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Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo-Escola (LabEE) Autora 1 : Luciane Meneguin Ortega Co-Autor 2 : Henrique Sá e Farias Co-Autora 3 : Maiara Caroline Garbin Resumo: Frente à lacuna existente entre a oferta de disciplinas de empreendedorismo nas Universidades Brasileiras e o apoio dado por ambientes institucionais denominados habitats de inovação, tais como incubadoras, aceleradoras e parques tecnológicos, há um caminho a ser percorrido. Este caminho para o empreender envolve um processo de estruturação da ideia e modelagem mínima do negócio, classificado neste artigo como pré-incubação. O processo de pré-incubação, presente dentro das universidades, emergiu da ausência de espaços que aproximassem o aluno do ambiente empreendedor, auxiliando-o na transformação de suas ideias criativas em soluções inovadoras. Neste sentido, o artigo busca apresentar uma iniciativa praticada dentro da Universidade de São Paulo através de um modelo de pré- incubação denominado Laboratório Empreendedorismo-Escola (LabEE). O Laboratório em questão nasceu com o objetivo de ser, não só uma estrutura física, mas um espaço de construção mútua, de acompanhamento pessoal, de treinamento e de desenvolvimento de ideias singulares e capazes de transformar a sociedade. O diferencial do projeto está presente em sua metodologia: um modelo de pré-incubação de três meses que reúne três metodologias 1 Autora: Economista e Administradora de empresas, mestre em engenharia de produção e doutora em engenharia mecânica. Universidade de São Paulo. Rua Guaipá, 452, apto. 43. Alto da Lapa. (11) 97334-8814. E- mail: [email protected] 2 Co-autor: Graduando em Marketing, pela Universidade de São Paulo. Endereço: Av. Dr. Renato de Andrade Maia, 1250 casa 52. Telefone: (11) 998977870. Email: [email protected] 3 Co-autor: Graduanda em Marketing, pela Universidade de São Paulo. Endereço: Rua Apaúra, 26 - Bloco 3, ap 301. Telefone: (19) 997711557. Email: [email protected]

Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

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Page 1: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo-Escola

(LabEE)

Autora1: Luciane Meneguin Ortega

Co-Autor2: Henrique Sá e Farias

Co-Autora3: Maiara Caroline Garbin

Resumo: Frente à lacuna existente entre a oferta de disciplinas de empreendedorismo nas

Universidades Brasileiras e o apoio dado por ambientes institucionais denominados habitats

de inovação, tais como incubadoras, aceleradoras e parques tecnológicos, há um caminho a

ser percorrido. Este caminho para o empreender envolve um processo de estruturação da ideia

e modelagem mínima do negócio, classificado neste artigo como pré-incubação. O processo

de pré-incubação, presente dentro das universidades, emergiu da ausência de espaços que

aproximassem o aluno do ambiente empreendedor, auxiliando-o na transformação de suas

ideias criativas em soluções inovadoras. Neste sentido, o artigo busca apresentar uma

iniciativa praticada dentro da Universidade de São Paulo através de um modelo de pré-

incubação denominado Laboratório Empreendedorismo-Escola (LabEE). O Laboratório em

questão nasceu com o objetivo de ser, não só uma estrutura física, mas um espaço de

construção mútua, de acompanhamento pessoal, de treinamento e de desenvolvimento de

ideias singulares e capazes de transformar a sociedade. O diferencial do projeto está presente

em sua metodologia: um modelo de pré-incubação de três meses que reúne três metodologias

1 Autora: Economista e Administradora de empresas, mestre em engenharia de produção e doutora em

engenharia mecânica. Universidade de São Paulo. Rua Guaipá, 452, apto. 43. Alto da Lapa. (11) 97334-8814. E-mail: [email protected] 2 Co-autor: Graduando em Marketing, pela Universidade de São Paulo. Endereço: Av. Dr. Renato de Andrade

Maia, 1250 casa 52. Telefone: (11) 998977870. Email: [email protected] 3 Co-autor: Graduanda em Marketing, pela Universidade de São Paulo. Endereço: Rua Apaúra, 26 - Bloco 3, ap

301. Telefone: (19) 997711557. Email: [email protected]

Page 2: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

de formação rápida de negócios (Design Thinking, Business Model Canvas e Lean Startup),

com a missão de tornar uma ideia abstrata em um primeiro produto mínimo viável. Através da

exposição desta iniciativa, apresentando os resultados e a estrutura do Laboratório em um

estudo de caso realizado a partir de dois ciclos finalizados, se espera contribuir com o

aprimoramento do caminho aqui apresentado, com o desenvolvimento de novas iniciativas de

mesmo cunho ao redor do Brasil e incentivar estudos científicos na área.

Palavras-chave: empreendedorismo; ensino do empreendedorismo; formação de startups;

pré-incubação; incubadora de empresas.

Page 3: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

One way to take: Entrepreneurship-School Laboratory (LabES)

Author4: Luciane Meneguin Ortega

Co-Author5: Henrique Sá e Farias

Co-Author6: Maiara Caroline Garbin

Abstract: Opposite the gap between the supply of entrepreneurship courses in the Brazilian

Universities and the support given by institutional environments called innovation habitats,

such as incubators, accelerators and technology parks, there is a way to go. This way to carry

involves a process of structuring the idea and minimum business modeling reported in this

article as preincubation. The pre-incubation, present within universities, emerged from the

absence of spaces that rivaled the student's entrepreneurial environment, helping them to

transform their creative ideas into innovative solutions. In this sense, the article seeks to

present an initiative practiced within the University of São Paulo through a pre-incubation

model called Entrepreneurship-School Laboratory (Labee). The laboratory in question was

born with the objective of being not only a physical structure but a mutual building space,

personnel monitoring, training and development of natural and able ideas to transform

society. The project differential is present in its methodology: a three-month pre-incubation

model that brings together three methodologies for rapid business training (Design Thinking,

Business Model Canvas and Lean Startup) with the mission to make an abstract idea into a

first minimum viable product. Through the exhibition of this initiative, presenting the results

and laboratory structure in a case study from two completed cycles, it is expected to

4 Author: Economist and Administration, Master in industrial engineering and a doctorate in mechanical

engineering. University of Sao Paulo. Guaipá Street, 452, apt. 43 Alto da Lapa. (+55 11) 97334-8814. E-mail: [email protected] 5 Co-author: Majoring in Marketing from the University of São Paulo. Address: Dr. Renato Andrade Maia, 1250

house 52. Telephone: (11) 998977870. Email: [email protected] 6 Co-author: Undergraduate student in Marketing from the University of São Paulo. Address: Apaúra Street, 26

- Block 3, ap 301. Phone: (19) 997711557. Email: [email protected]

Page 4: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

contribute to improving the way presented here, with the development of new same nature

initiatives around Brazil and encourage scientific research in the area.

Key-Words: entrepreneurship; entrepreneurship education; startups training; pre-

incubation; business incubator

1. Introdução

No contexto atual, as incubadoras funcionam como uma forma de promover o

desenvolvimento econômico, a inovação e novas empresas com base tecnológica (BERGEK e

NORRMAN, 2007). Sua popularidade não se restringe aos países considerados

desenvolvidos, mas também ganha representatividade nos intitulados emergentes. Há um

movimento recente dentro das universidades destes países para a criação de incubadoras,

devido a percepção da importância e os benefícios do processo de incubação, contudo, por ser

um processo relativamente novo, são poucas as pesquisas focadas nesse assunto (BATHULA,

KARIA e ABOTT, 2011).

De acordo com o estudo de 2011 produzido pela Anprotec (Associação Nacional de

Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores) em parceria com o Ministério de

Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil apresentava naquele ano, 384 incubadoras,

diante das 173 em 2000, demonstrando um crescimento relevante de 10% a 15% ao ano,

segundo estimativas da entidade.

A conscientização das limitações do setor governamental como um vetor importante

para o crescimento econômico está aumentando (BATHULA, KARIA e ABOTT, 2011). O

incentivo às incubadoras está entre as recomendações dos especialistas para facilitar o

processo de empreender no Brasil, auxiliando, assim, na economia do país. Já no campo de

pesquisa e desenvolvimento (P&D), foi destacado a necessidade de promover incubadoras

tecnológicas, facilitando a comunicação entre instituições científicas e empresas para o

desenvolvimento de inovações (GLOBAL, 2012).

Dentro desse ambiente de geração de conhecimento científico e inovação é que as

incubadoras universitárias de negócios despontam. De acordo com Grimaldi e Grandi (2005),

elas são uma oportunidade para a comercialização da pesquisa acadêmica. E mais, como as

incubadoras universitárias tem acesso aos recursos que podem ser muitas vezes inviáveis para

Page 5: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

pequenos negócios devido aos seus altos custos; ela também pode auxiliar o desenvolvimento

das empresas nascentes universitárias, que comumente contam com poucos recursos

(BATHULA, KARIA e ABBOT, 2011). Neste contexto, há no Brasil, segundo Anprotec

(2011), cerca de 70 incubadoras universitárias que vem buscando trilhar estes caminhos em

prol de maior retorno para a comunidade científica, tecnológica e empresarial do país.

O processo de pré-incubação, muitas vezes anexado às incubadoras universitárias, tem

uma função essencial no processo de desenvolvimento de empresas. Ele tem como grande

enfoque a capacitação de futuros empresários em ferramentas importantes para modelagem de

um negócio, auxiliando no desenvolvimento mais sólido de uma ideia; enquanto que as

incubadoras focam no suporte e crescimento de negócios já existentes, de empreendedores

que já possuem um conhecimento básico em negócios (VOISEY, JONES, THOMAS, 2013).

Ademais, como verificaram Rajaniemi, Niinikoski e Kokko (2005), dar um suporte ao

desenvolvimento de uma ideia de negócio enquanto ainda estudam, auxilia os universitários

em seu processo de aprendizado.

Apesar da função importante na educação, no desenvolvimento de ideias e

conhecimento acadêmico criação para negócios, segundo pesquisa de Voisey, Jones e Thomas

(2013), as pré-incubadoras são relativamente novas e possuem poucos estudos investigando o

seu impacto.

Inserido neste contexto, perante a relevância do empreendedorismo, do papel das

incubadoras universitárias e da pré-incubação, a Universidade de São Paulo propôs no ano de

2012 a criação de uma incubadora dentro de um dos seus campi na cidade de São Paulo,

denominada Habits /Incubadora-Escola.

A Incubadora Habits (Habitat de Inovação Tecnológica e Social) está presente no

Campus da USP na Zona Leste da capital e iniciou suas atividades em 2012 com a missão de

“apoiar projetos com base tecnológica (ou não), mas que tenham foco social, até que se

tornem autossustentáveis” (AUSPIN, 2015). A incubadora é mantida e apoiada por

professores do campus sob a governança da Agência USP de Inovação, Núcleo de Inovação

Tecnológica (NIT) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a diretoria da

Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH - USP / USP Leste).

Page 6: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

Novos empreendimentos encontram na Habits, desde então, um local de suporte e

desenvolvimento para caminharem em direção à autonomia. As empresas permanecem no

espaço até estarem estruturadas o suficiente para conseguirem permanecer no mercado de

maneira autônoma. A incubadora ainda promove uma maior chance de sucesso além de

introduzir a cultura do empreendedorismo dentro do campus e a geração de novas tecnologias

interessantes à sociedade. O desenvolvimento da ciência e a geração de empregos na região da

Universidade é um grande fator que auxilia no desenvolvimento da economia da cidade.

(AUSPIN, s.d.).

Apesar dos resultados alcançados por parte das empresas incubadas e do campus

oferecer ainda disciplinas de empreendedorismo que buscam ensinar e despertar sobre o

empreendedorismo como um plano de carreira, percebeu-se uma lacuna entre as salas de aula

e uma empresa incubada. O processo de pré-incubação surge neste contexto.

A Habits Incubadora-Escola, iniciativa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da

Universidade de São Paulo (EACH - USP), considerando a relevância desta etapa inicial,

criou o Laboratório Empreendedorismo-Escola (LabEE), um espaço de co-criação e

desenvolvimento de ideias, com uma metodologia desenvolvida pela equipe. Ou seja, o

processo de pré-incubação presente hoje dentro da USP campus leste emergiu da ausência de

espaços que aproximassem o aluno do ambiente empreendedor, auxiliando-o na

transformação de suas ideias criativas em soluções inovadoras.

A pré-incubação LabEE nasceu com o objetivo de ser, não só uma estrutura física,

mas um espaço de construção mútua, de acompanhamento pessoal, de treinamento e de

desenvolvimento de ideias singulares e capazes de transformar a sociedade.

Neste sentido, o presente artigo tem o objetivo de apresentar a metodologia utilizada

no LabEE, mostrando os acertos e os erros do programa com base em sua aplicação, servindo

como base para outras iniciativas pelo país.

Para tanto, a metodologia escolhida para a elaboração do trabalho foi o estudo de caso

que consiste em uma investigação empírica que “investiga um fenômeno contemporâneo em

profundidade e em seu contexto de vida real, especificamente quando os limites entre o

fenômeno e o contexto não são claramente evidentes” (YIN, 2010, p.39). Trata-se de um

Page 7: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

estudo de caso único e com observação participante, em que os participantes pesquisadores

têm papel ativo nos eventos estudados (YIN, 2010).

O estudo surgiu a partir da definição da questão de pesquisa, logo após, pesquisas

bibliográficas foram realizadas, que segundo Severino (2007, p. 122), caracterizam-se por

serem realizadas “a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em

documentos impressos, como livros, artigos, teses”. Com o intuito de obter informações,

pesquisas em fontes, físicas e eletrônicas, foram realizadas, para a construção de uma

fundamentação teórica que sustentasse o surgimento desse modelo de pré-incubação. O

estudo também focou no entendimento de incubadoras, incubadoras universitárias e pré-

incubadoras universitárias, seguindo um “funil teórico”, além de ferramentas para modelagem

de negócios com o intuito de serem parte do processo de aprendizado da pré-incubação. Por

fim, o estudo promove uma análise das pesquisas empíricas realizadas nos dois últimos ciclos

do programa, expondo as práticas mais adequadas para a realização desse modelo de pré-

incubação.

Para tanto, o artigo está fundamentado em revisão teórica aprofundada sobre o tema

empreendedorismo e metodologias de modelagem rápida de negócios que servem de alicerce

para justificar as etapas da metodologia que será descrita no artigo. A partir de destas revisões

teóricas e de pesquisas empíricas voltadas à essa área, o LabEE apresenta um método de pré-

incubação que reúne três metodologias de formação rápida de negócios: o design thinking, o

business model canvas e o lean startup. A fusão dessas três frentes, entrega ao laboratório a

missão de tornar uma ideia abstrata em um primeiro produto mínimo viável. Com base nesta

metodologia de pré-incubação o artigo estará apresentando resultados alcançados e lições

aprendidas em seu primeiro ciclo de aplicação ocorrido no âmbito da Universidade de São

Paulo.

2. Revisão Bibliográfica

2.1 Incubadoras de negócios e incubadoras universitárias

Page 8: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

Incubadoras são iniciativas que buscam promover o desenvolvimento econômico e

tecnológico de países por meio do estimulo às ideias empreendedoras e o crescimento de

novos negócios (GRIMALDI e GRANDI, 2005). O conceito de incubadora permeia os

conceitos de tecnologia, mercado e conhecimento de modo a fomentar o empreendedorismo,

promover o desenvolvimento de novas organizações e impulsionar o potencial de novas

tecnologias. Incubadoras suportam negócios em crescimento oferecendo serviços, como

assistência no desenvolvimento nos planos de negócios e marketing, criação e gerenciamento

de equipes, obtenção de capital e, principalmente, ao acesso a profissionais e serviços

especializados. Não obstante, promovem espaços flexíveis, de compartilhamento de

equipamentos e serviços administrativos (GRIMALDI e GRANDI, 2005).

As incubadoras oferecem suporte para empreendedores que, geralmente, se situam nos

estágios iniciais de sua empresa, proporcionando um ambiente relativamente seguro, servindo

como uma vantagem perante às demais organizações (BATHULA, KARIA e ABBOT, 2011).

Não só isso, como também oferecem serviços diversos que refletem a base de consumidores

assim como os recursos disponíveis para as comunidades respectivas. Essa diferença na

necessidade e nos recursos diferem os tipos de incubadoras existentes. Grimaldi e Grandi

(2005) reconhecem quatro tipos de incubadora de negócios: Centro de Negócios de Inovação,

Incubadora Universitária de Negócios, Incubadoras Independentes Privadas e Incubadoras

Empresariais Privadas.

Incubadoras Universitárias de Negócios são tipos especiais de incubadoras que se

localizam dentro de universidades. São equivalentes aos outros tipos de incubadoras, contudo

apresentam algumas características exclusivas, como o envolvimento com o setor privado,

mentorias frequentes e o fato de que boa parte dos empreendedores provém das universidades

(BATHULA, KARIA e ABBOT, 2011).

Incubadoras universitárias de negócios (university business incubator, UBIs) são

formadas com o intuito de promover apoio às iniciativas de negócios baseados no

conhecimento, semelhante aos padrões de incubadoras. O foco principal dessas incubadoras é,

segundo Grimaldi e Grandi (2005), a geração e transferência de conhecimento científico e

tecnológico de universidades para empresas e uma saída para a comercialização da pesquisa

Page 9: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

universitárias, servindo como mecanismos para superar os déficits das instituições de

incubação públicas tradicionais por meio do fornecimento de privilégios relacionados à

universidade. Dentre os benefícios temos como exemplos o acesso a laboratórios e

ferramentas, conhecimento cientifico relacionamento com parceiros-chave, assim como o

aproveitamento da reputação advinda do vínculo criado com a universidade (GRIMALDI e

GRANDI, 2005)

Incubadoras universitárias promovem uma oportunidade para os empreendedores

iniciantes, visto que potencializam os recursos e talentos obtidos dentro do âmbito da

universidade, criando um ambiente propício para criação de produtos e serviços de maior de

tecnologia e sofisticação. Evidencias sugerem que, empresas encontradas em incubadoras

universitárias apresentam um risco menor de falhar, devido aos subsídios fornecidos, como

conhecimento, licença e tecnologia para os empreendedores (BATHULA, KARIA e ABBOT,

2011).

Universidades e empresários apresentam uma relação de reciprocidade, ou seja, é

benéfica para ambos os lados. De um lado os empresários têm acesso a benefícios como

estrutura, contatos, tecnologia, enquanto do outro, as universidades se utilizam do

relacionamento ao captar oportunidades de treinamento para os estudantes e utilização em

pesquisas. A quantidade de benefícios que uma incubadora universitária de negócios pode

abarcar de uma universidade varia de acordo com algumas variáveis, como a capacidade de

incorporar tecnologia, o apoio de estruturas institucionais, grau de envolvimento dos talentos

da universidade com os projetos, tipo de oportunidade comercial que existe e o papel do

empreendedor (BATHULA, KARIA e ABBOT, 2011).

2.2 Pré-incubadora

O processo de pré-incubação emerge da necessidade de suportar acadêmicos a

superarem os principais obstáculos ao espírito empresarial e torná-los aptos para a formação

de sua própria empresa, em um contexto de baixo aproveitamento das inventividades geradas

dentro da universidade (USINE, 2013a). Segundo Deutschmann (2007) os empreendedores

que não possuem experiência empresarial anterior necessitam de educação em contabilidade,

Page 10: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

marketing, recursos humanos, finanças e outros assuntos ligados às empresas, além de

treinamento em liderança, gestão do tempo, técnicas de apresentação e outras habilidades

pessoais importantes aos negócios, conforme demonstra a Figura 1 a seguir.

Figura 1: O papel da pré-incubadora no contexto universitário

Fonte: Adaptado de USINE (2002, p. 01).

Esta figura ilustra a facilitação do processo de spin-off de universidades através da

introdução de uma pré-incubadora. Com base nesta figura, a pré-incubação tem a função de

diminuir o gap/obstáculos existentes entre o conhecimento universitário e o desenho de

modelo de negócio mais próximo ao que o mercado realmente necessita. Em outras palavras,

segundo Deutschmann (2007), este diferencia as incubadoras das pré-incubadoras: os serviços

prestados são praticamente os mesmos, contudo, diferem na fase de vida do negócio em que

atendem, no foco na prestação do serviço e o custo para o empreendedor. As primeiras

atendem empreendedores com empresas já formadas, mesmo que em seu começo de vida, já

as pré-incubadoras, atendem empreendedores com ideias de negócio ou no estágio de

Page 11: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

planejamento, que precisam de capacitação em fundamentos de um negócio (VOISEY,

JONES, THOMAS, 2013).

O principal foco dado pelas incubadoras se situa no serviço de escritório, enquanto as

pré-incubadoras, concentram-se na consultoria e treinamento, com uma série de instrumentos

para eliminar os obstáculos ao empreendedorismo acadêmico, como apoio ao teste de

mercado e venda de produtos mínimos viáveis, consultoria em planos de negócios e acesso a

redes de contato (USINE, 2013a), treinamento de habilidades de gestão, além de mentoria

individualizada para cada caso de negócio (DEUTSCHMANN, 2007). Deutschmann (2007)

em seu estudo conduzido em pré-incubadoras na Alemanha, expôs a importância que a

consultoria tem no processo de pré-incubação, enfatizando a repetição de consultorias iniciais

nos planos de negócios, treinamentos e assistências sobre assuntos mais específicos, como

direitos de patentes e assuntos legais.

Por fim, costumeiramente, as pré-incubadoras são gratuitas (DEUTSCHMANN, 2007;

RAJANIEMI, NIINIKOSKI, KOKKO, 2005), devido ao fato de que empresas embrionárias

não geram receita e boa parte das barreiras para o começo de um novo negócio é a falta de

capital financeiro. Apesar da gratuidade, algumas incubadoras finlandesas acreditam ser

importante um contrato com o pré-incubadora, para aumentar a responsabilidade e

compromisso com as atividades desenvolvidas (RAJANIEMI, NIINIKOSKI, KOKKO,

2005).

2.2.1. Comunicação e seleção de projetos

Para a seleção dos projetos, estudantes, graduados ou doutores devem produzir um

projeto de plano de negócios para serem aceitos nas pré-incubadoras (DEUTSCHMANN,

2007). Nas pré-incubadoras finlandesas, do estudo de Rajaniemi, Niinikoski e Kokko (2005),

a divulgação para captação de novos empreendedores são feitas através de um site da própria

instituição, contendo informações sobre as disciplinas disponíveis do curso (já que oferecem

créditos-aula pela participação na pré-incubadora), em eventos, em aulas fora do ambiente da

pré-incubadora e nos jornais e revistas dos estudantes. Depois são escolhidos por meio de seus

formulários de aplicação e julgados conforme a viabilidade da ideia.

Page 12: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

2.2.2. Modelo de atuação de pré-incubadoras

Deutschmann (2007) sintetiza o funcionamento de uma pré-incubadora em: estudantes

aparecem com suas ideias de negócios embrionárias, participam do programa, utilizando

serviços como, espaço físico, treinamento, consultoria, mentoria e coaching, e ao final de 6 a

18 meses deixam a pré-incubação com uma startup recém-nascida, sendo usual já gerarem

seus primeiros volumes de vendas dentro desse processo. O modelo é sintetizado na figura 02,

a seguir.

Figura 2: Modelo de pré-incubação com destaque ao processo de consultoria nas pré-incubadoras

universitárias da Alemanha.

Fonte: Adaptado de Deutschmann (2007, p. 08).

A primeira pré-incubadora europeia, nascida em 1997, da Universidade de Bielefeld

(Alemanha) e que obteve seu modelo replicado na França e Espanha, desenvolveu um

programa baseado em duas questões básicas (USINE, 2013b):

Page 13: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

1. Treinamento personalizado e aconselhamento individual, abordando as

temáticas de contabilidade, administração de empresas, análise de mercado

e de marketing a nível nacional e internacional.

2. Teste de potencial de mercado dos produtos, com base na venda em

mercados nacionais e internacionais, sendo as transações comerciais

protegidas pela própria pré-incubadora (riscos financeiros para os

empresários são reduzidos). Com base nas validações de mercado, os

produtos poderiam ser aperfeiçoados e ganhar escala.

As pré-incubadoras que seguiram o modelo de Bielefeld, desenvolveram também

ferramentas virtuais de apoio. Como o software para a criação de planos de negócios

desenvolvido para pesquisadores acadêmicos que possuem pouco ou nenhum conhecimento

ou experiência essenciais sobre a criação, desenvolvimento e gestão de negócios. O software

trabalha sete etapas: descrição geral da ideia de negócio, plano de produto/serviço, plano de

marketing, plano de produção, plano pessoal, plano econômico/financeiro e simulação de

viabilidade (USINE, 2013c). Outra ferramenta virtual foi criada para facilitar a relação de

parcerias estratégicas com a indústria, instituições de investigação e parceiros financeiros,

criando uma rede de contatos, quebrando barreiras de mercado para contatos estratégicos

internacionais.

Na pré-incubadora da Escola de Economia de Helsinki um treinamento intensivo é

realizado e ele é dividido em duas partes. Em sua primeira parte, disponibilizado para um

público-alvo mais amplo, são oferecidos conhecimentos fundamentais sobre

empreendedorismo, informações jurídicas, como é feita a seleção de mercados e aspectos

relacionados ao comportamento empreendedor. Depois, é oferecido uma estrutura mais

solidificada para o desenvolvimento um plano de negócios viável, com assistência no

planejamento de marketing, orçamento e finanças (RAJANIEMI, NIINIKOSKI, KOKKO,

2005).

Em resumo, as pré-incubadoras podem oferecer os seguintes serviços (RAJANIEMI,

NIINIKOSKI, KOKKO, 2005, p. 12): avaliação da viabilidade da ideia de negócio

apresentada e know-how; auxílio na formatação do plano de negócios (documentos oficiais,

Page 14: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

plano de viabilidade, análises); orientações práticas (aplicações que completam, ponte com as

autoridades); educação financeira (auxílio na obtenção e gerenciamento de apoio financeiro);

mentoria (por outras empresas, empreendedores mais experientes, especialistas, estudantes

seniores); serviços de escritório (computador, telefone, fax, sala, mobiliário); treinamentos

(palestras, seminários, consultorias, oficinas); redes de contatos (rede já existente da pré-

incubadora e possibilidade de fomentar a rede em eventos) e; em casos mais extremos,

créditos acadêmicos como parte do curso. O processo é baseado na metodologia de

aprendizado com a prática (leaning by doing) e na aprendizagem baseada em problemas

(problem-based learning).

Voisey, Jones e Thomas (2013) sintetizam que a finalidade dos empreendedores com

as pré-incubadoras é de adquirir as habilidades necessárias para operar um negócio, realizar

testes reais de mercado e usufruir dos serviços de consultoria, seminários, oficinas, análise de

mercado e planejamento de negócios.

Segundo USINE (2005, p.70-88), sete questões foram analisadas como elementos

cruciais para o desenvolvimento das atividades de pré-incubação:

1. Arquitetura da pré-incubadora: a estratégia da pré-incubadora deve levar

em conta as potencialidades dos empreendedores, a instituição ao qual se

insere e os interesses e necessidades da região em que se situa, tendo objetivos

e missão claros do programa.

2. Educação empreendedora como caminho para a pré-incubadora:

consideração das atividades na pré-incubadora como um acréscimo do que é

oferecido pela instituição de ensino superior.

3. Grupo-alvo e seleção dos participantes: não só alunos precisam ser os

beneficiados pela pré-incubação, pesquisadores e funcionários das instituições

também podem ser contemplados. Para uma boa avaliação, devem ser

definidos os critérios de seleção e quem escolherá os participantes.

4. Serviços personalizados: treinamentos e mentoria podem ser oferecidos pelos

membros da instituição de ensino ou por profissionais especializados. Os

assuntos permeiam planos de negócios, avaliação da ideia e ferramentas para

Page 15: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

desenvolvimento da ideia. As consultorias podem ser oferecidas de diversas

maneiras, sendo as mais comuns os workshops, de um dia de duração e

palestras com duração de uma a três horas (DEUTSCHMANN, 2007). A

colaboração entre os membros do programa de pré-incubação também deve ser

estimulada, para que se desenvolvam células de estudo.

5. Recursos: a pré-incubadora deve proporcionar os recursos intelectual (através

de funcionários e outros colaboradores) físico (por meio de escritórios) e

econômico (oferecendo caminhos para conquistas de prêmios e outros

subsídios).

6. A utilização eficaz e extensiva de redes: a pré-incubadora deve fomentar

redes de contato e promover o mesmo ao participante.

7. Boas conexões com a incubadora de empresas: as empresas podem

compartilhar o mesmo espaço físico e a interação entre essas empresas pode

gerar relacionamentos e troca mútua de conhecimento.

2.2.3. Outros pontos a considerar: tempo de pré-incubação e uso do espaço físico

De acordo com Rajaniemi, Niinikoski e Kokko (2005) o período de pré-incubação

pode variar de meses até anos, dependendo da abordagem de pré-incubação empregada. As

pré-incubadoras alemãs, pesquisadas por Deutschmann (2007), o tempo permitido para que os

empreendedores possam usufruir dos serviços até o limite que varia de 6 a 18 meses. Já no

contexto Finlandês, nos moldes apresentados por Rajaniemi, Niinikoski e Kokko (2005), o

tempo varia de 3 a 6 meses.

Quanto ao uso do espaço físico, na pré-incubadora da Universidade de Lueneburg

abordada no estudo de caso de Deutschmann (2007), os serviços de consultoria e as oficinas

eram verdadeiramente utilizados pelos empreendedores, contudo, o espaço físico oferecido é

marginalmente utilizado, representando o mesmo problema enfrentado pelo LabEE, em que

os empreendedores negligenciam o espaço e não vivenciam a potencialidade do ambiente.

2.3. Métodos de desenvolvimento de novos negócios

Page 16: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

O processo de pré-incubação baseado nos pilares apresentados anteriormente -

acompanhamento, treinamento e compartilhamento pode ser baseado em diversos métodos de

desenvolvimento de novos negócios.

Dentre os métodos mais comumente utilizados para desenvolvimento de novos

negócios tem-se três métodos principais: o design thinking, criado pela IDEO, o lean startup,

sugerido por Eric Ries, e o business model canvas (BMC).

O processo de design thinking não se inicia com uma ideia ou um objetivo, mas com

um problema ou uma questão (MUELLER e THORING, 2012). O método é dividido em seis

etapas centradas no usuário e focadas em descobrir, compreender e alcançar o verdadeiro

desafio. Esse modelo parece ser apenas aplicável a todo o problema, não em sub-problemas

específicos (MUELLER e THORING, 2012). As etapas não possuem um término definido, há

ciclos de correção que se complementam a partir da última etapa, o teste.

O segundo método é o lean startupou, ou startup enxuta. Esse método é igualmente

centrado no usuário mas foca na prevenção de desperdício de recursos durante a estruturação

de um produto ou de um serviço. O processo de aprendizagem não apresenta início e fim

definidos (MUELLER, THORING, 2012), podendo ser aplicado em qualquer fase de um

empreendimento, o que o torna adaptável e flexível. Ries (2011), idealizador do processo,

lista cinco princípios: 1) Empreendedores estão por toda parte; 2) Empreender é administrar;

3) Aprendizado validado; 4) Construir-medir-aprender; 5) Contabilidade para inovação

(RIES, 2011). O quarto ponto, foco da metodologia proposta, constrói de forma análoga ao

design thinking um ciclo de inovação e geração de novos negócios. A comparação dos dois

métodos feita por Mueller e Thoring (2012) afirmam que ambos os ciclos de aprendizagem

utilizam ferramentas semelhantes, mas a nomeiam de maneiras diferentes. Ries (2011)

também desenvolve conceitos importantes, como o produto mínimo viável (MVP), o salto de

fé (ou atos de fé), o pivô e análise coorte. O primeiro diz respeito à construção de protótipos

(ou produtos) não acabados para servir como objeto de validação de uma ideia. O MVP tem

como objetivo evitar o desperdício de tempo e recurso para desenvolver algo que não resolve

o problema do consumidor, ou em outras palavras, desenvolver algo que o consumidor não

vai adquirir porque não quer ou porque não necessita. Ries sugere ainda, que o MVP seja

Page 17: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

desenvolvimento o mais rápido possível, a partir das hipóteses geradas no salto de fé (RIES,

2011). Esses saltos de fé são os elementos mais arriscados de uma startup; de onde tudo

depende (RIES, 2011). Já o pivô é o ponto em que se absorve todos os conhecimentos gerados

a partir das métricas e decide-se por mudar o rumo no desenvolvimento do negócio. A análise

coorte é uma ferramenta muito importante na tomada dessa decisão. Ela é baseada no

desempenho de cada grupo de clientes que entra em contato com o produto

independentemente (RIES, 2011). De maneira resumida, o ciclo construir-medir-aprender

presente nos dois métodos a partir do teste e da pivotação, parte da geração de ideias para a

construção; do lançamento do produto para as métricas; da geração de dados para o

aprendizado.

O terceiro método, o Business Model Canvas, foi desenvolvido por Alexander

Osterwalder e testado em grandes empresas como a IBM e Ericsson. A metodologia acredita

na importância de se delimitar raciocínio da organização, como ela cria, entrega e captura

valor para seus consumidores. É descrita como uma ferramenta para modelagem de negócios

que que foca em simplificar a descrição e a discussão da empresa. A principal característica

do conceito é que ele deve ser acessível, relevante e intuitivo com a missão de manter as

complexidades que cercam a manutenção de uma empresa. O processo é composto por nove

blocos construtivos que mostram a lógica de como uma companhia pretende lucrar, sendo

eles: segmentos de consumidores (para qual público pretende-se criar valor), proposta de

valor (qual valor pretendido para entregar aos clientes), canais (como uma empresa se

comunica e alcança o consumidor de modo a entregar a proposta de valor a ele),

relacionamento com os consumidores (tipo de relação mantida com o consumidor), fluxo de

receita (formas de gerar fluxo nas receitas), recursos-chave (ativos para fazer o modelo de

negócios ter êxito), atividades-chave (atividades que uma empresa deve fazer para um modelo

de negócios funcionar), parceiro-chave (rede de suprimentos e parceiros) e estrutura de custos

(custos de operação), segundo Osterwalder e Pigneus (2010).

Com base nesta revisão da literatura apresenta-se a seguir o estudo de caso que se

utiliza de tal arcabouço teórico para analisar e tecer considerações futuras.

Page 18: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

3. Estudo de Caso: pré-incubação através do Laboratório Empreendedorismo-Escola

(LabEE)

O projeto de pré-incubação denominado Laboratório Empreendedorismo-Escola

(LabEE) nasce no contexto da Universidade de São Paulo, campus leste da cidade de São

Paulo. Sendo assim, antes de expor sobre a pré-incubação, torna-se importante contextualizar

o cenário empreender em que está inserido.

3.1. Estímulo à inovação e empreendedorismo presentes na região onde o LabEE está

inserido

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades possui ações consideradas impactantes no

que tange a disseminação da cultura do empreendedorismo e da inovação no campus.

No que tange ao ensino, entre os 10 cursos da unidade há 3 deles que oferecem

disciplinas voltadas para o ensino do Empreendedorismo na graduação, sendo que outros

cursos estão buscando reformular seus currículos para incluir tal conteúdo em sua grade

curricular. Entretanto, sabendo da demanda de vários alunos em se aprofundar no tema, uma

docente do curso de Sistemas de Informações oferece a disciplina de Empreendedorismo

aberta a todo aluno da EACH, desde o ano de 2009. Tal disciplina oferece um formato

diferente e que vêm despertando uma demanda por parte dos alunos cada vez maior:

aproximação da prática do que é ser empreendedor do aluno. Cada aula é dividida em parte

teórica e palestra de empresário dos mais diversos segmentos. Manter semanalmente ativa

uma rede de contatos de empresários com experiências de sucesso e fracasso, e ainda,

dispostos a vir, gratuitamente, divulgar suas experiências no âmbito da Universidade, não é

algo corriqueiro e normal no âmbito da interface universidade-empresa, demonstrando valor

agregado ao curso. Tem-se hoje 775 já formados somente nesta disciplina, com mais de 90

palestras e 08 prêmios nacionais alcançados como resultados dos trabalhos dos alunos, dentre

eles: aceleração pela Fundação Leman/Encontre um Anjo; Liga dos Campeões/Endeavor;

aceleradora SEED/MG; Mulheres 50+ em rede; selecionados como finalista no: StartupFarm;

CampusParty; Prêmio mundial do Imagine Cup/Microsoft 2015, Prêmio Nacional do Imagine

Cup 2016 concorrendo ao mundial (aguardando fase final); e, Prêmio Santander.

Page 19: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

No que tange a pesquisa e extensão há diversas ações que podem ser citadas.

Entretanto, cita-se o projeto denominado Programa Empreendedorismo-Escola que abriga

diversas atividades no campus. O principal objetivo do Programa é formar, relacionar e

ensinar sobre o empreendedorismo, através de um processo lógico e sequencial capaz de

transformação de ideias em novos projetos. O Programa está aprovado na Comissão de

Cultura e Extensão desde 2009, tendo recebido menção honrosa por parte da Pró-reitoria de

Cultura e Extensão no ano de 2013 por conta de seus resultados alcançados. Estão incluídos

neste Programa, além da disciplina aberta de Empreendedorismo citada anteriormente,

também:

1. Incubadora da USP Leste denominada Habits / Incubadora-Escola: tendo como foco

a inovação tecnológica e social é a primeira incubadora 100% USP, totalmente

regulamentada sob as normas da procuradoria da USP, construída com verba

governamental através de seleção via edital público e com apoio da direção da unidade a

partir do ano de 2009. Importante frisar ainda que ela se tornou modelo por sua vertente

social, onde projetos devem ser sustentáveis, mas que obrigatoriamente devam dar retorno

imediato para a sociedade. Iniciou suas atividades em fevereiro de 2012 e desde então

vem sendo o local de referência para iniciativas sobre empreendedorismo e inovação no

campus. Possui capacidade para abrigar 15 empresas, sendo estas selecionadas através de

edital público. O projeto foi iniciado com 6 empresas piloto, onde 3 delas saíram por não

se enquadraram e 3 permaneceram. Uma delas foi recentemente considerada graduada,

por já atingir o montante acima de 1 milhão de reais e podendo competir no mercado sem

a necessária estrutura de uma incubadora. Atualmente há 10 empresas incubadas.

2. Ateliê de Ideias: ambiente aberto a alunos interessados em empreender e testar suas

ideias. É um ambiente de coworking onde os alunos e potenciais empreendedores podem

se encontrar para amadurecer suas ideias afim de se candidatarem para investimentos ou

mesmo em processo de incubação. Este ateliê funciona dentro da Incubadora e tem grande

rotatividade de alunos e convidados que enriquecem o ambiente. Iniciado em 2013 com

alto índice de utilização. Desde o ano de 2013, a cada quarta-feira da semana, sempre no

final do dia tem-se as chamadas Rodadas de pitch, onde uma ideia de um potencial

Page 20: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

empreendedor é exposta ao público presente, no intuito de ajudá-los na validação de

ideias, no próprio desenvolvimento do pitch e lhe auxiliar mostrando caminhos

alternativos em seus negócios, tendo professores, empreendedores e profissionais na área

participando das rodadas.

3. HUbEE: O Hub de Estudantes Empreendedores do Programa Empreendedorismo-Escola

(HubEE) é um grupo de alunos que tem a missão de ajudar, ensinar, aprender e fomentar o

empreendedorismo na USP Leste através de conversas (talks) com empreendedores,

workshops (Hands on!) e brainstorming's. Todas as ações são voltadas para o

desenvolvimento dos negócios dos atuais ou potenciais empreendedores. Nos

denominados Talks, promove-se o intercâmbio entre empreendedores que já estão no

mercado e os que estão no início de seus negócios, inspirando-os com histórias de acertos

e fracassos ou discussões sobre temas específicos. Nos workshops o intuito é fornecer

conhecimentos práticos de ferramentas e metodologias legais para serem aplicadas no

desenvolvimento de novos negócios e gerar inovação. Os brainstorming's são sessões

promovidas com o intuito de discutir temas pré-estabelecidos e desenvolver as ideias dos

empreendedores. É a forma dos alunos engajados com empreendedorismo dar apoio

personalizado de forma colaborativa. Com essas ações aqui citadas, promovem a criação

de um ambiente empreendedor dentro do Campus Leste da Universidade de São Paulo,

sendo coordenados pelo Programa Empreendedorismo-Escola. Desenvolvem suas

atividades na incubadora Habits, dentro do Ateliê de Ideias. Os membros ativos atuais do

HubEE são 3 alunos responsáveis e mais 5 novos membros; outros 3 ex-alunos da EACH

e membros do HubEE foram se concentrar nas suas startups e ajudam no grupo dando

ideias e fazendo ponte com outros empreendedores.

4. LabEE: laboratório rotativo, estilo bancada onde alunos podem se inscrever em busca de

um espaço para desenvolver suas ideias de forma concentrada. Podem utilizar o espaço

conjunto da incubadora e assim poder ter mais proximidade com o dia a dia de um

empresário. Em cada ciclo, há 15 vagas neste projeto de bancada iniciado em 2015.

Maiores detalhes deste projeto, alvo do estudo deste artigo, será exposto no item 3.2., a

seguir.

Page 21: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

De uma forma geral, além dos 775 alunos formados através da disciplina e apoio às 11

empresas incubadas, o Programa Empreendedorismo-Escola já desenvolveu e deu apoio à

mais 70 edições de eventos, palestras, workshops, e ainda, dentro deste cenário de inovação

foram mais de 15 negócios que surgiram ou passaram por esse ambiente, sendo que 10

negócios já ganharam prêmios nacionais e internacionais e participaram de processos de

aceleração ou incubação. Só em 2015, foram 5 edições em pouco mais de um mês, desde que

retornamos às atividades na Incubadora, com participação de mais de 80 alunos e

empreendedores. Já impactamos mais de 2000 pessoas com as histórias dos empreendedores

dos mais variados mercados. Para que todo este ambiente em torno do Programa

Empreendedorismo-Escola ocorra há o envolvimento de 2 bolsistas de mestrado (1 do

mestrado acadêmico e outro do mestrado profissional em empreendedorismo); 5 bolsistas

fomentados através da aprovação de projetos de iniciação científica; 1 funcionário cedido pela

direção da unidade e vários alunos voluntários, sendo 8 do HubEE.

Com relação às empresas juniores (EJs), a unidade leste da Universidade de São Paulo

possui hoje 7 empresas juniores. Como forma de organização interna foi constituído o Núcleo

de Empresas Juniores da EACH (Núcleo EACH Jr.) capaz de ser o canal de comunicação

junto a Comissão de Cultura e Extensão (CCEx). Dentre elas apenas 1 delas está efetivamente

vinculada ao Núcleo de Empresas Juniores geral da USP. Frente a nova regulamentação da

Pró-reitoria de Cultura e Extensão as EJs estão num processo de enquadramento e buscando

docentes que sejam interlocutores das mesmas em seus respectivos cursos. O Núcleo

idealizou e realizou em 2010 o TED (Technology, Enterteinment and Design) na USP Leste

denominado de TEDxUSPLeste. Conferência inter e multidisciplinar nos moldes

internacionais das conferências TEDx, um programa destinado à difusão do conhecimento de

ponta gratuitamente voltado para o empreendedorismo, principalmente de cunho social, é o

grande mote dos eventos TEDx. Foi o primeiro evento do TEDx na USP.

Outro fato importante a ser relatado no que tange ao interesse do campus na área de

empreendedorismo e inovação é a realização da Feira de Inovação Social e Tecnológica 2012

no campus leste/capital da Universidade de São Paulo em parceria com a Agência USP de

Inovação, Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da USP. Tal parceria permanece ativa até o

Page 22: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

presente momento, em virtude principalmente, pelo fato de que a vice-coordenadora deste

órgão desde 2013 é docente da unidade.

Através do exposto torna-se possível demonstrar que as atividades para formar e

fomentar o empreendedorismo e estimular a inovação estão presentes na USP Leste e que há

canais de relacionamento estabelecidos sendo, portanto, base estruturante para os resultados

alcançados pelo Laboratório Empreendedorismo-Escola (LabEE), tema deste artigo.

3.2. O Laboratório Empreendedorismo-Escola (LabEE)

O projeto LabEE nasceu com o propósito de auxiliar empreendedores que possuem

apenas uma ideia, sem estruturação suficiente para arcar com os custos de aluguel que uma

incubadora necessita. O fomento do empreendedorismo se faz presente na integração de

atividades acadêmicas e com a ampliação da oportunidade de acesso ao espaço físico da

Habits, uma vez que, LabEE oferece um espaço de trabalho compartilhado dentro da

incubadora com trocas de experiências orgânicas, em um espaço de coworking estruturado em

três pilares: acompanhamento, treinamento e compartilhamento.

Em outras palavras, o LabEE foi criado com o objetivo de atingir e fomentar o

empreendedorismo entre os alunos do campus com foco nos esforços de atração de candidatos

deste perfil. O público-alvo a ser comunicado são alunos da Escola de Artes, Ciências e

Humanidades (EACH) de graduação e pós-graduação da referida unidade, de todos os cursos

e semestres, que possuem uma ideia de negócio ou um negócio em estágio inicial e precisam

de espaço físico e ajuda para desenvolvê-lo e/ou alunos que desejam participar de futuros

editais de incubação e/ou aceleração, mas que ainda não estão prontos para o processo de

seleção.

Apesar de ter sido projetado inicialmente com o objetivo de ser um espaço de trabalho

colaborativo - uma preocupação da incubadora - o LabEE tomou formas exatas de pré-

incubação, focando em oferecimento de recursos intelectuais presentes em consultoria,

treinamentos, atividades e mentoria direta.

Um dos diferenciais do projeto está em sua metodologia: um modelo de pré-incubação

de três meses, resultante da revisão bibliográfica de estudos já realizados nessa área, como

Page 23: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

artigos científicos e livros e também do empirismo, que reúnem três metodologias de

formação rápida de negócios (Design Thinking criado pela IDEO, Business Model Canvas

(BMC) e Lean Startup sugerido por Eric Ries,), com a missão de tornar uma ideia abstrata em

um primeiro produto mínimo viável. Ou seja, o LabEE possui como pilares sustentadores

apresentados anteriormente pela literatura – acompanhamento, treinamento e

compartilhamento – e que foram desencadeados ao longo do projeto com base nestes três

métodos principais citados. O modelo apresentado pelo LabEE possui um período de duração

de 3 meses, sem variação de tempo. Esta questão de duração também se torna um diferencial

para este programa de pré-incubação, pois no Brasil e no mundo, de uma maneira geral, a pré-

incubação costuma ter uma duração que varia de 6 a 12 meses. Sua metodologia de 3 meses,

possui acompanhamento direto de docente e alunos bolsistas de iniciação científica e

mestrado, compartilhamento orgânico e desenvolvimento a partir de treinamentos e

workshops.

Em termos de infraestrutura, o projeto conta com uma sala específica composta por

computadores que foram doados para este ambiente, sendo possível ainda utilizar todos os

espaços compartilhados da incubadora para os treinamentos e atividades-afins caso

necessário.

Dentro do LabEE, a comunicação é feita tanto pela página da rede social Facebook do

Programa Empreendedorismo-Escola, como também por meio de banners físicos espalhados

pelo campus. O processo de seleção é realizado a partir da submissão de planos detalhado da

ideia e é julgado com base na viabilidade da ideia.

4. O LabEE: análise e recomendações

A metodologia desenvolvida para o LabEE tem um cronograma composto por três

meses e tem como foco o método lean startup (RIES, 2011) para desenvolvimento rápido de

negócios e na construção de MVP baseado no design thinking, utilizando-se ainda do Canvas

para construir seu modelo de negócios. Desde sua criação em 2015, é válido ressaltar que o

Page 24: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

LabEE construiu dois ciclos de três meses, com cerca de 30 pré-incubações, que são descritos

a seguir.

O LabEE é um dos programas oferecidos pela Habits Incubadora-Escola da

Universidade de São Paulo. Sua relação com a instituição se dá não só por meio da utilização

do espaço e de todos os insumos necessários para as atividades, mas também, através do

oferecimento dos mentores do laboratório.

4.1. O Primeiro Ciclo

O LabEE iniciou suas atividades em setembro de 2015 com um total de 15 ideias

selecionadas, todas de caráter social e tecnológico pertencentes a alunos da Universidade de

São Paulo.

4.1.1 Ideias selecionadas

- Um aplicativo gameficado com o objetivo de conectar voluntários a

organizações que necessitam de auxílio, mostrando ao potencial voluntário

organizações que se encontram em um raio próximo de sua localização.

- Um aplicativo que objetiva trocar quilômetros percorridos com meios de

transporte não motorizados em doações para instituições carentes.

- Um aplicativo que visa transformar a quantidade de CO2 emitida pelo usuário

em pontos e doações para instituições carentes.

- Uma pulseira inteligente destinada à dependentes químicos que identifica

recaídas e conecta-se com um aplicativo para prevenção.

- Serviço de bartender inovador com foco em mídias sociais.

- Um aplicativo para conectar vendedores ambulantes de comida e potenciais

clientes, dentro da faculdade.

- Um conjunto de materiais voltados ao ensino de Libras com foco no modelo de

pensamento da língua e do deficiente que a utiliza.

- Um aplicativo dedicado a planejamento de viagens com foco no contexto

histórico dos lugares e nos comércios ao redor.

Page 25: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

- Um aplicativo que pretende conectar consultórios médicos a pacientes com

possibilidade de agendamento e recomendações.

- Aplicativo que visa vender materiais utilizados em consultórios de odontologia

para alunos de universidades.

- Um aplicativo que recomende produtos eletrônicos acessíveis para pessoas que

não possuem conhecimento em tecnologia.

- Um aplicativo que auxilie na gestão do tempo e produtividade para o público

entre 12-17 anos.

- Aplicativo para reunir festas e baladas na região de São Paulo.

- A criação de um método de ensino que seja diferente das escolas tradicionais.

- A criação de cursos com o objetivo de prestar serviços educacionais a

professores.

4.1.2 O Projeto

O projeto foi dividido em cinco etapas que continham, além de uma atividade a ser

realizada com base em um dos três métodos citados na literatura, também continham um

treinamento do mesmo método, como forma de correção e aprendizagem. As etapas estão

descritas a seguir:

Etapa 1 (22/09 - 30/09)

A atividade consistiu na construção do modelo Canvas e criação de uma lista de

concorrentes com o objetivo de atentar os participantes para a viabilidade da ideia e de como

trabalhar para que ela se transforme, de fato, em um negócio. A utilização do Business Model

Canvas promoveu uma visão panorâmica da empresa, demonstrando melhor qual é a proposta

de valor feita e foi afirmado a partir de um treinamento promovido por um especialista no

método.

Etapa 2 (01/10 - 17/10)

Page 26: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

A atividade promoveu a desconstrução da ideia a partir do pensamento de novas

soluções para problemas existentes por meio de entrevistas. As pesquisas de cunho

exploratório (cinco para cada participante) tiveram como objetivo vivenciar e entender o real

problema do usuário, com foco na metodologia de design thinking. Um workshop do método

também foi oferecido para que os participantes se familiarizassem com a cultura de estruturar

primeiro o problema e depois, uma possível solução.

Etapa 3 (18/10 - 31/10)

A etapa três marcou o meio do ciclo, promovendo a correção das etapas anteriores e o

início da busca por potenciais clientes dentro da segmentação de público alvo escolhida.

Nesta etapa, não houve treinamento, mas a apresentação das ideias em uma rodada pitch

(apresentação curta de até 5 minutos) para acompanhamento.

Etapa 4 (01/11 - 14/11)

A quarta etapa ofereceu todos os instrumentos para a primeira prototipação das ideias,

com atividades não só de construção de protótipo, mas de teste de mercado e metrificação.

Nesta etapa houve uma segunda apresentação das ideias, desta vez, focada em vendas e

investidores e um treinamento de metrificação.

Etapa 5 (15/11 - 21/11)

A última etapa do ciclo aconteceu com o objetivo de promover a pivotação, o teste e a

busca por investidores. Nesta etapa houve uma mentoria direta, ao invés de um treinamento

específico, onde houve a construção de uma ponte entre cada participante e uma pessoa de

referência na área abordada por ele.

Resultados

O primeiro ciclo finalizado no final de 2015 resultou em uma incubação instantânea na

incubadora Habits, outra foi selecionada para apresentação no Campus Party e participou do

Page 27: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

processo de seleção da incubadora SEED em Minas Gerais, e outra se tornou um projeto

dentro de uma startup recém-criada.

4.2. O Segundo Ciclo

O segundo ciclo se iniciou em março de 2016 sendo dividido, desta vez, em oito

etapas. As barreiras encontradas no primeiro ciclo foram revistas e reconsideradas para o

desenvolvimento do segundo ciclo.

4.2.1 Ideias selecionadas

- Trubby: plataforma que gerencia estoque e contabilidade de food trucks e

pequenos quiosques gastronômicos. O sistema alerta o usuário para a escassez

de itens em estoque e entrega relatórios de vendas em tempo real para apoiar

decisões rápidas de negócio.

- Pólis: uma iniciativa voltada para promover uma melhor qualidade no ensino

brasileiro. Trabalhando tanto com professores, quanto com alunos novas

abordagens de ensino que permitam desenvolver autonomia e resolução de

problemas, para que em conjunto eles possam repensar a forma como se faz

não só a sala de aula, mas também a escola.

- Alpha55: a ideia é proporcionar conforto para as pessoas dentro das empresas e

mostrar como a produtividade e a retenção de talentos está alidada a isso.

- O projeto consiste em desenvolver um ambiente lúdico através da utilização de

recursos tecnológicos, como por exemplo o uso de jogos eletrônicos, para

complementar o tratamento de pessoas com transtornos de ansiedade social.

Pois muitas pessoas, que antes tinham medo de interagir com os outros,

conseguem se libertar desse "invólucro" por meio de uma experiência positiva

que lhes permitem perceber a necessidade e o prazer em se relacionar com os

outros.

- Cara, cadê meu médico? O projeto consiste em uma plataforma que pacientes

podem marcar consultas com um médico, tudo através da internet. Através da

Page 28: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

plataforma, o processo de marcar uma consulta com um médico seria

facilitado, sendo benéfico para ambos os lados.

- Piggy Bank: uma forma colaborativa de captação de recursos para fins

humanitários, focando principalmente em saúde e alimentação, critérios

básicos para existência de qualidade de vida. A solução se dá através do

repasse dos centavos que não são dados de troco por parte das empresas. Com

valores pequenos, no final do mês as empresas juntam uma grande quantidade

de dinheiro, que pode ser transferido para ONG’s que necessitam.

- Perifações: o Jardim Keralux, comunidade vizinha ao campus da USP Leste, é

reflexo dos constantes conflitos sociais, econômicos e políticos da cidade de

São Paulo. O projeto ainda sem um rumo definido tem a proposta de tentar

mudar a realidade da comunidade. Um dos problemas que eles visam atacar é a

falta de união da comunidade.

- Phantasos: a ideia consiste em criar uma forma de visualizar e interagir, no

mundo real, com uma plataforma virtual: equipamentos nos vértices de uma

sala criam a versão virtual e 3D dela, através da distância entre si. Os arquivos

são convertidos de forma que podem ser vistos e colocados dentro desse

"modelo 3D" (uma imagem, vira um quadro). O usuário vê (através de uma

tela, ou um óculos) no ambiente real todo o conteúdo que foi colocado naquela

sala virtual (de mesmas dimensões que a real). Através de sensores nas mãos o

usuário interage com o conteúdo da sala.

- A ideia é repensar a forma como se faz a locomoção na cidade de Jacareí.

Implementando uma forma colaborativa de aluguel de bicicletas, fazendo com

que as pessoas que queriam alugar suas bicicletas, ganhem dinheiro e as que

não as tem, as aluguem por um preço acessível.

- Coletivo Urbano Rural de Reforma Alimentar: visa trabalhar uma reforma

alimentar através de práticas que aproximem os consumidores da cidade aos

produtores rurais. Empoderando os produtores, mostrando possibilidades de

comércio e alternativas de produção. Empoderando também os consumidores,

Page 29: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

sobre o seu poder de escolha e as consequências que isso gera na cadeia

produtiva do alimento que chega na sua mesa.

Etapa 1 (02/03 - 07/03)

A primeira etapa iniciou-se com uma rodada de entrevistas, onde cada participante

tinha o objetivo de encontrar, com seu público alvo, problemas de interesse da área e soluções

recomendadas pelos usuários para esses problemas. A primeira semana foi marcada pelo

conhecimento das ideias e dos participantes em reunião de apresentação.

Etapa 2 (07/03 - 20/03)

A segunda etapa ofereceu aos participantes a construção e a aplicação do Business

Model Canvas, com um workshop do método para o auxílio na modelagem de seus negócios.

Nesta mesma etapa, todos os participantes construíram uma lista de concorrentes diretos e

indiretos, apresentando seus diferencias em relação a eles.

Etapa 3 (21/03 - 03/04)

A etapa três promoveu a ideação e o início da prototipação dos projetos selecionados a

partir do Design Thinking, onde cada participante precisou desconstruir a ideia e reconstruir

com o pensamento diante do usuário.

Etapa 4 (04/04 - 10/04)

A quarta etapa os induziu a procurar potenciais usuários de suas ideias, além de contar

com a primeira apresentação das ideias depois do início do laboratório. Todas as ideias foram

apresentadas em pitch voltados à investidores como treinamento.

Etapa 5 (11/04 - 17/04)

Esta etapa foi voltada à criação da identidade visual das empresas, ponto requisitado

no ciclo anterior, tendo como objetivo desenvolver promover mais seriedade ao apresentar a

ideia às pessoas.

Page 30: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

Etapa 6 (17/04 - 01/05)

A sexta etapa ofereceu todos os instrumentos para a primeira prototipação das ideias,

com atividades não só de construção de protótipo, mas de teste de mercado e metrificação.

Nesta etapa houve uma segunda apresentação de ideias, desta vez, focada em vendas e

investidores e um treinamento de metrificação.

Etapa 7 (09/05 - 22/05)

A última etapa do ciclo aconteceu com o objetivo de promover a pivotação, o teste e a

busca por investidores. Nesta etapa houve uma mentoria direta, ao invés de um treinamento

específico, onde houve a construção de uma ponte entre cada participante e uma pessoa de

referência na área abordada por ele.

Resultados

Dentre os resultados alcançados neste segundo ciclo tem-se como destaque um dos

projetos está no segundo processo de prototipação, outro projeto está iniciando aplicações

teste e outro projeto está em fase de construção do primeiro protótipo. Importante frisar que

todos estão se preparando para a abertura do próximo edital da incubadora Habits.

4.3. Análise geral do LabEE

De uma forma geral, visando analisar a estrutura e a metodologia utilizada na pré-

incubação do LabEE em seus dois ciclos até o presente momento, utiliza-se metodologia de

USINE (2005, p.70-88) citado anteriormente. Em tal metodologia as sete questões que devem

ser consideradas para analisar o desenvolvimento das atividades de pré-incubação estão a

seguir relacionadas, sendo contextualizadas para o estudo de caso em questão – LabEE:

1. Arquitetura da pré-incubadora: a estratégia da pré-incubadora LabEE leva

em consideração as potencialidades dos projetos dos empreendedores inscritos

no programa, sendo todos alunos da Universidade de São Paulo, assim como

atenta-se para o foco dos projetos apresentados traçando um paralelo com as

Page 31: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

necessidades da Zona Leste da cidade de São Paulo, local onde se situa, tendo

objetivos e missão claros. Importante considerar que sendo a Zona Leste

considerada uma região dormitório (seus respectivos habitantes residem

moram, mas não trabalham na região) demonstrando a carência de

desenvolvimento local, somado ao fato de abrigar cerca de 7 milhões de

habitantes, a escolha das ideias a serem desenvolvidas no LabEE devem levar

em consideração tal contexto e suas necessidades locais.

2. Educação empreendedora como caminho para a pré-incubadora: neste

quesito, considera-se o LabEE uma atividade de pré-incubadora que acresce ao

que é oferecido pela instituição de ensino superior. O processo de aplicação da

metodologia utilizada em seus dois ciclos apresentou resultados bastante

satisfatórios. Por sua característica que aborda o ensino do empreendedorismo

através de treinamentos e acompanhamento dos projetos semanalmente por

parte de docente e apoio de alunos bolsistas, além da validação da metodologia

em questão, o LabEE também conseguiu gerar impactos em ideias

selecionados.

3. Grupo-alvo e seleção dos participantes: segundo o autor, esta pré-incubação

deve não somente beneficiar, mas também contemplar os alunos,

pesquisadores e funcionários da instituição; fato este que o LabEE cumpre

envolvendo alunos, docentes/pesquisadores da área e funcionário. Com relação

a seleção, para uma boa avaliação da pré-incubação, devem ser definidos os

critérios de seleção e quem escolherá os participantes, o que no projeto LabEE

é feito através de chamada pública local, sendo um processo aberto e

transparente, assim como possui conta com docentes do Comitê de

Acompanhamento para atuar no processo de seleção das ideias. Sendo assim,

com relação a esta questão o LabEE atende plenamente seus objetivos.

4. Serviços personalizados: segundo a teoria, treinamentos e mentoria podem ser

oferecidos pelos membros da instituição de ensino ou por profissionais

especializados. Com relação aos serviços prestados, aqui está o destaque do

Page 32: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

LabEE, pois possui acompanhamento a evolução das ideias de forma semanal,

via grupos em aplicativos, como por exemplo no WhatsApps, rede social como

o facebook, espaço físico e ainda pelo menos um encontro semanal presencial

com todos os projetos, bolsistas alocados para apoiar os projetos e docentes do

Comitê de Acompanhamento da incubadora Habits. Nestes encontros semanais

são aplicados treinamentos específicos e palestras com empresários sob temas

específicos de acordo com as demandas dos projetos.

5. Recursos: com relação aos recursos a pré-incubadora LabEE proporciona os

recursos intelectuais através de bolsistas e docentes que compõem o Comitê de

Acompanhamento da incubadora, assim como 1 vez ao mês participam de uma

dinâmica onde os empresários incubados na Habits são os mentores das ideias

do LabEE por uma tarde. No quesito de recursos físico destina sala específica

para alocar os 15 projetos, com computadores doados para este fim, além de

poderem utilizar toda a infraestrutura da incubadora Habits. Com relação ao

quesito econômico, a pré-incubação oferece apoio através de bolsistas que os

docentes fomentados através da submissão específica junto a comissão de

pesquisa, ensino e/ou cultura e extensão da USP, além de oferecer caminhos

para conquistas de prêmios e outros subsídios através de orientações,

divulgações e mentorias.

6. A utilização eficaz e extensiva de redes: cm relação às redes de contatos a

pré-incubadora LabEE fomenta redes de contato e promover o mesmo ao

participante indo desde o contato com os empresários da incubadora Habits,

como também dos mais diversos eventos e palestrantes convidados para

ministrar no ambiente da Incubadora. O projeto está, portanto, abrigado dentro

do Programa Empreendedorismo-Escola já citado anteriormente e faz parte de

um ecossistema local dentro da Universidade de São Paulo em conexão com

empresários das mais diversas áreas e portes de empresas.

7. Boas conexões com a incubadora de empresas: segundo este autor, para que

a pré-incubação funcione e se desenvolva de forma adequada, tal ambiente

Page 33: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

deve compartilhar o mesmo espaço físico com incubadoras de empresas o que

resultaria numa interação entre essas empresas, podendo gerar relacionamentos

e troca mútua de conhecimento. O LabEE está imerso no mesmo espaço físico

da Incubadora Habits e mantem com seus respectivos incubados uma forte

proximidade que traz benefícios relevantes para ambo os lados.

Importante frisar que todas estas questões atendidas para se ter uma pré-incubação

com potencial de desenvolvimento segundo a literatura citada, somada ao fato de que, durante

os meses de pré-incubação, seus dois ciclos tiveram foco no desenvolvimento e na

estruturação do negócio, traz ao LabEE um potencial para fazer a diferença em termos de

empreendedorismo no contexto regional onde está inserido.

Outro ponto a ser considerado é com relação ao seu impacto social do Laboratório

Empreendedorismo-Escola. Seus resultados demonstram que as soluções inovadoras vêm

trazendo impactos positivos, não somente para os alunos da Universidade de São Paulo

envolvidos no projeto, como também para a sociedade em geral que usufrui de tais inovações.

Todas as ideias presentes no laboratório possuem caráter social e/ou tecnológico,

demonstrando os esforços da atual geração empreendedora em resolver problemas, fazer a

diferença e transformar a realidade do país.

5. Conclusões e contribuições tecnológicas e sociais

O fruto deste trabalho foi uma análise dos dois primeiros ciclos de implementação de

um modelo de pré-incubação aplicado na incubadora tecnológica e social Habits, sediada no

campus leste da Universidade de São Paulo, campus capital. O projeto aconteceu nos anos de

2015 e 2016 em dois ciclos de três meses, onde o estudante ingressa com uma ideia de

negócio e pôde transformá-la em um negócio viável e com possibilidade de participar de um

processo de incubação e/ou aceleração, propriamente dito.

Com relação aos impactos e reflexões para estímulos na criação de novos ambientes

semelhantes a pré-incubação denominada LabEE, o projeto não necessita de muitos recursos,

caso seja idealizado e aplicado em um ambiente propício. O espaço de uma incubadora é o

ideal, com salas, projetores e recursos humanos para que o projeto aconteça. Sendo assim,

Page 34: Um caminho para o empreender: Laboratório Empreendedorismo

além da apresentação desta metodologia de pré-incubação, também se demonstra lições

aprendidas em seus dois ciclos de aplicação em 2015 que poderão servir de base para novas

iniciativas de mesmo cunho ao redor do Brasil, além de incentivar estudos científicos na área.

Como resultado, espera-se que esse trabalho possa contribuir em termos acadêmicos

como um estudo de caso sob um modelo inovador de pré-incubação como instrumento de

incentivo da produção de conhecimento e inovação com benefícios sociais, inserido no

contexto de uma universidade pública brasileira.

Tendo em vista todas as contribuições que este trabalho promove, há a ciência de que

este estudo não realizou uma mensuração exata de resultados do processo de pré-incubação,

bem como um panorama dos impactos causados pela pré-incubadora sob a visão dos

participantes e usuários do projeto, assim que eles deixaram o Laboratório

(DEUTSCHMANN, 2007). Não houve ainda, a verificação do papel da pré incubação na

educação, como meio de transferir conhecimento da academia para a prática (RAJANIEMI,

NIINIKOSKI e KOKKO, 2005). Sendo assim, recomenda-se que haja novos estudos de caso

comparativos, observando os pontos de metodologias, bem como sugerindo melhorias no

processo de pré-incubação. Entretanto, frente ao estudo realizado afirma-se que o desempenho

de uma pré-incubadora estará relacionado ao próprio desempenho das ideias selecionadas e o

resultado do processo de desenvolvimento. Neste sentido, torna-se importante o

acompanhamento e rastreamento futuro dessas ideias para avaliar medidas de sucesso.

Entretanto, mesmo com as limitações da pesquisa, considera-se que essa iniciativa

vem contribuir com o desenvolvimento de modelos de pré-incubação no Brasil e incentivar a

formação de pesquisas nessa área, inclusive para aprimorar o modelo apresentado, sendo,

portanto, o LabEE um caminho para empreender.

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