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INSTITUTO UNIVERSITRIO DE PESQUISAS DO RIO DE JANEIRO
SONIA LUIZA TERRON
A Composio de Territrios Eleitorais no Brasil:
Uma Anlise das Votaes de Lula
(1989-2006)
Volume II/2
Rio de Janeiro
2009
SONIA LUIZA TERRON
A Composio de Territrios Eleitorais no Brasil:
Uma Anlise das Votaes de Lula
(1989-2006)
Tese apresentada ao Instituto Universitrio
de Pesquisas do Rio de Janeiro como
requisito parcial para a obteno do ttulo de
Doutora em Cincia Poltica.
Orientador Prof. Jairo Nicolau
Rio de Janeiro
2009
Dedicatria
Thereza,
luz que me guia.
Agradecimentos
No curso deste doutoramento e na elaborao desta tese tive grande apoio, sem o
qual no seria possvel conclu-los. Agradeo ao IBGE e ao IUPERJ a oportunidade de
apresentar esta contribuio comunidade cientfica e acadmica, e sociedade. Ao
meu orientador Jairo Nicolau, pelo apoio que recebi desde a primeira vez que estive no
IUPERJ e, pela amizade construda neste perodo, minha sincera gratido. Glucio
Soares, mestre e companheiro de longas caminhadas, grata pela ajuda e incentivo
constantes. Paulo Cesar Martins e Daniel Skaba, no seria a mesma trajetria sem
vocs, obrigada. Pela pacincia e carinho, meu reconhecimento a Smilu, famlia e aos
amigos.
Resumo
A pesquisa analisa a dinmica scio-espacial da base eleitoral de Lula e a
composio de territrios eleitorais nas eleies presidenciais brasileiras, no perodo de
1989 a 2006. Fundamenta-se na teoria que considera o contexto geogrfico como
determinante de padres de voto. Utiliza mtodos de anlise espacial de dados e de
regresso estatstica espacial.
A anlise explora com mapas, estatsticas espaciais, grficos, tipologia de
municpios e outros recursos, as votaes de Lula, nos 5.564 municpios, e as compara
s votaes dos candidatos que receberam mais de 10% dos votos vlidos. A pesquisa
mostra que h padres geogrficos significativos no perodo, intelegveis segundo duas
linhas de evoluo espao-temporal: a da base eleitoral de Lula, e a dos padres da
disputa presidencial.
As duas tm ponto de inflexo bem marcados. A grande mudana na base
eleitoral de Lula ocorre em 2006, quando o padro passa de local para regional; mas na
disputa presidencial a ruptura acontece em 2002. O padro local se instala entre o ciclo
de territrios regionais de 1989 a 1998, e a nova composio regional de 2006.
A semelhana dos territrios eleitorais de Collor e de Fernando Henrique, a
conquista do Nordeste pelo PT e do Rio Grande do Sul, pelo PSDB; a expanso
territorial da desigualdade social; a relao entre padres regionais, polticas pblicas e
reeleio, so outras descobertas analisadas. A influncia do programa Bolsa Famlia
na mudana na base eleitoral de Lula revista luz das novas evidncias, e se confirma
como o fator de maior peso.
Palavras-Chave:
Comportamento poltico, geografia eleitoral, eleio presidencial, voto, anlise espacial
Abstract
The research analyzes the socio-spatial dynamics of Lula's electoral base and the
composition of electoral territories in the Brazilian presidential elections, from 1989 to
2006. It is based in the theory that considers the geographical context as determinant of
vote patterns. Methods of spatial data analysis and spatial statistical regression are
applied.
The analysis explores Lula's voting on the 5.564 municipal districts on maps,
spatial statistics, graphs, municipal typologies and other resources. They are compared
to candidates' voting over 10% of valid votes. The research brought up significant
geographical patterns in the period, according to two evolution lines: the one of Lula's
electoral base, and the one of presidential dispute.
Both have inflection point well marked. The greatest change in Lula's electoral
base happens in 2006, when pattern passes from local to regional. According to the
presidential competition, however, a rupture happens in 2002. This election settles a
local pattern among the cycle of regional territories established from 1989 to 1998, and
the new regional composition of 2006.
The similarity of Collor's electoral territories and of Fernando Henriques; the
conquest of the northeast by PT and Rio Grande do Sul, by PSDB; the territorial
expansion of the social inequality; the synchronicity of regional patterns, public politics
and reelection, are also analyzed. The influence of the Bolsa Famlia cash transfer
program on the change in Lula's electoral base was reviewed under the new evidences.
Its condition as the factor of larger weight was confirmed.
Key words:
Political behavior, electoral geography, presidential election, vote, spatial analysis.
7
SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................................... VOLUME I/2
CAPTULO 1
TEORIAS, CONCEITOS E PESQUISAS ...................................................................................... VOLUME I/2
1.1 GEOGRAFIA ELEITORAL........................................................................................................................................................ 1.2 VIZINHANA, REDES SOCIAIS E CONTEXTO GEOGRFICO ............................................................................................. 1.3 MUDANAS NA BASE ELEITORAL DE GRANDES PARTIDOS ............................................................................................
1.3.1 Lula e o Partido dos Trabalhadores ............................................................................................. . 1.3.2 Partidos do Reino Unido, Frana e EUA .......................................................................................
CAPTULO 2
METODOLOGIA DA ANLISE GEOESPACIAL .......................................................................... VOLUME I/2
2.1 BASE ELEITORAL E TERRITRIO ELEITORAL ................................................................................................................... 2.2 ESCALA GEOGRFICA E UNIDADE ESPACIAL DE ANLISE .............................................................................................. 2.3 TERRITRIOS ELEITORAIS COM BASE EM MAPAS OU ESTATSTICAS? .......................................................................... 2.4 AUTOCORRELAO ESPACIAL ............................................................................................................................................ 2.5 REGRESSO ESPACIAL ..........................................................................................................................................................
CAPTULO 3
COMPOSIO DOS TERRITRIOS ELEITORAIS ..................................................................... VOLUME I/2
3.1 H PADRES GEOGRFICOS? .............................................................................................................................................. 3.2 TERRITRIOS ELEITORAIS DE LULA ...................................................................................................................................
3.2.1 Eleio 1989: 1 Inverso Geogrfica .......................................................................................... 3.2.2 Eleies 1994 e 1998: Coalizes de Esquerda .............................................................................. 3.2.3 Eleio 2002: rumo ao Centro Poltico e Geogrfico .................................................................... 3.2.4 Eleio 2006: 2 Inverso Geogrfica .......................................................................................... 3.2.5 Dinmica Espao-Temporal .........................................................................................................
3.3 TERRITRIOS ELEITORAIS DO PRN E DO PSDB .............................................................................................................
CAPTULO 4
DINMICA DE PADRES GEOGRFICOS ............................................................................................. 102
4.1 TERRITORIALIDADE COMPARADA: PT VERSUS PRN E PSDB .............................................................................. 102 4.2 ESPAOS URBANOS E RURAIS ..................................................................................................................................... 104 4.3 EXPANSO E RETRAO DOS TERRITRIOS ............................................................................................................ 111 4.4 ELEIO 2002: RUPTURA........................................................................................................................................... 116
CAPTULO 5
PADRES REGIONAIS E POLTICAS PBLICAS ..................................................................................... 122
5.1 PADRO REGIONAL I E POLTICA AGRRIA .............................................................................................................. 123 5.2 PADRO REGIONAL II E O BOLSA FAMLIA ............................................................................................................... 139
CONCLUSES E CONSIDERAES ....................................................................................................... 149
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................................................... 157
APNDICE A1 ELEIES PRESIDENCIAIS (1989- 2006) - SNTESE DE INFORMAES FACTUAIS ................................................ 163 APNDICE A2 REGRESSO ESPACIAL UTILIZANDO O GEODA ................................................................................................................. 172 ANEXO MAPAS PRODUZIDOS POR OUTROS AUTORES ................................................................................................................... 182
8
Lista de Ilustraes
FIGURA 1 PADRES ESPACIAIS DA VOTAO (%) DE LULA EM 2002 E 2006 ................................................ VOLUME I/2
FIGURA 2 DISPOSIO DAS PEAS NO TABULEIRO DE XADREZ. .................................................................... VOLUME I/2
FIGURA 3 MAPAS DE MORAN LOCAL DA VOTAO (%) DE LULA EM 2002 E 2006 ....................................... VOLUME I/2
FIGURA 4 MATRIZ DE PONDERAO ESPACIAL DEFINIDA PELO CRITRIO DE CONTIGUIDADE (ESQUEMTICA) ...... VOLUME I/2
FIGURA 5 PADRONIZAO DA MATRIZ W ............................................................................................. VOLUME I/2
FIGURA 6 DIAGRAMA DE ESPALHAMENTO DE MORAN ............................................................................. VOLUME I/2
FIGURA 7 DIAGRAMAS DE ESPALHAMENTO DE MORAN DA VOTAO PERCENTUAL DE LULA NO SEGUNDO
TURNO DE 2002 (ESQUERDA) E DE 2006 (DIREITA) ................................................................. VOLUME I/2
FIGURA 8 FLUXO PARA DECISO DO MODELO DE REGRESSO ESPACIAL PROPOSTO POR ANSELIN ...................... VOLUME I/2
FIGURA 9 MAPAS DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DO PT, DO PRN E DO PSDB NAS ELEIES PRESIDENCIAIS
BRASILEIRAS (1989-2006) ................................................................................................. VOLUME I/2
FIGURA 10 MAPAS DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DO PDT(1989), PSDB (1989), PPS (1998 E 2002) E PSB
(2002) ........................................................................................................................... VOLUME I/2
FIGURA 11 GRFICO DO PERCENTUAL DE VOTOS DE LULA (PT) NOS TERRITRIOS ELEITORAIS (1989-2006) ...... VOLUME I/2
FIGURA 12 GRFICOS DO PERCENTUAL DE MUNICPIOS (A) E DE REA (B) NOS TERRITRIOS ELEITORAIS FORTES
DE LULA (1989-2006) ...................................................................................................... VOLUME I/2
FIGURA 13 MAPAS DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DE LULA NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989, NO 1 TURNO
(A) E NO 2 TURNO (B) ....................................................................................................... VOLUME I/2
FIGURA 14 DINMICA TERRITORIAL DE LULA (A) ENTRE O 1 TURNO E O 2 TURNO E TERRITRIOS ELEITORAIS
DE BRIZOLA (B) NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 ............................................................. VOLUME I/2
FIGURA 15 TERRITRIOS ELEITORAIS DE LULA NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1994 E 1998 .......................... VOLUME I/2
FIGURA 16 TERRITRIOS ELEITORAIS DE LULA NA ELEIO PRESIDENCIAL DE 2002, 1 TURNO(A) E 2 TURNO(B) VOLUME I/2
FIGURA 17 DINMICA TERRITORIAL DE LULA ENTRE O 1 TURNO DE 2002 E A ELEIO DE 1998 (A) E ENTRE O
2 E O 1 TURNO DE 2002 (B) ............................................................................................. VOLUME I/2
FIGURA 18 TERRITRIOS ELEITORAIS DE CIRO GOMES PPS (A) E DE ANTHONY GAROTINHO PSB (B) NA ELEIO
PRESIDENCIAL DE 2002 ...................................................................................................... VOLUME I/2
FIGURA 19 TERRITRIOS ELEITORAIS DE LULA NA ELEIO PRESIDENCIAL DE 2006 (A) 1 TURNO E (B) 2 TURNO VOLUME I/2
FIGURA 20 DINMICA TERRITORIAL DE LULA ENTRE O 2 TURNO DE 2006 E O 2 DE 2002 (A) E ENTRE O 2 E O
1 TURNO DE 2006 (B) ...................................................................................................... VOLUME I/2
FIGURA 21 TERRITRIOS ELEITORAIS DE FERNANDO COLLOR DE MELLO (PRN) NA ELEIO PRESIDENCIAL DE
1989, (A) 1 TURNO E (B) 2 TURNO .................................................................................... VOLUME I/2
FIGURA 22 TERRITRIOS ELEITORAIS DO PSDB NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 A 2006 ....................... VOLUME I/2
FIGURA 23 GRFICOS DE PERCENTUAL DE VOTOS DOS CANDIDATOS DO PRN E DO PSDB NOS SEUS TERRITRIOS
ELEITORAIS FORTES (A), PERCENTUAL DE MUNICPIOS (B) E PERCENTUAL DE REA (C) ..................... VOLUME I/2
FIGURA 24 GRFICOS DOS PERCENTUAIS DE VOTOS (A) E DE REA (B) DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DO PT, PRN
E PSDB NAS ELEIES DE 1989 A 2006 ........................................................................................... 103
9
FIGURA 25 MATRIZ DE CORRELAO ESPACIAL, ESTIMADA POR MORAN GLOBAL MULTIVARIADO, VOTAES (%)
DOS CANDIDATOS NOS MUNICPIOS* ................................................................................................ 104
FIGURA 26 TIPOLOGIA DAS CIDADES BRASILEIRAS ADAPTADA PARA 6 CATEGORIAS ................................................... 106
FIGURA 27 ELEITORES E REA DAS ZONAS DE COESO ELEITORAL .......................................................................... 112
FIGURA 28 DINMICA TERRITORIAL DAS BASES GEOELEITORAIS DE SERRA EM 2002 E LULA EM 2006 NO
NORDESTE .................................................................................................................................. 114
FIGURA 29 DINMICA TERRITORIAL DAS BASES GEOELEITORAIS DE LULA EM 2002 E ALCKMIN EM 2006 NO SUL E
SUDESTE ..................................................................................................................................... 115
FIGURA 30 POLARIZAO DA VOTAO PERCENTUAL DOS CANDIDATOS DO PT, PRN E PSDB NAS ELEIES
PRESIDENCIAIS (1989-2006) ......................................................................................................... 118
FIGURA 31 POLARIZAO DA VOTAO DOS CANDIDATOS FINALISTAS NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989
(MAPA A), 1994 (MAPA B) E 1998 (MAPA C) .................................................................................. 124
FIGURA 32 AUTOCORRELAO ESPACIAL (MORAN LOCAL) DO IDHM-R, DO IDHM-E E DO NDICE DE GINI DOS
MUNICPIOS EM 1991 ................................................................................................................... 125
FIGURA 33 BOX PLOT E MAPAS DE MORAN LOCAL DO IDHM-R (1991 E 2000) .................................................... 130
FIGURA 34 NDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL EDUCAO, 1991 E 2000.................................... 131
FIGURA 35 NDICE DE GINI DOS MUNICPIOS, 1991 E 2000 ................................................................................ 132
FIGURA 36 FORA DE TRABALHO POR ATIVIDADE (1995 A 2007) ........................................................................ 135
FIGURA 37 POLARIZAO DO VOTO ENTRE OS 1 E 2 COLOCADO NAS ELEIES DE 1994 E 1998 .............................. 136
FIGURA 38 MUNICPIOS COM REGISTRO DE REA DESAPROPRIADA NOS PERODOS DE 1995 A 1998 E DE 1999 A
2002 ......................................................................................................................................... 137
FIGURA 39 AUTOCORRELAO ESPACIAL DO VALOR AGREGADO DA AGROPECURIA (%) NO PIB DOS
MUNICPIOS NOS ANOS DE 1999, 2002 E 2005................................................................................. 138
FIGURA 40 CONTRIBUIO DO BOLSA FAMLIA RENDA MENSAL MDIA NO MUNICPIO E A DINMICA
TERRITORIAL DE 2006 E 2002 ........................................................................................................ 144
FIGURA 41 VOTAO DE LULA (2002) E INDICADORES (2000) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ................................. 181
10
Lista de Quadros e Tabelas
QUADRO 1 LINHAS DE PESQUISA SOBRE O CONTEXTO COMO DETERMINANTE DO VOTO ................................. VOLUME I/2
QUADRO 2 GOVERNANTES E PARTIDOS POLTICOS - REINO UNIDO, EUA, FRANA E BRASIL (1979 - 2009) ..... VOLUME I/2
QUADRO 3 CORRELAO ESPACIAL, ESTIMADA POR MORAN GLOBAL MULTIVARIADO, PARA OS PERCENTUAIS DE
VOTOS POR MUNICPIO RECEBIDOS PELOS CANDIDATOS DO PT (1989 A 2006), PDT (1989), PPS
(1994-98) E PSB (2002) EM ELEIES PRESIDENCIAIS* ......................................................... VOLUME I/2
QUADRO 4 CORRELAO ESPACIAL, ESTIMADA POR MORAN GLOBAL BIVARIADO, PARA OS PERCENTUAIS DE
VOTOS DOS CANDIDATOS DO PSDB, PDT, PPS (1994-98) E PSB (2002) EM ELEIES
PRESIDENCIAIS* ................................................................................................................ VOLUME I/2
QUADRO 5 SNTESE DE EVIDNCIAS RELACIONADAS, DIRETA OU INDIRETAMENTE, A MUDANAS NA BASE
ELEITORAL DE LULA NO PERODO 1989 2006 .................................................................................. 117
QUADRO 6 TRS FASES DA INFLUNCIA DA ECONOMIA INTERNACIONAL SOBRE A ECONOMIA E A POLTICA AGRRIA
BRASILEIRA, SEGUNDO DELGADO ..................................................................................................... 129
TABELA 1 SNTESE DO DESENHO DA PESQUISA ....................................................................................... VOLUME I/2
TABELA 2 CANDIDATOS QUE RECEBERAM MAIS DE 10% DE VOTOS VLIDOS NAS ELEIES PRESIDENCIAIS (1989
- 2006) ........................................................................................................................... VOLUME I/2
TABELA 3 NMERO DE MUNICPIOS INFORMADOS PELO TSE E IBGE EM ANOS DE CENSO E/OU ELEIO
NACIONAL, E AS RESPECTIVAS DIFERENAS .............................................................................. VOLUME I/2
TABELA 4 TESTE I DE MORAN OU MORAN GLOBAL PARA OS PERCENTUAIS DE VOTO DE LULA *....................... VOLUME I/2
TABELA 5 VOTOS (%) DOS CANDIDATOS / PARTIDOS QUE ALCANARAM MAIS DE 10% DOS VOTOS VLIDOS NAS
ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 A 2006 ............................................................................. VOLUME I/2
TABELA 6 NDICE DE MORAN GLOBAL DA VOTAO MUNICIPAL (%) DOS CANDIDATOS /PARTIDOS SELECIONADOS
PARA ANLISE* ................................................................................................................. VOLUME I/2
TABELA 7 CLASSIFICAO DE PADRES GEOGRFICOS COM BASE NO NDICE DE MORAN GLOBAL DA VOTAO (%)
NOS MUNICPIOS, DOS CANDIDATOS SELECIONADOS PARA ANLISE .............................................. VOLUME I/2
TABELA 8 VOTOS, NMERO DE MUNICPIOS E REA DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DO PT NAS ELEIES
PRESIDENCIAIS DE 1989 A 2006 .......................................................................................... VOLUME I/2
TABELA 9 VOTOS EM CANDIDATOS E PERCENTUAL DE VOTOS NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 (PRN, PT,
PDT E OUTROS) ................................................................................................................ VOLUME I/2
TABELA 10 VOTOS EM CANDIDATOS E PERCENTUAL DE VOTOS NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1994 E 1998
(PSDB, PT, PPS E OUTROS) ................................................................................................ VOLUME I/2
TABELA 11 VOTOS EM CANDIDATOS, E PERCENTUAL DE VOTOS NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2002 (PSDB, PT,
PSB, PPS E OUTROS) ......................................................................................................... VOLUME I/2
TABELA 12 VOTOS EM CANDIDATOS E PERCENTUAL DE VOTOS NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2006 (PSDB, PT
E OUTROS) ....................................................................................................................... VOLUME I/2
11
TABELA 13 VOTOS, NMERO DE MUNICPIOS E REA DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DO PRN E DO PSDB NAS
ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 A 2006 ............................................................................. VOLUME I/2
TABELA 14 NMERO DE MUNICPIOS, POPULAO ESTIMADA 2006, REA, MDIA DO RENDIMENTO MENSAL
DOMICILIAR PER CAPITA 2000 E DO IDHM 2000, POR TIPO AGREGADO DA TIPOLOGIA DAS CIDADES
BRASILEIRAS ................................................................................................................................ 107
TABELA 15 PERCENTUAL DE VOTOS RECEBIDOS PELO PT NOS MUNICPIOS, POR TIPO AGREGADO DA TIPOLOGIA
DAS CIDADES BRASILEIRAS .............................................................................................................. 108
TABELA 16 PERCENTUAL DE VOTOS RECEBIDOS PELO PRN E PSDB NOS MUNICPIOS, POR TIPO AGREGADO DA
TIPOLOGIA DAS CIDADES BRASILEIRAS ............................................................................................... 108
TABELA 17 COMPOSIO DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DO PT: MUNICPIOS (%) EM CADA CATEGORIA DA
TIPOLOGIA AGREGADA ................................................................................................................... 109
TABELA 18 COMPOSIO DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DO PRN E DO PSDB: MUNICPIOS (%) EM CADA
CATEGORIA DA TIPOLOGIA AGREGADA............................................................................................... 110
TABELA 19 ELEITORES, NMERO DE MUNICPIOS E REA DOS TERRITRIOS ELEITORAIS DOS DOIS PRIMEIROS
COLOCADOS NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 A 2006* ............................................................... 111
TABELA 20 MORAN GLOBAL DOS VOTOS PERCENTUAIS POR COUNTY DOS DOIS PRIMEIROS COLOCADOS NAS
ELEIES PRESIDENCIAIS AMERICANAS DE 1988 A 2000...................................................................... 119
TABELA 21 MORAN GLOBAL DOS VOTOS (%) DOS CANDIDATOS DO PRN, PSDB E PT NAS ELEIES
PRESIDENCIAIS DE 1989 A 2006* ................................................................................................... 120
TABELA 22 REGRESSES ESPACIAIS SOBRE A VOTAO (%) MUNICIPAL DOS CANDIDATOS DO PRN E DO PSDB
NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 A 1998 .................................................................................. 126
TABELA 23 PERCENTUAL DE PESSOAS COM 10 ANOS OU MAIS DE IDADE, OCUPADAS NA ATIVIDADE (TRABALHO
PRINCIPAL) .................................................................................................................................. 135
TABELA 24 RESULTADO DAS REGRESSES ESPACIAIS SOBRE A VOTAO (%) DE LULA NAS CINCO ELEIES................... 141
TABELA 25 REGRESSO ESPACIAL SOBRE A DIFERENA ENTRE A VOTAO % DE VOTOS DE LULA EM 2006 E 2002 ......... 145
TABELA 26 NMERO DE CANDIDATOS, NMERO DE CANDIDATOS COM MAIS DE 1% DOS VOTOS NOMINAIS, E
PERCENTUAL DE VOTOS VLIDOS ACUMULADO PELOS CANDIDATOS, NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE
1989 A 2006 ............................................................................................................................. 164
TABELA 27 CANDIDATOS COM MAIS DE 1% DO TOTAL DE VOTOS NOMINAIS, E RESPECTIVOS PERCENTUAIS, NO 1
TURNO DAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 1989 A 2006 ...................................................................... 165
TABELA 28 CANDIDATOS E PERCENTUAIS DE VOTOS NOMINAIS NO 2 TURNO DAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE
1989 A 2006 ............................................................................................................................. 165
TABELA 29 RELAO DE CANDIDATOS, PARTIDOS E COLIGAES NAS ELEIES PRESIDENCIAIS (CANDIDATOS COM
MAIS DE 1% DOS VOTOS NOMINAIS) ................................................................................................. 166
TABELA 30 REGRESSES CLSSICA E ESPACIAL DA VOTAO (%) DE LULA, NO 2 TURNO DE 2002, NOS
MUNICPIOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ...................................................................................... 180
102
Captulo 4
Dinmica de Padres Geogrficos
O objetivo deste captulo a investigao das mudanas significativas que
ocorreram na composio dos territrios eleitorais no perodo, e das semelhanas e
diferenas entre os padres geogrficos das votaes de Lula em relao aos padres
das votaes dos candidatos do PRN e do PSDB. A anlise foi dividida em quatro
sees.
A primeira trata da comparao dos territrios eleitorais no que se refere a votos
e extenso territorial. Avalia tambm a correlao espacial entre eles. Na segunda seo
os territrios so avaliados quanto ao tipo de municpio que os compe. So seis
categorias de municpio, provenientes da agregao de 19 categorias estabelecidas na
tipologia das cidades brasileiras (PPGEO-UFPE & FASE 2005), que leva em conta o
desenvolvimento urbano e rural dos municpios na dcada de 90. A dinmica de
expanso e retrao dos territrios eleitorais o objeto da terceira seo. A ultima
seo faz um balano das principais descobertas da anlise exploratria que se iniciou
no captulo anterior.
4.1 Territorialidade Comparada: PT versus PRN e PSDB
Os padres e as dimenses dos territrios eleitorais de Lula (PT), comparados
com os de seus principais adversrios na srie eleitoral de 1989 a 2006, mostram
diferenas significativas, especialmente at 1998. Os grficos da figura 24 permitem
comparar o percentual de votos e a rea dos territrios eleitorais de Lula e dos
candidatos do PRN e do PSDB, em todas as eleies. O PT tinha uma forte dependncia
de seus territorios eleitorais no incio, porque deles provinha cerca de 50% de seus
votos. Essa dependncia se reduziu gradativamente at 2006, com flutuaes de um
pleito para outro.
Em termos de voto, os candidatos Collor, Fernando Henrique e Serra dependem
menos de seus territrios eleitorais do que Lula nesse mesmo perodo. Somente em
2006, no 1 turno, que os territrios eleitorais dos dois Partidos (PT e PSDB) se
equiparam. Ocorreu o inverso com as diferenas em percentuais de rea. Os territrios
103
do PT so bem menores que os do PRN e do PSDB at 1998. Em 2002 os territrios de
Serra, bem menores dos que os de Fernando Henrique, tm aproximadamente o mesmo
tamanho dos territrios tradicionais do PT. Em 2006 PT e PSDB se equiparam em
extenso territorial.
Figura 24 Grficos dos percentuais de votos (a) e de rea (b) dos
territrios eleitorais do PT, PRN e PSDB nas eleies de 1989 a 2006
0
10
20
30
40
50
60
1989 (1)
1989 (2)
1994 (1)
1998 (1)
2002 (1)
2002 (2)
2006 (1)
2006 (2)
TE -
Vo
tos
do
Can
dit
ato
(%
)
PT PRN/PSDB
0
10
20
30
40
50
60
1989 (1)
1989 (2)
1994 (1)
1998 (1)
2002 (1)
2002 (2)
2006 (1)
2006 (2)
TE -
re
a (%
)
PT PRN - PSDB
Fontes: TSE.IBGE. Notas: Metodologia e clculos da autora.
Grficos referentes s Tabelas 8 e 13 do Captulo 3.
(a)
(b)
104
A matriz de correlao espacial das votaes do PT e dos adversrios, figura 25,
leva em conta somente as votaes de 2 turno em 1989, 2002 e 2006. As correlaes
entre os territrios eleitorais variaram entre +0.3 e -0.8, sendo a maioria negativa. As
correlaes entre os territrios adversrios em cada eleio foi de -0.8 em 1989 e 2006,
e -0.5 nas demais eleies. Isto confirma a existncia de territrios eleitorais
geograficamente opostos em todas as eleies, sendo que em 1989 e em 2006 a
oposio geogrfica fortssima, ou seja, cada candidato domina regies bem
diferenciadas geograficamente.
Outro ponto importante que correlao espacial entre a votao de Lula em
2006 e a votao de Collor em 1989 nula. No se confirma a hiptese da semelhana
espacial entre estas votaes.
Figura 25 Matriz de Correlao Espacial, estimada por Moran Global
multivariado, votaes (%) dos candidatos nos municpios*
Fontes: TSE. Nota: Processamento da autora. Eleies de 1989, 2002 e 2006 2 turno.
* Todos os valores significativos a 0.0001, com significncia estimada por randomizao (9.999 permutaes das obs. e dos locais, calculada a probabilidade da ocorrncia do atual I em 10.000
amostras)
4.2 Espaos Urbanos e Rurais
Num pas como o Brasil, as dimenses territoriais e a diversidade scio-
econmica e cultural so determinantes para a anlise. So 8,5 milhes de km2, uma
populao de cerca de 184 milhes de habitantes, segundo a mais recente Contagem da
Populao realizada pelo IBGE em 2007, e um mosaico de 5.564 municpios. A maior
parte da populao vive nas aglomeraes urbanas e a diviso territorial brasileira
reflete um quadro complexo e fragmentado.
PARTIDO PRN PSDB
ANO 89 94 98 02 06
PT
89 -0.8 -0.6 -0.5 -0.3 0
94 -0.5 -0.5 -0.4 -0.3 +0.1
98 -0.6 -0.6 -0.5 -0.4 +0.2
02 -0.3 -0.2 -0.3 -0.5 -0.1
06 0 +0.1 -0.3 -0.1 -0.8
105
A tipologia das cidades brasileiras (PPGEO-UFPE & FASE 2005) integra, numa
nica classificao, espaos urbanos e rurais, e evidencia a diversidade das relaes
existentes entre cidades e territrios. Essa tipologia ser empregada na anlise da
diversidade municipal dos territrios eleitorais. O estudo classificou 19 tipos que
caracterizam as aglomeraes urbanas, os centros urbanos e as pequenas cidades de
acordo com sua situao scio-econmica e a do espao rural em que se localizam.
Para a anlise dos territrios eleitorais os 19 tipos originais (relacionados entre
parntesis) foram agregados em 6 categorias1:
1. Grande Urbano (Centro-Sul): espaos urbanos aglomerados e centros
regionais do centro-sul (tipos 1 e 3)
2. Grande Urbano (Norte e Nordeste): espaos urbanos aglomerados e
centros regionais do Norte e Nordeste (tipos 2 e 4)
3. Mdio Urbano em Rural Prspero: centros urbanos em espaos rurais
prsperos (tipos 5 e 6) ou que vem enriquecendo, predominantemente no
centro-sul (tipo 9)
4. Mdio Urbano em Rural Misto: centros urbanos em espaos rurais
consolidados (tipos 7 e 8), em espaos rurais que vm enriquecendo na
fronteira agrcola, com alta desigualdade (tipo 10), em espaos rurais no
serto nordestino e da Amaznia (tipo 11), em espaos rurais pobres com
alta densidade populacional perto dos grandes centros (tipo 12) e em espaos
rurais pobres e relativamente isolados (tipo 13)
5. Pequeno Urbano em Rural Prspero: pequenas cidades em espaos rurais
prsperos (tipo 14 e 15)
6. Pequeno Urbano em Rural Misto: pequenas cidades em espaos rurais
consolidados ou de pouca densidade econmica (16 a 19)
O mapeamento da tipologia mostra a clivagem scio-econmica dos municpios
brasileiros. No mapa (figura 26) percebe-se a concentrao da prosperidade no centro-
sul, e a predominncia dos espaos rurais mistos, na maioria de pouca densidade
econmica, no Norte e Nordeste. Os tons do vermelho ao amarelo claro so dos espaos
1 A agregao no define uma nova tipologia, pois a classificao nos 19 tipos originais (PPGEO-UFPE
& FASE 2005) que captura a diversidade das relaes existentes entre cidades e territrios.
106
rurais prsperos e os tons de verde so dos espaos rurais mistos. As gradaes de cada
escala de cor diferenciam as classes quanto ao tamanho dos centros urbanos.
Figura 26 Tipologia das Cidades Brasileiras adaptada para 6
categorias
A diversidade que a tipologia agregada expressa no mapa pode ser observada na
tabela 14. As categorias mais prsperas (1, 3 e 5) so as que apresentam mdias mais
altas de IDHM 2000 e de rendimentos domiciliares mensais per capita, com base nos
dados do Censo 2000.
TIPOLOGIA 1 Grande Urb (Centro-Sul)2 Grande Urb (Norte e NE)3 Mdio Urb - Rur Prspero4 Mdio Urb - Rur Misto5 Peq Urb - Rur Prspero6 Peq Urb - Rur Misto
REGIES
N
EW
S
Regies Geogrficas e Tipologia de Municpios Brasileiros
Fontes: IBGE. UFPE/PPGEO - Observ. das Metrpoles. Agregao de tipos e processamento dos autores.
107
Tabela 14 Nmero de municpios, populao estimada 2006, rea,
mdia do rendimento mensal domiciliar per capita 2000 e do IDHM
2000, por tipo agregado da Tipologia das Cidades Brasileiras
Tipologia
Municpios* Populao* rea* Mdia da Renda 2000
(R$)**
Mdia do IDHM 2000** Nmero %
Milhes de hab.
% Milhes de km
2
%
1 Grande Urb (Centro-Sul) 460 8 78.3 43 0.29 3 287.7 0.78
2 Grande Urb (Norte e NE) 121 2 28.2 15 0.21 2 165.5 0.71
3 Mdio Urb Rur Prspero 323 6 13.9 7 0.54 6 295.5 0.79
4 Mdio Urb Rur Misto 806 15 31.2 17 3.17 37 133.5 0.66
5 Peq Urb Rur Prspero 996 18 7.2 4 0.62 7 243.3 0.77
6 Peq Urb Rur Misto 2858 51 25.4 14 3.68 43 125.1 0.66
5564 100 184.2 100 8.50 100
Fontes: PPGEO/UFPE FASE, IBGE.
Agregao de tipos e processamento da autora. *Ano de referncia: 2006 **Mdia dos indicadores municipais na categoria.
VOTAES SEGUNDO O TIPO DE MUNICPIO
A composio da votao dos candidatos em cada eleio foi apurada por tipo
agregado da Tipologia, conforme se observa nas Tabelas 15 e 16. A evoluo das
votaes de Lula mostra que h uma certa estabilidade na contribuio de cada
categoria de municpio na votao total no perodo de 1994 a 2002, salvo pequenas
variaes em 2002, com a queda de 3 pontos percentuais nas metrpoles do Sudeste e
Sul, e o aumento de 2 pontos nos centros urbanos mdios com espaos rurais prsperos
e 1 nos pequenos e prsperos.
Em suma, h um pequeno deslocamento da votao de Lula das grandes
metrpoles em direo aos municpios de mdio e pequeno porte, todos eles do centro-
sul do pas. Em 2006 a composio se altera substancialmente, com uma queda da
votao nas metpoles do centro-sul e o aumento nos mdios e pequenos municpios
com quadro rural misto.
108
Tabela 15 Percentual de votos recebidos pelo PT nos municpios, por
tipo agregado da Tipologia das Cidades Brasileiras
Fontes: PPGEO/UFPE FASE, IBGE. Nota: Agregao de tipos e processamento da autora.
A tendncia se inverte na composio da votao do PRN e do PSDB. H um
aumento progressivo, em pontos percentuais, na contribuio das metrpoles do Sudeste
e Sul, e uma queda nas cidades pequenas e mdias com rural misto, que ocorre apenas
em 2006.
Tabela 16 Percentual de votos recebidos pelo PRN e PSDB nos
municpios, por tipo agregado da Tipologia das Cidades Brasileiras
Fontes: PPGEO/UFPE FASE, IBGE. Nota: Agregao de tipos e processamento da autora.
Tipologia das Cidades Partido Ano
PT 89 PT 94 PT 98 PT 02 PT 06
Metrpoles SE-S 54 50 51 48 41
Metrpoles N-NE-CO 13 16 16 16 17
Cid. Mdia Rural Prspero 6 7 7 7 6
Cid. Mdia Rural Misto 13 13 12 14 18
Cid. Pequena Rural Prspero 4 4 4 4 3
Cid. Pequena Rural Misto 10 10 10 11 15
100 100 100 100 100
Votos para o Candidato (milhes) 31.1 17.1 21.5 52.8 58.3
Tipologia das Cidades Partido Ano
PRN 89 PSDB 94 PSDB 98 PSDB 02 PSDB 06
Metrpoles SE-S 38 44 46 42 50
Metrpoles N-NE-CO 11 10 9 10 10
Cid. Mdia Rural Prspero 10 9 10 9 10
Cid. Mdia Rural Misto 18 17 15 17 12
Cid. Pequena Rural Prspero 6 5 5 5 6
Cid. Pequena Rural Misto 17 15 15 17 12
100 100 100 100 100
Votos para o Candidato (milhes) 35.1 34.3 35.9 33.4 37.6
109
COMPOSIO DOS TERRITRIOS ELEITORAIS POR TIPO DE MUNICPIO
Os territrios eleitorais de Lula (PT) foram analisados em relao nmero
(percentual) de municpios de cada categoria da Tipologia agregada, nas cinco eleies
(1989 a 2006), conforme apresentado na tabela 17.
Tabela 17 Composio dos Territrios Eleitorais do PT: municpios
(%) em cada categoria da Tipologia agregada
Tipologia das Cidades PT89 PT94 PT98 PT02 PT06
Metrpoles SE-S 13.6 12.1 14.3 17.3 2.8
Metrpoles N-NE-CO 4.2 5.7 4.5 5.5 3.9
Cid. Mdia Rural Prspero 6.1 3.9 6.7 5.0 0.5
Cid. Mdia Rural Misto 11.8 17.9 9.4 15.4 26.7
Cid. Pequena Rural Prspero 28.5 17.8 30.8 16.1 1.8
Cid. Pequena Rural Misto 35.8 42.7 34.3 40.8 64.2
100.0 100.0 100.0 100.0 100.0
N Municpios nos TE 1107 895 932 925 1583
Fontes: PPGEO/UFPE FASE, IBGE.
Nota: Agregao de tipos e processamento da autora.
H quatro configuraes a destacar:
Os espaos metropolitanos do centro-sul (tipo 1) o maior percentual de
aglomeraes urbanas ocorre em 2002 (17.3%) e o menor em 2006 (2.8%),
sendo que os percentuais de 89 a 98 so muito prximos (entre 12.1 e
14.3%).
Os espaos metropolitanos do N, NE e CO (tipo 2) o percentual de
aglomeraes urbanas varia pouco em todas as eleies (de 3.9 a 5.7), sendo
que o menor percentual o de 2006, coincidentemente quando o TE de Lula
se fortalece no Nordeste.
Os espaos rurais prsperos e mistos com centros-urbanos mdios e
pequenos (tipos 3 a 6) mostram padres que se assemelham em eleies
intercaladas: em 1989 e 1998, h quase tantos prsperos quanto mistos, e em
1994 e 2002, h bem mais mistos do que prsperos. Essa variao coincide
com o apoio ou no da PDT, pois quando isso ocorreu em 89 e 98 os TE
fortes de Lula se deslocaram mais para o centro-sul, e quando no ocorreu os
TE fortes ficaram mais distribudos em todas as regies do pas.
110
Os territrios eleitorais de 2006 de Lula mostram configuraes diferentes
das demais em todas as categorias da Tipologia agregada: diminui muito o
percentual de aglomeraes urbanas do centro-sul e tambm h uma pequena
queda nas do Norte e Nordeste; os espaos urbanos mdios e pequenos em
rural prspero passam a ser inexpressivos enquanto aumentam nos espaos
rurais mistos, decorrncia da grande inverso geogrfica dos territrios
eleitorais de Lula.
Os territrios eleitorais de Fernando Collor (PRN-1989), Fernando Henrique
(PSDB-1994 e 1998), Jos Serra (PSDB-2002) e Geraldo Alckmin (PSDB-2006)
tambm foram analisados em relao percentual de municpios de cada categoria da
Tipologia agregada, conforme apresentado na tabela 18.
Tabela 18 Composio dos Territrios Eleitorais do PRN e do PSDB:
municpios (%) em cada categoria da Tipologia agregada
Tipologia das Cidades PRN89 PSDB94 PSDB98 PSDB02 PSDB06
Metrpoles SE-S 3.9 4.8 5.9 1.8 11.8
Metrpoles N-NE-CO 1.5 0.9 0.7 1.4 0.5
Cid. Mdia Rural Prspero 7.0 7.4 9.9 4.1 13.7
Cid. Mdia Rural Misto 16.0 14.2 11.2 23.6 5.7
Cid. Pequena Rural Prspero 15.4 14.3 21.2 8.4 40.5
Cid. Pequena Rural Misto 56.2 58.5 51.1 60.8 27.8
100.0 100.0 100.0 100.0 100.0
N Municpios em TE 1369 1283 1245 814 1504
Fontes: PPGEO/UFPE FASE, IBGE.
Nota: Agregao de tipos e processamento da autora.
As configuraes, conforme esperado, so bem diferentes do PT:
Metrpoles, cidades mdias e cidades pequenas: os percentuais de
municpios aumentam sempre nessa ordem nos TE fortes desses candidatos.
Tanto nos espaos rurais prsperos quanto nos mistos, h mais municpios
de caractersticas rurais (centros urbanos mdios e pequenos) do que
aglomeraes urbanas.
Semelhana na configurao dos TE fortes de Collor e de Fernando
Henrique: a configurao em percentuais de municpios por categoria
muito semelhante entre 1989 e 1994. Em 1998, entretanto, a votao de
Fernando Henrique se fortalece mais em todas as categorias da prosperidade,
111
inclusive nas metrpoles do centro-sul, e enfraquece em termos de
municpios nos espaos rurais mistos.
Jos Serra (2002) mais forte nas cidades mdias em pequenas em espaos
rurais mistos, em termos de municpios coesos, se comparado aos demais
candidatos.
Geraldo Alckmin (2006) mais forte que os demais candidatos nos
territrios do centro-sul, em todas as categorias, resultado da inverso
geogrfica oposta de Lula nessa eleio.
4.3 Expanso e Retrao dos Territrios
Nesta seo os territrios eleitorais de Lula e do adversrios sero analisados em
conjunto, para identificar se h uma sequencia de movimentos de expanso e retrao
dos territrios eleitorais, independente de serem territrios de um ou de outro candidato.
Os territrios eleitorais de Collor e Lula cobriram, juntos boa parte do territrio
nacional, no segundo turno de 1989. O mesmo aconteceu com FHC e Lula em 1998 e
Lula e Alckmin em 2006. Essas zonas de coeso foram bem menos extensas em 1994 e
em 2002. A tabela 19 apresenta o nmero de eleitores 2006, de municpios e a rea dos
territrios eleitorais (zonas de coeso do voto) dos candidatos/partidos que
conquistaram as duas primeiras posies nas cinco eleies.
Tabela 19 Eleitores, Nmero de Municpios e rea dos territrios
eleitorais dos dois primeiros colocados nas Eleies Presidenciais de
1989 a 2006*
Eleies Presidenciais Brasileiras Zonas de Coeso Eleitoral
Ano e
Turno Partidos
Eleitores* Municpios* rea*
Milhes % N % Milhes de km2 %
1989 2T PRN PT 69.3 55 2516 45 4.8 56
1994 1T PSDB PT 49.9 40 2259 41 3.6 42
1998 1T PSDB PT 60.7 48 2294 41 4.9 58
2002 2T PT PSDB 52.0 41 1736 31 2.7 32
2006 2T PT PSDB 77.7 62 3103 56 5.1 60
Fontes: TSE.IBGE.
Nota: Metodologia e clculos da autora. *Percentuais sobre 125.8 milhes de eleitores, 5564 municpios e 8.5 milhes de km
2. Data de
referncia 2006.
112
A ltima eleio (2006, 2 turno) , sem dvida, a mais polarizada de todas em
eleitores, municpios e rea. A eleio de 1989 a que mais se aproxima desse grau de
polarizao. Em 1998, padro classificado como transio, a cobertura territorial das
zonas de coeso de Lula e de Fernando Henrique est entre as trs maiores, mas o
territrio coberto tem menos municpios e menos eleitores. As zonas de coeso de 1994
e 2002 se equivalem em nmero de eleitores, sendo a de 1994 um pouco mais extensa
em rea. Os grficos (figura 27 a, b) mostram como a territorialidade evoluiu no
perodo. 2
exceo da primeira, h uma sequncia de retrao da coeso nas eleies em
que muda o candidato do governo (1994 e 2002), e de expanso da coeso naquelas em
que o Presidente concorre a um segundo mandato. Mesmo em 1998, quando o nmero
de municpios aumenta pouco, h um aumento substancial no nmero de eleitores e na
extenso territorial das zonas de coeso de Fernando Henrique e Lula, se comparado
com 1994. Em sntese, o padro geogrfico das bases eleitorais dos partidos finalistas
nas eleies presidenciais brasileiras, quando observados em conjunto, confirmam a
regionalizao em 1989 (2 turno), 1998 e 2006 (2 turno), com destaque especial para a
dinmica associada eleio-reeleio. Nas reeleies os territrios eleitorais
aumentam, e nas eleies se retraem.
Figura 27 Eleitores e rea das zonas de coeso eleitoral nas Eleies Presidenciais de 1989 a 2006
Fontes: Dados da Tabela 19.
2 Para obter o nmero de eleitores de uma forma compatvel em todas as eleies foi preciso adotar uma
delas como referncia, uma vez que foram sendo criados novos municpios durante o perodo em
observao. Adotou-se no critrio de adequao a diviso municipal vigente em 2006, com 5.564
municpios, como referncia. Ento, para comparar o potencial de eleitores nos territrios eleitorais de
1989 a 2006, utilizou-se o nmero de eleitores cadastrados na eleio de 2006 (125.8 milhes).
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
55,0
60,0
65,0
1989 2T 1994 1T 1998 1T 2002 2T 2006 2T
Perc
entu
al (%
)
Eleitores
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
55,0
60,0
65,0
1989 2T 1994 1T 1998 1T 2002 2T 2006 2T
Pe
rce
ntu
al (%
)
rea
113
ANTEPAROS GEOGRFICOS
H que se pesquisar mais sobre esta dinmica de expanso e retrao. Foi
possvel perceber, entretanto, que os territrios eleitorais parecem funcionar como um
anteparo geogrfico que detm o avano do adversrio na eleio seguinte. apenas
uma observao, sem qualquer tipo de comprovao que no a visual, mas possvel
que esteja relacionada a um efeito de contexto geogrfico. O mapa (figura 28) mostra,
lado a lado, os territrios eleitorais de Jos Serra (PSDB), em 2002, e de Lula (PT) em
2006, nos estados do Nordeste, e no norte de Minas Gerais. Os espaos em branco so
os territrios de vulnerabilidade eleitoral. As elipses em vermelho indicam regies nos
dois mapas que, guardadas as devidas propores, se complementam como peas de
quebra-cabeas.
O territrio eleitoral de Lula no Nordeste (reas em verde no mapa da direita),
em 2006, encontrou resistncia onde havia territrios eleitorais de Serra em 2002 (reas
em amarelo no mapa da esquerda): sul do Maranho e sudoeste do Piau (elipse 1 no
mapa), norte do Piau (elipse 2), no Agreste de Pernambuco e Paraba (elipse 3), nos
estados de Sergipe e Alagoas (elipse 3), e no norte de Minas Gerais e sul da Bahia
(elipse 4). Porque um efeito to abrangente como o que provocou a inverso territorial
de Lula para o Nordeste no conseguiu invadir o territrio que Serra conquistara na
eleio anterior, quando este nem concorreu em 2006?
114
Figura 28 Dinmica territorial das bases geoeleitorais de Serra em
2002 e Lula em 2006 no Nordeste
O mapa seguinte (figura 29) mostra a situao inversa ocorrida com os
territrios eleitorais de Lula em 2002 e de Alckmin, em 2006, nas regies Sul e Sudeste
(parcial). O mesmo tipo anlise mostra que a expanso dos territrios eleitorais de
Alckmin no Sul e no Sudeste ocorreu predominantemente em zonas de vulnerabilidade
de 2002, mas esbarrou no anteparo geogrfico formado pelo territrio eleitoral de Lula,
j consolidado em eleies anteriores. Esses anteparos podem ser observados no
sudoeste do Paran e leste de Santa Catarina (elipse 2 no mapa), e no Rio de Janeiro e
centro-sul de Minas Gerais (elipse 1).
BAHIA
GOIS
PIAU
MINAS GERAIS
MARANHO
TOCANTINS
CEAR
PERNAMBUCO
PARABA
ALAGOAS
SERGIPE
RIO GRANDE DO NORTE
DISTRITO FEDERAL
N
EW
S
Zonas de Coeso Eleitoral na Regio Nordeste:PSDB (2002 ) e PT (2006 )
BAHIA
GOIS
PIAU
MINAS GERA IS
MARANHO
TO CA NTI NS
CE AR
PERNAM BUCO
PARAB A
ALA GOAS
SERGIP E
RI O GRANDE D O NO RTE
DI STRI TO FEDERAL
Partido
Pa rt id o
PT
PSDB
Fontes: IBGE, TSE. Processamento da autora.
1 1
2 2
3 3
4 4
115
Figura 29 Dinmica territorial das bases geoeleitorais de Lula em
2002 e Alckmin em 2006 no Sul e Sudeste
Fontes: IBGE, TSE. Processamento da autora.
Partido
Partido
PT
PSDB
Zonas de Coeso Eleitoral nas Regies Sul e Sudeste:
PT (2002 ) e PSDB (2006 )
N
EW
S
PARAN
SO PAULO
MATO GROSS O DO SUL
RI O GRANDE DO SUL
SANTA CATA RI NA
RI O DE JA NE IRO
PARAN
SO PAU LO
MAT O GR OSS O DO SU L
RIO G RA ND E D O SU L
SANT A C ATAR IN A
RIO D E J ANEIR O
2
2
1
1
116
4.4 Eleio 2002: Ruptura
Nestes dois captulos, 3 e 4, as cinco eleies presidenciais foram analisadas sob
diversas perpecativas. Indagou-se sobre haver padres geogrficos nas bases eleitorais
dos candidatos, ser possvel categoriz-los e compar-los, e sobre a possibilidade de
haver padro tambm nas mudanas espao-temporal. A avaliao dos territrios
eleitorais mostrou que h padres geogrficos e que possvel classific-los e compar-
los. A comparao das cinco eleies, com base no mesmo mtodo e na mesma unidade
espacial de observao, trouxe tona evidncias e coincidncias desconhecidas at
ento.
Foi proposto uma classificao em padro local ou regional, e um tipo de
transio para o caso intermedirio. Os territrios eleitorais foram identificados,
dimensionados e comparados quanto a eleitores, votos obtidos pelos candidatos, nmero
de municpios, extenso territorial (rea em km2) e caractersticas dos municpios
(centros urbanos e espaos rurais). A anlise mostrou, dentre outras evidncias, duas
inverses geogrficas, em 1989 e em 2006, e movimentos menos intensos de
construo, desconstruo, expanso e retrao dos territrios nas eleies de 1994 a
2002. A segunda inverso geogrfica, ocorrida em 2006, confirmou uma ruptura
completa em relao ao padro geogrfico das votaes anteriores. A diferena se
manifestou tanto em nmero de eleitores, de votos, de municpios e rea, quanto nas
caractersticas dos municpios.
A anlise revelou tambm que as eleies presidenciais brasileiras de 1989,
1998 e 2006 foram polarizadas em grandes extenses territoriais, aparentemente similar
ao que se observou no Reino Unido na dcada de 80. Se os argumentos de Johnston e
Pattie (2006) forem aceitos, os padres regionais de voto de Fernando Collor, em 1989,
de Fernando Henrique, em 1998, e de Lula, em 2006, podem ser associados a diferentes
contextos geoeconmico em escala regional. Por conseguinte, os grandes padres
regionais no s coincidem com as reeleies como tambm sinalizam uma tendncia
de voto retrospectivo nestas ocasies (1998 e 2006).
O Quadro 5 apresenta uma sntese das evidncias observadas nas quatro escalas.
117
Quadro 5 Sntese de Evidncias relacionadas, direta ou indiretamente, a
mudanas na Base Eleitoral de Lula no Perodo 1989-2006
Escala Evidncia
1.
Global
1.1 Mudanas na Base Eleitoral de grandes Partidos reorientao geosociolgica significativa desde os anos 80 (Reino Unido, Frana, EUA e Brasil)
2.
Nacional
2.1 Padres Regionais de grande extenso territorial (Ciclos de Expanso Geogrfica) coincidentes com candidaturas reeleio de Fernando Henrique (1998) e de Lula (2006)
2.2 Padres Locais (Ciclos de Retrao Geogrfica) coincidentes com a mudana do candidato do Governo (1994 e 2002)
2.3 At 1998 Polarizao de Territrios Eleitorais a oeste do meridiano de Tordesilhas 2.4 Em 2002 Transio e/ou ausncia de polarizao regional 2.5 Em 2006 Polarizao do Brasil em dois grandes Territrios Eleitorais situados
majoritariamente nas pores centro-norte e centro-sul do pas
2.6 Semelhana no nmero de municpios dos Territrios Eleitorais de Lula e dos candidatos adversrios, do PRN (1989) e do PSDB (1994 a 2006), tanto nos ciclos de Expanso, quanto
nos ciclos de Retrao
3.
Regional
3.1 Regio Nordeste a nica que no apresentou uma polarizao eleitoral de grande extenso territorial at 2006
3.2 Regies Norte e Centro-Oeste apresentaram polarizaes eleitorais de grande extenso territorial favorveis ao PRN em 1989, e ao PSDB em 1994 e 1998
3.3 Rio Grande do Sul nico Estado em que a polarizao eleitoral de abrangncia praticamente estadual, favorvel ao PDT/PT (1989 a 1998), passou para polarizao favorvel ao PSDB
de mesma intensidade em 2006
4.
Territrio
Eleitoral
4.1 Territrios Eleitorais de Fernando Henrique (PSDB, 1994 e 1998) semelhantes aos Territrios Eleitorais de Fernando Collor (PRN, 1989)
4.2 Territrios Eleitorais de Lula territrios de padro Local at 2002 apresentaram uma dinmica de expanso e retrao em determinados estados conforme recebiam ou no o
apoio de partidos das coalizes de esquerda ou, no segundo turno, de candidatos de esquerda
derrotados no primeiro turno
4.3 Segunda inverso geogrfica dos Territrios Eleitorais de Lula (2006): mudana radical em padro espacial (Local para Regional) e em composio (nmero de eleitores, caractersticas
dos municpios, percentual de votos e extenso territorial)
4.4 A polarizao eleitoral de Lula no Norte e Nordeste do pas foi acompanhada de polarizao de mesma intensidade favorvel ao candidato do PSDB nos territrios do centro-sul.
118
Conforme j sinalizado pelas evidncias 2 e 3 do quadro 5, a partir de 1994, os
ciclos de expanso geogrfica coincidem com as candidaturas de reeleio (Fernando
Henrique em 1998 e Lula em 2006), e os ciclos de retrao geogrfica coincidem com a
mudana do candidato do Partido em exerccio (Itamar Franco Fernando Henrique em
1994, e Fernando Henrique Jos Serra em 2002). Os mapas (figura 30) mostram a
polarizao dos finalistas nas cinco eleies brasileiras.
Figura 30 Polarizao da votao percentual dos candidatos do PT,
PRN e PSDB nas Eleies Presidenciais (1989-2006)
1998
1 Turno
2006
2 Turno
20022 Turno
1994
1 Turno
19892 Turno
TERRITRIOS ELEITORAISCollor e Lula (1989) FHC e Lula (1994 e 1998)Lula e Serra (2002)
Lula e Alckimin (2006)
ELEIES PRESIDENCIAIS BRASILEIRAS -1989 A 2006Polarizao da votao percentual dos candidatos do PT, PRN e PSDB*
N
EW
S
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
FONTES: TSE, IBGE. Processamento e elaborao da autora. Mtodo: Moran LocalVarivel: diferena no percentual de votos dos dois primeiros colocados na eleio, recebidos no municpio.* Candidatos/Partidos que se classificaram nas duas primeiras colocaes.
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
POLARIZAO
SALDO POSITIVO PARA O PT
SALDO POSITIVO PARA O PRN / PSDB
VULNERABILIDADE ELEITORAL
119
Todas as anlises anterirores j haviam indicado que o padro de 2002
representa uma ruptura com o modelo de composio de territrios eleitorais da dcada
passada, e se situa entre dois modelos diferentes de competio: a competio
Local/Regional de Lula e Collor/Fernando Henrique, no perodo anterior a 2002, e a
competio Regional/Regional de Lula e Alckmin, em 2006.
Comparamos os ndices de Moran Global calculados por Kim et al (2003, p.22)
para as eleies nos Estados Unidos (1988 a 2000) e os que calculamos para as eleies
do perodo de 1989 a 2006). A comparao foi possvel porque foram utilizadas as
mesmas estatsticas (Moran Global e Moran Local), o mesmo tipo de matriz de
contigidade, e unidades de observao, counties e municpios, podem ser consideradas
equivalentes para estes fins.
Os ndices de Moran Globa dos partidos Republicano e Democrata,
reproduzidos na Tabela 20, mostram como se comporta a autocorrelao espacial do
voto numa economia estvel, com taxas baixas de desemprego e inflao, e partidos
com posies ideolgicas prximas do centro, com diferenas no muito perceptveis
para os eleitores.
Tabela 20 Moran Global dos votos percentuais por county dos dois
primeiros colocados nas eleies presidenciais americanas de 1988 a
2000
Eleies Presidenciais nos Estados Unidos ( I de Moran )
Partido 1988 1992 1996 2000
Republicano 0.505 0.526 0.586 0.593
Democrata 0.509 0.600 0.586 0.598
Fonte: (Kim et al. 2003, p.747)
Estes ndices subiram com o tempo, mas a intensidade e a dinmica foi bem
diferente da ocorrida no Brasil. As variaes foram comparadas com trs casas
decimais, enquanto no nosso caso, duas casas decimais foram suficientes. Nos EUA,
nas quatro eleies realizadas entre 1988 e 2000, os ndices apresentaram uma variao
crescente de 0.505 a 0.598, exceo dos Democratas (0.600) em 1992. No Brasil, nas
quatro eleies realizadas entre 1989 e 2002, os ndices diminuram de 0.79 a 0.54, e
voltaram a subir em 2006, alcanando o valor mximo da srie (0.82). Os ndices
apresentados no captulo 4 so reproduzidos na tabela 21.
120
Tabela 21 Moran Global dos votos (%) dos candidatos do PRN,
PSDB e PT nas eleies presidenciais de 1989 a 2006*
Eleies Presidenciais Brasileiras ( I de Moran )
Partido 1989 1994 1998 2002 2006
1 T 2 T 1 T 1 T 1 T 2 T 1 T 2 T
PRN 0.79 0.78 ------ ------ ------ ------ ------ ------
PSDB 0.64 ------ 0.78 0.69 0.59 0.54 0.82 0.82
PT 0.61 0.77 0.60 0.73 0.60 0.54 0.80 0.81
Fontes: TSE. Processamento da autora.
Notas: * Todos os valores significativos a 0.0001, com significncia estimada por randomizao (9.999 permutaes das observaes e dos locais, calculada a probabilidade da ocorrncia do atual I em
10.000 amostras).
O padro geogrfico do voto nas eleies de 2002 o que mais se aproxima do
padro americano em todo o perodo analisado, tanto no ndice de Moran Global,
quanto no Mapa de Moran Local. H similaridades tambm em outros aspectos. Na
eleio de 2002 a posio do PT foi mais moderada, as propostas dos partidos tinham
muitos pontos de consenso e o pas j havia conquistado recentemente a estabilidade da
moeda, conforme assinala Nicolau (2004b). A coalizo do PT contou, pela primeira vez,
com o apoio de fora da esquerda, o Partido Liberal (PL). A campanha teve um tom
moderado, e os partidos convergiram para um consenso sobre vrios aspectos.
Na dimenso econmica o consenso envolveu aspectos-chave da poltica macro-
econmica implementada pela administrao do presidente Fernando Henrique
Cardoso, como o cmbio flutuante, as metas de inflao e o ajuste fiscal, que levaram a
uma recente estabilidade da moeda. Nicolau (2004b) destaca trs aspectos que foram
muito criticados por todos os candidatos: o crescimento da dvida interna, as altas taxas
de juros e as taxas de desemprego relativamente altas; e ressalta o consenso em torno
das propostas para o crescimento econmico (reforma fiscal e incentivos para
exportao). Observa ainda que as prioridades dos candidatos tambm convergiram para
a dimenso social, com a maioria propondo medidas e programas para reduo da
pobreza e da desigualdade social no pas.
Quando o pas atingiu uma situao de relativa estabilidade poltica e econmica
e os partidos e candidatos Presidncia convergiram para um consenso sobre aspectos
so aspectos mais relevantes da poltica macroeconmica, sobre propostas para estimular
o crescimento econmico e sobre a necessidade de programas sociais, os padres de
voto regionais, tpicos da ao de grupos de interesses setoriais fortes, se retraram ou
121
deixaram de existir. O eleitorado brasileiro mostrou, em 2002, padres que se
assemelham aos que predominaram nos Estados Unidos de 1988 a 2000 ou, como
afirmam Kim et al (2003), no perodo em que a posio ideolgica dos partidos foi se
aproximando cada vez mais do centro e as baixas taxas de desemprego e de inflao da
"Nova Economia" americana diminuram a relevncia das questes econmicas como
determinante do voto. Em 2002 os territrios eleitorais foram os menores de toda a
srie. Houve retrao no nmero de municpios, e conseqentemente, retrao em rea,
nmero de eleitores e votos. A eleio de 2002 caracteriza uma ruptura entre o ciclo de
padres regionais da poro oeste do territrio nacional, e o novo padro regional de
2006.
122
Captulo 5
Padres Regionais e Polticas Pblicas
O que explica os padres regionais anteriores a 2002, em especial a
interiorizao de voto de Fernando Henrique em 1998? E o novo padro regional de
2006? Qual seria a principal razo para o retorno deste tipo de configurao? Estas
questes so discutidas neste captulo.
Alguns analistas sugerem que, alm do Bolsa Famlia, a mudana na Base
Eleitoral de Lula em 2006 tambm se deve a uma tendncia de interiorizao do voto
dos candidatos reeleio. Zucco (2008), por exemplo, considera que a formao de
uma nova base de apoio a Lula em 2006 se deve s duas questes: a resposta pragmtica
ao Bolsa Famlia e tendncia pr-governo nas regies mais pobres.
A anlise exploratria dos captulos anteriores mostrou que tanto Fernando
Henrique, em 1998, quanto Lula, em 2006, expandiram os territrios eleitorais, mas que
h diferena nos padres regionais de 1998 e de 2006. Isto pode significar que as
causas no sejam as mesmas, como a sugerida tendncia de voto favorvel ao Governo
nos municpios das regies menos desenvolvidas. A interiorizao de Fernando
Henrique foi no sentido das regies Centro-oeste e Norte, e o territrio eleitoral de 1998
se mostrou, em configurao geogrfica, similar ao territrio eleitoral de Fernando
Collor, em 1989. A interiorizao da base eleitoral de Lula foi peculiar, porque criou
grandes clusters na regio Norte e na regio Nordeste, sendo que esta ltima no havia
sido territorializada at ento.
Os padres de grande extenso territorial podem ser associados promoo de
interesses setoriais e ao modelo de voto retrospectivo ou de avaliao de desempenho,
mais do que a caractersticas sociolgicas dos eleitores (Johnston & Pattie 2006, p.59).
Da perspectiva da avaliao de desempenho os indivduos reagem de acordo com suas
percepes da performance dos governos em exerccio, especialmente com relao
poltica econmica. Se isso se confirma no caso brasileiro, ento o Norte e o Centro-
oeste teriam aprovado as polticas do primeiro governo do PSDB, e o Norte e o
Nordeste teriam aprovado o primeiro mandato do PT. Na prxima seo sugere-se
algumas hipteses sobre a formao dos padres de 1989 a 1998 e a interiorizao da
base eleitoral do Presidente Fernando Henrique em 1998. A seo subseqente trata do
padro regional de Lula em 2006.
123
5.1 Padro Regional I e Poltica Agrria
Dentre as evidncias apresentadas no no captulo anterior, h trs relevantes para
a discusso em pauta:
a polarizao de territrios eleitorais a oeste do meridiano de Tordesilhas,
ocorrncia observada em escala nacional at 1998;
as polarizaes eleitorais de grande extenso territorial favorveis ao PRN
em 1989, e ao PSDB em 1994 e 1998, observadas nas as Regies Norte e
Centro-Oeste; e
a semelhana entre os Territrios Eleitorais de Fernando Henrique (PSDB,
1994 e 1998) e os Territrios Eleitorais de Fernando Collor (PRN, 1989).
O meridiano de Tordesilhas foi empregado como uma referncia poro
oeste do territrio brasileiro onde ocorre a maior concentrao dos territrios
eleitorais dos dois partidos (PRN e PSDB), e do PT inclusive, at 1998. Os Mapas dos
territrios eleitorais do PT e do PRN em 1989 (2 turno), e do PT e do PSDB em 1994 e
1998 (figura 31, mapas a , b, c), nos quais foi representada a linha imaginria de
Tordesilhas, ilustram essa diviso.
A correlao espacial entre os territrios eleitorais confirmou a semelhana dos
territrios de Fernando Henrique (1994 e 1998), com os de Fernando Collor (1989),
pelos ndices de 0.5 e 0.6. A relao ser analisada com regresses espaciais de
indicadores de renda e educao sobre os percentuais de votos recebidos pelos
candidatos nos municpios.
124
Figura 31 Polarizao da Votao dos Candidatos finalistas nas
Eleies Presidenciais de 1989 (Mapa a), 1994 (Mapa b) e 1998
(Mapa c)
A desigualdade nos municpios brasileiros em 1991, medida pelo ndice de Gini
dos municpios, se concentra na poro oeste do territrio nacional, tal como os
territrios eleitorais, conforme se observa pela da autocorrelao espacial do ndice
(mapas 32 c). Os mapas 32 a e b, de concentrao (autocorrelao espacial) dos sub-
ndices de Renda e Educao do ndice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM-R e IDHM-E) mostram como os valores mais altos se concentram no centro-sul
do pas, e os mais baixos no centro-norte; sendo que o IDHM-R baixo s ocorre na
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
PRN x PT
ESTADOS E DFVARIVEL: DIFERENA NO % DE VOTOS
DOS CANDIDATOS NO MUNICPIO
(1 COLOCADO - 2 COLOCADO)
POLARIZAO.
COLLOR (1) - LULA (2)
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
ELEIO PRESIDENCIAL
FONTES: TSE, IBGE.NOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
POLARIZAO
1 COLOCADO
2 COLOCADO
N. SIGNIFICATIVO
ANO: 1989 (2 TURNO) TORDESILHAS ANO: 1994
POLARIZAO
1 COLOCADO
2 COLOCADO
N. SIGNIFICATIVOFONTES: TSE, IBGE.NOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
ELEIO PRESIDENCIAL
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
POLARIZAO.
FHC (1) - LULA (2)
VARIVEL: DIFERENA NO % DE VOTOS
DOS CANDIDATOS NO MUNICPIO
(1 COLOCADO - 2 COLOCADO)
ESTADOS E DF
PSDB x PT
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
TORDESILHAS
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
PSDB x PT
ESTADOS E DFVARIVEL: DIFERENA NO % DE VOTOS
DOS CANDIDATOS NO MUNICPIO
(1 COLOCADO - 2 COLOCADO)
POLARIZAO.
FHC (1) - LULA (2)
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
ELEIO PRESIDENCIAL
FONTES: TSE, IBGE.NOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
POLARIZAO
1 COLOCADO
2 COLOCADO
N. SIGNIFICATIVO
ANO: 1998 TORDESILHAS
A B
C
125
regio Nordeste (tons mais claros), enquanto que o IDHM-E baixo ocorre nas duas
regies: Norte e Nordeste.
Quanto ao ndice de Gini, as grandes concentraes de ndices altos ocorrem na
poro oeste do pas, possivelmente relacionada questo da Terra e ao avano da
fronteira agrcola.
Figura 32 Autocorrelao espacial (Moran Local) do IDHM-R, do
IDHM-E e do ndice de Gini dos municpios em 1991
Os modelos de regresso espacial da votao percentual dos candidatos do PRN
e do PSDB nos municpios, e os respectivos resultados esto na tabela 22. H dois
modelos para a eleio do PSDB (Fernando Henrique) em 1994: um modelo inclui a
votao do Partido no 1 turno de 1989 (Mrio Covas) e o outro, acrescenta tambm a
votao de Fernando Collor no 2 turno de 1989. Os ndices de Gini e IDHM-R dos
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
IDH MUNICIPAL - RENDA1991
FONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
ESTADOS E DF
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
ESTADOS E DFFONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
IDH MUNICIPAL - EDUCAO1991
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
ESTADOS E DFFONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
COEFICIENTE DE GINI1991
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
126
modelos das eleies de 1989 e 1994 so os calculados com base nos dados do Censo de
1991. H dois modelos tambm para a eleio de 1998: um considera os ndices de
1991 e o outro, os ndices calculados com base no Censo 2000.3
Tabela 22 Regresses Espaciais sobre a Votao (%) municipal dos
candidatos do PRN e do PSDB nas Eleies Presidenciais de 1989 a
1998
Fonte: IBGE, TSE. Nota: elaborao da autora.
Todos os modelos tiveram sua performance melhorada na regresso espacial,
pois apresentaram valores de Critrio de Informao de Akaike menores e R maiores.
A relao com o ndice de Gini se manteve positiva, e a relao com o IDHM-E se
manteve negativa. Tanto o desempenho de Fernando Collor, como o de Fernando
Henrique, mostram tendncia de crescimento com o aumento da desigualdade e com a
queda no subndice referente educao. Os modelos 4 e 5 mostraram alguma
diferena apenas nos valores do IDHM-E, mas como apresentaram performance similar,
ainda que o modelo 4 tenha apresentado o menor valor de Akaike, considerar-se- os
dois resultados.
3 Os ndices de Gini e os subndices IDHM-E foram multiplicados por uma constante de valor 100 para
compatibiliz-los com o mesmo intervalo da distribuio dos votos (percentual).
VD
VI
Regresses Modelo de Erro Espacial
(1) PRN (2)PSDB (3)PSDB (4)PSDB (5)PSDB
89 2T 94 94 98 98
ndice de Gini 1991 (x100) +0.07 +0.06 +0.04 +0.04
IDHM E 1991 (x100) 0.09 0.04 0.03 0.07
ndice de Gini 2000 (x100) +0.04
IDHM E 2000 (x100) 0.04
Votao (%) PSDB89 (1 T) +0.17 +0.34
Votao (%) PRN89 (1 T) +0.70 +0.33
Votao (%) PRN89 (2 T) +0.54 +0.54
Votao (%) PSDB 94
Performance dos Modelos em Regresso Espacial
R2 0.88 0.78 0.80 0.75 0.75
Critrio de Akaike 35189 37110 36243 36225 36254
Performance dos Modelos em Regresso Clssica
R2 0.76 0.68 0.52 0.38 0.38
Critrio de Akaike 38212 43895 40193 40346 40395
I de Moran (Resduos) 0.50 0.76 0.57 0.61 0.62
Teste Multiplicador de Lagrange MLR-E MLR-E MLR-E MLR-E MLR-E
127
O modelo 2 mostra que cada ponto percentual de acrscimo na votao de Mrio
Covas em 1989, em determinado municpio, equivale a aproximadamente 0.17 pontos
percentuais de acrscimo na votao de Fernando Henrique em 1994, se mantidos
constantes o ndice de Gini e o IDHM-E. Entretanto, o modelo 3, que acrescenta a
votao de Collor no 2 turno de 1989 como varivel independente, explica melhor o
desempenho de Fernando Henrique, pois o Critrio de Akaike menor e o R maior
do que no modelo 2. Esses resultados mostram que o acrscimo de um ponto percentual
na votao de Collor ou na votao de Covas em 89, se mantidas todas as outras
variveis constantes, equivale a aproximadamente o mesmo acrscimo
(aproximadamente 0.3) em pontos percentuais na votao de Fernando Henrique em
determinado municpio.
A interiorizao do PSDB na votao de Fernando Henrique em 1998, a que
se referiu Zucco (2008) se confirmou. Esse movimento, que havia aparecido nos Mapas
dos Territrios Eleitorais, foi confirmado (modelos 4 e 5 da Tabela 22) pelas
correlaes da votao de Fernando Henrique (%) com o ndice de Gini (positiva) e
com o IDHM-E (negativa).
Ao que parece, os padres regionais dos territrios eleitorais de Collor e de
Fernando Henrique, assim como a interiorizao do PSDB em 1998, esto associados
poltica agrria. O debate em torno da reforma agrria e da funo social da terra
resurgiu com muita intensidade a partir de 1985, com a reabertura poltica e a
Constituinte. A dimenso social e poltica do desenvovimento agrrio um tema capaz
de polarizar o eleitorado a nveis regionais.4 A discusso a seguir tem por objetivo
apresentar consideraes sobre esta hiptese.
No Brasil o debate da Reforma Agrria foi retomado com o Primeiro Plano
Nacional de Reforma Agrria (PNRA), simultaneamente mudana do ciclo poltico
(fim do regime militar e Constituio de 1988) e chegada do ciclo econmico
neoliberal dos anos 1990. A abertura poltica viabilizou a articulao ampla dos
movimentos sociais e entidades de assessoria agrria que, por sua vez, apoiaram
fortemente os candidatos de partidos de esquerda nesse perodo, muitos deles atuantes
nestes movimentos. Nessa poca nasce o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), a Igreja fortalece a Comisso Pastoral da Terra da Conferncia Nacional
4 O debate da Reforma Agrria se insere no contexto dessa pesquisa como apoio investigao de
mudanas na base eleitoral de candidatos presidncia nesse perodo. O tema da Reforma Agrria no
ser discutido.
128
dos Bispos do Brasil (CNBB), criada em 1979, a Confederao Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag) se re-estrutura, e surgem vrias organizaes
no governamentais (ONG) em apoio ao Frum Nacional pela Reforma Agrria
(Delgado 2005).
Delgado faz uma leitura histrico-econmica da questo agrria do ps-Guerra
at 2003, da qual nos interessa as duas ltimas dcadas (1982-2003). Nesse perodo,
segundo ele, a economia brasileira esteve constrangida nos seus arranjos
macroeconmicos externos (Delgado 2005, p.51). De acordo com Delgado, a
estratgia do agronegcio foi uma boa combinao para o modelo de ajustamento
macroeconmico constrangido pelo setor externo; e viabilizou-se simultaneamente
como poltica econmica, agrcola e externa. Por outro lado
agravou o quadro da excluso no campo agrrio porque o ajuste
praticamente prescinde da fora de trabalho assalariada no especializada
e da massa de agricultores familiares no associados ao agronegcio (trs
quartos do total). tambm um arranjo da economia poltica que
rearticula o poder poltico com o poder econmico dos grandes
proprietrios rurais. Nesse processo, converte-se o campesinato em
imenso setor de subsistncia, no assimilvel ao sistema econmico do
prprio agronegcio ou da economia urbana semi-estagnada. (Delgado
2005, p.84)
A estratgia do agronegcio tem sido debatida desde 1994, contrapondo uma
disputa poltico-ideolgica entre defensores do modelo de reforma agrria tal como
proposto pelo Banco Mundial, que alguns autores denominam de reforma agrria de
mercado, e defensores de um modelo da reforma que denominam redistributiva. As
crticas ao modelo de mercado implementado no governo Fernando Henrique so
numerosas e generalizadas, e enfatizam que o modelo aumentou o ndice de Gini da
Terra, deixou uma massa de trabalhadores excludos, beneficiou os grandes
latifundirios e que a implementao foi sujeita interferncia de prticas clientelistas
(Domingos Neto 2004, pp.35-36).
Para Delgado (2005, pp.63-68), o ciclo neoliberal, privatista e
desregulamentador, obstou o papel que o Estado precisaria exercer para cumprir os
direitos sociais agrrios inscritos na Constituio, que prescreve a funo social da
propriedade fundiria. Na sua leitura a influncia da economia internacional sobre a
economia e a poltica agrria brasileira pode ser organizada em trs fases, resumidas no
Quadro 6.
129
Quadro 6 Trs fases da influncia da economia internacional sobre a
economia e a poltica agrria brasileira, segundo Delgado
1983-1993
Resposta primeira crise do ajuste externo
crise recessiva na economia brasileira aps a moratria mexicana de 1982
estratgia de gerao de saldos comerciais ancorados na expanso das exportaes de produtos bsicos e agro processados expanso
da nova fronteira agrcola da regio Centro-Oeste
crescimento de setores produtivos com baixos requerimentos de importao (o setor primrio especialmente) e impactos negativos
na renda territorial e nos preos das propriedades rurais
1994-1999
A mudana neoliberal
poltica neoliberal de atrao de capital externo e abandono da poltica de gerao de saldos comerciais do governo anterior
poltica de comrcio exterior com forte liberalidade ancorada no trip cmbio sobrevalorizado, tarifas ultra mitigadas e
desregulamentao no campo das polticas de fomento agrcola e
industrial.
queda generalizada na renda agrcola e desvalorizao fundiria como conseqncia do ajuste ultra liberal do primeiro governo do
presidente Fernando Henrique Cardoso
nova crise de liquidez internacional (final de 1998): fuga de capital, mudana do regime cambial e da poltica do ajuste externo,
emprstimos do Fundo Monetrio Internacional (FMI)
2000-2003
A remontagem do agronegcio
volta estratgia abandonada em 1994: gerar saldos de comrcio exterior para suprir o dficit da Conta Corrente
a agricultura capitalista, autodenominada de agronegcio, volta s prioridades da agenda da poltica macroeconmica externa e da
poltica agrcola interna
Fonte : (Delgado 2005)
Para discutir a leitura de Delgado sobre o perodo, analisa-se em seguida as
mudanas scio-econmicas da dcada de 90, com base nos indicadores de 1991 e 2000
(IDHM-R, IDHM-E e ndice de Gini). A mudana nesses indicadores municipais no
seguiu a mesma distribuio espacial. O IDHM-R (figura 33) mostrou tendncias de
empobrecimento no Amazonas e de enriquecimento no Mato Grosso e em Santa
Catarina, entre 1991 e 2000, visveis at mesmo nesta escala. No Amazonas percebe-se
130
que em 2000 surgiu um novo cluster de baixa renda. Nos estados do Mato Grosso e de
Santa Catarina houve expanso dos clusters de alta renda. O Nordeste continua sendo o
grande cluster de IDHM-R baixo, tal como em 1991, apesar do ndice ter aumentado
nos municpios da regio.
Figura 33 Box Plot e Mapas de Moran Local do IDHM-R (1991 e 2000)
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD. Nota: Elaborao da autora.
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
IDH MUNICIPAL - RENDA1991
FONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
ESTADOS E DF
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
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MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
ESTADOS E DFFONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
IDH MUNICIPAL - RENDA2000
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
131
O IDHM-E (figura 34) mostra que, em geral, a distribuio nos municpios
melhorou em todas as Regies e se tornou mais uniforme. A melhora foi bem maior nas
regies Norte e Nordeste, que tinha os mais baixos ndices em relao ao Sul, Sudeste e
Centro-oeste.
Figura 34 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal -
Educao, 1991 e 2000
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD.
Nota: Elaborao da autora.
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
ESTADOS E DFFONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
IDH MUNICIPAL - EDUCAO1991
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
ESTADOS E DFFONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
IDH MUNICIPAL - EDUCAO2000
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
132
As duas regies ainda continuam com ndices mais baixos que as demais, mas h
uma visvel retrao dos clusters de baixos subndices de educao, em especial no
Nordeste. Quanto desigualdade, dimensionada pelo ndice de Gini, a diferenciao
geogrfica entre 1991 e 2000 intensa. Os mapas e grficos da figura 35 indicam um
espalhamento dos clusters de ndices altos (Moran Local) nos municpios das regies
Norte, Nordeste e Centro-oeste.
Figura 35 ndice de Gini dos Municpios, 1991 e 2000
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD. Nota: Elaborao da autora.
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
ESTADOS E DFFONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
COEFICIENTE DE GINI1991
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
INDICADOR
AE ALTA (AA - AB)
AE BAIXA (BB - BA)
N. SIGNIFICATIVA
MAPA DA AUTOCORRELAO ESPACIAL
COEFICIENTE DE GINI2000
FONTE: IBGE. PNUD - ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANONOTA: PROCESSAMENTO DA AUTORA. MTODO: MORAN LOCAL
ESTADOS E DF
RN
PB
PE
AL
SE
ES
RJ
DF
RR
AMPA
AP
AC
RO
MT
MS
GO
TO
MA
PI
CE
BA
MG
SP
PR
SC
RS
133
Os clusters de ndice de Gini alto em 1991 no Sul do pas praticamente
desaparecem, o que parece indicar que a desigualdade migrou para centro-norte do
pas. A distribuio geogrfica do IDHM-R e do IDHM-E no foi significativamente
alterada. exceo de municpios do Amazonas, que passaram a constituir um cluster
de baixa renda, e do Nordeste, cujo cluster de baixos ndices de IDHM-E diminuiu
sensivelmente, a diviso do pas, segundo estas dimenses, ainda mostra indicadores de
Renda e Educao baixos no Norte e Nordeste e altos no Sul e Sudeste.
Com relao ao ndice de Gini, em 1991 a concentrao era expressiva no
interior do continente, na poro oeste do pas. Em 2000 o que se observa um
movimento de rotao deste eixo Norte-Sul, similar ao que aconteceu com o Meridiano
de Tordesilhas que dividia os territrios eleitorais das zonas de vulnerabilidade. A
concentrao de ndices de Gini alto est nos municpios da poro norte e Nordeste e
praticamente desaparece no Sul.
Em resposta crise recessiva na economia brasileira, aps a moratria mexicana
de 1982, o Governo adotou a estratgia de gerao de saldos ancorados na expanso
das e exportaes de produtos bsicos e agroprocessados (Delgado 2005, pp.63-68), de
1983 a 1993, o que desencadeou a expanso da fronteira agrcola na