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1 ANDRÉIA RITA PEREIRA DE SOUSA TURISMO E PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO NA BAHIA: IMPACTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM VALENÇA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana - Núcleo de Pós-graduação Política Pública e Planejamento Territorial como pré-requisito para obtenção do título de Mestre em Planejamento Territorial Orientadora: Profa. Dra. Nacelice Barbosa Freitas Co-orientadora: Profa. Dra. Telma Maria Sousa dos Santos Feira de Santana 2015

TURISMO E PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO NA BAHIA: IMPACTOS … · nos momentos em que me fiz ausente, ao meu marido Marcos, sempre presente, agradeço pelo amor e paciência durante os

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ANDRÉIA RITA PEREIRA DE SOUSA

TURISMO E PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO NA BAHIA: IMPACTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM VALENÇA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana - Núcleo de Pós-graduação Política Pública e Planejamento Territorial como pré-requisito para obtenção do título de Mestre em Planejamento Territorial Orientadora: Profa. Dra. Nacelice Barbosa

Freitas Co-orientadora: Profa. Dra. Telma Maria

Sousa dos Santos

Feira de Santana

2015

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ANDRÉIA RITA PEREIRA DE SOUSA

TURISMO E PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO NA BAHIA: IMPACTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM VALENÇA

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Orientadora Profa. Dra. Nacelice Barbosa Freitas

_________________________________________________________ Profa. Dra. Jocimara Britto Souza Lobão

_________________________________________________________

Profa. Dra Natália Coimbra de Sá.

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À Beatriz e Luana por imprimirem o verdadeiro sentido da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a Deus por ter permitido chegar até aqui, sem Ele nada faz

sentido, toda a luta é em vão. Em segundo, à minha família, aquela que eu construí

e a que o Pai me concedeu a honra de fazer parte. A cada um dos meus familiares

agradeço o apoio incondicional, principalmente naqueles momentos em que o

desânimo e o cansaço se fizeram presentes e a vontade de desistir apareceu. Nesse

momento a presença familiar foi decisiva, obrigada por comungarem dos meus

sonhos e embarcarem nessa caminhada para alcançá-los. Agradeço em especial a

meus amados irmãos Cláudia e João, pelo companheirismo; aos meus pais pelo

amor e sabedoria transmitidos bem como pela presença constante de minhas filhas

nos momentos em que me fiz ausente, ao meu marido Marcos, sempre presente,

agradeço pelo amor e paciência durante os momentos de desequilíbrio emocional.

Agradeço profundamente às minhas duas filhas Luana e Beatriz pelo sacrifício de

aceitar a minha ausência durante essa trajetória, esse foi o maior desafio.

Agradeço a minha orientadora Nacelice Freitas, pela inspiração, amizade e

parceria nesse processo de pesquisa.

O meu carinho especial as Professoras Jocimara e Acácia pela credibilidade e

confiança depositada nos momento de turbulência, para as duas a minha eterna

gratidão.

Aos meus colegas de mestrado pela solidariedade e companheirismo nesses

dois anos de troca de experiências, em especial ao quarteto, Ismael, Milena,

Ronaldo e Marcelo.

Aos gestores do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia

(IFBA) Campus Valença, que criaram condições para que eu desenvolvesse essa

pesquisa, em especial a Rosangela Patrícia por ter assumido parte da minha carga

horária para que o afastamento laboral fosse possível, ainda que também estivesse

desenvolvendo a sua pesquisa de mestrado.

A todos os meus amigos que de alguma forma, mesmo à distância, torceram

pelo meu sucesso.

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RESUMO

Este texto versa sobre as políticas públicas de planejamento no Brasil e como interferem na atividade turística, em particular no município de Valença, Bahia. O estudo foi feito a partir da análise das ações da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE e o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, ambas com forte apelo regional, e como repercutiram territorialmente. Foram abordadas também as principais políticas de planejamento desenvolvidas na Bahia. Antes, porém fez-se uma breve discussão sobre a formação do território baiano e suas diferentes divisões territoriais A abordagem foi centralizada na ação do Estado, especialmente em sua escala local, sobre o desenvolvimento turístico na área de estudo A pesquisa bibliográfica possibilitou a compreensão da categoria de análise adotada, o território, bem como, permitiu reconhecer a ação do Estado enquanto política pública. A pesquisa documental permitiu entender como tais políticas públicas foram implementadas e quais impactos territoriais foram gerados sobre o turismo no município de Valença-Bahia. Para desenvolver esta pesquisa a categoria de análise geográfica utilizada foi o território.

Palavras chave: política pública, território, turismo, território turístico.

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ABSTRACT

This text deals with public planning policies in Brazil and how this interferes with tourism, particularly in the city of Valencia Bahia. The study was done by analyzing the actions of the Northeast Development Agency-SUDENE and the Juscelino Kubitschek Target Plan, both with strong regional appeal, and how these repercussions territorially. Were also addressed major planning policies in Bahia, but rather was made a brief discussion of the formation of the state territory and its various territorial divisions The approach was centered on state action, especially in its local, on tourism development in study área. The literature review allowed us to understand the analysis category adopted, the territory and allowed recognize the action of the State as public policy. The desk research enabled us to understand how public policies have been implemented and what the territorial impacts were generated on tourism in the city of Valencia, Bahia. To develop this research used the category of geographical analysis was the territory

Keywords : Public Policy , Territory , Tourism and Valença

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Bahia Regiões Administrativa de 1966 105

TABELA 2 Bahia região administrativa 1991 110

TABELA 3 Investimentos públicos nas zonas turísticas da Bahia 1991 a 2005

122

TABELA 4 Investimentos privados nas zonas turísticas da Bahia 1991 a 2020 (US$ 1.000,00)

126

TABELA 5 Participação das Zonas Turísticas no fluxo do turismo receptor doméstico e internacional da Bahia 2011

131

TABELA 6

Fluxo global de turistas nos principais destinos turísticos da Costa do Dendê - Bahia 2003–2005

138

TABELA 7 Total de passageiros que desembarcam nos aeroportos da Bahia e Valença

139

TABELA 8 Município de origem do turista que visita Valença e Guaibim.

140

TABELA 9 Valença e Guaibim: número de estabelecimentos de Hospedagem em.

145

TABELA 10 Projetos e ações previstas no PDITS Litoral Sul.

160

TABELA 11 Município de Valença: detalhamento das despesas previstas para o exercício financeiro de 2014

166

TABELA 12 Município de Valença: detalhamento das despesas previstas para o exercício financeiro de 2015

167

TABELA 13 Zoneamento da APA da Planície Costeira do Guaibim

170

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Tipo de turismo e atividades relacionadas 45

QUADRO 2 Componentes do espaço turístico. 47

QUADRO 3 Bahia: região econômica e de planejamento

111

QUADRO 4 Demonstrativo de Planos e Projetos de fomento ao turismo no município de Valença

163

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Localização do município de Valença 19

FIGURA 2 Fluxograma etapas da pesquisa 34

FIGURA 3 Eixos Nacionais de Integração e desenvolvimento 87

FIGURA 4 Cartograma regionalização administrativa da Bahia 1966

104

FIGURA 5 Regionalização administrativa da Bahia 1996

109

FIGURA 6

Bahia Regiões Econômicas e de Planejamento 112

FIGURA 7

Bahia Eixo de Desenvolvimento 114

FIGURA 8

Bahia Territórios de Identidade 118

FIGURA 9

Bahia Zonas Turísticas 2005 123

FIGURA 10

Pólo Turístico Litoral Sul: Costa do Dendê e Costa do Cacau

127

FIGURA 11

Costa do Dendê: PIB 2012 129

FIGURA 12

Distritos do município de Valença 134

FIGURA 13

Bahia: raio de influência turística do município de Valença

141

FIGURA 14 Delimitação da APA Planície Costeira do Guaibim

172

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LISTA DE FOTOS

FOTO 1

Bairro Vila Operária- Rua Principal

22

FOTO 2

Planta do Bairro Vila Operária

23

FOTO 3

Ponte General Inocêncio de Galvão sobre o Rio Una

24

FOTO 4

Fábrica de Tecidos Nossa Senhora do Amparo em Valença

25

FOTO 5

Porto do Rio Uma: população a espera de embarcação

26

FOTO 6

Embarcação da Companhia Valença Industrial (CVI)

26

FOTO 7

Praia de Guaibim: vegetação de restinga

28

FOTO 8

Porto do Rio Una e a Praça Admar Braga Guimarães

29

FOTO 9

Empreendimento hoteleiro na praia de Guaibim

136

FOTO 10

Praia de Guaibim

168

FOTO 11

Viveiros de carcinicultura no Guaibim

168

FOTO 12

Área Urbana distrito de Guaibim

169

FOTO 13

Guaibim praia Ponta do Curral

173

FOTO 14

Guaibim: estacionamento construído em área de manguezal

176

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Valença: tipologia dos meios de hospedagem usados pelo turista

145

GRÁFICO 2 Guaibim: tipologia dos meios de hospedagem usados pelo turista

146

GRÁFICO 3 Guaibim: avaliação do turista sobre os meios de hospedagem no

147

GRÁFICO 4 Valença: avaliação do turista sobre os meios de hospedagem em

148

GRÁFICO 5 Valença e Guaibim: principais motivos da viagem dos turistas

149

GRÁFICO 6 Valença e Guaibim: tempo de permanência do turista 150 GRÁFICO 7

Valença e Guaibim: avaliação do turista sobre os serviços e produtos turísticos

151

GRÁFICO 8 Município de Valença: evolução da coleta e destinação do lixo (toneladas)

153

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACV Associação Comercial de Valença

APA Área de Proteção Ambiental

ASCOBIM Associação dos Comerciantes e Barraqueiros do Guaibim

ATIVA Associação de Turismo de Valença e Guaibim

BANEB Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNB Banco do Nordeste do Brasil

CDL Câmara dos Dirigentes Lojistas

CIA Centro Industrial de Aratu

CIRETRAN Circunscrição Regional de Trânsito

CMT Conselho Municipal de Turismo

CONDEB Conselho de Desenvolvimento Econômico da Bahia

COPEC Complexo Petroquímico de Camaçari

COREDES Conselhos Regionais de Desenvolvimento

CPE Comissão de Planejamento Econômico

CTI-NE Comissão de Turismo Integrado do Nordeste

DESEMBANCO Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia

DIREs Diretoria Regional de Educação

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca

EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

ENID Eixo Nacional de Integração e Desenvolvimento

ENT Entrevistado

FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

FNRH Ficha Nacional de registro de Hóspedes

FUMTUR Fundo Municipal de Turismo

FUNDAGRO Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial

FUNGETUR Fundo Geral de Turismo

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFBA Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia

IFOCS Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca

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INEMA Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

MAR l Movimento Ambientalista Regional

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MIN Ministério de Integração Nacional

OMT Organização Mundial de Turismo

PIB Produto Interno Bruto

PIDTS Plano de Desenvolvimento Integrado do turismo Sustentável

PLANDEB Plano de Desenvolvimento da Bahia

PNDS Plano Nacional de Desenvolvimento

PNMT Política Nacional de Municipalização do Turismo

PNOT Política Nacional de Ordenamento Territorial

PPA Plano Plurianual

PRODETUR Programa de Desenvolvimento Turístico

PT Partido dos Trabalhadores

QDD Quadro de Detalhamento de Despesas

SAAE Sistema Autônomo de Água e Esgoto

SDT Secretaria de Desenvolvimento Territorial

SETUR Secretaria Municipal de Turismo

SIACOR Sistema de Acompanhamento dos Contratos de Repasse

SNRHos Sistema Nacional de Registro de Hóspedes

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

SUS Sistema Único de Saúde

UFBA Universidade Federal da Bahia

USIBA Usina Siderúrgica da Bahia

ZPE Zona de Proteção Especial

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................

16

1.1 A área da pesquisa: o município de Valença.................................

17

1.2 Os caminhos percorridos para a realização da pesquisa..............

29

2 TERRITÓRIO E TURISMO: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA CONCEITUAL...............................................................................

36

2.1 Território: breves reflexões...........................................................

36

2.2 Turismo: a análise do conceito......................................................

41

2.3 O Território e o Turismo.................................................................

48

3 PLANEJAMENTO REGIONAL E TERRITORIAL NO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O TURISMO................................

53

3.1 Regiões como espaço de planejamento........................................

57

3.2 Planejamento e desigualdade socioespacial.................................

62

3.3 Política Pública e Turismo...........................................................

65

3.4 Planejamento Regional e desigualdade socioespacial no Brasil..............................................................................................

69

3.5 Política Territorial no Brasil: limites e avanços ............................. 79

3.6

Território e Ordenamento Territorial...........................................

88

4 PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO NA BAHIA............................................................................................

93

4.1 A Bahia formação territorial e regionalização................................

95

4.1.1 AS REGIÔES ADMINISTRATIVAS DA BAHIA............................................................................................

103

4.1.2 TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE NA BAHIA...............................

117

4.2 A regionalização do turismo na Bahia..........................................

120

4.3 O Turismo na Zona Costa do Dendê..........................................

126

5 TERRITÓRIO E TURISMO EM VALENÇA E GUAIBIM: UMA

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LEITURA SOBRE A REALIDADE INVESTIGADA......................

133

5.1 O espaço turístico de Valença e Guaibim...................................

137

5.2 O Poder Público e o desenvolvimento do turismo em Valença....

155

5.3 Interesses socioambientais e a especulação imobiliária em território turístico: uma leitura sobre o Guaibim............................

167

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................

180

REFERÊNCIAS.............................................................................

179

APÊNDICES .................................................................................

200

ANEXOS..................................................................................... 207

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa nasce como uma tentativa de explicar a realidade atual, a qual é

reflexo da sociedade contemporânea que produziu uma dinâmica extremamente

complexa, fruto de uma gama de processos sociais e espaciais.

É sobre esta realidade que a investigação científica desenvolve-se pois, tem

como proposta a produção do conhecimento, e esta não é uma tarefa fácil. O

conhecimento move a sociedade, permite avançar e fazer do ser humano o dono do

seu futuro. Aqui reside a importância do fazer pesquisa, porquanto, possibilita a

sociedade sair da ignorância e ter condições de decidir o seu destino.

A presente pesquisa foi realizada nesta perspectiva, uma vez que a busca pelo

conhecimento foi o combustível para desenvolver tal estudo. Entende-se que a ação

política plena, consciente e crítica só é possível quando a realidade pode ser lida e

interpretada: foi essa inquietação que norteou a construção do conhecimento sobre

o território, ou seja, o município de Valença localizado na Bahia, como uma busca

constante e diária.

Optou-se em analisar a atividade turística no município em questão, pois

acredita-se que esta atividade econômica tem um significativo poder de produzir

territórios.

O interesse pelo município de Valença surge como reflexo do sentimento de

identidade. Natural da cidade de Valença foi possível acompanhar in loco as

transformações territoriais da cidade, todavia, o olhar limitava-se ao empírico.

Devido ao fluxo turístico para Cairu-Ba, especificamente para o distrito de Morro

de São Paulo, percebe-se que o crescimento da atividade turística em Valença é

relativamente pequeno quanto ao seu potencial econômico. Apesar de Valença

dispor de maior sistema de engenharia, de um importante patrimônio paisagístico

dedicado ao turismo de sol e praia bem como constituição de trilhas ecológicas com

recursos hídricos tais como, cachoeiras, praias, a atividade não apresenta

expressividade.

Segundo Boullón (2002, p. 79) “O espaço turístico é consequência da presença

e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer, são a

matéria-prima do turismo”. Assim sendo, o espaço turístico pressupõe uma

localização geográfica, cuja presença de elementos turísticos atue como atrativo

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para viajantes, contudo, o potencial turístico pode não se desenvolver caso seja

inexistente ou escassa a infraestrutura turística. Assim sendo, apenas existência de

atrativos turísticos não garante a permanência do turista e, consequentemente, a

rentabilidade da atividade.

Desta forma, percebe-se que existem impeditivos ao desenvolvimento da

atividade no município de Valença, permitindo levantar questões que moveram esta

pesquisa. Sendo assim, pergunta-se: Por que Valença não consegue fixar o turista?

A infraestrutura urbana é adequada para o desenvolvimento da atividade? Qual a

função turística do município? Quais as transformações territoriais produzidas pela

ação do Estado a partir do planejamento e execução de políticas públicas de

turismo? Em que medidas a política pública dos territórios fomenta o

desenvolvimento da atividade?

A existência do patrimônio paisagístico, cultural ou histórico não é a única

premissa necessária para o desenvolvimento da atividade turística. Trata-se de um

segmento econômico que envolve a oferta de diversos serviços como transporte,

rede de restaurantes e hospedagem, dentre outros. Uma infraestrutura deficiente

pode comprometer toda a complexa e heterogênea cadeia produtiva. Essa

infraestrutura denomina-se sistema de engenharia Santos ( 2001).

A inexistência de planejamento e ou políticas públicas especificas para o turismo

no município de Valença impacta a produção do território turístico, especificamente

no que se refere a oferta desse serviços. Nesse contexto, o Estado é um dos atores

mais importantes na implantação do sistema de engenharia, que através da

definição de políticas públicas (re) produz novas territorialidades. Nesse estágio de

construção do conhecimento, percebe-se que a ação do Estado sobre atividade

turística é premissa fundamental para entender como o turismo rebate sobre o

território no município de Valença.

1.1 A área da pesquisa: o município de Valença.

Integrante da Zona Turística Costa do Dendê, Valença está situada, na faixa

litorânea, distante a 262 km (duzentos e sessenta e dois quilômetros) de Salvador.

Os municípios que fazem fronteira com Valença são: ao norte Jaguaripe, ao sul

Taperoá, a oeste Tancredo Neves, enquanto a leste encontra-se o oceano Atlântico.

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Essa posição geográfica e seus respectivos limites fronteiriços são apresentados na

Figura 1.

Apresenta uma topografia suave com altitude média de 50 m, que favorece à

atuação dos processos pedogenéticos, movidos pela influência do clima tropical

quente e úmido. O padrão climático do município está sob a influência dos ventos

alísios de sudeste originados no anticiclone do Atlântico Sul, responsável em parte,

pela umidade da área, onde os índices pluviométricos chegam a 2400 mm. O

período chuvoso ocorre entre os meses de abril a junho, quando as chuvas frontais

de Sul e Leste são predominantes.

Valença surgiu às margens do Rio Una o que lhe garantiu no passado, papel de

destaque no cenário estadual, e também nacional, devido à sua importância

portuária. Todavia, a chegada das ferrovias ligando o sertão ao litoral lançou à

cidade a desvalorização comercial. A linha férrea favorecia o intercâmbio comercial

entre o Vale do Jiquiriçá, Recôncavo, e o Sudoeste da Bahia. Com 325 km

(trezentos e vinte e cinco quilômetros) de extensão, esta partia de Jequié e findava

em Nazaré. Responsável pelo transporte de passageiros e pequenas cargas,

promovia expressivo dinamismo econômico para estes municípios, em detrimento da

economia de Valença.

Durante o período de colonização portuguesa, a área territorial que atualmente

corresponde ao município de Valença foi alvo de sangrenta disputa entre os

colonizadores e os habitantes da terra. Na verdade, antes dos colonizadores a área

já era disputada pelos índios Tupinambás de tronco linguístico tupi-guarani, e os

Aimorés, chamado de Tapuia, do grupo macro-jê. (OLIVEIRA, 2006)

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FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE VALENÇA

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Os Tupinambás desenvolveram uma complexa organização social mantida

por uma forte articulação entre a política e religião. Eles moravam em aldeias e

viviam da caça e da pesca, praticavam a antropofagia e foi o grupo que mais

manteve contato com os portugueses. Diferente dos Aimorés, que mantinham

forte resistência ao domínio colonizador e possuíam uma organização social

menos complexa. O perfil guerreiro dos Tapuias dificultou por mais de 170

anos o ocupação portuguesa na então Capitania de Ilhéus, onde se situavam

as terras que hoje fazem parte do município de Valença. “A Capitania de Ilhéus

tinha 50 léguas e pertencia a Jorge Figueiredo Correia” (OLIVEIRA, 2006,

p.30).

A partir de 1770 um ciclo de prosperidade se inicia devido ao comércio de

madeira e intenso tráfico de escravos, consequentemente impactos sobre o

território podem ser percebido, através da abertura de estradas ligando ao

sertão. A partir destas vias que se desenvolveu o tráfico de ouro, vindo das

minas no sertão em direção aos portos locais, promovendo desta forma intensa

circulação de recursos no povoado de Una. O expressivo crescimento

econômico possibilitou a elevação do povoado de Una à categoria de Vila de

Nova Valença em 1799, freguesia do Sagrado Coração de Jesus. O nome foi

uma homenagem ao Marquês de Valença, o ex-governador D. Afonso Miguel

de Portugal e Castro. (OLIVEIRA, 2006).

A prosperidade da Vila Nova Valença continuou ainda no período Imperial

culminando em sua participação na luta contra o domínio português. Além de

enviar valencianos para participar diretamente do combate, Valença fez parte

do Conselho Interno de Governo da província da Bahia.

Ao conselho coube a função de elaborar e executar ações políticas e

militares contra os portugueses. O prestigio político e o valor estratégico de

Valença também podem ser observadas a partir da formação da primeira

esquadra brasileira que esteve sediada nas vilas de Valença e Cairu, através

do Canal de Tinharé. Na verdade, esse fato pode ser considerado como um

reflexo de sua importância econômica. Com forte tradição agrícola, Valença

possuía grande diversidade produtiva àquela época, ofertando madeira,

produtos de subsistência, especiarias, mariscos e pescados.

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Ainda na primeira metade do século XIX, em razão do crescimento

econômico e populacional, foi instalado em Valença o projeto industrial da

Fábrica de Tecidos Todos os Santos, o que iria promover fortes transformações

territoriais e socioeconômicas.

(...) iria surgir na Bahia um grande projeto de indústria de tecidos com a conjunção de interesse de três comerciantes locais, o português naturalizado brasileiro, Antônio Francisco de Lacerda, o norte americano John Smith Gilmmer e o já mencionado Antônio Pedroso de Albuquerque. Tratava-se da instalação de um a fábrica de grandes proporções, às margens do rio Una, em Valença à altura da sua segunda cachoeira, a partir da foz. (OLIVEIRA, 1985, p.37).

O empreendimento foi instalado em 1844, mas foi em 1847 que a fábrica

entrou em operação. O projeto de implantação configurou como a maior obra

de engenharia da região daquela época e repercutiu em grandes inovações

tecnológicas como a construção da primeira eclusa do Brasil, ora denominada

pela população local de caldeira, onde as embarcações transpunham a

primeira cachoeira do rio Una, e na construção de duas pontes de madeira que

dispunham de um sistema inovador que permitia a sua abertura para

possibilitar a passagem de navios.

O pioneirismo promoveu inovação nas relações trabalhistas, pois utilizou

trabalhadores assalariados e implantou um sistema pioneiro de seguridade

social (OLIVEIRA, 2006.). Os benefícios trabalhistas adotados pela Fábrica de

Tecidos Todos os Santos na prática correspondiam muito mais à proteção da

produção do capital que o bem estar dos operários, que estavam submetidos a

elevada carga horária de trabalho e remuneração baixa, razão pela qual as

famílias viam-se obrigadas a incentivar o trabalho infantil como forma de

contribuição à renda. As crianças também eram admitidas pela fábrica, porém,

a sua remuneração era diferenciada, demonstrando assim mais uma estratégia

do capital.

Em razão do dinamismo econômico promovido pela indústria é notável

perceber que também ocorreu a expansão urbana, como surgimento de

bairros. Valença ganhava assim o título de Cidade Industrial, quando foi

elevada à categoria de cidade através da Resolução de Nº 368 de 10 de

novembro de 1849.

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A fábrica promoveu a ampliação dos serviços urbanos em Valença como a

oferta de energia elétrica e água tratada para a população local, como afirma

Paixão (2006, p. 27).

A instalação da fábrica promoveu paulatinamente certo desenvolvimento interno, que se revelou através da reorganização urbana, com a criação da vila operária; do serviço de distribuição de agua potável e de energia elétrica para a cidade - energia elétrica gerada pelas turbinas

hidráulicas da fábrica.

A autora aponta o crescimento urbano induzido pela unidade fabril, criando

no imaginário popular a ideia de que existência da fábrica de tecido beneficiava

toda a população. Na verdade o capital cria estratégias que representem maior

rentabilidade, como, por exemplo, a construção de bairros como forma de

maior controle sobre os operários (FOTO 1).

FOTO 1 - BAIRRO VILA OPERÁRIA – RUA PRINCIPAL

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

O bairro Vila Operária construído na margem esquerda do Rio Una, cuja

proximidade com a fábrica favorecia ao controle do tempo de trabalho do

operariado, conferindo-se a materialização do fordismo, cujas bases

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fundamentam-se no controle do tempo desprendido no trabalho. Apesar de ter

sido o modelo de produção predominante no século XX a estratégia de controle

do tempo pode ser observada na fábrica em questão através da construção de

um bairro operário denominado Bairro Vila Operária. (FOTO 2).

FOTO 2 – PLANTA DO BAIRRO VILA OPERÁRIA

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

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Este empreendimento também inovou ao usar força hidráulica para mover

os maquinários. O sistema de abertura da ponte sobre o Rio Una também

representou inovações técnicas para o período (FOTO 3).

FOTO 3 - PONTE GENERAL INOCÊNCIO DE GALVÃO SOBRE O RIO UNA

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

No ano de 1860, instala-se em Valença a fábrica de tecidos Nossa Senhora

do Amparo, também situada às margens do rio Una, com o intuito utilizar a

força hidráulica como fonte de energia usada pelo maquinário fabril.

Em 1887, como resposta a uma tendência do setor industrial, as fábricas

de Tecidos Todos os Santos e a Nossa Senhora do Amparo fundem-se,

formando Empresa Valença Industrial que no final do século XIX vai originar a

sociedade anônima Companhia Valença Industrial (CVI). (PAIXÃO, 2006).

(...) a Companhia Valença Industrial revelou uma tendência ao crescimento o que pode ser denotado pela construção de um novo pavilhão em 1907-08; pela exigência posterior, em 1922 da construção da Usina Hidrelétrica do Candengo, a princípio com duas turbinas e depois, na década de 30, ampliada para três, o que representou significativa melhoria no abastecimento elétrico para a cidade (...)(PAIXÃO, 2006, p 39).

A autora apresenta como as melhorias nos meios de produção da CVI

impactaram sobre Valença. A Companhia promoveu avanços econômicos e

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benefícios para a sociedade, como fornecimento de energia elétrica,

construção de escolas e outras feitorias. A Foto 4 ilustra as instalações da

Fabrica de Tecidos Nossa senhora do Amparo.

FOTO 4 - FÁBRICA DE TECIDOS N. SENHORA DO AMPARO EM VALENÇA

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

Além do setor industrial, Valença assumiu ao longo de sua história,

importante papel como cidade portuária. O fluxo contínuo das embarcações

movimentava o cais valenciano, não só no que diz respeito a circulação de

mercadorias, mas também, pelo expressivo número de passageiros.

De acordo com a Revista dos Municípios, (citada por OLIVEIRA, 2006):

Se ella a Companhia usufrui resultados do seu vultuoso capital, ali empregado, também é certo que tem oferecido aos valencianos espontaneamente, e por preços mínimos, os serviços mais importantes... oferecimento de transporte, por preços baixos, em suas três grandes embarcações(...)

O fluxo de passageiro transportado pelas embarcações era expressivo,

criando assim uma dinâmica própria, movimentando toda a cidade. A Foto 5

ilustra o porto do Rio Una tomado por pessoas que aguardam a chegada da

embarcação.

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FOTO 5 - PORTO DO RIO UMA: POPULAÇÃO A ESPERA DE EMBARCAÇÃO

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

Devido à sua localização geográfica, no final do século XIX, Valença era

responsável pelo maior intercâmbio comercial com Salvador. O fluxo comercial

ocorria através do rio Una por meio de oito embarcações que realizavam

transporte de mercadorias e de passageiro, das quais três pertenciam a CVI.

(OLIVEIRA, 2006) (FOTO 6).

FOTO 6 - EMBARCAÇÃO DA COMPANHIA VALENÇA INDUSTRIAL (CVI)

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

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A história revela que a atividade fabril foi responsável pelo crescimento

urbano no município de Valença. A construção da já mencionada ponte

levadiça permitiu a ligação das duas margens do rio Una, favorecendo um

maior intercâmbio entre o centro comercial, na margem direita, e o povoado de

São Félix, na margem esquerda, onde também foi construído o bairro Vila

Operária. Várias edificações foram construídas com recursos direto ou

indiretamente oriundos do setor industrial.

Todavia, os primeiros sinais de queda na rentabilidade do setor começaram

a aparecer ainda na segunda metade do século XIX, quando a capacidade

produtiva da companhia mostrava-se exígua ao seu verdadeiro potencial

econômico. A origem da crise que assolou a florescente indústria valenciana

provinha das dificuldades no abastecimento de matéria prima, concorrência

com outras unidades fabris presentes em outras províncias, bem como as

oscilações do mercado consumidor que acabou restrito à própria província e à

vizinha Pernambuco (PAIXÃO, 2006).

Apesar de a indústria desempenhar importante papel na economia local,

outras atividades econômicas também merecem destaque na produção do

espaço de Valença, principalmente no que diz respeito à sua formação

territorial. Nesse contexto, ressaltam-se as atividades relacionadas à pesca e à

construção naval, ambas diretamente relacionadas às características

geográficas e ambientais presentes em Valença.

Na porção leste do município observa-se um trecho litorâneo estuarino com

vistas para o arquipélago de Tinharé, onde se localizam Morro de São Paulo e

Boipeba, importantes pontos turísticos da Costa do Dendê, separados do

continente pelo canal de Taperoá. Drenada pela Bacia Hidrográfica do

Recôncavo Sul, através dos rios Una, Braço e Vermelho, Valença é possuidora

de extensa área de restinga e manguezais, o que configura-lhe peculiaridades

paisagísticas bem como uma riqueza de moluscos e crustáceos. A restinga

arbórea é a vegetação predominante conferindo paisagem característica ao

município (FOTO 7)

Foi justamente nessas condições ambientais que se desenvolveram,

ainda nos séculos XIX, a pesca artesanal e da construção naval. Devido à

informalidade destas atividades, os dados estatísticos de suas práticas são

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extremamente escassos, sendo necessário recorrer a fontes primárias.

Entretanto, a sua relevância socioeconômica não deve ser menosprezada.

FOTO 7 - PRAIA DE GUAIBIM: VEGETAÇÃO DE RESTINGA

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

A pesca artesanal1 foi responsável pelo surgimento de bairros na direção

sudeste do território valenciano. No final do século XIX, na margem direita do

rio Una surgiu o atual bairro do Tento, habitado exclusivamente por pescadores

e marisqueiras que retiram o sustento de suas famílias na região estuarina.

Nesta mesma margem, foram inaugurados vários estaleiros, alguns dos quais

permanecem em atividade nos dias atuais. Já fora mencionado anteriormente

que, no século XIX, Valença realizava intenso fluxo comercial com a capital

Salvador através do rio Una, em razão deste fato e provavelmente da

abundância de madeira, este município transformou-se em importante pólo da

construção naval. Os estaleiros fixaram-se nos espaços em que ainda não

havia edificações, tanto na margem direita quanto na margem esquerda do rio.

O intenso fluxo comercial deu origem ao centro comercial e ao porto, ambos

1 A “pesca artesanal caracteriza-se por meio de produção com tecnologia relativamente

modesta, um sistema de captura multi-espécies e relações de trabalho fundadas na parceria”. (PROST, 2007, p. 141).

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construídos na margem direita como ilustrado na Foto 8. Próximo ao porto foi

construída a Praça Admar Braga Guimarães, onde foi instalado todo o aparato

administrativo citadino. (OLIVEIRA, 2005).

FOTO 8 - PORTO DO RIO UNA E A PRAÇA ADMAR BRAGA GUIMARÃES

Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.

Por causa das transformações em curso, os estaleiros começam a limitar

as suas atividades, principalmente em razão da expansão urbana e de

restrições quanto ao corte da madeira. Muitos estaleiros encerraram sua

atividade e os que permanecem em atividade atuam de forma limitada

transformando-se em oficinas de reparos de embarcações em detrimento da

construção naval. Nesse contexto, o turismo surge como atividade

potencialmente viável para proporcionar o reestabelecimento da economia

valenciana.

1.2 Os caminhos percorridos para realização da pesquisa

A opção em estudar a produção do território a partir do turismo, explicando

como o Estado interfere nesse processo foi o objetivo principal desta pesquisa

que também analisa as políticas públicas e os impactos sobre esta atividade no

município de Valença.

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A importância deste estudo foi edificada em três pilares: o primeiro refere-

se ao interesse profissional enquanto docente do Curso Técnico de Turismo no

Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA).

Observando as estatísticas apresentadas pelo IFBA percebe-se que os

concluintes daquele curso não se inserem no mercado de trabalho; o segundo

relaciona-se à importância econômica do turismo, pois considera-se que esta

atividade representa possibilidades de geração de renda e emprego em

espaços que necessitam de políticas públicas específicas para minimizar as

desigualdades socioespaciais; e o terceiro vincula-se à necessidade de

produção acadêmica, principalmente sobre a produção do território do turismo

em Valença, considerando-se que a pesquisa em questão permitirá a

construção de banco de dados e informações que poderão contribuir para o

conhecimento sobre o território. Assim, a necessidade de ampliação do

conhecimento sobre a realidade quanto ao desenvolvimento do turismo no

município de Valença tornou-se inquietação que moveu a vontade para realizar

tal pesquisa.

A avaliação das políticas públicas para o setor turístico de Valença passou

por uma análise da ação do governo do Estado e a capacidade do próprio

município para tal. Outro objetivo específico centrou-se na explicação dos

elementos que atuam como repulsores e atrativos para os que visitam o

município, discutindo a função turística de Valença.

Para a realização da pesquisa, buscou-se informações em fontes

secundárias, realizando o levantamento bibliográfico e leitura de fontes

primárias referentes ao planejamento turístico no âmbito nacional, estadual e

municipal, tais como: Programa de Desenvolvimento do Turismo PRODETUR,

Plano Nacional de Turismo, Plano de Desenvolvimento Municipal de Turismo,

Programa de Criação de Novos Roteiros Turísticos, Produção Associada ao

Turismo (PAT)), Plano de Desenvolvimento da Produção Associada ao Turismo

- Costa do Dendê Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável

(PIDTS) Litoral Sul, Lei Municipal Nº 1572 de outubro de 1999, Lei Municipal Nº

1597 de agosto de 2000, Portaria do Instituto do Meio Ambiente e Recursos

Hídricos (INEMA) Nº 2499, e o Ofício da Prefeitura Municipal de Valença para o

Fundo de Investimento Imobiliário Porto da Ponta (ANEXO A, B,C,D,E,F,EG).

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O levantamento bibliográfico contribuiu principalmente para a elaboração

do arcabouço teórico conceitual que norteou a pesquisa e para o entendimento

do debate sobre planejamento e políticas públicas para o turismo.

A área delimitada para a realização da pesquisa de campo corresponde à

sede do município de Valença e ao distrito de Guaibim, que foram escolhidos

em razão das observações empíricas revelarem uma centralização das

atividades econômicas, principalmente aquelas ligadas ao turismo. Definiu-se

esse recorte espacial porque diante da exiguidade do tempo considerou-se não

ser possível incluir todo o município para a realização da investigação.

Realizou-se também o levantamento de informações sobre aspectos da

atividade turística no município de Valença e tomou-se como referência o

número de estabelecimentos de hospedagem, o demonstrativo de planos e

projetos de fomento turístico, a movimentação de passageiros.

Para avaliar a participação econômica de Valença na Zona Turística Costa

do Dendê, identificou-se o Produto Interno Bruto (PIB). Analisou-se também o

fluxo de turistas e a distribuição de recursos financeiros na zona turística em

questão, além dos indicadores socioeconômicos. Para tanto, recorreu-se às

informações publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI),

Observatório de Turismo da Bahia, Superintendência de Investimentos em

Pólos Turísticos (SUINVEST), Secretaria de Planejamento Ciência e

Tecnologia da Bahia (SEPLANTEC).

O desempenho turístico da área de estudo também foi avaliado, no sentido

de identificar seus impactos, através da pesquisa de campo, utilizando como

instrumentos questionários e entrevistas. O levantamento de informações nesta

fase da pesquisa se desenvolveu em três etapas distintas: primeiro foi

realizada entrevista com os gestores municipais de Valença: Secretária de

Turismo, Diretor da Receita Municipal e o Procurador Jurídico Municipal. Estes

foram selecionados, considerando que ofereciam condições para o

fornecimento de informações sobre o objeto de estudo. Além disso, buscou-se

informações com as lideranças locais como o Presidente da Associação de

Turismo de Valença e Guaibim (ATIVA) porque esta associação reúne dados

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estatísticos sobre os estabelecimentos comerciais vinculados ao turismo, tais

como, hotéis, restaurantes, barracas de praia, dentre outros.

Entrevistou-se também os sujeitos responsáveis pela lotação dos

estacionamentos de automóveis existentes na área de estudo. A escolha

deveu-se á necessidade de informações sobre a capacidade de oferta deste

equipamento urbano. Para tanto, foram selecionados em pontos estratégicos

na cidade que ficam localizados nas principais vias de acesso rodoviário para o

município de Valença, perfazendo um total de três localidades: a Avenida São

Félix; uma via de acesso norte para a BA 001, com destino a Ilha de Itaparica;

Rua do Pitanga, que confere acesso em direção ao sul dessa mesma rodovia

estadual; e finalmente a Rua da Aguazinha, que permite a conexão entre as

duas rodovias: a BA 542 e a BR 101.

Definida a área onde foram realizadas as entrevistas, foi necessário

estabelecer a amostragem, partindo do número total de trabalhadores

envolvidos na atividade responsável pela organização da lotação dos

estacionamentos. Identificou-se o número de 15 trabalhadores cadastrados na

Secretaria Municipal de Turismo (SETUR), denominados “flanelinhas”. Aplicou-

se entrevistas com o quantitativo de oito “flanelinhas”, o que corresponde

aproximadamente 53% do total.

As entrevistas aplicadas podem ser classificadas como entrevistas

semiestruturadas, pois foram elaboradas com base em questionamentos

referenciados em hipóteses que interessavam a pesquisa. Nessa perspectiva,

os questionamentos foram estrategicamente direcionados para o foco principal

da pesquisa: planejamento e políticas públicas para o turismo no município de

Valença. (APÊNDICES B, C, D e E)

Para Triviños (2008) a entrevista semiestruturada oferece amplo campo de

interrogativa, favorecendo que o informante, espontaneamente, a partir de suas

vivências pessoais e profissionais, mediado pelo investigador, participe da

elaboração do conteúdo da pesquisa. O autor completa sinalizando que o uso

desse procedimento metodológico não significa que o entrevistador tem função

secundária no processo de investigação, na verdade a presença deste é

valorizada na medida em que a sua mediação oferece todas as perspectivas

possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade

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necessárias enriquecendo o estudo. Esse processo torna-se possível quando

se estabelece previamente os questionamentos com base no foco da pesquisa.

(TRIVIÑOS, 2008).

Assim sendo, as entrevistas realizadas neste trabalho foram referenciadas

com base nas seguintes temáticas: qualidade dos serviços e equipamentos

turísticos, planejamento turístico, política pública, especialmente aquelas

vinculadas ao turismo e atratividade turística na cidade de Valença e no

Guaibim.

Aplicou-se também questionários com os turistas com o propósito de

identificar as opiniões daqueles que se dirigem para esta área, especialmente

quanto aos atrativos turísticos e serviços prestados (APÊNDICE A). No

instrumento constam 10 (dez) questões. Para definir a amostragem deparou-se

com um problema que é a inexistência de dados estatísticos, sobre o

quantitativo de turistas que chegam ao município.

Não havendo registros sobre o número de turistas que visitam a sede do

município durante o ano, em nenhum órgão municipal pesquisado, a definição

de uma amostragem tornou-se complexa. Optou-se então pela escolha

aleatória de 200 turistas em fluxo, em horários de maior intensidade.

Os espaços selecionados para aplicação dos questionários foram: em

Valença, a estação rodoviária no horário de chegada dos ônibus

intermunicipais. Aplicou-se um total de 100 questionários durante os três dias

que antecedem o réveillon, e nos dois dias anteriores ao início do carnaval de

2014 (meses de dezembro e fevereiro de 2014), selecionando 20 questionários

para cada dia. Tomou-se o cuidado de certificar-se se o respondente era turista

e se hospedaria na sede de Valença.

O mesmo procedimento foi efetivado em Guaibim. O distrito não conta com

estação rodoviária, desta forma, o local da pesquisa foi a Praça São José, pois

a mesma, além de ser a praça principal, é o local em que concentra o maior

fluxo de desembarque porque se trata do destino final de ônibus municipal que,

após passar por Valença, segue para o Guaibim. Os questionários foram

aplicados no mesmo período que Valença, seguindo os mesmos critérios antes

mencionados. A escolha destes períodos decorre da observação empírica,

pois, identificou-se que nestas datas em razão da comemoração do Natal,

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Réveillon e carnaval o fluxo de visitantes torna-se mais expressivo em relação

a outros períodos.

Após o levantamento de informação iniciou-se a sistematização e análise, o

Figura 2 ilustra a abordagem metodológica que norteou o desenvolvimento

desta pesquisa.

FONTE: Elaboração da autora (2015)

A terceira e última etapa da pesquisa correspondeu ao registro fotográfico

e cartográfico. Lançou-se mão desse procedimento para ilustrar e localizar

aspectos importantes do objeto de estudo observados e investigados in loco.

Os resultados permitem avaliar, analisar e explicar o planejamento e as

políticas para o turismo, a prestação dos serviços de hospedagem, a qualidade

dos prestadores de serviços turísticos, sob a ótica do consumidor: o turista.

O texto foi estruturado em seis capítulos. Na primeira seção foi

apresentada uma discussão introdutória sobre a temática da pesquisa, quanto

ao objeto de estudo. Também foi exposto o processo metodológico adotado

para o desenvolvimento desta pesquisa. No capítulo dois escreve-se sobre a

FIGURA 2 - FLUXOGRAMA ETAPAS DA PESQUISA

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base teórico conceitual, apresentando o debate sobre o conceito de Território e

o Turismo, além da identificação do modelo de análise adotado para desvelar a

realidade valenciana, no que diz respeito ao desenvolvimento turístico.

O terceiro capítulo apresenta a cronologia das principais políticas de

planejamento implantadas no Brasil, e a ação do Estado brasileiro para

promover o desenvolvimento turístico a partir da década de 1990.

No capítulo quatro a escala de análise é o território baiano. Aqui foi

apresentado o processo de formação do território e como o Estado o organiza

e executa a política de planejamento.

O enfoque do capítulo cinco foi o objeto de estudo desta pesquisa, o

turismo no município de Valença-Bahia, a proposta foi focar a análise em uma

escala que favoreça vislumbrar melhor o que foi estudado.

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2 TERRITÓRIO E TURISMO: DISCUSSÃO TEÓRICO-CONCEITUAL

Este capítulo versa sobre o arcabouço teórico-conceitual que referenciou a

pesquisa. Discutiu-se os conceitos de Território, Região, Território turístico,

tomando por base as discussões de Souza (2010), Haesbaert (1999, 2006a,

2006b, 2010) Cruz (1996, 2000, 2003, 2005, 2007) Boullón (2002, 2005)

2.1 Território: breve reflexões

O território é uma construção social, um espaço definido e delimitado por e

a partir de relações de poder, como afirma Souza (2010, p.78), assim como

outras categorias de análise geográficas, apresenta ambiguidades, discutir o

território, portanto, não é tarefa fácil. Para Freitas (2012, p. 169) o “território é

entendido como unidade contraditória, totalidade resultante da espacialidade

produzida no âmago da sociedade capitalista” Segundo a autora, o território é

uma totalidade produzida por relações sociais dentro do modo de produção

capitalista, assim sendo, os conflitos emanados no processo de acumulação do

capital incidem sobre ele.

Na Ciência Geográfica é possível identificar duas abordagens para o

conceito de território, uma material e outra simbólica, o que resulta em uma

complexidade nas suas definições. No primeiro caso o território está associado

a um suporte físico, boden2, enquanto a segunda conotação sinaliza para o

sentimento de pertencimento, identidade.

Para Souza, (2010, p. 86) o território, enquanto categoria geográfica refere-

se a um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais “que, a par da

complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma austeridade: a

diferença entre nós (o grupo, os membros da coletividade ou comunidade, os

insiders) e os outros (os de fora, os estranhos, ou outsiders)”. É sobre o

2 O termo boden utilizado por Friedrich Ratzel designa o solo pátrio. O alemão Ratzel,

referência da Geografia Política lançou as bases para identificar o território como um referencial político do Estado, ou seja, a noção de território está embebida de um discurso ideológico de território nacional. Assim sendo, trata-se de um recorte espacial do Estado-Nação.

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território que se materializam conflitos originando especificidades em cada

porção da superfície.

Mais dois outros importantes teóricos da Geografia, Milton Santos (2001) e

Claude Raffestin (2008), abordam o conceito de território de forma distinta,

apesar de ambos coadunarem com a premissa que esta categoria geográfica é

produzida historicamente, a partir de relações de poder. O primeiro afirma que

o território é um recorte espacial e, para o segundo o espaço corresponde a um

substrato do território.

Nas obras de Santos (1996, 1998,2001 e 2008), o território não estava no

centro de suas reflexões. Tratava-se de um conceito subjacente ao conceito de

Espaço, que corresponde a um recorte espacial; ao espaço produzido pelo

homem, via apropriação da natureza mediante a técnica. O que significa

afirmar que, para o autor, resulta de relações sociais, em que as categorias

espaço e território são indissociáveis ou mesmo sinônimos.

Diferente reflexão é apresentada por Raffestin (2008, p.26), ao explicar que

o espaço é o substrato para a produção do território, sendo assim, são

categorias diferentes. O território é, portanto, uma construção social

Espaço e territórios não são termos equivalentes, nem sinônimos. Utilizando-os indiferentemente, os geógrafos introduziram em suas análises algumas confusões notáveis. É fundamental entender como o espaço está em posição que antecede ao território, porque este é gerado a partir do espaço, constituindo o resultado de uma ação conduzida por um ator que realiza um programa em qualquer nível.

O território é resultado de uma ação de sujeitos sobre o espaço, assim

sendo, ele se forma através da sociedade, ou seja, é um produto social. O

autor afirma que é um espaço onde se projetou um trabalho executado a partir

de relações sociais e como tal, revela relações marcadas pelo poder.

(RAFFESTIN, 1993, p.145)

Esse debate ratifica como é complexo delimitar o conceito de território, a

busca pela construção de uma definição tem sido uma tarefa para a ciência

geográfica, porém, em todas as concepções a cerca do tema o traço marcante

é a presença de relações de poder.

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É comum associar o poder à força, violência ou austeridade. Na verdade o

poder que se estabelece via coletividade é um consenso, ou seja, só existe

poder a partir do momento que um grupo de pessoas mantem-se coeso e

legitima o poder a alguém. Segundo Arendt (1985, p.25) o poder e a violência

se opõem, quando a força é usada significa que o poder é declinante.

Admite-se que o território é o espaço produzido por relações de poder.

(...) o território, enquanto mediação espacial do poder subsiste de maneira historicamente determinada por múltiplas dimensões culturais, econômicas e políticas. O território de qualquer forma define-se antes de tudo com referência às relações sociais (ou culturais em sentido amplo) em que está mergulhado, relações estas que são sempre, também, relações de poder (HAESBAERT, 2010, p.54)

Produto de relações sociais, o território implica relação de poder que pode

ser delimitado espacialmente. Contudo, a base da atuação da ação

governamental que é o território tem seus limites alterados ao longo do

processo histórico de produção do espaço, até porque a constituição de um

território e de seus limites é resultado:

(...) de uma construção social e seus limites se alteram de acordo com as estratégias de apropriação, controle e delimitação do espaço. Neste sentido o território constitui expressão de um espaço dominado por um grupo de pessoas que fazem uso deste domínio para manter controles e influências sobre o comportamento de outros, exercendo assim, relações de poder. (SILVA, 1990, p. 12)

Entendido como tal, o território é produto da ação de sujeitos sociais sobre

o espaço a partir de relações de poder, assim sendo, situar o município de

Valença como território, requer admitir que este espaço foi formado mediante

apropriação, luta, conflito desde a instalação da colonização, logo, esse

processo implicou em uso da força e poder.

Antes mesmo da colonização o espaço era disputado entre os índios

Aimorés (chamados de Tapuia) e os Tupinambás. Nesse sentido, é possível

afirmar que o território, na acepção da palavra3, é apropriado mediante conflito.

3 Etimologicamente, também está atrelado ao termo terrifer – de origem francesa – que corresponde ao “direito de aterrorizar” (FREITAS, 2013)

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Para Freitas (2013, p.56) “lugar de poder, dominação correspondente ao

espaço em que, um determinado grupo é expulso, ou recomendado a não

adentrar naquele limite, indicado como fronteira do outro, isto é, efetivação do

real com ações mediadas pelo terror”.

Em Valença, o processo de apropriação portuguesa pode ser datado na

segunda metade do século XVI, quando Sebastião Pontes construiu próximo à

Ponta do Curral um engenho, uma igreja em homenagem a São Gens e um

curral. Nascia assim o povoado de Una, nome do rio que tem seu curso sobre o

sitio valenciano.

Em 1574 os povos Aimorés chegaram neste espaço destruindo todo o

povoado. A apropriação territorial durou até 1603, apesar das inúmeras e

sangrentas tentativas portuguesas para retomar o território. Na região também

foi travada guerras pelos holandeses que. a partir de 1624, através do canal de

Tinharé invadiu e ocupou Salvador. Esse fato demonstra a importância

estratégica do território, para a ocupação do litoral da então colônia

portuguesa.

No processo de produção territorial, a sujeição indígena foi imposta a partir

do exercício do poder dos colonizadores, entretanto, a resistência do índio, ao

domínio português foi característica marcante.

Castro (2011) argumenta que o exercício do poder se manifesta de formas

variadas. Com base nas fundamentações de Hannah Arendt, Max Weber e

Michel Foucault, a autora sintetiza essas variações, apresentando três formas

elementares de poder, a saber: o poder despótico, o poder fundamentado na

autoridade e, por fim, o poder político.

O poder despótico se manifesta através do medo, da coerção pela força, a

ameaça de destruição do outro, ou seja, a violência. Arendt (1985) acrescenta

que onde o poder é edificado através da violência, da força, a sua manutenção

passa a ser paulatinamente questionada, a esse respeito Castro (2011, p.102)

acrescenta:

Este é um poder que, paradoxalmente, tem pouco poder porque não se fundamenta na vontade do outro e por isso encontra-se sujeito à possibilidade de uma escolha trágica, que o anula. É um poder que visa ao bem privado de quem o exerce. Está voltado sobre si mesmo e sobre a força da força.

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O poder despótico fundamenta-se na submissão da vontade do outro. Para

tanto, qualquer estratégia de resistência é sumariamente aniquilada. Essa

manifestação de poder se fez presente durante o processo de ocupação

portuguesa, que iniciou o processo de formação territorial. Os colonizadores

promoveram o massacre, em meio às guerras contra os índios, assassinando,

e os sobreviventes, eram capturados como escravos.

Outra forma de poder é a que está fundamentada na autoridade, diferente

do poder despótico e que se materializa via submissão, é a concessão que

legitima o poder. Desta forma, a autoridade se dá através da aceitação e

reconhecimento daqueles que a ela se submetem e

Repousa no consentimento, na adesão das vontades pelo reconhecimento de uma superioridade de ordem moral, intelectual, de competência, de coragem, da experiência, ou seja, de valores ou de funções que aquele que tem autoridade representa. A desobediência supõe também sanções, mais socialmente definidas e aceitas. (CASTRO, 2011, p.102).

Para exemplificar esse tipo de poder, recorre-se ao processo de

aculturação utilizado pelos jesuítas ao exercitar a autoridade em relação aos

índios. Nesse turno, os jesuítas contribuíram de forma efetiva com os

colonizadores portugueses, ao subjugar a população autóctone, em nome da

Igreja: o exercício do poder foi diferenciado, mas o resultado foi, a produção do

território para o “outro”.

Em Valença o catolicismo também atuou como agente produtor do

território, quando a Igreja Católica inicia o processo de aculturação através da

expansão do cristianismo. Neste período começaram as obras para a

construção da Igreja Nossa Senhora do Amparo, que marcou o início de um

novo ciclo de usurpação do território, após inúmeras guerras indígenas. A

respeito do papel dos jesuítas no processo de construção do território, Freitas

(2013, p.141) acrescenta:

Nos aldeamentos têm-se territórios criados sob o comando dos jesuítas, evangelização como forma de controle ao tempo em que conheciam a língua do estrangeiro, mediante a articulação

entre o Estado e a Igreja para efetivar a usurpação da terra.

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A última forma de exercer o poder, apresentada por Castro (2011),

corresponde ao poder político, no qual, abre-se espaço para a construção do

espaço público onde se processa o debate, as deliberações que instituem o

consentimento coletivo. Esse formato de poder se estabelece sem justificação

de uma superioridade.

As três formas de poder se diferenciam, entretanto, qualquer que seja o

seu desenho, ele é sempre espacial, pois o poder é exercido nas relações

sociais territorializadas, e como tal, são os sujeitos sociais que moldam as

relações de poder, logo, o território.

O debate sobre as relações de poder, permite afirmar que o território,

categoria de análise entendida como uma construção social mediada por

relações de poder, está embebido de conflito, é o campo de luta.

A produção do território reproduz relações de poder, pois o turismo

consome o espaço transformando-o em novo território, a partir da adoção de

um novo significado ao espaço exclusivamente, centrado nas práticas

turísticas. Dito isto, torna-se necessário refletir acerca da relação entre o

turismo e o território.

2.2 O turismo: a análise do conceito

O turismo é uma atividade que tem significado poder dinamizador,

porquanto, sua prática está diretamente associada às características naturais e

sociais do espaço, além de ser uma “prática social, que envolve o

deslocamento de pessoas pelo território e que tem no espaço o seu principal

objeto de consumo” (CRUZ, 2003, p.69)

Para Organização Mundial de Turismo (OMT) o turismo é uma modalidade

de deslocamento espacial, que envolve a utilização de algum modo de

transporte e ao menos um pernoite no destino; esse deslocamento pode ser

motivado pelas mais diversas razões, como lazer, negócios, congresso, saúde

e outros motivos. (CRUZ, 2003) Entendido desta forma, qualquer deslocamento

com pernoite transforma um viajante em turista, consequentemente, toda

viagem que o indivíduo pernoitar fora do sua residência é sinônimo de turismo,

sendo assim, esta definição apresenta problemas, um deles é distorção dos

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dados estatísticos que são superestimados. A autora chama atenção para as

restrições que a adoção do conceito proposto pela OMT impõe. Para este

Organismo Internacional, independente dos motivos, qualquer deslocamento

espacial configura como turismo, logo a realidade certamente será camuflada,

pois a imbricada relação do turismo com o lazer não é o divisor d’água para

delimitar o conceito em questão. Na verdade, não há uma unanimidade quanto

ao conceito de turismo.

Segundo Cruz (2003, p. 05), “o turismo é uma prática social que envolve o

deslocamento de pessoas pelo território”. Trata-se de deslocamento

diretamente ligado a questões culturais, ou seja, os fluxos turísticos

materializam-se quando há um apelo cultural que alimenta o desejo de visitar

um determinado espaço, assim sendo, a autora ratifica a importância do

espaço enquanto matéria prima para o turismo.

Para Rodrigues (1996, p.17-18) o turismo “é certamente um fenômeno

complexo, designado por distintas expressões: uma instituição social, uma

prática social, uma frente pioneira, um processo civilizatório, um sistema de

valores, um estilo de vida, um produtor, consumidor e organizador de espaço”.

A autora sinaliza para a complexidade que envolve o turismo, o que resulta em

uma dificuldade de precisar uma definição sobre o tema e, consequentemente,

sua impossibilidade de classificação quanto aos tradicionais setores da

economia.

Opinião divergente a Boullón (2002, p.34) que classifica o turismo como

atividade pertencente ao setor terciário.

Fica claro, pois, que o turismo é uma forma de consumir, algo assim como um canal para o qual conflui uma demanda especial de muitos tipos de bens e serviços elaborados por outros setores, além do consumo de alguns serviços especialmente desenhado para satisfazer necessidades dos próprios viajantes. Portanto, o turismo pertence ao setor terciário (...).

Apesar de coadunar com Boullón (2002), a reflexão sobre em qual setor

econômico deve ser o turismo incorporado parece pouco profícuo, dado à

complexidade que a própria definição do conceito de turismo impõe.

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De acordo com a concepção de Knafou (1996) o termo turismo é

polissêmico, é na essência uma prática social, uma atividade humana e, como

tal, uma conceituação do termo está embebida de discurso ideológico, pois

proporciona muitas ideias pré-concebidas. “sua definição é flu; porque ela

utiliza equipamentos cujo monopólio não lhe pertence (transporte,

hospedagem, alimentação, etc.)” (KNAFOU, 1996, p.63). Com isso, o autor

sinaliza para o permanente risco de confusões que a análise turística impõe em

razão da imprecisão resultante da não exclusividade dos dados, afirmando que

o conceito de turismo é fluido, impreciso.

O turismo é um fenômeno que envolve aspectos sociais, econômicos,

culturais etc. Enquanto fenômeno, ele é objeto de estudo de diversas áreas de

conhecimento resultando em uma gama de abordagens e concepções.

Esse debate demonstra que é possível identificar diferentes definições para

o turismo, algumas tendenciosas ao seu caráter social outras com forte viés

econômico, mas em todas elas percebe-se um traço em comum, o seu papel

na (re) criação e consumo de espaços.

Como a Ciência Geográfica tem no espaço o seu objeto de estudo, ela não

poderia se furtar de uma abordagem sobre o tema. As contribuições para a

compreensão deste fenômeno vêm de importantes teóricos, citados

anteriormente como Rodrigues (1996,1997a, 1997b), Knafou (1996), Cruz

(1997, 2003, 2005), dentre outros. Esses teóricos destacam a questão do

espaço apropriado, consumido e transformado. (SANTOS, 2013a).

Ao admitir que a materialização do turismo só seja possível a partir do

espaço consumido e produzido, não significa afirmar que a atividade está presa

aos condicionantes naturais. O desenvolvimento do meio técnico científico

informacional libertou a sociedade contemporânea das amarras da natureza.

Na atualidade, o capital reconstrói as condições necessárias para a sua

acumulação, segundo Knafou (1996 p.22) que sinaliza para este aspecto

quando aponta para a criação de equipamentos turísticos alheios a qualquer

característica física do entorno, o que caracteriza, para o autor, um turismo

sem território, ou seja:

(...) turismo que se contenta com sítios e lugares equipados é o turismo fora do solo, quase que completamente indiferente à

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região que o acolhe e onde a extensão planejada nada mais é que um espaço-receptáculo. Os Center Parcs desenvolvidos na Europa do Noroeste, a partir da criação de uma bolha tropical nos Países Baixos, ilustram bem esse tipo de equipamento turístico que cria seu próprio clima (...)

Sob essas condições, cria-se uma segregação espacial da atividade

com repercussão social negativa para a população permanente em que essa

nova territorialidade foi produzida.

não são poucos os exemplos, pelo mundo, de porções de espaço relacionadas a um uso turístico, visivelmente apartadas do contexto espacial em que se inserem, tanto por sua arquitetura dominante como pela fragilidade das relações que tecem com seu entorno imediata. (CRUZ, 2007, p. 21)

Este talvez seja um dos reflexos mais perversos do turismo, a segregação

espacial, o que lança a população autóctone de áreas turísticas a

permanecerem à margem de todo sistema produtivo desencadeado pelo setor.

O estudo dessa modalidade de consumo do espaço pelo turismo, ou seja, a

segregação espacial, não é o foco deste trabalho.

Outra característica inerente ao turismo é a sua associação com o lazer, o

tempo livre, o ócio. Não há consenso sobre a definição de lazer, mas alguns

autores como Rodrigues (1997b) associam o lazer a uma prática de consumo

do tempo livre. A autora acrescenta ainda que o lazer não é sinônimo de não

fazer nada. Outros teóricos, como Melo e Alves Júnior (2003), sinalizam para

dimensão cultural do lazer como uma fonte de crescimento pessoal através das

experiências de cada indivíduo como sinaliza Santos (2013) que considera o

lazer como prática vivida, prazer e diversão que podem viabilizar a satisfação

pessoal. A autora aponta o turismo como uma das mais importantes práticas

sociais geradoras de lazer.

Diante o exposto é possível afirmar que o conceito de turismo está atrelado

a duas premissas basilares: primeiro a presença de deslocamento espacial e,

em segundo, seu vínculo a práticas de lazer, sendo que se acrescenta neste

quadro a necessidade de pernoite. Contudo, o deslocamento espacial sem

estar diretamente associado ao lazer, também pode ser considerado turismo,

como por exemplo, o turismo de negócio, turismo de saúde, turismo religioso.

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Sobre essa abordagem Ruschmann (1997) relaciona a tipologia do turismo

com as principais atividades envolvidas. (QUADRO 1)

QUADRO 1-TIPO DE TURISMO E ATIVIDADES RELACIONADAS

Tipos de Turismo Atividades principais

Turismo de Férias Recreio, observação da natureza, passeios, etc.

Turismo de Esporte Participação em competições práticas esportivas variadas.

Turismo de Negócios Realização de negócios, feiras, congressos, etc.

Turismo de Saúde Descanso, tratamento médico, cura, etc.

Fonte: Ruschmann, 1997

Admite-se que o turismo é uma prática social de deslocamento, através do

espaço geográfico, envolvendo ao menos um pernoite em um espaço que não

seja da própria residência do indivíduo. Assim sendo, o turismo é possuidor de

uma materialidade física construída por meio de uma complexa teia de

relações que extrapola a escala local. Boullón (2002) analisa essa teia de

relações a partir da noção de sistema. Para ele, o sistema turístico pode ser

estudado através de modelos de análise como: o modelo oferta-demanda, o

modelo antropológico social, dentre outros. No seu estudo sobre planejamento

do espaço turístico, o autor faz uma descrição minuciosa sobre o sistema

turístico usando como referência o modelo oferta-demanda. Segundo esse

modelo, o sistema é composto pelos seguintes elementos: demanda e oferta

turística, atrativos turísticos, empreendimento turístico, infraestrutura e

superestrutura. A relação entre demanda e oferta está diretamente relacionada

aos demais elementos que compõem o sistema turístico.

Nesta pesquisa fez-se uma avaliação do patrimônio turístico de Valença-

Bahia, numa tentativa de compreensão do atual estágio de desenvolvimento da

atividade. O ponto de partida para o estudo foi à análise dos atrativos turísticos.

Partindo do pressuposto que qualquer deslocamento espacial tem origem

na atração exercida por elementos que ali estão presentes, admite-se então, a

impossibilidade de ocorrência do turismo sem que existam atrativos turísticos,

sejam eles naturais ou culturais. Os atrativos turísticos estão dispersos na

superfície terrestre, configurando uma singularidade ao espaço, nessas

condições trata-se do espaço turístico. “O espaço turístico é consequência da

presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos

esquecer, são a matéria-prima do turismo” (BOULLÓN, 2002, p. 79).

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Os atrativos turísticos têm uma localização específica na superfície

terrestre, e caracterizam-se pela descontinuidade, mesmo quando há certa

proximidade entre os atrativos, eles não se tocam, o que significa afirmar que o

espaço turístico é entrecortado, logo é um equívoco o uso de técnicas de

regionalização e por prolongamento do conceito de região turística.

(BOULLÓN, 2002). Entretanto, enquanto ação do Estado, a política pública e o

planejamento turístico se processam sobre os recortes regionais, como por

exemplo, a regionalização da Bahia proposta pelo Programa de

Desenvolvimento do Turismo do Nordeste (PRODETUR) elaborada com base

em critérios turísticos criando assim, regiões turísticas. Nesse contexto, o

município de Valença está inserido no Pólo Litoral Sul, cujos, principais

atrativos estão associados ao turismo de sol e praia. Esse debate sobre a

região e o turismo será retomado adiante, quando se estudará a região como

unidade de planejamento, bem como as propostas de regionalização do

território baiano.

Com base na análise dos atrativos turísticos e na delimitação de sua área

de influência, Boullón (2002) propõe uma teoria que classifica os espaços

turísticos de forma hierárquica, identificando dez categorias: zona, área,

complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor, corredor de translado e

corredor de estada. Essa classificação baseia-se na presença de atrativos

turísticos e na delimitação de sua área de influência.

Para este trabalho a categoria mais importante corresponde ao centro

turístico4 em razão desta ser a função do município de Valença. Um centro

turístico deve dispor dos serviços de hospedagem, alimentação,

entretenimento, agência de viagem de ação local, informações turísticas,

comércio turístico, postos de comunicação como telégrafo, correio, além de um

sistema de transporte interno organizado e com conexões com sistema de

transporte externo. Qualquer dificuldade quanto ao comportamento destes

elementos pode comprometer a cadeia produtiva e a viabilidade financeira do

centro turístico.

De acordo com a função desempenhada pelo centro turístico é possível

classificar quatro tipologias: centros de distribuição, centro de estada, centro de

4 Para Boullón (2002) o centro turístico é um conglomerado urbano que dispõe em seu território de atrativos turísticos que motivam uma viagem turística.

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escala e centro de excursão. Tais funções não são excludentes, um centro

pode acumular mais de uma função, sendo mais frequente o acúmulo de duas

funções. O Quadro 2 descreve as características de cada componente do

espaço turístico proposto por Boullón (2002).

QUADROS 2 - COMPONENTES DO ESPAÇO TURÍSTICO

COMPONENTES DO ESPAÇO TURÍSTICO

CARACTERIZAÇÃO

Zona

Maior unidade de análise composta por, no mínimo, dez atrativos turísticos.

Área

Unidade de análise composta por até dez atrativos turísticos. Deve conter no mínimo um Centro turístico.

Complexo

Unidade de análise pouco frequente, pois dependem da existência de um ou mais atrativo da mais alta hierarquia.

Centro

Conglomerado urbano que dis-põe de atrativos turísticos que motivam uma viagem.

Centro de Distribuição

Centro de Estada

Centro de Escala

Centro de Excursão

Unidade

Assentamentos turísticos onde vários atrativos situam-se muito próximos, ou o que é mais exato um dentro do outro.

Núcleo

Todo agrupamento com menos de dez atrativos que estão isolados territorialmente

Conjunto

Unidade espacial resultante da evolução de um núcleo.

Corredor

Vias de cone-xão entre outras categorias.

Corredor de Translado

Corredor de Estada

Fonte: Elaboração da autora com base na teoria do Espaço Turístico de Boullón (2002).

Caracteriza-se como centro de distribuição aquele que atua como base

para o pernoite do turista, sob estas condições os equipamentos de

hospedagem está concentrado no conglomerado urbano e não no atrativo. Já

um centro de estada também se caracteriza pelo deslocamento contínuo para o

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atrativo, todavia o tempo de permanência do turista é maior que em um centro

de distribuição, no qual a permanêcia do visitante excepcionalmente, não

passa de três dias.

O tempo de permanência do turista também é o critério para classificar um

centro de excursão, cuja duração da visita não ultrapassa vinte e quatro horas.

Por fim, a última tipologia de centro turístico corresponde ao centro de escala,

cuja ocorrência está atrelada a existência de conexões de sistema de

transporte, razão pela qual a estada limita-se a uma noite.

Conhecer a função exercida pelo município é fundamental para qualificá-lo

quanto a sua importância como centro turístico, o que possibilita elaborar

metas de crescimento sem correr o risco de elucubrações, tornando o

planejamento turístico exequível.

Feita as devidas considerações acerca do conceito de território e turismo

faz-se necessário, tecer algumas reflexões sobre a relação entre ambos. Parte-

se da premissa que o turismo corresponde à atividade econômica que

consome o espaço, transformando-o em mercadoria ao imprimir um valor de

troca em detrimento do valor de uso.

2.3 Território e turismo

Sendo o espaço, base material para o turismo, é correto afirmar que o

turismo se apropria do espaço. (CRUZ, 2000) O espaço enquanto categoria de

análise geográfica é entendida como um conjunto indissociável de sistema de

objetos e sistema de ações. “Os objetos são tudo o que existe na superfície da

Terra, toda a herança da história natural e todo o resultado da ação humana

que se objetivou” (SANTOS,1996 p.72); enquanto a ação “ é um processo, mas

um processo dotado de propósito” (SANTOS,1996, p.78).

Sistema de objeto e sistema de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre os objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.

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Na visão do autor o espaço é constituído por estes dois elementos, objetos

e ações, na verdade, por sistema de ações e sistema de objetos que interagem

criando uma dinâmica logo, o espaço é produto social que se transforma

permanentemente em formação socioespacial.

Ao consumir o espaço, o turismo impõe a adoção de objetos que favoreçam

o desenvolvimento da atividade, como meios de hospedagem ou equipamentos

relacionados à alimentação. (CRUZ, 2007, p.11)

O uso turístico do espaço leva à formação do que temos habitualmente chamado de “território turístico”, quer dizer porções do espaço geográfico em que a participação do turismo na produção do espaço foi e ainda é determinante. O uso das aspas se faz necessário porque, teoricamente, não há território que seja adjetivalmente turístico. O que existe, de fato são usos turísticos do Território.

Segundo a autora, em razão da complexidade de atividades econômicas

que compõem o turismo, é simplista demais classificar um território como

território turístico, pois literalmente não existe exclusividade na sua prática, ou

seja, outros ramos econômicos contribuem para o seu desenvolvimento, como

alimentação, transporte, etc. Todavia, o uso do termo não se invalida na

medida em que a atividade turística torna-se predominante.

Ainda assim, usar o termo território turístico pode remeter a equívocos ou

esvaziamentos conceituais, pois não há exclusividade do turismo sobre o

território. O que existe é o uso deste pelas práticas turísticas, logo, é possível

admitir uma dimensão territorial da atividade, marcada por três situações

distintas entre a relação do território com o turismo. Podem existir territórios

sem turismo, o inverso também pode ser observado e, por fim, podem existir

territórios produzidos, inventados pelos turistas. Na primeira situação é possível

encontrar numerosos territórios desprovidos de atratividade para o visitante,

essa era uma característica marcante em toda superfície antes do século XVIII.

Já o turismo sem território é aquele em que atividade surgiu e desenvolveu-se

a partir da iniciativa de operadores turísticos em detrimento da iniciativa do

turista: o Center Parcs europeu ilustra essa situação. Quando o turismo é

inventado pelo turista e em seguida repensado pelos promotores turísticos e

por planejadores tem-se, nessas condições, o território turístico. (KNAFOU,

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1996). Percebe-se que tanto Cruz (2007) como Knafou (1996) apontam para a

existência de territórios turísticos, porém, ratifica-se a não exclusividade da

atividade.

Na medida em que o turismo consome o espaço transformando-o em

território turístico processa-se a desterritorialização, cuja especialização

produtiva materializa configurando um novo significado. Uma nova realidade

socioambiental se estabelece, transformando as relações de trabalho e a

estrutura produtiva local. Sobre a questão, Rodrigues (1999) afirma que o

turismo transforma o espaço em mercadoria, e o seu consumo, caracteriza-se

pelo uso efêmero do território, num processo continuo de desterritorialização e

reterritorialização. “Efêmero para as pessoas e contínuo na materialidade do

território” (RODRIGUES, 1999, p. 56). Nessa perspectiva, Nicolas (1996, p. 51)

acrescenta ainda que:

Por outra parte, las formas espaciales resultantes, la estructuración del espacio, no obedecerán a las mismas lógicas que las de la producción-reproducción: la temporalidade de los processos turísticos por ejemplo, es essencial em cuanto impone uma ocupación-desocupación-rotación social sobre el espacio, que no es usual en el mundo de la producción.

Nesse processo, a população autóctone também experimenta as

transformações engendradas pelo turismo, poque as relações de trabalho, as

relações sociais modificam-se, em que as atividades tradicionais são

substituídas por práticas comerciais que atendem às necessidades do turista,

sem que isso signifique, necessariamente, a melhoria na qualidade de vida da

população. Essas práticas comerciais acabam atraindo os trabalhadores que,

devido à remuneração salarial abandonam suas profissões em favor da venda

de sua força de trabalho, de uma expressiva submissão ao capital.

O território turístico impõe uma nova dinâmica socioespacial, na medida em

que o turismo cria, transforma, e valoriza diferencialmente o espaço. Nesse

sentido, as atividades econômicas passam a ser direcionadas em função de

interesses do mercado, iniciando assim o processo de turistificação cujo

significado reside na relevância das práticas turísticas na (re) funcionalização

de um território.

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Segundo Knafou (1996) a turistificação e a produção da atividade turística

originam-se através da ação de três agentes: o turista, o mercado e os

planejadores. O poder de atuação, destes agentes sobre o espaço, é

diferenciado, pois, a partir de suas ações, inicia-se ou acentua-se a

especialização produtiva no território centralizado no turismo, impondo um novo

significado ao uso do espaço.

Apesar de estar na gênese do turismo, o turista representa pouca

expressividade na produção de territórios turísticos, se comparado ao poder

exercido pelo mercado e pelos planejadores públicos, ou seja, embora o turista

assuma papel indispensável na produção do território turístico, ele não é

hegemônico. A esse respeito, cabe afirmar que, “são os turistas que estão na

origem do turismo (...). Mas, hoje em dia, as pesquisas não se interessam

suficientemente pelos novos lugares que, espontaneamente, os turistas

investem sem a ligação com o mercado.” (KNAFOU, 1996, p. 70).

O mercado exerce significativo poder na produção de territórios turísticos,

em razão de sua capacidade de imputar, através da inserção da ciência e da

técnica, o dinamismo econômico. O contrário também pode acontecer, quando

o valor de uso de determinados espaços, não mais atende aos interesses do

capital resultando assim, na extinção de territórios turísticos.

Além do mercado e do turista, também atuam na produção dos territórios

turísticos os planejadores e promotores territoriais, cuja função é planejar e

estimular o desenvolvimento da atividade. Nesta perspectiva, merece destaque

o Estado e grupos comunitários.

A atuação do Estado se processa via políticas públicas e planejamento de

fomento ao turismo, através da construção ou qualificação da infraestrutura

necessária para atender às necessidades do turista. Uma ação equivocada em

relação ao poder público pode comprometer o desenvolvimento turístico.

A existência do território turístico está atrelada à ação dos agentes

produtores do espaço, são eles que, através do consumo do espaço, forjam

uma territorialidade com novas bases, constituindo assim uma nova estrutura

territorial.

Um dos efeitos da especialização produtiva refere-se à diminuição dos

espaços públicos, em razão da transformação do espaço em mercadoria, cujo

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consumo não está acessível à população autóctone. Na verdade, os territórios

turísticos mantem pouca, ou nenhuma relação com sua interlândia, trata-se de

territórios desconectados, constituindo paisagens que representam a

organização espacial de realidades distintas do local instalado (SANTOS,

2013).

Em Valença, a especialização produtiva centrada nas práticas turísticas,

ainda não se materializou de forma expressiva, assim sendo, a ação dos

agentes produtores do território turístico não repercutiu de tal forma, a imprimir

um novo valor de uso ao espaço, edificando-o sobre base exclusivamente

turística.

Enquanto atividade econômica, o turismo em Valença surgiu

espontaneamente, a partir da presença de visitantes que chegavam ao

município atraído por suas belezas naturais. A partir de então, passam a atuar

sobre o espaço turístico valenciano, o poder público e o mercado, este último,

através da ação de proprietário de terras, incorporadores imobiliários,

empresários dos meios de hospedagem, alimentação, etc.

Sobre esse espaço incide a atuação do Estado, através de políticas

públicas e planejamento de incentivo ao turismo. A ação deste é responsável

pela reestruturação do espaço por meio de financiamento da infraestrutura

básica e da malha rodoviária que favorece a acessibilidade do visitante entre o

núcleo emissor e o seu destino, o espaço turístico valenciano.

Considerando a importância do Estado nesse processo, é importante

discutir as práticas de planejamento no Brasil, em suas diferentes escalas

administrativas e analisar como tais práticas repercutiram no desenvolvimento

do turismo na área estudada.

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3 PLANEJAMENTO REGIONAL E TERRITORIAL NO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O TURISMO

Neste capítulo fez-se uma reflexão sobre política de planejamento e seus

reflexos na estrutura socioeconômica do território brasileiro com foco na

atividade turística. O propósito deste debate é elucidar a trajetória sobre a

política de planejamento implementada no território nacional e os reflexos

sócios econômicos

A palavra planejamento deriva do verbo planejar que, segundo a língua

portuguesa, significa determinação de objetivos e metas de um

empreendimento futuro. Na verdade planejamento sempre esteve associado à

elaboração de planos e a controle.

Segundo Magalhães (1962, p. 7) o planejamento:

(...) é, pois uma forma de orientação da economia que (nos países capitalistas) suplementa e corrige as indicações de mercado. O plano propriamente dito consiste num documento que sumaria os objetivos a serem atingidos e o modo a alcançá-los.

O planejamento corresponde a estratégias de controle econômico, cujo

significado corresponde a uma orientação econômica com vias para o

desenvolvimento. Nessa perspectiva, a experiência soviética foi pioneira na

adoção do planejamento governamental como instrumento de organização

econômica através dos planos implantados após revolução de 1917, por

exemplo, os Planos Quinquenais, implantados a partir de 1928. Enquanto

prática de planejamento, tais planos estabeleciam metas para cada setor

econômico, especialmente o setor industrial.

Não importa a dimensão do planejamento, desde que haja diálogo entre as

esferas de poder. Contudo, quando o diálogo entre as diferentes escalas do

poder público não se concretiza, toda e qualquer prática de planejamento

nasce com estreita possibilidade de êxito.

No Brasil, foi a partir da década de 1930 que emergiu a vertente de

planejamento governamental com viés regional onde o Estado passa a assumir

uma postura compensatória de desenvolvimento através de uma política sob o

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prisma das desigualdades regionais (OLIVEIRA, 1981, p.25). Reverter esse

quadro passa a compor a agenda governamental daquele período, porém, é

oportuno sinalizar que no centro da temática está a relação econômica entre o

Norte e Sul do Brasil, cujo desenvolvimento do modo de produção capitalista

definiu o papel que cada uma das partes desta relação desempenhou.

O Nordeste se configura já como uma região não estagnada, mas com um ritmo de crescimento lento e limitado, por razões já expostas, e como um grande fornecedor de mão de obra especialmente para São Paulo, o grande núcleo do pólo dinâmico da economia. Mão de obra que, sendo de baixo custo e de baixa especialização, colocará no mercado de trabalho do Centro-Sul um excedente, que pressionará os níveis de salários, favorecendo assim o processo de acumulação do capital. (COHN, 1976, p.49).

Essa temática é abordada por Cohn (1976) ao propor uma reflexão sobre a

prática de planejamento do Estado brasileiro alicerçada em meio à crise

regional produzida como reflexo do crescimento econômico desigual. Segundo

a autora a desigualdade econômica entre as diferentes porções do território

nacional é reflexo das políticas econômicas adotadas pelo Estado tendo em

vista a consolidação do modo de produção capitalista.

O processo de desenvolvimento segue a linha de um desenvolvimento

desigual e combinado, baseado na associação de elementos modernos com a

permanência de características tradicionais. No caso brasileiro, o processo de

expansão do modo de produção capitalista resultou na simultaneidade de uma

sociedade urbano-industrial no Centro-Sul do país, com traços modernizantes,

acompanhada pela herança tradicional da elite agrário-exportadora no

Nordeste brasileiro. A ação do poder público brasileiro, até a década de 1950

contribui para permanêcia desse contexto, pois cada uma dessas partes

assume a sua função no processo de desenvolvimento, que é desigual e

combinado.

Cohn (1976) analisa as políticas de planejamento econômico após 1930,

apontando as justificativas da manutenção dessa realidade.

(...) o Nordeste tem um papel ativo no processo de desenvolvimento nacional, fornecendo mão se obra, divisas para a importação de equipamentos e capitais privados que são investidos no pólo dinâmico da economia, pode-se afirmar

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que, em prejuízo próprio, a região está dentro das regras do jogo do processo de desenvolvimento. Isso na medida em que esse processo, conforme o seu próprio padrão produz diferenças e descompassos que lhe são intrínsecos e tem caráter equilibrador. (COHN, 1976, p. 50, grifo da autora).

Nesse contexto, inicia o debate sobre as políticas de planejamento no

território brasileiro. Percebe-se que na trajetória de execução de políticas de

planejamento, o Estado nacional passou por restruturação que alterou o perfil

enquanto principal agente produtor do território, nesse sentido é possível

delimitar diferentes comportamentos estatais quanto à sua ação sobre a

economia brasileira no século XX. Nas primeiras décadas deste século, sob

regência da teoria neoclássica, o Estado acreditava na eficiência da livre

concorrência, postura que vai mudar com a crise de 1929.

A partir da década de 1930, o Estado brasileiro assume uma postura de

caráter desenvolvimentista com forte apelo ao keynesianismo. Nessa

perspectiva, o Estado passa a atuar não somente como administrador ou

regulador, pois assume a função de agente direto da produção, implantando o

Estado Desenvolvimentista.

O Estado exerceu um significativo papel como impulsionador da industrialização não só através da sua função de provedor de bens públicos, mas também e, sobretudo: a) na definição, articulação e suporte financeiro de grandes blocos de investimentos que determinaram as principais modificações na estrutura econômica brasileira; b) na construção da infraestrutura, objetivando a integração dos sistemas rodoviários, energético, urbano e de telecomunicações; c) na produção direta de insumos intermediários indispensáveis à industrialização pesada. (BECKER; EGLER, 1996, p. 140).

Contudo, esse processo limitou-se a propor mudanças na estrutura

econômica nacional sem, contudo interferir nas instâncias políticas do país, em

razão da forte influência da elite agroexportadora que resistia a emergência da

burguesia urbana industrial. O resultado foi a consolidação da modernização

conservadora marcada por expressivos saldos econômicos, elevando o PIB

brasileiro para a oitava posição mundial, o parque industrial tornou-se

complexo e diversificado, a tecnificação passou a ser uma característica

agricultura e por fim, uma extensa rede de serviços interligou quase a

totalidade do território nacional (BECKER; EGLER, 1996).

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Todo esse dinamismo econômico também resultou na expansão urbana

e industrial, após a Segunda Guerra Mundial, marcado pelo ritmo acelerado da

urbanização levando o país a tornar-se predominantemente urbano em poucas

décadas.

A urbanização acelerada é mais um reflexo da modernização

conservadora, trata-se, portanto de um produto das políticas governamentais

que processam efeitos não previstos como carências sociais materializadas em

diferentes movimentos que reivindicam o direito à cidade. Segundo Becker e

Egler (1996), a urbanização brasileira foi sustentada pela maciça mão de obra

barata e pobre expulsa do campo em razão da tecnificação da produção

agrícola no país.

Nesse contexto são lançadas as bases para a constituição de um projeto

de Estado desenvolvimentista de caráter populista:

(...) a consolidação da acumulação industrial e ascensão das massas na arena política promoviam uma reformulação do Estado brasileiro, tanto no sentido da maior intervenção na economia (para promover a acumulação urbano-industrial), quanto no sentido uma maior representação político partidária. Essa peculiaridade dos governos populistas obrigava-os a certos malabarismos, pois, enquanto implementavam a acumulação de capital, com suas consequências concentracionistas e privatistas, faziam promessas de amplas melhorias sociais que acabavam não se concretizando.

(MANTEGA, 1984, p. 31)

O processo de transformações econômicas que ocorreu a partir do final da

Segunda Guerra até o inicio da década de 1960 não foi linear, foi repleto de

nuances, marcado por uma descontinuidade de projetos e um profundo grau de

instabilidade política. Este é o momento que se tem uma ampla organização da

sociedade civil e dos movimentos sociais (movimento de base) em que ocorre

o golpe militar de março de 1964. Nesse contexto se inicia um processo de

reestruturação do Estado que passa a incorporar o caráter da acumulação

industrial centralizador e autoritário, resultando na crise do ideário

desenvolvimentista.

O modelo implantado com os militares, e que se consolidou a partir de

1970, somente apresenta os seus primeiros reflexos com a crise do

nacionalismo desenvolvimentista e do planejamento centralizado. Esse modelo

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foi alicerçado pelo domínio do vetor científico-tecnológico moderno como a via

mais importante para a constituição de um Estado-nação apto a alcançar o

crescimento econômico e consequentemente a projeção internacional. Com

esse objetivo, os governos militares institucionalizaram no Brasil, um novo

autoritarismo marcado pelo enfoque tecno-burocrático. Para tanto, as forças

armadas identificaram setores estratégicos que deveriam receber mais atenção

do Estado, são eles: aeronáutica, indústria bélica, nuclear e computação.

(BECKER; EGLER, 1996).

No novo autoritarismo, os militares dominaram como instituição e não ao nível individual, e com um enfoque tecno-burocrático na formulação de política. Daí a sua designação de autoritarismo burocrático, situação em que as Forças Armadas tomaram o poder para reestruturar a sociedade e o Estado interviu contra os movimentos populares garantindo o progresso continuado e o desenvolvimento segundo a ideologia da segurança nacional da moderna doutrina militar. (BECKER;

EGLER, 1996, p.127).

Nesse processo, as redefinições da geopolítica clássica, que perde seus

sentidos originais, tem a tendência de possibilitar que as economias flexíveis e

a flexibilização dos lugares ocorram a partir da alta mobilização do capital e a

inserção subordinada dos territórios nacionais periféricos no processo de

globalização financeira e de mercados. (RUCKERT, 2005, p 32)

Contudo sob o viés desenvolvimentista o Estado nacional implementou

formas estruturantes no território que levaram a sua consolidação enquanto

unidade territorial.

3.1 Região como espaço de planejamento

Da mesma forma que se acredita na inexistência de territórios

exclusivamente turísticos a existência de região turística também é uma

inverdade, na realidade a sua existência está atrelada ao plano do discurso.

Prática equivocadas, em razão de esta atividade apresentar uma

descontinuidade espacial, o que significa afirmar que ao delimitar regiões

turísticas admite-se que em toda superfície desta região desenvolve-se o

turismo, o que de fato não ocorre..

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A presença de atrativos turísticos tem uma localização específica na

superfície terrestre, o conceito de região esvazia-se em favor de um recorte

territorial de tamanho e limites alicerçados em decisões políticas e econômicas,

assim sendo, criam-se região-plano ou região-programa (BOULLÓN, 2002).

Todavia, enquanto unidade de planejamento, o Estado usa esse recorte

territorial para implementar suas ações. Desta forma, categoria de análise

geográfica também torna-se importante para este estudo

A região representa uma unidade territorial onde o planejamento é posto

em prática. Retoma-se o conceito de região, enquanto escala espacial da ação

do Estado. Não é pretensão fazer uma ampla reflexão sobre este conceito,

todavia, é preciso, tecer algumas reflexões.

A princípio parece que a associação dos termos em questão é

metodologicamente impossível de ser executada. Para Haesbaert (2010) feita

as ressalvas filosóficas, tanto o uso do território quanto da região, como

categoria de análise, não são excludentes, é possível associar estes conceitos.

Parte-se do pressuposto que ambos os conceitos mencionados

anteriormente relacionam-se ao de poder. A própria etimologia da palavra

região, regere que do latim significa controle, gerir, dividir para reinar. Durante

o Império Romano a palavra Regione foi utilizada para representar áreas que

estavam subordinadas a um poder central (GOMES, 2010). Nesta perspectiva,

a região é delimitada a partir ação do Estado, que exerce seu poder ao

estabelecer unidades administrativas como forma de controle e dominação.

Essa prática data da Idade Média, quando o controle territorial era a regra

básica para a hegemonia do poder central, onde o controle é premissa sine qua

non para que o Estado não entre em colapso, para tanto, o conhecimento das

peculiaridades do território se faz necessário.

Nesse período não era possível associar a região a uma explicação

conceitual, o termo era usado como uma possibilidade de organização da

sociedade e os conhecimentos sobre a região eram produzidos através do

empirismo (BEZZI, 2004, p. 31). Ratifica-se, desta forma que, na Idade Média,

o uso do conceito de região enquanto unidade administrativa não deve ser

confundida com uma categoria de análise científica.

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A produção do conhecimento passa a ser feita através da observação, da

experimentação e comparação dos resultados, possibilitando a elaboração de

leis.

Tais transformações também atingiram a ciência geográfica e, por

prolongamento, o conceito de região passa por forte influência das ciências

naturais, resultando nos conceitos de região natural e região geográfica,

ambos, parte integrante da Escola Tradicional.

Sob esse viés são instituídas no território brasileiro diferentes

regionalizações até a década de 19405.

Em um contexto de mudanças econômicas, políticas e sociais ocorre uma

ruptura do paradigma filosófico vigente até então. O positivismo não mais

consegue responder aos questionamentos de uma sociedade que conheceu

profundas mudanças a partir da década de 1950, consequentemente uma nova

base filosófica emerge como referência para a Geografia, trata-se do

Neopositivismo, Positivismo Lógico ou Empirismo Lógico (BEZZI, 2004, p. 117)

Na geografia instala-se uma crise interna que vai refletir na adoção de uma

nova postura metodológica marcada pela valoração de sistemas lógicos em

detrimento do empirismo. São criados modelos que explicam a realidade a

partir do uso de métodos estatísticos, nascia assim, a corrente Nova Geografia,

que traria uma nova concepção na execução do planejamento.

O planejamento passa a adotar o conceito de região polarizada, região

homogênea, região funcional, bem como região de planejamento. Ocorre então

uma aproximação da Geografia com algumas teorias de desenvolvimento

econômico. Tais teorias já eram conhecidas, entretanto pouco utilizada, nesta

ciência. São elas, a teoria das Localidades Centrais (Walter Christaller em

1933) Teoria dos Pólos de Crescimento (François Perroux em 1967) e Teoria

Centro Periferia (Jonh Friedmann em 1969) dentre outras.

Foi na década de 1960 e 1970 que o planejamento regional no Brasil

assumiu papel central na agenda governamental. A atuação da

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) é um exemplo

desta fase.

5 A regionalização de 1941 nasce com o objetivo de fornecer um referencial para administração

pública. Foi formulada a partir do conceito de regiões naturais, ou seja, da homogeneidade dos aspectos físicos, sendo complementada em 1945. (BEZZI, 2004, p. 287).

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Corrêa (1990, p.48) aponta para a ineficiência da região do planejamento

em razão das próprias peculiaridades do modelo de produção vigente, onde a

desigualdade está no âmago do capitalismo e qualquer esforço no sentido de

exterminá-la será em vão. O autor afirma que a região de planejamento é uma

estratégia onde o discurso da recuperação e desenvolvimento é aplicado;

Esse discurso esquece, ou a ele não interessa ver, que no capitalismo as desigualdades regionais constituem mais do que um elemento fundamental de organização social. Em muitos casos, a ação decorrente do planejamento regional proporcionou um relativo progresso e uma maior integração da região ao modo de produção capitalista, quer dizer, a região sob intervenção planejadora passa a ficar sob maior controle do capital e de seus proprietários. (CORRÊA,1990, p.49)

A partir de 1970 a Geografia Crítica lança uma nova abordagem no

pensamento geográfico e, consequentemente um novo perfil para o planejador

que deve estar atento às mudanças engendradas pela economia mundial e

como elas rebatem territorialmente.

A mundialização do capital é um processo heterogêneo no tempo e no

espaço, logo, no conceito de região a complexidade torna-se um adjetivo

permanente. Esse processo que se materializou na universalização do modo

de produção capitalista trouxe como reflexo uma nova forma de acumulação do

capital baseada na centralização de capitais financeiros (CHESNAIS, 1996)

Neste período o modelo de produção vigente promoveu uma contradição, o

mundo tornou-se simultaneamente unificado e dividido. Unificado em torno de

um mesmo modelo econômico baseado na acumulação do capital que produziu

ritmo diferenciado de desenvolvimento, logo, produziu também a desigualdade

entre as diferentes parcelas da superfície terrestre, assim sendo, ratifica-se a

sentença que abriu este parágrafo, uma economia mundial unificada e

fragmentada.

A fragmentação é a materialização da divisão territorial do trabalho que

representa a especialização produtiva e as diferenças sociais, culturais e

políticas. Esse é o cenário que emergiu no pós 1970 tendo como característica

marcante a complexidade dos processos socioeconômicos e seus reflexos no

espaço.

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A integração internacional dos mercados financeiros resulta sim, da liberalização e desregulamentação que levaram também à abertura dos mercados nacionais e permitiram a sua interligação em tempo real (...) cujo resultado decide a integração ou a exclusão em relação as benesses das finanças do mercado. (CHESNAIS, 1996, p.17)

Para o autor, o processo de integração das economias nacionais é reflexo

da internacionalização do mercado financeiro, mas nesse processo existem

forma e ritmos, que são determinados pela atratividade financeira de cada

parcela da superfície terrestre, consequentemente criam-se espaços

diferenciados. É neste contexto que os agentes do planejamento atuam.

Em razão desta complexidade, delineia-se neste período expressiva

quantidade de abordagens diferenciadas quanto ao conceito de região, porém

na grande maioria dos casos o traço em comum em todas as abordagens

sobre o tema é a ideia da diferenciação de áreas.

Segundo Corrêa (1997, p. 187) é possível classificar os diferentes

conceitos de região formulados após a década de 1970 em três grupos. O

primeiro define região como uma organização espacial a partir dos processos

sociais do capitalismo. Bezzi (1994) afirma que neste grupo situam-se os

teóricos Coraggio, Massey e Smith. No segundo grupo a região é definida

como apropriação simbólica de uma porção do espaço e fazem parte desta

abordagem Piveteau, Tuan e Frémont. E finalmente o último grupo aborda a

região, balizado na ideia de que a dominação e o poder são os elementos

diferenciadores de áreas. Compartilham esta concepção Pred, Gregory e

Raffestin.

Neste trabalho admite-se que o conceito de região, enquanto categoria de

análise, permitiu compreender a realidade do território do turismo no município

de Valença como parte integrante de uma totalidade materializada através da

acumulação capitalista, que ratifica o processo de diferenciação de áreas via

divisão territorial do trabalho como uma tradução do desenvolvimento desigual

e combinado do capitalismo. Para Castro (1996b, p.187) a região, enquanto

categoria de análise, é a materialidade da economia capitalista no território, em

outras palavras, é uma divisão de um determinado espaço em territórios

econômicos.

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Explicitado a aproximação entre os conceitos de Território e Região quanto

à questão do poder é prudente ponderar que tais conceitos são distintos em

razão de suas bases teóricas, o que requer certa prudência ao explicitá-los

para não correr o risco de elucidar um esvaziamento conceitual. Este equívoco

tem sido praticado na medida em que as práticas de planejamento territorial

tornam-se sinônimo de desenvolvimento regional.

3.2 Planejamento e desigualdade socioespacial

Neil Smith (1988) e David Harvey (2005) têm direcionado reflexões sobre a

produção de espaços desiguais, elaborando uma discussão no âmbito da

geografia que trata do desenvolvimento geográfico desigual. É um debate sob

o ponto de vista teórico e metodológico que visa buscar explicar a

espacialidade do desenvolvimento desigual no capitalismo. (THEIS, 2009, p.

245)

Sob a égide do capitalismo, consequentemente, há a tendência

contraditória da diferenciação e igualização, materializando-se espacialmente o

desenvolvimento desigual. Este não é uma característica exclusiva da

sociedade capitalista, todavia, é nesta, que as condições tornaram-se mais

efetivas para a sua manutenção. Foi a partir dos desígnos desse sistema que a

diferenciação na produção do espaço encontrou a sua primazia.

O processo de diferenciação, portanto, está atrelado à divisão do trabalho

que por muito tempo esteve associada às características naturais. Todavia o

desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo relativiza cada vez mais

esta lógica. Para Smith (1988, p158) “a divisão territorial do trabalho libertou-se

cada vez mais de suas raízes na natureza, e na medida em que ela sobrevive é

apenas mantida por uma nova base material (...) o capital”.

Nessa perspectiva os interesses da sociedade estão subordinados à

(re)produção do capital; o que importa é a produção de riqueza e não mais as

necessidades humanas.

Mészaros (2002, p. 611) afirma que:

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Sob o comando do capital, o sujeito que trabalha não mais pode considerar as condições de sua produção e reprodução como sua própria propriedade. Elas não mais são, os pressupostos auto evidente e socialmente salvaguardados do seu ser, nem os pressupostos naturais do seu eu como constitutivos da extensão externa de seu corpo. Ao contrário, elas agora pertencem a um ser estranho reificado que confronta os produtores com suas próprias demandas e os subjuga aos imperativos materiais de sua própria constituição. Assim, a relação original entre o sujeito e o objeto da atividade produtiva é completamente subvertida, reduzindo o ser humano ao status desumanizado de uma mera condição material de produção.

É sob os desígnos do capital que se materializa, sobre o espaço, o

desenvolvimento desigual, e é sobre esta realidade que o Estado intervém com

intuito de atender aos interesses da sociedade. A desigualdade, portanto, é

reflexo da expansão do capital sobre o espaço/território nacional, ou seja, a

consolidação do modo de produção pautado na acumulação e reprodução do

capital materializando a desigualdade socioespacial.

Segundo Haesbaert (2006, p. 12):

Outras propriedades fundamentais do espaço geográfico, como aquelas ligadas à diferenciação ou contraste e a inclusão e exclusão ou o que está dentro e o que está fora (o inside e o outside), ao invés de desaparecerem, de ser efetivamente alteradas ou consideravelmente enfraquecidas, foram intensificadas, com o aumento brutal das desigualdades e da segregação sócio espacial.

A forma como se deu a expansão do capitalismo sobre o espaço brasileiro

produziu as desigualdades regionais. Nessa perspectiva, os processos

econômicos aliados às especificidades do território criaram tessituras que

repercutiram territorialmente. Merecem destaque as transformações

socioeconômicas engendradas a partir da década de 1930, quando o Centro-

Sul do país inicia um processo de centralização e concentração do capital.

Na visão de Oliveira (1981, p. 75), a economia paulista subjuga as

economias regionais via processo dialético destruindo-as para concentrar e

captar os excedentes econômicos. Em outras palavras, neste período, a

expansão capitalista sobre o território nacional permitiu a integração do

mercado nacional a partir da concentração do capital, no Centro-Sul, em

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detrimento do Norte-Nordeste. Contudo, tal processo não significou a

estagnação econômica das porções territoriais expropriadas, mas sim uma

desigualdade regional no ritmo do crescimento econômico, ou seja, consolida-

se a desigualdade socioespacial:

Os lugares se especializam, em função de suas virtualidades naturais, de sua realidade técnica, de suas vantagens de ordem social. Isso responde à exigência de uma maior segurança de rentabilidade para capitais obrigados a uma competitividade sempre crescente. Isso conduz a uma marcante heterogeneidade entre as unidades territoriais.

(SANTOS, 1996, p. 198)

O desenvolvimento desigual das forças produtivas, nas sociedades

capitalistas, ocorre em paralelo ao processo de diferenciação da divisão

territorial do trabalho. Nessas sociedades a divisão do trabalho é a base

histórica das diferenciações econômicas espaciais:

A cada momento, cada lugar recebe determinados vetores e deixa de acolher muitos outros. É assim que se forma e se mantém a sua individualidade. O movimento do espaço é resultante deste movimento dos lugares. Visto pela ótica do espaço como um todo, esse movimento dos lugares é discreto, heterogêneo e conjunto, desigual (...). Pois os lugares assim constituídos passam a condicionar a própria divisão do trabalho, sendo-lhe ao mesmo tempo, um resultado e uma condição, senão um fator. (SANTOS 1996, p. 107).

A ação do Estado mediante planejamento contribui para a manutenção

deste cenário, em razão da distribuição geográfica dos recursos financeiros

também ser desigual; percebe-se que há uma inclinação do poder público em

investir nos territórios que já concentram o capital, reforçando ainda mais as

desigualdades socioespaciais. O turismo em Valença apresenta resultados

numéricos inexpressivos na competitividade regional/territorial, e sendo assim,

a desigualdade é mantida porque não dispõe de condições objetivas para a sua

reprodução enquanto espaço turístico no mesmo nível que outros municípios

baianos em que esta atividade já está consolidada.

O turismo, nesta perspectiva, desenvolve-se de forma articulada com o

todo socioterritorial, porém em razão das especialidades socioespaciais, ou

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seja, da divisão territorial do trabalho, imprime-se a desigualdade, pois o capital

contribui para a permanência de ritmos diferenciados de crescimento.

O processo tem sido exaustivamente debatido, em diversas áreas do

conhecimento e especialmente na ciência geográfica. Santos (2001) elabora

uma importante análise das desigualdades regionais, tendo como referência a

expansão do meio técnico-científico e informacional. Entender a desigualdade

socioespacial edificada pela difusão da técnica implica em explicar a densidade

do território quanto a presença de técnicas variadas, objetos, homens,

informação etc. O seu contrário, a ausência destes elementos, resulta na

rarefação, pois, segundo o autor, quanto mais instrumentalizado pela técnica

mais complexa a sociedade.

3.3 Política pública e turismo

No século XX ocorre um crescimento expressivo da atividade turística,

consequentemente, a sua importância na agenda governamental também

cresce. Visto como uma possibilidade de desenvolvimento econômico, políticas

públicas são elaboradas para maximizar o seu desempenho. Dito isto, o

planejamento turístico é condição sine qua non para que o desempenho da

atividade seja satisfatório.

Segundo Ruschmann (1997, p.84) no “turismo cabe ao Estado zelar pelo

planejamento e pela legislação necessários ao desenvolvimento da

infraestrutura básica que proporcionará o bem-estar da população residente e

dos turistas” O planejamento e políticas públicas para o turismo tornam-se

imprescindíveis na medida em que previnem os efeitos indesejáveis que o

crescimento da atividade pode causar. Quando não há uma orientação

racional para o desenvolvimento da atividade turística os riscos de impactos

não desejados às áreas receptoras tornam-se maiores. Esses impactos podem

ser de caráter ambiental ou socioeconômico, de qualquer forma a própria

continuidade da realização da atividade fica comprometida, o autor indica que:

Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos que o turista estimula e o seu desenvolvimento planejado, que preserve o meio ambiente, não é tarefa fácil, principalmente

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porque o controle da atividade depende de critérios, valores subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada (...). (RUSCHMANN, 1997, p.11)

Nessa perspectiva, o Estado assume o papel de elaborar e executar

uma política que permita o desenvolvimento da atividade de forma adequada,

sendo assim, ele é mediador na produção do território turístico.

No Brasil, os teóricos que discutem política pública centralizam as reflexões

nas questões jurídicas ou orçamentárias. Os estudos que abordam aspectos

conceituais sobre a temática ainda são incipientes. Faz-se necessário definir a

abordagem sobre o tema, ou seja, a definição conceitual que norteou esse

trabalho

Na visão de Boneti (2007) política pública compreende uma forma de

intervenção do Estado em uma determinada realidade social.

A explicação sobre este processo está alicerçada em duas vertentes:

avaliação de políticas ou análise de políticas públicas. A primeira corresponde

ao estudo das práticas governamentais, focalizando as políticas públicas, a

segunda direciona esforços para o entendimento dos resultados produzidos por

tais políticas.

A avaliação das políticas públicas, ou seja, estudar a gênese, elaboração e

execução da ação do Estado não é algo que possa ser feito com restrições de

tempo, este é um estudo que requer mais tempo para aprofundar as reflexões.

Em cada uma destas etapas, gênese, elaboração e execução, o jogo de forças

se faz presente, os conflitos de interesse entre os diversos agentes envolvidos

no processo é uma característica marcante. A ação do Estado realiza-se via

relação de força originária dentro da própria sociedade como reflexo da disputa

de interesse de ideologias diversas. (BONETI, 2007) Nesse embate de forças

os agentes hegemônicos têm um maior poder de barganha.

Cavalcanti (2012) faz um levantamento de definições de política pública

para então apresentar o seu entendimento sobre o tema, sinalizando, contudo

que o tema não se esgota com esse feito e que há uma gama de definições

sobre a questão em foco.

Para Cavalcanti (2012, p. 41.):

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(...) política pública é um curso de inação ou ação, escolhido

por autoridades públicas para focalizar um problema que é

expresso no corpo das leis, regulamentos, decisões e ações de

governo. A política pública está relacionada com as intenções

que determinam as ações de um governo; com o que o

governo escolhe fazer ou não fazer; com as decisões que têm

como objetivo implementar programas para alcançar metas em

uma determinada sociedade.

Esta definição de política pública não esgota o leque sobre o tema. Em

todos os debates observa-se que é comum a presença do Estado enquanto

agente primordial, mas não exclusivo, na formulação e execução de políticas

públicas, como tal, o Estado assume a prerrogativa de maior poder

dinamizador do espaço.

A ação do Estado é uma resposta aos problemas da sociedade. No

capitalismo a função do Estado é mediar às contradições entre os interesses

individuais e os coletivos. Para Engels (1991)

O Estado é um produto da sociedade num estágio específico do seu desenvolvimento; é o reconhecimento de que essa sociedade se envolveu numa autocontradição insolúvel, e está rachada em antagonismos irreconciliáveis, incapazes de ser exorcizados. No entanto, para que esses antagonismos não destruam as classes com interesses econômicos conflitantes e a sociedade, um poder aparentemente situado acima da sociedade, tornou-se necessário para moderar o conflito e mantê-lo nos limites da ordem; e esse poder nascido da sociedade, mas se colocando acima dela e, progressivamente, alienando-se, é o Estado.

Sob o modo de produção capitalista, a ação do Estado desenvolve-se no

intuito de favorecer a acumulação do capital ao mesmo tempo em que deve

manter as condições sociais que garantam a sua existência.

A acumulação do capital ocorre sob a tutela do Estado na medida em que

este intervém na economia e na sociedade com o intuito de criar todas as

condições para a (re) produção do capital. Este processo é regulado através

de normatização, ou seja, a ação do Estado obedece a um conjunto de normas

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pré-estabelecidas. Dentre os agentes que atuam sobre o território, Estado é

aquele que tem sua ação mais regulada.

Dentro do setor turístico, o Estado também executa a mesma lógica ao

elaborar políticas públicas de turismo com o intuito de criar ou revitalizar

territórios turísticos.

No processo de constituição de territórios turísticos são recriados conjuntos

de elementos definidos pelo seu potencial para induzir o desenvolvimento da

atividade. Como afirma Santos (2001) as configurações territoriais são o

conjunto dos sistemas naturais, herdados por uma determinada sociedade e

onde os sistemas de engenharia, isto é, objetos técnicos e culturais são

historicamente estabelecidos.

A participação do Estado é fundamental na constituição de territórios

turísticos. É papel do Estado intervir. Como afirma Harvey (2005, p. 57) o

“Estado deve desempenhar um papel importante no provimento de bens

públicos e infraestrutura social e física, pré-requisitos necessários para a

produção e troca capitalista”. A intervenção do Estado será aqui denominada

de política pública. Para Henz (2009) a partir da leitura Beni (2006 p. 37)

política pública de turismo corresponde ao:

(...) conjunto de fatores condicionantes e diretrizes básicas que expressam os caminhos para atingir objetivos globais para o Turismo no país, determinam as prioridades da ação executiva, supletiva ou assistencial do Estado; facilitam o planejamento das empresas do setor quanto aos empreendimentos e às atividades mais suscetíveis de receber apoio estatal.

No Brasil, a elaboração de políticas públicas de turismo esbarra na falta ou

ineficiência do diálogo entre as diferentes escalas de poder governamental,

onde muitas vezes as ações são implementadas isoladamente na esfera

estadual ou municipal. Segundo Cruz (1996, p. 24):

O país não tem tradição na elaboração de políticas para o turismo e daí o planejamento turístico vir acontecendo, segundo planos estaduais e municipais, com pouca ou nenhuma orientação em escala federal. A inexistência de diretrizes em âmbito federal tem levado ao surgimento de políticas de turismo isoladas (...).

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Na primeira metade do século XX o turismo não fazia parte da agenda de

prioridade do governo brasileiro. Na verdade, a atividade só passa a ser

regulada em 1966 através do Decreto Lei 55 de 18 de novembro de 1966 onde

o turismo é atividade produtiva capaz de favorecer a minimização dos

desníveis socioeconômicos do país. Neste mesmo ano foi criado o Conselho

Nacional do Turismo e da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR). Anos

mais tarde em, 1971, foi criado o Fundo Geral do Turismo (FUNGETUR)

através de Decreto – Lei 1191 de 27 de outubro de 1971. Exceto essas duas

medidas, até a década de 1990 não houve nenhuma ação do Estado que

promovesse alteração de grande envergadura no setor. (CRUZ, 2000).

Esse quadro só vai ser alterado a partir da década de 1990, quando se

inicia um processo sem precedentes na história do turismo no país, onde a

principal meta dos governos desse período era dinamizar a atividade turística

no Brasil, criando portanto, no ambiente normativo, as condições necessárias a

sua expansão. Nesse período há uma nítida tendência do então presidente

Fernando Collor de Mello em valorização do turismo como viés para redução

das desigualdades regionais.

Vários programas públicos foram implementados, o Programa de Ação

para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODENTUR-NE), a

Política Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT).

O ponto ápice deste processo de valorização da atividade ocorre em 2003

com a criação do Ministério de Turismo. Cria-se assim, uma estrutura

institucional para fomentar um modelo de gestão descentralizado com via a

promover o desenvolvimento do setor em todo o território nacional, envolvendo

o poder público nas três esferas de governo e a iniciativa privada (CRUZ,

2000).

3.4 Planejamento Regional e desigualdade socioespacial no

Brasil

O Brasil apresenta-se, no século XXI, singularmente diferente do que era

no século antecessor, principalmente no que tange à produção territorial

caracterizada pela integração nacional, sem que isso signifique o

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desaparecimento das desigualdades regionais. A trajetória econômica do país

revelou transformações expressivas que indicam não somente mudanças rumo

aos processos de modernização da sociedade e do território, mas também a

existência de estruturas produtivas regionais diferenciadas capazes de atrair

investimentos em ritmo e intensidade também diferenciados, e o resultado

desse processo foi a manutenção da desigualdade socioespacial no Brasil.

Apesar das inúmeras tentativas de reverter este quadro, o Estado

brasileiro não tem logrado êxito Na verdade, o poder público tem aprofundado

a distância econômica entre as diferentes regiões do país. A integração

nacional resultante da industrialização e estimulada pelo Estado tem

contribuído para a permanência deste cenário.

Neste contexto, alguns processos rumo à modernização da sociedade

brasileira tiveram impactos significativos. Algumas das agendas modernizantes

permanecem inacabadas e são alvos de profundas tensões. É possível citar

como exemplo a fragilidade da matriz de transporte fundada no padrão

rodoviário, cujo esgotamento resulta no gargalo do sistema produtivo nacional

comprometendo assim a integração territorial das estruturas produtivas

regionais através da elevação dos custos de transportes. (EGLER, 1996)

Smith (1988, p.151) sugere que “(...) a desigualdade espacial não tem

sentido algum, exceto como parte de um todo que é o desenvolvimento

contraditório do capitalismo”. Para o autor, o modo de produção capitalista

imprime um desenvolvimento espacial desigual a partir da relação entre valor

de uso e valor de troca sobre a natureza e o espaço, respectivamente. Nesse

processo, a produção de valor de uso, através do trabalho, se transforma em

valor de troca, consequentemente, é produzida a diferenciação entre os

lugares, o que significa afirmar que a relação sociedade-natureza é conduzida

pela combinação de valor de uso e valor de troca.

Parafraseando Freitas (2012, p.177), “o desenvolvimento é regional, e o

território é visto de forma fragmentada, uma vez que a Região representa uma

fração do espaço nacional, caracterizada pela diferença nos níveis social,

econômico, cultural, etc.”. Essa diferenciação materializa-se no

estabelecimento de unidades territoriais. Nesta perspectiva, o território precede

a região, e esta, é definida não simplesmente como categoria de análise

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geográfica constituída pela diferenciação de área, mas sim enquanto espaço

diferenciado pelo estabelecimento de domínio, de poder, aliado ao

desenvolvimento desigual do capitalismo, ou seja, a região é aqui entendida

como divisão de um determinado espaço em territórios econômicos. Segundo

Egler (1996) a região é a escala de operação produtiva do capitalismo, por sua

vez, Haesbaert (2010, p.175) afirma que: a natureza política aborda a região

como uma escala de domínio, sobretudo aquela construída a partir de um

poder central.

Segundo Costa (1991, p.47) o Estado cria na década de 1930 uma série de

medidas que influenciaram diretamente na economia, cuja preocupação era

dotar o país de infraestrutura que viabilizasse o desenvolvimento. Em 1934 o

Plano Geral de Viação fomentava o processo de integração de mercados

regionais, processo que foi reforçado com a criação do Plano Nacional de

Viação em 1951.

Em 1942 foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A partir deste órgão foram feitos estudos sobre o território nacional, viabilizando

assim a tomada de decisão por parte do Estado. (CARGININ, 2007, p.8)

Esses órgãos foram responsáveis por iniciar a prática de executar planos

de desenvolvimento, ou nas palavras de Costa (1991, p.47) “a era do

planejamento econômico é inaugurada”.

Neste contexto, a Constituição de 1946 através do seu artigo 198,

institucionaliza mecanismos para disponibilizar recursos financeiros para

combate aos entraves das regiões Nordeste e da Amazônia. “As duas regiões

eram tratadas numa perspectiva de conjunto pelo Estado, ou seja, tratava-se

de integrá-las, mesmo que enquanto economias periféricas e complementares

ao Centro-Sul do País” (COSTA, 1991, p. 51).

De acordo com Cohn (1976, p.58):

Pela Constituição de 1934, em seu artigo 177, torna-se obrigatório a destinação de 4% da receita tributária federal para a defesa contra os efeitos da seca no Nordeste, sendo que 3% seriam gastos segundo um plano sistemático e 1% seria reservado, em conta especial, para ser utilizado em socorro quando ocorresse a seca. Na Constituição de 1937 esse artigo foi abolido, para ser readmitido em 1946, só que com uma redução de 4% para 3% da renda tributária. O grande problema que se colocava era o de se definir a área do Nordeste seco

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que receberia essa verba. Daí ter sido demarcado em 1936, o

chamado Polígono da Seca (...).

Os projetos e as políticas públicas que foram elaboradas e gestadas

durante a década de 1950 continuaram válidos e serviram como referenciais

para a expansão capitalista iniciada em meados da década de 1950. Os

incentivos, subsídios fiscais e financeiros colocados à disposição pelo Governo

Federal, alguns com exclusividade para o Nordeste brasileiro a partir dos

inícios dos anos 1960, possibilitaram que a economia nacional, antes

centralizada no eixo Centro-Sul, integrasse as estruturas produtivas regionais.

Essa política compreende: inversões públicas no sistema de transporte e

energia – incluindo a ampliação energética do Nordeste – a criação em 1952,

do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico com fim explicito de apoiar

a diversificação industrial. (COHN, 1976, p.36)

Nesse período, o Brasil consolidava a industrialização. Aliado a este

processo desenvolveu-se dentro da sociedade urbano industrial o antagonismo

entre o proletariado e a classe burguesa industrial, ambas diretamente ligadas

à acumulação do capital industrial.

Nas primeiras décadas do século XX a crise que abalou as bases da

economia liberal repercutiu no modo de produção capitalista. Na verdade, o

liberalismo não mais conseguia responder aos problemas da economia

mundial. É neste contexto que as ideias de John M. Keynes ganham

notoriedade. Para ele, os desígnios do mercado criam ciclos econômicos de

expansão e retração das atividades econômicas, sendo necessária uma

intervenção que evitasse os períodos de contração, e caberia ao Estado essa

função.

Mantega (1984, p.25) expõe que:

Segundo a nova ótica keynesiana, as forças de mercado, deixadas a si mesma, estariam longe de promover a alocação ótima de recursos, causando, pelo contrário, capacidade ociosa, desperdício e desemprego. Nesse contexto, fazia-se necessária a intervenção mais decidida do Estado na economia, não mais apenas enquanto administrados da coisa pública (defesa, educação, justiça, etc.) ou mero regulador das atividades privadas, mas também enquanto agente direto da produção, aumentando os investimentos e gastos da sociedade (...) privilegiando determinados setores em detrimento de

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outros, enfim, orientando a estrutura econômica para uma produção mais equilibrada.

A doutrina keynesiana foi a sustentação teórica do modelo de

desenvolvimento baseado na industrialização adotado pelo Estado Nacional a

partir da década de 1950, marcada pela execução de medidas por parte do

Estado nacional-desenvolvimentista brasileiro com forte apelo regional,

principalmente no mandato do então presidente Juscelino Kubitschek, como

Plano de Metas (1956-1961) e o Plano Diretor da Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) de 1961.

A primeira medida foi a fundação, em 1953, da Superintendência do Plano

de Valorização Econômica da Amazônia (CPVA), mesmo ano em que foi criada

Amazônia Legal, a partir da Lei nº 1806 de 06 de janeiro de 1953. A Amazônia

Legal com 5.057.490 km corresponde a 61% do território nacional.

O Plano de Metas (1956 - 1961) do presidente Jucelino Kubitschek

representou a mais ambiciosa proposta de planejamento global, promovendo

uma verdadeira mudança na estrutura econômica do país à custa de um forte

endividamento internacional.

Na visão de Rabelo (2002, p. 4):

(...) o período de ciclo expansivo da economia brasileira que vai de 1956 a 1961 é o momento em que se da à consolidação do capitalismo industrial no Brasil, no qual tem um papel fundamental o Estado, em uma associação com o capital estrangeiro e nacional, com base numa complicada operação de financiamento para proporcionar o excedente necessário

aos grandes investimentos realizados.

Não seria um equívoco afirmar que o Plano de Metas (1956 - 1961) apesar

de não trazer no seu cerne uma proposta regional, proporcionou impactos no

território.

O fator do dinamismo foi o processo de industrialização, visto por muitos

como única via para promover o desenvolvimento do país. Para tanto, o plano

propunha dar mais atenção ao estrangulamento da economia nacional, como

por exemplo, as precárias condições de circulação da economia nacional bem

como o sistema energético. Assim, foram identificadas metas de atuação:

energia, transporte, indústria de base, alimentação e educação. Estes dois

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últimos não estavam no centro da agenda governamental, razão pela qual

absorveu 6,5% de todo o recurso (o que representa 340,73 milhões de dólares)

investido no país na época da execução do Plano de Metas. As verbas

investidas nos setores de energia, transporte e indústria corresponderam a um

total de 4.936,39 milhões de dólares. (SILVA, 2000, p.91).

A realocação da capital nacional para o interior do país foi outro plano que

engendrou, pela primeira vez, um processo de interiorização oficialmente

regulamentado pelo Estado. Brasília foi estrategicamente construída na região

Centro-oeste do país, para tanto foram mobilizado cerca de Cz$ 300.000.000

(trezentos milhões de cruzeiros) em valores de 1961.

A nova situação geográfica de Brasília e o processo de industrialização,

concentrado no Centro Sul promoveu uma nova configuração territorial do

sistema de engenharia de circulação, onde a meta era favorecer a integração

entre o mercado consumidor e as fontes de matérias primas para a

industrialização. Desta forma, a requalificação ou construção de vias de

circulação ficou centrada no Centro Sul.

A captação de recurso para financiar os investimentos públicos deu-se por

diferentes origens. Parte dos recursos foi captada via abertura ao capital

estrangeiro, principalmente norte americano, e outra parte foi injetada pelo

próprio cofre público nacional que direcionou grande quantia de recursos.

Porém, como o Tesouro Nacional estava despreparado para arcar com as

despesas geradas, a saída encontrada foi a emissão de papel moeda, o que

iria deteriorar a economia nacional através de inflação.

Outra importante medida de repercussão econômica foi à criação da

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) com o objetivo

de entender a condição socioeconômica do Nordeste, até então vista como

produto das condições naturais.

A Região Nordeste recebeu maior volume de recursos e investimentos em

razão do descompasso econômico, o que lhe garantia o papel de região

repulsora de fluxos migratórios, de acordo com Cano (2001, p. 136):

O fluxo migratório acumulado nacional (pessoas que vivem fora do seu estado de nascimento), que em 1940 as pessoas (das quais 800 mil nordestinas e outros tantos mineiros) representavam 6,7% da população nacional. Em 1970 o fluxo

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acumulado era de 11,2 milhões e agora os nordestinos somavam 4 milhões.

As características econômicas da Região Nordeste e a consequente

condição social de sua população podem ser explicadas pela desigualdade

socioespacial. Com base nessa teoria admite-se que as diferenças expressas

no território materializam-se a partir da divisão do trabalho, produzida através

da dinâmica social, assim sendo, a diferenciação é um produto histórico

emanado pelo modo de produção capitalista. Neste ponto encontra-se a

explicação das taxas diferenciadas de crescimento econômico, salientando-se

ainda que cada parcela territorial representa uma parte da totalidade

intricadamente integrada de forma combinada.

A lógica de integração/diferenciação territorial é inerente ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. Em sua evolução modificam-se os pesos relativos de cada uma das partes dessa equação, que são condicionadas pelo padrão de concorrência e pelos mecanismos à disposição do Estado para atuar na sua regulação. (EGLER, 1996, p.186).

Na verdade a preocupação com o desempenho econômico da região

Nordeste não é algo recente; em 1919 foi criada a Inspetoria Federal de Obras

contra a Seca (IFOCS), transformada em 1945 em autarquia, Departamento

Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS). Foi a partir deste órgão que se

avançou sobre o conhecimento das características naturais do semiárido

nordestino, o mesmo não ocorrendo quanto à sua estrutura socioeconômica.

O IFOCS, posteriormente DNOCS, institucionalizado e estruturado sob a

regência de um Nordeste algodoeiro-pecuário6 marcado pela definição da

divisão regional do trabalho, onde a economia cafeeira e sua conversão em

região industrial subjugava a região Nordeste, na medida em que a política

econômica beneficiava o Centro-Sul e deprimia a taxa de valor das

mercadorias produzidas no Nordeste (OLIVEIRA, 1981, p 37).

6 Francisco Oliveira (1981) faz uma análise da subordinação da economia regional ao capital

estrangeiro, explicitando que mudado os indivíduos detentores da produção, a saber, latifundiários sertanejos em detrimento da oligarquia açucareira, as leis de subordinação da relação com o capital internacional permaneciam as mesmas. O autor aponta que os rumos tomados pela decadente elite açucareira levou a economia nordestina a retroagir, pois foram adotados mecanismos de acumulação pré-capitalistas, resultando em uma descapitalização e restrições à formação da força de trabalho assalariada.

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Apesar dos incentivos governamentais executados pelos órgãos

supracitados anteriormente, nenhuma mudança ocorreu na condição social do

Nordeste, muito pelo contrário, a estrutura produtiva e a expropriação do

nordestino mantiveram-se. A ideologia que alimentava a ação do Estado

naquele momento era centrada no simples combate à seca, ou seja, era uma

condição sine qua non engendrar esforços para minimizar a carência hídrica do

semiárido nordestino.

Essa postura começa a mudar a partir do relatório de estudo do Grupo de

Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). Este sinalizava que a

realidade socioeconômica do Nordeste tem sua origem na divisão territorial do

trabalho do país, sendo assim, o descompasso é um problema de ordem

econômica regional.

A análise da região nordestina, por comparação com a região mais industrializada o Centro-Sul, indicava, em primeiro lugar, que a renda per capta era de 100 dólares anuais, correspondente a 1/3 do Centro-Sul. O Nordeste aparecia, assim, como a mais extensa e populosa área de pobreza... (TAVARES, 2012, p 105)

Nessa perspectiva a política de planejamento deveria alterar a estrutura

vigente marcada pela presença de latifúndios improdutivos e milhares de

minifúndio incapazes de promover o sustento familiar de seus proprietários.

Acrescenta-se a este quadro o predomínio de relações de trabalho marcadas

fortemente pela semiservidão e uma prática política da classe hegemônica

impregnada do que Andrade denominou de coronelismo. (ANDRADE, 1995, p

78)

A SUDENE foi estruturada para intervir nessa realidade socioeconômica. À

frente desta empreitada estava Celso Furtado, intelectual preocupado com a

construção da nação diante dos embates de forças dos agentes internacionais

e nacionais, este último nem sempre aliado aos interesses nacionais.

Nessa perspectiva a política proposta pela SUDENE era:

(...) distinta daquelas formas oportunistas e assistencialistas até então vigentes, com Furtado imprimindo-lhe nova visão de desenvolvimento econômico. Como tais, os demais órgãos federais da região, que antes eram incumbidos do atendimento

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ao “combate às secas”, passavam agora a ser coordenados pela SUDENE, enfrentando a chamada “indústria da seca”. Agora os investimentos federais na região seriam objeto de planejamento plurianual, ameaçando com isso, as oligarquias locais”. (CANO, 2001 p. 105)

O conflito entre o planejamento proposto pela SUDENE, as elites regionais

e o capital materializou-se na aprovação, após longa batalha política, do

Primeiro Plano Diretor da SUDENE em 1961, no Congresso Nacional. Nesse

plano, a proposta de desenvolvimento regional estava calcada em uma política

de fomento à industrialização através de incentivos fiscais e requalificação de

infraestrutura.

Os ganhos alcançados ficaram muito distantes das expectativas, todavia é

um equívoco menosprezá-lo. Entre 1960-1976 foram aprovados 1134 projetos

industriais, gerando 227,8 mil novos empregos. As melhorias, contudo, não

romperam com a estrutura econômica criada a partir do desenvolvimento

desigual e combinado do modo de produção capitalista, a Região Nordeste

permaneceu exercendo a função de complementariedade da economia

nacional. Nessa perspectiva, a Região Nordeste passa a ser palco da

convivência simultânea entre o moderno e o tradicional, onde os indicadores

econômicos de modernização convivem, pois, numa aparente sintonia com

formas de produção tradicional. (CASTRO, 1996b)

No planejamento implementado pela SUDENE a questão fundiária também

estava presente. A proposta previa implantar relações capitalistas no campo

que primassem por uma economia mais eficiente e integrada. Tal feito torna-se

possível na medida em que, como afirma Cano (2001, p. 116): '' expandir a

oferta de alimentos para apoio à industrialização, incorporar ao mercado o

homem rural (...) ''

Em razão das limitações promovidas pelo mercado e a pressão da

oligarquia regional, a proposta de planejamento executada pela SUDENE não

foi exitosa em sua plenitude. Criou-se uma modernização conservadora7

7 Geopolítica de governo implantada pelas Forção Armadas, a partir de 1964, cuja meta central

era favorecer à modernização acelerada da economia brasileira, através de elevado investimentos e intervenção direta no aparato produtivo nacional. O programa de modernização também executou um projeto territorial fundado no ideário da integração nacional e do Brasil potência. (Becker; Egler, 1996, p. 136)

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1960/1970, que repercutiu na manutenção do abismo entre o Nordeste e o

Centro Sul.

A SUDENE inaugura a adoção de uma orientação planejada das atividades

econômicas, não no sentido de minimização das desigualdades regionais como

foi propagado, mais sim como uma intervenção do Estado sobre as

contradições do processo de reprodução do capital materializado em conflitos

inter-regional. Contudo, é prudente sinalizar que a ação do Estado na verdade

foi um instrumento para a homogeneização do capital, em outras palavras, o

"Estado cria as condições para a expansão do capital através da subordinação

da economia regional a economia nacional e internacional” (...) (OLIVEIRA,

1981, p. 32).

O resultado é contraditório, na medida em que a expansão capitalista na

Região Nordeste criou, como já foi mencionado, uma modernização

conservadora. Esse processo pode ser explicado pela manutenção de uma

estrutura de poder baseada nas relações econômicas do campo. Não é correto

associar o campo ao atraso e a cidade ao seu contrário. A inserção do capital

no campo provocou grandes transformações nas relações sociais e

consequentemente no uso do espaço. Ao camponês resta sujeitar-se ao

domínio do capital, ao império do valor de troca. Não é mais possível submeter-

se aos desígnios da natureza. Neste momento histórico a velocidade da

produção é ditada pelo uso da tecnologia, é expansão do meio técnico-

científico-informacional. (SANTOS, 1991). Nessa perspectiva, Castro (1996b)

chama atenção para a coexistência, que pode ser tanto cooperativa como

conflituosa, entre os atores responsáveis pelo atraso e pela inovação.

Castro (2011, p. 285) afirmar que:

(...) o vetor do atraso estaria no patronato rural, apoiado na grande propriedade e em formas de trabalho coercitiva, como a parceria em suas múltiplas modalidades, remanescente principalmente na Região Nordeste. (...) a modernização seria decorrente de uma base econômica capaz de incorporar amplas camadas da sociedade como mercado e, em

consequência, abrindo espaço para a participação política;

Diante do exposto, a política de planejamento implementada no Brasil a

partir da década de 1950 promoveu uma mudança na estrutura produtiva e

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uma reestruturação do território para atender aos interesses do capital, levando

o país a experimentar, a princípio, um expressivo crescimento econômico.

Na verdade, o planejamento posto em prática no Brasil funcionou muito

mais no sentido de promover a inserção e acumulação do capital em

detrimento do desenvolvimento, como afirma Souza (2008, p. 37):

(...) o Estado em muitos casos, ao invés de diminuir as desigualdades regionais acabou apenas por propiciar uma maior integração de uma região ao modo de produção capitalista, gerando uma falsa ideia de desenvolvimento e progresso(...) o planejamento é entendido como conceito-chave criado pelo sistema capitalista como meio de impor a toda parte o capital internacionalizado.(SOUZA, 2008, p.37)

3.5 Planejamento Territorial no Brasil: limites e avanços

Entende-se políticas públicas territoriais como a ação do Estado dirigida a

intervir sobre o território, o qual caracterizava-se por uma estrutura produtiva

fragmentada, que só começa a ser alterada a partir do século XX, quando

esforços são engendrados para promover a integração do território nacional. É

conveniente elucidar que a estrutura fragmentada mencionada neste texto, não

é uma referência à estrutura territorial denominada por Becker e Egler (1996)

de arquipélago mercantil do século XIX. Na verdade, a estrutura territorial

sinalizada nesta seção do trabalho data do século XX, quando as limitações

impostas pelas precárias condições das vias de circulação existentes no Brasil,

aliada á dinâmica da expansão do modo de produção capitalista brasileiro

repercutiu na existência de estruturas produtivas regionais marcadas pela

desintegração territorial em nível nacional. Esse quadro só vai se alterar a partir

da intervenção planejada do Estado, sobretudo na segunda metade do século

XX.

As políticas para a integração do território nacional corresponderam a uma ação rápida e combinada para, simultaneamente completar a ocupação do território, incorporando o centro oeste e a ilha amazônica; modernizar e expandir a economia nacional articulando-a à internacional; estender o controle do Estado a todas as atividades e a todos os lugares(...) a integração do território foi usada como recurso simbólico para a construção do Grande Brasil ( ...)as políticas

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para a integração do território visaram à remoção dos obstáculos materiais e ideológicos à expansão capitalista moderna. (BECKER, 1996, p.14)

O planejamento territorial em um país com dimensões continentais, 8 514

876 km², requer ações planejada a partir dessa peculiaridade. Primeiro,

admitindo que a formação territorial resulte do processo de acumulação do

capital, onde são criadas especificidades territoriais e que estas não são

estáticas, qualquer tentativa de implementação de planejamento territorial deve

ter como premissa indispensável o caráter dinâmico e flexível, o planejamento

não deve ser um instrumento rígido.

É sobre esse espaço, diversificado, contraditório e dinâmico que políticas

de planejamento territoriais são executadas no país, no final do século XX8.

Nesse período expressivas mudanças de ordem política e econômica

processaram não apenas em nível nacional como também na economia

mundial. A crise do Estado desenvolvimentista brasileiro corresponde à

primeira destas mudanças, cujo papel e estrutura do Estado foram

paulatinamente sendo substituídas por um novo modelo que passa a se

caracterizar pelo controle e regulação da economia e minimização dos gastos

com políticas sociais. Esse processo de adoção de um novo modelo de Estado

ocorre em simultaneidade com as transformações econômicas engendradas

com a globalização da economia mundial. Na verdade, é possível afirmar que a

dinâmica do modo de produção capitalista em seu estágio globalizante

promoveu a reformulação dos Estados nacionais. A partir desse momento a

política de planejamento passa a privilegiar a questão territorial.

O planejamento territorial, portanto, nasce como instrumento de promoção

do desenvolvimento econômico em meio à crise do modelo de Estado; não que

isso signifique o seu fim, como foi defendido por muitos através das teorias que

propagavam a adoção do Estado mínimo.

Já foi mencionado anteriormente, que no período que antecede a década

de 1970, o Estado brasileiro centrava esforços para promover a minimização

dos desigualdades regionais, não que esta postura tenha sido restrita a este

período, contudo, foi uma característica marcante daquela época.

8 As políticas de planejamento que precedem esse período também tratam da questão

territorial, contudo o apelo regional é marcante.

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No Brasil a institucionalização de políticas de planejamento pode ser

analisada a partir de um corte temporal marcado pela mudança do perfil do

Estado. A década de 1970 representa um divisor d’água da ação do Estado

enquanto agente do planejamento. A causa desta mudança foi a crise do

capitalismo, contudo, não é correto afirmar que a crise do petróleo da década

de 1970 foi o grande causador do colapso da economia mundial naquele

período. Uma análise mais detalhada demonstra que no modo de produção

capitalista a essência é a contradição que periodicamente resulta em crises

estruturais; foi o que ocorreu a partir da década de 1970, a inflação o aumento

do desemprego corroeram o índice de lucratividade do capital. Segundo Desai

(2003) as taxas mais declinantes da lucratividade pertenciam aos Estados

Unidos e o Reino Unido que se posicionavam como potências mundiais.

Nos Estados Unidos, em 1960 essas taxas correspondiam a 9,9%

passando para 13,7% em 1965, e 8,7% em 1970. No Reino Unido, as taxas

caíram de 14,2% (1960) para 11,8% (1965) e 8,7% (1970). (DESAI, 2003). A

taxa de desemprego tornou-se expressiva, obrigando o Estado a enveredar

esforços para criar novas vagas, elevando assim os gastos governamentais,

pois, as vagas geradas a partir de cargos públicos não geravam lucros ou mais

valia, pois eram contratos para prestação de serviços. Para Harvey (2005), com

base nas concepções de Marx, trata-se de trabalho não produtivo. Eis uma das

contradições do capitalismo, a contradição entre trabalho produtivo e trabalho

não produtivo.

A contradição entre trabalho produtivo e não produtivo é inerente ao antagonismo fundamental entre os interesses do capital e os do trabalho e, como tal, insuperável. Ela emerge em primeiro lugar do caráter explorados do próprio processo de trabalho capitalista e da necessidade de encontrar uma forma de controle adequada à sua perpetuação. (MÉSZÁROS, 2002, p. 617)

(...) o objetivo de uma economia era a criação de riqueza expansão das forças produtivas e a acumulação do capital, diria Marx. Assim, quanto mais essa riqueza se concentrasse nos comerciantes e nos industriais que estavam inclinados a investir em atividades produtivas, e quanto menos ela fluísse para a presença de parasitas, melhor para o processo de acumulação (...). (DESAI, 2003, p.337).

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A crise da década de 1970 também teve suas raízes na luta de classe

inerente à divisão social do trabalho, onde a classe burguesa tem como

principal objetivo o aumento da mais valia. A contradição materializa-se em

ondas de greve, luta entre sindicatos e governos por elevação dos salários.

O capitalismo estava em crise. O antigo entendimento entre os sindicatos, as corporações e os governos entravam em colapso... A militância dos trabalhadores tinha sido estimulada pela espiral inflacionária e o peso cada vez maior dos tributos: havia uma revolta contra os impostos, assim como contra os baixos salários. (DESAI, 2003, p.345).

É neste contexto que o paradigma keynesiano passa a ser questionado e

os ideais neoliberais promovem uma mudança significativa na postura do

Estado que paulatinamente abandona a prática intervencionista na década de

1980. No Reino Unido, por exemplo, a adoção do neoliberalismo no governo

Margareth Thatcher (1979 a 1990) levou ao abandono da proposta keynesiana,

que seria aumentar os gastos governamentais para diminuir o desemprego

optando por financiar o déficit através de empréstimos ao mercado financeiro.

A política implantada no primeiro triênio da década de 1980 no Estado Inglês

caracterizou-se pela elevação de impostos e pela aprovação de legislação que

enfraquece direitos trabalhistas e inicia a privatização de empresas estatais. A

reação da sociedade foi um movimento de resistência à nova postura do

Estado que começava a abandonar a política de bem-estar social.

O Reino Unido foi pioneiro na ruptura de padrões e paradigmas político e

econômico referenciado no Consenso de Washington9 O padrão de

acumulação do capital baseado até então no modelo taylorista e fordista não

mais respondia a realidade

Há uma concordância geral de que a mudança tem a ver com as dificuldades enfrentadas pelas economias capitalistas a partir da recessão de 1973. A desindustrialização, o desemprego disseminando e aparentemente estrutural, a austeridade fiscal ao nível tanto nacional quanto local, tudo isso ligado a uma tendência ascendente do neoconservadorismo e

9 O Consenso de Washington define recomendações econômicas com vias a instrumentalizar

ações que possibilitasse a adoção de ideais neoliberais na América Latina. Essas recomendações foram elaboradas em 1989 durante um encontro de economistas e funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI) organizado pelo Institute for International Economics, entidade de caráter privado sediada em Washington (CHESNAIS, 1996)

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a um apelo muito mais forte (ainda que muito mais frequentemente, na teoria do que na prática) à racionalidade do mercado (...) (HARVEY, 2005, p. 168).

No Brasil, as mudanças engendradas pela reestruturação do modo de

produção capitalista, ocorrem em paralelo com a adoção de uma nova posição

nacional frente à economia do mundo, onde o país emerge como uma potência

regional graças à expressividade de seu mercado interno. A esse fato, deve-se

atribuir a responsabilidade da política implantada durante o governo militar que

institucionalizou as condições necessárias à modernização nacional através do

projeto geopolítico de modernidade. Contudo, não se deve menosprezar a ação

política que antecede este período como também promotores desta posição

alcançada pela economia nacional. (Becker, 1996, p. 123)

A Ditadura Militar (1964-1985) sacramentou de forma muito mais veloz um

processo de estatização da infraestrutura econômica do país. O Golpe Militar

que se instalou a partir de 1964 representou um ponto de ruptura na história

política e econômica ao promover mudanças institucionais profundas que

afetaram toda a nação. Foram mudanças que permitiram a criação de

condições políticas e institucionais para um novo ciclo de acumulação

econômica capitalista no Brasil sob a liderança do capital monopolista. A partir

das estruturas políticas por ele constituídas se iniciou um novo processo de

modernização em bases conservadoras

O projeto de modernização instaurado sob gerência militar também tinha

como meta a integração do território nacional, através da incorporação do

centro-oeste do país e da região amazônica como premissa para adequar a

estrutura territorial ao processo de industrialização. Na verdade, tal atitude visa

à reprodução ampliada do capital, para tanto, o espaço não deve ser um

obstáculo, mas sim uma vantagem, ou seja, a incorporação de novos espaços

deve significar maiores potencialidades para a acumulação do capital.

Após esse período, as atenções são redirecionadas para ações que

possibilitem o crescimento econômico nacional. Todavia, a crise estrutural do

capital colocou em xeque os interesses da nação. A vitória do neoliberalismo

promoveu uma verdadeira restruturação dos Estados nacionais, calcada nas

críticas ao Estado de Bem-Estar Social. Sob influência neoliberal, o Estado

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nacional implementou a liberalização comercial e uma forte política de

privatização e ajustes fiscais.

Nesse contexto, os países centrais promoveram expressiva proteção

econômica aliada à minimização do aparelho do Estado, atitude esta que

repercutiu em economias dependentes como a brasileira.

(...) após um período de forte crescimento econômico e modernização da estrutura produtiva da economia brasileira, até meados dos anos 70, o país passou a enfrentar na década seguinte um período de sérias dificuldades fiscais e financeiras que desencadearam a crise do modelo desenvolvimentista. Como resultado, as instituições de planejamento e execução de políticas de desenvolvimento (...) perdem a sua capacidade de formulação e intervenção, tornando os órgãos incapacitados para o exercício da função para o qual foram criados. (SILVA, 1990, p.16)

A crise estrutural do capital promoveu uma ruptura de paradigma,

consequentemente, os Estados nacionais também modificaram sua relação

com o mercado, e por prolongamento com a sociedade. Nessa perspectiva, as

políticas territoriais implementadas no Brasil também passaram por

modificações, como a valorização do território como unidade de planejamento.

No Brasil, a importância do território enquanto categoria basilar para a

execução de políticas públicas pode ser identificada no Plano Nacional de

Desenvolvimento I 1971 a 1974, Plano Nacional de Desenvolvimento II 1972-

1975 e Plano Nacional de Desenvolvimento III, 1979 a 1985 (CARGININ,

2007).

No período de 1968 a 1973 o Brasil apresentou um vigoroso crescimento

econômico interrompido em 1974 com a crise do petróleo, ou mais

precisamente, a crise estrutural do capital. As estratégias econômicas

fundamentadas no keynesianismo não mais conseguiam responder aos

problemas econômicos brasileiros. Como resultado desta incapacidade, um

novo arcabouço teórico começa a ganhar espaço no cenário econômico

nacional, o neoliberalismo.

Segundo Figueiras (2006, p.195)

(...) a retirada do Estado de setores estratégicos da atividade econômica, juntamente com o agravamento de sua fragilidade

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financeira, a redução de sua capacidade de investimento e a perda de autonomia da política econômica, enfraqueceu lhe a possibilidade de planejar, regular e induzir o sistema econômico. O crescimento acelerado da dívida pública – com encargos financeiros elevadíssimos –, juntamente com a livre mobilidade dos fluxos de capitais, é parte central da subordinação da política macroeconômica aos interesses do capital financeiro, ao mesmo tempo em que redefiniu a presença dos interesses das distintas classes e frações de classe no interior do Estado.

É neste contexto que é institucionalizado o Plano Nacional de

Desenvolvimento (PNDS), todavia até o III Plano Nacional de Desenvolvimento

1979 à 1985 os principais instrumentos de planejamento eram meras

formalidades institucionais.

O I PND, com vigência de 1971 a 1974 propunha a modernização agrícola,

a expansão da fronteira agrícola e avanço tecnológico como estratégias para

promover o crescimento econômico do país, ou em outras palavras, promover

a expansão do sistema capitalista no Brasil.

Dois processos da década de 1970 foram marcantes na elaboração do II

PND 1972-1975, a crise do petróleo e a eclosão de pressões sociais e

políticas. (SOUZA, 2008, p.51). O resultado foi a adoção de medidas que

primavam pela diversificação da matriz energética bem como a expansão do

meio técnico científico para outras regiões fora do núcleo central.

A estrutura de arquipélago10 não mais existe em razão da qualificação do

sistema de engenharia de transporte e comunicação, as condições de fluidez

do território tornaram-se mais eficazes e as economias regionais assumem

uma posição de complementaridade da economia nacional.

É neste contexto que os ideais neoliberais lançam a base para a

reformulação do perfil do Estado nacional que abandona progressivamente o

modelo desenvolvimentista, inaugurado sob o regime militar. A Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 celebra a mudança de um regime

autoritário para um regime democrático.

10 Para Becker e Egler (1996) trata-se de uma estrutura espacial marcada pela presença de

regiões mercantis que drenavam, via grandes cidades portuárias, mercadorias para o mercado mundial. Enquanto para Oliveira (1981) essa estrutura representa a subordinação de parcelas do território brasileiro, seja durante o período colonial ou após sua independência, aos centros do capitalismo mercantilista e por prolongamento imperialista.

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Do ponto de vista de política de planejamento a Constituição de 1988

regulamenta a obrigatoriedade dos Planos Plurianuais (PPAs) como

instrumento balizador do planejamento. Em caso de não cumprimento da

regulamentação, ficava o então presidente proibido de cumprir o seu mandato.

O primeiro PPA foi elaborado apenas como exigência constitucional. Na

prática, foi a partir de 1996 que este instrumento de planejamento passa

efetivamente a cumprir seu papel.

É a partir de 1996 que os Planos Plurianuais passam não só a se constituir no principal elemento organizador da ação governamental, mas também apresentar os grandes objetivos e delineamentos estratégicos a serem desenvolvidos para cada período de quatro anos. (LESSA, 2009, p. 88)

O PPA do final do século XX, bem como os primeiros PPAs do século XXI

tiveram como princípio norteador a abertura econômica, a modernização da

estrutura produtiva, a construção de um Estado eficiente e moderno. Entretanto

o tão almejado desenvolvimento não aconteceu e as desigualdades territoriais

foram acirradas. Lambert (1971) sinaliza que o ritmo diferenciado do

desenvolvimento criou uma sociedade dualista onde contrasta um dinamismo

econômico em contraponto com pobreza.

Os brasileiros estão divididos em dois sistemas de organização econômica e social, diferentes nos níveis como nos métodos de vida. Essas duas sociedades não evoluíram no mesmo ritmo e não atingiram a mesma fase (...) não constituem duas civilizações diversas, mas sim, uma em face da outra, duas

épocas da mesma civilização. (Lambert 1971 p. 106).

Como estratégia de desenvolvimento foi elaborada, na segunda metade da

década de 1990 uma proposta organizada em Eixos Nacionais de Integração e

Desenvolvimento (ENID)11, executados através do PPA 1996/1999 sob o

mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Nessa proposta o território brasileiro foi desmembrado em nove Eixos e

suas respectivas áreas de influências. Os Eixos foram delimitados a partir da

concepção de região polarizada. Para tanto, foram identificadas as

11 Eixo é um recorte espacial composto por unidades territoriais contíguas.

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potencialidades econômicas em cada porção territorial através do relatório

técnico intitulado Identificação de Oportunidade de Investimentos Público e/ou

Privado. Os eixos foram elaborados com o propósito de reduzir as

desigualdades regionais e fortalecer o sistema de transporte favorecendo

assim a integração nacional. São eles: Eixo Rede Sudeste, Eixo Sudoeste,

Eixo Sul, Eixo Transnordestino, Eixo São Francisco, Eixo Oeste, Eixo Araguaia-

Tocantins, Eixo Madeira- Amazonas e Eixo Arco Norte. (FIGURA 3)

FIGURA 3 –EIXOS NACIONAIS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

O ENID foi elaborado pelo consórcio de empresas transnacionais

denominado de Consórcio Brasiliana, no qual participavam as empresas Booz

Allen & Hamilton, Bachel Internacional e ABN Amro Bank, todas com ampla

experiência internacional (FREITAS, 2012)

Fonte: Consórcio Brasiliana. Relatório preliminar, 1988.

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Os estudos elaborados pelo Consórcio Brasiliana representam um marco

para as práticas de planejamento, em razão da retomada da abordagem

territorial, bem como pela sinalização de estratégias de integração regional, via

infraestrutura de transportes sem, contudo, diminuir o fosso, entre as regiões.

Esse quadro pode ser explicado, dentre outros fatores, pela adoção de

práticas de planejamento setorial. Na visão de Perico (2008, p. 30) “o

desenvolvimento é por essência multisetorial. É por isso que as estratégias que

procuram alcançá-lo estão obrigadas a superar os objetivos setoriais." Essa é a

perspectiva do planejamento referenciado na proposta de Ordenamento

territorial.

3.6 Território e Ordenamento Territorial no Brasil

Novas práticas de planejamento são instauradas no Brasil, e nestas, as

principais características de distinção com os planejamentos anteriores

correspondem ao seu caráter multisetorial e a participação da sociedade. É

nesta perspectiva que a reflexão sobre ordenamento territorial vai aparecer sob

a consolidação do Estado neoliberal.

Ordenar significa interferir em uma determinada organização, é uma ação

que traz em si uma postura ideológica na medida em que impõe uma nova

reestruturação em detrimento de uma estrutura pré-existente. Nesse processo

os sujeitos envolvidos travam uma disputa ideológica para impor ao outro a sua

concepção de ordem. Não é pretensão enveredar sobre a reflexão do

significado da palavra ordem, contudo admite-se que não é correto defini-la

como antítese da desordem.

Neste estudo admite-se que ordenar é estabelecer uma determinada

organização de acordo com os interesses de quem executa o ato. Sendo

assim, o ordenamento territorial é entendido como uma regulamentação do

território em meio às tensões da sociedade materializado como reflexo da

relação sociedade-espaço (SOARES, 2009, p 82).

Essa prática de planejamento com base no ordenamento territorial foi

referenciada a partir da Carta de Europeia de Ordenamento Territorial em

1984. Segundo esse documento, os objetivos do ordenamento territorial

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permitem alcançar simultaneamente o desenvolvimento socioeconômico

equilibrado das regiões, melhoria da qualidade de vida, uma gestão

responsável dos recursos naturais e a proteção do ambiente, bem como uma

utilização racional do território. Para tanto, faz-se necessário coordenação e

cooperação entre os diferentes níveis de decisão e obtenção de recursos

financeiros para execução do planejamento. A participação da sociedade neste

processo é fundamental.

Toda a política de ordenamento do território, qualquer que seja o seu nível, deve ser baseada na participação ativa do cidadão. É, assim, indispensável que eles sejam informados, de forma clara e de maneira compreensível, em todas as fases do processo de planejamento das estruturas e procedimentos institucionais. (DGOT, 1988, P.13)

O documento prevê a participação popular em todo o processo de

planejamento, desde a sua elaboração até a execução, sendo assim, as

decisões devem ser engendradas em conjunto com a sociedade.

A participação da sociedade nas diferentes etapas de elaboração,

coordenação e implementação do planejamento é uma característica das

práticas de planejamento a partir das últimas décadas do século passado.

A base geográfica para execução dessas práticas é o território. No Brasil o

uso do conceito de território como instrumento para implantação de políticas

públicas é algo das últimas décadas, particularmente da década de 1990,

quando de forma pioneira foi criado o Conselho Regional de Desenvolvimento

(COREDES), no Rio Grande do Sul. Contudo, desde a Constituição Federal de

1988 o ordenamento territorial já estava previsto como competência da União

no Artigo 21º Inciso IX (...). “Elaborar e executar planos nacionais e regionais

de ordenação do território e do desenvolvimento econômico e social.” (Art. 21,

IX, CF/88).

O território adquire grande importância na agenda governamental, o que foi

demonstrado através da institucionalização, em 1999, do Ministério da

Integração Nacional (MIN). Este Ministério passa a ser responsável através da

Lei Nº 10683 de 28 de maio de 2003, em elaborar as diretrizes que nortearão a

gestão territorial.

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Em 2000, o MIN elaborou o documento Base para as Políticas de Integração Nacional e desenvolvimento Regional, o qual propunha uma série de objetivos amplos para a gestão do território, tais como: promover a competitividade sistêmica; mobilizar o potencial endógeno de desenvolvimento das regiões; fortalecer a coesão econômica e social; promover o desenvolvimento sustentável; e fortalecer a integração (...) (SILVA, 1990, p.29)

Como proposta para enfrentar esse desafio foi apresentada pelo MIN em

2006 os subsídios para elaboração da Proposta da Política Nacional de

Ordenamento Territorial (PNOT) elaborada a partir do modelo de planejamento

europeu prescrito no documento Carta Europeia de Ordenamento Territorial,

onde ordenar é: ''simultaneamente, uma técnica administrativa e um política

interdisciplinar e integrada tendente ao desenvolvimento equilibrado das

regiões e a organização física do espaço segundo uma estratégia de conjunto

( DGOT, 1988, p.9)

A dificuldade enfrentada pelo MIN corresponde à diversidade territorial

brasileira e à grande extensão do país. Somam-se a esse quadro as

congruências produzidas pelo processo de inserção do capitalismo, onde a

reprodução e acumulação do capital tende a criar ou acirrar as desigualdades

no território.

A PNOT nasce em um contexto de mudanças de paradigma da política

territorial no Brasil em consequência da crise do Estado Desenvolvimentista,

acrescenta-se a este cenário as transformações econômicas engendradas pelo

processo de globalização, como exemplo o fim do padrão tecnológico

dominante, a falência do planejamento centralizador e associação ao ideário

político neoliberal. (RÜCKERT, 2007).

Algumas reflexões devem ser feitas em relação à PNOT. A primeira delas

foi mencionada na abertura deste tópico: o que significa ordenar? Para Rücker

(2007) o termo propõe:

(...) regular ou organizar o uso, ocupação e transformação do território com fins de seu aproveitamento ótimo. Tal aproveitamento se associa, geralmente, com o uso sustentável dos recursos naturais (planificação físico ambiental) em estreita correspondência com padrões adequados de assentamentos e de atividades econômicas. (RÜCKERT, 2005, p. 35).

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A imprecisão se estende na definição dos objetivos dessa política

nacional, que a princípio, adota os objetivos previstos no documento europeu,

são eles: a) o desenvolvimento socioeconômico equilibrado das regiões; b)

melhoria da qualidade de vida; c) gestão responsável dos recursos naturais e a

proteção do meio ambiente; d) utilização racional do território. (RÜCKERT,

2005).

A abordagem regional ainda está presente no planejamento territorial

proposto na PNOT, na medida em que sua principal meta é atuar sobre os

desníveis de crescimento das economias regionais.

A busca pela equidade corresponde à maior problemática da PNOT, nela

incidem as mais fortes críticas. Em uma sociedade capitalista, onde a

existência da diferenciação é a característica predominante deste modo de

produção, logo, torna-se um equívoco pensar em uma correção dos desníveis

regionais.

Outra fragilidade da nova política territorial brasileira é apontada por

Rückert (2007, p. 11).

Uma das polêmicas instauradas no interior do grupo de discussão sobre a PNOT diz respeito ao tipo de desenvolvimento a ser estimulado para as regiões periféricas. Numa leitura que chamaríamos de naturalização ou espontaneismo do mercado, as regiões periféricas mais próximas do núcleo dinâmico da economia brasileira (o triângulo São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte) deveriam ser estimuladas a atrair aqueles segmentos industriais tradicionais tornados desinteressantes no centro (as chamadas deseconomias de escala), enquanto que para as regiões periféricas mais afastadas o desenvolvimento deveria priorizar a expansão do agronegócio e do extrativismo mineral. (grifo do autor).

Para o autor, existem expressivas limitações do modelo de

desenvolvimento proposto pela PNOT para as regiões que extrapolam os

limites do centro econômico do país.

A PNOT traz, com um caráter inovador, a proposta da participação popular,

ou seja, o planejamento não deve ser elaborado unilateralmente. A sociedade

civil organizada participa desse processo, como afirma Perico (2008, p. 37).

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(...) tem se estabelecido estratégias de participação referida ao processo de planejamento, de autogestão e de controle social como expressão da democracia participativa. Muitas estruturas legislativas se sucedem na busca de organizar a participação. O traço dominante nessas estruturas é a rede de colegiados que tem a função consultiva de planejamento ou de co-gestão das responsabilidades governamentais (...)

Nessa perspectiva, o ordenamento territorial está edificado em um tripé

sociedade civil organizada, Estado e Capital, onde a capacidade de imposição

do capital é maior, ou seja, existe um embate de forças entre a sociedade e o

capital. Nesse conflito, o Estado assume o papel de moderador, pois este

"perpétua a divisão da sociedade em classe, mas também o direito da classe

possuidora explorar a não possuidora, bem como o domínio da primeira sobre

a segunda (...)" (ENGLES, 1991, p.119). Nesse confronto estão os interesses

do capital que sempre subordinam os interesses da sociedade.

A participação social no processo de planejamento é vista por muitos como

mais uma manobra do Estado que se exime da responsabilidade de êxito dos

planejamentos delegando à sociedade essa tarefa.

A política territorial, prevista na Constituição de 1988 e iniciada em 2003 no

Brasil, é alvo de críticas quanto à sua eficiência para reverter o descompasso

do crescimento econômico entre as diferentes poções territoriais do país. As

críticas também rebatem na dificuldade de sua implantação.

Cabe aqui registrar o retardamento das ações governamentais no que tange ao envio do previsto projeto de lei ao Congresso Nacional, o que está em flagrante descompasso com a conjuntura internacional no que diz respeito às diversas experiências avançadas de ordenamento territorial. O país encontra-se, assim, em defasagem flagrante mesmo quando comparado a algumas experiências na América do Sul, como é o caso da Venezuela que detém uma experiência que remonta a 1976. Assim, o processo de construção da PNOT encontra-se não apenas em atraso, mas em descompasso com os principais debates das políticas territoriais contemporâneas no cenário internacional. (RÜCKERT, 2007, p.14).

Após quase 15 anos iniciados os trabalhos para elaborar as diretrizes da

gestão territorial no Brasil, através do Ministério de Integração Nacional via Lei

Nº 10.683, a PNOT ainda não significou resultados expressivos.

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4 PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO NA BAHIA

A Bahia é pioneira quanto à prática de planejamento, tendo como

referência o Instituto do Cacau, fundado em 1933, bem como o Instituto Baiano

de Fumo em 1935, que representam uma das primeiras iniciativas de

estruturas institucionais de fomento à política de planejamento nacional, ambos

fundados em meio à crise dessas culturas, as quais repercutiam negativamente

na estrutura econômica estadual. O planejamento era visto como via possível

para minimizar os problemas econômicos estaduais, enquanto a economia

baiana e o caráter agroexportador da primeira metade do século XX definiam o

papel econômico enquanto unidade federativa no cenário nacional. (SOUZA,

2008)

O período entre 1930 e 1950 caracteriza-se pela consolidação do processo

de industrialização do país, centralizado a princípio na indústria têxtil e anos

mais tarde na indústria de base, cujo processo foi marcado pela hegemonia do

Sudeste, e pela adoção de estratégias de integração nacional como premissa

para a constituição de um mercado interno. Nesse processo, a Bahia gerava

receitas e divisas que eram direcionadas para o Centro-Sul. A estrutura

econômica da Bahia estava assentada numa base agroexportadora um

expressivo atraso técnico, o que lhe criava vulnerabilidade aos condicionantes

externos.

Em 1959 foi criada a Comissão de Planejamento Econômico (CPE),

coordenada por Rômulo Almeida12, e o Conselho de Desenvolvimento

Econômico da Bahia (CONDEB). Nascia a primeira tentativa de planejamento

econômico no Estado. (VIEIRA, 2006, p.73)

A CPE e o CONDEB deveriam elaborar um diagnóstico e apontar as

diretrizes da ação governamental com o intuito de favorecer a estabilidade e

desenvolvimento econômico do Estado. Para tanto, propunha-se uma reforma

cambial e um programa quinquenal de investimento de Cr$5,06 trilhões de

cruzeiros, moeda corrente à época, para o período de 1956 a 1960. (SOUZA,

2008, p.67).

12 Romulo Almeida, considerado por muitos o maior economista baiano, foi pioneiro no

planejamento ocupando importantes cargos públicos. Foi responsável direto por estratégias de planejamento no segundo governo Vargas. (SANTANA, 2002).

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Como o aporte financeiro seria originário da União, a proposta apresentada

pelo então governador Antônio Balbino, através da CPE e da CONDEB, não

logrou êxito. O sucessor ao governo do Estado, Juracy Magalhães (1959-

1963) instituiu o Plano de Desenvolvimento para a Bahia (PLANDEB) com

vigência para o período de 1960 a 1963. As diretrizes do PLANDEB previam a

garantia de emprego da população, aproveitamento das potencialidades

apresentadas pelos recursos naturais e antrópicos, bem como a valorização

salarial (VIEIRA, 2006, p 76).

O problema da seca, de acordo com a proposta deste plano, seria

combatido através de uma reorganização da economia agrícola, via

investimentos do Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial da Bahia

(FUNDAGRO) e implementação de um programa permanente de reserva de

água, adoção de cultivo de culturas permanentes, bem como a execução de

estratégias econômicas que garantiam a renda no período de seca.

A proposta do PLANDEB significaria uma melhoria das condições

econômicas da população comprometendo, desta forma a hegemonia das

oligarquias clientelistas. Por esta razão, a sua aprovação na Assembleia

Legislativa foi protelada. Além da resistência política quanto à proposta, o

PLANDEB também enfrentou dificuldades de ordem nacional, pois os episódios

que resultaram na renúncia de Jânio Quadros em 1961 consequentemente

originou uma reestruturação política.

Entretanto, muitas de suas indicações foram executadas no governo de

Juracy Magalhães e seus sucessores, a exemplo o FUNDAGRO que deu

origem ao Banco do Estado da Bahia (BANEB) e o Banco de Desenvolvimento

do Estado da Bahia (DESENBANCO), criado em 1966.

A industrialização também foi contemplada pelo PLANDEB via adoção de

um modelo de industrialização integrada ao desenvolvimento do Centro–Sul

através da produção de bens intermediários. Nesse contexto são criados:

Centro Industrial de Aratu (CIA), em 1967, Centro Industrial Subaé, em 1970, a

Usina Siderúrgica da Bahia (USIBA), em 1973 e o Complexo Petroquímico de

Camaçari (COPEC), em 1978 (VIEIRA, 2006, p 76.)

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4.1 Bahia formação territorial e regionalização

Essa seção traz uma reflexão sobre as diferentes regionalizações do

território baiano. A proposta é apresentar como o Estado organiza o território

com vistas a implementar políticas públicas e planejamento e como esse

processo interfere na execução dessas ações.

A regionalização é aqui considerada como recortes territoriais

fundamentados na diversidade, que significa afirmar que, esta é a base para

qualquer proposta de regionalização. (HAESBAERT, 1999). Assim sendo, faz-

se necessário identificar como a diferença territorial se impõe, não apenas

como produto da divisão territorial do trabalho, mas também como aquela

resultante de uma construção intelectual alicerçada na identidade territorial com

ênfase ao espaço vivido. Nessa perspectiva, a diversidade territorial pode

resultar de dois processos distintos, nem por isso excludentes, ela é produto da

funcionalidade de cada unidade territorial, imposta pela própria dinâmica do

modo de produção capitalista, ou ainda, ela pode resultar da produção

diferenciada das singularidades, da vivência do espaço, logo da identificação

com esse espaço.

Regionalizar não é simplesmente recortar o espaço a partir de parâmetros genéricos, quantitativos, diferenças de grau como faixas de renda, produto interno bruto, fluxos comerciais etc. Deve envolver, igualmente, as diferenças de natureza como aquelas de ordem mais estritamente cultural. Partiremos então do pressuposto de que a diversidade territorial, enquanto fundamento para a regionalização em seu sentido mais geral se manifesta sob duas grandes formas: a produção de particularidades, do desigual (diferenças de grau), que vincula os espaços em distintas escalas; e a produção de singularidades, do específico (diferenças de natureza), em geral mas não exclusivamente de base local e sem correlação obrigatória com realidades geográficas em outras escalas. (HAESBAERT,1999, p.24)

Segundo o autor, a diferença territorial resulta de dois processos,

ou ela é produto da construção de uma identidade territorial, ou resulta do

desenvolvimento desigual do modo de produção capitalista. Nessa perspectiva,

qualquer território pode ser regionalizado, dependendo dos objetivos definidos

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para essa prática. Consequentemente, observa-se uma infinidade de recortes

territoriais, logo, de regionalizações.

É a partir desses recortes territoriais que o Estado executa políticas de

planejamento, todavia a sobreposição de diferentes unidades territorias torna-

se um problema para a eficiência da política pública estatal. Na Bahia essa

problemática é uma realidade, na medida em que é possível identificar o uso

de diferentes recortes territoriais na ação do poder público, como por exemplo,

Regiões Administrativas, Território de Identidade, dentre outros. Entender cada

uma dessas regionalizações perpassa pela compreensão do processo de

constituição do território baiano.

A formação territorial da Bahia data do período da colonização, a partir da

ocupação do espaço até então, habitado pelos índios. A população que nessas

terras habitavam dispunha de uma estrutura social e cultural completamente

diferente de seus colonizadores, razão pela qual se criou um estereótipo

equivocado, de selvagens.

Esse processo de ocupação foi marcado pela lentidão e pela resistência

indígena à dominação lusitana, resistência materializada nos diversos ataques

aos núcleos de povoamento que se instalaram ao longo do litoral, ainda no

século XVI. Esse quadro vai mudar a partir da presença dos missionários

jesuítas, cujo propósito foi transmitir os conhecimentos do cristianismo e

converter os índios a essa doutrina religiosa. Na realidade, a ação dos jesuítas,

promoveu a pacificação indígena favorecendo assim, a ocupação territorial.

Como afirma Santos (2014, p. 31) “A conversão dos povos nativos das

diferentes partes do império ultramarino foi um elemento fundamental e

indispensável para o expansionismo lusitano”. De fato, o papel dos

missionários representou o elemento mediador na relação dos portugueses

com a população nativa.

Não se pretende com esse relato fazer uma abordagem antropológica da

formação territorial da Bahia, entretanto, não é possível menosprezar a

importância dos jesuítas para a constituição desta porção territorial, em razão

de lhe ter sido atribuída a responsabilidade de fundadores dos primeiros

núcleos de povoamento, as aldeias. Nestas, o poder exercido pelos jesuítas

estava além das questões espirituais, pois muitos dos missionários atuavam

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como administradores, juízes, dentre outras atribuições hegemônicas dentro da

rotina das aldeias, poder que perdurou desde 1549 até 1758 quando as antigas

aldeias indígenas foram elevadas à categoria de vilas.

Quando a Companhia de Jesus13desembarcou no Brasil, em 1549, as

terras pertencentes à coroa portuguesa haviam sido desmembradas em 12

Capitanias Hereditárias14 e doadas para portugueses que deveriam aventurar-

se no empreendimento de promover a sua colonização. Dadas as limitações

impostas pela natureza, as dificuldades financeiras enfrentadas pelos

donatários e os constantes ataques indígenas, o projeto de colonização tornou-

se um fracasso, exceto as capitanias de Pernambuco e São Vicente.

O território sobre o qual está hoje localizada a Bahia estava estruturado em

cinco capitanias, Porto Seguro, Bahia de Todos os Santos, São Jorge de

Ilhéus, Paraguaçu e Itaparica, essas duas últimas elevadas à condição de

capitania em 1556 e 1558, respectivamente. (SEI, 2001)

Como atribuições dos donatários, as vilas foram erigidas no século XVI

para sediar as capitanias e transformaram-se no ponto de partida para a

evolução territorial e administrativa da Bahia. Correspondem assim, aos

municípios originais, para os quais não há nenhum registro que evidencie

relação de cunho territorial ou administrativa com outra unidade territorial além

da própria capitania. São considerados municípios originais Porto Seguro, São

Jorge de Ilhéus e Salvador, esta última nasce por uma determinação do então

governador geral Tomé de Souza com a função de capital do poder colonial.

Nesse período, final do século XVI, o processo de ocupação estava restrito

à sede das capitanias e às poucas vilas fundadas até então, a grande parte

delas nas margens dos rios. A porção litorânea ao sul do território, que se

estende onde atualmente localizam-se os municípios de Valença até Porto

Seguro, caracterizava-se pelo baixo índice de ocupação em razão da

resistência indígena.

O século XVII é marcado pela conquista do chamado sertão através das

expedições dos bandeirantes que partiam da Capitania de Minas Gerais e da

13 Ordem religiosa com fins pastorais cujo objetivo era propagar a fé cristã, convertendo os

infiéis e punindo os hereges (EISENBERG, 2000) 14 Grandes porções de terras concedidas aos portugueses, os quais deveriam direcionar

recursos próprios para colonizá-las. Este foi o modelo de ocupação adotado pela coroa portuguesa para evitar possíveis invasões estrangeiras.

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Capitania Bahia de Todos os Santos. Em ambas as frentes de expansão

territorial o rio São Francisco foi usado como norteador. Segundo a SEI (2001)

nessa empreitada foram incorporadas as terras pertencentes à capitania de

Pernambuco às margens esquerdas do rio Traipu e Pajeú. Nesse mesmo

período foram criadas as vilas de Nossa senhora da Ajuda de Jaguaripe

(1697), Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira (1698) e São

Francisco da Barra do Sergipe do Conde (1698)

No início do século XVIII as explorações bandeirantes encontraram ouro

atraindo um grande fluxo populacional para o interior, o que originou a vila de

Santo Antônio de Jacobina. Nesse mesmo período, o então conhecido Sertão

de Rodelas foi anexado à capitania de Pernambuco e a comarca do Rio São

Francisco, até então pertencente à capitania Sertão de Pernambuco, foi

desmembrada sendo parte anexada a Sergipe e outra parte à Bahia. (SEI,

2001)

Já foram sinalizadas anteriormente as razões que levaram ao colapso do

sistema de capitanias hereditárias. O resultado foi que, no final do século XVIII,

os territórios pertencentes às capitanias de Porto Seguro, São Jorge de Ilhéus,

Paraguaçu e Itaparica foram anexados pela Capitania de Todos os Santos, a

qual passa a ser denominada de Capitania da Bahia e estava estruturada em

quatro comarcas: Bahia, Recôncavo, Sertão de Baixo e Sertão de Cima. (SEI,

2001) A comarca do Recôncavo vivenciou grande florescência comercial em

razão da cultura de fumo e cana-de-açúcar.

Apesar do insucesso do sistema de capitanias, o processo de ocupação

continua e a expansão territorial intensifica-se para o interior, o chamado

sertão, bem como na direção norte e sul. Ao norte da Capitania da Bahia foi

criada a Comarca de Itapicuru, composta por Jeremoabo, Nova Soure e Vila do

Pombal. Nessa mesma direção surgiu a vila São Francisco das Chagas do Rio

Grande, oriunda de aldeamento criado pelos Jesuítas.

Ao iniciar o século XIX, o processo de expansão territorial havia criado

uma configuração muito próxima da atualidade. A Bahia era composta por 41

vilas, sendo que a pecuária teve uma importante participação na construção

deste território criando várias vilas como Correntina, Santa Maria da Vitória,

Santana, Santa Rita do Rio Preto, dentre outras. Muitas destas vilas foram

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elevadas á condição de município em 1827. Ao final deste século o número de

municípios na Bahia perfazia um total de 121 municípios.

Ainda no século XIX, um novo impulso para a expansão territorial baiana

foi iniciado a partir da construção das ferrovias que desbravavam o sertão. Em

1850, foi inaugurada a linha férrea que partia de Salvador em direção a Senhor

do Bonfim e Iaçu. A construção das ferrovias baianas, apoiada na circulação de

fluxos herdada do período colonial, significou uma verdadeira mudança no

sistema de engenharia que tem como consequência transformações técnica no

território (SANTOS, 2001). Paralelo a esse processo, a cultura cacaueira

também lançava as suas bases para acelerar a ocupação da zona costeira em

direção ao sul do estado. Na verdade a cultura do cacau, iniciada no século

XVIII, promoveu a inserção desta porção territorial no modelo econômico

agroexportador, sendo responsável também pela construção de uma estrutura

social caracterizada pela presença de agentes hegemônicos que exerceram,

durante muito tempo, seu poder sobre toda a sociedade regional. Esses

agentes ficaram conhecidos como coronéis do cacau e acumularam riqueza via

exploração do pequeno produtor rural, como afirma Garcez (1981, p.29).

O pequeno proprietário, incapaz de capitalizar-se para atender à sua sobrevivência, e impossibilitado de recorrer ao credito oficial, uma vez que não dispunha de título legal da propriedade, era sempre conduzido a valer-se do financiamento usurário oferecido pelo comerciante e/ou pelo produtor mais forte. Com isso, vendendo barato o seu produto e pagando juros altos, quase sempre acabava por perder as terras que ocupara (...)

A autora chama atenção para os resultados da adoção de um modelo

econômico baseado na acumulação do capital via expropriação do homem pelo

homem. Contudo, essa prática não foi exclusiva desta porção territorial.

A cultura cacaueira foi um veículo para a ocupação da porção sudeste do

litoral baiano, entretanto, seria um equívoco delimitá-la como único mecanismo

de povoamento. As rodovias BR 101 e BR 116, paralelas à faixa litorânea,

também exerceram importante papel na atual configuração territorial do estado.

A Lei 1227 de dezembro de 1917 pode ser considerada o marco para a

organização do sistema rodoviário baiano, onde a principal meta era promover

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uma melhor comunicação entre as zonas produtivas através da interconexão

com outros sistemas de transporte. Fato que não se materializou, pois o

transporte rodoviário subjugou o sistema ferroviário. Contudo, dois aspectos

podem ser considerados como reflexo da ampliação das estradas de rodagem

na Bahia, o primeiro refere-se à sua inquestionável conexão com a rede federal

de rodovias e a outra, de cunho mais interno, é a concentração das vias na

região metropolitana de Salvador e adjacências15.

A última transformação do território na Bahia vai ocorrer como resposta à

expansão da fronteira agrícola para o Oeste baiano. As áreas que compõem a

divisa com Tocantins e Goiás foram palco de uma grande instrumentação

técnica alimentada pela cultura de grãos, que foi incentivada por programas de

governo.

Empresários oriundos do sul e sudeste do país foram atraídos para a

região e passaram a imprimir uma nova dinâmica socioeconômica marcada

pela geração de conflitos sociais em razão da expulsão de pequenos

proprietários e posseiros de suas terras. O resultado foi uma forte migração

campo cidade, consequentemente o adensamento das cidades, bem como o

surgimento de novos núcleos de povoamento: Mimoso do Oeste é um exemplo

deste processo. No ano de 1997, o povoado de Mimoso foi elevado à categoria

de distrito do município de Barreira e um ano mais tarde passa a denominar-se

Luís Eduardo Magalhães e transforma-se em município.

Atualmente o território baiano é composto por 417 municípios que surgiram

de sucessivos desmembramentos de 11 municípios originários, a saber: Porto

Seguro, São Jorge dos Ilhéus, Salvador, Vila de Nossa Senhora da Ajuda de

Jaguaripe, Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, Santo Antônio

da Jacobina, São João Batista de Agua Fria, Vila de Itapicuru de Cima, Abadia

(atual Jandaíra), São Francisco das Chagas da Barra do Rio Grande e Pilão

Arcado.

O processo de ocupação começa ao longo do litoral, preferencialmente o

litoral do Recôncavo e seguindo em direção norte, sul e interior, o chamado

sertão. Os agentes que fomentaram tal empreendimento foram os jesuítas, o

15 O governo estadual foi responsável pela interiorização das vias de rodagem, a construção

da BA 052, Estrada do Feijão, e a BA 156 na segunda metade do século XX, são exemplos dessas rodovias.

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próprio governo e os bandeirantes, estes últimos desenvolveram suas ações

muito mais pela caça aos índios do que pela busca de metais preciosos.

Outra característica da expansão territorial na Bahia refere-se ao fato de

estar atrelada à abertura de vias de circulação, sejam elas caminhos, estradas

ou rotas, sempre alimentados por interesses econômicos. O resultado foi a

criação de núcleos de povoamento que deram origem à atual configuração

territorial do Estado, definida a partir da criação da Capitania da Bahia e

posterior incorporação da comarca do Rio São Francisco, até então

pertencente a Pernambuco. Apesar de este processo datar do período colonial,

a ocupação efetiva dar-se-á no século XX.

Quanto aos limites fronteiriços do Estado, alguns problemas emergiram em

consequência de imprecisões de marcos fronteiriços. Segundo a SEI (2001,

p.115).

Como consequência desse processo de indefinição, o estado da Bahia apresenta problemas de limites com os estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Piauí. Salvam-se, tão somente, os limites representados pelos rios São Francisco, na divisa com os estados de Pernambuco e Alagoas, com seus afluentes Carinhanha e Verde Grande, no limite com Minas Gerais e pelo Rio Real com Sergipe;

Alguns desses problemas fronteiriços foram originados com a própria

evolução histórica, como exemplo, a polêmica que persiste até os dias atuais

quanto à posse da área limite entre a Bahia e Pernambuco, área que

correspondia à chamada Comarca de São Francisco, pertencente no passado

a Pernambuco. Durante o processo de discussão da Constituinte, em 1988,

houve dois movimentos de cunho territorial na Bahia. O primeiro foi a proposta

para criação do Estado de São Francisco, localizado na antiga Comarca de

São Francisco, cuja incorporação a Bahia foi feita como retaliação a

insurgência Pernambucana no episódio Confederação do Equador. A segunda

modificação pleiteada correspondeu à tentativa de institucionalização do estado

de Santa Cruz, na área que correspondia às capitanias de Ilhéus e Porto

Seguro. Ambas as propostas foram engavetadas, entretanto, representam a

materialização dos conflitos inerentes ao processo de formação territorial da

Bahia. (ANDRADE, 2003)

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A Bahia chega ao século XXI com um território marcado por diversidades

socioespaciais, onde convivem simultaneamente realidades marcadas pela

pobreza e miséria de uma parcela significativa da população, ao lado de um

quadro que pode ser comparado aos chamados países desenvolvidos. O

desafio que se impõe é promover uma política de desenvolvimento que possa

reverter essa situação numa perspectiva que favoreça um maior dinamismo

nas regiões mais carentes, para tanto, o planejamento da ação do Estado

torna-se condição fundamental.

Conforme destacado em seções anteriores, na segunda metade do século

XX, práticas de planejamento tornaram-se mais frequentes sob a atuação de

Rômulo Almeida, na gestão de Antônio Balbino. Ele foi responsável pela

expressividade que as práticas de planejamento alcançaram na Bahia naquele

período, e tornou-se pioneiro no direcionamento de esforços de planejamento

estadual, através do Plano de Desenvolvimento Econômico e Social

(PLANDEB). Na verdade, até os anos 1950, a estrutura administrativa da Bahia

era simplificada e a gestão pública marcada pelo improviso. Foi a partir desse

período que o planejamento configura-se como estratégia de superação dos

entraves que impediam o crescimento da economia baiana e seu melhor

desempenho no cenário nacional.

Para Almeida (2012), a administração pública na Bahia limitava-se a

arrecadar receita e aplicá-la maciçamente em despesas de pessoal de caráter

burocrático em detrimento de sua aplicação em serviços de utilidade pública.

Outro aspecto apontado pelo estudioso diz respeito à deficiência do aparelho

administrativo em coordenar os diversos setores da administração e a falta de

programa de governo que equalize os recursos financeiros disponíveis com os

empreendimentos escalonados em ordem de prioridade. Assim sendo, só uma

mudança profunda poderia alterar o quadro de atraso da economia baiana.

A reforma proposta foi institucionalizada através da lei nº 2321 de 11 de

abril de 1966, na gestão do então governador Lomanto Junior. Todo a aparelho

administrativo foi reformulado com vias para uma descentralização

administrativa e implantação de um sistema orçamento-programa para

referenciar toda e qualquer ação de governo.

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4.1.1 AS REGIÕES ADMINISTRATIVAS DA BAHIA.

O território baiano que seria alvo das ações dessa nova estrutura

governamental também deveria ser organizado com o objetivo de potencializar

os possíveis impactos positivos da ação do poder público. Nessa perspectiva a

Lei nº 232, que regulamentou a reforma administrativa, também estabeleceu a

divisão do estado em 21 Regiões Administrativas a partir do conceito de região

polarizadora16. Como afirma Vieira (2006, p. 127).

Essas 21 RAs foram conceituadas como um espaço contínuo definido em função da atuação do governo sobre o território, centralizando em sedes urbanas as agências e órgãos de atendimento nas mais diversas áreas de atuação do governo (saúde, fisco, educação, trânsito, segurança pública, dentre outros).

Segundo o autor, com essa regionalização, criava-se a figura dos centros

administrativos de cunho regional na medida em que unidades administrativas

setoriais passam a operar nas cidades sedes das regiões administrativas. De

acordo com essa concepção, foram identificadas as cidades que exercem

influência em cidades circunvizinhas através do seu comércio intra e

interregional, além de possuírem infraestrutura básica para tal função. A partir

desta regionalização houve um avanço na execução de políticas setoriais,

principalmente em educação e saúde, entretanto a sua eficiência quanto à

descentralização política é questionável, em razão da falta de autonomia

política dos centros administrativos que foram criados.

A partir desta regionalização houve um avanço na execução de políticas

setoriais, principalmente em educação e saúde, entretanto, a sua eficiência

quanto à descentralização política é questionável, em razão da falta de

autonomia política dos centros administrativos que foram criados. Outra

inconveniência é o seu caráter setorial, o que significa afirmar a ausência de

um planejamento integrado. A Figura 4 apresenta a divisão do território baiano

implementado com a reforma administrativa.

16 Conceito herdado da economia e formulado a partir da teoria dos Pólos de Crescimento de

François Perroux. (VIEIRA, 2006).

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FIGURA 4 – BAHIA: AS REGIÕES ADIMINISTRATIVAS 1966

Fonte: Bahia, Lei 2321/66 de abril de 1966.

De acordo com essa concepção foram identificadas as cidades que e

Fonte: BAHIA, 1966

De acordo com essa concepção foram identificadas as cidades que exercem

influência em cidades circunvizinhas através do seu comércio intra e

interregional além de possuírem infraestrutura básica para tal função.

A Tabela 1 apresenta as regiões administrativas com suas respectivas sedes

regionais, bem como o quantitativo de município pertencente a cada unidade

administrativa.

Fonte: VIEIRA,

2006

FONTE: BAHIA, 1966

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Dois anos mais tarde, a Comissão de Planejamento Econômico (CPE)

realiza estudo propondo uma nova regionalização composta por 16

microrregiões programas. Devido à inconsistência metodológica e ausência de

aspectos funcionais a proposta apresentava algumas falhas (SOUZA, 2008).

Ainda assim, o estudo foi usado durante as discussões para uma nova

regionalização do Estado, em razão das transformações urbanas que a Bahia

experimentou como reflexo da conjuntura econômica à época. Na década de

1960, o asfaltamento da BR 116 promoveu significativas mudanças na

estrutura urbana baiana, em razão do maior fluxo de transporte com os estados

do Rio de Janeiro e São Paulo. Uma dessas modificações foi que algumas

cidades passaram a comercializar diretamente com as metrópoles nacionais,

sem a intermediação de Salvador, como por exemplo, Vitória da Conquista,

Feira de Santana, Juazeiro, dentre outras. Paralelo a esse fato, houve um

aumento quantitativo no número de cidades médias. (BAHIA, 1973).

Segundo Souza (2008), para elaborar a nova proposta de regionalização,

foi utilizado todo material existente sobre regionalização da Bahia (...) “estudos

considerados foram: Zonas de influência Urbana (Milton Santos, 1958);

TABELA 1 - BAHIA: REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE 1966

Região Administrativa Sede Regional Total De Municípios Integrantes

1ª Região Salvador 18

2ª Região Feira de Santana 25

3ª Região Santo Antônio de Jesus 20 4ª Região Alagoinhas 16

5ª Região Serrinha 14 6ª Região Itaberaba 13

7ª Região Jequié 23

8ª Região Valença 13

9ª Região Ribeira do Pombal 15 10ª Região Bonfim 6 11ª Região Jacobina 13 12ª Região Seabra 22 13ª Região Brumado 25

14ª Região Juazeiro 8

15ª Região Xique-Xique 6 16ª Região Barreiras 14 17ª Região Santa Maria da Vitória 8 18ª Região Caetité 13 19ª Região Vitória da Conquista 22

20ª Região Itabuna e Ilhéus 32 21ª Região Medeiros Neto 13

Fonte: Vieira (2006)

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Regiões Administrativas da Bahia (Lei 2.321 de 11.04.1966); Centralidade

(IBGE/IBG, 1958) e Regiões Funcionais Urbanas (IBGE/IBG, 1972)”. (SOUZA,

2008, p. 73).

Os trabalhos foram realizados em três etapas, na primeira foi feito todo o

levantamento das características físicas do território, sendo agrupadas às

unidades com características naturais semelhantes, nesta etapa foram

totalizadas 37 unidades territoriais. Na etapa seguinte, foi delimitar as cidades

que, apesar de estarem localizadas fora dos limites estaduais, exercem forte

influência no território baiano. Finalmente, a terceira etapa consistiu em

analisar a orientação dos fluxos comerciais existentes no interior do Estado:

todos os dados foram correlacionados permitindo definir a funcionalidade das

regiões.

O resultado apresentado estabeleceu como proposta uma regionalização

composta por 17 regiões administrativas com 25 subcentros. Além das 17

regiões administrativas, o estudo sinalizava para a possibilidade de serem

criadas 9 regiões econômicas a partir do reagrupamento das regiões

administrativas delimitadas no estudo.

Como resultado desse estudo foi lançado na gestão do então governador

Antônio Carlos Magalhães, o Projeto de Regionalização Administrativa em

1973. No projeto estava previsto uma descentralização dos serviços sociais

oferecidos à população, via estabelecimento de coordenadorias regionais (...)

“temos a criação das Diretorias regionais de Saúde-DIRES, Diretorias

Regionais de Educação-DIREC’s e das Circunscrições Regionais de Trânsito

(CIRETRAN’s)” (SOUZA, 2008, p.76).

A proposta de regionalização apresentada foi institucionalizada pelo

Decreto nº 23.731 de outubro de 1973. Em 1983, as leis nº 27 e nº 56 ampliam

número de regiões administrativas para um total de 27 regiões.

A década de 1980 foi marcada por grandes transformações políticas e

econômicas, o que impactou significativamente a estrutura organizacional do

aparelho estatal baiano. A primeira delas foi o reestabelecimento do regime

democrático no país, o que criou expectativas de uma maior autonomia política,

e a segunda, de caráter econômico, corresponde à crise estrutural da

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economia mundial, iniciada ainda na década de 1970. Ambos os fatos

promoveram transformações na administração pública estadual.

(...) o Estado da Bahia encerrou a década de 80 vivenciando a sua maior crise, cujas causas, no entanto, não foram geradas, exclusivamente, nessa década, nem derivam, apenas, de ações implementadas e decisões tomadas no âmbito do próprio Estado. Para conformação dessa crise concorreram causas internas e externas ao estado e ao País. (BAHIA, 2002, p 53).

Além dos problemas de ordem institucional, o Estado não logrou êxito

quanto à questão dos desiquilíbrios regionais, pelo contrário, em função do

processo de desenvolvimento centrado na Região metropolitana,

territorialmente, os desequilíbrios foram acirrados. A intervenção do poder

público muitas vezes dá-se no sentido de consolidar mecanismos

desestrurantes ou de criar novos desequilíbrios. A política industrializante da

Bahia retrata esta afirmação, pois apesar do saldo positivo gerado com a

transformação do perfil produtivo agroexportador para um perfil industrial, ela

gerou dois problemas. O primeiro de dimensão econômica e social foi a

implantação de um parque concentrado em dois ramos: o químico/petroquímico

e metal/mecânico. Ambos com baixo poder de disseminação de dinamicidade,

principalmente no que tange à questão de empregabilidade e renda. Sob o viés

econômico, a opção deste tipo de parque industrial terminou por criar uma nova

relação de dependência em razão de seu caráter de complementaridade com a

indústria do sudeste. O segundo problema, tem repercussão direta com o

território, na medida em que favoreceu a concentração econômica na Região

Metropolitana de Salvador, relegando todo o restante do território à sua própria

sorte ou, de forma mais correta, a dinâmica de acumulação do capital.

Para agravar a situação, soma-se a inoperância dos centros ou

coordenadorias regionais, criadas a partir da regionalização de 1973, cujo

objetivo era descentralizar a máquina pública. Na prática, a realidade revelou

que cada órgão governamental passou a agir de forma isolada de acordo com

sua necessidade e limitações orçamentárias, em razão disso multiplicaram-se

divisões regionais do território baiano. Vieira (2006) chama atenção para este

fato, sinalizando que cada órgão/entidade governamental na Bahia atua sobre

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o território estruturando-o de acordo com interesses próprios,

consequentemente as unidades regionais sobrepõem-se, sem que

necessariamente seus limites coincidam-se.

Neste contexto, o poder público enfrenta um desafio ao final da década de

1980, promover uma modernização administrativa de modo a responder

positivamente às novas demandas impostas. Simultaneamente, surge a

necessidade de revisão da regionalização em vigor, numa tentativa de dotar a

ação do governo de maior eficiência, para tanto, criou-se, através do Decreto

nº 2344 de 05 de abril de 1989, um grupo técnico para executar tal empreitada.

Tal grupo era composto por Antônio José Cunha (coordenador), Ana Maria de Sales Guerreiro e Raquel Alexandrina Pimenta e contava com a consultoria do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia - UFBA, através do Profº Drº Sylvio Bandeira de Mello e Silva (SOUZA, 2008, p. 77).

A primeira observação foi que, com raras exceções, as instâncias

governamentais não utilizavam a regionalização oficial. O estudo revelou uma

multiplicidade de regionalização elaborada via adoção de vários critérios.

Consequentemente, reside neste fato uma das razões da ineficácia das

práticas de planejamento.

Na década de 1990 uma nova proposta foi elaborada, com base na noção

de centralidade, acessibilidade e distância dos núcleos urbanos, criou-se desta

forma, um reordenamento funcional e hierárquico do sistema urbano. Essa

divisão foi mantida, apesar de poucas modificações quanto aos limites das

unidades territoriais, até a atualidade. A Figura 5 apresenta essa

regionalização, e a Tabela 2 traz o quantitativo de municípios que compõem

cada unidade regional.

.

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FIGURA 5 – BAHIA: REGIÂO ADIMINISTRATIVA DA BAHIA 1991

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TABELA 2 - BAHIA: REGIÂO ADIMINISTRATIVA DA BAHIA 1991

Nº Região de Influência Urbana

Total de Municípios Integrantes

1 Salvador 12 2 Alagoinhas 19 3 Feira de Santana 33 4 Santo Antônio de Jesus 27 5 Valença 10 6 Ipiaú 18 7 Itabuna/Ilhéus 23 8 Eunápolis 8 9 Teixeira de Freitas 13 10 Itapetinga 12 11 Vitória da Conquista 20

12 Jequié 16

13 Itaberaba 16

14 Serrinha 14 15 Ribeira do Pombal 19

16 Paulo Afonso 10

17 Juazeiro 8

18 Senhor do Bonfim 10

19 Jacobina 20

20 Irecê 21

21 Seabra 11

22 Brumado 18

23 Ibotirama 9

24 Guanambi/Caetité 22

25 Barreira 12 26 Santa Maria da Vitória 14

Fonte: VIEIRA, (2006)

Nesse período também foi retomado o conceito de região econômica como

critério para a delimitação da divisão regional, assim pensado, uma nova

regionalização foi proposta associando o conceito de influência urbana ao

conceito de região econômica como reflexo do processo de modernização da

base produtiva e da expansão da fronteira agrícola, em direção à porção oeste

da Bahia.

A regionalização baseada no conceito de região econômica assumiu a

função de nortear a dinâmica dos investimentos públicos e privados, ressalta-

se que a participação da iniciativa privada nesta dinâmica é muito mais

acentuada. Nessa perspectiva foram identificadas 15 regiões, cujas origens

estão diretamente relacionadas à base produtiva específica de cada fração do

território baiano, bem como pela própria força de atração demográfica exercida.

(VIEIRA, 2006). (QUADRO 3).

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QUADRO 3 - BAHIA: REGIÃO ECONÔMICA E DE PLANEJAMENTO

Região Econômica Cidade Pólo e Subpólo

Região Metropolitana de Salvador Salvador/Camaçari

Litoral Norte Alagoinhas

Recôncavo Sul Santo Antônio de Jesus/ Santo Amaro

Litoral sul Ilhéus/Itabuna/Valença

Extremo sul Teixeira de Freitas/Eunápolis/Porto Seguro

Nordeste Paulo Afonso/Serrinha/Ribeira do Pombal

Paraguaçu Feira de Santana/Itaberaba

Sudoeste Vitoria da Conquista/Jequié/Itapetinga

Baixo Médio São Francisco Juazeiro

Piemonte da Diamantina Jacobina/Senhor do Bonfim

Irecê Irecê/Xique-Xique

Chapada Diamantina Seabra/Lençóis

Serra Geral Brumado/Guanambi/Caetité

Médio São Francisco Bom Jesus da Lapa/Ibotirama/Boquira

Oeste Barreira/Santa Maria da Vitória

Fonte: Vieira, 2006

Na verdade, a década de 1990 é marcada pela transformação do papel do

Estado que paulatinamente vai abandonar seu caráter de empreendedor,

delegando para a iniciativa privada essa função. Souza (2008) aponta para

esse novo perfil do Estado.

(...) Percebe-se em suas proposições a substituição do ideário keynesianista - simbolizado pelo estado do bem-estar social – pelas ideias neoliberais –a épocas já amplamente aplicadas tanto no contexto nacional como internacional. Assim, a ideia de que o Estado da Bahia é burocrático, ineficiente e sem recursos dá margem para que se realize um enxugamento da máquina administrativa com a consequente diminuição de suas atividades, o que deve atingir todos os setores, inclusive o planejamento. (SOUZA, 2008, p 84)

A divisão da Bahia em regiões econômicas (Figura 6) pode ser

considerada como um instrumento de delimitação das áreas com melhores

oportunidades para acumulação do capital no território baiano, pois demarcou

as diversas macro áreas produtivas, criadas a partir da própria expansão do

capital, processo este, heterogêneo no espaço e no tempo. O que significa

afirmar que a regionalização em foco traz à tona a existência de um

antagonismo marcado pela presença simultânea de áreas com grande

dinamismo econômico e áreas de pouca atratividade para o capital, como o

Piemonte da Diamantina.

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Nessa perspectiva, a regionalização em pauta tem por mérito demarcar

as fortes desigualdades regionais, (re) produzidas pela dinâmica do capital.

FIGURA 6 - BAHIA: REGIÕES ECONÔMICAS E DE PLANEJAMENTO

Ao longo do tempo as desigualdades regionais foram ainda mais acirradas,

pois a seletividade territorial para onde direcionaram-se os investimentos,

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sejam eles de origem privada ou pública, contribuiu para aumentar o fosso

entre as diversas macro áreas, onde as regiões econômicas localizadas nas

extremidades do território, Região Metropolitana de Salvador, Baixo-médio São

Francisco e Oeste, acabaram sendo beneficiadas. (SOUZA, 2008).

A regionalização proposta pela SEI a partir das regiões econômicas,

apesar das modificações sofridas, manteve-se durante muito tempo. Contudo,

as demandas criadas pela economia de mercado, impondo ao Estado a

necessidade de adotar uma postura que favorecesse uma inserção competitiva

no contexto nacional e internacional, culminaram na elaboração de uma política

baseada em eixos de desenvolvimento proposta no plano plurianual (PPA) de

2000/2003.

O PPA foi institucionalizado com a Constituição de 1988 art. 165 § 1º

(BRASIL, 1988), como reflexo do processo de democratização do país. Esse

instrumento regulamentou toda a prática de planejamento estatal,

estabelecendo “de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos e metas da

administração pública federal para as despesas de capital e outras delas

decorrentes e para as relativas aos programas de natureza continuada.”.

Na Bahia, o primeiro PPA, proposto para o quadriênio 1992-1995 foi

elaborado na gestão de Antônio Carlos Magalhães (ACM), governador eleito

em 1991. Foi sob sua gestão que a Bahia promoveu o ajuste fiscal e a reforma

institucional.

Os eixos de desenvolvimento representaram uma nova divisão

geoeconômica, elaborada a partir do PPA 2000-2003 no Programa Brasil em

Ação durante o segundo mandato de então presidente Fernando Henrique

Cardoso, quando foi implantado um novo modelo de planejamento, gestão e

orçamento governamental. Nesta divisão os limites dos entes federados não

são levados em consideração. (VIEIRA, 2006). A Figura 7 ilustra a divisão do

território baiano em eixos de desenvolvimento.

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FIGURA 7 – BAHIA EIXO DE DESENVOLVIMENTO

Já foi mencionado em outra seção que, em nível nacional, os primeiros

PPAs não passaram de um cumprimento à legislação vigente. Na Bahia não foi

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diferente, contudo, o PPA de 2000-2003 apontou para uma nova organização

do território a partir de eixos de desenvolvimento, identificados a partir de

corredores de circulação da produção econômica. Esse instrumento de

planejamento governamental foi o marco da retomada da dimensão territorial

ao planejamento.

O PPA para o período 2000-2003 estabelecia quatro estratégias de

desenvolvimento econômico para a Bahia: I-aumentar a qualidade de vida da

população; II-promover a expansão da base produtiva estadual; III-aprofundar e

consolidar a modernização do estado; IV-crescer, desconcentrar e diversificar.

A indicação da estratégia IV nasce como um reconhecimento que um dos

grandes entraves para uma melhor participação da economia baiana no

contexto nacional é a existência de desigualdades regionais e que, apesar das

inúmeras tentativas de reverter a situação, o poder público tem contribuído,

através da seletividade territorial, para corroborar com a situação.

Ao analisar a distribuição dos investimentos públicos nos eixos de

desenvolvimento percebe-se que há uma nítida concentração de recursos na

região metropolitana de Salvador em detrimento as demais regiões do estado.

Souza, (2008) pontua esse quadro:

A própria distribuição dos recursos orçamentários (...) demonstra o quanto a lógica de se privilegiar as regiões mais dinâmicas do território estava presente, pois o Eixo Metropolitano continua a receber o maior percentual de investimentos (29,68%), em contraposição as demais regiões que teriam percentuais bastante próximos de investimentos,

porém, em setores diferenciados.” (SOUZA, 2008 p100).

A divisão em eixos de desenvolvimento foi mantida pelo governo

subsequente de Paulo Ganen Souto 2003 a 2006, sendo ampliado o número

de unidades com o desmembramento dos eixos São Francisco, Planalto e

Chapada. A nova divisão apresenta um total de 13 eixos de desenvolvimento.

Outra característica da nova gestão foi o reconhecimento da necessidade

de uma maior integração territorial entre os eixos de maior dinamismo com

aqueles desprovidos desta característica, como por exemplo, a busca da

articulação entre Nordeste, Planalto Sudoeste e Central com os eixos

litorâneos. Nessa perspectiva a estratégia proposta no PPA 2004-2007 era

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corrigir as desigualdades regionais, via internalização do dinamismo

econômico. Mais uma vez o discurso distancia-se da prática, na medida em

que a seletividade territorial no direcionamento dos investimentos mantém-se

reforçando a lógica concentradora e por prolongamento a reprodução do

capital. “PPA 2004/2007, possui uma melhor distribuição de recursos entre os

Eixos de Desenvolvimento que o seu antecessor, mantendo, porém a maior

quantidade desses recursos destinados ao eixo Metropolitano”. (SOUZA, 2008,

p. 103).

Essa divisão do território baiano não pode ser considerada como uma

regionalização, pois se baseia na articulação econômica e não na

homogeneidade dos fluxos interno a cada unidade, seus limites não são

estáveis, fixos, em razão da dinamicidade econômica, logo, a constante revisão

desta divisão territorial é uma necessidade recorrente.

O PPA 2008-2011 representou a substituição do eixo de desenvolvimento

pela adoção de uma nova divisão territorial referenciada no conceito de

território de identidade. Na verdade este documento nasce em meio ao

processo de transição política ocorrido na Bahia após as eleições de 2006,

quando o grupo político liderado pelo então senador Antônio Carlos Magalhães

(partido de direita) foi substituído por uma frente esquerdista com a eleição de

Jaques Wagner (Partido dos Trabalhadores-PT). A ascensão ao poder de

grupos de oposição na Bahia é o prolongamento de um processo politico que

ocorria nacionalmente, desde 2002 com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva,

como resposta popular ao desejo de mudança na elite política em todo país.

Foi a partir desta administração pública que se ampliou a participação da

sociedade civil na elaboração, implementação e controle das políticas públicas.

Acompanhando a tendência nacional, na Bahia a participação da

sociedade civil vai se efetivar com o PPA 2008-2011 através da realização de

plenária por todo o território baiano. A partir deste processo foi

institucionalizada, em 2010, a divisão territorial da Bahia com base na

identificação dos territórios de identidade.

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4.1.2 TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE DA BAHIA

A divisão da Bahia através da institucionalização dos Territórios de

Identidade foi regulamentada pelo Decreto Nº. 12.354 de 25 de agosto de

2010, que define território de identidade como:

(...) agrupamento identitário municipal, formado de acordo com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos, e reconhecidos pela sua população como espaço historicamente construído ao qual pertence, com identidade que amplia as possibilidades de coesão social e territorial. (BAHIA, 2008).

Nesse contexto, a delimitação das unidades territoriais traz uma nova

abordagem ao incorporar a noção de pertencimento, segundo Saquet (2005),

com base nas ideias de Dematteis e Governa expressas no titulo “Território e

territorialità nello sviluppo locale”, a identidade é produzida historicamente por

relações indentitárias, coletivas. Para o autor, a identidade não se define pela

simples proximidade entre os sujeitos, mas pela dinâmica de agir coletivamente

sobre o território, impondo-lhe uma singularidade.

O debate sobre os territórios de identidade nasce a partir do processo que

levou à formulação do Programa Territórios Rurais pelo Ministério de

Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2003. Para a execução do programa foram

identificados no país, 164 territórios rurais que seriam utilizados como unidade

de planejamento, o que significa afirmar que o MDA, através da Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) elaborou e implementou naquele período o

instrumento balizador para nortear toda a política nacional do setor agrícola,

especialmente aqueles ligados à agricultura familiar. Paulatinamente, a

estratégia de planejamento e a própria divisão territorial proposta pela SDT foi

sendo adotada por outros setores da administração pública nacional.

Na Bahia, a influência dessa nova política territorial também se fez sentir,

através da adoção do programa Territórios de Identidade, previsto no PPA

2008-2011, estabelecendo uma nova divisão do território baiano. (FIGURA 8).

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Fonte Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, 2014.

Cabe ressaltar que essa divisão territorial já vinha sendo debatida pela

administração pública desde 2007, apesar de sua institucionalização só ter

ocorrido através de diploma legal em 2010. Esse PPA modificou a

regionalização baiana com a delimitação de 26 Territórios de Identidade,

demarcando o espaço geográfico a partir do sentimento de pertença de sua

população (BRASIL, 2012).

Segundo Serpa (2011), é perceptível um retorno às ideias de Vidal de La

Blache dentro da concepção do programa de regionalização adotado pela

Bahia, na medida em que se observa o uso do conceito de região-personagem.

FIGURA 8 - BAHIA TERRITÓRIO DE IDENTIDADE

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A ideia de região-personagem é retomada como legitimadora de um processo de regionalização baseado nas identidades regionais. A região-personagem, fruto do pensamento de Vidal de La Blache é considerada a representação espacial fundamental da síntese harmoniosa e das heranças históricas. (SERPA, 2011 p.163)

Feitas as reflexões elencadas no parágrafo anterior, admite-se que o PPA

2008-2011 e o Programa Territórios de Identidade, criaram saldos positivos

para a prática do planejamento estadual. O primeiro saldo corresponde ao seu

caráter integrador quanto às políticas econômica, territorial, social e ambiental,

buscando assim um planejamento multissetorial. A busca pela integração

territorial também foi uma das características desta PPA, não que tenha sido

uma exclusividade específica deste documento, contudo, enquanto os planos

que o antecederam buscavam uma integração com as demais unidades

federativas e com países vizinhos, o PPA 2008-2011 apontava para a

necessidade de uma maior integração entre as diferentes porções territoriais da

Bahia, essa lógica foi expressa através da construção da ferrovia Bahia-Oeste.

Outro saldo positivo do programa Território de Identidade foi a ampla

participação da sociedade civil no debate sobre planejamento (FERREIRA;

FAGUNDES, 2012). Para elaboração do plano estratégico do PPA que

institucionalizou os Territórios de Identidade na Bahia foram realizadas

reuniões em diferentes pontos do território baiano, das quais resultaram

aproximadamente oito mil propostas, de cunho socioeconômico e territorial, a

serem adotadas pela gestão. Técnicos da administração pública estadual

sistematizaram as propostas que foram mais uma vez levada à plenária. Sobre

a metodologia utilizada, afirma Ferreira e Fagundes (2012):

Os encontros em todos os territórios permitiram a manifestação das singularidades que compõem a população e o estado da Bahia, contribuindo para que o planejamento do desenvolvimento do estado se alicerçasse sobre bases mais consistentes, considerando os diversos aspectos, evitando, assim, planos com conteúdos distantes das diversidades baianas.” (FERREIRA, 2012 p 6)

As autoras sinalizam para a importância da participação da sociedade no

planejamento, contudo, deve-se fazer uma reflexão sobre como essa

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participação se dá, pois em muitos casos os indivíduos que participam desse

processo podem ser facilmente manipulados por ideologias que estão na

direção contrária aos interesses da sociedade. Em outros casos, o próprio

Estado pode, propositalmente ou não, realizar uma mediação equívocada o

que irá comprometer todo o processo, permitindo-lhe responsabilizar a

sociedade pelo insucesso do planejamento. Nessa perspectiva o discurso do

Estado distancia-se, de forma sublinear, de sua prática.

O tempo revelou que a proposta de desenvolvimento apresentada pelo

PPA 2008-2011, via adoção de uma nova regionalização estruturada em

territórios de identidade, mantiveram-se as disparidades socioeconômicas entre

os territórios, em razão dentre outros fatos da permanêcia da seletividade

territorial na distribuição dos recursos financeiros. Sobre esse tema, Souza

afirma:

(...) o território a que pertence a região metropolitana de Salvador continua a receber a maior quantidade de recursos (39,46%) em contraposição as áreas menos desenvolvidas do território baiano, como o Território Vale do Jiquiriça, com apenas 0,58% do total de recursos e o Território Itapetinga, com 0,46%. (SOUZA, 2008 p131)

Percebe-se que a ação do poder público na Bahia tem contribuído para a

permanência de um dinamismo econômico em pontos extremos do território,

criando o que Santos (2001) chama de espaços de fluidez e espaço da

lentidão, onde a dinâmica do capital é a base da sustentação de toda a

disparidade regional.

4.2 Regionalização do turismo na Bahia

Para além de todas as regionalizações apresentadas até aqui, o território

baiano também foi desmembrado tendo como critério o desenvolvimento da

atividade turística. Essa divisão foi proposta a partir do Programa de

Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR) na Bahia.

Este programa foi legitimado pela Portaria nº 1, de 29.11.91 como uma

tentativa de ordenar e normatizar o desenvolvimento do turismo no nordeste

brasileiro. O programa foi estruturado para ser desenvolvido em duas etapas,

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PRODETUR NORDESTE I, com previsão de execução até 2005, e

PRODETUR NORDESTE II, em vias de conclusão. O recurso previsto para a

execução do programa correspondia a US$ 1,5 bilhão, sendo que 50%

financiado pelo BID e 50% custeado pelos governos Estaduais. Os recursos

que financiaram o programa na Bahia têm origem em uma tríplice fonte: Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID) Governo do Estado e Ministério do

Turismo. A execução do programa também foi gerida por três instâncias:

governo do Estado, EMBRATUR, em âmbito nacional e em âmbito regional, a

Comissão de Turismo Integrado do Nordeste (CTI-NE), Banco do Nordeste-

(BNB) e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).

Enquanto ação do Estado, o PRODETUR delineava as diretrizes para o

desenvolvimento do turismo no Nordeste, A gênese desse programa ocorre em

janeiro de 1990, quando o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e

os governadores dos Estados nordestinos traçam metas para o setor. Cada

Estado assumiu o compromisso de elaborar seus planos de desenvolvimento,

para tanto, empresas foram contratadas.

Nessa perspectiva, na Bahia foram identificadas regiões turísticas com maior

potencial para a atividade. Cabe ressaltar que essa regionalização foi herdada,

e posteriormente modificada pelo programa Caminhos da Bahia.

As regiões turísticas identificadas foram: Baía de Todos os Santos, Costa

dos Coqueiros, Costa do Descobrimento e Chapada Diamantina. Em 1993, a

partir de novos critérios de espacialização, foram criadas mais três zonas, a

Costa do Dendê, a Costa do Cacau e a Costa das Baleias. A divisão em zonas

turísticas foi delimitada a partir da diversidade de cenários, tradições culturais e

da presença de atrativos turísticos. Cada unidade territorial recebeu uma

denominação de acordo com sua identidade física ou econômica.

Sob o comando do Estado, ações foram desenvolvidas a partir do aporte

de recursos financeiros alocados em obras de infraestrutura básica, marketing

e educação para o turismo. Santos (2013) chama atenção que, entre 1991 e

2004, foram investidos um total de US$ 1,6 bilhão na melhoria e ampliação da

infraestrutura nas zonas turísticas, e que deste total, US$ 250.000.000 foram

recursos advindos do PRODETUR / Nordeste. Nesse processo, a Zona

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Turística Bahia de Todos os Santos foi beneficiada com um maior quantitativo

de recursos. (TABELA 3)

TABELA 3 - INVESTIMENTOS PÚBLICOS NAS ZONAS

TURÍSTICAS DA BAHIA 1991-2005

Zona Turística US$ 1.000

Caminhos do Sertão 103

Caminhos do Oeste 14.683

Lagos do São Francisco 18.756

Vale do Jiquiriça 20.940

Costa dos Coqueiros 154.012

Baia de Todos Os Santos 1.007.550

Costa do Dendê 125.502

Costa do Cacau 156.066

Costa do Descobrimento 192.122

Costa das Baleias 95.499

Chapada Diamantina 225.785

Outras 111.365

TOTAL GERAL 2.122.386

Fonte: Bahia, 2005a.

O PRODETUR ao fazer um recorte espacial, criando zonas turísticas e seus

respectivos centros turísticos, delimitou uma divisão regional para exercer o

controle na administração e captação dos recursos financeiros para o

desenvolvimento do turismo na Bahia, onde o recorte espacial tem implicações

nas relações de poder, logo, no território.

Em 2005, a partir do programa denominado “Século XXI consolidação do

Turismo: a estratégia turística da Bahia para 2003-2020”, foram criadas novas

Zonas turísticas com a nítida estratégia de promover a interiorização da

atividade que até então se limitava à costa litorânea e, consequentemente, ao

predomínio do turismo sol e praia. (BAHIA, 2005a) Sendo assim, foram criadas

as Zonas: Caminhos do Oeste, Lagos do São Francisco, Vale do Jiquiriça e

Caminhos do Sertão, além do desmembramento da Zona Chapada Diamantina

em quatro circuitos: Circuito Chapada Norte, Circuito do Diamante, Circuito do

Ouro e Circuito Chapada Velha. (MAPA 8).

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FIGURA 9 - BAHIA ZONAS TURÍSTICAS 2005

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O PRODETUR ao fazer um recorte espacial, criando sete zonas turísticas e

seus respectivos centros turísticos, delimitou uma divisão regional para exercer

o controle na administração e captação dos recursos financeiros para o

desenvolvimento do turismo na Bahia, onde o recorte espacial tem implicações

nas relações de poder, logo, no território.

Como já foi mencionado em outra sessão, o ano de 2006 foi marcado pela

mudança na gestão política do país que deixava de ser administrado por

partidos de direita em favor da gestão do grupo político classificado como

sendo de esquerda. Na Bahia esse processo também ocorreu com a eleição do

governador Jaques Wagner. Em razão da sinergia da gestão federal e a

gestão estadual, as políticas de turismo foram elaboradas em consonância,

apesar de muitas vezes terem sido executadas de forma isolada.

Neste cenário politico, o Plano Nacional do Turismo 2007-2010 aparece

como instrumento norteador da política nacional para o desenvolvimento do

setor, enquanto o planejamento cuja denominação era: Estratégia Turística da

Bahia: Terceiro Salto 2007-2016. (BAHIA, 2011)

O documento Estratégias Turísticas para a Bahia apresenta uma ampliação

do número de Zonas Turísticas a partir da identificação de mais três zonas:

Caminhos do Sudoeste, Vale do São Francisco, Lagos e Cânions do São

Francisco, esta última desmembrada da Zona Turística Lagos do São

Francisco.

Partindo-se do princípio de que a descentralização territorial do turismo propicia desenvolvimento socioeconômico de regiões deprimidas economicamente, a revisão do zoneamento turístico da Bahia foi realizada partindo-se do inventário das potencialidades turísticas dentre os 417 municípios baianos. Como resultado, o mapa turístico da Bahia passou a contar com 13 zonas turísticas que incorporam 156 municípios (...). ( BAHIA, 2011)

Percebe-se que os programas adotados pelo poder público estadual

apresentam contradições. Desde o programa Estratégia Turística da Bahia

para 2003-2020 até o programa Estratégia Turística da Bahia: Terceiro Salto

2007-2016 o Estado tem direcionado ações para alavancar o turismo no interior

do território baiano, contudo, a distribuição dos recursos investidos na atividade

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demonstram uma predileção para áreas litorâneas onde a dinâmica turística é

possuidora de certa maturidade.

Contraditoriamente, o Estado aponta estratégias de desenvolvimento

econômico de uma determinada área ao mesmo tempo em que cria condições

para a sua exaustão, pois a disponibilidade de recursos financeiros e técnicos,

para a dinâmica econômica destas áreas, é escassa e o contrário ocorre nas

áreas em que a atividade apresenta certo grau de dinamismo econômico. Tal

processo materializa a (re) produção de espaços desiguais, onde o Estado,

para atender os interesses do capital, acaba relegando áreas deprimidas às

tessituras do mercado. O resultado é a promoção de um desenvolvimento

desigual.

(...) não se trata da desigualdade socioeconômica entre espaços geográficos em geral, mas da produzida pelo capitalismo. Em outros termos: é a geografia do desenvolvimento desigual especificamente capitalista que importa aqui. E esta principia pela diferenciação do espaço geográfico que resulta dos processos sociais cotidianos. (THEIS, 2009, p. 246).

Para o autor, a própria dinâmica capitalista cria espaços diferenciados

reforçando a desigualdade. Nesse contexto, o Estado como agente mediador

da relação entre o coletivo e o privado, entre o social e o capital, acaba por

beneficiar a acumulação do capital. A distribuição dos investimentos privados

direcionado para o turismo baiano demonstra claramente que, da mesma forma

que o poder público, a seletividade territorial é uma característica permanente.

Sobre esse tema, Santos (2001) reforça afirmando que o capital:

(...) conduz a uma seletividade maior na distribuição geográfica dos provedores de bens e serviços, levados pelo império da competitividade a buscar, sob pena de seu próprio enfraquecimento, as localizações mais favoráveis. A tendência à concentração econômica agrava essa tendência. (SANTOS, 2001 p 302)

Para o autor, a própria dinâmica do capital, na sua busca constante pela

acumulação de riquezas, produz uma dinâmica territorial cujo alicerce reside na

concentração econômica. (TABELA 4).

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126

TABELA 4- INVESTIMENTOS PRIVADOS NAS ZONAS TURÍSTICAS DA BAHIA 1991-2020 (US$ 1000,00).

Zona Turística

Concluídos

Em Execução

Costa dos coqueiros 281.499 167.426 Baía de todos os santos 258.412 41.067 Costa do dendê 29.146 - Costa do cacau 78.622 41.200 Costa do descobrimento 277.946 5.00 Costa das baleias 51.201 - Chapada diamantina 18.350 200 Outras 16.545 - Total geral 1.011.721 254.893

Fonte: SECULT, 2005

Diante do exposto, a ação do Estado, através das políticas de turismo,

tem contribuído para permanência de um quadro socioespacial desigual.

Apesar do discurso está centrado na interiorização da atividade, ou ainda, na

redução dos desníveis econômicos, a análise da realidade revela o contrário. O

estudo sobre a Costa do Dendê, em especial, do município de Valença, no que

tange ao turismo, é bastante revelador.

4.3 Turismo na Zona da Costa do Dendê

A Zona Turística Costa do Dendê compõe juntamente com a Zona Costa

do Cacau o Pólo Turístico Litoral Sul17. Composto por 14 municípios com

características socioculturais e ambientais próprias, no Litoral Sul os municípios

tem um traço comum, a predominância, com raras exceções, de condições

sociais ruins e de economias municipais pouco produtivas.

Nesse pesquisa a atenção foi direcionada para a análise da Zona Turística

Costa de Dendê, representada pelos municípios Valença, Taperoá, Cairu, Nilo

Peçanha, Ituberá, Igrapiúna, Camamu e Maraú, com especial destaque ao

município de Valença.

17 Oficialmente a denominação Litoral Sul é utilizada em duas regionalizações distintas. No

programa Territórios de Identidade o Litoral Sul é composto por 26 municípios abrangendo uma área total de 14.736,20 km². No Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste o Pólo Turístico Litoral Sul corresponde a um total de 14 municípios distribuído em uma superfície de 8.736.976.000 km². Os critérios usados na delimitação de cada uma dessas divisões territoriais também são diferentes, contudo, o uso de denominações iguais para unidades territoriais distintas pode gerar problemas.

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FIGURA 10 - PÓLO TURÍSTICO LITORAL SUL: COSTA DO DENDÊ E COSTA DO CACAU

A Figura 10 expõe a localização dos municípios que compõem o Polo

Litoral Sul, destacando a zona Costa do dendê, onde situa-se o município de

Valença. Os principais atrativos turísticos da Costa do Dendê estão

diretamente relacionados à prática da modalidade turismo sol e praia, e não

poderia ser diferente, em razão das suas características geográficas como a

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longa faixa litorânea com 115 km de extensão. Entretanto, a presença de uma

significativa riqueza cultural, histórica e ecológica nos seus diversos

ecossistemas favorece à prática de outras modalidades como o turismo de

aventura, ecoturismo, turismo náutico, dentre outros.

A denominação desta zona turística está atrelada a uma das culturas

desenvolvidas na região, o dendê, cujo derivado, óleo de dendê, é amplamente

usado na culinária baiana, e foi responsável pela construção da identidade

regional da zona turística em questão. Ressalva-se que na Bahia o cultivo

desta palmeira não está restrito apenas aos municípios da Costa do Dendê,

contudo a maior produtividade estadual do dendê situa-se nos municípios

pertencentes a esta área, são eles: Valença, Taperoá, Camamu e Cairu.

Segundo BAHIA INVEST (2005) o beneficiamento do dendê é feito de duas

formas distintas, a primeira através dos tradicionais rodões (unidade artesanal

de extração do óleo) responsável por cerca de 3000 empregos diretos e

indiretos e de parcela significativa da renda regional. O segundo segmento, o

beneficiamento é feito com o uso de uma maior tecnologia, está concentrado

em quatro empresas, Opalma - Óleo de Palma S/A, Oldesa – Óleo de Dendê

S/A, Mutupuiranga Industrial Ltda e Jaguaripe S/A.

Mas não só da produção e beneficiamento do dendê sobrevive a economia

regional da Costa do Dendê, outras culturas também merecem destaque como

o cacau, a piaçava, cravo, coco da baía, guaraná e borracha.

A prática agrícola na Costa do Dendê apresenta baixos índices de

produtividade em razão das precárias condições de cultivo e da baixa

densidade técnica no meio rural regional.

A análise da estrutura do Produto Interno Bruto (PIB) regional é bastante

reveladora. Percebe-se uma grande participação do setor industrial na

economia regional. Entretanto, na maioria dos municípios da Costa do Dendê,

o setor secundário tem uma expressividade limitada, logo, o que explica a atual

estrutura do PIB regional diz respeito às características econômicas de um

município em particular, o município de Cairu.

A Figura 11 demonstra o PIB dos municípios da Costa do Dendê.

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129

.

O peso dessa participação do setor industrial no PIB se deve à cadeia

produtiva de gás natural instalada, a partir de 2002, no município de Cairu

através da exploração do Campo Manati.

Com relação ao PIB no ranking estadual Cairu passou da 203ª posição em

2006 para a 23ª posição em 2008. Em 2011, a arrecadação com a exploração

FIGURA 11 - COSTA DO DENDÊ: PIB 2012

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e o refino de petróleo, através do pagamento de royalties recebidos pelos 2,1

bilhões de metros cúbicos produzidos, naquele ano, rendereram aos cofres do

município quase R$ 5 milhões, alçando o PIB per capita municipal para a

segunda posição estadual. (LONGO, 2013).

Os índices elencados anteriormente evidenciam a importância que o setor

de comércio e serviços possui para a economia dos municípios dentro da

Costa do Dendê. Nesse cenário, a atividade turística aparece como mais uma

alternativa econômica.

Dentro da Costa do Dendê os principais destinos dos fluxos turísticos estão

localizados nos municípios de Cairu, Maraú e Valença, especialmente Morro de

São Paulo, distrito de Cairu. Segundo o Observatório do Turismo, entre 2008 e

2011, houve um significativo aumento do fluxo global de turistas para esta

região, onde o índice passou de 1,9% para 5,8% do total de visitantes para o

estado da Bahia. A despeito deste aumento, a Zona estudada está ainda muito

aquém, das demais do estado, no concernente à presença de turistas.

A baixa atratividade da Costa do Dendê é um reflexo da política turística

desenvolvida pelo poder público no território baiano onde, ao longo do tempo

houve um maior direcionamento de recursos financeiros e técnicos para

algumas áreas, especialmente a Baía de Todos os Santos. Essas áreas

passaram a acumular condições de infraestrutura mais favoráveis a dinâmica

turística.

Em 2011 os maiores fluxos foram observados nas zonas turísticas da Baía

de Todos os Santos, Costa do Descobrimento e Costa dos Coqueiros que

juntas acumularam, naquele ano, mais de 60% de todo o fluxo turístico

estadual. Desse total, mais de 40% está concentrado na Região Metropolitana

de Salvador (FIPE, 2012). (TABELA 5).

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TABELA 5- PARTICIPAÇÃO DAS ZONAS TURÍSTICAS NO FLUXO TURÍSTICO RECEPTOR DOMÉSTICO E INTERNACIONAL DA BAHIA EM 20111

Zona Turística

Fluxo

Turístico %

Bahia de Todos os Santos 36,9

Costa do descobrimento 14,1 Costa dos coqueiros 10,1

Costa do cacau 6,2

Costa do dendê 5,8

Costa das baleias 5,5 Caminhos do sertão 5,2 Chapada diamantina 4,5

Caminhos do oeste 4,3 Caminhos do sudoeste 2,3 Lagos e Canyons de São Francisco 1,5

Caminhos do Jiquiriçá 0,9 Vale do São Francisco 0,5 Nenhuma 2,3

TOTAL 100,0

Fonte: FIPE (2012) 1 Ao dados foram representados de forma relativa, pois assim é possível

vislumbrar a participação da cada Zona Turística no fluxo turístico estadual.

Contrariando essa lógica, percebe-se que, apesar de sua baixa

atratividade, é na Costa do Dendê que se encontra a localidade onde os gastos

realizados pelo turista são maiores. Segundo pesquisa da Fundação Instituto

de Pesquisas Econômicas (FIPE, 2012) Morro de São Paulo, distrito do

município de Cairu, apresenta o maior gasto per capita/dia dentre todas as

localidades pesquisadas no território baiano. Em média o gasto diário do turista

que visita Morro de São Paulo é de R$ 211,00, porém, quando se avalia per

capita desassociado do período de permanência, a liderança é assumida por

Arraia D’ Ajuda, distrito do município Porto Seguro.

Em relação ao Gasto per capita, os turistas de Arraial D´Ajuda continuam se destacando com média de R$ 731,00, seguido por Morro de São Paulo (R$ 693,00), Salvador (R$ 593), Lençóis (R$ 543,00) e Praia do Forte (R$ 541,00) (...) Quando a comparação é realizada em termos do Gasto médio per capita/dia, Morro de São Paulo aparece em primeiro lugar com R$ 211,00, seguido por Praia do Forte (R$ 171,00), Arraial D´Ajuda (R$ 166,00) e Lençóis (R$ 158,00). (FIPE, 2012, p. 48)

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A pesquisa revela que o turismo em Morro de São Paulo apresenta grande

poder de geração de renda, principalmente no ramo de hospedagem e

alimentação o que representa 40% dos gastos do visitante. (FIPE, 2012).

Essa posição de Morro de São Paulo quanto aos gastos do turista deve-se

ao fato que na grande maioria das cidades analisadas, o meio de hospedagem

utilizado pelo visitante é a casa de amigos ou parentes, enquanto em Morro de

São Paulo predominam hospedagens comerciais como pousadas, hotéis etc.

Aliado a este fato, outra variável deve ser considerada, o tempo de

permanência do visitante. Não que essa variável seja determinante para

explicar o elevado gasto do turista, entretanto através desta, é possível

entender melhor a dinâmica do turismo em Morro de São Paulo. Nesta

localidade, o tempo de permanência do visitante é menor, enquanto a

permanência do turista é de 8,8 pernoites em Salvador e 6,0 em Porto Seguro,

em Morro de São Paulo é de 3,3 pernoites.

Ressalta-se ainda que Morro de São Paulo e Porto Seguro ocupam a

segunda posição no quadro de preferência dos turistas estrangeiros atraindo,

cada um, 10,7% dos turistas que visitam a Bahia. Salvador exerce liderança

quanto à predileção do destino do turista internacional.

É notável a participação do município de Cairu, através do seu distrito

Morro de São Paulo, na dinâmica regional da economia turística da Costa do

Dendê, todavia o turismo nesta porção do território baiano não se limita apenas

a Morro de São Paulo. Cidades como Maraú e Valença também possuem uma

dinâmica produtiva no setor.

Neste momento do estudo será feita uma análise da atividade turística no

município de Valença, importante centro turístico da Costa do Dendê. Porém, a

sua participação econômica dentro do turismo baiano é muito limitada, se

comparada a outros destinos turísticos da Costa de Dendê.

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5 TERRITÓRIO E TURISMO EM VALENÇA E GUAIBIM: LEITURA SOBRE A REALIDADE INVESTIGADA

O turismo enquanto atividade econômica promove significativas

transformações onde é desenvolvido. Cruz (2000, p.8) discute sobre esta

questão afirmando que, “outra face da dimensão espacial do turismo diz

respeito ao fato de esta ser a única atividade econômica moderna que

consome, elementarmente, o espaço.”

Todavia, não é todo e qualquer espaço que pode exercer a função turística,

exceto sob condições de incisivo interesse do capital. A função turística

portanto, está atrelada à presença de atrativos, instrumentos e instalações

turísticas. Disto decorre um conjunto indissociável de sistema de objetos e

ações, orientado sob a lógica requerida pela atividade. Trata-se de um

processo no qual o espaço atua como condição e condicionante para sua

materialização.

Diante do exposto, desenvolve-se o processo de apropriação de

determinadas parcelas do espaço geográfico pelo turismo, repercutindo assim,

na constituição de territórios turísticos, entendidos como frações do espaço,

cuja funcionalidade está associada às práticas de lazer e ócio.

Enquanto matéria-prima do turismo, percebe-se que, apesar da existência

de potencialidades ambientais e culturais que favorecem significativo fluxo de

turistas, o turismo é praticado exclusivamente em Guaibim e na sede municipal.

As características ambientais dos outros distritos também favorecem ao

ecoturismo e turismo de aventura, contudo apenas esses dois espaços

apresentam uma maior dinâmica turística, em razão do fluxo de visitante

concentrar-se nestas localidades. A Figura 12 mostra os limites dos distritos e

da sede de Valença, permitindo visualizar a dimensão da concentração

espacial da atividade.

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FIGURA 12 - DISTRITOS DO MUNICÍPIO DE VALENÇA

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O turismo no município de Valença é mais uma possibilidade para dinamizar a

economia local a partir da geração de renda. Quem visita Valença vem em busca do

consumo da natureza, contudo, não só o consumo da natureza atrai e mantém o

visitante. É necessária a oferta satisfatória de outros equipamentos urbanos, além

de todo um aparato institucional que regulamente e fomente o desenvolvimento da

atividade. Quanto ao processo de qualificação do espaço com vistas a fomentar as

práticas turísticas, o poder público deve exercer participação através do

planejamento e execução de políticas públicas.

Com base na capacidade de criar territórios, o turismo responde pela

constituição de desigualdades socioespaciais. O desenvolvimento do turismo

apresenta ritmos diferenciados de crescimento na Zona Turística Costa do Dendê,

com destaque para o distrito de Morro de São Paulo no município de Cairu, o que

significa afirmar que, em virtude das especificidades socioespaciais e da própria

dinâmica do capital imprime-se um desenvolvimento desigual. Sobre esse processo

Santos (1996) afirma que cada porção da superfície recebe objetos em detrimento

de tantos outros objetos que determinam a sua singularidade, o que condiciona e

simultaneamente resulta em desigualdade.

Os objetos técnicos são susceptíveis de influenciar comportamentos e, desse modo, presidem a certa tipologia de relações, a começar pelas relações com o capital e o trabalho. (...) geradoras de uma seletividade de uso (...) que são interpretações locais das distancias, dos custos, dos preços, das normas gerais (...) mediante sempre se estão redefinindo as especializações (...). (SANTOS, p. 181).

Em Valença foi possível observar esse processo na medida em que a partir das

práticas turísticas repercutiram em especulação imobiliária no distrito do Guaibim.

Observa-se que a ocupação do solo neste distrito é marcada pela seletividade

territorial por parte do capital, onde os proprietários de maior poder aquisitivo se

estabeleceram ao longo da orla marítima, na Avenida Taquari, distrito de Guaibim.

Devido à proximidade com a praia, o solo nesta área é mais valorizado, apesar

da ocupação irregular, por se tratar de solo sob a jurisprudência da Marinha sendo

vedada a sua ocupação. Entretanto, a força do capital utiliza estratégias para

fomentar a acumulação, onde a estratégia utilizada foi a negociação com o poder

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público local que enxergou nesses empreendimentos mais uma possibilidade de

geração de emprego e renda. (FOTO 9).

FOTO 9 - EMPREENDIMENTO HOTELEIRO NA PRAIA DE GUAIBIM

Fontes: Valença (2004)

Devido à especulação imobiliária, os pequenos empreendimentos acabaram por

se instalar mais distante da linha de praia, próximo ao centro urbano do distrito onde

a valorização turística é menor. Santos (1996) a esse respeito afirma que os lugares

se distinguem pela diferente capacidade de oferecer rentabilidade aos

investimentos: essa rentabilidade é maior ou menor, em virtude das condições

locais. Nessas condições, esses estabelecimentos comerciais têm expressiva

dificuldade de se manter no mercado, somam-se a esse quadro os problemas

ligados à sazonalidade.

A pesquisa de campo também revelou, através das entrevistas, questionários e

observação direta, a desigualdade socioespacial, quanto à falta de acesso a

determinados serviços de saneamento básico, que produz espaços diferenciados.

As relações entre a oferta de serviços sociais e a população participam de um jogo

de oferta e demanda igualmente assimétrico.

Sousa (2006) chama a atenção para a decorrente desigualdade de acesso aos

serviços de abastecimento de água e esgoto em Valença, afirmando que:

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(...) os serviços públicos de abastecimento de água e de esgoto, no município, seguem uma lógica de segregação espacial, da mesma forma que uma segregação dos investimentos e de política pública, atendendo a espaços de maior valorização social e econômica. (SOUSA, 2006, p 99)

Segundo a autora, a melhor oferta dos serviços ligados ao saneamento básico

ocorre no distrito sede e no distrito de Guaibim em razão de maiores investimentos

públicos nestas áreas, o que significa afirmar que a ação do poder público comporta-

se de forma diferenciada em função da natureza socioeconômica do espaço. Esses

dois distritos, acumulam as atividades mais dinâmicas do município,

consequentemente, concentram também o maior contingente populacional,

imprimindo a desigualdade socioespacial.

Neste trabalho optou-se por analisar as variáveis que impactam no

desenvolvimento do turismo. A oferta turística através da infraestrutura urbana de

saneamento básico, o sistema de hospedagem e a organização institucional do

poder público local. Ressalva-se que para um estudo mais aprofundado sobre o

desempenho turístico faz-se necessário estudar outras variáveis como: sistema de

transporte, vias de acessibilidade dentre outras.

5.1 Espaço turístico em Valença e Guaibim

Referenciada na concepção de Boullón (2002) sobre o espaço turístico

observou-se que, em razão da presença e distribuição territorial dos atrativos

turísticos no município de Valença, apenas o distrito sede e o de Guaibim podem ser

considerados espaços turísticos.

De acordo com a classificação proposta por Boullón (2002) a cidade de Valença

pode ser classificada como centro turístico, porém, em razão de suas peculiaridades

é possível identificar neste espaço turístico a tipologia centro de escala, em razão de

seu papel de conexão entre o transporte rodoviário e hidroviário para os fluxos

turísticos com destino a Morro de São Paulo, o mais importante centro turístico da

Costa do Dendê. Esse quadro pode ser justificado pela expansão do capital via

desenvolvimento desigual edificado a partir da atividade turística, cuja produção de

espaços turísticos deu-se de forma diferenciada na Costa do Dendê. Smith (1988)

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chama atenção para o fato que a tendência contraditória para a diferenciação e para

a igualização determina a produção capitalista do espaço, assim sendo, essa

contradição que reside no âmago do capitalismo, inscreve-se na paisagem em um

desenvolvimento desigual. Consequentemente, o turismo nos diferentes espaços

turísticos, como Valença e Morro de São Paulo, são possuidores de diferentes taxas

de crescimento econômico, e “desigualdade espacial não tem sentido algum, exceto

como parte de um todo que é o desenvolvimento contraditório do capitalismo”.

(Smith 1988, p. 151).

Em razão dessa proximidade com outros atrativos turísticos pertencentes ao

município de Cairu, percebe-se que o fluxo de visitantes para Valença e Guaibim é

pequeno comparado a demanda para a Ilha de Tinharé, pertencente à Cairu.

(TABELA 06)

TABELA 6- FLUXO GLOBAL DE TURISTAS NOS PRINCIPAIS DESTINOS TURÍSTICOS DA COSTA DO DENDÊ - BAHIA 2003–2005

Destinos Turísticos 2003 2004 2005

Morro de São Paulo 117.720 122.420 130.100

Valença 70.630 73.450 78.060

Bahia 4.708.605 4.897.000 5.204.100

Fonte: Bahia (2005a).

O Relatório de Desempenho Turístico na Bahia 2006 (BAHIA, 2005) traz

informações sobre o desempenho valenciano frente ao turismo estadual. Usando os

dados sobre movimentação de passageiro nos principais aeroportos baianos

percebe-se que os números produzidos por Valença não são muito expressivos.

Segundo informações contidas no documento, entre o período de 2003 a 2005, o

número de passageiros com destino para Valença passou de 9.278 para 14.537, o

que representa um crescimento de 36%. Contudo, ao analisar o total de passageiros

que desembarcam na Bahia, observa-se que participação deste município é muito

pequena, perfazendo um total de 3% de todo o desembarque estadual no ano de

2005. (TABELA 7)

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TABELA 7- TOTAL DE PASSAGEIROS QUE DESEMBARCAM NOS AEROPORTOS DA BAHIA E VALENÇA

Ano Bahia Valença

2003 3.444.930 9.278

2004 4.372.06 10.156

2005 4.911.400 14.537

Fonte: Bahia (2005a).

Algumas ressalvas devem ser feitas aos se analisar esses números. A princípio o

número de embarques e desembarques de passageiros não é suficiente para avaliar

o desempenho turístico de Valença, pois a infraestrutura do aeroporto local não

permite a existência de um maior fluxo de passageiros. A escassez de conexões

com outros aeroportos também reduz o uso dessa modalidade de transporte pelo

turista que visita Valença e Guaibim.

As informações levantadas pela pesquisa de campo, a partir da aplicação de

questionários com turistas, permitem inferir que uma parcela significativa dos turistas

60% (sessenta por cento) em Valença e Guaibim são originário de municípios que

se situam em locais cuja distância até Valença não ultrapassa 200 km. Isso favorece

o transporte rodoviário em detrimento do aéreo. As principais cidades emissoras são

Salvador, Ipiaú, Feira de Santana e Santo Antônio de Jesus.

Dando continuidade à análise sobre a origem dos turistas, referenciada nos

estudos de Boullón (2005) sobre os municípios turísticos. Esse autor estabelece

uma classificação dos centros turísticos segundo a origem do mercado emissor,

propondo que, quando a distância entre os atrativos turísticos e os municípios de

origem não ultrapassem 200 km, o centro pode ser classificado como centro interno

de abrangência local. A pesquisa demonstrou que o distrito de Guaibim pode ser

inserido nesta categoria, pois há um predomínio de turistas cuja origem está no

próprio território baiano, e a distância de deslocamento entre o centro emissor e

Valença, não ultrapassa esse limite. Apesar da predominância de fluxos turísticos

cujo núcleo emissor está na Bahia, os dados revelaram que Brasília representa um

importante mercado emissor de turistas para o município de Valença. A partir da

amostragem de 200 (duzentas) questionários aplicados com turistas, 30% destes

foram respondidos por visitantes oriundos do Distrito Federal. A Tabela 8 demonstra

MAPA 11 DISTRITOS MUNICÍPIO DE VALENÇA

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o quantitativo de turistas indicando os municípios emissores para o município de

Valença-Ba.

TABELA 8 - MUNICÍPIO DE ORIGEM DOS TURISTAS QUE VISITAM VALENÇA E GUAIBIM

MUNICÍPIO UF FREQUÊNCIA

Salvador Bahia 36

Ipiaú Bahia 24

Santo Antônio De Jesus Bahia 19

Feira De Santana Bahia 13

Ilhéus/Itabuna Bahia 10

Itaberaba Bahia 10

Jaguaquara Bahia 07

Ituberá Bahia 02

Ibotirama Bahia 01

Nazaré Bahia 01

Belo Horizonte Minas Gerais 3

Goiânia Goiás 13

Brasília Distrito Federal 60

São Paulo São Paulo 1

TOTAL 200 Fonte: Elaboração da autora Pesquisa de Campo 2014/2015

Nessas condições, o raio de influência do principal atrativo turístico de Valença

limita-se a uma distância de até 200 km, através das rodovias BA 001 e BR 101.

Boullón (2002) chama a atenção para o fato que o centro turístico só será capaz de

gerar desenvolvimento caso o mesmo contenha hospedagem, alimentação,

entretenimento, agência de viagens, informações turísticas sobre as instalações e

atrativos locais, comércios turísticos, postos telefônicos, correio, sistema de

transporte interno organizado e conexões com os sistemas de transporte externo.

As informações levantadas durante a pesquisa revelaram que 123 (cento e vinte

e três) visitantes entrevistados, num universo de 200 (duzentas) abordagens, tinham

suas residências permanentes em municípios baianos. Desse total 92 (noventa e

dois) moravam a menos de 200 km de Valença, ou seja, 74% dos visitantes: 36

provenientes de Salvador, 24 de Ipiaú, 13 de Feira de Santana e 19 de Santo

Antônio.

A Figura 13 demonstra a espacialidade do raio de influência turística do

município de Valença.

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FIGURA 13 – BAHIA: RAIO DE INFLUÊNCIA TURÍSTICA DO MUNICÍPIO DE VALENÇA

MAPA 11 DISTRITOS MUNICÍPIO DE VALENÇA

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A abordagem sobre as características do sistema de hospedagem presente no

munícipio também pode elucidar as potencialidades turísticas e a necessidade de

planejamento.

Entende-se por sistema ou meios de hospedagem o conjunto de

estabelecimentos comercias que prestam serviço de acolhimento. O serviço

prestado atende a diferentes segmentos de consumo e caracteriza-se pela grande

variedade de empresas com estrutura e serviços igualmente diversificados. Esse

ramo de atividade comercial representa uma parcela significativa, em termos de

produção de capital, de toda cadeia produtiva do turismo.

Em razão de sua importância econômica e à medida que o turismo alcança

proporções globais, o poder público passa a normatizar a prestação deste serviço

visando assegurar a sua qualidade. (MENEZES, 2013). A partir disto, os diferentes

estabelecimentos comerciais passam a ser classificados em categorias que servem

tanto para orientar a escolha pela melhor opção de consumo pelo turista, como

também, regular a dinâmica produtiva do setor determinando os padrões e requisitos

que cada categoria de estabelecimento deve possuir para atingir determinado

mercado.

Segundo Menezes (2013), desde 1998 foram adotados diferentes matrizes de

classificação dos serviços de hospedagem. Não se pretende fazer uma análise das

diferentes sistemas de classificação, o que importa neste trabalho é elucidar quais

são as diferentes categorias dos serviços ofertados no Brasil, com vistas a analisar o

sistema de hospedagem existente em Valença. A partir da Portaria nº 100 de 16 de

junho de 2011 um novo sistema de classificação foi institucionalizado, com base em

270 requisitos organizados em dois grupos, um com caráter de obrigatoriedade,

requisitos mandatórios, e o segundo grupo com requisitos eletivos. Os

estabelecimentos foram divididos em sete categorias. (BRASIL, 2014)

Art. 7º Os tipos de meios de hospedagem, com as respectivas características distintivas, são:

I - HOTEL: estabelecimento com serviço de recepção, alojamento temporário, com ou sem alimentação, ofertados em unidades individuais e de uso exclusivo dos hóspedes, mediante cobrança de diária;

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II - RESORT: hotel com infraestrutura de lazer e entretenimento que disponha de serviços de estética, atividades físicas, recreação e convívio com a natureza no próprio empreendimento; II - HOTEL FAZENDA: localizado em ambiente rural, dotado de exploração agropecuária, que ofereça entretenimento e vivência do campo; IV - CAMA E CAFÉ: hospedagem em residência com no máximo três unidades habitacionais para uso turístico, com serviços de café da manhã e limpeza, na qual o possuidor do estabelecimento resida; V - HOTEL HISTÓRICO: instalado em edificação preservada em sua forma original ou restaurada, ou ainda que tenha sido palco de fatos histórico-culturais de importância reconhecida; VI - POUSADA: empreendimento de característica horizontal, composto de no máximo 30 unidades habitacionais e 90 leitos, com serviços de recepção, alimentação e alojamento temporário, podendo ser em prédio único com até três pavimentos, ou contar com chalés ou bangalôs; VII - FLAT/APART-HOTEL: constituído por unidades habitacionais que disponham de dormitório, banheiro, sala e cozinha equipada, em edifício com administração e comercialização integradas, que possua serviço de recepção, limpeza e arrumação. (BRASIL, 2011, p 3) (grifo nosso).

Além de classificar os estabelecimentos comerciais de hospedagem, a referida

Portaria também institui a obrigatoriedade do uso digital do Sistema Nacional de

Registro de Hóspedes (SNRHos) e o preenchimento da Ficha Nacional de Registro

de Hóspedes (FNRH).

Para obter a classificação é necessário estar cadastrado no Ministério de

Turismo e fazer a solicitação junto a este órgão que procederá a avaliação do

estabelecimento comercial. Para alcançar a categoria pleiteada o estabelecimento

deverá atender 100% (cem por cento) dos requisitos mandatórios e 30% dos

requisitos eletivo. Segundo pesquisas do Ministério de Turismo, atualmente existem

no Brasil 15 (quinze) mil estabelecimentos comerciais de hospedagem, mas apenas

46% desse total estão devidamente cadastrados.

Apenas os estabelecimentos cadastrados podem pleitear a classificação

regulamentada pela legislação vigente, baseada na concessão de estrelas a partir

da qualidade do serviço ofertado.

No município de Valença a oferta dos serviços de hospedagem se dá

predominantemente através de estabelecimentos denominados de pousada ou

hotel, perfazendo um total de 50 (cinquenta) unidades no distrito do Guaibim e 14

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(catorze) em Valença, nas demais unidades territoriais do município os serviços de

hospedagem são ineficientes.

Durante a pesquisa de campo, as entrevistas com o Secretário de Turismo e o

Diretor de Fiscalização da Receita Municipal, identificou-se que não há na Prefeitura

Municipal cadastro identificando o número de hotéis e pousadas. Ao ser

questionado sobre como proceder para fiscalizar o funcionamento destes

estabelecimentos comerciais, o Diretor de Fiscalização da receita Municipal

respondeu,

Não há fiscalização, cabe à Receita Municipal apenas cobrar os impostos como IPTU. O funcionamento das unidades comerciais é feito pela vigilância sanitária. Cabe à Receita Municipal, com base na legislação, conceder e, quando necessário, cancelar a licença de funcionamento (Diretor de Fiscalização da Receita Municipal, 2015, informação verbal).

O mesmo questionamento foi feito ao Secretário de Turismo que também

respondeu “não há nenhum acompanhamento a respeito destes estabelecimentos,

cabendo a Prefeitura apenas conceder as licenças de funcionamento” (Secretário de

Turismo, 2015, informação verbal). Frente a esta dificuldade, optou-se num primeiro

momento, por buscar informações em outros meios, como lista telefônica e em

seguida confrontar os dados com a investigação, assim identificou-se 14 (catorze)

estabelecimentos comerciais localizados no distrito sede.

A pesquisa de campo, portanto, revelou que há uma concentração dos meios de

hospedagens nos distritos Guaibim e Valença o que se justifica pelo expressivo

dinamismo econômico, em relação aos demais distritos, significando admitir que ob

processo de urbanização nestas localidades foi relativamente mais acentuado.

Sobre essa temática Santos (1996) afirma que as ações hegemônicas se

estabelecem e se realizam (...) privilegiando certas áreas. Os lugares se distinguem

pela diferente capacidade de oferecer rentabilidade aos investimentos. Essa

rentabilidade é maior ou menor em virtude das condições locais de ordem técnica

(...) e organizacional.

Os dados expostos na Tabela 9 indicam o quantitativo dos meios de

hospedagem em Guaibim e Valença, identificados mediante informações coletadas

na pesquisa de campo. Buscou-se também informações sobre a qualidade e a

tipologia dos meios de hospedagem existentes na área de estudo.

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TABELA 9 – VALENÇA E GUAIBIM: NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE HOSPEDAGEM

Local Número de Unidades Comerciais Número de Unidades de Leitos

Valença 14 288

Guaibim 50 2571

Total 64 2859

Fonte: Elaboração da autora (Pesquisa de Campo, 2014/2015)

Observou-se que tanto em Valença como em Guaibim, os visitantes optam pela

hospedagem em hotéis e pousadas em detrimento de casas de veraneio. O Gráfico

1 retrata os resultados da investigação sobre a questão em Valença

GRÁFICO 1 – VALENÇA TIPOLOGIA DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM DO TURISTA

Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.

A opção pela hospedagem em hotéis e pousadas, tanto em Valença como em

Guaibim, justifica-se em razão da comodidade para o visitante. O gráfico 2 revela

qual o meio de hospedagem mais utilizado pelo turista que visita o Guaibim.

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GRÁFICO 2 GUAIBIM: TIPOLOGIA DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM DO TURISTA

Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo

. A avaliação da qualidade do serviço ofertado pelos meios de hospedagem foi

referenciada pelo Ministério de Turismo através da portaria nº 100 de junho de 2011,

em que os estabelecimentos são classificados a partir da concessão de estrela,

contudo para adquirir essa classificação é necessário estar cadastrado naquele

Ministério.

A pesquisa revelou que parcela significativa dos hotéis e pousadas no município

de Valença, tem burlado a determinação legal. A situação do distrito de Guaibim é

bastante reveladora: do total de cinquenta unidades de hospedagem, apenas 17%

estão regularmente cadastradas, o que corresponde a 11 (onze) estabelecimentos.

As irregularidades, quanto ao cadastro nos órgãos oficiais de turismo, também são

expressivas em Valença, apenas um estabelecimento está devidamente registrado

naquele órgão. Quando foi questionado ao Presidente da Associação de Turismo

Valença e Guaibim (ATIVA), as razões que explicam o porquê os empresários do

setor de hospedagem não regularizam a situação junto ao Ministério de Turismo, ele

respondeu:

Para se cadastrar no Ministério de Turismo é preciso muita papelada, é uma burocracia total. E o beneficio é irrisório, pois esse cadastro serve só para classificar quantas estrelas têm o estabelecimento

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também é um pré-requisito em alguns bancos para quem quer tomar dinheiro para reformar o estabelecimento, fora isso, ele não serve para nada. (Presidente da ATIVA, 2015, informação verbal).

Sem cadastro nos órgãos públicos a fiscalização é ainda mais complexa. Além

disso, desprovido de um parâmetro para identificar a sua qualidade, o turista, vê-se

obrigado a escolher as acomodações de forma aleatória. Porém, sabe-se que a sua

avaliação frente ao que foi ofertado naquele estabelecimento garantirá ou não o seu

retorno em futuras visitas.

Percebe-se que, na área de estudo, os estabelecimentos comerciais que ofertam

o serviço de hospedagem caracterizam-se por ser de pequeno e médio porte,

fundados a partir da iniciativa privada e que sobrevivem da renda proporcionada

durante o período de alta temporada, entre os meses de dezembro a fevereiro.

Os gráficos 3 e 4 revelam como os visitantes de Valença e Guaibim avaliam os

meios de hospedagem.

GRÁFICO 3 – GUAIBIM: AVALIAÇÃO DO TURISTA SOBRE OS MEIOS DE HOSPEDAGEM

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Bom Excelente Não avaliado Péssimo Regular Ruim

Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.

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GRÁFICO 4 – VALENÇA: AVALIAÇÃO DO TURISTA SOBRE OS MEIOS DE HOSPEDAGEM

Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.

. Comparando os dados coletados na pesquisa de campo é possível notar que

o quantitativo que avaliou negativamente os meios de hospedagem, classificando-os

como péssimo em Guaibim é maior que em Valença, 17% e 3% respectivamente.

Esse quadro pode ser justificado pela falta de investimentos nos estabelecimentos

comerciais em Guaibim, por parte dos proprietários.

A avaliação dos turistas, quanto às acomodações utilizadas, revela quanto

este elemento pode ser considerado um obstáculo ou não, para o desenvolvimento

da atividade.

A sazonalidade do fluxo de turistas é um dos problemas apresentados pelos

envolvidos no setor. Ao ser questionado sobre quais são as principais obstáculos

para o desenvolvimento do turismo em Valença e Guaibim, o ATIVA respondeu que:

“durante o período de baixa temporada (entre os meses de abril e setembro), hotéis,

restaurantes e pousadas localizados no Guaibim, fecham as portas, demitindo seus

funcionários, muitos deles moradores do próprio distrito”. Ele ainda relatou que:

“Em Valença é muito raro os hotéis fecharem as portas porque durante a baixa estação há uma frequência significativa de hospedagem de outro tipo de visitante, os representantes comerciais, que chegam à cidade para vender seus produtos e passam em

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média dois ou três dias”. ( Presidente da ATIVA, 2014, informação verbal).

Como o fluxo turístico naquela localidade está diretamente relacionado ao

turismo sol e praia, a rentabilidade está ligada à sazonalidade do verão, enquanto

em Valença o fluxo é constante em razão da hospedagem de visitantes com outro

perfil, não diretamente relacionado ao apelo paisagístico.

Percebe-se assim, que isoladamente, há uma sensível diferença nos motivos

que impulsionam a viagem para esta área, porém quando os dados são

processados em conjunto, as características paisagísticas aparecem como o

principal razão da viagem.

As estatísticas na pesquisa sobre os motivos que levam o turista a visitar estes

dois distritos, ratifica essa justificativa, pois, 57% responderam que chegam à

Valença não pelos seus aspectos paisagísticos como principal motivo da viagem,

enquanto no Guaibim esse é o principal motivo de 54% dos turistas naquela

localidade. (GRÁFICO 5).

GRÁFICO 5- VALENÇA E

GUAIBIM: PRINCIPAIS MOTIVOS DE VIAGEM DOS TURISTAS

0

10

20

30

40

50

60

Belezas naturais Visitar amigos/outrosmotivos

Guaibim

Valença

Fonte: SOUSA, 2014/2015. Estudo de Campo

O tempo de permanência do turista é objeto da pesquisa. Os dados levantados

pelo estudo revelaram que a maior parte dos entrevistados 64% permanecem no

município por até três dias, ou seja, dois pernoites: esse é o tempo suficiente para

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desfrutar da natureza existente em Valença e Guaibim, pois existem outros destinos

turísticos que merecem ser visitados, como Boipeba, Maraú, Morro de São Paulo,

etc, ratificando assim a função turística de Valença como centro de escala. O motivo

do curto período de permanência deve-se a falta de equipamentos de lazer e

diversão. O Gráfico 6 consta os dados da pesquisa de campo sobre o tempo de

permanência dos turistas nos distritos de Valença e Guaibim.

GRÁFICO 6 - VALENÇA E GUAIBIM: TEMPO DE PERMANÊNCIA DO TURISTA

Fonte: SOUSA, 2014/2015. Estudo de Campo.

O resultado é um padrão de desenvolvimento turístico desigual, Smith (1998)

aponta que esse processo é inerente ao capitalismo, afirmando que:

Se a acumulação do capital acarreta desenvolvimento geográfico e se a direção desse movimento é a taxa de lucro, então podemos pensar o mundo como uma superfície de lucros produzida pelo próprio capital (...) o capital se move para onde a taxa de lucro é máxima (...) a mobilidade do capital acarreta o desenvolvimento de áreas com alta taxa de lucro (...) o desenvolvimento desigual resulta do movimente de vaivém do capital.

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Com essas características de baixa taxa de permanência, a rentabilidade do

turismo no município enfrenta dificuldades para a sua manutenção, sendo

necessário reverter o quadro a partir da construção de mecanismos que garantam

uma maior permanência do turista. Trata-se de avaliar a oferta turística no sentido

de garantir a manutenção da atratividade do núcleo receptor. Para tanto, as

informações sobre essa questão foram levantadas a partir da pesquisa de campo.

Com vistas a identificar como o turista avalia os equipamentos e instalações

turísticas questionou-se sobre o que mais impactou positivamente a sua estada. Os

pontos considerados mais significativos foram, a hospitalidade do valenciano, as

belezas naturais, a qualidade dos serviços turísticos, o atendimento dos prestadores

de serviços, a oferta de serviços de lazer e a limpeza urbana. A frequência dos

elementos apontados pelo turista permite identificar onde se situa o principal

problema para o desenvolvimento do setor, os dados são apresentados no Gráfico

7.

GRÁFICO 7 – VALENÇA E GUAIBIM: AVALIAÇÃO DO TURISTA SOBRE OS SERVIÇOS E PRODUTOS TURISTICOS

Fonte: SOUSA, 2014/2015. Estudo de Campo

As belezas naturais de Valença e Guaibim foram apontadas como elementos

que mais se destacam para a prática turística na área de estudo, assim sendo,

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percebe-se a importância dos aspectos naturais para o desenvolvimento do turismo

valenciano. Nenhum dos turistas questionados citou a limpeza urbana e

equipamentos de lazer e diversão como aspectos que impactam favoravelmente

para o turismo, o que significa afirmar que estes são os elementos que mais

necessitam de intervenção com vias a aprimorar a oferta turística no município.

Além da análise sobre a oferta dos meios de hospedagem disponível em

Valença, enfocar condições da infraestrutura de saneamento disponível pode

desvelar informações que levem a compreensão da oferta turística do município.

O saneamento básico sob a administração do poder municipal através da

autarquia Sistema Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), foi instituído com a Lei

municipal nº 676 de 21 de 1966. Enquanto autarquia, o SAAE tem autonomia

financeira e administrativa para captar, fornecer e distribuir água canalizada, além da

realização de operações relacionadas a esgotamento sanitário em todo o município.

Sousa (2006) apresenta uma análise socioambiental do município, com base no

Censo Demográfico do IBGE de 2000, e de acordo com os dados da pesquisa de

campo, foi possível identificar que os serviços prestados pelo SAAE atendiam um

total de 80.768 mil pessoas, das quais 80% tinham acesso à rede geral de

abastecimento de água e apenas 52% eram atendidas com esgotamento sanitário.

Os dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 2010) revelam que, do total de 83.999 pessoas residentes em

domicílios particulares no município de Valença, 20.081 não dispõem de

saneamento adequado, o que representa quase 24% do número de residentes. As

informações apresentadas pelo ministério da Saúde em Valença indicam que em

2010, do total de famílias cadastradas no Sistema Único de Saúde (SUS) 21.846

famílias: 26% não eram atendidas pelo sistema público de abastecimento de água

tratada, 41% não possuíam rede de esgotamento sanitário adequado e 30% não

tinham acesso à coleta municipal de lixos.

Dentre os componentes do sistema de saneamento básico, a coleta de lixo é o

serviço que tem maior visibilidade para o turista. A despeito da importância do

abastecimento de água e da rede de esgotamento sanitário como condições para a

manutenção de um ambiente saudável, condição sine qua non para o turismo,

contudo, essas variáveis são pouco percebidas pelos visitantes.

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Como a matéria-prima do turismo é o consumo da natureza, um ambiente

carente de coleta de lixo compromete a venda deste produto. Atualmente este é um

problema que tem estado no centro das discussões ambientais, especialmente

quando as estimativas apontam para uma maior produção em razão do crescimento

populacional.

Nesse contexto, pode-se afirmar sobre a necessidade de planejamento e

políticas públicas especificas para o turismo, pois, no município de Valença a

atenção com a problemática não tem sido satisfatória.

Entre 2012 a 2013 o serviço de coleta pública de lixo cresceu apenas 3,7%. O

Gráfico 8 revela sua evolução no município de Valença.

GRÁFICO 8 – MUNICÍPIO DE VALENÇA: EVOLUÇÃO DA COLETA E DESTINO DO LIXO (TONELADAS).

Fonte: MTE, (2014)

O problema a ser considerado corresponde ao destino que é dado ao lixo

coletado. Apesar de a legislação brasileira normatizar o destino do lixo coletado, a

problemática na verdade corresponde ao que a prefeitura municipal de Valença, faz

com o lixo, deixando-o a céu aberto, assim como a maioria das prefeituras no Brasil.

Acentuam-se assim problemas de ordem ambiental comprometendo o bem mais

precioso para o desenvolvimento do turismo, a natureza.

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Faz-se necessária mais efetividade na ação do poder público local no sentido de

implementar planejamento que vise aprimorar os serviços vinculados à limpeza

urbana, e à adoção de uma política pública com vistas a criar ou aprimorar

equipamentos que favoreçam práticas de entretenimento e lazer; a elaboração de

calendário festivo pode ser fundamental nesse sentido.

(...) produtos e serviços são oferecidos por uma gama de produtores e fornecedores diferentes que, apesar de atuarem de forma individual, são entendidos pelo turista como um todo que integra a experiência vivenciada da viagem. Por isso, o planejamento da oferta turística de núcleos receptores deve considerar o desempenho isolado de cada um, integrado a um objetivo geral, e cooperado – voltado para a qualidade total dos produtos e serviços oferecidos. (RUSCHMANN, 1997 p.89).

A autora chama atenção para a importância do planejamento turístico,

sinalizando que é sob esse viés que se mantém oferta turística, e por

prolongamento, eleva-se a permanência do visitante. Nesse sentido, a eficiência do

planejamento e da política pública de turismo está atrelada à variável dotação

orçamentária. É preciso ponderar que a existência de recursos financeiros não

garante a eficiência da oferta turística, contudo, quando não há orçamento, atingir

essa eficácia torna-se uma difícil tarefa.

Outro problema na oferta do produto turístico foi identificado pela pesquisa,

trata-se da disponibilidade de informações sobre os atrativos turísticos no município.

Durante a pesquisa de campo foi solicitado que os respondentes informassem

quantos atrativos conheciam e citassem pelo menos, o nome de um atrativo. Os

resultados demonstraram a falta de conhecimento quanto aos atrativos turísticos no

município, pois 58% dos turistas, o que representa cento e dezesseis turistas,

conheciam apenas um atrativo, o Guaibim, nome citado por cento e cinquenta

turistas, ou seja, 75% dos questionários. Os dados revelam que a falta de

conhecimento sobre os atrativos turísticos é um problema a ser enfrentado.

Todos os problemas identificados nas respostas aos questionário, não invalidam

a prática do turismo em Valença e Guaibim. Na verdade, os próprios visitantes

apontaram que, independente das dificuldades encontradas durante a sua estada, o

desejo de voltar a visitar o município é constante. De todos os turistas que foram

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abordados, perfazendo um total de 200, apenas 15% expressaram desejo de não

mais voltar a Valença ou Guaibim.

5.2 O Poder público e o desenvolvimento do turismo em Valença.

A análise sobre como o do poder público atua sobre o desenvolvimento do

turismo é fundamental para a compreensão da realidade, especialmente no que se

refere à produção do turístico em Valença. Nessas localidades se efetiva a ação do

Estado no sentido de fomentar a atividade. A pesquisa revelou que, enquanto

responsável pela realização de planejamento e política pública, o Estado, desde a

escala nacional até a escala local, é o agente que mais interfere no dinamismo do

setor.

Durante a pesquisa de campo observou-se que o poder público municipal

enfrenta dificuldade para executar o planejamento turístico, pois até o período em

que foi realizada esta pesquisa, não existia um inventário turístico do município.

Ao ser questionado sobre as principais dificuldades para a execução das ações

nesta Secretara, o Secretário Turismo informou que não há recursos financeiros

para elaborar o inventario turístico, porém em 2014 houve uma proposta para

criação de novos roteiros turísticos (Anexo A), mas infelizmente, devido à falta de

recursos financeiros e humanos, o plano não foi executado.

A nossa grande dificuldade é a disponibilidade de recursos que acaba centralizado pela prefeitura, e ela recebe o dinheiro e passa para cada secretaria municipal, distribuindo o orçamento entre as secretarias como a prefeita quiser. Não sei como fica a prestação de contas, mas ela tem sido aprovada. Esse ano eu fiz um projeto para implementar novos roteiros a partir de vistas aos pontos turísticos, algumas visitas ocorreram, mas o projeto não a frente por falta de recursos e pessoal. Foi uma pena, pois, temos belas cachoeiras, trilhas ecológicas, etc. (Secretário de Turismo, 2014, informação verbal.

Para o Secretário de Turismo “o inventário corresponde aos atrativos turísticos”,

esquecendo-se assim que um destino turístico é composto, além disso, por

equipamentos e instalações turísticas. O primeiro corresponde aos elementos de

alimentação, hospedagem, entretenimento e outros serviços como agências de

viagem, guias de turismo, estacionamentos, agências de câmbio de moedas, etc.

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Enquanto as instalações turísticas são os elementos que fomentam o lazer e

esporte, podendo ser classificado em três categorias: de água e praia (marinas,

barraca ou tendas, observação submarina, etc); de montanha (mirantes, circuito de

trilhas, teleféricos, etc) e gerais (piscina, parques infantis, vestiários, etc).

(BOULLÓN, 2002). A falta de conhecimento sobre esses elementos que compõem o

destino turístico, e que devem ser inventariados, compromete a eficiência na

execução do planejamento da atividade. Durante a pesquisa de campo percebe-se

que tal fato é evidente permitindo afirmar que se constitui em obstáculo, ou mesmo

entrave para o desenvolvimento do turismo em Valença e Guaibim.

A análise sobre planejamento turístico envolve a avaliação sobre infraestrutura

de saneamento básico, rede de oferta do serviço de hospedagem e organização

institucional do poder público local, como instrumentos reveladores da atual

necessidade de políticas públicas específicas para o turismo em Valença.

Analisou-se a organização do poder público, enquanto normalizador da atividade

turística, no sentido de elucidar o seu papel no desenvolvimento e fomento ao

turismo em Valença e Guaibim. As informações que possibilitaram a análise do

impacto da ação do poder público municipal sobre o desempenho turístico foram

coletadas através de entrevistas junto ao Secretário de Turismo, o Procurador da

Prefeitura Municipal de Valença e o Presidente da Associação de Turismo

Valença/Guaibim. (ATIVA). (APÊNDICE B,C,D e E)

Na esfera estadual e federal os dados foram levantados a partir de documentos

oficiais, como o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentado

(BAHIA, 2004), Plano de Fortalecimento Municipal da Gestão do Turismo no

Município de Valença (BAHIA, 2009), Estratégia Turística da Bahia: Terceiro Salto

2007-2016 (BAHIA, 2011), e o Relatório Final do Turismo Receptivo na Bahia

(BAHIA, 2012), Plano Plurianual - PPA 2008-2011 (BAHIA, 2008).

Neste item discute-se sobre os principais impactos da ação do poder público

sobre a atividade turística em Valença e Guaibim, desde a esfera federal até a

instância local, no sentido de refletir sobre o planejamento para o setor.

No âmbito federal, o ano de 1994 marca uma mudança de perfil da política

nacional destinada ao turismo, onde a descentralização das ações do Estado passa

a ser a meta. Nesse contexto foi elaborado o Plano Nacional de Municipalização do

Turismo (PNMT), reconhecendo a importância das instâncias de poder local para

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com o desenvolvimento turístico. Essa tendência foi mantida com o Plano Nacional

de Turismo (PNT) 2003/2007 e o PNT 2007/2010, porém a escala de intervenção

passa a ser a região turística. O uso do termo deve ser feito com ressalvas, em

razão da não continuidade espacial do atrativo turístico, como já explicado

anteriormente.

Fundamentada no conceito de região, a política de planejamento turístico no

Brasil passa a incentivar a integração e cooperação entre os municípios, valorizando

assim as instâncias de governanças regionais. Com isso, o poder municipal não

perde a relevância, pois os conselhos municipais de turismo continuam exercendo

poder na tomada das decisões políticas sobre as atividades turísticas. As principais

ações com essas características foram: Programas de Fomento ao Turismo,

Programa de Estruturação dos Segmentos Turísticos, Programa de Produção

Associada ao Turismo (PAT), Programa de Apoio do Desenvolvimento Regional do

Turismo e Programa de Planejamento e Gestão da Regionalização Turística.

(BAHIA, 2009).

A década de 1990 também foi marcada pela execução de política pública de

turismo em âmbito regional e estadual que impactaram de forma expressiva o

município de Valença. O PRODETUR pode ser considerado como a mais importante

política pública. O debate sobre a formulação e execução desta política já foi

apresentado em outras seções, contudo, as suas implicações no turismo da área de

estudo serão apresentadas doravante.

Na Bahia, na primeira fase do PRODETUR, os investimentos foram direcionados

para promover a qualificação da infraestrutura urbana, principalmente no que diz

respeito ao saneamento básico, bem como a qualificação das vias de acesso aos

principais destinos turísticos do território baiano. Em Valença e Guaibim, as

melhorias promovidas pelo programa foram direcionadas para a construção da

rodovia BA 001, especificamente o trecho que liga o município de Nazaré a Valença,

melhorando com isso o acesso dos visitantes. A partir deste local foi possível

conectar as Zonas Turísticas do Pólo Litoral Sul.

A acessibilidade também foi a estratégia adotada para a conexão viária entre o

aeroporto de Valença e o atracadouro Bom Jardins, empreendimento concluído em

1999 com o aporte de US$ 3.046,00 (três mil e quarenta e seis dólares) (BAHIA,

2004). Os dois empreendimentos rodoviários citados, favoreceram o dinamismo

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econômico na área de estudo, não só em relação ao turismo, mas em toda

conjuntura econômica local.

Durante a pesquisa de campo na Secretaria de Turismo de Valença foi

disponibilizado o Plano de Desenvolvimento da Produção Associada ao Turismo

Municipal 2013. Algumas ações foram propostas em conformidade com a política

nacional de turismo, referenciada nos eixos de qualificação, gestão, estruturação,

promoção e comercialização, previstos no PAT (ANEXO B). As ações elencadas

previam a realização de treinamentos dos prestadores de serviços, constituição de

parcerias entre prefeituras para executar o PAT, elaboração de um calendário festivo

da produção agroindustrial, dentre outras ações. Percebe-se que o documento

fornecido não pode ser classificado como um plano de ação, porque nele não

constam as metas a serem desenvolvidas, como desenvolvê-las, quais os recursos

financeiros e de pessoal necessário a sua execução, etc.

Ao ser questionado sobre se pode falar sobre os planos, projetos e ações da

Secretaria de Turismo, o Secretário de Turismo Municipal respondeu:

Nada do que constava no plano tinha sido executado, em razão da disponibilidade de recursos financeiros, pois a quantia que é repassada pela prefeitura mensalmente através do Fundo Municipal de Turismo de Valença (FUMTUR), mal dá pra pagar o estagiário que trabalha na Secretaria de Turismo. (Secretário de Turismo Municipal, 2014, informação verbal).

A resposta do Secretário de Turismo demonstra que para esse gestor, a

efetividade do planejamento e da política pública de turismo é prejudicada pela falta

de recursos. Contudo, percebe-se que aportes financeiros foram direcionados para

ações de fomento turístico. Os seminários realizados pelo Serviço de Apoio às Micro

e Pequenas Empresas da Bahia (SEBRAE) exemplificam esse argumento. Em 2014

recursos foram direcionados, através do PAT, para a participação dos gestores da

Secretaria Municipal de Turismo de Valença, Cairu, Feira de Santana, dentre outras,

no seminário realizado em setembro de 2014, pelo SEBRAE com vistas a promover

qualificação dos produtos turísticos. Neste evento foram relatadas as experiências

exitosas desenvolvidas na zona turística Caminhos do Sertão. As propostas de

ações e uma síntese do seminário foram expostas no Anexo C.

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A partir do Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS)

- Litoral Sul, ações foram projetadas com vistas ao fortalecimento da gestão

municipal no que diz respeito ao turismo, nele foi orçado para Valença a quantia de

US$ 61.558.000,00 (sessenta e um milhões e quinhentos e cinquenta e oito mil

dólares). Todavia, segundo o secretário municipal de turismo, “nem tudo que foi

planejado foi executado em razão das dificuldades de repasse orçamentário”

(Resposta do Secretario Municipal de Turismo, 2014, informação verbal).

Dados sobre o repasse de recursos do Ministério de Turismo para o município

de Valença também reforçam a problemática quanto à política pública de turismo no

município. Segundo o Sistema de Acompanhamento dos Contratos de Repasse

(SIACOR), no período entre 2005 a 2013 havia quatro contratos de repasse de

recursos financeiros para a Prefeitura Municipal de Valença, cuja finalidade era

fomentar o turismo através de obras de infraestrutura urbanística.

O valor total dos contratos soma a quantia de R$ 1.707.000,00 (Um milhão

setecentos e sete mil reais). Devido às restrições cadastrais por parte da Prefeitura

de Valença, apenas um desses contratos teve o recurso liberado. O contrato de nº

02115384 repassou para Valença o valor de R$ 487.500,00 que foi utilizado para a

reforma e ampliação da Praça da República. Constatou-se que apenas 29% do

recurso previsto foi repassado e 57% ainda não foi liberado. Parte desse recurso

aguarda a regulamentação de cláusula suspensiva (não há informação quanto à

cláusula suspensiva), e outra parte, cerca de 14% do valor total previsto, foi

cancelado pelas razões mencionadas anteriormente.

Frente aos fatos, percebe-se que o poder público municipal tem enfrentado

dificuldades quanto à execução de projetos, no que concerne à execução e repasse

orçamentário.

Na Tabela 10 constam as informações sobre os projetos e ações que estavam

previstos no PDITS para o município de Valença e sua situação quanto à execução.

O Secretário de Turismo entrevistado afirma que “muitas das ações definidas pelo

plano não foram executadas”.

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TABELA 10 - PROJETOS E AÇÕES PREVISTAS NO PDITS LITORAL SUL

Fonte: BAHIA (2004).

Para entender o porquê desta problemática é preciso considerar a estrutura

organizacional, bem como as ações implementadas pela Prefeitura municipal de

Valença que impactam sobre o turismo. A dimensão organizacional da gestão

pública municipal envolve quatro secretarias, que estão direta ou indiretamente

associadas ao desenvolvimento do setor: Secretaria de Turismo, Secretaria de Meio

Ambiente, Secretaria de Cultura, e a Secretaria de Infraestrutura Urbana. A primeira

observação, na dinâmica destes órgãos, é a completa fragilidade na articulação

entre as secretarias, o que significa afirmar que cada secretaria desempenha sua

função administrativa desenvolvendo ações isoladamente, sem que o diálogo entre

as ações se processe, assim sendo, constrói-se uma política pública setorial e

fragmentada. Ainda que muitas secretarias dividam o mesmo espaço físico, como é

o caso da Secretaria de Turismo e Secretaria de Cultura, as ações ocorrem sem que

estas se comuniquem.

Na estrutura organizacional os principais diplomas legais de normatização da

atividade na esfera municipal correspondem à Lei Municipal nº 1.572 de 27 de

outubro de 1999 que criou o Conselho Municipal de Turismo (CMT) e o Fundo

Municipal de Turismo de Valença ( FUMTUR) através da Lei Municipal de nº 1668 de

1º de julho de 2002. (ANEXO D).

A criação do CMT inaugura uma nova fase da política pública de turismo no

município, marcada pela maior participação da sociedade na tomada de decisões. A

Projetos e ações US$ (1.000) Situação

Implantação dos Postos de Informação Turística (PIT) 30.000 Concluído Implantação de Aterro sanitário, usina de reciclagem de lixo e elaboração do Plano Diretor de Limpeza Urbana (PDLU)

210.000 ----

Implantação da APA de Guaibim 300.000 ---- Tombamento do patrimônio histórico municipal 30.000 ---- Recuperação dos prédios da Praça da República 1.200.000 Concluído Urbanização da Orla do Guaibim 750.000 Concluído Padronização de barracas da praia de Guaibim 240.000 ---- Implantação do sistema de esgotamento sanitário em Valença 3.048.000 Em execução Construção do Centro de Convenções entre Valença e Guaibim 4.500.000 ---- Implantação do Museu Municipal 150.000 ---- Revitalização das ruinas da Fábrica Todos os Santos 37.500.000 ---- Recuperação do Centro Histórico de Valença 6.900.000 ---- Construção de quebra-mar em Guaibim com píer para embarque e desembarque

6.000.000 ----

Construção de terminal rodomarítimo em Valença 4.500.000 ---- Construção de terminal rodoviário no Guaibim 300.000 ---- Total 61.558.000

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estrutura deste Conselho é composta por representantes de entidades

governamentais: Secretaria de Turismo, Cultura, Indústria e Comércio; Secretaria de

Agricultura e Meio Ambiente, Secretaria de Viação e Obras Públicas; Secretaria de

Educação Desenvolvimento Social e Esporte; Câmara de Vereadores, e

representantes da sociedade civil: Associação do Turismo de Valença (ATIVA);

Associação dos Comerciantes e Barraqueiros do Guaibim (ASCOBIM); Câmara de

Dirigentes Lojistas de Valença (CDL); Associação Comercial de Valença (ACV);

Sindicato de Taxistas de Valença; Casa de amizade do Rotary Clube de Valença;

Movimento Ambientalista Regional (MAR).

Apesar da importância deste Conselho como instrumento de participação da

sociedade na dinâmica pública de planejamento, a atuação da sociedade não é

expressiva. A ausência de representatividade durante as reuniões é tamanha que

um ano após a criação do CMT, foi sancionada a Lei 1597 de 16 de agosto de 2000

alterando o seu Art.4º (ANEXO E).

A nova legislação foi institucionalizada para fomentar a participação da

sociedade nas discussões sobre o turismo no município de Valença, assim sendo o

Art. 4º passou a vigorar com a seguinte redação:

Art. 4º - Inciso II Os Conselheiros serão excluídos do CMT e substituídos pelos respectivos suplentes em caso de faltas injustificadas a 2 (duas) reuniões consecutivas ou 03 (três ) reuniões intercaladas, no período de um ano.(...) (VALENÇA, 2000b).

A pesquisa de campo revelou que diversas ações do poder público municipal

são inviabilizadas pela própria gestão, em decorrência da “inoperância” do Conselho

Municipal de Turismo (COMTUR) como foi o relatado pelo Secretário de turismo

entrevistado.

O COMTUR está inativo há muito tempo em razão de questões políticas, apesar de sua composição ter sido homologada, esse ano não houve nenhuma reunião porque os membros ainda não foram empossados. Por essa razão os recursos financeiros são perdidos prejudicando o desenvolvimento da atividade, quem é que perde com isso? O município. Mas esse problema já esta prestes a ser resolvido, pois já foi marcado com a prefeita o ato de formalização da posse dos membros deste Conselho. (RESPOSTA DO SECRETÁRIO DE TURISMO MUNICIPAL, ENTREVISTADO).

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Cabe ao CMT a administração dos recursos disponibilizados no FUMTUR, cuja

receita constitui dotações orçamentárias do município e doações, auxílios,

contribuições e transferências de recursos de entidades governamentais ou não

governamentais (VALENÇA, 2002). Na prática, a prefeitura repassa mensalmente os

recursos que mantém o fundo, sendo que o valor repassado é tão irrisório que é

utilizado apenas para contratação de funcionários que atuam administrativamente no

CMT, e não para efetuar ações de fomentação da atividade turística.

Assim como o FUMTUR, a eficiência do CMT também é questionável. Criado

com a função de formular a política municipal de turismo, elaborar estudos e

sugestões que fomentem o setor, esta instituição não tem, desde a sua fundação,

obtido êxito quanto às suas competências. A principal justificativa dessa situação é

inoperância dos seus componentes, a própria Secretaria de Turismo apontou para

esta problemática, no diagnóstico apresentado no Plano de Gestão Municipal do

Turismo e do Patrimônio Natural e Cultural do Município de Valença.

Outro aspecto característico da política municipal de turismo em Valença é a

falta de continuidade das ações implementadas em razão de mudança de grupo

político. Durante a entrevista na Secretaria de Turismo, percebeu-se que essa

característica é bem marcante, quando suas respostas demonstraram total

desconhecimento sobre os programas implantados na gestão 2008/2012. Segundo

seu próprio relato

Não conheço o Plano Emergencial para o turismo de Valença, se ele foi do verão 2006/2007 não foi na nossa gestão, eu não tenho como falar sobre os planos que foram executados nas gestões passadas, quando assumimos a secretaria começamos do zero. (Secretário De Turismo Municipal, 2014, informação verbal).

Na verdade essa não é uma característica exclusiva do poder público municipal,

há uma tradição nacional dessa prática política. Ainda assim, foi possível elencar

alguns planos e ações desenvolvidos no município que não lograram excelência no

cumprimento de suas metas e objetivos, em razão de limitações orçamentárias, falta

de qualificação técnica dos recursos humanos, ou até mesmo limitações no

quantitativo de funcionários.

O Quadro 4 apresenta o demonstrativo de planos e projetos de fomento ao

turismo no município de Valença.

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Dos planos elencados no Quadro 4 os que mais impactaram positivamente o

desenvolvimento da atividade foram o Plano de Ações Emergenciais para o Verão

2006/2007, e o Projeto de Regionalização do Turismo na Costa do Dendê. O

primeiro desenvolvido a partir de recursos oriundos da Prefeitura Municipal, e o

segundo com fundos advindos do Programa de Planejamento e Gestão da

Regionalização Turística do Ministério de Turismo.

QUADRO 4 - DEMONSTRATIVO DE PLANOS E PROJETOS DE FOMENTO AO TURISMO NO MUNICÍPIO DE VALENÇA

Plano Período Órgão Executor/Entidades

Plano emergencial para o turismo de Valença

Verão 2006/2007 Prefeitura Municipal de Valença empresários locais que atuam no setor

Projeto de regionalização do turismo na costa do dendê.

2007/2008 SEBRAE, Bahiatursa, Banco do Nordeste, Ministério do Turismo, SUINVEST, entre outros.

Projeto novos roteiros turísticos em Valença

Sem previsão Secretaria de Turismo

Plano de desenvolvimento da produção associada ao turismo na costa do dendê

2013/2014 Prefeituras da Costa do Dendê, SENAC, SEBRAE, AMUBS, etc.

Fonte: Secretaria de Cultura, Indústria e Turismo de Valença. ( 2006; 2007).

O Plano Emergencial foi elaborado com vistas a aprimorar as práticas turísticas

no verão 2006/2007, para tanto foram identificados os principais problemas que

repercutiam de forma negativa no setor. Os problemas foram levantados a partir da

realização de reunião com todos os agentes envolvidos no sistema turístico, são

eles: pequenos comerciantes, empresários do setor de hospedagem e de

alimentação, além do poder público local e Associações de Moradores.

Durante as reuniões entre os envolvidos foi elaborado o diagnóstico do turismo

municipal pelos agentes. Os principais obstáculos apontados para o

desenvolvimento da atividade foram: falta de iluminação pública, coleta de lixo

deficiente, falta de segurança e falta de estacionamentos para ônibus de excursão.

Cabe ressaltar que esse diagnóstico refere-se à realidade existente no distrito de

Guaibim, pois segundo relato do Presidente da ATIVA os participantes das reuniões

eram majoritariamente daquele distrito. Ao ser solicitado a falar sobre o Plano

Emergencial de Turismo o Presidente argumentou que:

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Participaram das reuniões comerciantes, empresários do ramo de hotelaria, donos de barraca de praia, até as baianas de acarajé, porém a grande maioria dos participantes era do Guaibim, ou que tinham seus estabelecimentos comerciais em Guaibim, o pessoal de Valença participou muito pouco. Por isso foram levantadas as dificuldades do turismo em Guaibim. (Presidente da ATIVA, 2014, informação verbal).

Ações foram sinalizadas para alterar a realidade, como por exemplo: promover:

melhorias na iluminação das vias públicas próximas à praia de Guaibim; adequar o

patrulhamento policial; requalificar os postos de saúde em Guaibim; ampliar o

número de postos salva-mar; promover capacitação continua do salva-mar; realizar

a pavimentação pública das principais vias de Guaibim; criar um calendário de

eventos para o distrito.

Para executar o plano criou-se uma comissão técnica que deveria acompanhar o

desenvolvimento das ações. Desta equipe participavam representantes do poder

público, de organizações sociais, como ATIVA, além de representantes comerciais.

Encerrado o período de vigência do plano, a pesquisa de campo revelou que

muitas das ações não foram realizadas. O Presidente da ATIVA afirma que um dos

maiores motivos prejudiciais ao turismo é o seguinte: “o patrulhamento policial no

Guaibim é um problema até os dias atuais, pequenos furtos além de invasões a

residências no distrito, ainda são frequentes”. (Presidente da Associação de Turismo

de Valença e Guaibim, 2014, informação verbal).

Desta forma, observa-se que o plano emergencial, apesar de ter garantido

melhoras na qualidade de alguns serviços turísticos no verão de 2006/2007, não se

repetiu nos anos seguintes, o que significa afirmar que os problemas não foram

erradicados, apenas teve efeito naquele verão. O relato do representante dos

estabelecimentos turísticos é bastante ilustrativo. Ao ser questionado sobre o que

significou o Plano Emergencial de Turismo, o Presidente da ATIVA responde que:

O Plano emergencial do Turismo representou ganhos para o turismo no Guaibim, naquela época eu não presidia a ATIVA, eu apenas administrava o meu hotel, mas já participava ativamente das reuniões e pude perceber que de forma generalizada, toda rede hoteleira apresentou saldos positivos no lucro. Quem disser que o verão 2006/2007 foi ruim, está mentindo, tivemos um aumento no fluxo de turista, na ocupação dos leitos, foi muito bom aquele verão. (Presidente da ATIVA, 2014, informação verbal).

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Outra ação do poder público local para fomentar o turismo foi o Projeto

Regionalização do Turismo na Costa do Dendê 2006/2007. Este projeto atendeu aos

preceitos do Plano Nacional de Turismo através do Programa de Apoio do

Desenvolvimento Regional do Turismo, cuja principal meta é promover a integração

regional de áreas com vocação turística. Nesse sentido, o Projeto de Regionalização

propôs a criação de roteiros integrados. Para isso, a prefeitura de Valença fez

parcerias com vários órgão tais com: o Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC), o Banco do Nordeste, Bahiatursa, o Ministério do Turismo,

Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos (SUINVEST),

representantes locais, como Associação dos Municípios do Baixo Sul (AMUBS), e as

seguintes prefeituras: Cairu, Ituberá, Camamu, Maraú e Igrapiúna.

A Prefeitura municipal realizou oficinas de capacitação empresarial, qualificação

de negócios turísticos, seminários de roteirização, dentre outras ações, cujo principal

objetivo era a melhoria da qualidade e gestão dos serviços turísticos, fortalecimento

do produto turístico e da identidade regional. O público alvo das ações foi

comerciantes e empresários dos ramos de hospedagem, alimentos e bebidas,

agentes de viagens e transportes da Costa do Dendê.

No projeto estava previsto o aumento da permanência do turista, da ocupação

dos meios de hospedagem e o aumento da avaliação positiva dos turistas durante a

sua estada na Costa do Dendê. Para tanto, foram estabelecidas metas de empenho

para o setor. Entretanto, não foram expressos os instrumentos de avaliação dessas

metas, o que inviabiliza mensurar a eficiência do projeto.

Algumas ações foram desenvolvidas, outras esbarram nas dificuldades da falta

de recursos financeiros para a sua realização. De certo, o principal objetivo do

projeto não foi alcançado, pois, a integração regional das áreas com vocação

turística não aconteceu.

O Secretário de Turismo, ao ser questionado sobre as dificuldades para realizar

ações de fomento turístico, respondeu que: “o grande problema é a escassez de

recursos disponibilizados para o setor, como o aporte financeiro oriundo do

FUMTUR no valor mensal de $ 3.000,00 (três mil), valor muito pequeno para realizar

qualquer coisa.” Esse argumento se esvazia quando se observa a distribuição da

receita municipal prevista na Lei Orçamentária para os exercícios financeiros de

2014 e 2015. (TABELA 11)

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TABELA 11 – MUNICÍPIO DE VALENÇA: DETALHAMENTO DE DESPESAS PREVISTAS PARA O EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2014- VALENÇA

Descrição do Programa Valor Previsto

Capacitação de equipes de salva-mar 20.00,00

Manutenção do serviço de salva-mar 110.000.00

Realização e apoio a festas populares 400.000,00

Revitalização do patrimônio turístico 70.000,00

Requalificação de áreas de potencial turístico 100.000,00

Implantação de sinalização turística 15.000,00

Capacitação profissional e empresarial para o turismo 20.000,00

Implantação do serviço de atendimento ao turista – SAT 50.000,00

Ações integradas e articuladas de infraestrurura de apoio ao turismo 20.000,00

Realização de eventos de promoção turística 20.000,00

Manutenção do serviço de atendimento ao turista – SAT 55.000,00

Total 880.000,00

Fonte: VALENÇA (2013)

Para o Secretário de Turismo, a gestão 2012/2016 vem enfrentando sérios

problemas de repasse de recursos para as secretarias, por isso algumas ações se

repetem no exercício do ano seguinte. A pesquisa de campo permitiu concluir que o

setor turístico em Valença tem enfrentado dificuldades para a sua manutenção, e o

poder público local não tem de forma efetiva contribuído para reverter essa situação.

Entre 2014 e 2015 os recursos disponibilizados pela dotação orçamentária

para a Secretaria de Turismo Municipal passou de R$ 880.000,00 (oitocentos e

oitenta mil reais) para R$ 1.200.000,00 (um milhão duzentos e sessenta e seis reais)

o que representa um aumento de 30% dos recursos previstos para o setor turístico.

Entretanto, as atividades econômicas ligadas a prática turística no município

de Valença continuam enfrentando dificuldades de crescimento, apesar do aumento

do quantitativo financeiro sobre o setor. (TABELA 12).

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TABELA 12 - MUNICÍPIO DE VALENÇA: DETALHAMENTO DE DESPESAS PREVISTAS PARA O EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2015

Descrição do Programa Valor Previsto

Aquisição de jetski para salva-mar 25.000,00 Capacitação de equipes de salva-mar 8.000,00 Manutenção do serviço de salva-mar 80.000,00 Realização e apoio a festas populares 430.000,00 Revitalização do patrimônio turístico 60.000,00 Requalificação de áreas de potencial turístico 535.000,00 Implantação de sinalização turística 30.000,00 Capacitação profissional e empresarial para o turismo 8.000,00

Ações integradas e articuladas de infraestrutura de apoio ao turismo 20.000,00

Realização de eventos de promoção turística 10.000,00

Manutenção do serviço de atendimento ao turista (SAT) 60.000,00

Total 1.266.000,00

Fonte: VALENÇA (2014)

De acordo com as informações levantadas, os esforços da gestão municipal,

com vistas a fomentar o turismo, estavam concentrados na negociação para

instalação do empreendimento imobiliário de grande porte no distrito de Guaibim.

5.3 Interesses socioambientais e especulação imobiliária em território turístico: uma leitura sobre Guaibim.

A ocupação efetiva da área pode ser datada a partir da primeira década do

século XX, quando surgiram os primeiros moradores atraídos pela disponibilidade de

recursos pesqueiros. Neste contexto, o núcleo de povoamento nasce como uma vila

de pescadores. Com o avanço da ocupação outras atividades econômicas foram se

desenvolvendo, além da extração pesqueira, e diversos outros recursos também

eram extraídos como a piaçava e a madeira em paralelo ao desenvolvimento da

pecuária na região.

O distrito do Guaibim está localizado na porção leste do município de Valença,

onde também se encontra o mais importante atrativo turístico do município, a praia

do Guaibim.

Cercada por coqueirais, a praia de Guaibim dispõe de uma rede

estabelecimentos comerciais de alimentação que oferecem um variado cardápio

regional. Os quiosques, construídos próximo à beira mar é uma das opções para

desfrutar as iguarias da culinária local. A Foto 10 ilustra a presença destes

estabelecimentos.

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FOTO 10 - PRAIA DE GUAIBIM

Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.

Na década de 1980 outra atividade econômica passa a ser praticada em

Guaibim, o cultivo de camarão em cativeiro, a carcinicultura. A Foto 11 ilustra os

tanques onde ocorre a produção do crustáceo. Grandes fazendas de cultivo são

instaladas, provocando um novo dinamismo econômico.

FOTO 11 - VIVEIROS DE CARCINICULTURA NO GUAIBIM

Fonte: Valença (2004)

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A foto 12 expõe a área urbana do distrito do Guaibim, cuja expansão segue a

faixa litorânea, através da construção de residências de luxo a partir do

comprometimento ambiental da vegetação de restinga.

FOTO 12 - ÁREA URBANA DISTRITO DE GUAIBIM

Fonte: Valença (2004)

De acordo com o Censo demográfico do Instituto de Geografia e Estatística

(IBGE) de 2010, 96% da população residente no distrito de Guaibim corresponde à

população urbana.

Alavancado pelo desenvolvimento de práticas comerciais tipicamente urbanas, a

população rural diminui em decorrência da migração campo-cidade. A população

migrante foi ocupando áreas impróprias para assentamento, como os manguezais,

construindo casas sobre condições de habitação precárias, sem acesso a

saneamento básico, como rede de água e esgoto. Em 2007, o poder público

municipal, juntamente com o Ministério das Cidades, inicia a construção do conjunto

habitacional para realocar a população. Foram construídas 150 unidades

habitacionais. Segundo informações do Secretário de Turismo, ao ser questionado

sobre ações implementadas para o desenvolvimento turístico, ele respondeu:

Para liberação de recursos previsto no PRODETUR II foi necessário à retirada das pessoas que moravam em cima do mangue. Foram

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construídas 150 casas dando origem ao Condomínio Santa Tereza. ( Secretário de Turismo Municipal, 2014, informação verbal).

O processo de expansão urbana de Guaibim ocorre simultaneamente com o

aumento da pressão sobre os recursos naturais. Numa tentativa de diminuir a

degradação ambiental, em 2002 foi institucionalizada a Área de Proteção Ambiental

(APA) de Guaibim através do Decreto Municipal nº 5.333 de 02 de novembro

daquele ano. Três anos após a criação da APA (2005), em atendimento a legislação

vigente, foi elaborado o Plano de Gestão e Zoneamento da Área de Proteção

Ambiental Planície Costeira do Guaibim.

Enquanto prática de planejamento, o zoneamento é uma proposta de

ordenamento territorial que regulamenta o uso e ocupação do solo cujo objetivo é a

conservação e preservação dos ecossistemas, através de uma normatização das

atividades econômicas desenvolvidas na área.

De acordo com a proposta implementada através do Decreto Municipal Nº 5.333

de 02/11/2002, a planície costeira do Guaibim foi desmembrada em seis zonas com

base em três categorias: conservação, preservação e uso sustentável. (VALENÇA,

2004). A Tabela 13 apresenta a divisão da APA do Guaibim revelando a extensão de

cada zona e a sua classificação quanto ao uso do solo.

TABELA 13 - ZONEAMENTO DA APA PLANÍCIE COSTEIRA DO GUAIBIM

Fonte: Valença (2004).

Ressalta-se que o grande mérito da proposta de zoneamento diz respeito a sua

vocação para a manutenção dos ecossistemas associado ao equilíbrio da ação

antrópica da área.

Zonas Categoria Área (em Hectares)

Percentual (%)

Zona de Preservação da Vida Silvestre Preservação 6.538,83

51,43

Zona de Proteção Especial Conservação 3.459,05

27,21

Zona Agroflorestal Uso Sustentável 936,86

7,37

Zona Ocupação Rarefeita Uso Sustentável 574,83

4,52

Zona Urbana Regulamentada pelo PDDU, Lei Municipal Nº 1.856 de 07 de Outubro de 2006.

Uso Sustentável 426,96

3,36

Carcinicultura Uso Sustentável 776,30

6,11

TOTAL 12.712,83 100,00

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O zoneamento é um instrumento balizador para uma ocupação racional do solo

o que contribuirá para um desenvolvimento sustentável, assim sendo, ser usado

como referência na execução de políticas públicas de planejamento.

A finalidade do zoneamento é incorporar a dimensão ambiental na planificação do desenvolvimento, constituindo um trabalho sistemático para subsidiar as políticas de desenvolvimento, bem como as políticas de conservação ambiental, levando em consideração as prioridades regionais, as diversidades desses domínios naturais e das estruturas geradas pela ocupação humana. (VALENÇA, 2004, p. 3)

Apesar de toda regulamentação técnica para o uso racional do solo, o que se

tem assistido é o desrespeito à legislação. Não há fiscalização pelas instâncias

públicas de poder no que tange à ocupação da área. Na verdade, o poder público

local é omisso quanto ao processo, e em algumas situações, ele próprio é o

causador dos impactos ambientais em razão da subserviência às pressões do

capital e sua busca crescente pela acumulação. Como afirma Santos (2014, p. 108)

“Afinal, os mecanismos de mercado aparecem triunfantes, (...) arrastando o Estado

para a órbita dos interesses privados.

Para exemplificar essa situação traz-se a construção de empreendimentos

hoteleiros sobre a linha de praia, onde tais estabelecimentos comerciais, bem como,

residências da alta classe do poder aquisitivo, avançaram 20 m, para além do que é

permitido por Lei18 sobre a zona costeira. Outro exemplo da ação do Estado em

favor do capital pode ser a tentativa de mudança do zoneamento urbano em

Valença.

Recentemente a gestão municipal iniciou os debates para aprovação do Projeto

de Lei 21/2012 que previa a alteração do zoneamento urbano do município. O

projeto de lei foi uma a tentativa de delimitar parte da Planície Costeira do Guaibim,

como área de expansão urbana. (FIGURA 14)

18 Ver Decreto-Lei Nº 9.760, de 5 de Setembro de 1946.

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FIGURA 14 - DELIMITAÇÃO DA APA PLANÍCIE COSTEIRA EM GUAIBIM

Fonte: CODEMA, 2007 Originalmente a escala é 1:25.000.

Nessa perspectiva, seria favorecida a implantação do empreendimento hoteleiro

Condomínio Porto da Ponta em uma área de 9,8 hectares, localizado entre as

coordenadas geográficas 13°22’32” S e 38°57’32” O. Quando o Procurador

Municipal foi questionado sobre as características do empreendimento, ele

respondeu:

O projeto prevê a construção de um resort com 62 unidades habitacionais cujo valor inicial de cada imóvel é exorbitante, fora dos padrões locais. O projeto inicial do empreendimento prevê uma dotação de recurso no valor de 150 milhões de reais (Procurador da Prefeitura Municipal de Valença, 2014, informação verbal)

A área alvo de interesse do capital, a Ponta do Curral (FOTO 13), dispõe de

imensurável riqueza biológica e grande beleza natural. Consequentemente a sua

importância ambiental justifica-se, sendo por essa razão identificada como Zona de

Proteção Especial (ZPE).

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FOTO 13 – GUAIBIM: PRAIA PONTA DO CURRAL

Fontes: Valença, 2004

De acordo com a legislação vigente, nessas áreas as atividades humanas

podem se desenvolver com baixo potencial de impacto, sem alterações significativas

na dinâmica.

O Projeto Lei só não foi aprovado pela Câmara de Vereadores devido à

intervenção do Ministério Público, através do processo nº 2011-026395/TECLS-

0874. (BAHIA, 2012)

Todavia, as negociações para realização do empreendimento permaneceram

ativas com a participação do grupo Porto da Ponta Fundo de Investimento

Imobiliário, prefeitura municipal e empresários locais. Fruto deste processo, o poder

público local apresentou para o Fundo de Investimento Imobiliário, em dezembro de

2014, uma proposta de contrapartida prevendo uma intervenção física, social,

turística, econômica e ambiental no distrito de Guaibim. Assim, seriam feitas

melhorias na infraestrutura urbana do distrito, com um custo de R$ 4.000.000,00

(quatro milhões de reais) num prazo máximo de 36 meses. Até as vias de conclusão

desta pesquisa (primeiro trimestre de 2015) não houve resposta quanto à proposta

encaminhada pela prefeitura municipal.

Percebe-se que, segundo depoimentos dos Secretario de Turismo e Procurador

da Prefeitura Municipal de Valença, o empreendimento imobiliário representa uma

possibilidade de crescimento econômico para o distrito de Guaibim.

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Valença irá ganhar muito a partir do empreendimento na Ponta do Curral, o turismo na cidade dará um salto econômico, só temos a ganhar. Eu não entendo como tem tanta gente contra isso, todos os cuidados com a questão ambiental já foram tomados, o projeto já tem uma licença ambiental. A população vai ser beneficiada principalmente no Guaibim. (Secretário de Turismo Municipal, 2014, informação verbal). O grupo responsável pelo empreendimento imobiliário Ponta do Curral vai fazer grandes investimentos no Guaibim, a Prefeitura tá negociando a contrapartida que será exigida para a instalação do projeto. Vai ser bom não só para o Guaibim, mas para toda região. (Procurador da Prefeitura Municipal de Valença, 2014, informação verbal).

Os entrevistados comungam com a ideia que a construção do resort trará saldos

positivos para a comunidade valenciana, e todos os riscos ambientais já foram

avaliados, sendo sinalizadas estratégias para minimizá-los. Foi com essa

perspectiva que o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA)

autorizou o empreendimento através da licença unificada institucionalizada pela

portaria nº 2499 de 19 de abril de 2012. (ANEXO F)

Ao ser questionado sobre o conteúdo do projeto do empreendimento, o

Procurador da Prefeitura respondeu:

Frente a tanta polêmica gerada pelo projeto a ser implantado na Ponta do Curral e em razão dos debates sobre o tema ainda estarem ocorrendo, eu não posso disponibilizar o projeto, nem tão pouco a planta do empreendimento. O máximo que posso informar é que o projeto prevê a construções de um resort, uma marina, além de um condomínio residencial com lotes entre 5 e 13 mil m2. (Procurador da Prefeitura Municipal de Valença, 2014, informação verbal).

Nessas condições a realização do empreendimento imobiliário na Ponta do

Curral tem gerado debates na sociedade valenciana, contudo as informações sobre

o tema não são completamente claras e acessíveis. Pergunta-se: será realmente

que os riscos ambientais de um projeto de tamanha envergadura já foram

minimizados? Admitindo que atualmente o poder público enfrente dificuldade para

acompanhar os processos socioeconômicos dentro da APA de Guaibim, será que

durante e depois da implantação do empreendimento imobiliário essa dificuldade

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terá sido sanada, permitindo uma eficiente fiscalização com vias a minimizar os

impactos ambientais do projeto?

Nessa perspectiva, o Estado busca o dinamismo econômico, cedendo aos

interesses do capital em troca de sensíveis melhorais socioeconômicas. O ofício

datado em 08 de dezembro de 2014, enviado pela Prefeitura Municipal de Valença

para o Fundo de Investimento Porto da Ponta (ANEXO G) ilustra esse processo de

negociação entre o Estado e o capital. O poder público local pleiteia o investimento

de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) para ser aplicado na comunidade de

Guaibim, na construção de postos de saúde, requalificação da orla marítima, dentre

outros, em troca da autorização para a instalação do empreendimento. Ressalta-se

que alguns dessas ações, como a requalificação da orla do Guaibim, já estavam

previstos no PDTIS. Até a data de finalização da pesquisa, não houve retorno

quanto à negociação, contudo, o episódio é um retrato de como o Estado delega a

suas função para terceiros. Também é um exemplo das dificuldades em executar o

que é planejado: seja por questões burocráticas, ou mesmo falta de qualificação da

equipe técnica, o fato é que recursos financeiros foram orçados para muitas ações

previamente planejadas, porém muitas delas ações não foram executadas.

Outro problema de ordem socioambiental corresponde à questão dos

estacionamentos construídos sem nenhum respeito à legislação ambiental, muitos

deles estão construídos em manguezal. Durante a visita de campo, pode-se

perceber um expressivo número de estacionamentos na cidade e no atracadouro

Bom Jardim, localizado em Guaibim.

Para aumentar a rentabilidade, os estabelecimentos comerciais recrutam jovens

e adolescentes para abordar todos visitantes e convencê-los a guardar o veículo em

estacionamento privado. Cria-se assim uma verdadeira competição entre os jovens

recrutados, que são denominados de “flanelinhas”, pois ao final do expediente de

trabalho a renda está na dependência do total de veículos direcionados para cada

estabelecimento.

Na área da planície costeira de Guaibim onde está localizado o Atracadouro

Bom Jardim o crescimento urbano se deu à custa do comprometimento ambiental.

Todavia, durante as visitas de campo observou-se que nenhum tipo de fiscalização

ambiental foi identificado. A foto 14 revela a presença de estacionamento construído

sobre área de manguezal.

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FOTO 14- GUAIBIM: ESTACIONAMENTO CONSTRUÍDO EM ÁREA DE MANGUEZAL

Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.

O processo de exploração da mão de obra juvenil é marcante, constatou-se que

não há nenhum tipo de proteção legal para os trabalhadores. Na pesquisa de campo

buscou-se avaliar a atuação do poder público municipal no que se refere à essa

questão. Durante as entrevistas foi questionado ao líder dos flanelinhas, se a

Prefeitura Municipal interfere de alguma forma no desenvolvimento da atividade. O

líder dos flanelinhas respondeu:

Não há nenhum apoio da prefeitura, a não ser quando é para fazer o cadastro para desempenhar a função de coletor de automóveis para estacionamentos privados. Muitos colegas não estão cadastrados, mas como não há fiscalização eles trabalham nos principais pontos de passagem do turista. Na prefeitura tem 15 (quinze) meninos cadastrados, mas existem aqueles que são clandestinos, que trabalham quando a gente não está no ponto. A gente não deixa eles trabalharem, quando um engraçadinho aparece, leva porrada. ( Líder dos flanelinhas entrevistado).

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No entanto, em razão de acordo tácito entre os flanelinhas devidamente

cadastrados eles estabeleceram regras para os clandestinos19, como horário de

expediente. Nenhum jovem não cadastrado pode exercer a atividade em locais e

horários onde estejam presentes aqueles que possuem cadastro na prefeitura; os

“espaços são delimitados e respeitados pela categoria”. Segundo o entrevistado nº4,

quando qualquer novato não quer se submeter às regras ele fica impedido de

trabalhar. Nessas condições, percebe-se uma disputa por espaços, culminando,

segundo os flanelinhas “em agressões físicas com os envolvidos no processo”.

A realidade investigada revelou que o poder público local não tem sido eficaz, no

sentido de promover melhorias expressivas que fomentem o desenvolvimento do

turismo no município de Valença. Ações foram executadas, recursos foram

direcionados, mas os resultados não repercutiram em avanços ao ponto de alçar o

desempenho econômico turístico frente ao cenário regional.

Em se tratando de planejamento turístico, a pesquisa demonstrou que, na área

estudada, essa prática é executada de forma equivocada. Identificou-se que não há

continuidade nas ações e o processo de elaboração e execução do planejamento

desenvolve-se privilegiando questões de cunho emergencial. Foi possível observar

que, o discurso dos gestores públicos locais é centrado na escassez de recursos, o

que justificaria, segundo esses sujeitos, o atual estágio do turismo local. Contudo,

frente aos dados levantados, através deste estudo, é notório constatar que o

discurso é uma estratégia para mascarar a ineficiência do planejamento e das

políticas públicas para o turismo. Soma-se a esse quadro, o fato que, o turismo não

está no centro da agenda governamental dos gestores municipais.

A Secretaria de Turismo do Município de Valença, principal órgão executor das

ações de fomento à atividade, ainda não possui sede estruturada e adequada para o

desenvolvimento das atividades administrativas e o número de funcionários também

é insuficiente. A qualificação técnica dos principais agentes públicos atuantes nesse

órgão, é outro elemento agravante para o desenvolvimento da atividade.

A pesquisa demonstrou uma acentuada dependência de recursos oriundos de

fontes federais. Percebe-se que existem problemas para a execução financeira

19 Termo usado pejorativamente para classificar os jovens que abordam os automóveis dos

visitantes e os encaminham para estacionamentos privados.

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referente ao turismo, em razão desse fato, os recursos acabam retornando para a

União.

Compreender as práticas turísticas em Valença é admitir como uma amálgama,

de diferentes elementos que se articulam, ao sabor dos interesses dos agentes

produtores dos espaços turísticos, e como tal, é uma síntese da totalidade social

num dado contexto histórico geográfico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa analisou-se a produção do território turístico na Bahia,

explicando os impactos das políticas públicas em Valença. Refletiu-se também sobre

a ação do Estado no município de Valença Bahia, no que se refere à política de

planejamento turístico. A intensão não foi analisar a atividade turística em si, mas

verificar como ela interfere na produção do território, observando o papel do poder

público local neste processo. Buscou-se desvelar como se materializa a relação do

turismo-território, partindo do pressuposto que o turismo o transforma de acordo com

as necessidades previstas para a prática da atividade. Ele concorre também para a

transformação dos territórios para o seu uso com outros usos, bem como as

formações socioespaciais precedentes ao seu aparecimento. Nesse processo cria-

se, transforma-se: territórios que passam a assumir uma valorização diferenciada

que sob outras condições poderiam não ter valor de produção; as práticas turísticas

conduzem e modelam o processo de refuncionalização dos espaços.

O estudo foi impulsionado pelo desafio de explicar a realidade valenciana como

produto da dinâmica do capital que, constrói especificidades socioespaciais como

condição e condicionante da desigualdade. Nesse turno, a opção em analisar o

turismo, enquanto fio condutor das transformações no território urbano permitiu

elucidar o verdadeiro papel do município de Valença no contexto regional.

A investigação tornou possível perceber que Valença, espaço criado para e pela

acumulação do capital, faz parte de uma totalidade marcada por uma dinâmica que

vai além dos interesses locais. A relação entre o lugar e o global resulta da ação

orquestrada de sujeitos hegemônicos que vão determinar as práticas

socioambientais de cada parcela do espaço. São esses agentes, que materializam

as conexões com a economia globalizada, impondo uma nova configuração

espacial/territorial em detrimento das demandas do lugar. Como tal, o turismo em

Valença compõe uma parte dessa engrenagem econômica que é o turismo baiano.

Sob a análise geográfica do desenvolvimento desigual foi possível revelar como

a dinâmica do capital, a partir do desenvolvimento da atividade turística, cria

especificidades, como reflexo da diferenciação-igualização dos espaços. Trata-se da

forma como o capital se estabeleceu desde a colonização até os dias atuais,

imprimindo uma determinada formação territorial em Valença.

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O estágio atual do turismo na área de estudo é reflexo das políticas implantada

pelo governo da Bahia, cujos modelos foram alicerçados na concentração de

investimentos públicos e privados em determinados pontos do espaço, como

estratégia para atrair empresas ligadas, a atividade turística, imprimindo uma nova

lógica econômica. Com base nesse modelo, criaram-se Pólos Turísticos por todo o

território baiano, para onde eram direcionados os esforços no sentido de fomentar a

atividade.

Estabelece-se desta forma, uma seletividade territorial na utilização dos recursos

naturais e culturais, a partir da identificação dos espaços com maior potencial

turístico, para a partir de então, proceder assim, a política de incentivo técnico e

financeiro que tem por objetivo fomentar as práticas turísticas estaduais, via

delimitação de Zonas Turísticas.

A análise da distribuição dos recursos nas zonas turísticas revelou que, os

investimentos ficaram concentrados Zona Baía de Todos os Santos, com destaque

para Salvador destino âncora. Esse fato demonstra que o discurso distancia-se da

prática, quando o assunto é a desconcentração dos recursos turísticos na Bahia,

proposto pelo poder público estadual. As ações governamentais têm privilegiado

espaços turísticos já consolidadas no mercado.

A divisão em Zonas Turísticas na Bahia, não foi única no sentido de estruturar o

território baiano com vistas a executar o planejamento ou politicas públicas. O poder

público estadual implementou diferentes divisões regionais e territoriais, cujo objetivo

esteve, deste o principio, associado ao estabelecimento de estruturas que

permitissem a execução do planejamento, seja ele regional ou territorial. A Bahia foi

dividida em Regiões Administrativas; Regiões Econômicas e de Planejamento; Eixos

de Desenvolvimento e Territórios de Identidades. Algumas delas foram usadas

simultaneamente, apesar das diferenças teóricos-metodológicas, pois como herança

do planejamento setorial, cada órgão governamental adotava, ou até mesmo criava

uma estrutura espacial ou territorial que melhor atendesse as necessidades de

planejamento. Nesse contexto, cabe uma reflexão quanto às principais

regionalizações ou divisões territoriais da Bahia.

Na regionalização elaborada com base no conceito de região econômica, o

Estado, desvelou como o desenvolvimento socioeconômico desigual, no contexto da

reprodução ampliada do capital, materializa-se no espaço. Em outras palavras, a

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divisão em Regiões Econômicas e de Planejamento demarcou, no espaço, a

desigualdade regional produzida pela dinâmica do capital.

Outrossim, constatou-se que a atual estrutura territorial na Bahia, alicerçada sob

a delimitação de territórios de identidade é possuidora de fragilidades, na medida

que adota como critério de delimitação, a identidade territorial.

A identidade é uma construção social histórica, mas também reside no

imaginário social. Desta forma, os indivíduos que comungam da mesma identidade,

são aqueles que, a partir de construção coletiva, compartilham um conjunto de

ideias e conceitos assimilados como identitário.

Teoricamente, a identificação e delimitação dos Territórios de Identidade

baseiam-se na assimilação desse elo entre os indivíduos pertencentes a cada

município que os compõem. Na prática a situação é bem diferente: muitos territórios

estabelecidos são possuidores de frágil unidade identitária, pois seus limites

fronteiriços foram delimitados nos gabinetes do poder público. O resultado foi a

adoção de uma identidade forjada.

Partindo do princípio que Valença faz parte de uma totalidade, e que cada uma

delas, é possuidora de uma interdependência funcional, a análise da mesma

pressupõe a sua fragmentação, como afirma Santos (2014), é a partir da

fragmentação que permite, ao seu término, a reconstituição desse todo.

Cabe ressaltar que essa funcionalidade, é um dado socialmente construído, o

que significa afirmar que a realidade funcional não é estática, fixa: ela se transforma

com o transcorrer histórico.

Nesse contexto, cada unidade do todo, dispõe de características peculiares, e

essas diferenças atuam como responsáveis pelo processo de desenvolvimento de

cada uma dessas partes, impondo-lhes ritmos também diferenciados. É sobre essa

realidade que a ação do Estado se impõe, e como tal, criando, estratégias para

reverter os impactos que resultam em desigualdades socioambientais.

Com base nessa afirmação, entende-se porque a atividade turística em Valença

apresenta uma dinâmica econômica pouco expressiva em relação ao cenário

estadual, diferente do que ocorre nos municípios vizinhos como Cairu. Existem

condições peculiares a Valença que lhe resultou em um processo histórico de

desenvolvimento turístico também diferenciado, expressivamente em Guaibim. O

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que significa afirmar, que diferenças foram produzidas, enquanto contradições no

contexto do modo de produção capitalista.

Como uma construção social e histórica, a investigação sobre a produção

territorial valenciana revelou que o espaço foi transformando-se ao sabor da

dinâmica produzida, a princípio, com os engenhos do açúcar, responsáveis pelo

núcleo de assentamento que deu origem a cidade de Valença, em seguida, a

produção têxtil das unidades fabris, também traçou sua trajetória nas

transformações socioespaciais e socioterritoriais. Acrescenta-se ainda, a importância

de outras atividades, como a produção naval, praticada nos estaleiros à margem do

Rio Una, e a pesca artesanal: conteúdos econômicos e políticos que registraram no

espaço os arranjos que resultaram na formação territorial. A velocidade dessas

transformações está diretamente atrelada ao ritmo do desenvolvimento das forças

produtivas, assim sendo, no contexto da mundialização do capital, os processos

tornam-se mais complexos.

A pesquisa revelou que desnudar o espaço valenciano, vislumbrando-o numa

perspectiva geográfica de desenvolvimento desigual, é compreendê-lo como produto

de processos sociais, políticos, econômicos e históricos em constante

transformação, contudo a leitura desse espaço, só foi possível via percepção do

local conectado com a dimensão regional, nacional e internacional. Assim sendo,

Valença não pode ser definida como um espaço ou território da totalidade.

O elo pode ser analisado a partir do turismo, ao criar fluxos entre o núcleo

emissor e o núcleo receptor de turistas, integram-se pontos que extrapolam os

limites regionais. A análise sobre a origem dos turistas que visitam Valença permitiu

concluir que, cidades de outros estados atuam como núcleos emissores, são elas,

Brasília, São Paulo, Goiânia e Belo Horizonte. Porém, a maior parte dos municípios

emissores se encontra dentro dos limites territoriais da Bahia, o que permite afirmar

que, há uma predominância do turismo interno ao estado. Ainda assim, um dado

relevante foi observado com a pesquisa: apenas Brasília responde pela emissão de

expressivo fluxo turístico para Valença. O fato é justificado pela posição geográfica

do Distrito Federal em relação à área de estudo, em função do sistema rodoviário

nacional, a distância entre estes municípios favorece a atratividade de Valença

enquanto destino turístico dos candangos.

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O Estado exerce papel fundamental como agente mediador na produção do

espaço, via Planejamento ou execução de Políticas Públicas. No Brasil, foi a partir

de 1930, o poder público interviu diretamente na estrutura econômica, promovendo

transformações socioespaciais no país. Na realidade, foi à expansão do modo de

produção capitalista que impôs uma nova realidade socioeconômica, materializada

no espaço através da constituição de desigualdades socioespaciais. Desde então,

as instituições públicas tem atuado com vista a buscar respostas para os

desequilíbrios regionais.

Com base na diferenciação/igualização produzida pela dinâmica do capital e na

análise sobre a ação do Estado, no que diz respeito ao planejamento e política

pública para o turismo foi possível perceber que o processo se estabelece na

contradição, imprimindo uma estrutura espacial que expõe a desigualdade. A

pesquisa revelou que o volume de investimentos públicos na área de estudo

contribuiu para permanência desse quadro, na medida em que os recursos foram

canalizados para Zonas Turísticas já consolidadas. Nesse sentido, o Estado passa a

presidir, para o caso particular, um aspecto da lógica capitalista que leva a

reprodução cumulativa das diferenças, sendo ele representativo dos interesses

dominantes, o que o leva ao uso dos recursos a serviço do capital em detrimento

aos interesses sociais. Em paralelo, o capital privado também percorreu o mesmo

caminho, consolidando a desigualdade socioespacial a partir do turismo, portanto

apresentando feições variadas, construídas historicamente, a partir da combinação

de fatores e elementos que em muitos casos são externos a realidade local.

Observa-se também que o principal obstáculo para o desenvolvimento turístico

em Valença e no Guaibim, não está na infraestrutura urbana, apesar da investigação

ter revelado que é preciso melhorar alguns serviços como, o acesso aos elementos

que compõem o saneamento básico. O principal obstáculo a ser enfrentado diz

respeito às práticas de planejamento e a necessidade de políticas públicas para o

turismo; não se pode afirmar, com isso, que elas sejam inexistentes.

Enquanto ação do Estado, políticas e planejamentos turísticos incidiram sobre o

município de Valença, desde a esfera federal até as instâncias de poder público

local. O PRODETUR-NE impactou expressivamente as práticas turísticas no

Nordeste brasileiro.

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Em sua primeira etapa de execução, as iniciativas do programa foram

direcionadas para a montagem da infraestrutura de fomento ao turismo, como por

exemplo, a construção da BA 001, viabilizando uma melhor acessibilidade à Zona

Turística Costa do Dendê, e consequentemente ao município de Valença. Na

segunda etapa, as atenções centralizaram-se em programas de fortalecimento

institucional e capacitação de entidades governamentais, diretamente envolvidas

com o turismo. A pesquisa revelou que a capacitação técnica dos gestores da

Secretaria de Turismo Municipal de Valença, foi executada pelo SEBRAE. Cabe

destacar que outras ações foram implementadas, a partir do PRODETUR-NE, com

vistas a promover o turismo em Valença, cita-se como exemplo, a qualificação da

principal praça da cidade, a Praça da República, a qualificação das vias públicas no

distrito de Guaibim, principal destino turístico de Valença, etc.

No âmbito estadual, como resposta as estratégias governamentais que

primaram, a partir de 2007, pela inovação de produtos e serviços, qualificação

profissional e empresarial e da integração econômica e social do turismo, foi

executado em Valença o Plano de Fortalecimento Municipal da Gestão do Turismo.

Na verdade, o Plano nasce como resposta aos problemas identificados durante a

avaliação dos resultados da primeira etapa do PRODETUR-NE. Os problemas

apontados deficiências institucionais quanto à elaboração e execução de

planejamento e gestão, qualificação técnicos dos servidores, dificuldades em buscar

e gerir recursos.

Frente a essa dificuldade percebe-se que o principal agente produtor do espaço

turístico: o Estado na instância local, apresenta limitações no desempenho desta

função, tais como restrições técnicas dos servidores e dificuldade de execução

orçamentária.

Restam outros dois agentes que atuam com vistas a produzir espaços turísticos:

o mercado e o turista propriamente dito. Este último tem baixa expressividade neste

cargo, apesar de estar na essência do turismo, ou seja, sem turista, não existe

turismo.

O mercado materializa-se nos interesses de agentes imobiliários, empresários,

dentre outros, para os quais, o espaço turístico de Valença disputa atenção com

outros destinos turísticos como Morro de São Paulo e Boipeba, ambos, distritos

pertencentes a Cairu. Nesse processo, Valença não tem logrado êxito na contenda

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e, o que justifica esse fato é a própria dinâmica de acumulação do capital, em que

com base na diferenciação, conteúdos econômicos, políticos são expressos no

espaço objetivando sua reprodução. Os conteúdos inscritos no espaço de Cairu têm

colocado este município em uma posição de destaque em relação à área de estudo.

Com base nessas reflexões, e após analisar os dados coletados durante a

pesquisa foi possível realizar algumas considerações importantes sobre o turismo

em Valença e Guaibim. A primeira delas está diretamente vinculada à relação do

turismo com o território, nesse processo as transformações do espaço dão-se em

conformidades com as necessidades turísticas. Os resultados dessa dinâmica não

têm proporcionado transformações significativas. A situação não pode ser justificada

pela falta de recursos como afirmam os responsáveis pela administração local, mas

sim pela descontinuidade das ações e pela limitada qualificação técnica daqueles

envolvidos no planejamento turístico.

Dadas essas condições, poder-se-á admitir que Valença e Guaibim são centros

turístico em formação. A pesquisa revelou que o processo de transformação do

espaço valenciano em espaço turístico teve seu início ainda na década de 1970,

contudo a forma como se dá a produção do capital, aliada a eficácia dos objetivos e

ações inerentes ao espaço municipal resultaram em uma fraca dinamicidade

econômica. Sendo assim, pode-se concluir que Valença caracteriza-se como um

centro turístico, porém com baixa expressividade econômica, a partir dos dados

levantados na pesquisa, se relacionado a centros mais expressivos. O limitado fluxo

de turista, as baixas taxas de embarque e desembarque confirmam esse argumento.

Observou-se que a função de centro turístico em Valença e Guaibim pode ser

delimitada como Centro Turístico de Escala. Entretanto, o atrativo turístico da praia

de Guaibim é a razão para o município enveredar mais esforços para ampliar essa

funcionalidade. Enquanto Centro de Escala, os atrativos de origem extramunicipal,

como Morro de São Paulo, Boipeba, justificam o porquê muitos visitantes não têm o

município de Valença como destino turístico, o que lhe configura a prerrogativa de

ser identificada como, porta de entrada, para uns, corredor turístico, para outros, ou

ainda cidade garagem.

A análise se fundamentou na observação de três variáveis que poderiam

justificar o atual estágio de desenvolvimento do setor: a infraestrutura urbana de

saneamento básico, o sistema de hospedagem existente no município e por fim, a

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política pública de turismo, especialmente a praticada pelo poder público municipal.

No conjunto, as três variáveis apontam para lacunas na sua estrutura e dinâmica

que resultam em saldos negativos para o desempenho do setor.

Sobre a infraestrutura de saneamento básico, os dados revelaram que é

necessário ampliar a oferta do serviço, principalmente quanto ao seu item coleta de

lixo, para favorecer a venda do produto turístico. A prática de visitar, conhecer

lugares está diretamente relacionada ao consumo da paisagem, e quando essa

paisagem apresenta problemas relacionados à higienização a sua força de

atratividade torna-se declinante. Mas esse não é o principal problema existente na

cadeia produtiva. Os meios de hospedagem existentes no município, também

apresentam carências quanto à qualificação dos funcionários e oferta do serviço

prestado.

Por fim, a última variável corresponde a que, segundo o estudo, mais impacta no

desenvolvimento da atividade, a política pública de turismo. Enquanto ação do

Estado, a política pública de turismo se processa nas três esferas da gestão pública:

federal, estadual e municipal. Nesse aspecto, os estudos revelaram dois grandes

problemas que comprometem a eficácia da ação do Estado. O primeiro deles foi a

conexão entre o que é planejado a nível Federal e Estadual, não é, em sua

plenitude, executado. O segundo problema identificado, provavelmente o mais

grave, foi a falta de continuidade das ações governamentais.

Conclui-se que há uma tradição na política brasileira de definir paternidade

quanto a planos/programa governamental, não há problema nenhum quanto a esse

fato. Todavia, quando se processa o término dos mandatos, muitos dos planos

programas, perdem a sua importância na agenda governamental, mesmo que tais

ações representem ganhos sociais e econômicos a sua permanência pode significar

publicidade para os gestores que antecedem o novo mandato.

Os resultados da pesquisa permitem afirmar que a continuidade das ações do

poder público em se tratando de medidas pertencentes a mandatos pretéritos,

impõe-se como obstáculo ao planejamento turístico. O estudo revelou que na

organização institucional existem instrumentos de ação que normatizam o

desenvolvimento turístico, e também recursos para programar ações que fomentem

a atividade, porém o repasse de tais recursos não é satisfatório para ampliação de

projetos.

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Outro elemento identificado durante as pesquisas é a inexistência do inventário

turístico do município. Há falta de conhecimento tanto da Secretaria de Cultura e

Turismo como da Secretaria da Receita Municipal, do quantitativo de unidades

comercias ligadas ao turismo no município. Sendo assim pergunta-se: como é

possível, gerir, fiscalizar, planejar, fomentar políticas públicas se a gestão municipal

desconhece a realidade sobre a qual deve atuar?

Eis aqui a justificativa para o atual estágio de desenvolvimento do setor turístico

em Valença e Guaibim, necessidade de implementação de políticas públicas para a

consolidação da atividade no território. Conclui-se que apesar do potencial turístico

presente em Valença e no Guaibim, o desenvolvimento dessa atividade não está no

centro da agenda dos gestores municipais.

A finalização da pesquisa mostrou que não existe território turístico no município

de Valença, pois não existe exclusividade das práticas turísticas sobre o território.

Existe sim, o espaço turístico, sobre o qual o poder público tem atuado como

principal agente produtor do mesmo, na medida em que cria ou qualifica a

infraestrutura necessária para o desenvolvimento da atividade, mesmo que esta

estrutura seja utilizada por outros setores econômicos. Contudo, foi possível

observar que a produção do espaço turístico valenciano, ainda não atingiu a sua

plenitude, ou seja, ainda não está consolidado em termos de mercado.

A produção do território valenciano deu-se, não como produto da relação do

turismo com o espaço, mas sim como resultado de práticas sociais mediadas por

relações conflituosas, desde o período da colonização, com as disputas entre

portugueses e índios, e no contexto atual, com a disputa velada entre os setores

hegemônicos e as comunidades locais. A disputa entre os pequenos proprietários de

pousadas e grandes empresários do setor de hospedagem é bastante ilustrativa, no

que diz respeito às relações de poder. O processo de instalação do empreendimento

imobiliário Ponta do Curral também ilustra o conflito de interesses.

O território foi compreendido como lócus de conflito, espaço de perpetração do

poder, local de implantação de políticas públicas, sob a tutela do capital. A

realização da investigação trouxe uma certeza: a acumulação capitalista não é

homogênea no tempo nem no espaço, ela está edificada nas desigualdades

espaciais e territoriais, processo este, construído historicamente via relação tempo-

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espaço a partir do confronto entre o valor de uso e valor de troca expressos em cada

unidade espacial.

A proposta dessa pesquisa é que discussão não se esgota aqui, porquanto, o

objetivo principal desta investigação, tem por meta levantar questionamentos,

motivar pesquisas futuras sobre o objeto de estudo e fornecer subsídios para

efetivação de um planejamento municipal para o turismo em Valença.

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__________Lei Municipal nº 2363 de 2 de dezembro de 2014.

VIEIRA, Marcelo Rodrigues. A experiência de modernização da administração pública do estado da Bahia nos últimos cinquentas anos (1955-2004) Dissertação apresentada ao Mestrado em Análise Regional no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano. Departamento de Ciências Sociais e Aplicadas. Universidade de Salvador- UNIFACS, Salvador, 2006.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO COM OS TURISTAS 1-Nome completo? 2-Qual a localidade de origem? ______________________________________________________________ 3-Qual a frequência que você visita Valença? ( ) 1ª vez ( )Veraneio aqui todos os anos ( )Só durante os finais de semana 4- Por que você visita Valença ? ( ) Por causa de suas belezas naturais ( ) Para visitar amigos e parentes ( ) Outros 5- Quantos atrativos turísticos você conhece? ( )Apenas 1 ( ) Entre 2 e 3 ( )Mais de 3 Cite um atrativo turístico________________ 6- Qual o tempo de permanência? ( ) Apenas um dia ( ) Até três dias ( ) Uma semana ( ) Até 30 dias ( ) Mais de 30 dias 7-Qual o meio de hospedagem utilizado? ( ) Não uso nenhum porque volto no mesmo dia. ( )Hotéis ou pousadas. ( ) Casa de amigos e parentes. ( ) Casa alugada 8- Qual a sua a avaliação dos serviços de hospedagem? ( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Boa ( ) Excelente 9-O que você avalia como positivo na sua visita a Valença? ( )Hospitalidade ( ) Belezas naturais ( )Qualidade dos serviços turísticos

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( ) o atendimento dos prestadores de serviços ( )Serviços de lazer e diversão ( ) A limpeza urbana 10 Você pretende voltar? ( ) Sim ( ) Não

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APÊNDICE B ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO DE TURISMO DE VALENÇA

ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. O Sr. poderia falar sobre a atividade turística em Valença? 2. Quais as principais dificuldades para a execução das ações desta

Secretaria? 3. O Sr. poderia falar sobre os planos, projetos e ações da Secretaria de

Turismo de Valença? 4. O Sr. poderia falar sobre os principais atrativos turísticos de Valença?

Sobre o inventário turísticos ?

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APÊNDICE C ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE TURISMO DE VALENÇA/GUAIBIM

ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. O Sr. poderia falar sobre a atividade turística em Valença? 2. Quem são os associados da ATIVA? Como a associação auxilia seus

integrantes nas praticas comerciais de turismo? 3. Quais são as principais dificuldades da associação? 4. O Sr. poderia falar sobre a relação da associação com a Secretaria de

Turismo de Valença? 5. Para o Sr. quais são os principais obstáculos para o desenvolvimento

do turismo em Valença 6. O Sr. poderia falar sobre os principais atrativos turísticos de Valença?

Sobre o inventário turísticos ?

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APÊNDICE D ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA AO ADVOGADO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE VALENÇA

ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. Existe alguma solicitação de implantação de empreendimento turístico

para o município de Valença? 2. O Senhor poderia falar o projeto de lei municipal 21/2012? 3. O Senhor poderia falar sobre o projeto imobiliário Ponta do Curral? 4. Como a Prefeitura avalia os impactos socioambientais deste

empreendimento?

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APÊNDICE E ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O GESTOR DA RECEITA MUNICIPAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE VALENÇA

ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. Existe cadastro dos estabelecimentos comerciais de alimentação,

hospedagem? O senhor poderia disponibilizar esses dados? 2. O Senhor poderia falar sobre a receita e despesa municipal do setor

turístico 3. Como é feito o acompanhamento do funcionamento dos

estabelecimentos comerciais turísticos?

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ANEXOS

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ANEXO A – PROGRAMA DE CRIAÇÃO DE NOVOS ROTEIROS TURÍSTICOS

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ANEXO B - RELATÓRIO DA MISSÃO TÉCNICA DO SERVIÇO DE APOIO ÀS

MICROS E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE

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ANEXO C – PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO ASSOCIADA AO

TURISMO NA COSTA DO DENDÊ

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ANEXO D – LEI MUNICIPAL 1. 572 DE 27 DE OUTUBRO DE 1999 QUE CRIA O

CONSELHO MUNICIPAL DE TURISMO

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ANEXO E – LEI MUNICIPAL Nº 1.597 DE 16 DE AGOSTO DE 2000 QUE ALTERA

LEI MUNICIPAL 1. 572

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ANEXO F - LICENÇA UNIFICADA INEMA À PORTO DA PONTA FUNDO DE

INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO

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ANEXO G – OFÍCIO PARA O FUNDO DE INVESTIMENTO PORTO DA PONTA

COM PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NO DISTRITO DO GUAIBIM

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