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7/23/2019 Um Quase Bartleby (Oficial_ANAIS 5SNHH)
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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque deCastro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional deHistória da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)
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UM QUASE BARTLEBY:
R ODOLFO GARCIA E SUA PRÁTICA HISTORIOGRÁFICA LIMIAR Vitor Claret Batalhone Júnior ∗
Rodolfo Augusto de Amorim Garcia nasceu em Ceará Mirim, no Rio Grande do
Norte, no dia 25 de maio de 1873. Após ter estudado no Colégio Militar do Ceará e na
Escola Militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro, graduou-se bacharel em direito na
famosa “Escola do Recife”. Além disso, Rodolfo Garcia atuou de maneira destacadacomo bibliotecário e historiador. Ao longo dos primeiros anos da década de 1910,
Garcia radicou-se na capital federal onde conheceu Capistrano de Abreu, seu grande
amigo e mestre. Esse último foi também um grande historiador, tendo sido
recorrentemente identificado como o único historiador brasileiro capaz de produzir obra
superior à História geral do Brasil de Francisco Adolfo de Varnhagen. Entretanto, nem
Capistrano nem Garcia realizaram tal tarefa (ABL, s/d: s/p).1
Entre as publicações assinadas por Rodolfo Garcia, podemos mencionar os
Nomes de aves em língua tupi, de 1913; o Dicionário de Brasileirismos, datado de
1915; sua colaborção ao Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil ,
organizado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, para o qual escreveu sobre
Etnografia Indígena e História das Explorações científicas no Brasil ; elaborou ainda o
Catálogo dos Livros, Folhetos, Documentos, Retratos, Bustos, Máscaras etc.,
pertencentes à Biblioteca, Arquivo e Museu do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, obra de referência que foi publicada em número especial da Revista do
IHGB, referente à edição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil;
além de seu Sistemas de classificação bibliográfica: da classificação decimal e suas
vantagens e do Ensaio sôbre a história política e administrativa do Brasil (1500-1810).
Aparentemente, Rodolfo Garcia parece não ter escrito nenhuma grande obra. Porém
apenas parece que o autor não o tenha feito (ABL, s/d: s/p).2
∗ Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS. Bolsista CAPES.1
Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=212&sid=350>.Acessado em: 17/02/2011.2 Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=212&sid=350>.Acessado em: 17/02/2011.
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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque deCastro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional deHistória da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)
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Em 1853, Herman Melville publicou seu Bartleby, o escrivão: uma história de
Wall Street , no qual contara a história ficcional de um indivíduo que trabalhava numescritório de Wall Street como copista manual de documentos. O fato curioso era que,
quando alguém o indagava sobre sua opinião ou lhe demandava uma ação qualquer,
Bartleby se limitava a responder: “Eu preferiria não o fazer”.
Já no final do século XX, no ano de 2000, o escritor catalão Enrique Vila-Matas
se inspirou no personagem criado por Herman Melville e publicou um interessante livro
intitulado Bartleby e companhia, no qual discutiu através de um ensaio ficcional, aquilo
que ele denominou de “síndrome de Bartleby”. Tal síndrome seria uma espécie de pulsão negativa face ao ato da criação literária, dando origem àqueles que o autor
identificou como sendo os “escritores do Não”: autores que ou escreveram
pouquíssimas obras e depois se silenciaram profundamente, ou que, apesar de serem
reconhecidos publicamente em relação aos seus potenciais literários, nunca chegaram a
compor as tão esperadas grandes obras.
No ano de 1900, a Tipografia Laemmert, sediada no Rio de Janeiro,
encomendou a Capistrano de Abreu um amplo projeto de anotação crítica da História
geral do Brasil de Varnhagen (MATTOS, s/d: s/p). Essa edição revista e anotada
constituiria a terceira edição da História geral , uma vez que as duas primeiras edições
foram publicadas por Varnhagen ainda em vida. A primeira edição da História geral do
Brasil foi publicada em Madrid, em dois volumes, entre os anos 1854 e 1857. Já a
segunda edição, corrigida e aumentada pelo próprio autor, foi publicada em Viena em
1877. Entretanto, a terceira edição revista e anotada, sob a responsabilidade de
Capistrano de Abreu, acabou sendo publicada apenas muitos anos depois da encomenda
feita pela Tipografia Laemmert, pois em 1906 um incêndio na casa de edição destruiu
boa parte dos materiais. De qualquer forma, o primeiro volume da terceira edição
acabou sendo publicado em 1907 (CEZAR, 2002: 540-541).
Alguns anos após tal incidente, Rodolfo Garcia tomou parte no projeto de
anotação crítica da terceira edição da História geral do Brasil . Todavia, Capistrano de
Abreu acabara falecendo em 1927, de forma que a terceira edição integral da obra de
Varnhagen foi publicada apenas nos anos seguintes (GONTIJO, 2007: 42). Assim, a
maior parte dos volumes foi anotada e revisada especialmente por Rodolfo Garcia.
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Enquanto trabalharam juntos, Rodolfo Garcia também acompanhou Capistrano
em outros importantes empreendimentos, principalmente no que tange a publicação dedocumentos que os autores consideravam fundamentais para a consecução de uma
história e de uma historiografia brasileiras mais completas do que as de seus
antecessores. Dessa forma, o grande nome e a grande obra a serem batidos eram
Varnhagen e sua História geral do Brasil .
Para compor o hercúleo trabalho de anotação da referida obra do Visconde de
Porto Seguro, Capistrano e Garcia recorreram a inúmeros documentos e monografias
históricas, muitos deles previamente conhecidos, outros, porém, inéditos. No que tangeos documentos históricos primários utilizados, alguns daqueles que aparecem entre as
notas de rodapé e de finais de seções merecem atenção privilegiada devido à sua
frequência de utilização e aos anexos textuais que encontramos em suas edições. Entre
tais documentos, destacamos a coleção da Primeira visitação do Santo Ofício às partes
do Brasil , os Tratados da terra e gente do Brasil de Fernão Cardim, o Diário da
navegação de Pero Lopes de Sousa e a História do Brasil de Frei Vicente do Salvador.
Encontramos em todas essas edições, prefácios, introduções críticas e notas
escritas ou por Capistrano de Abreu ou por Rodolfo Garcia, sendo que em algumas
ocasiões existem textos de ambos os autores. Todavia, dentro desse conjunto, os textos
mais importantes assinados por Rodolfo Garcia encontram-se nas edições da Primeira
visitação do Santo Officio ás partes do Brasil pelo licenciado Heitor Furtado de
Mendoça: Denunciações de Pernambuco (1593-1595) e nos Tratados da terra e gente
do Brasil de Fernão Cardim.
A partir de 1922, a coleção da Primeira visitação do Santo Officio ás partes do
Brasil foi editada, contendo os volumes, a adição de prefácios, introduções e notas de
Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia. Tais edições tiveram como origem uma
demanda da Sociedade Capistrano de Abreu, a qual havia projetado uma série de
publicações de documentos históricos intitulada “Eduardo Padro” (ABREU, 1935:
XXIX). Sob a responsabilidade de Capistrano de Abreu ficaram os volumes das
Confissões da Bahia (1591-92) e das Denunciações da Bahia (1591-1593). No caso das
Denunciações de Pernambuco (1593-1595), o estudo introdutório ficou a cargo de
Rodolfo Garcia.
Entretanto, o fato interessante é que enquanto Rodolfo Garcia trabalhava no
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processo de anotação da História geral do Brasil ele também trabalhava na edição
crítica dos documentos históricos em questão. Dessa forma, tais documentos, assimcomo a História geral , passaram a compartilhar um mesmo núcleo discursivo lastreado
sobre um conjunto de referências similares. As notas de rodapé adicionadas por Garcia à
História escrita pelo Visconde contém inumeráveis referências e citações das edições
dos referidos documentos que Rodolfo Garcia tratava de anotar e prefaciar
concomitantemente ao seu trabalho de anotação da História geral do Brasil . Houve
momentos em que a própria versão da obra de Varnhagen serviu como referência em
notas de rodapé ou no próprio corpo do texto, a informações que visavam garantir asnarrativas existentes nos prefácios e introduções críticas adicionados aos documentos
aqui discutidos. Isso possibilitou o surgimento de um movimento de autorreferenciação
discursiva através do qual tanto a História geral passou a fundamentar os anexos
textuais presentes nos volumes editados com a colaboração de Rodolfo Garcia, quanto
tais documentos passaram a fundamentar as notas adicionadas ao “monumento”
varnhageniano.
Ao mesmo tempo em que Garcia trabalhava para oferecer uma versão anotada
da História geral ao longo do ano de 1929, era escrito o prefácio e publicado o volume
das Denunciações de Pernambuco. O mesmo fenômeno é observável no apêndice
textual que introduz Tratados da terra e gente do Brasil de Fernão Cardim, o qual conta
com uma Introducção Geral escrita por Rodolfo Garcia.
Em 1923, sob os auspícios da presidência de Afrânio Peixoto na Academia
Brasileira de Letras (ABL), foi esboçada uma tentativa de “começar a publicação de
duas séries de obras raras e preciosas”, tratando dos “classicos nacionaes”. Esses
volumes constituiriam a coleção Biblioteca de Cultura Nacional, que deveria abranger
obras e documentos classificados dentro das seguintes especificações: história,
literatura, “dispersos” e bio-bibliografia (ABL, s/d: s/p; GARCIA, 1939: 7-8).3
Posteriormente, o empreendimento passou a se chamar Coleção Afrânio Peixoto.
Segundo o então presidente, tais edições deveriam ser “enriquecidas de introducção
bibliographica, e de notas elucidativas, das quaes serão encarregados os nossos
confrades que tiveram pendor por esse gênero de estudos” (PEIXOTO apud GARCIA,
3 Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=44&sid=127>.Acessado em: 17/02/2011.
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1939: 7). Os escolhidos entre seus pares em função do “pendor por esse gênero de
estudos” foram Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia. A partir de então, ambos osautores estavam encarregados de executar uma terefa considerada essencial para a
constituição da história e da historiografia brasileiras.
Os Tratados da terra e gente do Brasil de Fernão Cardim são uma das poucas
obras desse projeto que foram efetivamente publicadas. Antes de serem editados sob a
forma de um corpo textual único e homogêneo, os Tratados de Fernão Cardim eram
constituídos por três códices singulares. O primeiro recebera o título de Do Clima e
Terra do Brasil , o segundo, de Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil , sendo oúltimo tratado conhecido como Narrativa epistolar ou Informação da Missão do Padre
Christovão de Gouvêa às partes do Brasil (GARCIA, 1939: 8).
Além de ter escrito a referida Introducção Geral , Rodolfo Garcia também
adicionou notas ao texto da edição integral de Do Clima e Terra do Brasil publicada por
Capistrano de Abreu em 1885. Essa edição foi estabelecida especialmente a partir de um
manuscrito original existente na Biblioteca de Évora e de um códice existente no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, contando também com o cotejamento da
versão publicada em inglês por Samuel Purchas em 1625 (GARCIA, 1939: 15).
Já a Narrativa espistolar ou Informação da Missão do Padre Christovão de
Gouvêa às partes do Brasil foi publicada primeiramente por Francisco Adolfo de
Varnhagen em 1847. O Visconde de Porto Seguro também se utilizou de um códice
existente na Biblioteca de Évora para publicar em Lisboa sua edição da Narrativa
epistolar , obra que seria bastante utilizada na composição da História geral do Brasil .
Mais uma vez as notas ficaram a cargo de Rodolfo Garcia, pois nem Varnhagen e nem
Eduardo Prado, que trabalhou num edição para o IHGB em 1902, conseguiram
adicionar as notas desejadas (GARCIA, 1939: 9-10).
Na sua Introducção Geral , Garcia esboçou uma pequena biografia do jesuíta,
configurando-lhe não somente como um “precursor” da escrita da História do Brasil,
mas também como um dos primeiros indivídous a compor a linhagem dos “patriotas”
brasileiros (GARCIA, 1939: 10-11). Dessa forma, Rodolfo Garcia criou as condições
para que se tornassem pensáveis as idéias de uma nacionalidade e de uma história
especificamente brasileiras que estariam em processo contínuo de formação desde pelo
menos o século XVII. Dentro dessa história, Fernão Cardim foi conformado tanto como
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uma personagem quanto como um autor. Entretanto, Rodolfo Garcia sempre
caracterizou a obra do jesuíta Cardim antes como um documento do que como aquiloque ele poderia definir como sendo uma obra historiográfica autêntica segundo sua
concepção.
Como afirmado anteriormente, também na Introducção Geral aos Tratados de
Fernão Cardim podemos observar o referido movimento circular de autorreferenciação
do discurso histórico enunciado por Rodolfo Garcia nas notas de rodapé, nos prefácios e
introduções que escreveu para as edições da História geral do Brasil e dos documentos
cujas edições críticas ficaram sob a sua responsabilidade. Portanto, encontramosnovamente alguns indícios que nos permitem pensar que os estudos realizados por
Rodolfo Garcia para compor as edições de tais documentos coloniais e da História geral
do Brasil teriam sido realizados simultaneamente.
Parece que de certa forma, as possibilidades de se contar a história do Brasil sem
tocar nesses documentos ou na História geral escrita por Varnhagen eram restritas e
apenas aumentavam à medida que monografias e novos estudos eram realizados, assim
como novos documentos eram descobertos, criticados, editados e publicados. Isso nos
leva a uma última questão.
Capistrano de Abreu acreditava que um dos elementos essenciais para a
composição da escrita de uma “História Pátria” mais completa, mais verdadeira do que
as compostas por seus antecessores compreendia como etapa básica de trabalho o
rastreamento, o descobrimento e a apuração crítica de documentos considerados
fundamentais. Através desse procedimento necessário básico, Capistrano acreditava
poder indicar e fechar as lacunas referentes à história e à historiografia brasileiras,
especialmente aquelas que se referiam ao passado colonial, como por exemplo, o
período das bandeiras. Segundo o autor, o conhecimento histórico sobre o século XVI e
sobre as bandeiras era escasso, demandando de maneira imperativa, estudos que
esclarecessem tais intervalos sombrios sobre o passado brasileiro (ABREU, 1931: 199,
204-205). Dessa forma, Capistrano deixa entrever uma concepção segundo a qual
existiria uma estrutura fenomênica do passado com existência efetiva em potencial para
além das representações historiográficas. Aproveitando o exemplo das bandeiras,
podemos considerar que essas somente se tornariam objeto de pesquisa pertinente a um
projeto ou questionário mínimo de trabalho caso algum indivíduo-historiador assim o
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demandasse cognitivamente, mas não por força necessária emanada do objeto história
do Brasil enquanto uma entidade que se acreditava suficiente. Isso não significa que as bandeiras não foram uma realidade determinada do passado, mas apenas que as
bandeiras não são um objeto necessário da composição de uma estrutura-objeto que
identificamos como a história do Brasil.
Rodolfo Garcia comungava tal crença com Capistrano de Abreu. O fato de ele
ter herdado com tanto empenho, mérito e zelo a tarefa de anotar e prefaciar a História
geral do Brasil assim como os documentos coloniais aqui referidos é um indício disso,
mesmo que Rodolfo Garcia não tenha expressado tal crença historiográfica comum tãoclaramente como o fez Capistrano de Abreu.
Para finalizar esta reflexão sobre a prática historiográfica realizada por Rodolfo
Garcia, prática essa que optamos por classificar como limiar, uma vez que foi
construída em grande parte nos limites do discurso historiográfico efetuado pelo autor,
ou seja, aquele discurso que se encontra nos anexos textuais das notas de rodapé,
prefácios e introduções críticas adicionadas às obras e aos documentos historiográficos
por ele processados, voltemos ao escrivão criado por Herman Melville e principalmente
à “síndrome de Bartleby” teorizada literariamente por Enrique Vila-Matas.
Como afirmado anteriormente, tal síndrome seria uma espécie de pulsão
negativa em reação ao ato de criação literária. Aqueles que fossem portadores da
síndrome seriam os “escritores do Não”, os quais teriam criado poucos textos e depois
teriam se calado literariamente ou, apesar de serem reconhecidos como grandes autores
literários em potencial, nunca chegaram a escrever suas esperadas páginas de gênio.
Garcia, assim como Capistrano, não chegou a escrever uma grande obra
historiográfica. Poderíamos pensar que talvez o autor tivesse sido contaminado pela
“síndrome de Bartleby”, escrevendo “apenas” alguns anexos textuais e se calado
posteriormente sem conseguir efetuar sua tão esperada grande obra. Teria o peso da
totalidade da referida estrutura fenomênica que os autores acreditavam existir para além
das representações historiográficas que criamos acerca do passado esmagado suas
pretensões de escrever uma nova e mais completa grande história geral do Brasil? Teria
a pulsão pelo controle máximo dos documentos históricos desorientado a prática
historiográfica de Rodolfo Garcia, levando-o a uma enseada de silêncio em lugar da tão
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almejada nova história geral do Brasil? Teriam sido os documentos em excesso antes
um obstáculo do que um conjunto útil de ferramentas para o trabalho cognitivo dohistoriador?
Já adianto que não possuo aqui tais respostas. Todavia, tendo a pensar que
Rodolfo Garcia possuísse uma espécie de imunidade à “síndrome de Bartleby”, pois não
faltou ao autor uma obra imensa e processada com frequência. Garcia escreveu muito,
estudou muito, mas o resultado de seu trabalho é mais perceptível em espaços textuais
heterodoxos. Suas notas, prefácios e introduções compõem junto aos seus poucos
estudos editados singularmente, uma obra imensa. Como poderia então ter sido o autorum enfermo de Bartleby? Rodolfo Garcia poderia antes ter sido um quase Bartleby, ou
melhor, um Bartleby às avessas, pois me parece que sua tão aguardada grande obra da
“História Pátria” foi escrita de certa forma, e em coautoria com Capistrano de Abreu,
nos limites espaciais e discursivos que passam amiúde despercebidos, ou seja, as notas
de rodapé, prefácios e introduções.
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