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JORNAL
Um jornal comunista a serviço da imprensa popular.
Edição 02
Mar Abr 2015\
Ano 01
Acesse o conteúdo atravésdo seu aparelho móvel.
\
EN
TR
EV
ISTA
‘’Não há alternativapara a humanidade que não seja a rupturacom a ordem capitalista.’’ -Mauro Iasi PÁG.06 e 07
A crise sistêmica global conti-nua produzindo seus efeitos em termos econômicos, sociais e políticos. Se observarmos a conjuntura mundial neste início de 2015, podemos intuir que estamos nos aproximando de uma tempestade, que une deflação e reces-são na Europa, estrangulamento indus-trial e da infraestrutura nos Estados Unidos, desaceleração econômica na China, estagnação econômica no Bra-sil, além da crise social e política em várias partes do mundo. O sistema capitalista vem pro-curando amortecer os efeitos da crise mediante a intervenção dos Estados para salvar os lucros dos capitalistas, novas formas de organização do traba-lho e a introdução de sofisticadas tecno-logias no processo produtivo. Nenhu-ma dessas medidas conseguiu resolver os problemas da economia. A ação imperialista se mantém intensa, seja pela manutenção da política de inter-venções militares diretas e indiretas, com o uso de mercenários (chamados cinicamente de “rebeldes” pela mídia burguesa) e paramilitares, com vistas ao acesso às fontes de riquezas, como o petróleo, e à tentativa de dominação política em regiões estratégicas, a exem-plo da Ucrânia, Venezuela, Síria e de outros países do Oriente Médio. A crise também é política, após vários anos de ajustes e problemas soci-ais. A recente eleição na Grécia demonstrou o imenso descontentamen-to popular com as medidas de austeri-dade tomadas pela Troika (FMI, BCE e UE). Mesmo que as massas tenham visto no Syriza o desaguadouro de seu descontentamento e que este partido
reformista já tenha mostrado que não veio para romper o cerco que o grande capital impõe aos povos, a conjuntura pode evoluir no sentido de uma contra-ofensiva generalizada dos trabalhado-res em busca de uma alternativa popu-lar. Mas, mesmo em momentos de cri-se, a luta de classes não é linear: pode favorecer a eclosão de grandes mani-festações populares num dado período e estacionar em compasso de espera no momento seguinte, assim como pode abrir espaço para a ascensão de partidos de direita, que souberam tirar proveito desse processo e ganharam eleições, ao estimular o senso comum conservador e a xenofobia em vários países. No Brasil, o governo Dilma, enredado em contradições por causa da opção do PT pela governabilidade a qualquer preço, faz maiores concessões aos capitalistas e à direita, que chanta-geia com a ameaça de impeachment para conquistar ainda mais favores. O Congresso Nacional, dominado por um novo “Centrão”, anuncia pacote de contrarreformas políticas e sociais que significarão ainda mais retrocessos no âmbito dos direitos políticos, sociais e trabalhistas, com medidas que visam a impedir a participação dos partidos da esquerda socialista nas eleições, crimi-nalizar os movimentos sociais e legali-zar a superexploração dos trabalhado-res. O cenário de crise hídrica e de ener-gia, crise da Petrobras, com graves reflexos na economia, inflação e novas ondas de desemprego corrobora a impressão de que a “marolinha” tende a virar tsunami, trazendo ainda mais infortúnios para a classe trabalhadora. Caíram por terra as condições
econômicas que viabilizaram as políti-cas de crescimento, de aumento do salário mínimo e de bolsas adotadas pelos governos do PT, usadas para com-pensar o avanço das privatizações, as medidas de apoio aos bancos e ao agro-negócio e a repressão aos movimentos sociais. Hoje, o governo Dilma não tem nenhum grau de independência em relação aos interesses do grande capi-tal, como provam as anunciadas políti-cas de austeridade, com grandes cortes no orçamento, que seguem os preceitos liberais e reforçam o cenário de reces-são, vistas como necessárias para “equilibrar as contas públicas”. Todo o apoio é oferecido ao capital financeiro. Neste quadro, não há o que esperar do governo ou do Congresso. Em contrapartida, em várias áreas da produção, há greves e movi-mentações sindicais e populares em lutas por salários e direitos sociais, e a resistência dos trabalhadores vem colhendo frutos, como no exemplo do movimento dos servidores públicos do Paraná, que derrotaram a política neoli-beral do governador. Há uma clara ten-dência de acirramento do conflito entre capital e trabalho e de explosão de insa-tisfações populares com o atual estado de coisas. Mas o descontentamento popular generalizado existente precisa ser canalizado no sentido das lutas que promovam transformações radicais contra o regime capitalista e em favor de alternativas de Poder Popular. Somente a unidade das forças anticapi-talistas e anti-imperialistas será capaz de pavimentar o caminho nesta direção.
Crise mundial do capitalismo seaprofunda e acirra a luta de classes
Março - Abril 2015 - Ano 01
02
EDITORIAL
O Poder Popular, um jornal a serviço da Imprensa Popular.
Órgão oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Comissão Nacional de Comunicação: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmílson Costa, Otávio Dutra, Roberto Arrais
(jornalista responsável - 985/DRT - FENAJ). Diagramação: Mauricio Souza.
Endereço eletrônico: www.pcb.org.br. Contato: [email protected].
Sede Nacional do PCB: Rua da Lapa, 180, Gr. 801 - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP.: 20.021-180.
Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.EX
PE
DIE
NT
E
Pesquisa Nacional da Cesta Básica - Custo e variação em 6 capitais brasileiras - janeiro de 2015
Período Salário mínimo nominal Salário mínimo necessário
Janeiro - 2015
Dezembro - 2014
Tempo detrabalho
R$788,00
R$724,00
R$3.118,00
R$2.975,00
VariaçãoAnual (%)
Porcentagem doSalário Mínimo
Líquido
VariaçãoMensal (%)
Valor daCesta (%)
Capital
São Paulo
Porto Alegre
Rio de Janeiro
Curitiba
Belo Horizonte
Fortaleza
R$371,22
R$361,11
R$353,51
R$335,82
R$337,57
R$288,99 3,07
6,81
6,33
4,58
3,60
4,81 51,21
49,81
48,76
46,32
46,56
39,86
103h38m
100h49m
98h42m
93h45m
94h15m
80h41m
14,76
12,48
13,84
14,20
10,31
5,24
Março - Abril 2015 - Ano 01
03
Entre 1982 e 1990, o valor real do salário mínimo caiu 24%. A partir de 1990, apesar da inflação alta, a mobili-zação dos trabalhadores garantiu um crescimento real de 10,6%. No entanto, tabela do DIEESE comprova a falácia sobre ganhos reais em relação à cesta básica e à redução da pobreza via bem-estar social das famílias em função de investimentos na saúde, educação, em infraestrutura e da nova composição da renda familiar.
Um olhar voltado à realidade social, para além do senso comum, é suficiente para constatar que grande parte dos citados investimentos e finan-ciamentos foram usados para promover ganhos de capital, com a intensificação da política de privatizações, o sucatea-mento dos serviços públicos e o arrocho dos salários. O festejado aumento do consumo feito pelos governos do PT esconde grave armadilha, já que não é obtido através de distribuição de renda e sim por meio de distribuição de crédi-to a juros extorsivos e carga tributária exorbitante, o que tem levado a classe trabalhadora a enorme endividamento e consequente inadimplência. Se houve
crescimento da renda média dos traba-lhadores nos últimos anos, a carga maior de impostos continua recaindo sobre os assalariados. Enquanto a tabe-la do imposto de renda não acompa-nhou sequer a inflação entre 2004 e 2014, os capitalistas foram contempla-dos com várias benesses e desonera-ções na taxação de seus lucros.
Os criativos malabarismos políticos e econômicos dos gerentes do capital para garantir superávit primário e margens de lucros do empresariado não deram os resultados esperados para os capitalistas, pois uma nova onda recessiva está a caminho, e cortes em programas sociais e perdas de direitos são anunciados. Na contracorrente dessas medidas, os trabalhadores colo-cam-se em movimento, na defesa dos seus direitos e conquistas, como demonstram as mobilizações feitas pelos funcionários do Paraná e a greve dos operários do COMPERJ.
Diante deste cenário, entretan-to, as centrais sindicais brasileiras vêm, nas últimas décadas, disputando um verdadeiro campeonato para ver quem
consegue maiores participações nos lucros e resultados (PLR) junto às empresas de suas bases filiadas. Para-doxalmente, assistimos à diminuição de ganhos salariais significativos. Quanto maior é a PLR, maior a extração da mais-valia. Mantidos os índices de reajustes salariais praticados nos últi-mos 20 anos, o salário mínimo precisa de pelo menos 40 anos para atingir o poder de compra dos trabalhadores na década de 1960.
Lutar por um salário suposta-mente "digno" não é manter a classe trabalhadora passiva. Esse é o objetivo dos patrões, com o aval das centrais pelegas, que propõem a diminuição de carga horária com corte de salário. É preciso retomar as lutas para além da resistência às perdas econômicas e assumir uma ofensiva que busque garantir mais e melhores serviços públicos de qualidade, redução da jor-nada de trabalho, com mais salários e melhores empregos. Enfim, combinar a luta por melhores condições de vida com a luta anticapitalista e pelo Poder Popular.
Unidade Classista na luta contrao arrocho salarial, por maisdireitos e melhores salários
csunidadeclassista.blogspot.com.br Acesse o conteúdo atravésdo seu aparelho móvel.
Era a madrugada do dia 16 de dezembro de 2013. Enquanto a maioria das famílias de Florianópolis dormia, algumas dezenas de trabalhadoras e tra-balhadores se deslocavam amontoados em escassos veículos para ocupar 900 hectares de uma terra pública no norte da ilha de Santa Catarina, grilada por empre-sários que visavam especular em uma zona turística de alto valor da terra. Movi-das pelos sonhos de uma vida melhor e com a coragem de quem vive a explora-ção capitalista diariamente, cerca de 60 famílias romperam as cercas e iniciaram uma ocupação urbano-rural que modifi-caria a história da capital do estado.
Poderia parecer mais uma ocupa-ção urbana, entre tantas que vêm ganhan-do corpo por todo Brasil nos últimos anos, motivadas pelo desejo de um teto para viver, como consequência da desi-gual distribuição da terra urbana, da vio-lação do direito à moradia e das progres-sivas limitações de acesso aos serviços e bens públicos da cidade pela classe traba-lhadora. No entanto, a orientação da dire-ção política da Ocupação – que em pou-cos dias já somaria 470 famílias – era também conquistar um território que permitisse usar a terra para criar novas formas de trabalho, convivência e poder, a partir de um princípio orientador: a coletividade. Dessa forma, a Ocupação Amarildo de Souza começou uma empre-itada na construção de um novo paradig-ma: viver melhor a partir da propriedade coletiva da terra e da socialização do tra-balho, das riquezas produzidas e do poder, cultivando a terra a partir dos prin-cípios da agroecologia.
Inúmeras foram as adversidades encon-tradas no caminho: ameaças de despejo, atentados violentos, luta contra o tráfico de drogas, expulsão da terra. Mas a cada enfrentamento, mais unidade interna surgia, mais solidariedade da classe tra-balhadora de Floripa, mais coragem para seguir lutando por sonhos coletivos. E, nesse caminho, os momentos de alegria e esperança se proliferaram, contagiaram as famílias que antes pareciam anestesia-das pela exploração, se transformaram em consciência de classe para organizar a luta contra o capitalismo e seus algozes. Mais sorrisos surgiam, mais braços cole-tivos de trabalho se uniam, mais vozes rebeldes se escutavam no cotidiano da Ocupação. O ser coletivo que começava a se formar aglutinou ao seu redor lutado-ras e lutadores dos mais variados movi-mentos e organizações políticas da cida-de de Florianópolis, pautando a unidade e o respeito às diferenças como princípios para as lutas cotidianas. Os Amarildos e as Cláudias fariam da bandeira do Poder Popular não apenas uma possibilidade de resistência, mas um norte político em defesa de uma vida melhor, a partir da auto-organização da classe trabalhadora no enfrentamento ao modo de produção capitalista.
Cerca de 6 meses depois de inici-ada a luta por terra, trabalho e teto, seria conquistado o assentamento no municí-pio de Águas Mornas, região metropoli-tana de Florianópolis. A Ocupação se transformaria então na Comuna Amaril-do de Souza, e os desafios seriam ainda mais complexos. Com poucos recursos materiais e crédito, ausência de assistên-cia técnica ou qualquer incentivo por
parte do Estado, a Comuna teria de come-çar a produzir e dar condições de vida a seus moradores. A solidariedade foi ainda mais necessária, e o conhecimento incrustado nas universidades precisaria se transformar em instrumento de luta e sobrevivência da Comuna. Assim se cons-tituiu o Projeto Comuna: Por uma Uni-versidade Popular, que vem aglutinando amplos setores nas Universidades Fede-ral e Estadual de SC para colocar ciência e conhecimento a serviço da luta e da organização da classe trabalhadora.
A Comuna vem ganhando corpo a cada novo dia e, na perspectiva da refor-ma agrária popular, vem consolidando um importante território de resistência, de poder popular e de produção de ali-mentos limpos, tornando-se referência para as classes exploradas e forjando, na experiência concreta, uma unidade mais sólida entre todos que lutam em SC. As bandeiras da Comuna já tremulam por sindicatos, movimentos populares, uni-versidades e organizações políticas de esquerda no estado, na perspectiva de, em breve, contribuir para que essa experiên-cia avance para outros estados e derrube muitas outras cercas pelo Brasil.
Amarildo PRESENTE! Comuna Amarildo: FIRME! Por uma Reforma Agrária construída pelo poder popular!
01 A Ocupação foi batizada por seus moradores em
homenagem ao herói da classe trabalhadora Amarildo
Dias de Souza, assinado brutalmente pela PM do Rio
de Janeiro em 14 de julho de 2013.
02 Claudia Silva Ferreira, arrastada depois de morta
por um camburão da PM pelas ruas da comunidade
onde morava em Madureira, zona norte do Rio, no dia
16 de março de 2014.
04
Os sonhoscoletivos daComunaAmarildo!
Março - Abril 2015 - Ano 01
Março - Abril 2015 - Ano 01
05
Lutas em movimento emovimentos em luta!
O período de 2013-2014 deixou
um importante conjunto de heranças
para os movimentos sociais. Se, em
2013, ocorreram as “Jornadas de Junho”,
intensas mobilizações que percorreram
as principais cidades do país, em 2014
houve um novo tipo de intensificação
dessas manifestações, em complexidade
e densidade. A resposta a estas ações
populares foi uma ofensiva por parte do
Estado, com a criminalização dos movi-
mentos sociais, prisões, intensa repres-
são e perseguição a manifestantes, movi-
mentos e entidades. Somaram-se a este
quadro a realização da Copa do Mundo
da FIFA e os próprios processos eleitora-
is, trazendo elementos diferenciados
para a conjuntura, com refluxo das lutas.
O ano de 2015 se inicia com uma
ofensiva conservadora na sociedade e
nos espaços institucionais. A polariza-
ção, no segundo turno das eleições presi-
denciais, entre projetos no campo da
ordem, aparentemente divergentes na
forma, possibilitou o crescimento de
bancadas conservadoras no Parlamento,
formadas por setores vinculados a gru-
pos fundamentalistas religiosos, ruralis-
tas e grandes empresários, que pautam
bandeiras reacionárias em múltiplas
esferas. Esse fenômeno se constituiu
tanto na base do governo como na oposi-
ção de direita, por causa da característica
complementar dos projetos desenvolvi-
dos por esses dois campos políticos,
nucleados, em última instância, pelo PT
e pelo PSDB. Desde as mobilizações de
2013, as ruas tiveram contato com seto-
res de extrema direita, unidos primeira-
mente em torno das críticas à corrupção
e contrários à presença de partidos políti-
cos nas manifestações. As tentativas de
demonstração de força da direita contra
políticas vinculadas aos direitos huma-
nos e por um golpe de estado evidencia-
ram o maior tensionamento dos conflitos
de classes no país.
Por outro lado, há uma retomada
das mobilizações e lutas populares no
país, com novos atos surgindo a cada
semana expressando o descontentamen-
to com a carestia de vida e com os servi-
ços públicos sucateados e privatizados,
protestos contra o aumento de tarifas de
transportes, lutas sindicais, trabalhado-
res em greve contra o desemprego, ocu-
pações nas cidades e nos campos. Mas
esta retomada reflete ainda a insipiência
de uma articulação política unificada, de
uma pauta comum de lutas nas ações.
Ultrapassar este obstáculo organizacio-
nal é necessário para fazer avançar as
lutas presentes e as que se aproximam,
na contracorrente à ofensiva contra dire-
itos dos trabalhadores e outras medidas
voltadas a adequar o país aos impactos
da crise capitalista. É preciso fortalecer
os espaços unitários, fóruns e plenárias
que possibilitem o diálogo entre os
diversos atores políticos, movimentos
sociais, de juventude e, principalmente,
da classe trabalhadora.
O elemento unificador de todos
os movimentos deve ser a luta anticapi-
talista. Dentre os principais fatores que
provocaram as mobilizações estão as
manifestações, no cotidiano, das con-
tradições de classe, nada mais que a
materialização de um projeto de desen-
volvimento voltado a atender os inte-
resses e necessidades da expansão capi-
talista nas áreas urbanas e rurais, pre-
sentes na privatização dos espaços
públicos, do lazer, da cultura, dos servi-
ços e das empresas antes estatais; na
política que serve ao lucro dos empre-
sários dos transportes, da educação e
demais serviços públicos; nas remo-
ções e utilização de espaços para aten-
der as demandas do capital em seus
megaeventos, grandes empreendimen-
tos e na exploração da infraestrutura
para suas necessidades. O confronto
capital-trabalho não se manifesta
somente no conflito patrão-empregado.
Ele pode ser observado em múltiplas
formas e inúmeros espaços. Por isso é
preciso avançar na construção de lutas
unificadoras, fortalecendo fóruns e
plenárias que possibilitem a construção
de um programa unificado de lutas
anticapitalistas. A histórica expressão
“trabalhadores de tudo mundo uni-vos”
não é apenas uma palavra de ordem,
mas o caminho necessário para a vitória
possível.
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”. - Bertold Brecht
06
O PODER POPULAR: Como você vê a conjuntura mundial de aprofunda-mento da crise do capitalismo e acirra-mento da luta de classes? A alternativa socialista se coloca na ordem do dia?
MAURO IASI: A ordem burguesa sempre encontra uma manifestação conjuntural para encobrir as causas e determinações mais profundas da crise do capitalismo. Hoje vemos a tentativa de jogar a culpa em desvios e ou nos descaminhos deste ou daquele governo nacional. Sabemos que se trata de uma crise cíclica causada pela própria dinâ-mica da acumulação. Nessas condi-ções, a luta de classes pode se acirrar criando crises políticas e instabilidade. O problema é que a burguesia opera nestes momentos tentando fazer crer que é necessário um consenso para superar a crise, impondo medidas amar-gas aos trabalhadores para permitir um novo ciclo de acumulação. Não há uma alternativa, não apenas para os traba-lhadores, mas para a humanidade, que não seja a ruptura com a ordem capita-lista e uma alternativa socialista.
O PODER POPULAR: Há claramen-te uma onda conservadora em curso,
com ressurgimento de grupos fascistas e neonazistas. Como enfrentar um qua-dro como este?
MAURO IASI: O crescimento de pro-postas de direita está associado tanto à crise do capitalismo como aos impasses nas alternativas revolucionárias. Ainda vivemos sob o impacto das experiênci-as de transição socialista do Leste euro-peu e principalmente da URSS e seu desfecho e reconversão ao capitalismo. Numa situação como esta, as massas ficam suscetíveis a alternativas autori-tárias. É evidente que hoje há ingredi-entes novos, como a dimensão da xeno-fobia causada pela enorme mobilidade da força de trabalho mundial que acom-panha o novo desenho da exploração do capital monopolista em âmbito planetá-rio. Tanto governos burgueses demo-cráticos como de uma “esquerda” que assumiu a tarefa de gerir a crise do capi-tal, acabam sendo julgados pelas mas-sas e acabam produzindo uma inflexão conservadora, mesmo entre os traba-lhadores, que são os que mais sofrem com os famosos ajustes.
O PODER POPULAR: Os efeitos da crise econômica chegam com força no
Brasil. O que os trabalhadores devem esperar para este ano?
MAURO IASI: Os efeitos da crise já se faziam sentir em nosso país, mas de certa forma eram compensados por políticas sociais compensatórias e muita dose de ideologia. Mas isso tem limite e começamos já no ano passado a ver o mesmo fenômeno que presencia-mos no centro do sistema, inclusive no comportamento política da classe tra-balhadora. Os trabalhadores devem estar atentos tanto para resistir às cha-madas medidas de ajuste que implica-rão em perda de direitos e precarização ainda maior do trabalho e ao canto de sereia da direita, que vende ilusões para se apresentar como alternativa de governo.
O PODER POPULAR: O PCB decla-rou posição em favor do voto nulo no segundo turno das eleições de 2014 e tudo indica que foi a opção acertada, diante dos rumos do "novo" governo Dilma. Como você analisa a conjuntura política nacional?
MAURO IASI: A posição do PCB, ao meu ver, foi acertada por dois motivos
Março - Abril 2015 - Ano 01
07
principais que parecem se confirmar na conjuntura atual. Dilma não faria nenhuma inflexão mais progressista e certamente não à esquerda, pelo contrá-rio, tentaria se mostrar ainda mais con-fiável ao capital e às suas personifica-ções. Em segundo lugar, o governo ficaria ainda mais dependente de um congresso ainda mais conservador, aumentando o já enorme peso que o PMDB tem na governabilidade. Num quadro como este, a correlação de for-ças se torna ainda mais desfavorável aos movimentos sociais, às lutas sindi-cais e às demandas sociais da maioria da população diante do ajuste conser-vador na economia e na governabilida-de conservadora. Infelizmente, estáva-mos corretos em nossa análise, como comprovam a composição do ministé-rio de Dilma e suas primeiras medidas de ataque aos direitos dos trabalhado-res, como, por exemplo, as mudanças nas regras do seguro desemprego.
O PODER POPULAR: O PCB pro-põe a construção do Poder Popular e da F ren t e An t i cap i t a l i s t a e An t i -imperialista no caminho da alternativa de poder dos trabalhadores. Como fazer avançar estas propostas?
MAURO IASI: A forma burguesa do
Estado que hoje prevalece não será capaz de enfrentar esta crise na pers-pectiva dos trabalhadores e da maioria da população, independente da nature-za da força política que ocupa o gover-no. Ao nosso ver é necessária uma mudança mais profunda que implica na alteração do caráter de classe do Esta-do. Temos que construir uma alternati-va de poder que começa hoje pela resis-tência dos trabalhadores aos ataques que sofrem e sofreram, mas que vá além da mera resistência criando um progra-ma de transformações estruturais necessárias para resolver pela raiz os problemas que nos afligem. Para isso, precisamos unificar nossos lutas e propostas numa plataforma de transfor-mações econômicas, políticas, sociais e culturais que sejam capazes de apontar para uma nova sociedade. O problema é que, ao nosso ver, isso implica romper de vez com este governo e, para algu-mas forças sociais, trata-se de dar força a este governo para equilibrar o jogo com as pressões da direta, o que em nosso juízo é uma ilusão.
O PODER POPULAR: Na condição de candidato a presidente do PCB nas eleições passadas, você visitou inúme-ras cidades e regiões. Qual o balanço que faz desta experiência?
MAURO IASI: O PCB apresentou uma candidatura para fazer a discussão programática e apontar para este cami-nho necessário de transformações soci-alistas. Pudemos ver o potencial que tem este caminho e a justeza de nossa formulação estratégica. Por onde anda-mos vimos a resistência dos trabalha-dores em suas lutas populares e sindica-is, nos assentamentos e acampamentos da reforma agrária que foi abandonada pelo governo e sua aliança com o agro-negócio, mas vimos também o quanto falta para que possamos romper com as ilusões eleitorais e a lógica do voto útil, do peso das máquinas eleitorais regio-nais, em grande parte ainda presas às velhas formas do coronelismo e perso-nalismo político de elites locais. Temos muito trabalho pela frente. Felizmente, sabemos para onde vamos, o que quere-mos e não nos abalamos com os revezes de momento. O medo da direita moveu parte dos votos dos trabalhadores para a candidata do PT que agora impõe o programa conservador que dizia com-bater e isso pode ser um aprendizado importante. Agora trata-se de enfrentar a tentativa da direita de capitalizar o ocaso do governo petista.
Mauro Iasi: “Não há alternativapara a humanidade que não sejaa ruptura com a ordem capitalista”
Março - Abril 2015 - Ano 01
ENTREVISTA
Mauro Iasi é membro doComitê Central do PCB.
… e o bloco “Comuna Que Pariu!” (CQP!), fundado em 2009 por militan-tes preocupados com o rumo do carna-val elitizado carioca, foi para as ruas dizer que confetes e purpurinas combi-nam com a revolta social. Passando pela Anistia, lutando pela socialização das terras brasileiras, o bloco entoou versos contra o Brasil FIFA® em 2014, mas em 2015 saiu às ruas para dar voz às mulheres:
Antes dos treze me passaram a mãoSe fiquei quieta, a culpa é da opressão
Infelizmente, não é todo mundo que concorda que a mulher é oprimida. Enquanto esquentávamos os tambo-rins, diversas outras mulheres se solida-rizavam com a campanha virtual contra o aborto, reproduzindo o discurso pre-conceituoso que criminaliza as mulhe-res que vivem a pobreza, vivenciam a violência sexual e denunciam, caladas, suas tristezas. No momento em que os tambo-
res rugiam, mulheres eram assediadas nos blocos carnavalescos, puxadas para o beijo forçado como troféus da embri-aguez senil do machismo naturalizado pelas campanhas midiáticas de um enorme conglomerado de bebidas que insistia em dizer que esqueceu o 'não' em casa ou que topava antes de saber a pergunta. As meias palavras, para mulheres que são livres para se diverti-rem no carnaval, bastam. Tudo bem, porque quando o cavaquinho sonorizou sua primeira nota, as mulheres gritaram alto:
Sou santa, sou puta, sou filha da lutaMachismo é porrada e piada sutilLugar de mulher é... é onde ela qui-ser!
E é mesmo! As mulheres vão onde querem, fazem o que querem, lutam pelo que querem e, no nosso caso, a nossa luta é classista, o nosso feminismo é combativo. Combate a pobreza, combate a desigualdade soci-
al, combate o racismo, combate a homo-fobia, combate a misoginia, combate o preconceito daquelas pessoas que ainda não entenderam que a luta das mulheres é uma luta classista! Se nós trabalhamos, se a repro-dução social da vida capitalista prescin-de da nossa força de trabalho, se 99% da riqueza mundial está concentrada em 1% da população, se para garantir os lucros dos patrões somos empregadas ou desempregadas, então por que não podemos lutar, mesmo cantando, con-tra o machismo?
Somos Anita, Rosa, Olga e Clara...Satanás e bruxas, abortando o capitalCamaradas, nossa luta é Internacio-nal
Lugar de mulher foi, é e sem-pre será onde ela quiser! O Comuna que Pariu! sabe disso.
Lugar de mulher é onde ela quiser...
08
Março - Abril 2015 - Ano 01
ColetivoFeminista-ClassistaAna Montenegro
Acesse o conteúdo atravésdo seu aparelho móvel. anamontenegrosp.blogspot.com.br
Março - Abril 2015 - Ano 01
VII Congresso Nacional da UJC:Organizando a rebeldia,massificando lutas! Rebeldia! Talvez seja esta pala-
vra que vem caracterizando a juventude
brasileira nestes últimos anos. De um
lado, a ideologia burguesa taxa a juven-
tude como rebelde em um tom pejorati-
vo, propagando que o rebelde é o vân-
dalo, que os sonhos e as lutas não
cabem mais dentro deste mundo.
Dizem que isto é uma coisa “passagei-
ra”, natural de todo jovem, que acaba
quando ele se torna um adulto e entra no
mercado de trabalho. Ledo engano!
Preferimos ficar do outro lado, que vê a
rebeldia da juventude como uma cente-
lha que pode explodir em profundas
transformações sociais. Esta centelha
já explodiu algumas vezes na história
do nosso país, tal como na campanha
em defesa da Petrobras, na luta contra a
ditadura militar, no combate à venda
dos nossos direitos básicos, como
saúde e educação. Foram manifesta-
ções que reinvindicaram a necessidade
de defender o mínimo para a nossa
sobrevivência, mas sempre acenando
que somente uma mudança estrutural
seria capaz de pôr fim, de uma vez por
todas, às mazelas que vivemos.
A geração dos anos 2000 pre-
senciou a ascensão de um operário à
presidência da república. Em meio a
um clima de esperança, nos diziam que
finalmente havia chegado a hora da
mudança. Depois buscaram passar a
imagem de calmaria na sociedade,
dizendo que até os estudantes estavam a
vagar, pois a sua entidade nacional
apoia e concorda com os interesses do
governo e dos patrões. Como em uma
tragédia, a realidade nos bateu à cara,
enterrando as esperanças e ao mesmo
tempo potencializando a construção de
novos entendimentos e novas lutas. E
assim se deu! Os pacotes de reformas
na educação com vistas à mercantiliza-
ção e à entrega dos direitos sociais à
iniciativa privada se tornaram alvo
claro e objetivo de combate por parte da
juventude. Mobilizações em variados
níveis e graus de radicalidade se irrom-
peram nesta última década, tendo como
momento áureo as manifestações de
2013. Protestos estes que, apesar de não
apresentarem de forma clara um hori-
zonte de ruptura estrutural da socieda-
de, demonstraram explicitamente que o
modelo de concentração de poder polí-
tico e econômico está esgotado.
É desta maneira que se atualiza
a primeira tarefa da UJC neste próximo
período. O VII Congresso Nacional da
UJC, que será realizado de 16 a 21 de
abril na cidade de Niterói – RJ, terá
como objetivo reforçar a nossa estraté-
gia socialista e, acima de tudo, criar
mediações táticas capazes de organizar
a rebeldia da juventude brasileira a fim
de defender os direitos sociais e avan-
çar em novas conquistas. Conquistas
que devem sempre ser conectadas com
a necessária e urgente superação do
capitalismo. As corretas lutas por refor-
mas que a juventude vem travando
necessitam ser operadas em uma pers-
pectiva de tomada de poder por meio de
um processo revolucionário. Eis o pri-
meiro desafio da UJC para os próximos
anos!
Obviamente, esta não será uma
tarefa simples. A juventude brasileira
está inserida em um ambiente político e
cultural no qual o individualismo é
extremado. Perdemos a naturalidade de
nos organizarmos de forma coletiva, no
embate das ideias e em uma ação unifi-
cada. Neste sentido, massificar as lutas
vai além do aspecto quantitativo. Tor-
na-se necessário massificar qualitativa-
mente as lutas da juventude. Como nos
diz Chico Science, “o homem coletivo
sente a necessidade de lutar”!
VIVA O VII CONGRESSO DA UJC!
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A República Brasileira, recém-
instalada na virada do século XIX para
o XX, consolidava-se como excludente
e oligárquica. Neste cenário, a presença
de trabalhadores aviltados em seus
mínimos direitos, dentre os quais imi-
grantes que possuíam influência de
pensadores anarquistas, originou, em
conjunto com outros múltiplos fatores,
um movimento anarcossindicalista
mobilizador de uma série de greves
operárias, além de uma insurreição
anarquista em 1918.
Astrojildo Pereira (1890-1965)
não apenas assistiu como também par-
ticipou ativamente de muitos destes
eventos. Filho de um comerciante de
bananas da cidade de Rio Bonito (RJ),
já em 1908 começou a trabalhar em
diversos jornais, além de se tornar mili-
tante político. Nesta condição, fora um
dos lideres da greve de 1918, ocorrida
na Cia. Cantareira e Viação Fluminen-
se, e da posterior e fracassada insurrei-
ção anarquista, sendo, por isso, preso.
A identificação da ausência de
organização e de eficácia tático-política
do anarcossindicalismo, em contraste
com a organização e vitalidade concre-
ta da Revolução Bolchevique, na Rús-
sia, em 1917, fez com que Astrojildo
Pereira refletisse sobre a necessidade
da constituição de um partido político
revolucionário. Pouco a pouco, ele
abraçou a ideia comunista na perspecti-
va de Marx e Lenin. Assim, em março
de 1922, na cidade de Niterói (RJ), o
PCB (Partido Comunista, que em
seguida se tornaria a Seção Brasileira
da Internacional Comunista) é funda-
do, em uma casa de familiares de Astro-
jildo, juntamente com diversos traba-
lhadores sindicalistas, dentre os quais
jornalistas, barbeiros, eletricistas, alfai-
ates e demais categorias profissionais.
A criação do Partido revelou o
caráter processual da transformação de
Astrojildo, assim como de alguns
outros líderes, da condição de anarquis-
tas para comunistas. Tal opção é carac-
terizada pelo debate em torno do pro-
cesso revolucionário russo, a oposição
anarquista em aderir à III Internacional
e o recrudescimento da crítica anar-
quista ao governo bolchevique. Em
contrapartida, a visão do grupo que se
tornaria o PCB fortaleceu a noção de
que era necessária a construção de uma
unidade operária, nacional e internacio-
nal, tendo a Revolução de 1917 como
uma referência fundamental, com a
devida adaptação à realidade brasileira.
O protagonismo de Astrojildo
Pereira lhe garantiu o lugar de liderança
revolucionária inconteste, que se dedi-
cou de coração e mente a fundar o PCB,
uma agremiação revolucionária capaz
de organizar o proletariado e, conse-
quentemente, construir uma sociedade
igualitária. Por sua perseverança e inte-
gridade, Astrojildo foi e sempre será
lembrado como um camarada histórico.
Astrojildo Pereira, um camaradahistórico, fundador do PCB
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Março - Abril 2015 - Ano 01
Março - Abril 2015 - Ano 01
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Nestor Vera nasceu em Ribe-irão Preto, interior de São Paulo, em 19 de julho de 1915. Seus pais traba-lhavam no campo. Teve cinco filhos com sua companheira Maria Miguel Dias. Foi sequestrado no dia 1º de abril de 1975 na Avenida Olegário Maciel, centro de Belo Horizonte. Nestor Vera foi reconhecido como desaparecido político pela Comis-são Especial de Mortos e Desapare-cidos Políticos. Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o agente da repressão Cláudio Guerra confirmou seu assassinato pelo aparato da ditadura. Vera começou sua trajetória de lutas na organização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santo Anastácio/SP. Ingressou nas fileiras do PCB em 1946. Foi eleito verea-dor da cidade em 1947, em legenda alternativa ao PCB, cujo registro havia sido cassado. Como membro do Comitê Estadual do PCB em São Paulo, foi um dos responsáveis pelo jornal Terra Livre e integrou a dire-ção da ULTAB - União dos Lavra-dores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil, fundada em 1954. Na tribuna de debates divul-gada em edições do Jornal Novos Rumos, Nestor Vera apresentava uma série de críticas às propostas estratégias e táticas contidas nas teses para o V Congresso do PCB (1960). Vera questionava a subesti-mação da a l i ança operá r io -camponesa, em detrimento da pers-pectiva de aliança com setores da burguesia nacional. Além de escre-ver para o Jornal Novos Rumos e ser
o editor do Terra Livre, Nestor Vera contribuía com notas e artigos para a Revista Brasiliense. Em contraposi-ção às propostas de reforma agrária apresentada por setores da Igreja Católica e alguns latifundiários, partiu em defesa de uma reforma agrária radical capaz de liquidar com o monopólio da terra exercido pelo latifúndio, causa de todas as injustiças existentes no campo, sem o que jamais haveria liberdade e sossego para os milhões de campo-neses brasileiros. Comandando a comissão de redação da Declaração do I Congresso Nacional dos Lavra-dores e Trabalhadores Agrícolas sobre o caráter da Reforma Agrária, Vera garantiu que a bandeira pela liquidação da propriedade latifun-diária se tornasse a palavra de ordem dos trabalhadores do campo. Além disso, moção aprovada pelo con-gresso exprimia a solidariedade internacional do movimento cam-ponês brasileiro à Revolução Socia-lista Cubana. No início dos anos sessenta, os comunistas atuavam fortemente no campo através de líderes como Nestor Vera, Lindolfo Silva, José Bezerra da Costa e outros, detendo a hegemonia na Confederação Nacio-nal dos Trabalhadores na Agricultu-ra (Contag), criada, em 1963, em substituição à ULTAB. Mesmo prio-rizando o trabalho entre os assalari-ados agrícolas, o PCB também atua-va nas Ligas Camponesas, a exem-plo do trabalho na Zona da Mata de Pernambuco, área de produção cana-vieira cuja liderança inconteste era a
de Gregório Bezerra. A ditadura buscou impedir o avanço da influência dos comunis-tas no campo. Nestor Vera foi cassa-do pelo Ato Institucional nº 1 em 1964, julgado à revelia e condenado a cinco anos de reclusão pela Lei de Segurança Nacional. A partir de então, passou a viver na clandestini-dade, adotando nome e sobrenome falsos, não apenas para si, mas tam-bém para a mulher e seus filhos. Eleito suplente do Comitê Central do PCB no VI Congresso (1967), Vera manteve contato com militan-tes do Partido em várias cidades de Minas Gerais e participou da cons-trução da Frente Patriótica contra o Fascismo (1973). Em abril de 1975, foi sequestrado em frente a uma drogaria no centro de Belo Horizon-te, como parte da “Operação Radar”, destinada a liquidar nacio-nalmente com o PCB. Em Minas Gerais, estava em curso a “Opera-ção Orquestra”, voltada a desarticu-lar os comunistas no Estado. O relatório apresentado pela Comissão da Verdade de Minas Gerais recomenda que o Estado garanta os recursos necessários para que os restos mortais de Nestor Vera sejam enfim encontrados. Seu exem-plo de dedicação à causa revolucio-nária e à luta camponesa no Brasil deve ser sempre lembrado, para que a luta pela reforma agrária radical e pelo socialismo um dia seja realida-de entre nós.
Nestor Vera e a luta do PCBpor uma Reforma Agrária Radical
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Artigo do Partido Comunista da Venezuela publicado no 5º número da Revista Comunista Internacional denuncia o crescente caráter belicista do imperialismo, atualizando os estu-dos desenvolvidos por Lênin em “Imperialismo, fase superior do capita-lismo”. Os comunistas venezuelanos constatam a agudização da concorrên-cia capitalista no mercado econômico internacional e das contradições políti-cas entre os principais Estados imperia-listas, a cada vez maior fusão de interes-ses destes grupos com o Estado, que se submete a seus imperativos, confirman-do que a política do imperialismo é a expressão concentrada da economia, responsável maior pelas guerras impos-tas aos povos em todo lugar do planeta. Segundo o PCV, a derrota da URSS e do campo socialista na década de 1990 deixou o imperialismo estadu-nidenese sem uma justificativa para continuar a política de agressão e, desta forma, conter e derrotar os processos revolucionários em suas áreas de influência. A estratégia de confrontação indireta, que havia sido desenhada nos marcos da bipolaridade, quando existia uma ameaça real de conflito bélico com a grande potência socialista, tornou-se sem efeito. Porém, a força militar de características globais do imperialismo dos EUA, de seus comandos operacio-nais e bases regionais espalhadas pelo mundo manteve-se intacta. Os planos de avanço do capital monopolista financeiro na direção da Ásia e dos países que formavam parte do Bloco Socialista obrigaram os Estados impe-
rialistas a elaborar uma política exterior de acordo com as metas de expansão do grande capital internacional, dentro do processo de globalização neoliberal já em curso. Trata-se agora de aprofundar a exploração dos povos do mundo e a apropriação de suas matérias-primas, energia, água e biodiversidade, sem um inimigo em condições de conter esta expansão. Trata-se, pois, da ofensiva final do imperialismo para impor ao mundo o governo das corporações imperialistas e submeter os povos, em escala planetária, a uma nova forma de escravidão. A nova concepção estratégica da guerra, baseada nas supostas amea-ças à segurança nacional, está dirigida aos países do Hemisfério Sul, depen-dentes da economia imperialista. O Estado imperialista norte-americano protege os lucros do complexo militar industrial e a saúde de sua própria eco-nomia, durante longo período de reces-são econômica. Na busca por consoli-dar a hegemonia militar dos EUA, base da política internacional no atual perío-do, o imperialismo vem operando mudanças nas formas de conduzir os conflitos armados e guerras. Ao lado dos exércitos estatais, surgem cada vez mais companhias militares e de segu-rança particulares, organizações para-militares, exércitos privados e merce-nários como novos atores da guerra. Estas empresas atuam nas áreas de recrutamento de pessoal qualificado para oferecer, nas missões bélicas, os serviços de assessoria e formação mili-tar, reconhecimento e inteligência. A
expansão crescente deste negócio mun-dial alcança hoje, segundo estimativas, cerca de 200 bilhões de dólares anuais. O Iraque é hoje o exemplo mais avança-do da privatização da guerra, com 180.000 contratados trabalhando em tarefas militares ou de segurança. Esta expansão do imperialismo amplia, para a esfera global, a contradi-ção fundamental entre o capital e o trabalho. A época atual continua sendo, em forma ainda mais nítida, a expres-são da era da revolução proletária, a revolução socialista, conforme aponta-do por Lenin em princípios do século passado. Os comunistas, consequentes com os princípios do internacionalismo proletário, defendem a máxima coesão das forças revolucionárias em nível mundial. Não buscamos a unidade em termos abstratos, a unidade em nome da unidade apenas, mas sim em prol de um objetivo concreto que é a luta contra o imperialismo, o inimigo principal da paz e de qualquer possibilidade de pro-gresso nacional e social. O imperialis-mo é o inimigo maior de todos os movi-mentos que buscam saídas de fato demo-cráticas, populares e socializantes em qualquer parte do mundo. Os partidos comunistas devem assumir a dianteira desta luta pois constituem o contingen-te mais consciente e mobilizado, por-que armado com a única teoria de clas-ses capaz de formular as bases políticas necessárias ao programa de lutas no caminho da construção da frente anti-imperialista mundial no período atual.
Março - Abril 2015 - Ano 01
Os comunistas, a luta ativapela paz e a formação da frenteanti-imperialista mundial