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ANDRÉIA RITA PEREIRA DE SOUSA
TURISMO E PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO NA BAHIA: IMPACTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM VALENÇA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana - Núcleo de Pós-graduação Política Pública e Planejamento Territorial como pré-requisito para obtenção do título de Mestre em Planejamento Territorial Orientadora: Profa. Dra. Nacelice Barbosa
Freitas Co-orientadora: Profa. Dra. Telma Maria
Sousa dos Santos
Feira de Santana
2015
2
ANDRÉIA RITA PEREIRA DE SOUSA
TURISMO E PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO NA BAHIA: IMPACTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM VALENÇA
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Orientadora Profa. Dra. Nacelice Barbosa Freitas
_________________________________________________________ Profa. Dra. Jocimara Britto Souza Lobão
_________________________________________________________
Profa. Dra Natália Coimbra de Sá.
3
À Beatriz e Luana por imprimirem o verdadeiro sentido da minha vida.
4
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus por ter permitido chegar até aqui, sem Ele nada faz
sentido, toda a luta é em vão. Em segundo, à minha família, aquela que eu construí
e a que o Pai me concedeu a honra de fazer parte. A cada um dos meus familiares
agradeço o apoio incondicional, principalmente naqueles momentos em que o
desânimo e o cansaço se fizeram presentes e a vontade de desistir apareceu. Nesse
momento a presença familiar foi decisiva, obrigada por comungarem dos meus
sonhos e embarcarem nessa caminhada para alcançá-los. Agradeço em especial a
meus amados irmãos Cláudia e João, pelo companheirismo; aos meus pais pelo
amor e sabedoria transmitidos bem como pela presença constante de minhas filhas
nos momentos em que me fiz ausente, ao meu marido Marcos, sempre presente,
agradeço pelo amor e paciência durante os momentos de desequilíbrio emocional.
Agradeço profundamente às minhas duas filhas Luana e Beatriz pelo sacrifício de
aceitar a minha ausência durante essa trajetória, esse foi o maior desafio.
Agradeço a minha orientadora Nacelice Freitas, pela inspiração, amizade e
parceria nesse processo de pesquisa.
O meu carinho especial as Professoras Jocimara e Acácia pela credibilidade e
confiança depositada nos momento de turbulência, para as duas a minha eterna
gratidão.
Aos meus colegas de mestrado pela solidariedade e companheirismo nesses
dois anos de troca de experiências, em especial ao quarteto, Ismael, Milena,
Ronaldo e Marcelo.
Aos gestores do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia
(IFBA) Campus Valença, que criaram condições para que eu desenvolvesse essa
pesquisa, em especial a Rosangela Patrícia por ter assumido parte da minha carga
horária para que o afastamento laboral fosse possível, ainda que também estivesse
desenvolvendo a sua pesquisa de mestrado.
A todos os meus amigos que de alguma forma, mesmo à distância, torceram
pelo meu sucesso.
5
RESUMO
Este texto versa sobre as políticas públicas de planejamento no Brasil e como interferem na atividade turística, em particular no município de Valença, Bahia. O estudo foi feito a partir da análise das ações da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE e o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, ambas com forte apelo regional, e como repercutiram territorialmente. Foram abordadas também as principais políticas de planejamento desenvolvidas na Bahia. Antes, porém fez-se uma breve discussão sobre a formação do território baiano e suas diferentes divisões territoriais A abordagem foi centralizada na ação do Estado, especialmente em sua escala local, sobre o desenvolvimento turístico na área de estudo A pesquisa bibliográfica possibilitou a compreensão da categoria de análise adotada, o território, bem como, permitiu reconhecer a ação do Estado enquanto política pública. A pesquisa documental permitiu entender como tais políticas públicas foram implementadas e quais impactos territoriais foram gerados sobre o turismo no município de Valença-Bahia. Para desenvolver esta pesquisa a categoria de análise geográfica utilizada foi o território.
Palavras chave: política pública, território, turismo, território turístico.
6
ABSTRACT
This text deals with public planning policies in Brazil and how this interferes with tourism, particularly in the city of Valencia Bahia. The study was done by analyzing the actions of the Northeast Development Agency-SUDENE and the Juscelino Kubitschek Target Plan, both with strong regional appeal, and how these repercussions territorially. Were also addressed major planning policies in Bahia, but rather was made a brief discussion of the formation of the state territory and its various territorial divisions The approach was centered on state action, especially in its local, on tourism development in study área. The literature review allowed us to understand the analysis category adopted, the territory and allowed recognize the action of the State as public policy. The desk research enabled us to understand how public policies have been implemented and what the territorial impacts were generated on tourism in the city of Valencia, Bahia. To develop this research used the category of geographical analysis was the territory
Keywords : Public Policy , Territory , Tourism and Valença
7
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Bahia Regiões Administrativa de 1966 105
TABELA 2 Bahia região administrativa 1991 110
TABELA 3 Investimentos públicos nas zonas turísticas da Bahia 1991 a 2005
122
TABELA 4 Investimentos privados nas zonas turísticas da Bahia 1991 a 2020 (US$ 1.000,00)
126
TABELA 5 Participação das Zonas Turísticas no fluxo do turismo receptor doméstico e internacional da Bahia 2011
131
TABELA 6
Fluxo global de turistas nos principais destinos turísticos da Costa do Dendê - Bahia 2003–2005
138
TABELA 7 Total de passageiros que desembarcam nos aeroportos da Bahia e Valença
139
TABELA 8 Município de origem do turista que visita Valença e Guaibim.
140
TABELA 9 Valença e Guaibim: número de estabelecimentos de Hospedagem em.
145
TABELA 10 Projetos e ações previstas no PDITS Litoral Sul.
160
TABELA 11 Município de Valença: detalhamento das despesas previstas para o exercício financeiro de 2014
166
TABELA 12 Município de Valença: detalhamento das despesas previstas para o exercício financeiro de 2015
167
TABELA 13 Zoneamento da APA da Planície Costeira do Guaibim
170
8
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Tipo de turismo e atividades relacionadas 45
QUADRO 2 Componentes do espaço turístico. 47
QUADRO 3 Bahia: região econômica e de planejamento
111
QUADRO 4 Demonstrativo de Planos e Projetos de fomento ao turismo no município de Valença
163
9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Localização do município de Valença 19
FIGURA 2 Fluxograma etapas da pesquisa 34
FIGURA 3 Eixos Nacionais de Integração e desenvolvimento 87
FIGURA 4 Cartograma regionalização administrativa da Bahia 1966
104
FIGURA 5 Regionalização administrativa da Bahia 1996
109
FIGURA 6
Bahia Regiões Econômicas e de Planejamento 112
FIGURA 7
Bahia Eixo de Desenvolvimento 114
FIGURA 8
Bahia Territórios de Identidade 118
FIGURA 9
Bahia Zonas Turísticas 2005 123
FIGURA 10
Pólo Turístico Litoral Sul: Costa do Dendê e Costa do Cacau
127
FIGURA 11
Costa do Dendê: PIB 2012 129
FIGURA 12
Distritos do município de Valença 134
FIGURA 13
Bahia: raio de influência turística do município de Valença
141
FIGURA 14 Delimitação da APA Planície Costeira do Guaibim
172
10
LISTA DE FOTOS
FOTO 1
Bairro Vila Operária- Rua Principal
22
FOTO 2
Planta do Bairro Vila Operária
23
FOTO 3
Ponte General Inocêncio de Galvão sobre o Rio Una
24
FOTO 4
Fábrica de Tecidos Nossa Senhora do Amparo em Valença
25
FOTO 5
Porto do Rio Uma: população a espera de embarcação
26
FOTO 6
Embarcação da Companhia Valença Industrial (CVI)
26
FOTO 7
Praia de Guaibim: vegetação de restinga
28
FOTO 8
Porto do Rio Una e a Praça Admar Braga Guimarães
29
FOTO 9
Empreendimento hoteleiro na praia de Guaibim
136
FOTO 10
Praia de Guaibim
168
FOTO 11
Viveiros de carcinicultura no Guaibim
168
FOTO 12
Área Urbana distrito de Guaibim
169
FOTO 13
Guaibim praia Ponta do Curral
173
FOTO 14
Guaibim: estacionamento construído em área de manguezal
176
11
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 Valença: tipologia dos meios de hospedagem usados pelo turista
145
GRÁFICO 2 Guaibim: tipologia dos meios de hospedagem usados pelo turista
146
GRÁFICO 3 Guaibim: avaliação do turista sobre os meios de hospedagem no
147
GRÁFICO 4 Valença: avaliação do turista sobre os meios de hospedagem em
148
GRÁFICO 5 Valença e Guaibim: principais motivos da viagem dos turistas
149
GRÁFICO 6 Valença e Guaibim: tempo de permanência do turista 150 GRÁFICO 7
Valença e Guaibim: avaliação do turista sobre os serviços e produtos turísticos
151
GRÁFICO 8 Município de Valença: evolução da coleta e destinação do lixo (toneladas)
153
12
LISTA DE ABREVIATURAS
ACV Associação Comercial de Valença
APA Área de Proteção Ambiental
ASCOBIM Associação dos Comerciantes e Barraqueiros do Guaibim
ATIVA Associação de Turismo de Valença e Guaibim
BANEB Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNB Banco do Nordeste do Brasil
CDL Câmara dos Dirigentes Lojistas
CIA Centro Industrial de Aratu
CIRETRAN Circunscrição Regional de Trânsito
CMT Conselho Municipal de Turismo
CONDEB Conselho de Desenvolvimento Econômico da Bahia
COPEC Complexo Petroquímico de Camaçari
COREDES Conselhos Regionais de Desenvolvimento
CPE Comissão de Planejamento Econômico
CTI-NE Comissão de Turismo Integrado do Nordeste
DESEMBANCO Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia
DIREs Diretoria Regional de Educação
DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo
ENID Eixo Nacional de Integração e Desenvolvimento
ENT Entrevistado
FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
FNRH Ficha Nacional de registro de Hóspedes
FUMTUR Fundo Municipal de Turismo
FUNDAGRO Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial
FUNGETUR Fundo Geral de Turismo
GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFBA Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia
IFOCS Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca
13
INEMA Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
MAR l Movimento Ambientalista Regional
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
MIN Ministério de Integração Nacional
OMT Organização Mundial de Turismo
PIB Produto Interno Bruto
PIDTS Plano de Desenvolvimento Integrado do turismo Sustentável
PLANDEB Plano de Desenvolvimento da Bahia
PNDS Plano Nacional de Desenvolvimento
PNMT Política Nacional de Municipalização do Turismo
PNOT Política Nacional de Ordenamento Territorial
PPA Plano Plurianual
PRODETUR Programa de Desenvolvimento Turístico
PT Partido dos Trabalhadores
QDD Quadro de Detalhamento de Despesas
SAAE Sistema Autônomo de Água e Esgoto
SDT Secretaria de Desenvolvimento Territorial
SETUR Secretaria Municipal de Turismo
SIACOR Sistema de Acompanhamento dos Contratos de Repasse
SNRHos Sistema Nacional de Registro de Hóspedes
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
SUS Sistema Único de Saúde
UFBA Universidade Federal da Bahia
USIBA Usina Siderúrgica da Bahia
ZPE Zona de Proteção Especial
14
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................
16
1.1 A área da pesquisa: o município de Valença.................................
17
1.2 Os caminhos percorridos para a realização da pesquisa..............
29
2 TERRITÓRIO E TURISMO: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA CONCEITUAL...............................................................................
36
2.1 Território: breves reflexões...........................................................
36
2.2 Turismo: a análise do conceito......................................................
41
2.3 O Território e o Turismo.................................................................
48
3 PLANEJAMENTO REGIONAL E TERRITORIAL NO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O TURISMO................................
53
3.1 Regiões como espaço de planejamento........................................
57
3.2 Planejamento e desigualdade socioespacial.................................
62
3.3 Política Pública e Turismo...........................................................
65
3.4 Planejamento Regional e desigualdade socioespacial no Brasil..............................................................................................
69
3.5 Política Territorial no Brasil: limites e avanços ............................. 79
3.6
Território e Ordenamento Territorial...........................................
88
4 PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO NA BAHIA............................................................................................
93
4.1 A Bahia formação territorial e regionalização................................
95
4.1.1 AS REGIÔES ADMINISTRATIVAS DA BAHIA............................................................................................
103
4.1.2 TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE NA BAHIA...............................
117
4.2 A regionalização do turismo na Bahia..........................................
120
4.3 O Turismo na Zona Costa do Dendê..........................................
126
5 TERRITÓRIO E TURISMO EM VALENÇA E GUAIBIM: UMA
15
LEITURA SOBRE A REALIDADE INVESTIGADA......................
133
5.1 O espaço turístico de Valença e Guaibim...................................
137
5.2 O Poder Público e o desenvolvimento do turismo em Valença....
155
5.3 Interesses socioambientais e a especulação imobiliária em território turístico: uma leitura sobre o Guaibim............................
167
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................
180
REFERÊNCIAS.............................................................................
179
APÊNDICES .................................................................................
200
ANEXOS..................................................................................... 207
16
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa nasce como uma tentativa de explicar a realidade atual, a qual é
reflexo da sociedade contemporânea que produziu uma dinâmica extremamente
complexa, fruto de uma gama de processos sociais e espaciais.
É sobre esta realidade que a investigação científica desenvolve-se pois, tem
como proposta a produção do conhecimento, e esta não é uma tarefa fácil. O
conhecimento move a sociedade, permite avançar e fazer do ser humano o dono do
seu futuro. Aqui reside a importância do fazer pesquisa, porquanto, possibilita a
sociedade sair da ignorância e ter condições de decidir o seu destino.
A presente pesquisa foi realizada nesta perspectiva, uma vez que a busca pelo
conhecimento foi o combustível para desenvolver tal estudo. Entende-se que a ação
política plena, consciente e crítica só é possível quando a realidade pode ser lida e
interpretada: foi essa inquietação que norteou a construção do conhecimento sobre
o território, ou seja, o município de Valença localizado na Bahia, como uma busca
constante e diária.
Optou-se em analisar a atividade turística no município em questão, pois
acredita-se que esta atividade econômica tem um significativo poder de produzir
territórios.
O interesse pelo município de Valença surge como reflexo do sentimento de
identidade. Natural da cidade de Valença foi possível acompanhar in loco as
transformações territoriais da cidade, todavia, o olhar limitava-se ao empírico.
Devido ao fluxo turístico para Cairu-Ba, especificamente para o distrito de Morro
de São Paulo, percebe-se que o crescimento da atividade turística em Valença é
relativamente pequeno quanto ao seu potencial econômico. Apesar de Valença
dispor de maior sistema de engenharia, de um importante patrimônio paisagístico
dedicado ao turismo de sol e praia bem como constituição de trilhas ecológicas com
recursos hídricos tais como, cachoeiras, praias, a atividade não apresenta
expressividade.
Segundo Boullón (2002, p. 79) “O espaço turístico é consequência da presença
e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer, são a
matéria-prima do turismo”. Assim sendo, o espaço turístico pressupõe uma
localização geográfica, cuja presença de elementos turísticos atue como atrativo
17
para viajantes, contudo, o potencial turístico pode não se desenvolver caso seja
inexistente ou escassa a infraestrutura turística. Assim sendo, apenas existência de
atrativos turísticos não garante a permanência do turista e, consequentemente, a
rentabilidade da atividade.
Desta forma, percebe-se que existem impeditivos ao desenvolvimento da
atividade no município de Valença, permitindo levantar questões que moveram esta
pesquisa. Sendo assim, pergunta-se: Por que Valença não consegue fixar o turista?
A infraestrutura urbana é adequada para o desenvolvimento da atividade? Qual a
função turística do município? Quais as transformações territoriais produzidas pela
ação do Estado a partir do planejamento e execução de políticas públicas de
turismo? Em que medidas a política pública dos territórios fomenta o
desenvolvimento da atividade?
A existência do patrimônio paisagístico, cultural ou histórico não é a única
premissa necessária para o desenvolvimento da atividade turística. Trata-se de um
segmento econômico que envolve a oferta de diversos serviços como transporte,
rede de restaurantes e hospedagem, dentre outros. Uma infraestrutura deficiente
pode comprometer toda a complexa e heterogênea cadeia produtiva. Essa
infraestrutura denomina-se sistema de engenharia Santos ( 2001).
A inexistência de planejamento e ou políticas públicas especificas para o turismo
no município de Valença impacta a produção do território turístico, especificamente
no que se refere a oferta desse serviços. Nesse contexto, o Estado é um dos atores
mais importantes na implantação do sistema de engenharia, que através da
definição de políticas públicas (re) produz novas territorialidades. Nesse estágio de
construção do conhecimento, percebe-se que a ação do Estado sobre atividade
turística é premissa fundamental para entender como o turismo rebate sobre o
território no município de Valença.
1.1 A área da pesquisa: o município de Valença.
Integrante da Zona Turística Costa do Dendê, Valença está situada, na faixa
litorânea, distante a 262 km (duzentos e sessenta e dois quilômetros) de Salvador.
Os municípios que fazem fronteira com Valença são: ao norte Jaguaripe, ao sul
Taperoá, a oeste Tancredo Neves, enquanto a leste encontra-se o oceano Atlântico.
18
Essa posição geográfica e seus respectivos limites fronteiriços são apresentados na
Figura 1.
Apresenta uma topografia suave com altitude média de 50 m, que favorece à
atuação dos processos pedogenéticos, movidos pela influência do clima tropical
quente e úmido. O padrão climático do município está sob a influência dos ventos
alísios de sudeste originados no anticiclone do Atlântico Sul, responsável em parte,
pela umidade da área, onde os índices pluviométricos chegam a 2400 mm. O
período chuvoso ocorre entre os meses de abril a junho, quando as chuvas frontais
de Sul e Leste são predominantes.
Valença surgiu às margens do Rio Una o que lhe garantiu no passado, papel de
destaque no cenário estadual, e também nacional, devido à sua importância
portuária. Todavia, a chegada das ferrovias ligando o sertão ao litoral lançou à
cidade a desvalorização comercial. A linha férrea favorecia o intercâmbio comercial
entre o Vale do Jiquiriçá, Recôncavo, e o Sudoeste da Bahia. Com 325 km
(trezentos e vinte e cinco quilômetros) de extensão, esta partia de Jequié e findava
em Nazaré. Responsável pelo transporte de passageiros e pequenas cargas,
promovia expressivo dinamismo econômico para estes municípios, em detrimento da
economia de Valença.
Durante o período de colonização portuguesa, a área territorial que atualmente
corresponde ao município de Valença foi alvo de sangrenta disputa entre os
colonizadores e os habitantes da terra. Na verdade, antes dos colonizadores a área
já era disputada pelos índios Tupinambás de tronco linguístico tupi-guarani, e os
Aimorés, chamado de Tapuia, do grupo macro-jê. (OLIVEIRA, 2006)
19
FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE VALENÇA
20
Os Tupinambás desenvolveram uma complexa organização social mantida
por uma forte articulação entre a política e religião. Eles moravam em aldeias e
viviam da caça e da pesca, praticavam a antropofagia e foi o grupo que mais
manteve contato com os portugueses. Diferente dos Aimorés, que mantinham
forte resistência ao domínio colonizador e possuíam uma organização social
menos complexa. O perfil guerreiro dos Tapuias dificultou por mais de 170
anos o ocupação portuguesa na então Capitania de Ilhéus, onde se situavam
as terras que hoje fazem parte do município de Valença. “A Capitania de Ilhéus
tinha 50 léguas e pertencia a Jorge Figueiredo Correia” (OLIVEIRA, 2006,
p.30).
A partir de 1770 um ciclo de prosperidade se inicia devido ao comércio de
madeira e intenso tráfico de escravos, consequentemente impactos sobre o
território podem ser percebido, através da abertura de estradas ligando ao
sertão. A partir destas vias que se desenvolveu o tráfico de ouro, vindo das
minas no sertão em direção aos portos locais, promovendo desta forma intensa
circulação de recursos no povoado de Una. O expressivo crescimento
econômico possibilitou a elevação do povoado de Una à categoria de Vila de
Nova Valença em 1799, freguesia do Sagrado Coração de Jesus. O nome foi
uma homenagem ao Marquês de Valença, o ex-governador D. Afonso Miguel
de Portugal e Castro. (OLIVEIRA, 2006).
A prosperidade da Vila Nova Valença continuou ainda no período Imperial
culminando em sua participação na luta contra o domínio português. Além de
enviar valencianos para participar diretamente do combate, Valença fez parte
do Conselho Interno de Governo da província da Bahia.
Ao conselho coube a função de elaborar e executar ações políticas e
militares contra os portugueses. O prestigio político e o valor estratégico de
Valença também podem ser observadas a partir da formação da primeira
esquadra brasileira que esteve sediada nas vilas de Valença e Cairu, através
do Canal de Tinharé. Na verdade, esse fato pode ser considerado como um
reflexo de sua importância econômica. Com forte tradição agrícola, Valença
possuía grande diversidade produtiva àquela época, ofertando madeira,
produtos de subsistência, especiarias, mariscos e pescados.
21
Ainda na primeira metade do século XIX, em razão do crescimento
econômico e populacional, foi instalado em Valença o projeto industrial da
Fábrica de Tecidos Todos os Santos, o que iria promover fortes transformações
territoriais e socioeconômicas.
(...) iria surgir na Bahia um grande projeto de indústria de tecidos com a conjunção de interesse de três comerciantes locais, o português naturalizado brasileiro, Antônio Francisco de Lacerda, o norte americano John Smith Gilmmer e o já mencionado Antônio Pedroso de Albuquerque. Tratava-se da instalação de um a fábrica de grandes proporções, às margens do rio Una, em Valença à altura da sua segunda cachoeira, a partir da foz. (OLIVEIRA, 1985, p.37).
O empreendimento foi instalado em 1844, mas foi em 1847 que a fábrica
entrou em operação. O projeto de implantação configurou como a maior obra
de engenharia da região daquela época e repercutiu em grandes inovações
tecnológicas como a construção da primeira eclusa do Brasil, ora denominada
pela população local de caldeira, onde as embarcações transpunham a
primeira cachoeira do rio Una, e na construção de duas pontes de madeira que
dispunham de um sistema inovador que permitia a sua abertura para
possibilitar a passagem de navios.
O pioneirismo promoveu inovação nas relações trabalhistas, pois utilizou
trabalhadores assalariados e implantou um sistema pioneiro de seguridade
social (OLIVEIRA, 2006.). Os benefícios trabalhistas adotados pela Fábrica de
Tecidos Todos os Santos na prática correspondiam muito mais à proteção da
produção do capital que o bem estar dos operários, que estavam submetidos a
elevada carga horária de trabalho e remuneração baixa, razão pela qual as
famílias viam-se obrigadas a incentivar o trabalho infantil como forma de
contribuição à renda. As crianças também eram admitidas pela fábrica, porém,
a sua remuneração era diferenciada, demonstrando assim mais uma estratégia
do capital.
Em razão do dinamismo econômico promovido pela indústria é notável
perceber que também ocorreu a expansão urbana, como surgimento de
bairros. Valença ganhava assim o título de Cidade Industrial, quando foi
elevada à categoria de cidade através da Resolução de Nº 368 de 10 de
novembro de 1849.
22
A fábrica promoveu a ampliação dos serviços urbanos em Valença como a
oferta de energia elétrica e água tratada para a população local, como afirma
Paixão (2006, p. 27).
A instalação da fábrica promoveu paulatinamente certo desenvolvimento interno, que se revelou através da reorganização urbana, com a criação da vila operária; do serviço de distribuição de agua potável e de energia elétrica para a cidade - energia elétrica gerada pelas turbinas
hidráulicas da fábrica.
A autora aponta o crescimento urbano induzido pela unidade fabril, criando
no imaginário popular a ideia de que existência da fábrica de tecido beneficiava
toda a população. Na verdade o capital cria estratégias que representem maior
rentabilidade, como, por exemplo, a construção de bairros como forma de
maior controle sobre os operários (FOTO 1).
FOTO 1 - BAIRRO VILA OPERÁRIA – RUA PRINCIPAL
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
O bairro Vila Operária construído na margem esquerda do Rio Una, cuja
proximidade com a fábrica favorecia ao controle do tempo de trabalho do
operariado, conferindo-se a materialização do fordismo, cujas bases
23
fundamentam-se no controle do tempo desprendido no trabalho. Apesar de ter
sido o modelo de produção predominante no século XX a estratégia de controle
do tempo pode ser observada na fábrica em questão através da construção de
um bairro operário denominado Bairro Vila Operária. (FOTO 2).
FOTO 2 – PLANTA DO BAIRRO VILA OPERÁRIA
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
24
Este empreendimento também inovou ao usar força hidráulica para mover
os maquinários. O sistema de abertura da ponte sobre o Rio Una também
representou inovações técnicas para o período (FOTO 3).
FOTO 3 - PONTE GENERAL INOCÊNCIO DE GALVÃO SOBRE O RIO UNA
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
No ano de 1860, instala-se em Valença a fábrica de tecidos Nossa Senhora
do Amparo, também situada às margens do rio Una, com o intuito utilizar a
força hidráulica como fonte de energia usada pelo maquinário fabril.
Em 1887, como resposta a uma tendência do setor industrial, as fábricas
de Tecidos Todos os Santos e a Nossa Senhora do Amparo fundem-se,
formando Empresa Valença Industrial que no final do século XIX vai originar a
sociedade anônima Companhia Valença Industrial (CVI). (PAIXÃO, 2006).
(...) a Companhia Valença Industrial revelou uma tendência ao crescimento o que pode ser denotado pela construção de um novo pavilhão em 1907-08; pela exigência posterior, em 1922 da construção da Usina Hidrelétrica do Candengo, a princípio com duas turbinas e depois, na década de 30, ampliada para três, o que representou significativa melhoria no abastecimento elétrico para a cidade (...)(PAIXÃO, 2006, p 39).
A autora apresenta como as melhorias nos meios de produção da CVI
impactaram sobre Valença. A Companhia promoveu avanços econômicos e
25
benefícios para a sociedade, como fornecimento de energia elétrica,
construção de escolas e outras feitorias. A Foto 4 ilustra as instalações da
Fabrica de Tecidos Nossa senhora do Amparo.
FOTO 4 - FÁBRICA DE TECIDOS N. SENHORA DO AMPARO EM VALENÇA
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
Além do setor industrial, Valença assumiu ao longo de sua história,
importante papel como cidade portuária. O fluxo contínuo das embarcações
movimentava o cais valenciano, não só no que diz respeito a circulação de
mercadorias, mas também, pelo expressivo número de passageiros.
De acordo com a Revista dos Municípios, (citada por OLIVEIRA, 2006):
Se ella a Companhia usufrui resultados do seu vultuoso capital, ali empregado, também é certo que tem oferecido aos valencianos espontaneamente, e por preços mínimos, os serviços mais importantes... oferecimento de transporte, por preços baixos, em suas três grandes embarcações(...)
O fluxo de passageiro transportado pelas embarcações era expressivo,
criando assim uma dinâmica própria, movimentando toda a cidade. A Foto 5
ilustra o porto do Rio Una tomado por pessoas que aguardam a chegada da
embarcação.
26
FOTO 5 - PORTO DO RIO UMA: POPULAÇÃO A ESPERA DE EMBARCAÇÃO
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
Devido à sua localização geográfica, no final do século XIX, Valença era
responsável pelo maior intercâmbio comercial com Salvador. O fluxo comercial
ocorria através do rio Una por meio de oito embarcações que realizavam
transporte de mercadorias e de passageiro, das quais três pertenciam a CVI.
(OLIVEIRA, 2006) (FOTO 6).
FOTO 6 - EMBARCAÇÃO DA COMPANHIA VALENÇA INDUSTRIAL (CVI)
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
27
A história revela que a atividade fabril foi responsável pelo crescimento
urbano no município de Valença. A construção da já mencionada ponte
levadiça permitiu a ligação das duas margens do rio Una, favorecendo um
maior intercâmbio entre o centro comercial, na margem direita, e o povoado de
São Félix, na margem esquerda, onde também foi construído o bairro Vila
Operária. Várias edificações foram construídas com recursos direto ou
indiretamente oriundos do setor industrial.
Todavia, os primeiros sinais de queda na rentabilidade do setor começaram
a aparecer ainda na segunda metade do século XIX, quando a capacidade
produtiva da companhia mostrava-se exígua ao seu verdadeiro potencial
econômico. A origem da crise que assolou a florescente indústria valenciana
provinha das dificuldades no abastecimento de matéria prima, concorrência
com outras unidades fabris presentes em outras províncias, bem como as
oscilações do mercado consumidor que acabou restrito à própria província e à
vizinha Pernambuco (PAIXÃO, 2006).
Apesar de a indústria desempenhar importante papel na economia local,
outras atividades econômicas também merecem destaque na produção do
espaço de Valença, principalmente no que diz respeito à sua formação
territorial. Nesse contexto, ressaltam-se as atividades relacionadas à pesca e à
construção naval, ambas diretamente relacionadas às características
geográficas e ambientais presentes em Valença.
Na porção leste do município observa-se um trecho litorâneo estuarino com
vistas para o arquipélago de Tinharé, onde se localizam Morro de São Paulo e
Boipeba, importantes pontos turísticos da Costa do Dendê, separados do
continente pelo canal de Taperoá. Drenada pela Bacia Hidrográfica do
Recôncavo Sul, através dos rios Una, Braço e Vermelho, Valença é possuidora
de extensa área de restinga e manguezais, o que configura-lhe peculiaridades
paisagísticas bem como uma riqueza de moluscos e crustáceos. A restinga
arbórea é a vegetação predominante conferindo paisagem característica ao
município (FOTO 7)
Foi justamente nessas condições ambientais que se desenvolveram,
ainda nos séculos XIX, a pesca artesanal e da construção naval. Devido à
informalidade destas atividades, os dados estatísticos de suas práticas são
28
extremamente escassos, sendo necessário recorrer a fontes primárias.
Entretanto, a sua relevância socioeconômica não deve ser menosprezada.
FOTO 7 - PRAIA DE GUAIBIM: VEGETAÇÃO DE RESTINGA
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
A pesca artesanal1 foi responsável pelo surgimento de bairros na direção
sudeste do território valenciano. No final do século XIX, na margem direita do
rio Una surgiu o atual bairro do Tento, habitado exclusivamente por pescadores
e marisqueiras que retiram o sustento de suas famílias na região estuarina.
Nesta mesma margem, foram inaugurados vários estaleiros, alguns dos quais
permanecem em atividade nos dias atuais. Já fora mencionado anteriormente
que, no século XIX, Valença realizava intenso fluxo comercial com a capital
Salvador através do rio Una, em razão deste fato e provavelmente da
abundância de madeira, este município transformou-se em importante pólo da
construção naval. Os estaleiros fixaram-se nos espaços em que ainda não
havia edificações, tanto na margem direita quanto na margem esquerda do rio.
O intenso fluxo comercial deu origem ao centro comercial e ao porto, ambos
1 A “pesca artesanal caracteriza-se por meio de produção com tecnologia relativamente
modesta, um sistema de captura multi-espécies e relações de trabalho fundadas na parceria”. (PROST, 2007, p. 141).
29
construídos na margem direita como ilustrado na Foto 8. Próximo ao porto foi
construída a Praça Admar Braga Guimarães, onde foi instalado todo o aparato
administrativo citadino. (OLIVEIRA, 2005).
FOTO 8 - PORTO DO RIO UNA E A PRAÇA ADMAR BRAGA GUIMARÃES
Fonte: Acervo fotográfico da Câmara Municipal de Valença. Pesquisa de Campo, 2014.
Por causa das transformações em curso, os estaleiros começam a limitar
as suas atividades, principalmente em razão da expansão urbana e de
restrições quanto ao corte da madeira. Muitos estaleiros encerraram sua
atividade e os que permanecem em atividade atuam de forma limitada
transformando-se em oficinas de reparos de embarcações em detrimento da
construção naval. Nesse contexto, o turismo surge como atividade
potencialmente viável para proporcionar o reestabelecimento da economia
valenciana.
1.2 Os caminhos percorridos para realização da pesquisa
A opção em estudar a produção do território a partir do turismo, explicando
como o Estado interfere nesse processo foi o objetivo principal desta pesquisa
que também analisa as políticas públicas e os impactos sobre esta atividade no
município de Valença.
30
A importância deste estudo foi edificada em três pilares: o primeiro refere-
se ao interesse profissional enquanto docente do Curso Técnico de Turismo no
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA).
Observando as estatísticas apresentadas pelo IFBA percebe-se que os
concluintes daquele curso não se inserem no mercado de trabalho; o segundo
relaciona-se à importância econômica do turismo, pois considera-se que esta
atividade representa possibilidades de geração de renda e emprego em
espaços que necessitam de políticas públicas específicas para minimizar as
desigualdades socioespaciais; e o terceiro vincula-se à necessidade de
produção acadêmica, principalmente sobre a produção do território do turismo
em Valença, considerando-se que a pesquisa em questão permitirá a
construção de banco de dados e informações que poderão contribuir para o
conhecimento sobre o território. Assim, a necessidade de ampliação do
conhecimento sobre a realidade quanto ao desenvolvimento do turismo no
município de Valença tornou-se inquietação que moveu a vontade para realizar
tal pesquisa.
A avaliação das políticas públicas para o setor turístico de Valença passou
por uma análise da ação do governo do Estado e a capacidade do próprio
município para tal. Outro objetivo específico centrou-se na explicação dos
elementos que atuam como repulsores e atrativos para os que visitam o
município, discutindo a função turística de Valença.
Para a realização da pesquisa, buscou-se informações em fontes
secundárias, realizando o levantamento bibliográfico e leitura de fontes
primárias referentes ao planejamento turístico no âmbito nacional, estadual e
municipal, tais como: Programa de Desenvolvimento do Turismo PRODETUR,
Plano Nacional de Turismo, Plano de Desenvolvimento Municipal de Turismo,
Programa de Criação de Novos Roteiros Turísticos, Produção Associada ao
Turismo (PAT)), Plano de Desenvolvimento da Produção Associada ao Turismo
- Costa do Dendê Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável
(PIDTS) Litoral Sul, Lei Municipal Nº 1572 de outubro de 1999, Lei Municipal Nº
1597 de agosto de 2000, Portaria do Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (INEMA) Nº 2499, e o Ofício da Prefeitura Municipal de Valença para o
Fundo de Investimento Imobiliário Porto da Ponta (ANEXO A, B,C,D,E,F,EG).
31
O levantamento bibliográfico contribuiu principalmente para a elaboração
do arcabouço teórico conceitual que norteou a pesquisa e para o entendimento
do debate sobre planejamento e políticas públicas para o turismo.
A área delimitada para a realização da pesquisa de campo corresponde à
sede do município de Valença e ao distrito de Guaibim, que foram escolhidos
em razão das observações empíricas revelarem uma centralização das
atividades econômicas, principalmente aquelas ligadas ao turismo. Definiu-se
esse recorte espacial porque diante da exiguidade do tempo considerou-se não
ser possível incluir todo o município para a realização da investigação.
Realizou-se também o levantamento de informações sobre aspectos da
atividade turística no município de Valença e tomou-se como referência o
número de estabelecimentos de hospedagem, o demonstrativo de planos e
projetos de fomento turístico, a movimentação de passageiros.
Para avaliar a participação econômica de Valença na Zona Turística Costa
do Dendê, identificou-se o Produto Interno Bruto (PIB). Analisou-se também o
fluxo de turistas e a distribuição de recursos financeiros na zona turística em
questão, além dos indicadores socioeconômicos. Para tanto, recorreu-se às
informações publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI),
Observatório de Turismo da Bahia, Superintendência de Investimentos em
Pólos Turísticos (SUINVEST), Secretaria de Planejamento Ciência e
Tecnologia da Bahia (SEPLANTEC).
O desempenho turístico da área de estudo também foi avaliado, no sentido
de identificar seus impactos, através da pesquisa de campo, utilizando como
instrumentos questionários e entrevistas. O levantamento de informações nesta
fase da pesquisa se desenvolveu em três etapas distintas: primeiro foi
realizada entrevista com os gestores municipais de Valença: Secretária de
Turismo, Diretor da Receita Municipal e o Procurador Jurídico Municipal. Estes
foram selecionados, considerando que ofereciam condições para o
fornecimento de informações sobre o objeto de estudo. Além disso, buscou-se
informações com as lideranças locais como o Presidente da Associação de
Turismo de Valença e Guaibim (ATIVA) porque esta associação reúne dados
32
estatísticos sobre os estabelecimentos comerciais vinculados ao turismo, tais
como, hotéis, restaurantes, barracas de praia, dentre outros.
Entrevistou-se também os sujeitos responsáveis pela lotação dos
estacionamentos de automóveis existentes na área de estudo. A escolha
deveu-se á necessidade de informações sobre a capacidade de oferta deste
equipamento urbano. Para tanto, foram selecionados em pontos estratégicos
na cidade que ficam localizados nas principais vias de acesso rodoviário para o
município de Valença, perfazendo um total de três localidades: a Avenida São
Félix; uma via de acesso norte para a BA 001, com destino a Ilha de Itaparica;
Rua do Pitanga, que confere acesso em direção ao sul dessa mesma rodovia
estadual; e finalmente a Rua da Aguazinha, que permite a conexão entre as
duas rodovias: a BA 542 e a BR 101.
Definida a área onde foram realizadas as entrevistas, foi necessário
estabelecer a amostragem, partindo do número total de trabalhadores
envolvidos na atividade responsável pela organização da lotação dos
estacionamentos. Identificou-se o número de 15 trabalhadores cadastrados na
Secretaria Municipal de Turismo (SETUR), denominados “flanelinhas”. Aplicou-
se entrevistas com o quantitativo de oito “flanelinhas”, o que corresponde
aproximadamente 53% do total.
As entrevistas aplicadas podem ser classificadas como entrevistas
semiestruturadas, pois foram elaboradas com base em questionamentos
referenciados em hipóteses que interessavam a pesquisa. Nessa perspectiva,
os questionamentos foram estrategicamente direcionados para o foco principal
da pesquisa: planejamento e políticas públicas para o turismo no município de
Valença. (APÊNDICES B, C, D e E)
Para Triviños (2008) a entrevista semiestruturada oferece amplo campo de
interrogativa, favorecendo que o informante, espontaneamente, a partir de suas
vivências pessoais e profissionais, mediado pelo investigador, participe da
elaboração do conteúdo da pesquisa. O autor completa sinalizando que o uso
desse procedimento metodológico não significa que o entrevistador tem função
secundária no processo de investigação, na verdade a presença deste é
valorizada na medida em que a sua mediação oferece todas as perspectivas
possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade
33
necessárias enriquecendo o estudo. Esse processo torna-se possível quando
se estabelece previamente os questionamentos com base no foco da pesquisa.
(TRIVIÑOS, 2008).
Assim sendo, as entrevistas realizadas neste trabalho foram referenciadas
com base nas seguintes temáticas: qualidade dos serviços e equipamentos
turísticos, planejamento turístico, política pública, especialmente aquelas
vinculadas ao turismo e atratividade turística na cidade de Valença e no
Guaibim.
Aplicou-se também questionários com os turistas com o propósito de
identificar as opiniões daqueles que se dirigem para esta área, especialmente
quanto aos atrativos turísticos e serviços prestados (APÊNDICE A). No
instrumento constam 10 (dez) questões. Para definir a amostragem deparou-se
com um problema que é a inexistência de dados estatísticos, sobre o
quantitativo de turistas que chegam ao município.
Não havendo registros sobre o número de turistas que visitam a sede do
município durante o ano, em nenhum órgão municipal pesquisado, a definição
de uma amostragem tornou-se complexa. Optou-se então pela escolha
aleatória de 200 turistas em fluxo, em horários de maior intensidade.
Os espaços selecionados para aplicação dos questionários foram: em
Valença, a estação rodoviária no horário de chegada dos ônibus
intermunicipais. Aplicou-se um total de 100 questionários durante os três dias
que antecedem o réveillon, e nos dois dias anteriores ao início do carnaval de
2014 (meses de dezembro e fevereiro de 2014), selecionando 20 questionários
para cada dia. Tomou-se o cuidado de certificar-se se o respondente era turista
e se hospedaria na sede de Valença.
O mesmo procedimento foi efetivado em Guaibim. O distrito não conta com
estação rodoviária, desta forma, o local da pesquisa foi a Praça São José, pois
a mesma, além de ser a praça principal, é o local em que concentra o maior
fluxo de desembarque porque se trata do destino final de ônibus municipal que,
após passar por Valença, segue para o Guaibim. Os questionários foram
aplicados no mesmo período que Valença, seguindo os mesmos critérios antes
mencionados. A escolha destes períodos decorre da observação empírica,
pois, identificou-se que nestas datas em razão da comemoração do Natal,
34
Réveillon e carnaval o fluxo de visitantes torna-se mais expressivo em relação
a outros períodos.
Após o levantamento de informação iniciou-se a sistematização e análise, o
Figura 2 ilustra a abordagem metodológica que norteou o desenvolvimento
desta pesquisa.
FONTE: Elaboração da autora (2015)
A terceira e última etapa da pesquisa correspondeu ao registro fotográfico
e cartográfico. Lançou-se mão desse procedimento para ilustrar e localizar
aspectos importantes do objeto de estudo observados e investigados in loco.
Os resultados permitem avaliar, analisar e explicar o planejamento e as
políticas para o turismo, a prestação dos serviços de hospedagem, a qualidade
dos prestadores de serviços turísticos, sob a ótica do consumidor: o turista.
O texto foi estruturado em seis capítulos. Na primeira seção foi
apresentada uma discussão introdutória sobre a temática da pesquisa, quanto
ao objeto de estudo. Também foi exposto o processo metodológico adotado
para o desenvolvimento desta pesquisa. No capítulo dois escreve-se sobre a
FIGURA 2 - FLUXOGRAMA ETAPAS DA PESQUISA
35
base teórico conceitual, apresentando o debate sobre o conceito de Território e
o Turismo, além da identificação do modelo de análise adotado para desvelar a
realidade valenciana, no que diz respeito ao desenvolvimento turístico.
O terceiro capítulo apresenta a cronologia das principais políticas de
planejamento implantadas no Brasil, e a ação do Estado brasileiro para
promover o desenvolvimento turístico a partir da década de 1990.
No capítulo quatro a escala de análise é o território baiano. Aqui foi
apresentado o processo de formação do território e como o Estado o organiza
e executa a política de planejamento.
O enfoque do capítulo cinco foi o objeto de estudo desta pesquisa, o
turismo no município de Valença-Bahia, a proposta foi focar a análise em uma
escala que favoreça vislumbrar melhor o que foi estudado.
36
2 TERRITÓRIO E TURISMO: DISCUSSÃO TEÓRICO-CONCEITUAL
Este capítulo versa sobre o arcabouço teórico-conceitual que referenciou a
pesquisa. Discutiu-se os conceitos de Território, Região, Território turístico,
tomando por base as discussões de Souza (2010), Haesbaert (1999, 2006a,
2006b, 2010) Cruz (1996, 2000, 2003, 2005, 2007) Boullón (2002, 2005)
2.1 Território: breve reflexões
O território é uma construção social, um espaço definido e delimitado por e
a partir de relações de poder, como afirma Souza (2010, p.78), assim como
outras categorias de análise geográficas, apresenta ambiguidades, discutir o
território, portanto, não é tarefa fácil. Para Freitas (2012, p. 169) o “território é
entendido como unidade contraditória, totalidade resultante da espacialidade
produzida no âmago da sociedade capitalista” Segundo a autora, o território é
uma totalidade produzida por relações sociais dentro do modo de produção
capitalista, assim sendo, os conflitos emanados no processo de acumulação do
capital incidem sobre ele.
Na Ciência Geográfica é possível identificar duas abordagens para o
conceito de território, uma material e outra simbólica, o que resulta em uma
complexidade nas suas definições. No primeiro caso o território está associado
a um suporte físico, boden2, enquanto a segunda conotação sinaliza para o
sentimento de pertencimento, identidade.
Para Souza, (2010, p. 86) o território, enquanto categoria geográfica refere-
se a um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais “que, a par da
complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma austeridade: a
diferença entre nós (o grupo, os membros da coletividade ou comunidade, os
insiders) e os outros (os de fora, os estranhos, ou outsiders)”. É sobre o
2 O termo boden utilizado por Friedrich Ratzel designa o solo pátrio. O alemão Ratzel,
referência da Geografia Política lançou as bases para identificar o território como um referencial político do Estado, ou seja, a noção de território está embebida de um discurso ideológico de território nacional. Assim sendo, trata-se de um recorte espacial do Estado-Nação.
37
território que se materializam conflitos originando especificidades em cada
porção da superfície.
Mais dois outros importantes teóricos da Geografia, Milton Santos (2001) e
Claude Raffestin (2008), abordam o conceito de território de forma distinta,
apesar de ambos coadunarem com a premissa que esta categoria geográfica é
produzida historicamente, a partir de relações de poder. O primeiro afirma que
o território é um recorte espacial e, para o segundo o espaço corresponde a um
substrato do território.
Nas obras de Santos (1996, 1998,2001 e 2008), o território não estava no
centro de suas reflexões. Tratava-se de um conceito subjacente ao conceito de
Espaço, que corresponde a um recorte espacial; ao espaço produzido pelo
homem, via apropriação da natureza mediante a técnica. O que significa
afirmar que, para o autor, resulta de relações sociais, em que as categorias
espaço e território são indissociáveis ou mesmo sinônimos.
Diferente reflexão é apresentada por Raffestin (2008, p.26), ao explicar que
o espaço é o substrato para a produção do território, sendo assim, são
categorias diferentes. O território é, portanto, uma construção social
Espaço e territórios não são termos equivalentes, nem sinônimos. Utilizando-os indiferentemente, os geógrafos introduziram em suas análises algumas confusões notáveis. É fundamental entender como o espaço está em posição que antecede ao território, porque este é gerado a partir do espaço, constituindo o resultado de uma ação conduzida por um ator que realiza um programa em qualquer nível.
O território é resultado de uma ação de sujeitos sobre o espaço, assim
sendo, ele se forma através da sociedade, ou seja, é um produto social. O
autor afirma que é um espaço onde se projetou um trabalho executado a partir
de relações sociais e como tal, revela relações marcadas pelo poder.
(RAFFESTIN, 1993, p.145)
Esse debate ratifica como é complexo delimitar o conceito de território, a
busca pela construção de uma definição tem sido uma tarefa para a ciência
geográfica, porém, em todas as concepções a cerca do tema o traço marcante
é a presença de relações de poder.
38
É comum associar o poder à força, violência ou austeridade. Na verdade o
poder que se estabelece via coletividade é um consenso, ou seja, só existe
poder a partir do momento que um grupo de pessoas mantem-se coeso e
legitima o poder a alguém. Segundo Arendt (1985, p.25) o poder e a violência
se opõem, quando a força é usada significa que o poder é declinante.
Admite-se que o território é o espaço produzido por relações de poder.
(...) o território, enquanto mediação espacial do poder subsiste de maneira historicamente determinada por múltiplas dimensões culturais, econômicas e políticas. O território de qualquer forma define-se antes de tudo com referência às relações sociais (ou culturais em sentido amplo) em que está mergulhado, relações estas que são sempre, também, relações de poder (HAESBAERT, 2010, p.54)
Produto de relações sociais, o território implica relação de poder que pode
ser delimitado espacialmente. Contudo, a base da atuação da ação
governamental que é o território tem seus limites alterados ao longo do
processo histórico de produção do espaço, até porque a constituição de um
território e de seus limites é resultado:
(...) de uma construção social e seus limites se alteram de acordo com as estratégias de apropriação, controle e delimitação do espaço. Neste sentido o território constitui expressão de um espaço dominado por um grupo de pessoas que fazem uso deste domínio para manter controles e influências sobre o comportamento de outros, exercendo assim, relações de poder. (SILVA, 1990, p. 12)
Entendido como tal, o território é produto da ação de sujeitos sociais sobre
o espaço a partir de relações de poder, assim sendo, situar o município de
Valença como território, requer admitir que este espaço foi formado mediante
apropriação, luta, conflito desde a instalação da colonização, logo, esse
processo implicou em uso da força e poder.
Antes mesmo da colonização o espaço era disputado entre os índios
Aimorés (chamados de Tapuia) e os Tupinambás. Nesse sentido, é possível
afirmar que o território, na acepção da palavra3, é apropriado mediante conflito.
3 Etimologicamente, também está atrelado ao termo terrifer – de origem francesa – que corresponde ao “direito de aterrorizar” (FREITAS, 2013)
39
Para Freitas (2013, p.56) “lugar de poder, dominação correspondente ao
espaço em que, um determinado grupo é expulso, ou recomendado a não
adentrar naquele limite, indicado como fronteira do outro, isto é, efetivação do
real com ações mediadas pelo terror”.
Em Valença, o processo de apropriação portuguesa pode ser datado na
segunda metade do século XVI, quando Sebastião Pontes construiu próximo à
Ponta do Curral um engenho, uma igreja em homenagem a São Gens e um
curral. Nascia assim o povoado de Una, nome do rio que tem seu curso sobre o
sitio valenciano.
Em 1574 os povos Aimorés chegaram neste espaço destruindo todo o
povoado. A apropriação territorial durou até 1603, apesar das inúmeras e
sangrentas tentativas portuguesas para retomar o território. Na região também
foi travada guerras pelos holandeses que. a partir de 1624, através do canal de
Tinharé invadiu e ocupou Salvador. Esse fato demonstra a importância
estratégica do território, para a ocupação do litoral da então colônia
portuguesa.
No processo de produção territorial, a sujeição indígena foi imposta a partir
do exercício do poder dos colonizadores, entretanto, a resistência do índio, ao
domínio português foi característica marcante.
Castro (2011) argumenta que o exercício do poder se manifesta de formas
variadas. Com base nas fundamentações de Hannah Arendt, Max Weber e
Michel Foucault, a autora sintetiza essas variações, apresentando três formas
elementares de poder, a saber: o poder despótico, o poder fundamentado na
autoridade e, por fim, o poder político.
O poder despótico se manifesta através do medo, da coerção pela força, a
ameaça de destruição do outro, ou seja, a violência. Arendt (1985) acrescenta
que onde o poder é edificado através da violência, da força, a sua manutenção
passa a ser paulatinamente questionada, a esse respeito Castro (2011, p.102)
acrescenta:
Este é um poder que, paradoxalmente, tem pouco poder porque não se fundamenta na vontade do outro e por isso encontra-se sujeito à possibilidade de uma escolha trágica, que o anula. É um poder que visa ao bem privado de quem o exerce. Está voltado sobre si mesmo e sobre a força da força.
40
O poder despótico fundamenta-se na submissão da vontade do outro. Para
tanto, qualquer estratégia de resistência é sumariamente aniquilada. Essa
manifestação de poder se fez presente durante o processo de ocupação
portuguesa, que iniciou o processo de formação territorial. Os colonizadores
promoveram o massacre, em meio às guerras contra os índios, assassinando,
e os sobreviventes, eram capturados como escravos.
Outra forma de poder é a que está fundamentada na autoridade, diferente
do poder despótico e que se materializa via submissão, é a concessão que
legitima o poder. Desta forma, a autoridade se dá através da aceitação e
reconhecimento daqueles que a ela se submetem e
Repousa no consentimento, na adesão das vontades pelo reconhecimento de uma superioridade de ordem moral, intelectual, de competência, de coragem, da experiência, ou seja, de valores ou de funções que aquele que tem autoridade representa. A desobediência supõe também sanções, mais socialmente definidas e aceitas. (CASTRO, 2011, p.102).
Para exemplificar esse tipo de poder, recorre-se ao processo de
aculturação utilizado pelos jesuítas ao exercitar a autoridade em relação aos
índios. Nesse turno, os jesuítas contribuíram de forma efetiva com os
colonizadores portugueses, ao subjugar a população autóctone, em nome da
Igreja: o exercício do poder foi diferenciado, mas o resultado foi, a produção do
território para o “outro”.
Em Valença o catolicismo também atuou como agente produtor do
território, quando a Igreja Católica inicia o processo de aculturação através da
expansão do cristianismo. Neste período começaram as obras para a
construção da Igreja Nossa Senhora do Amparo, que marcou o início de um
novo ciclo de usurpação do território, após inúmeras guerras indígenas. A
respeito do papel dos jesuítas no processo de construção do território, Freitas
(2013, p.141) acrescenta:
Nos aldeamentos têm-se territórios criados sob o comando dos jesuítas, evangelização como forma de controle ao tempo em que conheciam a língua do estrangeiro, mediante a articulação
entre o Estado e a Igreja para efetivar a usurpação da terra.
41
A última forma de exercer o poder, apresentada por Castro (2011),
corresponde ao poder político, no qual, abre-se espaço para a construção do
espaço público onde se processa o debate, as deliberações que instituem o
consentimento coletivo. Esse formato de poder se estabelece sem justificação
de uma superioridade.
As três formas de poder se diferenciam, entretanto, qualquer que seja o
seu desenho, ele é sempre espacial, pois o poder é exercido nas relações
sociais territorializadas, e como tal, são os sujeitos sociais que moldam as
relações de poder, logo, o território.
O debate sobre as relações de poder, permite afirmar que o território,
categoria de análise entendida como uma construção social mediada por
relações de poder, está embebido de conflito, é o campo de luta.
A produção do território reproduz relações de poder, pois o turismo
consome o espaço transformando-o em novo território, a partir da adoção de
um novo significado ao espaço exclusivamente, centrado nas práticas
turísticas. Dito isto, torna-se necessário refletir acerca da relação entre o
turismo e o território.
2.2 O turismo: a análise do conceito
O turismo é uma atividade que tem significado poder dinamizador,
porquanto, sua prática está diretamente associada às características naturais e
sociais do espaço, além de ser uma “prática social, que envolve o
deslocamento de pessoas pelo território e que tem no espaço o seu principal
objeto de consumo” (CRUZ, 2003, p.69)
Para Organização Mundial de Turismo (OMT) o turismo é uma modalidade
de deslocamento espacial, que envolve a utilização de algum modo de
transporte e ao menos um pernoite no destino; esse deslocamento pode ser
motivado pelas mais diversas razões, como lazer, negócios, congresso, saúde
e outros motivos. (CRUZ, 2003) Entendido desta forma, qualquer deslocamento
com pernoite transforma um viajante em turista, consequentemente, toda
viagem que o indivíduo pernoitar fora do sua residência é sinônimo de turismo,
sendo assim, esta definição apresenta problemas, um deles é distorção dos
42
dados estatísticos que são superestimados. A autora chama atenção para as
restrições que a adoção do conceito proposto pela OMT impõe. Para este
Organismo Internacional, independente dos motivos, qualquer deslocamento
espacial configura como turismo, logo a realidade certamente será camuflada,
pois a imbricada relação do turismo com o lazer não é o divisor d’água para
delimitar o conceito em questão. Na verdade, não há uma unanimidade quanto
ao conceito de turismo.
Segundo Cruz (2003, p. 05), “o turismo é uma prática social que envolve o
deslocamento de pessoas pelo território”. Trata-se de deslocamento
diretamente ligado a questões culturais, ou seja, os fluxos turísticos
materializam-se quando há um apelo cultural que alimenta o desejo de visitar
um determinado espaço, assim sendo, a autora ratifica a importância do
espaço enquanto matéria prima para o turismo.
Para Rodrigues (1996, p.17-18) o turismo “é certamente um fenômeno
complexo, designado por distintas expressões: uma instituição social, uma
prática social, uma frente pioneira, um processo civilizatório, um sistema de
valores, um estilo de vida, um produtor, consumidor e organizador de espaço”.
A autora sinaliza para a complexidade que envolve o turismo, o que resulta em
uma dificuldade de precisar uma definição sobre o tema e, consequentemente,
sua impossibilidade de classificação quanto aos tradicionais setores da
economia.
Opinião divergente a Boullón (2002, p.34) que classifica o turismo como
atividade pertencente ao setor terciário.
Fica claro, pois, que o turismo é uma forma de consumir, algo assim como um canal para o qual conflui uma demanda especial de muitos tipos de bens e serviços elaborados por outros setores, além do consumo de alguns serviços especialmente desenhado para satisfazer necessidades dos próprios viajantes. Portanto, o turismo pertence ao setor terciário (...).
Apesar de coadunar com Boullón (2002), a reflexão sobre em qual setor
econômico deve ser o turismo incorporado parece pouco profícuo, dado à
complexidade que a própria definição do conceito de turismo impõe.
43
De acordo com a concepção de Knafou (1996) o termo turismo é
polissêmico, é na essência uma prática social, uma atividade humana e, como
tal, uma conceituação do termo está embebida de discurso ideológico, pois
proporciona muitas ideias pré-concebidas. “sua definição é flu; porque ela
utiliza equipamentos cujo monopólio não lhe pertence (transporte,
hospedagem, alimentação, etc.)” (KNAFOU, 1996, p.63). Com isso, o autor
sinaliza para o permanente risco de confusões que a análise turística impõe em
razão da imprecisão resultante da não exclusividade dos dados, afirmando que
o conceito de turismo é fluido, impreciso.
O turismo é um fenômeno que envolve aspectos sociais, econômicos,
culturais etc. Enquanto fenômeno, ele é objeto de estudo de diversas áreas de
conhecimento resultando em uma gama de abordagens e concepções.
Esse debate demonstra que é possível identificar diferentes definições para
o turismo, algumas tendenciosas ao seu caráter social outras com forte viés
econômico, mas em todas elas percebe-se um traço em comum, o seu papel
na (re) criação e consumo de espaços.
Como a Ciência Geográfica tem no espaço o seu objeto de estudo, ela não
poderia se furtar de uma abordagem sobre o tema. As contribuições para a
compreensão deste fenômeno vêm de importantes teóricos, citados
anteriormente como Rodrigues (1996,1997a, 1997b), Knafou (1996), Cruz
(1997, 2003, 2005), dentre outros. Esses teóricos destacam a questão do
espaço apropriado, consumido e transformado. (SANTOS, 2013a).
Ao admitir que a materialização do turismo só seja possível a partir do
espaço consumido e produzido, não significa afirmar que a atividade está presa
aos condicionantes naturais. O desenvolvimento do meio técnico científico
informacional libertou a sociedade contemporânea das amarras da natureza.
Na atualidade, o capital reconstrói as condições necessárias para a sua
acumulação, segundo Knafou (1996 p.22) que sinaliza para este aspecto
quando aponta para a criação de equipamentos turísticos alheios a qualquer
característica física do entorno, o que caracteriza, para o autor, um turismo
sem território, ou seja:
(...) turismo que se contenta com sítios e lugares equipados é o turismo fora do solo, quase que completamente indiferente à
44
região que o acolhe e onde a extensão planejada nada mais é que um espaço-receptáculo. Os Center Parcs desenvolvidos na Europa do Noroeste, a partir da criação de uma bolha tropical nos Países Baixos, ilustram bem esse tipo de equipamento turístico que cria seu próprio clima (...)
Sob essas condições, cria-se uma segregação espacial da atividade
com repercussão social negativa para a população permanente em que essa
nova territorialidade foi produzida.
não são poucos os exemplos, pelo mundo, de porções de espaço relacionadas a um uso turístico, visivelmente apartadas do contexto espacial em que se inserem, tanto por sua arquitetura dominante como pela fragilidade das relações que tecem com seu entorno imediata. (CRUZ, 2007, p. 21)
Este talvez seja um dos reflexos mais perversos do turismo, a segregação
espacial, o que lança a população autóctone de áreas turísticas a
permanecerem à margem de todo sistema produtivo desencadeado pelo setor.
O estudo dessa modalidade de consumo do espaço pelo turismo, ou seja, a
segregação espacial, não é o foco deste trabalho.
Outra característica inerente ao turismo é a sua associação com o lazer, o
tempo livre, o ócio. Não há consenso sobre a definição de lazer, mas alguns
autores como Rodrigues (1997b) associam o lazer a uma prática de consumo
do tempo livre. A autora acrescenta ainda que o lazer não é sinônimo de não
fazer nada. Outros teóricos, como Melo e Alves Júnior (2003), sinalizam para
dimensão cultural do lazer como uma fonte de crescimento pessoal através das
experiências de cada indivíduo como sinaliza Santos (2013) que considera o
lazer como prática vivida, prazer e diversão que podem viabilizar a satisfação
pessoal. A autora aponta o turismo como uma das mais importantes práticas
sociais geradoras de lazer.
Diante o exposto é possível afirmar que o conceito de turismo está atrelado
a duas premissas basilares: primeiro a presença de deslocamento espacial e,
em segundo, seu vínculo a práticas de lazer, sendo que se acrescenta neste
quadro a necessidade de pernoite. Contudo, o deslocamento espacial sem
estar diretamente associado ao lazer, também pode ser considerado turismo,
como por exemplo, o turismo de negócio, turismo de saúde, turismo religioso.
45
Sobre essa abordagem Ruschmann (1997) relaciona a tipologia do turismo
com as principais atividades envolvidas. (QUADRO 1)
QUADRO 1-TIPO DE TURISMO E ATIVIDADES RELACIONADAS
Tipos de Turismo Atividades principais
Turismo de Férias Recreio, observação da natureza, passeios, etc.
Turismo de Esporte Participação em competições práticas esportivas variadas.
Turismo de Negócios Realização de negócios, feiras, congressos, etc.
Turismo de Saúde Descanso, tratamento médico, cura, etc.
Fonte: Ruschmann, 1997
Admite-se que o turismo é uma prática social de deslocamento, através do
espaço geográfico, envolvendo ao menos um pernoite em um espaço que não
seja da própria residência do indivíduo. Assim sendo, o turismo é possuidor de
uma materialidade física construída por meio de uma complexa teia de
relações que extrapola a escala local. Boullón (2002) analisa essa teia de
relações a partir da noção de sistema. Para ele, o sistema turístico pode ser
estudado através de modelos de análise como: o modelo oferta-demanda, o
modelo antropológico social, dentre outros. No seu estudo sobre planejamento
do espaço turístico, o autor faz uma descrição minuciosa sobre o sistema
turístico usando como referência o modelo oferta-demanda. Segundo esse
modelo, o sistema é composto pelos seguintes elementos: demanda e oferta
turística, atrativos turísticos, empreendimento turístico, infraestrutura e
superestrutura. A relação entre demanda e oferta está diretamente relacionada
aos demais elementos que compõem o sistema turístico.
Nesta pesquisa fez-se uma avaliação do patrimônio turístico de Valença-
Bahia, numa tentativa de compreensão do atual estágio de desenvolvimento da
atividade. O ponto de partida para o estudo foi à análise dos atrativos turísticos.
Partindo do pressuposto que qualquer deslocamento espacial tem origem
na atração exercida por elementos que ali estão presentes, admite-se então, a
impossibilidade de ocorrência do turismo sem que existam atrativos turísticos,
sejam eles naturais ou culturais. Os atrativos turísticos estão dispersos na
superfície terrestre, configurando uma singularidade ao espaço, nessas
condições trata-se do espaço turístico. “O espaço turístico é consequência da
presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos
esquecer, são a matéria-prima do turismo” (BOULLÓN, 2002, p. 79).
46
Os atrativos turísticos têm uma localização específica na superfície
terrestre, e caracterizam-se pela descontinuidade, mesmo quando há certa
proximidade entre os atrativos, eles não se tocam, o que significa afirmar que o
espaço turístico é entrecortado, logo é um equívoco o uso de técnicas de
regionalização e por prolongamento do conceito de região turística.
(BOULLÓN, 2002). Entretanto, enquanto ação do Estado, a política pública e o
planejamento turístico se processam sobre os recortes regionais, como por
exemplo, a regionalização da Bahia proposta pelo Programa de
Desenvolvimento do Turismo do Nordeste (PRODETUR) elaborada com base
em critérios turísticos criando assim, regiões turísticas. Nesse contexto, o
município de Valença está inserido no Pólo Litoral Sul, cujos, principais
atrativos estão associados ao turismo de sol e praia. Esse debate sobre a
região e o turismo será retomado adiante, quando se estudará a região como
unidade de planejamento, bem como as propostas de regionalização do
território baiano.
Com base na análise dos atrativos turísticos e na delimitação de sua área
de influência, Boullón (2002) propõe uma teoria que classifica os espaços
turísticos de forma hierárquica, identificando dez categorias: zona, área,
complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor, corredor de translado e
corredor de estada. Essa classificação baseia-se na presença de atrativos
turísticos e na delimitação de sua área de influência.
Para este trabalho a categoria mais importante corresponde ao centro
turístico4 em razão desta ser a função do município de Valença. Um centro
turístico deve dispor dos serviços de hospedagem, alimentação,
entretenimento, agência de viagem de ação local, informações turísticas,
comércio turístico, postos de comunicação como telégrafo, correio, além de um
sistema de transporte interno organizado e com conexões com sistema de
transporte externo. Qualquer dificuldade quanto ao comportamento destes
elementos pode comprometer a cadeia produtiva e a viabilidade financeira do
centro turístico.
De acordo com a função desempenhada pelo centro turístico é possível
classificar quatro tipologias: centros de distribuição, centro de estada, centro de
4 Para Boullón (2002) o centro turístico é um conglomerado urbano que dispõe em seu território de atrativos turísticos que motivam uma viagem turística.
47
escala e centro de excursão. Tais funções não são excludentes, um centro
pode acumular mais de uma função, sendo mais frequente o acúmulo de duas
funções. O Quadro 2 descreve as características de cada componente do
espaço turístico proposto por Boullón (2002).
QUADROS 2 - COMPONENTES DO ESPAÇO TURÍSTICO
COMPONENTES DO ESPAÇO TURÍSTICO
CARACTERIZAÇÃO
Zona
Maior unidade de análise composta por, no mínimo, dez atrativos turísticos.
Área
Unidade de análise composta por até dez atrativos turísticos. Deve conter no mínimo um Centro turístico.
Complexo
Unidade de análise pouco frequente, pois dependem da existência de um ou mais atrativo da mais alta hierarquia.
Centro
Conglomerado urbano que dis-põe de atrativos turísticos que motivam uma viagem.
Centro de Distribuição
Centro de Estada
Centro de Escala
Centro de Excursão
Unidade
Assentamentos turísticos onde vários atrativos situam-se muito próximos, ou o que é mais exato um dentro do outro.
Núcleo
Todo agrupamento com menos de dez atrativos que estão isolados territorialmente
Conjunto
Unidade espacial resultante da evolução de um núcleo.
Corredor
Vias de cone-xão entre outras categorias.
Corredor de Translado
Corredor de Estada
Fonte: Elaboração da autora com base na teoria do Espaço Turístico de Boullón (2002).
Caracteriza-se como centro de distribuição aquele que atua como base
para o pernoite do turista, sob estas condições os equipamentos de
hospedagem está concentrado no conglomerado urbano e não no atrativo. Já
um centro de estada também se caracteriza pelo deslocamento contínuo para o
48
atrativo, todavia o tempo de permanência do turista é maior que em um centro
de distribuição, no qual a permanêcia do visitante excepcionalmente, não
passa de três dias.
O tempo de permanência do turista também é o critério para classificar um
centro de excursão, cuja duração da visita não ultrapassa vinte e quatro horas.
Por fim, a última tipologia de centro turístico corresponde ao centro de escala,
cuja ocorrência está atrelada a existência de conexões de sistema de
transporte, razão pela qual a estada limita-se a uma noite.
Conhecer a função exercida pelo município é fundamental para qualificá-lo
quanto a sua importância como centro turístico, o que possibilita elaborar
metas de crescimento sem correr o risco de elucubrações, tornando o
planejamento turístico exequível.
Feita as devidas considerações acerca do conceito de território e turismo
faz-se necessário, tecer algumas reflexões sobre a relação entre ambos. Parte-
se da premissa que o turismo corresponde à atividade econômica que
consome o espaço, transformando-o em mercadoria ao imprimir um valor de
troca em detrimento do valor de uso.
2.3 Território e turismo
Sendo o espaço, base material para o turismo, é correto afirmar que o
turismo se apropria do espaço. (CRUZ, 2000) O espaço enquanto categoria de
análise geográfica é entendida como um conjunto indissociável de sistema de
objetos e sistema de ações. “Os objetos são tudo o que existe na superfície da
Terra, toda a herança da história natural e todo o resultado da ação humana
que se objetivou” (SANTOS,1996 p.72); enquanto a ação “ é um processo, mas
um processo dotado de propósito” (SANTOS,1996, p.78).
Sistema de objeto e sistema de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre os objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.
49
Na visão do autor o espaço é constituído por estes dois elementos, objetos
e ações, na verdade, por sistema de ações e sistema de objetos que interagem
criando uma dinâmica logo, o espaço é produto social que se transforma
permanentemente em formação socioespacial.
Ao consumir o espaço, o turismo impõe a adoção de objetos que favoreçam
o desenvolvimento da atividade, como meios de hospedagem ou equipamentos
relacionados à alimentação. (CRUZ, 2007, p.11)
O uso turístico do espaço leva à formação do que temos habitualmente chamado de “território turístico”, quer dizer porções do espaço geográfico em que a participação do turismo na produção do espaço foi e ainda é determinante. O uso das aspas se faz necessário porque, teoricamente, não há território que seja adjetivalmente turístico. O que existe, de fato são usos turísticos do Território.
Segundo a autora, em razão da complexidade de atividades econômicas
que compõem o turismo, é simplista demais classificar um território como
território turístico, pois literalmente não existe exclusividade na sua prática, ou
seja, outros ramos econômicos contribuem para o seu desenvolvimento, como
alimentação, transporte, etc. Todavia, o uso do termo não se invalida na
medida em que a atividade turística torna-se predominante.
Ainda assim, usar o termo território turístico pode remeter a equívocos ou
esvaziamentos conceituais, pois não há exclusividade do turismo sobre o
território. O que existe é o uso deste pelas práticas turísticas, logo, é possível
admitir uma dimensão territorial da atividade, marcada por três situações
distintas entre a relação do território com o turismo. Podem existir territórios
sem turismo, o inverso também pode ser observado e, por fim, podem existir
territórios produzidos, inventados pelos turistas. Na primeira situação é possível
encontrar numerosos territórios desprovidos de atratividade para o visitante,
essa era uma característica marcante em toda superfície antes do século XVIII.
Já o turismo sem território é aquele em que atividade surgiu e desenvolveu-se
a partir da iniciativa de operadores turísticos em detrimento da iniciativa do
turista: o Center Parcs europeu ilustra essa situação. Quando o turismo é
inventado pelo turista e em seguida repensado pelos promotores turísticos e
por planejadores tem-se, nessas condições, o território turístico. (KNAFOU,
50
1996). Percebe-se que tanto Cruz (2007) como Knafou (1996) apontam para a
existência de territórios turísticos, porém, ratifica-se a não exclusividade da
atividade.
Na medida em que o turismo consome o espaço transformando-o em
território turístico processa-se a desterritorialização, cuja especialização
produtiva materializa configurando um novo significado. Uma nova realidade
socioambiental se estabelece, transformando as relações de trabalho e a
estrutura produtiva local. Sobre a questão, Rodrigues (1999) afirma que o
turismo transforma o espaço em mercadoria, e o seu consumo, caracteriza-se
pelo uso efêmero do território, num processo continuo de desterritorialização e
reterritorialização. “Efêmero para as pessoas e contínuo na materialidade do
território” (RODRIGUES, 1999, p. 56). Nessa perspectiva, Nicolas (1996, p. 51)
acrescenta ainda que:
Por outra parte, las formas espaciales resultantes, la estructuración del espacio, no obedecerán a las mismas lógicas que las de la producción-reproducción: la temporalidade de los processos turísticos por ejemplo, es essencial em cuanto impone uma ocupación-desocupación-rotación social sobre el espacio, que no es usual en el mundo de la producción.
Nesse processo, a população autóctone também experimenta as
transformações engendradas pelo turismo, poque as relações de trabalho, as
relações sociais modificam-se, em que as atividades tradicionais são
substituídas por práticas comerciais que atendem às necessidades do turista,
sem que isso signifique, necessariamente, a melhoria na qualidade de vida da
população. Essas práticas comerciais acabam atraindo os trabalhadores que,
devido à remuneração salarial abandonam suas profissões em favor da venda
de sua força de trabalho, de uma expressiva submissão ao capital.
O território turístico impõe uma nova dinâmica socioespacial, na medida em
que o turismo cria, transforma, e valoriza diferencialmente o espaço. Nesse
sentido, as atividades econômicas passam a ser direcionadas em função de
interesses do mercado, iniciando assim o processo de turistificação cujo
significado reside na relevância das práticas turísticas na (re) funcionalização
de um território.
51
Segundo Knafou (1996) a turistificação e a produção da atividade turística
originam-se através da ação de três agentes: o turista, o mercado e os
planejadores. O poder de atuação, destes agentes sobre o espaço, é
diferenciado, pois, a partir de suas ações, inicia-se ou acentua-se a
especialização produtiva no território centralizado no turismo, impondo um novo
significado ao uso do espaço.
Apesar de estar na gênese do turismo, o turista representa pouca
expressividade na produção de territórios turísticos, se comparado ao poder
exercido pelo mercado e pelos planejadores públicos, ou seja, embora o turista
assuma papel indispensável na produção do território turístico, ele não é
hegemônico. A esse respeito, cabe afirmar que, “são os turistas que estão na
origem do turismo (...). Mas, hoje em dia, as pesquisas não se interessam
suficientemente pelos novos lugares que, espontaneamente, os turistas
investem sem a ligação com o mercado.” (KNAFOU, 1996, p. 70).
O mercado exerce significativo poder na produção de territórios turísticos,
em razão de sua capacidade de imputar, através da inserção da ciência e da
técnica, o dinamismo econômico. O contrário também pode acontecer, quando
o valor de uso de determinados espaços, não mais atende aos interesses do
capital resultando assim, na extinção de territórios turísticos.
Além do mercado e do turista, também atuam na produção dos territórios
turísticos os planejadores e promotores territoriais, cuja função é planejar e
estimular o desenvolvimento da atividade. Nesta perspectiva, merece destaque
o Estado e grupos comunitários.
A atuação do Estado se processa via políticas públicas e planejamento de
fomento ao turismo, através da construção ou qualificação da infraestrutura
necessária para atender às necessidades do turista. Uma ação equivocada em
relação ao poder público pode comprometer o desenvolvimento turístico.
A existência do território turístico está atrelada à ação dos agentes
produtores do espaço, são eles que, através do consumo do espaço, forjam
uma territorialidade com novas bases, constituindo assim uma nova estrutura
territorial.
Um dos efeitos da especialização produtiva refere-se à diminuição dos
espaços públicos, em razão da transformação do espaço em mercadoria, cujo
52
consumo não está acessível à população autóctone. Na verdade, os territórios
turísticos mantem pouca, ou nenhuma relação com sua interlândia, trata-se de
territórios desconectados, constituindo paisagens que representam a
organização espacial de realidades distintas do local instalado (SANTOS,
2013).
Em Valença, a especialização produtiva centrada nas práticas turísticas,
ainda não se materializou de forma expressiva, assim sendo, a ação dos
agentes produtores do território turístico não repercutiu de tal forma, a imprimir
um novo valor de uso ao espaço, edificando-o sobre base exclusivamente
turística.
Enquanto atividade econômica, o turismo em Valença surgiu
espontaneamente, a partir da presença de visitantes que chegavam ao
município atraído por suas belezas naturais. A partir de então, passam a atuar
sobre o espaço turístico valenciano, o poder público e o mercado, este último,
através da ação de proprietário de terras, incorporadores imobiliários,
empresários dos meios de hospedagem, alimentação, etc.
Sobre esse espaço incide a atuação do Estado, através de políticas
públicas e planejamento de incentivo ao turismo. A ação deste é responsável
pela reestruturação do espaço por meio de financiamento da infraestrutura
básica e da malha rodoviária que favorece a acessibilidade do visitante entre o
núcleo emissor e o seu destino, o espaço turístico valenciano.
Considerando a importância do Estado nesse processo, é importante
discutir as práticas de planejamento no Brasil, em suas diferentes escalas
administrativas e analisar como tais práticas repercutiram no desenvolvimento
do turismo na área estudada.
53
3 PLANEJAMENTO REGIONAL E TERRITORIAL NO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O TURISMO
Neste capítulo fez-se uma reflexão sobre política de planejamento e seus
reflexos na estrutura socioeconômica do território brasileiro com foco na
atividade turística. O propósito deste debate é elucidar a trajetória sobre a
política de planejamento implementada no território nacional e os reflexos
sócios econômicos
A palavra planejamento deriva do verbo planejar que, segundo a língua
portuguesa, significa determinação de objetivos e metas de um
empreendimento futuro. Na verdade planejamento sempre esteve associado à
elaboração de planos e a controle.
Segundo Magalhães (1962, p. 7) o planejamento:
(...) é, pois uma forma de orientação da economia que (nos países capitalistas) suplementa e corrige as indicações de mercado. O plano propriamente dito consiste num documento que sumaria os objetivos a serem atingidos e o modo a alcançá-los.
O planejamento corresponde a estratégias de controle econômico, cujo
significado corresponde a uma orientação econômica com vias para o
desenvolvimento. Nessa perspectiva, a experiência soviética foi pioneira na
adoção do planejamento governamental como instrumento de organização
econômica através dos planos implantados após revolução de 1917, por
exemplo, os Planos Quinquenais, implantados a partir de 1928. Enquanto
prática de planejamento, tais planos estabeleciam metas para cada setor
econômico, especialmente o setor industrial.
Não importa a dimensão do planejamento, desde que haja diálogo entre as
esferas de poder. Contudo, quando o diálogo entre as diferentes escalas do
poder público não se concretiza, toda e qualquer prática de planejamento
nasce com estreita possibilidade de êxito.
No Brasil, foi a partir da década de 1930 que emergiu a vertente de
planejamento governamental com viés regional onde o Estado passa a assumir
uma postura compensatória de desenvolvimento através de uma política sob o
54
prisma das desigualdades regionais (OLIVEIRA, 1981, p.25). Reverter esse
quadro passa a compor a agenda governamental daquele período, porém, é
oportuno sinalizar que no centro da temática está a relação econômica entre o
Norte e Sul do Brasil, cujo desenvolvimento do modo de produção capitalista
definiu o papel que cada uma das partes desta relação desempenhou.
O Nordeste se configura já como uma região não estagnada, mas com um ritmo de crescimento lento e limitado, por razões já expostas, e como um grande fornecedor de mão de obra especialmente para São Paulo, o grande núcleo do pólo dinâmico da economia. Mão de obra que, sendo de baixo custo e de baixa especialização, colocará no mercado de trabalho do Centro-Sul um excedente, que pressionará os níveis de salários, favorecendo assim o processo de acumulação do capital. (COHN, 1976, p.49).
Essa temática é abordada por Cohn (1976) ao propor uma reflexão sobre a
prática de planejamento do Estado brasileiro alicerçada em meio à crise
regional produzida como reflexo do crescimento econômico desigual. Segundo
a autora a desigualdade econômica entre as diferentes porções do território
nacional é reflexo das políticas econômicas adotadas pelo Estado tendo em
vista a consolidação do modo de produção capitalista.
O processo de desenvolvimento segue a linha de um desenvolvimento
desigual e combinado, baseado na associação de elementos modernos com a
permanência de características tradicionais. No caso brasileiro, o processo de
expansão do modo de produção capitalista resultou na simultaneidade de uma
sociedade urbano-industrial no Centro-Sul do país, com traços modernizantes,
acompanhada pela herança tradicional da elite agrário-exportadora no
Nordeste brasileiro. A ação do poder público brasileiro, até a década de 1950
contribui para permanêcia desse contexto, pois cada uma dessas partes
assume a sua função no processo de desenvolvimento, que é desigual e
combinado.
Cohn (1976) analisa as políticas de planejamento econômico após 1930,
apontando as justificativas da manutenção dessa realidade.
(...) o Nordeste tem um papel ativo no processo de desenvolvimento nacional, fornecendo mão se obra, divisas para a importação de equipamentos e capitais privados que são investidos no pólo dinâmico da economia, pode-se afirmar
55
que, em prejuízo próprio, a região está dentro das regras do jogo do processo de desenvolvimento. Isso na medida em que esse processo, conforme o seu próprio padrão produz diferenças e descompassos que lhe são intrínsecos e tem caráter equilibrador. (COHN, 1976, p. 50, grifo da autora).
Nesse contexto, inicia o debate sobre as políticas de planejamento no
território brasileiro. Percebe-se que na trajetória de execução de políticas de
planejamento, o Estado nacional passou por restruturação que alterou o perfil
enquanto principal agente produtor do território, nesse sentido é possível
delimitar diferentes comportamentos estatais quanto à sua ação sobre a
economia brasileira no século XX. Nas primeiras décadas deste século, sob
regência da teoria neoclássica, o Estado acreditava na eficiência da livre
concorrência, postura que vai mudar com a crise de 1929.
A partir da década de 1930, o Estado brasileiro assume uma postura de
caráter desenvolvimentista com forte apelo ao keynesianismo. Nessa
perspectiva, o Estado passa a atuar não somente como administrador ou
regulador, pois assume a função de agente direto da produção, implantando o
Estado Desenvolvimentista.
O Estado exerceu um significativo papel como impulsionador da industrialização não só através da sua função de provedor de bens públicos, mas também e, sobretudo: a) na definição, articulação e suporte financeiro de grandes blocos de investimentos que determinaram as principais modificações na estrutura econômica brasileira; b) na construção da infraestrutura, objetivando a integração dos sistemas rodoviários, energético, urbano e de telecomunicações; c) na produção direta de insumos intermediários indispensáveis à industrialização pesada. (BECKER; EGLER, 1996, p. 140).
Contudo, esse processo limitou-se a propor mudanças na estrutura
econômica nacional sem, contudo interferir nas instâncias políticas do país, em
razão da forte influência da elite agroexportadora que resistia a emergência da
burguesia urbana industrial. O resultado foi a consolidação da modernização
conservadora marcada por expressivos saldos econômicos, elevando o PIB
brasileiro para a oitava posição mundial, o parque industrial tornou-se
complexo e diversificado, a tecnificação passou a ser uma característica
agricultura e por fim, uma extensa rede de serviços interligou quase a
totalidade do território nacional (BECKER; EGLER, 1996).
56
Todo esse dinamismo econômico também resultou na expansão urbana
e industrial, após a Segunda Guerra Mundial, marcado pelo ritmo acelerado da
urbanização levando o país a tornar-se predominantemente urbano em poucas
décadas.
A urbanização acelerada é mais um reflexo da modernização
conservadora, trata-se, portanto de um produto das políticas governamentais
que processam efeitos não previstos como carências sociais materializadas em
diferentes movimentos que reivindicam o direito à cidade. Segundo Becker e
Egler (1996), a urbanização brasileira foi sustentada pela maciça mão de obra
barata e pobre expulsa do campo em razão da tecnificação da produção
agrícola no país.
Nesse contexto são lançadas as bases para a constituição de um projeto
de Estado desenvolvimentista de caráter populista:
(...) a consolidação da acumulação industrial e ascensão das massas na arena política promoviam uma reformulação do Estado brasileiro, tanto no sentido da maior intervenção na economia (para promover a acumulação urbano-industrial), quanto no sentido uma maior representação político partidária. Essa peculiaridade dos governos populistas obrigava-os a certos malabarismos, pois, enquanto implementavam a acumulação de capital, com suas consequências concentracionistas e privatistas, faziam promessas de amplas melhorias sociais que acabavam não se concretizando.
(MANTEGA, 1984, p. 31)
O processo de transformações econômicas que ocorreu a partir do final da
Segunda Guerra até o inicio da década de 1960 não foi linear, foi repleto de
nuances, marcado por uma descontinuidade de projetos e um profundo grau de
instabilidade política. Este é o momento que se tem uma ampla organização da
sociedade civil e dos movimentos sociais (movimento de base) em que ocorre
o golpe militar de março de 1964. Nesse contexto se inicia um processo de
reestruturação do Estado que passa a incorporar o caráter da acumulação
industrial centralizador e autoritário, resultando na crise do ideário
desenvolvimentista.
O modelo implantado com os militares, e que se consolidou a partir de
1970, somente apresenta os seus primeiros reflexos com a crise do
nacionalismo desenvolvimentista e do planejamento centralizado. Esse modelo
57
foi alicerçado pelo domínio do vetor científico-tecnológico moderno como a via
mais importante para a constituição de um Estado-nação apto a alcançar o
crescimento econômico e consequentemente a projeção internacional. Com
esse objetivo, os governos militares institucionalizaram no Brasil, um novo
autoritarismo marcado pelo enfoque tecno-burocrático. Para tanto, as forças
armadas identificaram setores estratégicos que deveriam receber mais atenção
do Estado, são eles: aeronáutica, indústria bélica, nuclear e computação.
(BECKER; EGLER, 1996).
No novo autoritarismo, os militares dominaram como instituição e não ao nível individual, e com um enfoque tecno-burocrático na formulação de política. Daí a sua designação de autoritarismo burocrático, situação em que as Forças Armadas tomaram o poder para reestruturar a sociedade e o Estado interviu contra os movimentos populares garantindo o progresso continuado e o desenvolvimento segundo a ideologia da segurança nacional da moderna doutrina militar. (BECKER;
EGLER, 1996, p.127).
Nesse processo, as redefinições da geopolítica clássica, que perde seus
sentidos originais, tem a tendência de possibilitar que as economias flexíveis e
a flexibilização dos lugares ocorram a partir da alta mobilização do capital e a
inserção subordinada dos territórios nacionais periféricos no processo de
globalização financeira e de mercados. (RUCKERT, 2005, p 32)
Contudo sob o viés desenvolvimentista o Estado nacional implementou
formas estruturantes no território que levaram a sua consolidação enquanto
unidade territorial.
3.1 Região como espaço de planejamento
Da mesma forma que se acredita na inexistência de territórios
exclusivamente turísticos a existência de região turística também é uma
inverdade, na realidade a sua existência está atrelada ao plano do discurso.
Prática equivocadas, em razão de esta atividade apresentar uma
descontinuidade espacial, o que significa afirmar que ao delimitar regiões
turísticas admite-se que em toda superfície desta região desenvolve-se o
turismo, o que de fato não ocorre..
58
A presença de atrativos turísticos tem uma localização específica na
superfície terrestre, o conceito de região esvazia-se em favor de um recorte
territorial de tamanho e limites alicerçados em decisões políticas e econômicas,
assim sendo, criam-se região-plano ou região-programa (BOULLÓN, 2002).
Todavia, enquanto unidade de planejamento, o Estado usa esse recorte
territorial para implementar suas ações. Desta forma, categoria de análise
geográfica também torna-se importante para este estudo
A região representa uma unidade territorial onde o planejamento é posto
em prática. Retoma-se o conceito de região, enquanto escala espacial da ação
do Estado. Não é pretensão fazer uma ampla reflexão sobre este conceito,
todavia, é preciso, tecer algumas reflexões.
A princípio parece que a associação dos termos em questão é
metodologicamente impossível de ser executada. Para Haesbaert (2010) feita
as ressalvas filosóficas, tanto o uso do território quanto da região, como
categoria de análise, não são excludentes, é possível associar estes conceitos.
Parte-se do pressuposto que ambos os conceitos mencionados
anteriormente relacionam-se ao de poder. A própria etimologia da palavra
região, regere que do latim significa controle, gerir, dividir para reinar. Durante
o Império Romano a palavra Regione foi utilizada para representar áreas que
estavam subordinadas a um poder central (GOMES, 2010). Nesta perspectiva,
a região é delimitada a partir ação do Estado, que exerce seu poder ao
estabelecer unidades administrativas como forma de controle e dominação.
Essa prática data da Idade Média, quando o controle territorial era a regra
básica para a hegemonia do poder central, onde o controle é premissa sine qua
non para que o Estado não entre em colapso, para tanto, o conhecimento das
peculiaridades do território se faz necessário.
Nesse período não era possível associar a região a uma explicação
conceitual, o termo era usado como uma possibilidade de organização da
sociedade e os conhecimentos sobre a região eram produzidos através do
empirismo (BEZZI, 2004, p. 31). Ratifica-se, desta forma que, na Idade Média,
o uso do conceito de região enquanto unidade administrativa não deve ser
confundida com uma categoria de análise científica.
59
A produção do conhecimento passa a ser feita através da observação, da
experimentação e comparação dos resultados, possibilitando a elaboração de
leis.
Tais transformações também atingiram a ciência geográfica e, por
prolongamento, o conceito de região passa por forte influência das ciências
naturais, resultando nos conceitos de região natural e região geográfica,
ambos, parte integrante da Escola Tradicional.
Sob esse viés são instituídas no território brasileiro diferentes
regionalizações até a década de 19405.
Em um contexto de mudanças econômicas, políticas e sociais ocorre uma
ruptura do paradigma filosófico vigente até então. O positivismo não mais
consegue responder aos questionamentos de uma sociedade que conheceu
profundas mudanças a partir da década de 1950, consequentemente uma nova
base filosófica emerge como referência para a Geografia, trata-se do
Neopositivismo, Positivismo Lógico ou Empirismo Lógico (BEZZI, 2004, p. 117)
Na geografia instala-se uma crise interna que vai refletir na adoção de uma
nova postura metodológica marcada pela valoração de sistemas lógicos em
detrimento do empirismo. São criados modelos que explicam a realidade a
partir do uso de métodos estatísticos, nascia assim, a corrente Nova Geografia,
que traria uma nova concepção na execução do planejamento.
O planejamento passa a adotar o conceito de região polarizada, região
homogênea, região funcional, bem como região de planejamento. Ocorre então
uma aproximação da Geografia com algumas teorias de desenvolvimento
econômico. Tais teorias já eram conhecidas, entretanto pouco utilizada, nesta
ciência. São elas, a teoria das Localidades Centrais (Walter Christaller em
1933) Teoria dos Pólos de Crescimento (François Perroux em 1967) e Teoria
Centro Periferia (Jonh Friedmann em 1969) dentre outras.
Foi na década de 1960 e 1970 que o planejamento regional no Brasil
assumiu papel central na agenda governamental. A atuação da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) é um exemplo
desta fase.
5 A regionalização de 1941 nasce com o objetivo de fornecer um referencial para administração
pública. Foi formulada a partir do conceito de regiões naturais, ou seja, da homogeneidade dos aspectos físicos, sendo complementada em 1945. (BEZZI, 2004, p. 287).
60
Corrêa (1990, p.48) aponta para a ineficiência da região do planejamento
em razão das próprias peculiaridades do modelo de produção vigente, onde a
desigualdade está no âmago do capitalismo e qualquer esforço no sentido de
exterminá-la será em vão. O autor afirma que a região de planejamento é uma
estratégia onde o discurso da recuperação e desenvolvimento é aplicado;
Esse discurso esquece, ou a ele não interessa ver, que no capitalismo as desigualdades regionais constituem mais do que um elemento fundamental de organização social. Em muitos casos, a ação decorrente do planejamento regional proporcionou um relativo progresso e uma maior integração da região ao modo de produção capitalista, quer dizer, a região sob intervenção planejadora passa a ficar sob maior controle do capital e de seus proprietários. (CORRÊA,1990, p.49)
A partir de 1970 a Geografia Crítica lança uma nova abordagem no
pensamento geográfico e, consequentemente um novo perfil para o planejador
que deve estar atento às mudanças engendradas pela economia mundial e
como elas rebatem territorialmente.
A mundialização do capital é um processo heterogêneo no tempo e no
espaço, logo, no conceito de região a complexidade torna-se um adjetivo
permanente. Esse processo que se materializou na universalização do modo
de produção capitalista trouxe como reflexo uma nova forma de acumulação do
capital baseada na centralização de capitais financeiros (CHESNAIS, 1996)
Neste período o modelo de produção vigente promoveu uma contradição, o
mundo tornou-se simultaneamente unificado e dividido. Unificado em torno de
um mesmo modelo econômico baseado na acumulação do capital que produziu
ritmo diferenciado de desenvolvimento, logo, produziu também a desigualdade
entre as diferentes parcelas da superfície terrestre, assim sendo, ratifica-se a
sentença que abriu este parágrafo, uma economia mundial unificada e
fragmentada.
A fragmentação é a materialização da divisão territorial do trabalho que
representa a especialização produtiva e as diferenças sociais, culturais e
políticas. Esse é o cenário que emergiu no pós 1970 tendo como característica
marcante a complexidade dos processos socioeconômicos e seus reflexos no
espaço.
61
A integração internacional dos mercados financeiros resulta sim, da liberalização e desregulamentação que levaram também à abertura dos mercados nacionais e permitiram a sua interligação em tempo real (...) cujo resultado decide a integração ou a exclusão em relação as benesses das finanças do mercado. (CHESNAIS, 1996, p.17)
Para o autor, o processo de integração das economias nacionais é reflexo
da internacionalização do mercado financeiro, mas nesse processo existem
forma e ritmos, que são determinados pela atratividade financeira de cada
parcela da superfície terrestre, consequentemente criam-se espaços
diferenciados. É neste contexto que os agentes do planejamento atuam.
Em razão desta complexidade, delineia-se neste período expressiva
quantidade de abordagens diferenciadas quanto ao conceito de região, porém
na grande maioria dos casos o traço em comum em todas as abordagens
sobre o tema é a ideia da diferenciação de áreas.
Segundo Corrêa (1997, p. 187) é possível classificar os diferentes
conceitos de região formulados após a década de 1970 em três grupos. O
primeiro define região como uma organização espacial a partir dos processos
sociais do capitalismo. Bezzi (1994) afirma que neste grupo situam-se os
teóricos Coraggio, Massey e Smith. No segundo grupo a região é definida
como apropriação simbólica de uma porção do espaço e fazem parte desta
abordagem Piveteau, Tuan e Frémont. E finalmente o último grupo aborda a
região, balizado na ideia de que a dominação e o poder são os elementos
diferenciadores de áreas. Compartilham esta concepção Pred, Gregory e
Raffestin.
Neste trabalho admite-se que o conceito de região, enquanto categoria de
análise, permitiu compreender a realidade do território do turismo no município
de Valença como parte integrante de uma totalidade materializada através da
acumulação capitalista, que ratifica o processo de diferenciação de áreas via
divisão territorial do trabalho como uma tradução do desenvolvimento desigual
e combinado do capitalismo. Para Castro (1996b, p.187) a região, enquanto
categoria de análise, é a materialidade da economia capitalista no território, em
outras palavras, é uma divisão de um determinado espaço em territórios
econômicos.
62
Explicitado a aproximação entre os conceitos de Território e Região quanto
à questão do poder é prudente ponderar que tais conceitos são distintos em
razão de suas bases teóricas, o que requer certa prudência ao explicitá-los
para não correr o risco de elucidar um esvaziamento conceitual. Este equívoco
tem sido praticado na medida em que as práticas de planejamento territorial
tornam-se sinônimo de desenvolvimento regional.
3.2 Planejamento e desigualdade socioespacial
Neil Smith (1988) e David Harvey (2005) têm direcionado reflexões sobre a
produção de espaços desiguais, elaborando uma discussão no âmbito da
geografia que trata do desenvolvimento geográfico desigual. É um debate sob
o ponto de vista teórico e metodológico que visa buscar explicar a
espacialidade do desenvolvimento desigual no capitalismo. (THEIS, 2009, p.
245)
Sob a égide do capitalismo, consequentemente, há a tendência
contraditória da diferenciação e igualização, materializando-se espacialmente o
desenvolvimento desigual. Este não é uma característica exclusiva da
sociedade capitalista, todavia, é nesta, que as condições tornaram-se mais
efetivas para a sua manutenção. Foi a partir dos desígnos desse sistema que a
diferenciação na produção do espaço encontrou a sua primazia.
O processo de diferenciação, portanto, está atrelado à divisão do trabalho
que por muito tempo esteve associada às características naturais. Todavia o
desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo relativiza cada vez mais
esta lógica. Para Smith (1988, p158) “a divisão territorial do trabalho libertou-se
cada vez mais de suas raízes na natureza, e na medida em que ela sobrevive é
apenas mantida por uma nova base material (...) o capital”.
Nessa perspectiva os interesses da sociedade estão subordinados à
(re)produção do capital; o que importa é a produção de riqueza e não mais as
necessidades humanas.
Mészaros (2002, p. 611) afirma que:
63
Sob o comando do capital, o sujeito que trabalha não mais pode considerar as condições de sua produção e reprodução como sua própria propriedade. Elas não mais são, os pressupostos auto evidente e socialmente salvaguardados do seu ser, nem os pressupostos naturais do seu eu como constitutivos da extensão externa de seu corpo. Ao contrário, elas agora pertencem a um ser estranho reificado que confronta os produtores com suas próprias demandas e os subjuga aos imperativos materiais de sua própria constituição. Assim, a relação original entre o sujeito e o objeto da atividade produtiva é completamente subvertida, reduzindo o ser humano ao status desumanizado de uma mera condição material de produção.
É sob os desígnos do capital que se materializa, sobre o espaço, o
desenvolvimento desigual, e é sobre esta realidade que o Estado intervém com
intuito de atender aos interesses da sociedade. A desigualdade, portanto, é
reflexo da expansão do capital sobre o espaço/território nacional, ou seja, a
consolidação do modo de produção pautado na acumulação e reprodução do
capital materializando a desigualdade socioespacial.
Segundo Haesbaert (2006, p. 12):
Outras propriedades fundamentais do espaço geográfico, como aquelas ligadas à diferenciação ou contraste e a inclusão e exclusão ou o que está dentro e o que está fora (o inside e o outside), ao invés de desaparecerem, de ser efetivamente alteradas ou consideravelmente enfraquecidas, foram intensificadas, com o aumento brutal das desigualdades e da segregação sócio espacial.
A forma como se deu a expansão do capitalismo sobre o espaço brasileiro
produziu as desigualdades regionais. Nessa perspectiva, os processos
econômicos aliados às especificidades do território criaram tessituras que
repercutiram territorialmente. Merecem destaque as transformações
socioeconômicas engendradas a partir da década de 1930, quando o Centro-
Sul do país inicia um processo de centralização e concentração do capital.
Na visão de Oliveira (1981, p. 75), a economia paulista subjuga as
economias regionais via processo dialético destruindo-as para concentrar e
captar os excedentes econômicos. Em outras palavras, neste período, a
expansão capitalista sobre o território nacional permitiu a integração do
mercado nacional a partir da concentração do capital, no Centro-Sul, em
64
detrimento do Norte-Nordeste. Contudo, tal processo não significou a
estagnação econômica das porções territoriais expropriadas, mas sim uma
desigualdade regional no ritmo do crescimento econômico, ou seja, consolida-
se a desigualdade socioespacial:
Os lugares se especializam, em função de suas virtualidades naturais, de sua realidade técnica, de suas vantagens de ordem social. Isso responde à exigência de uma maior segurança de rentabilidade para capitais obrigados a uma competitividade sempre crescente. Isso conduz a uma marcante heterogeneidade entre as unidades territoriais.
(SANTOS, 1996, p. 198)
O desenvolvimento desigual das forças produtivas, nas sociedades
capitalistas, ocorre em paralelo ao processo de diferenciação da divisão
territorial do trabalho. Nessas sociedades a divisão do trabalho é a base
histórica das diferenciações econômicas espaciais:
A cada momento, cada lugar recebe determinados vetores e deixa de acolher muitos outros. É assim que se forma e se mantém a sua individualidade. O movimento do espaço é resultante deste movimento dos lugares. Visto pela ótica do espaço como um todo, esse movimento dos lugares é discreto, heterogêneo e conjunto, desigual (...). Pois os lugares assim constituídos passam a condicionar a própria divisão do trabalho, sendo-lhe ao mesmo tempo, um resultado e uma condição, senão um fator. (SANTOS 1996, p. 107).
A ação do Estado mediante planejamento contribui para a manutenção
deste cenário, em razão da distribuição geográfica dos recursos financeiros
também ser desigual; percebe-se que há uma inclinação do poder público em
investir nos territórios que já concentram o capital, reforçando ainda mais as
desigualdades socioespaciais. O turismo em Valença apresenta resultados
numéricos inexpressivos na competitividade regional/territorial, e sendo assim,
a desigualdade é mantida porque não dispõe de condições objetivas para a sua
reprodução enquanto espaço turístico no mesmo nível que outros municípios
baianos em que esta atividade já está consolidada.
O turismo, nesta perspectiva, desenvolve-se de forma articulada com o
todo socioterritorial, porém em razão das especialidades socioespaciais, ou
65
seja, da divisão territorial do trabalho, imprime-se a desigualdade, pois o capital
contribui para a permanência de ritmos diferenciados de crescimento.
O processo tem sido exaustivamente debatido, em diversas áreas do
conhecimento e especialmente na ciência geográfica. Santos (2001) elabora
uma importante análise das desigualdades regionais, tendo como referência a
expansão do meio técnico-científico e informacional. Entender a desigualdade
socioespacial edificada pela difusão da técnica implica em explicar a densidade
do território quanto a presença de técnicas variadas, objetos, homens,
informação etc. O seu contrário, a ausência destes elementos, resulta na
rarefação, pois, segundo o autor, quanto mais instrumentalizado pela técnica
mais complexa a sociedade.
3.3 Política pública e turismo
No século XX ocorre um crescimento expressivo da atividade turística,
consequentemente, a sua importância na agenda governamental também
cresce. Visto como uma possibilidade de desenvolvimento econômico, políticas
públicas são elaboradas para maximizar o seu desempenho. Dito isto, o
planejamento turístico é condição sine qua non para que o desempenho da
atividade seja satisfatório.
Segundo Ruschmann (1997, p.84) no “turismo cabe ao Estado zelar pelo
planejamento e pela legislação necessários ao desenvolvimento da
infraestrutura básica que proporcionará o bem-estar da população residente e
dos turistas” O planejamento e políticas públicas para o turismo tornam-se
imprescindíveis na medida em que previnem os efeitos indesejáveis que o
crescimento da atividade pode causar. Quando não há uma orientação
racional para o desenvolvimento da atividade turística os riscos de impactos
não desejados às áreas receptoras tornam-se maiores. Esses impactos podem
ser de caráter ambiental ou socioeconômico, de qualquer forma a própria
continuidade da realização da atividade fica comprometida, o autor indica que:
Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos que o turista estimula e o seu desenvolvimento planejado, que preserve o meio ambiente, não é tarefa fácil, principalmente
66
porque o controle da atividade depende de critérios, valores subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada (...). (RUSCHMANN, 1997, p.11)
Nessa perspectiva, o Estado assume o papel de elaborar e executar
uma política que permita o desenvolvimento da atividade de forma adequada,
sendo assim, ele é mediador na produção do território turístico.
No Brasil, os teóricos que discutem política pública centralizam as reflexões
nas questões jurídicas ou orçamentárias. Os estudos que abordam aspectos
conceituais sobre a temática ainda são incipientes. Faz-se necessário definir a
abordagem sobre o tema, ou seja, a definição conceitual que norteou esse
trabalho
Na visão de Boneti (2007) política pública compreende uma forma de
intervenção do Estado em uma determinada realidade social.
A explicação sobre este processo está alicerçada em duas vertentes:
avaliação de políticas ou análise de políticas públicas. A primeira corresponde
ao estudo das práticas governamentais, focalizando as políticas públicas, a
segunda direciona esforços para o entendimento dos resultados produzidos por
tais políticas.
A avaliação das políticas públicas, ou seja, estudar a gênese, elaboração e
execução da ação do Estado não é algo que possa ser feito com restrições de
tempo, este é um estudo que requer mais tempo para aprofundar as reflexões.
Em cada uma destas etapas, gênese, elaboração e execução, o jogo de forças
se faz presente, os conflitos de interesse entre os diversos agentes envolvidos
no processo é uma característica marcante. A ação do Estado realiza-se via
relação de força originária dentro da própria sociedade como reflexo da disputa
de interesse de ideologias diversas. (BONETI, 2007) Nesse embate de forças
os agentes hegemônicos têm um maior poder de barganha.
Cavalcanti (2012) faz um levantamento de definições de política pública
para então apresentar o seu entendimento sobre o tema, sinalizando, contudo
que o tema não se esgota com esse feito e que há uma gama de definições
sobre a questão em foco.
Para Cavalcanti (2012, p. 41.):
67
(...) política pública é um curso de inação ou ação, escolhido
por autoridades públicas para focalizar um problema que é
expresso no corpo das leis, regulamentos, decisões e ações de
governo. A política pública está relacionada com as intenções
que determinam as ações de um governo; com o que o
governo escolhe fazer ou não fazer; com as decisões que têm
como objetivo implementar programas para alcançar metas em
uma determinada sociedade.
Esta definição de política pública não esgota o leque sobre o tema. Em
todos os debates observa-se que é comum a presença do Estado enquanto
agente primordial, mas não exclusivo, na formulação e execução de políticas
públicas, como tal, o Estado assume a prerrogativa de maior poder
dinamizador do espaço.
A ação do Estado é uma resposta aos problemas da sociedade. No
capitalismo a função do Estado é mediar às contradições entre os interesses
individuais e os coletivos. Para Engels (1991)
O Estado é um produto da sociedade num estágio específico do seu desenvolvimento; é o reconhecimento de que essa sociedade se envolveu numa autocontradição insolúvel, e está rachada em antagonismos irreconciliáveis, incapazes de ser exorcizados. No entanto, para que esses antagonismos não destruam as classes com interesses econômicos conflitantes e a sociedade, um poder aparentemente situado acima da sociedade, tornou-se necessário para moderar o conflito e mantê-lo nos limites da ordem; e esse poder nascido da sociedade, mas se colocando acima dela e, progressivamente, alienando-se, é o Estado.
Sob o modo de produção capitalista, a ação do Estado desenvolve-se no
intuito de favorecer a acumulação do capital ao mesmo tempo em que deve
manter as condições sociais que garantam a sua existência.
A acumulação do capital ocorre sob a tutela do Estado na medida em que
este intervém na economia e na sociedade com o intuito de criar todas as
condições para a (re) produção do capital. Este processo é regulado através
de normatização, ou seja, a ação do Estado obedece a um conjunto de normas
68
pré-estabelecidas. Dentre os agentes que atuam sobre o território, Estado é
aquele que tem sua ação mais regulada.
Dentro do setor turístico, o Estado também executa a mesma lógica ao
elaborar políticas públicas de turismo com o intuito de criar ou revitalizar
territórios turísticos.
No processo de constituição de territórios turísticos são recriados conjuntos
de elementos definidos pelo seu potencial para induzir o desenvolvimento da
atividade. Como afirma Santos (2001) as configurações territoriais são o
conjunto dos sistemas naturais, herdados por uma determinada sociedade e
onde os sistemas de engenharia, isto é, objetos técnicos e culturais são
historicamente estabelecidos.
A participação do Estado é fundamental na constituição de territórios
turísticos. É papel do Estado intervir. Como afirma Harvey (2005, p. 57) o
“Estado deve desempenhar um papel importante no provimento de bens
públicos e infraestrutura social e física, pré-requisitos necessários para a
produção e troca capitalista”. A intervenção do Estado será aqui denominada
de política pública. Para Henz (2009) a partir da leitura Beni (2006 p. 37)
política pública de turismo corresponde ao:
(...) conjunto de fatores condicionantes e diretrizes básicas que expressam os caminhos para atingir objetivos globais para o Turismo no país, determinam as prioridades da ação executiva, supletiva ou assistencial do Estado; facilitam o planejamento das empresas do setor quanto aos empreendimentos e às atividades mais suscetíveis de receber apoio estatal.
No Brasil, a elaboração de políticas públicas de turismo esbarra na falta ou
ineficiência do diálogo entre as diferentes escalas de poder governamental,
onde muitas vezes as ações são implementadas isoladamente na esfera
estadual ou municipal. Segundo Cruz (1996, p. 24):
O país não tem tradição na elaboração de políticas para o turismo e daí o planejamento turístico vir acontecendo, segundo planos estaduais e municipais, com pouca ou nenhuma orientação em escala federal. A inexistência de diretrizes em âmbito federal tem levado ao surgimento de políticas de turismo isoladas (...).
69
Na primeira metade do século XX o turismo não fazia parte da agenda de
prioridade do governo brasileiro. Na verdade, a atividade só passa a ser
regulada em 1966 através do Decreto Lei 55 de 18 de novembro de 1966 onde
o turismo é atividade produtiva capaz de favorecer a minimização dos
desníveis socioeconômicos do país. Neste mesmo ano foi criado o Conselho
Nacional do Turismo e da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR). Anos
mais tarde em, 1971, foi criado o Fundo Geral do Turismo (FUNGETUR)
através de Decreto – Lei 1191 de 27 de outubro de 1971. Exceto essas duas
medidas, até a década de 1990 não houve nenhuma ação do Estado que
promovesse alteração de grande envergadura no setor. (CRUZ, 2000).
Esse quadro só vai ser alterado a partir da década de 1990, quando se
inicia um processo sem precedentes na história do turismo no país, onde a
principal meta dos governos desse período era dinamizar a atividade turística
no Brasil, criando portanto, no ambiente normativo, as condições necessárias a
sua expansão. Nesse período há uma nítida tendência do então presidente
Fernando Collor de Mello em valorização do turismo como viés para redução
das desigualdades regionais.
Vários programas públicos foram implementados, o Programa de Ação
para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODENTUR-NE), a
Política Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT).
O ponto ápice deste processo de valorização da atividade ocorre em 2003
com a criação do Ministério de Turismo. Cria-se assim, uma estrutura
institucional para fomentar um modelo de gestão descentralizado com via a
promover o desenvolvimento do setor em todo o território nacional, envolvendo
o poder público nas três esferas de governo e a iniciativa privada (CRUZ,
2000).
3.4 Planejamento Regional e desigualdade socioespacial no
Brasil
O Brasil apresenta-se, no século XXI, singularmente diferente do que era
no século antecessor, principalmente no que tange à produção territorial
caracterizada pela integração nacional, sem que isso signifique o
70
desaparecimento das desigualdades regionais. A trajetória econômica do país
revelou transformações expressivas que indicam não somente mudanças rumo
aos processos de modernização da sociedade e do território, mas também a
existência de estruturas produtivas regionais diferenciadas capazes de atrair
investimentos em ritmo e intensidade também diferenciados, e o resultado
desse processo foi a manutenção da desigualdade socioespacial no Brasil.
Apesar das inúmeras tentativas de reverter este quadro, o Estado
brasileiro não tem logrado êxito Na verdade, o poder público tem aprofundado
a distância econômica entre as diferentes regiões do país. A integração
nacional resultante da industrialização e estimulada pelo Estado tem
contribuído para a permanência deste cenário.
Neste contexto, alguns processos rumo à modernização da sociedade
brasileira tiveram impactos significativos. Algumas das agendas modernizantes
permanecem inacabadas e são alvos de profundas tensões. É possível citar
como exemplo a fragilidade da matriz de transporte fundada no padrão
rodoviário, cujo esgotamento resulta no gargalo do sistema produtivo nacional
comprometendo assim a integração territorial das estruturas produtivas
regionais através da elevação dos custos de transportes. (EGLER, 1996)
Smith (1988, p.151) sugere que “(...) a desigualdade espacial não tem
sentido algum, exceto como parte de um todo que é o desenvolvimento
contraditório do capitalismo”. Para o autor, o modo de produção capitalista
imprime um desenvolvimento espacial desigual a partir da relação entre valor
de uso e valor de troca sobre a natureza e o espaço, respectivamente. Nesse
processo, a produção de valor de uso, através do trabalho, se transforma em
valor de troca, consequentemente, é produzida a diferenciação entre os
lugares, o que significa afirmar que a relação sociedade-natureza é conduzida
pela combinação de valor de uso e valor de troca.
Parafraseando Freitas (2012, p.177), “o desenvolvimento é regional, e o
território é visto de forma fragmentada, uma vez que a Região representa uma
fração do espaço nacional, caracterizada pela diferença nos níveis social,
econômico, cultural, etc.”. Essa diferenciação materializa-se no
estabelecimento de unidades territoriais. Nesta perspectiva, o território precede
a região, e esta, é definida não simplesmente como categoria de análise
71
geográfica constituída pela diferenciação de área, mas sim enquanto espaço
diferenciado pelo estabelecimento de domínio, de poder, aliado ao
desenvolvimento desigual do capitalismo, ou seja, a região é aqui entendida
como divisão de um determinado espaço em territórios econômicos. Segundo
Egler (1996) a região é a escala de operação produtiva do capitalismo, por sua
vez, Haesbaert (2010, p.175) afirma que: a natureza política aborda a região
como uma escala de domínio, sobretudo aquela construída a partir de um
poder central.
Segundo Costa (1991, p.47) o Estado cria na década de 1930 uma série de
medidas que influenciaram diretamente na economia, cuja preocupação era
dotar o país de infraestrutura que viabilizasse o desenvolvimento. Em 1934 o
Plano Geral de Viação fomentava o processo de integração de mercados
regionais, processo que foi reforçado com a criação do Plano Nacional de
Viação em 1951.
Em 1942 foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A partir deste órgão foram feitos estudos sobre o território nacional, viabilizando
assim a tomada de decisão por parte do Estado. (CARGININ, 2007, p.8)
Esses órgãos foram responsáveis por iniciar a prática de executar planos
de desenvolvimento, ou nas palavras de Costa (1991, p.47) “a era do
planejamento econômico é inaugurada”.
Neste contexto, a Constituição de 1946 através do seu artigo 198,
institucionaliza mecanismos para disponibilizar recursos financeiros para
combate aos entraves das regiões Nordeste e da Amazônia. “As duas regiões
eram tratadas numa perspectiva de conjunto pelo Estado, ou seja, tratava-se
de integrá-las, mesmo que enquanto economias periféricas e complementares
ao Centro-Sul do País” (COSTA, 1991, p. 51).
De acordo com Cohn (1976, p.58):
Pela Constituição de 1934, em seu artigo 177, torna-se obrigatório a destinação de 4% da receita tributária federal para a defesa contra os efeitos da seca no Nordeste, sendo que 3% seriam gastos segundo um plano sistemático e 1% seria reservado, em conta especial, para ser utilizado em socorro quando ocorresse a seca. Na Constituição de 1937 esse artigo foi abolido, para ser readmitido em 1946, só que com uma redução de 4% para 3% da renda tributária. O grande problema que se colocava era o de se definir a área do Nordeste seco
72
que receberia essa verba. Daí ter sido demarcado em 1936, o
chamado Polígono da Seca (...).
Os projetos e as políticas públicas que foram elaboradas e gestadas
durante a década de 1950 continuaram válidos e serviram como referenciais
para a expansão capitalista iniciada em meados da década de 1950. Os
incentivos, subsídios fiscais e financeiros colocados à disposição pelo Governo
Federal, alguns com exclusividade para o Nordeste brasileiro a partir dos
inícios dos anos 1960, possibilitaram que a economia nacional, antes
centralizada no eixo Centro-Sul, integrasse as estruturas produtivas regionais.
Essa política compreende: inversões públicas no sistema de transporte e
energia – incluindo a ampliação energética do Nordeste – a criação em 1952,
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico com fim explicito de apoiar
a diversificação industrial. (COHN, 1976, p.36)
Nesse período, o Brasil consolidava a industrialização. Aliado a este
processo desenvolveu-se dentro da sociedade urbano industrial o antagonismo
entre o proletariado e a classe burguesa industrial, ambas diretamente ligadas
à acumulação do capital industrial.
Nas primeiras décadas do século XX a crise que abalou as bases da
economia liberal repercutiu no modo de produção capitalista. Na verdade, o
liberalismo não mais conseguia responder aos problemas da economia
mundial. É neste contexto que as ideias de John M. Keynes ganham
notoriedade. Para ele, os desígnios do mercado criam ciclos econômicos de
expansão e retração das atividades econômicas, sendo necessária uma
intervenção que evitasse os períodos de contração, e caberia ao Estado essa
função.
Mantega (1984, p.25) expõe que:
Segundo a nova ótica keynesiana, as forças de mercado, deixadas a si mesma, estariam longe de promover a alocação ótima de recursos, causando, pelo contrário, capacidade ociosa, desperdício e desemprego. Nesse contexto, fazia-se necessária a intervenção mais decidida do Estado na economia, não mais apenas enquanto administrados da coisa pública (defesa, educação, justiça, etc.) ou mero regulador das atividades privadas, mas também enquanto agente direto da produção, aumentando os investimentos e gastos da sociedade (...) privilegiando determinados setores em detrimento de
73
outros, enfim, orientando a estrutura econômica para uma produção mais equilibrada.
A doutrina keynesiana foi a sustentação teórica do modelo de
desenvolvimento baseado na industrialização adotado pelo Estado Nacional a
partir da década de 1950, marcada pela execução de medidas por parte do
Estado nacional-desenvolvimentista brasileiro com forte apelo regional,
principalmente no mandato do então presidente Juscelino Kubitschek, como
Plano de Metas (1956-1961) e o Plano Diretor da Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) de 1961.
A primeira medida foi a fundação, em 1953, da Superintendência do Plano
de Valorização Econômica da Amazônia (CPVA), mesmo ano em que foi criada
Amazônia Legal, a partir da Lei nº 1806 de 06 de janeiro de 1953. A Amazônia
Legal com 5.057.490 km corresponde a 61% do território nacional.
O Plano de Metas (1956 - 1961) do presidente Jucelino Kubitschek
representou a mais ambiciosa proposta de planejamento global, promovendo
uma verdadeira mudança na estrutura econômica do país à custa de um forte
endividamento internacional.
Na visão de Rabelo (2002, p. 4):
(...) o período de ciclo expansivo da economia brasileira que vai de 1956 a 1961 é o momento em que se da à consolidação do capitalismo industrial no Brasil, no qual tem um papel fundamental o Estado, em uma associação com o capital estrangeiro e nacional, com base numa complicada operação de financiamento para proporcionar o excedente necessário
aos grandes investimentos realizados.
Não seria um equívoco afirmar que o Plano de Metas (1956 - 1961) apesar
de não trazer no seu cerne uma proposta regional, proporcionou impactos no
território.
O fator do dinamismo foi o processo de industrialização, visto por muitos
como única via para promover o desenvolvimento do país. Para tanto, o plano
propunha dar mais atenção ao estrangulamento da economia nacional, como
por exemplo, as precárias condições de circulação da economia nacional bem
como o sistema energético. Assim, foram identificadas metas de atuação:
energia, transporte, indústria de base, alimentação e educação. Estes dois
74
últimos não estavam no centro da agenda governamental, razão pela qual
absorveu 6,5% de todo o recurso (o que representa 340,73 milhões de dólares)
investido no país na época da execução do Plano de Metas. As verbas
investidas nos setores de energia, transporte e indústria corresponderam a um
total de 4.936,39 milhões de dólares. (SILVA, 2000, p.91).
A realocação da capital nacional para o interior do país foi outro plano que
engendrou, pela primeira vez, um processo de interiorização oficialmente
regulamentado pelo Estado. Brasília foi estrategicamente construída na região
Centro-oeste do país, para tanto foram mobilizado cerca de Cz$ 300.000.000
(trezentos milhões de cruzeiros) em valores de 1961.
A nova situação geográfica de Brasília e o processo de industrialização,
concentrado no Centro Sul promoveu uma nova configuração territorial do
sistema de engenharia de circulação, onde a meta era favorecer a integração
entre o mercado consumidor e as fontes de matérias primas para a
industrialização. Desta forma, a requalificação ou construção de vias de
circulação ficou centrada no Centro Sul.
A captação de recurso para financiar os investimentos públicos deu-se por
diferentes origens. Parte dos recursos foi captada via abertura ao capital
estrangeiro, principalmente norte americano, e outra parte foi injetada pelo
próprio cofre público nacional que direcionou grande quantia de recursos.
Porém, como o Tesouro Nacional estava despreparado para arcar com as
despesas geradas, a saída encontrada foi a emissão de papel moeda, o que
iria deteriorar a economia nacional através de inflação.
Outra importante medida de repercussão econômica foi à criação da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) com o objetivo
de entender a condição socioeconômica do Nordeste, até então vista como
produto das condições naturais.
A Região Nordeste recebeu maior volume de recursos e investimentos em
razão do descompasso econômico, o que lhe garantia o papel de região
repulsora de fluxos migratórios, de acordo com Cano (2001, p. 136):
O fluxo migratório acumulado nacional (pessoas que vivem fora do seu estado de nascimento), que em 1940 as pessoas (das quais 800 mil nordestinas e outros tantos mineiros) representavam 6,7% da população nacional. Em 1970 o fluxo
75
acumulado era de 11,2 milhões e agora os nordestinos somavam 4 milhões.
As características econômicas da Região Nordeste e a consequente
condição social de sua população podem ser explicadas pela desigualdade
socioespacial. Com base nessa teoria admite-se que as diferenças expressas
no território materializam-se a partir da divisão do trabalho, produzida através
da dinâmica social, assim sendo, a diferenciação é um produto histórico
emanado pelo modo de produção capitalista. Neste ponto encontra-se a
explicação das taxas diferenciadas de crescimento econômico, salientando-se
ainda que cada parcela territorial representa uma parte da totalidade
intricadamente integrada de forma combinada.
A lógica de integração/diferenciação territorial é inerente ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. Em sua evolução modificam-se os pesos relativos de cada uma das partes dessa equação, que são condicionadas pelo padrão de concorrência e pelos mecanismos à disposição do Estado para atuar na sua regulação. (EGLER, 1996, p.186).
Na verdade a preocupação com o desempenho econômico da região
Nordeste não é algo recente; em 1919 foi criada a Inspetoria Federal de Obras
contra a Seca (IFOCS), transformada em 1945 em autarquia, Departamento
Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS). Foi a partir deste órgão que se
avançou sobre o conhecimento das características naturais do semiárido
nordestino, o mesmo não ocorrendo quanto à sua estrutura socioeconômica.
O IFOCS, posteriormente DNOCS, institucionalizado e estruturado sob a
regência de um Nordeste algodoeiro-pecuário6 marcado pela definição da
divisão regional do trabalho, onde a economia cafeeira e sua conversão em
região industrial subjugava a região Nordeste, na medida em que a política
econômica beneficiava o Centro-Sul e deprimia a taxa de valor das
mercadorias produzidas no Nordeste (OLIVEIRA, 1981, p 37).
6 Francisco Oliveira (1981) faz uma análise da subordinação da economia regional ao capital
estrangeiro, explicitando que mudado os indivíduos detentores da produção, a saber, latifundiários sertanejos em detrimento da oligarquia açucareira, as leis de subordinação da relação com o capital internacional permaneciam as mesmas. O autor aponta que os rumos tomados pela decadente elite açucareira levou a economia nordestina a retroagir, pois foram adotados mecanismos de acumulação pré-capitalistas, resultando em uma descapitalização e restrições à formação da força de trabalho assalariada.
76
Apesar dos incentivos governamentais executados pelos órgãos
supracitados anteriormente, nenhuma mudança ocorreu na condição social do
Nordeste, muito pelo contrário, a estrutura produtiva e a expropriação do
nordestino mantiveram-se. A ideologia que alimentava a ação do Estado
naquele momento era centrada no simples combate à seca, ou seja, era uma
condição sine qua non engendrar esforços para minimizar a carência hídrica do
semiárido nordestino.
Essa postura começa a mudar a partir do relatório de estudo do Grupo de
Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). Este sinalizava que a
realidade socioeconômica do Nordeste tem sua origem na divisão territorial do
trabalho do país, sendo assim, o descompasso é um problema de ordem
econômica regional.
A análise da região nordestina, por comparação com a região mais industrializada o Centro-Sul, indicava, em primeiro lugar, que a renda per capta era de 100 dólares anuais, correspondente a 1/3 do Centro-Sul. O Nordeste aparecia, assim, como a mais extensa e populosa área de pobreza... (TAVARES, 2012, p 105)
Nessa perspectiva a política de planejamento deveria alterar a estrutura
vigente marcada pela presença de latifúndios improdutivos e milhares de
minifúndio incapazes de promover o sustento familiar de seus proprietários.
Acrescenta-se a este quadro o predomínio de relações de trabalho marcadas
fortemente pela semiservidão e uma prática política da classe hegemônica
impregnada do que Andrade denominou de coronelismo. (ANDRADE, 1995, p
78)
A SUDENE foi estruturada para intervir nessa realidade socioeconômica. À
frente desta empreitada estava Celso Furtado, intelectual preocupado com a
construção da nação diante dos embates de forças dos agentes internacionais
e nacionais, este último nem sempre aliado aos interesses nacionais.
Nessa perspectiva a política proposta pela SUDENE era:
(...) distinta daquelas formas oportunistas e assistencialistas até então vigentes, com Furtado imprimindo-lhe nova visão de desenvolvimento econômico. Como tais, os demais órgãos federais da região, que antes eram incumbidos do atendimento
77
ao “combate às secas”, passavam agora a ser coordenados pela SUDENE, enfrentando a chamada “indústria da seca”. Agora os investimentos federais na região seriam objeto de planejamento plurianual, ameaçando com isso, as oligarquias locais”. (CANO, 2001 p. 105)
O conflito entre o planejamento proposto pela SUDENE, as elites regionais
e o capital materializou-se na aprovação, após longa batalha política, do
Primeiro Plano Diretor da SUDENE em 1961, no Congresso Nacional. Nesse
plano, a proposta de desenvolvimento regional estava calcada em uma política
de fomento à industrialização através de incentivos fiscais e requalificação de
infraestrutura.
Os ganhos alcançados ficaram muito distantes das expectativas, todavia é
um equívoco menosprezá-lo. Entre 1960-1976 foram aprovados 1134 projetos
industriais, gerando 227,8 mil novos empregos. As melhorias, contudo, não
romperam com a estrutura econômica criada a partir do desenvolvimento
desigual e combinado do modo de produção capitalista, a Região Nordeste
permaneceu exercendo a função de complementariedade da economia
nacional. Nessa perspectiva, a Região Nordeste passa a ser palco da
convivência simultânea entre o moderno e o tradicional, onde os indicadores
econômicos de modernização convivem, pois, numa aparente sintonia com
formas de produção tradicional. (CASTRO, 1996b)
No planejamento implementado pela SUDENE a questão fundiária também
estava presente. A proposta previa implantar relações capitalistas no campo
que primassem por uma economia mais eficiente e integrada. Tal feito torna-se
possível na medida em que, como afirma Cano (2001, p. 116): '' expandir a
oferta de alimentos para apoio à industrialização, incorporar ao mercado o
homem rural (...) ''
Em razão das limitações promovidas pelo mercado e a pressão da
oligarquia regional, a proposta de planejamento executada pela SUDENE não
foi exitosa em sua plenitude. Criou-se uma modernização conservadora7
7 Geopolítica de governo implantada pelas Forção Armadas, a partir de 1964, cuja meta central
era favorecer à modernização acelerada da economia brasileira, através de elevado investimentos e intervenção direta no aparato produtivo nacional. O programa de modernização também executou um projeto territorial fundado no ideário da integração nacional e do Brasil potência. (Becker; Egler, 1996, p. 136)
78
1960/1970, que repercutiu na manutenção do abismo entre o Nordeste e o
Centro Sul.
A SUDENE inaugura a adoção de uma orientação planejada das atividades
econômicas, não no sentido de minimização das desigualdades regionais como
foi propagado, mais sim como uma intervenção do Estado sobre as
contradições do processo de reprodução do capital materializado em conflitos
inter-regional. Contudo, é prudente sinalizar que a ação do Estado na verdade
foi um instrumento para a homogeneização do capital, em outras palavras, o
"Estado cria as condições para a expansão do capital através da subordinação
da economia regional a economia nacional e internacional” (...) (OLIVEIRA,
1981, p. 32).
O resultado é contraditório, na medida em que a expansão capitalista na
Região Nordeste criou, como já foi mencionado, uma modernização
conservadora. Esse processo pode ser explicado pela manutenção de uma
estrutura de poder baseada nas relações econômicas do campo. Não é correto
associar o campo ao atraso e a cidade ao seu contrário. A inserção do capital
no campo provocou grandes transformações nas relações sociais e
consequentemente no uso do espaço. Ao camponês resta sujeitar-se ao
domínio do capital, ao império do valor de troca. Não é mais possível submeter-
se aos desígnios da natureza. Neste momento histórico a velocidade da
produção é ditada pelo uso da tecnologia, é expansão do meio técnico-
científico-informacional. (SANTOS, 1991). Nessa perspectiva, Castro (1996b)
chama atenção para a coexistência, que pode ser tanto cooperativa como
conflituosa, entre os atores responsáveis pelo atraso e pela inovação.
Castro (2011, p. 285) afirmar que:
(...) o vetor do atraso estaria no patronato rural, apoiado na grande propriedade e em formas de trabalho coercitiva, como a parceria em suas múltiplas modalidades, remanescente principalmente na Região Nordeste. (...) a modernização seria decorrente de uma base econômica capaz de incorporar amplas camadas da sociedade como mercado e, em
consequência, abrindo espaço para a participação política;
Diante do exposto, a política de planejamento implementada no Brasil a
partir da década de 1950 promoveu uma mudança na estrutura produtiva e
79
uma reestruturação do território para atender aos interesses do capital, levando
o país a experimentar, a princípio, um expressivo crescimento econômico.
Na verdade, o planejamento posto em prática no Brasil funcionou muito
mais no sentido de promover a inserção e acumulação do capital em
detrimento do desenvolvimento, como afirma Souza (2008, p. 37):
(...) o Estado em muitos casos, ao invés de diminuir as desigualdades regionais acabou apenas por propiciar uma maior integração de uma região ao modo de produção capitalista, gerando uma falsa ideia de desenvolvimento e progresso(...) o planejamento é entendido como conceito-chave criado pelo sistema capitalista como meio de impor a toda parte o capital internacionalizado.(SOUZA, 2008, p.37)
3.5 Planejamento Territorial no Brasil: limites e avanços
Entende-se políticas públicas territoriais como a ação do Estado dirigida a
intervir sobre o território, o qual caracterizava-se por uma estrutura produtiva
fragmentada, que só começa a ser alterada a partir do século XX, quando
esforços são engendrados para promover a integração do território nacional. É
conveniente elucidar que a estrutura fragmentada mencionada neste texto, não
é uma referência à estrutura territorial denominada por Becker e Egler (1996)
de arquipélago mercantil do século XIX. Na verdade, a estrutura territorial
sinalizada nesta seção do trabalho data do século XX, quando as limitações
impostas pelas precárias condições das vias de circulação existentes no Brasil,
aliada á dinâmica da expansão do modo de produção capitalista brasileiro
repercutiu na existência de estruturas produtivas regionais marcadas pela
desintegração territorial em nível nacional. Esse quadro só vai se alterar a partir
da intervenção planejada do Estado, sobretudo na segunda metade do século
XX.
As políticas para a integração do território nacional corresponderam a uma ação rápida e combinada para, simultaneamente completar a ocupação do território, incorporando o centro oeste e a ilha amazônica; modernizar e expandir a economia nacional articulando-a à internacional; estender o controle do Estado a todas as atividades e a todos os lugares(...) a integração do território foi usada como recurso simbólico para a construção do Grande Brasil ( ...)as políticas
80
para a integração do território visaram à remoção dos obstáculos materiais e ideológicos à expansão capitalista moderna. (BECKER, 1996, p.14)
O planejamento territorial em um país com dimensões continentais, 8 514
876 km², requer ações planejada a partir dessa peculiaridade. Primeiro,
admitindo que a formação territorial resulte do processo de acumulação do
capital, onde são criadas especificidades territoriais e que estas não são
estáticas, qualquer tentativa de implementação de planejamento territorial deve
ter como premissa indispensável o caráter dinâmico e flexível, o planejamento
não deve ser um instrumento rígido.
É sobre esse espaço, diversificado, contraditório e dinâmico que políticas
de planejamento territoriais são executadas no país, no final do século XX8.
Nesse período expressivas mudanças de ordem política e econômica
processaram não apenas em nível nacional como também na economia
mundial. A crise do Estado desenvolvimentista brasileiro corresponde à
primeira destas mudanças, cujo papel e estrutura do Estado foram
paulatinamente sendo substituídas por um novo modelo que passa a se
caracterizar pelo controle e regulação da economia e minimização dos gastos
com políticas sociais. Esse processo de adoção de um novo modelo de Estado
ocorre em simultaneidade com as transformações econômicas engendradas
com a globalização da economia mundial. Na verdade, é possível afirmar que a
dinâmica do modo de produção capitalista em seu estágio globalizante
promoveu a reformulação dos Estados nacionais. A partir desse momento a
política de planejamento passa a privilegiar a questão territorial.
O planejamento territorial, portanto, nasce como instrumento de promoção
do desenvolvimento econômico em meio à crise do modelo de Estado; não que
isso signifique o seu fim, como foi defendido por muitos através das teorias que
propagavam a adoção do Estado mínimo.
Já foi mencionado anteriormente, que no período que antecede a década
de 1970, o Estado brasileiro centrava esforços para promover a minimização
dos desigualdades regionais, não que esta postura tenha sido restrita a este
período, contudo, foi uma característica marcante daquela época.
8 As políticas de planejamento que precedem esse período também tratam da questão
territorial, contudo o apelo regional é marcante.
81
No Brasil a institucionalização de políticas de planejamento pode ser
analisada a partir de um corte temporal marcado pela mudança do perfil do
Estado. A década de 1970 representa um divisor d’água da ação do Estado
enquanto agente do planejamento. A causa desta mudança foi a crise do
capitalismo, contudo, não é correto afirmar que a crise do petróleo da década
de 1970 foi o grande causador do colapso da economia mundial naquele
período. Uma análise mais detalhada demonstra que no modo de produção
capitalista a essência é a contradição que periodicamente resulta em crises
estruturais; foi o que ocorreu a partir da década de 1970, a inflação o aumento
do desemprego corroeram o índice de lucratividade do capital. Segundo Desai
(2003) as taxas mais declinantes da lucratividade pertenciam aos Estados
Unidos e o Reino Unido que se posicionavam como potências mundiais.
Nos Estados Unidos, em 1960 essas taxas correspondiam a 9,9%
passando para 13,7% em 1965, e 8,7% em 1970. No Reino Unido, as taxas
caíram de 14,2% (1960) para 11,8% (1965) e 8,7% (1970). (DESAI, 2003). A
taxa de desemprego tornou-se expressiva, obrigando o Estado a enveredar
esforços para criar novas vagas, elevando assim os gastos governamentais,
pois, as vagas geradas a partir de cargos públicos não geravam lucros ou mais
valia, pois eram contratos para prestação de serviços. Para Harvey (2005), com
base nas concepções de Marx, trata-se de trabalho não produtivo. Eis uma das
contradições do capitalismo, a contradição entre trabalho produtivo e trabalho
não produtivo.
A contradição entre trabalho produtivo e não produtivo é inerente ao antagonismo fundamental entre os interesses do capital e os do trabalho e, como tal, insuperável. Ela emerge em primeiro lugar do caráter explorados do próprio processo de trabalho capitalista e da necessidade de encontrar uma forma de controle adequada à sua perpetuação. (MÉSZÁROS, 2002, p. 617)
(...) o objetivo de uma economia era a criação de riqueza expansão das forças produtivas e a acumulação do capital, diria Marx. Assim, quanto mais essa riqueza se concentrasse nos comerciantes e nos industriais que estavam inclinados a investir em atividades produtivas, e quanto menos ela fluísse para a presença de parasitas, melhor para o processo de acumulação (...). (DESAI, 2003, p.337).
82
A crise da década de 1970 também teve suas raízes na luta de classe
inerente à divisão social do trabalho, onde a classe burguesa tem como
principal objetivo o aumento da mais valia. A contradição materializa-se em
ondas de greve, luta entre sindicatos e governos por elevação dos salários.
O capitalismo estava em crise. O antigo entendimento entre os sindicatos, as corporações e os governos entravam em colapso... A militância dos trabalhadores tinha sido estimulada pela espiral inflacionária e o peso cada vez maior dos tributos: havia uma revolta contra os impostos, assim como contra os baixos salários. (DESAI, 2003, p.345).
É neste contexto que o paradigma keynesiano passa a ser questionado e
os ideais neoliberais promovem uma mudança significativa na postura do
Estado que paulatinamente abandona a prática intervencionista na década de
1980. No Reino Unido, por exemplo, a adoção do neoliberalismo no governo
Margareth Thatcher (1979 a 1990) levou ao abandono da proposta keynesiana,
que seria aumentar os gastos governamentais para diminuir o desemprego
optando por financiar o déficit através de empréstimos ao mercado financeiro.
A política implantada no primeiro triênio da década de 1980 no Estado Inglês
caracterizou-se pela elevação de impostos e pela aprovação de legislação que
enfraquece direitos trabalhistas e inicia a privatização de empresas estatais. A
reação da sociedade foi um movimento de resistência à nova postura do
Estado que começava a abandonar a política de bem-estar social.
O Reino Unido foi pioneiro na ruptura de padrões e paradigmas político e
econômico referenciado no Consenso de Washington9 O padrão de
acumulação do capital baseado até então no modelo taylorista e fordista não
mais respondia a realidade
Há uma concordância geral de que a mudança tem a ver com as dificuldades enfrentadas pelas economias capitalistas a partir da recessão de 1973. A desindustrialização, o desemprego disseminando e aparentemente estrutural, a austeridade fiscal ao nível tanto nacional quanto local, tudo isso ligado a uma tendência ascendente do neoconservadorismo e
9 O Consenso de Washington define recomendações econômicas com vias a instrumentalizar
ações que possibilitasse a adoção de ideais neoliberais na América Latina. Essas recomendações foram elaboradas em 1989 durante um encontro de economistas e funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI) organizado pelo Institute for International Economics, entidade de caráter privado sediada em Washington (CHESNAIS, 1996)
83
a um apelo muito mais forte (ainda que muito mais frequentemente, na teoria do que na prática) à racionalidade do mercado (...) (HARVEY, 2005, p. 168).
No Brasil, as mudanças engendradas pela reestruturação do modo de
produção capitalista, ocorrem em paralelo com a adoção de uma nova posição
nacional frente à economia do mundo, onde o país emerge como uma potência
regional graças à expressividade de seu mercado interno. A esse fato, deve-se
atribuir a responsabilidade da política implantada durante o governo militar que
institucionalizou as condições necessárias à modernização nacional através do
projeto geopolítico de modernidade. Contudo, não se deve menosprezar a ação
política que antecede este período como também promotores desta posição
alcançada pela economia nacional. (Becker, 1996, p. 123)
A Ditadura Militar (1964-1985) sacramentou de forma muito mais veloz um
processo de estatização da infraestrutura econômica do país. O Golpe Militar
que se instalou a partir de 1964 representou um ponto de ruptura na história
política e econômica ao promover mudanças institucionais profundas que
afetaram toda a nação. Foram mudanças que permitiram a criação de
condições políticas e institucionais para um novo ciclo de acumulação
econômica capitalista no Brasil sob a liderança do capital monopolista. A partir
das estruturas políticas por ele constituídas se iniciou um novo processo de
modernização em bases conservadoras
O projeto de modernização instaurado sob gerência militar também tinha
como meta a integração do território nacional, através da incorporação do
centro-oeste do país e da região amazônica como premissa para adequar a
estrutura territorial ao processo de industrialização. Na verdade, tal atitude visa
à reprodução ampliada do capital, para tanto, o espaço não deve ser um
obstáculo, mas sim uma vantagem, ou seja, a incorporação de novos espaços
deve significar maiores potencialidades para a acumulação do capital.
Após esse período, as atenções são redirecionadas para ações que
possibilitem o crescimento econômico nacional. Todavia, a crise estrutural do
capital colocou em xeque os interesses da nação. A vitória do neoliberalismo
promoveu uma verdadeira restruturação dos Estados nacionais, calcada nas
críticas ao Estado de Bem-Estar Social. Sob influência neoliberal, o Estado
84
nacional implementou a liberalização comercial e uma forte política de
privatização e ajustes fiscais.
Nesse contexto, os países centrais promoveram expressiva proteção
econômica aliada à minimização do aparelho do Estado, atitude esta que
repercutiu em economias dependentes como a brasileira.
(...) após um período de forte crescimento econômico e modernização da estrutura produtiva da economia brasileira, até meados dos anos 70, o país passou a enfrentar na década seguinte um período de sérias dificuldades fiscais e financeiras que desencadearam a crise do modelo desenvolvimentista. Como resultado, as instituições de planejamento e execução de políticas de desenvolvimento (...) perdem a sua capacidade de formulação e intervenção, tornando os órgãos incapacitados para o exercício da função para o qual foram criados. (SILVA, 1990, p.16)
A crise estrutural do capital promoveu uma ruptura de paradigma,
consequentemente, os Estados nacionais também modificaram sua relação
com o mercado, e por prolongamento com a sociedade. Nessa perspectiva, as
políticas territoriais implementadas no Brasil também passaram por
modificações, como a valorização do território como unidade de planejamento.
No Brasil, a importância do território enquanto categoria basilar para a
execução de políticas públicas pode ser identificada no Plano Nacional de
Desenvolvimento I 1971 a 1974, Plano Nacional de Desenvolvimento II 1972-
1975 e Plano Nacional de Desenvolvimento III, 1979 a 1985 (CARGININ,
2007).
No período de 1968 a 1973 o Brasil apresentou um vigoroso crescimento
econômico interrompido em 1974 com a crise do petróleo, ou mais
precisamente, a crise estrutural do capital. As estratégias econômicas
fundamentadas no keynesianismo não mais conseguiam responder aos
problemas econômicos brasileiros. Como resultado desta incapacidade, um
novo arcabouço teórico começa a ganhar espaço no cenário econômico
nacional, o neoliberalismo.
Segundo Figueiras (2006, p.195)
(...) a retirada do Estado de setores estratégicos da atividade econômica, juntamente com o agravamento de sua fragilidade
85
financeira, a redução de sua capacidade de investimento e a perda de autonomia da política econômica, enfraqueceu lhe a possibilidade de planejar, regular e induzir o sistema econômico. O crescimento acelerado da dívida pública – com encargos financeiros elevadíssimos –, juntamente com a livre mobilidade dos fluxos de capitais, é parte central da subordinação da política macroeconômica aos interesses do capital financeiro, ao mesmo tempo em que redefiniu a presença dos interesses das distintas classes e frações de classe no interior do Estado.
É neste contexto que é institucionalizado o Plano Nacional de
Desenvolvimento (PNDS), todavia até o III Plano Nacional de Desenvolvimento
1979 à 1985 os principais instrumentos de planejamento eram meras
formalidades institucionais.
O I PND, com vigência de 1971 a 1974 propunha a modernização agrícola,
a expansão da fronteira agrícola e avanço tecnológico como estratégias para
promover o crescimento econômico do país, ou em outras palavras, promover
a expansão do sistema capitalista no Brasil.
Dois processos da década de 1970 foram marcantes na elaboração do II
PND 1972-1975, a crise do petróleo e a eclosão de pressões sociais e
políticas. (SOUZA, 2008, p.51). O resultado foi a adoção de medidas que
primavam pela diversificação da matriz energética bem como a expansão do
meio técnico científico para outras regiões fora do núcleo central.
A estrutura de arquipélago10 não mais existe em razão da qualificação do
sistema de engenharia de transporte e comunicação, as condições de fluidez
do território tornaram-se mais eficazes e as economias regionais assumem
uma posição de complementaridade da economia nacional.
É neste contexto que os ideais neoliberais lançam a base para a
reformulação do perfil do Estado nacional que abandona progressivamente o
modelo desenvolvimentista, inaugurado sob o regime militar. A Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 celebra a mudança de um regime
autoritário para um regime democrático.
10 Para Becker e Egler (1996) trata-se de uma estrutura espacial marcada pela presença de
regiões mercantis que drenavam, via grandes cidades portuárias, mercadorias para o mercado mundial. Enquanto para Oliveira (1981) essa estrutura representa a subordinação de parcelas do território brasileiro, seja durante o período colonial ou após sua independência, aos centros do capitalismo mercantilista e por prolongamento imperialista.
86
Do ponto de vista de política de planejamento a Constituição de 1988
regulamenta a obrigatoriedade dos Planos Plurianuais (PPAs) como
instrumento balizador do planejamento. Em caso de não cumprimento da
regulamentação, ficava o então presidente proibido de cumprir o seu mandato.
O primeiro PPA foi elaborado apenas como exigência constitucional. Na
prática, foi a partir de 1996 que este instrumento de planejamento passa
efetivamente a cumprir seu papel.
É a partir de 1996 que os Planos Plurianuais passam não só a se constituir no principal elemento organizador da ação governamental, mas também apresentar os grandes objetivos e delineamentos estratégicos a serem desenvolvidos para cada período de quatro anos. (LESSA, 2009, p. 88)
O PPA do final do século XX, bem como os primeiros PPAs do século XXI
tiveram como princípio norteador a abertura econômica, a modernização da
estrutura produtiva, a construção de um Estado eficiente e moderno. Entretanto
o tão almejado desenvolvimento não aconteceu e as desigualdades territoriais
foram acirradas. Lambert (1971) sinaliza que o ritmo diferenciado do
desenvolvimento criou uma sociedade dualista onde contrasta um dinamismo
econômico em contraponto com pobreza.
Os brasileiros estão divididos em dois sistemas de organização econômica e social, diferentes nos níveis como nos métodos de vida. Essas duas sociedades não evoluíram no mesmo ritmo e não atingiram a mesma fase (...) não constituem duas civilizações diversas, mas sim, uma em face da outra, duas
épocas da mesma civilização. (Lambert 1971 p. 106).
Como estratégia de desenvolvimento foi elaborada, na segunda metade da
década de 1990 uma proposta organizada em Eixos Nacionais de Integração e
Desenvolvimento (ENID)11, executados através do PPA 1996/1999 sob o
mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Nessa proposta o território brasileiro foi desmembrado em nove Eixos e
suas respectivas áreas de influências. Os Eixos foram delimitados a partir da
concepção de região polarizada. Para tanto, foram identificadas as
11 Eixo é um recorte espacial composto por unidades territoriais contíguas.
87
potencialidades econômicas em cada porção territorial através do relatório
técnico intitulado Identificação de Oportunidade de Investimentos Público e/ou
Privado. Os eixos foram elaborados com o propósito de reduzir as
desigualdades regionais e fortalecer o sistema de transporte favorecendo
assim a integração nacional. São eles: Eixo Rede Sudeste, Eixo Sudoeste,
Eixo Sul, Eixo Transnordestino, Eixo São Francisco, Eixo Oeste, Eixo Araguaia-
Tocantins, Eixo Madeira- Amazonas e Eixo Arco Norte. (FIGURA 3)
FIGURA 3 –EIXOS NACIONAIS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
O ENID foi elaborado pelo consórcio de empresas transnacionais
denominado de Consórcio Brasiliana, no qual participavam as empresas Booz
Allen & Hamilton, Bachel Internacional e ABN Amro Bank, todas com ampla
experiência internacional (FREITAS, 2012)
Fonte: Consórcio Brasiliana. Relatório preliminar, 1988.
88
Os estudos elaborados pelo Consórcio Brasiliana representam um marco
para as práticas de planejamento, em razão da retomada da abordagem
territorial, bem como pela sinalização de estratégias de integração regional, via
infraestrutura de transportes sem, contudo, diminuir o fosso, entre as regiões.
Esse quadro pode ser explicado, dentre outros fatores, pela adoção de
práticas de planejamento setorial. Na visão de Perico (2008, p. 30) “o
desenvolvimento é por essência multisetorial. É por isso que as estratégias que
procuram alcançá-lo estão obrigadas a superar os objetivos setoriais." Essa é a
perspectiva do planejamento referenciado na proposta de Ordenamento
territorial.
3.6 Território e Ordenamento Territorial no Brasil
Novas práticas de planejamento são instauradas no Brasil, e nestas, as
principais características de distinção com os planejamentos anteriores
correspondem ao seu caráter multisetorial e a participação da sociedade. É
nesta perspectiva que a reflexão sobre ordenamento territorial vai aparecer sob
a consolidação do Estado neoliberal.
Ordenar significa interferir em uma determinada organização, é uma ação
que traz em si uma postura ideológica na medida em que impõe uma nova
reestruturação em detrimento de uma estrutura pré-existente. Nesse processo
os sujeitos envolvidos travam uma disputa ideológica para impor ao outro a sua
concepção de ordem. Não é pretensão enveredar sobre a reflexão do
significado da palavra ordem, contudo admite-se que não é correto defini-la
como antítese da desordem.
Neste estudo admite-se que ordenar é estabelecer uma determinada
organização de acordo com os interesses de quem executa o ato. Sendo
assim, o ordenamento territorial é entendido como uma regulamentação do
território em meio às tensões da sociedade materializado como reflexo da
relação sociedade-espaço (SOARES, 2009, p 82).
Essa prática de planejamento com base no ordenamento territorial foi
referenciada a partir da Carta de Europeia de Ordenamento Territorial em
1984. Segundo esse documento, os objetivos do ordenamento territorial
89
permitem alcançar simultaneamente o desenvolvimento socioeconômico
equilibrado das regiões, melhoria da qualidade de vida, uma gestão
responsável dos recursos naturais e a proteção do ambiente, bem como uma
utilização racional do território. Para tanto, faz-se necessário coordenação e
cooperação entre os diferentes níveis de decisão e obtenção de recursos
financeiros para execução do planejamento. A participação da sociedade neste
processo é fundamental.
Toda a política de ordenamento do território, qualquer que seja o seu nível, deve ser baseada na participação ativa do cidadão. É, assim, indispensável que eles sejam informados, de forma clara e de maneira compreensível, em todas as fases do processo de planejamento das estruturas e procedimentos institucionais. (DGOT, 1988, P.13)
O documento prevê a participação popular em todo o processo de
planejamento, desde a sua elaboração até a execução, sendo assim, as
decisões devem ser engendradas em conjunto com a sociedade.
A participação da sociedade nas diferentes etapas de elaboração,
coordenação e implementação do planejamento é uma característica das
práticas de planejamento a partir das últimas décadas do século passado.
A base geográfica para execução dessas práticas é o território. No Brasil o
uso do conceito de território como instrumento para implantação de políticas
públicas é algo das últimas décadas, particularmente da década de 1990,
quando de forma pioneira foi criado o Conselho Regional de Desenvolvimento
(COREDES), no Rio Grande do Sul. Contudo, desde a Constituição Federal de
1988 o ordenamento territorial já estava previsto como competência da União
no Artigo 21º Inciso IX (...). “Elaborar e executar planos nacionais e regionais
de ordenação do território e do desenvolvimento econômico e social.” (Art. 21,
IX, CF/88).
O território adquire grande importância na agenda governamental, o que foi
demonstrado através da institucionalização, em 1999, do Ministério da
Integração Nacional (MIN). Este Ministério passa a ser responsável através da
Lei Nº 10683 de 28 de maio de 2003, em elaborar as diretrizes que nortearão a
gestão territorial.
90
Em 2000, o MIN elaborou o documento Base para as Políticas de Integração Nacional e desenvolvimento Regional, o qual propunha uma série de objetivos amplos para a gestão do território, tais como: promover a competitividade sistêmica; mobilizar o potencial endógeno de desenvolvimento das regiões; fortalecer a coesão econômica e social; promover o desenvolvimento sustentável; e fortalecer a integração (...) (SILVA, 1990, p.29)
Como proposta para enfrentar esse desafio foi apresentada pelo MIN em
2006 os subsídios para elaboração da Proposta da Política Nacional de
Ordenamento Territorial (PNOT) elaborada a partir do modelo de planejamento
europeu prescrito no documento Carta Europeia de Ordenamento Territorial,
onde ordenar é: ''simultaneamente, uma técnica administrativa e um política
interdisciplinar e integrada tendente ao desenvolvimento equilibrado das
regiões e a organização física do espaço segundo uma estratégia de conjunto
( DGOT, 1988, p.9)
A dificuldade enfrentada pelo MIN corresponde à diversidade territorial
brasileira e à grande extensão do país. Somam-se a esse quadro as
congruências produzidas pelo processo de inserção do capitalismo, onde a
reprodução e acumulação do capital tende a criar ou acirrar as desigualdades
no território.
A PNOT nasce em um contexto de mudanças de paradigma da política
territorial no Brasil em consequência da crise do Estado Desenvolvimentista,
acrescenta-se a este cenário as transformações econômicas engendradas pelo
processo de globalização, como exemplo o fim do padrão tecnológico
dominante, a falência do planejamento centralizador e associação ao ideário
político neoliberal. (RÜCKERT, 2007).
Algumas reflexões devem ser feitas em relação à PNOT. A primeira delas
foi mencionada na abertura deste tópico: o que significa ordenar? Para Rücker
(2007) o termo propõe:
(...) regular ou organizar o uso, ocupação e transformação do território com fins de seu aproveitamento ótimo. Tal aproveitamento se associa, geralmente, com o uso sustentável dos recursos naturais (planificação físico ambiental) em estreita correspondência com padrões adequados de assentamentos e de atividades econômicas. (RÜCKERT, 2005, p. 35).
91
A imprecisão se estende na definição dos objetivos dessa política
nacional, que a princípio, adota os objetivos previstos no documento europeu,
são eles: a) o desenvolvimento socioeconômico equilibrado das regiões; b)
melhoria da qualidade de vida; c) gestão responsável dos recursos naturais e a
proteção do meio ambiente; d) utilização racional do território. (RÜCKERT,
2005).
A abordagem regional ainda está presente no planejamento territorial
proposto na PNOT, na medida em que sua principal meta é atuar sobre os
desníveis de crescimento das economias regionais.
A busca pela equidade corresponde à maior problemática da PNOT, nela
incidem as mais fortes críticas. Em uma sociedade capitalista, onde a
existência da diferenciação é a característica predominante deste modo de
produção, logo, torna-se um equívoco pensar em uma correção dos desníveis
regionais.
Outra fragilidade da nova política territorial brasileira é apontada por
Rückert (2007, p. 11).
Uma das polêmicas instauradas no interior do grupo de discussão sobre a PNOT diz respeito ao tipo de desenvolvimento a ser estimulado para as regiões periféricas. Numa leitura que chamaríamos de naturalização ou espontaneismo do mercado, as regiões periféricas mais próximas do núcleo dinâmico da economia brasileira (o triângulo São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte) deveriam ser estimuladas a atrair aqueles segmentos industriais tradicionais tornados desinteressantes no centro (as chamadas deseconomias de escala), enquanto que para as regiões periféricas mais afastadas o desenvolvimento deveria priorizar a expansão do agronegócio e do extrativismo mineral. (grifo do autor).
Para o autor, existem expressivas limitações do modelo de
desenvolvimento proposto pela PNOT para as regiões que extrapolam os
limites do centro econômico do país.
A PNOT traz, com um caráter inovador, a proposta da participação popular,
ou seja, o planejamento não deve ser elaborado unilateralmente. A sociedade
civil organizada participa desse processo, como afirma Perico (2008, p. 37).
92
(...) tem se estabelecido estratégias de participação referida ao processo de planejamento, de autogestão e de controle social como expressão da democracia participativa. Muitas estruturas legislativas se sucedem na busca de organizar a participação. O traço dominante nessas estruturas é a rede de colegiados que tem a função consultiva de planejamento ou de co-gestão das responsabilidades governamentais (...)
Nessa perspectiva, o ordenamento territorial está edificado em um tripé
sociedade civil organizada, Estado e Capital, onde a capacidade de imposição
do capital é maior, ou seja, existe um embate de forças entre a sociedade e o
capital. Nesse conflito, o Estado assume o papel de moderador, pois este
"perpétua a divisão da sociedade em classe, mas também o direito da classe
possuidora explorar a não possuidora, bem como o domínio da primeira sobre
a segunda (...)" (ENGLES, 1991, p.119). Nesse confronto estão os interesses
do capital que sempre subordinam os interesses da sociedade.
A participação social no processo de planejamento é vista por muitos como
mais uma manobra do Estado que se exime da responsabilidade de êxito dos
planejamentos delegando à sociedade essa tarefa.
A política territorial, prevista na Constituição de 1988 e iniciada em 2003 no
Brasil, é alvo de críticas quanto à sua eficiência para reverter o descompasso
do crescimento econômico entre as diferentes poções territoriais do país. As
críticas também rebatem na dificuldade de sua implantação.
Cabe aqui registrar o retardamento das ações governamentais no que tange ao envio do previsto projeto de lei ao Congresso Nacional, o que está em flagrante descompasso com a conjuntura internacional no que diz respeito às diversas experiências avançadas de ordenamento territorial. O país encontra-se, assim, em defasagem flagrante mesmo quando comparado a algumas experiências na América do Sul, como é o caso da Venezuela que detém uma experiência que remonta a 1976. Assim, o processo de construção da PNOT encontra-se não apenas em atraso, mas em descompasso com os principais debates das políticas territoriais contemporâneas no cenário internacional. (RÜCKERT, 2007, p.14).
Após quase 15 anos iniciados os trabalhos para elaborar as diretrizes da
gestão territorial no Brasil, através do Ministério de Integração Nacional via Lei
Nº 10.683, a PNOT ainda não significou resultados expressivos.
93
4 PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO NA BAHIA
A Bahia é pioneira quanto à prática de planejamento, tendo como
referência o Instituto do Cacau, fundado em 1933, bem como o Instituto Baiano
de Fumo em 1935, que representam uma das primeiras iniciativas de
estruturas institucionais de fomento à política de planejamento nacional, ambos
fundados em meio à crise dessas culturas, as quais repercutiam negativamente
na estrutura econômica estadual. O planejamento era visto como via possível
para minimizar os problemas econômicos estaduais, enquanto a economia
baiana e o caráter agroexportador da primeira metade do século XX definiam o
papel econômico enquanto unidade federativa no cenário nacional. (SOUZA,
2008)
O período entre 1930 e 1950 caracteriza-se pela consolidação do processo
de industrialização do país, centralizado a princípio na indústria têxtil e anos
mais tarde na indústria de base, cujo processo foi marcado pela hegemonia do
Sudeste, e pela adoção de estratégias de integração nacional como premissa
para a constituição de um mercado interno. Nesse processo, a Bahia gerava
receitas e divisas que eram direcionadas para o Centro-Sul. A estrutura
econômica da Bahia estava assentada numa base agroexportadora um
expressivo atraso técnico, o que lhe criava vulnerabilidade aos condicionantes
externos.
Em 1959 foi criada a Comissão de Planejamento Econômico (CPE),
coordenada por Rômulo Almeida12, e o Conselho de Desenvolvimento
Econômico da Bahia (CONDEB). Nascia a primeira tentativa de planejamento
econômico no Estado. (VIEIRA, 2006, p.73)
A CPE e o CONDEB deveriam elaborar um diagnóstico e apontar as
diretrizes da ação governamental com o intuito de favorecer a estabilidade e
desenvolvimento econômico do Estado. Para tanto, propunha-se uma reforma
cambial e um programa quinquenal de investimento de Cr$5,06 trilhões de
cruzeiros, moeda corrente à época, para o período de 1956 a 1960. (SOUZA,
2008, p.67).
12 Romulo Almeida, considerado por muitos o maior economista baiano, foi pioneiro no
planejamento ocupando importantes cargos públicos. Foi responsável direto por estratégias de planejamento no segundo governo Vargas. (SANTANA, 2002).
94
Como o aporte financeiro seria originário da União, a proposta apresentada
pelo então governador Antônio Balbino, através da CPE e da CONDEB, não
logrou êxito. O sucessor ao governo do Estado, Juracy Magalhães (1959-
1963) instituiu o Plano de Desenvolvimento para a Bahia (PLANDEB) com
vigência para o período de 1960 a 1963. As diretrizes do PLANDEB previam a
garantia de emprego da população, aproveitamento das potencialidades
apresentadas pelos recursos naturais e antrópicos, bem como a valorização
salarial (VIEIRA, 2006, p 76).
O problema da seca, de acordo com a proposta deste plano, seria
combatido através de uma reorganização da economia agrícola, via
investimentos do Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial da Bahia
(FUNDAGRO) e implementação de um programa permanente de reserva de
água, adoção de cultivo de culturas permanentes, bem como a execução de
estratégias econômicas que garantiam a renda no período de seca.
A proposta do PLANDEB significaria uma melhoria das condições
econômicas da população comprometendo, desta forma a hegemonia das
oligarquias clientelistas. Por esta razão, a sua aprovação na Assembleia
Legislativa foi protelada. Além da resistência política quanto à proposta, o
PLANDEB também enfrentou dificuldades de ordem nacional, pois os episódios
que resultaram na renúncia de Jânio Quadros em 1961 consequentemente
originou uma reestruturação política.
Entretanto, muitas de suas indicações foram executadas no governo de
Juracy Magalhães e seus sucessores, a exemplo o FUNDAGRO que deu
origem ao Banco do Estado da Bahia (BANEB) e o Banco de Desenvolvimento
do Estado da Bahia (DESENBANCO), criado em 1966.
A industrialização também foi contemplada pelo PLANDEB via adoção de
um modelo de industrialização integrada ao desenvolvimento do Centro–Sul
através da produção de bens intermediários. Nesse contexto são criados:
Centro Industrial de Aratu (CIA), em 1967, Centro Industrial Subaé, em 1970, a
Usina Siderúrgica da Bahia (USIBA), em 1973 e o Complexo Petroquímico de
Camaçari (COPEC), em 1978 (VIEIRA, 2006, p 76.)
95
4.1 Bahia formação territorial e regionalização
Essa seção traz uma reflexão sobre as diferentes regionalizações do
território baiano. A proposta é apresentar como o Estado organiza o território
com vistas a implementar políticas públicas e planejamento e como esse
processo interfere na execução dessas ações.
A regionalização é aqui considerada como recortes territoriais
fundamentados na diversidade, que significa afirmar que, esta é a base para
qualquer proposta de regionalização. (HAESBAERT, 1999). Assim sendo, faz-
se necessário identificar como a diferença territorial se impõe, não apenas
como produto da divisão territorial do trabalho, mas também como aquela
resultante de uma construção intelectual alicerçada na identidade territorial com
ênfase ao espaço vivido. Nessa perspectiva, a diversidade territorial pode
resultar de dois processos distintos, nem por isso excludentes, ela é produto da
funcionalidade de cada unidade territorial, imposta pela própria dinâmica do
modo de produção capitalista, ou ainda, ela pode resultar da produção
diferenciada das singularidades, da vivência do espaço, logo da identificação
com esse espaço.
Regionalizar não é simplesmente recortar o espaço a partir de parâmetros genéricos, quantitativos, diferenças de grau como faixas de renda, produto interno bruto, fluxos comerciais etc. Deve envolver, igualmente, as diferenças de natureza como aquelas de ordem mais estritamente cultural. Partiremos então do pressuposto de que a diversidade territorial, enquanto fundamento para a regionalização em seu sentido mais geral se manifesta sob duas grandes formas: a produção de particularidades, do desigual (diferenças de grau), que vincula os espaços em distintas escalas; e a produção de singularidades, do específico (diferenças de natureza), em geral mas não exclusivamente de base local e sem correlação obrigatória com realidades geográficas em outras escalas. (HAESBAERT,1999, p.24)
Segundo o autor, a diferença territorial resulta de dois processos,
ou ela é produto da construção de uma identidade territorial, ou resulta do
desenvolvimento desigual do modo de produção capitalista. Nessa perspectiva,
qualquer território pode ser regionalizado, dependendo dos objetivos definidos
96
para essa prática. Consequentemente, observa-se uma infinidade de recortes
territoriais, logo, de regionalizações.
É a partir desses recortes territoriais que o Estado executa políticas de
planejamento, todavia a sobreposição de diferentes unidades territorias torna-
se um problema para a eficiência da política pública estatal. Na Bahia essa
problemática é uma realidade, na medida em que é possível identificar o uso
de diferentes recortes territoriais na ação do poder público, como por exemplo,
Regiões Administrativas, Território de Identidade, dentre outros. Entender cada
uma dessas regionalizações perpassa pela compreensão do processo de
constituição do território baiano.
A formação territorial da Bahia data do período da colonização, a partir da
ocupação do espaço até então, habitado pelos índios. A população que nessas
terras habitavam dispunha de uma estrutura social e cultural completamente
diferente de seus colonizadores, razão pela qual se criou um estereótipo
equivocado, de selvagens.
Esse processo de ocupação foi marcado pela lentidão e pela resistência
indígena à dominação lusitana, resistência materializada nos diversos ataques
aos núcleos de povoamento que se instalaram ao longo do litoral, ainda no
século XVI. Esse quadro vai mudar a partir da presença dos missionários
jesuítas, cujo propósito foi transmitir os conhecimentos do cristianismo e
converter os índios a essa doutrina religiosa. Na realidade, a ação dos jesuítas,
promoveu a pacificação indígena favorecendo assim, a ocupação territorial.
Como afirma Santos (2014, p. 31) “A conversão dos povos nativos das
diferentes partes do império ultramarino foi um elemento fundamental e
indispensável para o expansionismo lusitano”. De fato, o papel dos
missionários representou o elemento mediador na relação dos portugueses
com a população nativa.
Não se pretende com esse relato fazer uma abordagem antropológica da
formação territorial da Bahia, entretanto, não é possível menosprezar a
importância dos jesuítas para a constituição desta porção territorial, em razão
de lhe ter sido atribuída a responsabilidade de fundadores dos primeiros
núcleos de povoamento, as aldeias. Nestas, o poder exercido pelos jesuítas
estava além das questões espirituais, pois muitos dos missionários atuavam
97
como administradores, juízes, dentre outras atribuições hegemônicas dentro da
rotina das aldeias, poder que perdurou desde 1549 até 1758 quando as antigas
aldeias indígenas foram elevadas à categoria de vilas.
Quando a Companhia de Jesus13desembarcou no Brasil, em 1549, as
terras pertencentes à coroa portuguesa haviam sido desmembradas em 12
Capitanias Hereditárias14 e doadas para portugueses que deveriam aventurar-
se no empreendimento de promover a sua colonização. Dadas as limitações
impostas pela natureza, as dificuldades financeiras enfrentadas pelos
donatários e os constantes ataques indígenas, o projeto de colonização tornou-
se um fracasso, exceto as capitanias de Pernambuco e São Vicente.
O território sobre o qual está hoje localizada a Bahia estava estruturado em
cinco capitanias, Porto Seguro, Bahia de Todos os Santos, São Jorge de
Ilhéus, Paraguaçu e Itaparica, essas duas últimas elevadas à condição de
capitania em 1556 e 1558, respectivamente. (SEI, 2001)
Como atribuições dos donatários, as vilas foram erigidas no século XVI
para sediar as capitanias e transformaram-se no ponto de partida para a
evolução territorial e administrativa da Bahia. Correspondem assim, aos
municípios originais, para os quais não há nenhum registro que evidencie
relação de cunho territorial ou administrativa com outra unidade territorial além
da própria capitania. São considerados municípios originais Porto Seguro, São
Jorge de Ilhéus e Salvador, esta última nasce por uma determinação do então
governador geral Tomé de Souza com a função de capital do poder colonial.
Nesse período, final do século XVI, o processo de ocupação estava restrito
à sede das capitanias e às poucas vilas fundadas até então, a grande parte
delas nas margens dos rios. A porção litorânea ao sul do território, que se
estende onde atualmente localizam-se os municípios de Valença até Porto
Seguro, caracterizava-se pelo baixo índice de ocupação em razão da
resistência indígena.
O século XVII é marcado pela conquista do chamado sertão através das
expedições dos bandeirantes que partiam da Capitania de Minas Gerais e da
13 Ordem religiosa com fins pastorais cujo objetivo era propagar a fé cristã, convertendo os
infiéis e punindo os hereges (EISENBERG, 2000) 14 Grandes porções de terras concedidas aos portugueses, os quais deveriam direcionar
recursos próprios para colonizá-las. Este foi o modelo de ocupação adotado pela coroa portuguesa para evitar possíveis invasões estrangeiras.
98
Capitania Bahia de Todos os Santos. Em ambas as frentes de expansão
territorial o rio São Francisco foi usado como norteador. Segundo a SEI (2001)
nessa empreitada foram incorporadas as terras pertencentes à capitania de
Pernambuco às margens esquerdas do rio Traipu e Pajeú. Nesse mesmo
período foram criadas as vilas de Nossa senhora da Ajuda de Jaguaripe
(1697), Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira (1698) e São
Francisco da Barra do Sergipe do Conde (1698)
No início do século XVIII as explorações bandeirantes encontraram ouro
atraindo um grande fluxo populacional para o interior, o que originou a vila de
Santo Antônio de Jacobina. Nesse mesmo período, o então conhecido Sertão
de Rodelas foi anexado à capitania de Pernambuco e a comarca do Rio São
Francisco, até então pertencente à capitania Sertão de Pernambuco, foi
desmembrada sendo parte anexada a Sergipe e outra parte à Bahia. (SEI,
2001)
Já foram sinalizadas anteriormente as razões que levaram ao colapso do
sistema de capitanias hereditárias. O resultado foi que, no final do século XVIII,
os territórios pertencentes às capitanias de Porto Seguro, São Jorge de Ilhéus,
Paraguaçu e Itaparica foram anexados pela Capitania de Todos os Santos, a
qual passa a ser denominada de Capitania da Bahia e estava estruturada em
quatro comarcas: Bahia, Recôncavo, Sertão de Baixo e Sertão de Cima. (SEI,
2001) A comarca do Recôncavo vivenciou grande florescência comercial em
razão da cultura de fumo e cana-de-açúcar.
Apesar do insucesso do sistema de capitanias, o processo de ocupação
continua e a expansão territorial intensifica-se para o interior, o chamado
sertão, bem como na direção norte e sul. Ao norte da Capitania da Bahia foi
criada a Comarca de Itapicuru, composta por Jeremoabo, Nova Soure e Vila do
Pombal. Nessa mesma direção surgiu a vila São Francisco das Chagas do Rio
Grande, oriunda de aldeamento criado pelos Jesuítas.
Ao iniciar o século XIX, o processo de expansão territorial havia criado
uma configuração muito próxima da atualidade. A Bahia era composta por 41
vilas, sendo que a pecuária teve uma importante participação na construção
deste território criando várias vilas como Correntina, Santa Maria da Vitória,
Santana, Santa Rita do Rio Preto, dentre outras. Muitas destas vilas foram
99
elevadas á condição de município em 1827. Ao final deste século o número de
municípios na Bahia perfazia um total de 121 municípios.
Ainda no século XIX, um novo impulso para a expansão territorial baiana
foi iniciado a partir da construção das ferrovias que desbravavam o sertão. Em
1850, foi inaugurada a linha férrea que partia de Salvador em direção a Senhor
do Bonfim e Iaçu. A construção das ferrovias baianas, apoiada na circulação de
fluxos herdada do período colonial, significou uma verdadeira mudança no
sistema de engenharia que tem como consequência transformações técnica no
território (SANTOS, 2001). Paralelo a esse processo, a cultura cacaueira
também lançava as suas bases para acelerar a ocupação da zona costeira em
direção ao sul do estado. Na verdade a cultura do cacau, iniciada no século
XVIII, promoveu a inserção desta porção territorial no modelo econômico
agroexportador, sendo responsável também pela construção de uma estrutura
social caracterizada pela presença de agentes hegemônicos que exerceram,
durante muito tempo, seu poder sobre toda a sociedade regional. Esses
agentes ficaram conhecidos como coronéis do cacau e acumularam riqueza via
exploração do pequeno produtor rural, como afirma Garcez (1981, p.29).
O pequeno proprietário, incapaz de capitalizar-se para atender à sua sobrevivência, e impossibilitado de recorrer ao credito oficial, uma vez que não dispunha de título legal da propriedade, era sempre conduzido a valer-se do financiamento usurário oferecido pelo comerciante e/ou pelo produtor mais forte. Com isso, vendendo barato o seu produto e pagando juros altos, quase sempre acabava por perder as terras que ocupara (...)
A autora chama atenção para os resultados da adoção de um modelo
econômico baseado na acumulação do capital via expropriação do homem pelo
homem. Contudo, essa prática não foi exclusiva desta porção territorial.
A cultura cacaueira foi um veículo para a ocupação da porção sudeste do
litoral baiano, entretanto, seria um equívoco delimitá-la como único mecanismo
de povoamento. As rodovias BR 101 e BR 116, paralelas à faixa litorânea,
também exerceram importante papel na atual configuração territorial do estado.
A Lei 1227 de dezembro de 1917 pode ser considerada o marco para a
organização do sistema rodoviário baiano, onde a principal meta era promover
100
uma melhor comunicação entre as zonas produtivas através da interconexão
com outros sistemas de transporte. Fato que não se materializou, pois o
transporte rodoviário subjugou o sistema ferroviário. Contudo, dois aspectos
podem ser considerados como reflexo da ampliação das estradas de rodagem
na Bahia, o primeiro refere-se à sua inquestionável conexão com a rede federal
de rodovias e a outra, de cunho mais interno, é a concentração das vias na
região metropolitana de Salvador e adjacências15.
A última transformação do território na Bahia vai ocorrer como resposta à
expansão da fronteira agrícola para o Oeste baiano. As áreas que compõem a
divisa com Tocantins e Goiás foram palco de uma grande instrumentação
técnica alimentada pela cultura de grãos, que foi incentivada por programas de
governo.
Empresários oriundos do sul e sudeste do país foram atraídos para a
região e passaram a imprimir uma nova dinâmica socioeconômica marcada
pela geração de conflitos sociais em razão da expulsão de pequenos
proprietários e posseiros de suas terras. O resultado foi uma forte migração
campo cidade, consequentemente o adensamento das cidades, bem como o
surgimento de novos núcleos de povoamento: Mimoso do Oeste é um exemplo
deste processo. No ano de 1997, o povoado de Mimoso foi elevado à categoria
de distrito do município de Barreira e um ano mais tarde passa a denominar-se
Luís Eduardo Magalhães e transforma-se em município.
Atualmente o território baiano é composto por 417 municípios que surgiram
de sucessivos desmembramentos de 11 municípios originários, a saber: Porto
Seguro, São Jorge dos Ilhéus, Salvador, Vila de Nossa Senhora da Ajuda de
Jaguaripe, Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, Santo Antônio
da Jacobina, São João Batista de Agua Fria, Vila de Itapicuru de Cima, Abadia
(atual Jandaíra), São Francisco das Chagas da Barra do Rio Grande e Pilão
Arcado.
O processo de ocupação começa ao longo do litoral, preferencialmente o
litoral do Recôncavo e seguindo em direção norte, sul e interior, o chamado
sertão. Os agentes que fomentaram tal empreendimento foram os jesuítas, o
15 O governo estadual foi responsável pela interiorização das vias de rodagem, a construção
da BA 052, Estrada do Feijão, e a BA 156 na segunda metade do século XX, são exemplos dessas rodovias.
101
próprio governo e os bandeirantes, estes últimos desenvolveram suas ações
muito mais pela caça aos índios do que pela busca de metais preciosos.
Outra característica da expansão territorial na Bahia refere-se ao fato de
estar atrelada à abertura de vias de circulação, sejam elas caminhos, estradas
ou rotas, sempre alimentados por interesses econômicos. O resultado foi a
criação de núcleos de povoamento que deram origem à atual configuração
territorial do Estado, definida a partir da criação da Capitania da Bahia e
posterior incorporação da comarca do Rio São Francisco, até então
pertencente a Pernambuco. Apesar de este processo datar do período colonial,
a ocupação efetiva dar-se-á no século XX.
Quanto aos limites fronteiriços do Estado, alguns problemas emergiram em
consequência de imprecisões de marcos fronteiriços. Segundo a SEI (2001,
p.115).
Como consequência desse processo de indefinição, o estado da Bahia apresenta problemas de limites com os estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Piauí. Salvam-se, tão somente, os limites representados pelos rios São Francisco, na divisa com os estados de Pernambuco e Alagoas, com seus afluentes Carinhanha e Verde Grande, no limite com Minas Gerais e pelo Rio Real com Sergipe;
Alguns desses problemas fronteiriços foram originados com a própria
evolução histórica, como exemplo, a polêmica que persiste até os dias atuais
quanto à posse da área limite entre a Bahia e Pernambuco, área que
correspondia à chamada Comarca de São Francisco, pertencente no passado
a Pernambuco. Durante o processo de discussão da Constituinte, em 1988,
houve dois movimentos de cunho territorial na Bahia. O primeiro foi a proposta
para criação do Estado de São Francisco, localizado na antiga Comarca de
São Francisco, cuja incorporação a Bahia foi feita como retaliação a
insurgência Pernambucana no episódio Confederação do Equador. A segunda
modificação pleiteada correspondeu à tentativa de institucionalização do estado
de Santa Cruz, na área que correspondia às capitanias de Ilhéus e Porto
Seguro. Ambas as propostas foram engavetadas, entretanto, representam a
materialização dos conflitos inerentes ao processo de formação territorial da
Bahia. (ANDRADE, 2003)
102
A Bahia chega ao século XXI com um território marcado por diversidades
socioespaciais, onde convivem simultaneamente realidades marcadas pela
pobreza e miséria de uma parcela significativa da população, ao lado de um
quadro que pode ser comparado aos chamados países desenvolvidos. O
desafio que se impõe é promover uma política de desenvolvimento que possa
reverter essa situação numa perspectiva que favoreça um maior dinamismo
nas regiões mais carentes, para tanto, o planejamento da ação do Estado
torna-se condição fundamental.
Conforme destacado em seções anteriores, na segunda metade do século
XX, práticas de planejamento tornaram-se mais frequentes sob a atuação de
Rômulo Almeida, na gestão de Antônio Balbino. Ele foi responsável pela
expressividade que as práticas de planejamento alcançaram na Bahia naquele
período, e tornou-se pioneiro no direcionamento de esforços de planejamento
estadual, através do Plano de Desenvolvimento Econômico e Social
(PLANDEB). Na verdade, até os anos 1950, a estrutura administrativa da Bahia
era simplificada e a gestão pública marcada pelo improviso. Foi a partir desse
período que o planejamento configura-se como estratégia de superação dos
entraves que impediam o crescimento da economia baiana e seu melhor
desempenho no cenário nacional.
Para Almeida (2012), a administração pública na Bahia limitava-se a
arrecadar receita e aplicá-la maciçamente em despesas de pessoal de caráter
burocrático em detrimento de sua aplicação em serviços de utilidade pública.
Outro aspecto apontado pelo estudioso diz respeito à deficiência do aparelho
administrativo em coordenar os diversos setores da administração e a falta de
programa de governo que equalize os recursos financeiros disponíveis com os
empreendimentos escalonados em ordem de prioridade. Assim sendo, só uma
mudança profunda poderia alterar o quadro de atraso da economia baiana.
A reforma proposta foi institucionalizada através da lei nº 2321 de 11 de
abril de 1966, na gestão do então governador Lomanto Junior. Todo a aparelho
administrativo foi reformulado com vias para uma descentralização
administrativa e implantação de um sistema orçamento-programa para
referenciar toda e qualquer ação de governo.
103
4.1.1 AS REGIÕES ADMINISTRATIVAS DA BAHIA.
O território baiano que seria alvo das ações dessa nova estrutura
governamental também deveria ser organizado com o objetivo de potencializar
os possíveis impactos positivos da ação do poder público. Nessa perspectiva a
Lei nº 232, que regulamentou a reforma administrativa, também estabeleceu a
divisão do estado em 21 Regiões Administrativas a partir do conceito de região
polarizadora16. Como afirma Vieira (2006, p. 127).
Essas 21 RAs foram conceituadas como um espaço contínuo definido em função da atuação do governo sobre o território, centralizando em sedes urbanas as agências e órgãos de atendimento nas mais diversas áreas de atuação do governo (saúde, fisco, educação, trânsito, segurança pública, dentre outros).
Segundo o autor, com essa regionalização, criava-se a figura dos centros
administrativos de cunho regional na medida em que unidades administrativas
setoriais passam a operar nas cidades sedes das regiões administrativas. De
acordo com essa concepção, foram identificadas as cidades que exercem
influência em cidades circunvizinhas através do seu comércio intra e
interregional, além de possuírem infraestrutura básica para tal função. A partir
desta regionalização houve um avanço na execução de políticas setoriais,
principalmente em educação e saúde, entretanto a sua eficiência quanto à
descentralização política é questionável, em razão da falta de autonomia
política dos centros administrativos que foram criados.
A partir desta regionalização houve um avanço na execução de políticas
setoriais, principalmente em educação e saúde, entretanto, a sua eficiência
quanto à descentralização política é questionável, em razão da falta de
autonomia política dos centros administrativos que foram criados. Outra
inconveniência é o seu caráter setorial, o que significa afirmar a ausência de
um planejamento integrado. A Figura 4 apresenta a divisão do território baiano
implementado com a reforma administrativa.
16 Conceito herdado da economia e formulado a partir da teoria dos Pólos de Crescimento de
François Perroux. (VIEIRA, 2006).
104
FIGURA 4 – BAHIA: AS REGIÕES ADIMINISTRATIVAS 1966
Fonte: Bahia, Lei 2321/66 de abril de 1966.
De acordo com essa concepção foram identificadas as cidades que e
Fonte: BAHIA, 1966
De acordo com essa concepção foram identificadas as cidades que exercem
influência em cidades circunvizinhas através do seu comércio intra e
interregional além de possuírem infraestrutura básica para tal função.
A Tabela 1 apresenta as regiões administrativas com suas respectivas sedes
regionais, bem como o quantitativo de município pertencente a cada unidade
administrativa.
Fonte: VIEIRA,
2006
FONTE: BAHIA, 1966
105
Dois anos mais tarde, a Comissão de Planejamento Econômico (CPE)
realiza estudo propondo uma nova regionalização composta por 16
microrregiões programas. Devido à inconsistência metodológica e ausência de
aspectos funcionais a proposta apresentava algumas falhas (SOUZA, 2008).
Ainda assim, o estudo foi usado durante as discussões para uma nova
regionalização do Estado, em razão das transformações urbanas que a Bahia
experimentou como reflexo da conjuntura econômica à época. Na década de
1960, o asfaltamento da BR 116 promoveu significativas mudanças na
estrutura urbana baiana, em razão do maior fluxo de transporte com os estados
do Rio de Janeiro e São Paulo. Uma dessas modificações foi que algumas
cidades passaram a comercializar diretamente com as metrópoles nacionais,
sem a intermediação de Salvador, como por exemplo, Vitória da Conquista,
Feira de Santana, Juazeiro, dentre outras. Paralelo a esse fato, houve um
aumento quantitativo no número de cidades médias. (BAHIA, 1973).
Segundo Souza (2008), para elaborar a nova proposta de regionalização,
foi utilizado todo material existente sobre regionalização da Bahia (...) “estudos
considerados foram: Zonas de influência Urbana (Milton Santos, 1958);
TABELA 1 - BAHIA: REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE 1966
Região Administrativa Sede Regional Total De Municípios Integrantes
1ª Região Salvador 18
2ª Região Feira de Santana 25
3ª Região Santo Antônio de Jesus 20 4ª Região Alagoinhas 16
5ª Região Serrinha 14 6ª Região Itaberaba 13
7ª Região Jequié 23
8ª Região Valença 13
9ª Região Ribeira do Pombal 15 10ª Região Bonfim 6 11ª Região Jacobina 13 12ª Região Seabra 22 13ª Região Brumado 25
14ª Região Juazeiro 8
15ª Região Xique-Xique 6 16ª Região Barreiras 14 17ª Região Santa Maria da Vitória 8 18ª Região Caetité 13 19ª Região Vitória da Conquista 22
20ª Região Itabuna e Ilhéus 32 21ª Região Medeiros Neto 13
Fonte: Vieira (2006)
106
Regiões Administrativas da Bahia (Lei 2.321 de 11.04.1966); Centralidade
(IBGE/IBG, 1958) e Regiões Funcionais Urbanas (IBGE/IBG, 1972)”. (SOUZA,
2008, p. 73).
Os trabalhos foram realizados em três etapas, na primeira foi feito todo o
levantamento das características físicas do território, sendo agrupadas às
unidades com características naturais semelhantes, nesta etapa foram
totalizadas 37 unidades territoriais. Na etapa seguinte, foi delimitar as cidades
que, apesar de estarem localizadas fora dos limites estaduais, exercem forte
influência no território baiano. Finalmente, a terceira etapa consistiu em
analisar a orientação dos fluxos comerciais existentes no interior do Estado:
todos os dados foram correlacionados permitindo definir a funcionalidade das
regiões.
O resultado apresentado estabeleceu como proposta uma regionalização
composta por 17 regiões administrativas com 25 subcentros. Além das 17
regiões administrativas, o estudo sinalizava para a possibilidade de serem
criadas 9 regiões econômicas a partir do reagrupamento das regiões
administrativas delimitadas no estudo.
Como resultado desse estudo foi lançado na gestão do então governador
Antônio Carlos Magalhães, o Projeto de Regionalização Administrativa em
1973. No projeto estava previsto uma descentralização dos serviços sociais
oferecidos à população, via estabelecimento de coordenadorias regionais (...)
“temos a criação das Diretorias regionais de Saúde-DIRES, Diretorias
Regionais de Educação-DIREC’s e das Circunscrições Regionais de Trânsito
(CIRETRAN’s)” (SOUZA, 2008, p.76).
A proposta de regionalização apresentada foi institucionalizada pelo
Decreto nº 23.731 de outubro de 1973. Em 1983, as leis nº 27 e nº 56 ampliam
número de regiões administrativas para um total de 27 regiões.
A década de 1980 foi marcada por grandes transformações políticas e
econômicas, o que impactou significativamente a estrutura organizacional do
aparelho estatal baiano. A primeira delas foi o reestabelecimento do regime
democrático no país, o que criou expectativas de uma maior autonomia política,
e a segunda, de caráter econômico, corresponde à crise estrutural da
107
economia mundial, iniciada ainda na década de 1970. Ambos os fatos
promoveram transformações na administração pública estadual.
(...) o Estado da Bahia encerrou a década de 80 vivenciando a sua maior crise, cujas causas, no entanto, não foram geradas, exclusivamente, nessa década, nem derivam, apenas, de ações implementadas e decisões tomadas no âmbito do próprio Estado. Para conformação dessa crise concorreram causas internas e externas ao estado e ao País. (BAHIA, 2002, p 53).
Além dos problemas de ordem institucional, o Estado não logrou êxito
quanto à questão dos desiquilíbrios regionais, pelo contrário, em função do
processo de desenvolvimento centrado na Região metropolitana,
territorialmente, os desequilíbrios foram acirrados. A intervenção do poder
público muitas vezes dá-se no sentido de consolidar mecanismos
desestrurantes ou de criar novos desequilíbrios. A política industrializante da
Bahia retrata esta afirmação, pois apesar do saldo positivo gerado com a
transformação do perfil produtivo agroexportador para um perfil industrial, ela
gerou dois problemas. O primeiro de dimensão econômica e social foi a
implantação de um parque concentrado em dois ramos: o químico/petroquímico
e metal/mecânico. Ambos com baixo poder de disseminação de dinamicidade,
principalmente no que tange à questão de empregabilidade e renda. Sob o viés
econômico, a opção deste tipo de parque industrial terminou por criar uma nova
relação de dependência em razão de seu caráter de complementaridade com a
indústria do sudeste. O segundo problema, tem repercussão direta com o
território, na medida em que favoreceu a concentração econômica na Região
Metropolitana de Salvador, relegando todo o restante do território à sua própria
sorte ou, de forma mais correta, a dinâmica de acumulação do capital.
Para agravar a situação, soma-se a inoperância dos centros ou
coordenadorias regionais, criadas a partir da regionalização de 1973, cujo
objetivo era descentralizar a máquina pública. Na prática, a realidade revelou
que cada órgão governamental passou a agir de forma isolada de acordo com
sua necessidade e limitações orçamentárias, em razão disso multiplicaram-se
divisões regionais do território baiano. Vieira (2006) chama atenção para este
fato, sinalizando que cada órgão/entidade governamental na Bahia atua sobre
108
o território estruturando-o de acordo com interesses próprios,
consequentemente as unidades regionais sobrepõem-se, sem que
necessariamente seus limites coincidam-se.
Neste contexto, o poder público enfrenta um desafio ao final da década de
1980, promover uma modernização administrativa de modo a responder
positivamente às novas demandas impostas. Simultaneamente, surge a
necessidade de revisão da regionalização em vigor, numa tentativa de dotar a
ação do governo de maior eficiência, para tanto, criou-se, através do Decreto
nº 2344 de 05 de abril de 1989, um grupo técnico para executar tal empreitada.
Tal grupo era composto por Antônio José Cunha (coordenador), Ana Maria de Sales Guerreiro e Raquel Alexandrina Pimenta e contava com a consultoria do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia - UFBA, através do Profº Drº Sylvio Bandeira de Mello e Silva (SOUZA, 2008, p. 77).
A primeira observação foi que, com raras exceções, as instâncias
governamentais não utilizavam a regionalização oficial. O estudo revelou uma
multiplicidade de regionalização elaborada via adoção de vários critérios.
Consequentemente, reside neste fato uma das razões da ineficácia das
práticas de planejamento.
Na década de 1990 uma nova proposta foi elaborada, com base na noção
de centralidade, acessibilidade e distância dos núcleos urbanos, criou-se desta
forma, um reordenamento funcional e hierárquico do sistema urbano. Essa
divisão foi mantida, apesar de poucas modificações quanto aos limites das
unidades territoriais, até a atualidade. A Figura 5 apresenta essa
regionalização, e a Tabela 2 traz o quantitativo de municípios que compõem
cada unidade regional.
.
109
FIGURA 5 – BAHIA: REGIÂO ADIMINISTRATIVA DA BAHIA 1991
110
TABELA 2 - BAHIA: REGIÂO ADIMINISTRATIVA DA BAHIA 1991
Nº Região de Influência Urbana
Total de Municípios Integrantes
1 Salvador 12 2 Alagoinhas 19 3 Feira de Santana 33 4 Santo Antônio de Jesus 27 5 Valença 10 6 Ipiaú 18 7 Itabuna/Ilhéus 23 8 Eunápolis 8 9 Teixeira de Freitas 13 10 Itapetinga 12 11 Vitória da Conquista 20
12 Jequié 16
13 Itaberaba 16
14 Serrinha 14 15 Ribeira do Pombal 19
16 Paulo Afonso 10
17 Juazeiro 8
18 Senhor do Bonfim 10
19 Jacobina 20
20 Irecê 21
21 Seabra 11
22 Brumado 18
23 Ibotirama 9
24 Guanambi/Caetité 22
25 Barreira 12 26 Santa Maria da Vitória 14
Fonte: VIEIRA, (2006)
Nesse período também foi retomado o conceito de região econômica como
critério para a delimitação da divisão regional, assim pensado, uma nova
regionalização foi proposta associando o conceito de influência urbana ao
conceito de região econômica como reflexo do processo de modernização da
base produtiva e da expansão da fronteira agrícola, em direção à porção oeste
da Bahia.
A regionalização baseada no conceito de região econômica assumiu a
função de nortear a dinâmica dos investimentos públicos e privados, ressalta-
se que a participação da iniciativa privada nesta dinâmica é muito mais
acentuada. Nessa perspectiva foram identificadas 15 regiões, cujas origens
estão diretamente relacionadas à base produtiva específica de cada fração do
território baiano, bem como pela própria força de atração demográfica exercida.
(VIEIRA, 2006). (QUADRO 3).
111
QUADRO 3 - BAHIA: REGIÃO ECONÔMICA E DE PLANEJAMENTO
Região Econômica Cidade Pólo e Subpólo
Região Metropolitana de Salvador Salvador/Camaçari
Litoral Norte Alagoinhas
Recôncavo Sul Santo Antônio de Jesus/ Santo Amaro
Litoral sul Ilhéus/Itabuna/Valença
Extremo sul Teixeira de Freitas/Eunápolis/Porto Seguro
Nordeste Paulo Afonso/Serrinha/Ribeira do Pombal
Paraguaçu Feira de Santana/Itaberaba
Sudoeste Vitoria da Conquista/Jequié/Itapetinga
Baixo Médio São Francisco Juazeiro
Piemonte da Diamantina Jacobina/Senhor do Bonfim
Irecê Irecê/Xique-Xique
Chapada Diamantina Seabra/Lençóis
Serra Geral Brumado/Guanambi/Caetité
Médio São Francisco Bom Jesus da Lapa/Ibotirama/Boquira
Oeste Barreira/Santa Maria da Vitória
Fonte: Vieira, 2006
Na verdade, a década de 1990 é marcada pela transformação do papel do
Estado que paulatinamente vai abandonar seu caráter de empreendedor,
delegando para a iniciativa privada essa função. Souza (2008) aponta para
esse novo perfil do Estado.
(...) Percebe-se em suas proposições a substituição do ideário keynesianista - simbolizado pelo estado do bem-estar social – pelas ideias neoliberais –a épocas já amplamente aplicadas tanto no contexto nacional como internacional. Assim, a ideia de que o Estado da Bahia é burocrático, ineficiente e sem recursos dá margem para que se realize um enxugamento da máquina administrativa com a consequente diminuição de suas atividades, o que deve atingir todos os setores, inclusive o planejamento. (SOUZA, 2008, p 84)
A divisão da Bahia em regiões econômicas (Figura 6) pode ser
considerada como um instrumento de delimitação das áreas com melhores
oportunidades para acumulação do capital no território baiano, pois demarcou
as diversas macro áreas produtivas, criadas a partir da própria expansão do
capital, processo este, heterogêneo no espaço e no tempo. O que significa
afirmar que a regionalização em foco traz à tona a existência de um
antagonismo marcado pela presença simultânea de áreas com grande
dinamismo econômico e áreas de pouca atratividade para o capital, como o
Piemonte da Diamantina.
112
Nessa perspectiva, a regionalização em pauta tem por mérito demarcar
as fortes desigualdades regionais, (re) produzidas pela dinâmica do capital.
FIGURA 6 - BAHIA: REGIÕES ECONÔMICAS E DE PLANEJAMENTO
Ao longo do tempo as desigualdades regionais foram ainda mais acirradas,
pois a seletividade territorial para onde direcionaram-se os investimentos,
113
sejam eles de origem privada ou pública, contribuiu para aumentar o fosso
entre as diversas macro áreas, onde as regiões econômicas localizadas nas
extremidades do território, Região Metropolitana de Salvador, Baixo-médio São
Francisco e Oeste, acabaram sendo beneficiadas. (SOUZA, 2008).
A regionalização proposta pela SEI a partir das regiões econômicas,
apesar das modificações sofridas, manteve-se durante muito tempo. Contudo,
as demandas criadas pela economia de mercado, impondo ao Estado a
necessidade de adotar uma postura que favorecesse uma inserção competitiva
no contexto nacional e internacional, culminaram na elaboração de uma política
baseada em eixos de desenvolvimento proposta no plano plurianual (PPA) de
2000/2003.
O PPA foi institucionalizado com a Constituição de 1988 art. 165 § 1º
(BRASIL, 1988), como reflexo do processo de democratização do país. Esse
instrumento regulamentou toda a prática de planejamento estatal,
estabelecendo “de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos e metas da
administração pública federal para as despesas de capital e outras delas
decorrentes e para as relativas aos programas de natureza continuada.”.
Na Bahia, o primeiro PPA, proposto para o quadriênio 1992-1995 foi
elaborado na gestão de Antônio Carlos Magalhães (ACM), governador eleito
em 1991. Foi sob sua gestão que a Bahia promoveu o ajuste fiscal e a reforma
institucional.
Os eixos de desenvolvimento representaram uma nova divisão
geoeconômica, elaborada a partir do PPA 2000-2003 no Programa Brasil em
Ação durante o segundo mandato de então presidente Fernando Henrique
Cardoso, quando foi implantado um novo modelo de planejamento, gestão e
orçamento governamental. Nesta divisão os limites dos entes federados não
são levados em consideração. (VIEIRA, 2006). A Figura 7 ilustra a divisão do
território baiano em eixos de desenvolvimento.
114
FIGURA 7 – BAHIA EIXO DE DESENVOLVIMENTO
Já foi mencionado em outra seção que, em nível nacional, os primeiros
PPAs não passaram de um cumprimento à legislação vigente. Na Bahia não foi
115
diferente, contudo, o PPA de 2000-2003 apontou para uma nova organização
do território a partir de eixos de desenvolvimento, identificados a partir de
corredores de circulação da produção econômica. Esse instrumento de
planejamento governamental foi o marco da retomada da dimensão territorial
ao planejamento.
O PPA para o período 2000-2003 estabelecia quatro estratégias de
desenvolvimento econômico para a Bahia: I-aumentar a qualidade de vida da
população; II-promover a expansão da base produtiva estadual; III-aprofundar e
consolidar a modernização do estado; IV-crescer, desconcentrar e diversificar.
A indicação da estratégia IV nasce como um reconhecimento que um dos
grandes entraves para uma melhor participação da economia baiana no
contexto nacional é a existência de desigualdades regionais e que, apesar das
inúmeras tentativas de reverter a situação, o poder público tem contribuído,
através da seletividade territorial, para corroborar com a situação.
Ao analisar a distribuição dos investimentos públicos nos eixos de
desenvolvimento percebe-se que há uma nítida concentração de recursos na
região metropolitana de Salvador em detrimento as demais regiões do estado.
Souza, (2008) pontua esse quadro:
A própria distribuição dos recursos orçamentários (...) demonstra o quanto a lógica de se privilegiar as regiões mais dinâmicas do território estava presente, pois o Eixo Metropolitano continua a receber o maior percentual de investimentos (29,68%), em contraposição as demais regiões que teriam percentuais bastante próximos de investimentos,
porém, em setores diferenciados.” (SOUZA, 2008 p100).
A divisão em eixos de desenvolvimento foi mantida pelo governo
subsequente de Paulo Ganen Souto 2003 a 2006, sendo ampliado o número
de unidades com o desmembramento dos eixos São Francisco, Planalto e
Chapada. A nova divisão apresenta um total de 13 eixos de desenvolvimento.
Outra característica da nova gestão foi o reconhecimento da necessidade
de uma maior integração territorial entre os eixos de maior dinamismo com
aqueles desprovidos desta característica, como por exemplo, a busca da
articulação entre Nordeste, Planalto Sudoeste e Central com os eixos
litorâneos. Nessa perspectiva a estratégia proposta no PPA 2004-2007 era
116
corrigir as desigualdades regionais, via internalização do dinamismo
econômico. Mais uma vez o discurso distancia-se da prática, na medida em
que a seletividade territorial no direcionamento dos investimentos mantém-se
reforçando a lógica concentradora e por prolongamento a reprodução do
capital. “PPA 2004/2007, possui uma melhor distribuição de recursos entre os
Eixos de Desenvolvimento que o seu antecessor, mantendo, porém a maior
quantidade desses recursos destinados ao eixo Metropolitano”. (SOUZA, 2008,
p. 103).
Essa divisão do território baiano não pode ser considerada como uma
regionalização, pois se baseia na articulação econômica e não na
homogeneidade dos fluxos interno a cada unidade, seus limites não são
estáveis, fixos, em razão da dinamicidade econômica, logo, a constante revisão
desta divisão territorial é uma necessidade recorrente.
O PPA 2008-2011 representou a substituição do eixo de desenvolvimento
pela adoção de uma nova divisão territorial referenciada no conceito de
território de identidade. Na verdade este documento nasce em meio ao
processo de transição política ocorrido na Bahia após as eleições de 2006,
quando o grupo político liderado pelo então senador Antônio Carlos Magalhães
(partido de direita) foi substituído por uma frente esquerdista com a eleição de
Jaques Wagner (Partido dos Trabalhadores-PT). A ascensão ao poder de
grupos de oposição na Bahia é o prolongamento de um processo politico que
ocorria nacionalmente, desde 2002 com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva,
como resposta popular ao desejo de mudança na elite política em todo país.
Foi a partir desta administração pública que se ampliou a participação da
sociedade civil na elaboração, implementação e controle das políticas públicas.
Acompanhando a tendência nacional, na Bahia a participação da
sociedade civil vai se efetivar com o PPA 2008-2011 através da realização de
plenária por todo o território baiano. A partir deste processo foi
institucionalizada, em 2010, a divisão territorial da Bahia com base na
identificação dos territórios de identidade.
117
4.1.2 TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE DA BAHIA
A divisão da Bahia através da institucionalização dos Territórios de
Identidade foi regulamentada pelo Decreto Nº. 12.354 de 25 de agosto de
2010, que define território de identidade como:
(...) agrupamento identitário municipal, formado de acordo com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos, e reconhecidos pela sua população como espaço historicamente construído ao qual pertence, com identidade que amplia as possibilidades de coesão social e territorial. (BAHIA, 2008).
Nesse contexto, a delimitação das unidades territoriais traz uma nova
abordagem ao incorporar a noção de pertencimento, segundo Saquet (2005),
com base nas ideias de Dematteis e Governa expressas no titulo “Território e
territorialità nello sviluppo locale”, a identidade é produzida historicamente por
relações indentitárias, coletivas. Para o autor, a identidade não se define pela
simples proximidade entre os sujeitos, mas pela dinâmica de agir coletivamente
sobre o território, impondo-lhe uma singularidade.
O debate sobre os territórios de identidade nasce a partir do processo que
levou à formulação do Programa Territórios Rurais pelo Ministério de
Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2003. Para a execução do programa foram
identificados no país, 164 territórios rurais que seriam utilizados como unidade
de planejamento, o que significa afirmar que o MDA, através da Secretaria de
Desenvolvimento Territorial (SDT) elaborou e implementou naquele período o
instrumento balizador para nortear toda a política nacional do setor agrícola,
especialmente aqueles ligados à agricultura familiar. Paulatinamente, a
estratégia de planejamento e a própria divisão territorial proposta pela SDT foi
sendo adotada por outros setores da administração pública nacional.
Na Bahia, a influência dessa nova política territorial também se fez sentir,
através da adoção do programa Territórios de Identidade, previsto no PPA
2008-2011, estabelecendo uma nova divisão do território baiano. (FIGURA 8).
118
Fonte Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, 2014.
Cabe ressaltar que essa divisão territorial já vinha sendo debatida pela
administração pública desde 2007, apesar de sua institucionalização só ter
ocorrido através de diploma legal em 2010. Esse PPA modificou a
regionalização baiana com a delimitação de 26 Territórios de Identidade,
demarcando o espaço geográfico a partir do sentimento de pertença de sua
população (BRASIL, 2012).
Segundo Serpa (2011), é perceptível um retorno às ideias de Vidal de La
Blache dentro da concepção do programa de regionalização adotado pela
Bahia, na medida em que se observa o uso do conceito de região-personagem.
FIGURA 8 - BAHIA TERRITÓRIO DE IDENTIDADE
119
A ideia de região-personagem é retomada como legitimadora de um processo de regionalização baseado nas identidades regionais. A região-personagem, fruto do pensamento de Vidal de La Blache é considerada a representação espacial fundamental da síntese harmoniosa e das heranças históricas. (SERPA, 2011 p.163)
Feitas as reflexões elencadas no parágrafo anterior, admite-se que o PPA
2008-2011 e o Programa Territórios de Identidade, criaram saldos positivos
para a prática do planejamento estadual. O primeiro saldo corresponde ao seu
caráter integrador quanto às políticas econômica, territorial, social e ambiental,
buscando assim um planejamento multissetorial. A busca pela integração
territorial também foi uma das características desta PPA, não que tenha sido
uma exclusividade específica deste documento, contudo, enquanto os planos
que o antecederam buscavam uma integração com as demais unidades
federativas e com países vizinhos, o PPA 2008-2011 apontava para a
necessidade de uma maior integração entre as diferentes porções territoriais da
Bahia, essa lógica foi expressa através da construção da ferrovia Bahia-Oeste.
Outro saldo positivo do programa Território de Identidade foi a ampla
participação da sociedade civil no debate sobre planejamento (FERREIRA;
FAGUNDES, 2012). Para elaboração do plano estratégico do PPA que
institucionalizou os Territórios de Identidade na Bahia foram realizadas
reuniões em diferentes pontos do território baiano, das quais resultaram
aproximadamente oito mil propostas, de cunho socioeconômico e territorial, a
serem adotadas pela gestão. Técnicos da administração pública estadual
sistematizaram as propostas que foram mais uma vez levada à plenária. Sobre
a metodologia utilizada, afirma Ferreira e Fagundes (2012):
Os encontros em todos os territórios permitiram a manifestação das singularidades que compõem a população e o estado da Bahia, contribuindo para que o planejamento do desenvolvimento do estado se alicerçasse sobre bases mais consistentes, considerando os diversos aspectos, evitando, assim, planos com conteúdos distantes das diversidades baianas.” (FERREIRA, 2012 p 6)
As autoras sinalizam para a importância da participação da sociedade no
planejamento, contudo, deve-se fazer uma reflexão sobre como essa
120
participação se dá, pois em muitos casos os indivíduos que participam desse
processo podem ser facilmente manipulados por ideologias que estão na
direção contrária aos interesses da sociedade. Em outros casos, o próprio
Estado pode, propositalmente ou não, realizar uma mediação equívocada o
que irá comprometer todo o processo, permitindo-lhe responsabilizar a
sociedade pelo insucesso do planejamento. Nessa perspectiva o discurso do
Estado distancia-se, de forma sublinear, de sua prática.
O tempo revelou que a proposta de desenvolvimento apresentada pelo
PPA 2008-2011, via adoção de uma nova regionalização estruturada em
territórios de identidade, mantiveram-se as disparidades socioeconômicas entre
os territórios, em razão dentre outros fatos da permanêcia da seletividade
territorial na distribuição dos recursos financeiros. Sobre esse tema, Souza
afirma:
(...) o território a que pertence a região metropolitana de Salvador continua a receber a maior quantidade de recursos (39,46%) em contraposição as áreas menos desenvolvidas do território baiano, como o Território Vale do Jiquiriça, com apenas 0,58% do total de recursos e o Território Itapetinga, com 0,46%. (SOUZA, 2008 p131)
Percebe-se que a ação do poder público na Bahia tem contribuído para a
permanência de um dinamismo econômico em pontos extremos do território,
criando o que Santos (2001) chama de espaços de fluidez e espaço da
lentidão, onde a dinâmica do capital é a base da sustentação de toda a
disparidade regional.
4.2 Regionalização do turismo na Bahia
Para além de todas as regionalizações apresentadas até aqui, o território
baiano também foi desmembrado tendo como critério o desenvolvimento da
atividade turística. Essa divisão foi proposta a partir do Programa de
Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR) na Bahia.
Este programa foi legitimado pela Portaria nº 1, de 29.11.91 como uma
tentativa de ordenar e normatizar o desenvolvimento do turismo no nordeste
brasileiro. O programa foi estruturado para ser desenvolvido em duas etapas,
121
PRODETUR NORDESTE I, com previsão de execução até 2005, e
PRODETUR NORDESTE II, em vias de conclusão. O recurso previsto para a
execução do programa correspondia a US$ 1,5 bilhão, sendo que 50%
financiado pelo BID e 50% custeado pelos governos Estaduais. Os recursos
que financiaram o programa na Bahia têm origem em uma tríplice fonte: Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) Governo do Estado e Ministério do
Turismo. A execução do programa também foi gerida por três instâncias:
governo do Estado, EMBRATUR, em âmbito nacional e em âmbito regional, a
Comissão de Turismo Integrado do Nordeste (CTI-NE), Banco do Nordeste-
(BNB) e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
Enquanto ação do Estado, o PRODETUR delineava as diretrizes para o
desenvolvimento do turismo no Nordeste, A gênese desse programa ocorre em
janeiro de 1990, quando o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e
os governadores dos Estados nordestinos traçam metas para o setor. Cada
Estado assumiu o compromisso de elaborar seus planos de desenvolvimento,
para tanto, empresas foram contratadas.
Nessa perspectiva, na Bahia foram identificadas regiões turísticas com maior
potencial para a atividade. Cabe ressaltar que essa regionalização foi herdada,
e posteriormente modificada pelo programa Caminhos da Bahia.
As regiões turísticas identificadas foram: Baía de Todos os Santos, Costa
dos Coqueiros, Costa do Descobrimento e Chapada Diamantina. Em 1993, a
partir de novos critérios de espacialização, foram criadas mais três zonas, a
Costa do Dendê, a Costa do Cacau e a Costa das Baleias. A divisão em zonas
turísticas foi delimitada a partir da diversidade de cenários, tradições culturais e
da presença de atrativos turísticos. Cada unidade territorial recebeu uma
denominação de acordo com sua identidade física ou econômica.
Sob o comando do Estado, ações foram desenvolvidas a partir do aporte
de recursos financeiros alocados em obras de infraestrutura básica, marketing
e educação para o turismo. Santos (2013) chama atenção que, entre 1991 e
2004, foram investidos um total de US$ 1,6 bilhão na melhoria e ampliação da
infraestrutura nas zonas turísticas, e que deste total, US$ 250.000.000 foram
recursos advindos do PRODETUR / Nordeste. Nesse processo, a Zona
122
Turística Bahia de Todos os Santos foi beneficiada com um maior quantitativo
de recursos. (TABELA 3)
TABELA 3 - INVESTIMENTOS PÚBLICOS NAS ZONAS
TURÍSTICAS DA BAHIA 1991-2005
Zona Turística US$ 1.000
Caminhos do Sertão 103
Caminhos do Oeste 14.683
Lagos do São Francisco 18.756
Vale do Jiquiriça 20.940
Costa dos Coqueiros 154.012
Baia de Todos Os Santos 1.007.550
Costa do Dendê 125.502
Costa do Cacau 156.066
Costa do Descobrimento 192.122
Costa das Baleias 95.499
Chapada Diamantina 225.785
Outras 111.365
TOTAL GERAL 2.122.386
Fonte: Bahia, 2005a.
O PRODETUR ao fazer um recorte espacial, criando zonas turísticas e seus
respectivos centros turísticos, delimitou uma divisão regional para exercer o
controle na administração e captação dos recursos financeiros para o
desenvolvimento do turismo na Bahia, onde o recorte espacial tem implicações
nas relações de poder, logo, no território.
Em 2005, a partir do programa denominado “Século XXI consolidação do
Turismo: a estratégia turística da Bahia para 2003-2020”, foram criadas novas
Zonas turísticas com a nítida estratégia de promover a interiorização da
atividade que até então se limitava à costa litorânea e, consequentemente, ao
predomínio do turismo sol e praia. (BAHIA, 2005a) Sendo assim, foram criadas
as Zonas: Caminhos do Oeste, Lagos do São Francisco, Vale do Jiquiriça e
Caminhos do Sertão, além do desmembramento da Zona Chapada Diamantina
em quatro circuitos: Circuito Chapada Norte, Circuito do Diamante, Circuito do
Ouro e Circuito Chapada Velha. (MAPA 8).
123
FIGURA 9 - BAHIA ZONAS TURÍSTICAS 2005
124
O PRODETUR ao fazer um recorte espacial, criando sete zonas turísticas e
seus respectivos centros turísticos, delimitou uma divisão regional para exercer
o controle na administração e captação dos recursos financeiros para o
desenvolvimento do turismo na Bahia, onde o recorte espacial tem implicações
nas relações de poder, logo, no território.
Como já foi mencionado em outra sessão, o ano de 2006 foi marcado pela
mudança na gestão política do país que deixava de ser administrado por
partidos de direita em favor da gestão do grupo político classificado como
sendo de esquerda. Na Bahia esse processo também ocorreu com a eleição do
governador Jaques Wagner. Em razão da sinergia da gestão federal e a
gestão estadual, as políticas de turismo foram elaboradas em consonância,
apesar de muitas vezes terem sido executadas de forma isolada.
Neste cenário politico, o Plano Nacional do Turismo 2007-2010 aparece
como instrumento norteador da política nacional para o desenvolvimento do
setor, enquanto o planejamento cuja denominação era: Estratégia Turística da
Bahia: Terceiro Salto 2007-2016. (BAHIA, 2011)
O documento Estratégias Turísticas para a Bahia apresenta uma ampliação
do número de Zonas Turísticas a partir da identificação de mais três zonas:
Caminhos do Sudoeste, Vale do São Francisco, Lagos e Cânions do São
Francisco, esta última desmembrada da Zona Turística Lagos do São
Francisco.
Partindo-se do princípio de que a descentralização territorial do turismo propicia desenvolvimento socioeconômico de regiões deprimidas economicamente, a revisão do zoneamento turístico da Bahia foi realizada partindo-se do inventário das potencialidades turísticas dentre os 417 municípios baianos. Como resultado, o mapa turístico da Bahia passou a contar com 13 zonas turísticas que incorporam 156 municípios (...). ( BAHIA, 2011)
Percebe-se que os programas adotados pelo poder público estadual
apresentam contradições. Desde o programa Estratégia Turística da Bahia
para 2003-2020 até o programa Estratégia Turística da Bahia: Terceiro Salto
2007-2016 o Estado tem direcionado ações para alavancar o turismo no interior
do território baiano, contudo, a distribuição dos recursos investidos na atividade
125
demonstram uma predileção para áreas litorâneas onde a dinâmica turística é
possuidora de certa maturidade.
Contraditoriamente, o Estado aponta estratégias de desenvolvimento
econômico de uma determinada área ao mesmo tempo em que cria condições
para a sua exaustão, pois a disponibilidade de recursos financeiros e técnicos,
para a dinâmica econômica destas áreas, é escassa e o contrário ocorre nas
áreas em que a atividade apresenta certo grau de dinamismo econômico. Tal
processo materializa a (re) produção de espaços desiguais, onde o Estado,
para atender os interesses do capital, acaba relegando áreas deprimidas às
tessituras do mercado. O resultado é a promoção de um desenvolvimento
desigual.
(...) não se trata da desigualdade socioeconômica entre espaços geográficos em geral, mas da produzida pelo capitalismo. Em outros termos: é a geografia do desenvolvimento desigual especificamente capitalista que importa aqui. E esta principia pela diferenciação do espaço geográfico que resulta dos processos sociais cotidianos. (THEIS, 2009, p. 246).
Para o autor, a própria dinâmica capitalista cria espaços diferenciados
reforçando a desigualdade. Nesse contexto, o Estado como agente mediador
da relação entre o coletivo e o privado, entre o social e o capital, acaba por
beneficiar a acumulação do capital. A distribuição dos investimentos privados
direcionado para o turismo baiano demonstra claramente que, da mesma forma
que o poder público, a seletividade territorial é uma característica permanente.
Sobre esse tema, Santos (2001) reforça afirmando que o capital:
(...) conduz a uma seletividade maior na distribuição geográfica dos provedores de bens e serviços, levados pelo império da competitividade a buscar, sob pena de seu próprio enfraquecimento, as localizações mais favoráveis. A tendência à concentração econômica agrava essa tendência. (SANTOS, 2001 p 302)
Para o autor, a própria dinâmica do capital, na sua busca constante pela
acumulação de riquezas, produz uma dinâmica territorial cujo alicerce reside na
concentração econômica. (TABELA 4).
126
TABELA 4- INVESTIMENTOS PRIVADOS NAS ZONAS TURÍSTICAS DA BAHIA 1991-2020 (US$ 1000,00).
Zona Turística
Concluídos
Em Execução
Costa dos coqueiros 281.499 167.426 Baía de todos os santos 258.412 41.067 Costa do dendê 29.146 - Costa do cacau 78.622 41.200 Costa do descobrimento 277.946 5.00 Costa das baleias 51.201 - Chapada diamantina 18.350 200 Outras 16.545 - Total geral 1.011.721 254.893
Fonte: SECULT, 2005
Diante do exposto, a ação do Estado, através das políticas de turismo,
tem contribuído para permanência de um quadro socioespacial desigual.
Apesar do discurso está centrado na interiorização da atividade, ou ainda, na
redução dos desníveis econômicos, a análise da realidade revela o contrário. O
estudo sobre a Costa do Dendê, em especial, do município de Valença, no que
tange ao turismo, é bastante revelador.
4.3 Turismo na Zona da Costa do Dendê
A Zona Turística Costa do Dendê compõe juntamente com a Zona Costa
do Cacau o Pólo Turístico Litoral Sul17. Composto por 14 municípios com
características socioculturais e ambientais próprias, no Litoral Sul os municípios
tem um traço comum, a predominância, com raras exceções, de condições
sociais ruins e de economias municipais pouco produtivas.
Nesse pesquisa a atenção foi direcionada para a análise da Zona Turística
Costa de Dendê, representada pelos municípios Valença, Taperoá, Cairu, Nilo
Peçanha, Ituberá, Igrapiúna, Camamu e Maraú, com especial destaque ao
município de Valença.
17 Oficialmente a denominação Litoral Sul é utilizada em duas regionalizações distintas. No
programa Territórios de Identidade o Litoral Sul é composto por 26 municípios abrangendo uma área total de 14.736,20 km². No Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste o Pólo Turístico Litoral Sul corresponde a um total de 14 municípios distribuído em uma superfície de 8.736.976.000 km². Os critérios usados na delimitação de cada uma dessas divisões territoriais também são diferentes, contudo, o uso de denominações iguais para unidades territoriais distintas pode gerar problemas.
127
FIGURA 10 - PÓLO TURÍSTICO LITORAL SUL: COSTA DO DENDÊ E COSTA DO CACAU
A Figura 10 expõe a localização dos municípios que compõem o Polo
Litoral Sul, destacando a zona Costa do dendê, onde situa-se o município de
Valença. Os principais atrativos turísticos da Costa do Dendê estão
diretamente relacionados à prática da modalidade turismo sol e praia, e não
poderia ser diferente, em razão das suas características geográficas como a
128
longa faixa litorânea com 115 km de extensão. Entretanto, a presença de uma
significativa riqueza cultural, histórica e ecológica nos seus diversos
ecossistemas favorece à prática de outras modalidades como o turismo de
aventura, ecoturismo, turismo náutico, dentre outros.
A denominação desta zona turística está atrelada a uma das culturas
desenvolvidas na região, o dendê, cujo derivado, óleo de dendê, é amplamente
usado na culinária baiana, e foi responsável pela construção da identidade
regional da zona turística em questão. Ressalva-se que na Bahia o cultivo
desta palmeira não está restrito apenas aos municípios da Costa do Dendê,
contudo a maior produtividade estadual do dendê situa-se nos municípios
pertencentes a esta área, são eles: Valença, Taperoá, Camamu e Cairu.
Segundo BAHIA INVEST (2005) o beneficiamento do dendê é feito de duas
formas distintas, a primeira através dos tradicionais rodões (unidade artesanal
de extração do óleo) responsável por cerca de 3000 empregos diretos e
indiretos e de parcela significativa da renda regional. O segundo segmento, o
beneficiamento é feito com o uso de uma maior tecnologia, está concentrado
em quatro empresas, Opalma - Óleo de Palma S/A, Oldesa – Óleo de Dendê
S/A, Mutupuiranga Industrial Ltda e Jaguaripe S/A.
Mas não só da produção e beneficiamento do dendê sobrevive a economia
regional da Costa do Dendê, outras culturas também merecem destaque como
o cacau, a piaçava, cravo, coco da baía, guaraná e borracha.
A prática agrícola na Costa do Dendê apresenta baixos índices de
produtividade em razão das precárias condições de cultivo e da baixa
densidade técnica no meio rural regional.
A análise da estrutura do Produto Interno Bruto (PIB) regional é bastante
reveladora. Percebe-se uma grande participação do setor industrial na
economia regional. Entretanto, na maioria dos municípios da Costa do Dendê,
o setor secundário tem uma expressividade limitada, logo, o que explica a atual
estrutura do PIB regional diz respeito às características econômicas de um
município em particular, o município de Cairu.
A Figura 11 demonstra o PIB dos municípios da Costa do Dendê.
129
.
O peso dessa participação do setor industrial no PIB se deve à cadeia
produtiva de gás natural instalada, a partir de 2002, no município de Cairu
através da exploração do Campo Manati.
Com relação ao PIB no ranking estadual Cairu passou da 203ª posição em
2006 para a 23ª posição em 2008. Em 2011, a arrecadação com a exploração
FIGURA 11 - COSTA DO DENDÊ: PIB 2012
130
e o refino de petróleo, através do pagamento de royalties recebidos pelos 2,1
bilhões de metros cúbicos produzidos, naquele ano, rendereram aos cofres do
município quase R$ 5 milhões, alçando o PIB per capita municipal para a
segunda posição estadual. (LONGO, 2013).
Os índices elencados anteriormente evidenciam a importância que o setor
de comércio e serviços possui para a economia dos municípios dentro da
Costa do Dendê. Nesse cenário, a atividade turística aparece como mais uma
alternativa econômica.
Dentro da Costa do Dendê os principais destinos dos fluxos turísticos estão
localizados nos municípios de Cairu, Maraú e Valença, especialmente Morro de
São Paulo, distrito de Cairu. Segundo o Observatório do Turismo, entre 2008 e
2011, houve um significativo aumento do fluxo global de turistas para esta
região, onde o índice passou de 1,9% para 5,8% do total de visitantes para o
estado da Bahia. A despeito deste aumento, a Zona estudada está ainda muito
aquém, das demais do estado, no concernente à presença de turistas.
A baixa atratividade da Costa do Dendê é um reflexo da política turística
desenvolvida pelo poder público no território baiano onde, ao longo do tempo
houve um maior direcionamento de recursos financeiros e técnicos para
algumas áreas, especialmente a Baía de Todos os Santos. Essas áreas
passaram a acumular condições de infraestrutura mais favoráveis a dinâmica
turística.
Em 2011 os maiores fluxos foram observados nas zonas turísticas da Baía
de Todos os Santos, Costa do Descobrimento e Costa dos Coqueiros que
juntas acumularam, naquele ano, mais de 60% de todo o fluxo turístico
estadual. Desse total, mais de 40% está concentrado na Região Metropolitana
de Salvador (FIPE, 2012). (TABELA 5).
131
TABELA 5- PARTICIPAÇÃO DAS ZONAS TURÍSTICAS NO FLUXO TURÍSTICO RECEPTOR DOMÉSTICO E INTERNACIONAL DA BAHIA EM 20111
Zona Turística
Fluxo
Turístico %
Bahia de Todos os Santos 36,9
Costa do descobrimento 14,1 Costa dos coqueiros 10,1
Costa do cacau 6,2
Costa do dendê 5,8
Costa das baleias 5,5 Caminhos do sertão 5,2 Chapada diamantina 4,5
Caminhos do oeste 4,3 Caminhos do sudoeste 2,3 Lagos e Canyons de São Francisco 1,5
Caminhos do Jiquiriçá 0,9 Vale do São Francisco 0,5 Nenhuma 2,3
TOTAL 100,0
Fonte: FIPE (2012) 1 Ao dados foram representados de forma relativa, pois assim é possível
vislumbrar a participação da cada Zona Turística no fluxo turístico estadual.
Contrariando essa lógica, percebe-se que, apesar de sua baixa
atratividade, é na Costa do Dendê que se encontra a localidade onde os gastos
realizados pelo turista são maiores. Segundo pesquisa da Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas (FIPE, 2012) Morro de São Paulo, distrito do
município de Cairu, apresenta o maior gasto per capita/dia dentre todas as
localidades pesquisadas no território baiano. Em média o gasto diário do turista
que visita Morro de São Paulo é de R$ 211,00, porém, quando se avalia per
capita desassociado do período de permanência, a liderança é assumida por
Arraia D’ Ajuda, distrito do município Porto Seguro.
Em relação ao Gasto per capita, os turistas de Arraial D´Ajuda continuam se destacando com média de R$ 731,00, seguido por Morro de São Paulo (R$ 693,00), Salvador (R$ 593), Lençóis (R$ 543,00) e Praia do Forte (R$ 541,00) (...) Quando a comparação é realizada em termos do Gasto médio per capita/dia, Morro de São Paulo aparece em primeiro lugar com R$ 211,00, seguido por Praia do Forte (R$ 171,00), Arraial D´Ajuda (R$ 166,00) e Lençóis (R$ 158,00). (FIPE, 2012, p. 48)
132
A pesquisa revela que o turismo em Morro de São Paulo apresenta grande
poder de geração de renda, principalmente no ramo de hospedagem e
alimentação o que representa 40% dos gastos do visitante. (FIPE, 2012).
Essa posição de Morro de São Paulo quanto aos gastos do turista deve-se
ao fato que na grande maioria das cidades analisadas, o meio de hospedagem
utilizado pelo visitante é a casa de amigos ou parentes, enquanto em Morro de
São Paulo predominam hospedagens comerciais como pousadas, hotéis etc.
Aliado a este fato, outra variável deve ser considerada, o tempo de
permanência do visitante. Não que essa variável seja determinante para
explicar o elevado gasto do turista, entretanto através desta, é possível
entender melhor a dinâmica do turismo em Morro de São Paulo. Nesta
localidade, o tempo de permanência do visitante é menor, enquanto a
permanência do turista é de 8,8 pernoites em Salvador e 6,0 em Porto Seguro,
em Morro de São Paulo é de 3,3 pernoites.
Ressalta-se ainda que Morro de São Paulo e Porto Seguro ocupam a
segunda posição no quadro de preferência dos turistas estrangeiros atraindo,
cada um, 10,7% dos turistas que visitam a Bahia. Salvador exerce liderança
quanto à predileção do destino do turista internacional.
É notável a participação do município de Cairu, através do seu distrito
Morro de São Paulo, na dinâmica regional da economia turística da Costa do
Dendê, todavia o turismo nesta porção do território baiano não se limita apenas
a Morro de São Paulo. Cidades como Maraú e Valença também possuem uma
dinâmica produtiva no setor.
Neste momento do estudo será feita uma análise da atividade turística no
município de Valença, importante centro turístico da Costa do Dendê. Porém, a
sua participação econômica dentro do turismo baiano é muito limitada, se
comparada a outros destinos turísticos da Costa de Dendê.
133
5 TERRITÓRIO E TURISMO EM VALENÇA E GUAIBIM: LEITURA SOBRE A REALIDADE INVESTIGADA
O turismo enquanto atividade econômica promove significativas
transformações onde é desenvolvido. Cruz (2000, p.8) discute sobre esta
questão afirmando que, “outra face da dimensão espacial do turismo diz
respeito ao fato de esta ser a única atividade econômica moderna que
consome, elementarmente, o espaço.”
Todavia, não é todo e qualquer espaço que pode exercer a função turística,
exceto sob condições de incisivo interesse do capital. A função turística
portanto, está atrelada à presença de atrativos, instrumentos e instalações
turísticas. Disto decorre um conjunto indissociável de sistema de objetos e
ações, orientado sob a lógica requerida pela atividade. Trata-se de um
processo no qual o espaço atua como condição e condicionante para sua
materialização.
Diante do exposto, desenvolve-se o processo de apropriação de
determinadas parcelas do espaço geográfico pelo turismo, repercutindo assim,
na constituição de territórios turísticos, entendidos como frações do espaço,
cuja funcionalidade está associada às práticas de lazer e ócio.
Enquanto matéria-prima do turismo, percebe-se que, apesar da existência
de potencialidades ambientais e culturais que favorecem significativo fluxo de
turistas, o turismo é praticado exclusivamente em Guaibim e na sede municipal.
As características ambientais dos outros distritos também favorecem ao
ecoturismo e turismo de aventura, contudo apenas esses dois espaços
apresentam uma maior dinâmica turística, em razão do fluxo de visitante
concentrar-se nestas localidades. A Figura 12 mostra os limites dos distritos e
da sede de Valença, permitindo visualizar a dimensão da concentração
espacial da atividade.
134
FIGURA 12 - DISTRITOS DO MUNICÍPIO DE VALENÇA
135
O turismo no município de Valença é mais uma possibilidade para dinamizar a
economia local a partir da geração de renda. Quem visita Valença vem em busca do
consumo da natureza, contudo, não só o consumo da natureza atrai e mantém o
visitante. É necessária a oferta satisfatória de outros equipamentos urbanos, além
de todo um aparato institucional que regulamente e fomente o desenvolvimento da
atividade. Quanto ao processo de qualificação do espaço com vistas a fomentar as
práticas turísticas, o poder público deve exercer participação através do
planejamento e execução de políticas públicas.
Com base na capacidade de criar territórios, o turismo responde pela
constituição de desigualdades socioespaciais. O desenvolvimento do turismo
apresenta ritmos diferenciados de crescimento na Zona Turística Costa do Dendê,
com destaque para o distrito de Morro de São Paulo no município de Cairu, o que
significa afirmar que, em virtude das especificidades socioespaciais e da própria
dinâmica do capital imprime-se um desenvolvimento desigual. Sobre esse processo
Santos (1996) afirma que cada porção da superfície recebe objetos em detrimento
de tantos outros objetos que determinam a sua singularidade, o que condiciona e
simultaneamente resulta em desigualdade.
Os objetos técnicos são susceptíveis de influenciar comportamentos e, desse modo, presidem a certa tipologia de relações, a começar pelas relações com o capital e o trabalho. (...) geradoras de uma seletividade de uso (...) que são interpretações locais das distancias, dos custos, dos preços, das normas gerais (...) mediante sempre se estão redefinindo as especializações (...). (SANTOS, p. 181).
Em Valença foi possível observar esse processo na medida em que a partir das
práticas turísticas repercutiram em especulação imobiliária no distrito do Guaibim.
Observa-se que a ocupação do solo neste distrito é marcada pela seletividade
territorial por parte do capital, onde os proprietários de maior poder aquisitivo se
estabeleceram ao longo da orla marítima, na Avenida Taquari, distrito de Guaibim.
Devido à proximidade com a praia, o solo nesta área é mais valorizado, apesar
da ocupação irregular, por se tratar de solo sob a jurisprudência da Marinha sendo
vedada a sua ocupação. Entretanto, a força do capital utiliza estratégias para
fomentar a acumulação, onde a estratégia utilizada foi a negociação com o poder
136
público local que enxergou nesses empreendimentos mais uma possibilidade de
geração de emprego e renda. (FOTO 9).
FOTO 9 - EMPREENDIMENTO HOTELEIRO NA PRAIA DE GUAIBIM
Fontes: Valença (2004)
Devido à especulação imobiliária, os pequenos empreendimentos acabaram por
se instalar mais distante da linha de praia, próximo ao centro urbano do distrito onde
a valorização turística é menor. Santos (1996) a esse respeito afirma que os lugares
se distinguem pela diferente capacidade de oferecer rentabilidade aos
investimentos: essa rentabilidade é maior ou menor, em virtude das condições
locais. Nessas condições, esses estabelecimentos comerciais têm expressiva
dificuldade de se manter no mercado, somam-se a esse quadro os problemas
ligados à sazonalidade.
A pesquisa de campo também revelou, através das entrevistas, questionários e
observação direta, a desigualdade socioespacial, quanto à falta de acesso a
determinados serviços de saneamento básico, que produz espaços diferenciados.
As relações entre a oferta de serviços sociais e a população participam de um jogo
de oferta e demanda igualmente assimétrico.
Sousa (2006) chama a atenção para a decorrente desigualdade de acesso aos
serviços de abastecimento de água e esgoto em Valença, afirmando que:
137
(...) os serviços públicos de abastecimento de água e de esgoto, no município, seguem uma lógica de segregação espacial, da mesma forma que uma segregação dos investimentos e de política pública, atendendo a espaços de maior valorização social e econômica. (SOUSA, 2006, p 99)
Segundo a autora, a melhor oferta dos serviços ligados ao saneamento básico
ocorre no distrito sede e no distrito de Guaibim em razão de maiores investimentos
públicos nestas áreas, o que significa afirmar que a ação do poder público comporta-
se de forma diferenciada em função da natureza socioeconômica do espaço. Esses
dois distritos, acumulam as atividades mais dinâmicas do município,
consequentemente, concentram também o maior contingente populacional,
imprimindo a desigualdade socioespacial.
Neste trabalho optou-se por analisar as variáveis que impactam no
desenvolvimento do turismo. A oferta turística através da infraestrutura urbana de
saneamento básico, o sistema de hospedagem e a organização institucional do
poder público local. Ressalva-se que para um estudo mais aprofundado sobre o
desempenho turístico faz-se necessário estudar outras variáveis como: sistema de
transporte, vias de acessibilidade dentre outras.
5.1 Espaço turístico em Valença e Guaibim
Referenciada na concepção de Boullón (2002) sobre o espaço turístico
observou-se que, em razão da presença e distribuição territorial dos atrativos
turísticos no município de Valença, apenas o distrito sede e o de Guaibim podem ser
considerados espaços turísticos.
De acordo com a classificação proposta por Boullón (2002) a cidade de Valença
pode ser classificada como centro turístico, porém, em razão de suas peculiaridades
é possível identificar neste espaço turístico a tipologia centro de escala, em razão de
seu papel de conexão entre o transporte rodoviário e hidroviário para os fluxos
turísticos com destino a Morro de São Paulo, o mais importante centro turístico da
Costa do Dendê. Esse quadro pode ser justificado pela expansão do capital via
desenvolvimento desigual edificado a partir da atividade turística, cuja produção de
espaços turísticos deu-se de forma diferenciada na Costa do Dendê. Smith (1988)
138
chama atenção para o fato que a tendência contraditória para a diferenciação e para
a igualização determina a produção capitalista do espaço, assim sendo, essa
contradição que reside no âmago do capitalismo, inscreve-se na paisagem em um
desenvolvimento desigual. Consequentemente, o turismo nos diferentes espaços
turísticos, como Valença e Morro de São Paulo, são possuidores de diferentes taxas
de crescimento econômico, e “desigualdade espacial não tem sentido algum, exceto
como parte de um todo que é o desenvolvimento contraditório do capitalismo”.
(Smith 1988, p. 151).
Em razão dessa proximidade com outros atrativos turísticos pertencentes ao
município de Cairu, percebe-se que o fluxo de visitantes para Valença e Guaibim é
pequeno comparado a demanda para a Ilha de Tinharé, pertencente à Cairu.
(TABELA 06)
TABELA 6- FLUXO GLOBAL DE TURISTAS NOS PRINCIPAIS DESTINOS TURÍSTICOS DA COSTA DO DENDÊ - BAHIA 2003–2005
Destinos Turísticos 2003 2004 2005
Morro de São Paulo 117.720 122.420 130.100
Valença 70.630 73.450 78.060
Bahia 4.708.605 4.897.000 5.204.100
Fonte: Bahia (2005a).
O Relatório de Desempenho Turístico na Bahia 2006 (BAHIA, 2005) traz
informações sobre o desempenho valenciano frente ao turismo estadual. Usando os
dados sobre movimentação de passageiro nos principais aeroportos baianos
percebe-se que os números produzidos por Valença não são muito expressivos.
Segundo informações contidas no documento, entre o período de 2003 a 2005, o
número de passageiros com destino para Valença passou de 9.278 para 14.537, o
que representa um crescimento de 36%. Contudo, ao analisar o total de passageiros
que desembarcam na Bahia, observa-se que participação deste município é muito
pequena, perfazendo um total de 3% de todo o desembarque estadual no ano de
2005. (TABELA 7)
139
TABELA 7- TOTAL DE PASSAGEIROS QUE DESEMBARCAM NOS AEROPORTOS DA BAHIA E VALENÇA
Ano Bahia Valença
2003 3.444.930 9.278
2004 4.372.06 10.156
2005 4.911.400 14.537
Fonte: Bahia (2005a).
Algumas ressalvas devem ser feitas aos se analisar esses números. A princípio o
número de embarques e desembarques de passageiros não é suficiente para avaliar
o desempenho turístico de Valença, pois a infraestrutura do aeroporto local não
permite a existência de um maior fluxo de passageiros. A escassez de conexões
com outros aeroportos também reduz o uso dessa modalidade de transporte pelo
turista que visita Valença e Guaibim.
As informações levantadas pela pesquisa de campo, a partir da aplicação de
questionários com turistas, permitem inferir que uma parcela significativa dos turistas
60% (sessenta por cento) em Valença e Guaibim são originário de municípios que
se situam em locais cuja distância até Valença não ultrapassa 200 km. Isso favorece
o transporte rodoviário em detrimento do aéreo. As principais cidades emissoras são
Salvador, Ipiaú, Feira de Santana e Santo Antônio de Jesus.
Dando continuidade à análise sobre a origem dos turistas, referenciada nos
estudos de Boullón (2005) sobre os municípios turísticos. Esse autor estabelece
uma classificação dos centros turísticos segundo a origem do mercado emissor,
propondo que, quando a distância entre os atrativos turísticos e os municípios de
origem não ultrapassem 200 km, o centro pode ser classificado como centro interno
de abrangência local. A pesquisa demonstrou que o distrito de Guaibim pode ser
inserido nesta categoria, pois há um predomínio de turistas cuja origem está no
próprio território baiano, e a distância de deslocamento entre o centro emissor e
Valença, não ultrapassa esse limite. Apesar da predominância de fluxos turísticos
cujo núcleo emissor está na Bahia, os dados revelaram que Brasília representa um
importante mercado emissor de turistas para o município de Valença. A partir da
amostragem de 200 (duzentas) questionários aplicados com turistas, 30% destes
foram respondidos por visitantes oriundos do Distrito Federal. A Tabela 8 demonstra
MAPA 11 DISTRITOS MUNICÍPIO DE VALENÇA
140
o quantitativo de turistas indicando os municípios emissores para o município de
Valença-Ba.
TABELA 8 - MUNICÍPIO DE ORIGEM DOS TURISTAS QUE VISITAM VALENÇA E GUAIBIM
MUNICÍPIO UF FREQUÊNCIA
Salvador Bahia 36
Ipiaú Bahia 24
Santo Antônio De Jesus Bahia 19
Feira De Santana Bahia 13
Ilhéus/Itabuna Bahia 10
Itaberaba Bahia 10
Jaguaquara Bahia 07
Ituberá Bahia 02
Ibotirama Bahia 01
Nazaré Bahia 01
Belo Horizonte Minas Gerais 3
Goiânia Goiás 13
Brasília Distrito Federal 60
São Paulo São Paulo 1
TOTAL 200 Fonte: Elaboração da autora Pesquisa de Campo 2014/2015
Nessas condições, o raio de influência do principal atrativo turístico de Valença
limita-se a uma distância de até 200 km, através das rodovias BA 001 e BR 101.
Boullón (2002) chama a atenção para o fato que o centro turístico só será capaz de
gerar desenvolvimento caso o mesmo contenha hospedagem, alimentação,
entretenimento, agência de viagens, informações turísticas sobre as instalações e
atrativos locais, comércios turísticos, postos telefônicos, correio, sistema de
transporte interno organizado e conexões com os sistemas de transporte externo.
As informações levantadas durante a pesquisa revelaram que 123 (cento e vinte
e três) visitantes entrevistados, num universo de 200 (duzentas) abordagens, tinham
suas residências permanentes em municípios baianos. Desse total 92 (noventa e
dois) moravam a menos de 200 km de Valença, ou seja, 74% dos visitantes: 36
provenientes de Salvador, 24 de Ipiaú, 13 de Feira de Santana e 19 de Santo
Antônio.
A Figura 13 demonstra a espacialidade do raio de influência turística do
município de Valença.
141
FIGURA 13 – BAHIA: RAIO DE INFLUÊNCIA TURÍSTICA DO MUNICÍPIO DE VALENÇA
MAPA 11 DISTRITOS MUNICÍPIO DE VALENÇA
142
A abordagem sobre as características do sistema de hospedagem presente no
munícipio também pode elucidar as potencialidades turísticas e a necessidade de
planejamento.
Entende-se por sistema ou meios de hospedagem o conjunto de
estabelecimentos comercias que prestam serviço de acolhimento. O serviço
prestado atende a diferentes segmentos de consumo e caracteriza-se pela grande
variedade de empresas com estrutura e serviços igualmente diversificados. Esse
ramo de atividade comercial representa uma parcela significativa, em termos de
produção de capital, de toda cadeia produtiva do turismo.
Em razão de sua importância econômica e à medida que o turismo alcança
proporções globais, o poder público passa a normatizar a prestação deste serviço
visando assegurar a sua qualidade. (MENEZES, 2013). A partir disto, os diferentes
estabelecimentos comerciais passam a ser classificados em categorias que servem
tanto para orientar a escolha pela melhor opção de consumo pelo turista, como
também, regular a dinâmica produtiva do setor determinando os padrões e requisitos
que cada categoria de estabelecimento deve possuir para atingir determinado
mercado.
Segundo Menezes (2013), desde 1998 foram adotados diferentes matrizes de
classificação dos serviços de hospedagem. Não se pretende fazer uma análise das
diferentes sistemas de classificação, o que importa neste trabalho é elucidar quais
são as diferentes categorias dos serviços ofertados no Brasil, com vistas a analisar o
sistema de hospedagem existente em Valença. A partir da Portaria nº 100 de 16 de
junho de 2011 um novo sistema de classificação foi institucionalizado, com base em
270 requisitos organizados em dois grupos, um com caráter de obrigatoriedade,
requisitos mandatórios, e o segundo grupo com requisitos eletivos. Os
estabelecimentos foram divididos em sete categorias. (BRASIL, 2014)
Art. 7º Os tipos de meios de hospedagem, com as respectivas características distintivas, são:
I - HOTEL: estabelecimento com serviço de recepção, alojamento temporário, com ou sem alimentação, ofertados em unidades individuais e de uso exclusivo dos hóspedes, mediante cobrança de diária;
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II - RESORT: hotel com infraestrutura de lazer e entretenimento que disponha de serviços de estética, atividades físicas, recreação e convívio com a natureza no próprio empreendimento; II - HOTEL FAZENDA: localizado em ambiente rural, dotado de exploração agropecuária, que ofereça entretenimento e vivência do campo; IV - CAMA E CAFÉ: hospedagem em residência com no máximo três unidades habitacionais para uso turístico, com serviços de café da manhã e limpeza, na qual o possuidor do estabelecimento resida; V - HOTEL HISTÓRICO: instalado em edificação preservada em sua forma original ou restaurada, ou ainda que tenha sido palco de fatos histórico-culturais de importância reconhecida; VI - POUSADA: empreendimento de característica horizontal, composto de no máximo 30 unidades habitacionais e 90 leitos, com serviços de recepção, alimentação e alojamento temporário, podendo ser em prédio único com até três pavimentos, ou contar com chalés ou bangalôs; VII - FLAT/APART-HOTEL: constituído por unidades habitacionais que disponham de dormitório, banheiro, sala e cozinha equipada, em edifício com administração e comercialização integradas, que possua serviço de recepção, limpeza e arrumação. (BRASIL, 2011, p 3) (grifo nosso).
Além de classificar os estabelecimentos comerciais de hospedagem, a referida
Portaria também institui a obrigatoriedade do uso digital do Sistema Nacional de
Registro de Hóspedes (SNRHos) e o preenchimento da Ficha Nacional de Registro
de Hóspedes (FNRH).
Para obter a classificação é necessário estar cadastrado no Ministério de
Turismo e fazer a solicitação junto a este órgão que procederá a avaliação do
estabelecimento comercial. Para alcançar a categoria pleiteada o estabelecimento
deverá atender 100% (cem por cento) dos requisitos mandatórios e 30% dos
requisitos eletivo. Segundo pesquisas do Ministério de Turismo, atualmente existem
no Brasil 15 (quinze) mil estabelecimentos comerciais de hospedagem, mas apenas
46% desse total estão devidamente cadastrados.
Apenas os estabelecimentos cadastrados podem pleitear a classificação
regulamentada pela legislação vigente, baseada na concessão de estrelas a partir
da qualidade do serviço ofertado.
No município de Valença a oferta dos serviços de hospedagem se dá
predominantemente através de estabelecimentos denominados de pousada ou
hotel, perfazendo um total de 50 (cinquenta) unidades no distrito do Guaibim e 14
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(catorze) em Valença, nas demais unidades territoriais do município os serviços de
hospedagem são ineficientes.
Durante a pesquisa de campo, as entrevistas com o Secretário de Turismo e o
Diretor de Fiscalização da Receita Municipal, identificou-se que não há na Prefeitura
Municipal cadastro identificando o número de hotéis e pousadas. Ao ser
questionado sobre como proceder para fiscalizar o funcionamento destes
estabelecimentos comerciais, o Diretor de Fiscalização da receita Municipal
respondeu,
Não há fiscalização, cabe à Receita Municipal apenas cobrar os impostos como IPTU. O funcionamento das unidades comerciais é feito pela vigilância sanitária. Cabe à Receita Municipal, com base na legislação, conceder e, quando necessário, cancelar a licença de funcionamento (Diretor de Fiscalização da Receita Municipal, 2015, informação verbal).
O mesmo questionamento foi feito ao Secretário de Turismo que também
respondeu “não há nenhum acompanhamento a respeito destes estabelecimentos,
cabendo a Prefeitura apenas conceder as licenças de funcionamento” (Secretário de
Turismo, 2015, informação verbal). Frente a esta dificuldade, optou-se num primeiro
momento, por buscar informações em outros meios, como lista telefônica e em
seguida confrontar os dados com a investigação, assim identificou-se 14 (catorze)
estabelecimentos comerciais localizados no distrito sede.
A pesquisa de campo, portanto, revelou que há uma concentração dos meios de
hospedagens nos distritos Guaibim e Valença o que se justifica pelo expressivo
dinamismo econômico, em relação aos demais distritos, significando admitir que ob
processo de urbanização nestas localidades foi relativamente mais acentuado.
Sobre essa temática Santos (1996) afirma que as ações hegemônicas se
estabelecem e se realizam (...) privilegiando certas áreas. Os lugares se distinguem
pela diferente capacidade de oferecer rentabilidade aos investimentos. Essa
rentabilidade é maior ou menor em virtude das condições locais de ordem técnica
(...) e organizacional.
Os dados expostos na Tabela 9 indicam o quantitativo dos meios de
hospedagem em Guaibim e Valença, identificados mediante informações coletadas
na pesquisa de campo. Buscou-se também informações sobre a qualidade e a
tipologia dos meios de hospedagem existentes na área de estudo.
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TABELA 9 – VALENÇA E GUAIBIM: NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE HOSPEDAGEM
Local Número de Unidades Comerciais Número de Unidades de Leitos
Valença 14 288
Guaibim 50 2571
Total 64 2859
Fonte: Elaboração da autora (Pesquisa de Campo, 2014/2015)
Observou-se que tanto em Valença como em Guaibim, os visitantes optam pela
hospedagem em hotéis e pousadas em detrimento de casas de veraneio. O Gráfico
1 retrata os resultados da investigação sobre a questão em Valença
GRÁFICO 1 – VALENÇA TIPOLOGIA DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM DO TURISTA
Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.
A opção pela hospedagem em hotéis e pousadas, tanto em Valença como em
Guaibim, justifica-se em razão da comodidade para o visitante. O gráfico 2 revela
qual o meio de hospedagem mais utilizado pelo turista que visita o Guaibim.
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GRÁFICO 2 GUAIBIM: TIPOLOGIA DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM DO TURISTA
Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo
. A avaliação da qualidade do serviço ofertado pelos meios de hospedagem foi
referenciada pelo Ministério de Turismo através da portaria nº 100 de junho de 2011,
em que os estabelecimentos são classificados a partir da concessão de estrela,
contudo para adquirir essa classificação é necessário estar cadastrado naquele
Ministério.
A pesquisa revelou que parcela significativa dos hotéis e pousadas no município
de Valença, tem burlado a determinação legal. A situação do distrito de Guaibim é
bastante reveladora: do total de cinquenta unidades de hospedagem, apenas 17%
estão regularmente cadastradas, o que corresponde a 11 (onze) estabelecimentos.
As irregularidades, quanto ao cadastro nos órgãos oficiais de turismo, também são
expressivas em Valença, apenas um estabelecimento está devidamente registrado
naquele órgão. Quando foi questionado ao Presidente da Associação de Turismo
Valença e Guaibim (ATIVA), as razões que explicam o porquê os empresários do
setor de hospedagem não regularizam a situação junto ao Ministério de Turismo, ele
respondeu:
Para se cadastrar no Ministério de Turismo é preciso muita papelada, é uma burocracia total. E o beneficio é irrisório, pois esse cadastro serve só para classificar quantas estrelas têm o estabelecimento
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também é um pré-requisito em alguns bancos para quem quer tomar dinheiro para reformar o estabelecimento, fora isso, ele não serve para nada. (Presidente da ATIVA, 2015, informação verbal).
Sem cadastro nos órgãos públicos a fiscalização é ainda mais complexa. Além
disso, desprovido de um parâmetro para identificar a sua qualidade, o turista, vê-se
obrigado a escolher as acomodações de forma aleatória. Porém, sabe-se que a sua
avaliação frente ao que foi ofertado naquele estabelecimento garantirá ou não o seu
retorno em futuras visitas.
Percebe-se que, na área de estudo, os estabelecimentos comerciais que ofertam
o serviço de hospedagem caracterizam-se por ser de pequeno e médio porte,
fundados a partir da iniciativa privada e que sobrevivem da renda proporcionada
durante o período de alta temporada, entre os meses de dezembro a fevereiro.
Os gráficos 3 e 4 revelam como os visitantes de Valença e Guaibim avaliam os
meios de hospedagem.
GRÁFICO 3 – GUAIBIM: AVALIAÇÃO DO TURISTA SOBRE OS MEIOS DE HOSPEDAGEM
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Bom Excelente Não avaliado Péssimo Regular Ruim
Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.
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GRÁFICO 4 – VALENÇA: AVALIAÇÃO DO TURISTA SOBRE OS MEIOS DE HOSPEDAGEM
Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.
. Comparando os dados coletados na pesquisa de campo é possível notar que
o quantitativo que avaliou negativamente os meios de hospedagem, classificando-os
como péssimo em Guaibim é maior que em Valença, 17% e 3% respectivamente.
Esse quadro pode ser justificado pela falta de investimentos nos estabelecimentos
comerciais em Guaibim, por parte dos proprietários.
A avaliação dos turistas, quanto às acomodações utilizadas, revela quanto
este elemento pode ser considerado um obstáculo ou não, para o desenvolvimento
da atividade.
A sazonalidade do fluxo de turistas é um dos problemas apresentados pelos
envolvidos no setor. Ao ser questionado sobre quais são as principais obstáculos
para o desenvolvimento do turismo em Valença e Guaibim, o ATIVA respondeu que:
“durante o período de baixa temporada (entre os meses de abril e setembro), hotéis,
restaurantes e pousadas localizados no Guaibim, fecham as portas, demitindo seus
funcionários, muitos deles moradores do próprio distrito”. Ele ainda relatou que:
“Em Valença é muito raro os hotéis fecharem as portas porque durante a baixa estação há uma frequência significativa de hospedagem de outro tipo de visitante, os representantes comerciais, que chegam à cidade para vender seus produtos e passam em
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média dois ou três dias”. ( Presidente da ATIVA, 2014, informação verbal).
Como o fluxo turístico naquela localidade está diretamente relacionado ao
turismo sol e praia, a rentabilidade está ligada à sazonalidade do verão, enquanto
em Valença o fluxo é constante em razão da hospedagem de visitantes com outro
perfil, não diretamente relacionado ao apelo paisagístico.
Percebe-se assim, que isoladamente, há uma sensível diferença nos motivos
que impulsionam a viagem para esta área, porém quando os dados são
processados em conjunto, as características paisagísticas aparecem como o
principal razão da viagem.
As estatísticas na pesquisa sobre os motivos que levam o turista a visitar estes
dois distritos, ratifica essa justificativa, pois, 57% responderam que chegam à
Valença não pelos seus aspectos paisagísticos como principal motivo da viagem,
enquanto no Guaibim esse é o principal motivo de 54% dos turistas naquela
localidade. (GRÁFICO 5).
GRÁFICO 5- VALENÇA E
GUAIBIM: PRINCIPAIS MOTIVOS DE VIAGEM DOS TURISTAS
0
10
20
30
40
50
60
Belezas naturais Visitar amigos/outrosmotivos
Guaibim
Valença
Fonte: SOUSA, 2014/2015. Estudo de Campo
O tempo de permanência do turista é objeto da pesquisa. Os dados levantados
pelo estudo revelaram que a maior parte dos entrevistados 64% permanecem no
município por até três dias, ou seja, dois pernoites: esse é o tempo suficiente para
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desfrutar da natureza existente em Valença e Guaibim, pois existem outros destinos
turísticos que merecem ser visitados, como Boipeba, Maraú, Morro de São Paulo,
etc, ratificando assim a função turística de Valença como centro de escala. O motivo
do curto período de permanência deve-se a falta de equipamentos de lazer e
diversão. O Gráfico 6 consta os dados da pesquisa de campo sobre o tempo de
permanência dos turistas nos distritos de Valença e Guaibim.
GRÁFICO 6 - VALENÇA E GUAIBIM: TEMPO DE PERMANÊNCIA DO TURISTA
Fonte: SOUSA, 2014/2015. Estudo de Campo.
O resultado é um padrão de desenvolvimento turístico desigual, Smith (1998)
aponta que esse processo é inerente ao capitalismo, afirmando que:
Se a acumulação do capital acarreta desenvolvimento geográfico e se a direção desse movimento é a taxa de lucro, então podemos pensar o mundo como uma superfície de lucros produzida pelo próprio capital (...) o capital se move para onde a taxa de lucro é máxima (...) a mobilidade do capital acarreta o desenvolvimento de áreas com alta taxa de lucro (...) o desenvolvimento desigual resulta do movimente de vaivém do capital.
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Com essas características de baixa taxa de permanência, a rentabilidade do
turismo no município enfrenta dificuldades para a sua manutenção, sendo
necessário reverter o quadro a partir da construção de mecanismos que garantam
uma maior permanência do turista. Trata-se de avaliar a oferta turística no sentido
de garantir a manutenção da atratividade do núcleo receptor. Para tanto, as
informações sobre essa questão foram levantadas a partir da pesquisa de campo.
Com vistas a identificar como o turista avalia os equipamentos e instalações
turísticas questionou-se sobre o que mais impactou positivamente a sua estada. Os
pontos considerados mais significativos foram, a hospitalidade do valenciano, as
belezas naturais, a qualidade dos serviços turísticos, o atendimento dos prestadores
de serviços, a oferta de serviços de lazer e a limpeza urbana. A frequência dos
elementos apontados pelo turista permite identificar onde se situa o principal
problema para o desenvolvimento do setor, os dados são apresentados no Gráfico
7.
GRÁFICO 7 – VALENÇA E GUAIBIM: AVALIAÇÃO DO TURISTA SOBRE OS SERVIÇOS E PRODUTOS TURISTICOS
Fonte: SOUSA, 2014/2015. Estudo de Campo
As belezas naturais de Valença e Guaibim foram apontadas como elementos
que mais se destacam para a prática turística na área de estudo, assim sendo,
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percebe-se a importância dos aspectos naturais para o desenvolvimento do turismo
valenciano. Nenhum dos turistas questionados citou a limpeza urbana e
equipamentos de lazer e diversão como aspectos que impactam favoravelmente
para o turismo, o que significa afirmar que estes são os elementos que mais
necessitam de intervenção com vias a aprimorar a oferta turística no município.
Além da análise sobre a oferta dos meios de hospedagem disponível em
Valença, enfocar condições da infraestrutura de saneamento disponível pode
desvelar informações que levem a compreensão da oferta turística do município.
O saneamento básico sob a administração do poder municipal através da
autarquia Sistema Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), foi instituído com a Lei
municipal nº 676 de 21 de 1966. Enquanto autarquia, o SAAE tem autonomia
financeira e administrativa para captar, fornecer e distribuir água canalizada, além da
realização de operações relacionadas a esgotamento sanitário em todo o município.
Sousa (2006) apresenta uma análise socioambiental do município, com base no
Censo Demográfico do IBGE de 2000, e de acordo com os dados da pesquisa de
campo, foi possível identificar que os serviços prestados pelo SAAE atendiam um
total de 80.768 mil pessoas, das quais 80% tinham acesso à rede geral de
abastecimento de água e apenas 52% eram atendidas com esgotamento sanitário.
Os dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010) revelam que, do total de 83.999 pessoas residentes em
domicílios particulares no município de Valença, 20.081 não dispõem de
saneamento adequado, o que representa quase 24% do número de residentes. As
informações apresentadas pelo ministério da Saúde em Valença indicam que em
2010, do total de famílias cadastradas no Sistema Único de Saúde (SUS) 21.846
famílias: 26% não eram atendidas pelo sistema público de abastecimento de água
tratada, 41% não possuíam rede de esgotamento sanitário adequado e 30% não
tinham acesso à coleta municipal de lixos.
Dentre os componentes do sistema de saneamento básico, a coleta de lixo é o
serviço que tem maior visibilidade para o turista. A despeito da importância do
abastecimento de água e da rede de esgotamento sanitário como condições para a
manutenção de um ambiente saudável, condição sine qua non para o turismo,
contudo, essas variáveis são pouco percebidas pelos visitantes.
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Como a matéria-prima do turismo é o consumo da natureza, um ambiente
carente de coleta de lixo compromete a venda deste produto. Atualmente este é um
problema que tem estado no centro das discussões ambientais, especialmente
quando as estimativas apontam para uma maior produção em razão do crescimento
populacional.
Nesse contexto, pode-se afirmar sobre a necessidade de planejamento e
políticas públicas especificas para o turismo, pois, no município de Valença a
atenção com a problemática não tem sido satisfatória.
Entre 2012 a 2013 o serviço de coleta pública de lixo cresceu apenas 3,7%. O
Gráfico 8 revela sua evolução no município de Valença.
GRÁFICO 8 – MUNICÍPIO DE VALENÇA: EVOLUÇÃO DA COLETA E DESTINO DO LIXO (TONELADAS).
Fonte: MTE, (2014)
O problema a ser considerado corresponde ao destino que é dado ao lixo
coletado. Apesar de a legislação brasileira normatizar o destino do lixo coletado, a
problemática na verdade corresponde ao que a prefeitura municipal de Valença, faz
com o lixo, deixando-o a céu aberto, assim como a maioria das prefeituras no Brasil.
Acentuam-se assim problemas de ordem ambiental comprometendo o bem mais
precioso para o desenvolvimento do turismo, a natureza.
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Faz-se necessária mais efetividade na ação do poder público local no sentido de
implementar planejamento que vise aprimorar os serviços vinculados à limpeza
urbana, e à adoção de uma política pública com vistas a criar ou aprimorar
equipamentos que favoreçam práticas de entretenimento e lazer; a elaboração de
calendário festivo pode ser fundamental nesse sentido.
(...) produtos e serviços são oferecidos por uma gama de produtores e fornecedores diferentes que, apesar de atuarem de forma individual, são entendidos pelo turista como um todo que integra a experiência vivenciada da viagem. Por isso, o planejamento da oferta turística de núcleos receptores deve considerar o desempenho isolado de cada um, integrado a um objetivo geral, e cooperado – voltado para a qualidade total dos produtos e serviços oferecidos. (RUSCHMANN, 1997 p.89).
A autora chama atenção para a importância do planejamento turístico,
sinalizando que é sob esse viés que se mantém oferta turística, e por
prolongamento, eleva-se a permanência do visitante. Nesse sentido, a eficiência do
planejamento e da política pública de turismo está atrelada à variável dotação
orçamentária. É preciso ponderar que a existência de recursos financeiros não
garante a eficiência da oferta turística, contudo, quando não há orçamento, atingir
essa eficácia torna-se uma difícil tarefa.
Outro problema na oferta do produto turístico foi identificado pela pesquisa,
trata-se da disponibilidade de informações sobre os atrativos turísticos no município.
Durante a pesquisa de campo foi solicitado que os respondentes informassem
quantos atrativos conheciam e citassem pelo menos, o nome de um atrativo. Os
resultados demonstraram a falta de conhecimento quanto aos atrativos turísticos no
município, pois 58% dos turistas, o que representa cento e dezesseis turistas,
conheciam apenas um atrativo, o Guaibim, nome citado por cento e cinquenta
turistas, ou seja, 75% dos questionários. Os dados revelam que a falta de
conhecimento sobre os atrativos turísticos é um problema a ser enfrentado.
Todos os problemas identificados nas respostas aos questionário, não invalidam
a prática do turismo em Valença e Guaibim. Na verdade, os próprios visitantes
apontaram que, independente das dificuldades encontradas durante a sua estada, o
desejo de voltar a visitar o município é constante. De todos os turistas que foram
155
abordados, perfazendo um total de 200, apenas 15% expressaram desejo de não
mais voltar a Valença ou Guaibim.
5.2 O Poder público e o desenvolvimento do turismo em Valença.
A análise sobre como o do poder público atua sobre o desenvolvimento do
turismo é fundamental para a compreensão da realidade, especialmente no que se
refere à produção do turístico em Valença. Nessas localidades se efetiva a ação do
Estado no sentido de fomentar a atividade. A pesquisa revelou que, enquanto
responsável pela realização de planejamento e política pública, o Estado, desde a
escala nacional até a escala local, é o agente que mais interfere no dinamismo do
setor.
Durante a pesquisa de campo observou-se que o poder público municipal
enfrenta dificuldade para executar o planejamento turístico, pois até o período em
que foi realizada esta pesquisa, não existia um inventário turístico do município.
Ao ser questionado sobre as principais dificuldades para a execução das ações
nesta Secretara, o Secretário Turismo informou que não há recursos financeiros
para elaborar o inventario turístico, porém em 2014 houve uma proposta para
criação de novos roteiros turísticos (Anexo A), mas infelizmente, devido à falta de
recursos financeiros e humanos, o plano não foi executado.
A nossa grande dificuldade é a disponibilidade de recursos que acaba centralizado pela prefeitura, e ela recebe o dinheiro e passa para cada secretaria municipal, distribuindo o orçamento entre as secretarias como a prefeita quiser. Não sei como fica a prestação de contas, mas ela tem sido aprovada. Esse ano eu fiz um projeto para implementar novos roteiros a partir de vistas aos pontos turísticos, algumas visitas ocorreram, mas o projeto não a frente por falta de recursos e pessoal. Foi uma pena, pois, temos belas cachoeiras, trilhas ecológicas, etc. (Secretário de Turismo, 2014, informação verbal.
Para o Secretário de Turismo “o inventário corresponde aos atrativos turísticos”,
esquecendo-se assim que um destino turístico é composto, além disso, por
equipamentos e instalações turísticas. O primeiro corresponde aos elementos de
alimentação, hospedagem, entretenimento e outros serviços como agências de
viagem, guias de turismo, estacionamentos, agências de câmbio de moedas, etc.
156
Enquanto as instalações turísticas são os elementos que fomentam o lazer e
esporte, podendo ser classificado em três categorias: de água e praia (marinas,
barraca ou tendas, observação submarina, etc); de montanha (mirantes, circuito de
trilhas, teleféricos, etc) e gerais (piscina, parques infantis, vestiários, etc).
(BOULLÓN, 2002). A falta de conhecimento sobre esses elementos que compõem o
destino turístico, e que devem ser inventariados, compromete a eficiência na
execução do planejamento da atividade. Durante a pesquisa de campo percebe-se
que tal fato é evidente permitindo afirmar que se constitui em obstáculo, ou mesmo
entrave para o desenvolvimento do turismo em Valença e Guaibim.
A análise sobre planejamento turístico envolve a avaliação sobre infraestrutura
de saneamento básico, rede de oferta do serviço de hospedagem e organização
institucional do poder público local, como instrumentos reveladores da atual
necessidade de políticas públicas específicas para o turismo em Valença.
Analisou-se a organização do poder público, enquanto normalizador da atividade
turística, no sentido de elucidar o seu papel no desenvolvimento e fomento ao
turismo em Valença e Guaibim. As informações que possibilitaram a análise do
impacto da ação do poder público municipal sobre o desempenho turístico foram
coletadas através de entrevistas junto ao Secretário de Turismo, o Procurador da
Prefeitura Municipal de Valença e o Presidente da Associação de Turismo
Valença/Guaibim. (ATIVA). (APÊNDICE B,C,D e E)
Na esfera estadual e federal os dados foram levantados a partir de documentos
oficiais, como o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentado
(BAHIA, 2004), Plano de Fortalecimento Municipal da Gestão do Turismo no
Município de Valença (BAHIA, 2009), Estratégia Turística da Bahia: Terceiro Salto
2007-2016 (BAHIA, 2011), e o Relatório Final do Turismo Receptivo na Bahia
(BAHIA, 2012), Plano Plurianual - PPA 2008-2011 (BAHIA, 2008).
Neste item discute-se sobre os principais impactos da ação do poder público
sobre a atividade turística em Valença e Guaibim, desde a esfera federal até a
instância local, no sentido de refletir sobre o planejamento para o setor.
No âmbito federal, o ano de 1994 marca uma mudança de perfil da política
nacional destinada ao turismo, onde a descentralização das ações do Estado passa
a ser a meta. Nesse contexto foi elaborado o Plano Nacional de Municipalização do
Turismo (PNMT), reconhecendo a importância das instâncias de poder local para
157
com o desenvolvimento turístico. Essa tendência foi mantida com o Plano Nacional
de Turismo (PNT) 2003/2007 e o PNT 2007/2010, porém a escala de intervenção
passa a ser a região turística. O uso do termo deve ser feito com ressalvas, em
razão da não continuidade espacial do atrativo turístico, como já explicado
anteriormente.
Fundamentada no conceito de região, a política de planejamento turístico no
Brasil passa a incentivar a integração e cooperação entre os municípios, valorizando
assim as instâncias de governanças regionais. Com isso, o poder municipal não
perde a relevância, pois os conselhos municipais de turismo continuam exercendo
poder na tomada das decisões políticas sobre as atividades turísticas. As principais
ações com essas características foram: Programas de Fomento ao Turismo,
Programa de Estruturação dos Segmentos Turísticos, Programa de Produção
Associada ao Turismo (PAT), Programa de Apoio do Desenvolvimento Regional do
Turismo e Programa de Planejamento e Gestão da Regionalização Turística.
(BAHIA, 2009).
A década de 1990 também foi marcada pela execução de política pública de
turismo em âmbito regional e estadual que impactaram de forma expressiva o
município de Valença. O PRODETUR pode ser considerado como a mais importante
política pública. O debate sobre a formulação e execução desta política já foi
apresentado em outras seções, contudo, as suas implicações no turismo da área de
estudo serão apresentadas doravante.
Na Bahia, na primeira fase do PRODETUR, os investimentos foram direcionados
para promover a qualificação da infraestrutura urbana, principalmente no que diz
respeito ao saneamento básico, bem como a qualificação das vias de acesso aos
principais destinos turísticos do território baiano. Em Valença e Guaibim, as
melhorias promovidas pelo programa foram direcionadas para a construção da
rodovia BA 001, especificamente o trecho que liga o município de Nazaré a Valença,
melhorando com isso o acesso dos visitantes. A partir deste local foi possível
conectar as Zonas Turísticas do Pólo Litoral Sul.
A acessibilidade também foi a estratégia adotada para a conexão viária entre o
aeroporto de Valença e o atracadouro Bom Jardins, empreendimento concluído em
1999 com o aporte de US$ 3.046,00 (três mil e quarenta e seis dólares) (BAHIA,
2004). Os dois empreendimentos rodoviários citados, favoreceram o dinamismo
158
econômico na área de estudo, não só em relação ao turismo, mas em toda
conjuntura econômica local.
Durante a pesquisa de campo na Secretaria de Turismo de Valença foi
disponibilizado o Plano de Desenvolvimento da Produção Associada ao Turismo
Municipal 2013. Algumas ações foram propostas em conformidade com a política
nacional de turismo, referenciada nos eixos de qualificação, gestão, estruturação,
promoção e comercialização, previstos no PAT (ANEXO B). As ações elencadas
previam a realização de treinamentos dos prestadores de serviços, constituição de
parcerias entre prefeituras para executar o PAT, elaboração de um calendário festivo
da produção agroindustrial, dentre outras ações. Percebe-se que o documento
fornecido não pode ser classificado como um plano de ação, porque nele não
constam as metas a serem desenvolvidas, como desenvolvê-las, quais os recursos
financeiros e de pessoal necessário a sua execução, etc.
Ao ser questionado sobre se pode falar sobre os planos, projetos e ações da
Secretaria de Turismo, o Secretário de Turismo Municipal respondeu:
Nada do que constava no plano tinha sido executado, em razão da disponibilidade de recursos financeiros, pois a quantia que é repassada pela prefeitura mensalmente através do Fundo Municipal de Turismo de Valença (FUMTUR), mal dá pra pagar o estagiário que trabalha na Secretaria de Turismo. (Secretário de Turismo Municipal, 2014, informação verbal).
A resposta do Secretário de Turismo demonstra que para esse gestor, a
efetividade do planejamento e da política pública de turismo é prejudicada pela falta
de recursos. Contudo, percebe-se que aportes financeiros foram direcionados para
ações de fomento turístico. Os seminários realizados pelo Serviço de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas da Bahia (SEBRAE) exemplificam esse argumento. Em 2014
recursos foram direcionados, através do PAT, para a participação dos gestores da
Secretaria Municipal de Turismo de Valença, Cairu, Feira de Santana, dentre outras,
no seminário realizado em setembro de 2014, pelo SEBRAE com vistas a promover
qualificação dos produtos turísticos. Neste evento foram relatadas as experiências
exitosas desenvolvidas na zona turística Caminhos do Sertão. As propostas de
ações e uma síntese do seminário foram expostas no Anexo C.
159
A partir do Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS)
- Litoral Sul, ações foram projetadas com vistas ao fortalecimento da gestão
municipal no que diz respeito ao turismo, nele foi orçado para Valença a quantia de
US$ 61.558.000,00 (sessenta e um milhões e quinhentos e cinquenta e oito mil
dólares). Todavia, segundo o secretário municipal de turismo, “nem tudo que foi
planejado foi executado em razão das dificuldades de repasse orçamentário”
(Resposta do Secretario Municipal de Turismo, 2014, informação verbal).
Dados sobre o repasse de recursos do Ministério de Turismo para o município
de Valença também reforçam a problemática quanto à política pública de turismo no
município. Segundo o Sistema de Acompanhamento dos Contratos de Repasse
(SIACOR), no período entre 2005 a 2013 havia quatro contratos de repasse de
recursos financeiros para a Prefeitura Municipal de Valença, cuja finalidade era
fomentar o turismo através de obras de infraestrutura urbanística.
O valor total dos contratos soma a quantia de R$ 1.707.000,00 (Um milhão
setecentos e sete mil reais). Devido às restrições cadastrais por parte da Prefeitura
de Valença, apenas um desses contratos teve o recurso liberado. O contrato de nº
02115384 repassou para Valença o valor de R$ 487.500,00 que foi utilizado para a
reforma e ampliação da Praça da República. Constatou-se que apenas 29% do
recurso previsto foi repassado e 57% ainda não foi liberado. Parte desse recurso
aguarda a regulamentação de cláusula suspensiva (não há informação quanto à
cláusula suspensiva), e outra parte, cerca de 14% do valor total previsto, foi
cancelado pelas razões mencionadas anteriormente.
Frente aos fatos, percebe-se que o poder público municipal tem enfrentado
dificuldades quanto à execução de projetos, no que concerne à execução e repasse
orçamentário.
Na Tabela 10 constam as informações sobre os projetos e ações que estavam
previstos no PDITS para o município de Valença e sua situação quanto à execução.
O Secretário de Turismo entrevistado afirma que “muitas das ações definidas pelo
plano não foram executadas”.
160
TABELA 10 - PROJETOS E AÇÕES PREVISTAS NO PDITS LITORAL SUL
Fonte: BAHIA (2004).
Para entender o porquê desta problemática é preciso considerar a estrutura
organizacional, bem como as ações implementadas pela Prefeitura municipal de
Valença que impactam sobre o turismo. A dimensão organizacional da gestão
pública municipal envolve quatro secretarias, que estão direta ou indiretamente
associadas ao desenvolvimento do setor: Secretaria de Turismo, Secretaria de Meio
Ambiente, Secretaria de Cultura, e a Secretaria de Infraestrutura Urbana. A primeira
observação, na dinâmica destes órgãos, é a completa fragilidade na articulação
entre as secretarias, o que significa afirmar que cada secretaria desempenha sua
função administrativa desenvolvendo ações isoladamente, sem que o diálogo entre
as ações se processe, assim sendo, constrói-se uma política pública setorial e
fragmentada. Ainda que muitas secretarias dividam o mesmo espaço físico, como é
o caso da Secretaria de Turismo e Secretaria de Cultura, as ações ocorrem sem que
estas se comuniquem.
Na estrutura organizacional os principais diplomas legais de normatização da
atividade na esfera municipal correspondem à Lei Municipal nº 1.572 de 27 de
outubro de 1999 que criou o Conselho Municipal de Turismo (CMT) e o Fundo
Municipal de Turismo de Valença ( FUMTUR) através da Lei Municipal de nº 1668 de
1º de julho de 2002. (ANEXO D).
A criação do CMT inaugura uma nova fase da política pública de turismo no
município, marcada pela maior participação da sociedade na tomada de decisões. A
Projetos e ações US$ (1.000) Situação
Implantação dos Postos de Informação Turística (PIT) 30.000 Concluído Implantação de Aterro sanitário, usina de reciclagem de lixo e elaboração do Plano Diretor de Limpeza Urbana (PDLU)
210.000 ----
Implantação da APA de Guaibim 300.000 ---- Tombamento do patrimônio histórico municipal 30.000 ---- Recuperação dos prédios da Praça da República 1.200.000 Concluído Urbanização da Orla do Guaibim 750.000 Concluído Padronização de barracas da praia de Guaibim 240.000 ---- Implantação do sistema de esgotamento sanitário em Valença 3.048.000 Em execução Construção do Centro de Convenções entre Valença e Guaibim 4.500.000 ---- Implantação do Museu Municipal 150.000 ---- Revitalização das ruinas da Fábrica Todos os Santos 37.500.000 ---- Recuperação do Centro Histórico de Valença 6.900.000 ---- Construção de quebra-mar em Guaibim com píer para embarque e desembarque
6.000.000 ----
Construção de terminal rodomarítimo em Valença 4.500.000 ---- Construção de terminal rodoviário no Guaibim 300.000 ---- Total 61.558.000
161
estrutura deste Conselho é composta por representantes de entidades
governamentais: Secretaria de Turismo, Cultura, Indústria e Comércio; Secretaria de
Agricultura e Meio Ambiente, Secretaria de Viação e Obras Públicas; Secretaria de
Educação Desenvolvimento Social e Esporte; Câmara de Vereadores, e
representantes da sociedade civil: Associação do Turismo de Valença (ATIVA);
Associação dos Comerciantes e Barraqueiros do Guaibim (ASCOBIM); Câmara de
Dirigentes Lojistas de Valença (CDL); Associação Comercial de Valença (ACV);
Sindicato de Taxistas de Valença; Casa de amizade do Rotary Clube de Valença;
Movimento Ambientalista Regional (MAR).
Apesar da importância deste Conselho como instrumento de participação da
sociedade na dinâmica pública de planejamento, a atuação da sociedade não é
expressiva. A ausência de representatividade durante as reuniões é tamanha que
um ano após a criação do CMT, foi sancionada a Lei 1597 de 16 de agosto de 2000
alterando o seu Art.4º (ANEXO E).
A nova legislação foi institucionalizada para fomentar a participação da
sociedade nas discussões sobre o turismo no município de Valença, assim sendo o
Art. 4º passou a vigorar com a seguinte redação:
Art. 4º - Inciso II Os Conselheiros serão excluídos do CMT e substituídos pelos respectivos suplentes em caso de faltas injustificadas a 2 (duas) reuniões consecutivas ou 03 (três ) reuniões intercaladas, no período de um ano.(...) (VALENÇA, 2000b).
A pesquisa de campo revelou que diversas ações do poder público municipal
são inviabilizadas pela própria gestão, em decorrência da “inoperância” do Conselho
Municipal de Turismo (COMTUR) como foi o relatado pelo Secretário de turismo
entrevistado.
O COMTUR está inativo há muito tempo em razão de questões políticas, apesar de sua composição ter sido homologada, esse ano não houve nenhuma reunião porque os membros ainda não foram empossados. Por essa razão os recursos financeiros são perdidos prejudicando o desenvolvimento da atividade, quem é que perde com isso? O município. Mas esse problema já esta prestes a ser resolvido, pois já foi marcado com a prefeita o ato de formalização da posse dos membros deste Conselho. (RESPOSTA DO SECRETÁRIO DE TURISMO MUNICIPAL, ENTREVISTADO).
162
Cabe ao CMT a administração dos recursos disponibilizados no FUMTUR, cuja
receita constitui dotações orçamentárias do município e doações, auxílios,
contribuições e transferências de recursos de entidades governamentais ou não
governamentais (VALENÇA, 2002). Na prática, a prefeitura repassa mensalmente os
recursos que mantém o fundo, sendo que o valor repassado é tão irrisório que é
utilizado apenas para contratação de funcionários que atuam administrativamente no
CMT, e não para efetuar ações de fomentação da atividade turística.
Assim como o FUMTUR, a eficiência do CMT também é questionável. Criado
com a função de formular a política municipal de turismo, elaborar estudos e
sugestões que fomentem o setor, esta instituição não tem, desde a sua fundação,
obtido êxito quanto às suas competências. A principal justificativa dessa situação é
inoperância dos seus componentes, a própria Secretaria de Turismo apontou para
esta problemática, no diagnóstico apresentado no Plano de Gestão Municipal do
Turismo e do Patrimônio Natural e Cultural do Município de Valença.
Outro aspecto característico da política municipal de turismo em Valença é a
falta de continuidade das ações implementadas em razão de mudança de grupo
político. Durante a entrevista na Secretaria de Turismo, percebeu-se que essa
característica é bem marcante, quando suas respostas demonstraram total
desconhecimento sobre os programas implantados na gestão 2008/2012. Segundo
seu próprio relato
Não conheço o Plano Emergencial para o turismo de Valença, se ele foi do verão 2006/2007 não foi na nossa gestão, eu não tenho como falar sobre os planos que foram executados nas gestões passadas, quando assumimos a secretaria começamos do zero. (Secretário De Turismo Municipal, 2014, informação verbal).
Na verdade essa não é uma característica exclusiva do poder público municipal,
há uma tradição nacional dessa prática política. Ainda assim, foi possível elencar
alguns planos e ações desenvolvidos no município que não lograram excelência no
cumprimento de suas metas e objetivos, em razão de limitações orçamentárias, falta
de qualificação técnica dos recursos humanos, ou até mesmo limitações no
quantitativo de funcionários.
O Quadro 4 apresenta o demonstrativo de planos e projetos de fomento ao
turismo no município de Valença.
163
Dos planos elencados no Quadro 4 os que mais impactaram positivamente o
desenvolvimento da atividade foram o Plano de Ações Emergenciais para o Verão
2006/2007, e o Projeto de Regionalização do Turismo na Costa do Dendê. O
primeiro desenvolvido a partir de recursos oriundos da Prefeitura Municipal, e o
segundo com fundos advindos do Programa de Planejamento e Gestão da
Regionalização Turística do Ministério de Turismo.
QUADRO 4 - DEMONSTRATIVO DE PLANOS E PROJETOS DE FOMENTO AO TURISMO NO MUNICÍPIO DE VALENÇA
Plano Período Órgão Executor/Entidades
Plano emergencial para o turismo de Valença
Verão 2006/2007 Prefeitura Municipal de Valença empresários locais que atuam no setor
Projeto de regionalização do turismo na costa do dendê.
2007/2008 SEBRAE, Bahiatursa, Banco do Nordeste, Ministério do Turismo, SUINVEST, entre outros.
Projeto novos roteiros turísticos em Valença
Sem previsão Secretaria de Turismo
Plano de desenvolvimento da produção associada ao turismo na costa do dendê
2013/2014 Prefeituras da Costa do Dendê, SENAC, SEBRAE, AMUBS, etc.
Fonte: Secretaria de Cultura, Indústria e Turismo de Valença. ( 2006; 2007).
O Plano Emergencial foi elaborado com vistas a aprimorar as práticas turísticas
no verão 2006/2007, para tanto foram identificados os principais problemas que
repercutiam de forma negativa no setor. Os problemas foram levantados a partir da
realização de reunião com todos os agentes envolvidos no sistema turístico, são
eles: pequenos comerciantes, empresários do setor de hospedagem e de
alimentação, além do poder público local e Associações de Moradores.
Durante as reuniões entre os envolvidos foi elaborado o diagnóstico do turismo
municipal pelos agentes. Os principais obstáculos apontados para o
desenvolvimento da atividade foram: falta de iluminação pública, coleta de lixo
deficiente, falta de segurança e falta de estacionamentos para ônibus de excursão.
Cabe ressaltar que esse diagnóstico refere-se à realidade existente no distrito de
Guaibim, pois segundo relato do Presidente da ATIVA os participantes das reuniões
eram majoritariamente daquele distrito. Ao ser solicitado a falar sobre o Plano
Emergencial de Turismo o Presidente argumentou que:
164
Participaram das reuniões comerciantes, empresários do ramo de hotelaria, donos de barraca de praia, até as baianas de acarajé, porém a grande maioria dos participantes era do Guaibim, ou que tinham seus estabelecimentos comerciais em Guaibim, o pessoal de Valença participou muito pouco. Por isso foram levantadas as dificuldades do turismo em Guaibim. (Presidente da ATIVA, 2014, informação verbal).
Ações foram sinalizadas para alterar a realidade, como por exemplo: promover:
melhorias na iluminação das vias públicas próximas à praia de Guaibim; adequar o
patrulhamento policial; requalificar os postos de saúde em Guaibim; ampliar o
número de postos salva-mar; promover capacitação continua do salva-mar; realizar
a pavimentação pública das principais vias de Guaibim; criar um calendário de
eventos para o distrito.
Para executar o plano criou-se uma comissão técnica que deveria acompanhar o
desenvolvimento das ações. Desta equipe participavam representantes do poder
público, de organizações sociais, como ATIVA, além de representantes comerciais.
Encerrado o período de vigência do plano, a pesquisa de campo revelou que
muitas das ações não foram realizadas. O Presidente da ATIVA afirma que um dos
maiores motivos prejudiciais ao turismo é o seguinte: “o patrulhamento policial no
Guaibim é um problema até os dias atuais, pequenos furtos além de invasões a
residências no distrito, ainda são frequentes”. (Presidente da Associação de Turismo
de Valença e Guaibim, 2014, informação verbal).
Desta forma, observa-se que o plano emergencial, apesar de ter garantido
melhoras na qualidade de alguns serviços turísticos no verão de 2006/2007, não se
repetiu nos anos seguintes, o que significa afirmar que os problemas não foram
erradicados, apenas teve efeito naquele verão. O relato do representante dos
estabelecimentos turísticos é bastante ilustrativo. Ao ser questionado sobre o que
significou o Plano Emergencial de Turismo, o Presidente da ATIVA responde que:
O Plano emergencial do Turismo representou ganhos para o turismo no Guaibim, naquela época eu não presidia a ATIVA, eu apenas administrava o meu hotel, mas já participava ativamente das reuniões e pude perceber que de forma generalizada, toda rede hoteleira apresentou saldos positivos no lucro. Quem disser que o verão 2006/2007 foi ruim, está mentindo, tivemos um aumento no fluxo de turista, na ocupação dos leitos, foi muito bom aquele verão. (Presidente da ATIVA, 2014, informação verbal).
165
Outra ação do poder público local para fomentar o turismo foi o Projeto
Regionalização do Turismo na Costa do Dendê 2006/2007. Este projeto atendeu aos
preceitos do Plano Nacional de Turismo através do Programa de Apoio do
Desenvolvimento Regional do Turismo, cuja principal meta é promover a integração
regional de áreas com vocação turística. Nesse sentido, o Projeto de Regionalização
propôs a criação de roteiros integrados. Para isso, a prefeitura de Valença fez
parcerias com vários órgão tais com: o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC), o Banco do Nordeste, Bahiatursa, o Ministério do Turismo,
Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos (SUINVEST),
representantes locais, como Associação dos Municípios do Baixo Sul (AMUBS), e as
seguintes prefeituras: Cairu, Ituberá, Camamu, Maraú e Igrapiúna.
A Prefeitura municipal realizou oficinas de capacitação empresarial, qualificação
de negócios turísticos, seminários de roteirização, dentre outras ações, cujo principal
objetivo era a melhoria da qualidade e gestão dos serviços turísticos, fortalecimento
do produto turístico e da identidade regional. O público alvo das ações foi
comerciantes e empresários dos ramos de hospedagem, alimentos e bebidas,
agentes de viagens e transportes da Costa do Dendê.
No projeto estava previsto o aumento da permanência do turista, da ocupação
dos meios de hospedagem e o aumento da avaliação positiva dos turistas durante a
sua estada na Costa do Dendê. Para tanto, foram estabelecidas metas de empenho
para o setor. Entretanto, não foram expressos os instrumentos de avaliação dessas
metas, o que inviabiliza mensurar a eficiência do projeto.
Algumas ações foram desenvolvidas, outras esbarram nas dificuldades da falta
de recursos financeiros para a sua realização. De certo, o principal objetivo do
projeto não foi alcançado, pois, a integração regional das áreas com vocação
turística não aconteceu.
O Secretário de Turismo, ao ser questionado sobre as dificuldades para realizar
ações de fomento turístico, respondeu que: “o grande problema é a escassez de
recursos disponibilizados para o setor, como o aporte financeiro oriundo do
FUMTUR no valor mensal de $ 3.000,00 (três mil), valor muito pequeno para realizar
qualquer coisa.” Esse argumento se esvazia quando se observa a distribuição da
receita municipal prevista na Lei Orçamentária para os exercícios financeiros de
2014 e 2015. (TABELA 11)
166
TABELA 11 – MUNICÍPIO DE VALENÇA: DETALHAMENTO DE DESPESAS PREVISTAS PARA O EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2014- VALENÇA
Descrição do Programa Valor Previsto
Capacitação de equipes de salva-mar 20.00,00
Manutenção do serviço de salva-mar 110.000.00
Realização e apoio a festas populares 400.000,00
Revitalização do patrimônio turístico 70.000,00
Requalificação de áreas de potencial turístico 100.000,00
Implantação de sinalização turística 15.000,00
Capacitação profissional e empresarial para o turismo 20.000,00
Implantação do serviço de atendimento ao turista – SAT 50.000,00
Ações integradas e articuladas de infraestrurura de apoio ao turismo 20.000,00
Realização de eventos de promoção turística 20.000,00
Manutenção do serviço de atendimento ao turista – SAT 55.000,00
Total 880.000,00
Fonte: VALENÇA (2013)
Para o Secretário de Turismo, a gestão 2012/2016 vem enfrentando sérios
problemas de repasse de recursos para as secretarias, por isso algumas ações se
repetem no exercício do ano seguinte. A pesquisa de campo permitiu concluir que o
setor turístico em Valença tem enfrentado dificuldades para a sua manutenção, e o
poder público local não tem de forma efetiva contribuído para reverter essa situação.
Entre 2014 e 2015 os recursos disponibilizados pela dotação orçamentária
para a Secretaria de Turismo Municipal passou de R$ 880.000,00 (oitocentos e
oitenta mil reais) para R$ 1.200.000,00 (um milhão duzentos e sessenta e seis reais)
o que representa um aumento de 30% dos recursos previstos para o setor turístico.
Entretanto, as atividades econômicas ligadas a prática turística no município
de Valença continuam enfrentando dificuldades de crescimento, apesar do aumento
do quantitativo financeiro sobre o setor. (TABELA 12).
167
TABELA 12 - MUNICÍPIO DE VALENÇA: DETALHAMENTO DE DESPESAS PREVISTAS PARA O EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2015
Descrição do Programa Valor Previsto
Aquisição de jetski para salva-mar 25.000,00 Capacitação de equipes de salva-mar 8.000,00 Manutenção do serviço de salva-mar 80.000,00 Realização e apoio a festas populares 430.000,00 Revitalização do patrimônio turístico 60.000,00 Requalificação de áreas de potencial turístico 535.000,00 Implantação de sinalização turística 30.000,00 Capacitação profissional e empresarial para o turismo 8.000,00
Ações integradas e articuladas de infraestrutura de apoio ao turismo 20.000,00
Realização de eventos de promoção turística 10.000,00
Manutenção do serviço de atendimento ao turista (SAT) 60.000,00
Total 1.266.000,00
Fonte: VALENÇA (2014)
De acordo com as informações levantadas, os esforços da gestão municipal,
com vistas a fomentar o turismo, estavam concentrados na negociação para
instalação do empreendimento imobiliário de grande porte no distrito de Guaibim.
5.3 Interesses socioambientais e especulação imobiliária em território turístico: uma leitura sobre Guaibim.
A ocupação efetiva da área pode ser datada a partir da primeira década do
século XX, quando surgiram os primeiros moradores atraídos pela disponibilidade de
recursos pesqueiros. Neste contexto, o núcleo de povoamento nasce como uma vila
de pescadores. Com o avanço da ocupação outras atividades econômicas foram se
desenvolvendo, além da extração pesqueira, e diversos outros recursos também
eram extraídos como a piaçava e a madeira em paralelo ao desenvolvimento da
pecuária na região.
O distrito do Guaibim está localizado na porção leste do município de Valença,
onde também se encontra o mais importante atrativo turístico do município, a praia
do Guaibim.
Cercada por coqueirais, a praia de Guaibim dispõe de uma rede
estabelecimentos comerciais de alimentação que oferecem um variado cardápio
regional. Os quiosques, construídos próximo à beira mar é uma das opções para
desfrutar as iguarias da culinária local. A Foto 10 ilustra a presença destes
estabelecimentos.
168
FOTO 10 - PRAIA DE GUAIBIM
Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.
Na década de 1980 outra atividade econômica passa a ser praticada em
Guaibim, o cultivo de camarão em cativeiro, a carcinicultura. A Foto 11 ilustra os
tanques onde ocorre a produção do crustáceo. Grandes fazendas de cultivo são
instaladas, provocando um novo dinamismo econômico.
FOTO 11 - VIVEIROS DE CARCINICULTURA NO GUAIBIM
Fonte: Valença (2004)
169
A foto 12 expõe a área urbana do distrito do Guaibim, cuja expansão segue a
faixa litorânea, através da construção de residências de luxo a partir do
comprometimento ambiental da vegetação de restinga.
FOTO 12 - ÁREA URBANA DISTRITO DE GUAIBIM
Fonte: Valença (2004)
De acordo com o Censo demográfico do Instituto de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2010, 96% da população residente no distrito de Guaibim corresponde à
população urbana.
Alavancado pelo desenvolvimento de práticas comerciais tipicamente urbanas, a
população rural diminui em decorrência da migração campo-cidade. A população
migrante foi ocupando áreas impróprias para assentamento, como os manguezais,
construindo casas sobre condições de habitação precárias, sem acesso a
saneamento básico, como rede de água e esgoto. Em 2007, o poder público
municipal, juntamente com o Ministério das Cidades, inicia a construção do conjunto
habitacional para realocar a população. Foram construídas 150 unidades
habitacionais. Segundo informações do Secretário de Turismo, ao ser questionado
sobre ações implementadas para o desenvolvimento turístico, ele respondeu:
Para liberação de recursos previsto no PRODETUR II foi necessário à retirada das pessoas que moravam em cima do mangue. Foram
170
construídas 150 casas dando origem ao Condomínio Santa Tereza. ( Secretário de Turismo Municipal, 2014, informação verbal).
O processo de expansão urbana de Guaibim ocorre simultaneamente com o
aumento da pressão sobre os recursos naturais. Numa tentativa de diminuir a
degradação ambiental, em 2002 foi institucionalizada a Área de Proteção Ambiental
(APA) de Guaibim através do Decreto Municipal nº 5.333 de 02 de novembro
daquele ano. Três anos após a criação da APA (2005), em atendimento a legislação
vigente, foi elaborado o Plano de Gestão e Zoneamento da Área de Proteção
Ambiental Planície Costeira do Guaibim.
Enquanto prática de planejamento, o zoneamento é uma proposta de
ordenamento territorial que regulamenta o uso e ocupação do solo cujo objetivo é a
conservação e preservação dos ecossistemas, através de uma normatização das
atividades econômicas desenvolvidas na área.
De acordo com a proposta implementada através do Decreto Municipal Nº 5.333
de 02/11/2002, a planície costeira do Guaibim foi desmembrada em seis zonas com
base em três categorias: conservação, preservação e uso sustentável. (VALENÇA,
2004). A Tabela 13 apresenta a divisão da APA do Guaibim revelando a extensão de
cada zona e a sua classificação quanto ao uso do solo.
TABELA 13 - ZONEAMENTO DA APA PLANÍCIE COSTEIRA DO GUAIBIM
Fonte: Valença (2004).
Ressalta-se que o grande mérito da proposta de zoneamento diz respeito a sua
vocação para a manutenção dos ecossistemas associado ao equilíbrio da ação
antrópica da área.
Zonas Categoria Área (em Hectares)
Percentual (%)
Zona de Preservação da Vida Silvestre Preservação 6.538,83
51,43
Zona de Proteção Especial Conservação 3.459,05
27,21
Zona Agroflorestal Uso Sustentável 936,86
7,37
Zona Ocupação Rarefeita Uso Sustentável 574,83
4,52
Zona Urbana Regulamentada pelo PDDU, Lei Municipal Nº 1.856 de 07 de Outubro de 2006.
Uso Sustentável 426,96
3,36
Carcinicultura Uso Sustentável 776,30
6,11
TOTAL 12.712,83 100,00
171
O zoneamento é um instrumento balizador para uma ocupação racional do solo
o que contribuirá para um desenvolvimento sustentável, assim sendo, ser usado
como referência na execução de políticas públicas de planejamento.
A finalidade do zoneamento é incorporar a dimensão ambiental na planificação do desenvolvimento, constituindo um trabalho sistemático para subsidiar as políticas de desenvolvimento, bem como as políticas de conservação ambiental, levando em consideração as prioridades regionais, as diversidades desses domínios naturais e das estruturas geradas pela ocupação humana. (VALENÇA, 2004, p. 3)
Apesar de toda regulamentação técnica para o uso racional do solo, o que se
tem assistido é o desrespeito à legislação. Não há fiscalização pelas instâncias
públicas de poder no que tange à ocupação da área. Na verdade, o poder público
local é omisso quanto ao processo, e em algumas situações, ele próprio é o
causador dos impactos ambientais em razão da subserviência às pressões do
capital e sua busca crescente pela acumulação. Como afirma Santos (2014, p. 108)
“Afinal, os mecanismos de mercado aparecem triunfantes, (...) arrastando o Estado
para a órbita dos interesses privados.
Para exemplificar essa situação traz-se a construção de empreendimentos
hoteleiros sobre a linha de praia, onde tais estabelecimentos comerciais, bem como,
residências da alta classe do poder aquisitivo, avançaram 20 m, para além do que é
permitido por Lei18 sobre a zona costeira. Outro exemplo da ação do Estado em
favor do capital pode ser a tentativa de mudança do zoneamento urbano em
Valença.
Recentemente a gestão municipal iniciou os debates para aprovação do Projeto
de Lei 21/2012 que previa a alteração do zoneamento urbano do município. O
projeto de lei foi uma a tentativa de delimitar parte da Planície Costeira do Guaibim,
como área de expansão urbana. (FIGURA 14)
18 Ver Decreto-Lei Nº 9.760, de 5 de Setembro de 1946.
172
FIGURA 14 - DELIMITAÇÃO DA APA PLANÍCIE COSTEIRA EM GUAIBIM
Fonte: CODEMA, 2007 Originalmente a escala é 1:25.000.
Nessa perspectiva, seria favorecida a implantação do empreendimento hoteleiro
Condomínio Porto da Ponta em uma área de 9,8 hectares, localizado entre as
coordenadas geográficas 13°22’32” S e 38°57’32” O. Quando o Procurador
Municipal foi questionado sobre as características do empreendimento, ele
respondeu:
O projeto prevê a construção de um resort com 62 unidades habitacionais cujo valor inicial de cada imóvel é exorbitante, fora dos padrões locais. O projeto inicial do empreendimento prevê uma dotação de recurso no valor de 150 milhões de reais (Procurador da Prefeitura Municipal de Valença, 2014, informação verbal)
A área alvo de interesse do capital, a Ponta do Curral (FOTO 13), dispõe de
imensurável riqueza biológica e grande beleza natural. Consequentemente a sua
importância ambiental justifica-se, sendo por essa razão identificada como Zona de
Proteção Especial (ZPE).
173
FOTO 13 – GUAIBIM: PRAIA PONTA DO CURRAL
Fontes: Valença, 2004
De acordo com a legislação vigente, nessas áreas as atividades humanas
podem se desenvolver com baixo potencial de impacto, sem alterações significativas
na dinâmica.
O Projeto Lei só não foi aprovado pela Câmara de Vereadores devido à
intervenção do Ministério Público, através do processo nº 2011-026395/TECLS-
0874. (BAHIA, 2012)
Todavia, as negociações para realização do empreendimento permaneceram
ativas com a participação do grupo Porto da Ponta Fundo de Investimento
Imobiliário, prefeitura municipal e empresários locais. Fruto deste processo, o poder
público local apresentou para o Fundo de Investimento Imobiliário, em dezembro de
2014, uma proposta de contrapartida prevendo uma intervenção física, social,
turística, econômica e ambiental no distrito de Guaibim. Assim, seriam feitas
melhorias na infraestrutura urbana do distrito, com um custo de R$ 4.000.000,00
(quatro milhões de reais) num prazo máximo de 36 meses. Até as vias de conclusão
desta pesquisa (primeiro trimestre de 2015) não houve resposta quanto à proposta
encaminhada pela prefeitura municipal.
Percebe-se que, segundo depoimentos dos Secretario de Turismo e Procurador
da Prefeitura Municipal de Valença, o empreendimento imobiliário representa uma
possibilidade de crescimento econômico para o distrito de Guaibim.
174
Valença irá ganhar muito a partir do empreendimento na Ponta do Curral, o turismo na cidade dará um salto econômico, só temos a ganhar. Eu não entendo como tem tanta gente contra isso, todos os cuidados com a questão ambiental já foram tomados, o projeto já tem uma licença ambiental. A população vai ser beneficiada principalmente no Guaibim. (Secretário de Turismo Municipal, 2014, informação verbal). O grupo responsável pelo empreendimento imobiliário Ponta do Curral vai fazer grandes investimentos no Guaibim, a Prefeitura tá negociando a contrapartida que será exigida para a instalação do projeto. Vai ser bom não só para o Guaibim, mas para toda região. (Procurador da Prefeitura Municipal de Valença, 2014, informação verbal).
Os entrevistados comungam com a ideia que a construção do resort trará saldos
positivos para a comunidade valenciana, e todos os riscos ambientais já foram
avaliados, sendo sinalizadas estratégias para minimizá-los. Foi com essa
perspectiva que o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA)
autorizou o empreendimento através da licença unificada institucionalizada pela
portaria nº 2499 de 19 de abril de 2012. (ANEXO F)
Ao ser questionado sobre o conteúdo do projeto do empreendimento, o
Procurador da Prefeitura respondeu:
Frente a tanta polêmica gerada pelo projeto a ser implantado na Ponta do Curral e em razão dos debates sobre o tema ainda estarem ocorrendo, eu não posso disponibilizar o projeto, nem tão pouco a planta do empreendimento. O máximo que posso informar é que o projeto prevê a construções de um resort, uma marina, além de um condomínio residencial com lotes entre 5 e 13 mil m2. (Procurador da Prefeitura Municipal de Valença, 2014, informação verbal).
Nessas condições a realização do empreendimento imobiliário na Ponta do
Curral tem gerado debates na sociedade valenciana, contudo as informações sobre
o tema não são completamente claras e acessíveis. Pergunta-se: será realmente
que os riscos ambientais de um projeto de tamanha envergadura já foram
minimizados? Admitindo que atualmente o poder público enfrente dificuldade para
acompanhar os processos socioeconômicos dentro da APA de Guaibim, será que
durante e depois da implantação do empreendimento imobiliário essa dificuldade
175
terá sido sanada, permitindo uma eficiente fiscalização com vias a minimizar os
impactos ambientais do projeto?
Nessa perspectiva, o Estado busca o dinamismo econômico, cedendo aos
interesses do capital em troca de sensíveis melhorais socioeconômicas. O ofício
datado em 08 de dezembro de 2014, enviado pela Prefeitura Municipal de Valença
para o Fundo de Investimento Porto da Ponta (ANEXO G) ilustra esse processo de
negociação entre o Estado e o capital. O poder público local pleiteia o investimento
de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) para ser aplicado na comunidade de
Guaibim, na construção de postos de saúde, requalificação da orla marítima, dentre
outros, em troca da autorização para a instalação do empreendimento. Ressalta-se
que alguns dessas ações, como a requalificação da orla do Guaibim, já estavam
previstos no PDTIS. Até a data de finalização da pesquisa, não houve retorno
quanto à negociação, contudo, o episódio é um retrato de como o Estado delega a
suas função para terceiros. Também é um exemplo das dificuldades em executar o
que é planejado: seja por questões burocráticas, ou mesmo falta de qualificação da
equipe técnica, o fato é que recursos financeiros foram orçados para muitas ações
previamente planejadas, porém muitas delas ações não foram executadas.
Outro problema de ordem socioambiental corresponde à questão dos
estacionamentos construídos sem nenhum respeito à legislação ambiental, muitos
deles estão construídos em manguezal. Durante a visita de campo, pode-se
perceber um expressivo número de estacionamentos na cidade e no atracadouro
Bom Jardim, localizado em Guaibim.
Para aumentar a rentabilidade, os estabelecimentos comerciais recrutam jovens
e adolescentes para abordar todos visitantes e convencê-los a guardar o veículo em
estacionamento privado. Cria-se assim uma verdadeira competição entre os jovens
recrutados, que são denominados de “flanelinhas”, pois ao final do expediente de
trabalho a renda está na dependência do total de veículos direcionados para cada
estabelecimento.
Na área da planície costeira de Guaibim onde está localizado o Atracadouro
Bom Jardim o crescimento urbano se deu à custa do comprometimento ambiental.
Todavia, durante as visitas de campo observou-se que nenhum tipo de fiscalização
ambiental foi identificado. A foto 14 revela a presença de estacionamento construído
sobre área de manguezal.
176
FOTO 14- GUAIBIM: ESTACIONAMENTO CONSTRUÍDO EM ÁREA DE MANGUEZAL
Fonte: SOUSA, 2014/2015, Estudo de Campo.
O processo de exploração da mão de obra juvenil é marcante, constatou-se que
não há nenhum tipo de proteção legal para os trabalhadores. Na pesquisa de campo
buscou-se avaliar a atuação do poder público municipal no que se refere à essa
questão. Durante as entrevistas foi questionado ao líder dos flanelinhas, se a
Prefeitura Municipal interfere de alguma forma no desenvolvimento da atividade. O
líder dos flanelinhas respondeu:
Não há nenhum apoio da prefeitura, a não ser quando é para fazer o cadastro para desempenhar a função de coletor de automóveis para estacionamentos privados. Muitos colegas não estão cadastrados, mas como não há fiscalização eles trabalham nos principais pontos de passagem do turista. Na prefeitura tem 15 (quinze) meninos cadastrados, mas existem aqueles que são clandestinos, que trabalham quando a gente não está no ponto. A gente não deixa eles trabalharem, quando um engraçadinho aparece, leva porrada. ( Líder dos flanelinhas entrevistado).
177
No entanto, em razão de acordo tácito entre os flanelinhas devidamente
cadastrados eles estabeleceram regras para os clandestinos19, como horário de
expediente. Nenhum jovem não cadastrado pode exercer a atividade em locais e
horários onde estejam presentes aqueles que possuem cadastro na prefeitura; os
“espaços são delimitados e respeitados pela categoria”. Segundo o entrevistado nº4,
quando qualquer novato não quer se submeter às regras ele fica impedido de
trabalhar. Nessas condições, percebe-se uma disputa por espaços, culminando,
segundo os flanelinhas “em agressões físicas com os envolvidos no processo”.
A realidade investigada revelou que o poder público local não tem sido eficaz, no
sentido de promover melhorias expressivas que fomentem o desenvolvimento do
turismo no município de Valença. Ações foram executadas, recursos foram
direcionados, mas os resultados não repercutiram em avanços ao ponto de alçar o
desempenho econômico turístico frente ao cenário regional.
Em se tratando de planejamento turístico, a pesquisa demonstrou que, na área
estudada, essa prática é executada de forma equivocada. Identificou-se que não há
continuidade nas ações e o processo de elaboração e execução do planejamento
desenvolve-se privilegiando questões de cunho emergencial. Foi possível observar
que, o discurso dos gestores públicos locais é centrado na escassez de recursos, o
que justificaria, segundo esses sujeitos, o atual estágio do turismo local. Contudo,
frente aos dados levantados, através deste estudo, é notório constatar que o
discurso é uma estratégia para mascarar a ineficiência do planejamento e das
políticas públicas para o turismo. Soma-se a esse quadro, o fato que, o turismo não
está no centro da agenda governamental dos gestores municipais.
A Secretaria de Turismo do Município de Valença, principal órgão executor das
ações de fomento à atividade, ainda não possui sede estruturada e adequada para o
desenvolvimento das atividades administrativas e o número de funcionários também
é insuficiente. A qualificação técnica dos principais agentes públicos atuantes nesse
órgão, é outro elemento agravante para o desenvolvimento da atividade.
A pesquisa demonstrou uma acentuada dependência de recursos oriundos de
fontes federais. Percebe-se que existem problemas para a execução financeira
19 Termo usado pejorativamente para classificar os jovens que abordam os automóveis dos
visitantes e os encaminham para estacionamentos privados.
178
referente ao turismo, em razão desse fato, os recursos acabam retornando para a
União.
Compreender as práticas turísticas em Valença é admitir como uma amálgama,
de diferentes elementos que se articulam, ao sabor dos interesses dos agentes
produtores dos espaços turísticos, e como tal, é uma síntese da totalidade social
num dado contexto histórico geográfico.
179
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa analisou-se a produção do território turístico na Bahia,
explicando os impactos das políticas públicas em Valença. Refletiu-se também sobre
a ação do Estado no município de Valença Bahia, no que se refere à política de
planejamento turístico. A intensão não foi analisar a atividade turística em si, mas
verificar como ela interfere na produção do território, observando o papel do poder
público local neste processo. Buscou-se desvelar como se materializa a relação do
turismo-território, partindo do pressuposto que o turismo o transforma de acordo com
as necessidades previstas para a prática da atividade. Ele concorre também para a
transformação dos territórios para o seu uso com outros usos, bem como as
formações socioespaciais precedentes ao seu aparecimento. Nesse processo cria-
se, transforma-se: territórios que passam a assumir uma valorização diferenciada
que sob outras condições poderiam não ter valor de produção; as práticas turísticas
conduzem e modelam o processo de refuncionalização dos espaços.
O estudo foi impulsionado pelo desafio de explicar a realidade valenciana como
produto da dinâmica do capital que, constrói especificidades socioespaciais como
condição e condicionante da desigualdade. Nesse turno, a opção em analisar o
turismo, enquanto fio condutor das transformações no território urbano permitiu
elucidar o verdadeiro papel do município de Valença no contexto regional.
A investigação tornou possível perceber que Valença, espaço criado para e pela
acumulação do capital, faz parte de uma totalidade marcada por uma dinâmica que
vai além dos interesses locais. A relação entre o lugar e o global resulta da ação
orquestrada de sujeitos hegemônicos que vão determinar as práticas
socioambientais de cada parcela do espaço. São esses agentes, que materializam
as conexões com a economia globalizada, impondo uma nova configuração
espacial/territorial em detrimento das demandas do lugar. Como tal, o turismo em
Valença compõe uma parte dessa engrenagem econômica que é o turismo baiano.
Sob a análise geográfica do desenvolvimento desigual foi possível revelar como
a dinâmica do capital, a partir do desenvolvimento da atividade turística, cria
especificidades, como reflexo da diferenciação-igualização dos espaços. Trata-se da
forma como o capital se estabeleceu desde a colonização até os dias atuais,
imprimindo uma determinada formação territorial em Valença.
180
O estágio atual do turismo na área de estudo é reflexo das políticas implantada
pelo governo da Bahia, cujos modelos foram alicerçados na concentração de
investimentos públicos e privados em determinados pontos do espaço, como
estratégia para atrair empresas ligadas, a atividade turística, imprimindo uma nova
lógica econômica. Com base nesse modelo, criaram-se Pólos Turísticos por todo o
território baiano, para onde eram direcionados os esforços no sentido de fomentar a
atividade.
Estabelece-se desta forma, uma seletividade territorial na utilização dos recursos
naturais e culturais, a partir da identificação dos espaços com maior potencial
turístico, para a partir de então, proceder assim, a política de incentivo técnico e
financeiro que tem por objetivo fomentar as práticas turísticas estaduais, via
delimitação de Zonas Turísticas.
A análise da distribuição dos recursos nas zonas turísticas revelou que, os
investimentos ficaram concentrados Zona Baía de Todos os Santos, com destaque
para Salvador destino âncora. Esse fato demonstra que o discurso distancia-se da
prática, quando o assunto é a desconcentração dos recursos turísticos na Bahia,
proposto pelo poder público estadual. As ações governamentais têm privilegiado
espaços turísticos já consolidadas no mercado.
A divisão em Zonas Turísticas na Bahia, não foi única no sentido de estruturar o
território baiano com vistas a executar o planejamento ou politicas públicas. O poder
público estadual implementou diferentes divisões regionais e territoriais, cujo objetivo
esteve, deste o principio, associado ao estabelecimento de estruturas que
permitissem a execução do planejamento, seja ele regional ou territorial. A Bahia foi
dividida em Regiões Administrativas; Regiões Econômicas e de Planejamento; Eixos
de Desenvolvimento e Territórios de Identidades. Algumas delas foram usadas
simultaneamente, apesar das diferenças teóricos-metodológicas, pois como herança
do planejamento setorial, cada órgão governamental adotava, ou até mesmo criava
uma estrutura espacial ou territorial que melhor atendesse as necessidades de
planejamento. Nesse contexto, cabe uma reflexão quanto às principais
regionalizações ou divisões territoriais da Bahia.
Na regionalização elaborada com base no conceito de região econômica, o
Estado, desvelou como o desenvolvimento socioeconômico desigual, no contexto da
reprodução ampliada do capital, materializa-se no espaço. Em outras palavras, a
181
divisão em Regiões Econômicas e de Planejamento demarcou, no espaço, a
desigualdade regional produzida pela dinâmica do capital.
Outrossim, constatou-se que a atual estrutura territorial na Bahia, alicerçada sob
a delimitação de territórios de identidade é possuidora de fragilidades, na medida
que adota como critério de delimitação, a identidade territorial.
A identidade é uma construção social histórica, mas também reside no
imaginário social. Desta forma, os indivíduos que comungam da mesma identidade,
são aqueles que, a partir de construção coletiva, compartilham um conjunto de
ideias e conceitos assimilados como identitário.
Teoricamente, a identificação e delimitação dos Territórios de Identidade
baseiam-se na assimilação desse elo entre os indivíduos pertencentes a cada
município que os compõem. Na prática a situação é bem diferente: muitos territórios
estabelecidos são possuidores de frágil unidade identitária, pois seus limites
fronteiriços foram delimitados nos gabinetes do poder público. O resultado foi a
adoção de uma identidade forjada.
Partindo do princípio que Valença faz parte de uma totalidade, e que cada uma
delas, é possuidora de uma interdependência funcional, a análise da mesma
pressupõe a sua fragmentação, como afirma Santos (2014), é a partir da
fragmentação que permite, ao seu término, a reconstituição desse todo.
Cabe ressaltar que essa funcionalidade, é um dado socialmente construído, o
que significa afirmar que a realidade funcional não é estática, fixa: ela se transforma
com o transcorrer histórico.
Nesse contexto, cada unidade do todo, dispõe de características peculiares, e
essas diferenças atuam como responsáveis pelo processo de desenvolvimento de
cada uma dessas partes, impondo-lhes ritmos também diferenciados. É sobre essa
realidade que a ação do Estado se impõe, e como tal, criando, estratégias para
reverter os impactos que resultam em desigualdades socioambientais.
Com base nessa afirmação, entende-se porque a atividade turística em Valença
apresenta uma dinâmica econômica pouco expressiva em relação ao cenário
estadual, diferente do que ocorre nos municípios vizinhos como Cairu. Existem
condições peculiares a Valença que lhe resultou em um processo histórico de
desenvolvimento turístico também diferenciado, expressivamente em Guaibim. O
182
que significa afirmar, que diferenças foram produzidas, enquanto contradições no
contexto do modo de produção capitalista.
Como uma construção social e histórica, a investigação sobre a produção
territorial valenciana revelou que o espaço foi transformando-se ao sabor da
dinâmica produzida, a princípio, com os engenhos do açúcar, responsáveis pelo
núcleo de assentamento que deu origem a cidade de Valença, em seguida, a
produção têxtil das unidades fabris, também traçou sua trajetória nas
transformações socioespaciais e socioterritoriais. Acrescenta-se ainda, a importância
de outras atividades, como a produção naval, praticada nos estaleiros à margem do
Rio Una, e a pesca artesanal: conteúdos econômicos e políticos que registraram no
espaço os arranjos que resultaram na formação territorial. A velocidade dessas
transformações está diretamente atrelada ao ritmo do desenvolvimento das forças
produtivas, assim sendo, no contexto da mundialização do capital, os processos
tornam-se mais complexos.
A pesquisa revelou que desnudar o espaço valenciano, vislumbrando-o numa
perspectiva geográfica de desenvolvimento desigual, é compreendê-lo como produto
de processos sociais, políticos, econômicos e históricos em constante
transformação, contudo a leitura desse espaço, só foi possível via percepção do
local conectado com a dimensão regional, nacional e internacional. Assim sendo,
Valença não pode ser definida como um espaço ou território da totalidade.
O elo pode ser analisado a partir do turismo, ao criar fluxos entre o núcleo
emissor e o núcleo receptor de turistas, integram-se pontos que extrapolam os
limites regionais. A análise sobre a origem dos turistas que visitam Valença permitiu
concluir que, cidades de outros estados atuam como núcleos emissores, são elas,
Brasília, São Paulo, Goiânia e Belo Horizonte. Porém, a maior parte dos municípios
emissores se encontra dentro dos limites territoriais da Bahia, o que permite afirmar
que, há uma predominância do turismo interno ao estado. Ainda assim, um dado
relevante foi observado com a pesquisa: apenas Brasília responde pela emissão de
expressivo fluxo turístico para Valença. O fato é justificado pela posição geográfica
do Distrito Federal em relação à área de estudo, em função do sistema rodoviário
nacional, a distância entre estes municípios favorece a atratividade de Valença
enquanto destino turístico dos candangos.
183
O Estado exerce papel fundamental como agente mediador na produção do
espaço, via Planejamento ou execução de Políticas Públicas. No Brasil, foi a partir
de 1930, o poder público interviu diretamente na estrutura econômica, promovendo
transformações socioespaciais no país. Na realidade, foi à expansão do modo de
produção capitalista que impôs uma nova realidade socioeconômica, materializada
no espaço através da constituição de desigualdades socioespaciais. Desde então,
as instituições públicas tem atuado com vista a buscar respostas para os
desequilíbrios regionais.
Com base na diferenciação/igualização produzida pela dinâmica do capital e na
análise sobre a ação do Estado, no que diz respeito ao planejamento e política
pública para o turismo foi possível perceber que o processo se estabelece na
contradição, imprimindo uma estrutura espacial que expõe a desigualdade. A
pesquisa revelou que o volume de investimentos públicos na área de estudo
contribuiu para permanência desse quadro, na medida em que os recursos foram
canalizados para Zonas Turísticas já consolidadas. Nesse sentido, o Estado passa a
presidir, para o caso particular, um aspecto da lógica capitalista que leva a
reprodução cumulativa das diferenças, sendo ele representativo dos interesses
dominantes, o que o leva ao uso dos recursos a serviço do capital em detrimento
aos interesses sociais. Em paralelo, o capital privado também percorreu o mesmo
caminho, consolidando a desigualdade socioespacial a partir do turismo, portanto
apresentando feições variadas, construídas historicamente, a partir da combinação
de fatores e elementos que em muitos casos são externos a realidade local.
Observa-se também que o principal obstáculo para o desenvolvimento turístico
em Valença e no Guaibim, não está na infraestrutura urbana, apesar da investigação
ter revelado que é preciso melhorar alguns serviços como, o acesso aos elementos
que compõem o saneamento básico. O principal obstáculo a ser enfrentado diz
respeito às práticas de planejamento e a necessidade de políticas públicas para o
turismo; não se pode afirmar, com isso, que elas sejam inexistentes.
Enquanto ação do Estado, políticas e planejamentos turísticos incidiram sobre o
município de Valença, desde a esfera federal até as instâncias de poder público
local. O PRODETUR-NE impactou expressivamente as práticas turísticas no
Nordeste brasileiro.
184
Em sua primeira etapa de execução, as iniciativas do programa foram
direcionadas para a montagem da infraestrutura de fomento ao turismo, como por
exemplo, a construção da BA 001, viabilizando uma melhor acessibilidade à Zona
Turística Costa do Dendê, e consequentemente ao município de Valença. Na
segunda etapa, as atenções centralizaram-se em programas de fortalecimento
institucional e capacitação de entidades governamentais, diretamente envolvidas
com o turismo. A pesquisa revelou que a capacitação técnica dos gestores da
Secretaria de Turismo Municipal de Valença, foi executada pelo SEBRAE. Cabe
destacar que outras ações foram implementadas, a partir do PRODETUR-NE, com
vistas a promover o turismo em Valença, cita-se como exemplo, a qualificação da
principal praça da cidade, a Praça da República, a qualificação das vias públicas no
distrito de Guaibim, principal destino turístico de Valença, etc.
No âmbito estadual, como resposta as estratégias governamentais que
primaram, a partir de 2007, pela inovação de produtos e serviços, qualificação
profissional e empresarial e da integração econômica e social do turismo, foi
executado em Valença o Plano de Fortalecimento Municipal da Gestão do Turismo.
Na verdade, o Plano nasce como resposta aos problemas identificados durante a
avaliação dos resultados da primeira etapa do PRODETUR-NE. Os problemas
apontados deficiências institucionais quanto à elaboração e execução de
planejamento e gestão, qualificação técnicos dos servidores, dificuldades em buscar
e gerir recursos.
Frente a essa dificuldade percebe-se que o principal agente produtor do espaço
turístico: o Estado na instância local, apresenta limitações no desempenho desta
função, tais como restrições técnicas dos servidores e dificuldade de execução
orçamentária.
Restam outros dois agentes que atuam com vistas a produzir espaços turísticos:
o mercado e o turista propriamente dito. Este último tem baixa expressividade neste
cargo, apesar de estar na essência do turismo, ou seja, sem turista, não existe
turismo.
O mercado materializa-se nos interesses de agentes imobiliários, empresários,
dentre outros, para os quais, o espaço turístico de Valença disputa atenção com
outros destinos turísticos como Morro de São Paulo e Boipeba, ambos, distritos
pertencentes a Cairu. Nesse processo, Valença não tem logrado êxito na contenda
185
e, o que justifica esse fato é a própria dinâmica de acumulação do capital, em que
com base na diferenciação, conteúdos econômicos, políticos são expressos no
espaço objetivando sua reprodução. Os conteúdos inscritos no espaço de Cairu têm
colocado este município em uma posição de destaque em relação à área de estudo.
Com base nessas reflexões, e após analisar os dados coletados durante a
pesquisa foi possível realizar algumas considerações importantes sobre o turismo
em Valença e Guaibim. A primeira delas está diretamente vinculada à relação do
turismo com o território, nesse processo as transformações do espaço dão-se em
conformidades com as necessidades turísticas. Os resultados dessa dinâmica não
têm proporcionado transformações significativas. A situação não pode ser justificada
pela falta de recursos como afirmam os responsáveis pela administração local, mas
sim pela descontinuidade das ações e pela limitada qualificação técnica daqueles
envolvidos no planejamento turístico.
Dadas essas condições, poder-se-á admitir que Valença e Guaibim são centros
turístico em formação. A pesquisa revelou que o processo de transformação do
espaço valenciano em espaço turístico teve seu início ainda na década de 1970,
contudo a forma como se dá a produção do capital, aliada a eficácia dos objetivos e
ações inerentes ao espaço municipal resultaram em uma fraca dinamicidade
econômica. Sendo assim, pode-se concluir que Valença caracteriza-se como um
centro turístico, porém com baixa expressividade econômica, a partir dos dados
levantados na pesquisa, se relacionado a centros mais expressivos. O limitado fluxo
de turista, as baixas taxas de embarque e desembarque confirmam esse argumento.
Observou-se que a função de centro turístico em Valença e Guaibim pode ser
delimitada como Centro Turístico de Escala. Entretanto, o atrativo turístico da praia
de Guaibim é a razão para o município enveredar mais esforços para ampliar essa
funcionalidade. Enquanto Centro de Escala, os atrativos de origem extramunicipal,
como Morro de São Paulo, Boipeba, justificam o porquê muitos visitantes não têm o
município de Valença como destino turístico, o que lhe configura a prerrogativa de
ser identificada como, porta de entrada, para uns, corredor turístico, para outros, ou
ainda cidade garagem.
A análise se fundamentou na observação de três variáveis que poderiam
justificar o atual estágio de desenvolvimento do setor: a infraestrutura urbana de
saneamento básico, o sistema de hospedagem existente no município e por fim, a
186
política pública de turismo, especialmente a praticada pelo poder público municipal.
No conjunto, as três variáveis apontam para lacunas na sua estrutura e dinâmica
que resultam em saldos negativos para o desempenho do setor.
Sobre a infraestrutura de saneamento básico, os dados revelaram que é
necessário ampliar a oferta do serviço, principalmente quanto ao seu item coleta de
lixo, para favorecer a venda do produto turístico. A prática de visitar, conhecer
lugares está diretamente relacionada ao consumo da paisagem, e quando essa
paisagem apresenta problemas relacionados à higienização a sua força de
atratividade torna-se declinante. Mas esse não é o principal problema existente na
cadeia produtiva. Os meios de hospedagem existentes no município, também
apresentam carências quanto à qualificação dos funcionários e oferta do serviço
prestado.
Por fim, a última variável corresponde a que, segundo o estudo, mais impacta no
desenvolvimento da atividade, a política pública de turismo. Enquanto ação do
Estado, a política pública de turismo se processa nas três esferas da gestão pública:
federal, estadual e municipal. Nesse aspecto, os estudos revelaram dois grandes
problemas que comprometem a eficácia da ação do Estado. O primeiro deles foi a
conexão entre o que é planejado a nível Federal e Estadual, não é, em sua
plenitude, executado. O segundo problema identificado, provavelmente o mais
grave, foi a falta de continuidade das ações governamentais.
Conclui-se que há uma tradição na política brasileira de definir paternidade
quanto a planos/programa governamental, não há problema nenhum quanto a esse
fato. Todavia, quando se processa o término dos mandatos, muitos dos planos
programas, perdem a sua importância na agenda governamental, mesmo que tais
ações representem ganhos sociais e econômicos a sua permanência pode significar
publicidade para os gestores que antecedem o novo mandato.
Os resultados da pesquisa permitem afirmar que a continuidade das ações do
poder público em se tratando de medidas pertencentes a mandatos pretéritos,
impõe-se como obstáculo ao planejamento turístico. O estudo revelou que na
organização institucional existem instrumentos de ação que normatizam o
desenvolvimento turístico, e também recursos para programar ações que fomentem
a atividade, porém o repasse de tais recursos não é satisfatório para ampliação de
projetos.
187
Outro elemento identificado durante as pesquisas é a inexistência do inventário
turístico do município. Há falta de conhecimento tanto da Secretaria de Cultura e
Turismo como da Secretaria da Receita Municipal, do quantitativo de unidades
comercias ligadas ao turismo no município. Sendo assim pergunta-se: como é
possível, gerir, fiscalizar, planejar, fomentar políticas públicas se a gestão municipal
desconhece a realidade sobre a qual deve atuar?
Eis aqui a justificativa para o atual estágio de desenvolvimento do setor turístico
em Valença e Guaibim, necessidade de implementação de políticas públicas para a
consolidação da atividade no território. Conclui-se que apesar do potencial turístico
presente em Valença e no Guaibim, o desenvolvimento dessa atividade não está no
centro da agenda dos gestores municipais.
A finalização da pesquisa mostrou que não existe território turístico no município
de Valença, pois não existe exclusividade das práticas turísticas sobre o território.
Existe sim, o espaço turístico, sobre o qual o poder público tem atuado como
principal agente produtor do mesmo, na medida em que cria ou qualifica a
infraestrutura necessária para o desenvolvimento da atividade, mesmo que esta
estrutura seja utilizada por outros setores econômicos. Contudo, foi possível
observar que a produção do espaço turístico valenciano, ainda não atingiu a sua
plenitude, ou seja, ainda não está consolidado em termos de mercado.
A produção do território valenciano deu-se, não como produto da relação do
turismo com o espaço, mas sim como resultado de práticas sociais mediadas por
relações conflituosas, desde o período da colonização, com as disputas entre
portugueses e índios, e no contexto atual, com a disputa velada entre os setores
hegemônicos e as comunidades locais. A disputa entre os pequenos proprietários de
pousadas e grandes empresários do setor de hospedagem é bastante ilustrativa, no
que diz respeito às relações de poder. O processo de instalação do empreendimento
imobiliário Ponta do Curral também ilustra o conflito de interesses.
O território foi compreendido como lócus de conflito, espaço de perpetração do
poder, local de implantação de políticas públicas, sob a tutela do capital. A
realização da investigação trouxe uma certeza: a acumulação capitalista não é
homogênea no tempo nem no espaço, ela está edificada nas desigualdades
espaciais e territoriais, processo este, construído historicamente via relação tempo-
188
espaço a partir do confronto entre o valor de uso e valor de troca expressos em cada
unidade espacial.
A proposta dessa pesquisa é que discussão não se esgota aqui, porquanto, o
objetivo principal desta investigação, tem por meta levantar questionamentos,
motivar pesquisas futuras sobre o objeto de estudo e fornecer subsídios para
efetivação de um planejamento municipal para o turismo em Valença.
189
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200
APÊNDICE
201
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO COM OS TURISTAS 1-Nome completo? 2-Qual a localidade de origem? ______________________________________________________________ 3-Qual a frequência que você visita Valença? ( ) 1ª vez ( )Veraneio aqui todos os anos ( )Só durante os finais de semana 4- Por que você visita Valença ? ( ) Por causa de suas belezas naturais ( ) Para visitar amigos e parentes ( ) Outros 5- Quantos atrativos turísticos você conhece? ( )Apenas 1 ( ) Entre 2 e 3 ( )Mais de 3 Cite um atrativo turístico________________ 6- Qual o tempo de permanência? ( ) Apenas um dia ( ) Até três dias ( ) Uma semana ( ) Até 30 dias ( ) Mais de 30 dias 7-Qual o meio de hospedagem utilizado? ( ) Não uso nenhum porque volto no mesmo dia. ( )Hotéis ou pousadas. ( ) Casa de amigos e parentes. ( ) Casa alugada 8- Qual a sua a avaliação dos serviços de hospedagem? ( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Boa ( ) Excelente 9-O que você avalia como positivo na sua visita a Valença? ( )Hospitalidade ( ) Belezas naturais ( )Qualidade dos serviços turísticos
202
( ) o atendimento dos prestadores de serviços ( )Serviços de lazer e diversão ( ) A limpeza urbana 10 Você pretende voltar? ( ) Sim ( ) Não
203
APÊNDICE B ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO DE TURISMO DE VALENÇA
ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. O Sr. poderia falar sobre a atividade turística em Valença? 2. Quais as principais dificuldades para a execução das ações desta
Secretaria? 3. O Sr. poderia falar sobre os planos, projetos e ações da Secretaria de
Turismo de Valença? 4. O Sr. poderia falar sobre os principais atrativos turísticos de Valença?
Sobre o inventário turísticos ?
204
APÊNDICE C ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE TURISMO DE VALENÇA/GUAIBIM
ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. O Sr. poderia falar sobre a atividade turística em Valença? 2. Quem são os associados da ATIVA? Como a associação auxilia seus
integrantes nas praticas comerciais de turismo? 3. Quais são as principais dificuldades da associação? 4. O Sr. poderia falar sobre a relação da associação com a Secretaria de
Turismo de Valença? 5. Para o Sr. quais são os principais obstáculos para o desenvolvimento
do turismo em Valença 6. O Sr. poderia falar sobre os principais atrativos turísticos de Valença?
Sobre o inventário turísticos ?
205
APÊNDICE D ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA AO ADVOGADO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE VALENÇA
ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. Existe alguma solicitação de implantação de empreendimento turístico
para o município de Valença? 2. O Senhor poderia falar o projeto de lei municipal 21/2012? 3. O Senhor poderia falar sobre o projeto imobiliário Ponta do Curral? 4. Como a Prefeitura avalia os impactos socioambientais deste
empreendimento?
206
APÊNDICE E ENTREVISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O GESTOR DA RECEITA MUNICIPAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE VALENÇA
ROTEIRO DA ENTREVISTA 1. Existe cadastro dos estabelecimentos comerciais de alimentação,
hospedagem? O senhor poderia disponibilizar esses dados? 2. O Senhor poderia falar sobre a receita e despesa municipal do setor
turístico 3. Como é feito o acompanhamento do funcionamento dos
estabelecimentos comerciais turísticos?
207
ANEXOS
208
ANEXO A – PROGRAMA DE CRIAÇÃO DE NOVOS ROTEIROS TURÍSTICOS
209
210
211
ANEXO B - RELATÓRIO DA MISSÃO TÉCNICA DO SERVIÇO DE APOIO ÀS
MICROS E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE
212
213
214
215
216
217
ANEXO C – PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO ASSOCIADA AO
TURISMO NA COSTA DO DENDÊ
218
219
220
221
222
223
ANEXO D – LEI MUNICIPAL 1. 572 DE 27 DE OUTUBRO DE 1999 QUE CRIA O
CONSELHO MUNICIPAL DE TURISMO
224
225
226
227
228
229
ANEXO E – LEI MUNICIPAL Nº 1.597 DE 16 DE AGOSTO DE 2000 QUE ALTERA
LEI MUNICIPAL 1. 572
230
231
ANEXO F - LICENÇA UNIFICADA INEMA À PORTO DA PONTA FUNDO DE
INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO
232
233
234
ANEXO G – OFÍCIO PARA O FUNDO DE INVESTIMENTO PORTO DA PONTA
COM PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NO DISTRITO DO GUAIBIM
235
236