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Uma reflexão em torno da «Cultura»: um contributo para a «Reforma do sistemaeducativo»

Autor(es): Baptista, Fernando Paulo do Carmo

Publicado por: uv

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24031

Accessed : 27-Mar-2021 02:46:43

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M Á T H E S I S 2 1993 229-240.

UMA REFLEXÃO EM TORNO DA «CULTURA»

UM CONTRIBUTO PARA A «REFORMA DO SISTEMA EDUCATIVO»

FERNANDO PAULO DO CARMO BAPTISTA

Por ser ela a «matriz» e a «geratriz», o «eixo» e a «flecha», de tudo quanto é verdadeiramente humano, esbocemos um entendimento do que seja a «Cultura».

Temos presente, decerto, aquilo que, a propósito desta palavra, pensava o grande poeta e crítico norte-americano Thomas Stearns Elliot, quando, nas suas Notes towards the definition 01 Cu/ture (1948) afirmou que «tal como a palavra 'democracia', a palavra 'cultura' é um termo que carece não apenas de ser definido, mas também de ser ilustrado com exemplos, quase todas as vezes que o utilizamos».

Sabemos, igualmente, da paciência com que Alfred Louis Kroeber, para esta mesma palavra, inventariou, já na década de 50, e no seu estudo intitulado Cu/ture - A CriticaI Review 01 Concepts and Defini­tions (1952), mais de duzentas definições diferentes!. ..

Mas como não cabe nem nos propósitos nem na economia desta reflexão proceder à exegese diacrónica, pelo menos desde a paideia grega (cf. Werner Jaeger, 1962), do que tem sido a natural «polémica» quanto ao modo de entender a Cultura, vou limitar-me a dizer aqui o que no essencial penso sobre o assunto.

Assim, tomando como referência de base as posições simbolizadas, de um lado, pelo estruturalismo de inspiração antropológico-sub­jectivista de um Lévi-Strauss e, do outro, pelo funcionalismo de ins­piração antropológico-objectivista de um Bronislow Malinowski (cf. Edmundo Leach, 1985, 67-69-71-101 e 102-135), vou retomar do campo da Antropologia Cultural e Social a já clássica dicotomia «Natureza Vs Cultura» para, a partir dela, tentar reperspectivar o fenómeno em questão.

Nesse sentido, e sem esquecer que tal dicotomia formaliza acima de tudo uma relação distintiva decorrente dos (sempre discutíveis) pro-

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cessos metodológicos que presidem à segmentação do mundo e à sua categorização conceptual-gnosiológica e que, portanto, ela é já e também, em si mesma, uma específica relação «cultural», começarei por afirmar que a oposição binária «Natureza Vs Cultura», quando focalizada à luz da globalidade da nossa condição humana, não (me) parece auto­rizar a que se~eja nela, contrariamente ~o que, à primeira vista, ela possa sugerir, uma separativa oposição de ruptura, uma cesura ou uma fractura, mas, antes, uma profunda, permanente e integradora inte­racção vital entre aqueles que podemos designar como sendo os dois «códigos» ontologicamente constitutivos do nosso «estatuto» antro­pológico-social e existencial: o código genético (código biológico ou código «hard» ... ) e o código cultural (código noosférico ou código «soft» ... ), ou seja, a animalitas (o corpo) e a humanitas (a mente). A perspectiva que desde já aqui assumo não tem, pois, daquela relação um entendimento nem «disjuntivo» nem «contrajuntivo». Tão-pouco aceita aquele tipo de postura linearmente «aditiva» ou «sobrepositiva» (e, 'simultaneamente, exclusora ou rasuradora do «sujeito antropoló­lógico» ... ), em que a Cultura, com frequência, nos é dada e definida como sendo «tudo quanto o Homem tem vindo a acrescentar à Natureza» (cf. A. Mesquitela Lima e outros, 1981, 37-39), ficando, assim, reduzida ao acrescentado ... sem o acrescentante, à criatura ... sem o criador ...

Para mim, aquela díade, em sua polaridade constitutiva, configura, pelo contrário e em síntese, a trajectória evolutora do que foi, do que tem sido e continuará, por certo, a ser, o qualitativo e intérmino fenómeno da antropogénese; constitui, numa palavra; a lapidar e englobante expressão designadora do intenso, complexo e paradoxal dinamismo interno de uma primigénia realidade de fundo que constantemente se move e se transforma - ela é physis por excelência ... --, num «jogo» de continuidades descontínuas, de ordem e desordem, de regulação e de transgressão, de vida e de morte; jogo em que têm lugar não apenas as estabilidades «evidentes», «paradas» e «esperadas», mas também as «aleatório-estocásticas», «infinitesimais» e «imprevisíveis» aflora­ções ou eclosões de tipo «catastrófico», «fractal» ou mesmo «caótico», de que a mais actual teorização nos vem dando conta (cf. R. Thom, 1972 e 1985; A Woodcock e M. Davis, 1986; B. B. Mandelbrot, 1983; M. Eingen e R. Winkler, 1989; D. Bohm e F. D. Peat, 1989;1. Pri­gogine e L Stengers, 1990).

Não me parece divergir deste meu modo de ver o grande antro­pólogo inglês da actualidade, Edmund Leach (1985, cit.,99); quando afirma: «o universo físico, químico e biológico que os cientistas hoje tentam compreender não é uma perspectiva imutável da Grande Cadeia

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do Ser, governada por leis inalteráveis, fixadas pela natureza desde o início dos tempos. É um sistema evolutivo onde as relações entre os elementos constituintes, em movimento contínuo, se combinam constan­temente, segundo novos modelos».

Mas o supracitado dinamismo, expresso naquele desconcertante «jogo» tem como privilegiado centro de revelação explicativa, de con­trolo e de comando, ainda que de relativo alcance e de reduzido auto­domínio, o próprio homem.

E sempre que o homem tem esquecido essa fundamental e responsa­bilizante verdade de que é ele mesmo, em carne e osso, aquele privi­legiado centro e, simultaneamente, o maravilhoso poema vivente, feito de natureza - o barro addmico de que nos fala o Génesis (2.7.), ou «o Poema inacabado do Ser», na bela metáfora de Heidegger -; sempre que ao homem tem faltado aquela memorante lucidez que lhe faz ver que ele é, ao mesmo tempo, a mais sublime, complexa, poderosa e rica, mas também, e paradoxalmente, a mais frágil e vulnerável encar­nação da «madre Natura»; sempre que essa fatídica «amnésia» o tem atingido, assistimos, na Terra, ao desnaturado e trágico advento da degradação, se não mesmo da destruição, dos ecossistemas e da própria vida ...

Por isso é que a reactivação dessa memória tantas vezes perdida passa pela consciencializadora reflexão sobre o que somos, sobre as matrizes de onde viemos e sobre os horizontes que se abrem ou se fecham a este nosso planetário modo de existir ...

Sabemos da Biologia Molecular, da Genética e da Neurobiologia (com o contributo de outras fundamentais áreas da investigação cien­tífica que se preocupam com o Cosmos, com a Terra, com a Vida e com o Homem ... ) que o primeiro dos nossos dois já referidos códigos ontogénicos - o código genético - é constituído pelo fascinante conjunto de codões ou trípletes de DNA e RNA, depositários fide­líssimos daquela informação fundamental que permite ao nosso orga­nismo fazer, sem que ninguém lho exija ou haja ensinado, tudo quanto ele sabe fazer por suas próprias mãos: os cinco biliões de bites de infor­mação (ou seja, o equivalente a mil volumes de 500 páginas impressas) armazenados na nossa enciclopédia da vida e inscritos no núcleo de cada uma das nossas cem biliões de células constituem uma biblioteca completa de instruções sobre como criar cada uma das componentes que integram a nossa estrutura anatómico-biológica (cf. Carl Sagan, 1985, 317-318; W. G. Hale e J. P. Margham, 1988; P. Hartmann-Patersen e J. N. Pigford, 1991). Uma dessas componentes, inquestionavel­mente a mais complexa e a mais poderosa em termos de capacidade

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criadora, organizadorá e arquivadora de informação transgenética (cultural) é o córtex cerebral, verdadeira supergaláxia, povoada por mais de 100 mil milhões de neurónios, ligados por uma impressionante rede de sinapses e intermitentes (descontínuos) «circuitos» electro­bioquímicos, supergaláxia essa que constitui o maravilhoso e incom­parável «campo» onde se geram os mais altos, densos e enigmáticos potenciais, onde se desenvolvem as mais subtis e complexas funções e operações, onde a matéria viva se tramforma em reflexão consciente, em intuição e em sonho, em espírito crítico, em capacidade imaginativo­-inventiva, em inspiração criadora, em centro de leitura e de escrita, em «atelier» de projecto técnico e artístico, em laboratório de análise e de formalização rigorosa, em sempre disponível arquivo memorial (cf. Colin Blakemore, 1986, 107-202; C. Sagan, 1985, cit., 317-323; K. R. Popper y John C. Eccles, 1982, cit., 259 ss).

Tudo quanto sabemos está bioquimicamente codificado, sob a forma de engramas e de «esquemas» operatórios, nas constelações neuronais do nosso córtex.

No quadro da teorização explicativa mais geralmente aceite pela comunidade científica actual- ou seja, o «modelo» da Grande Explosão e o «paradigma» da Evolução -, transcorridos que foram largos milha­res de milhões de anos após o big bang primordial, (situável, segundo as estimativas disponíveis, a uma distância de nós, no passado, da ordem dos dez mil a vinte mil milhões de anos, (cf. Stephen W. Hawking, 1988, 152 ss e 171 ss) e ao longo de uma lenta e complexificante caminhada evolutora, conjecturalmente inaugurada há mais de quatro mil milhões de anos (cf. Francis Crick, 1988, cit., 113-116 e Lynn Margulis e Dorion Sagan, 1990, 45 ss) com a constituição de uma ecogeosfera capaz de «albergar», em si, a biosfera nascitura (esta, com as raízes perdidas nas misteriosas distâncias do inorganizado; cf. P. Teilhard de Chardin, 1965, 59 ss), o código genético humano foi conquistando um conjunto de potencialidades «críticas», «morfogenéticas», que viriam a per­mitir (numa espécie de novo big bang, agora implosivo e silente ... ) a qualitativa eclosão, em si, do código noosférico, sem que ele, código genético, tivesse deixado de permanecer, muito embora integradamente amoldado, sob o ponto de vista da «programação» da: sua arquitectura anatómico-fisiológica, à nova dinâmica funcional e operatória emer­gente, como condição sine qua non da manutenção e pervivência daquele ...

Toda\'ia, o código noosférico, além da irrepetível singularidade das suas qualidades e «nobres» faculdades noético-noemáticas e opera­tórias por que, entre outras, se revela e que são potenciadas pela arqui­tectura e pela dinâmica cerebral acabadas de referir, é dotado de uma

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impressionante capacidade «bítica», dez mil vezes superior à da «biblio­teca» genética e estimável em algo como o equivalente a vinte milhões de volumes impressos, o mesmo é dizer, à capacidade bibliográfica das maiores bibliotecas actualmente existentes no mundo (v.g.: a do Museu Britânico, a Bodleian de Oxford, a Biblioteca Pública de Nova Iorque, a Biblioteca Alargada, de Harvard, e a Biblioteca Lenine, de Moscovo, cf. Carl Sagan, 1991, 231-237 e 1985, cit., 319-323), além de poder contar com o potentíssimo reforço, produto do seu próprio poder criador, constituído pela cada vez mais vasta e complexa rede de pr6teses memoriais comunitárias (não implantadas nem nos genes nem no córtex) que são as bibliotecas, sem aspas, da «galáxia Guten­berg», bem como as demais «tecas» de todas as galáxias dos podero­síssimos «media» da actualidade, desde a «galáxia Marconi» à «galáxia McLuhan» (cf. Gianpiero Gamaleri, 1983).

O código noosférico, ou código cultural, configura-se, assim, como um código transdeterminístico, isto é, como um código capaz de transcender a dinâmica imanente, específica da informação genética (embora dela continue vitalmente a depender ... ), configura-se, numa palavra, como uma verdadeira instância cibernética na acepção forte e clássica do termo (em grego: kybernetes; em latim: gubernator, signi­ficando, em ambos os casos, 'piloto', 'timoneiro', 'comandante do navio'), ou seja, como o estratégico centro de governação e de comando, detentor de um efectivo poder e liberdade que lhe permitem não só programar e gerir o seu próprio destino, mas também interferir decisivamente no destino do código seu «progenitor» (cf. Manfred Eigen e Ruthild Winkler, 1989, cit., 238 ss; Luís Archer, 1988, 41-57),

Reside nesta dupla condição de ser «dependência» e «liberdade» ao mesmo tempo, a contraditória e ambígua polaridade que marca a essência do código noosférico, com todas as consequências daí decor­rentes ...

Vitalmente dependente do código genético, como ficou já referido, o código noosférico está sujeito, do seu lado «interno», à influência das reminiscências «arqueológicas» do legado zoosférico (paleocórtex), com o «plexo réptil» da agressividade e da dominação e o «plexo mamí­fero» da afectividade, da generosidade e da dedicação (cf. Paul D. Mac­Lean, 1970, 336-339 e 1982, 291-316; C. Sagan, 1985, cit., 319; para uma crítica a esta perspectiva, ver Gérard Percheron, 1988, 126-130), influência essa conjugada com a do «clima» e «tónos» homeostático global do «sistema» psicossomático em que está integrado. Do seu lado «externo», está exposto aos efeitos do «entorno» em que exis­(encialmente nos movemos e que é constituído pelos «ecossistemas»

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biosférico (com seus factores meteorológico-tróficos ... ) e sociosférico (com o papel modelante, entre outras, da acção educativa ... ). Trans­determinístico (na base, porém, da dinâmica imanente que o sustenta ... ) gera, no quadro dos seus limiares normais de funcionamento, um quase inesgotável potencial de «energias» circulantes de dentro para fora e de fora para dentro, num constante fluxo de «exportjimport» que o socia(bi)liza e universaliza, mantendo, por um lado, a dimensão indivi­dual, «egocêntrica), da origem (o «dentrO)) e conquistando, pelo outro, a dimensão transindividual, «alterocêntrica» (social), do destino (o «fora»).

Do âmago mais «remotO), fundo e fluido da dinâmica «interna» (direi mesmo: subliminal...) do nosso ser individual e colectivo irrom­pem impulsos, desenvolvem-se instintos, desenham-se tendências, em suma, eclodem enigmáticas e incontroláveis forças e energias, de natureza erótico-criadora, eufórica e «solan), umas, de natureza tánato-des­truidora, disfórica e «lunaf)), outras, que têm marcado, positiva ou negativamente, toda a práxis humana, ao longo da História... Excep­tuando os casos e situações «clínicas» de que especificamente se vem ocupando o vastíssimo campo das Ciências Médicas - campo que é, também ele, importa recordá-lo, uma das mais promissoras criações do código noosférico -, todas as outras situações «patológicas» que afectam a homeostasia global da bio e da sociosfera (v.g.: o crime, a droga, a fome, a guerra, a poluição e demais agressões ecológicas, a corrupção, a incompetência, as injustiças sociais de toda a ordem, a intolerância, a segregação, a opressão, os totalitarismos, etc., etc.), para não terem de ser equacionados e resolvidos por processos autori­tários,repressivos ou violentos, implicam um prévio e constante e funda­mentador estudo explicativo-descritivo, a levar a cabo pelas diversas áreas do Saber, tanto do campo das chamadas Ciências Puras e Apli­cadas como do campo das chamadas Ciências Humanas e, em primeira instância, do inesgotável campo da própria Arte - saberes teóricos, saberes práticos, mas também saberes po(i)ético-estéticos, todos eles, afinal, produto do poder criador do nosso código cultural ou código noosférico - por forma a que se proceda, subsequentemente, por um lado, à adequada e humanizadora adopção e aplicação de políticas que se recusem a encobrir com o aparente equilíbrio da «democratici­dade formab> o autêntico desequilíbrio da «ademocraticidade real» e, pelo outro, à concepção, lançamento e dinamização de projectos educacionais verdadeiramente potenciadores de uma permanente e fecunda acção educativa, qualitativamente modeladora, solidamente formativa e criativamente transformadora. Práxis política e práxis

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educativa, sempre configuradoras e afirmadoras da mais alta qualidade cultura 1 gerada nas «mais nobres regiões» do nosso código noosférico e sempre orientàdas para uma rota firme e definida, 'de rumo certo e andar seguro, porque assinalada pelo grande semáforo, regulador, por excelência, de toda a acção humana: Ou seja, o sistema axiológico e ético, com a universalidade dos seus valores, princípios, normas, regras e convenções, tudo concebido à luz e à medida do valor fundante de todos os valores - a Pessoa Humana, origem, centro e destino da prúpria História e da Cultura ...

O grande desafio que se coloca ao código noosférico e, portanto, à Cultura é' o de conseguir, de forma humana e humanizadora, pôr ordem nos potenciais negativos e «nocturnos» da destruição e da morte e liberar e desenvolver as energias positivas e «diurnas» da criação e da vida ...

Esse desafio,se é a expressão agónica e profunda da Cultura, não é menos a causa nobre da Educação,' perspectivada enquanto sistema, enquanto processo e enquanto produto.

Como' todos sabemos,está em curso, no nosso país, uma impor­tante reforma educativa, cujos fundamentais documentos (independen­temente do modo como têm vindo a ser operacionalizados) apontam para a realização de um «projecto educacional» de matriz antropoló­gico-cultural e axiológica, de um projecto que, perspectivando o ser humano em todas as suas mais nobres e elevadas dimensões; capaci­dades e potencialidades e assumindo a Cultura como direcção e os valores como medida, tem como linha de força orientadora e organi­zativa da acção pedagógica e dos processos didácticos o horizonte primordial da humanizadora transformação das crianças e dos jovens em «homens cultos», isto é, em verdadeiros protagonistas do seu tempo histórico, em seres qualitativamente conscientes, livres e responsáveis, em pessoas eticamente dignas, em cidadãos fraternamente solidários e em profissionais operatoriamente competentes e criativos.

Mas essa transformação para que apontam os grandes e generosos desígnios desse projecto reformador, dessa _culturomorfose, só é possível com a' assunção, em primeira instância, por parte dos elementos mais responsáveis pelas dinâmicas primordiais do sistema (dirigentes, qua..; dros técnicos e, sobretudo, professores ... ), de uma consciência lucida­mente informada e esclarecida e em estreita. consonância com o «ideal de-excelência)} que a Cultura significa a todos os níveis. De tal maneira que, sem a constante referência activa a esse «aristocrático paradigma», dificilmente poderá ter lugar uma verdadeira reforma da Educação edo Ensino, se forem devidamente ponderadas as complexas conse-

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quências (simultaneamente positivas e negativas ... ) da viragem his­tórica da chamada «escola dos herdeiros» para a «escola de massas».

Afigura-se-me, assim, dever ser, sob o iluminante influxo que decorre de um tal modo de ver as coisas, que colherá uma nova e pertinente significação o ter-se bem presente a ideia de que estamos perante uma complexa e interactiva cadeia multicausal, característica de uma reali­dade histórica em vertiginosa mutação, percutida, além do mais, por uma complexa teia de fenómenos que configuram claramente uma situação de profunda e aguda crise: fenómenos de natureza existencial, sociológica, filosófica, axiológica, ideológica, epistemológica, científica, econó­mica, ecológica, em suma, cultural (cf. Fernando Paulo Baptista, 1983, 183-184).

A perspectiva consciente de uma tal situação histórica gera, natural­mente, um sentimento de desencanto, de perplexidade e de angústia, que decorre, fundamentalmente, da sensação de «ausência» de referen­ciais a todos os níveis, com especial destaque para o sistema de valores (a ética, a estética e a axiologia em geral), sobretudo em consequência da crise da Metafísica, denunciada no famoso e trágico grito nietz­cheiano do «Gott ist tot!», grito que, pelo seu simbolismo profundo, me parece estar na base do diagnóstico com que Heidegger vê o nosso tempo como um «tempo indigente», um tempo matricialmente men­dicante, se não mesmo de lutuosa orfandade, sobretudo no que respeita aos valores ...

Creio, assim, ter cabimento evocar, aqui, a expressiva síntese de Recasens Siches (cit. por Castanheira Neves, 1967, p. 589), segundo a qual, «a crise é um mundo de transformação profunda, uma quebra das convicçõeS fundamentais que regeram a vida do passado e, simulta­neamente, a ausência de um novo sistema de convicções que se haja ins­talado real e efectivamente na estrutura da sociedade; por isso mesmo, é desorientação, um não saber a que ater-se, uma perda de segurança na vida, de clareza e de firmeza no que toca às fundamentais directrizes de conduta.»

E se aceitamos como indiscutível estarmos perante uma situação de crise, não se afigura menos evidente que, a serem válidos os pressu­postos que fundamentam e justificam o nosso específico papel de «enge­nheiros-arquitectas-poetas do futuro qualitativo do país» e de «especia­listas em Humanidade» (tal é o modo como vejo os professores: os Grandes Maestros da mais bela sinfonia que o ser humano alguma vez pode compor e orquestrar! ... ), uma tal situação de todos nós reclama o assumir dauqela atitude crítica, capaz de rasgar caminhos que conduzam à superação de tal crise: «Uma crise, di-lo Castanheira

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Neves (1967, 62, nota 6), só é superável por uma crítica, na medida em que aquela (a crise) não é mais do que a implícita antecipação da sua explícita superação por esta (a crítica)>>.

Assim sendo, impõe-se uma cada vez mais auto-exigente mudança de perspectiva intelectual e de postura metodológica, relativamente a tudo quanto seja fruto da acção criadora do homem: habituarmo-nos a conviver mais com o «problema» do que com o «dogma», mais com a «dúvida» do que com a «certeza», e a tomar como prioritário ponto de referência a ideia de que viver hoje ... significa assumir definitivamente a instabilidade e a mobilidade, o devir e a mudança, numa atitude de dialogante superação transformadora de tudo quanto se vai degra­dando por força das leis da obsolescência e da entropia, sejam elas estruturais, sejam elas funcionais, e que, de um modo ou de outro, dificultam, se é que não impedem mesmo, a realização das grandes finalidades da Cultura e da Educação, formuladas em seus projectos mais inovadores.

Isso implica, desde já, a humildade de se reconhecer e assumir, como primordial linha de uma dinâmica autoformativa, o socrático imperativo de nos situarmos no universo daqueles que, tanto sob o ponto de vista ontológico, como sob o ponto de vista deontológico, sentem cada vez mais essa necessidade imensa de continuar a aprender, necessidade que encontra o seu «modelo» de concretização na «ideia­-projecto» de (in)formação sistemática e de investigação e actualização permanentes.

Toda a práxis humana, seja na vertente da criação/produção, seja na vertente da distribuição e do consumo ( da recepção), trate-se do campo da investigação e teorização científicas, da epistemologia, da técnica e da tecnologia, trate-se dos campos da religião, da arte, da filosofia, da política, da pedagogia, da metodologia, da didáctica, etc., se não é imune, como vimos, a fenómenos de crise, também não é neutra nem asséptica em seus efeitos e consequências, uma vez que leva ínsita, no mais fundo de si própria, quer as marcas de uma dada «visão do mundo», quer os pressupostos de uma axiomática de matriz epistemológica (mais ou menos intuída e/ou explícita) e de inspiração axiológica (mais ou menos assumida), com directas implicações com um determinado modo de conceber e programar a realidade, isto é, com a ideação, elaboração e operacionalização de um dado «projecto» de Homem, de Sociedade e de Cultura. Tal projecto constitui a «carta de navegação» orientadora e o «cânone» da estratégia organizativa das dinâmicas de transformação, hominizante e humanizante (homi­nitas et humanitas), visada pelos processos culturais e, no coração

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deles, pela acção educativa potenciada pelo respectivo sistema fundante e estrutulante, o Sistema Educativo, com especial destaque para a pedagogia da língua materna, dado o seu inquestionável poder mode­lizante .. e omniformativo em todas as aprendizagens que suportam, constituem, moldam e «ordenam» os nossos saberes e que conformam o nosso ser e seus mais ricos e originais modos de revelação interpre­tativa, valoradora e criativa, perante o mundo e a vida.

Pela sua decisiva importância e óbvia responsabjlidade nas mais elaboradas e complexas dinâmicas fundacionais do Saber, da Educação e da Cultura do nosso, como de qualquer outro país, afigura-se-me ter cabimento aqui e no contexto da sumária abordagem à crise do nosso tempo, uma referência ao que de tão preocupante se vem passando com o subsistema do Ensino Superior que, em vez de constituir o refe­rencial da excelência, do valor e do mérito, em vez de funcionar Como espelho da exemplaridade e da virtude e como guardião do que há de mais sagrado e mais sublime no património (construído e em cons­trução ... ) da nossa História, se vê atingido (ainda que sectorialmente ... ) por não raros fenómenos de falta de ética, de probidade e de rigor intelectual, ao consentir, em si, a existência de práticas de degradante permissividade na leccionação de cursos desprovidos de quaisquer marcas de inovadora cientificidade e/ou de organização metodológico­-didáctica e sentido pedagógico, em consequência da postergação do realimentador dinamismo da investigação, da actualização, da inven­tiva e da criatividade (proceda-se, por exemplo, a um inventário das revistas publicadas e à subsequente avaliação crítica do respectivo conteúdo ... ), na atribuição de graus e títulos académicos em função de provas (designadamente dissertações ... ) de muito duvidosa quali­dade e autenticidade, ou no <<jogo» pouco transparente da criação e funcionamento, sem critério, de certo tipo de escolas ou institutos, sejam eles públicos, sejam eles privados, que de «superiOr» apenas têm o nome e a improvisação. Quando, por outro lado e a outros níveis e consonantemente com a indesmentível calamidade do insu­cesso escolar, se assiste ao incremento e promoção daquilo que venho denunciadoramente designando de «analfabetismo diplomado» (o pior dos obscurantismos ... ; cf. R. Paseyro, 1990) como se de uma moda se tratasse, e se procede à organização de cursos ditos de «for­mação», cujos objectivos primordiais são os de natureza lucrativa, com a secundarização da dimensão ético-formativa, pedagógico­-didáctica e técnico-científica, a «situação clínica» do país, em sua expressão educativa e cultural, não pode deixar de se considerar como «de prognóstico muito reservado», falando-se mesmo já num retorno

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à «barbárie», no «eclipse da cultura» pela pseudo-cultura, no «cre­púsculo da educação» pela negação dos valores (cf. Maurice, Henry, 1987).

Que não haja ilusões: sem o vitalizador influxo dos seus melhores cidadãos (os mais sábios, os mais competentes, os mais bem formados ... ), sem o coração pulsante e iluminante dessa verdadeira «aristocracia», ela poderá muito bem ser o demagógico e vazio argumento da retórica manipuladora dos «políticos», mas a ideia de «democracia» jamais poderá constituir o mobilizador projecto da humanizadora transfor­mação de qualquer povo.

E é porque o momento que atravessamos se revela deveras sombrio, que se toma urgente o levantar da consciência crítica que nos conduza ao superador reconhecimento, desde logo, pela palavra, mas, sobre­tudo, pela acção, de que a Educação e a Cultura são mesmo «aquilo» por que vale a pena lutar e em que importa investir prioritariamente, a sério e a fundo. É o futuro do país que está em jogo e esta situação que, mórbida e larvarmente, se tem vindo a arrastar compromete-o perigosamente ...

Mas se a análise da realidade suscita esta visão de desencanto e pessimismo, nem por isso as opções e as decisões devem deixar de se inspirar na perspectiva optimista, nascida da «lição» da História, de quantos acreditamos na ultrapassagem vitoriosa das crises. Importa, pois, responder, com serena e firme convicção, a tão decisivo desafio. Os nossos jovens bem o merecem. A nossa pátria bem o precisa.

Nota: O presente texto reproduz, no essencial, a parte nuclear de uma comuni­cação proferida em Miranda de Ebro-Burgos, na sessão de encerramento das «Jor­nadas de divulgación dei Convenio Hispano-Luso, em 16,17 e 18 de Abril de 1991.

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