigo do escape

de microrganismos potencialmente perigosos para o ambiente e para a saúde.

Outros, o estandarte da liberdade de investigações e do perigo de que as instruções

de pesquisa perdessem um tempo precioso em um campo de investigação

extremamente competitivo.

Os primeiros sinais de controvérsias diante dos alimentos transgênicos e suas demais

implicações foram de fato anunciadas nos anos 90, em decorrência das primeiras colheitas de

OGMs. Surgiram mobilizações de inúmeras partes do mundo em torno do

PureFoodCampaings, identificada futuramente como Campaingn For FoodSafety,

organizações como Greenpeace, Friends oft heearth dentre outras foram as maiores

envolvidas no ato.

Percebe-se, então, que os consumidores estão cada vez mais presentes e preocupados

com a segurança relacionada aos alimentos geneticamente modificados. Muitos encontram-se

satisfeitos, entretanto em sua mesma proporção dispomos de um contingente insatisfeito, em

sua maioria devido à ausência de informações relacionadas à composição de tais alimentos,

utilizando apenas um único discurso a reivindicação de sistemas de rotulagem obrigatória.

O primeiro passo, em busca de uma regulamentação, sucedeu-se em 1986 pelo próprio

governo americano. As primeiras definições seguiram de natureza arbitrária, funcionando

com um filtro para as pesquisas e seu desenvolvimento.

Para Vieira (2005, p. 78):

Nos Estados Unidos, os principais documentos de intervenção científica apontavam

que a avaliação e o gerenciamento de riscos biotecnológicos deveriam estar

orientados e desencadeados pelo princípio do risco do produto e não da tecnologia

empregada.

Sendo assim, nos Estados Unidos, a legislação dos organismos geneticamente

modificados, desde sua produção para consumo, segue de forma flexível em comparação a

determinados países que também fazem uso de tais produtos. Os governantes americanos

acreditam que os aditivos transgênicos possuem como única função melhorar o produto, não

sendo necessária sua aprovação implicada pelo FDA (Foodand Drug Administration).

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Outro marco de suma importância, de caráter internacional, é o Protocolo de

Cartagena sobre Biossegurança, o qual foi elaborado em 2000 na convenção sobre as

diversidades biológicas das Nações Unidas e contou com a presença de 180 representantes de

distintos países. Seu desígnio surgiu da necessidade em estabelecer procedimentos advindos

ao uso e liberação adequado dos OGM's, sendo o mencionado protocolo de Cartagena um

documento norteador das diretrizes relacionadas aos Organismos Geneticamente Modificados

que possui como objetivo e abordagem o princípio da precaução em todos os seus

documentos, pareceres deliberativos, dentre outros relacionados aos OGM's, levando sempre

em consideração as incertezas científicas sobre os possíveis impactos ambientais, econômicos

e sociais advindos de sua utilização.

Vieira (2005, p. 72) afirma que ―o protocolo teve a finalidade de estipulação de

regras internacionais de biossegurança‖. A adoção do Protocolo constitui-se em uma

importante ferramenta de cunho normativo internacional, suas especificações seguem de

acordo com a necessidade de conservação do meio ambiente e da saúde dos envolvidos,

sempre buscando a promoção do comércio internacional. Teve como premência internacional

o debate dos procedimentos que serão usados na introdução dos OGM‘s em outros países.

Busca garantir aos determinados interessados que tenham as informações necessárias para as

decisões antes de aceitarem a importação de organismos geneticamente modificados (OGMs)

para seu território.

Portanto, o protocolo de Cartagena servirá como instrumento fundamental na

regulamentação do comércio internacional de produtos transgênicos, tratando-se, dessa forma,

de um instrumento normativo de caráter internacional que tem por objetivo proteger os

direitos humanos, muito embora as demais definições de cunho regulatório sobre os OGM's

oscilem de acordo com a posição de cada país em relação ao que eles consideram ser

elemento de risco para os envolvidos.

No Canadá, Estados Unidos, dentre outros países, por exemplo, se tem utilizado uma

legislação mais branda, sendo seguida por uma característica menos rigorosa. A rotulagem dos

alimentos geneticamente modificados segue por um caráter estratégico, geralmente de forma

voluntária, em busca da garantia de esforços para ajudar a indústria no desenvolvimento de

padrões para implantação de sistemas de rotulagem sólido.

Em setembro de 1999, o governo canadense anunciou que iria apoiar o Canadian

Grocery Distributors Council e o Canadian General Standards Board, a fim de desenvolver

um padrão canadense para a rotulagem voluntária dos alimentos transgênicos. O CGSB

buscava criar uma comissão de alimentos composta das partes interessadas da indústria,

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produtores e consumidores, que estava prevista para relatar recomendações em 2000, mas o

acordo foi adiado pela necessidade de consenso entre todas as partes envolvidas.

Nos EUA, foi anunciada uma adaptação à legislação já existente, em busca da

inclusão de outros produtos também originados da biotecnologia. Uma avaliação científica

estabelecida por um comitê global, o Escritório de Políticas de Ciência e Tecnologia (Office of

Science and Technology Policy), independente do sistema de regulação biotecnologia,

realizou reuniões públicas em dezembro de 1999, destacando diversas problemáticas, como

por exemplo as preocupações do público quanto à falta de etiquetas informativas a respeito

dos componentes utilizados para o preparo daquele determinado alimento.

Em seguida, a OSTP designou responsabilidades entre as diversas agências

reguladoras, sendo elas a FDA, a Environmental ProtectionAgency (EPA) e o United States

Department of Agriculture (USDA).

O USDA em parceria com os Serviços Reguladores de Biotecnologia (BRS), do

Animal and Plant Health Inspection Service (APHIS), encontra-se focado principalmente em

virtude da preservação do meio ambiente, agricultura e suas implicações advindas da

manipulação da tecnologia, destinando-se a regulamentar as plantas obtidas por engenharia

genética antes de sua liberação para o meio externo, incluindo desde seu processo de

importação, as circulações interestaduais, os testes de campo e, naturalmente, o cultivo

comercial.

Em cooperação, a FDA tem por finalidade a fiscalização e a garantia relacionadas à

segurança dos alimentos geneticamente modificados e ao seu fornecimento, seus

determinantes focados na composição dos organismos geneticamente modificados, levando

sempre em consideração a procura pela presença de alérgenos e de toxinas novas ou alteradas.

A FDA, desde o princípio, segue acompanhando a jornada acerca dos OGMs, seu primeiro

passo se deu com o produto comercializado, a insulina humana em 1982 e, em seguida, o

primeiro alimento, a quimosina, para fazer queijo, em 1990. A FDA também tratou da

primeira aprovação de um produto alimentar, o tomate FlavrSav em 1994.

Por fim a EPA - Environmental Protection Agency é o órgão responsável pela

comercialização, distribuição e avaliação dos agrotóxicos, que são compostos orgânicos

capazes de banir o desenvolvimento dessas pragas em plantações, com especial atenção para

com a saúde humana e ao ambiente, e definindo os limites residuais próprios desses

pesticidas, em busca de uma total preservação do meio ambiente.

Outro ponto importante, também destacado, além da ausência de padrão para com a

rotulagem foi acerca do DNA recombinante e seu risco, sendo comprovada sua influência aos

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seres humanos. Sendo assim, determinou-se que a regulamentação deve, exclusivamente,

concentrar-se sobre os malefícios dos produtos, e não a respeito dos processos utilizados

durante seu preparo e manuseio, portanto, os produtos de DNA recombinantes não

necessitariam de regulamentação, uma vez que o FDA determinou que esses alimentos

apresentem substancias equivalentes aos alimentos não modificados geneticamente. Vieira

(2005, p. 75) diz que: ―substancias equivalentes é quando o alimento transgênico ou

ingrediente alimentar é substancialmente equivalente ao análogo convencional, exceto por

algumas diferenças‖.

As empresas convenceram o FDA a definir como alimentos transgênicos, aqueles

substancialmente equivalentes aos alimentos tradicionais, que por fim dispensam os

produtores a submeterem-se a fiscalização da Agência de Proteção Ambiental (EPA), não

sendo, pois, o consumidor informado sobre sua composição.

Após 20 anos, desde os primeiros relatos introduzidos pela Food and Drug

Administration (FDA), ocorreu a primeira proposta na qual foi solicitada a inclusão, em

tamanhos significativos de informações relacionadas às porções acrescidas nos produtos.

Além dessa considerável mudança em busca de maior clareza na composição, os fabricantes

terão que informar a distinção entre o açúcar naturalmente existente nos produtos e o açúcar

acrescentado por eles, seja por qualquer necessidade advinda da melhoria do produto.

(JUNQUEIRA 2002).

Portanto, nos Estados Unidos a rotulagem de alimentos transgênicos não é obrigatória.

Apesar de distintas posições normativas, parece haver consenso universal de que o

consumidor precisa de fato ser sabedor de todas as informações, uma vez que a rotulagem é a

forma de garantia mais eficaz, para permitir-lhes tal escolha. O foco não se encontra mais em

dever ou não de informação, mas sim acerca de desenvolvimento de um sistema no qual se

forneça de forma igualitária e correta as informações pertinentes, garantindo a livre escolha,

sem interferir tanto na saúde humana e no meio ambiente, como no comércio nacional e

internacional de alimentos transgênicos.

4.2 ROTULAGEM NA UNIÃO EUROPEIA

Importante iniciar destacando que a União Europeia não partilha da conduta flexível

diante da legislação Norte-Americana, em virtude do surgimento de distintas tecnologias,

processos biotecnológicos e, ainda, em razão de resultados insatisfatórios quanto ao seu

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composto e seus efeitos nocivos ou não, assim a temática biossegurança dos alimentos

alcançou maior destaque.

Essas novas descobertas tecnológicas alteraram a percepção dos consumidores diante

da qualidade dos alimentos, formando indivíduos mais exigentes sobre forma de condução do

País para com a vigilância dos procedimentos destinados ao desenvolvimento, venda e

consumo dos alimentos transgênicos.

Apesar de serem comuns, tais produtos alimentares que contenham OGM no cotidiano

da população, a aceitação por parte dos consumidores, não se dá de forma tão apaziguada, o

que em parte se deve ao déficit de informações, rotulagens informativas referentes aos reais

compostos existentes nos alimentos, tornando-os incertos para seu consumo. Sendo assim, a

União Europeia elaborou seu regime de normatizações em caráter extremamente rigoroso.

Afirma Vieira (2005, p. 80):

A aceitação de tais produtos tem por parte dos consumidores europeus uma

resistência muito grande, justamente por não terem sido ainda testados e por não se

poder avaliar quais as consequências da sua utilização diária, o que somente poderá

acontecer através de sua utilização por um certo período de tempo e a observância

de qualquer tipo de reação que possa advir de seu consumo constante.

Ou seja, os consumidores europeus buscam uma avaliação de risco mais minuciosa

por meio da qual possam avaliar os efeitos negativos do consumo dos produtos OGM‘s, sejam

eles diretos ou indiretos ao seu uso, imediatos ou tardios ao seu consumo, lembrando-se de

considerar sempre os efeitos tanto no campo da saúde humana quanto ao meio ambiente.

A União Europeia reconhece e garante o direito dos consumidores à informação desde

1997, servindo como instrumento de escolha, a rotulagem segue de forma obrigatória

sinalizando a presença OGM.

Deste modo Vieira (2005, p. 80) afirma que:

A seguinte medida dividiu-se em tipos de condutas distintas durante sua trajetória

normativa quanto à aplicação, podemos distingui-las em: facultativa, sendo optada

por parte das empresas fornecedoras de tais alimentos, ficando a mercê das mesmas

se irão informar ou não sua composição fixada ao produto, incerta, no qual as

empresas poderiam apenas fazer o uso do termo maycontain (pode conter), ou seja,

os alimentos viriam com tal expressão relacionada à composição indicando um

possível alimento transgênico, e atualmente a rotulagem informativa no qual se

restringe a repassar quando tais alimentos contém DNA artificialmente inserido no

produto final.

Com o objetivo de elucidar dúvidas foi criada a Diretiva 2001/18/CE, relativa à

liberação de OGM no ambiente que entrou em vigor em 17 de outubro de 2002. Tal medida

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funciona como principal ferramenta legislativa. A Diretiva de 2001 induz a obrigatoriedade de

informação, avaliações e liberações aos consumidores sobre os OGM‘s, sejam informações

referentes às normas gerais sobre rotulagem obrigatória, rastreabilidade dentre outras etapas

de distribuição no mercado. A norma aperfeiçoou e revogou a Diretiva 90/220/CEE do

Conselho, de 23 de abril de 1990.

De acordo com tal diretiva, qualquer empresa que comercializar organismos

geneticamente modificados precisa apresentar uma solicitação as autoridades do Estado

Membro em questão, devendo essa solicitação incluir uma avaliação completa dos riscos

ambientais. Se acaso for autorizada sua liberação, o referido Estado Membro deverá informar

aos demais, respeitando as possíveis implicações envolvidas em sua distribuição. Se nenhuma

oposição for feita contra o pedido, o Estado Membro em questão poderá autorizar a

comercialização do produto na União Europeia.

O princípio da precaução teve importante função na Diretriz 2001/18/CE, pois serviu

como um dos principais conceitos em torno do direito ambiental, apesar de suas dificuldades

relacionadas a distintos fatores, não somente de natureza jurídica, mas também de natureza

científica, dentre as quais a figura legislativa se apresenta incerta em virtude da ausência de

consenso científico sobre conceito de ecologia. A Diretriz 2001/18/CE segue tal princípio e

têm por finalidade a proteção do meio ambiente e a saúde humana, entrando em vigor a

aproximação por parte das normas legislativas regulamentadoras. (ALEXANDROVA 2005).

Uma série de diretivas estabelece o atual quadro de sistemas de rotulagem nos

Estados membros. A diretiva inicial foi a 90/220, ocorrida em 1990, serviu como marco

inicial na regulamentação ambiental, delimita o quadro jurídico para a rotulagem na UEe

determinando que os produtos que contêm organismos geneticamente modificados devem ser

rotulados.

Dado o foco ambiental inicial da Diretiva 90/220, seguem-se requisitos na mesma

configuração as demais definições acerca da rotulagem. Entretanto, apesar das várias

tentativas não se estabeleceu um padrão normativo para esses produtos e suas demais

implicações. No ano de 1997, a UE desenvolveu novos regulamentos dentre os quais o de

número 258/97, sendo definido o nível de tolerância de 1% para alimentos integrais ou

tratados.

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No próprio continente Europeu, utiliza-se a Directiva 2001/18/CE do Parlamento

Europeu17

e do Conselho, como umas das mais importantes para o ordenamento jurídico

ambiental, econômico entre outros assuntos que envolvem diretamente a sociedade:

4. Os organismos vivos, quando libertados no ambiente em grande ou pequena

quantidades, para fins experimentais ou sob a forma de produtos comercializados,

são susceptíveis de se reproduzir no ambiente e atravessar fronteiras nacionais,

afectando deste modo outros Estados-Membros. Os efeitos dessas libertações no

ambiente podem ser irreversíveis; (...) omissis 20.É necessário o estabelecimento de uma metodologia comum para a realização das

avaliações dos riscos ambientais com base em aconselhamento científico

independente. É igualmente necessário estabelecer princípios comuns para a

monitorização dos OGM após a sua libertação deliberada ou a colocação no

mercado de produtos que contenham ou sejam constituídos por OGM. A

monitorização dos potenciais efeitos cumulativos a longo prazo deverá ser

considerada um elemento obrigatório do plano de monitorização.

O objetivo de uma avaliação dos riscos ambientais é definir e avaliar, caso a caso, os

potenciais efeitos adversos sobre a saúde humana e sobre o ambiente, quer diretos quer

indiretos de curto e de longo prazo, da libertação voluntária do OGM ou da sua colocação no

mercado. A avaliação dos riscos ambientais deverá ser realizada com vista a apurar se há

necessidade de gestão de riscos e, na afirmativa, de determinar quais os métodos mais

adequados a serem utilizados.

Por sua vez, a União Europeia estabelece em sua Diretriz um limite de 1% para o

conteúdo do material geneticamente modificado, logo, o alimento que apresentar tal contagem

em sua composição, deve ter em seu rótulo a informação repassando ao consumidor o que

contém e ou são produzidos a partir de tais OGM‘s. Todavia, abaixo desse nível não há

necessidade de se informar no rótulo a composição envolvendo o conteúdo OGM.

Importante frisar que alguns membros dispuseram a intenção de ir além, buscar

legislações que atendam às exigências de base da União Europeia, estendendo-se leis de

rotulagem para os aditivos alimentares e conservantes. Um DNA exógeno ou proteína podem

ser detectados no produto final.

Em virtude das inúmeras imprecisões sobre alimentos transgênicos e de seu consumo,

sem mencionar o impacto ambiental acarretado do cultivo e suas implicações na saúde

humana, a medida visa garantir a liberdade de cada Estado membro na tomada de decisões,

sejam de cunho nacional ou local, facilitando, assim, o processo de liberação e autorização

dos OGM.

17

Directiva 2001/18/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, disponível em

<http://ec.europa.eu/health/files/eudralex/vol-1/dir_2001_18/dir_2001_18_pt.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2016

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Atualmente, a França, Áustria e Hungria contam com medidas nacionais contra o

cultivo dos transgênicos, muito embora a Europa os tenha autorizado, o que por consequência

irá acarretar problemáticas legais. Logo, mesmo diante da proibição, poderão decidir de forma

individual em prol do seu território a proibição ou liberação da prática. Lembrando-se que

cada Estado membro terá a responsabilidade de garantir que a seguinte liberação da prática de

cultivo, permitidos em seu território, não prejudicarão outros produtos além das fronteiras

territoriais, de acordo com as normas já pré-estabelecidas.

As normas darão aos Estados-membros a liberdade de escolher se querem que os

cultivos modificados geneticamente sejam produzidos em seu território ou não, estando em

linha com o princípio de subsidiariedade e respeitando as preferências dos cidadãos e

granjeiros.

Apesar de diversos envolvidos, é importante acentuar quanto à responsabilidade na

liberação para produção e comercialização de produtos transgênicos, devendo sua

normatização e consumo serem independentes de qualquer interesse econômico, seja de

empresas ou dos países.

Depreende-se do exposto que o consumo de alimentos transgênicos dentre outras

práticas envolvidas deveria somente ser permitido após certificações científicas embasadas e

incontestáveis de que não acarretará riscos nenhum aos envolvidos, sejam à saúde dos

indivíduos ou ao ambiente, lembrando-se da necessidade de haver total clareza na

comunicação das informações pertinentes, garantindo, assim, o direito de escolha do

consumidor.

4.3 ROTULAGEM NO BRASIL

A liberação para o plantio dos organismos geneticamente modificados trouxe consigo

diversas indagações acerca da segurança diante dos procedimentos e composições dos

produtos comercializados. De um lado entende-se que uma das razões se dá pelo déficit das

informações relacionadas aos efeitos nocivos das composições, do outro lado existem os

conflitos de interesses, uma vez que as implicações são diferenciadas de acordo com os

pontos de vistas considerados, sejam eles, população, empresas ou pesquisadores.

No Brasil, as normas vigentes ocupam uma posição intermediária, divergindo entre a

posição flexível dos EUA e a regulamentação restrita da União Europeia. Os dois maiores

influenciadores da tecnologia biotecnológica.

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O Déficit de informações relacionadas aos mecanismos de controle avaliação e

fiscalização dos riscos implica na segurança dos produtos derivados de OGM's, gerando

discussão sobre a aceitação ou não dos alimentos geneticamente modificados pela sociedade.

Os primeiros sinais diante do Estado na busca por uma normatização legislativa

regulamentadora se deu em 1989, com o projeto de Lei de Biossegurança. Entretanto foi

apenas em 1992 que os esforços foram intensificados em busca de um padrão normativo. Foi

na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente que se aprovou a Convenção sobre

a Diversidade Biológica a conhecida ECO-92.

Vieira (2005, p. 81) diz que ―O interesse por normas definidas a respeito de produtos

transgênicos surgiu através de instituições brasileiras de pesquisa que desenvolviam

atividades de engenharia genética‖.

Sendo assim, formou-se um importante grupo de pesquisa composto pelas empresas:

Embrapa, Fiocruz e a Associação Brasileira de Biotecnologia. O grupo criado foi essencial

para verificação da até então ainda não aprovada Lei de Biossegurança que tramitava no

Congresso Nacional.

Em dezembro de 1994, na busca de se estabelecer normas e mecanismos de

fiscalização, foi sancionada a primeira Normativa de Biossegurança, Lei de nº 8.974 de

06.01.1995, aprovada pelo presidente vigente Fernando Henrique Cardoso. A referida Lei, em

conjunto com a Nova Lei de Biossegurança 11.105 criou o órgão técnico CTNBio, tornando-

se responsável pela fiscalização das atividades que fazem uso do DNA recombinante em todo

o País. Houve a participação de representantes da sociedade científica, de órgãos de defesa do

consumidor, do setor empresarial de biotecnologia, da agricultores, representante da saúde

entre outros.

Desse modo, entende-se por meio do Decreto de nº 1.752 de 1995, que as

competências dispostas pela CTNBio restringem-se a treze normas gerais, dentre elas

destacam-se as mais significantes: a emissão de documentos de cunho técnico, acerca das

atividades envolvidas no País; elaboração de mecanismos fiscalizadores dos Ministérios da

Saúde, Agricultura e Meio Ambiente; deliberação de documento conclusivo sobre

autorização, registros, uso, armazenamento, transporte, comercialização, consumo e descarte

de produto ou derivados que contenham OGM's, encaminhando-o ao órgão de fiscalização

competente; classificação dos OGM's, segundo os riscos advindos de suas composições,

definindo os níveis de biossegurança a eles necessários e indicação das atividades

consideradas estopim no desenvolvimento de doenças.

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76

Outro marco importante na formação do quadro de biossegurança, no Brasil, foi a sua

adesão ao Protocolo de Cartagena. O protocolo faz parte da Convenção sobre a Diversidade

Biológica, sendo aprovado em 29 de Janeiro de 2000, muito embora o Brasil tenha aceitado

suas condições apenas no ano de 2003, o protocolo tem a função de mediar em caráter

internacional um acordo que contribuirá na aplicação das regras direcionadas ao comércio de

produtos transgênicos.

Trata-se, de um instrumento internacional que tem por finalidade assegurar os

direitos humanos em consonância com a saúde humana, a biodiversidade e o equilíbrio

ecológico do meio ambiente. Lembrando-se de considerar os direitos à dignidade, à qualidade

de vida e à própria vida, direitos estes destacados pela CF/88.

O marco inicial da regulamentação dos organismos geneticamente modificados foi

estabelecido pela CF/8818

.Entretanto, apesar de detalhada a Constituição, ainda ocorreu sem

inconsistências de informações em seu artigo 225, foi necessária, portanto, a elaboração de

mecanismos de auxílio para com os estudos e análises dos impactos ambientais acarretados.

A lei 8.974 de 05 de Janeiro de 1995 estabelece normas para o uso de técnicas de

engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados,

autorizando a criação da CTNBio, regulamentando, estabelecendo regras de segurança e

mecanismos de fiscalização na utilização das técnicas de engenharia genética na construção,

18

O marco inicial da regulamentação dos organismos geneticamente modificados foi estabelecido pela CF/88:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito

Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) omissis Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; (...) omissis Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: (...) omissis II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; (...) omissis IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; (...) omissis Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: (...) omissis II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (...) omissis XXII - é garantido o direito de propriedade; (...) omissis XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

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77

cultivo, comercialização, manipulação, consumo, liberação, transporte e descarte de produtos

transgênicos.

Desta maneira, o Decreto 1.752, de 20 dedezembro de 1995, que regulamenta a lei

8.974/95, dispõe sobre a vinculação, competência e composição da Comissão Técnica de

Biossegurança, a lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, Código de Defesa do Consumidor, que

trata dos direitos e deveres advindos da relação de consumo19

.

Pode-se ponderar muitos avanços na qualidade e no valor dos alimentos, possíveis

por intermédio da engenharia genética, contudo a tecnologia também possui um potencial de

criar riscos à segurança dos alimentos. Para garantir a segurança dos consumidores, deve

haver um sólido processo regulamentário, incluindo testes de segurança pré comercialização,

supervisão governamental e rotulagem.

Neste sentido, o Decreto 3.871 de 18 de Julho de 2001 disciplina a rotulagem de

alimentos embalados que contenham ou sejam produzidos com OGM‘s. Decreto 4.860 de 25

de Abril de 2003; regulamenta o direito à informação assegurado pelo CDC, quanto aos

alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que

contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados.

Já o Decreto 4.602 de 21 de Fevereiro de 2003 institui a Comissão Interministerial

considerando a importância da promoção, mediante articulação do setor público com

entidades representativas da sociedade, de sólida reflexão de atividades que envolvam a

pesquisa, licenciamento, autorização, cultivo, manipulação, transporte, comercialização,

consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGM e aprofunda a análise e avaliação dos

impactos de OGM sobre a economia, a saúde e o meio ambiente, considerando o princípio da

precaução, consolidado na legislação brasileira e nos acordos internacionais sobre

Diversidade Biológica e Biossegurança. Contudo, mesmo alcançando certos avanços o

decreto foi revogado no ano de 2005, e substituído pelo decreto nº 5.591 de 22 de novembro

de 2005, trazendo em seu diploma legal20

.

19

Principal no que dispõe Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador

respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por

defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou

acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

utilização e riscos.

20No que prevalece o seu Art. 1

oEste Decreto regulamenta dispositivos da Lei no11.105, de 24 mar. 2005, que

estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a

manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a

comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente

modificados - OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de

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A legislação brasileira adota um sistema no qual, independentemente do processo ou

da tecnologia utilizada na composição daquele alimento modificado, a avaliação da segurança

é baseada unicamente nos riscos obtidos com o uso do produto.

Diante dos questionamentos, surgem questões acerca das rotulagens dos alimentos

transgênicos, até como forma de evidenciar o que já se encontra implícito no Código de

Defesa do Consumidor, assim deixa a critério do indivíduo a escolha de consumo ou não do

alimento, com bases em informações claras, seguras e coesas.

Na União Europeia encontram-se as normativas mais rigorosas e taxativas sobre

rotulagem, permite-se a utilização dos alimentos modificados, mas restringe-se ao percentual

de 1%, para que se tenha o dever de rotulagem. Já no Japão esse limite encontra-se um pouco

mais elevado para soja, sendo de 5%, para o milho não se tem estabelecido nenhum limite.

(VIEIRA 2005). No Brasil encontramos a rotulagem disposta no Decreto nº 4.680, de 24 de

abril de 2003.21

Dos dados acima, verifica-se que a existência de organismos geneticamente

modificados acima desse número, em consonância com o código de defesa do consumidor,

deve informar em sua rotulagem a composição existente. O doutrinador Nelson Nery Júnior

(2002, p. 54) aborda acerca do posicionamento de rotulagem:

Antes da preocupação com a rotulagem dos alimentos que contenham OGM, o mais

importante neste processo é a preocupação com a biossegurança do alimento. Não

que a rotulagem não seja importante, porque o consumidor tem direito de saber o

que está consumindo, mas no processo produtivo só haverá discussão acerca da

rotulagem se o produto tiver sido liberado, verificando-se que ele não é perigoso

para a saúde e para o meio ambiente, segundo parecer técnico do CTNBio.

Portanto, a utilização da rotulagem dos alimentos transgênicos, além de representar

um caráter ético e moral, seu uso se faz necessário em forma de precaução, devendo-se levar

em consideração aquilo que ainda é desconhecido. Logo, é extremamente imprescindível o

investimento em pesquisa, análise e estudo dos organismos geneticamente modificados, ou

biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do

princípio da precaução para a proteção do meio ambiente, bem como normas para o uso mediante autorização de

células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no

respectivo procedimento, para fins de pesquisa e terapia.

21Art. 2

oNa comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal

que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, com presença acima do

limite de um por cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse

produto. (gn)

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seja, antes que seja considerada a rotulagem como mecanismo fiscalizador, o mais importante

de fato é o processo de biossegurança dos alimentos.

Apesar de esforços, têm-se ainda uma grande problemática relacionada à falta de

informação adequada nos rótulos dos produtos, qual seja a falta de informação se o alimento é

composto ou não por organismos geneticamente modificados. Apesar de instâncias diferentes,

é importante lembrar que para um resultado eficaz a ação deverá ser exigida e fiscalizada.

Portanto, a sociedade espera uma postura coerente pelo poder público fiscalizador,

pelos detentores da biotecnologia e cientistas que realizam a devida manipulação dos

alimentos, pois, apenas dessa maneira, com essa postura crítica, ter-se-á garantia que os

princípios basilares contidos na CF/88 juntamente com o CDC serão aplicados de fato,

garantindo assim o direito de escolha de cada cidadão.

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5 O DIREITO DE ESCOLHA DOS CONSUMIDORES E ROTULAGEM

Para entender sobre o direito de escolha do consumidor, é imprescindível conhecer

como se originou o Direito do Consumidor, assim, o marco inicial foi dado pela CF/88, um

avanço significativo para esta área, pois foi a primeira vez, no Brasil, que houve menção em

um dispositivo de lei.

Assim, a Lei Suprema em seu art. 5º, inciso XXXII estabelece que:

(...) omissis XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.

Logo em seguida, surgiu o CDC no ano de 1990 para consolidar os direitos do

consumidor de uma forma mais extensa. Neste ano de 2016, o CDC está completando 26 anos

de existência e ao longo desse período verificou-se que o cidadão brasileiro, na qualidade de

consumidor, conquistou vários direitos, cada vez mais respeitados pelos fornecedores de

produtos que depositam os alimentos para o consumo humano.

Um dos benefícios do direito alcançado foi o da informação adequada e clara sobre o

bem que se pretende consumir. Assim o CDC afirma que:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o

atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e

segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de

vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os

seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor. (gn)

Com isso, a transparência nas relações de consumo possibilitou ao consumidor

exercer seu direito de escolha em relação ao que lhe é oferecido, tornando-o capaz de

influenciar o mercado, na medida em que as suas aquisições definem o sucesso ou o fracasso

das multinacionais fornecedoras de alimentos.

Sendo assim, a partir disto, quem manda no comércio é o consumidor, que passa a

ser o protagonista do desenvolvimento econômico de uma sociedade. Deste modo, o

consumidor de hoje escolhe com consciência e inteligência um determinado produto,

ponderando todo o seu processo produtivo, examinando a qualidade, o rótulo, o preço e até

mesmo a maneira em que tal bem é comercializado. Embora a transparência seja

indispensável para toda aquisição de mercadoria colocada à venda, é necessário que esteja

clara a vulnerabilidade do consumidor na aquisição de produtos colocados no mercado. Desta

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forma, fica claro também que há essencialidade de um governo efetivo quanto à proteção do

consumidor de qualquer nocividade colocada ao seu alcance.

Dessa maneira traz o CDC os direitos básicos do consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas

no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; (...)omissis III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com

especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos

incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais

coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas

no fornecimento de produtos e serviços. (gn)

Do exposto, verifica-se que todos os produtos e serviços inseridos no mercado de

consumo devem atender às legítimas expectativas do consumidor. Neste sentido, o produto

deve se prestar para aquilo que foi anunciado e ter a qualidade que dele se espera, assim como

os fornecedores devem realizar procedimentos preventivos a serem observados antes mesmo

da produção e comercialização de produtos.

Fica claro, também, que os fornecedores não podem realizar estratégias em prol do

desenvolvimento empresarial, somente se beneficiando por meio da deslealdade com os

consumeristas. Neste ponto, Cavalieri Filho (2010. P. 66) afirma que: ―A Vida, saúde e

segurança são bens jurídicos inalienáveis e indissociáveis do princípio universal maior da

intangibilidade da dignidade da pessoa humana‖.

Face o exposto, percebe-se o quanto o direito à informação é considerado um dos

principais aspectos do CDC. Sem ele, um produto, mesmo que tenha seu funcionamento

dentro das suas expectativas poderá ser considerado inadequado para comercialização o

conhecimento que se refere o inciso III da legislação mencionada anteriomente deve perdurar

por todas as fases da relação consumo, inclusive antes e depois da relação de consumo.

Cavalieri Filho (2010, p. 72) afirma que:

Ressalte-se que o dever de informar tem graus, que vai desde o dever de esclarecer,

passando pelo dever de aconselhar, podendo chegar ao dever de advertir. É o que se

extrai do próprio texto legal. No inciso III do art. 6º, o código fala em informação

adequada e clara; no art. 8º, fala em informações necessárias e adequadas; no art. 9º,

fala em informação ostensiva e adequada quando se tratar de produtos e serviços

potencialmente nocivos e perigosos à saúde ou à segurança.

Tal entendimento revela-se coerente em razão da observância que deve existir do

fornecedor para que todas as informações sejam realizadas de forma adequada e clara, a fim

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de proporcionar ao consumidor manifestar sua escolha de forma consciente sobre determinado

produto.

Salienta-se que o CDC fundamenta os princípios estruturais, que são da boa-fé e da

transparência. Neste sentido, existe grande interesse de evitar a existência de quaisquer

contratos tendenciosos frente ao consumidor, que contenham cláusulas perniciosas, dúbias,

desarrazoadas ou que sobrecarregam demasiadamente a parte mais vulnerável, no caso o

consumidor.

Mesmo se tratando de contratos de adesão, estes devem ser norteados pela

transparência de suas cláusulas, seja na questão cognitiva, compreensiva ou visual, no tocante

à publicidade enganosa, esta se verifica quando as informações apresentadas ao consumidor

não correspondem de maneira fidedigna como anunciado.

Neste contexto, a qualidade do produto deve ser conhecida pelo consumidor assim

como determina o CDC:

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão

riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e

previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores,

em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu

respeito. Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar

as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados

que devam acompanhar o produto. (gn)

Do estudo acima, pode-se ver que a legislação mencionada pretende afastar qualquer

risco potencial ao consumidor, seja relativo à segurança ou a sua saúde. Assim, as

informações contidas devem ser realizadas de forma clara, precisa e ostensiva pelo

fornecedor. Como sistematiza o parágrafo único: as informações prestadas pelo fornecedor

devem ser feitas de forma clara, precisa, ostensiva e no idioma nacional.

A informação vem por meio do rótulo do produto, portanto necessário se faz definir

o que este significa: rotulo é toda inscrição, legenda ou imagem, ou toda matéria descritiva ou

gráfica, escrita, impressa, estampada, gravada, gravada em relevo ou litografada ou colada

sobre a embalagem do alimento.

Desse modo, a rotulagem do alimento tem por objetivo melhorar o direito à liberdade

do consumidor de escolha, portanto é necessário que este seja mais bem informado na

rotulagem dos alimentos, não apenas no rótulo em si, mas também por anúncios publicitários

claros e corretos sobre o produto oferecido no mercado.

Assim, o CDC estabelece:

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Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por

qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços

oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se

utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Outra questão fundamental a ser destacada é que o CDC visa proteger o consumidor

sujeito vulnerável da relação de consumo, ou seja, como não há igualdade de posição entre

consumidor e fornecedor, o Estado interveio e dispôs tais direitos básicos, objetivando o

equilíbrio entre estes sujeitos. Segue um julgado que demonstra a ofensa a alguns dos direitos

básicos do consumidor, sentenciado no Tribunal de Justiça de Rio Grande do Sul:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.

RESCISÃO DE CONTRATO. DIREITO DO CONSUMIDOR. PRODUTO

NOCIVO À SAÚDE E SEGURANÇA. INFORMAÇÃO INSUFICIENTE.

CONDUTA CONTRATUAL ABUSIVA E ENGANOSA. - A prova dos autos não

deixa dúvidas acerca da conduta enganosa e abusiva da empresa requerida na

colocação e venda do seu produto no mercado. Ausência de insurgência da apelante

quanto à inversão do ônus da prova no processo. Art. 6º, inc. VIII, CDC. - Conduta

atentatória a diversos direitos do consumidor. Art. 6º, CDC. Direito à proteção da

vida, saúde e segurança (inc. I). Direito à informação adequada e clara (inc. III).

Direito à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais

coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas

no fornecimento de produtos e serviços (inc. IV). - Caso concreto. Prova suficiente a

demonstrar que o produto vendido ao consumidor causou problemas à sua saúde.

Importante notar, ainda, que a hipótese dos autos apresenta notável agravante, pois o

produto em tela foi vendido sob a promessa de melhora à saúde do consumidor.E se

o fornecedor se utiliza justamente de promessas de contribuição e melhora à saúde

do consumidor para vender o seu produto e, posteriormente, esse mesmo produto se

mostra, ao contrário, nocivo à sua saúde, fica configurada com evidência a sua

conduta enganosa e abusiva. Nesse contexto, o consumidor é claramente induzido

em erro pelo fornecedor, que desvirtua informações sobre o produto para conseguir a

sua venda. Mantido o deferimento do pedido do consumidor de rescisão do contrato.

Inaplicável o prazo do art. 49 do CDC, que trata da hipótese de arrependimento do

consumidor. Apelo improvido. (Apelação Cível Nº 70020637252, Décima Segunda

Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira,

Julgado em 06/12/2007)

Da análise do julgado, percebe-se que o direito de escolha está entrelaçado com o

direito da informação correta, pois é pela referência do produto que o consumidor vem

adquirindo as mercadorias. Não existe apenas consumidor e fornecedor, na relação de

consumo existe também a pessoa do Estado que vem regulamentando e fiscalizando o

comércio. Neste sentido, o controle do Estado deve ser eficaz, com resultados satisfatórios da

sua atuação na fiscalização dos alimentos transgênicos, e sempre sendo responsabilizado em

casos de omissão e negligência.

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Assim a jurisprudência brasileira reconhece claramente a necessidade de atendimento

integral ao direito do consumidor sobre a rotulagem dos alimentos transgênicos, com se infere

o julgado do Tribunal Regional Federal da 1º Região da 5º Turma:

DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE

ROTULAGEM DE ALIMENTOS QUE CONTENHAM PRODUTOS

GENETICAMENTE MODIFICADOS EM QUALQUER PERCENTUAL.

DECRETO Nº 3.871/2001. DECRETO Nº 4680/2003. DIREITO À

INFORMAÇÃO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ART. 5, XIV. CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR (LEI Nº 8.078/90). CPC, ART. 462.1. Ação civil

pública ajuizada com o objetivo de que ré - União - se abstenha ―de autorizar ou

permitir a comercialização de qualquer alimento, embalado ou in natura, que

contenha OGMs, sem a expressa referência deste dado em sua rotulagem,

independentemente do percentual e de qualquer outra condicionante, devendo-se

assegurar que todo e qualquer produto geneticamente modificado ou contendo

ingrediente geneticamente modificado seja devidamente informado‖. 2. Não há

perda do objeto da demanda ante a revogação do Decreto nº 3.871/01 pelo Decreto

nº 4.680/03, que reduziu o percentual de 4% para 1% de OGM‘s, para tornar

exigível a rotulagem. Ocorrência de fato modificativo e não extintivo do direito, a

ser levado em consideração pelo juízo, por ocasião do julgamento, a teor do art. 462

do CPC. 3. ―(...) 5. O direito à informação, abrigado expressamente pelo art. 5º,

XIV, da Constituição Federal, é uma das formas de expressão concreta do princípio

da transparência, sendo também corolário do princípio da boa-fé objetiva e do

princípio da confiança, todos abraçados pelo CDC. 6. No âmbito da proteção à vida

e saúde do consumidor, o direito à informação é manifestação autônoma da

obrigação de segurança. 7. Entre os direitos básicos do consumidor, previstos no

CDC, inclui-se exatamente a‖informação adequada e clara sobre os diferentes

produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,

composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem‖(art. 6º,

III)...‖ (STJ, REsp 586316/ MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,

julgado em 17/04/2007, DJe 19/03/2009). 4. Correta a sentença recorrida, ao dispor

que, ―o consumidor, na qualidade de destinatário do processo produtivo, que hoje

lança no mercado todo tipo de produto e serviço, tem na ‗transparência‘ e ‗devida

informação‘, erigidas em princípios norteadores do CDC, seu escudo de proteção, de

absoluta necessidade na hora de exercer o direito de opção. ‖ 5. Apelações da União

e da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação - ABIA e remessa oficial

improvidas.

Diante disso, verifica-se que o ordenamento jurídico nacional confere ampla proteção

ao direito fundamental do consumidor à informação na rotulagem dos alimentos transgênicos,

inclusive quando ausente a possibilidade de o produto gerar riscos à saúde, determinando a

sua efetividade e devida observância, sob pena de responsabilização nas esferas penal,

administrativa e civil.

5.1 ROTULAGEM

A rotulagem de alimentos é regulamentada internacionalmente pelo Codex

Alimentarius, que é um programa internacional de normalização sobre os alimentos e sobre os

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seus rótulos, foi criado em 1962 por duas organizações das Nações Unidas: A FAO e a

Organização Mundial de Saúde (OMS).

A importância de os rótulos estarem em conformidade com a legislação, contendo

todas as informações necessárias e exigidas, garante ao consumidor informações de

imprescindível necessárias à saúde, como por exemplo, a presença ou não de determinado

ingrediente ou matéria-prima em sua composição. Tais informações são imprescindíveis para

atender a grupos populacionais específicos que exigem produtos que estejam de acordo com

as suas necessidades.

Suas normas têm como finalidade proteger a saúde da população, assegurando

idealmente práticas equitativas no comércio regional e internacional de alimentos,

fomentando e coordenando todos os trabalhos que se realizam em normalização dos produtos,

para a proteção do consumidor , visto que este era visto naquela época como um ser frágil que

precisava de amparos.

O Brasil tornou-se membro deste programa, na década de 70 (setenta), e logo em

seguida no ano de 1980 conseguiu alguma articulação mais representativa do setor

alimentício, com a criação do Comitê do Codex Alimentarius do Brasil (CCAB).

A rotulagem surgiu com objetivo de fornecer as informações nutricionais necessárias

do produto e assim permitir a escolha de alimentos saudáveis, contribuindo para a diminuição

de sobrepeso, obesidade e doenças crônico-degenerativas relacionadas à alimentação.

Existem vários órgãos e entidades responsáveis pela regulamentação da rotulagem

no Brasil, dentre eles a Lei 10.674/2003 do Ministério da Saúde, por meio da ANVISA, além

da fiscalização por parte das Vigilâncias Sanitárias Municipais, Estaduais e Federal.

Uma das primeiras resoluções feitas pela Anvisa foi para demonstrar a importância

da rotulagem nos produtos colocados no mercado, assim a RDC22

nº 40 de 8 de fevereiro de

2002:

Art. 1º Aprovar o Regulamento Técnico para ROTULAGEM DE ALIMENTOS E

BEBIDAS EMBALADOS QUE CONTENHAM GLÚTÊN, constante do anexo

desta Resolução. (gn)

Neste sentido, na publicação da RDC nº 40 da Anvisa, a Lei 10.674/03,23

reforça

que:

22

Disponível em:

<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/6d1e01804ac01f8195e0bfa337abae9d/Resolu%C3%A7ao_RDC_

n_40_de_08_de_fevereiro_de_2002.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 25 jan. 2016 23

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.674.htm>. Acesso em: 26 jan. 2016

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Art. 1o Todos os alimentos industrializados deverão conter em seu rótulo e bula,

obrigatoriamente, as inscrições "contém Glúten" ou "não contém Glúten", conforme o caso. § 1

oA advertência deve ser impressa nos rótulos e embalagens dos produtos

respectivos assim como em cartazes e materiais de divulgação em caracteres com

destaque, nítidos e de fácil leitura. § 2

o As indústrias alimentícias ligadas ao setor terão o prazo de um ano, a

contar da publicação desta Lei, para tomar as medidas necessárias ao seu

cumprimento. (gn)

A legislação informa que, desde do ano de 2003, que a indústria terá prazo de um

ano para tomar os procedimentos necessários para não afetar os consumidores. Existem várias

outras resoluções, determinando todo tipo de informação, a resolução da Anvisa

regulamentada pela RDC24

nº 259 de 20 de setembro de 2002, assim preconiza:

Art. 1º Aprovar o Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados.

No caso dos alimentos embalados, as informações que devem constar nos rótulos

incluem: nome do produto, identificação de país e local de origem, sem a qual não é possível

a rastreabilidade, lista de ingredientes em ordem decrescente de quantidade; conteúdo líquido,

prazo de validade o dia e mês para produtos com duração mínima menor de três meses e o

mês e ano para produtos com duração superior a três meses; identificação do lote e instruções

para o uso, quando necessário.

Toda essa informação da rotulagem vem para garantir o consumidor o que ele pode

consumir sem que haja qualquer tipo de problema futuro, pois todas as informações

necessárias devem constar no rótulo do produto.

Por diversos fatores relacionados, diante da realidade em que se vive hoje, por falta

de tempo, muitas vezes o consumidor precisa comprar alimentos processados industrialmente.

Com isso, consumidores com alergia dependem das informações sobre alérgenos, substâncias

capazes de desencadear uma reação alérgica que deveriam estar claramente contidas nos

rótulos dos produtos. Muitas vezes, a informação não é relatada de forma tão clara no rótulo

do alimento pelo uso de denominação pouco acessível.

24

Disponível em:

<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/36bf398047457db389d8dd3fbc4c6735/RDC_259.pdf?MOD=AJP

ERES>. Acesso em: 25 jan. 2016

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Assim, há outra resolução regulamentando outro tipo de informação na rotulagem, o

colegiado da Anvisa aprovou, no dia 24/06/2015, a Resolução nº 2625

que trata dos requisitos

para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares:

Art. 2º Esta Resolução se aplica aos alimentos, incluindo as bebidas, ingredientes,

aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia embalados na ausência dos

consumidores, inclusive aqueles destinados exclusivamente ao processamento

industrial e os destinados aos serviços de alimentação. (...) omissis Art. 3º Para efeito desta Resolução, são adotadas as seguintes definições: I - alérgeno alimentar: qualquer proteína, incluindo proteínas modificadas e frações

proteicas, derivada dos principais alimentos que causam alergias alimentares; II - alergias alimentares: reações adversas reprodutíveis mediadas por mecanismos

imunológicos específicos que ocorrem em indivíduos sensíveis após o consumo de

determinado alimento; III - contaminação cruzada: presença de qualquer alérgeno alimentar não adicionado

intencionalmente ao alimento como consequência do cultivo, produção,

manipulação, processamento, preparação, tratamento, armazenamento, embalagem,

transporte ou conservação de alimentos, ou como resultado da contaminação

ambiental; IV - Programa de Controle de Alergênicos: programa para a identificação e o

controle dos principais alimentos que causam alergias alimentares e para a

prevenção da contaminação cruzada com alérgenos alimentares em qualquer estágio

do seu processo de fabricação, desde a produção primária até a embalagem e

comércio; V - serviço de alimentação: estabelecimento institucional ou comercial onde o

alimento é manipulado, preparado, armazenado e exposto à venda, podendo ou não

ser consumido no local, tais como: restaurantes, lanchonetes, bares, padarias,

escolas, creches.

Importante esclarecer que a alergia alimentar é uma resposta exagerada do sistema

imunológico relacionada ao consumo de determinado alimento. Existem várias reações no

corpo do consumidor, assim Nascimento (2013, p. 144) elucida que:

Sintomas que podem surgir na pele (urticária, inchaço, coceira, eczema), no sistema

gastrintestinal (diarreia, dor abdominal, refluxo, vômito) e respiratório (conjuntivite,

tosse, rouquidão, chiado no peito), podendo, em alguns casos, haver o

comprometimento de vários órgãos (reação anafilática). Nos casos mais graves, os

sintomas aparecem pouco tempo após o contato com o alimento alérgeno; em

outros, podem levar até dias para surgir. Os principais recursos diagnósticos incluem

a história clínica inclusive da introdução de alimentos, exame físico e dieta de

eliminação, exclusão de determinados alimentos. Podem ser realizados testes

cutâneos e sorológicos, também. Fechado o diagnóstico, serão fornecidas

orientações visando à substituição do alimento excluído, sendo recomendada a busca

de opções que evitem deficiências nutricionais e até quadros importantes de

desnutrição, principalmente nas crianças. Uma vez diagnosticada a alergia, o

tratamento, geralmente, limita-se à observância de dieta de exclusão dos alérgenos.

Os medicamentos específicos costumam ser prescritos para o tratamento dos

sintomas (crise), sendo de extrema importância fornecer orientações ao paciente e

25

Disponível em: <http://www.ufrgs.br/cecane/noticias/RDC-n%C2%BA-26,-02_07_2015---Dispoe-sobre-os-

requisitos-para-rotulagem-obrigatoria-dos-principais-alimentos-que-causam-alergias-

alimentares06_07_2015_08_20_21>. Acesso em: 20 fev. 2016

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aos familiares para que se evitem novos contatos com o alimento que desencadeia os

transtornos alimentares.

Com isso, os derivados desses produtos devem trazer a informação alérgica contendo

os nomes comuns dos alimentos que causam alergia alimentar à população, sem se esquecer

dos alimentos derivados que também causam o mesmo resultado.

Deste modo, nos casos em que não for possível garantir a ausência de contaminação

cruzada dos alimentos, ou seja, a presença de qualquer alérgeno alimentar não adicionado

intencionalmente, como no caso de produção e manipulação, o rótulo deve constar declaração

dos alimentos que causam alergias alimentares.

Essas advertências, segundo a norma, devem estar agrupadas imediatamente após ou

logo abaixo da lista de ingredientes e com caracteres legíveis, em caixa alta, negrito e cor

contrastante com o fundo do rótulo. Existe, ainda, o programa para identificação do controle

dos principais alimentos que causam alergias alimentares e para a prevenção da contaminação

cruzada

Por fim, os fabricantes terão um prazo de 12 (doze) meses para adequar as

embalagens e os produtos fabricados até o final do prazo de adequação poderão ser

comercializados até o fim de seu prazo de validade.

Há ainda uma lista de informações contendo rótulos de alimentos que não podem

declarar palavras, sinais ou desenhos que possam tornar a informação do rótulo falsa,

insuficiente, incompreensível ou que possam levar a um erro do consumidor ao atribuir ao

produto qualidades que não possam ser demonstradas, realçar qualidades que possam induzir

ao engano do consumidor com relação às propriedades terapêuticas verdadeiras ou supostas,

que algum nutriente possa ter quando consumido em quantidades diferentes daquelas

presentes nos produtos, entre outras características colocadas na rotulagem do alimento.

Desta forma, o CDC estabelece:

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter

publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo

por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,

características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer

outros dados sobre produtos e serviços. (gn)

Mesmo que a função principal do rótulo seja a de transmitir a informação básica para

a compreensão do que está sendo oferecido, Camargo (2003, p.9) assegura que:

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Um olhar casual no supermercado nos revela que a maioria dos produtos

alimentícios levam rótulos que se tornaram muito mais fontes de propaganda e

marketing do produto que tem por objetivo ―disputam nosso olhar e nossa atenção

[...] e nos seduzir com a força de belas cores, desenhos e palavras de convencimento.

As implicações disso podem ser que as embalagens dos alimentos industrializados

contribuem para o consumo de produtos que são considerados necessários muito

mais pelas características apresentadas na propaganda de sua embalagem do que

propriamente por seu valor nutritivo.

Em contrapartida os rótulos também servem cada vez mais como meio de

comunicação direto da empresa com o consumidor, por exemplo, comunicar ao consumidor

que a empresa abraça certas práticas socialmente responsáveis.

Nesse sentido, a rotulagem também pode ser vista como uma forma de

conscientização do consumidor, como é o caso da Rotulagem Ambiental, que é

regulamentada pela norma ISO 1400026

e contém os procedimentos gerenciais de fabricação

ambientalmente saudáveis (environmentallysound), recomendando métodos, tecnologias e uso

de materiais que não sejam prejudiciais ao meio ambiente. Entre seus objetivos, está o de

influenciar as decisões dos consumidores por meio do encorajamento ao consumo de produtos

menos prejudiciais ao meio ambiente e à saúde.

5.2 BENEFÍCIOS DA ROTULAGEM

A rotulagem dos alimentos transgênicos no Brasil não é novidade no ordenamento

jurídico nacional. O direito fundamental do consumidor à informação por meio da rotulagem

independe da presença ou da ausência de riscos à sua saúde advindos do produto, ainda que se

alegue a inexistência de riscos ao consumidor. Assim, o conhecimento da rotulagem é uma

ferramenta importante já que nela encontram-se informações úteis ao acompanhamento de um

produto desde sua origem até o consumo final, além de possibilitar ao consumidor o

conhecimento adequado das propriedades daquele alimento, servindo de proteção à sua saúde.

É patente a necessidade de haver comunicação entre produtores e consumidores. Ela

ocorre por intermédio do rótulo, portanto é necessário que as informações nele declaradas

sejam claras e sirvam para orientar a escolha adequada do alimento. Para isso, alguns itens

devem estar presentes de forma obrigatória, por exemplo: instrução para o preparo e uso do

alimento, identificação da origem, denominação do produto, rotulagem nutricional, prazo de

26

Englobada na ISSO 14000 contém os procedimentos gerenciais de fabricação ambientalmente saudáveis,

recomendando métodos, tecnologias e uso de materiais que não sejam prejudiciais ao meio ambiente.

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validade, lote e datada de fabricação, conteúdo líquido, lista de ingredientes e advertência

sobre o glúten entre outros ingredientes.

Todos esses itens são essenciais, pois identificam o produto com informações desde

sua origem até o seu prazo máximo de consumo, fornecendo ao consumidor noções básicas de

como preparar aquele alimento, como conservá-lo, até quando pode ser consumido, quem o

produziu e quando, o que é aquele produto, o que foi utilizado para produzi-lo, os nutrientes

que ele oferece e até mesmo se ele pode trazer benefícios ou malefícios à saúde. A rotulagem,

também, é um meio transmitir segurança e credibilidade sobre aquele alimento ao

consumidor, como uma ferramenta importante tanto para quem consome quanto para quem

produz e comercializa.

Um dos objetivos dos alimentos geneticamente modificadosé a melhora na qualidade

dos alimentos, o aumento da produção e a resistência às pragas. Além destes existem outros

motivos para modificar geneticamente um alimento ou vegetal. Alguns alimentos são para que

o seu amadurecimento seja prolongado, resistindo por muito mais tempo após a colheita. Já os

vegetais podem sofrer modificações visando ao seu aumento de tamanho, enquanto que outros

são modificados para resistirem ao ataque de vírus, fungos e herbicidas.

Destaca-se que a rotulagem ganha ainda mais relevância e notoriedade no caso de

produto que possa oferecer riscos à saúde do consumidor. Nesse sentido, impõe o CDC:

Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à

saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a

respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras

medidas cabíveis em cada caso concreto. (gn)

O CDC determina que os produtos geneticamente modificados devem ser rotulados

com todas as informações necessárias para informação do consumidor, assim Kunisawa

(2001, p. 142) afirma que:

A rotulagem de alimentos transgênicos e outros produtos de consumo que

contenham organismos geneticamente modificados possua informações escritas, não

se mostrando suficiente a simples inserção de um símbolo, sinal ou ilustração no

rótulo, pois somente assim ela será eficiente, clara e adequada, conforme disposto

nos arts. 4 º, caput, 6 º, III e 31, do CDC. Essas informações devem ser ostensivas

e em caracteres destacados, que estejam em contraste com as cores principais

da rotulagem, de forma a serem rápida e facilmente perceptíveis pelo

consumido

Assim, a indústria de alimentos de uma forma geral seja ele transgênicos ou não que

viole o CDC estará sujeita às penalidades cabíveis:

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Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante

sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,

durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços. Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa. (gn)

Após esta regulamentação do CDC, adveio alguns outros decretos federais para

regulamentar a porcentagem de alimentos transgênicos em cada produto, deste modo o

Decreto. 3.87127

, de 18.07.2001, veio ao encontro da necessidade de rotulagem dos alimentos

transgênicos, estabelecendo que a rotulagem de alimentos transgênicos embalados, destinados

ao consumo humano, deve ser efetuada quando o percentual de ingredientes geneticamente

modificados, considerados individualmente, fosse superior a 4%.

Logo em seguinte, ocorreu a substituição pelo Decreto 4.680, de 24.04.2003, que

regulamenta o direito à informação, assegurado pelo CDC, quanto aos alimentos e

ingredientes alimentares destinados ao consumo humano e animal que contenham ou sejam

produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, sem prejuízo do cumprimento

das demais normas aplicáveis.

Este Decreto 4.680/2003 veio sanar omissões do decreto anterior, incluindo os

produtos vendidos a granel ou in natura, além dos alimentos já embalados, determinando a

obrigatoriedade da informação do consumidor no rótulo do produto quando houver nesses

alimentos e ingredientes alimentares a presença de OGMs num percentual superior a 1% do

produto.

Com o novo regulamento, qualquer produto que contenha ou tenha sido produzido a

partir de OGM, em um percentual acima de 1%, independentemente da detectabilidade do

transgênico após todas as fases de processamento, deverá ser devidamente rotulado. Para

tanto, o fornecedor de matéria-prima geneticamente modificada deverá incluir essa

informação no documento fiscal para que ela conste em todas as etapas da cadeia produtiva.

Logo o CDC afirma que as informações fornecidas ao consumidor devem ser claras

e precisas, o Decreto 4.680/2003 determina que:

Art. 3o Os alimentos e ingredientes produzidos a partir de animais alimentados

com ração contendo ingredientes transgênicos deverão trazer no painel

principal, em tamanho e destaque previstos no art. 2o, a seguinte expressão:

"(nome do animal) alimentado com ração contendo ingrediente transgênico"

27

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/D3871.htm>. Acesso em: 28 jan. 2016

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ou "(nome do ingrediente) produzido a partir de animal alimentado com ração

contendo ingrediente transgênico". (gn)

Frisa-se, ainda, que a espécie doadora do gene deverá ser indicada quando da

identificação dos ingredientes do alimento, atendendo aos anseios sociais, quanto ao direito de

opção do consumidor de não ingerir certos tipos de alimentos, seja por motivo religioso,

cultural ou hábito alimentar.

Mesmo com a entrada em vigor da nova Lei de Biossegurança, Lei n. 11.105/ 2005,

ficou mantida a obrigatoriedade da rotulagem dos produtos geneticamente modificados,

conforme dispõe:

Art. 40. Os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou

animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão

conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento.

Desta forma, não resta dúvida de que, no Brasil, os produtos geneticamente

modificados devem ser rotulados, com todas as informações necessárias para informação do

consumidor. Para que o assunto fique ainda mais interessante sobre os benefícios que a

rotulagem traz para o consumidor é importante analisar o Projeto de Lei – PL n.º 4.148/2008

(no Senado, Projeto de Lei da Câmara – PLC n.º 34/2015) este versa sobre a rotulagem e

identificação de alimentos transgênicos no Brasil e propõe alterar a redação do artigo 40 da

Lei n.º 11.105/2005, que regulamenta a fiscalização de atividades que envolvem Organismos

Geneticamente Modificados – OGMs, com eventual revogação tácita do Decreto n.º

4.680/2003 e da Portaria do Ministério da Justiça n.º 2.658/2003.

A PL nº 4.148/08 propõe nas inovações requeridas e se essas novidades causariam

ainda mais obscuridade ao consumidor. A proposta contida é na identificação da origem

transgênica, a qual seria realizada no próprio produto final, pela análise laboratorial. A

identificação, portanto, não mais seria realizada com base na matéria-prima, mas no próprio

produto acabado, na última fase do processo produtivo, por meio de análise específica.

Segundo explica Ana Paula Bortoleto, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Defesa

do Consumidor – IDEC28

:

A inclusão da ―análise específica‖ para a comprovação da origem transgênica do

produto é um detalhe técnico que dificulta ter essa informação porque, como a

detecção só acontece se tivermos o DNA, o material genético do alimento

transgênico, quase nenhum alimento processado, industrializado, vai ter o DNA

28

Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-06/orgao-da-sociedade-civil-alertam-

sobre-o-fim-da-rotulagem-de-transgenicos>. Acesso em: 20 jun. 2015

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inteiro para fazer essa análise. Então, no produto final, não necessariamente

vamos encontrar a prova laboratorial de que ele é transgênico. E o que importa para

o consumidor é saber se a matéria prima usada no produto é ou não transgênica.

(grifo do autor).

Desta forma, cabe à inviabilidade técnica de discernir a existência ou não de

matéria-prima provida de OGMs por meio de análise laboratorial do produto final-acabado, o

resultado nefasto da eventual aprovação do PL n.º 4.148/2008 seria a ausência de rotulagem

sobre a origem transgênica para a grande maioria dos produtos transgênicos, o que

representaria uma forma de ocultar do consumidor a informação sobre a presença de OGMs

nos produtos. Mas não é apenas isso, o outro ponto que deve ser analisado é se caso fosse

aprovada a PL não existiria alimento transgênico?

Ao agir assim, todos os consumidores seriam iludidos, em razão da falta de

informação se o alimento estaria transgredindo o que o CDC determina, ou seja, a informação

clara e precisa. Portanto, o Congresso Nacional, com uma eventual anuência da PL nº

4.148/2008, não estaria trabalhando em favor e sim contra o povo. Além do que, se for

concedida essa aprovação os agricultores e empresas que cultivam os alimentos orgânicos não

saberão se tem procedência orgânica ou transgênica, desta forma, acabam por condenar os

agricultores e empresários e ainda condenam também os consumidores que consomem apenas

alimentos orgânicos.

Por fim, observa-se que o disposto na PL. nº 4.148/2008 vem contrariando a vontade

da população em relação à rotulagem dos alimentos transgênicos. O próprio Senado Federal

está realizando uma pesquisa sobre a permanência e a retirada da rotulagem dos alimentos

transgênicos.29

Na realidade todos os interesses contidos na PL é o de apenas retirar o direito do

cidadão de obter a informação clara e precisa, assim contrariando o que CF/88 determina e o

CDC também reafirma. A incerteza de que os alimentos transgênicos são benéficos ou

maléficos à alimentação de cada consumidor, logo, fica o questionamento de que forma

poder-se-ia se retirar tal informação?

Vale ainda destacar que, mesmo o atual Decreto nº 4.680/2003, de certa forma mais

rigoroso que o novo Projeto de Lei de nº 4.148/2008, no aspecto referente à rotulagem de

transgênicos, já é questionado por Ação Civil Pública ajuizada pelo MPF (ACP nº

2001.34.00.022280-6/DF), tendo por objeto obrigar a União a se abster de autorizar ou

29

Até o dia 27.03.2016, data do último acesso ao link transcrito a seguir, 14.702 pessoas participaram da

enquete, sendo que 13.860 votaram contra o Projeto de Lei n.º 4.148/2008 e 842 manifestaram-se

favoravelmente à proposta. http://www12.senado.gov.br/ecidadania/visualizacaotexto?id=164869

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permitir a comercialização de alimentos contendo em suas fórmulas organismos

geneticamente modificados – OGM‘s, sem expressa referência a esse dado na rotulagem dos

produtos, independente do percentual nele existente. É importante esclarecer que aqui se

discute que não há limite de tolerância.

Pode-se verificar, neste sentido, que o objetivo perseguido é garantir o pleno acesso à

informação pelos consumidores, de forma a obrigar a inserção da rotulagem sempre que

constatar a presença na matéria-prima ou no produto final, independentemente do percentual

constatado.

5.3 ARGUMENTOS CONTRA A ROTULAGEM

A maioria dos argumentos contrários à rotulagem dos alimentos, pautados pelas

multinacionais, é que a rotulagem poderia avultar os gastos com o produto final. Assim, não

seria viável para as empresas fornecedoras, visto que, certamente, este valor despendido seria

repassado ao consumidor. Por este prisma, caso a rotulagem não fosse obrigatória, quem

sairia ganhando seria o consumidor que não teria o produto final onerado.

Se por um lado produtos com maior visibilidade, como os óleos de soja ou os

biscoitos à base de milho processado das marcas líderes, já são rotulados há algum tempo,

outros produtos contendo transgênicos circulam pelo território nacional sem que haja qualquer

identificação ou controle suficiente por parte dos órgãos de fiscalização.

Deste modo, existem muitas empresas se valem de parlamentares ligados ao

agronegócio para tentar aprovar no Congresso Nacional leis com o intuito de reverter a

obrigatoriedade de rotulagem ou, ao menos, suavizá-la.

A exemplo do contexto colocado, o Projeto de Lei de nº 4.148/2008, do Deputado

Federal Luis Carlos Heinze, foi ao Plenário da Câmara dos Deputados Federais e foi aprovado

no dia 28.04.2015, tendo sido vencida uma etapa para acabar com a exigência do símbolo da

transgenia nos rótulos dos produtos. A matéria foi aprovada com 320 votos a favor da retirada

da rotulagem e 135 contra as informações prestadas para cada consumidor.

Importante informar que tal projeto já foi encaminhando ao Senado Federal e está

sendo realizada uma consulta pública para apurar a vontade da população nacional em

continuar recebendo informações sobre os alimentos transgênicos e, portanto, ter segurança

alimentar ou deixar de exigir o direito à rotulagem e ficar a favor de que as multinacionais

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trabalhem da forma como a nova legislação determina, conforme o Projeto de Lei anexado ao

final deste estudo.

5.4 SEGURANÇA ALIMENTAR

A prática da segurança alimentar há muito vem tomando grande proporção em

caráter mundial, haja vista a preocupação de disponibilizar alimentos seguros e saudáveis,

pois não adianta a população ter alimentos em grande escala se estes não têm a devida

segurança alimentar. O consumidor tem o direito de consumir alimentos seguros e livres de

contaminação, de natureza química, biológica, física ou de qualquer outra substância que

possa acarretar problemas à saúde.

A CF/88 estabelece que:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e

ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação.

Assim, a segurança alimentar está relacionada a tudo que diz respeito à garantia da

qualidade sanitária e nutricional dos alimentos. O Brasil sancionou a Lei nº 11.346 de 15 de

setembro de 2006, criando o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(SISAN), com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e estabelece que:

Art. 2º A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à

dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos

consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas

e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e

nutricional da população. (g.n) (...) omissis § 2º É dever do poder público respeitar, proteger, promover, prover, informar,

monitorar, fiscalizar e avaliar a realização do direito humano à alimentação

adequada, bem como garantir os mecanismos para sua exigibilidade. (gn)

Embora o enfoque da lei mencionada acima trabalhe a questão da fome no país, ela

também tem outras vertentes que são o cuidado e a garantia da segurança alimentar, desta

forma a legislação preconiza que:

Art. 4º A segurança alimentar e nutricional abrange: (...) omissis IV – a garantia da qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos

alimentos, bem como seu aproveitamento, estimulando práticas alimentares e estilos

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de vida saudáveis que respeitem a diversidade étnica e racial e cultural da

população.

Verifica-se, portanto, da interpretação acima que a legislação em vigor determina

todos os benefícios possíveis para uma alimentação adequada, valorizando o desenvolvimento

de maneira sadia, enriquecendo ainda a dignidade da pessoa humana, sem distinção alguma de

raça, cor, etnia.

Neste sentido, a questão da segurança alimentar é considerada um direito

fundamental do ser humano, para a efetivação dos direitos consagrados na CF/88. Tanto que o

direito à alimentação está previsto, de maneira expressa, no rol dos direitos fundamentais

sociais da Carta Magna:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição.

É de fundamental importância que o poder público trabalhe em prol de políticas e

ações que se façam necessárias para promover e garantir a qualidade dos produtos, com os

objetivos de dar informações certas sobre os alimentos e com isso garantir a segurança

alimentar, objetivando preservar a saúde do consumidor. É este, pois, um fator determinante

para um Estado Democrático de Direito.

Portanto, quaisquer que sejam as formas de produção, transformação e distribuição,

devem ser observados os padrões de segurança estabelecidos pela lei e pelos órgãos de

fiscalização, caso contrário, o não cumprimento de todas as demandas legais poderá gerar

insegurança alimentar, o que não é bom tanto para o mercado como para o consumidor que é

o lado mais afetado em razão do não cumprimento. Desse modo, qualquer alimento

transgênico deve, rigorosamente, respeitar os padrões de segurança alimentar, de tal forma

que esse padrão traga ao consumidor a segurança do que está consumindo e não apresente

dano algum à saúde.

Nesse sentido, as empresas de um modo geral estão obrigadas a prestar informações

no que diz respeito à qualidade e à procedência dos ingredientes que compõem os alimentos.

Destaca-se que a segurança alimentar é como um acessório da rotulagem, daí a importância de

se ter compromisso por parte da gestão em dar prioridade à rotulagem, considerando que

grande parte da população não compreende o flagrante desrespeito quando ausente a

rotulagem nos produtos com alimentos transgênicos.

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Nos dizeres de Pessanha e Wilkinson (2003, p. 263): ―a conscientização dos

consumidores, dos governos, dos produtores agrícolas e das empresas do sistema

agroalimentar eleva os requisitos de qualidade e segurança dos alimentos‖. É importante que

os consumidores conheçam todos os aspectos inerentes à produção e ao consumo dos

produtos geneticamente modificados, fazendo uma breve analogia sobre o que a União

Europeia trata da segurança alimentar.

Na mesma linha, Moraes (2012, p. 191) conclui: ―A segurança alimentar, para a

União Europeia e os Estados-Membros, faz parte de uma das maiores prioridades da agenda

política da comunidade, em razão do intuito de assegurar um alto nível de saúde pública‖.

Também, vê-se que o intuito do CDC é exigir que fosse cumprida a segurança dos

alimentos que tenha sido submetido à transgenia. Portanto, a rotulagem serve para que os

consumidores visualizem todas as informações do produto colocado à venda no mercado.

Do exposto, fica claro que a rotulagem merece destaque na sua aplicabilidade, assim

como a necessidade de que o Estado deve solidificar ainda mais o direito à informação aos

consumidores, de modo que os deixe livre para escolher o produto desejado sem

interferências externas. Outro quesito que chama bastante atenção quanto à obtenção de

informações necessárias acerca dos alimentos é o reduzido número de pesquisa sobre os

transgênicos.

Outro argumento muito utilizado pelas multinacionais é de que até o momento não

teriam sido comprovados acidentes significativos em função do cultivo e consumo de plantas

transgênicas. Como não há uma efetiva obrigatoriedade de rotulagem de alimentos

transgênicos nos países líderes em cultivo destes alimentos, a rotulagem é justamente,

impedida pelo insistente empenho das multinacionais, não há, portanto, um grupo

comparativo para poder promover tais estudos.

Dessa maneira, uma vez que resultados de laboratório não podem simplesmente ser

transferidos a campo, eventuais efeitos permanecem velados sendo apenas detectáveis quando

os perigos já se apresentam.

Há produtos que são colocados no mercado de consumo que, por si só, poderiam

causar prejuízos à saúde do consumidor, tais como os agrotóxicos, remédios entre outros. O

fornecedor pode comercializar esses produtos desde que cumpra o dever de informar ao

consumidor sobre os riscos ou perigos inerentes ao produto.

A classificação de periculosidade de produtos é explicada por Densa (2014, p. 58 e

59):

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Periculosidade latente ou inerente: diz respeito aos produtos que trazem consigo

uma periculosidade que lhes é própria, no entanto, esta periculosidade deve ser

informada e prevista pelo consumidor; Periculosidade adquirida: diferentemente da periculosidade inerente, os produtos

ou serviços apresentam defeitos de fabricação que põem em risco a incolumidade

física do consumidor. Destarte, a periculosidade é sempre imprevista pelo

consumidor; Periculosidade exagerada: trata-se de produto ou serviço em que, mesmo o

fornecedor tomando os devidos cuidados no que tange à informação dos

consumidores, não são diminuídos os riscos apresentados, não podendo ser inserido

no mercado de consumo.

Do entendimento acima, fica esclarecido que o fornecedor tem o dever de indenizar o

consumidor nas hipóteses de danos experimentados por este quando ocasionados produtos

apresente periculosidade exagerada, uma vez que não poderia tê-los inserido no mercado de

consumo, bem como quando apresenta periculosidade adquirida, por apresentar defeito não

previsível ao consumidor, sendo adotada, aqui, a teoria do risco do negócio.

No caso dos alimentos transgênicos estes se enquadram na periculosidade exagerada,

pois mesmo as multinacionais tomando todas as medidas de segurança o alimento carrega

uma grande quantidade de agrotóxico, não diminuem e sim aumentam o dano que o

consumidor pode sofrer. Acrescenta-se, ainda, o fato de que há pouquíssimos estudos

independentes disponíveis sobre os efeitos dos transgênicos na saúde.

Apesar de todo esse contexto, existem alguns estudos que questionam a segurança da

tecnologia transgênica com relação à saúde. No caso da variedade de milho starlink30

,

resistente a insetos, desenvolvido pela Bayer em 2002, foi constatado o perigo deste causar

alergias. Isso provocou a diminuição de investimentos na pesquisa transgênicas pelo grupo da

indústria química.

Portanto, a rotulagem serve para que os consumidores visualizem todas as

informações pertinentes ao produto colocado à venda no mercado e merece destaque na sua

aplicabilidade. Neste sentido, o Estado deve solidificar ainda mais o direito à informação, de

30

A FDA, agência americana que regula remédios e alimentos, iniciará em breve a realização de testes de sangue

em pessoas que disseram ter ficado doentes após comer uma variedade de milho transgênico. O teste, criado

recentemente pela agência, foi elaborado para indicar se alguém é alérgico à proteína Cry9C, específica do milho

StarLink. O governo investiga 12 reclamações de pessoas. A variedade StarLink, vetada para consumo humano

por causa da possibilidade de causar reações alérgicas, foi descoberta nos estoques de alimentos no último

trimestre do ano passado, levando ao recolhimento de tacos e outros produtos em todo o País. As reações

alérgicas foram vistas por anos como a ameaça primária à saúde representada pelos transgênicos. As reclamações

sobre o StarLink são as primeiras apresentadas por consumidores contra um alimento geneticamente alterado. A

Aventis, que desenvolveu o StarLink, disse que mais de 15 milhões de toneladas de milho americano foram

contaminados com o grão transgênico.

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modo que deixe livre aos consumidores a escolha do produto desejado sem interferências

externas.

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100

6 CONSIDERAÇÃO FINAIS

A partir de 1970, com a descoberta da tecnologia do DNA recombinante, permitiu-se

a recuperação das barreiras naturais que separavam as espécies, por meio da manipulação do

genoma dos organismos, impulsionando a revolução da biotecnologia moderna.

Surgiram, assim, os organismos geneticamente modificados e os transgênicos, que,

vale ressaltar, não têm o mesmo significado. Naqueles, utilizam-se materiais genéticos

provenientes da mesma espécie; nestes, foram introduzidos, por meio da tecnologia do DNA

recombinante, genes exógenos.

Do estudo realizado, pôde observar que a Lei de Biossegurança (Lei n° 11.105/05)

não definiu no seu artigo 3°, o termo ‗‘transgênico‘, gerando incerteza jurídica e um perigo ao

real cumprimento do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput,

CF/88), que é defendido aqui como fundamental.

Partindo desta constatação, alcançou-se o primeiro objetivo específico, comprovando

haver diferença entre transgênicos e organismos geneticamente modificados, entretanto na Lei

de Biossegurança são tratados como se iguais fossem.

Quando esse alimento transgênico é posto a consumo, surgem preocupações acerca

da devida rotulagem, informando sobre sua composição transgênica, se é seguro o seu

consumo, se não afeta a segurança alimentar, e se foram exigidos pela CTNBio estudos

suficientes para sua posterior liberação.

Avaliando o cumprimento do direito à informação nas relações de consumo

envolvendo alimentos transgênicos ou animais alimentados com rações transgênicas,

constatou-se haver leis, decretos, portarias normatizando a devida rotulagem, porém poucos

fornecedores informam adequadamente os consumidores.

O estudo deparou-se com outro fato alarmante: a maioria da população brasileira não

sabe o que é um alimento transgênico, tampouco o significado do símbolo caracterizador.

Desse modo, mesmo que a rotulagem fosse cumprida, nenhuma eficácia teria, em razão de

grande parte de consumidores desconhecerem seus direitos. Afirma-se, assim, a necessidade

de campanhas públicas com o objetivo de estreitar essas informações, possibilitando ao

consumidor exercer seus direitos conscientemente e colocar em prática o princípio da

dignidade da pessoa.

Há, na verdade, uma grande discussão entre agropecuaristas e ambientalistas.

Argumenta-se, de um lado, a urgência em se ampliar a produção de alimentos, na perspectiva

de atender rapidamente ao elevado crescimento populacional. Contrariamente, cautela-se em

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exigir estudos prévios e consistentes para saber se esses alimentos transgênicos são saudáveis,

se estudos realizados em países de clima temperado serviriam para o nosso clima, que é

predominantemente, tropical.

Em última análise, em casos de estudos preliminares insuficientes na liberação de um

transgênico, restando omisso ou negligente, o poder público quando não exige estudos mais

aprofundados, torna evidente responsabilidade solidária do Estado diante de danos não

imediatos resultantes na ingestão desses alimentos.

Não se pretende, neste estudo, evidenciar o desejo de uma estagnação econômica,

pautando-se no princípio da vedação ao retrocesso, pois se tem em vista que o agronegócio é

de grande importância para o País, que potencial desenvolvimentista. Na verdade, o que se

buscou nesta pesquisa foi apresentar questões relacionadas à dignidade da pessoa humana, à

segurança alimentar, à informação sobre os riscos envolvidos numa relação de consumo, e a

necessidade de se respeitar a Constituição, o Código Civil, o Código de Defesa do

Consumidor e todas as outras convenções e leis esparsas sobre o tema.

Do estudo realizado, conclui-se que, não se nega que a partir dessas inovações da

biotecnologia e da bioengenharia, muitos benefícios poderão ser apontados a priori. Contudo,

é imprescindível haver um trabalho permanente na área de divulgação/informação aos

consumidores, não somente a respeito do real significado do que sejam os organismos

geneticamente modificados e os transgênicos, além de uma análise mais aprofundada por

meio de investimentos em pesquisas, com o fim de avançar os estudos genéticos, antes de

serem colocados à disposição da sociedade, para que esta não possa vir a sofrer

consequências, quiça irreversíveis, no futuro próximo.

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REFERÊNCIAS

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1999.

ALEXANDROVA, N;GEORGIEVA, K;ATANASSO, A. BiosafetyregulationsofGmos:

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ANEXO A - PROJETO DE LEI Nº 4.148 DE 2008

Altera e acresce dispositivos à Lei n° 11.105, de 24 mar. 2005.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º. O caput do artigo 40 da Lei n° 11.105, de 24 mar. 2005, passa a vigorar com a

seguinte redação:

Art. 40. Os rótulos dos alimentos destinados ao consumo humano, oferecidos em embalagem

de consumo final, que contenham organismos geneticamente modificados, com presença

superior a 1% de sua composição final, detectada em análise especifica, deverão informar o

consumidor, a natureza transgênica do alimento.

Art. 2º. Acresce-se ao artigo 40 da Lei n° 11.105, de 24 mar. 2005, os §§ 1º, 2º e 3º, com a

seguinte redação:

§ 1º. A informação estabelecida neste artigo deve constar nos rótulos dos alimentos

embalados na ausência do consumidor, bem como nos recipientes de alimentos vendidos à

granel ou in natura diretamente ao consumidor, devendo ser grafada, em destaque, de forma

legível, utilizando-se uma das seguintes expressões, dependendo do caso:

―(nome do produto) transgênico‖ ou ―contém (nome do ingrediente) transgênico‖.

§ 2°. Aos alimentos que não contenham organismos geneticamente modificados será facultada

a rotulagem ―livre de transgênicos‖, desde que tenham similares transgênicos no mercado

brasileiro e comprovada a total ausência no alimento de organismos geneticamente

modificados, através de análise específica.

§ 3º. O direito à informação para os alimentos que envolvam organismos geneticamente

modificados está disciplinado exclusivamente neste artigo e a sua não observância implicará

na aplicação das penalidades previstas no Código de Defesa do Consumidor e demais normas

aplicáveis.

Art. 3º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em

contrário.

JUSTIFICAÇÃO

Ressaltamos que defendemos o direito do consumidor ser informado sobre as

características ou propriedades dos alimentos. Entretanto, o direito à informação deve ser

aplicado em consonância com os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade,

contemplados no inciso III, do artigo 4o, da Lei 8.078/90, além de apresentar conteúdo útil,

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esclarecedor e eficiente, em obediência ao Código de Defesa do Consumidor, especialmente

seus artigos 6o e 31. (g.n)

A experiência diária de relacionamento com o consumidor, nos leva a acreditar que a

informação que induza a erro, falso entendimento ou de conteúdo inútil, é desinformante, já

que não cumpre o papel de esclarecer, mas sim o de confundir ou de nada agregar.

A questão da biotecnologia no Brasil foi extremamente politizada. Algumas organizações, sob

o pretexto de informar o consumidor, pretendem que o rótulo do alimento funcione como

ferramenta de contra propaganda, intuito com o qual a legislação em vigor tem ido de

encontro, ao estabelecer frases e símbolo, sem conteúdo esclarecedor, ora inúteis, ora

desinformantes, o que, em verdade, leva o consumidor a uma situação exatamente contrária

àquela objetivada pela Lei n° 8.078/90.

É por tais razões que elaboramos a presente proposta de alteração da Lei n° 11.105/05 para

que as regras de rotulagem possam atingir seu fim, estabelecendo o critério da detectabilidade,

o limite de presença não intencional de OGM e a forma da informação de modo a não

confundir o consumidor.

I - Detectabilidade

Julgamos inapropriado o critério da rastreabilidade para o fim de rotulagem de produtos

geneticamente modificados, devendo ser adotado o critério da DETECTABILIDADE, como

proposto no caput do artigo 40, já que os inconvenientes da primeira são de ordem econômica

e operacional.

Consideramos a rastreabilidade um esse sistema extremamente complexo, custoso e com

graves inconvenientes, tais como:

1. O critério de rastreabilidade é frágil e coloca em desvantagem os produtos nacionais em

relação aos importados.

Em regra, a fragilidade desse critério, subsume-se no fato de que os meios de comprovação da

não utilização de matéria-prima geneticamente modificada, baseiam-se na apresentação de

certificados e/ou outros documentos, inclusive fiscais, de difícil controle.

Outra desvantagem com relação a esse método é a dificuldade, senão impossibilidade, da sua

realização para produtos importados.

Não há controle da matéria-prima e do produto final importados, no país de origem, gerando,

dessa forma, tratamento desigual com relação aos produtos nacionais.

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Os altos custos para a fabricação de produto nacional livre de organismos geneticamente

modificados, segundo o critério da rastreabilidade, acarretariam tratamento desigual com

relação aos produtos importados não rastreados, em consequência não rotulados.

Tais custos, de certificação e rastreabilidade, em determinados casos tornam-se impraticáveis,

sendo, ainda, repassados ao consumidor através do preço dos produtos.

2. Os fornecedores de matéria-prima, em sua maioria, não estão preparados para um processo

de certificação, sendo que os fornecedores estrangeiros podem não se dispor a tal processo,

podendo gerar desabastecimento.

3. O controle do processo de certificação, especialmente de grãos, nem sempre é feito na sua

totalidade. Acresce-se, ainda, o fato de que pode ocorrer agregação não intencional, nas etapas

de transporte e armazenagem.

O processo de certificação, em especial, plano de amostragem e metodologia devem ser

precisos e rigorosos, sob pena de se tornarem inócuos.

1. A certificação geraria várias categorias de matérias-prima no mercado, com valores

distintos, impactando toda a cadeia produtiva.

II - Percentual

Todas as matérias-primas utilizadas na produção de alimentos, incluindo as geneticamente

modificadas, são previamente avaliadas pelas autoridades competentes e consideradas seguras

para consumo humano e animal.

Assim, a informação sobre a transgênia se presta a garantir o direito de escolha, sem de

nenhuma forma, afetar a saúde do consumidor.

Bem por isso, a fixação de quaisquer percentuais de presença passível de isentar a rotulagem

não segue nenhum conteúdo científico, mas sim, em verdade, econômicos, ou seja, custos

gerados na ―segregação‖ da matéria-prima convencional da transgênica, em toda a cadeia

produtiva.

Imprescindível, desse modo, a rotulagem seja exigida para os alimentos em que, através de

análise laboratorial, constate-se proteína ou DNA resultantes de técnica de engenharia

genética, acima do limite de 1% no produto final.

II – Formato da informação

Três outros itens que dizem respeito à forma de prestar a informação nos alimentos

transgênicos, também merecem disciplina mais adequada e que resultaram nas redações dos

§§ 1º, 2º e 3º, a saber:

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1) Indicação da espécie doadora do gene;

Entendemos que a indicação da espécie doadora do gene não traz benefício ao consumidor,

uma vez que de difícil compreensão (nomes científicos), contrariando, desse modo, o disposto

nos artigos 6º e 31 do Código de Defesa do Consumidor, que exige o fornecimento ao

consumidor de informações claras e que não o levem a erro ou falso entendimento.

Por essa razão, a informação contemplada no § 2º, art. 2°, do Decreto n° 4.680/03 não se

refletiu na presente proposta.

2) Aposição de símbolo no rótulo; e, Quanto a inserção de símbolo junto à informação de

transgênia, conforme disciplinado no Decreto n° 4.680/03 e na Portaria n ° 2.658/03,

julgamos inapropriada a sua utilização para indicação da presença de DNA ou proteína

resultante da modificação genética, pelos motivos que seguem.

As normas de rotulagem de alimentos estabelecidas no Mercosul e no CodexAlimentarius,

não apresentam dispositivos específicos de rotulagem dos produtos produzidos a partir de

organismos geneticamente modificados e seus derivados.

As exigências do Decreto n° 4.680/03 e da Portaria n° 2.658/03 provocam sérios problemas

nas relações comerciais internacionais, uma vez que o Brasil é o único país do mundo a adotar

um símbolo de alerta em produtos aprovados para consumo humano.

As normas brasileiras não se baseiam em nenhum precedente internacional ao instituir o

símbolo, que de resto, somente agrega valor negativo ao produto.

Cabe ainda ressaltar que a apresentação gráfica (formato e cores) do símbolo disciplinado na

Portaria n° 2.658, de 22 de dezembro de 2003, é utilizada em placas de advertência, atenção e

existência de risco, afixadas em locais de perigo, radiação, eletricidade, explosão, entre

outros.

Assim, o símbolo em questão vincula o alimento, que contenha DNA ou proteína obtida

através de organismo geneticamente modificado, a circunstâncias de perigo, nocividade,

cuidado, alerta, e outras mais para as quais a apresentação gráfica é usualmente destinada.

Esta correspondência entre o símbolo (triângulo amarelo e preto) e suposto ―risco‖ de

consumo afeta a imagem de qualidade dos produtos, bem como, a exigência da cor amarela

gera altos custos com embalagens, haja vista que, muitas vezes, esta cor não compõe a

rotulagem usual dos produtos.

3) Rotulagem de alimentos e ingredientes produzidos a partir de animais alimentados com

ração com ingredientes transgênicos.

Certo é também, que inexiste no mercado internacional regras de rotulagem para produtos

produzidos a partir de animais alimentados com OGM, bem como, em hipóteses muito

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restritas, se exige a rotulagem quando ausente a proteína ou DNA resultantes de técnica de

engenharia genética, sendo provável que os importadores entendam tais exigências como a

criação de barreiras não tarifárias, e pior, não justificadas tecnicamente, passível, ainda, de

gerar, em contraposição, restrições em exportações. (grifo do autor).

A exclusão de previsão de rotulagem de alimentos destinados a animais também carecem de

justificativa técnica nos moldes acima. CONCLUSÃO: Em razão de todas as impropriedades

das regras de rotulagem supra-elencadas, mister se faz que a disciplina da rotulagem dos

alimentos que contenham organismos geneticamente modificados, contemple de forma clara:

limite de presença de OGM (%) que isente a rotulagem; prevalência do critério da

detectabilidade; e forma de apresentação da informação útil e clara ao consumidor.

Sala das Sessões, em 16 de outubro de 2008.

Deputado LUIS CARLOS HEINZE

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