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www.cers.com.br OAB XV EXAME DE ORDEM 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 1 RESPOSTA À ACUSAÇÃO 1. INTRODUÇÃO O presente assunto é um dos mais importantes nas provas da OAB, seja pela grande incidência em questões práticas ou pela vasta quantidade de assuntos que envolve, o que também faz com que ele seja bem explorado em provas discursivas. Iremos abordar primeiramente a resposta à acusação no rito comum ordinário e sumário, mencionando todas as peculiaridades desta peça de defesa. Posteriormente, iremos abordar a resposta à acusação no rito do tribunal do júri de forma isolada, tendo em vista as suas particularidades. 2. RESPOSTA À ACUSAÇÃO NO RITO COMUM ORDINÁRIO E SUMÁRIO a) Diferenciação dos ritos Primeiramente, temos que saber quando ocorre o rito comum ordinário e o sumário. Nos termos do art. 394, § 1º, I, do CPP o rito comum ordinário ocorrerá quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade. Por sua vez, como bem prevê o art. 394, § 1º, II e III, do CPP, o rito comum sumário ocorrerá quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade e superior a 2 (dois) anos de pena privativa de liberdade. b) Momento em que ocorre a resposta à acusação A resposta à acusação é o procedimento a ser adotado após o recebimento da denúncia ou da queixa, onde o acusado deve, no prazo de 10 dias, arguir, se for o caso, matéria preliminar, ou seja, toda e qualquer falha de natureza processual apresentada na peça acusatória, objetivando induzir a uma possível absolvição sumária ou motivar exceções. Além disso, na resposta à acusação o réu deverá alegar tudo o que interesse a sua defesa, oferecer documentos

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RESPOSTA À ACUSAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

O presente assunto é um dos mais importantes nas provas da OAB, seja pela grande incidência

em questões práticas ou pela vasta quantidade de assuntos que envolve, o que também faz com que

ele seja bem explorado em provas discursivas.

Iremos abordar primeiramente a resposta à acusação no rito comum ordinário e sumário,

mencionando todas as peculiaridades desta peça de defesa.

Posteriormente, iremos abordar a resposta à acusação no rito do tribunal do júri de forma

isolada, tendo em vista as suas particularidades.

2. RESPOSTA À ACUSAÇÃO NO RITO COMUM ORDINÁRIO E SUMÁRIO

a) Diferenciação dos ritos

Primeiramente, temos que saber quando ocorre o rito comum ordinário e o sumário.

Nos termos do art. 394, § 1º, I, do CPP o rito comum ordinário ocorrerá quando tiver por objeto

crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de

liberdade. Por sua vez, como bem prevê o art. 394, § 1º, II e III, do CPP, o rito comum sumário

ocorrerá quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro)

anos de pena privativa de liberdade e superior a 2 (dois) anos de pena privativa de liberdade.

b) Momento em que ocorre a resposta à acusação

A resposta à acusação é o procedimento a ser adotado após o recebimento da denúncia

ou da queixa, onde o acusado deve, no prazo de 10 dias, arguir, se for o caso, matéria preliminar,

ou seja, toda e qualquer falha de natureza processual apresentada na peça acusatória,

objetivando induzir a uma possível absolvição sumária ou motivar exceções. Além disso, na

resposta à acusação o réu deverá alegar tudo o que interesse a sua defesa, oferecer documentos

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e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e

requerendo sua intimação, quando necessário.

Ou seja, procuram-se três elementos para haver a resposta à acusação: ter havido

denúncia, esta ter sido recebida e o réu ter sido citado.

Vale lembrar que a resposta à acusação é uma peça OBRIGATÓRIA, ou seja, se ela não

for feita o processo não anda, havendo nulidade por afronta ao princípio da ampla defesa e do

contraditório. A antiga defesa prévia era antes um ato meramente formal, mas com as

mudanças ocorridas em 2008, mais precisamente com a o advento da Lei nº 11.719 de 2008,

regra geral, a resposta à acusação é a única oportunidade de apresentar TODA a tese de defesa

por escrito, pois os memoriais, via de regra, são realizados de forma oral, sendo exceção a sua

apresentação desta última peça por escrito.

Tamanha é a importância da resposta à acusação que caso ela não seja apresentada no

prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o próprio juiz nomeará um defensor

para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 dias, nos termos do art. 396-A, § 2º, do

CPP.

Caso a resposta à acusação seja feita pela defensoria pública o prazo DOBRA, pois a lei

que institui a defensoria pública previu este benefício, nos termos da Lei Complementar nº

80/94, art. 44, I, art. 89, I e art. 128, I.

O prazo de 10 dias da resposta à acusação inicia-se a partir da citação, valendo salientar

que é um prazo contado de forma processual.

c) Conteúdo da resposta à acusação

Como já foi dito anteriormente, a resposta à acusação é a oportunidade que o réu possui

de apresentar, por escrito, toda a sua matéria de defesa, razão pela qual o candidato deve ter

um bom domínio acerca de quais matérias podem ser alegadas nesta peça.

3. INÍCIO DA AÇÃO PENAL

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A ação penal tem início com o recebimento da peça inicial acusatória, quando o juiz,

vislumbrando as condições constantes no art. 41 do Código de Processo Penal, verifica que a

peça inicial acusatória preenche os requisitos e a recebe. Quando o juiz verifica que a peça inicial

não preenche os requisitos, rejeita-a nos moldes do art. 395 do Código de Processo Penal.

REJEIÇÃO LIMINAR: Em ocorrendo, deverá se pautar pelo art. 395 do CPP. Quando o juiz

não recebe a peça acusatória e, consequentemente, a ação penal não se inicia. Aqui, a ação

penal sequer chega a existir. Todavia, se o juiz proceder a rejeição liminar da denúncia ou da

queixa, ele deverá fundamentar essa rejeição em uma das hipóteses previstas no art. 395. O

recebimento da peça acusatória não carece de fundamentação, mas a rejeição necessita. São as

possibilidades de rejeição:

3.1. Se a peça acusatória for inepta (art. 395, I do CPP)

Quando ela não se prestar ao fim a qual se destina. Uma peça acusatória tem um

objetivo muito específico, ou seja, mostrar que o acusado cometeu o crime e conseguir a sua

condenação. Ninguém move uma ação penal para homenagear os outros. É possível que a peça

acusatória não consiga se prestar ao fim pelo qual ela se destina, não conseguindo o juiz nem a

defesa entender o que está escrito na peça acusatória. Se a peça que goze de inércia for

recebida, tira-se do acusado um princípio constitucional que é o da ampla defesa e o do

contraditório. O agente só pode se defender se tiver plena noção do que está sendo acusado,

porque ninguém se defende de tipificação e sim dos fatos narrados. Pode ser que a tipificação

esteja equivocada.

No momento da fundamentação de uma questão, pode-se definir inépcia da denúncia

ou da queixa de forma mais elegante: inepta é toda denúncia ou queixa que apresenta uma

deficiência de ordem subjetiva ou objetiva, oriunda do momento de sua gênese, decorrente da

existência de lacunas, omissões, contradições ou quaisquer outros fatores que possa dificultar,

reduzir ou impedir a manifestação da garantia constitucional fundamental da ampla defesa.

Traduzindo: a denúncia ou a queixa está mal feita e a defesa não sabe o que ela quer

dizer, por isso não tem como elaborar sua tese.

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São fatores que normalmente geram inépcia da peça inicial:

a) descrição de fatos de maneira truncada, incoerente, lacunosa ou impossível de terem

ocorrido;

b) inserção de agentes em concurso, inexistentes no caso concreto;

c) descrição confusa ou misturada dos fatos;

d) descrição muita extensa dos fatos, impedindo a compreensão;

e) falta de pedido claro de acusação;

Ex. A denúncia narra que o sujeito estava correndo com o sol a pino e praticou furto

durante o repouso noturno.

3.2. Se houver, dentro da peça acusatória, falta de pressuposto ou condição para a ação penal

(art. 395, II do CPP)

3.2.1. Condições

3.2.1.1. Possibilidade jurídica do pedido

No processo penal, a arguição da possibilidade jurídica do pedido é sempre objetiva,

direta ou positiva. São termos sinônimos. Ou seja, só pode pedir aquilo que explicitamente a lei

autoriza. Na hora da prova, para saber se há possibilidade jurídica do pedido, basta tipificar o

crime, pergunta-se: o crime que o acusado está sendo imputado existe no ordenamento

jurídico? Se a resposta for SIM haverá a possibilidade jurídica do pedido, se for NÃO, não haverá

possibilidade jurídica do pedido. Não é necessário entrar na análise de mérito, pergunta-se se o

crime, em tese, existe na lei processual brasileira. A análise de mérito é feita na sentença que

decide o feito.

Ex. O agente foi denunciado pelo crime de sedução ou adultério. Nesse caso não há

possibilidade jurídica do pedido porque deixou de ser crime.

Ex. O MP faz denúncia e atribui que o réu tentou se matar, neste caso não há crime,

havendo a impossibilidade jurídica do pedido.

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Ex. Pessoa paralítica desde tenra infância, vive em cadeira de rodas e foi denunciado por

ter pulado o muro de uma casa, subtraído uma TV antiga, ter fugido e levado um tiro da polícia.

Neste caso há possibilidade jurídica do pedido, pois o crime de furto qualificado pela escalada é

previsto no ordenamento jurídico e neste caso dá para tipificar o crime. Se passar a analisar se

é possível ter o acusado cometido ou não o crime, estará sendo analisado o mérito, o que

somente deverá ser feito na sentença penal.

3.2.1.2. Legitimidade da parte

Se a ação penal for pública, a parte legítima é o Ministério Público, se a ação penal for

privada, a parte legítima é o ofendido, representante legal ou substituto processual. No caso de

ação penal privada, se a vítima for menor a parte legítima será o seu representante legal, ainda

que o menor seja emancipado, porque a emancipação só produz efeitos civis e não penais. Já se

a vítima morrer ou for declarada ausente por decisão judicial, a parte legítima será o seu

substituto processual, de acordo com a sequência do CADI (Cônjuge, Ascendente, Descendente

e Irmão), nos termos do art. 24, § 1º do CPP.

CUIDADO, crimes contra honra de funcionários públicos a legitimidade é concorrente nos

termos da Súmula 714 do STF.

Súmula 714 do STF - É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do

Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime

contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

3.2.1.3. Necessidade/interesse para agir

A análise desta condição da ação é casuística, pois em certos casos não há interesse ou

necessidade de prosseguir no processo. A ação penal não promoveria a aplicação do direito em

um caso concreto, o processo não teria um fim útil. Em respeito à economia processual, o juiz

vai verificar a necessidade ou interesse para agir. O Juiz poderá rejeitar a denúncia ou a queixa

por falta de necessidade ou interesse de agir se entender que o fato da ação penal começar vai

ser perda de tempo. Hoje em dia, acontece muito a rejeição liminar por falta de necessidade ou

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interesse para agir em virtude do princípio da insignificância ou bagatela. Insignificância ou

bagatela exclui a tipicidade da conduta.

Pressupostos serão todas as falhas residuais do caso concreto que possam inviabilizar a

existência da ação penal. O rol das condições é taxativo, mas é possível ter várias outras falhas

que inviabilizam a existência da ação penal e que não estão nas três hipóteses das condições.

TUDO que for impeditivo e que não estiver nas condições, cai nos pressupostos. O rol dos

pressupostos é residual.

3.2.2. Pressupostos

3.2.2.1. Incompetência do Juízo

Se ele se reconhecer incompetente, ele rejeita por ausência de pressuposto.

3.2.2.2. Litispendência

É um litígio pendente. Ocorre quando tem uma denúncia ou uma queixa por um fato

gerador que já está sendo objeto de apreciação pela Justiça Criminal. Isso acontece muito

quando não se tem certeza de onde foi praticado o crime.

3.2.2.3. Coisa Julgada

Já houve decisão irrecorrível.

3.2.2.4. Exaurimento do processo administrativo

OBS.: Lei nº 8137/90 (Lei dos Crimes contra a ordem Tributária) – Segundo o STF, é necessário

exaurir o procedimento administrativo para poder responsabilizar o agente – Súmula

Vinculante 24.

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Súmula Vinculante 24 do STF - Não se tipifica crime material contra a ordem tributária,

previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do

tributo.

3.3. Se houver ausência de justa causa

É imprescindível que a peça acusatória tenha apresentado de forma clara a prova da

materialidade do crime E os indícios suficientes de autoria ou participação. Ou seja, para que

haja justa causa para o exercício da ação penal deve existir prova da materialidade do crime e

indícios suficientes de autoria ou participação, isto é, devem estar presentes os dois requisitos.

Assim, caso somente exista um dos requisitos haverá falta de justa causa. Os indícios suficientes

de autoria ou participação do crime configuram-se com indicativos de que o réu tenha

efetivamente participado da empreitada criminosa, seja como autor ou partícipe. Por sua vez, a

prova da materialidade do fato caracteriza-se pela certeza de que o fato efetivamente existiu.

4. TIPOS DE CITAÇÃO

Quanto aos tipos de citação elas pode se dar da seguinte forma:

►► CITAÇÃO POR MANDADO – esta é a REGRA, sendo uma citação realizada de forma pessoal.

Em estando o réu preso deve ser citado pessoalmente, nos moldes do art. 360 do Código de

Processo Penal.

OBS.: Existem três situações em que a citação/intimação deve ser pessoal de forma

OBRIGATÓRIA:

1ª) Quando o réu estiver preso (art. 360 do Código de Processo Penal).

2ª) Quando se tratar de intimação do Ministério Público (art. 41, IV da Lei 8.625/1993 e

art. 370, § 4º do CPP).

3ª) Quando se tratar de intimação da Defensoria Pública (art. 44, I, art. 89, I e art. 128, I

da Lei Complementar nº 80/94 e art. 370, § 4º do CPP).

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OBS.: Caso NÃO seja observada esta formalidade haverá nulidade que será arguida em sede

de preliminar na própria resposta à acusação.

OBS.: O defensor dativo não possui prazo em dobro.

PENAL. PROCESSUAL PENAL E PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE

RECONSIDERAÇÃO EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONVERSÃO

EM AGRAVO REGIMENTAL. RETRATAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.

INTEMPESTIVIDADE. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1 – O agravo em recurso especial é intempestivo, pois foi interposto fora

do quinquídio legal. Incidência da Súmula n. 699 do Supremo Tribunal

Federal.

2 – Defensor dativo, por não integrar o quadro estatal de assistência

judiciária, não faz jus à contagem em dobro dos prazos recursais.

3 – Pedido de reconsideração recebido como agravo regimental a que

se nega provimento.

(PET no AREsp 334791/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA

TURMA, julgado em 20/05/2014, DJe 29/05/2014).

►► CITAÇÃO POR HORA CERTA – a partir de 2008 passou a existir esta modalidade de citação

no Código de Processo Penal. Ela ocorrerá quando o Oficial de Justiça percebe que o réu está se

ocultando para evitar a citação. Neste caso, o procedimento a ser seguido é o trazido no Código

de Processo Civil, mais precisamente em seus arts. 227 a 229, conforme se verifica na leitura do

art. 362 do Código de Processo Penal. Este tipo de citação ocorre após a terceira tentativa de

citação pessoal em que o oficial percebe que o réu está se ocultando. Após ocorrer esta tentativa

ele marcará dia e hora para efetuar a citação, independentemente da realização de nova citação.

Se o oficial de justiça perceber novamente que o réu está se ocultando irá dar por citado o réu.

Ainda que o réu esteja se ocultando em outra comarca será considerado citado. Caso o Oficial

de Justiça faça a citação por hora certa na segunda tentativa, haverá nulidade ABSOLUTA.

►► CITAÇÃO POR EDITAL – Ocorre quando o citando encontra-se em local incerto e não

sabido. Vale observar o art. 366 do Código de Processo Penal, tendo em vista que se o réu é

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citado por edital e não comparecer, nem constituir advogado, ficarão SUSPENSOS o processo e

o curso do prazo prescricional. Ou seja, NÃO corre mais prazo nenhum. O prazo de 10 dias para

a resposta à acusação do réu citado por edital somente vai voltar a correr na hora de o réu ou o

advogado constituído aparecerem no cartório onde está o processo.

RESUMINDO:

• Citação por mandado (pessoal) ou por hora certa do acusado – prazo de 10 dias para resposta

à acusação;

• Citação por edital – ficam suspensos o processo e o prazo prescricional (art. 366 do CPP) até o

comparecimento pessoal do acusado ou de seu defensor. Após este comparecimento, abre-se

o prazo de 10 dias para resposta à acusação.

OBS.: O Superior Tribunal de Justiça considera que o máximo de suspensão do prazo

prescricional seria o da pena máxima abstratamente cominada para o crime. A hipótese

resultou na edição da súmula 415 do STJ:

Súmula 415 do STJ - O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo

da pena cominada.

Sobre o art. 366 do CPP, deve-se também estar atento à súmula 455 do mesmo tribunal

(STJ):

Súmula 455 do STJ - A decisão que determina a produção antecipada de provas com base

no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente

o mero decurso do tempo.

A citação pode ainda ser feita por:

►► CARTA PRECATÓRIA – ocorre quando o sujeito está em local certo e sabido, mas em

território de outra comarca, o prazo da resposta à acusação começa a correr da data do

cumprimento da precatória e não da devolução da carta precatória. Vale lembrar que comarca

deprecante é a que EXPEDE a carta precatória, já a comarca deprecada é a que RECEBE a carta

precatória.

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►► CARTA ROGATÓRIA – sujeito está em local certo e sabido, mas no estrangeiro.

OBS.: No processo penal, todos os prazos contam-se da data da efetiva ciência (citação ou

intimação) e não da juntada do mandado. Assim, o que interessa é a data em que o réu foi

citado, data a partir da qual fluirá o prazo de 10 dias para a apresentação da resposta à

acusação. Isso é, inclusive, entendimento sumulado pelo STF.

Súmula 710 STF - No processo penal, contam-se os prazos da data de intimação, e não da

juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

Ressalte-se que os prazos processuais são contados excluindo-se o dia do início e

incluindo-se o dia do final. Se o prazo final cair em dia não útil, prorroga-se o prazo para o

primeiro dia útil subsequente, nos termos do art. 798, § 1º do Código de Processo Penal.

OBS.: O prazo da resposta à acusação é processual, desta forma, na contagem do prazo deve-

se excluir o dia de início e incluir o dia de vencimento.

OBS.: O militar tem uma forma específica para proceder a citação:

Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.

Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado,

será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.

5. ARGUIÇÃO DAS PRELIMINARES

Deve-se fazer o levantamento de todas as falhas técnicas, de natureza processual, que

possam existir na peça de acusação, como a ausência de justa causa, a inépcia da peça

acusatória, falta de interesse processual da ação, crime prescrito, fato atípico ou qualquer outro

fator que possa motivar exceções ou gerar absolvição sumária, nos termos do art. 397 do Código

de Processo Penal.

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Vale lembrar o conteúdo deste artigo:

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz

deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;

II – a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo

inimputabilidade;

III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou

IV – extinta a punibilidade do agente.

Na arguição de preliminares, não se deve entrar no mérito propriamente dito da defesa,

mas apenas discutir questões formais ou técnicas.

Existe uma sequência a ser seguida para a alegação das preliminares. Assim sendo, é

importante observar os seguintes artigos na sequência:

►► Art. 107 CP – Causas extintivas de punibilidade.

No caso de existir uma causa de extinção da punibilidade não era para sequer ter havido

ação penal, razão pela qual elas devem ser arguidas preliminarmente, o que ensejará a

absolvição sumária do réu, nos termos do art. 397, IV, do CPP.

Se o caso for de queixa-crime deve-se verificar se houve decadência ou perempção (art.

60 do Código de Processo Penal), pois se alegará em preliminar da resposta à acusação a

ocorrência destes institutos. Normalmente em queixa-crime, é muito comum haver a existência

de uma preliminar desta natureza, como a renúncia ao direito de queixa, o perdão, perempção,

etc.

►► Art. 109 CP – Prescrição.

Deve-se ficar atento para verificar se já houve a prescrição do crime que foi

supostamente praticado pelo réu, pois a prescrição é outra causa extintiva da punibilidade

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prevista no art. 107, IV e 109 do Código Penal e que acarreta a absolvição sumária nos termos

do art. 397, IV, do Código de Processo Penal.

Na realidade, são cinco tipos de prescrição: Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP),

Prescrição Intercorrente (PI), Prescrição Retroativa (PR), Prescrição Superveniente (PS) e

Prescrição Virtual ou em Perspectiva.

A prescrição da pretensão punitiva é a ANTERIOR ao trânsito em julgado da sentença

penal condenatória. Ou seja, basta pegar a data do crime e a pena máxima cominada ao delito

e olhar no art. 109 do CP em quanto o crime prescreve. Este é o tipo de prescrição que será

alegada na resposta à acusação.

A prescrição intercorrente é aquela analisada a cada intervalo de espaço entre as causas

que interrompem a contagem do prazo prescricional. Ela poderá ser analisada tanto pela pena

máxima abstratamente prevista ao crime como pela pena em concreto dada ao agente quando

da prolatação da sentença.

A prescrição retroativa ocorre toda vez que o réu é condenado e transita em julgado a

decisão. A primeira coisa que o judiciário irá olhar é a pena recebida pelo agente. Em face dessa

pena, irá verificar em quanto tempo o crime prescreveria analisando o art. 109 do CP e começa

a olhar o processo de novo, desde o dia do fato, em cada intervalo prescricional do processo.

Com a mudança do código e o surgimento da Lei nº 12.234/10, a prescrição retroativa é

verificada a partir da denúncia, não mais do cometimento do delito.

Na prescrição superveniente, os tribunais analisando os recursos podem reconhecer a

prescrição antes do trânsito em julgado, quando não existir recurso da acusação, já que a pena

não pode ser aumentada. A prescrição superveniente nada mais é do que uma análise

antecipada da prescrição retroativa, analisada entre a data da sentença e antes do trânsito em

julgado da decisão, não inserindo o nome do agente no rol dos culpados, justamente por não

haver o trânsito em julgado da sentença.

A prescrição da pretensão executória, por sua vez, somente ocorrerá no caso de já ter

ocorrido o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, razão pela qual na resposta à

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acusação NÃO precisa se preocupar com este tipo de prescrição, pois não será o momento

oportuno para alegá-la.

Por fim, a prescrição virtual ou em perspectiva é uma vedação já sumulada no Superior

Tribunal de Justiça, nos termos da Súmula 438.

Súmula 438 do STJ - É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão

punitiva, com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte

do processo penal.

GRÁFICO SOBRE A ESPÉCIE DE PRESCRIÇÃO APLICÁVEL EM CASO DE CONDENAÇÃO

NA PRIMEIRO INSTÂNCIA

Recebimento Trânsito em da denúncia Sentença julgado da ou queixa condenatória condenação

PPP PI PI PI PPE

Data

do fato

Neste caso, interrompem o curso do prazo prescricional: o recebimento da denúncia ou

queixa, a sentença condenatória e o trânsito em julgado da condenação.

GRÁFICO SOBRE A ESPÉCIE DE PRESCRIÇÃO APLICÁVEL EM CASO DE CONDENAÇÃO

NA SEGUNDA INSTÂNCIA

Recebimento Trânsito em da denúncia Sentença julgado da ou queixa condenatória condenação

PPP PI PI PI PPE

Data

do fato

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Lembre-se ainda que no Júri a pronúncia e a decisão confirmatória dela também são

causas interruptivas da prescrição. Em consonância com esse entendimento, firmou o Superior

Tribunal de justiça súmula 191.

Súmula 191 do STJ - A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o tribunal do

júri venha a desclassificar o crime.

LEMBRANDO QUE:

PPP = prescrição da pretensão punitiva (pela pena em abstrato)

PI = prescrição intercorrente ou processual, que ocorre durante o curso do processo (pela pena

em abstrato)

PPE = prescrição da pretensão executória (após o trânsito em julgado, pela pena em concreto)

SÓ PARA FIXAR O ASSUNTO:

►► PRESCRIÇÃO RETROATIVA e a PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE.

Ambas contam-se pela pena em concreto. Em tese, são a mesma coisa, já que após a

condenação, deve-se analisar a pena efetivamente aplicada junto ao art. 109 do CP, verificando

se não teria ocorrido, entre os diversos momentos de interrupção indicados nos gráficos acima,

lapso temporal suficiente a justificar a declaração de extinção da punibilidade pela prescrição.

A diferença entre elas está no fato de que a prescrição superveniente pode ser arguida e/ou

declarada após a sentença e antes do trânsito em julgado, na hipótese de inexistir recurso da

acusação.

OBS.: Como estas espécies de prescrição (superveniente e retroativa) dependem da pena

concretamente aplicada, não há que se falar nisso na resposta à acusação. É tema a ser

discutido em sede recursal ou após o trânsito em julgado da decisão.

Ainda em relação à prescrição, deve-se ter cuidado com as hipóteses em que o prazo

prescricional é reduzido pela metade, nos termos do art. 115. Como no caso de o réu ser menor

de 21 anos a data do crime ou maior de 70 anos de idade na data da sentença.

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OBS.: O STF e o STJ vêm interpretando que o Estatuto do Idoso NÃO alterou o prazo

prescricional previsto no art. 115 do CP, razão pela qual ainda prevalece que o réu deverá ter

70 anos de idade na data da sentença para poder se beneficiar da redução do prazo

prescricional.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CF,

ART. 102, I, “D” E “I”. ROL TAXATIVO. MATÉRIA DE DIREITO ESTRITO.

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: PARADOXO. DISPENSA IRREGULAR DE

LICITAÇÃO. ART. 89 DA LEI 8.666/1993. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO

PUNITIVA. ART. 115 DO CÓDIGO PENAL. INOCORRÊNCIA. PACIENTE

COMPLETOU 70 ANOS APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DO ACÓRDÃO

CONDENATÓRIO. O JULGAMENTO DE HABEAS CORPUS QUE REDUZ A

PENA APLICADA NÃO CONSTITUI CAUSA DE INTERRUPÇÃO DA

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. HABEAS CORPUS EXTINTO

POR INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL. 1. A prescrição não se reduz

pela metade em razão de o agente ter completado 70 (setenta) anos

após o trânsito em julgado da sentença condenatória. 2. A aplicação

do art. 115 do Código Penal reclama interpretação teleológica e

técnica interpretativa segundo a qual não se pode tomar regra que visa

a favorecer o cidadão de modo a prejudicá-lo, restringindo a extensão

nela revelada. Há de tomar-se a idade do acusado, não na data do

pronunciamento do Juízo, mas naquela em que o título executivo

penal condenatório se torne imutável na via do recurso. Precedente:

AP 516-ED, Red. p/ acórdão Min. Luiz Fux, Pleno, Sessão de 5/12/2013.

3. O acórdão prolatado em sede de habeas corpus, que reduz a

reprimenda imposta ao paciente, não constitui causa de interrupção

da prescrição, pois nos termos do art. 117, IV do Código Penal, a

prescrição interrompe-se pela publicação da sentença ou acórdão

condenatório recorrível. 4. In casu, a) o paciente, ex-prefeito do

Município de Itamaracá/PE, foi condenado pelo Tribunal de Justiça do

Estado de Pernambuco à pena de 7 (sete) anos de reclusão, sendo 3

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(três) anos e 6 (seis) meses de reclusão pela prática do crime previsto

no art. 1º, I, do Decreto-lei nº 201/1967 e 3 (três) anos e 6 (seis) meses

pelo crime do art. 89 da Lei 8.666/1993. b) Na data da publicação do

acórdão condenatório, 28/4/2008, o paciente ainda não tinha 70

(setenta) anos, sendo completados apenas após o trânsito em julgado

da condenação. c) O Superior Tribunal de Justiça, em sede de habeas

corpus, desclassificou a conduta do paciente do inciso I para o inciso V

do art. 1º do Decreto-lei nº 201/1967, tendo, por conseguinte,

reduzido a pena outrora aplicada para 04 (quatro) meses de reclusão

e extinguiu a punibilidade pela prescrição em relação a este delito,

bem como reduziu a reprimenda para 3 (três) anos e 3 (três) meses de

detenção em relação ao crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/1993.

d) Conforme destacou a Procuradoria Geral da República, “não houve,

pois, a prescrição, eis que, entre as datas dos marcos interruptivos (a

publicação do acórdão de recebimento da denúncia – 26 de janeiro de

2005; a publicação do acórdão condenatório recorrível – 28 de abril de

2008; e o trânsito em julgado da condenação – 15 de junho de 2012)

não se passaram 8 anos”. 5. A competência originária do Supremo

Tribunal Federal para conhecer e julgar habeas corpus está definida,

taxativamente, no artigo 102, inciso I, alíneas “d” e “i”, da Constituição

Federal, sendo certo que o paciente não está arrolado em nenhuma

das hipóteses sujeitas à jurisdição desta Corte. 6. Habeas corpus

extinto por inadequação da via processual eleita.

(HC 120457, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em

06/05/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-098 DIVULG 22-05-2014

PUBLIC 23-05-2014). HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA.

SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ESPECIAL CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE.

RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO

CONHECIMENTO. 1. Com o intuito de homenagear o sistema criado

pelo Poder Constituinte Originário para a impugnação das decisões

judiciais, necessária a racionalização da utilização do habeas corpus, o

qual não deve ser admitido para contestar decisão contra a qual exista

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previsão de recurso específico no ordenamento jurídico. 2. Tendo em

vista que a impetração aponta como ato coator acórdão proferido por

ocasião do julgamento de apelação criminal, contra a qual seria cabível

a interposição do recurso especial, depara-se com flagrante utilização

inadequada da via eleita, circunstância que impede o seu

conhecimento. 3. O constrangimento apontado na inicial será

analisado, a fim de que se verifique a existência de flagrante

ilegalidade que justifique a atuação de ofício por este Superior

Tribunal de Justiça.

FRAUDE À LICITAÇÃO (ART. 89, CAPUT, COMBINADO COM O ART. 84,

§ 2.º, AMBOS DA LEI N.º 8.666/93, NA FORMA DO ART. 71 DO CÓDIGO

PENAL). ALEGADA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. RÉU QUE

COMPLETOU 70 (SETENTA) ANOS DEPOIS DA PRIMEIRA SENTENÇA

CONDENATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE DE DIMINUIÇÃO DO PRAZO

PRESCRICIONAL. 1. A Terceira Seção desta Corte Superior de Justiça

firmou o entendimento no sentido de que o termo “sentença” contido

no artigo 115 do Código Penal se refere à primeira decisão

condenatória, seja a do juiz singular ou a proferida pelo Tribunal, não

se operando a redução do prazo prescricional quando o édito

repressivo é confirmado em sede de apelação ou de recurso de

natureza extraordinária. Ressalva do ponto de vista do Relator. 2. Na

hipótese em tela, o acusado completou 70 (setenta) anos após a

publicação da sentença condenatória, pelo que se mostra impossível a

diminuição do prazo prescricional do ilícito que lhe foi imputado.

AVENTADA APLICABILIDADE DO ESTATUTO DO IDOSO. NECESSIDADE

DE ADOÇÃO DO LIMITE DE IDADE DE 60 (SESSENTA) ANOS PARA FINS

DE REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. NÃO ALTERAÇÃO DO

CÓDIGO PENAL PELA LEI N.º 10.741/2003. DESPROVIMENTO DO

RECURSO. 1. O Estatuto do Idoso, ao considerar como idosa a pessoa

a partir de 60 (sessenta) anos de idade, não alterou o artigo 115 do

Código Penal, que prevê a redução do prazo prescricional apenas

quando o acusado é maior de 70 (setenta) anos de idade ao tempo da

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sentença condenatória. Precedentes do STJ e do STF. 2. Não tendo

transcorrido 8 (oito) anos entre os marcos interruptivos do prazo

prescricional, inviável o reconhecimento da prescrição da pretensão

punitiva, como pretendido na impetração. 3. Habeas corpus não

conhecido. (HC 284456/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA

TURMA, julgado em 22/04/2014, DJe 29/04/2014)

OBS.: Atualmente, o prazo prescricional mínimo da pretensão punitiva é de 3 anos, se o

máximo da pena cominada for inferior a 1 (um) ano, e não mais de 2 anos, em decorrência

da alteração legislativa trazida pela Lei nº 12.234, de 2010.

OBS.: A prescrição, via de regra, tem sua contagem iniciada na data do fato (data da

consumação do crime), contudo, devemos estar atentos às seguintes hipóteses:

• Tentativa: do dia em que cessou a tentativa, ou seja, da data do último ato de execução.

• Crimes permanentes: do dia em que cessou a permanência. Se cessar após o recebimento da

denúncia ou após a data da prisão do agente, o dies a quo será a data do recebimento da inicial

ou da prisão, respectivamente.

• Crimes continuados: trata-se de ficção jurídica de crime único, não havendo termo inicial de

contagem do prazo para cada crime, o que interessa é o ultimo ato.

• Crimes qualificados pelo resultado: do dia em que se produziu o resultado mais grave.

• Crimes de bigamia e falsificação do registro civil: do dia em que o fato se tornou conhecido pela

autoridade.

• Crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes: da data em que a vítima completar

18 (dezoito) anos, salvo de a esse tempo já houver sido proposta ação penal, aos crimes

cometidos após a entrada da Lei nº 12.650/12.

►► Art. 564 CPP – Nulidades

O art. 564 do Código de Processo Penal lista todas as nulidades, só que na resposta à

acusação e memoriais elas são essenciais, valendo lembrar as seguintes nulidades de suma

importância contidas neste artigo:

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I – Incompetência, suspeição e suborno

A alegação deste tipo de nulidade está intimamente ligada ao assunto “Exceções”,

previsto no art. 95 do CPP. Ela é uma peça processual a ser usada quando a peça acusatória

deveria ter sido rejeitada, mas foi recebida. Vamos supor que existia uma falha técnica da ação,

porém mesmo sendo caso de rejeição liminar, o juiz acaba recebendo a denúncia ou queixa.

Neste caso, será cabível a exceção prevista no art. 95 CPP, pois houve falha no recebimento da

peça acusatória.

Vale ressaltar, inicialmente, que a regra é que as matérias das exceções sejam

apresentadas de forma apartada e ANTES da resposta à acusação ou SIMULTANEAMENTE a esta.

Entretanto, como a peça de exceções dificilmente será cobrada de forma isolada em uma questão

prática da OAB, vem se admitindo a alegação de toda a matéria das exceções na própria resposta

à acusação e em sede de preliminar.

Vale lembrar que o rol das exceções é TAXATIVO. Regra geral, existindo uma das

hipóteses do art. 95 será cabível a exceção, porém se não for qualquer das hipóteses do art. 95

não caberão exceções.

Estas exceções subdividem-se em duas espécies:

• Dilatórias – quando não buscam o encerramento do processo, mas apenas a sua regularização;

• Peremptórias – quando buscam o encerramento do processo sem apreciação do mérito;

As principais exceções são as seguintes:

• Suspeição – dilatória

• Impedimento – dilatória

• Incompetência – dilatória

• Litispendência – peremptória

• Coisa Julgada – peremptória

• Ilegitimidade da parte – peremptória

a) Suspeição e impedimento

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O STF já se manifestou no sentido de que o tratamento processual do reconhecimento

das suspeições será o mesmo na hora que identificar o impedimento. Isso não está previsto na

lei, é jurisprudencial. A suspeição vai se manifestar quando, no caso concreto, tiver alguma

circunstância que irá abalar, principalmente, a imparcialidade do magistrado. O impedimento é

notório, taxativo.

Além disso, a exceção de suspeição ou impedimento pode ser alegada contra os demais

serventuários da justiça.

Ex. Juiz e MP ambos casados com parceiros diferentes, foram pegos em praia tomando

uma cerveja juntos, mesmo que nada exista entre eles é colocada em suspeição a imparcialidade

do julgamento.

b) Incompetência do juízo

Nos próximos assuntos, trataremos das regras de competência no processo penal, mas

vamos a algumas considerações importantes no tocante a elaboração da resposta à acusação.

Na hipótese de Incompetência do juízo, muitas vezes, as questões trazem as

competências da justiça federal, art. 109 CF, em razão disto, vale lembrar a competência da

justiça federal:

I – os crimes políticos, previstos na Lei nº 7170\83;

II – as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União

ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e

ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Ex. Estelionato previdenciário praticado contra o INSS, ele está no art. 171, parágrafo 3º,

do CP, havendo o aumento de pena de 1/3. Neste sentido:

Súmula 24 STJ – Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade

autárquica da Previdência Social, a qualificadora do § 3º do art. 171 do Código Penal.

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Ex. Falsificação de moeda é crime sujeito à justiça federal, pois toda emissão de papel

moeda é de competência da justiça federal.

Ex. Crimes contra o sistema financeiro.

III – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a

execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou

reciprocamente;

Todos os crimes transnacionais são da justiça federal, o crime começa a execução em

um país e termina em outro, ele se inicia dentro ou fora do Brasil e deve terminar fora ou dentro

do Brasil.

Ex. Tráfico internacional de seres humanos.

IV – as causas relativas a direitos humanos (EC 45\2004)

Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República,

com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados

internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o

Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de

deslocamento de competência para a Justiça Federal.

• Originalmente o feito será intentado na justiça estadual;

V – os crimes contra a organização do trabalho;

Apenas os crimes que ofendam interesse coletivo da organização do trabalho ou o

interesse coletivo e geral dos trabalhadores.

Na REGRA GERAL os crimes contra a organização do trabalho são de competência da

Justiça Estadual, salvo se tiver interesse coletivo envolvido, somente neste caso é que a

competência será da justiça federal, como o art. 204 e art. 206 do Código Penal.

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VI – crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, nos casos previstos

na Lei nº 7492\86;

Todos os crimes contra o sistema financeiro nacional são de competência da justiça

federal, por expressa disposição do art. 26 da Lei nº 7492/86, sendo a ação penal pública

incondicionada intentada pelo MP federal perante a justiça federal;

Nos crimes contra a Ordem Tributária a competência somente será da justiça federal se

houver ofensa à competência de tributo da UNIÃO, nos demais casos, se o tributo for estadual

ou municipal a competência será da justiça COMUM, como bem prevê o art. 1 a 3º da Lei nº

8.137/1990. Mas os crimes contra a ordem tributária, previstos a partir do art. 4º são de

competência da justiça estadual.

VII – os “habeas-corpus”, em matéria criminal de sua competência ou quando o

constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra

jurisdição;

VIII – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da

Justiça Militar;

Deve-se levar em consideração apenas navios ou aeronaves de carga e passageiro de

grande porte, capazes de fazer viagens internacionais se necessário.

Logo, não é todo e qualquer crime cometido a bordo de navios ou aeronaves que será

de competência da justiça federal;

IX – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro;

X – cumprimento de cartas rogatórias, após exame e expedição do STJ;

XI – aplicação de sentença estrangeira, após homologação do STJ;

XII – crimes contra comunidades e direitos coletivos dos indígenas;

NÃO é todo crime contra indígena que é da competência da justiça federal, apenas os

crimes que ofendam interesses coletivos ou difusos dos índios é que são da competência da

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justiça federal, se houver interesse individual de indígena envolvido, neste caso a competência

será da justiça estadual, conforme súmula do STJ.

Súmula 140 STJ – Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que

indígena figure como autor ou vítima.

OBS.: Cuidado com as cascas de banana!

►► Justiça Federal – cabe processar e julgar crimes cometidos contra funcionários públicos

federais, no exercício de suas funções;

Súmula 147 STJ – Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra

funcionário público federal quando relacionados com o exercício da função.

►► Justiça Estadual – na regra geral, cabe processar e julgar crimes praticados por funcionários

públicos federais, ainda que no exercício da função, caso estes crimes sejam da alçada estadual;

►► Crimes contra a fauna – a competência dependerá do local em que foi praticado o crime;

sendo área de proteção ambiental da união, a competência será da Justiça Federal.

Súmula 91 STJ foi REVOGADA – Compete à justiça federal processar e julgar os crimes

praticados contra a fauna. (Na sessão de 08/11/2000, a terceira seção deliberou pelo

CANCELAMENTO da súmula nº 91.

No caso de crimes políticos (Lei de Segurança Nacional – Lei nº 7170/1983), a

competência será da Justiça Federal e o 2º Grau de jurisdição será o STF, em recurso ordinário

(CF, art. 102, II, b).

►► Tráfico de Drogas – regra geral será a competência da Justiça Estadual;

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Súmula 522 do STF – Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a

competência será da justiça federal, compete à justiça dos estados o processo e julgamento

dos crimes relativos a entorpecentes.

►► Crimes contra ou praticados por indígenas – regra geral será competente a Justiça Estadual:

Súmula 140 STJ – Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que

indígena figure como autor ou vítima.

►► Falsificação e uso de documento relativo à autarquia federal – competência será da justiça

federal, ainda que o documento seja utilizado em empresa ou instituição privada;

OBS.: Competência do Tribunal do Júri:

►► Compete julgar os crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados;

Cuidado com as cascas de banana: A competência por prerrogativa da função, desde que

estabelecida na Constituição Federal, prevalece sobre a competência do júri (STF, HC

83.543/PE, 2ª T, Rel. Ellen Gracie, 2004);

Ex. Presidente da república em infrações penais comuns tem prerrogativa de foro no STF, se

ele vem a matar uma pessoa não será julgado pelo Tribunal do Júri e sim pelo STF.

CUIDADO! Quando a prerrogativa de função for estabelecida EXCLUSIVAMENTE na

Constituição Estadual, será competência do Tribunal do Júri e NÃO prevalecerá o foro por

prerrogativa de função, nos termos da súmula 721 do STF.

Súmula 721 do STF – A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro

por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

OBS.: Prefeito pode ser julgado pelo TJ ou TRF a depender de o crime ser da alçada estadual

ou federal, além disso, o prefeito é julgado pelo Tribunal a que ele tiver o mandato, mesmo

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que o crime tenha sido cometido fora do município a que ele tem mandato, nos termos da

Súmula 702 do STF.

Súmula 702 STF – A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se

aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência

originaria caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.

Ex. Prefeito – PE que comete homicídio contra fiscal do ministério do trabalho quando

este estava fazendo investigação do crime de redução à condição análoga de escravo, sendo

julgado na justiça comum. Neste caso, entra-se com exceção de incompetência, pois o crime foi

contra funcionário público federal em detrimento das razões que ele exerce e a competência é

da Justiça Federal.

OBS.: Cuidado: a história do assalto ao Banco do Brasil e o processo está na Justiça Federal,

caberá exceção de incompetência, pois o Banco do Brasil é SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

e a competência é da JUSTIÇA ESTADUAL.

Súmula 42 do STJ – Compete a Justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis

em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

OBS.: Se o crime for cometido contra a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL a competência será da

JUSTIÇA FEDERAL.

c) Exceção de coisa julgada

Sobre a exceção de coisa julgada e importante saber duas coisas:

1ª) Da sentença que decreta a extinção da punibilidade com base em certidão de óbito

falsa não caberá exceção de coisa julgada, pois a sentença não fará coisa julgada. Só

caberá a alegação da exceção caso o juiz, quando da certidão de óbito acostada aos

autos, não realizar o procedimento necessário para a averiguação da veracidade da

informação.

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2º) Não pode arguir exceção de coisa julgada em inquérito policial, pois este é mero

procedimento administrativo.

d) Exceção de ilegitimidade da parte

A Exceção de ilegitimidade da parte ocorre quando a ação penal é mal feita, pois era

para ter havido rejeição liminar da denúncia em face da ilegitimidade da parte, mas a denúncia

acabou sendo recebida, mesmo não tendo a parte legitimidade para ingressar com a ação penal

pública ou privada.

II – Ilegitimidade da parte

É outra nulidade que poderá ser arguida em sede de preliminar, sendo ela esclarecida

no item anterior, quando da abordagem do assunto exceção de ilegitimidade da parte.

III – Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes.

É bastante comum a ocorrência das seguintes nulidades referentes a este ponto:

►► Ausência do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios.

Deve ser observado o art. 158 do CPP, tendo em vista que nos crimes que deixam

vestígios o exame de corpo de delito é obrigatório, sob pena da alegação da nulidade ora

mencionada.

OBS. : Cuidado com a Jurisprudência do STJ referente ao estupro, segundo este Tribunal

Superior nos crimes que deixam vestígios é indispensável o exame de corpo de delito, salvo

o de estupro, pois este pode ser demonstrado de outros meios. O Tribunal leva em

consideração que o exame de corpo de delito no estupro é altamente invasivo e não é

razoável obrigar a realização do exame de corpo de delito. Logo, no caso especifico do

estupro não se deve arguir a nulidade referida. Neste sentido, as seguintes decisões da 5ª e

6ª Turma do STJ, respectivamente:

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Processo HC 217.602/BA

HABEAS CORPUS 2011/0210231-7

Relator (a) Ministro LAURITA VAZ (1120)

Órgão Julgador T5 – QUINTA TURMA

Data do Julgamento 02/05/2013

Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2013

EMENTA: HABEAS CORPUS. ARTS. 129, 146 E 213, DO CÓDIGO PENAL.

ALEGAÇÃO DE QUE A CONDENAÇÃO FOI LASTREADA

EXCLUSIVAMENTE EM ELEMENTOS PROBATÓRIOS PRODUZIDOS

NA FASE INQUISITORIAL. IMPROCEDÊNCIA DO FUNDAMENTO. JUÍZO

CONDENATÓRIO BASEADO NA OITIVA DE TESTEMUNHAS E VÍTIMAS

REALIZADAS DURANTE A INSTRUÇÃO DA AÇÃO PENAL, ALÉM DO

EXAME DE CORPO DE DELITO, TUDO SOBRE O CRIVO DO

CONTRADITÓRIO. PALAVRA

DA VÍTIMA, QUE, DE QUALQUER FORMA, NOS CRIMES DE ESTUPRO E

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR, É ELEMENTO PROBATÓRIO DE

RELEVANTÍSSIMO VALOR. PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA INCOMPATÍVEL

COM A COGNIÇÃO SUMÁRIA DA VIA ESTREITA ELEITA.

IMPOSSIBILIDADE DESTA

CORTE SOBREPOR-SE A QUAISQUER CONCLUSÕES DAS INSTÂNCIAS

ORDINÁRIAS NO TOCANTE, POR SEREM ESSAS SOBERANAS NA

ANÁLISE FÁTICO-PROBATÓRIA. PEDIDO PARA QUE SEJA

RECONHECIDO BIS IN IDEM NA CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO

DELITOS PREVISTOS NOS ARTS. 129 E 146, JUNTAMENTE COM O DA

INFRAÇÃO TIPIFICADA NO ART. 213. EFEITO DEVOLUTIVO DO

RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL LIMITADO PELA PRETENSÃO

DEDUZIDA NAS RAZÕES RECURSAIS OU NAS CONTRARRAZÕES.

IMPOSSIBILIDADE DE SE INCORRER EM SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.

WRIT QUE NÃO PODE TER O MÉRITO ANALISADO, NO PONTO.

DOSIMETRIA DE PENA. INDICAÇÃO DE ELEMENTOS NÃO INERENTES

AOS TIPOS PENAIS PELOS QUAIS O PACIENTE FOI CONDENADO.

CIRCUNSTÂNCIAS ESPECIALMENTE CENSURÁVEIS. ELEVAÇÃO DAS

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PENAS-BASE JUSTIFICADA. ORDEM DE HABEAS CORPUS

PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSÃO, DENEGADA.

1. A leitura dos atos decisórios proferidos pelas jurisdições

antecedentes não revela condenação fundamentada exclusivamente

em elementos probatórios colhidos durante a fase inquisitorial. Ao

contrário, a conclusão baseia-se em todos os elementos de prova dos

autos, mormente o exame de corpo de delito e depoimentos de

testemunhas e das vítimas colhidos em juízo. Assim, tem-se que as

instâncias ordinárias fundamentaram, devidamente, haver elementos

válidos para concluir pela condenação do Paciente.

2. Apenas frise-se, ad argumentandum tantum, que ainda que não

houvesse sido confeccionado exame de corpo de delito, aplicar-se-ia

no caso o entendimento de que “[a] palavra da vítima, em sede de

crime de estupro ou atentado violento ao pudor, em regra, é elemento

de convicção de alta importância, levando-se em conta que estes

crimes, geralmente, não há testemunhas ou deixam vestígios” (STJ, HC

135.972/SP, 5ª Turma, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJe de 07/12/2009.)

3. Reconhecer a ausência, ou não, de elementos de autoria e

materialidade acarreta, inevitavelmente, profundo reexame do acervo

fático-probatório, o que, como é sabido, não se coaduna com a via

estreita do mandamus. Ultrapassa as balizas do remédio

constitucional do habeas corpus pedido para que as provas produzidas

na instrução criminal sejam reapreciadas. Precedentes: STJ, HC

135.972/SP, Rel. Min. FELIX FISCHER; STJ, HC 76.599/RS; Rel. Min. JANE

SILVA (Des. convocada do TJ/MG); STJ, HC HC 254.236/SP, Rel. Min.

LAURITA VAZ.

4. A pretensão de que seja admitido bis in idem na condenação pela

prática dos delitos previstos nos arts. 129 e 146, juntamente com o da

infração tipificada no art. 213, não pode ser analisada, sob pena de

supressão de instância.

5. De qualquer forma, apenas mencione-se que tal fundamento sequer

poderia prosperar em seu mérito, pois a documentação dos autos

demonstra que as condutas pelas quais o Paciente foi condenado

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foram praticadas em momentos e situações fáticas completamente

distintos.

6. Destacadas pelo Magistrado Sentenciante circunstâncias que,

concretamente, extrapolam consideravelmente as elementares dos

tipos imputados ao Paciente, não há constrangimento em aumentar

as penas-base dos delitos. Daí, incide o entendimento de que

“justificada e razoável a dosimetria utilizada pelo magistrado para fixar

a pena-base, não se permite, em sede de habeas corpus, rever o

conjunto probatório para examinar a justiça da exasperação” (STJ, HC

58.493/RJ, 6ª Turma, Rel. Min. MARIA THEREZA, DJ de 24/09/2007).

7. Ordem de habeas corpus parcialmente conhecida e, nessa extensão,

denegada.

Processo AgRg no AREsp 272.952/DF

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL

2012/0271024-4

Relator (a) Ministro CAMPOS MARQUES (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/PR) (8250)

Órgão Julgador T5 – QUINTA TURMA

Data do Julgamento 21/03/2013

Data da Publicação/Fonte

DJe 26/03/2013

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

HOMICÍDIO QUALIFICADO, ESTUPRO E FURTO. ART. 59 DO CÓDIGO

PENAL. FIXAÇÃO DA PENA SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADA PELAS

INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. ART. 564, III, “B”, DO CÓDIGO DE PROCESSO

PENAL. ENTENDIMENTO DA CORTE A QUO DE ACORDO COM A

JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO

REGIMENTAL IMPROVIDO.

1. Não há ofensa ao art. 59 do Código Penal quando as instâncias

ordinárias fundamentam suficientemente a fixação da pena, levando

em consideração a culpabilidade, os antecedentes e a personalidade

do acusado.

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2. A ausência do exame de corpo de delito, no crime de estupro, não

tem o condão de configurar nulidade absoluta do processo.

Precedentes do STJ.

3. Agravo regimental improvido.

Processo REsp 401028 / MA

RECURSO ESPECIAL 2001/0128991-6

Relator (a) Ministro OG FERNANDES (1139)

Órgão Julgador T6 – SEXTA TURMA

Data do Julgamento 23/02/2010

Data da Publicação/Fonte

DJe 22/03/2010

EMENTA: RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ESTUPRO.

DENÚNCIA. REJEIÇÃO. EXAME DE CORPO DE DELITO. AUSÊNCIA.

APLICAÇÃO DO ARTIGO 167 DO CÓDIGO DE PROCESSO

PENAL.

1. “A ausência de laudo pericial não tem o condão de afastar os delitos

de estupro e atentado violento ao pudor, nos quais a palavra da vítima

tem grande validade como prova, especialmente porque, na maior

parte dos casos, esses delitos, por sua própria natureza, não contam

com testemunhas e sequer deixam vestígios” (HC-47.212⁄MT, Relator

Ministro Gilson Dipp, DJ de 13.3.06).

2. Conforme a jurisprudência desta Corte, uma vez inexistente o

exame de corpo de delito, tal fato não tem o condão de descaracterizar

a tipicidade da conduta narrada na exordial acusatória, haja vista a

possibilidade de ser suprido por depoimentos testemunhais, conforme

previsão do art. 167 do Estatuto Repressivo.

3. A rejeição da denúncia somente tem cabimento em casos em que

se verifique de plano a atipicidade da conduta, sem a necessidade de

o magistrado, na simples decisão de recebimento, efetuar um exame

aprofundado da prova, cuja apreciação deve aguardar momento

oportuno, qual seja a instrução criminal.

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4. O Tribunal a quo, em sede de ação penal originaria, ao concluir pela

ausência de prova material do estupro, incursionou em profunda

análise da prova e assim antecipou-se, indevidamente, ao julgamento

de mérito da lide, em momento sabidamente inoportuno, no qual e

vedada a analise exauriente da prova.

5. Recurso ao qual se da provimento.

►► Ausência de intervenção do MP nos casos em que for necessário.

Esta hipótese ocorre muito na ação penal privada subsidiária da pública.

Quando o juiz recebe este tipo de ação o processo é baixado e deve o MP se habilitar no

processo. Neste caso o MP poderá aditar a queixa em 3 dias ou oferecer denúncia substitutiva,

se ele não o fizer no prazo de 3 dias o juiz irá presumir que não há o que ser editado.

No caso acima ou o MP se habilita ou irá haver nulidade, ou seja, deve haver a

intervenção do MP sob pena de nulidade.

►► Art. 23 CP – Causas de justificação (excludentes de ilicitude do fato)

O art. 396-A do CPP fala de justificações – nada mais são do que as hipóteses de exclusão

de ilicitude do Art. 23 CP, que devem ser alegadas em preliminar. Se não há crime em

decorrência de uma excludente de ilicitude NÃO era para ter havido sequer processo.

Vale ressaltar que, normalmente, se existir uma preliminar de excludente de ilicitude a

tese principal de mérito também será a da excludente de ilicitude.

►► Deve-se buscar todo e qualquer outro defeito que levaria a ocorrência de rejeição liminar

na peça acusatória.

Nesse caso, argui-se não só o art. 395 do Código de Processo Penal já abordado

anteriormente, como toda e qualquer falha processual que venha a ocorrer durante o processo

que deveria ter ocasionado a rejeição liminar da inicial acusatória.

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DICAS IMPORTANTES:

Da rejeição liminar da denúncia ou da queixa cabe recurso em sentido estrito – RESE

(recurso este que será abordado em um capítulo específico), nos termos do art. 581, I, do CPP.

Quando se entra com o RESE e o recurso for provido deve-se ter cuidado para não haver

supressão de instância. Neste caso o órgão recursal pede para que o processo volte para o

primeiro grau e que a denúncia ou queixa seja recebida, o tribunal devolverá o feito para o juiz

singular receber a ação. O efeito do RESE neste caso é devolutivo, pois o órgão recursal cabe a

reanálise da matéria. Haverá supressão de instância quando o órgão recursal superior analisa o

mérito sem que o órgão de primeiro grau tenha se manifestado, o órgão de 2º grau não pode

analisar o que era para ser analisado pelo órgão de 1ª instancia. Resumidamente: caso o

magistrado rejeite liminarmente a denúncia ou a queixa, com base no art. 395 do CPP, esta não

poderá ser recebida pelo Tribunal, no lugar do Juiz, pois estaria configurada supressão de

instância.

Ex: O juiz rejeita liminarmente a queixa por entender ser ela inepta – caso o Tribunal dê

provimento ao recurso, devem os autos retornar a origem, para que o magistrado proceda ao

recebimento, sob pena de ocorrer supressão de instância.

Caso o juiz rejeite a denúncia ou a queixa com base em qualquer outro fundamento que

não os listados no art. 395 do CPP, poderá o Tribunal receber a peça acusatória, nos exatos

termos da súmula.

Súmula nº 709 do STF – Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê

o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.

OBS.: Cada preliminar deve estar em um parágrafo, cada uma delas deve ser justificada

normativamente, em lei, e, além disso, não irá aprofundar as discussões de mérito. As

preliminares são de natureza técnica processual, há indicação da falha e no mérito é que

serão apresentadas as teses que foram levantadas nas preliminares.

6. DEMAIS INFORMAÇÕES SOBRE RESPOSTA À ACUSAÇÃO

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1ª) Oferecimento de documentos e requerimento de produção de provas

Deve haver uma solicitação formal de juntada de documentos como certidões, alvarás

e atestados, bem como de produção de provas que a defesa julgue necessário (exame de corpo

de delito, acareações, busca e apreensões, entre outros).

2ª) Oferecimento de justificações

Estas justificações nada mais são do que a arguição de possíveis excludentes de ilicitude,

previstos no artigo 23 do CP que acarretarão a absolvição sumária nos termos do art. 397, I, do

CPP.

Ex: Se a defesa entender que no caso analisado existe um estado de necessidade, causa

de exclusão de ilicitude e consequentemente, do crime, deve arguir já na resposta à acusação,

como forma de tentar forçar a absolvição sumária.

3ª) Arrolar testemunhas e qualificá-las

Devem ser listadas todas as testemunhas e obrigatoriamente qualificadas, mediante

indicação de todos os elementos de identificação possíveis destas.

Não se admite arrolamento de testemunhas sem a devida qualificação.

DICA 1 – O requerimento de intimação das testemunhas não é obrigatório, podendo estas

serem arroladas independentemente de intimação.

Todavia, recomenda-se fazer o pedido de expedição de intimação. Caso não tenham sido

intimadas e não compareçam para serem ouvidas, as testemunhas não poderão ser conduzidas

coercitivamente, nem substituídas por outras, o que pode prejudicar substancialmente a defesa.

DICA 2 – Rito ordinário até 8 testemunhas por parte e por acusado (art. 401 CPP); Rito

sumário até 5 testemunhas por parte e por acusado (art. 532 CPP);

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DICAS MUITO IMPORTANTES:

A resposta à acusação, sempre que possível, deve tentar levar a uma absolvição sumária,

devendo este pedido ser explícito na peça.

Nos Juizados Especiais Criminais, a resposta à acusação é feita oralmente, nada

impedindo que haja a sua feitura por meio escrito.

Art. 81 da Lei nº 9099\95. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para

responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo

recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a

seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da

sentença.

Novamente, vale lembrar que a resposta à acusação é obrigatória, se ela não for feita o

processo não anda, havendo nulidade por afronta ao princípio da ampla defesa. A antiga defesa

prévia era antes um ato meramente formal, mas com as mudanças ocorridas em 2008, regra

geral, a resposta à acusação e a única oportunidade de apresentar a tese de defesa por escrito,

pois os as alegações finais, via de regra, são realizadas de forma oral, e a exceção é que ela seja

realizada por escrito.

7. RESPOSTA À ACUSAÇÃO NO RITO DO TRIBUNAL DO JÚRI

A resposta à acusação no rito do Tribunal do júri segue a mesma lógica da resposta à

acusação no rito ordinário e sumário, devendo ser realizada no prazo de 10 dias a contar da

citação do acusado ou do momento que este ou seu defensor constituído, comparecer em juízo,

em casos de citação inválida ou feita por edital.

Não sendo procedida esta resposta, o juiz nomeará defensor para oferece-la, no prazo

de 10 dias, concedendo-lhe vista aos autos.

Neste sentido, vale lembrar os seguintes artigos que fundamentam a resposta à

acusação no rito do júri:

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Art. 406 do CPP – O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado

para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

§ 1º O prazo previsto no caput deste artigo será contado a partir do efetivo cumprimento

do mandado ou do comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no

caso de citação inválida ou por edital.

§ 2º A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), na denúncia ou na

queixa.

§ 3º Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo que interesse a sua

defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar

testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação,

quando necessário.

Art. 407 do CPP – As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a

112 deste Código.

Art. 408 do CPP – Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomeará defensor para

oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos.

Um ponto de suma importância no rito do Tribunal do Júri diz respeito ao pedido que

poderá ser feito neste rito, tendo em vista que, além das matérias tratadas na resposta à

acusação do rito comum ordinário e sumário que poderá ser objeto de pedido também no rito

do tribunal do júri, quando se pretender tratar do mérito já na resposta à acusação no rito do

tribunal do júri, o pedido poderá ser de:

Absolvição Sumária – Neste caso utiliza-se por analogia as hipóteses de absolvição sumária

constantes no art. 397 do CPP, tendo em vista que NÃO existe um artigo específico que trate

destas hipóteses de absolvição no rito do tribunal do júri. Ou seja, embora não exista previsão

em lei a manifestação da absolvição sumária, no rito do júri, atualmente muitos doutrinadores

defendem a tese de que a defesa deve adentrar, em alguns casos, no mérito da questão, já na

resposta à acusação, objetivando a decretação da absolvição sumária. A hipótese prevista no

art. 415 do CPP, apesar de conter o mesmo nome, trata-se de absolvição sumária diversa da

tratada em sede de resposta à acusação. Sobre esse artigo falaremos nos memoriais.

DICA – Quanto ao nome da peça processual existe a seguinte diferenciação:

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►► RESPOSTA À ACUSAÇÃO = é o nome da peça no Rito comum ordinário, rito comum sumário

e no rito do tribunal do júri. Ela ocorre com o processo penal já em curso, ela ocorre após o inicio

do processo, este começa com o RECEBIMENTO da peça acusatória. Ela é considerada de

natureza PROCESSUAL e tem como objetivo promover a absolvição sumária do réu. Ela é

considerada obrigatória e caso NÃO seja apresentada deverá ser nomeado um defensor público.

►► DEFESA PRELIMINAR = é o nome da peça no Rito dos crimes afiançáveis praticados por

funcionário público (art. 514 do CPP) ou crimes da lei de drogas (art. 55, da Lei nº 11.343/2006).

Ou seja, ela ocorre em duas hipóteses, no caso do rito da Lei de drogas e no rito dos crimes

afiançáveis praticados por funcionário público. A defesa preliminar é feita ANTES do

recebimento da peça acusatória, sendo de natureza PRÉ-PROCESSUAL, não é considerada

obrigatória e tem como objetivo que a ação penal não se inicie. Além disso, atualmente, após o

advento da Lei nº 12.403/2011, TODOS os crimes praticados por funcionário público passaram

a ser afiançáveis, já que não se enquadram, por si sós, nas situações em que há a vedação da

concessão da fiança previstas nos arts. 323 e 324 do CPP, razão pela qual, em TODOS os crimes

praticados por funcionário públicos será cabível a Defesa Preliminar.

Por fim, fique ligado no seguinte detalhe: se for oferecida a defesa preliminar, mas o juiz

vir a receber a denúncia haverá neste caso a oportunidade para oferecimento de resposta à

acusação.

8. ESTRUTURA DA RESPOSTA À ACUSAÇÃO

Endereçamento:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL DA COMARCA

DE ___________ (Regra Geral)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA CRIMINAL DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DE ___________ (Crimes da Competência da Justiça Federal)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI

DA COMARCA DE ________________ (Regra geral)

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DE _________________ (Crimes da Competência da Justiça Federal)

Porém, se a comarca for a CAPITAL do Estado coloque:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL DA COMARCA

DE _______________________ CAPITAL DO ESTADO DE __________________

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO ____ JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

DA COMARCA _____________________

(Endereçamento no Juizado Especial:)

Processo número:

Coloque 4 dedos ou 3 dedos de espaçamento após o processo número para começar a

qualificação, desde que quando for colocar o rol de testemunhas colocar o mesmo

espaçamento, também de 4 ou 3 dedos. Este dado já facilitará a qualificação, pois ela será de

forma mais resumida, uma vez que se foi indicado o processo e pode-se fazer referência as

folhas do processo.

Qualificação:

(Fazer parágrafo) Nome, já qualificado nos autos do processo às folhas ( ), por seu

advogado e bastante procurador que a esta subscreve, conforme procuração em anexo, vem,

muito respeitosamente a presença de Vossa Excelência, apresentar com fundamento nos

artigos 396 e 396–A (OU artigo 406 – No caso de Tribunal do Júri) do Código de Processo Penal

(não colocar abreviatura) a sua (sem saltar linhas)

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

(Pula-se uma linha)

1. Dos Fatos

O candidato deve externar os fatos de forma sucinta. Não copie igual aos fatos, se a

questão deu 20 linhas para os fatos devem-se usar menos linhas, umas 10, por exemplo. Deve-

se fazer uma síntese, trazer os fatos de forma resumida.

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Os períodos devem ser sempre curtos, 5 ou 6 linhas. Recomenda-se primeiro narrar

os fatos e depois arguir as preliminares no próximo ponto, tendo em vista que é melhor

primeiro mencionar os fatos para depois se arguir eventuais defeitos decorrentes dos fatos.

2. Das Preliminares

Buscam-se falhas, defeitos que possam inviabilizar a defesa. NÃO se deve entrar no

MÉRITO. Nas alegações das preliminares basta fazer um parágrafo apontando a preliminar,

esta é uma indicação inicial de um erro, de um equívoco existente no processo. Ela é uma

indicação de ordem técnica, devendo mencionar o fundamento legal.

DICA! Indique as preliminares na sequência a seguir a seguir:

Como já foi explicado existe uma sequência a ser seguida. Abra os artigos na seguinte

sequência:

1º) Art. 107 CP – Causas extintivas de punibilidade.

2º) Art. 109 CP – Prescrição

3º) Art. 564 CPP – Nulidades

4º) Art. 23 CP – Causas de exclusão de ilicitude.

5º) Deve-se buscar todo e qualquer outro defeito que levaria a ocorrência rejeição liminar da

peça acusatória.

OBS.: Com já foi dito, as preliminares são apenas mencionadas, no mérito é que se poderá

aprofundar alguma tese das preliminares, como no caso da preliminar de exclusão da

ilicitude.

3. Do Mérito

Deve-se alegar o que mais salta aos olhos, devendo demonstrar conhecimento. Se nas

preliminares citou-se o instituto jurídico, como, por exemplo, legitima defesa, deve discorrer

sobre os requisitos da legitima defesa. Deve-se discorrer sobre os institutos demonstrando os

requisitos do instituto. Toda vez que falar de uma preliminar deve-se falar no mérito sobre

ela em um parágrafo.

Deve-se mencionar de forma geral, segundo a melhor doutrina, ou segundo o

entendimento da doutrina dominante, ou conforme o entendimento dos tribunais

superiores.

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Não se deve discorrer sobre temas controversos, deve-se falar o que todo mundo

sabe. Use ideias fáceis, simples e que todos conhecem.

OBS.: Ao elaborar sua tese de defesa tente sempre demonstrar a necessidade de

absolvição sumária do réu.

DICAS!

• Sempre quando for discutir o mérito deve-se discorrer sobre o instituto de direito penal já

demonstrando que em cada elemento do instituto há o enquadramento deste no caso

concreto. Faça períodos sempre curtos, no máximo de 5 ou 6 linhas.

• Deve-se explorar bem a tese principal.

• Entretanto vale ressaltar que no mérito também se deve mencionar as preliminares que já

foram suscitadas, comentando-as de forma mais resumida do que a tese principal.

4. Dos Pedidos

• PEDIDO PRINCIPAL = ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA.

(Fazer parágrafo – regra dos dois dedos) Diante de todo exposto, requer-se a Vossa Excelência

que decrete a absolvição sumária do acusado, nos termos do art. 397 do Código de Processo

Penal – indicar o inciso correspondente (Rito do Júri – peça também a absolvição sumária,

mencionando também o art. 397 do CPP) como medida de preservação da mais lídima justiça.

Vale transcrever o art. 397 do CPP:

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste

Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;

II – a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo

inimputabilidade;

►► O caso foi de isenção de pena do cliente em decorrência da exclusão da culpabilidade.

Ex. Sujeito estava submetido à coação moral irresistível art. 22 do CP.

Ex. Estrito cumprimento de superior hierárquico a ordem não manifestamente ilegal.

Ex. Inexigibilidade de conduta diversa.

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OBS.: Salvo a hipótese de inimputabilidade, neste caso o sujeito é “louco”, nos termos do

art. 26 do CP, o sujeito era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou

de comportar-se de acordo com este entendimento. Neste caso NÃO se pode

fundamentar a inimputabilidade no pedido de absolvição sumária, pois ele é doente

mental, devendo receber medida de segurança.

III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou

Ex. Contaram a história de algum que cometeu crime de dano contra o próprio

patrimônio

Ex. Pessoa é acusada de invadir o próprio domicilio.

IV – extinta a punibilidade do agente.

DICAS!

• O pedido de absolvição sumária do réu é um pedido obrigatório.

• Absolvição Sumaria do art. 397 CPP – é para os crimes do Rito Ordinário.

Esta absolvição sumária ocorre após o recebimento da denúncia e antes da instrução

probatória.

• Absolvição Sumaria do rito do tribunal do júri – se a resposta à acusação for no rito do

tribunal do júri peça a absolvição sumária e INDIQUE por ANALOGIA o ARTIGO 397 do CPP. O

Código de Processo Penal não prevê a resposta à acusação com pedido de absolvição sumária

para o rito do Tribunal do Júri, pois a absolvição sumária do art. 415 CPP é um instituto

completamente diferente do art. 397 CPP. Não se deve confundir a absolvição sumária da

resposta à acusação com a absolvição sumária do art. 415 CPP, este artigo fala de absolvição

sumária, o nome é o mesmo, mas os institutos jurídicos são distintos, pois a absolvição

sumária do art. 415 ocorre no FINAL DA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA e é alegada em sede de

MEMORIAIS. Por conta disso, como não existe artigo de lei que fundamente a absolvição

sumária no Rito do Júri para a resposta à acusação, deve-se alegar por analogia o art. 397 do

CPP.

• PEDIDO SUBSIDIÁRIO

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(Fazer parágrafo – regra dos dois dedos) Apenas por cautela, no caso de não ser acolhida a

tese de absolvição sumária, requer que seja decretada a anulação do recebimento da peça

acusatória em razão da visível nulidade (alegar a nulidade ou outra tese subsidiária)

Ex. se for nulidade pede-se a anulação do recebimento da peça acusatória

Arrolamento e intimação das testemunhas.

No final dos pedidos deve-se fazer parágrafo pedido o arrolamento e intimação das

testemunhas ao final arroladas. Não se esqueça de pedir intimação.

Após terminar os pedidos pula 1 linha e coloca

Nestes termos, (no canto da página)

Pede deferimento. (em outra linha sem saltar)

Após salte 2 ou três linhas, vá para o meio da página e coloque

Comarca, data (centralizado).

Advogado, OAB

Este espaço é o mesmo do início da peça, espaço deixado antes de realizar a qualificação.

Rol de testemunhas.

1 –

2 –

3 –

DICA! Para evitar que o corretor não vire para outra página o ideal é que se termine na

mesma página.

9. CASOS PRÁTICOS

CASO PRÁTICO RESOLVIDO

Fábio, casado e residente em Itabuna, Bahia, sempre foi uma pessoa muito calma e

tranquila, apesar de praticar lutas marciais. No dia 18 de agosto de 2012, quando voltava pra

casa depois de um treino cansativo, foi abordado por Danilo, que anunciou um assalto. Fábio,

então, percebendo a agitação de Danilo, entregou todos os objetos de valores. Todavia, num

momento de distração de Danilo enquanto pegava os objetos, Fábio conseguiu dar um chute

nele, suficiente para cessar a agressão, pois este caiu desmaiado na calçada. Fábio, com isso,

saiu correndo com medo de Danilo acordar, pois este possuía uma arma de fogo.

No outro dia, Fábio tomou ciência de que, em virtude da lesão sofrida, Danilo veio a

óbito ainda no local do incidente. Ao apurar as informações constantes, o representante do

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Ministério Público resolveu denunciar Fábio como incurso nas penas do art. 121, caput do

Código Penal, anexando perícia tanatoscópica da vítima.

O Juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Itabuna, analisando a exordial

acusatória, recebeu-a em virtude do preenchimento dos requisitos constantes no art. 41 do

Código de Processo Penal, ordenando a citação do acusado. No dia 06 de novembro de 2012,

terça-feira, Fábio recebeu a visita do Oficial de Justiça, cientificando-o da imputação. Fábio

contratou você como advogado.

Nessa condição, redija a peça processual cabível desenvolvendo as teses defensivas que

podem ser extraídas do enunciado com indicação de respectivos dispositivos legais. Apresente

a peça no último dia do prazo para protocolo.

PADRÃO DE RESPOSTA

Endereçamento correto (Valor: 0,2)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA

COMARCA DE ITABUNA ESTADO DA BAHIA

Processo número:

Indicação correta do dispositivo que dá ensejo à apresentação da Resposta à

acusação no Rito do Tribunal do Júri – artigo 406 do Código de Processo Penal

(Valor: 0,5)

Fábio, já qualificado nos autos do processo às folhas (), por seu advogado e bastante

procurador que a esta subscreve, conforme procuração em anexo, vem, muito

respeitosamente a presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 406 do Código

de Processo Penal apresentar a sua

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

1. Dos Fatos

O agente foi denunciado pela suposta prática de crime capitulado no artigo 121, caput

do Código Penal por ter dado um chute na vítima, vindo esta a falecer em virtude da lesão

sofrida. Consta na denúncia que o réu teria matado Danilo, no dia 18 de agosto, quando

voltava pra casa.

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O representante do Ministério Público, analisando os autos, denunciou o suposto

acusado pela prática de homicídio simples, constante no caput do art. 121 do Código Penal,

tendo o Juiz da 2ª Vara do Tribunal do júri recebido a exordial acusatória em todos os seus

termos e ordenado a citação do suposto acusado, citação esta realizada em 06 de novembro

de 2012.

Preliminares (Valor: 1,0)

• Indicação da preliminar de legítima defesa, causa de exclusão da ilicitude do

fato, nos termos do art. 23, II combinado com o art. 25, ambos do Código Penal.

(Valor: 0,6)

• Indicação da preliminar de falta de pressuposto processual ou condição para o

exercício da ação, nos termos do artigo 395, II do Código de Processo Penal.

(Valor: 0,4)

2. Das Preliminares

Preliminarmente, cumpre mencionar a ocorrência manifesta da legítima defesa, causa

de exclusão da ilicitude do fato, nos termos do art. 23, II combinado com o art. 25 do Código

Penal.

Ainda em sede de preliminar, cumpre esclarecer a falta de pressuposto ou condição para

o exercício da ação, em virtude da ocorrência do instituto da legítima defesa, onde não há

interesse/necessidade de agir, com fundamento no art. 395, II do Código de Processo Penal.

Mérito (Valor: 1,5)

• Desenvolvimento fundamentado acerca da existência da excludente da

ilicitude de legítima defesa, nos termos dos arts. 23, II e 25, do Código Penal

(Valor: 1,0)

• Desenvolvimento fundamentado acerca da falta de pressuposto processual ou

condição para o exercício da ação, o que deveria ter ocasionado a rejeição

liminar da peça acusatória. (Valor: 0,5)

3. Do Mérito

Cumpre esclarecer que, no caso concreto, resta configurada a excludente de ilicitude

da legítima defesa, pela simples leitura da peça exordial acusatória razão pela qual a acusação

sequer deveria ter sido recebida.

Consta nos autos que o recorrente tinha a intenção específica de fazer cessar uma

agressão iminente, uma vez que quando voltava de um treino de lutas marciais, Danilo,

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possuindo uma arma de fogo, abordou-o no intuito de subtrair os seus pertences. Com a

subtração e aproveitando-se do momento de distração de Danilo ao pegar os objetos, Fábio

deu um chute, vindo a suposta vítima cair desmaiada no chão, chute este suficiente para

cessar a agressão.

Conforme ensina a melhor doutrina, percebe-se que todos os requisitos da legítima

defesa estão presentes no caso concreto, nos exatos termos dos arts. 23, II e 25 do Código

Penal.

O agente repeliu injusta agressão humana, uma vez que a vítima cometeu um fato

típico e ilícito, subtraindo com emprego de arma de fogo os pertences do acusado neste

processo. A agressão injusta foi iminente, já que a vítima empregou de violência e grave

ameaça para a subtração da res furtiva, sendo uma agressão que estava prestes a ocorrer. O

agente usou moderadamente dos meios de que possuía, pois desferiu apenas um chute na

vítima, o que foi suficiente para conseguir cessar a agressão desta, não havendo que se falar

em excesso na sua ação. E, por fim, atuou para proteger direito próprio, qual seja, a sua

própria integridade física.

Desta forma, estão presentes todos os requisitos da legítima defesa, razão pela qual

a absolvição sumária se impõe. Por último, cumpre esclarecer a falta de uma condição para o

exercício da ação penal, qual seja, o interesse de agir. Ora, como o agente está amparado pela

excludente da ilicitude do fato de legítima defesa, art. 23, II e art. 25, ambos do Código Penal,

haverá a exclusão do crime, razão pela qual o processo penal não terá um fim útil, já que não

será aplicada uma pena privativa de liberdade ao final do processo, restando configurada a

falta de interesse de agir.

Pedidos (Valor: 1,3)

• Pedido de absolvição sumária, com indicação do art. 397, inciso I, do Código

de Processo Penal, em virtude da existência manifesta de causa excludente da

ilicitude do fato. (Valor: 1,0)

• Pedido de anulação do recebimento da peça acusatória em virtude da

ocorrência da falta de pressuposto processual ou condição para o exercício da

ação penal, com fundamento no artigo 395, II, todos do Código de Processo

Penal. (Valor: 0,1)

• Pedido de intimação e inquirição das testemunhas. (Valor: 0,2)

4. Dos Pedidos

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Diante de todo exposto, requer-se a Vossa Excelência a absolvição sumária do réu, com

fundamento no art. 397, inciso I, do Código de Processo Penal, visto a existência manifesta de

causa excludente da ilicitude do fato, qual seja, legítima defesa.

Apenas por cautela, não sendo acolhido o pedido de absolvição sumária, o que não se

espera, requer-se ao douto julgador seja decretada a anulação do recebimento da peça

acusatória em virtude da falta de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação

penal, nos termos do art. 395, II, do Código de Processo Penal por inexistir

interesse/necessidade de agir.

Por fim, requer, desde logo, que sejam intimadas e inquiridas as testemunhas ao final

arroladas.

Estrutura correta (indicação de local, data, assinatura, rol de testemunhas) –

(Valor: 0,5)

Termos em que,

Pede deferimento.

Itabuna, Estado da Bahia, 16 de novembro de 2012.

Advogado, OAB.

Rol de testemunhas:

1 –

2 –

3 –

CASO PRÁTICO PROPOSTO

Jaime resolveu fazer uma surpresa pra sua mulher, Julieta, já que era o seu aniversário

e, aproveitando a folga no trabalho, foi até a concessionária do seu amigo, Pedro, para comprar

um carro e presentear a sua mulher. Após a escolha, verificou ter esquecido a carteira em casa,

razão pela qual pediu ao seu amigo para levar o automóvel, comprometendo-se a passar no

outro dia para efetuar o pagamento. Como Pedro conhecia Jaime há vários anos, não viu

problemas e entregou o carro, tendo Jaime levado para casa, residência esta localizada no

mesmo quarteirão da concessionária.

No dia previsto, Jaime compareceu à concessionária de Pedro para finalizar a compra,

levando consigo o seu cartão de débito, já que não estava com talão de cheque nem dinheiro

para quitar a dívida. Todavia, o pagamento não foi realizado por falta de provisão de fundos. Ao

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ligar para o banco, Jaime foi informado que a sua mulher havia retirado uma quantia X, pois a

conta era conjunta. Com isso, avisou a Pedro que iria ao banco resolver o problema, mas que

passaria na concessionária para efetuar o pagamento do automóvel.

Pedro, inconformado e acreditando ter sido vítima de fraude, informou o ocorrido ao

representante do Ministério Público, o qual ofereceu denúncia contra Jaime pela prática de

crime capitulado no art. 171, caput do Código Penal. Na exordial acusatória, consta que o

acusado, com a intenção de prejudicar a vítima, obteve desta um automóvel por meio

fraudulento, causando-lhe prejuízo. O juiz da 1ª Vara Criminal da Comarca Delta, Estado Alfa,

amigo de infância do promotor, recebeu a inicial acusatória, ordenando a citação pessoal do

acusado.

Citado em 13 de agosto de 2012 e muito surpreso com o processo, pois não tinha a

intenção de obter nenhum tipo de vantagem, Jaime, que já havia quitado a sua dívida, resolveu

buscar ajuda de um advogado.

Em relação ao caso narrado, você, na condição de advogado (a) é procurado por Jaime.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso

concreto acima, redija a peça cabível, sustentando, para tanto, as teses jurídicas pertinentes,

datando do último dia do prazo.

RESPOSTA:

Peça: Resposta à acusação com fundamento no Art. 396 e 396–A do Código de Processo

Penal.

Endereçamento: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DELTA DO ESTADO ALFA.

Preliminares

• Indicação da preliminar de nulidade por suspeição do juiz, nos termos do art. 564, I, em

combinação com o art. 254, I, ambos do Código de Processo Penal.

• Indicação da preliminar de falta de pressuposto processual ou condição para o exercício da

ação, nos termos do artigo 395, II do Código de Processo Penal.

Mérito

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• Desenvolvimento fundamentado acerca da atipicidade da conduta em virtude da falta do

binômio para a configuração do crime de estelionato

• Desenvolvimento fundamentado acerca da inexistência de estelionato na modalidade culposa,

acarretando a rejeição liminar por faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da

ação.

• Desenvolvimento acerca da suspeição do juiz.

Pedidos

• Pedido de absolvição sumária, com indicação do art. 397, inciso III, do Código de Processo

Penal, em virtude do fato evidentemente não constituir crime.

• Pedido de anulação do recebimento da peça acusatória em virtude da ocorrência manifesta

de nulidade pela suspeição do juiz e pela falta de pressuposto processual ou condição para o

exercício da ação penal, com fundamento nos artigos 564. I, 254, I e 395, II, todos do Código de

Processo Penal.

• Pedido de intimação e inquirição das testemunhas.