5
1 EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DA 25ª VARA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DA COMARCA DE IGUATU/CE. RESPOSTA À ACUSAÇÃO PROCESSO Nº. 0012293-63.2006.4.05.8100 RAIMUNDO FREIRE DO NASCIMENTO, já devidamente qualificado nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público Federal, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por meio de seu procurador nomeado, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO com fulcro nos Arts. 396 e 396 – A do CPP, pelas razões que se seguem. I. DA SINTESE FÁTICA E JURÍDICA O Defendente foi denunciado como incluso nas penas do art 171 , § 3º do Código Penal, por ter, por volta do ano 2000, supostamente fraudado anotações em sua CTPS e, por conseguinte, fraudado o Programa de

RAIMUNDO FREIRE DO NASCIMENTO - RESPOSTA À ACUSAÇÃO, ART. 171, § 3º CP

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: RAIMUNDO FREIRE DO NASCIMENTO - RESPOSTA À ACUSAÇÃO, ART. 171, § 3º CP

1

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DA 25ª

VARA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DA COMARCA DE IGUATU/CE.

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

PROCESSO Nº. 0012293-63.2006.4.05.8100

RAIMUNDO FREIRE DO NASCIMENTO, já devidamente qualificado nos autos da

ação penal que lhe move o Ministério Público Federal, vem, respeitosamente, à

presença de Vossa Excelência, por meio de seu procurador nomeado, apresentar

RESPOSTA À ACUSAÇÃO com fulcro nos Arts. 396 e 396 – A do CPP, pelas razões

que se seguem.

I. DA SINTESE FÁTICA E JURÍDICA

O Defendente foi denunciado como incluso nas penas do art 171, § 3º do Código

Penal, por ter, por volta do ano 2000, supostamente fraudado anotações em sua

CTPS e, por conseguinte, fraudado o Programa de Seguro Desemprego, mantido

pelo Governo Federal, recebendo parcelas indevidas que somaram o valor de R$

1.045,87 (hum mil e quarenta e cinco reais e oitenta e sete centavos).

Ocorre que na pecha acusatória não há um conjunto probatório capaz de imputar

ao implicado a prática criminal descrita, uma vez que na própria inicial o

representante do MPF aponta JOSÉ BALTAZAR DE ALENCAR juntamente com JOSÉ

Page 2: RAIMUNDO FREIRE DO NASCIMENTO - RESPOSTA À ACUSAÇÃO, ART. 171, § 3º CP

1

PEREIRA NETO como autores das fraudes, não restando comprovado, portanto,

participação do incriminado.

Com efeito, a leitura da denúncia não demonstra a prática de estelionato pelo

denunciado, eis que o estelionato se caracteriza pelo emprego de meio

fraudulento, com o desiderato de induzir ou manter a vítima em erro, para

a obtenção de vantagem patrimonial ilícita para o agente ou para terceiro,

em prejuízo alheio.

A acusatória peça não traz comprovação da invocada fraude empregada

pelo acusado, uma vez que esta foi perpetrada por terceiro, como também

não demonstra cabalmente a existência de dolo anterior por parte do

incriminado para a obtenção de vantagem ilícita.

O dolo deve ser anterior ao uso da fraude e à obtenção da vantagem ilícita, pelo

erro da vítima, se posterior, não há crime estelionato, como se vê dos julgados

abaixo transcritos:

“O dolo necessariamente antecede à obtenção da vantagem indevida, de

tal modo que, se, em dado caso, o dolo só incidiu depois daquela obtenção,

é juridicamente impossível cogitar-se do delito” (TACRIM-SP – AC – Rel.

Gonzaga Franceschini – RT 692/287).

HABEAS CORPUS. DENÚNCIA PELO CRIME DE ESTELIONATO.

CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PLEITO DE TRANCAMENTO

DA AÇÃO PENAL. ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA.

ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE DOLO ANTERIOR. CONSTRANGIMENTO

ILEGAL CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA. (TJ-PR - HC: 5948832 PR

0594883-2, Relator: Marques Cury, Data de Julgamento:

05/11/2009, 3ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 282).

Habeas Corpus. 2. Crimes de estelionato e extorsão. 3. Pedido de

trancamento da ação penal. 4. Denúncia inepta genérica ou abstrata,

impassível de comprovar a materialidade dos supostos delitos. 5. Em se

tratando de crime de estelionato, o dolo de obtenção. Imputação

de vantagem, mediante indução ou manutenção da vítima em erro

deve ser inicial.(...). (STF - HC: 87441 PE , Relator: GILMAR MENDES,

Data de Julgamento: 16/12/2008, Segunda Turma, Data de

Page 3: RAIMUNDO FREIRE DO NASCIMENTO - RESPOSTA À ACUSAÇÃO, ART. 171, § 3º CP

1

Publicação: DJe-048 DIVULG 12-03-2009 PUBLIC 13-03-2009 EMENT

VOL-02352-01 PP-00152).

Ademais, para a caracterização do crime de estelionato previsto no art. 171 do

Código Penal são necessários quatro requisitos, quais sejam:

a) emprego de fraude (artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento);

b) provocação ou manutenção em erro;

c) locupletação (vantagem) ilícita;

d) lesão patrimonial de outrem.

Daí surge, portanto, a definição do estelionato: quando o agente emprega

meio fraudulento, induzindo ou mantendo alguém em erro, e, assim,

conseguindo, para si ou para outrem, vantagem ilícita, com dano

patrimonial alheio.

No caso em tela observa-se claramente que o acusado não preenche pelo menos

dois desses requisitos: emprego de meio fraudulento e provocação ou manutenção

de alguém em erro, uma vez que essas práticas são imputadas a terceiros, como

podemos observar na exordial acusatória (fl. 3).

Desta feita, resta claravidente que a conduta do incriminado não se enquadra no

tipo penal em apreço, sendo, portanto conduta atípica, o que enseja a absolvição

sumária, na forma do art. 397, III, do CPP:

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos,

deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando

verificar:

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime;

Diz-se de conduta típica aquela que é “a correspondência exata, a adequação perfeita

entre o fato natural,concreto,e a descrição contida na lei” (MIRABETE, ed.22ª,

2005. Sao Paulo, p.. 115).

Page 4: RAIMUNDO FREIRE DO NASCIMENTO - RESPOSTA À ACUSAÇÃO, ART. 171, § 3º CP

1

Já Fernando Capez leciona que a “tipicidade é a subsunção, justaposição,

enquadramento, amoldamento ou integral correspondência de uma conduta

praticada no mundo real ao modelo descritivo constante da lei (tipo penal)”.

(CAPEZ, ed 6ª, 2003. Sao Paulo, p. 174 ).

Dessa forma, atípica é a conduta que não se amolda adequadamente ao tipo penal descrito

na Lei, como nota-se claramente no caso em apreço.

II. DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, REQUER:

Com fulcro no art. 397, III, do CPP, a absolvição sumária do denunciado, uma

vez que sua conduta é atípica, não caracterizando o crime previsto no art.

171 do Código Penal;

E caso Vossa Excelência assim não entenda, requer a posterior inquirição do

rol de testemunhas, uma vez que este causídico fora nomeado defensor

dativo, não tendo qualquer contato com o denunciado, sendo esta medida da

mais salutar JUSTIÇA.

Protesta provar o alegado por todos os meios admitidos em direito.

Termos em que, pede e espera deferimento.

Iguatu, 26 de Setembro de 2013.

TÁCIDO CAVALCANTI

OAB/CE 8.978

SUDETE OLIVEIRA

OAB/CE 4.792

FERNANDA NOBRE

Estagiária

JOÃO GERSON DUARTE

OAB/CE 23.201

MARESSA MACEDO

OAB/CE 28.775

MICHELLY CÂNDIDO

Estagiária

DANILSON PASSOS

OAB/CE 20.322

ERNANDO COSTA

Bel. em Direito

FERNANDO LANDIM

Estagiária