Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O
IMPACTO DO CLIMA
ORGANIZACIONAL NO DESEMPENHO
DOS COLABORADORES
Carina Brandão Diniz
Hugo Watanuki
Em vista da globalização, as empresas precisam se adaptar e obter
diferencial para se manterem em um mercado cada vez mais
competitivo. Para tanto, a valorização das pessoas na organização
passou a ser um aspecto necessário para as empresas, visto que esse
fator pode garantir melhores vantagens competitivas frente a seus
concorrentes. A partir deste contexto, o objetivo da presente pesquisa
foi explorar o potencial impacto do clima organizacional no
desempenho dos colaboradores. Para essa finalidade foi conduzido um
estudo de caso de uma indústria do ramo farmacêutico. Os resultados
encontrados sugerem que o clima organizacional constitui uma das
variáveis organizacionais que impactam o desempenho humano no
trabalho. Contudo, com base nos resultados encontrados até o
momento, não foi possível estabelecer uma relação diretamente
proporcional entre o clima organizacional e o desempenho dos
colaboradores, tendo em vista que variáveis adicionais parecem
interferir nessa relação.
Palavras-chave: clima organizacional, Desempenho, Satisfação no
trabalho
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
2
1. Introdução
Na era da Revolução Industrial, a administração era mais voltada à eficiência, redução de
tempo e custo com maior produtividade, pois o ambiente econômico era mais estável e
durável. Já na era atual, pós-industrial, as organizações necessitam estar voltadas à eficácia,
adequando-se às mudanças constantes do mercado e atendendo rapidamente, com qualidade e
inovação, às demandas do mercado. Para tanto, ter o melhor desempenho possível é um
diferencial (CARMO et al., 2015).
É neste aspecto que entra a valorização do capital humano. As máquinas deixaram de ser os
protagonistas das organizações abrindo espaço para as pessoas, que através de suas
habilidades, competências e conhecimento, tornaram-se fator essencial para o crescimento e
desenvolvimento da empresa. Para tanto, a valorização das pessoas na organização passou a
ser um aspecto necessário para algumas empresas, visto que pode garantir melhores vantagens
competitivas frente a seus concorrentes (ZAFALON et al., 2006).
Este cenário tem sugerido que as empresas precisam investir não somente na motivação, mas
também em ambientes mais positivos e condições favoráveis para obter o comprometimento e
a melhor versão do colaborador no trabalho (MELLO, 2004).
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é avaliar o potencial impacto do clima organizacional
no desempenho dos colaboradores de uma indústria do ramo farmacêutico. Para essa
finalidade, foi realizado um estudo de caso com os colaboradores de uma indústria do ramo
farmacêutico, no qual foram levantados dados sobre o ambiente da organização, desempenho
do colaborador e os principais elementos que determinaram o desempenho.
2. Revisão da literatura
2.1. Clima organizacional
A definição mais distintiva e representativa do conceito de clima organizacional foi oferecida
por Forehand e Gilmer (1964) apud Menezes e Gomes (2010), os quais definiram clima
organizacional como um conjunto de características que: (a) distinguem a organização de
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
3
outras organizações, (b) são relativamente duradouras ao longo do tempo e (c) influenciam os
comportamentos dos trabalhadores na organização. De forma similar, Tagiuri (1968)
identificou o clima organizacional como uma qualidade relativamente duradoura do ambiente
interno de uma organização, que: (a) é experimentada pelos seus membros, (b) influencia seus
comportamentos e (c) pode ser descrita em termos da avaliação de um conjunto particular de
características da organização. Aproximando o conceito de clima de uma noção de
responsabilidade para influenciar os comportamentos dos membros da organização, esse autor
justifica que para se conhecer o clima organizacional, é necessário avaliar um conjunto de
características organizacionais, que perpassam pelo conhecimento da estrutura organizacional
e pela forma como os indivíduos a percebem no dia a dia.
O clima é um grande influenciador da produtividade na empresa. Refere-se ao grau de
satisfação material e emocional das pessoas no ambiente de trabalho. Por isso, torna-se
extremamente relevante a busca por mantê-lo favorável, tendo em vista a influência na
motivação e interesse dos funcionários para o funcionamento da organização (RACHEL;
SALOMÃO, 2015).
O clima tem sua origem dentre os valores e tradições que cada um dos envolvidos no processo
trazem para dentro da organização, sendo que esses pressupostos influenciam diretamente o
estilo gerencial ou de liderança (LIMA; ALBANO, 2002). O clima organizacional é um
construto de fundamental importância para a compreensão do modo como o contexto do
trabalho afeta o comportamento e as atitudes das pessoas no trabalho, sua qualidade de vida e
o desempenho da organização (MARTINS et al., 2004).
2.1.2. Dimensões do clima organizacional
Em função da abrangente definição do conceito de clima organizacional, das dimensões que o
compõe e da influência da dinâmica singular de cada organização na percepção do clima,
torna-se desafiador criar instrumentos adequados para medir e identificar o conjunto de
aspectos que compõe esse conceito. Martins et al (2004), através de sua pesquisa e conceitos
de referências internacionais, construíram e validaram uma escala de medida do clima
organizacional, considerada um conjunto básico de componentes principais.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
4
Segundo Martins et al (2004), apesar de alguns autores defenderem que os fatores
identificados em cada organização são específicos e que por isso os fatores componentes do
construto não podem ser universais, é possível se definir uma base comum do clima
organizacional, por meio de cinco elementos principais: apoio da chefia/organização,
recompensa, conforto físico, pressão do trabalho e coesão.
A primeira variável, Apoio da chefia e da organização, trata da existência de comportamentos
de suporte afetivo, estrutural e operacional da chefia e da organização para com os
empregados no desempenho diário de suas atividades no trabalho. O segundo fator,
Recompensa, está relacionado às diversas formas de recompensa usadas pela empresa para
premiar a qualidade, a produtividade, o esforço e o desempenho do trabalhador. Conforto
físico está relacionado ao ambiente físico, à segurança e o conforto proporcionados pela
empresa aos funcionários. A quarta variável, Controle/Pressão aborda o controle e a pressão
exercidos pela empresa e pelos supervisores sobre o comportamento e o desempenho dos
funcionários. A última variável, Coesão entre colegas, aborda o trabalho em equipe e o
vínculo entre os colegas de trabalho. Ainda de acordo com Martins et al (2004), esse seria o
conjunto básico de componentes do clima organizacional que parece conservar-se em
diferentes organizações, culturas e países.
Segundo Garret e Tachizawa (2006), o clima organizacional tende a influenciar o estado
motivacional das pessoas, as quais, por sua vez, são influenciadas por ele. Dessa forma, é
importante que as organizações se atentem ao fato de que um clima organizacional adequado
tende a afetar positivamente o desempenho das mesmas.
2.2. Desempenho no trabalho
De acordo com Lucena (1977, p.14) apud Mello (2004), “desempenho refere-se à atuação do
empregado face a um cargo que ocupa na organização, tendo em vista as responsabilidades,
atividades e tarefas que lhe foram atribuídas, assim como face aos resultados que dele se
espera”. A palavra desempenho como derivada do verbo desempenhar significa cumprir
aquilo que se esperava exercer, executar; desempenhar uma função, um cargo para alcance do
acordado previamente.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
5
Conhecido assim como “Experimento de Hawthorne”, Mayo (1927) apud Menezes e Gomes
(2010) constatou que modificações nas configurações física e social do ambiente de trabalho
podem provocar mudanças emocionais e comportamentais significativas nos trabalhadores,
como fadiga, acidentes de trabalho, turnover e redução no desempenho e produtividade.
É possível considerar, portanto, que um clima favorável dentro da empresa será um fator
positivo para o bom desempenho, o que tenderá a resultar em uma empresa ágil, criativa,
competidora, e geradora de bons resultados e satisfação a todos os envolvidos, acionistas,
administradores, operários, bem como aos consumidores (RACHEL; SALOMÃO, 2015).
Segundo Luz (2001), o clima organizacional tende a retratar o grau de satisfação das pessoas
no trabalho e, por isso, influencia não só a produtividade do indivíduo, mas,
consequentemente, da empresa como um todo. Dessa forma, é desejável que o clima seja
favorável, a fim de proporcionar motivação e interesse nos colaboradores, além de
proporcionar uma boa relação entre os funcionários e a empresa.
Nesta ótica, o desempenho é avaliado em relação à contribuição que a organização espera do
empregado, visando ao alcance dos objetivos empresariais. Quanto maior for a consonância
dos objetivos pessoais com os objetivos empresariais, maior será a tendência de o trabalhador
executar suas tarefas com satisfação e, consequentemente, obter um melhor desempenho
(MELLO, 2004).
De acordo com o exposto na revisão de literatura acima, parece plausível inferir, portanto, que
a qualidade do clima organizacional constitui uma das variáveis organizacionais que
influenciam positivamente o desempenho humano no trabalho.
3. Metodologia
O objetivo desse estudo é avaliar o potencial impacto do clima organizacional no desempenho
dos colaboradores em uma indústria no ramo farmacêutico. Para essa finalidade, optou-se pela
abordagem qualitativa do estudo de caso.
O caso selecionado para a condução do estudo é o de uma indústria do ramo farmacêutico. O
critério de seleção do caso baseou-se na disponibilização para a pesquisa, garantindo o acesso
do pesquisador ao ambiente a ser investigado. O foco da análise concentrou-se na pesquisa de
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
6
clima organizacional e desempenho real e ideal dos colaboradores, avaliando-se quais as
principais variáveis do clima organizacional que tendem a afetar o desempenho dos
colaboradores.
A coleta de dados para a análise do caso foi feita durante o mês de novembro de 2017 por
meio de:
a) Aplicação dos questionários a todos os colaboradores da empresa;
b) Entrevistas com colaboradores selecionados aleatoriamente para interpretação dos
resultados dos questionários;
c) Observações in loco.
3.1. Questionário e medidas utilizadas
Para coleta de dados foram utilizados dois questionários principais. O primeiro questionário,
de autoavaliação de desempenho, foi elaborado com base na pesquisa conduzida por Mello
(2004), sendo este dividido em sete partes principais. A primeira parte cobria as informações
relacionadas ao programa de pesquisa, ao pesquisador e aos objetivos e contribuições da
pesquisa. A segunda objetivou coletar dados demográficos dos entrevistados. A terceira foi
composta por orientações gerais ao entrevistado para o preenchimento do questionário,
abordando sua estrutura e esclarecimentos de confidencialidade. A quarta parte apresentou um
glossário de definições e termos utilizados no estudo. A quinta foi composta por instruções e
o questionário do clima organizacional. A sexta parte solicitou que os colaboradores fizessem
uma autoavaliação de seu desempenho. Em seguida, na sétima parte do questionário, foi
solicitado que fosse avaliada a importância de diferentes variáveis organizacionais com
relação ao impacto que ela possui no seu nível de desempenho, justificando aqueles que
fossem classificados como “muito importante” e “extremamente importante”. Os resultados
da sétima parte foram utilizados para atribuir os pesos de cada variável no clima
organizacional.
O segundo questionário, o qual objetivava avaliar o clima organizacional da organização foi
elaborado com base no modelo das cinco dimensões de clima organizacional propostas por
Martins et al. (2004), sendo elas:
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
7
a) Apoio da chefia e da organização: trata da existência de comportamentos de suporte
afetivo, estrutural e operacional da chefia e da organização para com os empregados
no desempenho diário de suas atividades no trabalho;
b) Recompensa: relacionado às diversas formas de recompensa usadas pela empresa para
premiar a qualidade, a produtividade, o esforço e o desempenho do trabalhador;
c) Conforto físico: relacionado ao ambiente físico, à segurança e ao conforto
proporcionados pela empresa aos funcionários;
d) Controle/Pressão: aborda o controle e a pressão exercidos pela empresa e pelos
supervisores sobre o comportamento e o desempenho dos funcionários; e por fim,
e) Coesão entre colegas: aborda o trabalho em equipe e o vínculo entre os colegas de
trabalho.
Para a avaliação do clima e desempenho dos colaboradores foi utilizado um índice
denominado índice de satisfação (IS), que se baseia na diferença entre o índice atribuído à
situação ideal e à situação real, em módulo. Para o cálculo do índice de satisfação do clima
organizacional, foi utilizada a média ponderada calculada com os pesos atribuídos a cada
variável, os quais forma definidos com base no resultado da sétima parte do primeiro
questionário.
O IS avalia a escala de nível de satisfação do colaborador em cada uma das cinco variáveis
organizacionais, podendo variar entre 0 e 4, uma vez que este índice será calculado pela
diferença entre índices que poderão variar entre 1 e 5. Dessa forma, o valor 0 (zero) significa
uma situação de satisfação total (situação real coincidente com a situação ideal) e o valor 4,
uma situação de total insatisfação. Para efeitos deste estudo, considerou-se a escala do índice
de satisfação dividida em quatro faixas de igual amplitude, conforme proposto por Oliveira
(1995) (Figura 1).
Figura 1 – Escala de nível de satisfação
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
8
Fonte: Adaptado de Oliveira (1995)
Por fim, os valores de IS foram utilizados para avaliar se há correlação entre autoavaliação de
desempenho dos colaboradores com o clima organizacional.
4. Resultados
4.1 A empresa Alfa
A empresa Alfa (nome fictício) é uma organização familiar nacional de pequeno porte, com
mais de 40 anos de atuação no mercado como produtora de IFA’s (Insumos Farmacêuticos
Ativos) por síntese química ou extração, abastecendo as indústrias farmacêuticas humana e
veterinária do mercado interno e externo. A empresa conta hoje com 40 funcionários e possui
uma média de produção mensal de 3 toneladas de produto.
A empresa tem um ambiente familiar, formada por muitos colaboradores com mais de 10 anos
de casa. Em julho de 2017, em virtude problemas econômicos graves, a empresa passou por
um grande processo de reestruturação, dispensando cerca de 20 funcionários, com o objetivo
de reduzir custos e renovar a equipe organizacional.
4.2 Características da amostra de respondentes
A pesquisa foi enviada para todos os colaboradores, totalizando 40 questionários, dos quais 16
retornaram e foram considerados para análise. Como parte do processo de pesquisa, foram
coletados dados sobre os entrevistados, com o objetivo de conhecer e analisar os diferentes
aspectos dos participantes da pesquisa, os quais são apresentados a seguir (Figura 2).
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
9
Com relação à escolaridade dos entrevistados, 19% apresentam pós-graduação completa, 6%
pós-graduação incompleta, 31% superior completo, 31% superior incompleto e 13% segundo
grau completo. Com relação ao estado civil dos entrevistados, 38% são casados, 6%
divorciados, 50% solteiros e 6% viúvos. Com relação ao sexo dos entrevistados, 63% da
amostra é composta do sexo feminino e 38% do sexo masculino. Com relação ao cargo dos
entrevistados, 75% da amostra é composta por pessoas de cargos operacionais e 25% por
cargos de chefia. Com relação ao salário dos entrevistados, 44% recebem de R$ 3100 a R$
6000, 25% recebem de R$ 700 a R$ 1500, 19% recebem de R$ 1600 a R$ 3000 e 13%
recebem de R$ 6000 a R$ 10000. Com relação ao tempo de empresa dos entrevistados, 44%
estão na empresa a menos de um ano, 31% acima de 5 anos e 25% de um a 3 anos de
empresa. Não houve respondentes com tempo de empresa de 3 a 5 anos. Com relação à idade
dos entrevistados, 25% têm de 26 a 30 anos, 19% têm de 31 a 35 anos, 19% têm de 36 a 40
anos, 19% têm acima de 40 anos, 13% têm de 21 a 25 anos e 6% têm ≤ 20 anos de idade
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
10
Figura 2 - Dados demográficos dos participantes da pesquisa
Fonte: Elaborado pelos autores
4.3 Avaliação do clima organizacional
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
11
A tabela 1 traz a média simples do indicador IS para cada dimensão do clima organizacional,
considerando-se a percepção dos participantes da pesquisa. A partir do valor da média, foi
possível determinar o nível médio de satisfação para cada dimensão do clima organizacional.
Verifica-se que, em média, os participantes demonstram relativa satisfação com as dimensões
Apoio da chefia e da organização, Controle e pressão e Coesão entre colegas. Por outro lado,
em média, também existe relativa insatisfação com relação às dimensões de Recompensa e
Conforto físico.
Tabela 1 – Nível médio de satisfação dos colaboradores
Dimensão µ IS Faixa de satisfação
Apoio da chefia e da organização 1,02 Satisfação
Recompensa 1,85 Insatisfação
Conforto físico 1,41 Insatisfação
Controle e pressão 0,69 Satisfação
Coesão entre colegas 0,50 Satisfação
Fonte: Elaborado pelos autores
Com relação ao grau de importância de cada uma das cinco dimensões do clima
organizacional no seu desempenho, os participantes destacaram, em primeiro lugar, as
dimensões de Apoio da chefia e da organização e Conforto físico. Ambas dimensões foram
classificadas como muito ou extremamente importantes por 81,25% dos respondentes. Em
segundo lugar, destacaram a dimensão de Coesão entre colegas, sendo que 62,5% dos
respondentes consideraram essa dimensão como muito ou extremamente importante. A
dimensão de Recompensa foi classificada como muito ou extremamente importante por
43,75% dos respondentes e, por fim, apenas 18,75% dos respondentes consideraram a
dimensão de Controle e pressão como como muito ou extremamente importante. Apenas um
participante incluiu “Motivação” como uma variável adicional considerada muito importante
para o seu desempenho. A tabela 2 traz esses resultados de forma consolidada.
Tabela 2 – Avaliação da importância relativa das variáveis organizacionais no desempenho dos trabalhadores
Dimensão
Pouco
importante
(%)
Importante Muito
Importante
(%)
Extremamente
importante (%)
∑ Muito e
Extremamente
importante
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
12
Apoio da chefia e
da organização -
18,75 12,5 68,75 81,25
Recompensa 6,25 50 25 18,75 43,75
Conforto físico - 18,75 50 31,25 81,25
Controle e
pressão 12,5
68,75 12,5 6,25 18,75
Coesão entre
colegas -
37,5 25 37,5 62,5
Motivação - - 6,25 - -
Fonte: Elaborado pelos autores
Em busca de um valor médio global mais preciso do IS e com base na classificação de
importância apresentada na Tabela 2, procedeu-se então com a atribuição de pesos para cada
uma das dimensões, procurando refletir de forma mais acurada o grau de importância de cada
uma das dimensões no desempenho, de acordo com as percepções dos participantes. Dessa
forma, as dimensões de Apoio da chefia e da organização e Conforto físico” receberam peso
4,33; Coesão entre colegas recebeu peso 3,33; Recompensa recebeu peso 2,34; e a dimensão
de Controle e pressão recebeu peso 1. Tais pesos foram então utilizados para estabelecimento
de uma média ponderada do IS (Equação 1).
Equação 1 - Fórmula para cálculo da média ponderada do IS global do clima organizacional.
Fonte: Elaborado pelos autores
Dessa maneira, obteve-se como resultado final de índice de satisfação global, µpISclima=1,12;
representando, portanto, a percepção geral de relativa satisfação com o clima organizacional.
4.4 Avaliação de desempenho e relação com o clima organizacional
Em média, os colaboradores apresentaram relativa satisfação com o seu desempenho, por
meio de um µISDesempenho=1,13; o qual permite inferir, num primeiro momento, que a
proposição inicial de que o clima organizacional impacta positivamente o desempenho parece
ser sustentada. Contudo, para melhor entendimento dessa relação, procedeu-se com uma
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
13
segmentação dos resultados a fim de se verificar como o ISDesempenho se comportava quando se
variava o ISclima.
Segmentando-se os colaboradores por seus respectivos ISDesempenho, observa-se que 12,5% dos
colaboradores apresentaram ISDesempenho=0, representando elevada satisfação com seu
desempenho. Cerca de 62,5% dos colaboradores apresentaram ISDesempenho=1, ou seja, relativa
satisfação com seu desempenho. Por fim, 25% dos colaboradores apresentaram ISDesempenho=2
(25%), estando relativamente insatisfeitos com seu desempenho. Dessa forma, os
colaboradores foram divididos em três grupos, no qual aqueles com ISDesempenho=0 estão no
grupo dos “muito satisfeitos”, aqueles com ISDesempenho=1 estão no grupo dos “satisfeitos” e
aqueles com ISDesempenho=2 estão no grupo dos “insatisfeitos” com seu desempenho.
Relacionando estes grupos com seus respectivos µpISclima, obtêm-se os resultados
demonstrados na tabela 4.
Tabela 4 – Relação entre diferentes segmentações de satisfação com o desempenho (ISDesempenho) e seus
respetivos índices ponderados de satisfação com clima organizacional (µpISclima)
ISDesempenho µpISclima
0 0,58
1 1,2
2 0,75
Fonte: Elaborado pelos autores
Plotando-se tais resultados em um gráfico (Figura 3), parece haver uma relação positiva entre
satisfação com clima organizacional e desempenho para os colaboradores que estão satisfeitos
(ISDesempenho=1) ou muito satisfeitos com seu desempenho (ISDesempenho=0), pois para esses
colaboradores, o µpISclima aumenta conforme o ISDesempenho se eleva. Contudo, comportamento
contrário é observado para os colaboradores que atualmente se encontram insatisfeitos com
seu desempenho (ISDesempenho=2).
Figura 3 – Relação entre clima organizacional e desempenho
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
14
Fonte: Elaborado pelos autores
5. Conclusão
Dada a importância do colaborador como fator chave de sucesso da organização e do clima
organizacional como fator relevante para alcançar este sucesso, este trabalho abordou o
potencial impacto do clima organizacional no desempenho dos colaboradores.
Os resultados obtidos nesta pesquisa sugerem uma reta ascendente entre o ISDesempenho=0 e
ISDesempenho=1 dos colaboradores em relação ao µpISclima, traduzindo-se no cenário de que para
esses colaboradores quanto maior a sua satisfação com o clima organizacional, maior o seu
desempenho. Entretanto, a reta torna-se descendente quando se consideram colaboradores
com ISDesempenho=2, havendo, nesse caso melhora na sua satisfação do clima organizacional,
apesar da maior insatisfação com o seu desempenho. Tal resultado inesperado precisa ainda
ser melhor explorado para seu completo entendimento. É possível, por exemplo, que variáveis
tais como diferenças de faixa etária e tempo de empresa possam ter um potencial efeito
moderador na relação entre clima organizacional e desempenho dos colaboradores. De
qualquer maneira, parece plausível considerar com base nos resultados iniciais dessa pesquisa
que o clima organizacional constitui uma das variáveis que influencia o desempenho humano
no trabalho, embora ainda não se possa estabelecer uma relação diretamente proporcional
entre o clima e desempenho.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
15
Este estudo proporciona implicações práticas e acadêmicas. Do ponto de vista acadêmico, o
estudo apresenta contribuição metodológica, no sentido de auxiliar na consolidação de um
modelo de questionário de mensuração do clima organizacional, originalmente proposto por
Martins et al (2004). Também foi proposta e aplicada a ferramenta de índice de satisfação,
utilizada para interpretação dos resultados de desempenho e clima real e ideal, que pode ser
considerada futuramente por outros pesquisadores da área. Do ponto de vista prático, este
estudo pode auxiliar gestores e empresas num melhor entendimento de como a melhoria e
manutenção do clima organizacional pode influir no desempenho dos colaboradores.
É importante destacar que o estudo foi realizado sob o ponto de vista de apenas um caso,
dificultando, assim, a generalização dos resultados. O número de participantes da pesquisa
também foi um ponto limitante neste estudo, uma vez que a porcentagem de participantes foi
relativamente pequena, o que pode vir a ser um viés na análise dos resultados. Também se faz
necessário complementar os dados coletados e apresentados até o momento com maiores
informações qualitativas do caso em si para auxiliar no entendimento de resultados
encontrados.
REFERÊNCIAS
CARMO, Deisiane Ribeiro; De SANTANA, Lídia Chagas; TRIGO, Antonio Carrera. A Valorização Do Capital
Humano Nas Organizações: Um Estudo De Caso Da R&B Comercial. Revista de Iniciação Científica, v. 2, n.
2, p. 133-155, 2015.
GARRETT, Alexandre; TACHIZAWA, Takeshy. Crenças e valores em nossas organizações. São Paulo: Editora
de Cultura, 2006.
LIMA, Súsi M. Barcelos; ALBANO, Adriana Gaffrée Burns. Um estudo sobre Clima e Cultura Organizacional
na concepção de diferentes autores. Revista do CCEI, v. 6, n. 10, p. 33-40, 2002.
LUCENA, Maria Diva S. Avaliação de Desempenho. São Paulo: Atlas, 1992.
LUZ, Janine Pacheco. Metodologia para análise de clima organizacional: um estudo de caso para o Banco
do Estado de Santa Catarina. 2001. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
MARTINS, Maria do Carmo Fernandes et al. Construção e validação de uma escala de medida de clima
organizacional. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, v. 4, n. 1, p. 37-60, 2004.
MELLO, Mônica Seixas de Oliveira. A Qualidade do Clima Organizacional Como Variável Interveniente
no Desempenho Humano no Trabalho: Um Estudo de Caso da Empresa Herbarium. 2004. Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2004.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
16
MENEZES, Igor Gomes; GOMES, Ana Cristina Passos. Clima organizacional: uma revisão histórica do
construto. Psicologia em Revista, v. 16, n. 1, p. 158-179, 2010.
OLIVEIRA, Marco Antonio. Pesquisas de clima interno nas empresas: o caso dos desconfiômetros
avariados. São Paulo: Nobel, 1995.
RACHEL, Lucimar Azevedo; SALOMÃO, Aretha Henrique Martins. Cultura e clima organizacional como
estratégias de impacto no desempenho. Revista Eletrônica Machado Sobrinho, p. 1-14, 2015.
TAGIRUI, Renato. The concept of organizational climate. In R. Tagiuri & G.H. Litevin (Eds.). Organizational
climate: Explanation of a concept. Boston: Harvard University Press, 1968. p. 11–35.
ZAFALON, Antonio Marcio; DUARTE; Marcio; RODRIGUES, Alice de Fátima. A Importância Do Capital
Humano Nas Empresas. 2006. Disponível em:
http://www.dcc.uem.br/semana2006/anais2006/Anais_2006_arquivo_03.pdf