UM Medium De Transporte

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  • 8/14/2019 UM Medium De Transporte

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    Osvaldo Polidoro

    Um Mdium de

    Transportes

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    NDICE

    Assim Acontecera.....................................................................

    De Tudo Chega a Hora..............................................................

    Coisas de Sinh Marta..............................................................

    Ao Rs da Vida..........................................................................

    Corriam os Dias........................................................................

    Simplesmente um Novo Casamento..........................................

    Tudo da Vida..........................................................................

    A Viagem de Npcias...............................................................

    Glrias Medinicas...................................................................

    Soberana a Lei .......................................................................

    Paisagem Tumular.....................................................................

    O Carma Determina..................................................................

    Veredas da Vida.........................................................................

    O Resgate de Ana......................................................................

    Conseqncias Santificantes.....................................................

    Aos Desejosos de Saber.............................................................

    Livros Indispensveis................................................................

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    ASSIM ACONTECERA

    Assim de fato acontecera Ana, a querida esposa, depois de meses de tormentosa doenamental, encaminhando-se ao penhasco que montava divisa l nos confins da fazenda, bem l nosfundes onde tambm desaguava certo riacho, por ele se lanara, indo perder--se por entre as guasem revoluteio, nunca mais se tendo dela notcia.

    No mais se lhe podia sondar os passos, porque noite e dia era aquele andarilhar sem fim,falar sozinha, discursar, afrontar, contender, para logo mais cair em dolorosa quebrantura moral,

    angustiosa prostrao de corpo e alma. Vivia livre, vontade, pois de si nunca demonstrao derade que pudesse um dia fazer o que fez ou tornar--se perigosa. Aos quinze meses de tormenta,

    cauterizados todos na dor, no mais se lhe davam ateno, sem ser a respeito daquilo que lhe

    dissesse comer, vestir, higienizar-se.Quanta amargura, meus Deus! De lembrar se me enfronha a alma no negror das brumas que

    a memria teima em reviver fazendo que meus olhos de esp rito se marejem. Mas se assim foi,contemo-lo ento, ainda que sob o plago de torturas cruciantes. Afinal, no sei de quem tenhavivido alheio ao manto de grilhes os mais flicos. E no seria eu, claro, o primeiro em favor dequem abrisse a vida direito mpar de precedncia.

    Os anos l se vo, ou ns por eles, e com isso o feliz desembargo; Ana, hoje, meiga e amiga,refeita em face das leis superiores, ou em face de si mesma, o que mais exato, marca tempo nosservios de socorro, ora espargindo aquelas ddivas que o Pai Comum nos lana em mos, oraextraindo de si, de suas experincias, o com que ofertar lies a irmos ainda viajores deprimordiais caminhadas pelos sendeiros da conscincia individual. Bem faz quem aproveita as doresbem curtidas! Convert-las em jias da alma pelas lies que encerram, eis o nico mrito de sofrer.Fora isso, favas dor! E se por inteligncia, puder algum esquecer-se de que tal monstro existe,tanto melhor.

    Enquanto isso, enxugo meu pranto... Bem se v que percorro caminhos por legies e legiesde irmos j percorridos. Enxugo meu pranto e prossigo narrando, porque para isso fui chamado,por aqueles que do Senhor Planetrio mais vizinhos so, por evolvimento, e que, por isso mesmo,

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    dando guarida a Seus Desgnios, em favor do Consolador prometido, buscam ofertar todos ostestemunhos, para que um dia, o mais cedo possvel, a face obumbrada da Terra se apresente comrasgos de claridade que jamais tenham fim.

    Meus dias ento, depois que Ana desaparecera no turbilho das guas, transformaram-se emprograma de horror a sorver. Chego a pensar, ainda, como os terei suportado! E diz-me qualquer

    coisa conscincia, que se no fora a beno das amizades astrais, em, servio de tutela, tambmteria sucumbido. certo que, ao cabo de ano e meio a contar da triste jornada, as luzes do cu se meforam tornando prximas e prdigas em contatos sublimes e suavizantes; mas, at ento, como tereisuportado o azedo de tamanho clice?! ...

    Sabe Deus o que de justia.

    E por assim ser, por ser de justia, sangrei os ps nos calhaus abismais, tirei de mim o queparecia no ter, venci um tempo e consegui enfrentar-me, mais tarde, sem ter de que meenvergonhar. Eu devia e tinha de pagar... Havia semeado a dor em seara alheia, havia conspurcado o

    lar alheio, dera-me em outros tempos a causar horrores e loucura.

    Eu e Ana, em vida anterior, sendo responsveis por dois lares, tendo sobre o que pesar comas atitudes menos elegantes, nem por isso nos demos a respeitar o que manda o esprito da Lei;abandonando os respectivos lares, deixamos de um lado uma me e dois filhinhos e de outro um paie seis rebentos, todos entregues ao mar das incertezas e aos aguilhes do desespero. Afronta eoprbrio foi a farta semeadura de nossos dias! E como no ter de pagar? J disse algum que fcil,cmodo e aparentemente respeitvel, praticar um ato material e ofert-lo a Deus, guisa de religio.Com isso chegar a sentir desobrigada a prpria funo de obrigao espiritual. Mas, quem disse queo Cu pediu isso? Quem foi que serviu a Deus, colocando ofertas materiais em lugar de a esdecentes?

    Fosse espiritualidade o ato de oferta material, e eis que os abismos no teriam a queinstncia judiciria prestar servio! Contivesse regular soma de respeito o fato de estarmos deacordo com o prprio modo de pensar, quando cremos em doaes exteriores, e todos ospaganismos de todos os tempos teriam feito a emancipao do esprito que transita h centenas demilhares de anos pelas brenhas da terra slida e pelos vales das regies astrais. No entanto, felizes,bem felizes, somente aqueles que se valeram da senha nica o amor no trato para com os seusirmos de jornada.

    Sou disso testemunha cem por cento. Esqueci o dever para com o meu lar, abandonando

    mulher e filhos, sem contudo deixar ao lu das cogitaes a dobragem de joelhos diante de altares eoutras contries do menu litrgico. Dizia para comigo, que todo homem tem direito a um tanto de

    cauda, conquanto no implique isso em abandono das coisas da f. Mas assim no determina aOrdem Suprema. E no tendo fora de Lei o que feito pelo homem revelia da Lei, s tinha defato de esbarrar nas prprias aes. E esbarrei de maneira violenta! Foi um tranco cruel, sofrido emface de meu equilbrio o mais ntimo, um choque que me atirou por inteiro aos braos das trevas!Foram anos de romagem dolorosa pelos rinces inferiores, onde trevas e gemidos, uivos lancinantese antemas se oferecem em catadupas apocalpticas.

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    Um milho de vezes prefervel qualquer dor das de que pode ser ofertante a vida na carne!Todas as lepras, todos os cnceres, nunca somariam em igual ao que se herda por valados tais! Depar com a turbulncia fsica, porque h um fsico, levantam-se, de dentro do ser avalanches demonstruosas coaes de ordem espiritual, moral e mental, a ponto de enlouquecer, se fosse, se paratanto tivesse mrito o infeliz viajor de tais plagas! A loucura seria uma beno.

    No obstante tamanha investidura infernal, ainda vim de ter de perder, em futura vida, aoobjeto de todos os caminhos de minha alma. No atribuo seno a Deus, tanto que a amava, a graade ter vencido a to cruel transe. Todos os apoios de familiares e conhecidos, principalmente de doisfilhinhos que ficaram sem me, de nada valiam, parece que de fato no valeram em coisa alguma. Oque valeu que eu tinha de sofrer, tinha de resgatar-me.

    Passei noites beira do rio, subi um milho de vezes ao alto da penha, fiz mil pensamentosescabrosos por dia; mas nunca tive coragem para atirar-me grotas abaixo, esfrangalhar-me nas

    quinas rochosas, depois sumir no estrondear das guas.

    No entanto, que maravilhosa era a paisagem! Naquele confim da fazenda, o esturio em que

    se convertia aquela infuso de belezas, sobre o que fosse faria a alma estrugir, menos porm rumo acoisas ttricas. As guas em revolta, desfaziam-se em estrondos e espumas, repiques e coroasalvssimas por cima de dorsos e lajeados milenares, indo recuperar-se ao longe, naquele espraiadoremansoso e potico, atingindo a franja sinuosa da mata virgem, por entre o que, nas pocas deenchente, rumorejantemente se lanava.

    Para bero de vida, isso sim estava bem. Nunca, porm, para tmulo do quer fosse, que issosaberia a sacrilgio. O belo no devia ser para as coisas vs, e menos, muito menos ainda para ocrime! A terra se testemunha como mundo embrionrio em evoluo, quando seus expoenteslanam mo do bom e do belo para aquele fim que aviltamento. Nos cimos espirituais entre tica eesttica no tem cabimento cogite-se em possveis lacunas. Fatores entre si paralelos por fora devirtudes, deles no lana mo o homem com o fito de profanao. A tica humana em tais paragens, cultivar pelo amor, desenvolver pela devoo e utilizar pelo mesmo sentido santificante de vida.

    No entanto, Ana fizera daquilo escrnio o seu sarcfago e a minha cela de penas e lgrimas.Minha mente conturbada, at mesmo abalada em seus dispositivos ordinrios, dera por mostr-la aemergir das guas, a clamar, a exigir salvamento, por meio de gemidos que se perdiam na escuridoda noite e no cntico alegre do dia. Assim a vi e ouvi, de fato ou por suposio apenas. Levantava-me, espetava o poder de viso, aguava os ouvidos... E tudo se perdia, de novo, nas brumas da noiteou nos clamores do dia.

    As aves, festejando a alvorada ou lastimando o pr do sol, e os peixes a espadanar cata de

    insetos ou uns a outros, nada do que me ia pela alma sabiam. Eu curtia a minha dor, o meu tugrio,bem ao p daquela natureza soberba em fragrncia. Do firmamento azul no sumiram as luzinhaspiscantes; nem deixou de pender o sol; jamais faltou o passeio dos flocos gasosos pela tela azul do

    cu. O cu e a terra no tomavam conta de minhas angstias! Enquanto o caudaloso rio de minhaspenas transbordava por sobre as dunas de minhas impresses recalcadas, o mundo inteiro vivia a suavida, o seu destino. Os programas no se confundiam, cada um valia por si.

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    Certo dia, penetrando cabisbaixo casa a dentro, sob o olhar triste de dois orfozinhos que demim deviam desejar mais, tive pela frente a figura veneranda de Sinh Marta, mestia de ndio eportugus, cuja idade bordejava os oitenta.

    Sinh, v bem o que faz... Essas crianas no podem ser vtimas assim de sua fraqueza...

    Permaneceu quieta por alguns instantes, temendo qualquer reao de minha parte, masprosseguindo, a seguir, num assomo de coragem:

    Desculpe-me, mas j tempo de levantar a cabea... Esse menino e essa pequerrucha,como v, no podem continuar assim...

    Sinh Marta tinha razo, farto estava eu de sab-lo. Mas a vida, aquela vida foitranscorrendo, por dias e mais dias. Aquela velhinha boa era o esteio da casa, a seguran a de tudo etodos. Vinha de servir a meus falecidos pais e ali estava, firme na sua envergadura de nobreza,

    sobranceira por sobre os anos e a alvura de seus cabelos. Cedia, pouco, muito pouco, ao guante do

    tempo; mas no tinha ao que apelar, como nenhum mortal tem, encarquilhando-se cada vez mais,curvando sobre si mesma o peso do corpo, a quem tanto de obrigaes atribua.

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    DE TUDO CHEGA A HORA

    Naquela manh invernosa, e precisamente por assim ser, dei-me ao leito por pouco mais docostume. E sonhei um sonho terno, um deleitoso deslizar por cima de nuvens, sendo que minha meme conduzia pela mo. Coisa estranha! Antes de acordar trouxe-me beira do leito, havendo dito:

    Hoje tarde, com o sol quente, vs rochas e deite-se a ponto de dormir, ouviu?... Erepetiu isso por vezes, tendo-lhe eu respondido favoravelmente, por sentir em mim mesmo que

    assim devia ser.

    Ao acordar, naquele mesmo repente, tinha de tudo a mesma noo, a mesma certeza, aconscincia exata de que assim seria o melhor e mais justo. Em minha alma reinava tamb m umnimo novo; um prurido de f e novas esperanas. A vertente interna aflorava em jorros de vida e

    anseio de novas pocas. Eu me estudava, focalizava-me e com ou sem explicaes consentneas, ouaparentes, assim me surpreendia. O sol brilhava, de novo, nos horizontes de meus dias e de minhas

    obrigaes!

    Posto em p, fui cozinha, onde Sinh Marta reinava, contando-lhe o maravilhoso sonho,todinho, detalhe por detalhe.

    E ela disse suas coisas:

    Valha-me Deus!... Rezei tanto por Sinh urea... S mesmo Deus querendo e Sinhurea aparecendo!...

    Olhando-me bem no rosto, com aqueles olhinhos que se perdiam no fundo das covas

    obiturias, inquiriu:

    Sinh, vai s rochas?... No v faltar!...

    Claro que irei, Sinh Marta.

    Mas tenha cuidado!... Fique em lugar seguro...

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    O dia transcorreu com sabor e interesse por tudo. Vi a meus filhos com outros olhos, mimei-

    os, senti vergonha do j feito. Mas, que fazer, que dizer, como inculcar-me tanta culpa, se, afinal,contra mim mesmo, se levantava aquela tempestade dentro de mim? Assim como ao homem no dado poder contra os tufes e cataclismos telricos, assim tambm nada podia contra um mal dealma que das profundezas de mim mesmo se levantava, pondo-me a vida em tresmalho.

    Aquele dia, porm, foi um dia de reconquista feliz!

    Agora vou ao penhasco! disse a mim mesmo, pelas trs e meia da tarde, sobraando unssacos de estopa, para deles fazer pelo menos travesseiro.

    Desci margeando o rio, venci aqueles dois quilmetros e pouco, subi o ltimo morro eencaminhei-me s rochas, tendo arrumado lugar seguro numa cavidade. Via apenas uma nesga dohorizonte; nada do rio, s ouvindo o ronco das guas em revolta. Arranjei os sacos de modo tal,ficando com as costas apoiadas em maciez e a cabea regularmente instalada. Procurei toparMorfeu, frente a frente.

    No sei precisamente quando tenha adormecido; mas sei que ouvi dizer, com voz firme eimperiosa:

    Tire os sacos debaixo do corpo e da cabea!

    Devolvido conscincia por advertncia to inesperada, mas feliz pelo ocorrido, atirei ossacos ao rio, calcando a cabea na face granitosa da pedra.

    E fiz, de novo, por adormecer.

    Pruridos suaves, ento, passaram a me acariciar todo. Era como vagar sobre nuvens,cavalgar a prpria brisa, do ir ao embalo de cnticos anglicos. E sa, naturalmente que sado corpo,vendo-o ficar para ali, deitado na frincha da rocha, como se me fora coisa de imensa import ncia.

    Condenados aos grilhes carnais, muita vez, lastimamos o fato; em vendo a mquina paraali, como utenslio primoroso, senti o quanto lhe apreava. Tangido por algum, revi na minhamemria a tudo quanto podia ter j feito e vivido. E senti que devia quele instrumento um mundotodo de dvidas!

    Venha, filho! convidou-me minha me, estendendo-me a mo carinhosamente. Fuicom ela e permaneci no ar, sobre o rio, sentindo a alma em deleite e o corpo, porque tinha um

    corpo, em ponto de pluma. Era leve, feliz, superior.

    Isto, tornou a dizer minha me, o incio de uns trabalhos. Temos que cooperar nosservios de Jesus e Suas legies amorveis; devemos obrigaes, Terra e sua humanidade. Voc

    vai contribuir para espraiar o Consolador no mundo, que, como promessa do Cu humanidade,fornecer-lhe- informes preciosos sobre a vida e seus confins, a Terra, e o infinito que a cerca.

    Farei o que Deus queira, mame...

    Procure dar de si o possvel, assim como tem com que faz-lo, sem julgar jamais queDeus lhe venha a faltar com apoios. hbito do homem atribuir a Deus a responsabilidade de suasnegligncias. No quero, portanto, que pense sobre Deus com imposies quaisquer; quero que faa

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    o possvel com o que tem e pode. Deixemos as ferramentas que no temos em paz, lembrando que obom trabalhador usa do que tem para produzir com satisfao o que lhe esteja ao alcance.

    A senhora sabe que nada entendo destas coisas...

    No fundo da mala velha, esto jogados uns livros... Tire-os para ler.

    Est bem, mame. E dou graas ao bom Deus.

    Naturalmente, e volte ao seu corpo.

    E com isso, arrastado como que por um vendaval, dei acordo de mim; tinha a parte da

    cabea dolorida, mas tambm tinha a alma transbordante de alegria.

    No andei at a casa; corri, ansioso por relatar a Sinh Marta o ocorrido. E ela, marejantesos olhinhos fundos, nada disse, nada pde dizer. Olhou para cima, como que a buscar um Deus defora prosternando-se ante Ele, no santurio de sua alma bem formada.

    Deixei-a entregue a suas meditaes, indo para o meu quarto. E orei com fervor, assim como

    nunca tinha feito em toda a vida. Depois, revolvi a mala velha e retirei dela uns poucos de livros,dentre eles quatro espritas e dois ocultistas, todos editados em Portugal e trazidos para o Brasil porum tio de muito falecido.

    Nunca os havia manuseado; mas sempre seria tempo de o fazer. E ali comeou a minhabusca terica sobre as coisas do homem, que so as coisas do esprito. Das coisas de Deus, porqueso as coisas do homem. E nesse amlgama terico-prtico, de tal modo me enfronhei, de tal jeitome fiz apstolo, que hoje, dou por graa de Deus o assim ter conseguido realizar. Porque, enquantoos sublimes ensinos passavam das pginas prdigas aos recessos do meu entendimento, aos arcanosde minha conscincia, em evidncia de aes decentes fazia por transcorrer os dias. E posso afirmarque era isso, justamente isso, o que Deus esperava de mim. Alis, isso o que espera de todos, pois

    que de palavrrios forro est o mundo, no sendo menos certo, tambm, estar besuntado deformalidades presumidamente repletos de virtudes absolutistas.

    Todo caso, os que compram ou os que vendem tais formalidades, sejam elas de teor material

    ou intelectual, no provam, e nem jamais podero faz-lo, a eficincia de seus argumentos. Osmeneios so feitos com esmero clssico, e com grande pompa a distribuio, bem assim comoprincipesco o preo; mas, para todos os efeitos, a comprovncia do valor intrnseco zero! Tereissempre disso a prova, somando o nmero daqueles que se apresentam nos vossos trabalhos prticos,apesar das muitas regalias adquiridas, como simples viajores da inconscincia e, no raro, dodesespero. E que lei salvadora o amor! que em Deus no prevalece o princpio de dissenso! Epor ser assim, irmos mourejam pelas regies menos recomendveis, e algumas at indescritveis,apaniguados de todos os credos e matizes de credos.

    A lei simples quem no souber, busque saber; quem souber, faa por praticar. No sepode ser eternamente ignorante e nem negligente sem responsabilidade. A lei de progresso umfato e a maior soma de conhecimentos implica em maior grau de obrigaes. Ningum poderia fugira essa regra natural.

    Fiz-me, portanto, bom leitor e regular praticante.

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    COISAS DE SINH MARTA

    Dias depois do sublime encontro, estando mesa a tomar caf, notei Sinh Marta em algumalvoroo; ia, vinha, fazia trejeitos, encarava-me e l se a de novo, triturando pensares que sei l.Quando uma criana lhe pediu qualquer coisa, estava alheia a si, ao meio, pairando em zonas demeditao que era difcil descobrir.

    Por sond-la inquiri:

    Ento, Sinh Marta, sonhou com algum lobisomem esta noite?

    Ela, volvendo-se depressa, pondo-se esttica por longos minutos, nada disse. E quando quisdizer coisa, fez um gesto de reconsiderao e no falou. Foi para os seus que fazeres e, por isso,deu-se fim a um plano qualquer que lhe vagava pelo esprito.

    Saindo eu para ver a porcada de raa que havia adquirido, encontrei-me com o senhorViosa, nordestino de muito radicado em terras do sul, casado com senhora portuguesa, pai de umanica filha, e que fazia as vezes de melhor entendido em certos empreendimentos, como porexemplo no caso dos porcos.

    Belos animais! exclamou ele, em seguida ao cumprimento trocado.

    Valem o preo.

    O homem ps-se-me frente, feio expansiva e amiga, convidando:

    Quer fazer o favor de me dizer, senhor Cabral, se est passando melhor ou pior? Confesso

    que tenho curtido preocupaes por via do seu estado de alma. O senhor precisa reagir... Contudonestes ltimos dias parece que tem estado diferente...

    Fiz-lhe o gosto:

    Passei, certo, por um longo tempo de amargor quase insuportvel, senhor Viosa; mas,a coisa vai passando, passando... Se Deus quiser...

    O senhor podia... aventurou ele, vagamente.

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    Sim, mas Deus que sabe retorqui, sem saber ao que aludir.

    isso mesmo... continuou, reticencioso.

    Ento, volvi aos porcos:

    Quando teremos a primeira cria, senhor Viosa?

    Ele contou nos dedos e sentenciou dois meses. Mas sua mente pairava em outros campos, de

    cometimentos, o que me fez dizer de vez:

    Quer fazer o favor de dizer-me em o que esto pensando? L em casa, Sinh Marta estavaembaraada por pensamentos que no ousou declinar; aqui, encontro o amigo em situao idntica,a planejar o que no revela. Que significa isso?

    O bom homem empalideceu, mas foi dando conta do que lhes ia pela alma.

    Gosto de que me considere amigo, senhor Cabral. Comprazo-me em s-lo, bem assim,como todos os meus. E por isso, por isso mesmo, quem sabe?... Bem podia o senhor tentar uma

    sesso de Espiritismo... Por que no lhe faria bem?...E estacou, firme, francamente procurando nalguma reao do meu semblante a anteviso da

    resposta. E fiz-lhe ver, ento, que tudo era procedente:

    E para isso era preciso tanta dvida por parte de gente da casa?

    que Sinh Marta me disse umas coisas...

    De ter eu conversado com a minha falecida me?

    Sim, senhor... E como ns fazemos nossas sessezinhas, s vezes, pode ser que o senhorqueira tomar parte, o que para ns, seria de muito gosto.

    Que acanhamento tolo, meu amigo!

    Que simplicidade! Pois temos facilidade para tudo, em meio ambiente, pessoas e

    conhecimentos.

    E eu a imaginar que premeditavam um terremoto!...

    O senhor Viosa sorriu, muito satisfeito, mas ponderou:

    Nem sempre assim, senhor Cabral; a gente encontra cada coisa por este mundo deCristo. Pois no matararm o Cristo por causa dessas coisas? Foi por andar Ele a ter tratos com osespritos, expelindo aos malfeitores e mantendo contactos com os benfeitores, e no por outra razo,que O pregaram numa cruz! E o senhor pensa que no fariam isso de novo, se pudessem? Ora sefariam! A ignorncia o nico diabo que existe!

    Eu quis passar adiante:

    E quem mdium na sua casa, senhor Viosa?

    Minha Augusta. Tambm a filha est tendo umas atuaes, mas muito de longe.

    Fez um lapso e acrescentou, convidativo:

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    Hoje, e todas s quintas-feiras, fazemos sesses... E estaremos sempre s ordens, senhorCabral.

    Nesse nterim aproximou-se dona Augusta, sua esposa, tendo--lhe dito ele, em tom alegre:

    O senhor Cabral entende de Espiritismo. Bem nos poderia auxiliar...

    Tive que lhes dizer do pouco ou nada de conhecimentos de que era possuidor, mas de estar

    sempre pronto, para aquilo em que pudesse ser til. Eles deram-se a uma alegria espiritual muitointensa, com o que tambm me rejubilei.

    E rumei para outro local da fazenda, no muito distante da casa, onde tinham plantado,havia mais de um sculo, talvez, algumas dezenas de jaqueiras. Eram rvores frondosas, e estavampendentes dos galhos e ramos, belos frutos. Ali havia mandado colocar pedras muito grandes,

    regularmente aparelhadas, para servirem de bancos. E foi sobre uma delas, que me sentei,

    reclinando a cabea num tronco, para meditar nas coisas da vida, nas do mundo e na simplicidade svezes sem mesura, da gente do serto.

    Passava, portanto, um olho retrospectivo, no que me houvera sido forado passar nosltimos tempos, no deixando de estimar em muito ao que me viera de ocorrer nos derradeiros dias,coisas do Cu e da Terra que vinham em demanda a meus anseios de vida, paz e ventura. E tudocomeara com a viso de minha me. Qual a razo disso tudo? Ela havia dito que era precisocontribuir para o desenvolvimento do Consolador no seio da humanidade. Ento, aquilo vinha emabono de meus interesses pessoais ou era a bem de um programa visando o bem geral? Sem d vidaque, de um modo ou de outro, estava em face de acontecimentos deleitantes o qu o surpreendentes,quer para o intelecto, quer para o moral.

    De onde vem isso? Para onde marchar! A que fronteiras do saber e dos anseios de alma noslanar? E convinha com as sentenas bblicas, com as profecias do Senhor, lembrando que taisservios deviam ser feitos por homens, pois a quem atribuiria Deus a funo de trabalho sem ser aseus filhos? Nesse caso, como em qualquer sentido de aplicao, e acima de tudo pelo montante daobrigao, tinha de haver maior necessidade de devotamento causa. Saber e agirdisciplinadamente, tal era a medida a adotar. E Deus poria as coisas no rumo certo. O que pensava

    era bom e o destino das coisas e dos seres, como de sempre, repousava na Sabedoria Suprema.

    Causava gosto poder pensar assim. E me entregava ao devaneio, assim como a folha do

    arbusto margeante cai na gua e conduzida. Ia entregar-me por inteiro aos aprazveis meditares,quando ouvi que me chamavam, de longe, de muito longe.

    Cabral! Cabral!...

    Quis por-me de p, mas no pude, no o consegui de maneira alguma. Estava preso,impossibilitado de qualquer outra ao que no fosse a da mente. Todo caso, sentia o que poderiaser, no vindo, por isso, a assustar-me.

    Querendo falar e no o conseguindo, dei-me a pensar em Deus, em minha me, nascoisas do Cu.

    E foi quando de novo ouvi:

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    Cabral! Cabral!...

    Mas que poderia eu fazer? Nem sequer podia responder!

    E a voz prosseguiu.

    Cabral! Cabral!... Venha e veja! ...

    Contudo para mim mesmo pensava mas ver de que jeito se nem posso abrir os olhos?

    Depois, sem ouvir nada, sofri um arranco, um choque violento, mas sem poder atinar em

    que consistiria ele. Todo caso, tinha acontecido alguma coisa diferente, interessante. E fiquei espreita, todo alerta, a ver se alguma coisa aconteceria, que me trouxesse qualquer informao.

    Aconteceu mesmo:

    Venha e veja disse-me minha me, aparecendo-me toda vestida de branco, e azul,sorridente e feliz, portadora de uma felicidade que parecia atingir os extremos do possvel.

    E querendo segui-la, pude faz-lo. Mas ela, olhando para trs, mostrou-me o que ficara:

    Veja o seu corpo denso. E d graas ao Senhor dos mundos e de tudo, porque isto maravilhoso!

    Olhei, vi, mas no me fez sentir nada estranho. Tudo era comum, simples, ao talante do Cu.Que fosse tudo para onde quisesse Deus.

    Num repente, eis-nos em plena estrada que conduzia fazenda prxima, de que eram donosEliseu e Gisa, gente muito amiga. Vinham os dois a cavalo, conversando sobre ns, falando emvender-nos a fazenda.

    Interessante! disse eu a minha me, reparando que os acompanhava, sem estarmos nsmontados.

    Eles querem ir para outro lugar, onde possuem maior nmero de familiares, de sorte que,vem para lhe oferecer a fazenda. Eu quis fazer-lhe isto, para que daqui surjam outros agradveisacontecimentos e outras ocasies de testemunhos, a bem da Verdade. Ns, posso dizer-lhe, noperdemos tempo, quando temos em mos encargos que nos foram entregues. Pensamos hoje para oamanh, para depois de amanh e por muito alm, at.

    Compreendo, mame. E sou-lhe muito grato por isso.

    Agradea ao Supremo Senhor e ao Seu Ungido na Terra, porque Deles que tudo estvindo. E vamos ao seu corpo, que precisa receb-los. Veja, esto quase a chegar.

    Pensado e feito. Despediu-se ao p de meu corpo, havendo recomendado:

    Diga-lhes do ocorrido, para servir de testemunho, ouviu ?

    Voltando conscincia, levantei-me e corri, mandando encilhar um animal. Este pronto,cavalguei-o at encontr-los, pouco alm da segunda colina, junto de frondosa figueira, por baixo deque passava a estrada. Estavam sentados, marido e mulher, num tronco avantajado de perobeira, ali

    posto propositalmente, para o descanso dos viandantes que quisessem faz-lo.

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    Ora! Ora! fez Eliseu, esfuziante de alegria. Agora que o estamos a visitar vai de

    viagem ou passeio?

    No, meus amigos, venho ao seu encontro... Minha me mandou-me fazer assim, e assimo estou executando. Ela me trouxe a v-los quando passavam pelo areal, ao p daquela renque depalmeiras, justamente quando discorriam sobre a oferta da fazenda que me vo fazer. E disse-memais minha me, que vo para longe, para lugar onde possuem muitos outros familiares.

    Como cessasse a fala, vi-os boquiabertos entreolharem-se consultivamente, mas em extremo

    alegres. E Gisa, a esposa de Eliseu, balbuciou:

    Muito bem, senhor Cabral, isso mesmo... Folgamos que se dem assim as coisas doesprito, pois somos principiantes nessas lides. Quer Eliseu ir daqui, e presto, em virtude de haverfalecido seu pai. Tem o que fazer pela famlia.

    Quando a esposa findara seus dizeres, coisa que muito me maravilhara, Eliseu, pondo-se

    altamente expansivo, abraara-me e dissera-me palavras de muita considerao. E fazendo um gestode assentimento, proferiu:

    Seja tudo como Deus e o Cristo quiserem! As Escrituras esto cheias de fenmenosassim, e os espritos dizem que a lei sempre a mesma, podendo-se querer a repetio dos mesmos.E eu acho, verdadeiramente, que a vantagem nos valer das mesmas leis, elementos eoportunidades, para reproduzirmos os feitos. Falar, dizer, proclamar que os Patriarcas, os Profetas, o

    Cristo e os Apstolos destas coisas foram cultores, isso no religio. Ao que til e verdadeiro,deve-se honra prtica!

    Trocados mais uns pensamentos, eis-nos a cavalo e rumo ao meu domiclio.

    Chegados, tristeza cruel invadiu-me a alma. Foi ento que senti em mim vir tona, num

    mpeto irrefrevel, a saudade daquele vulto adorvel que era Ana. Quem faria, agora, as vezes desua alma socivel ? Onde estaria a penar a pobrezinha o triste desvario? Pelo menos, em casa n oestava para ser a anfitri modelo, a figura centralizadora de todas as atitudes distintas. Foi a custo,pois, que suportei os olhares tristes de sua amiga, a senhora Gisa, como que a procur-la, sem acharapoio para seus sentimentos e saudades.

    Ana, de qualquer forma, fazia muita falta ao meu redor! E de saber que no morre jamais oesprito, sofria em pensar sobre onde e como estaria. Foi o que em primeiro focalizei na troca deidias:

    Como me faz falta a minha Ana! E onde estaria?...

    Os dois amigos, entristecidos, nada disseram. A saudade os invadira. De outras feitas, a casase convertia em ambiente de festa; agora, seu vulto ausente comprimia todos os coraes, tangialugubremente a todas as mentes.

    Mas era preciso vencer. E foi com lgrimas nos olhos que pensei em minha me, nosespritos do bem, por quem Deus serve aos encarnados. E a conversa girou sobre o negcio.

    Eliseu sempre muito franco, e direto, disse que queria vender e o preo. Um preo deverasconvidativo, dadas as condies da fazenda e seus mltiplos recursos em potencial.

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    Acrescentou ainda:

    Isso para o senhor, que h de arranjar nova companheira e fazer vida de verdade...Para outro no venderia assim...

    Estudou-me por um pouco e concluiu:

    E se no dispuser de tudo j, fao combinao. Afinal, quero que a fazenda fique em suasmos. Anexada s suas terras, forma timo complemento.

    Sou-lhes imensamente grato. E creio que tenho com que satisfazer o compromisso de

    compra. Mas, por que tanta pressa em se irem daqui?

    Alegaram as razes j mencionadas necessidade de amparo genitora, que ficara viva.

    Ns, disse Eliseu de qualquer modo teremos de ir. Minha me ficou s e devemos-lhe muitas obrigaes. Queremos, agora, ser-lhe gratos.

    Quando Sinh Marta nos chamou para o almoo, a conversa girava em torno da fazenda e

    suas coisas; assim, porm, que nos sentamos mesa, Gisa recomendou: Agora proibido falar em coisas subalternas... Vamos falar de Espiritismo.

    Eliseu, intervindo, ventilou:

    Que o senhor Cabral diga mais alguma coisa sobre o fenmeno de hoje, porque,francamente, foi de surpreender. Nunca soube de coisa assim! O homem foi-nos ao encontro e ainda

    nos ouviu a conversao!...

    Disse-lhes, ento, como a coisa comeara, l no penhasco, a mando de minha me. Nadamais, porque nada tinha mais a dizer, de ordem pessoal. E enveredamos pelos relatos b blicos, epelas experincias de grandes vultos, para ao cabo de tudo Eliseu rematar:

    Realmente, a coisa como , valendo por si e no pelo seu histrico. Se nada contivessea histria em favor de tal tese, ainda assim seria como , um fato merecedor de estudos. De minhaparte, como julgo ser tudo manifestao de um PRINCPIO BSICO, ao qual chamamos Deus, anenhum fenmeno reputo impossvel, somente considerando que devemos observncia a certas leis,para que possam se dar e repetir, no tempo e no espao. E julgo, tambm que as caractersticas demilagre e mistrio, com que os credos formais engalanam desde sempre a tais manifestaes daparte dos poderes transcendentes, ou das foras ditas ocultas, muito tm prejudicado a humanidade.Afinal, uma coisa s pode ser feita daquilo que o TODO ; e sendo assim, onde o milagre? Ehaveria mais respeito em adular a um SER SUPREMO, por meio de rituais e besuntamentos, do que

    em LHE reconhecer o direito de ser a ORIGEM COMUM de tudo e todos? Ou andaria esse

    DIVINO PRINCPIO cata de babugens formais antes que reclamando Sabedoria e Amor? O fatode os credos organizados terem sempre recorrido a programas materiais, a fim de meio de vida, pois

    sem dinheiro a falsa espiritualidade no sabe amar a Deus, ou fazer de conta, isso mesmo tem sido oentrave s melhores conquistas. Os Livros Sagrados fazem-nos, obrigam-nos a aceitar a

    fenomenologia medinica como o fator sine qua non da religio. Sem Revelao a Religio

    transforma-se em chicana. E o mundo religioso comprova-o exuberantemente, pois no ntimo, todosos credos plenos de organizaes sacerdotais, vivem em funo de uma arrecadao pecuniria e

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    no espiritual. O lado espiritual, que no d de si provas, vale apenas como figura de fachada.Moiss e o Cristo, bases da Bblia, foram os cultores mximos do mediunismo.

    Tomou um flego e prosseguiu, visto todos lhe ficarem espera:

    Devemos, para tal compenetrao atingir, tomar por base o feito daqueles dois grandes

    Chefes; porque fundamentaram suas obras em fenmenos reveladores, medinicos, feitos queconstituiam, por si s, o testemunho de suas investiduras. Moiss assombrava e convencia pelasobras fenomenais que provocava, vindo a ser o primeiro a Batizar em Esprito. Deixou um lastro desetenta homens, com mediunidade manifesta, como ponto de partida do primeiro batismo coletivo

    havido na histria religiosa do Planeta. No nos esqueamos do captulo onze do Livro de Nmeros.E com Jesus Cristo, o renovador do Batismo de Esp rito, e o mais sublime enviado, tudo no se deuem bases medinicas? E a renovao do Batismo, no foi toda ela profetizada? O captulo dois doLivro dos Atos, no foi delineado por Jesus, antes da crucificao?

    Tomou um trago de gua e concluiu:

    E teria sido para nada, para tudo ser pelos cleros adulterado, que dois Batismos tenham

    sido lavrados no mundo? Onde foram buscar autoridade para faz-lo, esses vendilhes dos templos,esses falsificadores da f, que pelo mundo enxameam? Porque, francamente, estudando osfundamentos deixados por Moiss e Jesus, temos que convir em uma divisa nica a estruturaespiritual por excelncia, repousa exclusivamente na ao medinica ou revelacionista. E emboraseja cansadio repeti-lo, devemos dizer que Paulo, o grande Apstolo, o nico que prescreveu ummodo de reunir aos seus missivistas, f-lo base dos dois Batismos. o que aprendemos, emigualdade de condies, nos trs captulos: o onze do Livro de Nmeros; o dois do Livro dos Atos;e, o quatorze da Primeira Epstola de Paulo aos Corntios. Gostaria de saber, em nome de queautoridade os cleros formais solaparam tais fundamentos indicados por Deus! Eu gostaria de saber,

    a bem do que o prprio Jesus Cristo teve o Seu Batismo de Esprito, de comunho com o mundoastral e testemunho nas aes humanas, convertido em obra de idolatria, por uma naoimperialista, cujo nico intuito era pretender o domnio do mundo e afogar-se no paganismo! Sim,seria bem interessante saber, por que Roma, que viu o Caminho do Senhor ser cultivado em bases

    medinicas, at o quarto sculo, achou em seguida, por interesses no s subalternos masfrancamente criminosos, que devia elimin-lo! Bem houvera, pois, o Apocalipse, afianado que umabesta se levantaria, para conspurcar o Lugar Santo, coisa que, mais tarde, reclamaria trabalhos

    restauradores.

    Ao trmino de tais comentrios, o almoo coincidia. Mandei, ento, chamar Viosa, que nosofertara suas sessezinhas espritas, a fim de sondar no sentido de uma sesso, para a tarde,

    enquanto Eliseu e Gisa eram presentes. E o bom homem veio, acompanhado de dona Augusta e suafilha Catarina, com o propsito de realizar a sesso.

    Foi de grande alegria para mim essa disposio do nordestino; eu nunca havia assistido auma tal coisa. Para melhora de meu entendimento, Eliseu fez-me ler os trs captulos acimamencionados. Depois de t-los lido, indagou-me ele:

    Diga-me agora uma coisa; que espcie de culto deixaram no mundo Moiss e o DivinoMestre?

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    Sem dvida no deixaram cultos pagos, forjados por homens, ou doutrinas que tais, esim o culto da Revelao, para as transaes com os agentes do plano astral da vida. Isso, pelomenos, o que se depreende da leitura dos textos bblicos, principalmente daqueles que dizemrespeito s aes de Moiss e Jesus Cristo, sendo tambm esse o proceder dos grandes de Israel.

    E o bom amigo emendou:

    Pois o Espiritismo a segunda e no a primeira restaurao! Saiba-o quem quiser, porque de fato assim, em face de Deus, da VERDADE e da Histria.

    Eu pensava que soubesse pouco em matria de Espiritismo!...

    Disse ele, ento, da origem de seus conhecimentos:

    Tenho em casa, guardados, muitos cadernos que contm grandes mensagens. Gisa boamdium e eu copio as mensagens, quando os agentes comunicantes disso fazem questo.

    Gostaria de l-las...

    Pois aprenda na prpria Bblia a fazer o seu melhor Espiritismo. Vindo imitar a JesusCristo, no uso dos dons medinicos, por certo que prosseguir em ordem, para adquirir aquilo queEle no pde dizer ento.

    E chegou o momento de realizarmos a sesso. Foi Eliseu o seu presidente ou o seu intrpretecarnal. Em minha alma, por imposio da tradio, armava confronto com a pompa vista nostemplos catlicos, pompa pag; ali estava, porm, para mim, sendo revivido o Batismo de Esprito.O cenrio era simples, caseiro, devendo estar a repetir, tambm, a paisagem material vivida pelosApstolos, segundo o relato daqueles captulos por mim de h pouco lidos. Configurei a cena doPentecostes e aquela citada por Paulo de Tarso; como poderiam ser outros os cen rios?

    Aos poucos, fui sentindo uma invaso fludica suavssima, deleitosa, fazendo tudo por a elaentregar-me. Quando a no sentia mais, estava fora do corpo, a ver tudo de cima para baixo. Oespetculo era de encantar! Mas, ao longe, era de estarrecer. Muita gente desencarnada havia, quesofria horrores sem conta! E muitos ostentavam vestes e galardes que os identificavam comosenhores de vanguarda nas escolas religiosas do mundo. No momento estranhei, por saber que essa

    gente presume salvar aos outros com as suas mezinhas formais. A seguir, vindo minha me para junto de mim, convidou:

    Seu pai e outros serviais esto em certo lugar, controlando a algum, que deve sertrazido hoje; vamos auxili-los?

    Ana, mame?...

    Ela fez um gesto lento de negao e informou-me:

    No, meu filho; Ana perambula por regio tenebrosa, porque carece de resgatar faltagrave cometida. Deposite confiana em Deus, que Sua Justia, no excede e nem negligncia. Maistarde, quando for hora, voc mesmo a auxiliar. Por ora, confia em Deus e em ns, para que a suafuno de crer no venha a fraquejar, diminuindo suas possibilidades. Ns precisamos, para vriosservios e feitos, de seus fludos animais eletro-magnetizados. E o modo de pensar e sentir faz

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    modificar a natureza das radiaes. Basta um abalo impressivo, para que o tnus perca o seuequilbrio e afete o resultado em aplicao.

    Muito interessante isso.

    Atalhou ela, sorrindo:

    Mas agora no temos muito tempo para entrar em detalhes. Vamos ao encontro daquelestrabalhadores de que lhe falei.

    Num arranco formidando, eis-nos em casebre, pauprrimo, junto de uma mulher de meiaidade, doentssima. Ali estava, ao seu lado, agarrado a ela, um agente espiritual de triste catadura.No era mais um homem de feies rudes, odiento, cruel, etc.; era uma fera terrvel e horrvel, ummonstro, um ser que, pelo mal em si nutrido e desencadeado, fora se degradando na estrutura

    anatmica, revolvendo em si os traos animais vividos no pretrito, a ponto de os apresentar em tomacabrunhadoramente expressivos.

    E como estava entranhado na pobre mulher!

    Eles, disse minha me, foram parceiros no crime. Mas foi ela que o induziu a tanto,razo pela qual, agora, procura ele vingar-se. A esto, me e filho! Ela, tendo enviuvado cedo,trilhou o mau caminho, e, depois, sobre tudo, ainda mandava ao filho que se apoderasse do alheio.

    Num roubo, noite, foi morto, tendo perambulado por uns anos atravs de zonas horripilantes. Emseguida, em cumprimento Lei, foi cientificado do que lhe havia ocorrido, vindo ento a querervingar-se. Como tivesse ela muito em seu passivo, teve ele campo livre. A esto, faz para cima dedoze anos, nesse entredevoramento geral. Ela s vezes o v e sente, ora por ele, arrependida, mas aJustia Suprema no se move por apelos comodistas e de ltima hora, regendo-se pelo reequilbrio.

    Meu pai chegou-se a mim e em transe mui feliz abraamo-nos. Creio que Deus saberia

    dizer, o que se passou conosco naqueles minutos! Estava remoado de muito, e muito mais alto doque era. Minha me, ela tambm havia crescido, se assim justo conceber ao que se passa aqui.Porque todos crescemos, uns mais outros menos, acontecendo isso at com os que medram naszonas no muito inferiores. Podemos aumentar ou diminuir de tamanho, bem assim como de forma,caso o desejemos; mas, em condies normais, sustentamos um tamanho que excede ao de quandoramos encarnados.

    Convoquemos os obreiros? inquiriu meu pai.

    Ns trs, somente, no o levaramos de forma alguma. retorquiu minha me.

    Ato contnuo, puseram-se a pensar com firmeza. E o efeito foi a chegada, quase imediata, de

    cinco poderosos vultos, mas poderosos no psiquicamente. Deviam ser e eram, de fato,trabalhadores de ordem inferior, mas os indicados no momento e para o fim devido. Assimchegados, tendo atendido ao que lhes ordenara minha me, truculentamente arrebataram aomonstrengo, tendo-nos posto de volta, imediatamente.

    Quando demos de novo entrada no ambiente de sesso, muito maior era o nmero de seresque presenciava ao ato. Creio que se havia multiplicado de muito. E um dos instrutores, este sim,

    poderosamente alto em espiritualidade, bradando aos milhares de sofridos seres, que formavam em

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    crculo, fez-lhes to grave, quo sublime exortao. Lembrou-lhes o caso todo, detalhadamente,firmando base nos princpios universais da Lei, perante quem ningum pai e nem me, filho e nemirmo, nem parente qualquer, sem ser em bases puras, que so as do amor e sabedoria. Resumiutudo a uma questo de Justia Superior, em face do que tudo e todos so iguais. Nem poderia aquelefilho intervir por sua me, naquela conjuntura, e nem ela por ele, sem ser atravs das leis de

    fraternidade, que no obedecem ao crivo dos laos consangneos.

    Os por eles roubados, fraudados, vilipendiados, tambm so iguais perante as leis da vida!

    Quem se julga com mais direitos, apenas o mais insignificante!

    A verdade no tem parentes prediletos; em seu seio no h lugar para privilgios e nemsinecuras de ordem qualquer!

    No amai-vos uns aos outros, no cabem os conceitos de raa, credo, religio, poltica, etc.!

    vs que sofreis! A culpa no de segundos ou terceiros, e sim de vs, e sim de vossasobras!

    O reino do Cu glria interna, s poder ser alcanado por desenvolvimento de virtudesinatas!

    No encomendeis a segundos ou terceiros a vossa edificao prpria! Jesus, o ExemploVivo, no prometeu favores a quem quer, nem disse jamais que os bens eternos seriamtransferveis!

    Olhai, pois, para dentro de vs prprios, que aest o tesouro celestial!

    Do SAGRADO PRINCPIO partimos todos, em idnticas condies, para ganharmos oReino da Verdade custa de sacrifcios pessoais!

    O dever coletivo do ser, para consigo, para com o seu prximo, para com Deus, nunca sermais e nem menos, do que em atos de Amor e Cincia. E aquele que se curvar ante as leisconvencionais, as religies de homens, os conceitos e preconceitos humanos, esse estar achafurdar-se em trevas!

    Quem vos livrou da tormenta, filhos do Senhor? Quem vos colocou em tormentas, filhos do Supremo Esprito? Por certo tudo se passou, e sempre se passar, em virtude de umaSuprema Lei, pois desconhece aos preconceitos do mundo, aos laos de sangue, aos crivosabsolutrios forjados por homens!

    O Deus de Justia e Amor, que no aquele pregado pelas religies, mas que o que ,esse coloca a uns nos braos de outros, a vtima no colo do algoz, o pai no regao do filho, omilionrio no seio da misria, porque o reajustamento, a sua necessidade, paira acima dos conceitosteolgicos do mundo!

    O Amor religio! O resto Cincia!

    E o Divino Modelo afirmou, em Suas obras, que pelo culto do Amor e da Cincia ohomem se glorificar, no custa de invocaes tericas estas ou aquelas. Na conscincia, portanto,de que todos somos iguais perante as leis fundamentais da vida, compenetremo-nos de nossos

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    deveres, para que os nossos direitos estejam, e permaneam, garantidos. Quis o Pai, em Sua Justia,que fssemos os fatores de nossos prprios destinos. No apelemos, pois, mais aos outros do que ans mesmos, no cumprimento do dever; porque vs mesmos, que estais me ouvindo, vindes devariantes credos do mundo, e de variantes raas, e de variantes concepes sobre a Verdade!

    Mas o ser receber sempre segundo as suas obras!

    E pelas vossas obras, a tendes a recompensa; que tendes, irmos, sem ser a dor portugrio, a misria por aconchego e a desiluso por teto? Quem, pois, no fizer do bem ao prximo asua profisso de sempre, risca-se do nmero dos felizes! Deus a todos, fez eleitos, e a ningum,especial; mas fez eleitos edificao prpria. No sero jamais achados os que entram de favor!

    Quem entra todo aquele que luta por entrar e a luta contra a ignorncia, por ser ela a origem

    de todos os erros!

    Tendes, pois, como teve este infeliz irmo, parentes consangneos; mas no tendes mais,por vs mesmos, do que a vs mesmos e ao prximo em geral! A Lei Suprema no divisora, semser entre os que obram o bem ou o mal.

    Quando o elevado mentor silenciou, minha me ordenou que pusessem o monstrengo juntoao meu corpo. Uma vez ali, foi preciso ser violentamente controlado. As palavras do mentor em

    nada o tinham convencido. Era rebelde ao extremo. Mas, em pouco sua fria foi cedendo, porque deargumentos violentos usaram contra ele aqueles trabalhadores j citados. Deviam ser peritos nacoisa. E como poderiam de outro modo proceder? Afinal, o bem tem os seus soldados e de algum

    modo precisam e devem agir, quando soa a hora. Se aos penitentes dizem de um modo sobre as

    coisas da Lei Suprema, aos impenitentes devem falar outra linguagem. Entre o bem e o mal, uma

    divisa h. Esta pode ser transposta pelo livre arbtrio humano mas, como uma Ordem Superior deEquilbrio impera sobre tudo e todos, a hora chega em que Foras Organizadas necessitam intervir.

    De qualquer modo, digam como quiserem crus ou incrus, um Pndulo Supremo age acima detodas as cogitaes, enveredando os homens e as coisas do Universo Infinito aos rumos devidos.Justia ao que devemos integral tributo. Sem Justia, para que serviria o prprio Amor?

    Bem sabemos o que se passa, no meio humano, em que, por inconscincia do que sejarealmente Justia, o amor dos pais, dos familiares, das raas e dos credos, transforma-se em vertentede separaes, de dios, de crimes de toda ordem. de outra Justia que tratamos, sem dvida!Uma Justia que, por ser Divina, no se filtra por convencionalismos humanos, por conchavismossectrios, por egosmos consangneos!

    Quem no participa da Sinfonia Universal, quem no ama universalmente, quem vseparao e a explora ao talante de seus desejos angustos, esse no tomar, de forma alguma, parteno banquete da espiritualidade superior. Seu prprio bem estar terreno, outra coisa no senopodrido qual se entrega, com prazer, em virtude de escravizao tradicional, multimilenar.

    E ali estava aquele infeliz irmo, brutalizado em extremo. Havia roubado ao prximo,subtrado aos outros. Fez obra de inteligncia? Poderia crer que sim, quando assim agia no mundodas formas; mas o viver oferece oportunidade a um dialetismo infinito! Nem se pode considerar a

    vida como sendo mais e melhor na carne, ou fora dela, porque, enquanto a emancipao de fato no

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    for organizada, para ser desfrutada em zonas superiores, sujeitos sempre seremos aos regressos, slutas, havendo sempre razo, para apreenses.

    Pai Deus! Princpio um s! Enquanto o ser encarnado julgar parentesco s o da carne, dosangue ou dos laos de famlia, bruto ser! A vida nos mostra que as posies se cambiam, o quantonos prova que existem belas amizades entre estranhos, entre criaturas de diferentes raas, credos ecores, enquanto se sustentam dios mais que sanguinrios entre irmos! Mais que sanguinrio, claro, o caso em face do qual nos achamos. de um negror que nenhum derrame de sanguepoderia remir, se ao crime tal condo fosse concedido.

    Venha ver! disse ao odiento ser minha me, quando o pilhou intimidado.

    E l fomos parar entre fogueiras, num lugar de se fazer Justia.

    Compenetre-se das coisas do bem, do perdo, deixando os caminhos tredos do rancor, seno quer ser posto a penar o inaudito. De nossa parte, como obreiros do Senhor, ningum sofreriatais horrores; deixamos a escolha ao diretamente interessado.

    O monstrengo olhou para aquilo tudo, mil vezes pior do que Dante descrevera, mas nadaopinou.

    Os serviais, lanando mos de instrumentos prprios, aguilhes agudssimos, foram-nocompelindo aos medonhos caldeires, que eram parte dos argumentos ao dispor dos serviais daJustia.

    E foi quando pela primeira vez falou:

    No! No! No!... Pelo amor de...

    Minha me o inquiriu:

    Pelo amor de Deus?...

    O brutalizado ser curvou a cabea sobre o peito, como que trado em si mesmo pelo medo,ou como que envergonhado das faltas cometidas. Minha me de novo o abordou, com carinho:

    Amigo e irmo, no se envergonhe de uma Suprema Lei, nem se proponha a uma atitudede ora em avante mais comprometedora... Ns o queremos como a irmo, e como soldadosque somos de um Poder Supremo, aqui estamos para dar-lhe, como de Lei, segundo a sua conduta.No lhe ser mais lcito fustigar aquela infeliz, que desempenhou no mundo a funo de me semesclarecimento. Tem dois caminhos por trilhar, no trs do ressarcimento ou das trevas. Sejainteligente e escolha com acerto, nesta hora augusta da sua histria.

    Ela foi a minha perdio! Quando no queria roubar, apanhava!... O mundo sempre foi bem grande; no era obrigado por Deus a fazer isso.

    A Lei manda honrar pai e me... respondeu, titubeante.

    Crime no honra. Honrar s pode ser no esprito da Lei, que em amor e justia.Quando a Lei fala em pai e me, fala em sentido genrico, humano.

    De qualquer modo, ela traiu meus afetos de filho!

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    De qualquer modo, devia pensar com a prpria cabea. A Lei, de modo algum abreprecedente ao crime. Nenhum pretexto a apanha em distrao. Logo, ordem errada no se cumpre,mesmo quando o convencionalismo do mundo outorgue em contrrio.

    Pela primeira vez encarou minha me de frente, concordando:

    A senhora deve ter sido uma santa me!...

    Num repente, eis-nos de novo no ambiente de sesso, com o homem a falar pelo meu corpo,j desamarrado. Eliseu falou-lhe com bondade, convidando-o orao, aos propsitos de redeno,por avisar-lhe que perdo no existe. O homem, ante as vistas pasmas de milhares de seres, aospoucos se foi tornando outro, assim como se filtro divinal o estivesse a contemplar com as novas

    luzes da vida. Ele deu-se a um pranto de reconhecimento, tendo sido retirado. Foi entregue a outros

    trabalhadores, que dele tomaram conta.

    Aquele alto mentor, ento, dirigindo-se multido de sofridos, clamou:

    Vistes o ocorrido! E no fosse hoje, s-lo-ia amanh ou depois, mas assim teria que ser!

    Ningum poderia lutar contra Deus e vencer! Tirai lio do que acabastes de presenciar, porque aslies da vida so as mais persuasivas! O Divino Mestre falou e ns no Lhe damos ateno; masquando a dor fala, ela que no meiga e nem sublime, mas sim repelente e cruel, ento lhetributamos obedincia! No sejamos imprevidentes em face da Lei; sejamos mais inteligentes!

    E desapareceu o grande mentor, deixando emps de si fulgurante rasgo de luz.

    Gisa e dona Augusta deram vazo a outros sofredores, mas criaturas bem mais ponderadas.Um deles era um preto velho, que fora nosso colono. Assim deixado o mdium, veio a mim, e comele troquei palavras. Tive nisso grande alegria.

    Minha me, falando por Gisa, disse palavras de maternal afeto a todos, detendo-se em Sinh

    Marta, para com quem distribuiu o melhor de sua alma. Fez-lhe ver que beirava a libertao, e queestava preparada, por uma vida de trabalhos, de amor a Deus e ao prximo. E isso ningum ocontestaria.

    Como minha me se mostrou grata cabocla que fizera em casa de empregada, de me e deav! Nossos olhos se marejaram, e com muitas razes. bem difcil de se poder discernir ao cabo,

    aquilo que em Deus simples e humilde! Hoje digo que, s conseguem ser bem simples os bem

    evoludos.

    Uma vez terminada a sesso, depois de algumas peripcias a mais, entramos a tratar donegcio a que viera o casal vizinho. E ficou decidido que o senhor Vi osa viria a ser o dirigente da

    nova propriedade. Foi uma tarde feliz, cheia de sol, quer para os sentidos fsicos, quer para a mente,quer com referncia s coisas do corao. Para mim, francamente, a coisa estava de exultar; o Cu esuas bnos, vinham sobre mim em jorros. Por que, ento, no ter a alma em frenesi?

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    AO RS DA VIDA

    Considero agora, experiente de mais subidos valores da vida em si, aquilo que em outros

    tempos seria simplesmente impossvel; considero o fato de sentir bem o que viver em sintonia coma vida plena, a eterna presena. Infelizmente, ora por milhes o nmero dos que se acreditamseparados de Deus, do Cu, de tudo o que sublime! E haver sentimento mais errneo do que esse,de sentir-se o homem afastado de si mesmo? Seria possvel, ento, ser da ESSNCIA que Deus eser alheio a Ele?

    Todo caso, ponderemos; porque, francamente, s mesmo ponderando que se chega aproceder com justeza, relativamente queles que dessa partitura no conseguem arredar o p.Ponderar, aqui, significa repousar o focal da razo em dois pontos bsicos de argumentao um

    a falta de evoluo e o outro a falsa educao recebida.A um esprito superiorizado, que arraste consigo emolumentos evolutivos adquiridos em

    vidas intensamente vividas, vidas que significaram marcas no campo das conquistas fundamentais,

    e fundamentos que valem por vnculos de espiritualidade a toda prova, em face de um ser desseestofo, dessa envergadura, no existe trofu idlatra, igrejeiro, formalstico, de ordem qualquer, queconsiga fazer dobrar a dignidade. A histria tem muito o que dizer, embora de poucos seres, arespeito do que asseveramos. Criaturas que, embaladas por ambiente e tradio, e at mesmocoagidas, souberam proclamar alto e bom som, o custo certo da realidade superior. Que fale o

    Cristo, e em seguida Lhe faam procisso todos aqueles que, a bem da VERDADE, um diasouberam enfrentar com serenidade o pelourinho infamante e cruel. Para tais topetes, nunca

    existiro vendavais ou procelas invencveis; parecendo por fora cordeiros frgeis, so por dentrorochas inamovveis!

    Fazem finca-p na grandeza do mundo interior, e, que morte poderia contra tanta vida?Podem parecer ao mundo esquisitos e alheios viandantes; certamente, porm, so balisas docardume humano!

    No entanto, cumpre ponderar, o grande nmero faz a vez do desnorteamento. Para ondeimpelir o lufa-lufa tradicional, o meio ambiente, o comodismo social, para l ir, empompado pelo

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    mundo e suas cortesanias, porque, verdadeiramente, nenhum cerne os indicaria a melhores

    expresses. D de si quem tem. E o grande nmero o que tem misria, muita misria,principalmente de ordem moral.

    Por isso mesmo, que ser apstolo da VERDADE no fcil, que nesse rumo firmemdiretriz, aqueles que dela cheguem a auscultar a presena. Perder tempo menosprezar oferta, cujagrandeza, s mais tarde, e s vezes bem tarde, se chega a precisar a extenso, consegue-se aquilataro mrito.

    O meu farol no acendeu por dentro, no me fez sair a campo de alma erguida e brunida,como o daqueles j citados; em compensao, quando de fora a rstia de luz me fez presente desublime viso, concitando o mundo mental a restrugir em alvoroos de espiritualidade sadia, nomais deixei que as sombras do paganismo acobertado, dissimulado, fizessem em mim figura de

    estado. Fiz da f esclarecida, da luz do realismo, o timo da nave em demandas magnficas. No quetivessem calado de vez os empurros do bolor tradicional; no que ramerres deixassem de vir tonade minhas recordaes, aspirando os zelos que antes lhes votava. O vcio reclama, at mais no

    poder, por meio de um trauma psquico, atravs do germe inoculado no recesso mais ntimo do ser,e estruge em forma de necessidade a mais obcecante. Adorar aos dolos, seja em que plano for dementalidade, de ordem mental, intelectual, ou material, doena que se inocula! Dificilmente pode-se vencer a um ataque frontal dessa natureza, menos se tenha na alma colheitas antigas e bem

    guardadas em silos, valores conseguidos de ordem muito superior, valores espirituais base deconscientizao pronunciada. Dizer que Deus Esprito e Verdade fica bem em qualquer boca; mascultivar isso bem diferente! No fica por muito em pessoa atacada de morbidez idlatra. S chegaa vencer-se, uma criatura assim viciada do bero, depois de muita relutncia ntima, depois de lutase mais lutas, travadas at violentamente no campo interno. Esse Armagedon vencvel, mas comcusto!

    A caminho dos supremos ideais, porm, a ltima investida de natureza introspectiva; paramais da, tudo questo de burilamento nas sendas que levam brilhantura geral. Enquanto houver,porm, resqucio de idolatria, estilha de duplicidade conceptiva, culto de antropomorfismo,relativamente ao que DIVINDADE, no homem e no plano geral ou universal, haver diviso,ciso, entre o homem e suas melhores possibilidades de ser e estar. E seria imposs vel desejar umalibertao plena de imediato. O ser vem subindo das suas mesmas condies inferiores,inconscientes, carecendo de tempo, oportunidades, provas, ressarcimentos. Aos melhoramentos

    fsicos presidem as conquistas do Ego, da Centelha que vem ganhando foros de consolidaoindividual emancipadora. Contam-se por mirades, as gamas hierrquicas, a comear de antes damatria inorgnica; e pedir que homem d de si o medocre que seja, em espiritualidade sadia,

    quando ainda rondando pelos padres mais toscos da civilizao, seria, o mesmo que reclamar dapantera o que podem o co, o cavalo ou o boi. Isso seria inverter termos, derrogar leis bsicas doprocesso evolutivo. No h disso em Deus! No o faria o homem.

    por isso que, apesar de tudo o que de esforo h sido feito na histria espiritualista doPlaneta, por vultos de coturno indiscutvel, ainda desenvolve o homem em si mesmo campanha nadaelegante, em matria de emancipao de fato; por ae por aqui, nesse campo de realizaes internas,bem pouco h de bem feito. Mudaram-se os nomes dos frontespcios, trocaram-se os quitutes

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    exteriores, deram-se a catalogar outros vultos da platia invisvel, mas, no fundo, ainda se sustenta ataba ndia e sua corte de supersticiosidades.

    A Terra, sem dvida, um mundo inferior!

    Atestam-no os atos religiosos dos seus cidados, em maior nmero tidos como expresses

    de superioridade em civilizao. Porque os idolatrismos so feitos e chefiados por altos dignitrios,sendo desse nefando comrcio que extraem o com que sustentar a carcaa e os infelizes procederes.Que maior atestado de inferioridade em geral?

    Inoculados h milhares de milhares de anos, cultivados intensivamente atravs deencarnaes e mais encarnaes, esses vrus peonhentos no largam a presa custa de poucoesforo; os lampejos do culto cristo, mas cristo de fato e no dissimulado, muito tero que,brandir para lhes estilhaar o reduto. E no est a Terra povoada, ainda, de criaturas que assimqueiram agir. O grande nmero forma na caravana do ramerro, da negligncia que comprometetristemente! por isso que, sondando ou vasculhando relatrios, descobrimos a pobreza deconquista, por parte de criaturas que fizeram incurses mltiplas pelos vales da vida carnal. Spelos vales da carne? No. Porque temos aqui a viver, nos rinces de relativa bondade at, miradesde mirades de humanidades, que mais no fazem do que rastejar pelos trilhos da vida, em vista viciosidade qual do ainda o melhor de seus esforos. Vieram do mundo com cesuras em credo, eaqui prosseguem o culto da mrbida preposio.

    Vs que viveis em contato com agentes do mundo astral, e forosamente de diferentescondies hierrquicas, e que no tendes com que identificar cem por cento ao agente manifestante,deveis pensar um pouco no que digo. E concluo com esta bem definida afirmao deresponsabilidade aprendei a saber do melhor modo, e instru a muitos que vos pretendeminstruir!

    Quanto aos que perambulam pelos arraiais da mais desenfreada idolatria, seja ela de queordem for, nada recomendo; s a vida, com o seu carrilho de conseqncias, de lutas, denecessidades, far que modifiquem o pensar e a conduta. O homem presa de pletora fetichista, pormuito que pense, considere e rumine em favor de solues mais elevadas, pouco ou nada consegue,de imediato. Tudo o que lhe no diga ou condiga ao refro vicioso, no presta! Foi assim que gentepresumidamente fora em bom credo, ao Divino Mestre encravou, no lenho infamante. E assim

    fariam de novo, em nome dos dolos, dos escapulrios, da mixrdia toda que campeia livre, se denovo se desse Ele a vir, para semear de novo em favor do melhor. Em mat ria de credo, cada umacredita na sua mesma maneira de crer. E se certo que existem instrumentos de influenciaocoletiva, que so as instituies humanas, ento certo que h, cobrindo grande parte da

    humanidade, umas infelizes sombras, doentias em si mesmas, capazes s por si de perverses asmais hediondas!

    E quem destes postos de observao pode encarar a fila dos que ingressam nas paragens damorte, lamenta-se de ver ao que v, tambm pode falar em nome da Lei que rege de fato, a respeitodessa coisa.

    Quem testemunha em favor do que afirmamos o fato que a prpria fila de caravaneirosexpe os mais credenciados, quase sempre ficam ao rs do cho ou descem qualquer coisa!

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    Ttulos nobilirquicos, engodos igrejeiros, notabilidades do mundo temporal; privilgiospremeditados, coroas do mundo a custo conseguidas, veleidades e outorgas de todo jaez, ficam para

    trs. Surge apenas o ser, como melhor ou pior que tenha sido, fosse l profitente da funo quefosse, em qualquer ramo de atividade humana.

    A Justia Divina s quer saber se o indivduo foi, como irmo de seus irmos, bom ou mau,amigo do progresso das almas ou inimigo de suas mais prementes necessidades. A cor das aurolasdo mundo, o material de que as fizeram, isso de nada serve; o que determina valor a aplicao, oproduto extrado, a alma da questo. Demais, o soberano de hoje converter-se- no escravo deamanh, o pontfice ser feito, em edio nova, o pedinte de esmolas ou o chaguento das esquinas,etc.

    H no fundo de todo o ser, por natureza, uma fonte que no d mgua a capacidade debondade! Quem a explora no sofre confuso. De resto, os demais ofcios podem ser exercitados atpor tarados... O mundo j estava juncado de bons saberes at a vinda de Jesus-Cristo; depois de Suapassagem, mais se encheu de ldimos conhecimentos e conquistas cientficas; mas, em servios de

    amor, quem deu melhor testemunho? A Terra est cheia de carniceiros que se galardoam delibertadores, ou que assim so galardoados pelos infelizes que, sendo cegos, por cegos se deixamconduzir. Mas os quadros do cristianismo esto quase vagos!... Embora corra no mundo muitodinheiro, muita pompa, falazes promessas, e trunfos e dignidades enxameem o retbulo das gentes,os arrancos do corao no so vistos, e menos ainda da parte daqueles que se presumem senhoresda VERDADE!

    No que a hipocrisia ande solta; que vive em excesso festejada!

    E quem contribui para as sortidas mximas dessa megera? A falta de Revelao, a pobreza

    de intercmbio com os planos dos que j puderam beber a linfa pura. Todos os que fogem ao contato

    do plano astral, pouco mais, pouco menos, enveredam pelas sendas da farandolagemcomprometedora, vindo a ser presa de maus hbitos de culto. E, assim, os erros de credo se fazemdoenas da maioria, endemias tristes, quase impossveis de debelar. E a prova temo-la, naquelesque, regularmente esclarecidos, ainda carecem de dobrar em face dos reclamos inferiores. H, ebastante, nos meandros espritas, criaturas que cedem aos proclamos de entidades medocres,

    habitantes de zonas umbrosas, que pedem batismos, crismas, casamentos, etc. Tudo isso sinal de

    inferioridade, prova de involuo, significa agrilhoamento e perda de tempo.

    O sinal de superioridade espiritual est aqui conscincia do dever para com o prximo,para que o dever para com Deus seja espontneo. E esta conduta no carece de besuntamentospseudo- -religiosos. Vale por si. Feliz daquele, portanto, que por saber e sentir Deus em si e em

    tudo, procura obrar decentemente. Esse o mandamento que jamais passar! Consulte-se sempre aoque mais sbio e amorvel, e o resultado ser cem por cento favorvel, em face da morte.

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    CORRIAM OS DIAS

    Sim, os dias corriam e tudo era um desabrochar contnuo de fases novas, de acontecimentosque se revezavam, mas trazendo tudo o cunho indelvel de melhoras em geral. Saber que a vida uma funo de responsabilidade, ter em presena a convico de que tudo o que bom temos emns mesmos, no pouca razo para se teimar em roteiro seguro.

    Principalmente, em se sabendo que bens h de imediata manifestao, enquanto que outrosde florao tardia. Aquele que de imediato quiser colher o produto de todas as suas obras, comfacilidade se atraioa. H semeaduras para j e para mais tarde no rol da vida, sendo de prudentemedida no agir com precipitao. Quem tudo faz pelo imediato resultado, por certo que faz tudotosco e brutalmente material. Convm semear aquilo que demore em ser colhido, que s possa ser

    feito em dias do post-mortem. Egosmos, vaidades, orgulhos, tais so os motivos da pressa. Exigirtroco imediato das aes obra de plumitivo, seno de carter animalizado.

    J disse algum destas moradas do universo, que bens h impossveis de serem oferecidospelo cadinho da vida carnal. O plano por demais denso, no facilitando oportunidade demanifestao a tons gloriosos de ser e estar. E se a criatura os no tiver preparado? Como far paravir a goz-los?

    Far isto volver carne e, em nova ou novas experincias, creditar-se- eleio!Porquanto, nunca se soube de quem estivesse em gozo de bens sublimados, custa de mritosalheios, das virtudes de terceiros.

    H, pois, aes que devem ser praticadas e outras deixadas em mora. Nos tabernculos doSenhor, nada fica em esquecimento; mas, certas conquistas no cabem numa vida ou em planos dealta densidade fsica ou ambiental.

    Quando o ser imortal transpuser as barreiras do mundo corpreo, invadir cheio de mritosos prados vibrantes e multicores da erraticidade, ento compreender o valor de semear em camposfrteis, deixando o resultado merc de outra Justia.

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    Colhia eu, amide, os proventos de bem pensar. Tinha a facilidade de investir pelosmananciais transcendentes e adeparar com as coisas belas do Senhor.

    Aquela jaqueira ficou sendo muito visitada. Sempre que carecia de uma aproximao, porsentir a alma vazia, ela me ofertava duas espcies de sombra. Ela me conferia azo a deslocamentosque valiam por prodgios do Cu! Uma tardinha, sob ela acomodado, sentindo em torno cabeapruridos suavssimos, dei-me a querer ver o que havia. Mas nada vi. Ouvi, todavia, uma voz a dizer:

    Faa que Sinh Marta lhe diga o que anda a matutar. Ser bom para si e para os seus.

    Aquela voz no era de esprito conhecido. Mas era doce, acariciante. E Sinh Marta viviamesmo a matutar coisas de mim no conhecidas. Fazia que falava, dava umas voltas, sorriaocultamente, tentava; mas, tudo ficava nos ensaios. Que teria em mente a santa velhinha?

    Como nada mais ouvisse, fiquei vontade. E j tinha mais em que pensar.

    hora do jantar, arrisquei:

    Sabe o que me disse hoje um irmo, quando descansava debaixo da jaqueira?

    Ela, olhando-me com firmeza, ps-se cismtica.

    Sim, disse-me que tem uma coisa para me dizer.

    Uma coisa para lhe dizer?!... repetiu, admirada.

    E boa para todos os meus... Assim me foi dito, assim lhe digo.

    Ela sorriu, pondo mostra uma alegria h bom tempo desaparecida.

    Diga-me o que , Sinh. Fale-me, que sinto uma ccega na alma curiosa.

    Hoje no... Amanh... monologou.

    E no adiantou rogar. Era assim Sinh Marta, a santa mulher que tanto por ns fizera. Elafora uma semeadora do porvir. Semeara e deixara em mora. Mais tarde, no lhe disseram apenas, eem prosa, de ter feito o bem no mundo deram-lhe galardes imortais! Como iria receber mais nomundo, uma criada de servir, quase escrava, sem letras, sem mais poder dar que servios caseiros?Tinha o que ns tnhamos, comendo e bebendo, vestindo e calando como bem quisesse, segundocomo sua modstia determinasse. Que mais lhe poderia dar? Mas, pouco depois de safar-se carne,nos celeiros do Cu encontrou o que na terra no poderia ter encontrado. H bens que a terra nopode conferir, nem querendo.

    Ao tomar caf na manh seguinte, voltei ao assunto:

    Sinh hoje o amanh de ontem...

    Ela fez um gesto de reprovao e estipulou:

    At meia noite hoje... Mas lhe falarei depois do almoo. Tenho que falar de novo comcerta pessoa, antes de lhe poder dizer coisa. Tenha pacincia, que tudo sair bem... Se Deus quiser.

    E como se fechasse em copas de silncio, debandei rumo nova propriedade, onde o senhorViosa estava agindo como gerente.

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    Em chegando ao domiclio deste senhor, dona Augusta estava sentada a uma mesa eprocurava contato com um guia, por via de algum, doente, a quem pretendia servir. Deram-meentrada, havendo-me postado ao lado de Catarina, que era no momento a presidenta do trabalho.

    Fique o senhor o presidente, que tem mais prtica argiu Catarina, em tom definitivo.

    Ora, voc sabe melhor como estas coisas so comumente feitas redargi, convicto.

    O esprito comunicante disse:

    Esta questo de ser presidente, em verdade, um caso muito srio. Podemos dizer que oEspiritismo conta com elevadas instrues, mirades de bons mdiuns, muita gente dedicada emextremo causa; mas, no setor dos presidentes de trabalhos, conta ele com o que se pode chamar depobreza! Convenho em que, de fato, os maus presidentes, ignorantes e pusilnimes, so oscorruptores de muitos bons mdiuns. No acho, pois, um ato de etiqueta a atitude de qualquer devocs. Creio mova-os a mais preciosa vontade de servir da melhor forma, embora inconscientes deuma realidade que muito nos faz pensar e at mesmo penar.

    Em seguida, sem perda de tempo, tratou do caso que motivava a reunio, ordenando pressano desempenho.

    Volvendo a mim, indagou:

    Quer dar passagem a um irmo que o segue, e que necessita de si?

    Que Deus seja atendido! Ser til que ser religioso.

    Ento, deixe-o chegar-se.

    Entreguei-me ao primeiro lance fludico que senti, e notei que minha me me puxava pelamo, convidando a sair do corpo. Quando estava vontade, fora da carne, vi ao tal que devia ser

    doutrinado, e que era um vaqueiro, segundo os trajes. Falava a esmo, estava como se fosse umavariado mental.

    Quando olhei para Catarina, estava ela sob o influxo de uma senhora de cabelos alvssimos,das mos de quem fluiam tnues jatos luminosos, sendo que cada extremo de dedo emitia raiodiferente em colorao. Catarina chegava a oscilar um pouco, premida por aquela tangncia astral. Eo vaqueiro foi orientado do melhor modo, sendo que, para certificar-se melhor da transio deestado, levaram-no a ver os lugares onde havia vivido, e onde desencarnara, em rpida sortida. Aotornar ao mdium, estava cem por cento convicto de sua desencarnao. E acho mesmo que essa amelhor forma de doutrinar, alm de evitar mistificaes grosseiras. Depois de o presidente falar,cientificando-o de j ser desencarnado, de estar numa mesa esprita, de falar por um corpo de

    mdium, e de tudo isso dar-se pela Vontade de Deus, para que venha a melhorar em geral, a melhorcoisa entreg-lo por um pouco aos guias e trabalhadores do espao. Porque estes, sendofavorecidos por um ambiente psquico de escol, podem fazer muito em pouco tempo e com poucoesforo. Temos visto o que tem acontecido a certos empreiteiros em mistificaes, com esta medidadoutrinria. Trava-se uma luta desproporcionada, onde o elemento guia destroa cabalmente aoinfeliz que, vivendo para mentir, se acredita triunfador.

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    Depois de avisar ao doutrinando, pois, daquilo que deve de incio ser intelectualmenteinformado, o melhor mand-lo sair com o guia do mdium.

    Todavia, o pior mistificador no o que se finge de sofredor, pois acima de tudo estesformam um nmero quase inexistente; o pior elemento desta espcie o que se apresenta com nomepomposo, dizendo-se santo, etc. Em geral, escolhem de preferncia os ambientes presumidos,engalanados, onde criaturas encarnadas deixam de parte a suprema obrigao simplicidade.

    O mundo espiritual muito mais complexo, em apresentao de caracteres, do que pensamos encarnados. Dado que a crosta circundada de zonas e mais zonas astrais, como j foi dito, emforma de faixas concntricas superpostas, e sendo que para o exterior crescem em expressopsquica, o quanto em sentido inverso decrescem, e levando-se em conta que o elemento inferiorencontra mais facilidade de acesso, em virtude das insuficincias humanas, chega-se com preciso aesta concluso o prprio meio humano d azo aos menos evolvidos, para mais se imiscuirem emtudo.

    Pensassem os espritas em geral, em melhoras contnuas intelecto-morais, e a coisa mudaria,

    forada pela imposio do prprio meio. De resto, temos visto muito disto esp ritos brilhantes seapresentarem com um nome vulgar, e elementos abaixo de vulgares, se apresentarem como se

    fossem mais do que brilhantes. Dizerem-se de muita luz, de muitos merecimentos. E o pior em tudo

    isso, que vo sendo aceitos, simplesmente porque dirigentes de trabalhos prticos no so capazesde saber que, em um esprito decente, no faz morada resqucio de cabotinismo.

    A um esprito de escol, basta trabalho de escol.

    Terminada pois a sessozinha, fiquei aguardando a chegada do senhor Viosa, que devia virao almoo. Enquanto isso, como j havia notado o quanto Catarina era dcil e inteligente, na suacondio de moa, pobre e simples dei-me a pensar de novo em pedi-la para esposa. Todo caso,

    dadas as circunstncias, era preciso ter alguma certeza sobre sua espontnea vontade. Bem poderiavir a aceitar por fora de injunes circunstanciais, o que seria extremamente desagradvel. Eu aqueria, minha alma rondava seus encantos. Mas t-la de favor seria muito pouco, seria at penoso. Enada lhe disse, e nem sua genitora, o que era ento de proceder. Achei de bom alvitre esperar mais,e fiz por isso.

    Quando o senhor Viosa chegou, falamos de nossos negcios, que ento era a introduo dacultura de arroz, no rol do que j se fazia. A nova fazenda compreendia grande parte de terrasbaixas, um belo vale, que fazia cabeceira quela de que fizemos meno, parte inferior, onde haviaum riacho que desaguava no grande e acidentado rio. Agora, pois, contava com imensas terras

    prprias para a cultura do arroz.

    Podemos contar, informou-me ele, com trs famlias iniciais. Depois, como meprometeram, convidaro outras e outras mais.

    Deu uma tragada no seu cigarro e emendou:

    E gente do mister. Trabalham nisso desde que se conhecem no mundo.

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    A conversa girou depois sobre tudo o mais, atravessando o almoo, no qual fui chamado aintervir. No final, dona Augusta abordou assunto que dizia aos meus ideais, mas, naturalmente, de

    leve.

    Como vo os seus filhinhos?

    Bem, dona Augusta... Bem, mas sem me. A sorte que temos Sinh Marta em casa.

    Em tom grave, aparteou ela:

    Mas Sinh Marta est no fim da jornada... O esprito forte, mas a carne cede...

    Dei-lhe duas moas, filhas de colonos, como ajudantes. No quero que a velha se esgote.J fez demais.

    Olhou-me de soslaio e aventurou:

    O senhor mal saiu dos trinta... Devia tentar de novo... Seus filhos carecem de outros

    cuidados, sem ser comida, roupa limpa, educao escolar... Aquilo que cumpre ao sentimento

    materno contribuir, nada pode em substituio fazer.Confesso que me perturbei, quando ao encarar a face plida de Catarina, vi-a ruborizar-se e

    baixar cabea. Deixei, pois, a articulao de dona Augusta sem resposta. Como o senhor Viosanotasse o meu embarao, interveio:

    Isso coisa de quem quer se casar... Vamos sair um pouco, senhor Cabral?

    Mais que depressa, aceitei:

    Vamos... Vamos, que tenho de ir...

    E samos para o terreiro, de onde montei o cavalo e parti, no sem antes buscar, de esguelha,pousar mais uma vez os olhos em Catarina. Disto tinha ntima certeza de que, tendo de ser,Catarina seria minha futura esposa. E querendo ou no, tudo me dizia que a coisa vinha sendocogitada por outros. Quem sabe l o que haveria naquele segredo de Sinh Marta? No poderia seressa mesma a questo em xeque? Afinal, meditava, Sinh Marta nunca fora de meias medidas;como vinha agora de se fazer esquiva? S mesmo em casos tais que daria para ser assim. Econcordava, porque as razes circunstanciais o exigiam. Eu era senhor das terras e dos negcios... Aconceituao do tempo me favorecia com elementos de argumentao irrefutvel, pois poderiaquerer e no voltar atrs, coisa que, por princpios, nunca o faria. De qualquer modo, havia queatender a certos reclamos ticos.

    E minha alma pedia, rogava, fosse isso o porqu daquele aviso astral.

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    SIMPLESMENTE UM NOVO CASAMENTO

    Pelas duas da tarde dei entrada em casa, dando de encontro com Sinh Marta, que me olhavacom ares de ralho.

    No vim almoar porque almocei fora, Sinh.

    Eu precisava sair, sem falta!... queixou-se ela.

    Bem ... Almocei na casa de Viosa... emendei, propositalmente.

    Ora, bem! ... Ento, de que falaram? ... quis muito saber ela.

    De indstria, abordei a questo em cheio:

    At de um casrio... Calcule, que at falamos em casrios...

    Sinh Marta avivou-se, encheu-se de vida, fez mais perguntas. E tive certeza da coisa em si.Por isso mesmo falei com mais liberdade:

    Se for da vontade de Deus, penso pedir Catarina para esposa... Que acha a senhora, que a nica pessoa a quem posso falar como quem fala sua prpria me?

    Ela no pode falar, porque teve antes de enfrentar intensa emoo. Assim, porm, passado otufo emocional, considerou:

    Sinh, esta criada est beirando o tmulo... E me lembro de sua me, que antes de morrerqueria, rezava, para que o filho ficas-se entregue aos cuidados de uma mulher. Porque, como deve

    saber, mais tarde ou mais cedo, uma esposa que se preze, torna-se uma segunda m e do seu marido.Pode ser que ns, as mulheres, estejamos enganadas; mas, pensamos que os homens nunca deixamde ser meninos e capazes de travessuras... Por isso, precisam de uma me...E quando a me deverdade morre, s mesmo arranjando uma boa esposa...

    Enxugou um resto de lgrimas e completou o seu lindo pensamento:

    Eu, como Sinh sabe, quero fazer tudo; mas o corpo no presta mais.... J vi at Sinhurea, sua me, que me disse assim mesmo:

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    Marta, meu bem, diga a meu filho que se case outra vez... Voc est quase a deixar omundo e eu no quero ver a meus netos em abandono.

    E Sinh, sabe que as avs so duas vezes me... Ela no quer v-lo mal e menos ainda aseus filhinhos. Foi por isso que eu lhe disse aquilo, sabe? Catarina moa de brio, bonita e inteligente!...Hum!... Se Sinh casar com essa moa, vai ver como ser feliz! ...

    Seria impossvel evitar uma emoo, ao menos. Por isso mesmo, afaguei-a com carinho efui-me para o quarto. Todo o meu ser, porm, vibrava em clarinadas de esperana. Um novo diasurgia nos horizontes de minha vida.

    tarde, quando os filhos vieram da aula, embora fossem demasiadamente tenros paracogitarem de tais assuntos, f-los saber de meus intentos. Tomei-os ao colo e falei-lhes como aadultos:

    Isabela e Andr, quero que vocs saibam de uma coisa. Papai vai casar-se de novo. Vocsprecisam de carinho materno e de outros cuidados... Sinh Marta disse que Deus a est a chamar, eque ir embora, deixando-nos. Que dizem vocs? Eu quero que vocs digam o que pensam, porqueso os que esto a sofrer mais.

    Eles sorriram, mas nada disseram. Quis eu falassem, mas de nada valeu. Tornei a dizer-lhes,

    ento, que isso era de necessidade, mas que desejava faz-los cientes de tudo. E de nada valeu,porque um olhava para o outro e calava.

    Procurei, ainda, que falassem:

    Catarina ...

    No avancei, porque prorromperam num delrio de alegria. Eles nada entenderiam decasamento, ou coisas que dele pudessem derivar; mas sabiam que Catarina lhes fora amiguinha de

    brinquedos, e que era triste ter ido para a outra fazenda, de onde s vinha de longe em longe.

    Quando sade casa, ao crepsculo, para como de costume sentar-me debaixo da jaqueira, fuiabordado por Sinh Marta, que me quis dizer:

    No perca tempo, Sinh... Fale com Catarina, fale com seus pais...

    Fui sentar-me sombra da jaqueira, fazendo minha invocao de costume. E senti,imediatamente, a aproximao de algum. Mentalmente, repeti:

    Venha, esprito amigo; me, pai, ou quem seja, da parte de Deus!... Venha!

    Senti-me adormecer, e, levemente, como uma pluma, fui deixando o corpo, para

    acompanhar minha me e muitas entidades mais.Mas era minha me, que me levava pela mo, como de outras feitas.

    Temos para si tima surpresa, Cabral.

    Por tudo que fazem, dou graas e sou agradecido, mame.

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    Ns sabemos disso, e por isso mesmo o auxiliamos com desvelo. Esteja com os seusdeveres em dia, e com os pensamentos ligados a ns, que tudo nos ser possvel, assim como Deusqueira e determine.

    Como falasse em deveres, ventilei, por isso mesmo e muitas outras razes, pensamentos queme vinham tona das cogitaes:

    Que mais importa fazer, mame? Ter as preces em dia ou ter os pensamentos e obras emdia?

    Ela afirmou:

    Tudo em dia, deveres, pensamentos e preces. Mas o cumprimento do dever primordial, quem de fato qualifica o merecimento da prece.

    como eu penso, mame.

    Ela perorou:

    H leis que so do mundo carnal s, como delas h que tm valimento por estas esferas,onde tudo mais sublimado. Pode-se mesmo dizer, que nenhuma lei intil em meio qualquer,sendo de mais ou nenhum uso, num ou noutro meio. Esta questo, porm, que diz respeito aosdeveres individuais, infinita e eterna, porque jamais deixa de haver obrigao de deveres, paraquem quer. E como as necessidades da vida so complexas, seja onde for, porque ao fator vida sealiam os de servios, cumpre nunca esquecer a recurso algum. Fundamentalmente, porm, temos osdeveres que so: amar, saber, querer, ponderar, obedecer, tomar iniciativas, prestar contas e assumirresponsabilidades. Tudo isto, como v, demanda necessidade de sintonia com o Sagrado Princpio, epara com as Potestades Individuais que Lhe executam os desgnios. Sem a prece, que instrumentode contato, contaramos com uma dificuldade a mais, no acha?

    Lembrando-me de certa pessoa, argumentei:

    Conheo uma pessoa, e a senhora deve conhec-la, que no ora, por afirmar ser oprocedimento o melhor modo de orar. Essa pessoa est em falta ou menos assistida?

    Ela esclareceu:

    Nem uma coisa e nem outra; essa pessoa muito assistida e no est em falta, por viverem perene contato mental com o Supremo Ser, que ntimo a tudo e todos, e conosco tambm,vivendo, alm disso, para fazer o que pode de bem pelo prximo, na cincia plena que tem, de queDeus assim quer seja feito. Essa pessoa, que j alcanou elevado grau de espiritualidade, vive emestado de prece. E isso muito mais interessante do que parece, pois os que oram de quando em

    quando, tambm erram de quando em quando, em virtude da pouca evoluo. Assim que lhe digo,haver modos infindos de errar e acertar. Tudo questo de saber como anda o foro ntimo doindivduo. L no recesso do ser que pode andar a lmpada em brilho ou s escuras, ou mesmo emintermitncias de luz e sombra.

    Gostei muito do que disse, mame.

    Eu j tinha estudado o que voc trazia em mente, h dias.

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    interessante. Agradeo muito.

    E saiba que fao isto, ou antes, fazemos, no por ser meu filho, ou por hav-lo sido, e simpelos seus merecimentos pessoais. de cima que vem a ordem, e eu me comprazo em servir a quemme foi to caro. Isto, saiba-o, uma graa para mim, pois sendo me e ainda inferior, no possoamar universalmente, como seria de desejar, isto , como Jesus Cristo exemplificou.

    A senhora modesta, mame.

    Ela retorquiu:

    Desejo me interprete como falo, meu rapaz. Quem foi sua me na ltima encarnao,nem sempre lhe foi me e nem dcil. Sobretudo, somos ainda inferiores em hierarquia, razo porquenos usa Deus, segundo laos particulares. Ns ainda somos, como j foi dito, bons pais e boas mes,bons filhos e boas filhas. E, na Terra, os bons pais arrancam os olhos aos filhos dos outros, por

    causa de seus filhos. E assim por diante... Sabe o que , agora, amar universalmente?

    Sei o que diz, mame.

    Pois isso, meu rapaz. Dia chegar em que teremos a todos os pais como a um pai, atodos os filhos como a um filho, a todos os irmos como a um irmo. No dia em que assimpensarem todos os habitantes da Terra, e assim se derem a viver, Jesus poder dizer que cumpridaest Sua funo, no mundinho em o qual Lhe cumpriu ser Mestre. Mas, consideremos, isso aindaest muitssimo longe.

    Estacou a ponderar qualquer idia que lhe ocorrera, sussurrando com gravidade:

    isso mesmo... Ns ainda somos incapazes de respeitar, em qualquer caso, purajustia; vemo-la bem ou mal, segundo os i