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1 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RUBENS DE MENDONÇA CANUTO AÇÃO PENAL Nº 168/PB (0002718-80.2010.4.05.8200) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU : TATIANA LUNDGREN CORREA DE OLIVEIRA ADV/PROC : MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO ADV/PROC : CARLOS MAGNO GUIMARAES RAMIRES ADV/PROC : EMERSON DAVIS LEONIDAS GOMES E OUTROS RÉU : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO ADV/PROC : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO RÉU : ZAERSOM DO CARMO GUEDES TORRES ADV/PROC : FRANCISCO EUGENIO GOUVEIA NEIVA E OUTRO ORIGEM : 2ª VARA FEDERAL DA PARAÍBA - PB RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO EMENTA PENAL. PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ESTELIONATO E PATROCÍNIO INFIEL. PRESCRIÇÃO DOS CRIMES DE ESTELIONATO EM SUA FORMA TENTADA. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. APLICABILIDADE. DOSIMETRIA. - É competente a Justiça Federal para o processamento e julgamento do crime de estelionato praticado em prejuízo de particulares, quando a fraude tiver ocorrido mediante o patrocínio infiel de reclamações trabalhistas, em detrimento da Justiça do Trabalho e dos reclamantes. - Reconhecimento da prescrição em abstrato dos estelionatos que não chegaram a se consumar por motivos alheios à vontade dos acusados. - Materialidade e autoria delitiva comprovada. Hipótese em que restou comprovada a prática do crime de estelionato contra os ex-empregados e outros credores de empresa agrícola, tendo os acusados recebido vantagem ilícita, consistente nos valores da desapropriação da fazenda na qual sediada a empresa, mediante a simulação de várias reclamações trabalhistas, bem assim da cessão fraudulenta dos créditos que delas se originaram. - Não obstante o delito de patrocínio infiel (CP, art. 355) seja um crime próprio, ele admite o concurso de pessoas (CP, art. 29), o qual deve ser reconhecido no caso concreto, em que restou evidente a colaboração dos demais acusados para a consumação do crime, a qual se dá com o efetivo prejuízo causado pela traição do advogado ou procurador judicial.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO CANUTO … · de justa causa para a ação penal, porque a acusação ministerial fundamenta- ... Em face da eleição de Tatiana Lundgren

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RUBENS DE MENDONÇA

CANUTO

AÇÃO PENAL Nº 168/PB (0002718-80.2010.4.05.8200) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU : TATIANA LUNDGREN CORREA DE OLIVEIRA ADV/PROC : MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO ADV/PROC : CARLOS MAGNO GUIMARAES RAMIRES ADV/PROC : EMERSON DAVIS LEONIDAS GOMES E OUTROS RÉU : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO ADV/PROC : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO RÉU : ZAERSOM DO CARMO GUEDES TORRES ADV/PROC : FRANCISCO EUGENIO GOUVEIA NEIVA E OUTRO ORIGEM : 2ª VARA FEDERAL DA PARAÍBA - PB RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO

EMENTA

PENAL. PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

ESTELIONATO E PATROCÍNIO INFIEL. PRESCRIÇÃO DOS CRIMES DE

ESTELIONATO EM SUA FORMA TENTADA. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO.

APLICABILIDADE. DOSIMETRIA.

- É competente a Justiça Federal para o processamento e julgamento do crime

de estelionato praticado em prejuízo de particulares, quando a fraude tiver

ocorrido mediante o patrocínio infiel de reclamações trabalhistas, em

detrimento da Justiça do Trabalho e dos reclamantes.

- Reconhecimento da prescrição em abstrato dos estelionatos que não

chegaram a se consumar por motivos alheios à vontade dos acusados.

- Materialidade e autoria delitiva comprovada. Hipótese em que restou

comprovada a prática do crime de estelionato contra os ex-empregados e

outros credores de empresa agrícola, tendo os acusados recebido vantagem

ilícita, consistente nos valores da desapropriação da fazenda na qual sediada a

empresa, mediante a simulação de várias reclamações trabalhistas, bem assim

da cessão fraudulenta dos créditos que delas se originaram.

- Não obstante o delito de patrocínio infiel (CP, art. 355) seja um crime próprio,

ele admite o concurso de pessoas (CP, art. 29), o qual deve ser reconhecido no

caso concreto, em que restou evidente a colaboração dos demais acusados

para a consumação do crime, a qual se dá com o efetivo prejuízo causado pela

traição do advogado ou procurador judicial.

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- Hipótese em que o delito de patrocínio infiel não passou de um meio para o

cometimento do crime de estelionato, sendo o caso de aplicar-se o princípio da

consunção.

- Dosimetria da pena. Elevação da pena base em razão da presença de

circunstâncias judiciais desfavoráveis.

- Reconhecimento da continuidade delitiva (CP, art. 71), com aumento de pena

no patamar de 1/4 (um quarto), tendo em vista o cometimento de quatro crimes

de estelionato.

- Fixação da pena definitiva em 3 (três) anos, 1 (um) mês e 15 (quinze) dias de

reclusão, para a acusada proprietária da empresa e em 2 (dois) anos, 9 (nove)

meses e 22 (vinte e dois) dias de reclusão, para os demais acusados.

- Ação penal procedente, em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, etc.

Decide o Pleno do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por

maioria, julgar procedente, em parte, a denúncia, para condenar cada um dos

réus pelo cometimento de quatro delitos consumados de estelionato, cometidos

em continuidade delitiva, tudo nos termos do Relatório, Voto e notas

taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do

presente julgado.

Recife, 9 de dezembro de 2015.

(Data de julgamento)

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RUBENS DE MENDONÇA

CANUTO

AÇÃO PENAL Nº 168/PB (0002718-80.2010.4.05.8200) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU : TATIANA LUNDGREN CORREA DE OLIVEIRA ADV/PROC : MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO ADV/PROC : CARLOS MAGNO GUIMARAES RAMIRES ADV/PROC : EMERSON DAVIS LEONIDAS GOMES E OUTROS RÉU : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO ADV/PROC : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO RÉU : ZAERSOM DO CARMO GUEDES TORRES ADV/PROC : FRANCISCO EUGENIO GOUVEIA NEIVA E OUTRO ORIGEM : 2ª VARA FEDERAL DA PARAÍBA - PB RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO

RELATÓRIO

O DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI: O Ministério Público

Federal ofereceu denúncia em 10.04.2010 desfavor de Tatiana Lundgren

Corrêa de Oliveira, atual Prefeita do Município de Conde/PB, Roberto Farias de

Araújo, e Zaerson do Carmo Guedes Torres, em face da suposta prática dos

crimes previstos nos artigos 171, c/c o art. 14, do CP e 355, do Código Penal,

por eles supostamente integrarem um esquema para fraudar o pagamento dos

créditos trabalhistas devidos aos ex-empregados da Lundgren Agropastoril

Agrícola S/A - LUPASA, demitidos após o encerramento das atividades da

empresa, que receberam quantias irrisórias, mediante a compra de "créditos"

referentes às legítimas indenizações trabalhistas a que eles teriam direito.

Noticia a peça acusatória que Jeranil Lundgren e Almir Corrêa (já

falecidos), proprietários da empresa LUNDGREN AGROPASTORIL

AGRÍCOLA S/A - LUPASA, após verificar que a Fazenda Tabatinga/Jacumã,

onde ficava a sede da Usina, passou a ser objeto de desapropriação pelo

INCRA, em 1996, simularam, no ano de 1997, reclamações trabalhistas para

obter a constituição de créditos em prejuízo dos empregados, que acabaram

recebendo quantias irrisórias em acordos simulados na Justiça do Trabalho,

enquanto os Denunciados, de posse dos créditos, recebiam o valor real deles.

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Esclareceu a denúncia que após o falecimento do casal, em 1997, a

filha deles, a Denunciada Tatiana Lundgren Corrêa de Oliveira, continuou a

fraude até 31.10.2006, consistente no convencimento dos ex-empregados da

Usina, a maioria pessoas de pouca instrução, a ajuizarem ações trabalhistas

com o advogado indicado pelo casal, no caso, o Denunciado Roberto Farias de

Araújo, tendo sido firmado acordos nas reclamações nas quais os ex-

empregados receberiam R$ 1.000,00 (um mil reais), sendo o restante do débito

dividido em parcelas mensais, sendo fixada uma multa de 100% em caso de

descumprimento da decisão.

Após o pagamento do montante de R$ 1.000,00 (um mil reais) aos ex-

empregados, o restante do acordo era propositadamente descumprido, para

que a multa aumentasse o valor dos créditos e os processos trabalhistas

chegassem à fase de execução, obrigando o Juiz da desapropriação a

determinar a penhora da usina, que, uma vez realizada, e expedidos os alvarás

de levantamento pela Justiça do Trabalho, os créditos trabalhistas seriam

sacados não pelos ex-empregados, mas sim pelos Denunciados, utilizando-se

dos serviços de Zaerson do Carmo, sócio da empresa Múltipla Assessoria de

Investimentos, Planejamento, Informática, Factoring e Fomentos Ltda., que

"comprou" créditos dos ex-empregados, sem que eles soubessem que estavam

assinando procurações neste sentido, e do advogado Roberto de Farias

Araújo, que era o advogado indicado pelos pais de Tatiana e posteriormente

por ela para os ex-empregados, no intuito de ajuizar as reclamações

trabalhistas simuladas, repassando aos outros Denunciados os alvarás de

levantamento da penhora que recebia da Justiça do Trabalho em detrimento de

seus representados.

Em face do exposto, a denúncia requereu a condenação de Tatiana

Lundgren Corrêa de Oliveira e Zaerson do Carmo, nas penas do art. 171, do

CP (quatro vezes); art. 171 c/c o art. 14, do CP (nove vezes), nos termos do

art. 29 e 69, do Código Penal e Roberto Farias de Araújo, nas penas do art.

171, do CP (quatro vezes); art. 171 c/c o art. 14, do CP (nove vezes), e art.

255, caput, do CP (treze vezes), nos termos do art. 29 e 69, do Código Penal.

A denúncia foi recebida em 08.06.2010, pelo MM. Juiz da 2º Vara

Federal da Seção Judiciária de Pernambuco, porque os Denunciados não

tinham foro privilegiado.

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Em sua defesa, nos termos dos arts. 396 e 396-A do CP, Roberto

Farias de Araújo afirmou que atuou regularmente nas reclamações trabalhistas,

tendo sido procurado pelos ex-empregados da Usina para o ajuizamento das

ações na Justiça do Trabalho, cumprindo fielmente os seus mandatos,

ressaltando que, como a empresa apenas pagou parte do acordo, deu

continuidade à execução em detrimento do único bem disponível, para receber

os créditos dos seus constituintes, tendo-os entregue ao procurador dos

reclamados, salientando que à época dos fatos, não havia impedimento legal

ou administrativo à cessão de crédito trabalhista, o que apenas veio a ocorrer

com o Provimento nº 06, de 21.12.2000, requerendo, ao final, a sua absolvição

- fls. 25/29.

Tatiana Lundgren, em sua resposta à acusação, sustentou sua

ilegitimidade para a ação penal, porque os responsáveis pelo delito teriam sido

seus pais, que teriam a ideia de simular reclamações trabalhistas, e que as

acusações a este respeito contra ela seriam especulações de seus adversários

políticos - fls. 43/47.

Zaerson do Carmo Guedes Torres, em sua defesa, sustenta a ausência

de justa causa para a ação penal, porque a acusação ministerial fundamenta-

se em deduções e ilações, não havendo prova de que ele tenha obtidas as

cessões de crédito mediante fraude.

No mérito, afirma não ter trabalhado com os outros denunciados e que

sua empresa, a MÚLTIPLA, tinha por objeto a compra de cessões de vários

tipos de crédito, sempre com o conhecimento e participação dos cessionários,

que recebiam adiantado os valores relativos aos créditos cedidos, sendo o ato

formalizado mediante a escritura pública, não havendo ardil ou fraude,

requerendo sua absolvição - fls. 50/56.

Rejeitadas as alegações da defesa, foi determinada a realização da

audiência em 20.08.2010 - fls. 60/61.

Interrogatórios dos Réus às fls. 112/119.

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Oitiva das testemunhas da Acusação às fls. 121/131 e 149/153 e das

testemunhas de Defesa às fls. 153/160 e 315/317.

Na petição de fls. 325/329, requereu Tatiana Lundgren a declaração da

extinção da punibilidade pela consumação da prescrição em abstrato, porque,

fixada a pena máxima do crime de estelionato em 05 (cinco) anos de reclusão,

prescrevem em 12 (doze) anos, período que fora ultrapassado, considerando

que o interstício compreendido entre os fatos delituosos, que ocorreram em

1997, e o recebimento da denúncia, datado de 10.06.2010.

Com vista, o MPF opinou pela rejeição da extinção da punibilidade,

porque os fatos datam, na verdade, de 2006, data em que os créditos foram

pagos aos denunciados em detrimento dos ex-empregados da empresa, de

forma que não teria transcorrido o prazo prescricional necessário para eximir a

Denunciada do crime de estelionato, tendo em vista que a denúncia foi

recebida em 10.06.2010 - fls. 391/394.

Em face da eleição de Tatiana Lundgren para a Prefeitura do Conde/PB

para o mandato de 2013/2016, requereu o MPF, em 25.04.2013, remessa dos

autos a este Tribunal, em face do foro privilegiado da Ré - fls. 477/478.

O MM. Juiz Federal Substituto da 4ª Vara da seção Judiciária da

Paraíba, após declinar da competência, determinou a remessa dos autos para

este Tribunal em 21.05.2013 - fls. 480/481.

Com vista, a douta Procuradoria da República requereu o

prosseguimento do feito, requerendo a inquirição da última testemunha

indicada pela defesa - fls. 192.

O MM. Des. Federal Substituto Élio Siqueira determinou a realização da

audiência de inquirição da testemunha de defesa de Tatiana Lundgren, em

29.07.2013, às fls. 495/497.

A testemunha da defesa foi ouvida em audiência às fls. 569/576,

realizada em 02.10.2013.

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Foi o feito chamado à ordem, para obedecer ao disposto na Lei nº

11.719/2008, que possibilitou ao Réu ser interrogado após a instrução criminal,

tendo sido realizados novos interrogatórios dos Réus em 17.12.2013 às fls.

644/658.

Com vista para diligência complementares, apenas o Réu Roberto

Farias de Araújo se manifestou, apresentando cópia da decisão preferida no

IPL nº 200.2011.010.044-9, em trâmite na 1ª Vara Criminal do Estado da

Paraíba, sobre os mesmos fatos, tendo sido determinado o arquivamento do

IPL por ausência de provas - fls. 670/671.

Em suas alegações finais, requer o MPF a condenação dos Réus,

alegando ser incontroversa a conduta criminosa deles, que teriam se valido da

fraude contra ex-empregados da Usina para a obtenção de seus créditos

trabalhistas, ora deixando de lhes pagar o devido, ora "comprando" seus

créditos por um valor ínfimo, para receber os valores referentes à fazenda

desapropriada - fls. 676/682.

Em suas alegações finais, Tatiana Lundgren reitera o pedido de

declaração da extinção da punibilidade, pela consumação da prescrição em

abstrato, porque, fixada a pena máxima do crime de estelionato em 05 (cinco)

anos de reclusão, prescrevem em 12 (doze) anos, período que fora

ultrapassado, considerando que o interstício compreendido entre os fatos

delituosos, que ocorreram em 1997, e o recebimento da denúncia, datado de

10.06.2010.

Pede, ainda, a sua absolvição, porque não haveria provas da ingerência

direta dela nos atos delituosos, que teriam sido perpetrados por seus pais, visto

que nunca teve qualquer gerência ou participação na LUPASA, que era regida

por seus genitores, não havendo prova de que ela tenha participado dos atos

criminosos, e reiterando que tais especulações se originam de seus inimigos

políticos - fls. 689/698.

Roberto Farias de Araújo, em suas alegações finais, requer, em

preliminar, a declaração de incompetência da Justiça Federal, afirmando que

não houve crime contra a organização do trabalho ou qualquer das hipóteses

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do art. 109, da Constituição Federal, de forma que os autos deveriam ser

remetido à Justiça Estadual.

No mérito, afirma que atuou regularmente nas reclamações trabalhistas,

cumprindo fielmente os mandatos outorgados pelos ex-empregados da Usina

para o ajuizamento das ações na Justiça do Trabalho, ressaltando que, como a

empresa apenas pagou parte do acordo, deu continuidade à execução em

detrimento do único bem disponível, para receber os créditos dos seus

constituintes, tendo-os entregue ao procurador dos reclamados, salientando

que à época dos fatos, não havia impedimento legal ou administrativo à cessão

de crédito trabalhista, o que apenas veio a ocorrer com o Provimento nº 06, de

21.12.2000, requerendo, ao final, a sua absolvição - fls. 699/704.

Zaerson do Carmo Guedes Torres, em suas alegações finais, também

sustenta a incompetência da Justiça Federal, porque os crimes, caso existam,

foram cometidos em detrimento de particulares e não da Justiça do Trabalho,

ressaltando que o IPL nº 0000559-38.2008.05.8200, em trâmite pelos mesmos

fatos, foi remetido à Justiça Estadual pela MM. Juíza da 3º Vara da Seção

Judiciária da Paraíba, em face da ausência de cometimento de crime contra a

organização do trabalho.

No mérito, requer sua absolvição, em face da ausência de

materialidade delitiva, porque teria tratado diretamente da cessão do crédito

com os reclamantes, pagando-lhes o valor combinado, mediante procuração

pública, sem qualquer ilegalidade - fls. 705/711.

A Douta Procuradoria Geral da República, em seu parecer, sustentou a

competência da Justiça Federal, porque os crimes ocorreram no bojo de

Processo Trabalhista, e no mérito, requer a condenação dos Réus, pelos

crimes indicados na denúncia - fls. 714/716.

É o Relatório. Ao eminente Revisor.

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RUBENS DE MENDONÇA

CANUTO

AÇÃO PENAL Nº 168/PB (0002718-80.2010.4.05.8200) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU : TATIANA LUNDGREN CORREA DE OLIVEIRA ADV/PROC : MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO ADV/PROC : CARLOS MAGNO GUIMARAES RAMIRES ADV/PROC : EMERSON DAVIS LEONIDAS GOMES E OUTROS RÉU : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO ADV/PROC : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO RÉU : ZAERSOM DO CARMO GUEDES TORRES ADV/PROC : FRANCISCO EUGENIO GOUVEIA NEIVA E OUTRO ORIGEM : 2ª VARA FEDERAL DA PARAÍBA - PB RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO

VOTO

O DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI: Requer o MPF a

condenação de Tatiana Lundgren Corrêa de Oliveira, atual Prefeita do

Município de Conde/PB, Roberto Farias de Araújo, e Zaerson do Carmo

Guedes Torres, em face da suposta prática dos crimes previstos nos artigos

171, § 3º, 293 e 355, do Código Penal, por eles supostamente integrarem um

esquema para fraudar o pagamento dos créditos trabalhistas devidos aos ex-

empregados da Lundgren Agropastoril Agrícola S/A - LUPASA, demitidos após

o encerramento das atividades da empresa, que receberam quantias irrisórias,

mediante a compra de "créditos" referentes às legítimas indenizações

trabalhistas a que eles teriam direito.

Em preliminar, sustenta Zaerson do Carmo Guedes Torres a

incompetência da Justiça Federal, porque os crimes, caso existam, foram

cometidos em detrimento de particulares e não da Justiça do Trabalho,

ressaltando que o IPL nº 0000559-38.2008.05.8200, em trâmite pelos mesmos

fatos, foi remetido à Justiça Estadual pela MM. Juíza da 3º Vara da Seção

Judiciária da Paraíba.

Razão não assiste ao Réu.

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De acordo com os autos, é imputado a um dos Denunciados o delito

previsto no art. 355, do CP (tesgiversação ou patrocínio infiel), crime contra a

administração da Justiça, praticado em detrimento da Justiça do Trabalho

mediante o ajuizamento, pelo Réu advogado, de reclamações trabalhistas

simuladas para beneficiar os outros Corréus.

Desta forma, não há como declinar da competência da Justiça Federal

para processar e julgar o feito quanto à prática do delito tipificado no artigo 171

do CP, pois, neste caso concreto, há uma conexão entre o crime de patrocínio

infiel, por conluio entre os denunciados, para prejudicar os reclamantes e os

credores da Usina, e o crime de estelionato, praticado em detrimento de

particulares (ex-empregados e credores do imóvel desapropriado), mediante o

uso de reclamatória trabalhista simulada, ajuizada perante a Justiça do

Trabalho.

Há, portanto, a competência da Justiça Federal em face da prática do

crime do art. 355, do CP, a teor da Súmula 122 do STJ: "Compete à Justiça

Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência

federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código de

Processo Penal".

Nesse sentido anoto a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do

Superior Tribunal de Justiça:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CRIMES CONTRA A

ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA PERPETRADO PERANTE A JUSTIÇA DO

TRABALHO. COMPETÊNCIA.

1. Patrocínio infiel perante a Justiça do Trabalho. Código Penal, artigo 355. O

bem jurídico primacialmente é a administração da Justiça. Crime praticado em

detrimento de serviços e interesses da União. Competência da Justiça Federal.

CF, artigo 109, IV.

2. Se a suposta ação delituosa, ocorrida em reclamação trabalhista, atingiu a

Justiça do Trabalho, à Justiça Federal compete processar e julgar a ação

penal. Precedentes.

(RE 328168, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, julgado

em 02/04/2002, DJ 14-06-2002 PP-00159 EMENT VOL-02073-08 PP-01674)

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EMEN: PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO POSITIVO DE

COMPETÊNCIA. CRIMES PRATICADOS EM DETRIMENTO DA JUSTIÇA

TRABALHISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. SÚMULA 165.

FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR. FALSIDADE IDEOLÓGICA.

PATROCÍNIO INFIEL. CONEXÃO. SÚMULA 122.

1. Falsificação de documento, falsidade ideológica e patrocínio infiel praticados

em processo trabalhista configuram afronta à Justiça do Trabalho, cuja

competência para julgamento é da Justiça Federal (Súmula 165).

2. Havendo conexão entre as atividades supostamente infrativas de

competências estadual e federal, compete à justiça federal o processamento e

julgamento unificado dos crimes (Súmula 122).

3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal, suscitante.

(CC 200500678118, MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA - TERCEIRA

SEÇÃO, DJ DATA:09/04/2007 PG:00223 ..DTPB:

O destino do IPL nº 200.2011.010.044-9 não pode ser usado como

fundamento para a incompetência da Justiça Federal.

Os fatos nele investigados, embora guardem semelhança com esta

ação, são diversos porque no dito IPL, foi analisada a possível prática de delito

na cessão de créditos trabalhistas pelo ex-empregado Josimar Barreto da

Silva, com relação à Fazenda Tabatinga/Jacumã, pelo representante da

Múltipla, o que configuraria a prática do delito de apropriação indébita de

créditos trabalhistas, crime previsto no art. 168, § 1º, III, do CP.

O MPF e a MM. Juíza Federal da 3ª Vara da Paraíba consideraram a

Justiça Federal incompetente, argumentando que o crime fora realizado em

detrimento de interesses particulares, determinando a remessa dos autos à

Justiça Estadual, que determinou o arquivamento do IPL por ausência de

materialidade delitiva, tendo em vista a possibilidade de cessão de crédito

trabalhista à época dos fatos - fls. fls. 322/323 e 330.

Por outro lado, a presente ação penal deriva de IPL iniciado em face

dos pedidos de investigações de vários Juízes de Trabalho da Paraíba perante

o Ministério Público Federal acerca de denúncias de ex-empregados da

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Fazenda Tabatinga/Jacumã, sobre a existência de um verdadeiro conluio entre

os donos da empresa, o advogado dos ex-empregados, e o dono da empresa

Múltipla para fraudar execução trabalhista contra a empresa Lundgren

Agropastoril Agrícola S/A - LUPASA de forma a beneficiar os donos, utilizando-

se do Poder Judiciário, no caso, de reclamações trabalhistas, para dar

aparência de legitimidade à fraude.

Logo, independentemente da lesão aos ex-empregados e aos credores

da LUPASA, o ajuizamento da reclamatória trabalhista simulada pelo advogado

dos reclamantes, em patrocínio infiel, porque a reclamação visada beneficiar

não os seus representados, mas os donos da LUPASA, acarreta a

competência da Justiça Federal para processar e julgar a ação penal.

Requer Tatiana Lundgren a declaração da extinção da punibilidade,

pela consumação da prescrição em abstrato, porque, fixada a pena máxima do

crime de estelionato em 05 (cinco) anos de reclusão, prescrevem em 12 (doze)

anos, período que fora ultrapassado, considerando que o interstício

compreendido entre os fatos delituosos, que ocorreram em 1997, e o

recebimento da denúncia, datado de 10.06.2010.

Entendo que assiste razão à Ré, em parte, quanto à consumação em

abstrato.

Os Réus foram denunciados pelo crime do art. 171, do CP (estelionato),

tanto em sua forma consumada quanto tentada, sendo a pena máxima fixada

em 05 (cinco) anos de reclusão, prescrevendo em 12 (doze) anos, no caso do

estelionato consumado, e de 08 (oito) anos, no caso do estelionato tentado,

nos termos do art. 109, III e IV, do CP.

Os crimes de estelionato que se consumaram o foram quando ocorreu

a obtenção de vantagem ilícita, no caso, nos dias do recebimento do crédito

trabalhista pelo levantamento da penhora, ou seja, no período de 25.09.2006 a

31.10.2006 - fls. 05 e 06.

A denúncia foi recebida em 08.06.2010, sendo este o primeiro marco

interruptivo da prescrição. Entre a data do fato (31.010.2006) e a data do

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recebimento da denúncia (08.06.2010), ainda não transcorreram os prazos de

12 (doze) anos, necessário para a consumação da prescrição em abstrato do

crime de estelionato consumado e de 08 (oito) anos, para o crime de

estelionato em sua forma tentada.

O mesmo ocorre entre a data do recebimento da denúncia (08.06.2010)

e a presente data (2015), visto que não transcorreram os períodos de 12 (doze)

anos e 08 (oito) anos necessários à consumação do prazo prescricional em

abstrato com relação ao crime de estelionato consumado.

O crime de estelionato tentado, por outro lado, encontra-se prescrito.

De acordo com a denúncia, as tentativas de estelionato ocorreram em

1997, tendo como data da cessação da atividade delituosa o período

compreendido entre 15.05.1997 a 29.04.1997, com o pedido de penhora, sem

que houvesse o pagamento dos créditos trabalhistas por circunstâncias alheias

à vontade dos Réus, no caso, a falta de verbas porque os créditos trabalhistas

pagos consumiram a indenização da Fazenda - fls. 05/06.

O crime de estelionato tem sua pena máxima fixada em 05 (cinco) anos

de reclusão, prescrevendo em 12 (doze) anos, no caso do estelionato

consumado, e de 08 (oito) anos, em caso de estelionato tentado, nos termos do

art. 109, III e IV, do CP.

Entre a data da cessação da atividade delituosa, no caso, 29.04.1997, e

a data do recebimento da denúncia, no caso, em 08.06.2010, sendo este o

primeiro marco interruptivo da prescrição. Já transcorreu o prazo de 08 (oito)

anos, necessário para a consumação da prescrição em abstrato do crime de

estelionato tentado.

Desta forma, deve ser declarada a extinção da punibilidade pela

consumação da prescrição em abstrato, no caso do crime de estelionato em

sua forma tentada, nos termos do art. 171 c/c o art. 14, II, do CP.

Passo ao exame do mérito.

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De acordo com as provas dos autos, no ano de 1996, a Fazenda

Tabatinga/Jacumã, de propriedade da empresa Lundgren Agropastoril Agrícola

S/A - LUPASA, foi objeto de desapropriação pelo DNOCS, e os valores

recebidos eram destinados, primordialmente, ao pagamento dos ex-

empregados da empresa.

No ano de 1997, os proprietários da fazenda e da LUPASA, o casal

Jeranil e Almir Corrêa, ora falecidos, resolveram adotar um procedimento

fraudulento para receber os valores da desapropriação, em detrimento dos

trabalhadores da LUPASA e dos outros credores, mediante as seguintes

ações:

a) inicialmente, combinaram com o advogado Roberto Farias a obtenção de

procurações de ex-empregados da empresa, para que ele ajuizasse diversas

ações trabalhistas comtra a empresa, com o pagamento de quantia pré-

determinada a título de indenização para o trabalhador no momento da

assinatura da procuração, na qual constava que ele detinha poderes especiais

para realizar acordo;

b) nas audiências, o advogado realizava o acordo com a empresa, com a

fixação do valor da indenização, dividida em várias parcelas cujo

descumprimento de pagamento geraria uma multa de 100% (cem por cento), e,

conforme previamente combinado, haveria com certeza o descumprimento,

para que o débito fosse executado e houvesse a penhora no rosto dos autos do

imóvel da empresa, no caso, a Fazenda Tabatinga/JAcumã, que estava sendo

desapropriada;

c) após a penhora, os créditos, que deveriam ser destinados aos reclamantes

pelo advogado, eram repassados ao dono da empresa MÚLTIPLA, Zaerson do

Carmo, que comprava os créditos trabalhistas dos ex-empregados a preços

módicos, e posteriormente os repassava aos donos da LUPASA, fazendo com

que eles obtivessem o valor da indenização, em detrimento dos ex-

empregados e dos outros credores.

Resta comprovado o crime de estelionato, pelo uso da fraude, contra os

ex-empregados e os outros credores da Fazenda, tendo os Réus recebido

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vantagem ilícita, consistente nos valores da desapropriação da Fazenda

Tabatinga/Jacumã, mediante o uso de várias reclamações trabalhistas

simuladas e da compra de créditos trabalhistas, valendo-se da pouca instrução

dos trabalhadores da Fazenda.

A materialidade delitiva resta provada pelas cópias das reclamações

trabalhistas fraudulentas, ajuizadas por Roberto Farias como causídico dos ex-

empregados, bem como pelos documentos nas Ações Trabalhistas que

atestam o não recebimento, pelos trabalhadores da LUPASA das verbas

rescisórias a que tinham direitos - volumes 2 a 5 dos Apensos.

Salienta Tatiana Lundgrem que desconhecia a fraude, perpetrada por

seus pais, visto que nunca teria participado da gerência na empresa, de forma

que haveria atipicidade na sua conduta.

Todavia, apesar de a fraude ter sido iniciada por seus pais, Tatiana

Lundgren aderiu a ela, como provam os depoimentos de seus ex-empregados:

"que deixou de trabalhar lá quando o proprietário faleceu, doutor Almir Correia;

que não recorda o ano em que ele faleceu; que saíram de lá quando invadiram

as terras da fazenda; que eles explicaram que não tinham condição de pagar

os trabalhadores e orientaram para entrar com ação na Justiça; que quem

sugeriu para entrassem com essa ação foram dona geranil, seu Almir e dona

Tatiana; (...); que eles mesmos arrumaram o advogado, o Dr. Farias; que ele

não resolveu a causa; que o advogado é doutor Farias e Laerson é o outro

cidadão; que somente viu o Dr. Roberto Farias uma vez, na casa do Dr. Almir;

que naquele dia não assinaram documentos, mas depois recebeu documento

trazidos por Dra. Tatiana, a pedido do advogado, para que assinassem; (...)

que na eleição passada há quatro anos chegaram em sua casa dona Tatiana

com o motorista Doquinha dizendo que o dinheiro ia sair; (...) que dona Tatiana

disse que o dinheiro que o depoente iria receber era na faixa de setenta mil;

que dona Tatiana perguntou quanto daria para ela, tendo o depoente dito que

daria dez mil reais; que passou-se o tempo e não recebeu o dinheiro" -

depoimento de Gilvan de Andrade Soares, motorista, empregado da LUPASA

desde os 17 anos, fls.122/124.

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"que trabalhou na LUPASA até que o tempo que a empresa foi repassada ao

INCRA; (...) que chamou dona geranil pedindo o terreno, mas ela disse que iria

pagar, então esperou; que ela chamou um advogado na época, que não

conhece, e somente vieram ajustar agora em 2009 com Dra Maria Aparecida;

que na época o advogado foi indicado por dona Gera; que quando dona gera

morreu Tatiana foi quem tomou a frente, que recebeu uma quantia de mil reais

em um escritório aqui em João Pessoa; (...) que um dia dona Tatiana mandou

um filho do depoente que trabalha com dona Tatiana com um documento e

assinou; que seu filho falou que o documento se referia ao dinheiro" -

depoimento de Manoel Felismino dos Santos, fls.128/129.

"que dos acusados conhece apenas a dona Tatiana; (...); que a proprietária da

fazenda conseguiu um advogado para entrar com a ação; que não conhecia o

advogado e não sabia quem era; que anos depois chegou um portador em sua

casa com um papel e não sabia que era uma procuração; que o documento foi

enviado por dona Tatiana e que o depoente iria receber o dinheiro; que até hoje

não recebeu o dinheiro; que a proprietária da fazenda era dona Geranil

Lundgren, a mãe de dona Tatiana; que dona Geranil faleceu; que após o

falecimento de dona Geranil os filhos ficaram tomando conta da fazenda -

depoimento de Isac dos Anjos, ex-empregado da Fazenda, fls. 119/120.

Nota-se, portanto, que Tatiana Lundgren aderiu à fraude após o

falecimento dos pais, dando continuidade ao conluio firmando entre eles e os

Corréus, tendo, inclusive, levado documentos aos ex-trabalhadores relativos

aos créditos trabalhistas a que eles tinham direito, para que eles os

assinassem, tendo afirmado a eles que a rubrica era necessária para o

recebimento das verbas, sendo que os beneficiários nunca chegaram a

receber.

Para realizar o crime de estelionato, fabricando créditos trabalhistas

para fraudar os interesses dos credores da desapropriação da Fazenda, contou

Tatiana com o auxílio de Roberto Farias de Araújo, advogado ligado à família,

tendo ele efetivado a fraude mediante a simulação de reclamações trabalhistas,

após obter a assinatura dos ex-empregados da Fazenda.

Ao Corréu Roberto Farias de Araújo, foi imputado, além do estelionato,

também o crime do art. 355, do Código Penal.

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Dispõe o art. 355, parágrafo único, do Código Penal:

Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional,

prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:

Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Para que a conduta de Roberto Farias amolde-se ao tipo penal acima

invocado, primeiramente, faz-se mister que reste comprovada a traição do

advogado aos interesses de seu constituinte, ou seja, é necessário restar

comprovado o efetivo prejuízo arcado pelo representado. Inexistindo esse

prejuízo, não estará caracterizada uma das elementares do tipo penal acima

referido, qual seja, a traição. A relevância penal do ato ocorre caso haja

prejuízo ao reclamante, provocado pelo advogado que o representa.

No que concerne ao alegado prejuízo, entendo que ele restou

comprovado. Os trabalhadores, apesar de terem seus créditos garantidos de

forma privilegiada com a penhora da fazenda de propriedade da LUPASA,

nunca vieram a receber seus direitos trabalhistas, em face do acordo

fraudulento firmado entre o advogado, na qualidade de seu representante, e a

LUPASA, de forma a favorecer os donos da empresa, a quem o valor das

indenizações eram realmente repassadas.

Os depoimentos das testemunhas, ex-empregados da empresa,

afirmam que o advogado, que alguns identificaram como Roberto Farias e

outros que sequer chegaram a conhecê-lo, são unânimes em afirmar que ele

foi indicado pelos donos da empresa LUPASA (Geranil e Almir) para ajuizar as

reclamações trabalhistas para a garantia de seus créditos, tendo eles assinado

"um papel" que depois se verificou ser uma procuração - fls. 147/156.

Após o ajuizamento da Ação trabalhista, os Reclamantes,

representados por Roberto Farias, aceitavam a proposta de conciliação,

recebendo de imediato mil reais, ficando estabelecido que o restante das

verbas devidas seria pago mensalmente em 13 (treze) parcelas.

Como a empresa não pagaria as verbas, em acordo pré-firmado com o

advogado, este comunicava ao Juízo o descumprimento do acordo e indicava a

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Fazenda Tabatinga/Jacumã como bem à penhora, juntando cópia da ação de

desapropriação, conforme prova o documento de fls. 47/48, do volume 01 do

apenso 07.

O MM. Juiz Trabalhista deferia a penhora no rosto dos autos- fls. 58, do

volume 01 do apenso 07.

Ao serem liberados os valores, era emitido o alvará em nome do

Reclamante, que era levantado por Roberto Farias - fls. 132, do volume 01 do

apenso 07.

Todavia, o valor da indenização trabalhista não era repassado por ele

ao reclamante. Apenas como exemplo, deve ser citado o caso de Israel

Francisco da Silva, que, apesar de ter sido liberado em seu favor um crédito de

cerca de R$ 51.572.04, devidamente recebido por Roberto Farias, conforme

sua assinatura na liberação da guia de depósito judicial e no alvará de

levantamento dos valores, datados de 31.10.2006, ele nunca recebeu o

dinheiro (fls. 132 e 145).

A esposa do Reclamante, inclusive, salientou a impossibilidade de o

advogado ter repassado os valores ao seu marido, visto que ele estava

desaparecido desde o ano de 1999, mas que desconhecia a existência da

ação, nunca tendo sido procurada por ele para a entrega do dinheiro,

denunciando o fato ao Juízo Trabalhista e à Defensoria Pública - fls. 145.

Ao ser procurado pela Justiça do Trabalho para prestar informações,

Roberto Farias salientou que repassou o dinheiro para a empresa MÚLTIPLA,

em face da existência de uma procuração pública passada por Israel Francisco

da Silva, na qual este cedia os créditos à dita empresa, tendo recebido da

empresa seus honorários advocatícios na fração de 10% (dez por cento) - fls.

125/159.

Outro depoente, o Sr Isac dos Anjos, confirma o modus operandi da

fraude, em seu depoimento de fls. 187/189, realizado perante a Justiça do

Trabalho, esclarecendo que a proprietária da Fazenda, a Sra. Jeranil Lundgren,

no ano de 1997, serviu de ponte entre ele e o advogado Roberto Farias, para

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que ele ajuizasse a sua reclamação trabalhista, tendo feito um acordo para

receber várias parcelas de R$ 1.000,00 (mil reais), esclarecendo que recebeu

apenas uma parcela no referido valor, e mesmo assim teve que entregar 200

(duzentos reais) a Jeranil, recebendo apenas oitocentos.

Afirmou o depoente que ele e outros trabalhadores assinaram, sob a

orientação de Roberto Farias, alguns documentos, não sabendo sequer se era

uma procuração, por ser analfabeto, esclarecendo que após a morte de Jeranil

passou a tratar com Tatiana Lundgren, filha dela, em busca de seu dinheiro,

esclarecendo que ela, no ano de 2005, o procurou com outro documento para

ele assinar, para que supostamente pudesse receber a quantia de R$

15.000,00 (quinze mil reais), tendo ele assinado e desde então aguarda o

recebimento do dinheiro, salientando não ter recebido nada, nunca tendo sido

procurado pelo advogado para receber seu dinheiro - fls. 187/189.

Também Maria de Fátima Barbosa presta um depoimento do mesmo

teor, ressaltando que assinou vários documentos, apresentados por Jeranil e o

advogado Roberto Farias, tendo sido orientada a ajuizar ação trabalhista para

receber as verbas, que após a morte de Jeranil passou a tratar com Tatiana

Lundgren, que ela apresentou, em 2005, alguns documentos a ela, afirmando

que ela só receberia dinheiro se assinasse, tendo ela aposto sua rubrica sem

saber o teor deles, por ser analfabeta, tendo sido esclarecido posteriormente

que ela que não recebeu nada - fls. 191 do Volume 07.

Também as testemunhas de defesa confirmam que assinaram

documentos para o ajuizamento de trabalhista na fazenda, e que fizeram o

acordo perante o juiz, recebendo apenas uma parcela, e o resto "só Deus

sabe" - depoimento de Antônia Salomé Sérgio Lopes.

Portanto, resta configurado, no meu entender, o patrocínio infiel de

Roberto Farias em detrimento dos seus representados, no caso, os ex-

trabalhadores da LUPASA, que nunca receberam suas verbas rescisórias, que

foram repassadas à LUPASA, devendo ser ressaltado que o dito advogado não

teve qualquer prejuízo, visto que veio a receber seus honorários advocatícios.

Por fim, passo à análise da conduta de Zaerson do Carmo, responsável

pela empresa Múltipla, que teria supostamente comprado dos ex-trabalhadores

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da LUPASA seus créditos trabalhistas, pagando a eles, em tese, o montante

relativo a 70% (setenta por cento) do crédito.

Em tese, não haveria qualquer ilegalidade na conduta, porque a cessão

dos créditos trabalhistas era permitida até o ano de 2002. Todavia, a dita

cessão foi, de acordo com os documentos constantes nos autos, obtida

mediante fraude.

Embora a testemunha de defesa Maria de Fátima Soares da Costa

afirme ter trabalhado no Cartório Carlos Neves da Fraca, tendo levado as

procurações relativas à venda de crédito para a empresa Múltipla para os

trabalhadores da LUPASA e mesmo levado alguns deles para assinar as

procurações no Cartório, tal alegação é dissociada da prova dos autos - fls 159.

Os trabalhadores, em seus depoimentos judiciais, são unânimes em

afirmar que assinaram vários documentos, supostamente para a constituição

de um advogado para a reclamação trabalhista em seu favor, sob os auspícios

de Jeranil Lundgren.

Além da procuração, nota-se dos documentos assinados à época, que

eles rubricaram, de boa-fé e desconhecendo seu teor, também uma procuração

pública na qual cediam todos os seus créditos trabalhistas à empresa Múltipla,

conforme provam os documentos de fls. 159 do volume 01 do apenso 07 e 243

do Anexo I e 212/213 destes autos.

Apesar de Zaerson ter afirmado que comprara diretamente dos

trabalhadores as cessões do crédito trabalhistas, na presença de um tabelião,

e que os trabalhadores posteriormente se arrependeram, desconhecendo

Roberto Farias e Tatiana Lundgren, as provas dos autos inclinam-se em

sentido contrário à sua alegação - fls. 281.

Os trabalhadores são unânimes em afirmar desconhecer a empresa

Múltipla ou de ter assinado os documentos de cessão de crédito trabalhista,

assunto que alguns sequer conhecem, em face de seu analfabetismo, sabendo

apenas assinar o nome.

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Eles esclarecerem que, após as denúncias e as investigações

realizadas pela Justiça do Trabalho, pelo Ministério Público Federal e pela

Corregedoria de Justiça da Paraíba, foram procurados por Zaerson que,

afirmou que eles teriam cedido os créditos trabalhistas para ele, mediante a

assinatura de documentos, ocasião em que falaram que tinham sido

enganados - depoimentos de Gilvan de Andrade Soares (fls. 122/124), Josimar

Barreto da Silva 9fls. 125), José Alves dos Santos (fls. 126/127), Manoel

Felismino dos Santos (fls. 128/129) e Maria Aparecida Amaral de Menezes (fls.

130/131.

Algumas testemunhas esclareceram também que para evitar

escândalo, Zaersom teria oferecido a Gilvan de Andrade Soares a quantia de

R4 30.000,00 (trinta mil reais), que ele rejeitou porque já estava orientado por

outra advogada - fls. 123.

A advogada constituída pelos trabalhadores a Dra. Maria Aparecida

Amaral de Menezes, esclareceu que vários de seus constituintes foram

procurados por Zaerson, tendo feito acordos com ele, esclarecendo que

aconselhou que eles aceitassem o acordo porque precisavam do dinheiro e já

não havia mais o que penhorar, tendo a Gilvan recebido oito mil reais, a viúva

de Isac a mesma quantia, e outras três pessoas também receberam dinheiro,

mas não saberia precisar quanto - fls.130/131.

Ao contrário do alegado pelo Apelante Zaerson, ele conhecia tanto

Tatiana Lundgren quanto Roberto Farias. A fraude realizou-se em 1997 com a

assinatura de vários documentos, na fazenda Tabatinga, e após a morte dos

seus genitores, ela continuou com a fraude, ainda levando vários documentos

relativos ao recebimento do crédito pelos trabalhadores para eles assinares,

ressaltando que ela, pessoalmente, não poderia receber os créditos, que lhe

eram repassados pela empresa Múltipla.

Zaerson conhecia Roberto Farias. A testemunha Carlos Henrique Melo

de Goes, ex-funcionário da empresa Múltipla e a pessoa que constou no

substabelecimento da empresa para o recebimento dos créditos supostamente

cedidos perante a Justiça, afirmou conhecer Roberto Farias porque ele

trabalhou na empresa e era o responsável pela parte trabalhista, passando

sempre por lá , esclarecendo que os créditos trabalhistas que recebeu foram

repassados à empresa, não tendo deles se apropriado, porque era mero

portador do dinheiro para Zaerson - fls. 152/155.

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Resta provada, portanto, a participação de Zaersom do Carmo na

empreitada criminosa referente ao crime de estelionato.

Portanto, tenho como plenamente caracterizada, os crimes do art. 171,

do CP, tanto em sua forma consumada quanto na forma tentada no tocante á

Tatiana Lundgren e Zaersom do Carmo bem como os mesmos delitos mais o

crime do art. 355, do CP, quanto ao Roberto Farias, por eles integrarem um

esquema para fraudar o pagamento dos créditos trabalhistas devidos aos ex-

empregados da Lundgren Agropastoril Agrícola S/A - LUPASA, demitidos após

o encerramento das atividades da empresa, que receberam quantias irrisórias,

mediante a compra de "créditos" referentes às legítimas indenizações

trabalhistas a que eles teriam direito, mediante a simulação de reclamações

ajuizadas perante a Justiça do Trabalho.

Passo à fixação das penas, de acordo com o art. 59, do Código Penal:

a) quanto a Tatiana Lundgren:

Na análise da culpabilidade, deve o juiz aferir o maior ou menor índice

de reprovabilidade da conduta dos agentes. No caso, a Ré realmente agiu com

a plena consciência da ilicitude, é imputável, deveria ter agido de modo diverso

do que efetivamente logrou agir, sendo induvidosa a censurabilidade social das

condutas adotadas.

Agiu a agente de forma altamente censurável, porque aderiu à conduta

delitiva iniciada por seus genitores, quando podia encerrar a prática dos delitos

pagando as verbas rescisórias devidas aos trabalhadores, até o ano de 2006,

quando os valores dos trabalhadores foram liberados.

Os motivos do crime foram reprováveis, porque visavam à obtenção do

maior valor possível da indenização da Fazenda Tabatinga, que estava sendo

desapropriada, em prejuízo de todos os credores da empresa.

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As circunstâncias são as normais do crime em comento.

As consequências do crime foram extremamente negativas em face do

prejuízo causado aos trabalhadores da Fazenda, todos pobres, analfabetos,

valendo-se de sua condição privilegiada e da ligação afetiva e de confiança que

alguns tinham com a sua genitora, a então proprietária, a quem chegavam a

chamar de "mãe Gera", para mantê-los na miséria sem pagar os direitos

trabalhistas de empregados que trabalhavam anos na Fazenda.

O comportamento da vítima em nada contribuiu para o delito.

Por outro lado, ela é primária (porque inexiste nos autos prova da

existência de condenação transitada em julgado), tem bons antecedentes,

nada consta dos autos que desabone sua conduta social, de forma que, ante a

presença de 05 (cinco) circunstâncias favoráveis ante as 08 (oito) a serem

consideradas para a fixação da pena, nos termos do art. 59, do Código Penal,

fixo a pena-base da Denunciada pela prática do crime previsto do art. 171, do

Código Penal, em sua forma consumada, em 02 (dois) anos de reclusão.

Sem circunstâncias agravantes ou atenuantes.

Sem causas de diminuição de pena.

Para o aumento decorrente do crime continuado, deve-se levar em

consideração o número de ilícitos praticados pelo agente. O aumento de um

sexto a dois terços varia de acordo com o número de crimes praticados pelo

agente.

De acordo com a jurisprudência do STJ, recomenda-se como

parâmetros aumento de um sexto para duas infrações; de um quinto para três;

de um quarto para quatro; de um terço para cinco; de metade para seis; de dois

terços para sete ou mais ilícitos.

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De acordo com a denúncia, foram ajuizadas ações trabalhistas

fraudulentas por Roberto Farias para beneficiar Tatiana Lundgren, tendo sido

os créditos dos trabalhadores comprados por Zaerson do Carmo, para serem

repassados a Tatiana, sendo os reclamantes Gilvan de Andrade Soares, Flávio

Soares da Silva, Israel Francisco da Silva, Josimar Barreto da Silva, José Alves

dos Santos, Félix Trevas da Silva, Severiano Soares da Silva, Alexandre

Soares da Silva, Antônio Pedro da Silva, Antônio Amâncio da Silva, Antôno

Idalino Oliveira, Isac dos Anjos, João Batista dos Anjos Filho, Manoel Felismino

dos Santos, Maria das Neves de Lima Soares, Antônio Salomé Sérgio Lopes e

João Rodrigues dos Santos - fls. 05 e 06.

Destes, apenas quatro crimes efetivamente ocorreram: os referentes a

Josimar Barreto da Silva (pago em 31.10.2006), Israel Francisco da Silva (pago

em 25.09.2006), Gilvan de Andrade Santos, (pago em 25.10.2006) e Flávio

Soares da Silva (25.09.2006) - fls. 05 e 06.

Sendo, portanto, quatro os delitos consumados, o aumento referente ao

crime continuado deve ser de 1/4 (um quarto), ficando a pena total arbitrada em

02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão pela prática do crime do art. 171,

do Código Penal.

Em face do disposto no art. 44, do Código Penal, deve a pena privativa

de liberdade ser substituída por duas restritivas de direitos, a serem indicadas

pelo Juízo das Execuções Penais.

No tocante à pena de multa, também é a análise das circunstâncias

judiciais que orientará o Julgador na fixação da pena-base, no caso, o total de

dias-multa a ser estabelecido e, em momento posterior, aferido o que dos autos

conste acerca da capacidade econômica do Réu, a fixação do valor pecuniário

de cada dia-multa.

No caso, entendo que a pena de multa deve guardar consonância, em

caráter equitativo, com a pena privativa de liberdade aplicada. O art. 49, do

Código Penal dispõe que "a pena de multa consiste no pagamento ao fundo

penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será,

no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-

multa".

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Desta forma, a pena aplicada será de 100 (cem) dias-multa, cada um

deles no valor de 1/2 (metade) do salário mínimo vigente à época dos fatos.

Em conclusão, torno definitiva a pena de Tatiana Lundgren em 02 (dois)

anos e 06 (seis) meses de reclusão e 100 (cem) dias-multa, cada um deles no

valor de 1/2 (metade) do salário mínimo vigente à época dos fatos pela prática

do crime do art. 171, do Código Penal.

b) Quanto à pena de Zaerson do Carmo Guedes:

Na análise da culpabilidade, deve o juiz aferir o maior ou menor índice

de reprovabilidade da conduta dos agentes. No caso, o Réu realmente agiu

com a plena consciência da ilicitude, é imputável, deveria ter agido de modo

diverso do que efetivamente logrou agir, sendo induvidosa a censurabilidade

social das condutas adotadas.

Ele agiu de forma altamente censurável, porque aderiu à fraude

realizada por Tatiana e Roberto Farias, ao colher as assinaturas dos

trabalhadores analfabetos sem lhes informar o teor dos documentos, nos quais

eles lhes vendiam créditos trabalhistas a receber, repassando em seguida os

valores à Tatiana após pagar os honorários de Roberto Farias.

Os motivos do crime foram reprováveis, porque visavam à obtenção do

maior valor possível da indenização da Fazenda Tabatinga, em prejuízo de

todos os credores da empresa.

As circunstâncias são as normais do crime em comento.

As consequências do crime foram extremamente negativas em face do

prejuízo causado aos trabalhadores da Fazenda, todos pobres, analfabetos,

além dos outros credores a serem pagos com o montante a ser disponibilizado

pela desapropriação da Fazenda.

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O comportamento da vítima em nada contribuiu para o delito.

Por outro lado, ele é primário (porque inexiste nos autos prova da

existência de condenação transitada em julgado), tem bons antecedentes,

nada consta dos autos que desabone sua conduta social, de forma que, ante a

presença de 05 (cinco) circunstâncias favoráveis ante as 08 (oito) a serem

consideradas para a fixação da pena, nos termos do art. 59, do Código Penal,

fixo a pena-base do Denunciado pela prática do crime previsto do art. 171, do

Código Penal, em sua forma consumada, em 01 (um) ano e 09 (nove) meses

de reclusão.

Sem circunstâncias agravantes ou atenuantes.

Sem causas de diminuição de pena.

Para o aumento decorrente do crime continuado, deve-se levar em

consideração o número de ilícitos praticados pelo agente. O aumento de um

sexto a dois terços varia de acordo com o número de crimes praticados pelo

agente.

De acordo com a jurisprudência do STJ, recomenda-se como

parâmetros aumento de um sexto para duas infrações; de um quinto para três;

de um quarto para quatro; de um terço para cinco; de metade para seis; de dois

terços para sete ou mais ilícitos.

De acordo com a denúncia, foram ajuizadas ações trabalhistas

fraudulentas por Roberto Farias para beneficiar Tatiana Lundgren, tendo sido

os créditos dos trabalhadores comprados por Zaerson do Carmo, para serem

repassados a Tatiana, sendo os reclamantes Gilvan de Andrade Soares, Flávio

Soares da Silva, Israel Francisco da Silva, Josimar Barreto da Silva, José Alves

dos Santos, Félix Trevas da Silva, Severiano Soares da Silva, Alexandre

Soares da Silva, Antônio Pedro da Silva, Antônio Amâncio da Silva, Antôno

Idalino Oliveira, Isac dos Anjos, João Batista dos Anjos Filho, Manoel Felismino

dos Santos, Maria das Neves de Lima Soares, Antônio Salomé Sérgio Lopes e

João Rodrigues dos Santos - fls. 05 e 06.

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Destes, apenas quatro crimes efetivamente ocorreram: os referentes a

Josimar Barreto da Silva (pago em 31.10.2006), Israel Francisco da Silva (pago

em 25.09.2006), Gilvan de Andrade Santos, (pago em 25.10.2006) e Flávio

Soares da Silva (25.09.2006) - fls. 05 e 06.

Sendo, portanto, quatro os delitos consumados, o aumento referente ao

crime continuado deve ser de 1/4 (um quarto), ficando a pena total arbitrada em

02 (dois) anos, 02 (dois) meses e 07 (sete) dias de reclusão pela prática do

crime do art. 171, do Código Penal.

Em face do disposto no art. 44, do Código Penal, deve a pena privativa

de liberdade ser substituída por duas restritivas de direitos, a serem indicadas

pelo Juízo das Execuções Penais.

No tocante à pena de multa, também é a análise das circunstâncias

judiciais que orientará o Julgador na fixação da pena-base, no caso, o total de

dias-multa a ser estabelecido e, em momento posterior, aferido o que dos autos

conste acerca da capacidade econômica do Réu, a fixação do valor pecuniário

de cada dia-multa.

No caso, entendo que a pena de multa deve guardar consonância, em

caráter equitativo, com a pena privativa de liberdade aplicada. O art. 49, do

Código Penal dispõe que "a pena de multa consiste no pagamento ao fundo

penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será,

no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-

multa".

Desta forma, a pena aplicada será de 100 (cem) dias-multa, cada um

deles no valor de 1/20 (um vigésimo) do salário mínimo vigente à época dos

fatos.

Em conclusão, torno definitiva a pena de Zaerson do Carmo em 02

(dois) anos, 02 (dois) meses e 07 (sete) dias de reclusão e 100 (cem) dias-

multa, cada um deles no valor de 1/20 (um vigésimo) do salário mínimo vigente

à época dos fatos pela prática do crime do art. 171, do Código Penal.

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c) Passo à análise da pena de Roberto de Farias:

Com relação ao crime do art. 171, do CP:

Na análise da culpabilidade, deve o juiz aferir o maior ou menor índice

de reprovabilidade da conduta dos agentes. No caso, o Réu realmente agiu

com a plena consciência da ilicitude, é imputável, deveria ter agido de modo

diverso do que efetivamente logrou agir, sendo induvidosa a censurabilidade

social das condutas adotadas.

Agiu o Réu de forma altamente censurável, porque aderiu à conduta

delitiva de Tatiana Lundgren, usando sua qualidade de advogado para

participar da fraude, recebendo os valores em nome dos trabalhadores através

de Zaerson do Carmo e repassando-os a Tatiana, depois de recebidos seus

honorários.

Os motivos do crime foram reprováveis, porque visavam à obtenção do

maior valor possível da indenização da Fazenda Tabatinga, em prejuízo de

todos os credores da empresa.

As circunstâncias são as normais do crime em comento.

As consequências do crime foram extremamente negativas em face do

prejuízo causado aos trabalhadores da Fazenda, todos pobres, analfabetos, e

também aos próprios credores.

O comportamento da vítima em nada contribuiu para o delito.

Por outro lado, ele é primário (porque inexiste nos autos prova da

existência de condenação transitada em julgado), tem bons antecedentes,

nada consta dos autos que desabone sua conduta social, de forma que, ante a

presença de 05 (cinco) circunstâncias favoráveis ante as 08 (oito) a serem

consideradas para a fixação da pena, nos termos do art. 59, do Código Penal,

fixo a pena-base da Denunciado pela prática do crime previsto do art. 171, do

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Código Penal, em sua forma consumada, em 01 (um) ano e 09 (nove) meses

de reclusão.

Sem circunstâncias agravantes ou atenuantes.

Sem causas de diminuição de pena.

Para o aumento decorrente do crime continuado, deve-se levar em

consideração o número de ilícitos praticados pelo agente. O aumento de um

sexto a dois terços varia de acordo com o número de crimes praticados pelo

agente.

De acordo com a jurisprudência do STJ, recomenda-se como

parâmetros aumento de um sexto para duas infrações; de um quinto para três;

de um quarto para quatro; de um terço para cinco; de metade para seis; de dois

terços para sete ou mais ilícitos.

De acordo com a denúncia, foram ajuizadas ações trabalhistas

fraudulentas por Roberto Farias para beneficiar Tatiana Lundgren, tendo sido

os créditos dos trabalhadores comprados por Zaerson do Carmo, para serem

repassados a Tatiana, sendo os reclamantes Gilvan de Andrade Soares, Flávio

Soares da Silva, Israel Francisco da Silva, Josimar Barreto da Silva, José Alves

dos Santos, Félix Trevas da Silva, Severiano Soares da Silva, Alexandre

Soares da Silva, Antônio Pedro da Silva, Antônio Amâncio da Silva, Antôno

Idalino Oliveira, Isac dos Anjos, João Batista dos Anjos Filho, Manoel Felismino

dos Santos, Maria das Neves de Lima Soares, Antônio Salomé Sérgio Lopes e

João Rodrigues dos Santos - fls. 05 e 06.

Destes, apenas quatro crimes efetivamente ocorreram: os referentes a

Josimar Barreto da Silva (pago em 31.10.2006), Israel Francisco da Silva (pago

em 25.09.2006), Gilvan de Andrade Santos, (pago em 25.10.2006) e Flávio

Soares da Silva (25.09.2006) - fls. 05 e 06.

Sendo, portanto, quatro os delitos consumados, o aumento referente ao

crime continuado deve ser de 1/4 (um quarto), ficando a pena total arbitrada em

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02 (dois) anos, 02 (dois) meses e 07 (sete) dias de reclusão pela prática do

crime do art. 171, do Código Penal.

No tocante à pena de multa, também é a análise das circunstâncias

judiciais que orientará o Julgador na fixação da pena-base, no caso, o total de

dias-multa a ser estabelecido e, em momento posterior, aferido o que dos autos

conste acerca da capacidade econômica do Réu, a fixação do valor pecuniário

de cada dia-multa.

No caso, entendo que a pena de multa deve guardar consonância, em

caráter equitativo, com a pena privativa de liberdade aplicada. O art. 49, do

Código Penal dispõe que "a pena de multa consiste no pagamento ao fundo

penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será,

no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-

multa".

Desta forma, a pena aplicada será de 100 (cem) dias-multa, cada um

deles no valor de 1/2 (metade) do salário mínimo vigente à época dos fatos.

Em conclusão, torno definitiva a pena de Roberto Farias em 02 (dois)

anos, 02 (dois) meses e 07 (sete) dias de reclusão e 100 (cem) dias-multa,

cada um deles no valor de 1/2 (metade) do salário mínimo vigente à época dos

fatos pela prática do crime do art. 171, do Código Penal.

No tocante ao crime do art. 355, do CP (patrocínio infiel):

Com relação à culpabilidade, agiu o Denunciado de forma altamente

censurável, porque, sendo advogado dos trabalhadores da Fazenda Tabatinga,

deveria ter cumprido fielmente o mandato, especialmente em se tratando de

pessoas analfabetas e carentes, que depositaram nele toda a sua confiança.

Os motivos do crime foram reprováveis, porque visavam à obtenção do

maior valor possível da indenização da Fazenda Tabatinga, em prejuízo de

todos os credores da empresa.

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As circunstâncias são as normais do crime em comento.

As consequências do crime foram extremamente negativas em face do

prejuízo causado aos trabalhadores da Fazenda, todos pobres, analfabetos,

que deixaram de receber seus créditos trabalhistas, alguns de valor superior a

R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e aos outros credores da Fazenda

Tabatinga.

O comportamento da vítima em nada contribuiu para o delito.

Por outro lado, ele é primário (porque inexiste nos autos prova da

existência de condenação transitada em julgado), tem bons antecedentes,

nada consta dos autos que desabone sua conduta social, de forma que, ante a

presença de 05 (cinco) circunstâncias favoráveis ante as 08 (oito) a serem

consideradas para a fixação da pena, nos termos do art. 59, do Código Penal,

fixo a pena-base da Denunciado pela prática do crime previsto do art. 355, do

Código Penal, em sua forma consumada, em 01 (um) ano de detenção.

Sem circunstâncias agravantes ou atenuantes.

Sem causas de diminuição de pena.

Para o aumento decorrente do crime continuado, deve-se levar em

consideração o número de ilícitos praticados pelo agente. O aumento de um

sexto a dois terços varia de acordo com o número de crimes praticados pelo

agente.

De acordo com a jurisprudência do STJ, recomenda-se como

parâmetros aumento de um sexto para duas infrações; de um quinto para três;

de um quarto para quatro; de um terço para cinco; de metade para seis; de dois

terços para sete ou mais ilícitos.

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De acordo com a denúncia, foram ajuizadas ações trabalhistas

fraudulentas por Roberto Farias para beneficiar Tatiana Lundgren, em prejuízo

dos trabalhadores, sendo os reclamantes Gilvan de Andrade Soares, Flávio

Soares da Silva, Israel Francisco da Silva, Josimar Barreto da Silva, José Alves

dos Santos, Félix Trevas da Silva, Severiano Soares da Silva, Alexandre

Soares da Silva, Antônio Pedro da Silva, Antônio Amâncio da Silva, Antôni

Idalino Oliveira, Isac dos Anjos, João Batista dos Anjos Filho, Manoel Felismino

dos Santos, Maria das Neves de Lima Soares, Antônio Salomé Sérgio Lopes e

João Rodrigues dos Santos, ressaltando o MPF que apenas 13 ações entre as

15 devem ser consideradas, porque duas foram prescritas já no ano de 1997 -

fls. 05 e 06.

Sendo, portanto, treze as ações nas quais Roberto de Farias fora

advogado dos reclamantes, o aumento referente ao crime continuado deve ser

de 2/3 (dois terços), ficando a pena total arbitrada em 01 (um) ano e 08 (oito)

meses de detenção pela prática do crime do art. 355, do Código Penal.

No tocante à pena de multa, também é a análise das circunstâncias

judiciais que orientará o Julgador na fixação da pena-base, no caso, o total de

dias-multa a ser estabelecido e, em momento posterior, aferido o que dos autos

conste acerca da capacidade econômica do Réu, a fixação do valor pecuniário

de cada dia-multa.

No caso, entendo que a pena de multa deve guardar consonância, em

caráter equitativo, com a pena privativa de liberdade aplicada. O art. 49, do

Código Penal dispõe que "a pena de multa consiste no pagamento ao fundo

penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será,

no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-

multa".

Desta forma, a pena aplicada será de 70 (setenta) dias-multa, cada um

deles no valor de 1/2 (metade) do salário mínimo vigente à época dos fatos.

Em conclusão, torno definitiva a pena de Roberto Farias em 01 (um)

ano e 08 (oito) meses de detenção e 70 (setenta) dias-multa, cada um deles no

valor de 1/2 (metade) do salário mínimo vigente à época dos fatos pela prática

do crime do art. 355, do Código Penal.

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Em face do concurso material entre as condutas, a pena definitiva de

Roberto Farias totaliza 03 (três) anos, 10 (dez) meses e 07 (sete) dias de

reclusão e 170 (cento e setenta) dias-multa, cada um deles no valor de 1/2

(metade) do salário mínimo vigente à época dos fatos, pela prática dos crimes

do art. 171 e 355, do CP.

Em face do disposto no art. 44, do Código Penal, deve a pena privativa

de liberdade ser substituída por duas restritivas de direitos, a serem indicadas

pelo Juízo das Execuções Penais.

Posto isto, julgo procedente, em parte, o pedido ministerial para, após

declarar a extinção da punibilidade pela consumação da prescrição em abstrato

pelo crime de estelionato tentado (art. 171, c/c o 14, II, do CP), com relação a

todos os Réus, condenar Tatiana Lundgren, Zaerson do Carmo e Roberto de

Farias, nas penas do art. 171, do Código Penal (estelionato) e o último nas

penas do art. 355, do Código Penal. É como voto.

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL RUBENS DE MENDONÇA

CANUTO

AÇÃO PENAL Nº 168/PB (0002718-80.2010.4.05.8200) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU : TATIANA LUNDGREN CORREA DE OLIVEIRA ADV/PROC : MARCOS ANTÔNIO SOUTO MAIOR FILHO ADV/PROC : CARLOS MAGNO GUIMARAES RAMIRES ADV/PROC : EMERSON DAVIS LEONIDAS GOMES E OUTROS RÉU : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO ADV/PROC : ROBERTO FARIAS DE ARAUJO RÉU : ZAERSOM DO CARMO GUEDES TORRES ADV/PROC : FRANCISCO EUGENIO GOUVEIA NEIVA E OUTRO ORIGEM : 2ª VARA FEDERAL DA PARAÍBA - PB RELATOR : DES. FED. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO

VOTO CONDUTOR O Sr. Des. Fed. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO (Relator p/ acórdão): Cuida-se de ação penal movida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em desfavor de TATIANA LUNDGREN CORRÊA DE OLIVEIRA, atual Prefeita do Município de Conde/PB, ROBERTO FARIAS DE ARAÚJO e ZAERSON DO CARMO GUEDES TORRES, com vistas a apurar a suposta prática de crimes previstos nos arts. 171 e 355, do Código Penal. Segundo a denúncia, os acusados teriam integrado um esquema para fraudar o pagamento dos créditos trabalhistas devidos aos ex-empregados da LUNDGREN AGROPASTORIL AGRÍCOLA S/A - LUPASA, o qual teria se iniciado após a Fazenda Tabatinga/Jacumã, onde funcionava a referida pessoa jurídica, tornar-se objeto de ação de desapropriação movida pelo INCRA. O suposto esquema consistiria na simulação de inúmeras reclamações trabalhistas para a constituição de créditos privilegiados em nome de ex-empregados da LUPASA, em seu prejuízo, uma vez que, após a penhora dos valores correspondentes no rosto da ação de desapropriação, os créditos seriam cedidos de forma fraudulenta à empresa MÚLTIPLA, com o uso de procurações assinadas pelos trabalhadores analfabetos. O procedimento teria prejudicado, ainda, aos demais credores da empresa, uma vez que o crédito privilegiado dos ex-empregados aumentou sensivelmente em razão da aplicação de multa pelo descumprimento do acordo celebrado em juízo, o que teria sido previamente combinado. No que diz respeito à competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento do feito, bem assim ao reconhecimento da

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prescrição em abstrato dos estelionatos que não chegaram a se consumar por motivos alheios à vontade dos acusados, acolho integralmente a fundamentação exposta no voto do eminente Des. Fed. Cid Marconi, Relator originário da ação penal. Acosto-me, outrossim, à fundamentação exposta no voto do eminente relator originário, no que toca à comprovação da materialidade e autoria delitiva. O Des. Fed. Cid Marconi, com o acerto que lhe é peculiar, entendeu comprovada a prática do crime de estelionato, pelo uso da fraude, contra os ex-empregados e outros credores da LUPASA, tendo os acusados recebido vantagem ilícita, consistente nos valores da desapropriação da Fazenda Tabatinga/Jacumã, mediante a simulação de várias reclamações trabalhistas, bem assim da cessão fraudulenta dos créditos que delas se originaram. Restou demonstrado, ainda, conforme minudentemente analisou o relator originário, a autoria delitiva dos acusados TATIANA LUNDGREN CORRÊA DE OLIVEIRA, ROBERTO FARIAS DE ARAÚJO e ZAERSON DO CARMO GUEDES TORRES. A divergência de meu voto em relação ao prolatado pelo Des. Fed. Cid Marconi está na condenação, imposta apenas ao acusado ROBERTO FARIAS DE ARAÚJO, nas sanções do art. 355 do Código Penal, bem assim no reconhecimento do concurso material deste com o delito de estelionato. Em primeiro lugar, não obstante o delito de patrocínio infiel (CP, art. 355) seja, obviamente, um crime próprio, ele admite o concurso de pessoas (CP, art. 29), o qual deve ser reconhecido no caso concreto. Como efeito, restou evidente a colaboração dos demais acusados para a consumação do crime de patrocínio infiel, a qual se dá com o efetivo prejuízo causado pela traição do advogado ou procurador judicial. Na hipótese, além do advogado ROBERTO FARIAS DE ARAÚJO, atuaram na consecução do crime os acusados TATIANA LUNDGREN CORRÊA DE OLIVEIRA e ZAERSON DO CARMO GUEDES TORRES, seja orientando os ex-empregados e colhendo as assinaturas necessárias ao ajuizamento das reclamações trabalhistas, seja simulando a aquisição dos créditos trabalhistas penhorados no rosto da ação de desapropriação, em prejuízo dos reclamantes. Por outro lado, penso que o delito de patrocínio infiel não passou de um meio para o cometimento do crime de estelionato, sendo o caso de aplicar-se o princípio da consunção. Dessa forma, serão os acusados sancionados apenas pelos estelionatos, sem condenação pelo crime de patrocínio infiel, o qual será considerado, todavia, por ocasião da fixação da pena base, elevando-a.

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Tecidas essas considerações, julgo procedente, em parte, a denúncia, para condenar TATIANA LUNDGREN CORRÊA DE OLIVEIRA, atual Prefeita do Município de Conde/PB, ROBERTO FARIAS DE ARAÚJO e ZAERSON DO CARMO GUEDES TORRES, pelo cometimento, cada um, de quatro crimes de estelionato. No que toca à fixação da pena base aplicável aos delitos de estelionato, valho-me da análise das operativas previstas no art. 59 do Código Penal já realizada pelo eminente Des. Fed. Cid Marconi, com o acréscimo da circunstância negativa de haver sido a fraude realizada através, também, do cometimento de patrocínio infiel (CP, art. 355), e fixo a pena base: a) para a acusada TATIANA LUNDGREN CORRÊA DE OLIVEIRA, em 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão; b) para o acusado ZAERSON DO CARMO GUEDES TORRES, em 2 (dois) anos e 3 (três) meses de reclusão; e c) para o acusado ROBERTO FARIAS DE ARAÚJO, em 2 (dois) anos e 3 (três) meses de reclusão. Dando sequência à dosimetria da pena, na segunda fase, anoto, nos termos do voto do relator originário, inexistirem circunstâncias agravantes ou atenuantes. Na terceira fase, ao tempo em que se registra a ausência de causas de diminuição de pena, observa-se a presença da continuidade delitiva (CP, art. 71), a qual, tendo em vista o número de repetições (quatro), justifica o aumento da pena no patamar de 1/4 (um quarto), nos termos do que fundamentou o Des. Fed. Cid Marconi. Fixo, portanto, a pena definitiva de: a) 3 (três) anos, 1 (um) mês e 15 (quinze) dias de reclusão, para a acusada TATIANA LUNDGREN CORRÊA DE OLIVEIRA; b) 2 (dois) anos, 9 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de reclusão, para o acusado ZAERSON DO CARMO GUEDES TORRES; e c) 2 (dois) anos, 9 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de reclusão, para o acusado ROBERTO FARIAS DE ARAÚJO. Por fim, mantenho as penas de multa impostas a cada um dos réus e a substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, nos exatos termos em que fixadas no voto do relator originário. É como voto.