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UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE CONCEITOS DA COMPLEXIDADE E CAOS NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DO FENÔMENO TORNADO: UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA Moacyr dos Santos Gomes Produto Educacional de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana no Curso de Mestrado Profissional de Ensino de Física (MNPEF), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física. Orientadores: Dr. Prof. José Luis Michinel Dr. Prof. José Carlos Oliveira de Jesus Feira de Santana Agosto de 2016

UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE … · PNLD Programa Nacional do Livro didático SBF Sociedade Brasileira de ... o trabalho de Marco A. Moreira ... de teorias de aprendizagem

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UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE CONCEITOS DA

COMPLEXIDADE E CAOS NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DO FENÔMENO

TORNADO: UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA

Moacyr dos Santos Gomes

Produto Educacional de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual

de Feira de Santana no Curso de Mestrado Profissional

de Ensino de Física (MNPEF), como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre

em Ensino de Física.

Orientadores:

Dr. Prof. José Luis Michinel

Dr. Prof. José Carlos Oliveira de Jesus

Feira de Santana

Agosto de 2016

ii

UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE CONCEITOS DA

COMPLEXIDADE E CAOS NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DO FENÔMENO

TORNADO: UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA

Moacyr dos Santos Gomes

Orientadores:

Dr. Prof. José Luis Michinel

Dr. Prof. José Carlos Oliveira de Jesus

Produto Educacional de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação da

universidade Estadual de Feira de Santana no Curso de Mestrado Profissional de

Ensino de Física (MNPEF), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

de Mestre em Ensino de Física.

Aprovada por:

_________________________________________

Prof, Dr. José Luis Michinel

(Presidente da banca avaliadora)

_________________________________________

Prof. Dr. João de Azevedo Cardeal

_________________________________________

Prof. Dr. Eduardo Adolfo Terrazzan

_________________________________________

Prof. Dr. Antônio Jorge Sena dos Anjos

Feira de Santana

Agosto de 2016

iii

FICHA CATALOGRÁFICA

S586p

Gomes, Moacyr dos Santos.

Ensino de Conceitos de Complexidade e Caos no Ensino Médio a

partir do Fenômeno Tornado: Uma Abordagem na Perspectiva da

Aprendizagem significativa/ Moacyr dos Santos Gomes – Feira de Santana:

UEFS/IF, 2016.

viii, 77 f.: il.;30cm.

Orientador: Dr. Prof. José Luís Michinel.

Dissertação (mestrado) – UEFS / Instituto de Física / Programa de

Pós-Graduação em Ensino de Física, 2015.

Referências Bibliográficas: f. 74-77.

1. Ensino de Física. 2. Complexidade e Caos. 3.Aprendizagem

Significativa. I. Michinel, José Luis. II. Universidade Estadual de Feira de

Santana, Instituto de Física, Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Física. III. Ensino de Conceitos de Complexidade e Caos no Ensino Médio a

partir do Fenômeno Tornado: Uma Abordagem na Perspectiva da

Aprendizagem significativa

iv

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema didático para descrever o desenho da SD........................................ 11

Figura 2 - Mapa conceitual construído pelos alunos: AS, CA, EB, EP, FC. Tema

Complexidade...............................................................................................

31

Figura 3 - Mapa conceitual construído pelos alunos AS, CA, EB, EP, FC. Tema

Caos..............................................................................................................

32

Figura 5 - Mapa conceitual construído pelos alunos IS, IO, ID, JV, KS........................ 33

Figura 6 - Capa do filme Efeito borboleta (a), cena do filme o Parque dos dinossauros

(b)..................................................................................................................

52

Figura 7 - Tornado em Xanxerê 2015............................................................................. 54

Figura 8 - Tornado.......................................................................................................... 54

Figura 9 - Colunas, giratórias, de ar na base do tornado.................................................. 55

Figura 10 - Estrutura de uma nuvem cumulunimbus....................................................... 56

Figura 11 - Anemógrafo universal................................................................................... 58

Figura 12 - Imagens de tornados no EUA (a) e do furacão Catarina (b)........................ 58

Figura 13 - Problema dos 3 corpos.................................................................................. 60

Figura 14 - Caos na concepção popular................................................................................................... 62

v

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relações entre objetivos, atividades previstas, processos de aprendizagem e

resultados na SD ..................................................................................................... 16

Quadro 2 - Cronograma dos encontros de aplicação da SD..................................................... 18

Quadro 3 - Indicadores para análise de conteúdo e construção do perfil epistemológico dos

conceitos de Complexidade, Sistema caóticos, fenômeno do tornado................... 25

Quadro 4 - Atividades de pesquisa para a coleta de dados durante a SD................................. 28

Quadro 6 - Escala Fujita para os tornados................................................................................ 57

vi

LISTA DE ABREVEATURAS E SÍMBOLOS

AC Analise de Conteúdo

AS Aprendizagem Significativa

BA Bahia

DCN/EM Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio

EF Ensino Fundamental

EM Ensino Médio

FC Física Clássica

FM Física Moderna

FMC Física Moderna e Contemporânea

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

MNPEF Mestrado Nacional Profissional de Ensino de Física

MQ Mecânica Quântica

NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration

PCNs Parâmetro Curricular Nacional

PNLD Programa Nacional do Livro didático

SBF Sociedade Brasileira de Física

SCI Sensibilidade às condições Iniciais

SD Sequência Didática

TAS Teoria da Aprendizagem Significativa

TIC Tecnologias de Informação e Comunicação

TLS Teaching Learning Sequences

UC Unidade de Contexto

UEFS/IF Universidade Estadual de Feira de Santana/Instituto de Física

UEPS Unidade de Ensino Potencialmente Significativa

UR Unidade de Registro

vii

RESUMO

GOMES, Moacyr dos Santos. Ensino de Conceitos de Complexidade e Caos no Ensino

Médio a partir do Fenômeno Tornado: Uma Abordagem na Perspectiva da

Aprendizagem significativa. – Feira de Santana: UEFS/IF, 2016. Dissertação (Mestrado

Nacional Profissional em Ensino de Física).

Este texto versa sobre uma proposta de ensino de Física, com a inserção dos conceitos de

complexidade e caos a partir da Física Ambiental, mediada pelo estudo do fenômeno do

tornado, na matéria de Termodinâmica do programa de Ensino Médio (EM). A pesquisa foi

realizada com estudante do EM de uma Escola Estadual no Município de Simões Filho – BA,

para o qual foram trabalhados conteúdos sobre alguns conceitos da Física da Complexidade e

do Caos Determinístico (Sensibilidade às condições iniciais, Previsibilidade, Determinismo,

Bifurcações, Não linearidade, Irreversibilidade, Auto-organização e Estruturas dissipativas).

Fundamenta-se este trabalho nos estudos do comportamento dos fenômenos atmosféricos na

perspectiva da dinâmica dos processos não lineares, nas estruturas de não equilíbrio, na

termodinâmica dos fluidos que causam os tornados. Procura, através de uma Sequência

Didática, alcançar uma aprendizagem significativa desses conceitos, com um grupo de

estudantes do ensino médio proporcionando-lhe um deslocamento conceitual do realismo

clássico para o realismo completo.

A proposta se fundamenta na aprendizagem significativa (AS) de David Ausubel, na teoria da

complexidade de Ilya Prigogine, no pensamento epistemológico de Gaston Bachelard, que

orientam o desenvolvimento da pesquisa e embasam a proposta de ensino de ciência moderna

e contemporânea que se procura. Por outro lado, a análise dos efeitos da Sequência Didática é

feita a partir de quadros que expressam as concepções dos estudantes sobre o tema dessa

pesquisa. O desenvolvimento dessa pesquisa qualitativa gerou dois produtos como resultado: o

primeiro, uma Sequência Didática (SD) na perspectiva de Méheut e Psillos, (2005) e de Moreira

(2012), que consiste, segundo esses autores, em uma forma curricular curta usada para o ensino

de conceitos científicos; e a segunda um texto paradidático potencialmente significativo. Com

o uso desses recursos pedagógicos, fundamentados nos aportes teóricos indicados, foi

verificado, nos alunos, uma possível aprendizagem significativa.

Palavras-chave: Ensino de Física Ambiental, Complexidade e caos, Aprendizagem

Significativa

viii

Sumário

1. A Sequência Didática................................................................................. 9

1.1 Como foi a construção da sequência didática (SD)? .......................................... 9

1.2. O objetivo da SD................................................................................................ 11

1.3. A filosofia.......................................................................................................... 11

1.4. Etapas (Cronograma) do processo de design da SD.......................................... 12

1.5. O Caderno paradidático: “Teoria do Caos, sistemas complexos, Física ambiental e tornados. ”..................................................................................... 16

1.6. Características contextuais do desenvolvimento da pesquisa............................ 17

1.7. Os Encontros ..................................................................................................... 18

2 Resultados e análise dos resultados................................................................ 27

2.1. As categorias de análise..................................................................................... 27

2.2. Produção do Corpus de Análise......................................................................... 29

2.3. Concepções dos alunos sobre o significado de caos, complexidade e

tornados.............................................................................................................. 30

27

Conclusões...................................................................................................................... 36

Referências .................................................................................................................... 40

Apêndices A ................................................................................................................... 42

Apêndices B.................................................................................................................... 44

Apêndices C.................................................................................................................... 47

Apêndices D.................................................................................................................... 51

9

1. A Sequência didática

A ideia que originou esta pesquisa se orientava para fazer uma abordagem da física

ambiental e suas consequências sociais. A introdução da temática no campo da FMC trouxe

enriquecimento e um propósito novo à pesquisa. Buscamos então, na física dos sistemas

caóticos e complexos um fenômeno ambiental no sentido de aproveitar a ideia inicial e

introduzir conceitos associados à física contemporânea. No universo de possibilidades,

escolhemos então o fenômeno dos tornados como uma possibilidade de ensino de conceitos da

teoria do caos determinístico, de sistemas complexos com ênfase em física do meio ambiente.

Os passos seguintes foram: a escolha dos referentes teóricos, pedagógicos e

metodológicos que nortearam a pesquisa. As escolhas por Ilya Prigogine e David Ausubel

suportam o propósito da pesquisa que é: “O ensino de conceitos da teoria da complexidade e

do caos a partir dos tornados para uma aprendizagem significativa”. Buscamos a partir daí fazer

uma revisão de literatura onde verificamos o estado da arte com relação a essa temática.

Encontramos, como falamos anteriormente, trabalhos voltados para o ensino de conceitos da

teoria do caos voltados para professores e estudantes de física.

Nosso trabalho encontra-se nos limites da pesquisa voltado para educação tendo como

papel principal: estudar como os alunos aprendem significativamente os conceitos da teoria da

complexidade e do caos que emergem do fenômeno dos tornados; construir um perfil

epistemológico dos conceitos de complexidade e de caos com aluno do EM. Para isso fizemos

uso de uma sequência didática, tomando como referência o trabalho de Marco A. Moreira

(2012), na construção de uma Unidade de Ensino Potencialmente Significativa (UEPS).

Contudo, a nossa proposta foi a construção de uma Sequência Didática que difere da UEPS

proposta por Moreira, por estar exclusivamente referenciada com a teoria da aprendizagem

significativa de David Ausubel. A construção da sequência didática nasceu como instrumento

de avaliação da disciplina SD1, onde foi avaliada “a priori” e posteriormente corrigida.

1.1. Como foi a construção da sequência didática (SD)?

O processo de construção da SD está fundamentado, na Unidade de Ensino

Potencialmente Significativa (UEPS) segundo Moreira (2012). Nela o autor defende uma

1“Processos e sequências de ensino e aprendizagem em física no ensino médio” é uma disciplina optativa com

código FIS1010, carga horária de 60 horas e 4 créditos do MNPEF.

10

metodologia de ensino que difere da prática cotidiana onde os alunos copiam o conhecimento

como se fossem informações a serem memorizadas. Para Moreira a intenção da UEPS é:

[...] contribuir para modificar, pelo menos em parte, essa situação, propõe-se

neste trabalho a construção de Unidades de Ensino Potencialmente

Significativas. São sequências de ensino fundamentadas teoricamente,

voltadas para a aprendizagem significativa, não mecânica, que podem

estimular a pesquisa aplicada em ensino, aquela voltada diretamente à sala de

aula Moreira, 2012, p. 2)

Contudo, é preciso considerar que a unidade de ensino segundo Moreira assume

diversos autores de teorias de aprendizagem para sua fundamentação pedagógica. Chamamos

de Sequência didática (SD) o mesmo recurso pedagógico que Moreira, (2012) chama de UEPS.

Porém, a diferença entre elas encontra-se no uso exclusivo da teoria de aprendizagem

significativa de David Ausubel e no pensamento filosófico/ pedagógico de Méheut e Psillos

(2005), para construção, avaliação e validação de uma sequência de ensino aprendizagem.

A escolha pelo recurso pedagógico da SD como processo de ensino aprendizagem se

justifica pelo seu objetivo. Segundo Méheut e Psillos, o recurso pedagógico da SD,

[...] têm como objetivo ajudar os alunos a compreender o conhecimento

científico. Para isso, propõe um modelo para o delineamento das TLS

definindo quatro componentes básicos: o professor, os alunos, o conhecimento

científico e o mundo material, interligados a partir de duas dimensões: a

epistemológica e a pedagógica, (2005, p 4).

Essas dimensões são expressas no trabalho de ensino e aprendizagem da seguinte forma:

na dimensão epistemológica encontra-se o conhecimento científico no campo da FMC voltada

para a teoria da Complexidade e do Caos e suas relações com o mundo material, em particular

o fenômeno ambiental dos tornados. Na dimensão pedagógica encontra-se o papel do professor

na elaboração de um material paradidático potencialmente significativo; mediar o processo de

ensino aprendizagem de conceitos da complexidade e do caos que caracterizam os tornados;

avaliar o processo de aprendizagem significativa; no processo de interação entre professor-

aluno com a exposição de conceitos e na mediação dos debates e na interação aluno-aluno na

realização de atividades colaborativas e mediando os debates nos grupos.

A figura 10 representa uma modificação do losango de Méheut e Psillos (2005), que

compreende as dimensões pedagógicas e epistemológicas e as interações Professor- aluno da

SD aplicada.

Nesse sentido, considerar-se as dimensões epistêmica e pedagógica como as dimensões

de uma SD integrada, onde o conhecimento a ser desenvolvido e os sujeitos envolvidos são

11

igualmente importantes. Seguindo a sugestão de Moreira (2012) segui a estrutura com os passos

para a construção dessas SD:

1.2. Objetivo da SD

Desenvolver uma unidade de ensino potencialmente facilitadora da aprendizagem

significativa de conceitos da teoria da Complexidade e do Caos que emergem do fenômeno dos

tornados, promovendo uma articulação: entre o conhecimento científico e o mundo material; o

processo de ensino (Professor) e de aprendizagem (aluno) (MÉHEUT e PSILLOS 2005;

MOREIRA, 2012).

1.3. A filosofia da SD

Só há ensino quando há aprendizagem e esta deve ser significativa; ensino é o meio,

aprendizagem significativa é o fim; materiais de ensino que busquem essa aprendizagem devem

Fonte: Modificação de Méheut e Psillos (2005), p. 517

Dimensão pedagógica

As relações com o mundo

material, em particular o

fenômeno ambiental dos

tornados.

Figura 1- Esquema didático para descrever o desenho da SD. Adequação do losango de Méheut e

Psillos (2005)

O papel do professor na elaboração

de uma SD e um material

paradidático potencialmente

significativo.

Processo de interação entre

professor-aluno durante o

desdobramento da SD.

O conhecimento científico no

campo Física moderna e

contemporânea voltada para a

teoria da Complexidade e do Caos.

Dim

ensão

epistem

oló

gica

12

ser potencialmente significativos (MOREIRA, 2012). O processo de aprendizagem deve

considerar conjuntamente as dimensões epistêmica e pedagógica. (MÉHEUT, PSILLOS 2005).

1.4. Etapas (Cronograma) do processo de design da SD

Aqui se apresenta o cronograma de aplicação da SD que implica na definição do tempo

de aplicação. Com isso, se definiu também a quantidade de atividade, possíveis e permitiria

alcançar os objetivos desejados. As atividades propostas teve dupla intenção, a primeira de

proporcionar uma aprendizagem significativa e a segunda servir de instrumento de coleta de

dados.

Outro aspecto importante dessa SD é a dimensão pedagógica que permite fundamentar

a interação entre professor e aluno; e a dimensão epistemológica que caracteriza a interação

entre o conhecimento científico e o mundo material.

Todas as aulas foram gravadas com o fim de construir o corpus para a análise de

conteúdo e de avaliação como será descrito mais para frente.

Etapa 1: Definição dos tópicos a ser estudado

Nessa etapa foi selecionado o conteúdo que seria trabalhado com os estudantes. Os

conteúdos no campo da FMC na área da teoria da complexidade e Caos que emergem dos

tornados. Foram selecionados os conceitos de: sensibilidade às condições iniciais; bifurcação;

irreversibilidade; estruturas dissipativas e “trajetória” probabilística.

Etapa 2: Construção de organizadores prévios para os temas de tornado e complexidade

De acordo com Moreira, 2011, os organizadores prévios têm como função servir de

ponte cognitiva entre novos conhecimentos e aqueles já existentes na estrutura cognitiva do

aprendiz. Dessa forma, a apresentação do vídeo “Twister”2 e do caderno paradidático se

justifica por serem dois instrumentos facilitadores da aprendizagem que se complementam. O

primeiro por ser um recurso visual que apresenta de forma mais geral o problema dos tornados

2 Twister (1995), de Jan de Bont, filme-catástrofe sobre tornados, também teria contribuído, segundo Kirby, para

maior apoio da opinião pública em relação à pesquisa meteorológica financiada pelo governo americano,

especificamente o trabalho do National Severe Storms Laboratory (NSSL), agência que prestou consultoria ao

roteiro do filme de Bont. Dante’s peak (1997), de Roger Donaldson, sobre super-erupção vulcânica, também

contou com assessoria do U.S. Geological Survey (USGS), instituição que, por sua vez, foi beneficiada pela

visibilidade do filme (SUPPIA, 2014).

13

e o segundo por ser um recurso textual que apresenta detalhes do problema dos tornados no

contexto do Brasil e expõe, também, especificidade que caracterizam os sistemas complexos e

caóticos como solução de possível entendimento do comportamento dos tornados.

O material introdutório que foi escolhido como organizador prévio, ou seja, que serviu

de pontes cognitivas entre o conhecimento de conceitos da teoria da Complexidade e do Caos

e aqueles já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz (Conhecimentos prévios), para o

estudo dos tornados foram o filme Twister e o caderno paradidático (Apêndice D).

O filme trata de uma produção americana que conta a história de dois grupos de

meteorologistas na cidade do Oklahoma, ambiente onde ocorrem muitos tornados por ano. O

uso do filme se justifica pela abordagem da formação do fenômeno e pela intenção dos

pesquisadores no filme de entender a formação dos tornados e diminuir o tempo de

previsibilidade destes. A pesar dos exageros, proveniente da ficção científica, o filme faz uma

abordagem dos impactos ambientais em decorrência dos tornados. O objetivo dos cientistas,

caçadores de tornados, era investigar a estrutura de formação dos tornados e identificar

elementos que possibilitem a diminuição do tempo de previsão da ocorrência destes.

O outro instrumento construído para operar como organizador prévio para

aprendizagem significativa de conceitos de Complexidade que explicam os tornados, foi o

material instrucional no formato de caderno paradidático cujo tema foi “Caos, complexidade,

meio ambiente e tornados”. Esse material procura atender a necessidade de um texto de fácil

entendimento e acessível a alunos de EM. A inexistência de material didático que versa sobre

o tema, obrigou à escrita desse texto que se torno, juntamente com a SD, nos produtos desta

pesquisa. Este caderno é caracterizado detalhadamente mais para frente.

Etapa 3: Criação de situação problema para discursão preliminar com o fim de identificar

conhecimentos prévios.

Nessa etapa foram usados dois questionários (anexos A e B) e uma situação-problema.

A intenção é permitir que os alunos exteriorizassem seu conhecimento prévio, aceito ou não

aceito cientificamente, que permitiram trabalhar levando em conta estes para uma

aprendizagem significativa.

Etapa 4: Escolha de uma situação problema para destacar Diferenciação Progressiva

considerando o conhecimento prévio dos alunos

Após trabalhadas as situações iniciais, foram apresentados o conhecimento a ser

ensinado levando em conta a diferenciação progressiva. Nessa etapa iniciamos com aspectos

14

mais gerais e inclusivos (MOREIRA, 2012). Nessa aula usamos as tecnologias da informação

para apresentação do conteúdo.

Etapa 5: Construção de aula com os conceitos a ser aprendidos considerando a

Diferenciação Progressiva.

A intenção nessa etapa foi dar seguimento ao processo de diferenciação progressiva

retomando as características mais relevantes do conteúdo numa perspectiva integradora. Foi

feita uma breve exposição oral e leitura de texto do caderno paradidático para discussão de nova

situação problema (MOREIRA, 2012).

Etapa 6: Construção de aula apresentando aspectos gerais em nível mais alto de

complexidade.

Nessa etapa foram apresentados aspectos mais gerais e estruturantes do conteúdo

selecionado para ser estudados na SD. Usando um apresentador de slide foi feito uma breve

exposição oral em nível mais alto de complexidade em relação à aula anterior. Nesse momento

a intenção era promover Reconciliação Integrativa, a partir das diferenças relevantes ás

situações problemas anteriores.

Etapa 7: Escolha da ferramenta de avaliação da aprendizagem significativa

A avaliação foi feita ao longo de do desenvolvimento da SD. No desdobramento da SD

foi feito o registro de todas as informações que forneciam pistas de evidências de aprendizagem

significativa. Foi usado: questionário; entrevista semiestruturada; manifestação livre (desenho,

frase, texto) e principalmente os mapas conceituais. (MOREIRA, 2012; NOVAK e CAÑAS,

2010).

Etapa 8: Avaliação da SD a priori.

Essa etapa de construção da SD teve como objetivo tornar a sequência didática clara,

estabelecendo seus objetivos, verificando as possíveis lacunas conceituais e conflitos cognitivos

que foram observados e as dificuldades que possivelmente serão vivenciadas (MÉHEUT e

PSILLOS, 2005). Essa avaliação foi feita pelos alunos (Turma 2013) do MNPEF, Polo 6 da

UEFS, durante o desdobramento da disciplina (FIS1010) Processos e Sequências de ensino e

aprendizagem e teve como resultado as seguintes necessidades: determinar o período de

aplicação da SD, se na IV unidade do ano corrente, se na I unidade do ano seguinte; Explicitar

os conceitos proposto a ser trabalhado; definir em que momento dos encontros os filmes são

15

exibidos; explicitar a hierarquia dos conceitos da propostas; definir quando o professor vai

trabalhar explicitamente diferenciação progressiva e reconciliação integrativa; explicitar a

fundamentação teórica da SD; definir explicitamente como será feita a avaliação da

aprendizagem significativa; definir explicitamente a dimensão epistemológica da SD;

caracterizar explicitamente; incluir aspectos epistemológico segundo Bachelard (transição

epistemológica entre o determinismo clássico e o caos determinístico );

Etapa 9: Processo de avaliação e validação da SD a posteriori.

Essa foi a etapa de finalização da SD, onde a partir da avaliação do desempenho dos

alunos participantes do minicurso forneceram evidências de aprendizagem significativa, o

grado de eficiência da SD e a verificação das hipóteses da pesquisa como mostra a seção

Resultados e Análise de resultados da Dissertação. A avaliação dos dados coletados para a

avaliação da SD e da verificação das hipóteses da pesquisa foi feita a partir da análise de

conteúdo segundo Laurence Bardin (1979).

O Quadro 2 mostra a conexão entre os aspectos metodológicos da SD. Ele indica, em

cada encontro (primeira coluna), as ações que designaram o processo de aprendizagem

significativa (segunda coluna); as atividades realizadas (terceira coluna); os resultados que

foram alcançados (quarta coluna); e por fim, na quinta coluna, os objetivos de cada encontro.

Quadro 1. Relações entre objetivos, atividades previstas, processos de aprendizagem e

resultados na SD

ENCONTR

O

Processo de

aprendizagem

significativa

Atividade prevista

na SD

Resultados obtidos Objetivo

I Levantamento

dos

conhecimentos

prévios.

Formação dos

subsunçores

Aplicação de

questionário,

realização de

debate,

apresentação de

situações problema.

Informações sobre os

conhecimentos prévios

(respostas ao

questionário)

Apresentação do problema

a ser estudado.

Identificação das

concepções prévias dos

alunos

II Realização de

atividade que

serviram como

organizadores

prévios

Exibição do filme

Twster, questões

para discursão

coletiva, exposição

de conteúdo.

Pesquisa

extraclasse.

Informações sobre a

estrutura cognitiva dos

estudantes mediante

debate coletivo

Construção de uma

estrutura cognitiva

subsunçora.

Contextualização do

conteúdo.

III Apresentação de

aspectos mais

gerais e

inclusivos do

conteúdo.

Aula expositiva,

Leitura de texto,

exercício

dissertativo,

apresentação das

produções do grupo

Produções textuais

sobre o conteúdo.

Fazer uma transição

epistemológica entre o

determinismo clássico e a

imprevisibilidade do caos

16

1.5. O Caderno paradidático: “Teoria do Caos, sistemas complexos, física ambiental e

tornados”.

O Caderno paradidático é um material instrucional, indicado na etapa 2, de caráter

pedagógico e potencialmente significativo. O material, que tem a intenção de servir como

organizador prévio versa sobre o tema complexidade e tem uma estrutura didática que

possibilita a assimilação dos conceitos que se pretende ensinar. Esse juntamente com a SD

tornou-se, também, um dos dois produtos para propósito educativo em sala de aula do curso de

física.

Para cumprir a sua função pedagógica o caderno apresenta uma organização sequencial

do conteúdo e uma estrutura conceitual da disciplina que favorece uma aprendizagem

significativa. Ele apresenta o problema da caracterização do fenômeno dos tornados com

conceitos mais gerais que servem de ancoragem conceitual para aprendizagem subsequente.

Colocado o problema dos tornados, é apresentada as características de sistema complexos e

caóticos que emergem e explicam o comportamento imprevisível e irreversível dos tornados.

A problematização é feita a partir de ocorrência do fenômeno no Brasil cujo destaque

foi para o tornado ocorrido em vinte e seis de abril, na cidade de Xanxerê em Santa Catarina.

O caderno mostra o alto poder destrutivo dos tornados e a incapacidade de fazer previsões

acertadas, em longo prazo, que possibilite o controle da situação calamitosa.

O texto segue apresentando os conceitos mais gerais e inclusivos da teoria da

complexidade e do caos determinístico tomando como exemplo o sistema termodinâmico dos

tornados. Nesse sistema se identifica características como: a irreversibilidade, onde se apresenta

o problema da temporalidade com destaque para a quebra da simetria temporal presentes nas

equações da mecânica newtoniana e da mecânica quântica; imprevisibilidade; bifurcações;

auto-organização; comportamento probabilístico de sua “trajetória”; sua estrutura dissipativa,

IV Discursão do

conteúdo –

diferenciação

progressiva

Aula expositiva

Aplicação de novo

questionário, debate

coletivo

Gravação das

discussões coletivas

Respostas dos

questionários

Material produzido:

mapas, desenhos,

comentários

Conhecer os conceitos de

complexidade e caos:

bifurcação, auto-

organização e não

linearidade.

V Discursão do

conteúdo para

reconciliação

integradora e

assimilação

Aula expositiva,

manifestação livre,

situação problema

complexo.

Informação que

permite verificar o

deslocamento

epistemológico e a

aprendizagem

científica.

Verificar como os alunos

organizam

hierarquicamente os

conceitos

17

que se revela pela alta troca de matéria e energia fazendo surgir os movimentos de rotação e

convecção; e pôr fim a interação não linear entre as partes que os compõe que apresentam

extrema sensibilidade às condições iniciais.

O texto apresenta imagens diversas mostrando as características da formação dos

tornados; cenários destruídos pela passagem dos tornados, tecnologias usadas para avaliar as

flutuações das variáveis que provocam os tornados. Ademais, o caderno traz atividades e links

que versam sobre a teoria da complexidade, do caos e dos tonados na perspectiva de simulações

e informações de institutos especializados.

1.6. Características contextuais do desenvolvimento da pesquisa

Para desenvolvimento da pesquisa se optou por um local onde o pesquisador era também

professor o que facilitou o processo de estruturação e desenvolvimento da pesquisa. A pesquisa

foi feita em formato de minicurso onde os participantes, alunos da terceira série do EM se

escreveram e confirmaram sua participação nas atividades que funcionaram em turno oposto ao

horário de aula dos alunos na instituição. O minicurso teve a participação de dezessete alunos

da terceira série do ensino médio de uma escola pública da rede estadual de ensino da Bahia. A

escolha dessa escola facilitou o acesso às dependências no turno oposto como foi proposto no

minicurso. Esse ambiente escolar favoreceu a ocorrência das atividades, pela oferta das

condições necessárias para realização da pesquisa por ser uma escola de EM com ensino

regular; pela sua localização com fácil acesso dos alunos participantes, pela estrutura física que

possibilitou o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Nesse contexto

tornou-se um ambiente facilitador do uso de vídeos, simulações e na realização de

experimentos, como foi o caso da apresentação do pêndulo caótico. O funcionamento do

minicurso transcorreu com a realização do conjunto de atividades propostas na SD. A coleta de

dados se deu a partir das atividades proposta na SD com o uso dos seguintes instrumentos:

questionários; entrevistas livres; manifestação livre através de ilustrações e opiniões e

construção de mapas conceituais. Os encontros para realização do curso tinham duração diária

de duas horas funcionando no turno oposto às aulas dos estudantes participantes na pesquisa.

18

Os alunos, que participaram dessa pesquisa são concluintes da etapa final da educação

básica. Eles se mostraram interessados em estudar tópicos de FMC uma vez que tal assunto tem

sido subtraído do programa de Física que se desenvolve no EM. Contudo, o conteúdo referente

a FMC é previsto nos PCNs (BRASIL, 1999), consta nos livros didáticos referenciados pela

PNLEM, porém não são desenvolvidos esses conteúdos (LAMARQUE, 2009). São diversos os

problemas que impedem a introdução dos conteúdos da FMC nas escolas: organização do

curriculum, formação docente, alunos sem as competências necessárias e carga horária são

alguns deles (OSTERMANN; MOREIRA, 2001).

Foi observada uma grande disposição e curiosidade dos alunos desde o período de

inscrição até a finalização do curso. O interesse pela aprendizagem de novos conceitos facilitou

a investigação.

1.7. Os Encontros

A) Primeiro Encontro

Orientado pelo que foi planejado na SD, buscamos no primeiro contato, fazer um

levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes a partir de um questionário (Roteiro I,

Apêndice A). A realização dessa atividade estava apoiada na teoria da aprendizagem

significativa e tem a intenção de coletar dados que permitissem verificar a transição

epistemológica do determinismo clássico para as incertezas da complexidade (PRIGOGINE,

2002). Para a ocorrência de uma aprendizagem significativa é necessária considera os

conhecimentos prévios do aprendiz (MOREIRA, 2013). Para Ausubel, o conhecimento prévio

Quadro 2. Cronograma dos encontros de aplicação da SD

Primeiro

encontro

Dia 28 de

outubro

Das 13:00h ás

16:00h

Socialização da proposta, realização da

atividade do roteiro I, exposição da primeira

aula.

Segundo

encontro

Dia 29 de

outubro

Das 13:00h ás

16:00h

Ministração da aula 02 e realização de

atividade experimental

Terceiro

encontro

Dia 03 de

novembro

Das 13:00 ás

16: 00h

Ministração das aulas 03 e 05 com realização

de atividade computacional

Quarto

encontro

Dia 04 de

novembro

Das 13:00h às

16:00h

Realização das aulas 05 e atividade

Quinto

encontro

Dias 05 de

novembro

Das 13:00h ás

16:00h

Avaliação da aprendizagem e avaliação dos

encontros.

Entrega de Certificado.

19

é a variável de maior importância no processo pedagógico que se propõe, para alcançar como

resultado uma aprendizagem significativa. De acordo com Ausubel (2003), descubra o que ele

sabe e ensine de acordo. Nesse sentido, Moreira orienta que é de fundamental importância que

o instrutor faça antes de iniciar o processo um levantamento dos conhecimentos prévios dos

estudantes, até mesmo antes de elaborar ou selecionar o material de instrução (Moreira, 2008).

Todavia esse material instrucional deve estar de acordo com o conhecimento subsunçor e deve

ser potencialmente significativo.

Essa pesquisa exploratória, inicial foi também a oportunidade de coletar dados que

permitisse a partir da análise do conteúdo e extrair elementos que caracterizasse as diferentes

visões que configuram a estrutura conceitual das ciências física para construção do perfil

epistemológico de Bachelard. Em seguida foi feita uma apresentação panorâmica ressaltando

conceitos de: determinismo; reversibilidade temporal; trajetória e linearidade, presentes na

física clássica de Isaac Newton (1642 – 1727). Essas informações foram de crucial importância,

pois permitiram que os estudantes percebessem os limites epistemológico da física clássica com

seu determinismo e certezas para a emergência de flutuações, bifurcações, não linearidade,

trajetória probabilística, irreversibilidade temporal presentes na física do não equilíbrio na

perspectiva de Ilya Prigogine (1996)

B) Segundo Encontro

Nesse encontro realizamos a segunda atividade que consistia no uso dos organizadores

prévios. Na teoria de aprendizagem de Ausubel (2003), ele assume a necessidade de existência

de uma estrutura cognitiva dinâmica e idiossincrática, contudo se as ideias existentes são gerais

e sem relevância, incapazes de servir de ancoradouro para as novas ideias, é ineficiente o

mecanismo pedagógico dos organizadores avançados.

Para isso utilizamos cenas do filme Twister, proposto na SD e que conta a história de

dois grupos de pesquisadores americanos caçadores de tornados. O outro instrumento utilizado

foi a leitura do texto paradidático (Apêndice D) de nossa autoria. Dois alunos já conhecia o

filme, contudo, opôs a realização da atividade II passaram a olhar o filme não mais na perceptiva

apenas de entretenimento mais também do ponto de vista da metodologia científica nos estudos

dos tornados.

C) Terceiro Encontro

Nesse encontro buscamos fazer na intervenção pedagógica, ministrando uma aula

expositiva, cujo objetivo foi a aprendizagem significativa dos conceitos que caracterizam um

20

sistema como complexos e caóticos nos tornados. Para isso usamos o texto paradidático como

apoio e mediamos uma roda de conversação e debate que permitisse a organização desse novo

conhecimento na estrutura cognitiva. Em todo momento os alunos estavam apreensivos e

ansiosos por conhecer as ferramentas matemáticas que suportariam a teoria da complexidade e

do caos. Foi aí então que explicamos que não era objetivo do minicurso a aprendizagem da

operacionalização matemática desses conceitos.

O primeiro conceito a ser trabalhado foi o de complexidade. Para isso apresentamos

cena do filme em que os pesquisadores conseguem monitorar o comportamento dos tornados

através dos sensores. Outro conceito trabalhado foi o de sensibilidade às condições iniciais.

Nessa oportunidade demostramos a impossibilidade de repetir um fenómeno como abandonar

uma moeda numa mesa de pregos e ela percorrer o mesmo caminho e chegar no mesmo local.

Comparamos essa experimentação com os tornados. Aproveitamos também, para consolidar o

conceito de imprevisibilidade refletindo sobre a impossibilidade em prever acertadamente o

local, a trajetória e o horário em que um tornado aconteceria. Seguimos com o conceito de

“trajetória” probabilística (evolução de probabilidade) verificando em uma cena do filme em

que os pesquisadores se colocaram em uma provável rota dos tornados porem, a incerteza de

sua trajetória provocou o desapontamento dos pesquisadores por não se localizar no local certo.

Todo tempo buscávamos uma aprendizagem de tal forma que ocorresse uma diferenciação

progressiva para a assimilação dos novos conceitos. Prosseguimos com a livre manifestação

dos alunos em uma roda de debate com perguntas informais, não estruturada. Os pensamentos,

reflexões e suas conclusões foram registrados pelos alunos, em folhas de papel e o conteúdo do

debate foi gravado. Para identificar os alunos, que se manifestavam livremente, solicitamos que

cada participante procedesse a indicar as iniciais do nome e sobrenomes ao início de sua fala,

por exemplo: Moacyr dos Santos Gomes (MSG). Usamos essa identificação para todas as

atividades que foram realizadas na coleta de dados durante o desdobramento da pesquisa.

A continuação se descrevem os blocos de conceitos, implicados na teórica da

complexidade em relação com o fenômeno dos tornados, que foram tratados neste encontro.

Primeiro bloco: Sensibilidade às condições iniciais

Iniciamos essa etapa com a investigação da compreensão da metáfora “efeito borboleta”

buscando seu significado e sua associação com o fenômeno dos tornados e com os conceitos da

teoria do caos. Já tínhamos identificado que alguns alunos já tinham ouvido falar da metáfora,

apesar do desconhecimento de seu significado. Discutimos para concluirmos que pequenas

flutuações nas condições atmosféricas provocavam inesperadamente a ocorrência de tornados.

21

Perguntamos sobre o motivo da impossibilidade de conseguir fazer a moeda trilhar o mesmo

caminho. Com essa pergunta concluímos que o fato de não conseguirmos repetirmos as mesmas

condições da primeira experiência impossibilitava que o fenômeno ocorresse de igual modo.

Segundo bloco: característica dos sistemas complexos

Para caracterizar os sistemas complexos iniciamos apresentando cenas do filme Twister

onde os pesquisadores usam centenas de sensores para extrair informações do fenômeno dos

tornados. Iniciamos o diálogo com a seguinte pergunta: O que se sabe sobre a teoria da

complexidade e o que caracteriza um sistema complexo?

Terceiro bloco: imprevisibilidade

Nesse bloco dialogamos sobre a capacidade que tem a ciência em fazer previsões de

eventos futuros a partir do conhecimento de suas características iniciais. Provocamos o diálogo

com a seguinte questão: “Assim, como se faz previsão da passagem de um cometa é possível

prever a ocorrência de um tornado”?

Quarto bloco: Trajetória probabilística: reversibilidade, seta do tempo e a segunda lei da

termodinâmica.

O objetivo desse bloco foi compreender os conceitos de reversibilidade associados a

fenômenos naturais conduzindo os alunos a uma transição epistemológica do conceito de

trajetória clássica para trajetória probabilística presente num sistema caótico como nos

tornados. Queríamos nesse diálogo que os alunos assimilassem que é impossível reproduzirmos

um fenômeno exatamente como acontecido em um instante passado. Pequenas variações nas

condições iniciais provocam grandes efeitos. Para fomentar esse debate sugerimos a seguinte

questão: É possível prever e descrever a trajetória de um tornado? O que caracteriza um sistema

físico irreversível? É possível voltar no tempo?

Quinto bloco: Bifurcações

Nessa seção estávamos interessados em compreender o que é bifurcação em sistema

caótico e verificar essa característica nos tornados. Para isso iniciamos um diálogo sobre o tema

estimulado com a seguinte questão: O que entendemos sobre o fenômeno da bifurcação em um

sistema físico?

Para a consolidação desse tema fizemos a aula 04 e apresentamos trecho do filme “a

matemática do caos” onde apresenta o efeito borboleta a partir da trajetória probabilística de

22

dois corpos que iniciam os seus movimentos sob as mesmas condições e em certo instante suas

trajetórias se afastam. Do mesmo modo apresentamos o trecho do filme Twister, no qual um

tornado em plena atividade toma um caminho imprevisível repentinamente. Voltamos nesse

ponto aos conceitos de sensibilidade as condições iniciais, trajetória probabilística e a partir

deles chegamos ao conceito de bifurcação. Não fizemos nenhuma introdução da matemática

operacional, contudo, usamos gráficos de bifurcações de alguns sistemas. A retomada dos

conceitos anteriores tinha como propósito ampliar a estrutura cognitiva, fazer a diferenciação

progressiva e a reconciliação integradora com a introdução do conceito de bifurcação. A aula

expositiva procurava fazer o aluno usar o conceito de SCI para duas partículas que iniciam seus

movimentos tem suas trajetórias distanciadas exponencialmente a partir de um ponto crítico

Sexto Bloco: Estruturas dissipativas

Encerramos as aulas com o conceito de estrutura dissipativa. Iniciamos o diálogo

perguntando o que é uma estrutura dissipativa?

Para que os alunos organizassem esse conceito em sua estrutura cognitiva apresentamos

um novo trecho do filme Twister a energia adquirida por um tornado o que justifica seu grande

poder avassalador. Em seguida apresentamos também uma simulação interativa localizada no

endereço:

http://www.noticiasusodidactico.com/blog/2013/05/recursos-interactivos-para-el-estudio-de-

los-tornados/.

Logo depois apresentamos a aula 04 que constava de conceitos mais inclusivo referente

a estrutura dissipativa, tomando como exemplo os tornados.

D) Quarto Encontro

Nesse encontro realizamos atividades programadas na SD, que possibilitasse uma maior

interatividade com os estudantes no sentido de procurar caracterizar como cada um deles: a)

organizava hierarquicamente esse novo conhecimento em sua estrutura cognitiva; b) se fizeram

diferenciação progressiva; c) se são capazes de fazer uma reconciliação integrativa. Os alunos

divididos em grupo expressaram através de um desenho uma situação que caracterizava um

sistema complexo e caótico que envolvesse o fenômeno meteorológico dos tornados. Após a

construção dos desenhos os grupos apresentaram e discutimos coletivamente a presença dos

conceitos de sensibilidade as condições iniciais, bifurcação, trajetória probabilística,

irreversibilidade e a seta do tempo, estruturas dissipativa e imprevisibilidade. A segunda

atividade, prevista e não realizada, foi a construção de um mapa logístico com o uso do Excel.

23

Esperava-se que os alunos fizessem essa atividade e que ela contribuísse na organização

do conhecimento na estrutura cognitiva dos alunos acerca dos conceitos sobre sensibilidade as

condições iniciais. Porém, as dificuldades apresentadas pelos alunos no trabalho com o Excel

impossibilitaram a sua realização e os registros dos dados. Assim, a construção dos mapas

logísticos acima foi feita pelo professor e apresentada de forma expositiva. Decidimos por

manter essa atividade na SD como sugestão para outros professores que queiram usar a SD.

A segunda atividade, também foi realizada com os mesmos grupos, consistiu na

construção de um mapa conceitual sobre o conceito de complexidade e caos que emergem do

fenômeno dos tornados. Para construção dos mapas foi necessária uma discussão prévia sobre

o conceito de mapa de conceito. Por se tratar do primeiro contato com esse tipo de atividade

usamos o seguinte esquema: a) conceituamos o que é mapa conceitual; b) apresentamos um

mapa conceitual como exemplo; c) instalamos o programa Cmap tools3 nos computadores de

cada grupo; d) construímos os mapas conceituais.

Essa atividade foi de difícil realização devido à dificuldade apresentadas pelos alunos

com a manipulação do programa. O tempo gasto para essa atividade foi maior que o

programado.

E) Quinto encontro

Nesse encontro fizemos a exposição em forma de ressumo dos conceitos com a ajuda

dos alunos e em seguida uma discussão coletiva a partir das perguntas das questões abaixo.

Durante as discussões fizemos uma retomada dos conteúdos que não ficaram bem colocados

pelos estudantes. Para a coleta de dados para análise e identificação de uma aprendizagem

significativa. Os alunos receberam folha em branco e se expressaram livremente. Para isso foi

sugerido que eles registrassem em forma de texto, desenho, mapa conceitual. Participaram

3 O programa CmapTools (CAÑAS et al., 2004b) - disponível para download em <http://cmap.ihmc. us>),

desenvolvido no Instituto para a Cognição Humana e Mecânica (Institute for Human and Machine Cognition -

IHMC), alia as qualidades dos mapas conceituais ao poder da tecnologia, particularmente da internet. O software

torna fácil para usuários de todas as idades elaborarem e modificarem mapas conceituais da mesma forma que um

processador de texto facilita a produção textual. Ele permite aos usuários trabalharem juntos à distância na

elaboração de seus mapas; publicarem seus mapas conceituais para o acesso de qualquer pessoa conectada à

internet; fazerem links para fontes externas em seus mapas para melhor explicarem seus conteúdos; e buscarem

informações relacionadas ao mapa na Rede Mundial de Computadores. O programa permite ao usuário fazer links

com fontes (fotos, imagens, gráficos, vídeos, mapas, tabelas, textos, páginas de internet ou outros mapas

conceituais) localizadas em qualquer parte da internet ou em arquivos pessoais a conceitos, ou interligar palavras

em um mapa conceitual simplesmente clicando e arrastado os elementos desejados. (NOVAK, CAÑAS, 2010, p

16)

24

dessa atividade apenas dez alunos. Os outros sete se ausentaram do último encontro por motivos

desconhecidos.

Visões epistemológicas em/para o debate

Após a realização das atividades foram organizadas rodas de debates onde os alunos

expressavam suas opiniões, conceitos e faziam pergunta sobre os temos. Nesse momento foi

feito registros mediante a gravação de áudio onde os alunos se identificavam a fim de

acompanhar a transição do perfil epistemológico dos estudantes.

Procurávamos nessas entrevistas além de verificar a ocorrência de aprendizagem

significativa verificar também como os conceitos se localizavam no campo da subjetividade e

da objetividade do realismo, onde os resultados permitiram a construção de um perfil

conceitual. A preocupação do pesquisador era saber como esse conhecimento tinha se

organizado na estrutura cognitiva dos estudantes, se eles fizeram uma transição epistemológica

dos conceitos associados a física clássica para a FMC no campo da física da complexidade e do

caos.

Procuramos também com essas informações construir um perfil epistemológico

bachelardiano. Para isso, apresentamos abaixo (Quadro 4), um quadro de indicadores com o

intuito de servir como referencial para a análise da unidade. Construímos também quadros que

indicam as concepções prévias dos alunos e as concepções após a intervenção pedagógica

mediada pela sequência didática. As categorias nas quais se agrupam os dados coletados

encontram-se na convergência dos conceitos manifesto e no campo epistemológico que se

encontram, mesmo que suas manifestações não tenham um nível de profundidade cujos

elementos conceituais tenham uma intenção filosófica. Para tanto, fizemos diversas perguntas

nos questionários e diversas intervenções nas entrevistas a fim de proporcionar uma mais clara

manifestação dos conceitos em diversos contextos. Ao final, concluímos que os dados coletados

permitiram também a construção de um perfil de conceitos, ou seja:

A abordagem dos perfis conceituais é baseada, precisamente, na ideia de que

as pessoas exibem diferentes maneiras de ver e conceitualizar o mundo e,

desse modo, diferentes modos de pensar que são usados em contextos distintos

(MORTIMER, 2011)

Para Mortimer, cada perfil conceitual modela a diversidade de modos de pensar ou de

significação em relação com um dado conceito. Dessa forma percebeu-se que cada aluno tem

um modo particular de pensar ou de atribuir significados aos conceitos de: irreversibilidade,

bifurcação, estrutura dissipativa, sensibilidade às condições iniciais. Como veremos, inúmeras

25

palavras que surgem no vocabulário cotidiano dos estudantes não tem o mesmo significado

científico no contexto do conhecimento de conceitos da Complexidade como se vê no Quadro

4. Essa diversidade de conceitos foi extraída de uma diversidade de fontes de dados que

constitui a unidade de contexto.

Para os campos epistemológicos em que os conceitos foram agrupados foram divididos

em três zonas: racionalismo ingênuo; realismo clássico; realismo complexo ou caótico.

A época histórica em que a racionalidade associada a cada zona de perfil conceitual

permite caracterizar a evolução de conceitos da complexidade. No realismo ingênuo a

significação de conceitos de complexidade, caos e tornados, encontra-se no patamar das

experiências cotidianas. Nesse contexto, algo complexo tem significado de complicado ou de

difícil quando se diz “esse é um problema complexo”. Para a significação ingênua de caos se

entende como algo que é de desordem ou de confusão e se entende no contexto em que se diz

“o trânsito hoje está um caos”. Para a significação de tornado se aplica quando se diz, por

exemplo “que lugar bagunçado, parece até que passou um furacão”.

Quadro 3. Indicadores para análise de conteúdo e construção do perfil epistemológico

dos conceitos de Complexidade, Sistema caótico, fenômeno do tornado.

Perfil

epistemológico

Complexidade Sistema caótico Fenômeno do tornado

Racionalismo ingênuo - muito complicado

- muito difícil

- com muitas peças

- Bagunçado

- Desordenado

- Tumultuado

- Relação com tragédias

- Desorganizado

- Associado a divindade

- O mesmo que furacão

- Cheque entre ar quente e

ar frio

Racionalismo clássico - Sistema com muitas

partes

- é um modelo ideal

- desorganizado

- junção de muitas

partes

- proporcionalidade

entra as grandezas

- Identifica exemplos

clássicos

- com trajetória não

definida

- apresenta atrito

- para com o tempo

- dissipa energia

- não periódico

- causalidade

- Fenômeno explicado pela

física clássica

- Fenômeno com muita

energia

- Fenômeno muito forte e

destruidor

- Fenômeno convectivo

Racionalismo Caótico - Identifica outros

fenômenos complexos

- Exemplifica com

sistema microscópico

- Grandes estruturas

formadas por partes

simples

- É um modelo real

- junção de muitas

partes que interagem

Sensível as condições

iniciais

- Imprevisível

- Com “trajetória”

probabilística

- Apresenta não

linearidade

- Apresenta bifurcações

- Apresenta

irreversibilidade

- apresenta atratores

Apresenta SCI

- Não tem trajetória definida

- É um sistema

imprevisível

- É um sistema complexo

- Apresenta bifurcações

- Fenômeno caótico

- não tem periodicidade

- apresentam estrutura

instável

26

Por outro lado, do ponto de vista da ciência os conceitos na complexidade e caos, que

explicam os tornados, são caracterizados por outras significações cuja formulação nasceram na

mecânica newtoniana. Os conceitos de tempo onde se explica a periodicidade, a reversibilidade,

o conceito de energia e o conceito de trajetória, presentes na linearidade dos sistemas

diferenciáveis. Todos esses, são conceitos baseado na física do equilíbrio formulado a partir de

sistemas ideais, no entanto a maioria dos sistemas dinâmicos na natureza são sistemas instáveis

e operam afastados do equilíbrio (Prigogine, 1996).

Quando Prigogine & Stengers afirmam que “A termodinâmica de equilíbrio constitui,

na verdade, a primeira resposta dada pela física ao problema da complexidade da natureza. Essa

resposta formula-se como dissipação da energia, esquecimento das condições iniciais e

evolução para a desordem” (1997, p. 103), nos permitem significar que a complexidade como

visão epistemológica tem seu início a partir desse momento histórico.

Por outro lado, o enunciado original da segunda lei da termodinâmica “A entropia do

universo cresce na direção de um máximo”, por Clausius, ou “sobre a tendência universal na

natureza à dissipação da energia mecânica”, por Thomson, também parecem apontar para

sentidos iniciais do conceito de complexidade.

Por outro lado, Boltzmann acreditava que, para compreender a segunda lei e o aumento

espontâneo de entropia, é necessário afastarmo-nos de uma descrição de trajetórias dinâmicas

individuais, já que é o conjunto das colisões no interior da população de partículas, os

ensembles, o que produz a tendência global que se descreve como aumento de entropia. Mas a

irreversibilidade não seria uma propriedade fundamental da natureza, mas seria uma

consequência do caráter aproximado do cálculo, isto é um efeito subjetivo (Michinel, 2001, 43

-45).

27

2. RESULTADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para a construção do corpus textual analisado na pesquisa foram usados diversos

instrumentos de coleta de dados para produzir os resultados. O corpus textual foi analisado na

busca de significado dos conceitos estabilizados na estrutura cognitiva individual dos alunos e

que se manifestam através da fala, da escrita ou de outros tipos de expressões (Mortimer, 2011).

Assim, que os questionários, gravações dos debates coletivos na aula e a construção de mapas

conceituais foram realizadas para constituição do corpus da pesquisa. Esses instrumentos são

ferramentas pedagógicas que fazem partes da SD aplicada na pesquisa. Esse material permitiu

a construção do perfil epistemológico individual dos alunos participantes e a verificação da

aprendizagem significativa.

Dos registros escritos e outras expressões, foi feita a categorização por análise de

conteúdo segundo Bardin (1979). Os dados obtidos foram coletados em dois momentos

distintos: os primeiros antes da aplicação da sequência didática; o segundo, após cada etapa de

aplicação da SD.

O Quadro 5 apresenta o conjunto de atividades de pesquisa que permitiram a coleta de

dados para constituiu o corpus a partir do qual se fez a análise de conteúdo. Foi daí que se

levantaram, as informações que permitiram, através da análise de conteúdo, responder à questão

que a pesquisa propõe.

O propósito das atividades descritas no Quadro 4 foi organizar a coleta de dados, escritos

e gravados, sobre o conhecimento prévio dos alunos a partir das questões apresentadas no

questionário I (Apêndice A), sobre a mudança conceitual após a aplicação da SD a partir das

respostas ao questionário II (Apêndice B) e sobre a aprendizagem significativa a partir do

desdobramento das atividades específicas da SD que foram avaliadas com produção dos mapas

conceituais.

7.1. As categorias de análise

Os conceitos que se originam na física dos sistemas dinâmicos ditos complexos e

caóticos podem-se classificar nas diversas zonas de perfil epistemológico como fez Bachelard

(1987) com os conceitos de massa e de energia. Porém, a concepção de complexidade e caos

como outra epistemologia, na filosofia da ciência, leva a acrescentar um novo patamar aos que

Bachelard propõe (que vão do realismo ingênuo ao racionalismo discursivo dialético, passando

pelo empirismo claro e positivista, o racionalismo clássico da mecânica racional e o

28

racionalismo completo-relativista) o que implica observar a evolução histórica de conceitos da

física, agora locados em essa zona epistemológica, reconhecida como o racionalismo caótico

(Michinel, 2001). Assim, a descoberta das estruturas dissipativas que se origina de sistemas

complexos e instáveis permite um novo olhar sobre os conceitos de tempo e energia (Martins,

2004; Michinel, 2001). A evolução histórica desses conceitos difere das concepções que se têm

delas na física clássica e na física quântica por serem estas fundamentadas em leis deterministas

e reversíveis no tempo.

A física da complexidade, da instabilidade e da irreversibilidade dos sistemas dinâmicos

joga uma nova luz sobre os conceitos, diferente à dás física clássica e quântica. Os conceitos

Quadro 4. Atividade de pesquisa para a coleta de dados durante a SD

Encontros Atividade De Pesquisa Objetivo Forma de coleta de dados

AULA 01 Apresentação do minicurso e dos

objetivos de pesquisa e aplicação

do questionário I.

Socialização da matéria em

estudo e seus objetivos.

Resposta ao questionário I.

Discursão prévia relacionada a

conceitos que caracterizam a

complexidade, o caos e os

tornados.

Identificação dos

subsunçores preexistentes

sobre a matéria a ser

aprendida.

Manifestação livre dos

estudantes

(Registro escrito).

AULA 02 Discursão sobre o filme Twister

relacionado ao fenômeno dos

tornados.

Construção dos

organizadores prévios sobre

tornados.

Manifestação livre dos

estudantes (Gravação).

Discursão de aspectos que

caracterizam o fenômeno dos

tornados.

Aprendizagem significativa

sobre os tornados.

Manifestação livre dos

estudantes

(Registro escrito).

AULA 03 Leitura e discursão do texto do

caderno paradidático.

Construção de

organizadores prévios sobre

conceitos de Complexidade

e Caos.

Não se aplica.

Apresentação e discursão dos

conceitos que caracterizam a

física da complexidade nos

tornados.

Aprendizagem significativa

de conceitos de

Complexidade que

caracterizam os tornados.

Não se aplica.

Discursão e produção textual a

partir das questões propostas no

questionário I.

Aprendizagem significativa

–Diferenciação Progressiva.

Manifestação livre dos

estudantes

(Registro escrito e

gravação).

AULA 04 Aplicação do questionário II após

aula expositiva e leitura do texto

do caderno paradidático.

Aprendizagem significativa

– Diferenciação

Progressiva.

Resposta ao questionário II.

Discursão dos conceitos de

complexidade e caos que

explicam o tornado.

Aprendizagem significativa

– Integração Reiterativa.

Manifestação livre dos

estudantes

(Registro escrito e

gravação).

AULA 05 Avaliação da aprendizagem

significativa de conceitos da física

da complexidade e do caos a partir

da produção de mapas

conceituais.

Aprendizagem significativa

– Organização hierárquica

dos conceitos.

Construção de mapas

conceituais.

29

físicos ganham na física da complexidade um olhar probabilístico, com predominância da

incerteza. Daí que os conceitos de bifurcação, sensibilidade ás condições iniciais,

irreversibilidade (seta do tempo), estruturas dissipativas, auto-organização permite uma nova

compreensão dos fenômenos afastados do equilíbrio. Particularmente se apresenta, neste

trabalho, tais conceitos entendidos pelos estudantes nas zonas epistemológicas do Racionalismo

Ingênuo, Racionalismo clássico e Racionalismo caótico.

2.2. Produção do Corpus de Análise

Nesta seção trata-se da categorização das concepções conceituais e significados que

surgem na expressão dos alunos nos diversos momentos da aplicação da SD. Assim, a

atividades propostas na SD tem o intuito de investigar as concepções, prévias e posteriores à

intervenção pedagógica, mediadas pelas atividades de: leitura do caderno paradidático,

observação e discussão dos filmes “Twister” e “Matemática do Caos”, aulas expositivas e

construção de mapas conceituais. Como descrito anteriormente, esse conjunto de atividades

auxiliaram na coleta de dados por meio de questionários, entrevistas, gravações dos debates.

A questão que se procurou responder, nos diversos momentos das atividades foi, o que

significa para o aluno os conceitos de: a) Probabilidade, no sentido da sensibilidade às

condições iniciais e não causalidade; b) Bifurcação, no sentido de trajetória probabilística; c)

Irreversibilidade com ênfase na seta do tempo; d) Estrutura dissipativa que incorre na

instabilidade dos sistemas. Como já expomos na introdução deste trabalho, o objetivo dessa

pesquisa é a aprendizagem significativa desses conceitos a partir do estudo dos tornados

mediado por uma SD. Surge desse objetivo a intenção de verificar como ocorre o deslocamento

conceitual provocado pelo estudo dos tornados na perspectiva da complexidade.

As atividades propostas destinadas à coleta de dados possibilitaram a construção de

quadros ilustrativos para facilitar os procedimentos de categorização nas zonas do perfil

epistemológico, e agrupamentos dos conceitos e a pré análise que constituiu a seleção do

material bruto produzidos a partir das atividades com os estudantes. Para Franco (2008) esse

procedimento é indispensável e fundamental para auxiliar a criação das categorias, fazer

inferência, produzir resultados, a partir dos dados, a serem submetidos à Análise de Conteúdo.

Todo o material coletado durante os encontros: produção textual livre, respostas aos

questionários, gravações das discursões e os mapas conceituais, foram organizados para uma

leitura flutuante (BARDIN, 1979).

Após a fase de leitura flutuante, o material coletado foi agrupado em categoria de

compreensão conceitual. Começando pela análise dos dados do primeiro contato com os

30

estudantes, para classificação por aluno, por conceito e por campo epistemológico como

apresentado nos quadros. Para isso, foram identificadas as concepções dos alunos sobre

conceitos gerais referente à teoria da complexidade, do caos e tornados e depois os

conhecimentos específicos que se origina desse mesmo conteúdo e encontramos os resultados

descritos nas seções a seguir.

Visando preservar a identidade dos alunos participantes da pesquisa, escolheu-se

identifica-lo pelas iniciais de seus nomes e sobrenome.

2.3. Concepções previas dos alunos sobre o significado de caos, complexidade e tornados.

Apresenta-se a seguir os resultados dessa investigação e sua análise na seguinte ordem:

quadros com a transcrição das respostas ao questionário I (apêndice A); transcrição de uma

fração dos diálogos ocorridos nos debates coletivos das aulas que foram orientados pelo roteiro

de atividade I (Apêndice C); quadros de análise de resultante da Análise de Conteúdo; por fim

apresentamos os mapas conceituais construídos pelos alunos.

2.4. Em relação a aprendizagem Significativa

A fim de verificar a organização e acomodação na estrutura cognitiva dos estudantes

analisamos a construção dos mapas conceituais produzidos, debatidos e apresentados pelos

grupos em uma atividade colaborativa.

31

Figura 2 - Mapa conceitual construído pelos alunos: AS, CA, EB, EP, FC. Complexidade

32

Figura 3 - Mapa conceitual construído pelos alunos AS, CA, EB, EP, FC. Caos

33

A partir dos mapas podemos concluir que os alunos participantes das atividades

proposta na sequência didática conseguiram organizar em sua estrutura cognitiva os conceitos

da teoria do caos e da complexidade. É possível que em algumas atividades os alunos tenham

reproduzido mecanicamente o conteúdo a partir da leitura do texto paradidático proposto.

Porém, fica evidente que um aluno ou um grupo de alunos somente conseguiria construí os

mapas conceituais acima, sem consulta ao material, se esse conteúdo tivesse, primeiramente,

organizado em sua estrutura cognitiva.

Obviamente a teoria do caos e da complexidade está fundamentada em um arcabouço

matemático “poderoso”, cujas equações somente são resolvidas com a ajuda computacional.

Justifico que, não era esse o propósito dessa pesquisa, estudar a teoria da complexidade e do

caos usando ferramentas matemáticas. Até por que, muitos bons cursos de física e matemática

não contempla a disciplina, comumente chamada de “Física dos sistemas complexos” (Tavares,

2011). O objetivo da pesquisa é o ensino de conceitos da teoria da complexidade e do caos

determinístico a partir do fenômeno dos tornados, mediada por uma SD produzindo uma

aprendizagem significativa.

Podemos observar que o uso da SD nas atividades do ensino de Física é uma ferramenta

eficaz que favorece a aprendizagem. Mesmo, trabalhando com conteúdo no campo da física

Figura 5 - Mapa conceitual construído pelos alunos IS, IO, ID, JV, KS

34

moderna e contemporânea, onde os conceitos são menos populares nas salas de aula e nos livros

didáticos, uma SD funciona como um forte aliado ao processo de ensino aprendizagem.

Ademais, concluímos que, as dificuldades apresentadas pelos estudantes de nível médio, no

aprendizado da Física, podem ser atenuadas com o uso adequado de recursos pedagógicos e

tecnológicos que pertencem ao seu cotidiano. Os alunos aprendem, todos aprendem, todos

querem aprender.

Os resultados obtidos nessa pesquisa testificam a possibilidade de ensino de conceitos

de física moderna e contemporânea no campo da complexidade e do caos determinístico e obter:

uma aprendizagem significativa dos conceitos de SCI, bifurcações, irreversibilidade,

imprevisibilidade, trajetória probabilística, estrutura dissipativas; um deslocamento

epistemológico desses conceitos a partir do realismo ingênuo transitando no realismo clássico

e migrando para o realismo complexo. Observa-se nos alunos sujeitos dessa pesquisa um novo

espírito científico em concordância com Bachelard (1996). Do ponto de vista pedagógico, os

resultados também, apontam que apresentado um problema mais geral, como foi o caso o da

caracterização dos tornados, os alunos aprendem mais facilmente e significativa os conteúdos

mais inclusivos que resolve o problema maior.

Esse trabalho foi feito no âmbito da pesquisa qualitativa, cujas características foram

mostradas em seções anteriores. A obtenção dos resultados dessa foi feita a partir dos dados

coletados nos questionários abertos, entrevistas não estruturadas, manifestações livres e

observação do pesquisador. Com esse material se constituiu o corpus da pesquisa cuja leitura,

interpretação e inferências foram feitas com o auxílio da análise de conteúdo. Os resultados

expressos nos quadros foram obtidos com uma leitura flutuante do material de análise que

culminou na categorização e interpretação das UR e das UC.

Os quadros que expressam os resultados indicam que alunos que não conhecem

adequadamente as teorias e princípios da física clássica respondem à questão de significado de

conceitos a partir a etimologia da palavra ou de comparações com situações que expressem esse

significado. Como podemos ver nos quadros o significado de complexidade e de caos, antes da

intervenção pedagógica são expressos como significado de complicado e de desordenado.

Saindo do realismo ingênuo e passando no realismo complexo os quadros mostram que o

conceito de estruturara dissipativas, por exemplo, associados a gasto de energia e

imediatamente é confundido com o conceito de força quanto se trata da destruição feita por

tornados. É importante considera o evidente deslocamento epistemológico para o campo da

complexidade quando parte dos alunos assumem que os tornados têm trajetória probabilística,

que são imprevisíveis, que são constituídos de pequenas partes que interagem não linearmente

35

como mostrado nos quadros. De acordo com Bachelard (1987), essa plasticidade dos conceitos

nos diversos campos epistemológicos testificam o processo de construção de um novo espirito

científico. Para Prigogine (1996), olhar a dinâmica dos fenômenos reais com as lentes da

complexidade permite uma migração para o universo das incertezas, das flutuações das

probabilidades.

Outra questão importante que os resultados da pesquisa mostram, é a mudança de

significado dos conceitos como o de SCI. Previamente esse conceito tinha o significado ingênuo

de “efeito dominó”, “fácil de mudar” ou tinha o significado causal, invocados na terceira lei de

Newton. A posteriori, esse conceito é deslocado para o campo da complexidade e é expresso

nos quadros por parte os alunos quando assumem que pequena variação nas condições iniciais

de um sistema pode provocar grandes variações em seu estado futura.

Os mapas conceituais construídos pelos alunos mostram, como era esperado, a

organização em sus estrutura cognitiva, de conceitos da complexidade e do caos que emergem

dos tornados. De acordo com Ausubel, (2003) e Moreira, (2011) A organização hierárquica de

conceitos na estrutura cognitiva mostra a evidência de aprendizagem significativa.

Os resultados mostrados nos quadros e nos mapas conceituais permite concluir que é

possível o ensino de conceitos da teoria da complexidade e do caos a partir dos tornados para

obtenção de uma aprendizagem significativa. Essa máxima responde à questão proposta nessa

pesquisa cujos objetivos foram alcançados. Ela também permite verificar que os resultados

esperados estão de acordo com o previsto: uma aprendizagem significativa de conceitos de

Física moderna e contemporânea mediada por uma SD.

Portando a pesquisa mostra como novidade das pesquisas no campo de ensino de Física

uma possibilidade inédita de ensino que permite: analisar processo termodinâmico sob a ótica

da física do não equilíbrio; incluir fenômenos ambientais, como os tornados, sob o ponto de

vista da complexidade e do caos; incluir, no nível médio textos que versam sobre a teoria da

complexidade e do caos; levar para EM teorias modernas construídas por cientistas

contemporâneo, como Prigogine, e que difere da mecânica de Newton.

36

CONCLUSÕES

O desdobramento deste trabalho teve como objetivo alcançar uma aprendizagem

significativa de conceitos da complexidade e do caos com o estudo do fenômeno dos tornados

por meio de uma SD. Outros objetivos secundários, insurgentes do objetivo maior constitui na

observação de possíveis deslocamento das zonas de perfil epistemológico da estrutura

conceitual dos estudantes a partir desse estudo. Daí que se buscou apoio nos aportes teóricos de

Ilya Prigogine de onde se discutiu o comportamento instáveis de sistemas complexos, de David

Ausubel e Gaston Bachelard, referências para as discussões pedagógicas e epistemológicas

deste trabalho. Com a intenção de responder à questão proposta no início deste trabalho de

pesquisa qualitativa foram usados diversos instrumentos de coleta de dados dos quais

prevaleceram as respostas aos questionários, as gravações das aulas e a construção dos mapas

conceituais.

Resta agora apontar as conclusões geradas a partir das informações decorrentes dos

resultados tendo em vista os objetivos em questão, como será feito a seguir. Nesse sentido

apresentar-se-á a partir de alguns desses resultados as conclusões que demostram ou não

evidencias de uma aprendizagem significativa e da evolução da significação dos alunos a

conceitos estudados da zona do realismo ingênuo para a zona do realismo caótico. Procura-se

não perder de vista que este trabalho é uma pesquisa de ensino de ciência cuja hipótese testada

é a possibilidade de introdução do ensino de temas da física moderna e contemporânea (teoria

da complexidade e do caos determinístico) no contexto da física ambiental.

Uma leitura dos resultados e sua análise

Os resultados apresentados no capítulo anterior permitiram a priori, verificar nos alunos

a dificuldade de expressar-se seja por meio da escrita ou da oralidade. Essa dificuldade

constituiu um obstáculo ao caminho metodológico delineado por esta pesquisa. No entanto

fatores positivos como o engajamento social e a vontade de aprender uma nova abordagem no

campo da física moderna permitiram a produção de material do qual originou o corpus de

análise. Esse contexto se mostrou adequado para uma aprendizagem significativa que assume

como pressuposto primeiro a intenção do aprendiz em querer aprender (Moreira 2011).

É necessário sinalizar também as limitações desta pesquisa entre as quais se destacam,

a impossibilidade de construir um perfil epistemológico individual dos alunos e a ausência da

37

construção de mapas conceituais individuais. Dessa forma torna-se limitada as conclusões que

se pode tirar devido à falta de uma exploração maior em todos os contextos em suas formas de

expressões individuais. Assim, fica claro que a caracterização da aprendizagem significativa e

a caracterização dos perfis epistemológico se deu pela utilização da sequência didática e do

texto paradidático que se constituem materiais de estudo potencialmente significativos bem

como os instrumentos de coleta de dados usados em diversos momentos da pesquisa. Com

relação a aprendizagem significativa usamos, em Ausubel, os conceitos de: conhecimentos

prévios, organizadores prévios, a diferenciação progressiva, a reconciliação integrativa e mapas

conceituais. Com relação a caracterização dos perfis usamos os conceitos de perfil

epistemológicos bachelardiano categorizado nas zonas da racionalidade ingênua e da

racionalidade clássica e avançamos para a zona da racionalidade caótica. Reconhecemos

também que este último não se encontra em Bachelard. A inclusão desse conceito

(racionalidade caótica) se encontra no trabalho de Michinel (2001) na construção do perfil

epistemológico para energia. Portanto é sobre essas lentes e com essas limitações que se chegou

ás conclusões apresentadas doravante.

Constata-se a significação dos conceitos de trajetória, de irreversibilidade

previsibilidade que os alunos têm, avançaram nas zonas de perfis epistemológico. Esse processo

ocorreu, nos diversos momentos da intervenção realizada com as atividades da sequência

didática. Essa constatação se dá na leitura dos quadros construídos a partir das respostas aos

questionários I que revelaram o conhecimento prévio dos alunos e das respostas ao questionário

II que revelaram o conhecimento adquirido mediante as atividades da SD. Na zona do realismo

ingênuo os conceitos associados a complexidade e ao caos têm significados, para os alunos, no

nível empírico com exemplos do cotidiano e de recursos linguísticos arbitrário.

As inferências feitas nas respostas aos questionários permitem perceber a

ressignificação dos conceitos dos alunos. Um olhar aos quadros apresentados no capítulo

anterior permite a observação da ressignificação, que os alunos fizeram dos conceitos de

complexidade do caos que emergem dos tornados como: a sensibilidade às condições iniciais;

bifurcações; irreversibilidade; estrutura dissipativa e previsibilidade. A compreensão desses

conceitos permitiu aos alunos olhar o fenômeno ambiental sob as lentes da complexidade

abandonando as concepções ingênuas oriundas do empirismo ou das certezas e previsibilidade

da mecânica clássica e da mecânica quântica.

38

Em relação a aprendizagem significativa

A busca por uma aprendizagem significativa foi o foco da aplicação da SD e do texto

paradidático cujo objetivo foi a facilitação da aprendizagem permitindo uma melhor

acomodação desse novo conhecimento na estrutura cognitiva dos alunos. Daí que a SD

viabilizou a aprendizagem significativa que se procurava. Essa ferramenta pedagógica foi

construída na perspectiva da Uepes de Moreira (2012), Méheut e Psillos (2005), nessa

perspectiva foi usado duas dimensões pedagógica: a primeira dimensão é a pedagógica que

estabelecia uma comunicação entre professor e aluno e a dimensão epistemológica que

estabelece uma comunicação entre o conhecimento científico e o mundo físico.

Os resultados indicam que o uso da sequência didática alcançou os resultados que se

procurava. Isso está evidenciado quando lemos nos quadros destinados a apresentação dos

resultados que expressam as respostas dos alunos às questões apresentadas. Isso aponta para

eficácia da SD que proporcionou aos alunos uma aprendizagem significativa que ocorreu nos

seguintes momentos da pesquisa descritos a seguir.

Na elaboração de um material potencialmente significativo foi feita a organização

sequencial do conteúdo e da estrutura conceitual da disciplina. O material foi organizado

apresentando as ideias, fenômenos e conceitos mais geral e inclusivo no início do processo

instrucional. As ideais preliminares do fenômeno do tornado e conceitos sobre complexidade e

caos serviram de ancoragem conceitual para a aprendizagem subsequente. Essa organização

indica que o material é potencialmente significativo.

O levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes se deu a fim de reconhecer

o que os alunos já sabiam sobre a matéria estudada e os resultados indicaram que as concepções

prévias existentes não tinham significado na perspectiva do realismo caótico. A implementação

dos organizadores prévios foi feita com a exibição do filme Twister e a leitura do texto

introdutório e os resultados permitiram concluir que o uso dessa atividade serviu como um

instrumento “ponte” que permitiu o enlace entre o que os estudantes significavam dos conceitos

apresentados nos primeiros encontros e a sua significação no final da aplicação da SD, isto é,

do conhecimento sabido e o conhecimento a ser aprendido. O papel dos organizadores prévios

se revelou nas respostas do questionário II quando os alunos se reportaram ao tornado a partir

das cenas do filme para explicar conceitos da complexidade e do caos. Isso se lê nas respostas

do aluno SM quando foi perguntado: O que significa para você a palavra bifurcação no

contexto dos tornados? Resposta do aluno SM: A bifurcação é o ponto de virada, o local

onde o tornado decide seguir o caminho A ou B. Na resposta do aluno SM se evidencia que o

aluno recorre aos organizadores prévios, o filme e o texto para se expressar. O desdobramento

39

do curso seguiu com a formação de conceitos a partir da apresentação das ideias gerais da

disciplina.

A apresentação das aulas resultou na diferenciação progressiva com o detalhamento,

diferenciação, especificidade das ideias gerais. Com esse intuito apresentamos os conceitos de

complexidade e caos sem mencionas os conceitos que os caracterizam. A reconciliação

integrativa ocorreu quando aos alunos exploraram a relação entre as proposições e conceitos.

Nesse momento chamamos a atenção para as similaridades e diferenças entre as proposições e

conceitos e a reconciliação de inconstâncias reais e aparentes existentes nos conceitos de

complexidade e caos determinístico que emergem dos tornados.

Esse processo pedagógico e seus resultados permitiu concluir que ocorreu uma

aprendizagem significativa. De outra forma as sequências lógicas apresentadas pelos grupos de

trabalho na construção dos mapas conceituais apresentados nas figuras 11, 12 e 13 Indicam a

ocorrência de uma aprendizagem significativa. Os mapas conceituais construídos pelos alunos

mostram, como era esperado, a organização, em suas estruturas cognitivas, de conceitos da

complexidade e do caos que emergem dos tornados. De acordo com Ausubel, (2003) e Moreira,

(2011) A organização hierárquica de conceitos na estrutura cognitiva mostra a evidência de

aprendizagem significativa. Percebe-se também que não é possível afirmar, a partir dos

resultados obtidos, que os conteúdos de fractalidade e atratores foram alcançados. Porém esses

resultados podem fazer partes de pesquisa futuras.

Os resultados mostrados nos quadros e nos mapas conceituais permite concluir que é

possível o ensino de conceitos da teoria da complexidade e do caos a partir dos tornados para

obtenção de uma aprendizagem significativa. Essa máxima responde à questão proposta nessa

pesquisa cujos objetivos foram alcançados. Ela também permite verificar que os resultados

esperados estão de acordo com o previsto: uma aprendizagem significativa de conceitos de

FMC mediada por uma SD. Verifica-se que as SD são realmente, uma ferramenta pedagógica

de grande potencial instrucional que permite a articulação do conteúdo a ser aprendido numa

dimensão pedagógica e epistemológica resultando numa aprendizagem significativa.

Portanto, a pesquisa mostra como novidade das pesquisas no campo de ensino de Física

uma possibilidade de ensino que permite: analisar processo termodinâmico sob a ótica da física

do não equilíbrio; incluir fenômenos ambientais, como os tornados, sob o ponto de vista da

complexidade e do caos; incluir, no nível médio textos que versam sobre a teoria da

complexidade e do caos; levar para EM teorias modernas construídas por cientistas

contemporâneo, como Prigogine, e que difere da mecânica de Newton.

40

Referências

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Lisboa: Plátano, v. 1, 2003.

AUSUBEL, David Paul et al. Educational psychology: A cognitive view. 1968.

AUSUBEL, David P. The psychology of meaningful verbal learning. 1963.

AUSUBEL, David P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva.

Lisboa: Plátano, v. 1, 2003.

BACHELARD, Gaston. A filosofia do não: filosofia do novo espírito científico. 1987.

BACHELARD, G. A Formação do Espírito Científico. Construção para uma psicanálise do

conhecimento. Rio de Janeiro 1996.

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Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. 360p.

FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Análise de conteúdo. Líber Livro, 2008.

LAMARQUE, Tatiele; TERRAZZAN, Eduardo A. Física Moderna nos livros didáticos do

Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM). XVIII Simpósio

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MÉHEUT, Martine; PSILLOS, Dimitris. Teaching–learning sequences: aims and tools for

science education research. International Journal of Science Education, v. 26, n. 5, p. 515-

535, 2005.

MICHINEL, José Luis. O funcionamento de textos divergentes sobre energia com alunos

de Física: a leitura no ensino superior. Tese de doutorado. UNICAMP, FE. Campinas: SP. 2001

MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa. Brasília: Ed. da UnB, 1998.

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MOREIRA, M. A. Unidades de Ensino Potencialmente Significativas–UEPS. Temas de ensino

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MORTIMER, Eduardo F.; SCOTT, Phil; EL-HANI, Charbel N. Bases teóricas e

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NEWTON, Isaac. The principia: mathematical principles of natural philosophy. Univ of

California Press, 1999.

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elaborá-los e usá-los. Doi: http://dx. doi. org/10.5212/PraxEduc. v. 5i1. 009029. Práxis

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ZABALA, Antoni; ROSA, Ernani F. da F. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre:

Artmed, 1998.

42

Apêndice A

Questionário I para investigação dos conhecimentos prévios dos estudantes

Questão 01.

O que representa para você a palavra “caos”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 02.

O que representa para você a palavra “complexidade”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 03.

O que representa para você, um tornado, e como ele se forma?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 04.

O que representa para você a frase “sensibilidade às condições iniciais”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 05.

O que representa para você a palavra “bifurcação”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 06.

O que representa para você a expressão “Estruturas dissipativa”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

43

Questão 07.

O que representa para você a palavra “irreversibilidade”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 08.

O que representa para você a expressão “Trajetória probabilística”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 09.

O que representa para você a palavra “imprevisibilidade”?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

44

Apêndice B

QUESTINÁRIO II

CONHECIMENTOS ADIQUIRIDOS APÓS AS ATIVIDADES DA SD.

Questão 01

O que significa para você a palavra caos no contexto dos tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 02

O que significa para você a palavra complexidade no contexto dos tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 03

O que significa para você a expressão sensibilidade às condições iniciais no contexto dos

tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 04

O que significa para você a palavra bifurcação no contexto dos tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 05

O que significa para você a expressão estrutura dissipativa no contexto dos tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 06

O que significa para você a palavra irreversibilidade no contexto dos tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

45

Questão 07

O que significa para você a expressão trajetória probabilística no contexto dos tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Questão 08

O que significa para você o conceito imprevisibilidade no contexto dos tornados?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

46

Apêndice C

Uma Sequência Didática, que se suporta na teoria pedagógica da

aprendizagem significativa de Ausubel, para promover a

aprendizagem, por estudante de EM, de conceitos da teoria da

complexidade e caos determinista, mediante o ensino do fenômeno

de tornados.

ROTEIRO DAS ATIVIDADES

OBJETIVO

A realização dessa atividade tem, como objetivo fazer o registro do conhecimento prévio

dos estudantes sobre o conteúdo proposto, a física dos sistemas complexo e caóticos implicados

no período de existência de uma torando. Ao final, espera-se ter um registro escrito, gravado e

observado das proposições e conceitos associado ao conteúdo proposto.

METODOLOGIA

Os recursos metodológicos usados para alcançar os objetivos que se procura consiste no

registro das produções dos estudantes sobre três perspectivas:

• Registro de proposicional e conceitual escrito;

• Registro proposicional conceitual gravado;

• Observação, e gravação a partir das dinâmicas de grupo para debate de uma situação problema

específico.

ATIVIDADE I

1. O que você sabe sobre:

a) Certamente você já ouviu falar sobre caos? Descreva livremente tudo e todos os contextos em

que a palavra caos está presente no seu cotidiano.

b) Você consegue associar a palavra a alguma teoria da Física?

c) Quando você ouviu a palavra complexidade o que lhe vem em mente? Descreva livremente

essas imagens, conceitos e associações.

d) Você consegue associar com alguma teoria da Física?

47

e) É muito comum em nosso cotidiano fazermos a relação de causa efeito, ação consequência,

trata-se de um pensamento dual da causalidade. O que você sabe sobre esse conceito? E como

você relaciona com fenômenos do cotidiano?

f) Escreva uma história incluindo várias situações em que apareça a palavra dissipar, dissipativo

(suas variações) na sua compreensão.

g) Escreva o que você entende sobre a palavra Bifurcações. Em que contexto essa palavra pode

estar presente?

h) Você já ouviu falar no fenômeno dos tornados?

• Sabe como ocorre um tornado?

• Lembra-se de alguma notícia de ocorrência de tornados?

• Sabe como a meteorologia faz para descrevê-lo?

i) O que você entende por previsibilidade? O que é ser previsível? Como esse conceito está

associado às teorias da Física?

j) O que sabe sobre estatística? Quis outras palavras estão associadas a esse conceito?

QUESTÃO PARA DEBATE

Em sua opinião é possível prever a ocorrência de tornados? Como?

“Todos os anos nos Estados Unidos ocorrem em média de mil tornados. Em São Paulo e no

Rio Grande do Sul esse fenômeno meteorológico tem sido registrado com maior frequência

causando um enorme impacto ambiental e sócio econômico para população. No entanto numa

era de inúmeros recursos tecnológicos não é possível fazer uma previsão de longo prazo sobre

a ocorrência desse fenômeno nem descrever, durante curto período de existência, sua trajetória

por se tratar de um fenômeno caótico de estrutura complexa”.

• Após a leitura desse texto: a) descreva suas concepções acerca das palavras em negrito e faça

uma relação entre elas; b) debata, concordando ou discordando da opinião de seus colegas.

Roteiro de atividade II

TEMA: Introdução dos organizadores Prévios

QUESTIONÁRIO

1. Qual era o objetivo dos dois grupos de pesquisa apresentados no filme?

48

2. Por que os cientistas caçadores de tornados nem sempre conseguiam se posicionar na trajetória

dos tornados?

3. Por que eles sabiam a regiam de ocorrência dos tornados mais não conseguiam ter a precisão

do local e do instante em que ia acontecer com antecedência?

4. Qual o objetivo dos cientistas com o uso de muitos sensores em sua pesquisa?

5. Questão para debate:

“ Depois do conhecimento da mecânica newtoniana e a lei da gravitação universal, conseguimos

saber previamente a periodicidade e trajetória do cometa Halley. No entanto não conseguimos

prever muito antecipadamente a trajetória de um tornado. Dizemos então que esse é um

fenômeno não linear de trajetória probabilística que apresentam estrutura dissipativa, é

irreversível e nele ocorre o aparecimento de bifurcações por ser sensível as condições

iniciais”.

• Após a leitura do texto paradidático analise os significados dos conceitos das palavras em

destaque no contexto dos dois fenômenos. Faça o registro escrito antes e após o debate em

grupo.

Roteiro da atividade III

TEMA: construção de um mapa logístico

O objetivo dessa atividade é interagir com o recurso tecnológico computacional manipulando

uma ferramenta que permitisse a construção de um mapa logístico e diagrama de bifurcação.

Porém, constatamos as dificuldades dos alunos em manipular o programa NetLogo exigiria

mais tempo que o previsto. Portanto propomos a sua realização com o uso do Excel. Usamos

para realização dessa atividade a equação logística para que os alunos entendessem o que era

um mapa logístico. O que se pretendia fazer era a construção manual dos quadros abaixo a partir

da equação do segundo grau que representa o crescimento populacional de uma espécie.

𝑃𝑛+1 = 𝐶. 𝑃𝑛, (1 − 𝑝𝑛)

0 ≤ 𝑝𝑖 ≤ 1

0 ≤ 𝐶 ≤ 4

Onde:

𝑃𝑛 - Representa o tamanho da população em um dado momento

𝑃𝑛+1 - Representa o novo tamanho da população

𝐶 - Representa o parâmetro de crescimento

Começamos com um exemplo tomando um parâmetro de crescimento igual a

49

3,7 e tamanho inicial igual a 0,1000 e obtemos a seguinte tabela:

E em seguida construímos outra tabela cujo parâmetro de crescimento é igual a 3,7 e tamanho

inicial igual 0,1001 e obtivemos a seguinte tabela:

Comparamos as duas tabelas:

𝑃𝑛+1 = 𝐶. 𝑃𝑛, (1 − 𝑃𝑛)

n interações 𝑝𝑛

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

𝑃𝑛+1 = 𝐶. 𝑃𝑛, (1 − 𝑝𝑛)

n interações 𝑝𝑛

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

50

𝑃𝑛+1 = 𝐶. 𝑃𝑛, (1 − 𝑝𝑛) 𝑃𝑛+1 = 𝐶. 𝑃𝑛, (1 − 𝑝𝑛)

n interações 𝑝𝑛 n interações 𝑝𝑛

1 1

2 2

3 3

4 4

5 5

6 6

7 7

8 8

9 9

10 10

11 11

12 12

51

Apêndice D: Caderno paradidático

Teoria do Caos, Sistemas Complexos, Física

Ambiental e tornados.

I n t r o d u ç ã o a o c a p í t u l o

Fenômenos naturais como os tornados, outrora era uma experiência, principalmente dos

Estados Unidos em particular numa região conhecida como corredor dos tornados. No entanto

nos últimos anos em diversas regiões do Brasil tem ocorrido tornados que provocaram grandes

devastações, destruindo cidades e vitimando pessoas. A região sudeste é uma das mais

atingidas por tornados em particular o estado de Santa Catarina (Candido, 2008). Contudo,

questiona-se por que diante de todo o conhecimento científico e de todo o aparato tecnológico

que tem-se desenvolvido é inexistente o uso de uma metodologia que permita predizer, em

longo prazo, a ocorrência de um tornado? Nesse contexto vale refletir que a mecânica

newtoniana tem seu maior sucesso atribuída a capacidade de previsão. Por exemplo: com a

mecânica de Newton os astrônomos são capazes de predizer que o cometa Halley, que passou

na orbita da Terra em 09 de fevereiro de 1996 passará novamente em 28 de Julho de 2061.

Fica então alguns questionamentos: que fenômeno é esse? Como ele ocorre? Como a física

ambiental e outras áreas do conhecimento têm colaborado para resolver esse problema? Porque

a teoria da complexidade e do Caos é mais adequada para tratar fenômenos como o dos

tornados?

Você já ouviu falar na teoria do Caos? Certamente em algum filme ou reportagem. Porem,

como não era de seu interesse você não deu importância. Vamos recordar algumas possíveis

situações que possivelmente Já fez parte do seu cotidiano:

1. Efeito borboleta. “ O bater da asas de uma borboleta no Brasil pode causa um tornado

no texas.” (Frase de Edward Lorenz após descobrir o efeito caótico na meteorologia)

52

2. No filme Caos um jovem fica desesperado com a ocorrência de um acidente e usa suas

habilidades de retornar ao passado (reversibilidade) para concertar o futuro. Contudo

cada alteração feita no passado (condições iniciais) projetava um futuro inesperado

(imprevisibilidade)

Nesse caderno da série vamos apresentar o estudo da física dos sistemas complexos e caóticos

para explicar o fenômeno dos tornados. Será feita uma abordagem de questões ambientais a

partir de situações problematizadoras implicadas no fenômeno meteorológico dos tornados.

Dessa forma vamos verificar as limitações da física clássica e o arcabouço de conhecimento

que originou a teoria da complexidade e do caos determinístico como uma nova área da física

moderna e contemporânea.

Esta é uma das primeiras experiências de abordagem desse conteúdo no Ensino Médio na

área de Física Moderna e contemporânea. Comumente essa área é dominada pelo estudo da

Teoria da Relatividade e da Mecânica quântica. Contudo a Teoria do Caos é uma área

promissora para resolução de diversos problemas em que a física clássica e muitas vezes a

Mecânica Quântica, está limitada para resolvê-los.

Assim, o conhecimento da Teoria da complexidade e do Caos se justifica pelo seu

reconhecimento na comunidade científica como uma área do conhecimento em ascensão. O

seu uso está em evidência em diversas outras áreas como: a medicina; a engenharia; a

cosmologia; a matemática; a administração; a sociologia, a filosofia; a linguística entre outras.

Na Física do meio ambiente a teoria do Caos é adequada para o estudo de fenômenos da

natureza que carregam característica de fenômenos não lineares e dissipativos. Os fenômenos

como tornados, tufões, furacões, relâmpagos, tempestades, terremoto e tsunami são

Figura 6 - Capa do fime Efeito borboleta (a), cena do filme o parque

dos dinossauros (b)

53

estruturas Dissipativas, imprevisíveis, sensíveis as condições inicias e formados a partir de

informações de muitos elementos.

A compreensão da teoria da complexidade e do caos será evidenciada pelo domínio dos

conceitos de: Irreversibilidade; seta do tempo sensibilidade às condições iniciais, não

determinismo, bifurcação, não linearidade e dimensão fractal e suas relações. Para tanto se

faz uso de software para construção de diagramas, tabelas e de mapas logísticos na busca dos

atratores, do ponto de virada e do expoente de Lyapunov.

Tornados

Vamos começar o capitulo retratando a definição do fenômeno meteorológico dos tornados. É

um fenômeno que tem ganhado popularidade através dos cinemas e dos eventos noticiados pela

mídia jornalística. Nos Estados Unidos ocorrem, em média, mil tornados por ano causando

grande impacto socioeconômico, ambiental com subtração de muitas vidas. Nas últimas

décadas no Brasil, sobretudo, nas regiões sul e sudeste a ocorrência desse fenômeno têm sido

monitorados por institutos especializados em previsão do tempo, como o INPE (Instituto

Nacional de Pesquisa Espaciais) e o NOAA (National Oceanic and Atmospheric

Administration).

Muitos outros eventos do fenômeno ocorreram no Brasil principalmente no estado de Santa

Catarina (Marcelino, 2003). Recentemente, a cidade de Xanxeré foi vitimada por um violento

tornado que deixou muitos feridos e desabrigados (Figura 3)

A notícia veiculada no seguinte a tragédia foi:

“A defesa Civil de Santa Catarina divulgou neste domingo (26/04/2015) uma atualização dos

dados sofre os prejuízos em Xanxerê. Segundo os dados mais novos, 4.275 pessoas ficaram

desalojadas e 539, desabrigadas após os fortes ventos. Houve duas mortes e 97 feridos. Foram

2.178 casas atingidas, sendo 1.538 com danos apenas nos telhados, 360 parcialmente

danificadas e 235 totalmente destruídas. Em relação às empresas, 38 tiveram prejuízos.

Conforme relatório, em Xanxerê, os prejuízos econômicos referentes a casas alcançaram R$

49.597.184,00. Nas empresas, os danos superam R$ 45,3 milhões. As edificações públicas

tiveram danos financeiros de R$ 9,7 milhões”.

54

A formação de dos tornados

Os tornados são fenômenos meteorológico que ocorrem na atmosfera e é caracterizado pela

formação de um vórtice de diâmetro não maior que 1 km, a partir das nuvens cumulonimbus

(Figura 3).

Os tornados ocorrem em regiões de intensa instabilidade atmosférica onde flutuações pequenas

da pressão, temperatura, umidade relativa e velocidade dos ventos em condições favoráveis

podem ocasiona-los.

Algumas características geográficas favorecem a formação dos tornados, como por exemplo, a

região central dos estados unidos (Texas) é um ambiente favorável. A presença de montanhas

rochosas permite a entrada de ar frio e seco em altos níveis da atmosfera.

Os passos para formação dos tornados, de forma resumida e simplificada segue a sequência

abaixo:

http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2015/04/video-

mostra-destruicao-em-sala-de-jantar-durante-tornado-em-xanxere.html

Figura 7 Tornado em Xanxerê. 2015.

Figura 8. Tornado

55

1. A massa de ar frio encontra-se com a massa de ar quente em baixos níveis da atmosfera

proveniente da corrente convectiva de ar

2. Variação vertical intensa da velocidade do vento;

3. Formação de cilindros horizontais de ar;

4. A formação da tempestade nesse ambiente e com isso se forma uma corrente ascendente

de ar;

5. A interação de do túnel horizontal com a corrente vertical promove uma inclinação no

cilindro de ar fazendo com que ocorra a rotação da massa de ar;

6. A massa de ar é atirada para o núcleo numa zona de altíssima rotação criada pela

conservação do momento angulas.

7. Surge a partir de nuvens de natureza convectiva denominada SUPERCÉLULA;

8. Ocorre redução súbita de pressão em certos pontos do sistema convectivos;

9. As grandes flutuações verticais das temperaturas e pressão provocam turbulência no

interior das nuvens;

10. Formação do cone rotativo que dissipa grandes quantidades de energia e tem trajetória

incerta de curta duração.

Os tornados são caracterizados pela intensa coluna, de ar giratório, formada na base das

nuvens cumulonimbus, estendendo-se até o solo (Figura 4)

Existe uma vasta classificação para os tipos de nuvens, no entanto a cumulunimbus é a nuvem

onde os tornados ocorrem. É uma nuvem em formato de bigorna (Figura 5) que pode chegar

até o limite superior da Troposfera, cerca de 15km a 18km.

http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2015/04/video-mostra-destruicao-em-sala-de-jantar-

durante-tornado-em-xanxere.html

Figura 9. Colunas, giratórias, de ar na base do tornado.

56

Os tornados também são caracterizados pela sua grande energia destrutiva com capacidade de

levantar carros, arrancar arvores e casas dependendo da velocidade dos ventos

Os tornados são classificados a partir das velocidades dos ventos e dos danos causados ao meio

ambiente. Existem varias escalas de classificação para mensurar um tornado, aqui apresentamos

a escala Fujita (vide Quadro 1).

Curiosidade

Em 1802, um cientista britânico chamado Luke Howard, que era um sistemático

observador das nuvens, criou uma classificação de nuvens baseando-se nas suas

características principais, com relação ao seu aspecto físico. Howard utilizou palavras

em latim para nomear as nuvens:

“Cirrus”, que significa tufo de cabelo; “Cumulus”, que significa amontoado;

“Stratus”, que significa camada; “Nimbus”, que significa chuva.

http://www.climatempo.com.br/videos/video/4/sM52W25-IyY

Figura 10. Estrutura de uma nuvem cumulunimbus.

57

Classificação

dos tornados

Velocidade

dos ventos

Danos potenciais

F0

Danos leves

64 – 116 Tornado que causa leves danos em estruturas frágeis e

quebra arvore.

F1

Danos

moderados

117 – 180 Tornado que provoca destruição de Trailers,

tombamento de ônibus. Arranchamento de árvore e

arremesso de objetos leves.

F2

Danos

consideráveis

181 – 253 Tornado que tem a capacidade de remover telhados.

Furgões são tombados e objeto leve são atirados com

força

F3

Danos graves

254 – 332 Tornado capaz de arrancar telhados, derrubar paredes

e elevar veículos.

F4

Danos

devastadores

333 – 418 Tornado que provoca grande devastação com

destruição de casa e arremesso de grandes objetos.

F5

Danos

incríveis

419 – 512 Tornado de alta energia que provoca a elevação de

casas, automóveis, arvores e abalo em estruturas de

concreto e aço.

Quadro 6. Escala Fujita para os tornados.

Tornados e previsão do tempo

Partes dos problemas, causados pelos tornados seriam resolvidos se os institutos de

meteorologia fizessem predições acertadas de longo prazo, contudo os especialistas já

constatarem essa possibilidade descartada por se tratar de um fenômeno que não pode ser

descrito apenas com a mecânica newtoniana e com a termodinâmica. Trata-se de um fenômeno

que é melhor explicado a partir da ciência dos sistemas dinâmicos complexos e caóticos.

Trabalhos de monitoramento são realizados diariamente com o uso da modelagem

computacional. Para isso são usados supercomputadores de grande porte, 12

Supercomputadores SX6 com 96 processadores, 768 GFLOPS de performance de picos,

768GBYTES de memória, 16TBYTES de disco.

58

Os dados coletados por satélite e através de instrumentos como os anemógrafos (Figura 6), são

usados em equações matemática e processados nos supercomputadores para obtenção do

comportamento probabilístico do sistema.

Diferença entre tornados e furacões

Em geral, a maioria das pessoas confundem furacão com tornados, esses são fenômenos

distintos. Um furacão é um ciclone tropical que se tornou muito intenso com ventos girando no

sentido horário no Hemisfério Sul e em sentido anti-horário no Hemisfério Norte ao redor de

um centro de baixa pressão. Já os tornados são caracterizados por rotações rápidas de vento que

ocorrem em torno de uma região de intensa baixa pressão podendo estar presentes em

Figura 11, anemógrafo universal. VAREJÃO, 2000.

Figura 12 – Imagens de tornado no EUA (a) e do furacão Catarina (b). INPE,

2007.

59

supercélulas de tempestade. Uma diferença marcante entre eles é o tamanho do vórtice como

mostra a figura 7.

Por ter diâmetros que podem chegar até 500 km é possível fazer previsões de um furacão com

muitos dias. No entanto os tornados são formados a partir de vórtice com 1 km que surge e

desvanece repentinamente.

Os tornados, por tanto, são: sensíveis às condições iniciais; tem trajetória probabilística;

apresentam bifurcações, são estruturas dissipativas e são exemplo de fenômeno não linear.

Fenômenos meteorológicos, complexidade e caos

É consenso, entre os meteorologistas, que não é possível fazer a previsão da ocorrência

de tornados com cem por cento de credibilidade assertiva, pois os tornados constituem um

sistema de comportamento caótico. Isso significa dizer que não é possível fazer uma previsão

de longo prazo. Além de ser um sistema caótico, também são sistemas complexos, por ser

constituídos de muitas partículas.

O nascimento da teoria do caos

Os problemas da mecânica celeste originaram algumas teorias na tentativa de explicar o

funcionamento do universo. As teorias aristotélicas prevaleceram durante anos até que

Copérnico revolucionou o conhecimento científico da sua época com um modelo heliocêntrico

para explicar a mecânica celeste. Os trabalhos de Giordano Bruno, Kepler, Galileu formaram o

alicerce para o sucesso da mecânica newtoniana. Contudo, continuava aberta às discursões

sobre alguns problemas originado na concepção determinista fortalecida pela Mecânica de

Newton. Newton ganhou alguns adeptos dentre eles P.S. Laplace (1749-1827) que adotou a

concepção de um universo mecânico de leis fixas e determinista. O universo mecânico de

Newton é explicado por leis matemáticas fundamentadas nas equações diferenciais. Para

Newton o conhecimento do estado inicial de um sistema permitiria conhecer todos os estados

futuros do sistema. Dessa forma qualquer outro sistema submetido às mesmas condições

iniciais teria o mesmo comportamento é nisso que consiste a linearidade de um sistema. O

matemático francês Henri Poincaré (1854 – 1912) começou a discutir a não linearidade dos

sistemas mecânicos e sua sensibilidade às condições iniciais. A descoberta que os sistemas

mecânicos são não lineares foi entendido por Poincarré como caos.

60

O problema dos três corpos

Newton resolveu o problema das interações entre corpos

celestes e criou uma matemática para descrever suas

trajetórias com a lei da gravitação universal e as três leis do

movimento dos corpos. Porém, a interação entre três corpos

(Figura 8) ainda era insolúvel. Foi aí, então, que Poincaré

vislumbrou que a interação entre três corpos era não linear,

de trajetória imprevisível e apresentava sensibilidade as

condições iniciais.

O efeito borboleta de Lorenz

Em 1962 o matemático e então meteorologista Edward Lorenz protagonizou o descobrimento

do comportamento caótico na atmosfera. Com a ajuda de um computador (Royal McBee LGP-

30) ele passou a fazer cálculos introduzindo uma linha de valores impressos que apareciam no

meio da listagem obtida anteriormente e percebeu que os valores calculados não tinham relação

com aqueles obtidos no cálculo precedente. (Monteiro, 2011. P. 30). Os valores obtidos

coincidiam e logo passavam a diferir na última casa decimal em seguida na penúltima até que

a nova saída não coincidia mais com a primeira. Tempo depois Lorenz percebeu que a

impressora registrava os três primeiros algarismos enquanto que o computador trabalhava com

seis algarismos. O fato de Lorenz despreza os últimos algarismos introduzia um erro inicial que

crescia exponencialmente. A sua conclusão foi que aquele sistema era sensível às condições

iniciais.

As estruturas dissipativas de Prigogine

A ideia de que a ciência era determinista deixa a probabilidade no campo da ignorância. Para

Prigogine a ideia de flutuação e instabilidade deve ser colocada no centro da ciência moderna.

O nascimento da complexidade na ciência.

Século XX, concepções do Universo:

• Leis da natureza determinista, atemporais, na qual o futuro desempenha o mesmo papel que

o passado, tanto em Newton como na Mecânica Quântica.

• Construímos uma imagem evolutiva com Darwin, mesmo sem tratar do mecanismo ele

falava de estrutura que nasce e de seres que se transformam, e com a termodinâmica com a

ideia de entropia e a seta do tempo fornecendo um mundo que vais do mais provável para

o mais banal.

http://autoentusiastas.com.br/

2010/12/um-holon-chamado-

Figura 13. Problema dos 3

corpos

61

As duas concepções: de seta do tempo e nascimento de novas estruturas faz nascer a

complexidade. Perto do equilíbrio ou em equilíbrio, existe uma solução das equações da física.

O pêndulo sempre retorna a posição de equilíbrio, as flutuações não representam perigo. O

Universo do equilíbrio é um universo estável sem história.

Longe do equilíbrio o universo:

• Não existe mais potencial

• Energia potencial mínima

• As flutuações podem aumentar e torna-se gigante

Essas flutuações gigantes são as estruturas Dissipativas. Prigogine exemplifica com a

analogia entre a bola em oposição ao cristal: Um cristal é uma estrutura de equilíbrio para não

cair e quebrar é preciso deixar o cristal tranquilo. A bola não pode ficar tranquila ela vive da

troca com o mundo exterior. Ela só existe por que está dentro do todo, no entanto ela é diferente

do todo. Aí está a subjetividade, o subjetivo emerge do todo, ao mesmo tempo em que faz parte

do todo. Essas são as estruturas fora do equilíbrio existente em grande número. Toda biosfera

é:

• Uma estrutura fora do equilíbrio;

• Estrutura de instabilidade;

• Existe ponto de bifurcação;

Uma solução da origem a várias soluções possíveis (nesse caso a escolha é feita pela

probabilidade e não pelo determinismo). Observe o diagrama de bifurcação, existe um

equilíbrio estável até o ponto de virada. A partir desse ponto o sistema tem mais de uma solução

possível. É nesse sentido que o sistema é imprevisível, porém é determinístico pois existe uma

probabilidade de seguir um dos caminhos. Nesse caso o tratamento é estatístico.

Existe uma multiplicidade de forma para o mesmo fenômeno repetido sobre as mesmas

condições. As estruturas do não equilíbrio escapam ao determinismo elas são tratadas com a

ciência da probabilidade.

Para Prigogine o futuro é um possível futuro e o mundo é uma superposição de flutuações. As

leis da natureza descrita por Newton, Schrondinger, Einstein são determinista, são definitivas.

Todas essas teorias são fundamentadas em modelos e a vida não tem essa abordagem o tempo

não tem essa abordagem. Para Prigogine a vida é resultado da evolução e nesse processo o

tempo tem um papel importante. Existem diversas concepções para o tempo o da termodinâmica

é a seta do tempo. Isso não indica que as leis de Newton não são corretas é com elas que é

possível enviar um cosmonauta ao espaço e traze-lo de volta.

62

Sistema caótico

Quando falamos em caos é comum nos reportarmos ao

uso popular da palavra que está associada a bagunça,

desordem, tumulto. No entanto um sistema é dito

caótico quando carrega consigo as seguintes

características:

Sensibilidade às condições iniciais

Diz que um sistema é sensível quando pequenas flutuações nas

condições iniciais provocam grandes variações no resultado

final. Faça a experimentação mental de abandonar da mesma

posição inicial dois pedaços de isopor de 5 cm nas correntezas

de um rio. Você espera que eles sigam a mesma trajetória? É

assim que funciona a natureza, alguma flutuação nas condições

iniciais dos pedaços de isopor faz que eles tenham evolução

temporal distinta. Isso é o efeito borboleta.

Comportamento não periódico

Diferente do pêndulo simples, o pendulo caótico, por exemplo, não tem comportamento

repetitivo com o tempo. Um comportamento aperiódico é caracterizado pela incerteza,

imprevisibilidade e trajetória probabilística. A periodicidade é uma marca da mecânica

newtoniana. A partir dela é que fazemos a contagem do tempo.

São imprevisíveis

A inexistência de uma lei física linear como ocorre no movimento retilíneo uniformemente

variado por exemplo, não é possível predizer o comportamento do sistema durante sua evolução

http://walkandtalk.com.br/oquetemotiva/

acredite-o-caos-tambem-pode-ser-uma-

motivacao/

Figura 14 – Caos na concepção popular

63

temporal como acontece com fenômenos periódicos e lineares. Após uma colisão das bolas de

uma mesa de bilhar não é possível prever a posição de cada uma das bolas. O problema da

previsão passou a ser tratado de forma estatística.

São não lineares

Sistema como o movimento circular uniforme, o movimento do pendulo simples são lineares,

pois são descritos com leis físicas cuja relação entra suas variáveis tem comportamento linear.

No entanto sistemas como os tornados não pode ser descrito como uma lei física de

comportamento linear.

Irreversibilidade

Um sistema é dito irreversível quando é impossível retornar ao seu estado passado. Os eventos

ocorridos no passado influenciam no comportamento futuro do sistema mais não é possível

retornar ao passado para descrever esse estado. Por exemplo, não é possível um adulto retornar

a infância. Esse comportamento irreversível dos sistemas implica numa seta do tempo, ou seja,

o tempo tem um sentido definido. Outro exemplo de irreversibilidade é a impossibilidade de

um corpo A, a menor temperatura, receber calor de um corpo B, a maior temperatura, até atingir

o equilíbrio térmico e em seguida devolver todo o calor recebido de volta para B.

Quebra de simetria temporal

As leis de Newton são reversíveis onde o passado e o futuro tem o mesmo papel, os sistemas

caóticos não, eles são irreversíveis. A equação 𝑠 = 6 + 4𝑡, permite saber o comportamento da

partícula em – 𝑡 e 𝑡. As leis do caos só admitem observar o comportamento do sistema no seu

estado presente e a probabilidade dos estados futuros. Nesse sentido não existe mais trajetória.

Estrutura dissipativas

Um sistema pode ser aberto, quando troca informações com o meio ambiente e fechado quando

sua evolução temporal não troca informações com o exterior. Um sistema dissipativo é aberto

e troca grandes quantidades de energia com o exterior como é o caso dos tornados. A existência

de um tornado somente é possível enquanto ele tiver trocando energia com o meio ambiente,

enquanto tiver fora do equilíbrio. Pois no equilíbrio as estruturas são estáveis, por exemplo, um

copo de água quente a 50ºC, no meio ambiente a uma temperatura de 25ºC trocará calor

64

enquanto tiver fora do equilíbrio. Após o equilíbrio essa estrutura deixa de ser dissipativa. As

estruturas dissipativas são responsáveis pela vida, pela dinâmica do universo. Darwin

identificou isso na evolução das espécies.

Auto – organização

Uma consequência das estruturas dissipavas é a auto

organização do sistema. Sistemas auto organizáveis são

chamados de emergentes. Como é o caso do corpo

humano, dos fenômenos atmosférico e etc. a auto-

organização é a busca por uma forma própria sem

intervenção do meio exterior. No caso dos tornados a

forma característica de funil é devido a auto-organização a partir das atividades convectivas da

atmosfera.

Bifurcações

Uma bifurcação é um ponto de virada. Considere

uma sela de cavalo e uma bolinha de gude em um

ponto nessa sela. Ela pode ser colocada em um

ponto onde jamais vai ficar em equilíbrio ou pode

ser colocada em um ponto de equilíbrio instável

onde a qualquer momento a bolinha pode seguir

uma trajetória probabilística inesperada. Nesse

caso, não se sabe ao certo que caminho a bolinha vai tomar, é imprevisível, esse é um ponto de

bifurcação. Diversos sistemas na natureza apresentam esse comportamento como é o caso do

pêndulo caótico e dos fenômenos atmosféricos em particular os tornados. Os tornados têm

trajetórias incertas, em qualquer instante ele pode atingir um ponto de bifurcação e seguir por

outro caminho sim permitir que essa decisão seja prevista de forma linear apenas probabilística.

Sistema complexo

65

A palavra complexidade aqui não é sinônimo de complicado, pelo contrário, complexidade é o

estudo de sistemas simples que evolui para sistemas com estruturas complexas. Poderíamos

dizer também que são sistemas constituídos de muitos elementos que interagem entre si para

caracterizar o todo. As características de uma cidade são resultado das diversas interações entre

os moradores dela. Quando analisamos um fenômeno como os tornados, percebemos que um

fenômeno de muitos elementos. O seu fluido rotativo é constituído por uma massa de gás

decorrente da dinâmica atmosférica onde cada ponto desse fluido e cada molécula desse gás

desempenha um papel criador do fenômeno.

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66

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