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Um “Pas de Deux” da Estratégia com a Arte: as práticas do Grupo Corpo de Balé
1. Introdução
O objetivo deste trabalho é construir o conceito de estratégia a partir da observação
das práticas na organização Grupo Corpo de Balé. Buscou-se identificar as práticas realizadas
por seus membros e desenvolver uma explicação do que seria estratégia para eles. Entende-se
por práticas o conceito proposto por Reckwitz (2002), respaldado por Jarzabkowski, Balogun
e Seidl (2007), que diz que elas são ações que se institucionalizam de alguma maneira,
incorporando formas de pensar e falar, de usar coisas, de compreender e saber, bem como de
sentir e de se posicionar. A fim de atender ao objetivo proposto, utilizaram-se como perguntas
orientadoras questões que são consideradas recursivas nesse campo: 1. O que é estratégia? 2.
Quem é o estrategista? 3. O que os estrategistas fazem? 4. O que pode explicar uma análise
dos estrategistas e suas ações?
O tema estratégia é recorrente nos estudos sobre administração haja vista o discurso
existente no meio empresarial e acadêmico que reforça sua importância. A despeito da
massificação de seu conceito e do espaço hegemônico que ocupa na administração, pode-se
encontrar na literatura abordagens mais críticas que buscam refletir sobre a ortodoxia
dominante. Este artigo tenta afastar-se da abordagem clássica e predominante de pensar
estratégia com seu foco determinista. O foco aqui se recai na estratégia como atividade
socialmente realizada, construída pelas ações, interações e negociações de atores múltiplos e
as práticas localizadas que eles constroem (JARZABKOWSKI, 2005).
Para entender melhor as práticas e a estratégia, Johnson, Melin e Whittington (2003,
p.14) sugerem que saiamos de nossas “varandas” e examinemos de perto a forma como é
constituído o trabalho nos sistemas e processos organizacionais. Nesse sentido,
empiricamente escolheu-se, para responder às questões acima referenciadas, a organização
Grupo Corpo, do subsetor de artes cênicas, parte do setor da cultura, com importância
2
acentuada no cenário socioeconômico brasileiro. No subsetor das artes cênicas, o Grupo
Corpo se destaca pela longevidade - foi fundado em 1975 - e pelo seu reconhecimento
nacional e internacional. Sua história é pontuada por continuados sucessos de público, alguns
incluídos na história das artes cênicas brasileiras como marcos. Sua importância é reconhecida
no cenário mundial por autoridades como as direções dos teatros mais prestigiados
mundialmente (Sadler’s Wheels na Inglaterra, Brooklyn Academy of Music nos Estados
Unidos, Theatre dês Champs Eliseés na França e outros).
Como suporte metodológico à consecução do objetivo da pesquisa, foi realizada uma
etnografia, tida como a melhor forma de observar as práticas em uma organização e
compreender os significados delas para os atores envolvidos (BALOGUN, HUFF e
JOHNSON, 2003; JARZABKOWSKI e WILSON, 2002; SAMRA-FREDERICKS, 2000;
2003; WHITTINGTON, 2002a). Combinado à etnografia, adotou-se o procedimento de
Grounded Theory para desenvolver a proposta de conceituar estratégia de uma forma
substantiva. Foi também realizada a análise situacional (CLARKE, 2005), uma vertente da
Grounded Theory desenvolvida com base nos pressupostos construtivistas de Charmaz (2000;
2005). Julgou-se a adoção dos esquemas situacionais, relacionais, de mundos sociais e arenas,
além dos esquemas posicionais (CLARKE, 2005), uma maneira mais extensa e, portanto,
mais completa de se possibilitar a compreensão não só da situação sob investigação, como
também de todos os elementos contextuais e condicionantes do fenômeno investigado.
Como técnicas de suporte à investigação etnográfica para a coleta de dados e para a
análise situacional usou-se a pesquisa documental, a observação participante, entrevistas
semi-estruturadas. Dessa investigação resultou um registro feito a partir de diários de campo,
gravações de depoimentos espontâneos e entrevistas formais, vídeos e fotografias. A
construção de entendimento desse registro foi baseada na Análise de Conteúdo, mais
precisamente uma análise temática, ou seja, núcleos de sentido componentes de comunicações
3
– escritas e orais – que tenham algum sentido para o objeto analítico visado (MINAYO et al.
1996) e na Análise do Discurso para a construção dos percursos semânticos, na análise dos
intra e interdiscursos (CHARAUDEAU e MAINGUENEAU, 2004). Ao final do trabalho foi
observado a construção de três mundos organizacionais identificados no Grupo Corpo: o
mundo do Grupo de Balé, o mundo do Corpo Cidadão e o mundo da Escola de Dança.
O presente artigo divide-se em cinco partes além desta introdução. Assim, a segunda
parte refere-se à delimitação teórica do tema proposto; na seguinte, buscou-se apresentar os
caminhos metodológicos escolhidos para se construir um conceito de estratégia. Na quarta
parte apresenta-se a análise dos esquemas situacionais, expostos como mundos (arenas) onde
estão configuradas as práticas observadas. A quinta parte representa o esforço de, a partir das
práticas, responder ao que foi proposto na pesquisa, ou seja, o que é estratégia, no âmbito do
grupo Corpo. Finalmente, na última parte, tecemos considerações sobre o estudo realizado,
apontando os acertos e limitações da pesquisa.
2. Estratégia como prática
A análise da estratégia como prática, no campo dos estudos organizacionais, tem como
primeira referência Whittington (1996, p.731), com o artigo “Strategy as practice” (SAP)
publicado no periódico Long Range Planning, que se propôs a responder às perguntas: O que
é estratégia? Quem a faz e como ela é feita? Buscando compreender estratégia a partir de um
trabalho de observação próximo ao estrategista, procura apreender os atos desenvolvidos por
este na construção das estratégias. Para esse autor, estratégia é compreendida como “uma
prática social (...)”. Esse mesmo autor (WHITTINGTON, 2002b; 2002c) propôs que para se
entender estratégia como algo que as pessoas fazem, era necessário que se respondesse às
seguintes perguntas: (a) Quem são os estrategistas? (b) De onde eles vêm e quais são seus
papéis desempenhados dentro das organizações? (c) Que ferramentas eles usam nesse
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trabalho?; e (d) como eles são apoiados e assessorados pelos consultores de maneira a ter
sucesso nessa empreitada?
Para explicar o ato de fazer estratégia, ou “estrategizar” i, Whittington (2002b)
questiona onde, como e por quem esse trabalho é feito. Avançando nessa linha de reflexão,
Tuckermann Von Arx e Ruegg-Sturm (2006, p.6) se referem a práticas como:
atividades rotinizadas, regulares, desempenhos habilidosos de corpos humanos. Isso inclui modos de manuseio de certos objetos, assim como atividades intelectuais como falar ou escrever [...] Ao mesmo tempo, práticas são conjuntos de atividades mentais, implicando em certas maneiras rotinizadas de compreender o mundo, de desejar algo.
Pie (2005), aproveitando-se do conceito, sugere uma diferenciação entre prática e
práticas. O autor destaca que no primeiro conceito encontram-se as ações de interação e os
esforços de interpretação que dão origem à atividade estratégica, enquanto que no segundo
residem os modos de agir, hábitos e tecnologias socialmente definidas que, efetivamente,
constroem a atividade estratégica. Para se distinguir os conceitos de prática e práticas,
Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007) propõem que se adote a concepção de prática
construída por Reckwitz (2002, p.49) que entende o conceito como:
Tipos rotinizados de comportamento que consistem de vários elementos, interconectados entre si, formas de atividades corporais, formas de atividades mentais, “coisas” e seus usos, uma base de conhecimentos na forma de compreensão, saber fazer, estados emocionais e conhecimento motivacional.
Um olhar atento ao conceito de prática apresentado por Reckwitz (2002), e que foi
adotado por Jarzabkowski (2007), concluirá que há uma implicação de intencionalidade nos
modos de rotinização que o autor propõe como sendo “querer ou desejar certas coisas e evitar
outras” (RECKWITZ, 2002, p.254). Essa intencionalidade deve ser estudada como conceito,
pois influencia a diferenciação entre estratégias deliberadas e emergentes, assim como pode se
tornar um aparato tecnológico suficiente para se entender o que seriam práticas estratégicas.
Balogun, Huff e Johnson (2003, p.199), quando se referem aos estados estratégicos, afirmam
que é necessário “uma compreensão das intenções por trás das coisas que são feitas e das que
não são”. Wilson e Jarzabkowski (2004, p.16) afirmam que, para se compreender a “sabedoria
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prática”, são necessários estudos detalhados das intenções dos estrategistas quando do uso de
práticas interativas. Desse modo, o estudo da intenção existente na adoção de uma prática
pelos membros de uma organização pode ser um elemento adicional na compreensão dos
porquês dessa adoção. Consequentemente, poderia se distinguir as diferentes práticas
adotadas, e haveria a possibilidade de se diferenciar aquelas que se poderiam julgar como
sendo estratégicas. Entretanto, não se poderia afirmar que essa seria a única condicionante do
conceito de prática que se poderia utilizar para se entender melhor as práticas organizacionais.
Outro tema, que permanece não resolvido nesta abordagem da estratégia como prática,
está relacionado à figura do estrategista, ou “estrategizadorii, aqueles que efetivamente
praticam a estratégia nas organizações, também conhecidos como praticantesiii. Jarzabkowski,
Balogun e Seidl (2007) os identificam como atores que se sustentam em práticas para agir e
cujas atividades são fundamentais para a sobrevivência da organização.
Para Whittington (2002b), é necessário não só identificar o estrategista, mas também
quais habilidades são requeridas para “estrategizar”. Ele ainda acrescenta algumas pistas e
termina por sugerir que o ator que “estrategiza”, considerando que “dá muito trabalho fazer
estratégia...”, seria principalmente aquele que ocupa posições como a de “gestores seniores;
gestores intermediários, planejadores estratégicos, experts em desenvolvimento
organizacional, consultores em gestão, especialistas em comunicação e, algumas vezes,
advogados e banqueiros de investimentos” (WHITTINGTON, 2002b, p.119).
Perceba-se que, quando o autor se preocupa em identificar os responsáveis pela ação
de fazer estratégia, está claramente aludindo ao grupo de estratégias que ele mesmo classifica
como deliberadas, intencionais, não levando em conta o grupo das estratégias emergentes. E
mesmo quando ele identifica esses atores, trabalha a construção da estratégia somente num
plano onde essa ação ocorre num nível diferenciado, mais específico, inferindo-se que não há
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possibilidades de estratégias serem construídas pelos demais atores dentro da organização ou
por organizações onde não existam esses cargos ou funções.
No Brasil, o estudo de estratégias como práticas é recente. Walter e Augusto (2009)
indicam que as primeiras publicações nacionais ocorrem a partir de 2004 e no exterior se
iniciaram em 1996, quando Whittington sinaliza para a necessidade de se considerar o modo
como as coisas são feitas nas organizações, passando a enfocar a estratégia sob um “novo”
olhar: a estratégia como prática.
Para esses autores acima citados:
O tema de SAP [estratégia como prática] mais frequente nos estudos publicados no Brasil, assim como os do exterior, se encontra no strategizing. Neste tema, encontram-se estudos que buscam compreender como ocorre o processo de strategizing de forma geral ou mais específica, como é sua relação com a criação de identidades e com aspectos simbólicos, o strategizing de expatriados e a influência de stakeholders no strategizing. O segundo tema empregado é a relação entre o conceito de prática social e a disciplina de estratégia. Para discutir essa relação, os estudos se valem da teoria social e ressaltam as raízes de SAP em autores da sociologia, como Giddens, Bourdieu e De Certeau. Além disso, destacam a relevância do conceito de prática social para o entendimento da estratégia organizacional, observam como a estratégia é construída por meio de práticas sociais e dão destaque à relação entre estas e a estratégia. Outro tema identificado é o de possibilidades metodológicas, que inclui a indicação de metodologias e técnicas para os diferentes assuntos em SAP e da proposta de combinação da Grounded Theory e das narrativas de práticas. [...] (WALTER e AUGUSTO, 2009, p. 14)
Assim, vários são os temas que percorrem os estudos da estratégia como prática e
vários são os autores que são incorporados para dar maior abrangência no significado de
prática, retirando da visão de uma prática processual, gerencial, administrativa “fechada” na
gestão da organização. Há trabalhos que (re)tomam o conceito de prática social – bastante
utilizado nos trabalhos na área de estudos organizacionais - e a relação entre esta e o fazer
estratégia nas organizações. Há também experiências em metodologias não usuais na área,
tais como Grounded Theory e o uso de narrativas, indicando o uso de pesquisa qualitativa,
corroborando metodologia com o uso de autores como Giddens, Bourdieu e Certeau.
O presente trabalho representa um esforço de analisar a estratégia como prática
construída pelos diferentes atores organizacionais do Grupo Corpo. Nesse sentido, o desafio
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de lidar com a abordagem da estratégia passa por buscar “capturar” a prática e seus
significados para os membros do Grupo de Balé Corpo e, para tanto, tornou-se necessário
escolher um percurso metodológico capaz de responder às perguntas propostas nesta pesquisa.
3. Caminhos escolhidos
Nessa investigação optou-se por combinar a etnografia e a análise situacional
(CLARKE, 2005), utilizando variadas técnicas de apoio, como a observação participante,
entrevistas semi-estruturadas, entrevistas de profundidade, pesquisa documental, fotografia e
vídeo.
Observar como é a construção de estratégias na organização e entender como se
constroem as práticas a partir das atividades cotidianas dos membros da mesma, aponta
caminhos para a observação participante. Entender os significados dessas práticas para os
membros da organização e como esses significados são construídos indica uma necessidade
de que essa observação não se restrinja aos fatos, mas que busque entendê-los na perspectiva
dos atores envolvidos. Para cumprir esses objetivos, se adotou como elementos metodológicos
essenciais, a Etnografia e a análise situacional no enfoque da Grounded Theory, os quais
serão descritos a seguir.
3.1 Etnografia
Na pesquisa de campo, a fim de compreender e apreender as práticas cotidianas optou-
se pela etnografia. Como processo, a etnografia é definida como o conjunto de técnicas para a
coleta de dados, de forma bastante abrangente, sobre os aspectos culturais e comportamentais
de um determinado grupo social que pode ser desde uma tribo indígena, em sua acepção mais
clássica, até uma sala de aula em uma escola de subúrbio (FETTERMAN, 1998, AQUINO,
2001). Como resultado e registro, seria o relatório ou livro que centraria a narrativa na
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descrição do grupo social estudado, sustentado por teorias e/ou métodos empregados na
investigação (AGAR, 1980).
Quando abandona os próprios valores na interpretação de fatos observados, o
pesquisador está adotando o que Agar (1980) denomina de perspectiva êmica, por tentar
capturar a maneira como os membros de uma cultura percebem o seu contexto e lhe dão
significado. Tal esforço demanda do observador não só a desconsideração de seus conceitos
pré-estabelecidos, como também demanda a não leitura funcional dos fatos, que devem ser
lidos a partir dos olhos do observado (CANÇADO, 1994).
Numa investigação etnográfica urbana, que caracteriza esta pesquisa no Grupo Corpo,
a atitude de estranhamento se torna fundamental, visto que o observador está investigando, na
maioria das vezes, organizações que estão inseridas no mesmo meio social em que ele vive. O
processo de observação passa necessariamente por aquilo que Neves (2006) chama de
estranhar o familiar e que, nesse caso, ocorrerá quase que o tempo todo. Buscar o significado
êmico, nesse caso, torna imperativa a compreensão dos fenômenos pela perspectiva do
observado, desconsiderando a assunção dos próprios conceitos (CANÇADO, 1994).
No caso deste estudo, houve uma variabilidade entre os níveis de observação e de
participação do pesquisador, dentro da prática da observação participante, os registros no
diário de campo se tornaram cruciais para uma posterior análise dos fenômenos observados. O
diário de campo, ou notas de campo, como as denomina Agar (1980, p.112), são consideradas
como o núcleo tradicional da pesquisa etnográfica, constituindo-se “no registro das
observações do etnógrafo, conversas, interpretações e sugestões para informações a serem
buscadas no futuro”. Dessa investigação resultou um registro feito em quatro diários de
campo, 214 gravações de depoimentos espontâneos e entrevistas formais, 120 horas de vídeo
e 11.000 fotografias, sendo 3.000 desses registros documentais.
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3.2 Grounded Theory
O método de Grounded Theory é utilizado pelas abordagens construcionistas, quando
ao estudar a realidade cotidiana das pessoas observadasiv, o pesquisador busca: (1)
familiarizar-se com o contexto, eventos e participantes no fenômeno observado; (2) focalizar
nos significados e processos; (3) estudar os eventos e ações, com ênfase na compreensão dos
processos sociais; (4) descobrir e detalhar o contexto onde ocorrem os fenômenos sociais
observados; (5) prestar atenção na linguagem utilizada pois “linguagem modela os
significados e influencia as ações. Por sua vez, ações e experiências modelam significados”
(CHARMAZ, 2005, p.525).
A Grounded Theory é um método geral de análise comparativa que se aplica a
qualquer conjunto de dados, mais indicado para dados qualitativos. Esses dados são
analisados sistematicamente através de um conjunto de metodologias que têm por finalidade
gerar teoria de modo indutivo em uma área substantiva, pelo ponto de vista dos atores
envolvidos (GLASER e STRAUSS, 1967; GLASER 1992; 1998). Acrescente-se que a teoria
gerada pelo método da Grounded Theory pode ser de dois tipos: formal, referindo-se a teoria
desenvolvida para atender a uma área formal ou conceitual da pesquisa sociológica. A teoria
gerada também pode ser substantiva, aquela desenvolvida a partir de uma área empírica ou
substantiva da pesquisa social, sendo possível através de fatos para uma análise comparativa
ou estudos etnográficos. Ressalte-se que a coleta direta de dados é extremamente útil para a
mesma (GLASER e STRAUSS, 1967).
No escopo da Grounded Theory, realizou-se a análise situacional para entender o
ambiente organizacional, adotando-se o conceito proposto por Strauss de mundos sociais e
arenas. Strauss (1978, p.122), conceitua a sociedade como um coletivo de mundos sociais que
não apresentam limites definidos, sendo que “em cada mundo social, pelo menos uma
atividade primária (em conjunto com as atividades relacionadas) é extremamente evidente...”
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Ainda, segundo Clarke (1991), um mundo social não se delimita geograficamente ou por
acordos formais, sendo um dos principais mecanismos que as pessoas utilizam para organizar
suas vidas sociais.
Quanto à arena, Clarke (1991, p.128) diz que
[ela] é um campo de ação e interação que ocorre entre uma potencialmente ampla variedade de entidades coletivas [...] Conceitualmente, uma arena inclui todos os atores coletivos (sejam eles organizações, mundos sociais, movimentos sociais nascentes, ideologias ou tecnologias) comprometidos em agir dentro dela (da arena) [...] O foco no compromisso para a ação como um delimitador da arena (ao invés de função ou área geográfica) permite a determinação empírica de quem – que entidade coletiva ou mundos sociais – está na arena.
Para realizar a análise situacional, Clarke (2005) propõe três abordagens cartográficas:
(1) os mapas situacionais, que descrevem os principais elementos humanos, não-humanos,
discursivos e outros que ocorrem na situação de pesquisa, requerendo análise das relações
existentes entre eles; (2) os mapas dos mundos sociais e arenas, referentes aos atores
coletivos, elementos chaves não-humanos e às arenas de comprometimento e discurso dentro
dos quais, aqueles elementos, se engajam em negociações recorrentes; e (3) mapas
posicionais, que descrevem as principais posições assumidas e não assumidas, nos dados
observados, contrapondo-se nos eixos de diferença, preocupação e controvérsia em relação às
questões existentes na situação de investigação. Neste trabalho foi adotada a palavra esquema,
em substituição a mapa. Segundo Mora (2000, p.893), “a noção de esquema está ligada à de
forma e de idéia”, sendo aplicados à descrição de fenômenos, quando se busca uma
explicação para os mesmos e uma representação para o entendimento do que é observado.
Para se construir os esquemas situacionais deve-se pensar em uma forma de
representar todos os elementos humanos e não-humanos importantes na caracterização da
situação de pesquisa, como aqueles simbólicos e discursivos, respondendo às perguntas:
“Quem e o que estão na situação? Quem e o que importa nesta situação? Que elementos
fazem a diferença nesta situação” (CLARKE, 2005, p.87). Uma vez construídos os esquemas
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situacionais, organizados ou desordenados, o pesquisador precisa iniciar questionamentos
sobre as relações entre os mesmos. Os conceitos de mundos sociais, arenas e análise de
discurso têm fortes raízes no interacionismo simbólico e enfocam especificamente grupos
sociais construídos em função de significados compartilhados, resultando em coletividades
variadas, pessoas que estão fazendo algo juntas, mas também podendo ser entendidos como
universos de discurso (CLARKE, 2005). Pode-se dizer que a força maior da produção de
Grounded Theory reside nos níveis intermediários de análise, onde os mundos sociais e as
arenas, como espaços simbólicos da ação social, são elementos-chave na investigação.
Assim, quanto aos aspectos metodológicos da pesquisa de campo, caracteriza-se que
as bases das análises de dados foram as Análises de Conteúdo e de Discurso. Como suporte da
análise de conteúdo – principalmente dos diários de campo – foi feita a análise temática.
Segundo Minayo et al. (1996), essa análise consiste na identificação de núcleos que tenham
algum sentido para os sujeitos pesquisados. A análise do discurso foi usada na construção dos
percursos semânticos, na análise dos intra e interdiscursos (CHARAUDEAU e
MAINGUENEAU, 2004). Ambas as análises foram usadas para a construção das práticas e de
suas sustentações discursivas no cotidiano do Grupo Corpo.
3.3 Construindo possibilidades de entendimento do Grupo Corpo
Tomando como base a afirmação de Whittington (2002a, 2002b) de que estratégias
são feitas por pessoas e que elas podem ser compreendidas pelo estudo das práticas
identificadas em uma organização, foi realizada uma análise dessas práticas a partir das
relações construídas entre estas e os sujeitos que efetivamente as implantam na organização
estudada. Assim, foi montado um esquema relacional entre as práticas encontradas e os atores
individuais e coletivos, identificando aqueles que detinham o maior número de práticas e
quais práticas eram mais importantes para o grupo.
12
Para identificar os elementos componentes de cada categoria, fundamentou-se nas
perguntas sugeridas por Clarke (2005) para saber quem e o quê estão na situação de análise
(no caso, a organização Grupo Corpo); quem ou o quê importa nessa situação e que elementos
fazem diferença. Alguns elementos surgiram espontaneamente na análise dos códigos livres,
todos derivados de análise de processos observados no Grupo Corpo, e outros foram
posteriormente examinados, no sentido de se identificar congruência entre os códigos livres e
os códigos axiais.
Para fazer a análise relacional das práticas, escolheu-se trabalhar com os atores
coletivos principais da organização Grupo Corpo. São eles: (a) a administração do grupo; (b)
a Escola de Dança; (c) a equipe técnica; (d) o núcleo de criação; (e) os montadores de
espetáculos; (f) a produção geral; (g) o Corpo Cidadão; e (h) os bailarinos. Cabe ainda
acrescentar que as práticas foram consideradas para cada ator coletivo, na medida em que
nessa prática o ator era agente implementador e não apenas participante.
No caso do estudo do Grupo Corpo, foram identificados três principais elementos não-
humanos que cumprem um papel importante nas significações das pessoas e grupos, dentro da
organização: o Espetáculo, o Instituto Cultural Corpo e o Patrocínio.
Uma síntese desses elementos está representada no Quadro 02, que traz o esquema
situacional organizado para esta pesquisa e que foi adaptado de Clarke (2005), como já
anunciado antes.
4. O Grupo Corpo: seus mundos e sua(s) estratégia(s)
Para as pessoas que constituem o Grupo Corpo os marcos históricos decorrem,
principalmente, de coreografias criadas que modificaram significativamente a percepção do
público quanto à atuação do grupo no cenário da dança contemporânea brasileira. O primeiro
marco foi o espetáculo Maria Maria – primeira peça, ficou nove anos em cartaz – e foi
13
QUADRO 1: Esquema situacional organizado, adaptado de Clarke (2005) com dados da Pesquisa
14
CATEGORIAS DE ANÁLISE CODIFICAÇÕES AXIAIS
Elementos Individuais humanos/Atores
Administradores do Grupo Corpo; Agentes; Bailarinos; Compositores de Peças Novas; Montadores de Espetáculos; Diretores da Escola de Dança; Diretores do Corpo Cidadão; Produtores de Espetáculo; Diretores de Teatro
Elementos Agentes Não-humanos Espetáculo; Instituto Cultural Corpo; Patrocínio
Elementos Coletivos Humanos/Atores
Administração do Grupo Corpo; Corpo Cidadão (subgrupos: Administração, Professores, Alunos, Grupo de Música e Grupo de Dança); Escola de Dança (subgrupos: Administração, Professores e Alunos); Grupo de Balé; (subgrupos: Equipe Técnica, Núcleo de Criação, Produção Geral e Bailarinos)
Atores/Agentes Implicados/Silenciosos
A Temática da dor; A Temática Socioeconômica; A Carreira Profissional do Bailarino
Eventos Chaves Construção do Espetáculo; Ensaio de Espetáculos; TurnêConstruções Discursivas de Atores Humanos Individuais e/ou Coletivos
A Busca do que não se sabe; A Identidade Estética; A Prática da Limpeza; O Grupo Corpo como família.
Construções Discursivas de Agentes Não-humanos O significado das peças criadas.
Elementos Políticos/Econômicos A Cortesia, A Lei RouanetElementos Simbólicos/Socioculturais A Família.
Elementos Temporais O Início, O Futuro, Os Marcos Históricos
Elementos Espaciais A Questão da Brasilidade, O espaço da cozinha; O Instituto cultural Corpo; o Palco
Práticas
A Prática da Autocrítica; A Prática da Autonomia Criativa; A Prática da Brasilidade; A Prática da Busca do que não se sabe; A Prática da Confiança; A prática da Construção de identidade; A prática da construção de ambientes receptivos; A Prática da Cortesia; A Prática da Criação Coletiva Despriorizada; A Prática da Estréia em SP; A prática de apresentações duplas; A Prática da informalidade; A Prática da Liberdade com Responsabilidade; A Prática da Limpeza; A Prática da Transparência, A Prática da Captação de patrocínio; A Prática de Construção de significados; A Prática de apelidos para Trechos do Balé; A prática de manutenção de espaços simbólicos; A Prática da Responsabilidade Social; A prática do Detalhamento; A prática do Recebimento Prévio de Cachês; A Prática de Relacionamentos de amizade
Discursos Relacionados A Imagem do Corpo; O Discurso da Contemporaneidade; A assunção da Brasilidade.
Fonte: Dados da pesquisa
percebida como uma postura arriscada, dado que o grupo poderia vir a ser conhecido como
um grupo de um espetáculo só. Para fazer frente a esse rico, o grupo desenvolveu a estratégia
de apresentar um espetáculo de sucesso de público juntamente com um novo a cada
temporada. Um espetáculo novo, outro antigo, possibilitando criar e recriar a arte de dançar.
4.1 Esquema de Mundos Sociais/Arenas do Grupo Corpo
15
O objetivo da análise que identifica os mundos sociais e arenas é localizar “pessoas
que fazem coisas juntas” segundo Becker (1986, p.33). Dessa maneira, conforme Clarke
(2005), será possível entender como as pessoas se organizam e se ajustam aos esforços de
outras pessoas que tentam organizá-las de forma diferente do que elas escolheriam, como
horários de trabalho, pessoas com as quais irá trabalhar, entre outros fatores. Para entender os
mundos sociais dentro da arena em que se situa o Grupo Corpo, é necessário entendermos
quais os acordos de comprometimento coletivos são operacionalizados e quais os mundos
sociais são proeminentes dentro da situação sob análise. Dessa forma, poderemos
compreender as razões de existência dos mundos e submundos existentes na arena onde o
Grupo Corpo opera.
Como arena maior, onde o Grupo Corpo se situa, definiu-se o setor da cultura,
especificamente o das artes cênicas. Segundo Porta (2008), esse setor abrange tanto a
produção, como a circulação e o consumo de bens e serviços culturais.
Com a intenção de descrever cada um dos mundos sociais que se relacionam ou fazem
parte da organização do Grupo Corpo e que se situam na arena das artes cênicas, foram
utilizados os seguintes questionamentos: (a) Qual a função de cada mundo? (b) Quais são os
comprometimentos coletivos assumidos por cada mundo? (c) Como os participantes do
mundo julgam que devem agir para dar conta de seu comprometimento? (d) Como cada
mundo se vê em seu discurso? (e) Como cada mundo vê os mundos que interagem com ele?
(f) Que ações têm sido tomadas e quais são antecipadas no futuro? (g) Como se organiza a
agenda do mundo social? (h) Que tecnologias são usadas e implicadas na ação do mundo
social? (i) Existem espaços específicos para organizar a ação do mundo em questão? Como
eles são? (j) O que mais existe de importante na descrição desse mundo social?
A seguir, é apresentada a Figura 01 que representa o esquema dos mundos sociais que
fazem parte ou interagem com o Grupo Corpo dentro da arena das artes cênicas. As linhas
16
FIGURA 1 - Esquema de Mundos Sociais e Arenas para o Grupo Corpo Fonte: Pesquisa de Campo
tracejadas foram utilizadas propositalmente para reforçar a ideia de fluidez e baixo nível de
delimitação existente em cada mundo social, havendo atores individuais e coletivos que
transitam e operam em diferentes mundos como se verá na descrição que será feita de cada
um deles.
4.1.1 O Mundo Pederneiras (P)
Caracterizamos como mundo Pederneiras (P), o grupo social composto por membros
da família Pederneiras que estão diretamente envolvidos com o grupo Corpo. No Grupo de
17
Balé, os três irmãos, Paulo, Rodrigo e Pedro, assumem a direção artística, a coreografia e a
direção técnica, respectivamente.
Paulo ainda tem atuação direta na direção do grupo de balé, supervisiona a área de
comunicação e a organização de turnês internacionais. A relação comercial com
patrocinadores (mundo dos patrocinadores) é de responsabilidade de Paulo. O grupo de balé
(mundo dos bailarinos) tem uma interação direta com Rodrigo, com quem trabalham todos os
dias, durante a construção de novas peças de balé e com o Paulo que, durante a construção de
novos espetáculos, vai diariamente ao teatro acompanhar a evolução do processo. Há também
Pedro Pederneiras que está presente, principalmente durante as turnês, quando ele e sua
equipe se responsabilizam pelo suporte em termos de figurinos, lanches, água e cuidados
emergenciais que possam existir durante as apresentações. Por sua vez, Mirinha Pederneiras
responsabiliza-se diretamente pela ONG Corpo Cidadão. Há uma atuação eventual do Zé Luís
Pederneiras, fotógrafo, que está presente durante a fase final de construção de novas peças de
balé, quando o trabalho dele é requerido para a produção de novas peças fotográficas para a
divulgação do trabalho do grupo.
A presença dos Pederneiras só não acontece com maior intensidade no mundo da
Escola de Dança, onde fazem intervenções eventuais, mas que tem o comando operacional
dividido por Fernando de Castro, ex bailarino do grupo e Lelena, coordenadora pedagógica.
Na equipe técnica, os laços também são familiares e, muitas vezes, o critério definidor
de uma contratação passa por laços de família. A imagem familiar é tão significativa que
claramente transpõe o significado inicial do projeto oriundo dos irmãos de uma família. Nesse
sentido, a família como tema inspirou um documentário sobre os 30 anos de existência do
grupo, denominado “Grupo Corpo, uma família brasileira”. Oscar Araiz já antecipava o
significado simbólico das relações do grupo quando disse que, além de uma organização, “[o
18
Corpo] é uma família, em diversos níveis: uma família de sangue e de ideias e também uma
família de sensibilidade...” v.
4.1.2 O Mundo do Grupo de Balé
Esse mundo tem em sua composição os submundos: mundo dos bailarinos, mundo da
criação, mundo da técnica, mundo da produção e mundo da administração. Ele também tem
uma interface importante com o mundo da mídia e o mundo do Corpo Cidadão. Sua função
essencial é apresentar espetáculos de balé. Para isso, há uma forte dependência da ação de
todos os submundos que o constituem. Até o ano de 1984, seu discurso era o de capacitação,
envolvendo esforços massivos de todos os seus submundos orientados para uma
aprendizagem acelerada, obtida nos diversos teatros em que atuou com o espetáculo Maria,
Maria. A partir do ano de 1984, seu discurso incorpora a temática do patrocínio, de uma
forma insistente, coincidindo esse discurso com a entrada em cena da lei de apoio e incentivo
cultural promulgada por José Sarney, que acabou por lhe dar o nome.
Em relação a esse mundo, pode-se caracterizar o mundo dos bailarinos como de atores
coletivos implicados e silenciosos. A relação do mundo do Grupo de Balé com seus
patrocinadores tem uma ambiguidade discursiva. Se, de um lado, o discurso confirma a
dependência financeira para com o patrocinador, por outro, há críticas na maneira como se
constrói a contrapartida, especialmente no que se refere à autonomia de criação.
A preocupação permanente desse grupo está centrada na diferenciação de sua imagem
no setor de artes cênicas, tendo se utilizado principalmente do discurso da identidade estética
como forma de caracterização e identificação do Grupo Corpo nesse cenário. A agenda de
trabalho do Grupo de Balé tem um planejamento minucioso que se estende, em média, por
dois anos à frente, em relação às apresentações. De dois em dois anos, sua agenda se ajusta à
19
agenda do mundo da criação que utiliza aproximadamente um semestre a cada dois anos para
a construção de um novo balé.
O investimento do mundo de balé em tecnologia é alto e se subdivide, principalmente,
pelo mundo dos bailarinos, o mundo da criação e o mundo da técnica. O espaço de atuação do
Grupo de Balé se centra no palco, um agente não-humano de destacada importância no
trabalho do grupo.
4.1.3 O Mundo da Escola de Dança
A Escola de Dança relaciona-se à formação artística e aperfeiçoamento de bailarinos e
coreógrafos, tendo como referência principal a imagem de excelência artística do Grupo
Corpo, construída a partir de seu Grupo de Balé.
Para manter essa imagem, os atores da escola estão permanentemente engajados em
construir ideias para workshops e oficinas de dança. Cabe também citar os Encontros de
Dança Contemporânea e o encontro denominado Dança em Setembro que são promovidos
anualmente pela escola, sempre variando as temáticas escolhidas e os nomes dos músicos,
coreógrafos e especialistas das áreas de artes cênicas que são convidados para proferir
palestras.
Em seu discurso, os atores do mundo da Escola de Dança assumem uma dependência
crônica da imagem do Grupo Corpo, considerando-a importante para o futuro da escola. O
fato de haver uma possibilidade concreta de uma separação física entre a escola e o Grupo de
Balé se configura como uma visão de futuro sombria para a existência da escola. Os atores
acreditam que essa separação física provocará um distanciamento que impactará na imagem
da escola que, em seus discursos, tem uma vinculação forte e mítica com o Grupo de Balé.
Sua agenda é construída com liberdade.
20
Entretanto, a direção da escola está permanentemente pesquisando novas informações
e construindo novas redes de contatos. Essa ação possibilita o acesso da escola a novas fontes
de aprendizado, tanto para seus alunos como para a comunidade em geral interessada em artes
cênicas. Para suas aulas, a Escola de Dança utiliza as duas salas de aula de balé no segundo
andar da sede do Grupo Corpo e, eventualmente, o teatro do terceiro andar. Nas palavras de
sua coordenadora pedagógica, a Escola de Dança Corpo “desenvolve uma visão mais crítica e
contextualizada da dança e das artes em geral nos seus alunos”.
4.1.4. O Mundo do Corpo Cidadão
Em 1998, Mirinha Pederneiras se engajou em um projeto de inclusão social, o
Sambalelê que pensava a utilização do aprendizado da arte como instrumento de inclusão e de
conscientização voltado para crianças e adolescentes oriundas de áreas de vulnerabilidade e
risco social em Belo Horizonte e seu entorno. Assim, iniciando o trabalho na favela
denominada Aglomerado da Serra, notória pela violência e pelo tráfico, o trabalho cresceu até
receber 800 crianças, número que tem sido permanente na ONG Corpo Cidadão desde o ano
de 2007.
O comprometimento dos atores envolvidos nesse mundo é o de propiciar aos jovens
que se encaixam no seu perfil de atuação, condições de aprendizado de música, dança e outras
manifestações artísticas como forma de recuperação. São 50 profissionais contratados que se
revezam em apoio pedagógico, aulas, suporte familiar e diversos tipos de orientações, além de
fornecer alimentação e abrigo aos que se encontram nos locais onde a ONG atua. Entre seus
colaboradores há alguns que são ex-bailarinos do Grupo Corpo, desempenhando o papel de
professores de dança para os jovens participantes.
Verifica-se, contudo, que a força do nome do Grupo Corpo fundamenta a relação
construída com o seu principal patrocinador, a Petrobrás, assim como as relações construídas
21
com outros eventuais colaboradores, como a Usiminas. Como a ONG não tem nenhuma fonte
de receita, sobrevive exclusivamente à custa dos patrocínios obtidos, passando por períodos
de absoluta ausência de condição financeira em toda renegociação de verbas com a Petrobrás,
tendo de encerrar as atividades por algum tempo, todo final de ano. O Corpo Cidadão não
trabalha com uma perspectiva futura muito concreta, havendo poucos significados construídos
em sua visão de futuro, além da incerteza de continuidade. Sua agenda de compromissos
sociais é feita sob a restrição imposta pela liberação de verbas pela Petrobrás. É importante
notar que o seu submundo da administração é totalmente separado do que gerencia
financeiramente o Grupo de Balé e a Escola de Dança.
Como tecnologias implicadas em sua ação social, estão todas aquelas utilizadas na
produção e aprendizado de artes cênicas em geral e artes musicais. Os espaços de atuação são
um escritório montado na Serra e em mais três endereços de atuação nos bairros onde as
crianças e adolescentes participantes de seus programas vivem. O Corpo Cidadão ainda se
utiliza das dependências do Palácio das Artes para aulas de balé com os jovens e,
eventualmente, da sede do Grupo Corpo.
5- Respondendo às perguntas sobre estratégia
Buscando responder às perguntas orientadoras desse trabalho de pesquisa (expostas no
primeiro parágrafo da introdução), torna-se necessário apoiar-se essencialmente nas práticas
observadas e na forma como elas se relacionam com os três mundos organizacionais
identificados no Grupo Corpo: o mundo do Grupo de Balé, o mundo do Corpo Cidadão e o
mundo da Escola de Dança, os quais estão representados na FIG. 2 a seguir:
22
FIGURA 2 - Análise Relacional das práticas com os mundos do Grupo Corpo (Fonte: Pesquisa de Campo)
5.1Sobre o Estrategista e o Estrategizar
Ao se pensar no estrategista não como um personagem permanente, é possível
encontrar diferentes atores responsáveis pela sua criação, se houver, sua formulação,
implantação e avaliação.
Ao identificar diversas práticas durante a construção do espetáculo Breu, observou-se
que estrategizar pode assumir diversos significados, desde ações diretivas de gestores em
23
processos até construções tácitas que não podem atribuir responsabilidades gerenciais a
alguém. Assim, a prática da informalidade se encontra diluída em processos encontrados tanto
na Escola de Dança como na ONG Corpo Cidadão e no Grupo de Balé. Não se percebem
práticas gerenciais de incentivo ou de cerceamento à prática da informalidade que surge
espontaneamente nas relações internas e externas do Grupo Corpo. Já a prática da autonomia
criativa encontra no núcleo de criação do Grupo de Balé sua institucionalização de maneira
mais acentuada. Conforme os próprios membros do grupo reconhecem, há um incentivo
permanente à crítica e à busca de algo novo, evidenciado no discurso de Paulo Pederneiras: “o
que interessa é o que não se sabe fazer.”
5.2 Sobre as Práticas
No decurso de codificação da análise situacional, foram identificadas 24 práticas,
posteriormente apresentadas e analisadas em conjunto com Paulo Pederneiras, diretor artístico
do Grupo Corpo. Do total de práticas identificadas, evidencia-se a prática da liberdade com
responsabilidade, analisada por Paulo como importante para as atividades do grupo.
Destaca-se também a prática estratégica de recebimento prévio de cachês. Nas turnês
programadas para o exterior, sem exceção, o Grupo Corpo recebe o cachê antecipado,
algumas vezes com um ano de antecedência.
O grupo tem duas práticas que chamam a atenção pela importância que têm na
imagem interna de relacionamentos e na relação com os patrocinadores: a prática da
transparência e a prática da confiança. Os gestores do grupo fazem questão de permitir acesso
de todas as pessoas interessadas às informações existentes dentro da organização. Neste
sentido, durante a realização da pesquisa de campo, sempre houve resposta para qualquer tipo
de informação solicitada. O acesso era tamanho que foi permitido conhecer e conversar com
24
dois auditores que atuavam no Grupo Corpo, fazendo análise das prestações de contas e dos
registros fiscais da organização.
Da mesma forma, é de se notar e destacar como as práticas de confiança estão
presentes nos relacionamentos internos do grupo. Os dois administradores da parte financeira
têm autonomia para movimentação financeira de pagamentos e recebimentos em nome do
grupo, podendo assinar individualmente documentos em nome do grupo.
Observou-se que não havia critérios objetivos, por parte do “estrategista” do Grupo
Corpo na avaliação e escolha de quais práticas ou ações podem ser julgadas “consequenciais
para resultados, direções, sobrevivência ou vantagem competitiva em uma dimensão
estratégica” nesta organização (JARZABKOWSKI et al, 2007, P.8). Para estes autores, a
definição de quais práticas podem implicar nos resultados, direções, sobrevivência ou
vantagem competitiva pode levar a uma descoberta de “efeitos borboleta”. Qualquer ação,
qualquer decisão dentro da organização ou prática identificada pode ser julgada como sendo
“consequencial”, banalizando o esforço de identificação de práticas que sejam estratégicas
(tudo seria estratégico e, sendo assim, não faria sentido estudar esse conceito). Se a opção for
por adotar algum critério de importância para se definir quais práticas seriam estratégicas,
pode ocorrer que, práticas entendidas pelo observador como importantes podem ter, na
opinião dos gestores da organização observada, uma avaliação de pouca ou nenhuma
importância. Para evitar essa ambiguidade, optou-se nessa pesquisa por respeitar as escolhas e
avaliações do gestor da organização.
Quando se coloca o conjunto das práticas identificadas na pesquisa etnográfica e na
codificação axial em relação aos mundos que compõem o mundo Grupo Corpo, observa-se
que há uma concentração de práticas voltadas para o mundo do Grupo de Balé, sendo que a
maior parte dessas práticas ocorre exclusivamente dentro desse mundo. Atente-se que
algumas dessas práticas, ao se localizarem dentro do mundo do Grupo de Balé, não excluem
25
ações direcionadas para o mesmo objetivo dentro dos outros mundos, como podemos
exemplificar com a prática da transparência. O que ocorre e que torna a prática diferenciadora
é que ela é ostensivamente praticada dentro do mundo do Grupo de Balé, além de fazer parte
do discurso diferenciador desse mundo. Na Escola de Dança, perceberam-se ações com o
mesmo sentido, no entanto, não há elementos discursivos e nem a intensidade ostensiva que
ocorre no mundo do Grupo de Balé.
Durante a observação etnográfica, percebemos que as práticas do Corpo Cidadão são,
em sua maioria, oriundas da vivência que a sua coordenadora, Mirinha, teve e ainda tem no
Grupo Corpo. Observa-se, pela Fig. 02, que há somente três práticas que são ativas nos três
mundos: a prática de captação de patrocínio, a prática de relacionamentos de amizade e a
prática de responsabilidade social. Um dos problemas que impactam a ação da ONG Corpo
Cidadão é o fato de que a dependência da verba oriunda de patrocínio é total, diferentemente
tanto do Grupo de Balé como da Escola de Dança. Esse mundo Corpo Cidadão não tem
capacidade ainda de gerar receita e não se percebem práticas desenvolvidas de modo
consistente que tornem seus gestores capazes de lidar com essa situação sem enfrentar crises
sazonais constantes, que têm se repetido desde a fundação da ONG, em 2000.
Em termos de dimensão futuro, os três mundos organizacionais têm posições
totalmente contrastantes quando da construção de seu significado. Se no mundo do Grupo de
Balé, como organização, a questão de futuro tem propostas sólidas de outros caminhos
alternativos para a continuidade da organização, transformando-a, o mesmo não se pode dizer
com relação ao mundo do Corpo Cidadão, diferente também da Escola de Dança.
No Grupo de Balé, há discursos localizados que pensam sobre como se manteria a
identidade do grupo, numa eventual ausência de Rodrigo, o coreógrafo. Mirinha tem pensado
eventualmente em produzir um registro escrito, em forma de pesquisa e publicação de um
26
livro, explicando a técnica de criação do Rodrigo, mas não existem ações direcionadas à
operacionalização dessa intenção.
No grupo de bailarinos, não existem práticas direcionadas ao incentivo de formação de
coreógrafos, fazendo com que esses potenciais sejam perdidos com a evasão, como aconteceu
com o bailarino Rui Moreira, que saiu do grupo para fundar sua própria companhia, a
Seraquê, e Peter Lavratti, que saiu no ano passado para tocar projetos pessoais de construção
de peças de balé como a peça Ao teu lado teria sido.
Os gestores da Escola de Dança lidam com o futuro em curto prazo, mantendo uma
visão ligeiramente pessimista do futuro, em função da possível mudança de sede do Grupo de
Balé. É provável que seus gestores tenham de repensar suas práticas de gestão caso essa
mudança venha a se concretizar, mas não se percebeu práticas orientadas ou construídas em
função desse futuro.
Em face do exposto, pode-se afirmar que houve uma sistemática construção de teorias
quando se reorganizaram os dados levantados sobre o Grupo Corpo de modo a descrever os
processos internos e identificar as práticas de seus gestores. Ao propor uma resposta para o
que é estratégia, pode-se afirmar que ela decorre de uma interpretação das práticas
observadas, aliada às dimensões percebidas como presentes nas definições usuais de
estratégia.
Na construção desse conceito substantivo, buscou-se construir um parágrafo que
contemplasse de alguma maneira todas as práticas observadas e julgadas como estratégicas,
ao mesmo tempo em que se situassem no escopo das quatro dimensões comuns aos conceitos
de estratégia. Fundamentado nesses objetivos argumentados, propõe-se que estratégia,
baseada nas práticas identificadas nas ações, decisões e discursos analisados na investigação
de campo realizada junto ao Grupo Corpo, seja conceituada como:
27
Construir objetivos aperfeiçoando processos, angariando apoios consistentes e
limpando os caminhos escolhidos, removendo tudo o que não se configure como a melhor
escolha, baseado em um senso estético de resultado futuro indesejado definido a posteriori e
mantendo tudo que assegure eficiência processual ou que favoreça a satisfação em sua
execução, sem, entretanto, mecanizar os processos ou cair na repetição, assegurando-se de
que todos compreendam e reconheçam claramente as intenções e escolhas via ações e
discursos de confirmação de propósitos.
6. Considerações Finais
Observando o percurso realizado neste trabalho de pesquisa, é necessário tecer
algumas considerações com relação à perspectiva teórica, às escolhas metodológicas e aos
objetivos assumidos para a investigação de campo e análise de dados. Desde a construção do
referencial teórico, no qual se pretendeu aliar a teoria desenvolvida no campo da estratégia,
notadamente para estratégia como prática, à direção metodológica adotada para se construir a
análise de dados, houve uma sucessão de descobertas que reforçaram a ideia de que a
proposta tinha coerência teórica e possibilidades de aporte ou contribuição ao trabalho
científico na área da administração, especificamente na teoria da Estratégia como Prática.
Constatou-se que o conceito de prática proposto por Reckwitz (2002) em si, não é
suficiente, pela sua amplitude para indicar que práticas seriam estratégicas. Essa adoção
implicou na identificação de práticas que, ao serem apresentadas aos membros do Grupo
Corpo não foram validadas como sendo práticas importantes. Esse confronto de interpretações
foi importante e consideramos que o mesmo foi suficiente para diferenciar práticas
estratégicas de práticas que não o são. Dessa forma, essa escolha confirma a atribuição ao
gestor do controle sobre a estratégia, como Whittington (1996) julga importante para se
estudar estratégia enquanto Prática.
28
Quanto ao objetivo proposto para essa pesquisa – conceituar estratégia de maneira
substantiva a partir da observação das práticas do Grupo Corpo – é possível afirmar que ele
foi alcançado, não só por uma construção semântica como a que foi apresentada ao término
do tópico anterior, mas pelo fato de que as perguntas orientadoras formuladas para se atender
ao objetivo geral também tenham sido respondidas: O que é estratégia? Quem é o
estrategista? O que os estrategistas fazem?
As práticas identificadas possibilitaram inferir que a função de estrategista é um papel
desempenhado situacionalmente por diversos atores. Além disso, a função em si é
decomposta em variadas formas de agir que vão desde a criação de práticas estratégicas até a
sua formulação e implantação. Atenção especial foi dada também ao discurso estratégico que,
no Grupo Corpo, se configura como uma prática consistente e efetiva na construção da
imagem e identidade estética.
A constatação de que a função estrategista pode ser atribuída a diferentes atores leva à
segunda pergunta sobre quem é o estrategista e dá pistas de quem seria o estrategista, na
verdade, os estrategistas. Baseando-se na prática discursiva dos membros da organização,
aponta-se Paulo Pederneiras como o estrategista do Grupo Corpo. Sua ação como líder é
reconhecida de maneira consensual e é executada sem enfrentamentos ou questionamentos,
prevalecendo um senso comum de que toda ação estratégica passa por sua figura. Entretanto,
ao se examinar os que implantam as práticas e os que as formulam ou criam, observa-se que
nem sempre a ação descrita está vinculada à figura do Paulo. Em algumas práticas, percebe-se
que sua atuação é literalmente nula e, no entanto, a prática está institucionalizada e é
reconhecida como uma prática importante para o sucesso e a história do Grupo Corpo.
A figura do Paulo como líder tem respaldo na teoria do panóptico de Foucault (1999)
para explicar a capacidade de controle que sua autoridade desenvolveu em relação aos demais
membros do grupo. Esse controle chega ao ponto de haver uma exacerbação de sua presença,
29
atribuindo-se a ele a responsabilidade pelo sucesso até em áreas onde, notadamente, a
responsabilidade cabe a outros membros do grupo.
Um fator adicional para explicar a influência de Paulo como estrategista está no
registro do mundo Pederneiras. Na análise situacional, foi identificado esse mundo familiar,
sem uma formação distinta dentro da organização, mas com ramificações e influência direta
no mundo do Grupo de Balé e no mundo Corpo Cidadão. O mundo Pederneiras exerce uma
influência importante nas práticas do Grupo Corpo e nos caminhos adotados pela organização,
principalmente no que tange ao seu futuro.
Quando se analisa a forma como as práticas ocorrem nos três diferentes mundos
organizacionais identificados dentro do Grupo Corpo, o mundo do Grupo de Balé, o mundo
da Escola de Dança e mundo do Corpo Cidadão, percebe-se que a organização tem
direcionado seus esforços estratégicos para o mundo do Grupo de Balé, já que, das 24 práticas
identificadas na pesquisa, somente uma, a de manutenção de espaços simbólicos, não tem
relação direta com o Grupo de Balé. Diga-se de passagem que essa prática se institucionalizou
em um nível tácito, de modo que ela não se vincula a nenhum dos três mundos
organizacionais.
Já a Escola de Dança tem, de forma consistente e identificada nos discursos de seus
gestores, uma vinculação a sete práticas principais. Apesar do baixo número de práticas,
comparando-se ao Grupo de Balé, todas elas têm resultados benéficos para esse mundo, no
entender de seus gestores e influenciam de maneira positiva a história e os processos
organizacionais da Escola de Dança.
O mundo do Corpo Cidadão teve vinculadas seis práticas organizacionais. Entretanto,
algumas delas não parecem suscitar efeitos benéficos para a organização, em termos práticos.
Como a organização não tem capacidade de produzir receita, o período de renovação
contratual, onde há riscos de se ficar até quatro meses sem receber verbas, coloca a ONG em
30
crise, literalmente, todos os anos. Poder-se-ia dizer que, na perspectiva de Certeau (1984), as
estratégias do Grupo de Balé, ao serem incorporadas pela ONG Corpo Cidadão, se
transformam em táticas e com baixa eficiência.
Quanto ao conceito apresentado para estratégia, ele é mais que um esforço de escolha
e sintetização de práticas observadas em um período de um ano acompanhando o Grupo
Corpo. Nele também se sintetizam nove meses de produção de Grounded Theory, em um
esforço analítico com codificações sucessivas e recodificações provocadas por reuniões de
validação de interpretações junto aos gestores do Grupo Corpo. Ainda há perguntas em
aberto, mas foi possível concluir que a observação, análise e integração das práticas é um
caminho para se identificar estratégias consolidadas em uma organização.
Todavia, a especificidade dessas práticas e a forma como os mundos e atores coletivos
na organização as constroem cria certo ceticismo quanto aos esforços quantitativos para essa
busca conceitual do que é estratégia. Consideramos que um esforço qualitativo múltiplo
organizado por um grupo de pesquisadores junto a um setor teria mais possibilidades de
produzir uma teoria formal de estratégia para esse setor sob estudo. Dessa forma, a
intersubjetividade observador-observado e entre observadores múltiplos propiciaria a escolha
e construção de significados mais amplos do que seria estratégia, um conceito real com
consequências reais.
i Alguns autores nacionais como Santos, Sette e Tureta (1996), Tureta, Rosa e Santos (1996), Crubellate, Grave e Gemienez (2005), dentre outros, adotam o neologismo “estrategizar” para se referir ao novo verbo cunhado por Whittington (1996).ii Os artigos em inglês adotam as duas terminologias, strategist e strategizer.iii Practitioner.iv Aqui, de novo, observa-se uma proximidade da Análise Dimensional, proposta por Schatzman, com a Grounded Theory construtivista de Kathy Charmaz.v Entrevista de Oscar Araiz ao jornal Pampulha, de Belo Horizonte em abril de 1980.
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