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UM ESTUDO DAS PRÁTICAS ESCOLARES NA ESCOLA ESTADUAL DO
CORAÇÃO DE MARIA
GABRIEL AUGUSTO DE FIGUEIREDO
RAFAEL JOSÉ DA SILVA NETO
Resumo: O presente artigo apresenta os resultados obtidos acerca da análise da cultura
escolar da Escola Estadual Coração de Maria, localizada em Campo Grande (MS),
alicerçado na perspectiva de Vinao Frago que focaliza nos atores, discursos e
instituições práticas a compreensão do universo escolar. Embora seja uma escola
pública, dentro de um Estado laico, analisamos a relação entre a religião e os
procedimentos pedagógicos desenvolvidos pela escola, assim como o papel que a
mesma exerceu para a conformação do estabelecimento em moldes atuais (estrutural e
administrativamente), contraste diverso ao processo de laicização da educação
angariada durante o séc. XX e remanescente no séc. XXI. A partir da estrutura física,
dos símbolos religiosos e das datas comemorativas, notamos o forte caráter religioso
pelo qual está permeada, impondo à mesma uma identidade única, distinguindo-a
efetivamente das demais escolas estaduais.
Palavras-chave: Escola Estadual Coração de Maria; Cultura escola, Ensino laico.
Introdução
Este artigo foi construído para as disciplinas de Práticas de Ensino em História III e IV, do
curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, acerca da Escola Estadual
Coração de Maria (EE Coração de Maria), localizada na Rua Dr. Aníbal de Toledo, n° 420, no
bairro Santa Doroteia., em Campo Grande (MS), no qual objetivamos identificar o papel que a
religião exerceu e exerce na escola.
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A metodologia pela qual nos baseamos para apreender a cultura da escola foi o conceito de
Viñao Frago, que vê a cultura escolar como:1
Um conjunto de teorias, princípios ou critérios, normas e práticas sedimentadas
ao longo do tempo no seio das instituições educativas. Se trata de modos de
pensar e atuar que proporcionam estratégias e padrões para organizar e
conduzir a aula, interagir com os companheiros e outros membros da
comunidade educativa e integrar-se na vida cotidiana do centro docente.
(Frago, 1998, p. 168-169).
Ainda segundo Frago (1998), existem maneiras mais adequadas de se acercar de tal cultura,
das quais utilizamos principalmente as práticas, o que não nos impede, em alguns momentos,
de passear por algum dos outros segmentos.
Sendo mais específicos, o que norteia nossas análises são a estrutura da escola – posto que a
mesma não foi construída inicialmente para este fim e passou por adaptações para tal, que se
refletem em seu ambiente – e a práticas no âmbito das inércias e repetições, onde demonstramos
via eventos anuais e rotinas diárias a presença constante da religião na identidade da EE
Coração de Maria.
Outro ponto que nos exige adicional explanação é a justificativa que fez-nos eleger a escola
em questão e não outra qualquer. Para que isso ocorresse, foi um olhar para o seu próprio
histórico, com seu caráter diferenciado, que teve a capacidade de instigar nossa curiosidade a
fim de seguir por este caminho.
Em relação à segmentação do trabalho que virá a seguir, teremos quatro tópicos, o primeiro
na qual demonstramos a experiência de produção do trabalho, como foram as observações em
campo e as fontes selecionadas; num segundo momento, fazemos um breve histórico sobre a
1* Graduandos em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – Câmpus Campo Grande
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escola; a seguir, traçamos o perfil do público discente atual; e por fim, analisamos os elementos
da cultura escolar que consideramos essenciais à compreensão da dinâmica interna da escola.
Procedimentos
A escolha inicial de trabalhar a cultura escolar da EE Coração de Maria surgiu através do
conhecimento popular de que esta carregava um diferencial das outras escolas estaduais de
Campo Grande, uma escola pública, porém carregada de aspectos religiosos, a começar pelo
próprio nome. O conhecimento que tínhamos sobre a EE Coração de Maria provinha apenas de
pesquisas rápidas sobre a mesma na internet e alguns relatos leigos sobre o funcionamento da
escola, que de qualquer forma nos interessaram.
Para a produção do trabalho, de maneira geral, fizemos quatro visitas à escola, sempre no
horário que tínhamos disponível, a partir das 14h. Nestas visitas, mantivemos diálogos com o
corpo pedagógico – onde obtivemos as mais variadas informações sobre a escola, inclusive
auxiliando nossa interpretação de alguns dados contidos no PPP – observamos, registramos
com fotos o espaço e a práticas existentes no ambiente escolar e buscamos o máximo de fontes
possíveis junto às pessoas responsáveis.
1) Conhecendo a Escola
1ª Observação – 16 de março de 2016
Tratou-se de uma sondagem inicial para entendermos as reais possibilidades da realização
do trabalho na escola. Desde o primeiro momento nos apresentamos como acadêmicos do curso
de história da UFMS, visando pesquisar a instituição, e levamos uma autorização concedida
pela coordenadora do curso que legitimava nossas intenções caso fosse exigida.
Fomos acolhidos pelas servidoras que trabalham na secretaria da escola, que foram em busca
de alguma responsável que pudesse nos atender. Expressamos o desejo falar com Irmã Neiva
Maria de Mattos, diretora da escola, porém, mesmo ela estando presente na escola não pode
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nos atender. Assim, tivemos que agendar outra data para conseguirmos o contato. Nesta
primeira visita, já conseguimos ter uma ideia do ambiente escolar e do funcionamento básico
da escola por conversa com uma das coordenadoras da escola.
2ª Observação – 22 de março de 2016
Ocorreu na data que havíamos agendado para conversar com a Irmã Neiva Maria de Mattos
em nossa visita anterior, mas por um imprevisto a mesma não pode nos atender. De qualquer
forma, aproveitamos para dialogar com sua auxiliar, Edna Vitti Zortea, que respondeu a alguns
de nossos questionamentos sobre o funcionamento da escola e pediu que retornássemos em
outro dia, para enfim falarmos com a Irmã Neiva Maria de Mattos.
3ª Observação – 23 de março de 2016
Foi quando falamos com a Irmã Neiva Maria de Mattos, que nos apresentou sua dissertação
de mestrado sobre a escola e respondeu a nossos questionamentos. Faltou apenas conseguirmos
acesso ao PPP atualizado do ano 2016, motivo pelo qual faríamos mais uma visita. Neste
mesmo dia, aconteceu a comemoração da festa de páscoa, momento em que podemos notar
mais de perto as práticas e conteúdos religiosos da escola mediante uma dinâmica, da qual todos
os alunos estavam presentes no pátio, e aqueles que se candidatavam a explicar os símbolos
pascoais ganhavam bombons.
4ª Observação – 28 de março de 2016
Em nossa quarta e última visita à EE coração de Maria, fomos atendidos por uma servidora
chamada Maria Cardoso Gai, que nos apresentou à pessoa responsável pelo blog da escola e
nos disponibilizou o PPP com as modificações de 2016, além de responder aos nossos últimos
questionamentos, sobre o calendário anual da escola, suas filosofias e regimentos.
De um modo geral, consideramos que fomos bem acolhidos na EE Coração de Maria e nos
foram cedidas todas as informações necessárias para formularmos a análise de sua cultura
escolar.
A seleção das fontes foi perpassada sempre pelo objetivo de obter o PPP mais atual possível,
mas não nos mantivemos ligados apenas a isto. Os diálogos com o corpo pedagógico e
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administrativo foram muito proveitosos inclusive para esclarecer a compreensão de algumas
informações contidas no PPP. O blog da escola também foi utilizado para obtermos
conhecimento preliminar, e posteriormente de onde retiramos algumas imagens das práticas,
que ficam registradas no mesmo.
2) Histórico
Pela análise do PPP, o desenrolar histórico da EE Coração de Maria é perpassado por três
momentos essenciais:
1) O primeiro, no período de seu surgimento (em algum momento da década de 50 que
não se sabe o exatamente), onde esta era originalmente uma escola confessional
católica;
2) Depois passando por transições, a atual escola teve duas funções ao mesmo tempo:
além do criado Centro Social Coração de Maria, também mantinha salas de aula
regular, onde desenvolviam-se projetos sociais;
3) E finalmente, em 1974, quando há a oficialização como Escola Estadual de 1° grau,
funcionando no mesmo prédio e, simultaneamente, com o Centro Social.
Quanto à escola confessional, nasceu com o nome de Patronato Coração de Maria, sustentada
pelo Instituto de Jesus Adolescente, Congregação Religiosa Católica, com o objetivo de acolher
crianças pobres, em sua maioria meninas que vinham do interior do Estado.
Já o Centro Social, que perdurou em um segundo momento, era mantido por alguns
convênios com órgãos públicos para o sustento da parte assistencial.
Em relação à escola propriamente dita, que surge em 1974, quando passou por percalços,
como estrutura física depredada, falta de direcionamento pedagógico e corpo docente
desesperançado. Dois foram os fatores centrais que a encaminham para diferentes rumos dos
quais tais problemáticas poderiam levar, a reforma do prédio entre 1992-1993 e a
implementação do Sistema Preventivo de Dom Bosco como eixo norteador em termos
pedagógicos. A partir daí, a escola se consolidou com a elaboração e implementação de seu
primeiro Projeto Político Pedagógico, por volta de 1998-1999.
Neste sentido, é interessante enfatizar dois aspectos que estão ligados à escola desde seus
primórdios e que lhe dão forma – seu permanente caráter católico-assistencial e o controle pelo
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Instituto de Jesus Adolescente, presente ainda atualmente, que sinalizam para uma característica
completamente singular: uma escola pública, porém em prédio particular. Como é de se
imaginar, isto é próprio da cultura escolar da instituição, diferindo claramente assim a EE
Coração de Maria de outras escolas campo-grandenses, mesmo as estaduais.
3) Público Discente
Nesta seção, o objetivo é expor um levantamento de quem são os alunos que frequentam a
escola, nos mais variados sentidos.
A partir do PPP da escola, é possível construir um quadro, explicitando o objetivo citado a
partir dos segmentos: bairros atendidos, acesso a necessidades básicas, constituição familiar,
sustento da família, grau de escolaridade dos pais e nível socioeconômico destes alunos a partir
de seu acesso a bens de consumo.
Bairros atendidos
Jardim Paulista, Monte Líbano, Bairro Colibri, Jardim Canguru,
Vila Moreninha, Rita Vieira, Rouxinóis, Itamaracá, São Bento,
Mário Covas, Aero Rancho, Paulo Coelho Machado, Vila
Carvalho, Jardim Morenão, Vila Piratininga, Jardim Botafogo,
Arnaldo Figueiredo, Universitário, Santa Eugênia e outros.
Constituição familiar
Maioria das famílias composta por pai, mãe e filhos havendo,
porém, outras formas de organização familiar com menor
frequência.
Sustento da família
O principal responsável pelo sustento da família são ambos (pai
e mãe) e em segundo lugar aparece com maior frequência às
famílias sustentadas pela mãe.
Grau de escolaridade dos pais
O nível de escolaridade predominante entre os pais é o ensino
médio, havendo uma baixa ocorrência de pais com ensino
superior, ensino fundamental e não alfabetizados.
Acesso a necessidades básicas
A maioria dos alunos reside em bairros com atendimento de
água, energia elétrica e sistema de transporte coletivo.
Quadro 1 – Características do Público Discente da EE Coração de Maria
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Nível socioeconômico
(Acesso a bens de consumo)
A população atendida pela escola, pertence às classes menos
abastadas, porém é possível afirmar que a maioria possui
celular, televisão e computador em suas residências.
É perceptível no público atendido, alunos com condições financeiras majoritariamente de
baixa renda, ainda que com acesso a necessidades básicas, bens de consumo e internet para uma
boa parte.
O mais interessante, porém, quando se faz análise deste porte, é compreender a relação da
escola com o entorno no qual está localizada. Próxima do centro da cidade, naturalmente, a
vizinhança é basicamente constituída por prédios comerciais, o que garante uma boa oferta de
transporte coletivo. A principal consequência destas implicações é que para uma escola pequena
como a EE Coração de Maria, surpreendentemente os alunos que nela estudam vem dos mais
variados bairros de Campo Grande, inclusive de regiões um tanto afastadas.
Todos estes fatores, apesar de relevantes e evidentemente influentes no ambiente que se
forma dentro da escola, em termos práticos, são um pouco menos palpáveis quando se analisa
propriamente a cultura escolar, já que muitos outros são os fatores que também contribuem para
a confluência na vivência escolar, e que esta possui um grau de imprevisibilidade e
singularidade que nem mesmo as estatísticas mais precisas podem dar conta, como o que se
descreverá a seguir.
4) Cultura Escolar
Para tentarmos aproximarmos da cultura escolar, começaremos falando um pouco da
estrutura da EE Coração de Maria, abarcando desde sua disposição física até algumas de suas
particularidades.
É evidente ao entrar na escola que a mesma não foi propriamente construída para este fim.
Apesar das adaptações feitas (principalmente na reforma de 1992-1993), e um espaço que hoje
cumpre com as necessidades para a acomodação dos estudantes, ainda são perceptíveis os
resquícios de seu histórico.
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Figura 1 – Pátio e Quadra Esportiva da EE Coração de Maria
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 2 – A parte coberta do Pátio
Fonte: Acervo Pessoal
Como o demonstrado pelas imagens, as perspectivas teóricas nas quais a escola se baseia
também se refletem no espaço, que proporciona a vigilância constante dos alunos, já que
independentemente do local do pátio em que os mesmos estejam, estão sempre sob os olhares
do corpo pedagógico. Qualquer semelhança não é mera coincidência com o pensamento de
Foucalt, quando o mesmo fala sobre a arte das distribuições, colocando a disciplina como o
gerador de espaços como estes em algumas escolas:
A disciplina procede em primeiro lugar à distribuição dos indivíduos no espaço. Para isso, utiliza diversa técnicas.
1) A disciplina às vezes exige a cerca, a especificação de um local heterogêneo a todos os outros e fechado a
si mesmo (...)”. (FOUCALT, 1988, p. 121-122).
Ainda segundo Foucalt, o princípio de “clausura” não é indispensável nos aparelhos
disciplinares. Assim, tal disposição espacial indica um alinhamento pedagógico da EE Coração
de Maria no controle dos indivíduos, o que também ficará evidente nas práticas, com diversas
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regulamentações que a escola estabelece, constituindo um controle mais rígido que na maioria
das escolas.
Outra característica estrutural interessante da EE Coração de Maria é o que se denomina sala
ambiente, na qual cada componente curricular possui uma sala própria, proporcionando toda
uma atmosfera já estabelecida em cada uma delas. Neste caso, nas trocas de horário das aulas,
quem se movimenta de uma sala para outra são os alunos e não os professores, como
habitualmente costuma ocorrer.
Para que este tipo de organização possa funcionar, a escola precisa fornecer as condições.
Não eximindo a ideia de que se há empenho, tal possibilidade pode ser instalada em diferentes
escolas, parece inegável presumir que em uma um tanto pequena como a Estadual Coração de
Maria, composta por exemplo, por apenas sete salas de aula, esta tentativa tenha tido uma
possibilidade de sucesso maior que em escolas de grande porte.
Para que se possa ter uma compreensão mais exata da dimensão da escola, a partir de dados
contidos no PPP, percebemos que a mesma apresenta por volta de vinte e dois cômodos com as
mais variadas funções, desde salas dos professores, à direção, coordenação, almoxarifado,
cozinha, banheiros, dentre outras. De todo este conjunto, sete são salas de aula, conferindo
assim mais de 30% da estrutura em cômodos da escola especificamente voltada ao ensino.
Outro dado esclarecedor é a capacidade de alunos comportada, de duzentos e vinte e quatro por
período, já que cada sala acomoda no máximo trinta e dois estudantes.
Vale lembrar que a escola só funciona nos períodos matutino e vespertino, com Ensino Médio
(1° ao 3° ano) e Ensino Fundamental II (6° ao 9° ano), respectivamente.
Quanto às práticas, o próprio nome EE Coração de Maria evidencia sua vertente religiosa. A
visão expressa em seu PPP não deixa por menos: “Preparar para a vida, por meio de uma
formação humana e cristã, norteada pelo sistema preventivo de Dom Bosco, agentes de
transformação que integrados a comunidade, participe da construção de uma sociedade mais
justa e fraterna”. (PROJETO POLÍTCO-PEDAGÓGICO, 2016).
Aliás, conhecer o Sistema Preventivo de Dom Bosco é essencial para uma real compreensão
da cultura escolar. Ele pode ser entendida como “(...) um conjunto de premissas filosóficas,
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baseado na tríade: religião, razão e afeto. ” (OLIVEIRA apud FRANCISCO, 2010). Os efeitos
que isto produzem são determinantes no ambiente escolar.
Neste sentido, é interessante recorrer a algumas informações repassadas a nós pelo corpo
pedagógico da EE Coração de Maria. Primeiramente, como há a concessão entre Estado e
Congregação, não existem eleições para diretor (a), como ocorre nas outras escolas estaduais.
Por ceder o prédio, é a própria Congregação que decide quem dirige a instituição, pessoa esta
que segundo Neiva Maria de Mattos, dá os moldes da Congregação para a escola. Vale ressaltar
que este diretor (a) precisa ter os mesmos requisitos que os diretores de qualquer outra escola
estadual, mas além disso, também requer o aval concedido pelo Instituto de Jesus Adolescente.
Enquanto que segundo Maria Cardoso Gai, a escola possui uma certa rotatividade, já que muitos
são aqueles que não se adaptam a sua linha de atuação, sejam alunos ou professores.
Mas, sendo mais específicos, qual é esta linha de atuação que proporciona tal fenômeno?
Neste momento utilizamos novamente palavras de Neiva Maria de Mattos, quando esta diz que
a EE Coração de Maria regulamenta algumas questões dentro de seus muros para que
determinados padrões de comportamento não se repitam do lado de fora.
É assim que uma série de coisas são proibidas dentro da escola, como brincos, alargadores,
bonés e determinados comportamentos. Há uma atenção especial inclusive na forma de se
relacionar. Este aparato rígido não se resume apenas aos alunos, mas uma relação de
acompanhamento quase que obrigatório também é exigida dos pais.
Geralmente, a primeira semana de aula costuma ser dedicada a passar todo esse estilo próprio
da EE Coração de Maria aos alunos novos.
Mas esta não é a única forma pela qual a veia evidentemente católica da escola se apresenta.
Também as inércias e repetições atestam tal fato.
Quando falamos em inércias e repetições, referimo-nos a Frago (1998), quando o autor
coloca estas duas questões como maneiras pelas quais as práticas se reproduzem nas escolas.
Sendo assim, é possível perceber na EE Coração de Maria rotinas e ou eventos isolados, mas
característicos, onde a religião marca presença, como o demonstrado pela imagem abaixo, logo
na entrada da escola.
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Figura 3 - A Imagem de Maria logo na fachada
Fonte: Acervo Pessoal
Outros exemplos são as orações diárias, que ocorrem sempre antes do início das aulas, e os
eventos anuais dedicados a alguma ocasião religiosa, como a festa de Nossa Senhora
Auxiliadora e a Páscoa. A seguir, inclusive, estão fotos da celebração de Páscoa do ano de 2016.
Figura 4 – A Celebração de Páscoa
Fonte: eecoracaodemaria.blogspot.com.br
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Figura 5 – Irmã Neiva conduzindo a Celebração
Fonte: eecoracaodemaria.blogspot.com.br
Celebrações religiosas como a apresentada são tradição na escola e outras podem ser
incluídas conforme a necessidade.
E como não poderia faltar em uma autêntica escola de viés católico, há o ensino religioso.
Este é ministrado no Ensino Fundamental, e segundo Neiva Maria de Mattos é caracterizado
por uma formação mais cultural, do que propriamente um estudo da bíblia ou simplesmente
ensinar a rezar.
Considerações Finais
Como algumas considerações do presente trabalho, apontamos ter cumprido o objetivo a que
nos propusemos, de identificar e analisar o papel que a religião imprimiu na estabilização da
EE Coração de Maria em seus atuais moldes, bem como a ampla influência que ainda exerce.
Para isso, após a introdução, primeiramente demonstramos os procedimentos utilizados, as
datas e horários de nossas visitas, bem como nosso passo a passo em cada uma delas.
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Depois, apresentamos o histórico da escola, caracterizado por sua relação direta com a
religião desde o surgimento, assim como as transformações pelas quais passou até virar
oficialmente escola de 1° grau e os seguintes percalços estruturais e pedagógicos até que a
escola definisse sua identidade.
Após isto, traçamos o público discente a partir dos mais variados fatores, indicado quem são
os alunos que a frequentam, a que condições financeiras e familiares estão submetidos e o tipo
de necessidades e bens a que têm acesso.
Por fim, falamos da cultura escolar, traçando o ambiente da escola selecionada a partir da
estrutura física, gestão e organização, assim como e principalmente, as práticas, onde indicamos
a relação da religião com a escola a partir das inércias e repetições distribuídas ao longo do ano
letivo.
Fomos bem recebidos e tivemos o necessário para nossa produção. É interessante perceber
como uma pequena escola de Campo Grande pode ser tão única, com um clima um tanto
familiar, na qual muitos pais desejam matricular seus filhos não por sua localização favorável
ou por eliminação, e sim por sua dinâmica própria e identidade altamente estabelecida, que a
tornam distinta de qualquer outra escola da cidade, bem como são relevantes os escritos, já que
é inevitável pensar que se a instituição não seguisse os preceitos descritos, não teria o que faz
dela o que ela é.
Indubitavelmente, a oportunidade de desenvolver este artigo acerca da EE Coração de Maria
só tem a contribuir para nossa formação acadêmica.
Referências eecoracaodemaria.blogspot.com.br
FOUCALT, Michael. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Rachel Ramalhete.
Petrópolis, Vozes, 1987. 288p.
OLIVEIRA, Stella Sanches de. Implantação e organização do curso ginasial no Sul de
Mato Grosso: expressões de um projeto de modernização (1917-1942).