uma emoção que precede a percepção

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  • 8/7/2019 uma emoo que precede a percepo

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    Uma emoo que tenuemente precede a percepo

    Para instrumentar e delimitar o pensamento subsequente entendo o conceito de informao como sendo: "umconjunto simbolicamente significante com a competncia e a inteno de gerar conhecimento no indivduo em seugrupo e na sociedade. Assim, em um contexto de comunicao lingustico, este conjunto de dados significantes seefetiva na transferncia quando um emissor envia uma mensagem a um receptor e este a aceita como tal.

    Para se realizar de forma eficaz a mensagem necessita de um contexto de referncia e este contexto precisa seracessvel aos dois. Esta mensagem deve ser verbal ou passvel de ser verbalizada. necessrio ainda um cdigo, totalou parcialmente comum, ao emissor e ao receptor. Um um canal fsico e uma empatia psicolgica que os habilite aentrarem e permanecerem em contato. Sendo a comunicao oral e escrita interfaces do cdigo o ato detransferncia fica relacionado a condio do discurso.

    Como definida a informao qualificada como um instrumento modificador da conscincia do homem e de seugrupo social. Deixa de ser uma qualidade para reduo de incerteza, para se qualificar como um instrumentomodificador da condio humana. Fica ainda, estabelecida a existncia de uma relao entre informao econhecimento, que s se realiza se esta for percebida adequadamente e assim colocar o indivduo sensvel em um

    melhor estgio de vida, consciente consigo mesmo e com o mundo onde realiza a sua odisseia individual.

    A esttica do conhecimento, enquanto diversidade de emoes e sentimentos que ele suscita a sensibilidadepara apreender a informao; uma emoo que tenuemente precede a percepo e representa um sentimento damomentaneidade do eu avaliando o mundo. Os sentidos tm a funo de nos fazer qualificar o percebido por umacompreenso dos objetos e uma confiana em sua existncia; uma sensao que acompanha a percepo. Aocheirar uma rosa o odor esta inscrito na flor que das bases para a percepo, neste caso a qualidade da rosa quepercebo pelo olfato. H nesta interveno a sensao que precede a percepo. "O olho no pode deixar de ver: Nopodemos calar o ouvido. Nossos corpos sentem, onde quer que estejam, contra ou com a nossa vontade" [1]

    O suporte de inscrio da informao pauta o regime de nossa percepo e sempre queremos que as tais inscries

    digam mais que o permitido pelos seus cdigos. H, assim, uma enorme vontade de multiplicar os discursos paraqualificar o que est a perceber. Discursos crescentes que se acumulam em estoques: o quantum de informaoarmazenada que uma condio esttica no processo de conhecer mas um componente indispensvel para arealizao do ato em si. Este acervamento esttico no gera conhecimento. Existe como possibilidade, comopotncia de uma condio que pode vir a ser.

    Para que o conhecimento opere necessria a transferncia dos "significados em armazm" para a realidade dosreceptores em uma conjuntura favorvel de comunicao. Nesse momento nada mais total que a interao com atecnologia da escrita e seu deciframento adequado, pois nada mais subjetivo, privado e individual que a sensaoque precede a assimilao pela traduo das inscries significantes. Este processo diferenciado e oculto, paracada receptor e a cada apropriao somente dele, de mais ningum. este ento, o lugar do conhecimento: a

    conscincia individualizada que apreende um significado que lhe destinado por peripcias de um punhado depalavras.

    A assimilao , assim, a finalizao de um processo de aceitao que transcende o uso no ato de apropriao de umcontedo. S entendo o conhecimento como sendo uma passagem, um fluxo de percepes amoldadas pela mente

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    no espao de uma subjetividade. um caminho pessoal e distinguido e revela um ritual de interaes entre umsujeito e uma determinada estrutura de informao tendo como mediadora a interface da linguagem. Tudo issopode gerar uma alterao no estado de saber acumulado pelo indivduo.

    A apropriao do saber representa, ento, um conjunto de atos voluntrios, pelo qual o indivduo reelabora o seumundo modificando seu universo de contedos simblicos. uma criao em conivncia com suas cogniesprvias, um incio daquilo que nunca iniciou antes, mas que encadear sempre uma consequncia, ainda que,acontea um retorno para ao estado inicial e se rompa o processo em curso. O conhecimento como pxeis de raios

    catodos so vagalumes digitais que acendem e apagam na criao do pensamento. Um fluxo que finaliza no incio eo seu acabamento tem uma evanescencia de fantasmas. "O pensamento nada mais que uma onda eltricapequenininha se espalhando pelo crebro numa escala de tempo de milissegundos" [2]. O conhecimento um fluxoquase instantneo.

    Nesta relao a informao escrita vive no continuum do perceber ao conhecer. Os enunciados so contingentes eacontecem em uma mensagem com uma mediao grfica da linguagem comum, mas diferenciada para cadacontexto de comunicao. A escrita a tecnologia que reflete mas no se subordina a um cdigo imutvel e de lentamudana. Um texto conjunto de expresses escritas em uma base com a multiplicidade de configuraes de umalngua. O seu discurso de significao uma elaborao do autor, mas quando distribudo o texto associa em suaamplitude: a leitura, o receptor e a sua interpretao ou reconstruo.

    As escritas mltiplas vm de vrias intermediaes que entram em dilogo e contestao e vo se acumular noleitor. A escrita deu ao homem valores visuais e ocasionou sua conscincia sequencial facetada ao contrrio daconvivncia nos espaos auditivos, onde o convvio em narrativa mediado pelo espao e distncia das ondascirculares de som. A tipografia foi duro golpe na cultura auditiva ao permitir a escrita e multiplicar a possibilidade dese poder enunciar no tempo e no espao. O homem quando com seu pensamento linear e sequencial qualificou,organizou e classificou as suas informaes e o fez em modo hierrquico, em uma srie contnua de graus, escalas,famlias, em ordem crescente ou decrescente.

    Contudo, a atualidade digital da escrita cntrica configura uma nova adaptao para perceber o conhecimento. Aescrita entrelaada traz uma vinculao e um emaranhado de cadeias imponderveis e sem qualquer qualificao

    hierrquica ou familiar. Conhecer , cada vez mais, uma apropriao de enunciados alinhavados em escritasparalelas e sem paternidade nica. como construir um patchwork, onde cada juno de pedaos, necessite umapermisso para sua confeco na arquitetura total daquele ajuntamento. Esta colagem individualizada na suascombinaes e desenhos pelas permisses cognitivas para cada integrar cada traado nestes lineamentos demosaicos.

    Mas seja esta inscrio digital ou em papel ou papiro, em pedras arqueolgicas, na pea museificada ou no arquivodomiciliado, cada receptor deve percorrer os caminhos de sua interpretao por uma escrita livre das amarras doscontroladores do cdigo nico. Estas so individualidades divergentes que no ato da percepo se separam parasempre.

    Aldo de A Barreto

    [1] Wordswirth (1798) - "The Tables Turned" in Select Poems, Sharroc

    [2] O pensamento nada mais do que uma onda eltrica pequenininha, se espalhando pelo crebro, numa escala detempo de milissegundos. O que fizemos foi descobrir que possvel ler esses sinais... Miguel Nicolelis,neurocientista, em entrevista a Folha de So Paulo de 10 de junho 2009 [JC email da SBPC 3781,2009]