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Uma nação administrada pelo espelho retrovisor Revisão da Anistia ou contencioso jurídico? Gerhard Erich Boehme [email protected] “O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcançável. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a oportunidade.” (Victor Hugo) A questão legal no Brasil é confusa, seguramente injusta. Promovemos a injustiça. Pior é que pode nos obrigar a administrar o país olhando pelo espelho retrovisor. Temos leis que pegam, e leis que não pegam. Temos leis que estão somente acessíveis aos que detém poder econômico ou político. Temos leis que são cumpridas quando há holofotes sobre elas. Temos leis que colidem entre si. Favorecem os que conseguem melhor interpretação. Temos leis que atendem grupos de interesse, são voltadas à oclocracia. Temos leis interpretadas ao sabor do momento ou conforme a música que toca. Temos leis que incentivam ações imorais e antiéticas. Temos leis que estão longe de nossa realidade. Temos leis que não protegem a liberdade, individual e econômica. Temos leis propositadamente elaboradas para que se possa vender facilidades. Temos leis que promovem a discriminação espacial. Jogam o jovem na criminalidade. Temos leis que agridem valores familiares e incentivam o assassinato intrauterino. Temos leis que protegem a impunidade. Leis elaboradas sob a síndrome do preso político. Temos leis impostas arbitrariamente, sejam decretos-lei ou medidas nada provisórias. Temos leis que penalizam o empreendedor e protegem parasitas. Temos leis que penalizam os trabalhadores e o transformam em escravos dos tributos. Temos leis que incentivam a informalidade. Leis que jogam mais da metade dos trabalhadores na informalidade. Temos leis que não são exequíveis e nem podem, pois nos faltam recursos, principalmente recursos humanos, como a Lei Maria da Penha, mesmo o Brasil tendo uma Secretaria de Estado com status ministerial, uma CPMI em andamento no Congresso e um atestado de vergonha divulgado a nível mundial.

Uma nação administrada pelo espelho retrovisor: Revisão da Anistia ou contencioso jurídico?

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Page 1: Uma nação administrada pelo espelho retrovisor: Revisão da Anistia ou contencioso jurídico?

Uma nação administrada pelo espelho retrovisor Revisão da Anistia ou contencioso jurídico?

Gerhard Erich Boehme

[email protected]

“O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcançável. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a oportunidade.” (Victor Hugo)

A questão legal no Brasil é confusa, seguramente injusta. Promovemos a injustiça. Pior é que pode nos obrigar a administrar o país olhando pelo espelho retrovisor. Temos leis que pegam, e leis que não pegam. Temos leis que estão somente acessíveis aos que detém poder econômico ou político. Temos leis que são cumpridas quando há holofotes sobre elas. Temos leis que colidem entre si. Favorecem os que conseguem melhor interpretação. Temos leis que atendem grupos de interesse, são voltadas à oclocracia. Temos leis interpretadas ao sabor do momento ou conforme a música que toca. Temos leis que incentivam ações imorais e antiéticas. Temos leis que estão longe de nossa realidade. Temos leis que não protegem a liberdade, individual e econômica. Temos leis propositadamente elaboradas para que se possa vender facilidades. Temos leis que promovem a discriminação espacial. Jogam o jovem na criminalidade. Temos leis que agridem valores familiares e incentivam o assassinato intrauterino. Temos leis que protegem a impunidade. Leis elaboradas sob a síndrome do preso político. Temos leis impostas arbitrariamente, sejam decretos-lei ou medidas nada provisórias. Temos leis que penalizam o empreendedor e protegem parasitas. Temos leis que penalizam os trabalhadores e o transformam em escravos dos tributos. Temos leis que incentivam a informalidade. Leis que jogam mais da metade dos trabalhadores na informalidade. Temos leis que não são exequíveis e nem podem, pois nos faltam recursos, principalmente recursos humanos, como a Lei Maria da Penha, mesmo o Brasil tendo uma Secretaria de Estado com status ministerial, uma CPMI em andamento no Congresso e um atestado de vergonha divulgado a nível mundial.

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Assim também temos leis que oneram a sociedade e tornam o ilícito um incentivo à sociedade, como foi no passado recente a questão dos equipamentos de informática, quando era mais atrativo “importar” ou traficar um equipamento do que adquirir legalmente um equipamento no mercado interno, ou como temos hoje a pirataria caracterizando o Brasil no cenário mundial. Onde em qualquer esquina do centro da cidade, em cada mercado ou ponto de ônibus mais movimentado temos a venda um CD ou DVD pirata. Ou a venda numa farmácia um remédio falsificado. Ou numa instituição qualquer um incentivo a sonegação fiscal.

Com tantas “leis”, seguramente o que não temos é justiça.

Ou como nos mostra o nosso fracasso na esfera ambiental, pois o custo da legalidade é muito maior que o da ilegalidade. Ocorre que a salvaguarda do meio ambiente também está sujeita a custos: administrativa, fiscalização, justiça, em especial por parte das polícias judiciárias e das polícias técnicas em especial, responsáveis pelos primeiros passos da justiça, assim considerando a lei de crimes ambientais. Mas nem mesmo isso foi considerado na revisão de nosso Código Florestal. Quanto maior esse custo de se atuar de forma legal, dentro da lei, principalmente quando temos os agricultores ou pecuaristas, sejam eles pequenos, cooperados ou não, ou grandes latifundiários trabalhando para produzir alimentos, mais o meio ambiente estará sujeito a sofrer suas agressões. Acaso não é o que ocorre com o palmito, o "Euterpe edulis" hoje em extinção. Ou também na Mata Atlântica com a araucária, a “Araucaria angustifolia”, assim como foi com o pau-brasil? Não é o que ocorre com a Amazônia ou no Cerrado que são continuamente destruídas, e nós criando leis e mais leis, regulamentações e mais regulamentações.

Com tantas “leis”, seguramente o que não temos é justiça.

A lei não é considerada no Brasil como instrumento para que ocorra a proteção a vida – vida plena o que inclui a proteção ao meio ambiente, a propriedade e a liberdade do cidadão, ao contrário, ela é criada para promover privilégios ou até mesmo para satisfazer desejos de cobiça e não oportunidades de trabalho. Isso quando não é propositadamente elaborada para que se possa vender facilidades, que no meu entender me parece ser a principal finalidade, considerando os que nos apresentam as leis. Mas não nos assustamos com o número de mortes, com o elevado número de brasileiros que hoje perdem o futuro. Por conta da violência lhes é tirado o futuro.

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Não nos indignamos frente à insegurança jurídica para mantermos o nosso patrimônio, o qual foi fruto de todo o nosso trabalho e de nossos pais, parte de nossas vidas no passado, e muito menos nos comovemos com os que não apenas perdem parte da vida no passado, quanto o futuro, mas que hoje são escravos, totalmente ou apenas parcialmente, dada a elevada carga tributária, que inclui o imposto inflacionário, o mais cruel dos impostos.

Ou como pode ser se viermos a aceitar que haja a revisão da Lei da Anistia, não para criar a paz social, mas para satisfazer o desejo de vingança e de promoção pessoal ou visando promover uma causa que sustenta um projeto de poder.

Além de aposentadorias milionárias, de motivo para uma infinidade de livros, artigos, filmes, peças de teatro, etc. qual será o novo negócio que que teremos pela frente, por conta do bolso do contribuinte ou a perda de sua liberdade?

"A luta armada não deu certo e eles agora pedem indenização? Então eles não estavam fazendo uma rebelião, mas um investimento”. (Millôr Fernandes)

Qual será a razão de administrarmos, mais e mais, o país com os olhos no espelho retrovisor, ou com a lanterna na popa, como nos escrevia um brasileiro que tinha os olhos no futuro e apresentava soluções para o Brasil?

Os nossos desafios, são muitos, exigem que nos voltemos para o futuro.

"Meu interesse está no futuro porque é lá que vou passar o resto da minha vida." (Charles Kettering 1876 – 1958 – Inventor, Electrical Engineer, Founder of Delco, Vice -President of Research for General Motors, invented electric starter for automobiles, Co-founder (along with Alfred Sloan) of Sloan-Kettering Cancer Center in 1945).

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Ou a atual violência que hoje caracteriza o Brasil não nos assusta? Não nos basta que em menos de 10 anos somos agora um dos países mais violentos do mundo. Não nos assusta que depois de terminado o regime militar, nos últimos 30 anos tivemos mais de 1 milhão de homicídios. Não nos assusta que, terminado o regime militar, perdemos a nossa soberania para grupos de narcotraficantes? Os quais contam com territórios exclusivos ondem estendem seus domínios e sua lei? Não nos assusta que hoje o Brasil é uma favella? E aqui temos que entender a razão dos do duplo “L”. Não nos assusta que a principal causa da violência é a discriminação espacial, ela segrega famílias, inviabiliza o direito a propriedade e dificulta ao extremo a inclusão dos jovens na sociedade, longe dos direitos humanos, mas sob a proteção dos direitos dos manos.

“Quanto mais altos os muros, mais pessoas estarão esperando vocês do lado de fora” (Jaime Lerner – Um dos mais conceituados urbanistas com soluções que visam o combate à discriminação espacial em todo o mundo).

Não nos indignamos quando sabemos que:

1) o gasto com segurança, principalmente o gasto privado, seguramente mais eficiente e eficaz, mas menos efetivo para a sociedade como um todo, ultrapassa 10% do PIB.

2) temos o maior número de veículos blindados em circulação. 3) a violência doméstica é uma realidade que não nos deixa indignados. 4) 14 das 50 cidades mais violentas do mundo estão no Brasil. 5) em 2012 tivemos mais de 200 mil vítimas fatais devido a violência. 6) os torturados no dia de hoje, por conta do Estado, ou falta de sua atuação onde é

prioritária e deveria estar prestando serviços públicos, ultrapassa a marca de 100 mil brasileiros, sejam eles nas filas dos hospitais ou vítimas da água, do excesso ou falta dela, ou nos casos onde os pais são obrigados a ver um filho ou neto sendo consumindo pelas drogas ou devido a falta de educação, sem futuro, ou com menos futuro, ou mesmo sem perspectiva alguma.

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Apenas no dia de hoje morrerão mais brasileiros vítimas da violência. Assim como no dia de hoje teremos mais torturados pelo Estado, ou ausência dele onde deveria atuar, que o número de brasileiros torturados nos três regimes de exceção que tivemos.

Com tantas “leis”, seguramente o que não temos é justiça.

Seguramente que não, a sociedade deve ser mobilizada para discutir e revisar leis, leis consensadas e que atenderam ao desejo da sociedade para que ela possa olhar para o futuro e não pelo espelho retrovisor. Querem nos fazer acreditar que devemos ter medo do passado, da “ditadura”, quando na realidade devemos ter medo do futuro, ainda mais quando já temos a indústria do medo faturando alto, pois o medo é hoje uma constante dos brasileiros, o custo do medo levou os brasileiros a realizarem um gasto com sistemas eletrônicos de segurança superior a US$ 2 bilhões, mais que R$ 4 bilhões em 2012. Isso segundo a Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança. Mas este valor é muito subestimado, pois a maior parte do investimento é feito através de equipamentos adquiridos legalmente e ilegalmente no exterior. Estamos longe, muito longe do que a sociedade deseja. E o que vemos desconsideram todos os noticiários que nos retratam a violência, a corrupção, o desmando. Desconsideramos a violência que muitos de nossa família foi alvo. Pateticamente damos destaque ao evento que marcou o primeiro ano da comissão “nacional” da (in)verdade, onde alguns dos integrantes do colegiado se manifestaram a favor de recomendar a revisão da Lei da Anistia no relatório final dos “trabalhos”. Um trabalho sem historiadores e longe de um trabalho sério, honesto, onde os peritos criminais e analistas militares deveriam ser amplamente requisitados. A história deve ser escrita pelos historiadores, e crimes, caso tenham de fato ocorrido, estudados a partir de fatos e dados, de evidências objetivas ou de provas materiais, e para isso a sociedade conta com o único profissional que é reconhecido para tal, com competência para tal: o perito criminal. É um dos poucos que possui fé pública, assim a sociedade e a principalmente a justiça o reconhece em todo o mundo. É um profissional imprescindível para se fazer justiça, assim como para se obter a verdade, pois é o único que consegue conciliar a lógica, com a ciência e a lei. O trabalho dele se dá no encontro destas três.

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Com tantas “leis”, seguramente o que não temos é justiça.

Na tal comissão nacional da (in)verdade ou da (meia) verdade não temos nem historiadores, exceto a “ historiadora” Heloísa Starling, a qual não é membro da comissão, apenas e tão-somente assessora da tal comissão nacional da (in)verdade ou da (meia) verdade e muito menos peritos criminais, nem mesmo temos os jornalistas, aqueles que um dia tiveram que escrever e publicar receitas no Jornal da Tarde ou versos de Camões no Estadão, “O ESTADO DE S. PAULO”, as quais eu, ainda em tempos de estudante, lia com interesse para tentar saber decodificá-las. Era um dos desafios dos jovens na época. Vale lembrar que a “ historiadora” Heloísa Starling confundiu o fato de algumas pessoas estarem mencionadas como mortas em uma relação, documento, quem sabe - um perito pode dizer - sem considerar os fatos e dados, as evidências objetivas ou as provas materiais de que de fato estavam mortas, como vieram a morrer e se, caso tenham sido mortas, como ocorreu esta morte, pois além da troca ou uso de identidades falsas, houve confronto entre terroristas com militares, justiçamentos e até mesmo mortes de terroristas com civis que defendiam suas próprias vidas, sem contar que a violência também era naqueles tempo resultado da deformação da sociedade da época, como sempre foi, de indicador para mensurarmos regimes. Uma questão importante a ser apurada pelos historiadores, quando analisarem os fatos ocorridos no período em que tivemos violações de Direitos Humanos, estes ocorridos entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, é sabermos quantos crimes ocorreram por justiçamento ou “justiciamento” como dizem alguns. O justiçamento era uma ameaça constante aos membros dos grupos terroristas, era a certeza de que deveriam se manter a margem da lei para não comprometer a impunidade e a vida dos demais membros do grupo, assim como era a prática da tortura seguida de morte realizada pelos guerrilheiros aos militares ou policiais, ou mesmo civis, durante a época do regime militar de 1964, como foi o caso ocorrido no Vale do Ribeira com o Tenente Mendes. Veja: http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/o-cerco-aos-militantes-da-vpr-no-vale-da-ribeira/ O Justiçamento ocorria, também, em diversos tribunais revolucionários espalhados pelo mundo, oriundos, em geral, de uma situação política excepcional que se instalava após o sucesso de um movimento revolucionário.

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Os que aplicavam os justiçamentos não julgavam legalmente os condenados, nem podiam, pois “a lei” era feita por eles. Obviamente que nada era documentado, o que nos leva a tão-somente versões dos fatos, hoje seguramente fantasiadas. Mais uma razão para termos historiadores, peritos e analistas militares escrevendo a verdadeira história. Os, assim condenados, eram sumariamente eliminados, sem direito à defesa. O justiçamento, na prática, era um linchamento que ocorria as margens do sistema legal vigente onde o réu não tinha condições de se defender. Tal prática também não era restrita aos membros de grupos terroristas, era também conduzida por policiais, militares e grupos armados que confiavam na impunidade e agiam à margem da lei, sendo os grupos mais famosos os chamados “esquadrões da morte”. Agiam, como agem hoje muitos policiais e ex-policiais, vendem proteção privada, resultante das inúmeras deformações que temos em nossas polícias, em especial quando o policial necessita empreender um dupla ou tripla jornada devido aos baixos salários, para que possa conferir a sua família um pouco de dignidade. Muitas vezes esta forma de linchamento era aplicada naqueles considerados pelo próprio grupo como traidores da causa. Geralmente se iniciava com uma denúncia dos próprios companheiros contra o que seria justiçado. Seguia-se um processo revolucionário, com o fornecimento de provas de defesa e acusação, semelhante aos tribunais revolucionários em muitos países socialistas, executavam prisioneiros e traidores pertencentes ao grupo que estava no poder. Caso considerado culpado pelo grupo, o acusado era executado. No Brasil ocorreram casos de justiçamento onde o acusado não sabia que estava sendo "julgado": tal prática acarretou, por exemplo, a morte do Major do Exército da República Federal da Alemanha Edward Ernest Tito Otto Maximilian von Westernhagen. Tudo aconteceu porque em 1968, o capitão do exército boliviano Gary Prado fazia o Curso de Estado-Maior, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Ele ficara conhecido internacionalmente como o oficial que teria participado da perseguição e morte, nas matas da Bolívia, do guerrilheiro Che Guevara. Sabedoras de sua presença no Rio de Janeiro, organizações terroristas se inquietaram. O “Tribunal Revolucionário” foi convocado e o oficial boliviano condenado à morte.

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Para a ação ter êxito, o levantamento começou nas saídas da Escola de Estado-maior (ECEME), seguindo o oficial até a sua residência, na Gávea, bairro pacato do Rio de Janeiro. Conhecido o trajeto e escolhido o melhor local para o assassinato, partiram os carrascos para executar a sentença. No dia 1º de julho de 1968, João Lucas Alves, Severino Viana Collon e mais um terceiro militante, todos do Comando de Libertação Nacional (COLINA), em um Fusca, ficaram à espreita na Rua Engenheiro Duarte, na Gávea. Ali, naquela rua tranquila, ao avistarem o oficial executaram-no, fria e covardemente, com dez tiros. Depois de verificarem que o militar estava morto, levaram sua pasta para simular um assalto. Mais tarde, ao abrirem a pasta, verificando os documentos do “justiçado”, constataram o terrível engano. Gary Prado fora salvo por um levantamento malfeito. Desconheciam os uniformes. Em seu lugar, haviam assassinado mais um inocente. De minha parte, como cidadão alemão, aproveitando a visita de nosso presidente, do Presidente da República Federal da Alemanha Joachim Gaugk, entendo que teria sido muito esclarecedor o testemunho da Presidenta Dilma quando soube tratar do tema “Comissão da Verdade”, já que o Pastor Gaugk não apenas tem um histórico de vida contra regimes socialistas, seguramente regimes de exceção, ele foi especialista nesta questão. Seria interessante a todos nós alemães que ela viesse a esclarecer e apontar os culpados pela morte do oficial, já que ela tinha tarefas específicas no COLINA, entre elas a confecção do Jornal O Piquete, a preparação das aulas de marxismo absorvidas na doutrinação do dirigente do COLINA. Tinha também aulas sobre armamentos, tiro ao alvo e explosivos. Grande parte dessas aulas era ministrada nos arredores de Belo Horizonte, por nada menos que ex-sargento da Aeronáutica João Lucas Alves. Além de dar instruções de técnicas de guerrilha à Dilma, Galeno, em entrevista à Revista Piauí, demonstra mais que uma simples relação de militância com João Lucas Alves, e sim intimidade, quando declara:

"O João Lucas (Alves) ficava hospedado em nossa casa". (Dilma Rousseff)

Um outro exemplo de justiçamento é dado a seguir e foi praticado por Luís Carlos Prestes e seu grupo revolucionário esquerdista, no Brasil, em 1936: Suspeita de ser informante da polícia, Elvira Cupello, de 16 anos, foi estrangulada com uma corda de varal e enterrada no quintal de uma casa de subúrbio do Rio de Janeiro. O enredo poderia ter lugar hoje, e os criminosos seriam traficantes.

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Mas o "justiçamento" de Elvira – mais conhecida nos meios clandestinos pelo codinome Elza Fernandes, ou simplesmente como "a garota" – ocorreu em 1936, quando ainda não existiam as facções do tráfico. Quem perpetrou o ato foi outro: o Partido Comunista Brasileiro. O episódio abala a mitologia de Prestes, que Jorge Amado chamava de "cavaleiro da esperança". Partiu de Prestes a ordem definitiva para a execução de Elza, embora não existissem provas materiais de que ela fosse uma delatora. A história foi recuperada em detalhes pelo jornalista e escritor mineiro Sérgio Rodrigues, no romance Elza, a Garota. Justiçamento era uma prática tanto dos membros dos movimentos guerrilheiros das décadas de 1960 e 1970, que lutavam no Brasil pela instauração de um regime socialista/comunista, quanto dos torturadores que agiam por conta da certeza da impunidade que o excesso de poder confere a muitos durante um regime de exceção. Dava-se quando um membro de um grupo era enquadrado por traição ou por desejo de abandono de causa, o que era e é considerado pena capital para os esquerdistas. Justiçamento era uma ameaça constante aos jovens que foram motivados e inseridos na luta armada através da então União Nacional dos Estudantes (UNE), chamado por eles, inclusive por José Serra, o último presidente vivo e ainda em liberdade, de 4º Poder. Eram, muitas vezes, execuções sumárias sem direito de defesa ao sentenciado. Aos jovens era constante a ameaça. Porém, há notícias de justiçamento antes mesmo do dia em que foi promulgada a Constituição de 1946, do 18 de setembro de 1946. Muito antes, quando Luiz Carlos Prestes ordenou a execução de uma jovem que ele acreditava ter fornecido informações às autoridades, fato que teria contribuído para o insucesso do levante por ele planejado, conhecido como Intentona Comunista. Talvez até mesmo a nossa Presidenta possa nos explicar as ameaças que pairavam sobre ela no período em que atuou em alguns desses grupos terroristas, como se davam os justiçamentos, se foi ameaçada ou nas suas ações, produziu vítimas. Uma coisa é certa, violência gera violência e eu entendo que a falta da verdade, assim como a falta de respeito, é uma das principais causas da violência.

“A culpa é minha é minha, e eu ponho ela em quem eu quiser!” (Homer Jay Simpson – por Matthew Abram Gröning ou simplesmente Matt Groening)

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Embora as atividades da comissão, ainda que não sejam imparciais, que não tenham atentado aos dois lados de uma violência que se fez presente no passado, não possam legalmente assumir caráter jurisdicional, punitivo ou persecutório, seus membros são livres para fazer constar no texto conclusivo as recomendações que julgarem mais convenientes, mesmo que estejam a serviço público, onde sabemos que o que o caracteriza é a atuação dentro da lei, nada pode ser feito que não esteja previsto em lei, ao contrário da iniciativa privada, onde o cidadão pode realizar tudo, a menos o que a lei não o permita. Mas ocorre que assim como deveriam ter recomendado que a tal Mas temos interesses, assim ocorre com os que foram indicados, estes defendem seus interesses e de quem os indicou, salvo exceções, onde encontramos os que defendem de fato interesses legítimos. Possuem interesses, defendem interesses, logo devem fazer recomendações, cabe a sociedade saber definir prioridades. O consenso quanto a Anistia existiu, e até mesmo ele é contestado, há que se rever o passado, há interesse nisso, mesmo que dentro da comissão não haja consenso, já que alguns de seus membros são contrários à proposta. Pior é que se atropela até mesmo decisões que foram aos patamares mais altos da justiça, já que o Supremo Tribunal Federal confirmou, em 2010, a abrangência da Lei da Anistia, que impede a responsabilização criminal tanto de agentes do Estado quanto de militantes que combateram o regime. Datada de 28 de agosto de 1979, a legislação perdoa todos aqueles que, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes por motivações políticas. Agimos como se as portas fossem fechadas à liberdade das pessoas. Desconsideramos que hoje vivemos em uma nação que elegeu para presidente uma ex-militante de um grupo de luta armada, terrorista, por certo, a qual conta com o apoio político de personalidades ligadas ao então partido que se fez representar como o principal durante o regime de exceção, o agora o dono do Brasil, o Sr. José Ribamar Ferreira de Araújo Costa. Passamos de um regime de exceção para algo que ainda não entendemos, seguramente não é o que desejamos, pois o Estado de Direito não é o que temos. Não temos nem mesmo o entendimento do que é a lei e para que serve a lei. Seguramente não é para satisfazer desejos pessoais ou atender aos anseios de uma infinidades de movimentos que atuam dentro de nossa sociedade no intuito de transformá-la em uma oclocracia e não em uma verdadeira democracia.

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Mas afinal, o que é e para que serve a lei? Quem pode nos responder muito bem foi Frédéric Bastiat. “A lei” de Frédéric Bastiat foi traduzido por Ronaldo da Silva Legey e está disponibilizado para sua leitura pelo site: http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=17 Este livro é a obra mais célebre de Frédéric Bastiat - e que se tornou um best-seller em meados do século XX. Me parece, assim entendo eu hoje, este foi um livro que não chegou ao Brasil, principalmente às nossas universidades, muito embora seja recomendado já para jovens no 2º grau. Seguramente não chegou a Brasília, seguramente não depois de 21 de abril de 1961. Nesse livro, Bastiat analisa as diferentes formas como a lei é desvirtuada pelos governantes e legisladores com a finalidade de introduzir – muitas vezes de forma sub-reptícia – um regime socialista. Ele dedica especial atenção ao “roubo legalizado”, isto é, à tributação opressiva, fenômeno que quase sempre ocorre sob a desculpa de ser necessária para atender à “demanda social” por programas de “combate à pobreza”. O que tem sido a máxima dos socialistas e socialdemocratas, clérigos ligados a “teoria ou tolologia da libertação”, como bem nos esclareceu em seus livros e artigos o Embaixador José Osvaldo de Meira Penna, bem como de muitas ONG nos últimos anos no Brasil, razão da defesa da oclocracia e a ela darem o nome de “democracia”. O que Bastiat já identificara na primeira metade do século XIX é a falácia contida nesse argumento. Os recursos extraídos coercivamente da sociedade – impostos, incluindo o imposto inflacionário - acabam sempre nas mãos da burocracia que se auto encarregou de resolver os problemas sociais, ou colocados a seu serviço. Como disse Bastiat ao final dessa obra clássica: “existem muitos ‘grandes’ homens no mundo – legisladores, organizadores, benfeitores, líderes do povo, pais das nações, e assim por diante. Pessoas demais se colocam acima da humanidade; elas transformaram em carreira a sua organização, a sua defesa e o seu governo”.

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A obra de Frédéric Bastiat, clássica graças à profundidade aliada a uma simplicidade e clareza, torna-se leitura obrigatória para se compreender as confusões econômicas e políticas deste começo de século XXI. O pensamento de Frédéric Bastiat intimamente associado à defesa da liberdade do indivíduo contra toda espécie de autoridade, especialmente a estatal, conforme se verifica nos trechos abaixo de sua obra "A Lei":

"Isto deve ser dito: há no mundo excesso de grandes homens. Há legisladores demais, organizadores, fundadores de sociedades, condutores de povos, pais de nações, etc. Gente demais se coloca acima da humanidade para regê-la, gente demais para se ocupar dela." (Frédéric Bastiat, A Lei, 1848) "Parece-me que tenho a meu favor a teoria, pois qualquer que seja o assunto em discussão, quer religioso, filosófico, político, econômico, quer se trate de prosperidade, moralidade, igualdade, direito, justiça, progresso, trabalho, cooperação, propriedade, comércio, capital, salários, impostos, população, finanças ou governo, em qualquer parte do horizonte científico em que eu coloque o ponto de partida de minhas investigações, invariavelmente chego ao seguinte: a solução para problemas sociais humanos está na liberdade." (Frédéric Bastiat, A Lei, 1848)

Entendida o que é a lei, agora devemos entender o que é, o que vem a ser Estado de Direito. O que é Estado de Direito? Embora uma expressão comum, ela muitas vezes é usada para caracterizar uma sociedade como moderna. Muitas vezes Estado de Direito aparece como um desejo, o que as pessoas gostariam prevalecesse na sociedade em que vivem. Aparentemente, esse é o desejo expresso dos brasileiros, porquanto ele foi adotado em nossa Constituição. Talvez o conceito mais claro de Estado de Direito seja o que permeia os trabalhos de Friedrich A. Hayek, Prêmio Nobel de Economia de 1974, em particular no seu Os Fundamentos da Liberdade (The Constitution of Liberty). Segundo Hayek, Estado de Direito caracteriza a universalidade de uma norma. Todos são iguais perante a lei e dela devem receber o mesmo tratamento. Assim, pessoa ou grupo social algum deve ser privilegiado ou discriminado pela lei. Todos, absolutamente todos, numa sociedade sob o Estado de Direito, devem buscar seus próprios interesses sob as mesmas regras sociais.

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Seguramente que este princípio basilar não é observado quando vemos como é formada e como atua a tal comissão nacional da (in)verdade ou da (meia) verdade. O quinto artigo de nossa Constituição adota esse mesmo conceito de Estado de Direito: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,... A Anistia visava isso, nos dar a chance de sair de um regime de exceção para nos inserir num regime onde prevalece o Estado de Direito. Incluía também colocar uma pedra sobre as mortes, terror, assaltos, etc.. Bem como sobre os abusos cometidos por aqueles que me nome do Estado extrapolaram aos nossos olhos, mas que defenderam de fato a democracia. Foi fruto de lutas, mas também de entendimentos e assim de consenso. Antes de uma imposição, a anistia ampla foi um pacto que assegurou, ou deveria assegurar, a transição democrática, deveria ser. A tradição brasileira da reconciliação costuma ser vista por alguns como sinal de fraqueza histórica, quando na realidade tem contribuído para que o país não se dilacere em lutas internas. Mas não é esta a proposta da tal comissão nacional da (in)verdade ou da (meia) verdade. A comissão nacional da (in)verdade ou da (meia) verdade poderia ter feito um trabalho valioso de restabelecimento de fatos históricos, infelizmente foi parcial e não contou com os profissionais competentes e necessários. Pior que se limitou e se limita a uma parte da história. Deveria se concentrar em sua tarefa em vez de abraçar propostas inoportunas que extrapolam o seu próprio escopo. Mas seguramente seu pior legado será o de desviarmos nossos esforços não para o futuro, onde estão nossos desafios, mas promover contenciosos que nos obriguem a administrar o passado, conferindo a nós o papel de administrarmos o país pelo espelho retrovisor, seguramente um acidente de trânsito estará no nosso caminho. Não tem como dar certo!

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O homem de bem exige tudo de si próprio, o homem medíocre espera tudo dos outros. (K'ung-fu-tzu – Mestre Kong) “As democracias foram mais longe criando o Estado de Direito. Embora nenhuma sociedade ou sistema de governo esteja livre de problemas, o Estado de Direito protege os direitos fundamentais, políticos, sociais e econômicos e nos lembra que a tirania e a ilegalidade não são as únicas alternativas. A Anistia visava isso, nos dar a chance de sair de um regime de exceção para nos inserir num regime onde prevalecesse o Estado de Direito e não nos levar a uma oclocracia e a uma sociedade pautada pela mentira e por privilégios.” (Gerhard Erich Boehme) “É desproporcional o uso que se faz de recursos públicos e como se mobiliza hoje o Estado, as instituições públicas, irracionalmente sustentadas pelo bolso do contribuinte, para se reescrever a história e determinar petas cometidos a mais de 30 anos, quando sabemos que praticamente nada é feito para determinar o crime que ocorreu há pouco, talvez com alguém de sua família ou pessoa amiga, ou ainda perto de casa, quando sabemos que de um lado visam criar privilégios, notoriedade e sustentar políticos patarateiros e de outro lado fica um elevado ônus a sociedade e um trauma no coração.” (Gerhard Erich Boehme)