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Uma associação abolicionista na cidade de Santos: Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro - 1886 VERA LUCIA ALBA REI DIAS Introdução Este texto é fruto da pesquisa levada a termo durante o mestrado em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sendo elaborada a dissertação: Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro: um movimento abolicionista na cidade de Santos - 1886 – 1888. A pesquisa centrou-se, inicialmente, nas razões que teriam dado azo à edição de uma lei abolicionista que teria sido promulgada em 27 de fevereiro de 1886, no âmbito do município de Santos. Diante da constatação de sua inexistência, uma vez perscrutadas as atas da Câmara, a pesquisa direcionou-se à origem dessa ideia. OperiódicoDiário de Santos, jornal santista criado em 1872, utilizado como fonte primária, foi fundamental à descoberta de uma entidade abolicionista, chamada Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro, que possui estrita vinculação com a referência à lei libertadora. Assim é que a fundação da Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro e seus atos e ações em torno da causa abolicionista foram acompanhados através do jornal. Outras fontes foram, ainda, os jornais o Correio Paulistano e O Estado de São Paulo, documentos da Alfândega de Santose o Livro de escrituras de compras e vendas de escravos – 1º cartório de Santos (1879/1884).Autores reputados memorialistas também foram consultados:Olao Rodrigues, Jaime Franco, Costa e Silva Sobrinho e José Luiz Promessa. Por fim, dois trabalhos acadêmicos, em especial, merecem destaque. “Da circulação trágica ao mito da irradiação liberal: negros e imigrantes em Santos na década de 1880”(PUC-SP) de Wilson Toledo Munhós, e “Uma viagem possível: da escravidão à cidadania. Quintino de Lacerda e as possibilidades de integração dos ex- escravos no Brasil” (UFF) de Matheus Serva Pereira. ___________________________ *Mestranda em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduada em Direito pela Universidade Católica de Santos, com especialização em Direito Processual do Trabalho. Servidora pública federal junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP). Mestrado parcialmente financiado pela CAPES.

Uma associação abolicionista na cidade de Santos ......Portuguesa de Beneficência 1951:196-197). Ademais, Santos revela que a primeira mulher a mobilizar libertação foi Dona Francisca

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Page 1: Uma associação abolicionista na cidade de Santos ......Portuguesa de Beneficência 1951:196-197). Ademais, Santos revela que a primeira mulher a mobilizar libertação foi Dona Francisca

Uma associação abolicionista na cidade de Santos: Sociedade Emancipadora 27 de

Fevereiro - 1886

VERA LUCIA ALBA REI DIAS

Introdução

Este texto é fruto da pesquisa levada a termo durante o mestrado em História da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sendo elaborada a dissertação: Sociedade

Emancipadora 27 de Fevereiro: um movimento abolicionista na cidade de Santos - 1886 –

1888.

A pesquisa centrou-se, inicialmente, nas razões que teriam dado azo à edição de uma

lei abolicionista que teria sido promulgada em 27 de fevereiro de 1886, no âmbito do

município de Santos.

Diante da constatação de sua inexistência, uma vez perscrutadas as atas da Câmara, a

pesquisa direcionou-se à origem dessa ideia. OperiódicoDiário de Santos, jornal santista

criado em 1872, utilizado como fonte primária, foi fundamental à descoberta de uma entidade

abolicionista, chamada Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro, que possui estrita

vinculação com a referência à lei libertadora. Assim é que a fundação da Sociedade

Emancipadora 27 de Fevereiro e seus atos e ações em torno da causa abolicionista foram

acompanhados através do jornal. Outras fontes foram, ainda, os jornais o Correio Paulistano

e O Estado de São Paulo, documentos da Alfândega de Santose o Livro de escrituras de

compras e vendas de escravos – 1º cartório de Santos (1879/1884).Autores reputados

memorialistas também foram consultados:Olao Rodrigues, Jaime Franco, Costa e Silva

Sobrinho e José Luiz Promessa. Por fim, dois trabalhos acadêmicos, em especial, merecem

destaque. “Da circulação trágica ao mito da irradiação liberal: negros e imigrantes em

Santos na década de 1880”(PUC-SP) de Wilson Toledo Munhós, e “Uma viagem possível:

da escravidão à cidadania. Quintino de Lacerda e as possibilidades de integração dos ex-

escravos no Brasil” (UFF) de Matheus Serva Pereira.

___________________________ *Mestranda em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduada em Direito pela Universidade Católica de Santos, com especialização em Direito Processual do Trabalho. Servidora pública federal junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP). Mestrado parcialmente financiado pela CAPES.

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1. A CIDADE DE SANTOS

Santos desenvolveu-se, inicialmente, no trecho compreendido entre o Outeiro de Santa

Catarina e o Valongo, e entre o mar e os morros.Manteve-se, assim, preponderantemente, até

fins do século XIX.

A cidade era desprovida de rede de esgotos e submetida a constantes inundações, em

face da ausência de escoamento da água pluvial. A água para consumo não era encanada,

sendo retirada de fontes. A limpeza pública era adstrita a uma pequena área central, pelo que

o lixo produzido, no mais das vezes, era lançado em riachos que cruzavam a cidade ou na

praia de areia lodosa. O calçamento, de pedras, era incipiente. Não é por outra razão que

padeceu das diversas epidemias que seguidamente a assolaram já nos idos do século XVIII.

Segundo Guilherme Álvaro (1919), a primeira grande epidemia de febre amarela vista

em Santos data de 1853. Apesar das doenças, todas ligadas às condições sanitárias da cidade,

Santos se enriquecia.

1.1 O comércio – o porto

A vocação santista para o comércio é vetusta e o Porto de Santos já há muito se

articulava dentro desse panorama.Em meados do século XIX, a exportação de café

ultrapassou a exportação de açúcar pelo porto de Santos e nos idos de 1870 se observam

grandes mudanças no comércio internacional. Com o aumento da produção de café que,

então, se transformava na base econômica da Província, Santos e seu porto tornaram-se

importantes componentes dessa nova engrenagem.

Até 1870 o porto contava comcerca de dez pontes que serviam de acesso às

embarcações atracadas: Alfândega, Becco do Arsenal, Onze de Junho, Praia, Consulado1,

Capella, Sal, Estrada de Ferro, Banca e do Bispo2. Era um meio bastante precário para

embarque e desembarque das mercadorias e de pessoas e, juntamente com os armazéns

(trapiches) à beira d’água que recebiam e depositavam os bens negociados e os pontões,

embarcações menores que transportavam para a terra as mercadorias dos navios que não

conseguiam espaço para atracação, não foram capazes de suprir a crescente demanda de

1 Junto ao Outeiro de Santa Catarina 2 Junto ao Valongo

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movimentação de produtos, mormente após a construção da São Paulo Railway em 1867, que

ampliou o comércio entre o Planalto Paulista e o porto.

Foi por intermédio do Decreto 9979, de 12 de julho de 1888, que a Princesa Isabel,

Regente, concedeu autorização para a construção de novas instalações no porto de Santos. Em

2 de fevereiro de 1892 atracava, junto ao Valongo, o primeiro navio no novo porto que então

encerrava 260m. A sua expansão inicial seguiu até 1909 quando o cais atingiu 4.720 metros.

As obras do porto contribuíram, ainda, para o saneamento da cidade, pois foi necessário o

aterramento das praias lodosas por onde se erguiam os pontões, mas deixaram descontentes os

comerciantes locais, alijados nesse processo de expansão que acabou por direcionar o

comércio portuário às mãos da Companhia Docas.

Com a São Paulo Railway em 1867 a remessa do café para Santos foi evidentemente

facilitada, implementando, definitivamente, sua exportação através do porto, consolidando-se

a vocação da cidade, que se torna uma praça de comercialização de café. Com o incremento

do comércio exterior pelo café, o porto de Santos tornou-se, também, polo exportador de

produtos agrícolas brasileiros e importador de manufaturados. Deu-se, como corolário, a

instalação, na cidade, de inúmeras casas importadoras e exportadoras, aglutinadas, em seus

interesses, na Associação Comercial de Santos, a mais antiga agremiação paulista de classe

que dedicou seus primeiros 50 anos, preponderantemente, às atividades comerciais do café.

2. SANTOS. CÂMARA EA ESCRAVIDÃO

A cidade de Santos fez-se contrária à escravidão. Não obstante a ausência da adesão

absoluta, a cidade viu a ação de muitos cidadãos que se dispuseram à libertação de vários

escravos e que deram abrigoàqueles fugidosem suas terras já conhecidas pelo seu franco

acolhimento. Rigorosamente, foi uma movimentação popular, inexistindo qualquer lei

municipal que desse cabo à servidão humana, promulgada, supostamente, em 27 de fevereiro

de 1886.

A tarefa, de aparência inglória, trazia ainda os inúmeros riscos que lhe eram inerentes,

em face da ruptura com um sistema legal, coercitivo, pois; e amparado, assim, por todo o

poder estatal. Não se pode perder de vista que um forte interesse privado se impunha, diante

da condição jurídica de res do escravo. Assim, toda e qualquer tentativa de solapá-lo não seria

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medida simples. Na cidade de Santos, “[...] de uma população citadina, de humores

republicanos, composta de muitos imigrantes, voltada para o comércio e os serviços, e,

portanto, desvinculada dos grupos rurais majoritários que anelavam a manutenção do regime

servil, [...], que lançou mão tanto de estratégias legais, [...], como de atividades ilegais”

(ROSEMBERG, 2006:196), houve um unívoco repúdio à barbárie institucional, ainda que não

absoluto. Consequentemente, a urbe acabou por gerar uma ampla rede de apoio aos vários

atos que se sucederam para por fim à escravidão. Read(2012:46) desnuda uma importante

característica da cidade, concernente ao fato de que os escravos ali existentes não se

destinavam ao trabalho em grandes lavouras, no eito, sendo possível concluir, nesse passo,

que sua economia não estava calcada na atividade agrícola, não tornando, assim,

imprescindível a mão-de-obra escrava. Era, pois, uma terra fértil e multifacetada para o

abolicionismo.

Conta, por sua vez, o memorialista Francisco Martins dos Santos, em seu livro datado

de 1937, que a cidade de Santos já há muito via demonstrações contrárias ao trabalho servil,

movimentando-se em atos abolicionistas, com associações para tal fim e periódicos que

vociferavam ideias libertárias. Vários foram os defensores do fim da escravidão. Nos idos de

1823, José Bonifácio de Andrada e Silva, santista nascido em 13 de junho de 1763, foi figura

de destaque, tendo formulado representação, junto à Assembleia Geral Constituinte, de um

projeto que buscava a gradual extinção do trabalho servil. Outros também são mencionados

por Francisco Martins dos Santos alçados à condição de precursores do movimento

abolicionista em Santos: Xavier da Silveira, Luiz Gama, Antonio Bento, Francisco Martins

dos Santos, Alexandre Martins Rodrigues, Luiz Ernesto Xavier, Augusto Fomm, Hyppólito

da Silva, Padre Francisco Gonçalves Barroso, Sacramento Macuco, Antonio Manoel

Fernandes, João Otávio dos Santos. Joaquim Xavier Pinheiro, também fez parte da primeira

quadra do movimento. Foi peça suprema na formação da Sociedade Emancipadora 27 de

Fevereiro.

Entidades com distintos fins também se aliavam à luta pela igualdade. Fundada em

Santos, em agosto de 1859, por vinte portugueses, a Sociedade Portuguesa de Beneficência

D. Pedro V era uma associação destinada a prover o bem estar entre seus compatriotas. A

Sociedade Portuguesa inaugurou, em 6 de janeiro de 1878, o Hospital da Sociedade

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Portuguesa de Beneficência

1951:196-197).

Ademais, Santos revela que a primeira mulher a mobilizar

libertação foi Dona Francisca Amalia de Assis Faria que recebia ne

transformando seu quintal, na cidade de Santos,

não foi só, Anna Benvinda da Silva Bueno

Martim Francisco de Ribeiro de Andrada Filho, na cidade de São Paulo para onde se

mudaradepois de residir em Santos

fundada em 1870, denominada

Publicou-se no O Estado de São Paulo

após a edição da Lei Áurea, um longo relato da lavra de seu filho, Antonio Manuel Bueno de

Andrada. Este relembra que seu pai fundara a sociedade libertadora, tendo sua mãe

a presidência. Conta, também,

Gama, ocorrida em 24 de agosto de 1882,

contrário à escravidão, o sucedeu na luta abolicionista. É ele quem funda o jor

“Redempção”, um “club revolucionário”.

acabaram por receber a alcunha de “Caifazes de Antonio Bento”. Tais personagens logravam

dar fuga aos escravos no eito, porém encontravam dificuldades para mantê

fora do alcance de policiais e de capitães do mato.

Paulo e Santos, muito especialmente, emergem em torno da liberdade:

E mais, o filho de Anna Benvinda aponta a

partir de então remunerada, junto ao cais do porto, nas atividades de carga e descarga do café

Portuguesa de Beneficência, onde já se praticava o ideário abolicionista

Ademais, Santos revela que a primeira mulher a mobilizar-se em atos em prol da

libertação foi Dona Francisca Amalia de Assis Faria que recebia ne

, na cidade de Santos, em “um pequeno quilombo” (1937

Anna Benvinda da Silva Bueno, casada com um sobrinho de José Bonifácio,

Martim Francisco de Ribeiro de Andrada Filho, na cidade de São Paulo para onde se

depois de residir em Santos, presidiu uma sociedade para alforriar moças escravas

fundada em 1870, denominada “A Emancipadora”.

O Estado de São Paulo, em 13 de maio de 1918,

após a edição da Lei Áurea, um longo relato da lavra de seu filho, Antonio Manuel Bueno de

Andrada. Este relembra que seu pai fundara a sociedade libertadora, tendo sua mãe

a presidência. Conta, também, Bueno de Andrada, que quando da morte prematura de Luiz

, ocorrida em 24 de agosto de 1882,Antonio Bento, ex magistrado e francamente

contrário à escravidão, o sucedeu na luta abolicionista. É ele quem funda o jor

pção”, um “club revolucionário”. O grupo se robustecera e os homens de ação

acabaram por receber a alcunha de “Caifazes de Antonio Bento”. Tais personagens logravam

dar fuga aos escravos no eito, porém encontravam dificuldades para mantê

fora do alcance de policiais e de capitães do mato. Assim que, como aduz

Paulo e Santos, muito especialmente, emergem em torno da liberdade:

Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/1918

E mais, o filho de Anna Benvinda aponta a absorção da mão de obra dos fugitivos, a

partir de então remunerada, junto ao cais do porto, nas atividades de carga e descarga do café

5

, onde já se praticava o ideário abolicionista (Cf, FRANCO,

se em atos em prol da

libertação foi Dona Francisca Amalia de Assis Faria que recebia negros fugidos,

em “um pequeno quilombo” (1937:5). Mas

asada com um sobrinho de José Bonifácio,

Martim Francisco de Ribeiro de Andrada Filho, na cidade de São Paulo para onde se

, presidiu uma sociedade para alforriar moças escravas

, em 13 de maio de 1918, ou seja, trinta anos

após a edição da Lei Áurea, um longo relato da lavra de seu filho, Antonio Manuel Bueno de

Andrada. Este relembra que seu pai fundara a sociedade libertadora, tendo sua mãe assumido

que quando da morte prematura de Luiz

Antonio Bento, ex magistrado e francamente

contrário à escravidão, o sucedeu na luta abolicionista. É ele quem funda o jornal

O grupo se robustecera e os homens de ação

acabaram por receber a alcunha de “Caifazes de Antonio Bento”. Tais personagens logravam

dar fuga aos escravos no eito, porém encontravam dificuldades para mantê-los em São Paulo

Assim que, como aduz, as cidades de São

absorção da mão de obra dos fugitivos, a

partir de então remunerada, junto ao cais do porto, nas atividades de carga e descarga do café.

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O surgimento do Quilombo do Jabaquara, local de reconhecido destino dos

fugitivos, também é demonstrado por Bueno de Andrada:

Dados sobre o Quilombo do Jabaquara são oscilantes. Santos

1882, por iniciativa de Xavier Pinheiro, idealizou

escravos. Quintino de Lacerda foi escolhido para que “mantivésse em ordem e arrefecesse os

seus impetosnaturaes e comprehensiveis, porquê aproximava

movimento e tornava-se necessária uma acção pensada, conjun

“Ao cabo de um anno contava o Jabaquára mais de quinhentos indivíduos, vigiado pela atalaia

do morro [...]” (SANTOS, 1937

dados que apurou, estatui que o Quilombo do J

no segundo semestre de 1886, “

urbano de acoutamento de escravos foragidos em Santos.”(1992

Era um quilombo em franca comunicação com a cidade, loca

que se tornava mais e mais comercial e protegido pela rede de a

forma.

Certamente é neste contexto de

Santos, deu-se a abolição da escravidão no dia 27

âmbito municipal, como indicado por Gitahy

Ocorre que inexistente a lei. Sequer viável à Câmara a sua edição. Em verdade,

distinto da abolição, de caráter amplo, geral, ao qual se

ocorreu em 13 de maio de 1888, o que se deu na cidade de Santos foi um amplo processo de

libertação de escravos, promovido por cidadãos comuns, desprovidos de qualquer

Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/1918

O surgimento do Quilombo do Jabaquara, local de reconhecido destino dos

fugitivos, também é demonstrado por Bueno de Andrada:

Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/1918

Dados sobre o Quilombo do Jabaquara são oscilantes. Santos (1937

1882, por iniciativa de Xavier Pinheiro, idealizou-se a criação do reduto para a reunião dos

escravos. Quintino de Lacerda foi escolhido para que “mantivésse em ordem e arrefecesse os

seus impetosnaturaes e comprehensiveis, porquê aproximava-se a phase heroica do

se necessária uma acção pensada, conjunta e definitiva.”, sendo que

“Ao cabo de um anno contava o Jabaquára mais de quinhentos indivíduos, vigiado pela atalaia

, 1937:13).Munhós, por seu turno, após detido cruzamento de alguns

dados que apurou, estatui que o Quilombo do Jabaquara teria sua criação não em 1882, mas

no segundo semestre de 1886, “[...] no contexto de iminente repressão policial ao quadro

urbano de acoutamento de escravos foragidos em Santos.”(1992:47).

Era um quilombo em franca comunicação com a cidade, localizado perto de seu centro

que se tornava mais e mais comercial e protegido pela rede de abolicionistas que lhe deu

Certamente é neste contexto de ações que se insculpiu a ideia de que, na cidade de

se a abolição da escravidão no dia 27 de fevereiro de 1886, através de uma lei de

âmbito municipal, como indicado por Gitahy(1992:34) e Rosemberg (2006

Ocorre que inexistente a lei. Sequer viável à Câmara a sua edição. Em verdade,

distinto da abolição, de caráter amplo, geral, ao qual se submeteria todo o país, como, de fato,

ocorreu em 13 de maio de 1888, o que se deu na cidade de Santos foi um amplo processo de

libertação de escravos, promovido por cidadãos comuns, desprovidos de qualquer

6

O surgimento do Quilombo do Jabaquara, local de reconhecido destino dos escravos

(1937:12) indica que em

reduto para a reunião dos

escravos. Quintino de Lacerda foi escolhido para que “mantivésse em ordem e arrefecesse os

se a phase heroica do

ta e definitiva.”, sendo que

“Ao cabo de um anno contava o Jabaquára mais de quinhentos indivíduos, vigiado pela atalaia

13).Munhós, por seu turno, após detido cruzamento de alguns

abaquara teria sua criação não em 1882, mas

no contexto de iminente repressão policial ao quadro

lizado perto de seu centro

bolicionistas que lhe deu

que se insculpiu a ideia de que, na cidade de

de fevereiro de 1886, através de uma lei de

(2006:195).

Ocorre que inexistente a lei. Sequer viável à Câmara a sua edição. Em verdade,

submeteria todo o país, como, de fato,

ocorreu em 13 de maio de 1888, o que se deu na cidade de Santos foi um amplo processo de

libertação de escravos, promovido por cidadãos comuns, desprovidos de qualquer

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legitimidade para consolidar a desejada extinção absoluta do regime escravagista, sendo assim

o escólio de Pereira: “Terra de comerciantes, dos comissários de café, e de outros grupos

progressistas, abrigar os escravos fugidos e lutar pela sua emancipação total é programa que

se impôs dentro de sua postura antiescravagista.” (1988, p. 99).

Não se tratou de um ato legal, mas sim de um movimento social que alcançou

significativa projeção no dia 27 de fevereiro de 1886.

2.1Uma lei municipal libertadora? A Câmara de Santos. Algumas relações

multifacetadas.

O exame das atas da Câmara de Santos indica que ocorreram sessões nos dias 23 de

fevereiro de 1886 e 24 de março de 1886, não tendo havido sessão no dia 27 de fevereiro de

1886, circunstância que sepulta, de vez, a propalada ocorrência de edição da lei. A rigor, na

cidade de Santos, não houve qualquer movimento do órgão em tal sentido. Ademais, não seria

possível à municipalidade produzir tal norma jurídica, haja vista as disposições legais vigentes

à época.

A Constituição de 1824, em seu artigo 167, determinou a existência de Câmaras, em

todas as cidades e vilas. Posteriormente, a Lei de 1º de outubro de 1828 deu a elas nova forma

a e estabeleceu as atribuições. É nessa toada que a Câmara, composta por membros eleitos, foi

considerada uma corporação apenas administrativa (artigo 24 da Lei de 1º de outubro de

1828), a ela incumbindo atos meramente ordinatórios. A sua mais importante atividade restou

circunscrita às “Posturas”, deliberações que estabeleciam obrigações no âmbito do

Município, pertinentes à polícia e à economia do território e tendentes à organização da vida

urbana. Ademais, as Posturas Municipais teriam vigência por um ano, enquanto não fossem

confirmadas, eis que, para sua validade, eram submetidas ao crivo dos Conselhos Gerais

(Assembleias Legislativas da Província).

Para o período que interessa a este estudo, tem-se que Santos contou com o código de

Posturas outorgado pela Resolução nº 43 da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo,

de 6 de agosto de 1883. No caso, além de um Plano de Edificação ao seu final, os dez títulos

do Código de Posturas de 1883 encerraram 170 artigos. Fruto das tensões, disputas e conflitos

da cidade, contém normas relativas à formação da própria urbe, através das previsões

destinadas às edificações. Outras questões intrinsecamente ligadas à vida citadina tais como o

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trânsito, higiene e salubridade de estabelecimentos, organização das atividades comerciais e

industriais, além da saúde pública, moral e sossego, foram ali dedilhadas, tudo em

conformidade com o estatuído pelos artigos 66 e 71 da Lei de 1º de outubro de 1828.

Apenas duas referências foram feitas a escravos no Código de Posturas de 1883:

ambas articuladas no sentido de cercear seu comportamento e sua ação em sociedade (art. 64

e 146), distantes, pois, de sua almejada libertação. Mas assim não se pode encerrar a questão.

Este, particularmente, é um silêncio bastante eloquente.

Barbosa, discorrendo sobre leis imperiais de desescravização, esclarece que as

posturas municipais tiveram papel importante junto ao mercado de trabalho que germinava,

posto que a elas também eram subsumidos os escravos. Exemplificativamente o autor relata

que se exigia dos escravos a exibição de ordem escrita por seus senhores quando atuavam em

atividades comerciais, facilitando, assim, a aferição dos fugitivos (Cf. BARBOSA,

2008:131).Tais modalidades de controle, no entanto, não se vislumbram no diploma santista.

Resta claro, assim, que a Câmara local se absteve de exercê-las, certamente porque afinada

com a libertação dos escravos e com a ação abolicionista que se desenrolava.

Ainda assim, alguns vereadores transacionaram escravos, como se constata a partir do

Livro de escrituras de compras e vendas de escravos – 1º cartório de Santos (1879 a

1884).Benedito Narciso do Amparo Sobrinho, reputado conservador, foi vereador e bastante

atuante, envolvido com os assuntos da cidade, adquiriu um escravo.Félix Bento Vianna,

também integrante da Câmara santista e de linhagem conservadora, presidiu a casa no dia 20

de maio de 1886, no qual se celebrou o fim definitivo do trabalho servil, e vendeu 1 escravo e

comprou outros 3.Francisco Martins dos Santos Jr., também vereador,representou sua firmana

venda de um escravo. Não resta dúvida de que era legal a propriedade de escravos, bem como

sua venda e compra, além de que não se afigura sequer razoável atestar que o movimento

abolicionista foi assimilado de forma unânime. Exemplo dessa conduta transversa, é o

também vereador Joaquim Xavier Pinheiro em duas legislaturas, 1877/1880 e 1883/1886,

reputado liberal, mentor da criação do Quilombo do Jabaquara, fundador da Sociedade

Emancipadora 27 de Fevereiro e, controvertidamente, detentor de escravos.

Xavier Pinheiro era um próspero empresário. Fora dono de uma fábrica de cal, de um

trapiche, além de ser acionista da Companhia de Carris de Ferro da cidade, detendo,

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certamente, muitos interesses relativos à mão-de-obra. Xavier Pinheiro foi, ainda, major,

delegado de polícia e, como já mencionado, vereador.

Assim é que se perpassa a criação do Quilombo do Jabaquara, momento em que surge

a figura de Quintino de Lacerda, negro liberto por Lacerda Franco. Foi a Quintino que se

atribuiu a guarda e a manutenção do quilombo, destino dos fugitivos que chegavam a Santos.

Pereira debruçou-se sobre a vida de Quintino de Lacerda e trouxe à sua dissertação,

Uma viagem possível: da escravidão à cidadania. Quintino de Lacerda e as possibilidades de

integração dos ex-escravos no Brasil, vários termos de uma ação de interdito possessório

proposta em 24 de fevereiro de 1886. Benjamin Fontana, autor da ação, dizia-se proprietário

das terras do Jabaquara, onde se instalara o quilombo, e acusava Walter Wright de tê-las

invadido, sendo viável a Pereira, a partir dessa documentação, atestar a dinâmica ali existente:

Esse início da contenda judicial entre Fontana e Wright nos dá indicativos valiosos a respeito da ocupação promovida nas terras do Jabaquara. Uma questão está vinculada à exploração dessas terras através da construção das benfeitorias e das plantações listadas. Afinal, quem cuidava das bananeiras, dos pés de cana e dos mandiocais? O galinheiro provavelmente era de responsabilidade de Quintino de Lacerda, afinal no ano de sua morte os autos de arrecadação realizados para a elaboração de seu inventário listaram um número muito grande de aves, principalmente galinhas. É possível imaginar que a relação entre Fontana, Quintino de Lacerda e os escravos fugidos não se resumia ao auxílio dos dois primeiros para o sucesso da ação de rebeldia escrava contra seus senhores. A relação ambivalente de Quintino com os habitantes do Jabaquara começa a se desenhar com maior clareza. (PEREIRA, 2011:216).

Como se vê, não se tratava de mero acolhimento de fugitivos. Os escravos

encontravam trabalho no Jabaquara, na lida da terra: “Os ex-escravos e escravos que partiam

rumo ao Jabaquara na década de 1880 apresentavam-se como uma mão de obra ociosa e que

deveria ocupar-se na lógica do trabalho assalariado para o movimento abolicionista paulista

de que Quintino de Lacerda era membro.” (PEREIRA, 2011:219).

Quintino de Lacerda não pode ser considerado como uma figura isolada nesse

contexto. Houve sua expressa indicação pela elite santista para o mister, como anteriormente

posto. Era ele a pessoa talhada para o ofício, tido como homem forte e de caráter. Escorado

estava, em seu cotidiano, por essa mesma elite que se espraiava pelos espaços de poder da

cidade: ora com assento junto à Câmara, ora em perfeita consonância com outros poderes

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constituídos, a ponto de transformar um atojudicial de libertação oficial dos sexagenários em

uma festa cívica onde se deu a criação da Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro, como se

verá a seguir, e com amplo apoio de uma combativa imprensa, que contava, ainda, com o

Diário de Santos, capitaneado por Rubim Cezar, também advogado em prol da causa

abolicionista.

3. A SOCIEDADE EMANCIPADORA27 DE FEVEREIRO

Deu-se, na cidade de Santos, no dia 27 de fevereiro de 1886, um importante passo para

o fim da existência de escravizados em seu solo.

O jornal Diário de Santospublicou em suas páginas, em 14 de fevereiro de 1886, edital

da lavra do magistrado Ledo Vega, convocatório para uma audiência pública extraordinária

que determinara realizar-se às 11 horas do dia 27, na qual deveriam ser apresentados os

escravos maiores de 60 e 65 anos. Ao fim do edital foram arrolados os escravos nessa

condição matriculados nos Municípios de Santos e da Conceição de Itanhaém. O referido ato

teve sua gênese na Lei nº 3270, de 28 de setembro de 1885, também conhecida como Lei dos

Sexagenários. Os efeitos desta convocação, no entanto, ultrapassaram seus limites formais.

No dia 27 de fevereiro de 1886 (sábado), nas dependências do Fórum de Santos, fez-

se a declaração de liberdade, desonerando-se quase que a integralidade dos então libertos da

prestação obrigatória de serviços. Na mesma oportunidade, o Major Xavier Pinheiro e outros

senhores também libertaram seus escravos, não tendo constado se imposta alguma condição.O

jornal de 17 de março de 1886 elencou outros 12 escravos também libertos na oportunidade. É

possível apurar-se que a solenidade acabou por redundar na libertação de 61 escravos.

Porém, ainda um outro fato relevante ocorreu, como revelou o Diário de Santos de 28

de fevereiro de 1886: a proposta de fundação de uma sociedade emancipadora, denominada

27 de Fevereiro, “[...] que com vigor impulsione o abolicionismo nesta cidade que mais do

que em qualquer outra provincia, conta grande numero de partidários” (sic), intentando

consolidar-se como “ [...] uma corporação que bem póde obter a gloria de emancipar o

muuicipio de Santos” (sic).

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Evidencia-se, do quanto exposto, que, não obstante tenham os cidadãos santistas se

declarado contrários ao regime escravagista que vigia à época, não lograram, a 27 de fevereiro

de 1886, levá-lo a termo. O que se pode apurar, diante do quanto ora revelado, é ter-se

considerado a solenidade ocorrida em 27 de fevereiro de 1886 como uma cabal decretação do

fim da escravidão de Santos, assimilando-se-a como uma norma imperativa, legal. No

entanto, havia, naquele momento, trabalho servil em Santos.

3.1 As ações da Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro

ASociedade Emancipadora 27 de Fevereiro constituiu-se como uma entidade civil,

organizada estruturalmente e alinhada formalmente com o ordenamento legal e positivo já

vigente à época.

Apesar de tamanho esforço de parcela dos cidadãos santistas, contrários à servidão

humana, seguia, no país, e de forma legal, a escravidão.O Diário de Santospublicava em 12

de marçode 1886 edital elaborado pela Inspetoria da Alfândega, tornando pública a matrícula

e o arrolamento dos escravos, no interregno compreendido entre 30/03/1886 e 30/03/1887,

nos termos da Lei nº 3270/85.

A Sociedade seguia seu caminho organizando-se em reuniões cuja publicidade era

dada através do Diário de Santos, traçando estratégias de atuação, inclusive para perseguir

recursos financeiros que proporcionaram a compra de alforrias, na busca pela extinção do

trabalho servil na cidade de Santos.Imperativo consignar, nesta toada, que desde a concepção

de seus estatutos até a arrecadação havida em um espetáculo que lhe beneficiava, a associação

humanitária levava ao conhecimento de todos. Certamente a cidade, como um todo, acolhia

suas atividades e, portanto, a Sociedade utilizava-se do jornal para expor-se e angariar a ajuda

necessária ao seu intento.

João Guerra, contribuindo em consonância com o desiderato da Sociedade, elaborou

um levantamento acerca da quantidade de escravos havidos em três municípios. A apuração

resultou em 237 na cidade de Santos, 29 em São Vicente e 19 em Conceição de Itanhaém e foi

alvo de publicação, junto ao Diário de Santos, nos dias 01 e 02 de outubro de 1886.

Além das ações diretas promovidas pela Sociedade, é certo que a sua atuaçãoinspirava

a outros. Em 30 de outubro de 1886 vários advogados, publicamente, em anúncio estampado

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no Diário de Santos, declararam, conjuntamente, que a partir daquele dia não mais

patrocinariam quaisquer causas contrárias à libertação dos escravos.

A cidade de Santos pulsava às vésperas da abolição. Porém, não obstante todos os

esforços empreendidos, e a despeito das inúmeras conquistas havidas, é certo que se se dava a

nova e legal matrícula a escravos, que se ultimouem 30 de março de 1887, tendo sido

lançados 57 escravosrelativamente à cidade de Santos.Ao fim do documento foi inserida a

informação de que 6 destes escravos já haviam sido libertos.

Verdade é que estes dados já eram demonstrativos da força do intento abolicionista

que havia na cidade. Conrad (1975:291) apontou a positiva atuação da Sociedade 27 de

Fevereiro, embora não tenha conseguido, com a agilidade que pretendia,afastar a escravidão

do solo santista.

É certo que a consolidação da persistência de trabalho servil a partir da apuração feita

após o encerramento do período de matrículas em 1887, ainda que em tal montante, foi

veemente repudiada.O matutino, em 02 de abril de 1887, trouxe uma matéria sob o título

“Escravos”, que estampava a existência de 58 cativos, lamentando a nefasta verificação e

pugnando por esforços mais enérgicos para o fim da escravidão.

Inegavelmente, a revelação das matrículas foi um duro golpe para a Sociedade

Emancipadora 27 de Fevereiro, muito embora a situação ora vista fosse inequivocamente

distinta daquela revelada em levantamento feito por João Guerra nos idos de setembro de

1886, ou seja, meses após a criação da Sociedade, à ordem de 237 escravizados.

Diante desse quadro, a Sociedade não se quedou inerte. Movimentou-se. Demandou

contribuição financeira a uma entidade recreativa denominada “Violeta”, bem como ao Club

XV, além de por à venda duzentos exemplares do discurso proferido por Ruy Barbosa. Saiu,

ainda e novamente, a campo:

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Costa e Silva Sobrinho dá conta dos momentos finais da Sociedade, afigurando

seexitosaa sua existência:

Esta sociedade abolicionistao último escravo que existisse no município, o que felizmente conseguiu no prazo de um ano. Por isso, a 27 de fevereiro de 1888, numa grande festa, entregou ela as derradeiras sete cartas de liberdadAndrade, João Mpela senhora Felipina Gomes de Miranda.

Costa e Silva Sobrinho indi

ano, no entanto, tem-se que em 1888

oportunidade em que, um pouco antes da assinatura da Lei Áurea, no dia 27 de fevereiro de

1888, já se considerava a cidade livre de cativos

Fevereiro.

Conclusão

Rigorosamente, competia apenas e tão

Imperador, dispor sobre o tema.

a integralidade do Império, foi regu

Imperador (na verdade, à Princesa Isabel, então regente) um decreto, julgado útil e vantajoso.

Sancionado pela Princesa Isabel, consolidou

art. 1º que “É declarada extinta desde a data de

Fonte: Diário de Santos, 10/04/1887

Costa e Silva Sobrinho dá conta dos momentos finais da Sociedade, afigurando

Esta sociedade abolicionista foi por ele fundada com o fim exclusivo de libertar até o último escravo que existisse no município, o que felizmente conseguiu no prazo de um ano. Por isso, a 27 de fevereiro de 1888, numa grande festa, entregou ela as derradeiras sete cartas de liberdade concedidas pelos senhores Floriano de Camargo Andrade, João Manoel Alfaia Rodrigues Junior, José Pinto Florencio de Campos e pela senhora Felipina Gomes de Miranda. (1953:104)

osta e Silva Sobrinho indicaa consecução dos objetivos da Sociedade

se que em 1888 já se completavam dois anos de

um pouco antes da assinatura da Lei Áurea, no dia 27 de fevereiro de

erava a cidade livre de cativos pela ação da Sociedade Emancipadora 27 de

Rigorosamente, competia apenas e tão-somente à Assembleia Geral, com a sanção do

Imperador, dispor sobre o tema. In casu, o ato que extirpou o regime escravagista, abarcando

a integralidade do Império, foi regularmente proposto pela Assembleia Geral, a qual dirigiu ao

Imperador (na verdade, à Princesa Isabel, então regente) um decreto, julgado útil e vantajoso.

Sancionado pela Princesa Isabel, consolidou-se na Lei nº 3353, de 13 de maio de 1888,em seu

e “É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil”.

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Costa e Silva Sobrinho dá conta dos momentos finais da Sociedade, afigurando-

foi por ele fundada com o fim exclusivo de libertar até o último escravo que existisse no município, o que felizmente conseguiu no prazo de um ano. Por isso, a 27 de fevereiro de 1888, numa grande festa, entregou ela as

e concedidas pelos senhores Floriano de Camargo osé Pinto Florencio de Campos e

Sociedade no prazo de um

já se completavam dois anos de sua atividade,

um pouco antes da assinatura da Lei Áurea, no dia 27 de fevereiro de

dade Emancipadora 27 de

somente à Assembleia Geral, com a sanção do

, o ato que extirpou o regime escravagista, abarcando

larmente proposto pela Assembleia Geral, a qual dirigiu ao

Imperador (na verdade, à Princesa Isabel, então regente) um decreto, julgado útil e vantajoso.

se na Lei nº 3353, de 13 de maio de 1888,em seu

sta lei a escravidão no Brasil”.

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A Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro, agiu de forma incansável, arrecadando

recursos, concedendo alforrias e convencendo alguns senhores.

A posição adotada, de franca contradição com o regime posto, foi um ato que marcou

a cidade que não cansa de se intitular terra da caridade e da liberdade.

FONTES:

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Santos – fevereiro de 1886 a maio de 1888

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escravos – 1º cartório de Santos

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1886 a dezembro de 1887

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- Relação dos escravos alforriados no município de Santos, de 30 de março de 1887 a 20 de

março de 1888. Disponível no sítio eletrônico do Arquivo Público do Estado de São Paulo:

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Jornais:

Correio Paulistano

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- Edição de 16/06/1886 disponível no sítio eletrônico da Biblioteca Nacional,

em:<http://memoria.bn.br/DOCREADER/DocReader.aspx?bib=090972_04&PagFis=8328>Acesso em: 01

fev. 2013.

- Edição de 24/10/1886 disponível no sítio eletrônico da Biblioteca Nacional,

em:<http://memoria.bn.br/DOCREADER/DocReader.aspx?bib=090972_04&PagFis=8328>Acesso em: 01

fev. 2013

O Estado de São Paulo

- Edição de 13/05/1918 disponível no sítio eletrônico de O Estado de São Paulo,

em:<http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19180513-14380-nac-0003-999-3-not>Acesso

em 01 fev. 2013

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