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7/23/2019 Um Roteiro Para Ler Dostoiévski http://slidepdf.com/reader/full/um-roteiro-para-ler-dostoievski 1/6 Um roteiro para ler Dostoiévski Tive a ideia de elaborar este roteiro ao constatar o seguinte fenômeno: muitas pessoas que se lançam na obra de Dostoiévski escolhem, como primeira leitura, Crime e Castigo ou Os Irmãos Karamázov, por serem os livros mais comentados do autor, e uma grande parte destes leitores, talvez a maioria, abandona o livro, sobretudo os que começam por Os Irmãos Karamázov !lém disso, h" o problema das traduç#es $mbora Dostoiévski %" tenha encantado milhares de leitores brasileiros no século passado, somente de uns anos para c", com as traduç#es feitas diretamente do russo, estamos tendo acesso a te&tos mais fiéis ao verdadeiro Dostoiévski De modo geral, a linguagem de Dostoiévski n'o é dif(cil) pelo contr"rio, é acess(vel e proporciona uma leitura r"pida, mas h" elementos que podem causar uma falsa impress'o de densidade, como, por e&emplo, os nomes russos, com os seus patron(micos, as variaç#es e as numerosas consoantes, os di"logos quilométricos *com frequ+ncia os personagens de Dostoiévski falam como se estivessem lendo um livro-., as digress#es, os devaneios, os circunl/quios e os e&cessos *esses e&cessos s'o importantes do ponto de vista estil(stico. 0 claro que começar pelos grandes romances n'o é nada de t'o absurdo assim $u mesmo comecei por Crime e Castigo, no inverno de 1222, mas essa primeira e&peri+ncia n'o foi muito boa 3or falta de orientaç'o, adquiri um e&emplar da $ditora $diouro, com traduç'o de 4arlos 5eitor 4on6 $u gosto muito do 4on6, %" li muitos de seus romances e %" assisti a uma palestra sua, que me pareceu /tima, e sempre recomendo fortemente os seus livros, mas a sua traduç'o de Crime e Castigo deve ser evitada, %" que é indireta *é uma traduç'o de uma traduç'o para o franc+s. e, o pior de tudo, o te&to n'o é integral 7eguir a ordem cronol/gica também me parece desaconselh"vel, %" que, nesse caso, começar(amos com uma série de te&tos menos e&pressivos e demorar(amos muito para chagar a Os Irmãos  Karamazov UM ROTEIRO PARA LER DOSTOIÉVSKI por 3ablo 8onzalez 9 roteiro a seguir est" dirigido a pessoas que est'o iniciando a sua caminhada pela obra de Dostoiévski, mas os leitores e&perientes est'o convidados a analisar, criticar, aprovar ou desaprovar, acrescentar informaç#es, comentar e dar os seus pr/prios conselhos aos principiantes 1 Noites Brancas (1848  $scolhi  Noites Brancas  como ponto de partida para o nosso roteiro por tr+s raz#es 3rimeiro: trata;se de um romance breve *muitos o classificam como novela ou conto longo., que pode ser lido facilmente em um <nico dia 7egundo: o protagonista e narrador da hist/ria, cu%o nome n'o é mencionado em nenhum momento, tem caracter(sticas que reaparecer'o em personagens importantes dos grandes romances, como o pr(ncipe =ichkin * O Idiota. e Dm(tri >aramazov *Os Irmãos Karamazov., servindo, dessa maneira, como uma pequena amostra do her/i dostoievskiano Terceiro: logo nas primeiras p"ginas do livro, enquanto faz observaç#es angustiantes sobre a sua vida, o narrador caminha sem rumo pelas ruas de 7'o 3etersburgo 3odemos ver o ?io @iev", a !venida @ievski, e n'o e&iste melhor maneira de se entrar no universo de Dostoievski do que vagando por essa cidade t'o recorrente em sua obra Noites Brancas é uma hist/ria de amor 9 enredo é simples e repleto de suspense Depois de perambular durante tr+s dias, o protagonista conhece uma %ovem e imediatamente se apai&ona $la aceita se

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Um roteiro para ler DostoiévskiTive a ideia de elaborar este roteiro ao constatar o seguinte fenômeno: muitaspessoas que se lançam na obra de Dostoiévski escolhem, como primeiraleitura, Crime e Castigo ou Os Irmãos Karamázov, por serem os livros mais

comentados do autor, e uma grande parte destes leitores, talvez a maioria,abandona o livro, sobretudo os que começam por Os Irmãos Karamázov !lémdisso, h" o problema das traduç#es $mbora Dostoiévski %" tenha encantadomilhares de leitores brasileiros no século passado, somente de uns anos para c",com as traduç#es feitas diretamente do russo, estamos tendo acesso a te&tos maisfiéis ao verdadeiro Dostoiévski De modo geral, a linguagem de Dostoiévski n'o édif(cil) pelo contr"rio, é acess(vel e proporciona uma leitura r"pida, mas h"elementos que podem causar uma falsa impress'o de densidade, como, pore&emplo, os nomes russos, com os seus patron(micos, as variaç#es e as numerosasconsoantes, os di"logos quilométricos *com frequ+ncia os personagens deDostoiévski falam como se estivessem lendo um livro-., as digress#es, osdevaneios, os circunl/quios e os e&cessos *esses e&cessos s'o importantes do pontode vista estil(stico.

0 claro que começar pelos grandes romances n'o é nada de t'o absurdo assim $umesmo comecei por Crime e Castigo, no inverno de 1222, mas essa primeirae&peri+ncia n'o foi muito boa 3or falta de orientaç'o, adquiri um e&emplar da$ditora $diouro, com traduç'o de 4arlos 5eitor 4on6 $u gosto muito do 4on6, %" limuitos de seus romances e %" assisti a uma palestra sua, que me pareceu /tima, esempre recomendo fortemente os seus livros, mas a sua traduç'o de Crime eCastigo deve ser evitada, %" que é indireta *é uma traduç'o de uma traduç'o para ofranc+s. e, o pior de tudo, o te&to n'o é integral 7eguir a ordem cronol/gicatambém me parece desaconselh"vel, %" que, nesse caso, começar(amos com uma

série de te&tos menos e&pressivos e demorar(amos muito para chagar a Os Irmãos Karamazov

UM ROTEIRO PARA LER DOSTOIÉVSKIpor 3ablo 8onzalez

9 roteiro a seguir est" dirigido a pessoas que est'o iniciando a sua caminhada pelaobra de Dostoiévski, mas os leitores e&perientes est'o convidados a analisar,criticar, aprovar ou desaprovar, acrescentar informaç#es, comentar e dar os seuspr/prios conselhos aos principiantes

1 Noites Brancas (1848  $scolhi Noites Brancas como ponto de partida parao nosso roteiro por tr+s raz#es 3rimeiro: trata;se de um romance breve *muitos oclassificam como novela ou conto longo., que pode ser lido facilmente em um <nicodia 7egundo: o protagonista e narrador da hist/ria, cu%o nome n'o é mencionadoem nenhum momento, tem caracter(sticas que reaparecer'o em personagensimportantes dos grandes romances, como o pr(ncipe =ichkin *O Idiota. e Dm(tri>aramazov *Os Irmãos Karamazov., servindo, dessa maneira, como uma pequenaamostra do her/i dostoievskiano Terceiro: logo nas primeiras p"ginas do livro,enquanto faz observaç#es angustiantes sobre a sua vida, o narrador caminha semrumo pelas ruas de 7'o 3etersburgo 3odemos ver o ?io @iev", a !venida @ievski, en'o e&iste melhor maneira de se entrar no universo de Dostoievski do que vagandopor essa cidade t'o recorrente em sua obra Noites Brancas é uma hist/ria de amor9 enredo é simples e repleto de suspense Depois de perambular durante tr+s dias,o protagonista conhece uma %ovem e imediatamente se apai&ona $la aceita se

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encontrar outras vezes com a condiç'o de que ele lhe permita contar a sua tr"gicahist/ria E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' Noites Brancas E!itora )4tra!*"#o !e Ni+a%!o !os Santos , -. /0inas2

A U& 3oa!or (18.  4omo segundo passo, optei por este intrigante romance,

que também foi traduzido como O Jogador, por proporcionar uma leitura r"pida eleve e pertencer a uma etapa importante da vida e da produç'o liter"ria do autor 9livro é considerado altamente autobiogr"fico, %" que Dostoiévski tinha o v(cio do %ogo e perdeu muito dinheiro nos cassinos europeus !ssim como em Noites Brancas, a narrativa est" na primeira pessoa, mas desta vez o protagonista temnome, !leksiéi BvCnovitch, e é bem mais comple&o ! hist/ria transcorre numacidade fict(cia da !lemanha, ?oletemburgo *uma alus'o roleta dos cassinos. e ospersonagens t+m diversas nacionalidades *russa, inglesa, alem', francesa,polonesa. E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' U& 3oa!or E!itora )4tra!*"#o !e Boris Sc5nai!er&an , 6)6 /0inas2

E Depois de ler Noites Brancas e Um Jogador, certamente %" estaremos prontos

para embarcar em Crime e Castigo, o primeiro grande romance do nosso roteiro,mas, apenas para ir intercalando romances com novelas, sugiro a leitura de duaspequenas pérolas da <ltima fase do escritor 7'o elas: A D7ci% (18. e O Son5o!e U& o&e& Ri!9c*%o (18, que foram reunidas pela $ditora EF no livroDuas @arrativas Gant"sticas @a primeira, encontramos um comerciante bem;sucedido que tenta entender o suic(dio da %ovem esposa @a segunda, é o narradorquem est" a ponto de acabar com a pr/pria vida, mas ele adormece na poltrona,diante do revolver, e tem um sonho fant"stico e redentor, que o conduz a ummundo perfeito, habitado por criaturas belas e bondosas *o tema da utopia érecorrente em Dostoiévski. E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' D*asNarrati+as :ant0sticas E!itora )4 tra!*"#o !e Va!i& Ni;itin , 168

/0inas2

F <ri&e e <astio (18..  4lassificar um romance de Dostoiévski comopolicial é, sem d<vida, um erro, mas este livro tem v"rios elementos do g+nero: umcrime terr(vel e premeditado, a fuga, a investigaç'o implac"vel, o suspense daprimeira <ltima p"gina Utilizando a terceira pessoa, o autor nos coloca na mentede diversos personagens 9 protagonista e e&ecutor do crime *e um dospersonagens mais célebres de toda a literatura universal. é ?ask/lnikov, um %ovemorgulhoso e perturbado ! hero(na é 7ônia, uma garota que, diante do alcoolismodo pai e da enfermidade da m'e, é obrigada a se prostituir para alimentar os irm'ospequenos 9 detetive é o impiedoso 3orfiri 3ietr/vitch *na verdade, trata;se de um

 %uiz de instruç'o, mas é ele quem investiga o caso, promovendo interrogat/rios que beiram a tortura psicol/gica. ?ask/lnikov nega o crime, mas, ao mesmo tempo,sente uma necessidade de e&piar a culpa) apai&ona;se pela prostituta, delira, éa%udado por um amigo que se envolve com a sua irm') 3orfiri encontra umestranho artigo que ?ask/lnikov escreveu na faculdade, quando era estudante deDireito, e esse artigo se transforma numa pista para desvendar o crime De acordocom o ensa(sta 9tto =aria 4arpeau&, conhecer Dostoiévski é como conhecer o marHuem estiver seguindo este roteiro e começou com Noites Brancas e Um Jogador %" ter" visto esse mar, mas ler Crime e Castigo é como ser arrastado poruma onda desse mar numa terr(vel tempestade ! e&peri+ncia é avassaladora@enhuma pessoa continua sendo a mesma depois de fechar este livro E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' <ri&e e <astio E!itora )4 tra!*"#o !e Pa*%o

Be=erra , >.8 /0inas2

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I O Eterno Mari!o (18?  $mbora tenha a sua dose dram"tica, o  Eterno Marido é um dos livros mais engraçados de Dostoiévski 3or essa raz'o, e tambémpor ser curto, leve e, para alguns cr(ticos, o te&to mais bem acabado do escritor,coloquei;o depois de Crime e Castigo no nosso roteiro 9 tema central é ainfidelidade, n'o a infidelidade passional, mas uma infidelidade instintiva,

intr(nseca, autom"tica JienltchCninov tem a impress'o que est" sendo seguido porum homem misterioso, que parece estar por toda 7'o 3etersburgo, eles travamconhecimento, o homem se revela o marido da sua e&;amante, que acaba de falecer JienltchCninov tem um sonho premonit/rio, surgem uma menina de paternidadeduvidosa, uma carta escrita h" v"rios anos pela finada e um segundo e&;amante damesma $m determinado ponto do livro, o protagonista afirma que algumasmulheres parecem ter nascido para serem infiéis, mas que, para esse tipo demulher, e&iste um tipo de homem correspondente: o eterno marido ! trama est"cheia de surpresas e o suspense é conduzido de modo magistral até o fim E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' O Eterno Mari!o E!itora )4 tra!*"#o !eBoris Sc5nai!er&an , 61. /0inas2

K Me&7rias !o S*$so%o (18.4  @osso roteiro continua com outro livrofundamental de Dostoiévski Trata;se de um te&to obscuro, denso e perturbador 7eler Crime e Castigo é conhecer as furiosas ondas do mar dostoievskiano,ler Memórias do Subsoo é afogar;se, chegar s profundezas desse mar epermanecer ali por minutos que parecem atemporais, na mais completa solid'o 9livro est" dividido em duas partes com estruturas narrativas diferentes ! primeira,que se chama 9 7ubsolo-, é um mon/logo @a segunda parte, ! prop/sito da nevemolhada-, h" um pequeno enredo, o homem subterrCneo abandona a escurid'o, saicom os colegas do trabalho, pelos quais ele é desprezado, e se envolve com umaprostituta, mas o principal elemento continua sendo a voz, uma voz contundente,ressentida, parado&al e sinistra, uma voz que causaria uma alegria sem limites- a

@ietzsche e revolucionaria toda a literatura, por inaugurar o uso de atmosferasaleg/ricas, na ficç'o, para tratar de temas filos/ficos e sociais E!i"#o $rasi%eirareco&en!a!a' Me&7rias !o S*$so%o E!itora )4 tra!*"#o !e BorisSc5nai!er&an , 148 /0inas2

L O I!iota (18.-  Trinta anos antes que Greud publicasse a Inter!reta"ão dos Son#os, Dostoiévski %" demonstrava ser um profundo conhecedor da psiquehumana, fato que pode ser constatado em toda a sua obra e, especialmente, em O Idiota, o segundo grande romance do nosso roteiro 0 o livro ideal para escapar dasolid'o e da ang<stia de Memórias do Subsoo, pela abundCncia de personagens,todos muito peculiares, e porque o protagonista, o pr(ncipe =(chkin, nos encher"

de esperanças $le é um homem simples e benevolente, que sabe perdoar, mas, por viver em uma sociedade corrompida, é visto como um idiota Utilizando di"logoslongos e outros recursos, como a transcriç'o de cartas e artigos *alterando o foconarrativo da terceira para a primeira pessoa., o autor nos conta uma série deepis/dios, alguns engraçad(ssimos, que funcionam como hist/rias dentro dahist/ria, e um desses epis/dios tem grande importCncia, por ser autobiogr"fico: ossupl(cios de um condenado morte Devido quantidade de personagens, éimposs(vel resumir o enredo !s cenas finais deste livro s'o inesquec(veis E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' O I!iota E!itora )4 tra!*"#o !e Pa*%oBe=erra , .86 /0inas2

M @ente Po$re (184.  Depois de se deliciar com as incr(veis aventuras do

pr(ncipe =(chkin, de O Idiota, que tal conhecer o primeiro livro de DostoiévskiN 0 oque sugiro como oitava leitura no nosso roteiro ! obra foi publicada quando o

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autor tinha apenas AF anos @ormalmente, os escritores s/ alcançam oreconhecimento depois de publicar v"rios livros, mas esse n'o foi o caso deDostoiévski $ente %obre  foi recebido com grande entusiasmo pela cr(tica e pelop<blico Trata;se de um romance epistolar, isto é, uma narrativa toda constru(daatravés de cartas: a correspond+ncia entre =akar Diévuchkin e Jarvara

 !lieksi+ievna $ssa forma liter"ria n'o representou nada de original ou inovador,pois %" tinha sido amplamente utilizada no século OJBBB *o e&emplo mais célebreé &iga"'es %erigosas, do escritor franc+s 4hoderlos de Paclos., mas, emcompensaç'o, a sua maneira de abordar temas sociais foi consideradapioneira E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' @ente Po$re E!itora )4tra!*"#o !e :0ti&a Bianc5i , 1-6 /0inas2

2 O <roco!i%o (18.>  !ntes de mergulharmos nas mil p"ginas de Os Irmãos Karamazov, recomendo O Crocodio, uma engraçad(ssima novela de apenas KEp"ginas, que ficou inacabada @a ediç'o da $ditora EF, essa novela foi reunidacom Notas !e In+erno So$re I&/resses !e Ver#o (18.6, cu%a leituratambém gostaria de inserir neste ponto do roteiro, %" que se trata de uma e&celente

oportunidade de conhecermos o Dostoiévski ensa(sta E!i"#o $rasi%eirareco&en!a!a' O <roco!i%oNotas !e In+erno So$re I&/resses !e Ver#o E!itora )4 tra!*"#o !e Boris Sc5nai!er&an , 1.8 /0inas2

1Q Os Ir&#os Kara&0so+ (18-  !ssim como (om )ui*ote, +amet , Os Miseráveis, Em Busca do ,em!o %erdido e Uisses, Os Irmãos Karamázov é umdos principais monumentos da hist/ria da literatura universal 0 neste romanceque encontramos as frases mais conhecidas do autor, como: 7e n'o e&iste Deus,tudo é permitido-, 3ara que se possa amar um homem, é preciso que ele seesconda-, 9 demônio luta com Deus e o campo da batalha s'o os coraç#eshumanos- e Todos somos culpados por tudo- 9 pai >aram"sov é um homem

 beberr'o, irrespons"vel e cruel 4om a primeira esposa, teve Dm(tri) com asegunda, Bvan e !li/cha 9 quarto irm'o é 7mierdi"kov, o bastardo ! aç'oprincipal se desenrola na vida adulta dos irm'os, que s'o muito diferentes entre siDm(tri é passional, Bvan é racional, !li/cha é espiritual e 7mierdi"kov é obscuroDm(tri disputa os amores da sedutora 8r<chenhka com o pai, que, apesar da idade, vive na farra !o mesmo tempo, porém, Dm(tri se envolve com 4atierina, umamulher respeit"vel !li/cha é seminarista e procura desenvolver a suaespiritualidade com o anci'o R/zima, um su%eito bondoso, m(stico e profético Bvan,um niilista, é professor, leva uma vida intelectual, tem uma queda por 4atierina en'o se conforma que esta prefira o seu irm'o Dm(tri Uma das passagens maiscélebres do livro é a alegoria do 8rande Bnquisidor, que Bvan l+ para !li/cha, e na

qual 4risto retorna Terra Dm(tri, que é militar, precisa desesperadamente de Emil rublos, pois pegou tal quantia emprestada com uma das mulheres para gast";lacom a outra ! morte do anci'o R/zima causa um forte impacto em !li/cha, que, apartir disso, compreende a fraqueza humana Bvan se apro&ima de 7mierdi"kov, o bastardo, que trabalha na casa como cozinheiro, formando um curioso contraste !contece o parric(dio: o pai >aram"sov é assassinado por um dos filhos Hual dosquatro cometeu o crimeN 4om a leitura deste livro, o <ltimo que Dostoiévskiescreveu e que é, sob todos os aspectos, uma s(ntese de sua obra, teremos conhecidoo ponto culminante de sua tra%et/ria, mas, para que possamos nos considerarprofundos conhecedores de Dostoiévski, ainda precisamos ler -ecorda"'es daCasa dos Mortos e Os (em.nios E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' Os Ir&#osKara&0so+ E!itora )4 tra!*"#o !e Pa*%o Be=erra , 1?4? /0inas2

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11 Recor!a"es !a <asa !os Mortos (18.6  5" quem digaque -ecorda"'es é uma e&celente introduç'o para a obra madura de Dostoiévski$ssa afirmaç'o tem fundamento, %" que aqui encontraremos a g+nese dos romancesque ele escreveria depois @o entanto, -ecorda"'es aparece em uma etapaavançada do nosso roteiro porque acredito que a leitura deste livro se torna mais

saborosa na medida em que estamos mais familiarizados com o autor 9u se%a,recomendo o caminho inverso: conhecer primeiro o resultado e depois a g+nese$m outras palavras, este livro pode ser lido como uma espécie de ma/ing o0  dosromances maduros de Dostoiévski !qui conheceremos, por e&emplo, o %ovem !li,cu%a pureza de car"ter provocou uma forte impress'o no escritor e lhe serviria demodelo para personagens como o pr(ncipe =(chkin e !li/cha >aram"sov 9 livron'o est" no cat"logo da $ditora EF, mas a $ditora @ova !le&andria lançou umatraduç'o direta do russo ! obra pode ser classificada como romance, %" que onarrador é um personagem fict(cio, mas, em <ltima an"lise, trata;se de um livro demem/rias E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' Recor!a"#o !a <asa !osMortos E!itora No+a A%eCan!ria tra!*"#o !e Nico%a* S2 Petico+ , )64/0inas2

1A A Sen5oria (184  @a verdade, depois de ler tr+s ou quatro livros deDostoiévski, %" é poss(vel apreciar qualquer te&to do autor, de modo que, nestaparte final do roteiro, a ordem de leituras n'o tem muita importCncia Dei&ei Os (em.nios para o final com o ob%etivo de fechar o roteiro com um grande romance,mas, se o critério fosse dar prioridade aos livros essenciais, Os (em.nios teria de vir antes De todas as formas, para os que %" leram os livros mais conhecidos doautor e est'o lamentando o fato de %" n'o terem muitas leituras inéditas *reler ésempre uma del(cia. pela frente, 1 Sen#oria é uma grata surpresa Trata;se de umromance da primeira fase Sreve, e&perimental, com elementos de realismofant"stico, o livro aborda um estranho caso de amor entre 9rd(nov, um sonhador

com inclinaç'o inconsciente para os estudos, e >atierina, uma moça que vive comum velho bru&o E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' A Sen5oria E!itora )4tra!*"#o !e :0ti&a Bianc5i , 146 /0inas2

1E A A%!eia !e Stie/ntc5i;o+ e Se*s a$itantes (18>-  $ntre os anos1MF2 e 1MI2, Dostoiévski foi preso, condenado morte, teve a pena comutadadepois de uma simulaç'o do fuzilamento *ele chegou a ser amarrado a um postecom os olhos vendados, achando que morreria., passou I anos numa pris'o na7ibéria e mais F cumprindo serviços forçados no e&ército 1 1deia de Stie!2ntc#i/ov foi um dos primeiros livros que ele escreveu e publicou depois dessadécada t'o sofrida e conturbada 9 te&to n'o tem a mesma força que os romances

da maturidade, %" que Dostoiévski, a esta altura, ainda n'o tinha passado pelosubsolo que ele mesmo inventaria, alguns anos depois, mas vale pelo personagemGom" Gomich, um dos melhores personagens de toda a obra do escritor E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' A A%!eia !e Stie/ntc5i;o+ e Se*s a$itantesE!itora No+a A%eCan!ria tra!*"#o !e Nico%a* S2 Petico+ )6? /0inas2

1F Os De&Fnios (186  !qui Dostoiévski nos surpreende utilizando a terceirapessoa, mas n'o um narrador onisciente, e sim um narrador;personagem, queconhece a todos e é conhecido por todos, sem %amais interferir no desencadeamentodos fatos Um recurso muito sofisticado que ele soube e&plorar de modo perfeito ! hist/ria trata de duas geraç#es @a primeira temos 7tiepan e Jarvara, dois vi<vosque vivem uma relaç'o parado&al $le é o preceptor do filho dela e também tem um

filho, e s'o %ustamente esses filhos, @icolai e 3iotr, que aparecem como osprotagonistas da segunda geraç'o Os (em.nios é sem d<vida o livro mais pol(tico

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de Dostoiévski, que utilizou um epis/dio real, o assassinato de um estudante, comoponto de partida para o enredo $mbora as quest#es pol(ticas se%am, em certamedida, anacrônicas, este romance %amais perder" a sua relevCncia, %" que o autor,no melhor da sua forma, faz, como sempre, uma pintura das "reas mais recônditasda psique humana Dostoiévski é atemporal $le escreveu sobre todos n/s E!i"#o

 $rasi%eira reco&en!a!a' Os De&Fnios E!itora )4 tra!*"#o !e Pa*%oBe=erra , ?4 /0inas2

OS LIVROS GUE AINDA NHO LI TETOS SEM TRADUJHOE <ONTOS POU<O <ONE<IDOS

Uma das minhas grandes alegrias é que ainda tenho alguns (ostoi3vs/is para ler@'o sei em que posiç'o esses livros entrariam em meu roteiro, talvez eu se%aobrigado a refaz+;lo, futuramente !lguns, como +umi#ados e O0endidos,O 1doescente, Nietotc#/a Niezvanova e o conto Bóbo/ %" est'o dispon(veis em nossoidioma *os dois <ltimos %" est'o em minha estante., mas h" te&tos comoO (u!o e O Son#o do ,io que, pelo que sei, nunca foram traduzidos, a n'o ser, talvez,

na Obra Com!eta de 4iódor (ostoi3vs/i , da $ditora @ova !guilar, uma coleç'o dequatro volumes que custa apro&imadamente ? KQQ,QQ e n'o tem traduç'o diretado russo $m relaç'o a O 1doescente, gostaria de manifestar a profunda decepç'oque tive no ano passado Huando soube que a $ditora 4ompanhia das Petraslançaria uma traduç'o desse livro, fiquei e&tremamente feliz Depois, no entanto,um pouco antes que o livro chegasse s livrarias, descobri que se tratava de umaadaptaç'o, feita por Diego ?odrigues Bsso significa que o te&to n'o é integral @'ocomprei o livro 3refiro continuar esperando *ser" que a $ditora EF vai nos salvarN.Uma adaptaç'o talvez torne o livro mais vend"vel, mais atrativo para o p<blico emgeral, %" que o dei&a menos volumoso e consequentemente mais barato, mas é umdesrespeito para com os verdadeiros apreciadores de Dostoiévski no Srasil ! 

<ltima observaç'o é que h" muito tempo li uma novela chamada Uma +istória &amentáve , numa ediç'o de bolso da $ditora 3az e Terra, mas n'o a inclu( noroteiro porque n'o me lembro absolutamente nada da hist/ria e perdi esse livro9brigado a todos por lerV @'o dei&em de fazer coment"rios e sintam;se vontadepara estabelecer contato, cadastrando;se como seguidores do blog ou através dasredes sociais