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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF
INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAO EM CINCIA E TECNOLOGIA - IBICT
INGRID BECK
O ENSINO DA PRESERVAO DOCUMENTAL NOS CURSOS DE ARQUIVOLOGIA E BIBLIOTECONOMIA: PERSPECTIVAS PARA
FORMAR UM NOVO PROFISSIONAL
Niteri
2006
ii
Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia
Universidade Federal Fluminense - UFF
INGRID BECK
O ENSINO DA PRESERVAO DOCUMENTAL NOS CURSOS DE
ARQUIVOLOGIA E BIBLIOTECONOMIA: PERSPECTIVAS PARA
FORMAR UM NOVO PROFISSIONAL
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Cincia da Informao da Universidade Federal Fluminense, em convnio com o Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia, para obteno do grau de Mestre em Cincia da Informao. Linha de Pesquisa: Representao, Gesto e Tecnologia da Informao. Orientadora: Prof. Dr. Maria Odila Fonseca.
Niteri 2006
iii
INGRID BECK
O ENSINO DA PRESERVAO DOCUMENTAL NOS CURSOS DE ARQUIVOLOGIA E BIBLIOTECONOMIA: PERSPECTIVAS PARA
FORMAR UM NOVO PROFISSIONAL
Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao da Universidade Federal Fluminense, Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia (PPGCI - UFF - IBICT) como requisito
parcial para a obteno do grau de Mestre em Cincia da Informao.
Aprovada em 12 de maio de 2006, pela Comisso Examinadora:
________________________________________ Prof. Dr. Maria Odila Fonseca - Orientadora Doutora em Cincia da Informao (UFRJ/IBICT)
__________________________________________ Prof. Dr. Jos Maria Jardim
Doutor em Cincia da Informao (UFRJ/IBICT)
________________________________________ Prof. Dr. Yacy Ara Froner Gonalves
Doutora em Histria (USP/FAFCH) Universidade Federal de Minas Gerais
Niteri
2006
iv
Beck, Ingrid. O ensino da preservao documental nos cursos de arquivologia e
biblioteconomia : perspectivas para formar um novo profissional / Ingrid Beck . 2006.
ix f; 109 f. Dissertao (mestrado) Universidade Federal Fluminense,
Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia IBICT, Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao PPGCI, 2006.
Orientadora: Maria Odila Fonseca. 1. Preservao Documental - Dissertao 2. Ensino. 3. Novo
perfil. 4. Cincia da Informao. I. Fonseca, Maria Odila (Orient.). II. Ttulo. III. Universidade Federal Fluminense. IV. Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia.
v
Ao meu querido pai,
Fritz Beck,
In Memorian
vi
AGRADECIMENTOS
Quero aqui demonstrar o meu sincero agradecimento:
Em primeiro lugar, minha orientadora, Maria Odila, pela
generosidade e confiana que me dedicou.
Aos professores e colegas do IBICT, pela amizade e grande
oportunidade de conviver e muito aprender.
Aos coordenadores e professores dos cursos de Biblioteconomia e
Arquivologia de todo o pas, que gentilmente me atenderam durante
a pesquisa.
s minhas queridas filhas, Saskia, Marcela e Bruna.
Ao amigo Gustavo Hassan,
pelo apoio tecnolgico.
Finalmente,
ao meu
Anjo da Guarda.
vii
RESUMO
O objeto de investigao do presente estudo o ensino de Preservao
Documental nos cursos de Arquivologia e Biblioteconomia. Ele procurou
relacionar a disciplina dentro do campo informacional e identificar as
intersees com a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Cincia da
Informao, relacionando as mudanas de paradigmas que ocorreram
com o advento da era da informao. Com base em uma nova
concepo de Preservao Documental, envolvendo os diferentes
suportes documentais com foco para o acesso, identifica o profissional
da informao e sua compatibilidade com o planejamento de
preservao. O contedo terico levantado foi complementado com
dados empricos. O mapa da disciplina no Brasil, elaborado com base
nesses dados possibilitou a definio de questes norteadoras que
serviram de base para os indicadores, objetivando a adequao da
disciplina de Preservao Documental a uma nova agenda de
preservao.
DESCRITORES:
Preservao documental; ensino; profissional de informao.
viii
ABSTRACT
The objective of this study is the Document Preservation education, in
Archival Science and Librarianship courses. It tried to bring the
discipline inside to the information field and to identify the intersections
with Archival Science, Librarianship and Information Science by
relating paradigm changes that happened with the information era.
Based in a new conception of Document Preservation, involving the
different documental supports by access focusing, it identifies the
information professional and his compatibility with preservation
planning activities. The theoretical background was complemented with
empiric data. The map of the discipline in Brazil, which was elaborated
with those data, made possible the definition of subjects that point
indicators for adapting the discipline to a new preservation agenda.
DESCRIPTORS:
Document preservation; education; information professional.
ix
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1: Quadro elaborado por Silva comparando conceitos dos universos analgico e digital para o estabelecimento de prioridades de preservao.
22
Grfico 2: Nmero de matrculas nos cursos de Conservao nos Estados Unidos.
62
Grfico 3: Nmero de matrculas nos cursos de Gerncia de Preservao nos Estados Unidos.
63
Grfico 4: Nmero de matrculas nos cursos de Preservao Digital nos Estados Unidos.
63
Grfico 5: Nmero de matrculas nos cursos de Preservao de Fotografias e Material Audiovisual nos Estados Unidos.
64
Grfico 6: Quantitativo de cursos de Biblioteconomia e Arquivologia levantados em 2000 (GOMES) e 2006.
72
Grfico 7: Relao entre o quantitativo dos cursos de Biblioteconomia e Arquivologia da disciplina de Preservao Documental, oferecida entre 2000 e 2006.
73
Grfico 8: Grfico 8: Ocorrncia de publicaes por grupos temticos na revista Cincia da Informao.
84
Grfico 9: Freqncia de artigos por temas - Revista Cincia Informao e LISA.
85
x
SUMRIO
1. Introduo 1
2. Relaes interdisciplinares entre a Cincia da Informao, a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Preservao Documental
7
3. Preservao Documental: conceitos e fundamentos tericos
16
3.1. Os suportes documentais 25
3.2. A evoluo cronolgica da rea, como base epistemolgica
33
3.3. Organismos internacionais que respaldam e balizam as polticas de Preservao Documental
40
4. A emergncia de um novo perfil profissional 47
4.1. O ensino de preservao nos cursos de arquivologia e biblioteconomia
55
4.2. O mapa da disciplina no Brasil 67
5. Buscando indicadores para o contedo disciplina 83
6. Concluso 90
7. Bibliografia citada 92
Apndice I Instrumento de pesquisa (questionrio on line)
100
Apndice II Relao das instituies por estado, dos cursos de graduao e de ps-graduao de Biblioteconomia, de Arquivologia e de Cincia da Informao, em ordem alfabtica
103
1
1. INTRODUO
O conceito de preservao e acesso no campo da documentao
apareceu pela primeira vez, descrito por Paul Otlet, em seu Trait de
Documentatin (1934). Investido de impressionante atualidade, Otlet
assegurava que:
[...] o objeto de estudo da Cincia da Documentao est relacionado [...] produo [...] preservao e uso[...] de todos os documentos escritos e ilustrados [...], originais ou reprodues de desenhos e fotografias de objetos reais. [...] O objetivo prtico da cincia da bibliografia a organizao da documentao [...], para oferecer ao trabalhador intelectual o ideal de uma "mquina de explorar o tempo e o espao". (OTLET, 1939, apud BUCKLAND, 1997, p. 2, grifo nosso)
Apesar deste reconhecimento anterior, somente com o advento da
Sociedade da Informao este conceito consolidado associado ao acesso,
por meio do documento da UNESCO Memria do Mundo: diretrizes para a
salvaguarda do Patrimnio Documental Mundial1:"O objetivo da preservao
o acesso permanente." (MEMRIA DO MUNDO, 2002, p.21)
O referido documento condiciona tambm a preservao boa
administrao como uma condio prvia indispensvel. "Dependendo do
material do qual se trate, o mecanismo apropriado pode ser um catlogo, um 1 O documento atual, de 2002, foi preparado para a UNESCO por Raymond Edmonson, a partir de um documento publicado em 1995 sob os auspcios da IFLA - Federao Internacional de Associaes de Bibliotecrios e Bibliotecas.
2
inventrio ou alguma outra maneira de registrar a forma e o contedo de
uma coleo, desde suas caractersticas gerais at o plano dos diferentes
suportes." (Ibid., p. 19)
Ao integrar a preservao s atividades de gerenciamento da
informao, o Programa Memria do Mundo consolida uma proposta de
aproximao - que h muito j vinha conduzindo - entre os campos de
gesto da informao e de preservao documental. Neste sentido sugere:
Os comits internacionais, regionais e nacionais deveriam fomentar a criao e o desenvolvimento de cursos de formao superior sobre gesto do patrimnio documental (que inclussem cursos para bibliotecrios, arquivistas e curadores). Deveriam, mesmo, fomentar a introduo da Memria do Mundo nos programas de ensino geral. (Ibid., p. 25)
Esta nova viso poltica da preservao evoluiu a partir da dcada de
1980, quando j podiam ser observadas mudanas de mentalidade nesta
rea. Tambm no campo da Preservao de Patrimnio Cultural estas
transformaes foram sentidas, e foi Gal de Guichen quem definiu da
melhor maneira a nova mentalidade de preservao, que orienta os
princpios da conservao preventiva. O conceito assim formulado pode ser
considerado um marco para a quebra de um paradigma.
A conservao preventiva um velho conceito no mundo dos museus, mas s nos ltimos 10 anos que ela comeou a se tornar reconhecida e organizada. Ela requer uma mudana profunda de mentalidade. Onde ontem se viam objetos, hoje devem ser vistas colees. Onde se viam depsitos devem ser vistos edifcios. Onde se pensava em dias, agora se deve pensar em anos. Onde se via uma pessoa, devem ser vistas equipes. Onde se via uma despesa de curto prazo, se deve ver um investimento de longo prazo. Onde se mostram aes cotidianas, devem ser vistos programas e prioridades. A conservao preventiva significa assegurar a sobrevida das colees. (GUICHEN, 1995, p.2)
O novo conceito est associado viso de que a preservao s
eficiente quando envolve aes planejadas para a salvaguarda dos acervos
em seu conjunto. Com isto quebra-se outro paradigma, pois muda o prprio
objeto da disciplina, antes orientado para o artefato histrico e agora para os
conjuntos informacionais.
3
O processo de mudanas pode ser associado a momentos distintos, nos
quais ocorreram constataes sobre a fragilidade dos materiais e as questes
cruciais de acesso, cada vez mais freqentes na sociedade da informao.
Uma destas constataes ocorreu com a inevitvel falncia dos papis
cidos, que em pouco tempo se tornavam quebradios, advindo a
conseqente necessidade de salvar grandes massas de informao que
corriam o risco de desaparecer.
Os investimentos passaram a ser redirecionados para programas de
conservao preventiva, abrangendo colees em diferentes suportes. Joan
van Albada, em 1987, participando da Reunio Anual do Conselho
Internacional de Arquivos, observou:
A preservao requer administrao, e no restaurao. A boa administrao de arquivos aponta para a organizao dos acervos, e esta para a conservao preventiva, que inclui segurana e planejamento de desastres, armazenamento e manuseio adequados, e acesso, por meio da reproduo. Cabe ainda, estabelecer prioridades, sobre uma avaliao de custo-benefcio. (ALBADA, 1987, p.7, traduo nossa)
Com a rpida escalada tecnolgica e a opo de cada vez mais produzir
registros em meio digital, Terry Cook alerta para a necessidade de uma nova
atitude dos profissionais de informao, em relao salvaguarda dos
acervos:
A noo confortvel de valor permanente de documentos arquivsticos nicos, ao longo do tempo, precisa ser modificada, simplesmente porque o documento eletrnico ficar ilegvel ou incompreensvel, se no for copiado e que sua estrutura e funcionalidade reconfigurada em um novo software, a cada curto prazo de poucos anos. Isto substitui a preservao arquivstica tradicional, que indica procedimentos adequados ao reparo, restaurao e ao armazenamento, e uso do meio fsico que foi o documento. (COOK, 2000, p.10, traduo nossa)
H, portanto, uma preocupao bem maior com a fragilidade do meio
digital, o que torna indispensvel, por parte das instituies, um cuidadoso
planejamento, para que seus dados possam ser migrados com segurana
para mdias atualizadas, e estes possam manter-se acessveis. Cook prev
esta realidade dizendo:
4
A preservao no estar mais concentrada em reparar, conservar e salvaguardar o meio fsico que foi o documento, mas, ao invs disto, ir concentrar-se continuamente em migrar ou emular para novos programas de software. (COOK, 2000, p.13).
Helen Forde recomenda o fortalecimento de uma conscincia poltica
sobre a importncia da administrao de preservao. "A administrao
estratgica de um arquivo tem que incluir a administrao de preservao
como uma atividade central." (FORDE, 1999, p. 2, traduo nossa)
Preservar informao relevante requer atualmente o envolvimento de
equipes multidisciplinares na seleo de preservao, no estabelecimento de
prioridades com base no valor informacional, na demanda de uso e na
vulnerabilidade do meio. A partir destes dados podem ser definidas polticas
que asseguram o acesso continuado. A preservao deve ser uma questo de
constante interlocuo com as equipes de gesto documental, ou
desenvolvimento de colees.
O gerenciamento no desenvolvimento das colees deve fazer
parte dos planejamentos de preservao. [...] A escolha poltica e
tecnolgica que feita agora, direcionada apenas para atender a
uma possibilidade futura, determinada por esses mesmos
valores de relativismo tico, humanstico e epistemolgico
vigentes. (ALBITE SILVA, 1998 p.9)
A articulao de atores, segundo Gonzales de Gomez essencial para a
integrao de conhecimentos. Os projetos de preservao, selecionados
partir da interlocuo, ganham relevncia institucional e as aes adquirem
condies de continuidade. Com esta nova viso gerencial, j no so apenas
os conservadores em suas especialidades que decidem o que, como e quando
preservar.
"Tudo isto coloca em pauta, qui como problema central, a necessidade de articulao de atores, aes e recursos, e gera um novo dilema informacional: a integrao de conhecimentos, projetos e informaes no agora pela gesto administrativa baseada exclusivamente em representaes estatsticas, mas mediante uma poltica participativa e baseada em evidncias,
5
que rena ao mesmo tempo a comunicao e a informao." (GONZLEZ DE GMEZ, 2003, p. 68)
medida que as tecnologias informais evoluram, a Preservao
Documental passou a estabelecer novos pontos de interseo com os campos
de conhecimento que so intrinsecamente relacionados informao, como
Cincia da Informao, Arquivologia e Biblioteconomia.
O presente estudo tem como objeto o ensino de Preservao
Documental nos cursos de Arquivologia, Biblioteconomia e Cincia da
Informao no pas. Tem como objetivo refletir sobre a atualidade e utilidade
da disciplina de "Conservao e Restaurao de Documentos" oferecida nos
cursos acima citados.
Identifica as mudanas conceituais que precisam ser incorporados ao
contexto disciplinar, partindo da premissa de que os profissionais que hoje
atuam no desenvolvimento e gerenciamento de arquivos e bibliotecas devem
conhecer os procedimentos e recursos disponveis para assegurar a
preservao e o acesso aos acervos documentais.
O prximo (segundo) captulo discorre sobre as perspectivas
interdisciplinares com a Preservao Documental.
O terceiro captulo conceitua a Preservao Documental como o
conjunto de todas as atividades dirigidas salvaguarda dos acervos,
identificando suas atividades relacionadas, como a conservao preventiva,
conservao, restaurao e reformatao, situando-as no contexto desta
nova perspectiva da preservao documental.
Descreve a trajetria do desenvolvimento epistemolgico da disciplina,
no aspecto geral e no processo gradual de formao de uma identidade para
a esta rea de conhecimento, identificando as mudanas de paradigmas
relacionadas ao advento da era da informao, onde emergem novas mdias
de suporte para os registros documentais. Apresenta as caractersticas
destes suportes e suas fragilidades.
6
Relaciona as organizaes internacionais que, juntamente com a
UNESCO, promovem a Preservao Documental, por meio de acordos e
recomendaes normativas, buscando a melhoria das condies de acesso.
O quarto captulo procura definir o perfil do novo profissional de
Biblioteconomia e Arquivologia no contexto da era da informao. Mostra a
necessidade da adequao do ensino s atuais perspectivas de Preservao
Documental, onde este profissional se insere como interlocutor no processo
decisrio de preservao.
O quinto captulo apresenta o mapa do ensino de Preservao
Documental nos cursos de Biblioteconomia e Arquivologia no pas. Com base
na sntese das diversas pesquisas sobre o ensino de Preservao Documental
em nvel internacional, da dcada de 1980 at a atualidade, identifica as
tendncias de mudanas no ensino que ocorrem em outros pases e,
associando os dados empricos coletados no Brasil, mostra a necessidade de
mudanas.
Finalmente, o sexto captulo faz as consideraes finais sobre a
pesquisa realizada e apresenta indicadores para o contedo da disciplina de
Preservao Documental.
7
2. RELAES INTERDISCIPLINARES ENTRE A CINCIA DA
INFORMAO, A ARQUIVOLOGIA, A BIBLIOTECONOMIA E A
PRESERVAO DOCUMENTAL.
O documento Memria do Mundo: Diretrizes para a Salvaguarda
do Patrimnio Documental, lanado pela UNESCO em 2002, valida
internacionalmente o conceito de Preservao Documental, que, em um
sentido mais abrangente, compreende todas as atividades dirigidas
integridade e salvaguarda dos acervos documentais, objetivando o acesso. O
referido documento considerado um marco de importantes mudanas
conceituais para esta atividade, que passou a agregar funes gerenciais.
A preservao do patrimnio documental e o maior acesso a este so complementares e se fomentam mutuamente. [...] No contexto da Memria do Mundo, a preservao a soma das medidas necessrias para garantir a acessibilidade permanente do patrimnio documental.[...] A documentao cuidadosa e o controle das colees - a "boa administrao" - uma condio prvia indispensvel para a preservao.[...] "...o recurso apropriado pode ser um catlogo, um inventrio ou outra maneira de registrar o contedo [...] em diferentes suportes. (MEMRIA DO MUNDO, 2002, p.12-19)
Integrada ao campo informacional, a Preservao Documental passou
a se identificar com novos conceitos. Como cincia interdisciplinar abrange o
estudo das condies fsico-qumicas de preservao dos suportes de
informao em relao ao meio ambiente e o uso e tem, como objeto de
estudo a informao registrada.
8
Os contedos relacionados Preservao Documental abrangem os
papis, filmes, fotografias e mdias magnticas, e estudam as propriedades
fsicas e tecnolgicas dos diferentes suportes, suas condies de uso, de
proteo fsica e de segurana, como interferentes diretos ou indiretos na
longevidade e usabilidade da informao.
Mesmo objetivando o acesso continuado da informao a longo prazo,
os contedos apresentados acima no poderiam justificar um vnculo direto
com o campo da Cincia da Informao, exceto no caso das mdias digitais.
No caso destas mdias, o escopo da Preservao Documental se amplia, no
s com relao preservao do suporte fsico, mas tambm interagindo
com a prpria gesto da informao, para assegurar a sua integridade no
ambiente tecnolgico.
Entretanto, amparada por novos paradigmas, a preservao
documental assume um novo patamar gerencial, onde passa a interagir no
processo decisrio, na formulao de polticas, associadas aos processos de
produo, aquisio e reteno, objetivando o acesso continuado.
Pinheiro e Loureiro apresentam a definio de Borko (1968) re-
elaborada a partir de Taylor, em uma definio que descortina a ampla viso
dos caminhos possveis da reflexo sobre a natureza e conceitos da Cincia
da Informao, cujas idias tambm se harmonizam com as de Rees e
Saracevic:
Cincia da informao aquela disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informao, as foras que a governam e o fluxo da informao e os meios de processamento para acesso e uso otimizados. Ela diz respeito quele corpo de conhecimento ligado origem, coleta, organizao, armazenagem, recuperao, interpretao, transmisso, transformao e utilizao da informao... (PINHEIRO e LOUREIRO, 1995, p. 2, grifo nosso)
Sem dvida, a Preservao Documental se faz presente neste universo
de conhecimento. Com base nas observaes acima, ela pode ser relacionada
aos campos da Cincia da Informao, Biblioteconomia e Arquivologia, com a
atribuio de preservar informao como evidncia e assegurar o acesso.
9
Por outro lado, o aspecto gerencial da preservao documental requer
uma infra-estrutura de planejamento, que envolve a seleo para
preservao em cooperao interdisciplinar com os campos da
Biblioteconomia e Arquivologia, nas reas responsveis pela gerncia de
colees e gesto documental.
Os arquivistas evoluram de ascticos e frios guardies de uma herana documental para se transformarem em agentes intervenientes, que determinam padres de preservao e gesto, selecionando para preservao somente uma minscula parcela do grande universo de informaes registradas. [...] (COOK, 2000, p.26, traduo nossa)
A Cincia da Informao, a Arquivologia, a Biblioteconomia e a
Preservao so campos de conhecimento especfico. H, entretanto,
estreitas relaes interdisciplinares que devem ser consideradas, quer seja
pelo objeto do estudo, no caso a informao produzida e registrada, quer
pelo uso das tecnologias, objetivando o gerenciamento da informao, ou
ainda pela funo social que tm em comum.
A Biblioteconomia e a Arquivologia, por sua trajetria percorrida tm
seus campos bem consolidados. Uma grande contribuio para suas bases
conceituais se deve a Paul Otlet, que se referiu ao documento como tudo o
que possui carter representativo, dando uma nova viso aos registros do
conhecimento e modificando a atuao do Instituto Internacional de
Bibliografia - IIB.
Este passou, em 1931, a ser o Instituto Internacional de
Documentao e transformou-se em 1938 na Federao Internacional de
Documentao - FID. A iniciativa de Otlet "deixou como legado, para os
profissionais de informao, novos conceitos, como o de documento,
bibliografia [...]" (OLIVEIRA, 2005, p. 11)
Nas ltimas dcadas, tambm os campos da Biblioteconomia e da
Arquivologia vivenciaram a quebra de paradigmas. Segundo Fredriksson, a
emergncia da sociedade da informao ou do conhecimento motivada
principalmente pelo advento das tecnologias informacionais, o que "obriga
10
reviso e adequao das bases tericas da Arquivologia". O desenvolvimento
impressionante deste campo exige "uma abordagem cientfica em relao ao
seu objeto, o documento, quanto s questes de autenticidade e usabilidade
futuras". (FREDRIKSSON, 2002, p. 43, traduo nossa)
No campo da Biblioteconomia, o atual contexto informacional oferece
s bibliotecas a oportunidade de repensarem sobre o que fazem, como e por
que. No relatrio da conferncia organizada pelo Conselho de
Biblioteconomia e Recursos de Informao - CLIR e pela Biblioteca Digital da
Universidade da Califrnia, Marcum props a "fertilizao cruzada de idias
sobre vises emergentes para o acesso no sculo XXI". (MARCUM, 2003, p.
VI, traduo nossa).
Uma das questes emergentes neste relatrio a preservao dentro
das novas estratgias do universo digital. Segundo Martin (2003, p 7) "este
um dos maiores desafios para o desenvolvimento de bibliotecas e arquivos
digitais, a longo prazo." (MARTIN, 2003, p.7, traduo nossa)
Com todos estes novos desafios que nitidamente aproximam estes
campos de conhecimento, a interdisciplinaridade passa a ser um requisito
indispensvel, por meio da qual surgem intersees e tangncias cada vez
mais freqentes e visveis.
Segundo Pinheiro, Japiassu (1976) caracterizou a interdisciplinaridade
"pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integrao
real das disciplinas, no interior de um projeto especfico de pesquisa."
(PINHEIRO, 2004, p.5). Em 1995, Fonseca e Jardim levantaram as
diferenas em relao ao objeto da Arquivologia e da Cincia da Informao,
observando que enquanto a Arquivologia considera os arquivos como seu
"nico objeto", a Cincia da Informao tende a "considerar a informao,
lato sensu, como seu objeto". (FONSECA e JARDIM, 1995, p.47).
J em sua anlise mais recente, em 2005, com base no novo
paradigma da Arquivologia, Fonseca identifica o deslocamento deste objeto,
11
do "arquivo" para a "informao arquivstica", denotando uma aproximao
ainda mais estreita com a Cincia da Informao." (FONSECA, 2005, p. 59)
Quanto ao tipo de informao analisada, os autores apontam o
"conhecimento cientfico e tecnolgico" como de interesse da Cincia da
Informao, e a "informao contida nos registros materiais organicamente
produzidos" como a abordagem central da arquivologia (Op. cit., 1995, p.47).
A partir de um novo paradigma na Arquivologia torna-se mais visvel a
sua aproximao com campo com a Cincia da Informao, de acordo com
Fonseca (2005), no momento em que hoje a informao se refere "anlise
das relaes entre os documentos e seus geradores", visando "a
autenticidade, a segurana e a fidedignidade desses documentos". (Op. cit.,
2005, p.59).
Este tambm mais um ponto de interseo destes campos com o da
Preservao Documental.
Os mtodos tradicionais de preservao de documentos de arquivo baseados em padres apropriados de restaurao, armazenagem e uso dos suportes fsicos tornam-se irrelevantes na medida em que os documentos devem migrar seus contedos muito antes da deteriorao fsica de suportes, o que est promovendo uma importante reformulao nos pressupostos de provenincia, originalidade e funcionalidade dos documentos. (Op. cit., 2005, p. 62)
No que diz respeito s categorias de usurios, Fonseca e Jardim (1995,
p. 47) identificam "um universo determinado de produtores e usurios em
constante retro-alimentao" para a Cincia da Informao. Na Arquivologia,
este universo estaria relacionado ao ciclo vital dos documentos, levando os
autores a concluir que tais diferenas levam adoo de mtodos
diferenciados, entre a Arquivologia e a Cincia da Informao.
Entretanto, em 2005, Fonseca mapeia a convergncia do campo de
Cincia da Informao com o da Arquivologia tendo como base a afirmao
de Zhang (1988), de que "a informao no cientfica refere-se informao
em outras formas de comunicao de conhecimento, tais como aquelas
12
praticadas por disciplinas do mesmo nvel que a Informtica, ou seja:
Educao, Biblioteconomia, Arquivologia, Documentao, Museologia,
Jornalismo e Comunicao Social."
Todas estas disciplinas teriam em comum fundamentos tericos e
esforos de aplicabilidade, partilhando metodologias e meios de comunicao
do conhecimento. Seus pesquisadores utilizam-se das tecnologias da
informao visando modelar sistemas de informao para a comunicao do
conhecimento. Os esforos prticos e fundamentos tericos comuns
resultariam numa meta-cincia, assim chamada na medida em que:
1) permite a descrio das bases comuns de disciplinas relacionadas num nvel maior de abstrao do que possvel dentro dos limites de contribuio de disciplinas individuais;
2) estabelece uma linguagem comum para cientistas e tecnlogos em diferentes campos de especializao;
3) estabelece os meios de traduzir conhecimento reunido em um campo, para outros campos relacionados. (Op. cit. 2005, p.25)
Com o desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao,
estas reas foram drasticamente afetadas nos meios de produzir, processar,
armazenar, preservar e disseminar a informao.
Segundo Rondinelli (2002), "a dimenso cientfica conferida ao estudo
dos documentos eletrnicos arquivsticos nos ltimos anos refora o vnculo
entre a Cincia da Informao e a Arquivologia." Mas, citando Saracevic
que a autora identifica os pontos centrais desta convergncia:
Cincia da Informao um campo que engloba a pesquisa cientfica e a prtica profissional, tendo como caracterstica a interdisciplinaridade, a ligao com a Tecnologia da Informao e uma forte dimenso social e humana. (SARACEVIC, 1996, apud RONDINELLI, 2002, p.20)
A Cincia da Informao alargou suas fronteiras com os outros
campos cientficos que tratam da informao, criando inmeros pontos de
interseo. Pinheiro procura registrar, desde as origens, a
interdisciplinaridade da Cincia da Informao:
13
Durante vinte anos de estudos da Cincia da Informao, nossa percepo de que a Cincia da Informao tem seu prprio estatuto cientfico, como cincia social que , portanto, interdisciplinar por natureza, e apresenta interfaces com a Biblioteconomia, Cincia da Computao, Cincia Cognitiva, Sociologia da Cincia e Comunicao, entre outras reas, e suas razes, em princpio, vm da bifurcao da Documentao/Bibliografia e da Recuperao da Informao. (PINHEIRO, 1997, p.1)
Neste domnio, Pinheiro procurou identificar em "pilares conceituais",
quais so e como podem ser os atores da interdisciplinaridade, recorrendo a
Japiassu (1976) e a Klein (1996). Ambos recomendam o estudo da
interdisciplinaridade na Cincia da Informao a partir da demarcao dos
limites da prpria disciplina ou cincia.
O trabalho de fronteira um conjunto composto por reivindicaes, atividades e estruturas institucionais que definem e protegem o exerccio do conhecimento (KLEIN, 1996, p.1)
Segundo Pinheiro, "o avano da teorizao interdisciplinar exige o
domnio seguro das exigncias epistemolgicas e metodolgicas comuns a
todo conhecimento [...]". A autora refere-se, neste sentido, a Klein, que
menciona a construo de pontes, [que] ocorre em "disciplinas completas e
consolidadas e que freqentemente tm orientao aplicada e
reestruturao, [como] "novos cursos e programas integrados de cincias
sociais, nos conceitos transversais das cincias do comportamento tais como
informao, comunicao, tomada de deciso." (PINHEIRO, 2004, p. 1 e 2)
Pinheiro referiu-se a Wersig (1993), para o qual "a Cincia da
Informao j nasce interdisciplinar, assim como a Ecologia", a Whewell
(1980), que referindo-se s relaes interdisciplinares da Cincia da
Informao usou o termo consiliente. Este termo foi interpretado por Braga
(1999) como um salto conjunto do conhecimento entre e atravs das
disciplinas, por meio da ligao de fatos e de teorias, para criar novas bases
explanatrias. (Ibid., p 3)
Para facilitar a compreenso da interdisciplinaridade na Cincia da
Informao, Pinheiro (1999) referiu-se tambm a "marcos conceituais" e
14
representaes, em "metforas espaciais", criadas por diferentes estudiosos
da Cincia da Informao, como Foskett (1980), Saracevic (1995) e Wersig
(1993). Segundo a autora, Foskett (1980) afirmou haver "[...] implcitas
relaes interdisciplinares, pois Cincia da Informao uma disciplina que
surge de uma fertilizao cruzada de idias que incluem a velha arte da
Biblioteconomia, a nova arte da Computao, as artes dos novos meios de
comunicao, e aquelas cincias como a Psicologia e Lingstica, que em
suas formas modernas tm a ver diretamente com todos os problemas da
comunicao - a transferncia do pensamento organizado." (PINHEIRO e
LOUREIRO, 1995, p.3 )
Com base nos estudos de ocorrncia de artigos de reviso do ARIST,
Pinheiro mapeou as disciplinas componentes da Cincia da Informao,
agrupando-as por similaridade de natureza e funo, e relacionando-as com
os campos de conhecimento com os quais a Cincia da Informao tangencia
de forma interdisciplinar com outras disciplinas, reas ou temas. (Op. cit.,
2004, p. 12)
As reflexes de Pinheiro contribuem para a possibilidade da insero
da Preservao Documental no campo da Cincia da Informao, ao lado da
Administrao, onde "[...] organizao e processamento da informao
relaciona-se com organizao, armazenamento e administrao de dados,
arquivos e catlogos, padres bibliogrficos e de processamento, etc." (Op.
cit., 2004, p. 12)
A Preservao Documental ao estabelecer novos paradigmas, adquiriu
uma funo gerencial de importncia central, permeando todo o processo de
gesto documental, e devendo por isto ser considerada uma cincia de
abrangncia interdisciplinar, com sua base Administrao.
Se a Administrao, que de forma mais ampla relacionada a
unidades de informao como bibliotecas, centros e sistemas de informao,
entre os quais os gerenciais, deve-se concluir que a Preservao
15
Documental, como uma disciplina essencialmente gerencial, est inserida no
campo da Cincia da Informao.
16
3. PRESERVAO DOCUMENTAL: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
TERICOS.
O Programa Memria do Mundo veio promover uma ampla
conscientizao em favor da salvaguarda dos acervos documentais de
importncia mundial. No contedo do so adotados os seguintes conceitos:
1) Preservao, num sentido abrangente, " a soma das medidas
necessrias para garantir a acessibilidade permanente para sempre do
patrimnio documental".
2) Conservao, que " o conjunto de medidas precisas para evitar
uma deteriorao ulterior do documento original e que requerem uma
interveno tcnica mnima".
3) Conservao Preventiva, "que assegura a sobrevida de colees pela
melhoria das condies ambientais, de guarda e pela reproduo ou
transferncia de suporte, inclusive dos meios digitais". (MEMRIA DO
MUNDO, 2002,p.10)
Em comunicao apresentada no Seminrio Latino-Americano sobre
Arquivos Nacionais, j em 1982, Garca Belsunce reivindicou um espao
privilegiado para a preservao dos acervos documentais:
O patrimnio documental contido nos arquivos matria nutriente da informao primria [...]. Ao dar relevncia
17
funcionalidade, estamos possibilitando, quase exigindo, um novo tratamento administrativo do documento. Os arquivos deixaro de ter como partners os museus e outras instituies culturais, para se igualarem s bibliotecas e aos centros de documentao, alm de participarem do desenvolvimento da informao. Essa funo informativa e os mltiplos usos derivados dela exigem uma particular proteo do patrimnio documental. (BELSUNCE, 1986, apud ALBITE SILVA, 1997 p.15)
Em 1993, o relatrio da Comisso de Preservao e Acesso
Preservation of Archival Materials descrevia a dificuldade de discutir
assuntos de preservao, porque o prprio termo apresentava vrios
significados no campo da Arquivologia. O texto referia-se a um "recente
artigo de James O'Toole", que notou, no conceito de preservar registros, trs
significados diferentes:
1) identificar e organizar documentos originais;
2) prover tratamento de conservao ou restaurao para controlar a deteriorao qumica ou fsica;
3) transferir a informao a um suporte ou meio alternativo e
4) controlar e estabilizar as condies ambientais, acondicionar, cuidar e manter os documentos em segurana, para retardar sua deteriorao qumica e proteg-los de danos fsicos. (Ibid., p. 3, traduo nossa)
Entende-se que a preservao somente tem sentido quando est
vinculada ao acesso, e por isto a organizao e a custdia responsvel fazem
parte do seu processo. A conservao preventiva amplia o foco de ao para
os conjuntos documentais, e os procedimentos buscam a melhoria das
condies ambientais, de proteo fsica e segurana dos acervos, para um
efeito de longo prazo.
As condies adequadas do meio ambiente de armazenamento e de manuteno contnua correspondem custdia responsvel. Em termos de custo-benefcio, a melhor forma de investimento que uma instituio pode fazer para assegurar a longevidade dos acervos a longo prazo manter programas continuados de monitoramento e de estabilizao das condies ambientais de guarda, alm da reformatao de mdias instveis, para garantir o acesso." (COMISSION ON PRESERVATION AND ACCESS, 1993, p. 5, traduo nossa )
18
Segundo o mencionado relatrio, O'Toole observou haver contradies
sobre o conceito de termos usados em preservao documental, como "vida
til" ou "expectativa de vida", e "valor permanente", que "podem definir
diferentes expectativas sobre o prazo de sobrevida de diferentes acervos, ao
prever a longevidade das vrias mdias, nas quais so registrados os
documentos". A expectativa de vida determinada pelas propriedades
qumicas e fsicas do meio, e pelas condies de armazenamento e manuseio.
J o conceito de "valor permanente", poderia referir-se tambm ao contedo
intelectual. (Ibid., p. 4, traduo nossa)
A questo central do mencionado relatrio que em um programa
responsvel de administrao arquivstica, a preservao um componente
que deve estar inserido na misso, nas polticas, e nas aes: "Um programa
de administrao responsvel fundamentado em um conceito claro sobre a
misso institucional, e suas decises so baseadas em uma poltica de
aquisio bem definida." (Ibid., p. 5, traduo nossa)
A Poltica de Preservao do Arquivo Nacional do Canad atribui
preservao "todas as aes que podem ser adotadas com o propsito de
assegurar a acessibilidade presente e de longo prazo da forma fsica, do
contedo informacional e dos metadados relevantes dos registros
documentais, incluindo aquelas empreendidas para influenciar os criadores
dos registros, no processo que antecede a aquisio e seleo." (NATIONAL
ARCHIVES OF CANADA, 2001, p.2)
Neste mesmo documento, a conservao preventiva conceituada de
forma bem completa:
A conservao preventiva se refere a um conjunto especfico de aes no invasivas de preservao, sem nenhum tratamento de interveno fsica ou qumica. Objetiva prevenir ou sustar a deteriorao, ou retardar o seu progresso, ou ainda produzir uma substituio potencial por meio de determinados procedimentos de reproduo que mantenham as cpias inalteradas. Preservao Preventiva no reparo, desacidificao ou migrao, que so aes de interveno ativa, que afetam o documento. Tambm no restrita s atividades das equipes de preservao, mas parte integral de todas as
19
atividades, da aquisio, seleo e arranjo at proviso de acesso, e toda a equipe institucional assume responsabilidades para a preservao preventiva apropriada em suas funes, baseada em normas e recomendaes. A conservao preventiva inclui o estabelecimento e a implementao de um plano de manuteno dos acervos, que inclui armazenamento, manuseio e acondicionamento adequados, de procedimentos de embalagem e transporte e de determinados procedimentos de reproduo. (Ibid., 2001, p.21, traduo nossa)
As mudanas conceituais que comearam a ser observadas a partir da
dcada de 1980, resumidas por Guichen (1995), no so exclusivas do
campo da Preservao Documental. Elas vm ocorrendo em consonncia
com "as mudanas j instaladas", que segundo Silva e Abreu "impem
mudanas conceituais, de mentalidade, de comportamento e redirecionam o
objeto, de acervo para acesso" (SILVA e ABREU, apud JAMBEIRO e PEREIRA
DA SILVA, p. 13)
Thomassen analisou estas mudanas a partir da estrutura, dos novos
contextos de produo documental e das vrias aplicaes e usos dos
documentos.
O objetivo mais que acessibilidade, tambm a qualidade arquivstica, que se relaciona transparncia e permanncia da informao (THOMASSEN, 1999, p.5, traduo nossa)
Com a incluso dos novos suportes documentais e recursos
tecnolgicos cada vez mais sofisticados, objetivando a preservao e o
acesso, o suporte como artefato tende perder sua relevncia. Para Jambeiro
"a convergncia tecnolgica cancela, com efeito, a validade de fronteiras
entre diferentes tipos de servios de informao, e suprime as linhas
divisrias at agora consideradas como naturais entre informao
privada e de massa, entre meios baseados em som e vdeo, entre as imagens
baseadas em emulso e as eletrnicas, e mesmo a fronteira entre livro e
tela." (JAMBEIRO e PEREIRA DA SILVA, 2004, p.4)
No caso dos arquivos o objeto em si ampliado, com a incluso novos tipos de documentos: "imagem, som, filmes, no so materiais novos, mas permitem a produo de novos tipos de documentos [o que ] tende a dar espao a uma revoluo no tratamento informacional". (DELMAS, 2001, p. 31, traduo
20
nossa)
Por outro lado, a revoluo no tratamento da informao no s
redirecionou o foco da preservao documental em relao ao objeto, mas
tambm em relao ao tempo.
O aparecimento de informao eletrnica resultar em um modo fundamentalmente novo de ver o nosso campo, que foi baseado em objetos (livros, cartazes, mapas, etc.) e orientado em tempo (por exemplo, papel de permanente, que deve durar pelo menos 250 anos). Assim a noo de preservar o objeto x, durante y anos pode ficar obsoleta. Precisaremos assegurar a longevidade da informao, de forma que ela no desaparea. (CLOONAN, Global Perspectives,1994, apud GRACY, 2005, p 2, traduo nossa)
Gradualmente se estabeleceu, o que para Kuhn representa uma
"mudana de um paradigma", quando "uma anomalia subverte a tradio da
prtica cientfica existente". Estas quebras de tradio "[...] resultam em
saltos qualitativos", e, segundo Kuhn, "as novas suposies, paradigmas ou
teorias, requerem a reconstruo [...]." (KUHN, 1970, p. 10)
Silva lembra que em passado recente, "[..] o significado de preservar
estava atrelado idia de conservao, de permanncia, e hoje, conforme
observou Conway (1997), "preservar significa adquirir, organizar e distribuir
recursos com a finalidade de impedir uma posterior deteriorao ou de
renovar a possibilidade de acesso". (SILVA, 2002, p. 107)
No universo do papel/filme, preservar e acessar eram entendidos como atividades relacionadas, mas distintas. "No universo digital, descartada toda e qualquer noo que entenda preservao e acesso como atividades distintas. [...] Assim, gerenciar a preservao digital implica em gerar, organizar e indexar, armazenar, transmitir e garantir a contnua manuteno da integridade intelectual." (Ibid., p.107)
O fato que os documentos em suporte papel/filme, se bem
organizados e armazenados podem ser preservados em condies seguras
por dcadas e at sculos, sem exigir uma interveno ativa para se
manterem ntegros em seu contedo. Entretanto, no caso dos documentos
eletrnicos, as condies de preservao dependem, alm dos procedimentos
adotados em sua produo, para assegurar sua recuperao, de uma
21
ateno permanentemente reiterada contra a obsolescncia dos programas e
sistemas eletrnicos onde esto armazenados.
As novas mdias de registro so vulnerveis deteriorao e perda catastrfica, e at mesmo sob condies ideais o seu prazo de sobrevida curto, em relao s mdias tradicionais [...] e podem se deteriorar rapidamente, considerando que o prazo para as decises e aes para prevenir a perda limitado a anos, e no a dcadas. Mais insidioso e desafiador que a deteriorao dessas mdias o problema da obsolescncia em tecnologias de recuperao e playback.. (HADSTROM, 1999, p.189, traduo nossa)
A Preservao Digital acrescenta, portanto, um conjunto de novos
desafios tarefa de preservar os materiais em formatos tradicionais.
Hadstrom define a preservao digital "como o planejamento, a distribuio
de recursos e a aplicao de mtodos e tecnologias de preservao,
necessrios para assegurar que a informao digital de valor continuado
permanea acessvel e usvel". Segundo a autora, o uso o termo
"continuado" intencional, em lugar de valor "permanente", para evitar,
como sugeriu O'Toole (1993), "o absolutismo e o idealismo que o termo
"permanente" insinua". (HADSTROM, 1999, p.189, traduo nossa)
Para Margareth Child, "a preservao exige que se identifiquem
prioridades, porque nem mesmo as instituies mais ricas podem m
preservar tudo o que acumularam durante o tempo". A autora defende o que
tambm ratificado por Garlik (2001), que a poltica de colees ajuda
determinar prioridades de preservao, "porque estabelece os nveis de
relevncia por assunto, em relao aos programas e misso da instituio".
(CHILD, 2001, p.11)
" necessrio estabelecer uma base comum de conhecimentos, reunindo e compartilhando informaes, e formando um amplo espectro dos assuntos relacionados instituio. [...]"Uma vez que contam com esta base de conhecimentos compartilhados, podem ser formuladas polticas gerais, tanto administrativas como tcnicas, para a preservao dos acervos." (GARLICK, 2001, p.22).
22
PERSPECTIVAS CONCEITOS ANALGICO DIGITAL Custdia A preservao como forma
responsvel de guarda e proteo.
O compromisso financeiro e
tecnolgico de manter a permanncia
do sistema e sua migrao deve Importncia
social
No apenas a simples guarda
documental, mas a promoo do
A importncia especfica est em
preservar com o intuito de oferecer
Estrutura A eficincia do processo est em
conjugar planejamento estratgico
Avanado processo de gerenciamento
de riscos (custos de migrao avaliados
em contraposio aos custos da
CONTEXTO
PARA
A AO
Cooperao Diviso de recursos e cooperao
interinstitucional na seleo e
No haver outra forma de satisfazer as
necessidades de informao do pblico
Longevidade Expandir a capacidade de
utilizao de papis, filmes, fitas
magnticas e outros suportes
Pouco interessa a expectativa de vida
dos suportes, mas dos sistemas de
acesso (a migrao o desafio).
Escolha Atribuir valores a partir da seleo
e decidir pelo processo mais
A migrao traz a necessidade de se
revisitar repetidamente as decises
relativas converso de documentos Qualidade Fazer uma vez e fazer certo
(normas, diretrizes, procedimentos
de tratamento, materiais,
Condicionada a limitaes de captura e
exposio. No se trata da reproduo
fiel, mas da melhor representao
digital. Mecanismos e tcnicas de Integridade Fsica (do artefato) e
intelectual
(autenticidade / veracidade da
informao).
Fsica (do contedo infonnacional) e
intelectual (a indexao parte
integrante do contedo do arquivo:
sumrios, instrumentos de pesquisa,
PRIORIDADE
PARA
A AO
Acesso Subproduto do processo de
preservao.
Idia central do processo de
preservao (elimina o conflito clssico
t )
Grfico 1: Quadro elaborado por Silva (2002, p.108, apud Conway, 1997) comparando conceitos dos universos analgico e digital para o estabelecimento de prioridades de preservao.
23
Conway observa que as decises de preservao, quando realizadas de
forma planejada, asseguram o acesso e elevam a importncia funcional dos
documentos.
A preservao uma ao gerencial, que compreende polticas, procedimentos e processos que, juntos, evitam a deteriorao dos materiais de que so compostos os documentos, prorrogam o acesso informao e intensificam a sua importncia funcional. (CONWAY, 2001, p 15)
Hazen afirma que a preservao deve ser uma atividade desenvolvida
de forma abrangente, com planejamento e polticas elaboradas em consenso,
identificando o que deve ser preservado. Para ele, a preservao envolve trs
atividades principais:
1) A adequao dos ambientes preservao,
2) os tratamentos individualizados de restaurao e conservao, e
3) a transferncia do contedo intelectual de um formato para outro, no caso microfilmagem, a digitalizao e migrao continuada de mdias digitais.
Para o autor, "como os tratamentos individualizados envolvem custos
altssimos, a salvaguarda dos acervos por meio do "controle das condies
ambientais" deve ser a primeira opo de preservao". (HAZEN, 1997, p. 3 e
4)
Atkinson dividiu os acervos de bibliotecas em trs classes, de elevado
valor de uso, elevado valor econmico e pouco uso no momento, mas de
valor para a pesquisa futura [...], definindo o que deve "sobreviver" e o que
no deve, dentro do que ele chama de "sistema de deteriorao planejada.
(ALBITE SILVA, 1998, p.7)
Para Albite Silva, "essa diferenciao caracteriza a dimenso poltica
da tecnologia de preservao. O tratamento em massa, hoje consolidado pela
conservao preventiva, prov gasto racional dos recursos, ataque ordenado
e sistemtico s ameaas ao acervo e amplo alcance no trato das colees."
24
A viso de preservar para o futuro a mais problemtica pois envolve uma deciso tomada com base nas circunstncias contemporneas, pensando necessariamente nos seus reflexos para o futuro. Como decidir o que preservar, agora, para uso ulterior? [...] Segundo Atkinson , "o propsito da preservao em grande escala, coordenada, no simplesmente o de ajudar o futuro a compreender o passado, mas tambm o de proporcionar ao futuro a capacidade de compreender a si prprio fornecer uma base de conhecimento sobre a qual o futuro possa construir e com a qual possa comparar e, assim, identificar e definir a si prprio. ( Ibid., p.7)
Mudou o modo de produzir, gerenciar e preservar a informao.
Romperam-se paradigmas, surgindo uma nova mentalidade que contempla,
em um cenrio aberto, todos os meios que do suporte informao
registrada. Com o objetivo de assegurar a integridade da informao e o
acesso continuado, a preservao se integra ao processo de gesto, prevendo
condies ambientais, de proteo fsica e de segurana.
25
3. 1 Os suportes documentais
O suporte a base onde criada e mantida a informao como
evidncia. Ele um elemento essencial no s de documentos escritos, mas
tambm de projetos grficos e artsticos, livros, fotografias, filmes,
microformas, gravaes sonoras e de imagens em movimento, em discos,
fitas magnticas e meios digitais.
Hoje, com tantos variados meios de registro da informao, os
documentos, de forma genrica, so classificados como legveis pelo homem
e legveis por mquina. No primeiro grupo se inserem os registros textuais e
fotogrficos. Para estes registros, qualidade dos materiais constituintes dos
um dos fatores mais importantes para a sobrevida dos registros.
Todos os registros que so acessados por meio de um equipamento,
esto no segundo grupo. Os microfilmes, os diapositivos e os filmes
cinematogrficos dependem precisam ser ampliados e projetados por meio de
lentes e luz. O som dos discos reproduzido a partir da vibrao da agulha
ao passar pelos sulcos. A vibrao transformada em sinal eltrico, que
amplificado e transformado em som.
J as informaes registradas nas fitas magnticas, na forma de sons
e imagens em movimento, precisam ser decodificadas por mquinas. Os
registros eletrnicos, armazenados em diferentes mdias digitais, alm das
mquinas, dependem de programas capazes de reconhecer sua codificao
informacional. Armazenados em sistemas cada vez mais complexos, tornam-
26
se refns da evoluo tecnolgica, que os transforma em obsoletos a cada
passo desta evoluo.
O papel o suporte tradicional de livros e documentos. Ele fabricado
a partir de um material orgnico, a celulose. Originrio da China, sua
manufatura foi mantida em segredo at o incio do sculo VIII, quando os
chineses tornaram-se prisioneiros dos rabes. Com a expanso do domnio
rabe, o papel foi levado para a Europa e sua manufatura teve incio na
Espanha durante o sculo XI. A matria prima era obtida da reciclagem de
tecidos j desgastados, e por isto foi chamado de papel de trapo. Alm da
qualidade excelente das fibras, devido ao alto teor de celulose do algodo e
do linho, este papel contm materiais de acabamento que contribuem parta
a sua preservao.
A partir da segunda metade do sculo XIX, com o aumento da
demanda, surgiu a mecanizao e o emprego de fibras de madeira e agentes
de acabamento base de breu e sulfato de alumnio, causadores de acidez
intrnseca do papel. A degradao irremedivel foi chamada de fogo lento.
Como resultado, milhes de livros tornaram-se quebradios, colocando em
risco toda a produo intelectual mundial dos ltimos 150 anos. Esta
situao alarmante ecoou na dcada de 1980, envolvendo a comunidade
acadmica mundial, advogando pela produo de papis de melhor
qualidade e pelo resgate de grande volume de informao em risco.
Em 1988, em paralelo a uma campanha de conscientizao para a produo e uso de papel alcalino, o Congresso Norte-Americano aprovou recursos pelo Fundo Nacional para Cincias Humanas - NEH, para "[...] coordenar um projeto de 20 anos para a microfilmagem de preservao de documentos, livros e jornais quebradios." (GUNDESHEIMER, 1995, p. 1, traduo nossa)
O programa de microfilmagem de preservao foi antecedido de um
amplo acordo cooperativo, requisitando a colaborao das instituies norte-
americanas para identificar as prioridades nacionais, evitando a duplicao
de esforos. O seu desenvolvimento exigiu um conjunto de condies
27
rigorosas, com vistas a produzir microfilmes de preservao, que pudessem
permanecer legveis por cerca de 500 anos.
1) A microfilmagem teria que satisfazer a padres tcnicos estritos;
2) Todo microfilme teria um negativo matriz, uma matriz de impresso, e uma cpia de servio/reproduo para cada instituio;
3) O microfilme faria parte do banco de dados bibliogrfico nacional;
4) O compromisso de prover emprstimo inter-bibliotecas ou cpias de ao valor de custo para qualquer requerente; e
5) Os microfilmes produzidos seriam armazenados em carter permanente, reunidos em condies ambientais adequadas preservao de longo prazo. (Ibid., 1995, p. 1)
Segundo Waters, "o processo de microfilmagem foi considerado o mais
eficiente para a preservao de documentos em deteriorao nas
bibliotecas", porque um suporte durvel, "desde que armazenado num
ambiente controlado e que bibliotecas e arquivos sigam procedimentos e
especificaes normalizadas [...]. Alm disto, a tecnologia para se ter acesso
ao microfilme estvel e dificilmente sofrer qualquer alterao no futuro."
(WATERS, 2001, p 10)
Estudos rigorosamente precisos indicam que a expectativa de vida do microfilme, de quinhentos anos ou mais, quando adequadamente preparado, armazenado e gerenciado, supera de longe qualquer outro meio em termos de longevidade e habilidade para reformatar precisamente a informao. Nenhuma outra tecnologia est ainda em posio de desafiar o filme como um meio de preservao para a impresso de materiais de papel. Embora seja til continuar com a avaliao de alternativas possveis, a maioria da comunidade de preservao continua a ver no microfilme a nica verdadeira alternativa de preservao a longo prazo. (JONES, 2001, p. 11)
Tal como os microfilmes, os filmes cinematogrficos, as fotografias, as
fitas magnticas e os discos fazem parte dos suportes documentais
denominados de "no-convencionais". Eles tm em comum a sua estrutura
laminada, ou seja, em camadas sobrepostas. Os materiais que constituem a
estrutura laminada de filmes consistem de uma base de plstico
28
transparente, uma camada muito mais fina de emulso de gelatina e
partculas de corantes que formam a imagem.
A instabilidade qumica das bases dos filmes de nitrato e acetato de
celulose, que foram produzidas entre as dcadas de 1950 e 1980, foi
responsvel pela degradao e perda de muitos acervos. Atualmente a base
dos filmes o polister, um material de boa conservao. Entretanto, no
caso dos filmes coloridos, os problemas de preservao recaem sobre a
fragilidade dos corantes, ficando sua durabilidade condicionada mais uma
vez a condies ambientais estveis, de baixa temperatura e umidade
relativa.
As fotografias tambm so estruturas laminadas, compostas de
diferentes materiais. Entre os materiais utilizados como base encontram-se
"placas de cobre recobertas com prata, para daguerretipos, folhas de ferro
laqueado, para ferrtipos; vidro, para ambrtipos, negativos de vidro ou
lantern slides; papel, para positivos de todos os tipos; plsticos, para
negativos, em filmes de acetato e nitrato de celulose ou polister."
(MUSTADO e KENNEDY, 2001, p. 7)
A camada de aglutinante o prximo componente de muitas imagens fotogrficas. Esta camada, de fato, contm dentro dela o material que forma a imagem visual. [...] A estabilidade destes aglutinantes protetores essencial para garantir uma imagem duradoura e inalterada. [...] A parte da fotografia que se transforma em imagem visvel constitui-se de partculas metlicas finamente divididas, ou, no caso de fotografias coloridas, de corantes ou pigmentos. [...] A preservao de fotografias envolve a preservao dessas partculas delicadas da imagem, da camada aglutinante e do suporte ou material da base. (Ibid., p.7)
"As fitas magnticas e os discos so registros analgicos o termo
analgico refere-se transformao do som em ranhuras ou alinhamentos
de partculas anlogas ou paralelas." (ST. LAURENT, 2001, p. 10).
Os primeiros discos eram de goma-laca e datam da dcada de 1890,
formato que foi utilizado at os anos 1950, quando foi gradualmente
29
substitudo por discos de vinil. O vinil tem provado ser o material mais
estvel dos que foram utilizados na fabricao de discos.
Os meios magnticos foram produzidos em vrios formatos, como "U-
Matic, VHS, S-VHS, 8mm e BetaCam, usando componentes base de xido
de ferro, dixido de cromo e ferrita de brio". O aglutinante da fita magntica
tem a funo de "reter as partculas magnticas e proporcionar uma
superfcie lisa para facilitar o transporte da fita atravs do sistema de
gravao. [...] A partcula ou pigmento magntico responsvel por
armazenar a informao registrada." (Ibid., p. 9)
Para Van Bogard "os meios magnticos para registro e armazenamento
de informao numrica e textual, som, imagens estticas e em movimento
tem proporcionado aos bibliotecrios e arquivistas oportunidades e desafios.
[...] As colees de udio e vdeo necessitam de cuidados e manuseio
especficos, para assegurar que a informao registrada seja preservada." As
fitas magnticas e os discos de vinil devem ser armazenados de p, como
livros na estante, e distantes de campos magnticos. (VAN BOGARD, 2001,
p.9)
O disco compacto, ou CD, "armazena a informao atravs de
cavidades e reas planas ao longo de uma espiral que se inicia no centro do
disco. A borda de uma cavidade - seja ela ascendente ou descendente -
indica um 1, enquanto uma rea plana, tanto no fundo da cavidade quanto
na regio entre as cavidades, indica zero." Segundo St. Laurent, "para se
reproduzir o som gravado em um CD, faz-se incidir um feixe de laser, atravs
da base transparente de policarbonato sobre a camada de alumnio do disco.
A luz ento refletida para um captador [...]" que interpreta os caracteres
binrios. (ST. LAURENT, 2001, p. 10)
O CD foi desenvolvido inicialmente para armazenar msica e
substituir os discos de vinil. Passou a ser usado tambm para gravar dados.
Criou-se ento uma distino: os CDs destinados a gravar msica passaram
a ser chamados de CD-DA, ou "Compact Disk Digital Audio" enquanto os
30
destinados gravao de dados passaram a ser chamados de CD-ROM, ou
"Compact Disk Read Only Memory". A grande capacidade e o baixo custo de
produo os CD-ROMs tornaram possvel tambm a gravao em
multimdia.
O DVD ou Disco de Vdeo Digital tem as mesmas caractersticas fsicas
de um CD de udio e possui um sistema de gravao igual ao do CD, porm,
a grande diferena a capacidade de vrias horas de udio e vdeo de
altssima qualidade.
Com exceo de exigncias diferenciadas de temperatura e umidade
relativa para os diferentes materiais, os requisitos para o armazenamento
adequado de filmes, fotografias, fitas magnticas e discos coincidem com
relao ausncia de poeira e poluentes, das radiaes luminosas, em
especial as radiaes ultravioleta.
O grande desafio que, "para que a informao possa ser preservada
indefinidamente, ser necessria a transcrio peridica dos meios antigos
para meios novos, no somente porque os meios de armazenagem so
instveis, mas tambm porque a tecnologia de gravao se tornar obsoleta."
(Ibid., p. 9)
Quando o objetivo o armazenamento de longo prazo, a preocupao
maior recai sobre a preservao da tecnologia de gravao, no caso as mdias
digitais. Estas exigem ateno permanente quanto s necessidades de
atualizao, em razo da rpida obsolescncia de equipamentos e programas
de acesso, como alerta Cook:
Com documentos eletrnicos, o meio fsico torna-se quase que totalmente irrelevante, em um espao de tempo de dcadas ou sculos. Para preservar tais documentos, estes tero que ser migrados continuadamente, antes que o meio de armazenamento fsico caia em obsolescncia. O importante ser a reconfigurao em novos softwares ao longo do tempo, para manter a verdadeira funcionalidade ou a matriz de evidncia do contexto do documento "original", e para isto que a cincia arquivstica precisa dedicar uma crescente ateno. (COOK, 2000, p. 11, traduo nossa)
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A preservao hoje um dos maiores desafios do universo digital, a
comear pelo prprio termo. Segundo Martin (2003, p. 6) "de nenhum modo
esta abordagem pode ser usada no campo digital". Martin considera que o
melhor modo de moldar este conceito seria usando "uma linguagem
alternativa, como persistncia e sustentabilidade". A informao em meio
digital adequada para a transmisso dos dados em rede, atravs do espao,
mas no para a transmisso atravs do tempo. Neste aspecto Martin
reconhece que a "volatilidade do meio digital cria muitas dificuldades".
(MARTIN, 2003, p. 7, traduo nossa, grifo nosso)
Martin relaciona entre os principais problemas, "[...] em primeiro
lugar, falta de fixidez da mdia digital." Um dos maiores avanos,
ocasionado pelo advento de tipografia, foi que pela primeira vez poderiam ser
assegurados aos leitores de um documento a confiana do texto
padronizado. "J no meio digital, a fixidez perdida." No se pode ter a
garantia de que um texto digital preserve os diferentes esquemas originais de
representao do documento. Alm do problema de fixidez h o da
fragilidade das mdias. (Ibid., p. 7, traduo nossa)
A primeira impresso seria escritural ou tipogrfica: a de uma inscrio (Freud utiliza Niederschrift do incio ao fim de sua obra) que deixa uma marca na superfcie ou na espessura de um suporte. E de todas as maneiras, direta ou indiretamente, este conceito - ou melhor, esta figura do suporte - marca a assinao propriamente fundamental de nosso problema, o problema do fundamental. Podemos pensar em arquivo sem fundamento, sem suporte, sem substncia, sem subjetvel? E se isso fosse impossvel, o que seria da histria dos suportes? (DERRIDA, 2001, p. 41)
Segundo Martin, "a memria de acesso randmica (RAM)
completamente voltil e transitria." A maioria dos arquivos digitais
armazenada em mdias magnticas. Estas mdias so inerentemente
instveis e precisam ser periodicamente reformatadas. Tambm a
longevidade de outras mdias de armazenamento digital (como CDs)
permanece incerta. Outra preocupao o registro, "o armazenamento e a
recuperao dos arquivos digitais, obrigando a dependncia de hardwares e
softwares especficos." (Ibid., p. 8, traduo nossa)
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No era esse o instante em que, tendo escrito isto ou aquilo sobre a tela, as letras suspensas e flutuando ainda na superfcie de um elemento lquido, eu apertava uma certa tecla para registrar, para "salvar" (save) um texto indene, de maneira dura e durvel, para proteger as marcas do apagamento a fim de assim assegurar salvao e indenidade, de estocar, de acumular e, o que a um s tempo a mesma coisa e outra coisa, de tornar a frase disponvel impresso e reimpresso, reproduo? (Ibid., p. 41)
Martin alerta ainda para as sucessivas atualizaes, devendo-se
imaginar que este problema vir em cascata, com o passar do tempo, com o
constante desenvolvimento de novos aplicativos de softwares.
Os sistemas operacionais, a aplicao do programa e os dados digitais que codificam esquemas j entraram por muitas geraes de evoluo, no curto perodo do advento de informtica digital. A maioria destes resulta em estruturas de arquivo mutuamente ininteligveis. O exemplo mais simples a mudana rpida em programas de aplicao de processamento de textos simples. O WordStar foi o programa comercial dominante para o processamento de texto. Hoje em dia impossvel recobrar um arquivo de texto em programa WordStar sem um programa de traduo sofisticado, mesmo que o disco ainda no tenha se deteriorado e que se tenha o hardware disponvel para a leitura do disco. (Ibid., p. 8, traduo nossa)
Segundo Conway, o verdadeiro desafio est na criao de ambientes
organizacionais apropriados para a ao.
Os bibliotecrios e os arquivistas devem fazer mais do que simplesmente dividir o bolo da preservao. As bibliotecas digitais nacionais que esto em construo devem ser pensadas a partir dos conceitos que orientam a preservao. Alm disso, devem ser desenvolvidas novas formas de gerao e manuteno cooperativa de arquivos digitais. (CONWAY, 2001, p. 30)
Se, por um lado, os meios digitais se justificam pelas grandes
vantagens de armazenamento e recuperao, usando estruturas cada vez
mais sofisticadas que permitem o acesso por meio da transmisso
simultnea e da reproduo ilimitada, sem perda de qualidade, por outro
lado, oferecem riscos que precisam ser conhecidos e controlados pelos
gerentes de preservao.
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3.2. A evoluo cronolgica da rea, como base epistemolgica
A disciplina de Preservao surgiu da prtica do artfice, com a funo
de reconstituir partes deterioradas em monumentos arquitetnicos, obras de
arte, livros e documentos, na busca de restaurar ou renovar. Sua evoluo
se deu em diferentes direes, com aplicaes especficas, adequadas aos
diferentes tipos de colees de museus, bibliotecas e arquivos.
A atividade passou a desenvolver-se no sculo XIX, com a criao das
grandes colees pblicas de museus e bibliotecas e a criao dos
laboratrios de restaurao e pesquisa.
O laboratrio de pesquisas, estabelecido em 1881, no Museu Estadual, em Berlim, foi o primeiro laboratrio de museu. O laboratrio do Museu Britnico seguiu em 1921 e o primeiro laboratrio nos Estados Unidos foi criado em 1929, no Museu de Belas Artes de Boston. A criao de laboratrios de museus marcou um passo importante na colaborao e estabelecimento de uma estrutura de pesquisa interdisciplinar. (ALEXANDER, 1995, p.17, traduo nossa)
O conceito de conservao tambm evoluiu. John Ruskin sugeriu j
no sculo XIX que a preservao deveria ser pautada sobretudo na
profilaxia, e alertava seus contemporneos: "tenham cuidado com vossos
monumentos e no tero que restaur-los." (PRIER-D'LETEREN, 1995, p.
3, traduo nossa)
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J o surgimento do conceito de preservao documental pode ser
relacionado criao, em 1895, do Instituto Internacional de Documentao
(IIB), por Otlet e La Fontaine, "com o propsito de estabelecer a compilao
internacional da informao bibliogrfica registrada." (FONSECA, 2005,
p.14)
O reconhecimento da importncia da preservao, talvez ainda no
como uma disciplina, mas como uma funo dentro do processo de
documentao, mostra a atualidade de Paul Otlet em relao ao tema, em
seu Trait de Documentatin, h mais de um sculo atrs.
A cincia da bibliografia pode ser definida como a cincia cujo objeto de estudo comum a todas as todas as questes relacionadas aos diferentes tipos de documentos: produo, manufatura fsica, distribuio, inventrio, estatstica, preservao e uso de documentos bibliogrficos; isto quer dizer, tudo o que envolve edio, impresso, publicao, venda de livros, bibliografia e economia bibliotecria. O escopo desta cincia estende-se a todos os documentos escritos e ilustrados, que so similares em sua natureza aos livros: obras literrias impressas ou manuscritas, livros, brochuras, artigos de peridicos, relatos de jornais arquivos publicados ou manuscritos, mapas, plantas, cartas, esquemas, ideogramas, diagramas, originais ou reprodues de desenhos e fotografias de objetos reais. O objetivo prtico da cincia da bibliografia a organizao da documentao em uma base crescentemente inclusiva de um modo crescentemente prtico para oferecer ao trabalhador intelectual o ideal de uma "mquina de explorar o tempo e o espao" (OTLET 1903, apud LUND, 2003, p. 2, traduo nossa, grifo nosso)
Cabe notar, no texto acima, que este precursor da Cincia da
Informao elaborou uma noo de vanguarda na poca, em sua descrio
sobre o que documentao, em trs aspectos. Em primeiro lugar ele
privilegiou o contedo informacional em detrimento do suporte fsico por ele
descrito; em segundo lugar, legitimou a reproduo, como elemento de
disseminao da informao; e, em terceiro lugar, identificou como objetivo
prtico desta cincia "a organizao", visando o acesso, "para o trabalhador
intelectual". Naquele momento, Otlet intuiu os princpios deste novo modo
de pensar e fazer a preservao documental.
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Buckland reconstruiu o desenvolvimento deste pensamento sobre as
idias dos documentalistas europeus do incio a meados do sculo XX.
Se "documentao" (um termo que inclui armazenamento de informao e sistemas de recuperao) aquilo que se faz para ou com documentos, o quo distante poder-se-ia estender o significado de "documento" e quais seriam os limites para "documentao"? O trabalho de pioneiros europeus como Paul Otlet e Suzanne Briet recebeu ateno renovada em anos recentes e foi relacionada discusso das formas fsicas de "informao" (por exemplo "informao-como-coisa" (Buckland 1991a, 1991b). Estes assuntos so importantes porque sistemas de informao mecnicos s podem operar em representaes fsicas de "informao". Este pano de fundo pertinente clarificao da natureza e extenso de sistemas de informao. (BUCKLAND, 1997, p. 2, traduo nossa)
Naquele momento, a formalizao e o reconhecimento de cientificidade
comearam a se consolidar na atividade de preservao.
Em outubro de 1930, quase 200 diretores de Museus, historiadores de arte e cientistas reuniram-se em Roma em uma conferncia internacional at ento nunca vista. Promovida pelo Escritrio Internacional de Museus da Liga das Naes, a conferncia teria como propsito declarado 'o estudo de mtodos cientficos para o exame e a preservao de obras de arte'. Ao final de cinco dias, os participantes da conferncia conformaram 'a utilidade da pesquisa de laboratrio como um recurso para o estudo da histria da arte e da museografia..'. Nascia a cincia a servio da arte. (LEVIN,1991, p.1, apud FRONER, 2001, p.38 - grifo nosso)
Segundo Froner, "pela primeira vez utilizada a expresso mtodo
cientfico referindo-se ao ofcio da preservao." (FRONER, 2001, p. 38) A
atividade, a partir de ento, passou a ser estabelecida formalmente, como
uma disciplina de natureza cientfica, de carter multidisciplinar.
A irrupo das cincias entre 1930 e 1950 alterou o conceito de restaurao e do treinamento prtico na restaurao, que se enriqueceu com as vertentes cientficas (fsica, qumica e biologia), mas tambm se equilibrou com o desenvolvimento do rigor do esprito crtico. O restaurador tornou-se o parceiro dos homens de laboratrio e dos historiadores, arquelogos e arquitetos. O encontro dos caminhos das cincias fsicas e das cincias humanas fecundou o saber tcnico-artesanal[...]. (BERGEON, 1995, p.20 - traduo nossa)
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No campo da Documentao, o interesse de Paul Otlet no processo de
microreproduo o fez associar-se ao inventor e engenheiro belga Robert
Goldschmidt. Segundo Rayward, juntos eles publicaram em 1906 um artigo
que foi considerado o marco do surgimento da microfilmagem. Entretanto,
apenas em 1920 fizeram uso prtico da microfotografia como um novo meio
de comunicao, no Instituto Internacional de Bibliografia. "A Enciclopdia
Microphotica Mundaneum foi publicada em sries de diferentes assuntos,
disponibilizadas a um preo modesto". (RAYWARD, 1997, p. 22 - traduo
nossa)
Com o objetivo de difuso, a microfilmagem ampliou-se
internacionalmente, recebendo um importante impulso nos Estados Unidos.
Em 1936 foi criado um grupo dentro da American Library Association interessado em estudar as questes relacionadas reproduo documental. Este grupo incluiu diferentes interesses profissionais e em 1938 lanou um peridico especializado - Journal of Documentary Reproduction, cuja publicao foi interrompida em 1943 em funo da Guerra Mundial. (FONSECA, 2005, p.15)
Durante a Segunda Guerra Mundial a microfilmagem passou a ser
largamente utilizada, "para cpias e distribuio de documentos capturados
e secretos", (SHERA e CLEVELAND, 1977 apud PINHEIRO, 2002, p. 72)
Na base dos estudos interdisciplinares sobre o fenmeno informacional est o reconhecimento da chamada "exploso da informao", identificada principalmente nos EUA aps a II Guerra Mundial. No mbito deste processo emerge gradativamente a idia da informao como um recurso estratgico a ser gerenciado. O chamado enfoque informacional encontra relevncia histrica no que alguns designam como sociedade ps-industrial em funo da atribuio de novos valores informao, relacionados significao social do desenvolvimento do conhecimento cientfico e inovao tecnolgica. Sob tais condies, a informao considerada como recurso ou insumo produo de novos conhecimentos e produtos vinculados a projetos de desenvolvimento econmico e social. (JARDIM E FONSECA1998, p. 1)
Em 1945, em seu artigo As we may think no Atlantic Montly, Vannevar
Bush, ao propor a ampliao do uso de tecnologias para agilizar e facilitar a
pesquisa, como o microfilme e uma mquina que chamou de "memex", que
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"incendeia a imaginao do pblico em geral, assim como o mundo
acadmico e abre caminho para uma nova era da documentao e da
Cincia da Informao." (PINHEIRO, 2002, p. 72)
Considere um futuro dispositivo para uso individual que um tipo de arquivo privado mecanizado e biblioteca. Precisa de um nome, e dado um ao acaso, ele ser "memex ''. Um memex um dispositivo no qual um indivduo armazena todos os seus livros, registros e comunicaes, e que mecanizado, de forma que possa ser consultado com grande velocidade e flexibilidade. um suplemento pessoal de aumento da sua memria. (BUSH, 1945, seo 6, traduo nossa)
A microfilmagem encontrou uma justificativa ainda mais forte na
preservao documental, ao ser considerada uma forma de evitar o
manuseio dos documentos originais, alm de possibilitar o acesso remoto.
Depois da guerra ampliou-se o uso das microformas como sistemas de informao e preservao. Nos anos 50 e 60 as bibliotecas acadmicas e de pesquisa continuaram ampliando suas atividades na rea de microfilmagem. (SRLF, Microfilm History, 2005, traduo nossa)
Na poca de ps-guerra, as pesquisas tambm evoluram em
conservao e restaurao, especialmente em alguns pases da Europa, pela
necessidade de salvar as colees de museus, bibliotecas e arquivos,
danificadas pelos eventos da guerra. O reflexo deste desenvolvimento pde
ser notado tambm nos Estados Unidos, com a multiplicao de laboratrios
em instituies de todo o pas.
Em 1966, a inundao do Rio Arno, na cidade de Florena, causou um
desastre de enormes propores, o que promoveu a reunio de restauradores
e cientistas em torno de projetos de resgate e restaurao, e de pesquisas
diversas. As tcnicas e maneiras de secagem e restaurao de livros e
documentos, entre outras, e o reconhecimento da necessidade de polticas de
preveno e de planos de resgate de acervos em situaes de desastre
surgiram de reflexes a partir deste evento.
Realmente foi um desastre o responsvel pelo nascimento da moderna preservao de bibliotecas. Depois que o Rio de Arno inundou Florena em 1966, reconheceu-se que, embora a
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inundao provavelmente no pudesse ter sido prevenida, poderia ter sido evitado um dano considervel se tivessem sido empregadas medidas preventivas apropriadas. A inundao de Florena tambm demonstrou a vontade da comunidade internacional de conservao para responder s necessidades de um pas. Conservadores vieram do mundo inteiro para Florena, para ajudar no processo de recuperao. Esta colaborao tambm resultou no desenvolvimento de novos tratamentos de conservao. (LYALL, 2000, p.1, traduo nossa)
Na dcada de 1980, a alarmante notcia sobre a degradao veloz que
sofriam os papis cidos, produzidos depois de 1850, trouxe a constatao
de que uma enorme quantidade de livros e documentos com informao
essencial poderia se perder em curto perodo de tempo, com a falncia
desses papis em p. Este fato mobilizou a comunidade acadmica, que
props uma estratgia nacional de preservao em microfilme.
Em 1988, o National Endowment for the Humanities apresentou ao Congresso Norte-americano um programa de 20 anos de preservao defendido pela comunidade acadmica, que enfatizou a fragilidade devastadora das colees das bibliotecas de pesquisa e a necessidade para preservar em microfilme o contedo intelectual dessas colees, essenciais pesquisa e educao em cincias humanas. (STAM, 1993, p.1, traduo nossa)
A preservao documental encontrou ento um forte argumento para
demonstrar a necessidade de polticas de efeito mais amplo, com nfase na
administrao, envolvendo todas as atividades de uma instituio, o que
deveria refletir-se na necessidade de repensar o ensino de preservao. Este
foi tambm o momento em que a Preservao passou a ser reavaliada numa
ampla base de discusso.
Em 1991, a fora-tarefa de Educao em Preservao da Commission on Preservation and Access preparou um relatrio sobre o estado da educao em preservao, e fez recomendaes para o futuro, declarando que "no ferver at essncia, a nica soluo que ns vemos para a educao de preservao ir alm das tcnicas de conservao para uma completa fundamentao em tomadas de deciso administrativas". (MARCUM 1991, apud GRACY, 2005, p. 1, traduo nossa)
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Em 1990, o governo da Holanda apresentou, atravs de seu Ministrio
de Bem-estar, Sade e Cultura, um plano envolvendo as instituies de todo
pas, pela preservao de seu patrimnio cultural. Com o Plano DELTA, pela
primeira vez no mundo, instituiu-se uma poltica nacional de preservao,
antecedida de cuidadoso levantamento da situao dos acervos. Sua
implementao se fez por meio de um plano que contemplou prioridades,
critrios e destinao de recursos para o desenvolvimento das aes, no
prazo de dez anos.
A reao dos profissionais, impressionados pelo exemplo notvel do governo, foi o engajamento ao conjunta de administradores de colees e autoridades polticas, possibilitando a implementao do programa de reconstruo efetiva em um espao de tempo relativamente curto. Um simpsio sobre o tema da conservao preventiva foi organizado pela ARAAFU em Paris em 1989, e outro por ocasio do Congresso do IIC em Ottawa em 1994. Hoje, as equipes institucionais reconhecem a Conservao de Preventivo como uma prioridade. (PRIER-D'LETEREN, 1995, p. 4, traduo nossa)
Se dos anos 1980 ao incio dos 1990 a ateno maior foi dirigida
microfilmagem para o resgate da informao em risco, nos livros
quebradios, em meados dos 1990 surgiu um novo desafio: a preservao da
informao digital.
Segundo Gracy, alm das mdias digitais, a preservao de outras
mdias, como registros sonoros, filmes e videoteipes enfrentou vrias
dificuldades, como "a falta de informao sobre a natureza destes materiais e
a falta de equipamentos de leitura, o que impede avaliar sua significncia
informacional, e os dilemas sobre como reformatar e migrar a informao
para outras mdias".(GRACY et al, 2005, p. 1, traduo nossa)
A preservao documental conquistou gradualmente o seu espao,
que se consolidou com o advento da era da informao. A Conservao
Preventiva hoje uma atividade integrada custdia responsvel,
assegurando a sobrevida dos documentos. J os grandes desafios ainda no
transpostos na preservao das novas mdias exigem profissionais de
informao cada vez mais preparados.
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3.3. Organismos internacionais que respaldam e balizam as polticas
de Preservao Documental
A UNESCO, Organizao das Naes Unidas para a Educao, a
Cincia e a Cultura foi criada em 16 de novembro de 1945, logo aps a
Segunda Guerra Mundial, continuando e ampliando as proposies da Liga
das Naes. As cinco reas de atuao da UNESCO compreendem (1) a
Educao, (2) as Cincias Naturais, (3) as Cincias Humanas e Sociais, (4) a
Cultura e (5) a Comunicao e Informao. Em Comunicao e Informao
situa trs reas de interesse para a Preservao Documental: a
Biblioteconomia, a Arquivologia e a Sociedade da Informao.
O quinto campo, que corresponde comunicao e informao integra
o grupo da Cincia da Informao, Arquivologia, Biblioteconomia e
Preservao Documental. Como entidade internacional que baliza as
questes culturais mundiais e d reconhecimento internacional a estes
campos, a UNESCO atua em cooperao com outras organizaes que
contribuem para o desenvolvimento do ensino e da pesquisa.
Qualquer campo do conhecimento que se pretendesse cientfico deveria ser um corpo modelado por paradigmas reconhecidos internacionalmente, os quais poderiam ser qualificados e avaliados a partir da existncia de uma comunidade cientfica dotada de estruturas comuns publicaes internacionais, associaes, academias que dariam suporte divulgao dos
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esquemas interpretativos, pesquisas e teorias formuladas em torno do conhecimento especfico. A Cincia da Conservao, ao dispor de mtodos, critrios, teorias e, acima de tudo, de uma comunidade cientfica preocupada tanto com a prtica quanto com a teoria, estaria circunscrita nesse conceito especfico. (FRONER, 2001, p 14, grifo nosso)
Em 1992, a UNESCO lanou a primeira verso do Programa "Memria
do Mundo - Diretrizes para a Preservao do patrimnio Documental
Mundial", com o intuito de promover o interesse dos Estados Membros para
a salvaguarda do patrimnio documental da humanidade, por meio de
medidas de preservao e acesso. O Programa Memria do Mundo tem trs
objetivos principais:
1) Facilitar preservao, pelas tcnicas mais apropriadas, da herana
documental mundial.
2) Promover o acesso universal herana documental.
3) Aumentar conscincia mundial sobre a existncia e significncia da
herana documental.
Partindo da premissa de que o acesso pressupe a proteo e a
preservao, e que a preservao, por sua vez, permite o acesso, o programa
Memria do Mundo identifica mundialmente os acervos documentais em
risco, propondo princpios, polticas e procedimentos tcnicos para a sua
salvaguarda. Recentemente a UNESCO preparou um novo levantamento com
o objetivo de incluir a preservao de acervos de bibliotecas no escopo deste
programa. O Programa d nfase preservao documental e preservao
do patrimnio digital, para o qual a UNESCO lanou "Carta de Preservao
Digital".
Alguns portais da UNESCO se destacam pela contribuio para a
Preservao Documental. Entre eles devem ser citados os da Federao
Internacional de Bibliotecas - IFLA, do Conselho Internacional de Arquivos -
CIA, que conectam, entre outros, os portais do Programa Memria do Mundo
e do ICCROM - Centro Internacional para o Estudo da Preservao e
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Restaurao do Patrimnio Cultural.
Pesquisando pelo link "preservao", podem ser acessados 124
programas, sendo que o primeiro da lista o Programa Cooperativo de
Preservao e Conservao, denominado de IFLA/PAC, vinculado ao portal
da IFLA, a Federao Internacional de Instituies e Associaes de
Biblioteca. A IFLA a organizao internacional que representa os interesses
dos campos de Biblioteconomia e Cincia da Informao. Fundada em 1927,
em Edimburgo, Esccia, tem sua sede localizada na Biblioteca Real da
Holanda. A IFLA atua hoje sobre trs pilares: a sociedade, as instituies e a
profisso.
O programa IFLA/PAC tem por objetivo o desenvolvimento, de forma
cooperativa, em nvel mundial, de aes de preservao para os acervos de
biblioteca. O PAC conta com doze centros regionais O centro do programa
est localiza