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Um estudo sobre a Cocaína

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Métodos cromatográficos

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  • Quim. Nova, Vol. 33, No. 3, 725-729, 2010

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    *e-mail: [email protected].

    IDENTIFICAO QUMICA DA CLOROFENILPIPERAZINA (CPP) EM COMPRIMIDOS APREENDIDOS

    Rafael LanaroCentro de Controle de Intoxicaes, Universidade Estadual de Campinas, R. Carlos Chagas, 150- 4 andar, 13083-970 Campinas-SP, BrasilJos Luiz Costa*Centro de Exames, Anlises e Pesquisas, Instituto de Criminalstica, Superintendncia da Polcia Tcnico Cientfica do Estado de So Paulo, R. Moncorvo Filho, 410, 05507-060 So Paulo-SP, BrasilLuiz Antonio Zanolli FilhoDepartamento de Qumica Fundamental, Instituto de Qumica, Universidade de So Paulo, CP 26077, 05513-970 So Paulo SP, BrasilSilvia Oliveira Santos CazenaveNcleo de Percias Criminalsticas de Campinas, Superintendncia da Polcia Tcnico Cientfica do Estado de So Paulo, R. Baro de Parnaba, 292, Campinas SP, Brasil

    Recebido em 10/3/09; aceito em 18/8/09; publicado na web em 12/2/10

    CHEMICAL IDENTIFICATION OF CHLOROPHENYLPIPERAZINE IN SEIZED TABLETS. Designer drug is a term used to describe psychoactive drugs of abuse which are usually synthesized by modifying the molecular structures of existing drugs of abuse. The term gained widespread popularity when MDMA (ecstasy) experienced a popularity boom in the mid 1980s. In Brazil, designer drugs seizures have increased in the last few years, and actually tablets with unknown psychoactive compounds began to be forwarded to the Forensic Laboratories. This work describes the analytical assays that were performed to identify the chlorophenylpiperazine, a psychoactive substance first time identified in seized tablets in Sao Paulo state.

    Keywords: chlorophenylpiperazine; mCPP; forensic toxicology.

    INTRODUO

    O consumo mundial de drogas sintticas de abuso, conhecidas como designer drugs, vem aumentando ano aps ano. Estas drogas so comumente produzidas em laboratrios clandestinos, muitas vezes sintetizadas a partir de outras substncias qumicas que j possuam atividade biolgica conhecida. Em todo o mundo, a principal repre-sentante desta classe de drogas a 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA, Ecstasy).

    Segundo a Organizao das Naes Unidas (ONU), os estimu-lantes do grupo anfetamnico (amphetamine-type stimulants) esto em segundo lugar na lista de drogas de abuso mais consumidas no mundo, sendo superados apenas pelo uso da maconha.1

    Apesar da estatstica existente, outras substncias tm sido apre-endidas tambm por serem usadas com finalidade recreativa, como o caso de derivados da piperazina.

    Esses compostos representam uma ampla classe qumica de subs-tncias de estrutura cclica de seis tomos, sendo dois do elemento nitrognio em posies opostas, como pode ser observado na Figura 1. Muitos derivados da piperazina possuem propriedades farmacol-gicas importantes, pertencendo a diferentes classes teraputicas como antifngicos, antidepressivos, antipsicticos, antivirais e antagonistas/agonistas da serotonina (5-HT).2

    A 1-(3-clorofenil)piperazina (mCPP), popularmente conhecida em alguns pases como X4, rainbow, regenboogies e arc-en-ciel, uma droga sinttica nova cada vez mais comum em pases da Europa.3 Esta droga foi identificada pela primeira vez na Sucia, em 2004, e desde ento j foi apreendida por foras polciais de 26 pases daquele continente. Durante o ano de 2006, aproximadamente 823.000 comprimidos de CPP foram apreendidos em pases membros da Unio Europeia.2,3

    A mCPP consumida normalmente na forma de comprimidos que apresentam aspecto fsico muito semelhante aos comprimidos de Ecstasy. A quantidade de substncia ativa nestes comprimidos pode variar entre 22 e 80 mg.2,3 Alguns autores reportam que os comprimidos de mCPP podem conter diversos diluentes e adulterantes, como MDMA ou cocana.2-5

    Outra considerao importante relacionada mCPP o fato de que esta substncia um produto de biotransformao ativo do fr-maco antidepressivo trazodona, comercializado no Brasil mediante prescrio mdica (frmaco sujeito a controle especial). De maneira anloga trazodona, os efeitos psicoativos da mCPP so relaciona-dos a sua atuao sobre o sistema nervoso central. O frmaco e o metablito ativo agem inibindo a recaptao de serotonina e como agonistas deste neurotransmissor.6 Alm da ao sobre neurnios serotoninrgicos, a mCPP interage ainda com receptores de dopamina, acetilcolina e, tambm, com os receptores alfa e beta-adrenrgicos.2

    Figura 1. Estrutura qumica da piperazina e seus derivados 1-(2-clorofenil)piperazina (oCPP), 1-(3-clorofenil)piperazina (mCPP), 1-(4-clorofenil)piperazina (pCPP)

  • Lanaro et al.726 Quim. Nova

    Atravs da Resoluo da Diretoria Colegiada (RDC) n.79, publi-cada no Dirio Oficial da Unio em 04/11/2008, esta substncia foi adicionada lista F2 da Portaria n 344-98 da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), lista que elenca as substncias psi-cotrpicas de uso proscrito no Brasil e onde se encontram substncias como a MDMA e o tetra-hidrocanabinol, princpio ativo da maconha.7

    Entre os meses de janeiro e maio de 2008, o Laboratrio de Toxi-cologia Forense do Ncleo de Percias Criminalsticas de Campinas Superintndencia da Polcia Tcnico-Cientfica do Estado de So Paulo recebeu para exame pericial 112 comprimidos de diferentes co-res, tamanhos e formatos, oriundos de apreenses realizadas em Cam-pinas e cidades adjacentes. Os exames qumico-periciais realizados nestes comprimidos apresentaram resultados inesperados, diferentes daqueles obtidos quando a substncia analisada a MDMA princi-pal droga de abuso consumida na forma de comprimidos no Brasil.

    Com base nos dados recentes sobre apreenses de comprimidos contendo mCPP em diversos pases, como descrito anteriormente, foi iniciada uma investigao qumica para verificar se seria esta a substncia ativa presente nos comprimidos encaminhados para exame pericial. Para isso, o material foi analisado por diferentes tcnicas, como testes colorimtricos, cromatografia em camada delgada, cromatografia lquida de alta eficincia com deteco por arranjo de diodos e espectrometria de massas. O presente trabalho tem por objetivo apresentar e discutir os ensaios analticos utilizados para caracterizar a substncia presente nestes comprimidos.

    PARTE EXPERIMENTAL

    Reagentes e solues

    Solues dos padres (1 mg/mL em metanol) de anfetamina, metanfetamina, MDA, MDMA e cocana, foram obtidas da Cerilliant (Round Rock, EUA). A gua utilizada nos ensaios foi ultrapurificada em sistema Milli-Q (Millipore, Bedford, EUA). Todos os demais reagentes utilizados apresentavam pureza adequada para cromatografia lquida.

    Amostras

    Foram analisados 112 comprimidos apreendidos pela polcia civil do Estado de So Paulo e encaminhados para exame pericial no Labo-ratrio de Toxicologia Forense do Ncleo de Percias Criminalsticas de Campinas Superintendncia da Polcia Tcnico Cientfica do Estado de So Paulo. Os comprimidos foram pesados individualmente em balana analtica e pulverizados em almofariz de porcelana. A partir do p obtido, uma alquota de 10 mg foi pesada e transferida para balo volumtrico com capacidade de 10 mL, ao qual foram adicionados 9 mL de metanol. O balo foi ento submetido agitao mecnica e banho ultrassnico por 10 min, sendo posteriormente completado seu volume com o mesmo solvente (soluo estoque da amostra). A partir desta soluo, foram preparadas diferentes diluies a partir de uma concentrao adequada para cada tcnica analtica empregada.

    Equipamentos e condies analticas

    Ensaios preliminaresInicialmente, os comprimidos foram submetidos a testes colori-

    mtricos comumente utilizados para triagem de drogas de abuso.8,9 Para realizao do teste de Marquis, uma alquota de 20 mg de cada comprimido foi transferida para placa escavada de porcelana, sendo ento adicionadas duas gotas do reagente de cor (cido sulfrico/formaldedo 100:1, v/v), com imediata visualizao da colorao obtida.9 Para o teste de Scott, uma alquota de 20 mg de cada com-primido foi transferida para placa escavada de porcelana, sendo ento

    adicionadas uma gota de cido clordrico 0,1 mol/L e uma gota do reagente de tiocianato de cobalto (soluo aquosa 2% m/v).10 No teste de Simons foram adicionadas uma gota do reagente A (nitroprussiato de sdio 1%), uma gota do reagente B (acetaldedo etanlico 50%) e uma gota do reagente C (carbonato de sdio 2%).9

    Para realizao das anlises por cromatografia em camada delgada de alta eficincia (CCDAE), uma alquota de 50 L da soluo estoque de amostra foi transferida para cromatoplacas de cromatografia em camada delgada de alta eficincia (Silica Gel G, 10 x 10 cm) (Merck, Darmstadt, Alemanha). Para verificar as caractersticas cromatogrfi-cas da substncia investigada, as amostras foram analisadas em trs condies distintas: separao cromatogrfica com mistura de metanol/amnia (100:1,5 v/v) seguida de visualizao das bandas formadas aps nebulizao das cromatoplacas com reagente de iodoplatinato (soluo aquosa de cido cloroplatnico 0,2% m/v + iodeto de potssio 2% m/v) e reagente de tiocianato de cobalto (preparado como descrito anteriormente); separao cromatogrfica com utilizao do sistema-solvente ciclo-hexano/tolueno/dietilamina (75:15:10 v/v) seguida por visualizao das bandas formadas aps nebulizao das cromatoplacas com reagente de iodoplatinato e reagente de tiocianato de cobalto; se-parao cromatogrfica com mistura de clorofrmio/acetona (4:1 v/v) seguido por visualizao das bandas formadas aps nebulizao das placas com reagente de iodoplatinato e reagente Dragendorff iodado (soluo aquosa de subnitrato de bismuto 0,2% m/v, iodeto de potssio 4% m/v, iodo 0,1% m/v, cido actico 25% v/v).11

    Cromatografia lquida de alta eficincia com deteco por arranjo de diodos (CLAE/DAD)

    Foi utilizado equipamento de cromatografia lquida de alta eficincia LaChrom (Merck, Darmstadt, Alemanha) composto por bomba quater-nria com sistema de desgaseificao da fase mvel (modelo L-7100), injetor automtico (modelo L-7200), forno de coluna (modelo L-7300) e detector por arranjo de diodos (modelo L-7455). O controle do equi-pamento e a aquisio dos dados foram feitos atravs do software HSM (Merck, Darmstadt, Alemanha). As anlises foram realizadas utilizando-se coluna cromatogrfica Zorbax Eclispse (C-18, 150 x 4,6 mm, com partculas de 5 m, Agilent, Darmstadt, Alemanha), mantida a 30 C. A fase mvel utilizada foi constituda por (A) cido fosfrico 10 mM pH 3,0 (ajustado com trietilamina) e (B) acetonitrila, com eluio por gradiente. A composio da fase mvel variou em gradiente linear de fase aquosa-orgnica nas propores de 95:5 a 10:90 v/v em 8 min, sendo mantida nesta condio por 2 min antes de retornar condio inicial.

    Antecedendo uma nova injeo, o sistema era mantido na con-dio inicial por 5 min para reequilbrio. O fluxo da fase mvel foi mantido a 1,0 mL/min durante toda a anlise. Para sua utilizao, a fase mvel foi filtrada atravs de membrana de acetato de celulose com poros de 0,45 m (Sartorius, Alemanha) e desgaseificada em banho ultrassnico por 5 min. A deteco foi realizada a 215 e 236 nm, com a aquisio de espectros de varredura entre 190 e 450 nm.

    Para realizao das anlises, a soluo estoque da amostra foi diluda 10 vezes com gua ultrapurificada, filtrada em membrana com poros de 0,45 m e injetada no sistema CLAE/DAD (volume de injeo = 20 mL).

    Espectrometria de massas (EM/EM)Os espectros de massas foram obtidos em um espectrmetro de

    massas hbrido triplo quadruplo ion trap linear modelo 3200Qtrap (Applied Biosystems/MDS Sciex, Toronto, Canad), utilizando fonte de ionizao por electrospray (TurboIonSpray) em modo positivo. A tenso aplicada no capilar foi de 5500 V, presso do gs de nebuli-zao de 15 psi (ar sinttico), Curtain GasTM 10 psi (nitrognio) e gs de coliso 6 psi (nitrognio). A aquisio e o tratamento dos dados foram realizados com o software Analyst verso 1.4.2 (Applied Biosystems/MDS Sciex, Toronto, Canad).

  • Identificao qumica da clorofenilpiperazina (CPP) em comprimidos apreendidos 727Vol. 33, No. 3

    A soluo estoque do material examinado foi diluda at se ob-ter concentrao igual a 200 ng/mL, usando-se como diluente uma mistura metanol/gua (50/50, v/v) contendo 5 mmol/L de formiato de amnio. Esta soluo foi introduzida no espectrmetro de massas utilizando-se bomba de infuso do tipo seringa, com fluxo contnuo de 10 L/min.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    O teste de Marquis muito utilizado em laboratrios de qumica e toxicologia forense por fornecer resultados orientadores para diversas classes de frmacos e drogas de abuso de interesse forense, sendo o teste mais utilizado para triagem de derivados anfetamnicos, como a MDMA.9 O material examinado permaneceu incolor, semelhante cor apresentada pela cocana, porm este resultado muito diferente dos obtidos pelos padres de anfetamina (laranja) e MDMA (preto).

    Quando os comprimidos foram submetidos ao teste de Scott, usualmente utilizado para triagem de cocana e outros anestsicos locais, observou-se o aparecimento de colorao azul na placa esca-vada.10,12 Este resultado diferiu daquele observado para a MDMA, que apresentou soluo rsea com precipitados de colorao azulada.

    No teste de Simons, o material examinado produziu colorao alaranjada nos primeiros segundos aps o procedimento empregado, porm aps cerca de 2 min houve alterao de cor, evidenciando-se uma modificao do alaranjado para o marrom-escuro, resultado esse que o diferencia dos resultados de cocana (laranja) e MDMA (azul escuro). Os resultados dos testes de Marquis, Scott e Simons podem ser vistos resumidamente na Tabela 1.

    A Tabela 2 apresenta os valores de Rf obtidos nos ensaios de triagem realizados por CCDAE. Os resultados mostraram que todos os sistemas solventes testados permitiram a completa separao da MDMA, cocana e da substncia presente nos comprimidos objetos de anlise. Os trs reveladores aplicados permitiram a boa visualizao das bandas referentes s substncias testadas, exceto quando o reagen-te de tiocianato de cobalto foi aplicado na cromatoplaca desenvolvida no sistema solvente composto por ciclo-hexano/tolueno/dietilamina (75:15:10 v/v), onde nenhuma mancha foi revelada.

    Como pode ser observado na Figura 2, na condio cromato-grfica utilizada nas anlises por CLAE/DAD, a substncia pre-sente nos comprimidos investigados apresenta tempo de reteno de 7,4 min. Para verificar a seletividade do procedimento, 500 mL da soluo da amostra foram enriquecidos com igual volume de uma mistura de padres de anfetamina, metanfetamina, MDA, MDMA e cocana (concentrao final dos padres = 25 mg/mL). Foi possvel observar que o pico cromatogrfico da substncia investigada possui resoluo completa quando comparado aos padres injetados concomitantemente. Em funo das diferentes absortividades das drogas de abuso testadas, os cromatogramas foram adquiridos em 215 nm (permitindo a visualizao dos pi-cos de anfetamina, metanfetamina, MDA, MDMA, da substncia

    investigada e cocana) e em 236 nm. O segundo comprimento de onda preferido se forem realizadas anlises quantitativas, pois oferece linha de base mais estvel, menos sujeita s flutuaes decorrentes da mudana da composio da fase mvel durante a eluio por gradiente. Contudo, neste comprimento de onda (236 nm) a deteco da anfetamina e metanfetamina ficou prejudicada em funo da baixa absortividade destas substncias neste com-primento de onda.

    A Figura 3 apresenta os espectros de absoro na regio do UV/VIS. A substncia investigada apresenta significativa absoro em 208 e 248 nm. O espectro UV/VIS da substncia investigada apresenta significativa diferena quando comparado com os fornecidos por outras drogas testadas.

    Os resultados obtidos por espectrometria de massas forneceram informaes sobre o peso molecular do composto investigado, assim como seu perfil de fragmentao (EM/EM). Como pode ser observado na Figura 4, o espectro obtido em modo enhan-ced MS com ionizao em modo positivo apresentou dois picos

    Tabela 1. Resultados obtidos nos testes colorimtricos utilizados como ensaios de triagem

    analtoteste

    Marquis Scott Simons

    CPP incolor azullaranja (at 30 s)marrom escuro

    (ps 2 min)

    MDMA pretorosa

    (com precipitado azul) azul escuro

    cocana incolor azul laranja

    Tabela 2. Valores de reteno relativa (Rf) obtidos nos ensaios de triagem realizados por cromatografia em camada delgada de alta eficincia

    analto

    sistema solvente

    metanol:amnia (100:1,5)

    ciclo-hexano:tolueno:dietilamina

    (75:15:10)clorofrmio: acetona

    (4:1)

    CPP 0,32 0,58 0,21MDMA 0,23 0,65 0,35cocana 0,58 0,72 0,42

    Figura 2. Cromatograma obtido pela injeo de mistura da diluio da soluo estoque de amostra com mistura de padres (25 mg/mL). Condies cromatogrficas: coluna Zorbax Eclispse (C-18, 150 x 4,6 mm, 5 m), man-tida a 30 C; fase mvel: mistura de cido fosfrico 10 mM pH 3,0 (ajustado com trietilamina) e acetonitrila (eluio por gradiente), vazo de 1,0 mL/min; volume de injeo 20 L; deteco realizada em 215 e 236 nm, com a aquisio de espectros de varredura entre 195 e 450 nm

  • Lanaro et al.728 Quim. Nova

    abundantes de relaes massa/carga (m/z) iguais a 197,1 e 199,1. Esta informao coerente com a estrutura qumica da CPP, que possui massa molar exata de 196,08 g/mol, com um istopo de massa molar de 198,08 g/mol. Some-se a esta informao o fato de que estes picos apresentavam intensidades condizentes com a distribuio isotpica de substncia que apresenta um tomo de cloro em sua estrutura, visto que este elemento qumico est pre-sente na natureza com abundncia de 76% para o 35Cl e 24% para o 37Cl. Esta informao confirmada quando o espectro obtido sobreposto distribuio isotpica terica da CPP (C10H14ClN2), fornecida a partir do aplicativo Calculators presente no software Analyst 1.4.2. A distribuio isotpica terica da CPP apre-sentada na Figura 4 na forma de linhas tracejadas.

    Foram gerados espectros de massas (EM/EM) obtidos por dis-sociao induzida por coliso do on precursor 197,1, com rampa de energia de coliso variando de 5 a 50 eV, utilizando nitrognio como gs de coliso (6 psi). O espectro de massas acumulado apresentado na Figura 5.

    Esses resultados permitem concluir que a substncia presente nos comprimidos investigados a clorofenilpiperazina. Pelas tcnicas

    Figura 4. Espectro de massas obtido em enhanced MS (EM) do material encaminhado para anlise pericial. A linha tracejada representa a distribui-o isotpica terica da CPP (C10H14ClN2). Condies analticas: ionizao por electrospray em modo positivo; infuso contnua 10 mL/min; tenso do capilar 5500 V; presso do gs de nebulizao (ar sinttico) 15 psi. A soluo analisada foi preparada como descrito no texto

    Figura 5. Espectro de massas acumulado (EM/EM) obtido por dissociao induzida por coliso do on precursor 197,1. Condies analticas: ionizao por electrospray em modo positivo; infuso contnua 10 mL/min; tenso do capilar 5500 V; presso do gs de nebulizao (ar sinttico) 15 psi; rampa de energia de coliso de 5 a 50 eV; presso do gs de coliso (nitrognio) 6 psi. A soluo analisada foi preparada como descrito no texto

    analticas utilizadas neste trabalho, no foi possvel afirmar se nos comprimidos havia um nico ismero ou uma mistura destes (oCPP, mCPP ou pCPP). Tal diferenciao seria possvel empregando sepa-raes quirais (CLAE, cromatografia gasosa ou eletroforese capilar), espectroscopia na regio do infravermelho ou ressonncia magntica nuclear. Contudo, para fins legais, a diferenciao isomrica no necessria, pois a RDC n.79/2008 menciona no adendo 1.1 da lista F2 que tambm devem ser controlados todos os sais e ismeros das substncias elencadas na referida lista.7

    De acordo com a literatura internacional, os ismeros pCPP e oCPP raramente so identificados em comprimidos apreendidos. Isto deve estar relacionado ao farmacolgica destes sobre o sistema nervoso central: a oCPP tem ao antagnica mCPP sobre receptores de serotonina 5-HT2c, produzindo efeitos completamente distintos e menos prazerosos do que seu anlogo meta.3

    Ainda no mbito forense, com a confirmao de que a CPP j faz parte da lista de drogas de abuso consumidas no Brasil, torna-se necessrio que os laboratrios de toxicologia forense estejam pre-parados para identificar a substncia, assim como as intoxicaes causadas por esta nova droga de abuso. Como a mCPP pode estar presente em fluidos biolgicos como produto da biotransformao de frmacos como a trazodona, a interpretao do resultado analtico deve ser criteriosa, para correta diferenciao entre o uso recreacional (onde a trazodona no estar presente) e o uso teraputico do frmaco antidepressivo.5,6 Em intoxicaes agudas por mCPP, as concentraes plasmticas da droga so aproximadamente seis vezes maiores do que a concentrao usual encontrada em pacientes sob tratamento com trazodona.2

    Alguns autores reportam que a MDMA e a cocana podem estar presentes em comprimidos de mCPP ou serem usadas em combinao com este.3-5 Por esta razo, de grande importncia que o procedi-mento analtico empregado avalie a presena das trs substncias. Dos procedimentos descritos no presente trabalho, pode-se observar que os testes colorimtricos no foram suficientes para diferenciar de modo inequvoco a CPP da cocana. Atravs da combinao dos valores de Rf em diferentes sistemas solventes e na colorao obtida com reveladores distintos, foi possvel diferenciar de modo inques-tionvel as trs substncias. A diferenciao pode ser feita ainda pelo sistema CLAE/DAD aqui apresentado, agregando neste caso a informao do espectro UV-Vis, de caractersticas muito distintas para as trs substncias.

    Figura 3. Espectros de absoro na regio do ultravioleta-visvel (190-450 nm) da anfetamina, metanfetamina, MDA, MDMA, cocana e da substncia presente nos comprimidos investigados

  • Identificao qumica da clorofenilpiperazina (CPP) em comprimidos apreendidos 729Vol. 33, No. 3

    CONCLUSES

    O surgimento de novas drogas de abuso, em especial as sintti-cas, tem aumentado drasticamente nos ltimos anos. Os laboratrios de anlise pericial frequentemente enfrentam limitaes quanto ao acesso a padres analticos certificados de substncias proscritas e/ou de uso controlado. Alm de reportar a primeira apreenso da CPP no Estado de So Paulo, este artigo mostrou que possvel identificar de maneira confivel novas substncias encaminhadas para percia, mesmo sem a presena de padres analticos, desde que se lance mo de diferentes procedimentos e tcnicas analticas, que forneam informaes complementares e, tambm, subsdios tcnicos para a realizao da percia qumico-forense.

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