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UM MODELO DE PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA

As atividades de prospecção são vistas como uma ferramenta valiosa de orientação, planejamento e definição de prioridades tecnológicas para governos e empresas interessados em promover ações e pesquisas capazes de gerar avanços em ciência e tecnologia, além de círculos virtuosos de inovação.

Em países com escassos recursos para financiar pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), como é o caso do Brasil, as prospecções tecnológicas, se bem direcionadas e bem utilizadas, podem contribuir para o avanço em áreas prioritárias e para desenvolver tecnologias na fronteira do conhecimento, com potencial de criar novos mercados e novas soluções. Nesses casos, as escolhas tecnológicas terão maiores chances de potencializar o desenvolvimento tecnológico e a inovação como vetor de crescimento econômico e social.

O projeto Agenda Tecnológica Setorial (ATS) foi criado com o objetivo de gerar conhecimento a partir de prospectivas das tecnologias relevantes, em segmentos-chave para o Brasil, com a finalidade de subsidiar os formuladores de políticas públicas na elaboração de agendas setoriais voltadas para o desenvolvimento tecnológico e a promoção da inovação.

Desse modo, o projeto está orientado pela necessidade de as políticas públicas apoiarem as atividades de inovação em empresas com potencial de ingresso em mercados dinâmicos e com elevadas oportunidades tecnológicas para criar negócios intensivos em conhecimento e escala. Considera que, sem inovar, não há chances para a indústria nacional se reposicionar no mercado mundial. Assim, a diretriz do projeto ATS é buscar identificar as tecnologias relevantes para mudar o patamar de concorrência da indústria nacional (Figura 1).

Figura 1 – Diretriz do projeto ATS

Assim, a seleção dos setores e dos focos a serem prospectados deve ter em conta, prioritariamente, aqueles que apresentam maior capacidade de transformação da estrutura produtiva da indústria, poder de difusão tecnológica e de encadeamento de relações intersetoriais, além de estarem alinhados às políticas industrial e de ciência, tecnologia e inovação.

As escolhas devem considerar a necessidade de mudança no posicionamento competitivo da indústria nacional, de forma a obter ganhos com o lançamento de

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novas tecnologias com a definição de novas tendências globais e, desse modo, garantir a melhor inserção do país em outros mercados, com aumento da participação no mercado mundial.

1 METODOLOGIA DA PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA DA ATS

As prospecções tecnológicas1 são um meio de mapear as tecnologias emergentes capazes de influenciar significativamente uma indústria, a economia ou a sociedade como um todo. Tecnologias emergentes são aquelas em desenvolvimento no estágio pré-competitivo e, por isso, estão sujeitas as "falhas de mercado", ou seja, são de alto risco pois as aplicações ainda não estão claramente definidas, e necessitam de apoio governamental.2 Cabe destacar que, enquanto as atividades de previsão clássica se dedicam a antecipar um futuro suposto como único, os exercícios de prospecção são construídos a partir da premissa de que são vários os futuros possíveis, as projeções estatísticas não são suficientes para prever tais futuros, e estes são o resultado de forças muito maiores do que a tecnologia, como o desenvolvimento econômico, as políticas e as sociedades. Políticas de inovação bem sucedidas, como o exemplo do Japão,3 associaram as análises estatísticas com métodos participativos e, além do levantamento de possibilidades futuras para o desenvolvimento de tecnologias emergentes, estudaram o comportamento futuro da demanda e da oferta.

No caso do projeto ATS, a construção dos futuros possíveis é feita a partir da prospecção das tendências tecnológicas de um foco específico do setor escolhido, com o objetivo de fundamentar o levantamento das tecnologias de produtos e processos em fase de pesquisa e/ou desenvolvimento (tecnologias emergentes), observando-se os países de maior relevância. Também são examinadas as barreiras técnicas e de mercado que restringem o desenvolvimento e aplicação dessas tecnologias no país. Em síntese, as tecnologias emergentes são consideradas em termos de estado da arte de desenvolvimento científico e tecnológico, e de incorporação ao ambiente produtivo, usando-se como referencial o mundo e o Brasil.

A prospecção feita na ATS busca refletir o diálogo realizado com academia, institutos tecnológicos (IT) e empresas, e, quando possível, dialoga com o projeto Diáspora Brasil. Com esse diálogo, é possível incluir tecnologias emergentes na lista de cada setor e obter comentários sobre os estágios de desenvolvimento das tecnologias prospectadas no mundo e no Brasil. Dessa forma ampliam-se os limites do conhecimento gerado e se minimizam as preferências e parcialidades que porventura possam expressar os envolvidos na prospecção. Ademais, geram um resultado adjacente, mas não menos importante, que é a possibilidade de aproximação da academia com empresas e do governo com empresas.

O desenvolvimento do projeto ATS foi dividido em três fases distintas. A primeira inclui a fase preparatória para definição do foco, escopo e da abordagem do estudo de tendência até a prospecção das tecnologias emergentes que estão em pesquisa e em desenvolvimento no mundo. A fase dois seleciona as tecnologias emergentes que serão desenvolvidas e difundidas no Brasil e que, portanto, devem ser objeto de atenção das políticas públicas e das instituições de fomento.

1 Kupfer e Tigre (2004); Martin (2010). 2 Martin (2010). 3 Idem.

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A terceira fase tem como objetivo apontar os modelos de estruturação econômica cuja viabilização é necessária para o desenvolvimento e a difusão das tecnologias emergentes relevantes; portanto, o seu conteúdo é estratégico para o sucesso das iniciativas públicas e privadas, dependente em grande medida da colaboração das empresas, como atores chave para o desenvolvimento e a difusão dos conhecimentos e das inovações tecnológicas para o desenvolvimento socioeconômico.

Figura 2 – Fases do projeto ATS

1.1 Visão panorâmica sobre os setores investigados

Em um contexto de profundas mudanças no cenário da indústria internacional, particularmente no que tange à sua distribuição geográfica, à operação em redes globais e à aceleração das mudanças tecnológicas, é essencial sistematizar o conhecimento explícito e o percebido, com objetivo de compreender quais são as variáveis e os fatores condicionantes dessas mudanças e o seu rebatimento na indústria nacional. Gerar esse conhecimento é importante para reduzir as incertezas às opções de caminhos a serem seguidos pelas empresas e pelas políticas públicas voltadas para assegurar a competitividade da indústria e do país.

No âmbito do projeto ATS, são elaborados dois panoramas, um econômico e outro tecnológico, como pano de fundo para traçar as tendências de mercado e tecnológica. Os panoramas devem conter análises que permitam compreender os movimentos de mercado e sustentar a prospecção das tecnologias emergentes no mundo, no horizonte de 15 anos. São, também, subsídios para a tomada de decisão e formulação de políticas de governo voltadas à minimização das dificuldades de desenvolvimento no país das tecnologias prospectadas, além de disseminarem o conhecimento

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estratégico (explícito e tácito) sistematizado. Basicamente, os documentos abordam os aspectos descritos a seguir.

Panorama Econômico Setorial Estrutura da oferta mundial Estrutura da cadeia produtiva Setor no Brasil

Panorama Tecnológico Setorial Principais tendências tecnológicas do setor no mundo Processo de inovação no Brasil Estágio do desenvolvimento tecnológico no Brasil

A construção dos panoramas e a elaboração da lista de tecnologias emergentes é feita de forma compartilhada com o governo, academia/IT e empresas. Esse compartilhamento acontece com a realização de oficinas e reuniões para debate das tendências contidas nos documentos. Há uma troca de informação entre esses atores, gerando-se um conhecimento de caráter estratégico para a inovação, com o delineamento das tecnologias emergentes – em um horizonte de até 15 anos –, e, o que é mais importante, buscando-se antecipar quais dessas tecnologias poderão ser difundidas no país e a capacidade de desenvolvê-las. Em síntese, o processo pode ser resumido conforme o Quadro 1.

Quadro 1 – Processo de construção dos documentos do projeto ATS

Fases Oficinas entre especialistas e governo

Objetivos

fas

e

Oficina 1 Validação do foco

Discussão com os gestores da política industrial sobre o foco a ser prospectado para validação, tendo como base as agendas setoriais negociadas com as instituições representativas.

Oficina 2 Compreendendo a ATS

Apresentação, aos representantes do governo, dos membros que comporão o Comitê Técnico, da metodologia da ATS e das diretrizes para elaboração dos panoramas econômicos e tecnológicos, bem como da lista de tecnologias emergentes.

Oficina 3 Imergindo na ATS

Discussão com os representantes do governo sobre os termos de referência adaptados ao foco a ser prospectado para elaboração dos panoramas econômicos e tecnológicos e da lista de tecnologias emergentes; e formação do painel de respondentes.

Oficina 4 Gerando conhecimento

Discussão das versões preliminares dos panoramas econômico e tecnológico e da lista de tecnologias emergentes.

Oficina 5 Apresentação e discussão das versões finais dos panoramas econômico e

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Aprofundando o conhecimento

tecnológico e da lista de tecnologias emergentes em forma de questionário.

fas

e Oficina 6

Entendendo os resultados Discussão dos resultados da consulta estruturada, análise das tendências observadas e apresentação do objetivo da fase seguinte.

fas

e

Oficina 7 Como fazer e o que fazer

Discussão das indicações de políticas públicas para viabilização do desenvolvimento das tecnologias relevantes prioritárias e críticas; apresentação dos modelos de estruturação econômica.

Elaboração: ABDI.

1.2 Metodologia para construção da lista de tecnologias relevantes

A metodologia de prospecção da lista de tecnologias emergentes foi inspirada na metodologia do Serviço Nacional da Indústria (SENAI) de prospecção das competências necessárias à mão de obra frente às perspectivas de difusão tecnológica, em um horizonte médio de 15 anos. Por sua vez, a metodologia da ATS avança sob dois aspectos principais: i) na identificação de se o Brasil possui competências científicas, tecnológicas e base industrial para desenvolvê-las, classificando-as como tecnologias relevantes e dividindo-as pelo grau de dificuldade que será enfrentado para a indústria nacional dominá-las (crítico e prioritário); e ii) na construção de um diálogo entre governo, setor privado e pesquisadores, com o objetivo de estabelecer coletivamente uma agenda tecnológica para a competitividade da indústria nacional. Acrescente-se também que há diferenças em relação à construção do questionário e se realiza uma consulta estruturada on-line a um painel de respondentes.

Para prospectar as tecnologias cujo desenvolvimento no país é relevante, parte-se de um exercício construído com as visões de especialistas dotados de conhecimento sobre os focos estudados. A hipótese é que as prospecções tecnológicas têm maiores chances de sucesso quando conseguem envolver especialistas que colaboram com suas visões e experiências decorrentes de atuações em diferentes áreas, e quando é possível gerar um diálogo entre governo, empresas e pesquisadores.

1.2.1 Comitê Técnico

Para se orientar e realizar a prospecção de tecnologias, é formado um Comitê Técnico de especialistas com representantes da indústria, associações empresariais e profissionais, do governo, da academia e de centros de pesquisa. É importante que a formação do Comitê Técnico contemple diferentes áreas tecnológicas que envolvem o foco escolhido, a fim de se obter uma prospecção abrangente da área em questão. Os especialistas que compõem o Comitê não representam suas empresas ou centros de pesquisas. O critério de escolha é o reconhecimento evidente de seu conhecimento tecnológico. O número de especialistas que formam o Comitê Técnico varia de acordo com a complexidade do foco estudado, devendo cobrir o conhecimento das áreas tecnológicas a serem prospectadas.

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A atribuição do Comitê Técnico é prospectar tecnologias em desenvolvimento ou em fase pré-comercial ou recentemente introduzidas no mercado e ainda pouco utilizadas (baixa difusão) no mundo ou no Brasil. Esse conjunto compõe o que se denominou lista de tecnologias emergentes. Como adiantado, a prospecção é feita com base no conhecimento e experiência dos especialistas do Comitê e envolve pesquisas bibliográficas, artigos científicos, linhas de pesquisa de instituições de tecnologia e empresas, seminários, entre outros.

A lista de tecnologias emergentes é construída por área tecnológica e obedece à seguinte regra de redação: “Uso de (tecnologia emergente) em (segmento, componente, princípio, etapa da produção, etc.) visando (propriedade, desempenho, um aperfeiçoamento, etc.)”.

A palavra “uso” significa que a tecnologia em até 15 anos já teria passado pelos estágios de pesquisa e desenvolvimento.

A lista de tecnologias emergentes prospectada pelo Comitê Técnico é discutida em reuniões com o governo, empresas e entidades empresariais, com o objetivo de se apreenderem conhecimentos para melhorias na redação e ampliação da lista, bem como se permitir a apropriação daquele conhecimento por todos os atores envolvidos no levantamento das tecnologias. As reuniões são realizadas com o intuito de não se criarem sujeições nas discussões.

Figura 3 – Interação entre Comitê Técnico, governo, empresas e entidades empresariais

A lista de tecnologias emergentes elaborada pelo Comitê Técnico é revisada para incluir as sugestões colhidas nas reuniões realizadas com os especialistas do governo, de empresas, entidades empresariais e profissionais (beta testes).

Em seguida, a lista é transformada em um questionário, com o objetivo de submetê-lo a uma consulta estruturada para obter a percepção de um número maior de especialistas em relação às tecnologias emergentes objeto de estudo. Nesse momento, amplia-se o olhar sobre a lista de tecnologias emergentes e são feitas as escolhas das tecnologias relevantes, que sob a perspectiva dos especialistas respondentes da consulta serão as tecnologias com viabilidade técnica e comercial no mundo, no horizonte de 15 anos, e que têm um elevado potencial de difusão no Brasil nos mesmos 15 anos (horizonte médio). As tecnologias relevantes são as que

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devem merecer atenção da indústria e das políticas públicas, no sentido de serem viabilizadas no país.

O Comitê Técnico também tem a função de contribuir com a elaboração de uma lista de nomes de especialistas que detenham conhecimento nas tecnologias emergentes, a fim de ser formado um painel de respondentes, que será convidado para analisar a lista de tecnologias emergentes, por meio da consulta estruturada.

Figura 4 – Interação entre Comitê de Especialistas e Painel de Respondentes

A metodologia de prospecção das tecnologias pode ser dividida em duas etapas: uma para elaboração de uma lista de tecnologias emergentes (durante a primeira fase da ATS) e outra para seleção das tecnologias que serão relevantes para o Brasil, em um horizonte de 15 anos (durante a segunda fase da ATS).

Figura 5 – Fluxo das etapas

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1.2.2 Consulta Estruturada

A consulta estruturada tem por objetivo selecionar, a partir de critérios predefinidos e da visão de um painel, as tecnologias relevantes para o país, em um horizonte de 15 anos.

O painel de respondentes é constituído de um público seleto, formado por especialistas da academia, centros tecnológicos, institutos de pesquisa e empresas – engenheiros, biólogos, físicos, químicos, pesquisadores e outros profissionais que tenham reflexões sobre a dinâmica tecnológica mundial e nacional em suas respectivas áreas de atuação.

1.2.2.1 Questionário da Consulta Estruturada

O questionário é organizado da seguinte forma: as linhas descrevem as tecnologias emergentes a serem investigadas e as colunas buscam captar as dimensões necessárias para identificar as perspectivas de cada tecnologia, compreendendo cinco questões acerca de cada uma.

O questionário é hospedado em uma ferramenta on-line, especializada em consultas estruturadas, disponibilizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), e o acesso é dado somente aos especialistas que formam o painel de respondentes, por um login pessoal e intransferível.

A aplicação do questionário é feita por área tecnológica do foco estudado, sendo que o especialista tem a opção de responder apenas às questões relativas às áreas tecnológicas e/ou tecnologias emergentes sobre as quais possua maior conhecimento. Para as questões respondidas, o especialista necessariamente deve informar o seu grau de conhecimento sobre a tecnologia emergente, para balizar a análise de sua resposta. Quando as respostas são extraídas para análise, a identidade do respondente fica resguardada, a fim de se garantir o sigilo.

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Quadro 2 – Exemplo de tópico do questionário da consulta estruturada

Fonte: Consulta estruturada.

1.2.2.2 Banco de Dados

Os resultados da consulta estruturada ficam armazenados em um banco de tecnologias emergentes, com o intuito de serem revisitados em caso de mudança no estado da arte que possa tornar factíveis tecnicamente as tecnologias consideradas não relevantes, em período indicado pelo Comitê Técnico, e para subsidiar ações voltadas à viabilização dessas tecnologias no Brasil.

Além de armazenar as tecnologias prospectadas, o banco de dados conterá informações importantes sobre as competências existentes no país, tanto em termos de instituições de ciência e tecnologia quanto de empresas atuantes nas respectivas áreas no Brasil, o que poderá subsidiar as iniciativas públicas e privadas voltadas ao desenvolvimento das tecnologias prospectadas consideradas relevantes. Adicionalmente, esse banco de informações poderá atender a demandas de outras instituições interessadas em mapear empresas e ICTs nas áreas investigadas pelo projeto ATS.

1.2.2.3 Conceitos

Tecnologias emergentes: são as tecnologias em desenvolvimento em fase pré-comercial ou recentemente introduzidas no mercado e ainda pouco utilizadas (baixa difusão) no mundo ou no Brasil. Compreendem tecnologias ou grupos de tecnologias de produtos e/ou processo, novos produtos, novos usos de produtos existentes, novos processos produtivos, novos materiais e componentes em fase pré-comercial, de desenvolvimento ou pesquisa exploratória, em horizonte de 15 anos. Tecnologias difundidas no exterior, mas não dominadas pelo Brasil, também podem compor esse conjunto.

Tecnologias tecnicamente factíveis no mundo: são tecnologias emergentes com viabilidade de produção no atual estado da arte, nos próximos 15 anos.

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Tecnologias tecnicamente não factíveis no mundo: são tecnologias emergentes “irrealizáveis”, por demandarem desenvolvimentos futuros de novos materiais e/ou de novos componentes e/ou de novos processos, etc. Assume-se que estas tecnologias não podem ser produzidas no atual estado da arte e de sua perspectiva nos próximos 15 anos.

Tecnologias viáveis comercialmente no mundo: são tecnologias emergentes com custo-benefício comercial viável num horizonte de 15 anos, comparadas a outras tecnologias concorrentes ou por suas próprias características.

Tecnologias não viáveis comercialmente no mundo: são tecnologias emergentes inviáveis diante de uma análise de custo-benefício em um horizonte de 15 anos, seja diante de tecnologias concorrentes ou por suas próprias características.

Tecnologias relevantes: são as tecnologias emergentes consideradas factíveis tecnicamente e viáveis comercialmente no mundo, em até 15 anos, e com elevada difusão esperada no Brasil em cinco e em 15 anos. As tecnologias relevantes são consideradas prioritárias ou críticas.

Tecnologias relevantes prioritárias – Tecnologias relevantes com alto potencial de desenvolvimento no Brasil, em um horizonte de até 15 anos. São as tecnologias às quais a indústria deve direcionar seus esforços para consolidação e desenvolvimento de suas capacitações tecnológicas. Tecnologias relevantes críticas: tecnologias relevantes de baixo potencial de desenvolvimento no Brasil em até 15 anos. São as tecnologias em que a indústria e as agências de fomento devem buscar soluções que permitam o seu desenvolvimento e/ou sua produção no mercado doméstico.

1.2.2.4. Critérios de seleção das tecnologias relevantes

Para seleção das tecnologias relevantes, foram definidos os critérios a seguir.

Tecnologia factível: a tecnologia em análise é factível quando no mínimo 70% dos especialistas respondentes tenham esta opinião.

Tecnologia viável: a tecnologia é considerada viável caso 70% dos especialistas tenham esta opinião.

Tecnologia relevante: quando mais de 70% dos especialistas consideram que a tecnologia deve ser difundida em média/alta escala nos próximos cinco anos e em alta escala nos próximos 15 anos.

Tecnologia relevante prioritária: mais de 50% dos especialistas acreditam que a tecnologia tem alto potencial de produção no Brasil.

Tecnologia relevante crítica: mais de 50% dos especialistas acreditam que a tecnologia tem baixo potencial de produção no Brasil.

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Figura 6 – Filtro da consulta estruturada para seleção de tecnologias relevantes

1.2.2.5. Validação e análise dos resultados

Finalizada a consulta estruturada, os dados são sistematizados e discutidos com o Comitê Técnico, que tem liberdade para rever os resultados à luz do conhecimento do grupo. Isso porque consultas desse tipo, correm o risco de ter um número baixo de respondentes por questão, já que os participantes da pesquisa podem opinar apenas sobre os tópicos sobre têm maior domínio. Logo, a fim de corrigir algum tipo de viés, o Comitê Técnico é imbuído da tarefa de discutir os resultados da consulta e, se necessário, reclassificar as tecnologias que o grupo julgar pertinente. Após essa primeira análise, é realizada reunião com as empresas para validação final dos resultados. Novamente, podem ser feitos ajustes a partir das experiências e relatos das empresas. Essa dupla validação é importante para refinar o resultado e torna-lo o mais representativo possível da realidade, em termos de tendências de mercado e desenvolvimento tecnológico. O produto final dessas atividades é a lista de tecnologias relevantes.

De posso da lista de tecnologias relevantes, o passo seguinte é estuda-las em conjunto a fim de compreender o eixo que as une e qual(is) direção(ões) sugerem. Em outras palavras, trata-se de interpretar os dados, de verificar se há coerência entre as tecnologias selecionadas vis a vis as tendências mundiais, se as tecnologias são complementares ou concorrentes, quais os principais players envolvidos na produção das mesmas, sejam empresas ou instituições de pesquisa, e, acima de tudo, se as tecnologias relevantes, prioritárias e críticas, sinalizam uma rota tecnológica a ser seguida. Adicionalmente, as tecnologias não atrativas também são objeto de atenção. Neste caso, o intuito é avaliar, mesmo que de forma mais abrangente, se dentre as tecnologias que não despertam interesse no mercado local no momento presente, algumas já estariam em uso ou no radar de outros países, indicativo de que o Brasil não deva descuidar completamente dessas tecnologias, sob pena de perder competitividade no futuro.

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Essa leitura mais pormenorizada, que ganha a forma de um relatório analítico, oferece, portanto, as pistas para a discussão seguinte, sobre quais modelos têm maior potencial para viabilizar a disseminação das tecnologias no país.

1.2.2.6 Construção dos modelos de estruturação econômica

Completando as Agendas Tecnológicas Setoriais, a última etapa consiste da construção dos modelos de estruturação econômica (MEE). Pretende-se aqui identificar os principais atores do segmento, as oportunidades vislumbradas para as tecnologias relevantes, os gargalos e as competências existentes no Brasil, as políticas disponíveis, as ações potenciais que devem ser adotadas e atores a serem envolvidos de modo a promover as tecnologias relevantes no país. Ou seja, é o momento de unir todas as pontas do trabalho e dar uma orientação final para tomador de decisão.

O MEE refere-se ao cenário ou modelo de negócios, constituído de determinada configuração de oferta, demanda e infraestrutura capaz de promover a internalização no país e a apropriação econômica das tecnologias consideradas relevantes prioritárias e críticas. Por essa razão, os produtos desta etapa cumprem três objetivos específicos:

(i) Identificar os potenciais modelos que teriam maior eficácia para promover a internalização no país e apropriação econômica destas tecnologias prioritárias selecionadas;

(ii) Selecionar os modelos estilizados segundo o grau de atratividade e identificar os tipos de empresas que poderiam se inserir, com êxito, em cada um dos modelos de negócios apontados e, desta forma, se apresentam com melhores condições para implementar a internalização das tecnologias hierarquizadas; e

(iii) Examinar e indicar o conjunto de ações de política mais adequadas para fomentar a internalização das tecnologias prioritárias selecionadas, em cada um destes modelos e da respectiva tipologia de empresas.

A figura 7 sintetiza o passo a passo da construção dos modelos de estruturação econômica.

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Figura 7 - Etapas da elaboração dos Modelos de Estruturação Econômica

Conforme ilustrado, essa fase do projeto é dividida em cinco momentos, cada um deles detalhado a seguir.

O ponto de partida é a tarefa de identificação e (re)agrupamento do conjunto de tecnologias relevantes em objetos de análise mais concretos do que cada tecnologia isolada. A meta é reunir, agrupar as tecnologias na forma de objetos ou sistemas que tenham uma lógica produtiva/econômica. Em alguns casos, essa lógica pode coincidir com a tecnologia em si, por exemplo, quando falamos de bateria de lítio, uma tecnologia investigada que já traz o sentido de objeto econômico aqui assumido. Nos casos em que isso não ocorrer, as tecnologias serão (re)agrupadas sob essa mesma lógica.

O passo seguinte é selecionar modelos que mostram-se compatíveis com os objetos econômicos formados na etapa anterior. Isso significa identificar configurações de oferta, demanda e infraestrutura que sejam eficazes para a apropriação econômica dos conjuntos de tecnologias previamente agrupados, assim como identificar as oportunidades e gargalos associados. Para tanto, são considerados a análise dos Panoramas Tecnológico e Econômico e de entrevistas com empresas, associações empresariais e de técnicos do governo, assim como de estudo de casos internacionais. O quadro 3 ilustra esse processo de construção.

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Quadro 3 – Modelo Básico do MEE

 Dimensão Modelo 1 ... Modelo n

Escala: tamanho potencial do mercado doméstico

Driver: determinantes da demanda

Propensão a importar: intensidade da integração

ou da dependência do mercado externo

sim/não sim/não sim/nãoPertinência ao Conjunto de Tecnologias Relevantes (sim ou não?)

Modelos Estilizados de

Estruturação Econômica

Características

do Mercado

Definidos os possíveis modelos, passa-se à elaboração de uma tipologia de empresas. A meta aqui é identificar empresas que poderiam atuar no mercado das tecnologias relevantes em análise. O quadro 4 exemplifica as características sobre o perfil das empresas a serem observadas.

Quadro 4 – Modelo Básicos, Etapa II

 Dimensão Modelo 1 ... Modelo n

Porte e Arranjo Patrimonial: grande empresa

estabelecida; empresa diversificada, PME, start-

up , greenfield, etc..

Origem do Capital e da Tecnologia: nacional,

estrangeiro, misto, joint venture, alianças

tecnológicas, cadeias de valor

Grau de Concorrência: rivalidade intra-setorial,

concentração, barreiras à entrada, capacidade de

fixação de preços

Modelos Selecionados de

Estruturação Econômica

Configuração

da Indústria e

Tipologia de

Empresas

Prioritárias

Preenchido o quadro anterior, torna-se possível propor potenciais arranjos de cooperação para viabilizar o desenvolvimento e/ou internalização do conjunto de tecnologias prioritárias e críticas no Brasil. Isto porque já temos clareza acerca de como se organiza a indústria e das empresas potenciais para atuar nos respectivos segmentos. Trata-se, portanto, de fazer um exercício de proposição de possíveis arranjos entre empresas, e se for o caso em parcerias com ICTs, que deverão cooperar entre si para o desenvolvimento das tecnologias ou agrupamentos tecnológicos. Para as tecnologias críticas, para as quais não há a princípio atores estabelecidos no país, cabe sugerir associações, formas de atração de novos investimentos ou possíveis trajetórias de diversificação de empresas existentes.

Identificados os potenciais atores, pode-se concluir com as recomendações de políticas capazes de catalisar o processo de internalização e apropriação econômica do conjunto de tecnologias, dados os MEE selecionados e os tipos de empresas que nele operariam com êxito. Esta etapa apoia-se na realização de um benchmarking de políticas que poderiam dar suporte às empresas identificadas anteriormente, a construírem os arranjos sugeridos e, dessa forma, tornar mais eficaz a internalização do conjunto de tecnologias prioritárias selecionadas na etapa prévia.

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Quadro 5 – Modelo Básico

 Dimensão Modelo 1 ... Modelo n

Regulação: alcance e impacto para a estruturação

do mercado

Coordenação: alcance e impacto para a

estruturação do mercado

Incentivo: alcance e impacto para a estruturação

do mercado

Modelos Selecionados de

Estruturação Econômica

Recomendações

de Políticas

Públicas

Como resultado final dessas atividades, espera-se obter um documento abrangendo os seguintes tópicos:

Agrupamento Econômico das Tecnologias Relevantes e Críticas

Características do Mercado Alvo

Configuração da Indústria

Tipologia de Empresas Prioritárias

Proposição dos Arranjos de Cooperação

Avaliação e Recomendações de Políticas

Impactos Esperados sobre a Competitividade

Esse documento final contribuirá para os processos de tomada de decisão sobre investimentos, devendo oferecer, especialmente aos gestores públicos, não apenas indicações sobre tecnologias relevantes para a competitividade brasileira no horizonte de até 15 anos, mas também um maior detalhamento acerca dos atores que podem ser mobilizados para levar as respectivas agendas tecnológicas adiante. Ressalta-se que a depender do caráter das informações reunidas (dados reservados, por exemplo), esse documento pode ter uma circulação restrita.

4 REFERÊNCIAS

KUPFER, D.; TIGRE, P. Prospecção Tecnológica. In: CARUSO, L.A; TIGRE, P.B. (Orgs.). Modelo SENAI de Prospecção. Montevideo: OIT/ CINTERFOR, 2004.

MARTIN, B. The origins of the concept of ”foresight” in science and technology: an insider's perspective. Technology Forecasting and Social Change, v. 77, Issue 9, Nov. 2010, p. 1438-1447.