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1 Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2“ Prova Comum - PROVA TIPO 1 FILOSOFIA QUESTÃO 01 Leia o fragmento abaixo, de Karl Marx. “Com o próprio funcionamento, o processo capitalista de produção reproduz, portanto, a separação entre a força de trabalho e as condições de trabalho, perpetuando, assim, as condições de exploração do trabalhador. Compele sempre o trabalhador a vender sua força de trabalho para viver, e capacita sempre o capitalista a comprá-la.” MARX, K. O capital, Livro I, O processo de produção do Capital [Vol. II]. Trad. de Reginaldo Sant’Anna. 11.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1987, p. 672. De acordo com o filósofo alemão, a condição do trabalhador na economia capitalista clássica é I de realização plena da sua capacidade produtiva, alcançando a autonomia financeira e a satisfação dos valores existenciais tão almejados pela humanidade, desde os primórdios da história. II de alienação, pois os trabalhadores possuem apenas sua capacidade de trabalhar, que é vendida ao capitalista em troca do salário, por isso, a produção não pertence ao trabalhador, sendo-lhe estranha. III de superação da sua condição de ser natural para tornar-se ser social, liberto graças à divisão do trabalho, que lhe permite o desenvolvimento completo de suas habilidades naturais na fábrica. IV — de coisa, isto é, o trabalhador é reificado, tornando-se mercadoria, cujo preço é o salário, ao passo que as coisas produzidas pelo trabalhador, na ótica capitalista, parecem dotadas de existência própria. Assinale a alternativa que apresenta as assertivas corretas. A) II e IV B) I e II C) II e III D) III e IV

UFU - Questões de filosofia

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  • 1Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    FILOSOFIA

    QUESTO 01Leia o fragmento abaixo, de Karl Marx.

    Com o prprio funcionamento, o processo capitalista de produo reproduz, portanto,a separao entre a fora de trabalho e as condies de trabalho, perpetuando, assim, ascondies de explorao do trabalhador. Compele sempre o trabalhador a vender sua fora detrabalho para viver, e capacita sempre o capitalista a compr-la.

    MARX, K. O capital, Livro I, O processo de produo do Capital [Vol. II]. Trad. deReginaldo SantAnna. 11.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1987, p. 672.

    De acordo com o filsofo alemo, a condio do trabalhador na economia capitalistaclssica

    I de realizao plena da sua capacidade produtiva, alcanando a autonomia financeira ea satisfao dos valores existenciais to almejados pela humanidade, desde osprimrdios da histria.

    II de alienao, pois os trabalhadores possuem apenas sua capacidade de trabalhar, que vendida ao capitalista em troca do salrio, por isso, a produo no pertence aotrabalhador, sendo-lhe estranha.

    III de superao da sua condio de ser natural para tornar-se ser social, liberto graas diviso do trabalho, que lhe permite o desenvolvimento completo de suas habilidadesnaturais na fbrica.

    IV de coisa, isto , o trabalhador reificado, tornando-se mercadoria, cujo preo osalrio, ao passo que as coisas produzidas pelo trabalhador, na tica capitalista, parecemdotadas de existncia prpria.

    Assinale a alternativa que apresenta as assertivas corretas.

    A) II e IVB) I e IIC) II e IIID) III e IV

  • 2Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    QUESTO 02No escrito publicado postumamente, Regras para a orientao do esprito, Descartes

    fez o seguinte comentrio:Mas, toda vez que dois homens formulam sobre a mesma coisa juzos contrrios,

    certo que um ou outro, pelo menos, esteja enganado. Nenhum dos dois parece mesmo tercincia, pois, se as razes de um homem fossem certas e evidentes, ele as poderia expor aooutro de maneira que acabasse por lhe convencer o entendimento.

    DESCARTES, Ren. Regras para a orientao do esprito. Trad. de MariaErmantina Galvo. So Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 6-7.

    Para alcanar a verdade das coisas, isto , o conhecimento certo e evidente, necessrioum mtodo composto de regras muito simples que evitem os enganos e as opinies provveis.Segundo Descartes, somente duas cincias podem auxiliar na fundamentao do mtodopara a investigao da verdade, so elas:

    A) teologia e filosofia.B) mecnica e fsica.C) fisiologia e filologia.D) aritmtica e geometria.

  • 3Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1QUESTO 03

    John Locke justificou a existncia do Estado com estas palavras:

    O motivo que leva os homens a entrarem em sociedade a preservao da propriedade;e o objetivo para o qual escolhem e autorizam um poder legislativo tornar possvel a existnciade leis e regras estabelecidas como guarda e proteo s propriedades de todos os membrosda sociedade, a fim de limitar o poder e moderar o domnio de cada parte e de cada membro dacomunidade; pois no se poder nunca supor seja vontade da sociedade que o legislativopossua o poder de destruir o que todos intentam assegurar-se, entrando em sociedade e parao que o povo se submeteu a legisladores por ele mesmo criado.

    LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo. Trad. de E. Jacy Monteiro.3 ed. So Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 121. Coleo Os Pensadores.

    Analise as assertivas em conformidade com a citao acima.

    I A propriedade privada contratual, isto , ela subseqente ao nascimento do Estado,que institui o direito propriedade, distribuindo a cada um aquilo que era propriedadecomunal no estado de natureza.

    II A propriedade privada surge com o aparecimento da sociedade civil, a geradora doEstado, que a instituio suprema que tem, inclusive, a prerrogativa de suprimir apropriedade em benefcio da segurana do Estado.

    III A propriedade privada parte do estado de natureza, pois o homem possui apropriedade de si mesmo e, com isso, tem o direito de tornar como sua propriedadeaquilo que est vinculado com seu trabalho.

    IV A propriedade privada anterior sociedade civil, portanto, a propriedade antecedeuao Estado, cuja existncia resultou do contrato social e teve a finalidade de preservare proteger a propriedade privada de cada um.

    Assinale a alternativa que tem as assertivas corretas.

    A) III e IVB) I e IIC) II e IIID) II e IV

  • 4Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    QUESTO 04O nada, impensado para Parmnides, encontrou em Sartre valor ontolgico, pois o nada

    o ponto de partida da existncia humana, uma vez que no h nenhuma anterioridade existncia, nem mesmo uma essncia. Esta tese apareceu no livro O Ser e o Nada. Tal afirmaoencontra-se tambm em outro livro, O existencialismo um humanismo, no qual est escrito:

    Porm, se realmente a existncia precede a essncia, o homem responsvel pelo que. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo o de pr todo homem na posse do queele , de submet-lo responsabilidade total de sua existncia.

    SARTRE, J.P. O existencialismo um humanismo. Trad. de Rita CorreiaGuedes. So Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 6. Coleo Os Pensadores.

    A responsabilidade para Sartre diz respeito

    A) ao indivduo para consigo mesmo, j que o existencialismo dominado pelo conceito desubjetividade que restringe o sujeito da ao sua esfera interior, circunscrita pelassuas representaes arbitrrias, que exclui o outro; toda escolha humana a escolhapor si prprio.

    B) ao vnculo entre o indivduo e a humanidade, j que para o existencialista, cada um responsvel por todos os homens, pois, criando o homem que cada um quer ser,estaremos sempre escolhendo o bem e nada pode ser bom para um, que no possa serpara todos.

    C) imagem de homem que pr-existe e anterior ao sujeito da ao. uma imagem tal qualse julga que todos devam ser, de modo que o existencialismo, em virtude da sua origemprotestante com Kierkegaard, renova a moral asceta do cristianismo, que exige a anulaodo eu.

    D) ao partido poltico que tem a primazia na conduo do processo de edificao da novaimagem de homem comprometido com a revoluo e que faz de cada um aquilo quedever ser, tal como ficou clebre no mote existencialista: o que importa o resultadodaquilo que nos fizeram.

  • 5Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    QUESTO 05Antes de escrever Discursos sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre

    os homens e o Do contrato social, Rousseau j havia manifestado seu pessimismo em relaoao progresso social. Na dissertao escrita em 1750, para o concurso literrio promovido pelaAcademia de Dijon, est escrito:

    Antes que a arte polisse nossas maneiras e ensinasse nossas paixes a falarem alinguagem apurada, nossos costumes eram rsticos, mas naturais e a diferena dosprocedimentos denunciava, primeira vista, a dos caracteres. No fundo, a natureza humanano era melhor, mas os homens encontravam sua segurana na facilidade para se penetraremreciprocamente, e essa vantagem, de cujo valor no temos mais a noo, poupava-lhes muitosvcios.

    ROUSSEAU, J.J. Discurso sobre as cincias e as artes. Trad. de Lourdes Santos Machado.3 ed. So Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 336. Coleo Os Pensadores.

    Analise as assertivas abaixo.

    I A palavra natural significa sabedoria, portanto, o primitivo era dotado de um sabercomparvel ao estgio do conhecimento do sculo das luzes.

    II As cincias e as artes serviram no s para o progresso material, mas tambm levaramos homens a criarem vcios, antes inexistentes.

    III O homem em estado de natureza era ignorante, porm, a ignorncia preservava apureza de corao e fazia, do primitivo, um ser livre.

    IV A ignorncia um vcio adquirido da natureza, portanto, as cincias e artes sonecessrias para promover a liberdade humana.

    Assinale a alternativa correta.

    A) II e IIIB) I e IIIC) I e IVD) II e IV

  • 6Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    QUESTO 06Observe o silogismo abaixo:

    Muitas pessoas com mais de trinta anos so chatas.Esta pessoa tem mais de 30 anos.Esta pessoa chata.

    Considerando, respectivamente, as premissas e a concluso do silogismo, corretoafirmar que

    A) as premissas so absolutamente invlidas e a concluso do silogismo verdadeira.B) as premissas so verdadeiras, logo, a concluso do silogismo verdadeira.C) as premissas podem ser verdadeiras, porm, a concluso do silogismo invlida.D) as premissas so logicamente invlidas, portanto, a concluso do silogismo falsa.

  • 7Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    QUESTO 07Parmnides (c. 515-440 a.C.) deixou seus pensamentos registrados no poema Sobre a

    natureza, do qual restaram apenas fragmentos cultivados pelos filsofos do mundo antigo,uma das passagens clebres preservadas a seguinte:

    Necessrio o dizer e pensar que (o) ente ; pois ser, e nada no ; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta via de inqurito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem erram, duplas cabeas, pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; (...)

    PARMNIDES. Sobre a natureza. Trad. de Jos Cavalcante de Souza.So Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 88. Coleo Os Pensadores.

    Analise as assertivas abaixo.

    I A opinio humana busca o que (ser) naquilo que no (ser).II O mundo dos sentidos (ser), portanto, o nico digno de ser conhecido.III No se pode dizer no-ser , porque no-ser impensvel.IV Dizer no-ser no no-ser, o mesmo que afirmar no-ser no .

    Assinale a alternativa que contm as assertivas corretas.

    A) I e IIIB) II e IIIC) II e IVD) I e IV

  • 8Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    QUESTO 08Agostinho escreveu a histria de sua vida aos 43 anos de idade. Nas Confisses, mais

    do que o relato da converso ao cristianismo, Agostinho apresenta tambm as teses centraisda sua filosofia. Tanto assim que, ao narrar os primeiros anos de vida e a aquisio dalinguagem, o autor j fazia meno teoria da iluminao divina. Vejamos:

    No eram pessoas mais velhas que me ensinavam as palavras, com mtodos, comopouco depois o fizeram para as letras. Graas inteligncia que Vs, Senhor, me destes, eumesmo aprendi, quando procurava exprimir os sentimentos do meu corao por gemidos,gritos e movimentos diversos dos membros, para que obedecessem minha vontade.

    AGOSTINHO. Confisses. Trad. de J. Oliveira Santos e A. Ambrsiode Pina. So Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 15.

    Analise as assertivas abaixo.

    I A condio humana mutvel e perecvel, por isso, no pode ser a mestra da verdadeque o homem busca conhecer, ou seja, conhecimento da verdade no pode ser ensinadopelo homem, somente a Luz imutvel de Deus pode conduzir verdade.

    II A inteligncia, dada por Deus, idntica Luz imutvel, que conduz ao conhecimentoda verdade, ambas proporcionam a certeza de que o entendimento humano divino edotado da mesma fora do Verbo de Deus, que a tudo criou.

    III A razo humana iluminada pela luz interior da verdade. Assim, Agostinho formulou,pela primeira vez, na histria da filosofia, a teoria das idias inatas, cuja existncia ecerteza so independentes e autnomas em relao ao intelecto divino.

    IV O conhecimento daquilo que se d exclusivamente inteligncia no alcanado comas palavras de outros homens, porque elas soam de fora da mente de quem precisaaprender. Portanto, esta verdade s ensinada pelo mestre interior.

    Assinale a alternativa que contm as assertivas verdadeiras.

    A) I e IIIB) I e IVC) II e IIID) II e IV

  • 9Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1

    QUESTO 09Do arco o nome vida e a obra morte.

    HER`CLITO. Sobre a natureza. Trad. de Jos Cavalcante de Souza. SoPaulo: Nova Cultural, 1989, p. 56. Coleo Os Pensadores.

    Este fragmento ilustra bem o pensamento de Herclito, que acreditou ser o mundo oeterno fluir, comparado a um rio no qual entramos e no entramos.

    Assinale a alternativa que explica o fragmento mencionado acima.

    A) Todas as coisas esto em oposio umas com as outras, o que explica o carter mutvelda realidade. A unidade do mundo, sua razo universal resulta da tenso entre ascoisas, da o emprego freqente, por parte de Herclito, da palavra guerra para indicar oconflito como fundamento do eterno fluxo.

    B) A harmonia que anima o mundo aberta aos sentidos, sendo possvel ser conhecida namultiplicidade daquilo que manifesto, uma vez que a realidade nada mais que oeterno fluxo da multiplicidade do Logos heraclitdeo.

    C) A unidade dos contrrios, a vida e a morte, imvel, podendo ser melhor representadapara o entendimento humano por intermdio da imagem do fogo, que permanece sempreo mesmo, imutvel e continuamente inerte, e no se oculta aos olhos humanos.

    D) O arco, instrumento de guerra, indica que a idia de eterno fluxo, das transformaesque compem o fluxo universal, o fundamento da teoria do caos, pois o fogo seexpande sem medida, tornado a realidade sem nenhuma harmonia ou ordem.

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    Processo Seletivo/UFU - Janeiro 2004 - 2 Prova Comum - PROVA TIPO 1QUESTO 10

    Em O ente e a essncia, Toms de Aquino argumenta sobre a existncia de Deus,refutando teses de outras doutrinas da filosofia escolstica. Com este propsito ele escreveu:

    Tampouco inevitvel que, se afirmarmos que Deus exclusivamente ser ou existncia,caiamos no erro daqueles que disseram que Deus aquele ser universal, em virtude do qualtodas as coisas existem formalmente. Com efeito, este ser que Deus de tal condio, quenada se lhe pode adicionar. (...) Por este motivo afirma-se no comentrio nona proposiodo livro Sobre as Causas, que a individuao da causa primeira, a qual puro ser, ocorre porcausa da sua bondade. Assim como o ser comum em seu intelecto no inclui nenhuma adio,da mesma forma no inclui no seu intelecto qualquer preciso de adio, pois, se istoacontecesse, nada poderia ser compreendido como ser, se nele algo pudesse ser acrescentado.

    AQUINO, Toms. O ente e a essncia. Trad. de Luiz Joo Barana. SoPaulo: Nova Cultural, 1988, p. 15. Coleo Os Pensadores.

    Toms de Aquino est seguro de que nada se pode acrescentar a Deus, porque

    A) sua essncia composta de essncia e existncia auto-suficiente para gerarindefinidamente matria e forma, criando todas as coisas.

    B) sua essncia simples gerada incessantemente, embora no seja composta de matriae forma, multiplica-se em si mesmo na pluralidade dos seres.

    C) essncia divina, absolutamente simples e idntica a si mesma, constituindo-se,necessariamente, uma essncia nica.

    D) ser contingente, no qual essncia e existncia no dependem do tempo, por isso, geraa si mesmo eternamente, dando existncia s criaturas.