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juntos facilmente planearam as despesas
que se somam ao valor que pagam pela ca-sa. Contraíram um empréstimo por qua-renta anos, no valor de 125 mil euros, de-
ram vinte por cento de entrada e pagam416 euros por mês ao banco. «Está a ser im-
posto um modelo de mercado de traba-lho baseado na precariedade e num salá-rio que ronda os quinhentos euros. Na al-tura da compra tínhamos um rendimentomensal de dois mil euros, mas não arriscá-mos comprar mais caro, pois não quería-mos que a prestação se tornasse insupor-tável, devido à incerteza do nosso futuro»,diz Hugo, técnico de projetos.
Um futuro de incerteza tem levado cada
vez mais gente a tomar decisões profissio-nais radicais, como emigrar. E o que fazerquando o casal se separa por motivos pro-fissionais? Um vai para o estrangeiro, o ou-tro fica... Elisabete Ferreira e Natália Cola-
ço, psicólogas clínicas e terapeutas fami-liares na Sociedade Portuguesa de TerapiaFamiliar, defendem que esta nova realida-de deve ser encarada com positivismo. «As
novas tecnologias permitem um contactoassíduo e próximo, bem como a partilha»,lembra Elisabete. Segundo Natália, «cadacasal ajusta-se aos seus próprios projetos».
Foi o que aconteceu com Marco, de 30
anos, e Marta Monteiro, de 26. Partilhavam
odesejodesairdo país. Logo no iníciodo na-
moro, ponderaram a hipótese de emigrar
mal casassem. Marco acabou o curso de
Audiovisual eMultimédiaeMartao de De-
sign Gráfico. Dois dias depois do enlace, em
agosto de 2009, partiram paraßristol «ape-nas com algumas malas de viagem e pron-tos para uma nova aventura». Naturais das
Caldas da Rainha, encararam a viagem co-mo «uma espécie de lua de mel um poucomenos confortável e controlada, mas sem-
pre romântica». Partiram sem trabalho ga-rantido, mas, ainda em Portugal, játinhamplaneado «um pouco» ávida financeira de-
pois de chegarem ao Reino Unido.No estrangeiro, a prevenção a nível fi-
nanceiro é essencial. «É necessário ter umfundo de segurança, de pelo menos en-tre cinco e seis meses», adverte AntónioRibeiro, economista da Proteste Investe,da Deco. Marco e Marta levavam apenasdois. E não foi fácil, sobretudo pela distân-cia da família. Encontraram trabalho nu-ma cadeia defastfood, e essa experiência,segundo eles, foi fundamental tanto pa-ra aperfeiçoar o inglês como para «pagaras contas ao fim do mês». Depois, ficaramhospedados em casa de um casal que maistarde os convidou a desenvolverem traba-lho na área do design gráficoe multimédia.«Largámos o McDonald's para trabalhar a
partir de casa», recorda Marta. E assim foi.O volume de trabalho aumentou, investi-ram em mais clientes e acabaram por criara empresa The Pixel Mark.
João e Diana Brito decidiram alugar uma casa
em Gondomar, apesar de trabalharem no Porto.
0 ALUGUERDE UMA CASAPODE SERUMA BOAOPÇÃO, SEMDRAMAS,NESTESTEMPOS DEINCERTEZA
Abrir um negócio é igualmente uma aven-tura para um jovem casal mas quem tenhaeste sonho deve avaliar diversos aspetos.Adivisão de responsabilidades é essencial, e
ter noção de que os primeiros anos são mui-to difíceis e que o retorno pode demorar al-
gum tempo. Ter e manter um negócio é mui-to diferente de trabalhar por conta de ou-trem. Acarreta, por exemplo, levar trabalho
para casa. Afinal, são muitos os fatores quepodem arruinar um negócio, como má ges-tão ou deficiente perceção da concorrência.Também paracriar um negócio é importan-te ter um fundo monetário de segurança.
Sérgio Rodrigues, 30 anos, teve a ideiade criar um negócio quando, após noveanos ao serviço do exército, não foi colo-cado nos quadros. Ele e a mulher, Alexan-dra Rodrigues.de 27 anos, tinham as con-
dições necessárias para materializar osonho de ter qualquer coisa na área da res-
tauração. Antes de a Tasquinha do Vadioabrir as portas no bairro lisboeta de Alfa-ma, Alexandra despediu-se da loja de rou-
pa onde trabalhava. O restaurante abriuem abril de 2011 e a época alta, assim comoa zona turística, foram favoráveis. «Impli-ca muito trabalho e pouco descanso. O es-
paço está a funcionar das 12h00 às 02h00,mas depois temos tudo o resto para orga-nizar, como as compras, por exemplo», co-menta Sérgio. Não têm folgas nem fériasou horários, tão-pouco ordenado certo ao
fim do mês. Quando abriram o restaurantede petiscos típicos não tiveram muitas difi-culdades, mas as medidas de austeridade e
a época baixa originaram quebra nas ven-das. «O panorama não é muito positivo, in-vestimos todas as nossas economias e esta-mos preocupados. Temos esperançade quecomece a melhorar, principalmente com a
mudança programada ainda para este mês
de outubro. Vamos continuar em Alfama,na Calçadinha de São Vicente, mas funcio-nar mais numa lógica de bar. Vamos abra-
çar novos desafios», diz Alexandra, cons-ciente das dificuldades. Por isso, apontam a
organização, o apoio mútuo e acumplicida-de para que o negócio tenha sucesso, ape-sar da conjuntura pouco favorável do país.
Uma das questões essenciais na ges-tão financeira a dois é que ambos saibamo destino do dinheiro. Filomena Santos,formada em Counselling, recomenda umbom exercício: escrever durante um mêstodas as despesas, das mais pequenas às
maiores, e dividir por categorias. Destaforma, haverá maior noção da verba des-tinada à casa, aos transportes, à alimenta-
ção, à saúde ou ao lazer.E quando a chegada de filhos aumenta a
alegria... e os gastos? Em 2004, João Melo,professor de Economia na Universidade de
Coimbra, apresentou um estudo com a mé-diade despesas desde o parto até aos 25 anos:
cerca de 210 mil euros, no seio de uma famí-lia da classe média-baixa, e 678 mil numafamília da classe média-alta. Carla Miguel,de 39 anos, e Paulo Pratas, de 45, vivem na
Pampilhosa, Mealhada (Aveiro), e encara-ram o despedimento de Carla, em março de
2010, como uma oportunidade para concre-tizarem o sonho de ser pais. Estava prepara-da a estabilidade financeira para os primei-ros anos, devido à indemnização recebida.
Emmaio do ano passado nasceram asduas
gémeas, Lavra e Júlia. «A despesa mensalaumentou duzentos euros. Gastamos imen-so em leite. Cada lata custa aproximada-mente 15 euros e ainda há as fraldas e mui-tos outros produtos», diz Carla. «Sabíamos
que a nossa vida iria sofrer alterações, masnão nos importamos. Vivemos para elas e
conseguimos fazer uma vida normal. Claro
que abdicámos de coisas, como jantar numrestaurante ou passear no fim de semana»,revela Paulo. Aproveitar a oferta de utensí-lios para bebés dos filhos já crescidos de al-
guns amigos e familiares permitiu pouparbastante em roupa, carrinhos e brinquedos.
Paulo trabalha no setor da educação e Carlaacabou por ficar poucos meses desemprega-da. Foi delegada de informação médica, masno final de março ficou novamente sem em-
prego. «Pensámos em alternativas, como re-tirar as miúdas da creche, cuja mensalidadeera de quatrocentos euros, mas como estou
desempregadafoireduzida.»A chegada dos filhos pode também pre-
judicar outra poupança que qualquer ca-sal deve considerar: para a reforma. «É im-
portante que se mantenha a disciplina»,diz Rita Sambado, diretora de marketingda Fidelidade Mundial Império Bonança.
As escolhas devem ser mais racionais e
menos emocionais. Só assim os jovenspais conseguem poupar, para garanti-rem uma velhice mais estável e ao mesmo
tempo um futuro mais risonho para os fi-lhos. Paulo e Carla têm um depósito a pra-zo, mas, entretanto, abriram também umacontabancária em nome das duas gémeas,onde depositam uma quantia todos os me-ses. Mas garantir o futuro dos filhos e asse-
gurarumamelhorreformaexige ginásticafinanceira. Antes do investimento, é reco-mendávelconsultarespecialistaseconhe-cer as diferentes soluções. O economista
António Ribeiro aconselha começar a
poupar o mais cedo possível. «É um hábito
que é necessário recuperar», afirma.Marta Gomes, de 35 anos, e Sérgio Luz,
de 36, já começaram a garantir o futuro,através de uma aplicação financeira a pra-zo. É um pé-de-meiae ponderam usar o di-nheiro amealhado se surgirem imprevis-tos, como o desemprego. «Vamos fazendodepósitos irregulares quando é possível.Os subsídios de férias e de Natal ou o reem-bolso do IRS são geralmente depositadosnesta conta.» O casal vive em união de fac-to desde 2008 mas abriu a conta poupança
conjunta dois anos antes, quando com-praram o apartamento na Abóboda. «Es-colhemos a Abóboda para estarmos mais
perto da família.» Ultimamente tem sidodifícil pôr dinheiro de parte. Marta é pro-fessora de Educação Especial e já não re-cebeu subsídios de Natal e de férias.
Os casais que pretendam avançar paraum plano de poupança devem avaliar os
seus objetivos. «Caso queiram um inves-timento a médio prazo, devem recorrer a
um seguro de capitalização. Se pretendemsalvaguardar a reforma, o plano poupan-ça reforma (PPR) é a melhor opção, pois é
Hugo e Inês
compraramum apartamento
abaixo das suas
possibilidades.
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um produto que garante o investimento a
trinta ou quarenta anos», diz Rita Samba-do. De acordo com o Instituto de Segurosde Portugal (ISP), o número de subscritoresde PPR registou um crescimento constante
superior a sete por cento nos últimos anos.
No final de 2010 foram investidos cerca de
16,7 milmilhões de euros, mais dez porcen-to do que no ano anterior.
A partir de 2012, no entanto, o PPR per-de interesse, devido à perda de benefíciosfiscais e rendimentos. Quanto ao rendi-mento de contas de poupança e depósitos,a Proteste alerta para «a taxa de inflaçãoque, segundo a OCDE, é de 2,6 por cento,portanto, todos os planos poupança de-vem ter um rendimento acima de 3,5 porcento, para ser superior à inflação e paracompensar a subida do imposto sobre os
juros», diz António Ribeiro.A liquidez é outro fator que deve ser ti-
do em consideração. «Existem depósitosque não é possível resgatar, outros em quehá perda de juros e outros em que há per-da parcial», explica o economista. O riscode aplicações é outro fator a ter em con-ta e, de certo modo, está relacionado coma idade. Quando se é mais novo, há maiorpropensão para produtos mais arriscados,
porque o potencial de rendimento é supe-rior a longo prazo; à medidaque se aproxi-ma a idade da reforma, deve dar-se priori-dade a produtos mais seguros.
Em alternativa ao PPR, Rita Sambadodá como exemplo os seguros de capitali-zação e produtos de grande risco, como os
ICAE, que «não oferecem quaisquer ga-rantias, sendo direcionados a clientes queestão disponíveis para correr risco de per-da de capital, perante a expetativa de ob-ter um rendimento bastante superior ao
praticado no mercado». Encontrar a apli-cação mais adequada é tão importante co-mo o sucesso do simples ato de poupar.Depende muito da disciplina e do rigor.«É um esforço de poupança mensal, deter-minado em função da disponibilidade fi-nanceira, que é alocado ao PPRe que deve-rá ser mantido para salvaguardar o futu-ro», sustenta Rita Sambado.
Diana Fontoura e João Brito tinham as
suas poupanças. Na planificação do orça-mento familiar que fizeram antes de vive-rem juntos, estabeleceram que o dinheirode ambos iria ser aplicado em dois depósi-tos a prazo (curto e médio prazo). «Pesqui-sámos as ofertas de baixo risco de inves-timento em diferentes bancos e optámospela taxa de juro mais favorável entre osbancos que considerámos fiáveis ao nívelde garantia de investimento», explicam.Também têm um PPR, que é feito com re-forço mensal certo. «Queremos fazer umapoupançaforçada para o futuro e garantiruma reforma mais desafogada», rematamDiana e João. •
Sérgio Luz e Marta Gomes tentaramconstituir um pé-de-meia constante.
OS CASAISNÃO DEVEMPOUPARE INVESTIRDA MESMAFORMA AOS20 OU AOS40 ANOS.0 RISCO DEVEDECRESCERCOM A IDADE.
CONSELHOSPRÓSPEROS
1CONVERSAR SOBRE DINHEIRONÃO ESTRAGA O ROMANCEFilomena Santos acompanha
casais no LisboaCounselling e constata
que alguns desentendimentos surgemquando «um dos membros gastamais do que devia» ou quando há
«falta de organização».
f\ TER ATENÇÃO DURANTEJ O NAMOROC— As terapeutas familiares Natália
Colaço e Elisabete Ferreira dizem queé nessa fase que se percebe como é
que ambos lidam com o dinheiro.
3 DAR LIÇÕES DE FINANÇASAOS FILHOSAs crianças devem aprender
a poupar e a gerir as economias.
4 DAR PRAZO AOS SONHOSE PROJETOS«É necessário adequar
os sonhos e projetos à realidade
que se tem de momento», alertaElisabete Ferreira. O casal não deve
pôr a relação em risco por um sonho
a longo prazo.
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