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 8  Ano II   N º 5/99  A RTIGOS UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO P  ARA  A L ÉM DO ECONÔMICO 1 Cassiano Ricardo Martines Bovo* Resumo O presente artigo visa à  reflex ã o em torno da concep çã o tradi- cional de desenvolvimento, calcada nos indicadores econ ô mi- cos e sociais. Prop õ e-se a busca de novos ingredientes, no senti- do da amplia çã o do conceito, atrav é s de inspira çã o no cha- mado novo paradigma . Palavras-chave Desenvolvimento, subdesenvolvimento, cartesiano, novo para- digma, integra çã o, complexidade. Introdução H á algumas décadas, as ci ências, seguindo o rastro de Einsten, v êm sendo revolucionadas por novas idéias que têm questionado a concepção científica predominante, 1. O autor agradece as valiosas sugest ões e comentários de Wagner Lopes Sanchez, Marlene Oliveira Souza e Tadeu Silvestre da Silva. * Cassiano Ricardo Martines Bovo  é professor da Faculdade São Luís, das Faculdades Oswaldo Cr uz e UNIP , é mestre em Economia pela PUC-SP e doutorando em Ci ências Sociais pela PUC-SP.

UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALÉM DO ECONÔMICO

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O presente artigo visa à reflexão em torno da concepção tradicional de desenvolvimento, calcada nos indicadores econômicos e sociais. Propõe-se a busca de novos ingredientes, no sentido da ampliação do conceito, através de inspiração no chamado novo paradigma.

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  • 8 Ano II N 5/99

    ARTIGOS

    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTOPARA ALM DO ECONMICO1

    Cassiano Ricardo Martines Bovo*

    Resumo

    O presente artigo visa reflexo em torno da concepo tradi-cional de desenvolvimento, calcada nos indicadores econmi-cos e sociais. Prope-se a busca de novos ingredientes, no senti-do da ampliao do conceito, atravs de inspirao no cha-mado novo paradigma.

    Palavras-chave

    Desenvolvimento, subdesenvolvimento, cartesiano, novo para-digma, integrao, complexidade.

    Introduo

    H algumas dcadas, as cincias, seguindo o rastro deEinsten, vm sendo revolucionadas por novas idiasque tm questionado a concepo cientfica predominante,

    1. O autor agradece as valiosas sugestes e comentrios de WagnerLopes Sanchez, Marlene Oliveira Souza e Tadeu Silvestre da Silva.

    * Cassiano Ricardo Martines Bovo professor da Faculdade SoLus, das Faculdades Oswaldo Cruz e UNIP, mestre em Economia pelaPUC-SP e doutorando em Cincias Sociais pela PUC-SP.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    de cunho cartesiano. A Fsica Quntica, a Teoria dos Sistemas, a Teoriada Complexidade, dentre outras, apontam para um novo paradigma2,alimentado e aperfeioado por cientistas-pensadores, tais como FritjofCapra, David Bohn, Humberto Maturana, Ilya Prigogine, Edgar Morin,James Lovelock etc., das mais variadas reas do conhecimento.

    Por outro lado, entendemos que a concepo de desenvolvimentoe subdesenvolvimento predominante, que se concentra no crescimentoeconmico e nos indicadores sociais em que pese sua importncia, ainda limitada. Buscamos um conceito de desenvolvimento am-plo, que d conta da riqueza dessa problemtica.

    Acreditamos que o novo paradigma pode ajudar-nos nessa emprei-tada e, no presente trabalho, procuramos contaminar o conceito dedesenvolvimento com essas idias, de modo que se vislumbre outroolhar em relao ao conceito em questo. Trata-se de uma reflexosobre novas possibilidades e no uma definio pronta e acabada.

    Na primeira parte, tratamos do conceito tradicional de desenvolvi-mento, que costuma abarcar o econmico e o social.

    Em seguida apresentamos, sucintamente, algumas das teorias donovo paradigma, quais sejam, a Fisca Quntica, a Teoria dos Sistemase a Teoria da Complexidade estabelecendo, quando necessrio, acomparao com o paradigma cartesiano , que julgamos mais teispara nossos objetivos.

    Por fim, refletimos em torno da ampliao do conceito de desen-volvimento, enriquecendo-o com algumas idias-chave do novo para-digma, basicamente a integrao, a complexidade e a incerteza.

    Desenvolvimento e subdesenvolvimento:uma abordagem preliminar

    ... preciso rejeitar o conceito subdesenvolvido do desenvolvi-mento que fazia do crescimento tecno-industrial a panaciade todo desenvolvimento antropo-social, e renunciar idia

    mitolgica de um progresso irresistvel que cresce ao infinito.(Edgar Morin)

    O termo desenvolvimento largamente utilizado pelas pessoasquando tratam dos mais variados assuntos. Em geral, entende-se de-

    2. Entendemos como paradigma um conjunto de princpios articulados por umarelao lgica (Morin, 1990, p. 85).

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    senvolvimento como um desdobramento do crescimento, mas um cres-cimento muito especial, porque centra-se na qualidade. Os discursosdos economistas so recheados pelo termo desenvolvimento, no entan-to, ele utilizado com os mais variados significados. Muitas vezes umeconomista ao dizer neste ano o pas vai desenvolver-se, est, na verdade,querendo dizer que o pas vai crescer esse o uso mais comum,aquele que confunde crescimento com desenvolvimento. Cada um temse apropriado do conceito da forma que bem entende, associando-o asignificados muito variados.

    Freqentemente, o termo desenvolvimento relacionado a outrarea do conhecimento, por exemplo, desenvolvimento econmico (omais usual), desenvolvimento social, desenvolvimento cultural etc. Pre-tendemos mostrar que desenvolvimento, nesta abordagem, um con-ceito to rico e complexo que no faz sentido quando associado dessaforma restrita, pois ele abarca todas as reas do conhecimento e todosos saberes conjuntamente.

    O desenvolvimento existe pela referncia ao subdesenvolvimento;pases so chamados de desenvolvidos porque outros so intitulados desubdesenvolvidos ou, em muitos casos, em desenvolvimento. Isto pos-to, quando nos referimos a um, implicitamente estamos nos referindoao(s) outro(s).

    Parcela significativa dos economistas a prtica o demonstra,mesmo que afirmem o contrrio utilizam o termo desenvolvimentocom uma conotao quantitativa e materialista, colocando o crescimen-to econmico no centro, como fator determinante, da a forte auraeconomicista que cerca o conceito. As seguintes citaes, de um mesmoautor, referindo-se ao desenvolvimento que ele chama de econmico so comuns:

    ...consideraremos crescimento como incremento do produto porhabitante com todas as modificaes estruturais que o acompa-nham. O desenvolvimento ser entendido como o crescimentoacelerado, registrado por pas subdesenvolvido, com o objetivo deeliminar o atraso econmico3.Para pas desenvolvido sero aceitos como sinnimos pas indus-trializado e de economia madura. A denominao pas em vias

    3. Joo Paulo de Almeida Magalhes, Paradigmas econmicos e desenvolvimento a experincia brasileira, p. 1.

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    de desenvolvimento ser reservada para aqueles em processo deeliminao do seu atraso econmico.4

    Nas duas citaes, o autor restringe o conceito de desenvolvimentoao econmico. Essa a viso, tambm, do atual governo FHC, que criaum Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio que, logo nonome, j reduz o desenvolvimento ao aspecto puramente econmico.Isso fica evidente, observando a seguinte nota do Jornal do Brasil:

    Ao fazer o comunicado, Fernando Henrique disse que Lafer um homem de sua confiana pessoal, que tem dilogo com osetor produtivo brasileiro e respeito da rea econmica do gover-no (...) Fernando Henrique se antecipou ao anncio de seunovo Ministrio, marcado para hoje, s 11h, por achar muitoimportante que o prprio presidente da Repblica mostre a suasatisfao por ter encontrado um ministro capaz de reunir ascondies para que ns, nesta quadra nova do Brasil, possamosdivisar um futuro de crescimento econmico, um futuro de pro-duo, e que seja um futuro de responsabilidade.5

    O discurso do Presidente da Repblica trata de crescimento eco-nmico, produo, setor produtivo etc., mas no aparece a sade, aeducao etc. a reproduo da to malhada e generalizada visopuramente economicista e, portanto, restrita.

    Nessa viso, o PIB a vaca sagrada dos economistas, segundoFurtado (1974, p.115) assume papel de extrema relevncia, a pontode muitos economistas, estudiosos, relatrios etc. utilizarem o PIB percapita6 como indicador a demarcar o grau de desenvolvimento de umpas. No h dvidas quanto ao fato dos pases ditos mais desenvolvidosapresentarem elevados nveis de PIB per capita, no entanto, nem sem-pre um pas com alto PIB per capita desenvolvido. Essa abordagemcausa as seguintes distores:

    Apesar de o Brunei ter o produto interno bruto (PIB) per capitamais elevado do mundo, com 31,165 dlares, ocupa o 35o lugarno ndice de Desenvolvimento Humano medido no Relatrio7.

    4. Op. cit., p. 2.5. FH anuncia Lafer para a pasta do Desenvolvimento, JB on line, 23/12/98.6. PIB per capita de um pas = PIB/populao total7. O Canad continua a ocupar o primeiro lugar no ndice mundial de desenvol-

    vimento humano, Internet, p.2. Trata-se do Relatrio do Desenvolvimento Humano de1998, do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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    Aqueles que pretendem criar uma classificao entre os pases, seo fizerem utilizando o PIB per capita, percebero que o Canad encon-tra-se em primeiro lugar no ndice de Desenvolvimento Humano (vol-taremos ao assunto adiante), mas em 9o lugar em termos de PIB percapita, em 1998. Em termos de PIB per capita, o Canad perde parao Kweit, que, no entanto, est em 54o lugar no IDH. Os Emiradosrabes Unidos classificam-se em 23o lugar em PIB per capita, mas em48o lugar no IDH. Essas distores acontecem porque o PIB per capita um indicador que expressa a participao na renda de cada habitantede um pas, se a renda fosse igualmente distribuda, fato que nuncaaconteceu em pas algum, inclusive os chamados socialistas.

    Os economistas marxistas e os da CEPAL8 que muitas vezes seconfundem foram, talvez, os primeiros a questionar esse tipo deabordagem redutora e materialista em relao ao conceito de desenvol-vimento. Eles passaram a incorporar a estrutura, as disparidades regio-nais, a distribuio dos frutos do crescimento entre a populao, dentreoutros aspectos. A seguinte citao de economistas da CEPAL indicanovos ingredientes em relao ao tema:

    O subdesenvolvimento uma situao, um estado, ou condioespecfica, singularizado por numerosos elementos econmicos esociais que, ao se combinarem, constituem uma estrutura eco-nmico-social caracterstica9.A nosso ver, um dos economistas pertencente CEPAL em seus

    ureos tempos que acena para ampliao do conceito de desenvol-vimento Celso Furtado10, que busca desmistificar a idia de que ocrescimento econmico, exclusivamente, seja capaz de desenvolver umpas (Furtado, 1974). Temos o exemplo brasileiro, de seu milagreeconmico no perodo do regime militar (talvez milagre para as elites),em que o pas nunca cresceu tanto, mas a misria cresceu mais ainda11.

    8. Comisso Econmica para Amrica Latina9. Anbal Pinto, Carlos Fredes e Luiz Cludio Marinho, Curso de Economia, p.

    107. Grifos nos original10. A obra de Celso Furtado sobre o desenvolvimento reconhecida internaci-

    onalmente, o que o coloca como uma das maiores autoridades sobre o assunto. Veja-se, por exemplo, o clssico Teoria e poltica do desenvolvimento econmico.

    11. Alguns exemplos no mbito do PNUD mostram pases que evoluram emtermos de indicadores de desenvolvimento apresentando queda de renda, demonstran-do o papel crucial que joga a desconcentrao da renda. Distribuir os frutos do cres-cimento econmico um dos principais desafios do processo de desenvolvimento.

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    No h como negar que crescimento econmico, processo de in-dustrializao e, enfim, a estrutura econmica, so importantes; todavia,estamos negando a desproporo na abordagem; entendemos que osindicadores e a estrutura econmica constituem-se em alguns dos ingre-dientes, junto a muitos outros, na abordagem do conceito de desenvol-vimento. De acordo com Bernardo Kliksberg:

    As evidncias mostram que, para um pas, imprescindvel al-canar uma estabilidade econmica e o equilbrio financeiro,melhorar sua competitividade e aumentar o produto internobruto, mas isso no se derrama automaticamente. Pelo contr-rio, os indicadores anteriores podem melhorar e, ao mesmo tem-po, continuar deteriorando-se ou permanecer inalterada a situ-ao dos setores mais desfavorecidos12

    Entendemos que h considervel avano quando os economistasinserem os indicadores sociais nos ingredientes do desenvolvimento. Osindicadores mais utilizados que se encontram nos Relatrios do BancoMundial so: expectativa de vida ao nascer, analfabetismo de adultos,distribuio da renda, acesso gua potvel, ao saneamento bsico,acesso a servios mdicos, taxa de mortalidade infantil, participao dasmulheres que chegam ao curso secundrio, acesso ao ensino superior,desnutrio, coeficiente alunos/professores de 1o grau, dentre muitosoutros, dependendo dos objetivos do pesquisador.

    Esses indicadores, vistos de forma integrada, so muito mais repre-sentativos do grau de desenvolvimento, na medida em que eles nos douma idia (desde que a metodologia utilizada seja sria) do padro devida da populao do pas, isto , expressam de forma mais fiel suascondies de sobrevivncia (aproximando-se da idia de qualidade quecerca o conceito de desenvolvimento).

    Com o intuito de sintetizar os indicadores sociais e avanar nadeterminao do nvel de desenvolvimento dos pases, o Programa dasNaes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) criou o ndice de De-senvolvimento Humano (IDH), j citado, que descarta o PIB per capitaou o crescimento econmico como determinantes do desenvolvimento:

    Segundo os autores do Relatrio, o desenvolvimento humano definitivamente um processo de ampliao das opes das pesso-

    12. Bernardo Kliksberg, Repensando o Estado para o desenvolvimento social, p. 22.

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    as na sua vida quotidiana. O conceito de desenvolvimento hu-mano proporciona uma alternativa anlise do desenvolvimen-to, vinculada exclusivamente ao crescimento econmico, acres-centam os autores.O Relatrio demonstra que a renda per capita elevada no uma garantia de progresso humano. Os indicadores humanos (asade, a nutrio, a educao, o acesso gua potvel e aosaneamento bsico) devem ser analisados com a mesma seriedadecom que se analisa os indicadores financeiros e econmicos13.O IDH uma combinao de trs indicadores: esperana de vida

    ao nascer, taxa de alfabetizao de adultos junto taxa de matrculacombinada nos trs nveis de ensino e, enfim, o PIB per capita ajus-tado para diferenas no custo de vida de cada pas, sendo o resultadoexpresso em PPP$ (dlar da paridade do poder de compra)14. O PNUDdivulga um ranking com a colocao dos pases; a ttulo de curiosida-de, em 1998, num universo de 174 pases, o Brasil situava-se em 62o

    lugar.Outro indicador do PNUD o ndice de Pobreza Humana (IPH),

    criado em 1997, para os pases do Terceiro Mundo, composto pelosseguintes indicadores: curta durao da vida (o percentual da popula-o, em cada pas, cuja expectativa de vida no atinge os 40 anos), faltade educao elementar (o percentual da populao analfabeta) e falta deacesso aos recursos pblicos e privados (medida como uma percenta-gem composta das pessoas com falta de acesso aos servios de sade,gua potvel e nutrio razovel).

    Outra faceta do subdesenvolvimento o elevado nvel de concen-trao pessoal da renda15. Os dados a respeito da pssima distribuioda renda pessoal no Brasil aparecem, de forma simplificada, na tabelaabaixo:

    13. O Canad continua a ocupar o primeiro lugar no ndice mundial de desenvol-vimento humano. Internet, p. 2.

    14. O ltimo relatrio do desenvolvimento humano mede as carncias humanas e odesenvolvimento para pases de todo o mundo, Internet, p. 4.

    15. Um dos indicadores mais utilizados para medir a distribuio da renda ondice de Gini. Quanto sua metodologia, veja-se os relatrios do Banco Mundial eVasconcellos et alli (1996, pp. 67-69). O Brasil tradicional campeo em relao a esseindicador.

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    Distribuio pessoal da renda no Brasil decis da populaocom 10 anos ou mais de idade, com rendimentos.

    Fontes: Relatrios do Banco Mundial, Cano (1998, pp. 252-253) e vrios institutos depesquisa brasileiros.

    Cada linha da tabela representa 10% da populao economicamen-te ativa do pas (PEA), sendo que a linha mais alta representa os 10 %mais pobres da populao, aumentando progressivamente at chegaraos 10 % mais ricos, representados na ltima linha. Em 1960 a distri-buio da renda no Brasil j era bastante concentrada, enquanto os 10%mais pobres da PEA auferiam 1,2 % de toda renda gerada na economia,os 10% mais ricos, auferiam 39,7 %. Dez anos depois, em pleno milagreeconmico (1970), a renda se concentrou mais ainda, os mais pobresficando com 1,1 % da renda e os mais ricos passando a 47,8 % da renda.Observa-se que todos os extratos perderam participao na renda, comexceo dos 10 % mais ricos, que receberam o que todos os demaisperderam; houve redistribuio concentradora de renda. Observa-se,tambm, que, de 1970 para c, esse padro de concentrao pouco sealterou, de forma que os 10 % mais ricos se apropriam de, praticamente,metade da renda gerada na economia.

    Outra leitura da distribuio da renda pode ser feita atravs daapropriao entre grosso modo as classes sociais. A tabela abaixo,simplificada, compara Brasil e E.U.A.

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    Distribuio Funcional da Renda em %

    Fonte: Wilson Cano. Introduo economia uma abordagem crtica, p. 237)16

    Observa-se apesar da precariedade dos dados que a distribui-o funcional dos Estados Unidos se tornou quase que inversa a doBrasil, de 1960 para 1980. Os dados indicam o efeito nefasto do regimemilitar, nesse aspecto. A gravidade da situao no Brasil evidente selevarmos em considerao que os EUA tm parcela considervel de suapopulao vivendo de forma precria. A concentrao da renda da pro-priedade, como se observa no Brasil, denota, por outro caminho, quea grande maioria da populao assalariados tem pouco acesso amaior parte da renda gerada na economia.

    Ainda em relao distribuio da renda, a disparidade regional outra caracterstica dos pases subdesenvolvidos. A grande maioria dospases sofre dessa disparidade em algum grau (veja-se o sul e o norte daItlia, para ficarmos nos ditos desenvolvidos), mas os pases considera-dos subdesenvolvidos apresentam diferenas gritantes, como por exem-plo se compararmos o Sudeste e o Nordeste brasileiro, e mesmo dentroda regio Sudeste, os bolses de pobreza em meio opulncia. Acoexistncia de pobreza e riqueza em setores territoriais (um bairro, umacidade, um Estado, uma regio) de um mesmo pas uma das principaiscaractersticas do subdesenvolvimento, gerando a onda da dualidade dosubdesenvolvimento, no mbito dos economistas da CEPAL, principal-mente nas dcadas de 60 e 70.

    16. O autor em questo utilizou-se de vrias fontes, conforme a obra citada.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    Cada vez mais cresce a convico de que a melhoria dos indicado-res sociais tem amplas repercusses no apenas sobre as condies devida da populao, mas, num horizonte de tempo maior, sobre o pr-prio desempenho econmico do pas, como atesta Kliksberg:

    Vem-se firmando a convico de que no adequado pensar todoo processo em termos da resoluo de uma dimenso isolada dasoutras, mas sim que existe uma inter-relao bsica entre elas.O desenvolvimento social parece, na experincia concreta, umprocesso vital para que possa existir um desenvolvimento econ-mico sustentado17....uma empresa que investe, hoje, na educao de seus integran-tes, obtm uma taxa de retorno sobre o investimento duas vezesmaior quela investida em instalaes e equipamentos.18

    Apesar do enriquecimento da abordagem do desenvolvimentopossibilitado pelos indicadores sociais (sem negar a importncia dosindicadores econmicos), entendemos que o conceito ainda fica limita-do se no considerarmos outros ingredientes, que sero abordados nasprximas partes.

    Um novo paradigmaOuo nos gritos que os adultos do,

    E nos gritos de medo do inocente,Em cada voz, em cada interdio,

    As algemas forjadas pela mente.(William Blake)

    O paradigma cartesiano tem os seus pilares no mtodo analtico-dedutivista de Ren Descartes, no empirismo de Francis Bacon e nasntese de ambos, realizada por Isaac Newton. No pretendemos ana-lisar o paradigma cartesiano neste trabalho, mas podemos dizer quemecanicismo, fragmentao, parcelarizao, matematizao19 so suas

    17. Bernardo Kliksberg, Pensando o Estado para o desenvolvimento social, p. 33.18. Op. cit., p. 25. O autor se inspirou nos estudos de Lester Thurow.19. Um tal conhecimento baseava necessariamente o seu rigor e a sua operacionalidade

    na medida e no clculo; mas, cada vez mais, a matematizao e a formalizao desin-tegraram os seres e os existentes para apenas considerarem como nicas realidades as fr-mulas e equaes que governam as entidades quantificadas. Edgar Morin, Introduo aopensamento complexo, p. 17.

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    marcas registradas. A cincia econmica, basicamente a partir de mea-dos do sculo XIX, foi e continua contaminada por essa viso demundo expressa na excessiva matematizao, na obsesso pela idia deequilbrio, na anlise parcelada e desintegrada.20 O consagrado ceterisparibus da Economia a expresso de uma simplificao herdada daconcepo newtoniana. Como desdobramento disso, a abordagem dodesenvolvimento , tambm, plasmada pelo cartesianismo.

    inegvel o avano possibilitado pelo paradigma cartesiano, noentanto, algumas descobertas do chamado ncleo duro das cincias (Fsica,Qumica etc.), consubstanciadas em novas idias e teorias tm colocadoem cheque certezas inquestionveis por aproximadamente trs sculos21.

    Uma dessas descobertas est na Fsica Quntica e remonta s idiasde Einsten. Os estudos em relao aos tomos e os quanta (partculas deluz) praticamente os menores elementos da matria levou os fsicosqunticos a descobrirem que esses elementos no possuem forma defini-da e so altamente mutveis, mudando rapidamente de posio, ao con-trrio do que pregava a fsica newtoniana. Descobriu-se, tambm, que atransformao e a velocidade desses elementos dependem da interaocom o observador e o aparelho que est sendo utilizado na pesquisa.Conclui-se que os tomos (principalmente os seus componentes chama-dos eltrons) so altamente mutveis, o que desaba a certeza, a imuta-bilidade e o determinismo, bases da cincia cartesiana. Procuramos ex-pressar essas idias atravs de duas citaes de Capra:

    Em nvel subatmico, a matria no existe com certeza em lu-gares definidos; em vez disso, mostra tendncias para existir, eos eventos atmicos no ocorrem com certeza em tempos definidose de maneiras definidas, mas antes mostram tendncias paraocorrer22.Um eltron no uma partcula nem uma onda, mas podeapresentar aspectos de partcula em algumas situaes e aspectos

    20. Essa viso no escapou sequer Sociologia, como, por exemplo, Pareto, quebuscava o equilbrio matematizado nas relaes sociais (timo de Pareto)

    21. Chama ateno o fato do novo paradigma no ter surgido do chamado ncleoleve (humanas, sociais etc.) das cincias, tradicionalmente mais propenso s aberturas.De qualquer forma, o fato desse conjunto de novas idias ter surgido no centro domundo cartesiano evidencia a magnitude e a importncia de tal movimento.

    22. Fritjof Capra, O ponto de mutao, p. 74.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    de onda em outras. Enquanto age como partcula, capaz dedesenvolver sua natureza ondulatria s custas de sua naturezade partcula, e vice-versa, sofrendo assim transformaes cont-nuas de partcula para onda e de onda para partcula. Issosignifica que nem o eltron nem qualquer outro objeto atmicopossuem propriedades intrnsecas, independentes do seu meioambiente. As propriedades que ele apresenta semelhante apartcula e semelhante a onda dependem da situao experi-mental, ou seja, do aparelho com que o eltron forado ainteragir23.Essas descobertas, que deixam os cientistas perplexos at hoje,

    possibilitam o reconhecimento da incerteza e da indeterminao nascincias. Morin coloca de forma bastante provocadora:

    ...a conscincia da complexidade faz-nos compreender que nopoderemos nunca escapar incerteza e que no poderemos nun-ca ter um saber total. A totalidade a no-verdade24.Outra descoberta importante, para os nossos propsitos, a cha-

    mada Teoria dos Sistemas (incio do sculo XX). A Teoria dos Sistemasencara cada componente da natureza como um sistema, com vida edinmica muito prprias, mas interagindo com outros sistemas. Nopensamento cartesiano os sistemas no realizam troca e conexes, nombito da Teoria dos Sistemas os sistemas so abertos, isto , trocam(doam e recebem) com os demais. Parte-se de sistemas menores dentrode sistemas maiores, at chegar a um ecossistema. Um tigre na naturezapode ser entendido como um sistema que interage com outros sistemas(os outros tigres, as suas presas, um lago etc.); todos eles, de formaintegrada, levam a um sistema maior que a selva em que eles vivem.Da mesma forma, cada ser humano um sistema que interage comoutros sistemas (outros seres, inclusive os humanos), o que nos parecede extrema relevncia para a noo de desenvolvimento, conformeabordaremos na prxima parte. Capra faz uma analogia com redes queformam teias, para mostrar as relaes existentes entre os sistemas:

    Na viso mecanicista, o mundo uma coleo de objetos. Estes,naturalmente, interagem uns com os outros, e portanto h rela-

    23. Op. cit., p. 73.24. Edgar Morin, Introduo ao pensamento complexo, p. 100.

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    es entre eles. Mas as relaes so secundrias (...) Na visosistmica, compreendemos que os prprios objetos so redes derelaes, embutidas em redes maiores. Para o pensador sistmico,as relaes so fundamentais25.A Teoria dos Sistemas tem na integrao fundamental na nossa

    abordagem do desenvolvimento a sua essncia. Contrariamente concepo cartesiana, que busca entender o todo pelas partes; a Teoriados Sistemas busca entender o todo e as partes conjuntamente26; enfatiza-se as relaes e as conexes, dentro do esprito de Pascal:

    Sendo todas as coisas causadas e causantes, auxiliadas e auxili-antes, mediatas e imediatas, e mantendo-se todas elas por meiodum vnculo natural e insensvel que une as mais afastadas e asmais diferentes, julgo impossvel conhecer as partes sem conhecero todo, assim como conhecer o todo sem conhecer as partes emparticular.27

    A Teoria dos Sistemas nos faz pensar em torno da transdisci-plinaridade, que vai alm da interdisciplinaridade, que ainda fica naseparao para depois juntar. A transdisciplinaridade envolve o todointegrado. Exemplificando, sob essa tica, a medicina entendida pr-xima homeopatia, antroposofia e medicina tradicional chinesa, quevem o corpo humano de forma integrada, a comear pela relaomente x corpo; o sistema acadmico-cientfico, nos cursos e disciplinas,seria muito mais integrado, pois o conhecimento no separado, ohomem o separa na v pretenso de control-lo; a Economia seriamenos parcelada, mais integrada com outras reas do conhecimento,menos matematizada, menos determinista e daria vazo incerteza, aoacaso e aos desequilbrios do mercado28.

    25. Fritjof Capra, A teia da vida, p. 47.26. Veja-se o princpio do holograma (Morin, 1990).27. Epgrafe de Edgar Morin. O mtodo I a natureza da natureza. Quando o

    paradigma cartesiano afirma a soma das partes igual ao todo, o novo paradigma afirmaO todo mais do que a soma de suas partes. Fritjof Capra. A Teia da vida, p.38.

    28. Antes que nos chamem de romntico ou utpico, importante registrar queessas idias foram gestadas por cientistas de reconhecimento comprovado, conformeapontamos na Introduo, alguns deles ganhadores do Prmio Nobel. Capra (1975)mostra que os princpios do novo paradigma eram conhecidos h milnios, por algumasfilosofias orientais (taosmo, budismo, zen-budismo, hindusmo) e por alguns filsofosgregos pr-socrticos (Herclito, Demcrito etc.).

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    Outra grande contribuio da Teoria dos Sistemas para a aborda-gem do desenvolvimento a preocupao com o meio ambiente. Elamostra que as aes dos homens no meio ambiente afetam todos osseres da natureza (sistema aberto) e, portanto, a devastao ambientaltraz srios problemas ao prprio ser humano, principalmente s gera-es futuras. Nessa perspectiva, o novo paradigma recoloca a naturezana cincia, ele ecocntrico, entendendo que o homem (interagejunto) a natureza em oposio viso de mundo cartesiana, chamadade antropocntrica, em que o homem visto separado da natureza,buscando domin-la.

    Outra teoria importante, no mbito do novo paradigma, a Com-plexidade, desenvolvida por Edgar Morin (1990). A complexidade que se ope simplificao engloba a complicao, mas no seesgota nela (Morin, 1990, p.101). A complexidade tem a contradio rejeitada pelo paradigma cartesiano no seu epicentro. A contra-dio irm do acaso, da incerteza e da indeterminao do novoparadigma. Como afirma Morin:

    Na viso clssica, quando aparece uma contradio num raci-ocnio, um sinal de erro. preciso fazer marcha atrs e tomarum outro raciocnio. Ora, na viso complexa, quando se chegapor vias emprico-racionais s contradies, isto significa noum erro, mas o atingir de uma camada profunda da realidadeque, justamente porque profunda, no pode ser traduzida paraa nossa lgica29.A complexidade une e convive com os opostos; a ordem e a desor-

    dem, a integrao e a desintegrao, a vida e a morte etc., ao invs dejog-los fora em prol de uma falsa soluo30. O paradigma da comple-xidade est, na verdade, resgatando a filosofia chinesa milenar do Tao,embasada no princpio yin e yang, opostos que coexistem.

    Juntando as descobertas da Fsica Quntica, da Teoria dos Sistemase da Complexidade, cremos que podemos voltar a refletir em torno doconceito de desenvolvimento.

    29. Edgar Morin, Introduo ao pensamento complexo, p. 99.30. Essa colocao de Morin (1990, p. 91) tpica do novo paradigma: Vemos

    como a agitao, o encontro com o acaso so necessrios organizao do universo. Podedizer-se do mundo que ao desintegrar-se que se organiza. Eis uma idia tipicamentecomplexa.

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    ARTIGOS

    Uma concepo integrada do desenvolvimentoA pressa por desenvolver-se, ademais, faz-me pensar em

    uma desenfreada carreira para chegar mais cedo do que osoutros ao inferno. (Octvio Paz)

    Entendemos que o conceito de desenvolvimento que abarca ape-nas o econmico e o social, em que pese sua importncia, torna-selimitado e, principalmente, determinista, como se as questes econmi-cas e sociais fossem as mais importantes:

    Por muitos anos, acreditou-se que a maneira mais eficiente dese reduzir a pobreza e a desigualdade social era atravs do cres-cimento econmico acelerado. Contudo, a evidncia empricatem demonstrado que, embora um elevado crescimento econmi-co seja uma condio necessria, no se constitui, porm, numacondio suficiente para se reduzir a pobreza e a desigualdadesocial.31

    Se nos espelharmos na Teoria dos Sistemas, que afirma tudo estarinterligado, chegamos a trs concluses. Em primeiro lugar, muitosoutros ingredientes devem ser adicionados abordagem do conceito,uma vez que o cotidiano dos seres humanos envolve muito mais que oeconmico e o social. Em segundo, todos os ingredientes devem servistos conjuntamente lembremos das conexes. Em terceiro, no hquesto mais ou menos importante, na medida em que se d nfase aotodo.

    Em vista do exposto acima e baseando-nos no novo paradigma,buscaremos uma leitura do conceito de desenvolvimento centrada emquatro idias-chave, que estaro permeando nossa argumentao: aampliao, a integrao, a incerteza e a complexidade (aqui entendidano sentido da Teoria da Complexidade e no no sentido vulgar),objetivando o enriquecimento do conceito.

    Como ponto de partida, entendemos que abordar o subdesenvol-vimento como se os pases no tivessem histria e viessem do nada,implica mutilar o conceito, na medida em que se trata de um processo.A Teoria da Dependncia de Celso Furtado, Caio Prado Junior,

    31. Shadid Burki e Sebastin Edwards, Amrica Latina y la crisis mexicana:nuevos desafos, in Bernardo Kliksberg, Repensando o Estado para o desenvolvimentosocial, p. 22.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    Andr Gunder Frank, Samir Amin, do socilogo Fernando HenriqueCardoso etc. nos ajuda neste sentido. Essa teoria mostra que muitosdos pases atualmente chamados de subdesenvolvidos, outrora foramcolnias de explorao e, portanto, submetidos voracidade expro-priadora das metrpoles32. Prado Junior, referindo-se ao Brasil, afirma:

    Este incio, cujo carter manter-se- dominante atravs dos s-culos da formao brasileira, gravar-se- profunda e totalmentenas feies e na vida do pas33.Considere-se a contribuio de Rosa Luxemburg (1988)34, ao

    abordar os mecanismos usados pelos franceses na dominao do norteda frica, no incio do sculo XX.

    Autor de destaque nessa empreitada Celso Furtado (1968) oqual nunca descartou a histria nas suas anlises do subdesenvolvimento, que nos mostra o processo de implantao dual da tecnologianos pases subdesenvolvidos. As regies colonizadas receberam tecnologiaevoluda para o padro da colnia , porm os seus frutos (isto ,a elevao da produtividade) foram apropriados por uma minoria elite e em apenas algumas regies. Os lucros resultantes dessas ati-vidades eram, em parte, utilizados para obteno de produtos importa-dos e quando produzidos localmente, pouco tinham a ver com a mai-oria da populao, que no tinha acesso a esses produtos. Assim, osganhos tecnolgicos no se espalharam de forma homognea entre asregies do pas e, principalmente, entre as classes sociais. Esses pases jiniciaram desequilibrados em termos de distribuio da renda, o quegerou conseqncias conhecidas por todos, at os dias de hoje.

    Os pases subdesenvolvidos acabaram se especializando em produ-tos primrios de exportao e, geralmente, importando bens de consu-mo durveis e de capital dos pases industrializados, sofrendo, portanto,a chamada deteriorao dos termos de troca, em funo da sofisticaodos produtos de alta tecnologia produzidos pelos pases industrializadose pelo seu controle de mercado sobre as matrias-primas.

    32. Essa comparao ajuda-nos a entender em parte como os E.U.A. e andia, que foram colonizados pelo mesmo pas (Inglaterra), sofreram desdobramentosto diferentes. Os E.U.A. foram uma colnia de povoamento e a ndia uma colnia deexplorao.

    33. Caio Prado Junior, Histria econmica do Brasil, p. 23.34. Veja-se a Seo III (As condies histricas da acumulao).

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    ARTIGOS

    Em que pese todo o processo de industrializao encetado pelospases subdesenvolvidos, o fosso entre os pases desenvolvidos e subde-senvolvidos relao centro-periferia continua a se alargar nas l-timas dcadas.

    Trata-se de determinismo e simplificao acreditar que a dependn-cia histrica torna um pas, para sempre, subdesenvolvido. Ela nos pos-sibilita perceber porque alguns pases saem na frente dos outros, masvrios fatores de ordem externa e interna inclusive a correlao deforas entre as classes sociais e o papel do governo explicam o processo.

    Uma vez realado o aspecto histrico, cumpre destacar que oconceito de desenvolvimento visto sob um ngulo ampliado e integradoprecisa incorporar a questo ecolgica. Se os obstculos ao desenvolvi-mento sempre envolveram muitas barreiras a serem transpostas, a difi-culdade aumenta quando pensamos na necessidade de busc-lo preser-vando o meio ambiente, o chamado desenvolvimento sustentvel35. Apreocupao com a preservao ecolgica no fruto de uma obsessodos ecologistas, como querem alguns, mas sim a constatao cien-tfica de que a deteriorao do meio ambiente coloca em risco nos as geraes futuras, mas tambm a nossa gerao, expressa nos se-guintes problemas, dentre outros: poluio da gua (mares, rios e lagos)e do ar, o processo de desertificao em curso, com a perda de reas atento cultivveis (aliado ao enfraquecimento e esgotamento do solo),alm da prpria falta de gua para consumo (pela seca de fontes ou pelapoluio), o aquecimento do planeta, com o efeito estufa, a degradaoda camada de oznio, a radioatividade, o problema do lixo (inclusive oatmico), a devastao de reas verdes, principalmente florestas, amea-ando espcies em extino36.

    A Teoria dos Sistemas o cerne da questo ecolgica; pensemos omundo como um sistema aberto e vejamos que os pases ricos soresponsveis pela devastao que ocorre nos pases pobres, dado que 80% dos recursos extrados no planeta so consumidos por 20% da popu-lao mundial dos pases ricos, alm da atuao das multinacionais nospases pobres. Como afirma Furtado:

    35. As principais definies de desenvolvimento sustentvel apontam para o de-senvolvimento (alguns utilizam o termo crescimento) que utiliza os recursos de formaa deixar o suficiente para as geraes futuras. Veja-se Hendersen (1995).

    36. Veja-se o Relatrio do Banco Mundial de 1992 e Capra (1982), no captuloO lado sombrio do crescimento, a questo dos efeitos dos adubos e fertilizantes qumicos.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    No podemos escapar evidncia de que a civilizao criadapela Revoluo Industrial aponta de forma inexorvel paragrandes calamidades. Ela concentra riqueza em benefcio de umaminoria cujo estilo de vida requer um dispndio crescente derecursos no-renovveis e que somente se mantm porque a gran-de maioria da humanidade se submete a diversas formas depenria, principalmente fome. Uma minoria dispe dos recur-sos no-renovveis do planeta sem se preocupar com as conseqn-cias para as geraes futuras do desperdcio que hoje se realiza.37

    O processo de industrializao no mbito do que Furtado (1974)vai chamar de modernizao dos pases ditos subdesenvolvidos, ba-seado em padres de consumo idnticos aos dos pases ricos muitasvezes fora do contexto cultural de muitos povos aumentou essapresso. Furtado h algum tempo afirmava, a respeito de estudo feitopara o Clube de Roma:

    ...que acontecer se o desenvolvimento econmico, para o qualesto sendo mobilizados todos os povos da terra, chega efetiva-mente a concretizar-se, isto , se as atuais formas de vida dospovos ricos chegam efetivamente a universalizar-se? A resposta aessa pergunta clara, sem ambigidades: se tal acontecesse, apresso sobre os recursos no renovveis e a poluio do meioambiente seriam de tal ordem (ou, alternativamente, o custo docontrole da poluio seria to elevado) que o sistema econmicomundial entraria necessariamente em colapso38.Ainda pensando na Terra como um sistema aberto, todos os seres,

    em alguma medida, sofrem os efeitos dessa devastao, como por exem-

    37. Celso Furtado, Brasil a construo interrompida, p. 76. Veja-se nestesentido o excelente artigo Sobrevivncia em risco, de Gilberto Dupas (Folha de S. Paulo,2 de fevereiro de 1999, Tendncias e Debates) onde realiza um balano a respeito doassunto, em funo de vrios estudos recentes. O autor aponta para as mesmas conclu-ses de Celso Furtado: Edward O. Wilson, sociobilogo de Harvard adverte que a maiorparte da presso destruidora sobre o nosso ecossistema vem de um pequeno nmero de pasesdesenvolvidos. No entanto, suas frmulas de prosperidade esto sendo vivamente adotadascomo objetivo pelo resto do mundo. O que conduz a uma impossibilidade matemtica.

    38. Celso Furtado, O mito do desenvolvimento econmico, p.19. Em vrias ocasies,no presente artigo, relacionamos a obra de Celso Furtado com o novo paradigma.Entendemos ser Celso Furtado um pensador que incorpora muitas das concepes donovo paradigma, embora, ao que nos parece, ele mesmo nunca tenha teorizado a

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    ARTIGOS

    plo algumas cidades do Chile, em que o ndice de doenas de pele,principalmente o cncer, bem maior que a mdia, em funo daabertura brutal da camada de oznio naquela regio, o que faz chegaro raio infravermelho sem qualquer proteo.

    A devastao ambiental nos leva a pens-la como uma questoessencialmente complexa, tendo em vista que o mesmo crescimentoeconmico que causa benefcios materiais e inegavelmente melhor pa-dro de vida, capaz de destruir outros seres humanos, alm da faunae da flora, isto , da vida; trata-se de um crescimento que criador edestruidor. Isso nos leva a repelir idias que implicam opor pobreza epreservao ambiental, como se tivssemos que escolher uma em detri-mento da outra. A eliminao da pobreza convive e uma das maispoderosas armas de preservao ambiental, na medida em que casotpico do Brasil nas regies de mananciais a falta de recursos dapopulao carente pressiona a obteno de recursos (terra, matrias-primas etc.) e gerao de renda em reas de preservao ambiental. Amisria fora as pessoas a morarem nas reas protegidas da Tijuca (RJ)ou tornar um campons da Amaznia cortador de rvores para conse-guir um ganha-po.

    Ainda o conceito de desenvolvimento ficaria pobre se no integrs-semos os direitos humanos termo carregado de mitos e preconceitos.Independentemente da Declarao Universal dos Direitos Humanos de1948 (documento base) e das vrias declaraes decorrentes, tais comopactos, protocolos, convenes, constituies nacionais etc., trata-se derealar os valores deles implcitos, no por que os homens nascem comesses direitos (jusnaturalismo) ou por que est escrito nesses documen-tos, mas sim pela dignidade inerente a todos os seres humanos, pelosvalores e pela tolerncia, que possibilitam a convivncia pacfica, fraternae solidria entre os homens39. Como afirma Furtado:

    respeito e nem se considere um pensador do novo paradigma (inclusive algumas de suasobras aqui citadas so anteriores elaborao mais sofisticada do novo paradigma, o queleva a refletir at que ponto Celso Furtado no foi um visionrio, na medida em queantecipa algumas abordagens hoje amplamente utilizadas no mbito do novo paradigma)

    39. importante ressaltar que mesmo os pases ditos desenvolvidos violam direi-tos humanos, basta verificarmos como so tratados os imigrantes e as minorias nessespases. O relatrio sobre as violaes de direitos humanos nos EUA (E.U.A: direitoshumanos para todos, Anistia Internacional, outubro/ 1998) denuncia esses fatos.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    A rigor, s se pode falar de desenvolvimento quando o homemdedica o seu potencial criativo descoberta de si mesmo, enri-quecendo o seu universo de valores. O desenvolvimento s realquando a acumulao material leva criao de valores adotadospor importantes segmentos da coletividade40. Os direitos humanos (sociais, polticos, civis, coletivos etc.) so

    essencialmente integrados e, portanto, transdisciplinares (motivo a maispara integr-los ao desenvolvimento); geralmente a violao de um direitoacarreta a violao de outros. Por exemplo, o direito greve (direitopoltico) pode evitar salrios desumanos (direito social) e assim pordiante.

    Mais uma vez nos deparamos com a simplificao do argumentoutilizado por governos que justificam a ditadura e as violaes de direi-tos humanos, em funo da escolha direitos civis e polticos x crescimentoeconmico, ou direitos sociais x direitos civis e polticos (totalmente oposta idia de desenvolvimento que estamos encaminhando); como se fossepossvel crescer e/ou melhorar as condies de vida, apenas atravs deum estado ditatorial (o declnio dos pases ditos socialistas merece refle-xo nesse sentido).

    Mais uma vez, como apontamos em relao ao meio ambiente,trata-se de uma questo complexa, na medida em que o mesmo cresci-mento que pode beneficiar alguns, viola direitos de outros. No mbitoda chamada globalizao assiste-se perda de direitos duramente con-quistados, deteriorao do padro de vida (chegando muitas vezes utilizao do trabalho infantil em detrimento do adulto, e da escravi-do) em nome da eficcia, produtividade, competitividade etc. As gran-des potncias esto mais preocupadas com os interesses econmicos doque a defesa e promoo do direitos humanos41.

    Kliksberg (1998, pp.67-74), analisando o debate atual a respeitodo desenvolvimento, coloca que as solues extremas, s mercado (Es-tado mnimo) ou s planejamento central, tm fracassado. Segundo oautor, o sucesso de vrias experincias est na participao, em que

    40. VI Conferncia Franois Perroux, Collge de France, Paris, 1994.41. Os E.U.A. combatem as violaes de direitos humanos praticadas pelos srvios,

    mas no o fazem em relao ao genocdio praticado, h dcadas, pela China ante-riormente sua inimiga sobre o Tibet.

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    ARTIGOS

    mercado e Estado42 jogam papel fundamental, porm junto com apopulao envolvida, as ONGs, as empresas, os sindicatos, as universi-dades, os movimentos etc. Aqui mais uma vez a integrao deter-minante, na medida em que a soluo no passa por uma parte apenas(seja o Estado, uma empresa etc.), e sim pela atuao integrada detodas as partes, assumindo o Estado o importante papel de coordena-dor43. Isso vale, tambm, para a questo ambiental, que envolve consu-midores44, empresas, ONGs, organizaes intergovernamentais (BancoMundial, BID, etc.), Estado, cimentados pela educao ambiental.

    Mais uma vez a integrao aparece quando Kliksberg (1998) vaiabordar a necessidade de uma poltica social que envolva de formaintegrada os rgos, ministrios e secretarias envolvidas, desmontandoa idia de setorializao diramos, bastante cartesiana e de pol-ticas sociais subordinadas poltica econmica.

    Se tudo isso j envolve uma pitada considervel de complexidade,ela aumenta mais ainda se pensarmos no desenvolvimento na chamadanova ordem mundial, globalizao etc. O mundo est cada vez maisinterligado:

    A economia mundial cada vez mais um todo interdependente:cada uma de suas partes tornou-se dependente do todo, e, reci-procamente, o todo sofre as perturbaes e vicissitudes que afetamas partes45.Pensemos nos efeitos da crise asitica sobre a economia brasileira,

    em fins de 1997; em razo de um acontecimento em outro canto domundo, em alguns dias, a nossa taxa de juros dobrou. A incerteza, quesempre esteve presente no capitalismo, cada vez maior e tem se ex-pressado nos abalos repentinos causados pela liberdade que os capitaisfinanceiros encontram. A capacidade de se fazer previses econmicasseguras est seriamente abalada46. A complexidade mais uma vez est

    42. Ganha peso crescente a idia de um Estado inteligente, com intervenes estra-tgicas, de alta eficincia Bernardo Kliksberg, Pensando o Estado para o desenvolvimentosocial, p. 85.

    43. Esse nvel de participao e integrao pressupem, tambm, a descentralizao.44. O nvel do comportamento, estilo de vida e valores individuais. Hazel Henderson,

    Transcendendo a Economia, p. 222.45. Edgar Morin, Terra-ptria, p. 34.46. Compare-se as previses do governo, consultorias e economistas, aps a

    desvalorizao cambial brasileira de janeiro de 1999, e as atuais. A obsesso deterministade prever o futuro gera chutes que muitos economistas chamam de previses.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    presente, na medida em que se facilitam as comunicaes, fortalece atroca de conhecimento e experincias etc., mas a instabilidade e a incer-teza aumentam, os problemas sociais se agravam etc. As dificuldades somaiores para os pases ditos subdesenvolvidos, que precisam encetar umprocesso de desenvolvimento nessas condies.

    A complexidade do conceito de desenvolvimento aumenta maisainda quando adicionamos a diversidade cultural. A idia de desenvol-vimento largamente difundido ocidental, baseada no progresso (Morin,1995, p. 83), adequada aos valores ocidentais, que nada tm a ver coma cultura de muitos povos.

    A antropologia tradicional encarava, h algumas dcadas, as cultu-ras muito diferentes da nossa tribos indgenas, comunidades africa-nas, da Oceania etc. como atrasadas, concluindo que a civilizaoocidental a mais evoluda. Trata-se, na verdade, de culturas muitodistintas, formas muito diferentes de encarar o mundo, com sistemas devalores incomparveis. Como podemos afirmar que uma cultura maisevoluda que a outra, quando se trata de formas diferentes de pensar econviver, cada uma com sua sua viso de mundo e racionalidade? Odesenvolvimento materialista-ocidental no respeita as diferenas cultu-rais, como afirma Morin:

    No resto do mundo, o desenvolvimento tende a completar a de-sintegrao das culturas arcaicas iniciada desde os tempos hist-ricos e prosseguida maciamente pela colonizao. O mundo dasculturas nativas, reduzido hoje a 300 milhes de pessoas, estcondenado morte47.Est se medindo o desenvolvimento atravs das performances

    tecnolgicas (Morin, 1995, p.166) e materialistas, baseadas em padresde consumo dos pases ricos; mas muitos pases e povos no escolheramesse caminho e nem por isso so infelizes, o que inviabiliza utilizar osmesmos critrios para pases e culturas to diferentes. Exemplifiquemoscom o caso do Tibet, pas invadido e arrasado pela China. Abordandopelo olhar ocidental e de forma simplificada, afirmaramos que o Tibet um pas subdesenvolvido, pois h poucos carros, as pessoas so muitosimples e humildes e no vemos fbricas, luxo e produtos suprfluos.No entanto, a filosofia budista tibetana no d valor para isso tudo, e

    47. Edgar Morin, Terra-ptria, p. 85.

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    ARTIGOS

    sim para uma vida simples, saudvel, prescindindo apenas do necessrio.Se a populao tibetana conseguir isso podemos cham-la de desenvol-vida pelos seus padres (isso no acontece atualmente em funo dogenocdio que est sendo praticado pela China). uma sociedade ricaem saberes e que tem desejos muito diferentes das sociedades ocidentais.

    Assim Furtado aponta para a necessidade de se voltar para dentro,em vez de reproduzir modelos:

    A primeira condio para liberar-se do subdesenvolvimento escapar da obsesso de reproduzir o perfil daqueles que se auto-intitulam desenvolvidos. assumir a prpria identidade. Nacrise de civilizao que vivemos, somente a confiana em nsmesmos poder nos restituir a esperana de chegar a bom porto48.Aqui o grande desafio que se coloca como crescer respeitando

    culturas muitas vezes milenares to diferentes; decorrncia disso,dentro da viso proposta, que o conceito de desenvolvimento precisacomportar um grau razovel de flexibilidade, que se oponha ao deter-minismo ocidental, num mundo ainda heterogneo. Esse respeito, emnossa perspectiva, tambm desenvolvimento.

    Finalizando, luz do novo paradigma, entendemos que o desen-volvimento refere-se muito mais formas solidrias de organizao social,que respeite as populaes envolvidas, do que obras e projetos gigan-tescos, que do a falsa impresso de que o pas est se tornando pode-roso; como afirma Furtado:

    A criatividade humana, hoje orientada de forma obsessiva paraa inovao tcnica a servio da acumulao econmica e dopoder militar, seria dirigida para a busca da felicidade, estaentendida como a realizao das potencialidades e aspiraes dosindivduos e das comunidades vivendo solidariamente49.

    Consideraes Finais

    Procuramos, neste artigo, refletir sobre a possibilidade de utilizar-mos alguns princpios norteadores na abordagem do desenvolvimento.Sem determinaes, trata-se de buscar um outro olhar sobre o conceito,de forma a transcender o reducionismo e a simplificao da abordagem

    48. Celso Furtado, Brasil a construo interrompida, p. 79.49. Op. cit., p. 77.

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    UM CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO PARA ALM DO ECONMICO

    convencional, que fica no plano econmico-material e no social.Inspirando-nos nas Teorias Quntica, dos Sistemas e da Complexidade no mbito de um novo paradigma em emergncia recordemos osprincpios que tentamos ressaltar na abordagem proposta.

    Em primeiro lugar, trabalhamos com o todo, buscando a ampliaoem relao ao conceito de desenvolvimento. Realizamos essa ampliaoincorporando ao econmico e social, a dimenso histrica, o meioambiente, os direitos humanos, a participao, a diversidade cultural,dentre outros ingredientes que poderiam ser adicionados.

    Em segundo, enfatizamos a integrao; de nada adianta sabermosas partes do todo (aquelas que citamos no pargrafo anterior) se elas soabordadas separadamente. Tratamos das relaes e conexes. Por exem-plo, o meio ambiente relaciona-se com os direitos humanos; se os di-reitos sociais no so respeitados poder aumentar a devastao ambientaletc. Como uma rede, cada ingrediente est integrado, de tal forma quequalquer um afeta os demais (Teoria dos Sistemas).

    Em terceiro, ressaltamos a incerteza de um mundo globalizado em vrios sentidos, alm do econmico , que abala a capacidade depreviso e, portanto, dificulta o planejamento e a estratgia na busca dodesenvolvimento.

    Finalmente, enfatizamos a complexidade inerente juno de tan-tos ingredientes reforada pela incerteza muitas vezes contradit-rios (contradio a ser pensada e no eliminada). Muitas so as forasa apontarem para todos os lados; trata-se de sua canalizao para colo-car o ser humano no centro.

    Entendemos que toda essa mistura, aqui abordada, possibilitapensarmos numa concepo de desenvolvimento que fique prxima complexidade humana. Assim, a questo no est em encontrar umanica e determinante resposta, mas vivenciar e aprender com a riquezae a beleza desse mundo em que vivemos.

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