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Uma abordagem histrica sobre a digitalizao da radiodifuso em Moambique
RESUMO
O artigo com o ttulo genrico: uma abordagem histria sobre a digitalizao da
radiodifuso em Moambique, pretende trazer uma resenha dos passos dados no pas
para a inevitvel migrao da era analgica para a plataforma digital na radiodifuso.
H uma ideia generalizada de que o pas est atrasado, mas tambm pouco preocupado
para a mudana. Do ponto de vista das implicaes, aponta-se a excluso das
populaes ao direito informao, consagrado na carta-me, a Constituio da
Repblica de Moambique, no nmero 1, do artigo 48. Esta inquietao fica a dever-se
aos avultados custos da migrao para um novo paradigma tecnolgico, num pas
apontado como um dos mais pobres do mundo, e por conseguinte com graves
insuficincias. De acordo com o relatrio de desenvolvimento humano de 2013,
Moambique o penltimo na lista de pases mais pobres do mundo, ocupando o lugar
185, num conjunto de 187 naes analisadas pelas Naes Unidas. Pior que
Moambique s a Repblica Democrtica do Congo e o Nger. Em Moambique, 70%
da populao vive em zonas urbanas, com deficiente acesso rede elctrica. Em 2010, o
ndice de electrificao era de apenas 11,7%, num pas actualmente habitado por 23 700
715 habitantes. A taxa de analfabetismo ronda os 50,4%. (Cf Anurio Estatstico de
2012 e indicadores sociais do Instituto Nacional de Estatsticas, de 2012)
A Rdio Moambique, nica estao radiofnica pblica, com uma taxa de cobertura
territorial de 70 a 80% de dia, e 100% noite, est a criar condies para a necessria
transio tecnolgica. De acordo com dados do censo populacional de 2007, apenas
43% dos agregados familiares possuem um aparelho receptor. Acredita-se, contudo, que
os ndices de pobreza rural sejam ainda muito altos, ameaando reduzir ainda mais o
nvel de acesso rdio, devido perda do poder de compra de pilhas para os receptores
de rdio. Porm, a deciso para a migrao passa por um aval governamental, devido s
implicaes scio-econmicas que o processo acarreta. Com parte de estdios
completamente digitalizados na sede da RM em Maputo, o passo seguinte ser a
aquisio de emissores digitais.
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Actualmente, a principal estao emissora de Moambique produz contedos em dois
formatos: analgico e digital, mas emite-os no sistema analgico, devido limitao do
pblico receptor, que precisa impreterivelmente de um aparelho digital para a recepo
do sinal radiofnico.
Para a televiso, o quadro totalmente diferente, onde a cobertura populacional reduz-
se aos principais centros urbanos e a algumas sedes de distrito, devido, sobretudo,
falta de acesso electricidade e ao custo dos receptores de televiso, para alm do
prprio sinal da televiso pblica que muito limitado no seu raio de cobertura. De
acordo com MUCHANGA, Amrico (2014), actualmente 1,2 milhes de famlias tm
televiso.Tendo em conta esta realidade, o Governo deve optar por uma migrao
digital abrangente e com custos baixos, de modo a no excluir as populaes
carenciadas.
Palavras-chave: digitalizao, migrao digital, radiodifuso
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INTRODUO
A radiodifuso digital possui um grande potencial para promover transformaes na
sociedade moderna. O mundo caminha inevitvel e irreversivelmente para a migrao
digital, uma mudana de paradigma tecnolgico com grande impacto social, econmico
e cultural.
A digitalizao de radiodifuso destaca-se pelo facto de potenciar o surgimento de
novos produtos e servios, para alm do facto de esta nova tecnologia ter enorme
capacidade de penetrao nos vrios sectores econmicos, sociais e culturais da
sociedade, implicando alteraes na estrutura de custos dos produtos, nas condies de
produo e de distribuio de servios.
Comparativamente s caractersticas assimtricas de um servio de radiodifuso
analgico, a radiodifuso digital permite na mesma plataforma a prestao de servios
interactivos, multimdia, para alm de melhorar significativamente o aproveitamento do
espectro radioelctrico.
Neste trabalho, pretende-se traar uma perspectiva histrica do processo da migrao do
sistema analgico ao sistema digital na radiodifuso em Moambique, com enfoque
para a Rdio Moambique, empresa pblica. Para alm de levantar as vantagens da
digitalizao, o artigo procura problematizar o processo, conhecidas as suas implicaes
na vida das populaes.
Este artigo baseia-se na pouca bibliografia existente em Moambique, e em reflexes de
estudiosos preocupados com o fenmeno, como so os casos do investigador Toms
Vieira Mrio e do Prof. Doutor Joo Miguel.
Para os jornais, o assunto ainda relativamente novo, sendo matria recorrente nos
ltimos dias, devido ao seu impacto scio-econmico.
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CONCEITOS DE CONVERGNCIA, DIGITALIZAO, TELEVISO
DIGITAL E RADIODIFUSO
Convergncia: define-se como sendo a homogeneizao dos suportes, produtos, lgicas
de emisso e consumo das indstrias info-comunicacionais. Inicialmente tecnolgico,
esse processo, tambm chamado revoluo digital, supe impacto em cenrios
relacionados com as culturas de produo, as formas de organizao, as rotinas de
trabalho, os circuitos de distribuio e as lgicas de consumo de bens e servios info-
comunicacionais. (BECERRA, Martn, apud MIGUEL, 2010: 50)
Para BIANCO, (2010:3), a convergncia no diz respeito apenas tecnologia, afecta
tambm servios, negcios e a interao com a sociedade. Trata-se de um fenmeno que
abrange pelo menos trs dimenses bsicas:
a) Tecnolgica: processo que envolve a combinao e cruzamento das infra-
estruturas de distribuio de informao, armazenamento, processamento e
oferta de diferentes tipos de servios como telefonia, vdeo, udio, voz, internet
e dados (SIMPSON, 2005, apud BIANCO, 2010)
b) Miditica: fluxo de contedos codificados digitalmente atravs de mltiplas
plataformas miditicas e de rede (JENKINS, 2008: 16, apud BIANCO, 2010)
c) Empresarial: resulta na tendncia de integrao de grandes corporaes com
focos em diferentes mercados para prover servios agregados, caracterizado por
uma actuao que se ope ao isolamento que tradicionalmente prevalece no
sector. (CUNHA, 2004, apud BIANCO, 2010)
Digitalizao: refere-se transformao da comunicao, inclundo palavras, imagens,
filmes e sons, numa linguagem comum. Sendo uma vantagem para o ciberespao, a
digitalizao oferece ganhos considerveis em velocidade e flexibilizao, em
comparao com os meios de comunicao electrnicos anteriores, que se baseavam
largamente em tcnicas analgicas. (MOSCO, 2006 apud MIGUEL, 2010:49)
Televiso digital: a designao atribuda ao processo de transmisso de vdeo, udio e
dados, atravs da utilizao de sinais digitais, por oposico aos sinais analgicos
utilizados pelos sistemas tradicionais de televiso (analgica), oferecendo melhor
qualidade resultante nomeadamente da maior imunidade a perturbaes na imagem
e proporcionando espao para mais canais de televiso e novos servios, bem como
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outras potencialidades, designadamente ao nvel da interactividade. (Cf. Relatrio Final
Grupo de Acompanhamento para a migrao da Televiso Digital Terreste, Portugal,
2012)
Radiodifuso: uma palavra equivalente em ingls a broadcasting, cuja sinonmia est
relacionada a algo como semear aos quatro ventos. (RODRIGUES, 2007 apud
MIMBIR, 2008)
O termo radiodifuso a designao genrica usada para identificar os servios de
comunicao electrnica que usam a rdio e a televiso e cuja a distribuio e recepo
se efectua por terra, por cabo ou por satlite. Abrange no apenas notcias e programas
de informao, mas tambm entretenimento, incluindo filmes, sries, jogos,
espectculos e outros gneros semelhantes que contribuem para a socializao e
comunicam valores e atitudes relevantes. (SOUSA, 2006:571 apud MIMBIR, 2008)
Nas definies de servio pblico de radiodifuso Curran, citado por Serrano, 1998, diz
que possvel assinalar a permanncia de conceitos como bem comum, equilbrio,
qualidade, interesse nacional, dirigindo-se a todas as seces da sociedade e a
todas as partes do pas, orientando a objectivos como educar, informar,
desenvolver o esprito crtico contra o sistema de mercado e obrigando-se a
proteger a soberania do consumidor.
Na tentativa de se formular uma teoria de radiodifuso, por um lado, existe um discurso
ao nvel do Estado (parlamento e governos), centrado em questes de natureza poltica,
poltico-militar, tcnica, jurdica (regulamentaes e apoios econmicos), preocupado,
sobretudo, com o pluralismo da informao poltica e, por outro lado, um discurso
oriundo de grupos ah doce de responsveis pela radiodifuso, mais preocupado com a
radiodifuso no seu todo, onde a par de preocupaes de natureza econmica se
encontram reflexes sobre a cidadania, os direitos das minorias, a salvaguarda das
culturas nacionais.
BREVE PANORAMA DO SECTOR DA RADIODIFUSO EM MOAMBIQUE
Os principais meios de comunicao social existentes em Moambique so
eminentemente urbanos e esto concentrados em Maputo.
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Actualmente, existem oito estaes de televiso com sinal livre: uma pblica, a
Televiso de Moambique TVM e as outras sete privadas, nomeadamente:
1) a STV, pertencente Sociedade Independente de Comunicao (SOICO).
Fundada em 2002, cobre oito das onze provncias moambicana
