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A TERRITORIALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL: UM ESTUDO
COMPARATIVO DAS CULTURAS DA SOJA, MILHO E CANA-DE-AÇÚCAR
ENTRE OS ANOS DE 1990, 1997, 2004 e 2012.
Daiane Carlos Hohn1
Thaylizze Goes Nunes Pereira2
Resumo: O atual modelo de produção agropecuário brasileiro está baseado no Agronegócio
no qual envolve o conjunto de todas as atividades de produção, processamento, distribuição e
comercialização dos produtos agrícolas, que tem como característica baixo valor agregado.
São mercadorias que se destinam ao mercado mundial. A crítica realizada por pesquisadores e
movimentos sociais é que a produção de commodities não tem como finalidade produzir
alimentos para consumo da população local, mas sim para serem transformados em
suplementos para ração animal e/ ou no caso da cana-de açúcar para produção de energia. O
Brasil possui uma área cultivada de milho de 15,12 milhões de hectares e produção de 82
milhões de toneladas. Com essas proporções é o terceiro maior produtor e o segundo maior
exportador mundial de milho. Já a área plantada para o cultivo da soja deve chegar a 55,39
milhões de hectares em 2014, sendo 4% maior que o ano anterior, quando foram plantados
cerca de 53,26 milhões de hectares. Produzimos 46,5% da cana-de-açúcar mundialmente
consumida. Esses números dão a dimensão da apropriação do território pelos grupos
capitalistas assim como dá a dimensão do controle absoluto do território.
Palavras chaves: Agronegócio, Território, Territorialização, Cana-de-açúcar, Milho, Soja.
Introdução
O Agronegócio está em curso em todo o território brasileiro e em suas várias cadeias
produtivas. O presente texto vai analisar sua territorialização nos cultivos de soja, milho e
cana-de-açúcar entre os anos de 1990 e 2012. Para isso utilizamos como ferramenta da
cartografia o software Philcarto para construir mapas desses cultivos nos estados de São
Paulo, Alagoas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, baseados no banco de dados do
1 Possui graduação em Administração Rural e Agroindustrial pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
(2006). Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo (2010). Atualmente é Mestranda do
Curso de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, no Instituto de Políticas
Públicas e Relações Internacionais (IPPRI), em São Paulo, em convênio com a Escola Nacional Florestan
Fernandes (ENFF) e parceria com a Via Campesina e o Conselho Latino-Americano de Ciência Sociais
(CLACSO). [email protected]
2 Possui Bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, Campus de Marília.
Atualmente é Mestranda do Curso de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e
Caribe, no Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI), em São Paulo, em convênio com a
Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e parceria com a Via Campesina e o Conselho Latino-americano
de Ciência Sociais (CLACSO) e Discente de Licenciatura no Curso de Graduação em Ciências Sociais na
UNESP. É Integrante do Centro de Pesquisa e Estudos Agrários e Ambientais – CPEA cadastrado no CNPq e
pertencente a Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Marília. Bolsista FAPESP.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O texto a seguir é dividido em quarto
partes: a primeira apresenta uma breve contextualização dos conceitos de território,
territorialização e agronegócio; a segunda mostra a evolução e consolidação do agronegócio
nas terras brasileiras; a terceira tratara mais especificamente da evolução dos cultivos de
milho, soja, e cana-de-açúcar entre os anos 1990, 1997, 2004 e 2012 e a última traz as
considerações finais revelando aprofundamento da apropriação do território pelo capital.
Território e Territorialização: Uma breve definição de conceitos
Um conceito muito caro a Geografia, que tem seu uso em um universo cada vez mais
amplo é o conceito de Território e em decorrência dele o conceito de Territorialidade. Esse
fato se explica, pois não há como definir um grupo, comunidade, uma sociedade ou até
mesmo um indivíduo sem inseri-los num contexto geográfico; territorial (HAESBAERT,
2004, p. 20). Segundo Santos, devemos entender o Território como lugar onde se
desembocam todas as ações, paixões, poderes, forças e franquezas; sendo ele o lugar onde a
história do homem se realiza a partir da manifestação de sua existência (SANTOS, 2007).
O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas
superpostas; o território tem que ser entendido como o território usado, não o
território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o
sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do
trabalho; o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da
vida (SANTOS, 2007, p. 14).
Segundo Raffestin, para compreender o território como uma relação entre homem e
espaço, é fundamental compreender que o espaço é anterior ao território.
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um
ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar
de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator
"territorializa" o espaço (RAFFESTIN, 1993, p. 50).
O território nessa perspectiva deveria ser entendido com sendo um espaço onde o
homem projetou um trabalho. Já o espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os
homens constroem para si (RAFFESTIN, 1993, p. 50). Assim pode-se dizer que o território
apoia-se no espaço, mas não pode ser confundido com ele. O território deve ser entendido
como uma produção, a partir do espaço. “Ora, a produção, por causa de todas as relações que
envolve, se inscreve num campo de poder” (RAFFESTIN, 1993, p. 51).
Segundo Haesbaert, o território e os processos de territorialização são o fruto da
interação entre “[...] relações sociais e controle de/pelo espaço, relações de poder em sentido
amplo, ao mesmo tempo de forma mais concreta (dominação) e mais simbólica (um tipo de
apropriação)” (HAESBAERT, 2004, p.235).
Compreendemos então que as relações sociais não são alheias aos territórios e sim,
produzidas por ele da mesma forma com que o território se produz por elas. Segundo
Haesbaert, os sujeitos produzem seus próprios territórios, e a destruição dos mesmos levaria o
fim desses sujeitos, de suas identidades, de seus grupos sociais, pois esses, não existem sem
seus territórios. Segundo Bonnemaison e Cambrézy,
Pertencemos a um território, não o possuímos, guardamo-lo, habitamo-lo,
impregnamo-nos dele. [...] Enfim, o território não diz respeito apenas à função ou ao
ter, mas ao ser. Esquecer este princípio espiritual e não material é se sujeitar a não
compreender a violência trágica de muitas lutas e conflitos que afetam o mundo de
hoje: perder seu território é desaparecer (BONNEMAISON; CAMBRÉZY, 1996, p.
13-14 apud HAESBAERT, 2004, p. 72-73).
Nesse sentido entendemos que desterritorialização dos sujeitos de seus territórios
significa a destruição dos mesmos e é nesse processo que surgiram e surgem as lutas e os
mais diversos tipos de resistência oriunda desses povos atingidos. Para Fernandes, a
territorialização acontece através da espacialização dessa luta pela terra; pela conquista de
frações do território. “A territorialização da luta pela terra é aqui compreendida como o
processo de conquista de frações do território pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, e também por outros Movimentos” (FERNANDES, 1999, p. 241).
Segundo Haesbaert,
Num mundo dito globalizado como o nosso, o acesso pleno a um território como
"experiência integrada do espaço" só se dará quando todos, de alguma forma,
puderem vivenciar o mundo em suas múltiplas escalas, pois o território é, hoje,
sobretudo, multiescalar e um território-rede. Por isso o combate a
desterritorialização enquanto exclusão socioespacial significa também o acesso
amplo às diferentes escalas e redes que, ainda hoje, constitui-se um privilégio de
uma elite planetária cada vez mais auto-segregada (HAESBAERT, 2007, p. 68).
Desta forma, ao analisarmos a territorialização do agronegócio no Brasil verificamos
uma pluralidade de conflitos e de embates travados por distintos movimentos para combater
sua desterritorialização.
Panorama do surgimento e consolidação do Agronegócio no Brasil
O espaço agrário brasileiro nos últimos 50 anos vem passando por várias
metamorfoses de território e conteúdo. Território porque sai da região centro-sul para as
regiões norte e nordeste. E de conteúdo, porque deixa de produzir uma diversidade de
alimentos para a produção mais especializada de alguns cultivos e pecuária. Consigo carrega
o slogam de levar o desenvolvimento para as regiões ditas atrasadas.
Nessa perspectiva, o agronegócio, também denominado agrobusiness, consiste na rede
que envolve todos os segmentos da cadeia produtiva vinculada à agropecuária. Conforme
Fernandes (2008) esse termo foi desenvolvido por Davis e Goldberg, em 1957, onde envolve
o conjunto de todas as atividades de produção, processamento, distribuição e comercialização
dos produtos agrícolas. Esse conceito foi traduzido para o Brasil por Ney Bittencourt, Ivan
Wedekin e Luiz A. Pinazza (OLIVEIRA, 2005).
No final dos anos 80 começamos a escutar no Brasil a expressão Agronegócio sendo
utilizado pelo governo, mídia, pesquisadores, tendo uma grande repercussão quando se se
referiam a grandes propriedades modernas que se dedicam à monocultura, com o emprego de
tecnologia avançada e reduzida mão-de-obra. Na maioria dos casos, a produção é destinada ao
mercado externo ou às agroindústrias, com objetivo do lucro (MATOS e PÊSSOA, 2011).
Essa repercussão se deu a partir das alterações ocorridas na sociedade desde a década
de 70 e que se intensificaram nas décadas de 80 e 90, causando em nossa sociedade profundas
mudanças no cenário nacional e internacional, tais transformações eram de caráter social,
econômico, político-ideológico, cultural, tecnológico e institucional. No que se refere ao
agronegócio, as organizações buscaram planejamento estratégico para apoiar esse processo,
pois, esse exigiria antecipação temporal de investimentos e ações de pelo menos uma década,
considerando, por exemplo, que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação constituem um
processo complexo e de longa duração.
Sendo assim, a década de 70, foi caracterizada como o período de internacionalização
do modelo de produção agrícola intensiva em insumos e tecnologia, denominado Revolução
Verde. O agronegócio brasileiro passou por diversas transformações, orientadas não apenas
pela modernização tecnológica da agricultura, mas também pela abertura da economia
internacional e a globalização, incorporando a esse setor novas condições de competitividade.
Essas grandes transformações estruturais, principalmente na agricultura, ocorridas após a
Revolução Industrial, foram diretamente influenciadas pela dinâmica da inovação tecnológica
que esteve presente nessas três últimas décadas (EMBRAPA, 2003).
Dentre as transformações mais recentes, a emergência do conceito de agronegócio
deriva da necessidade de ampliar a abrangência do significado histórico da palavra
agricultura. Assim, desde sua origem, este novo conceito incorpora a dimensão
tecnológica como vetor fundamental da competitividade atual e futura do
agronegócio, motivo pelo qual será utilizado no presente trabalho que visa a
construção de cenários do ambiente de atuação das organizações públicas de
pesquisa, desenvolvimento e inovação para o agronegócio brasileiro, no horizonte
dos próximos 10 anos (EMBRAPA, 2003, p.9).
O Presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), Marcos SawayaJank
em uma entrevista ao Estado de São Paulo, definiu:
O agronegócio nada mais é do que um marco conceitual que delimita os sistemas
integrados de produção de alimentos, fibras e biomassa, operando desde o
melhoramento genético até o produto final, no qual todos os agentes que se propõem
a produzir matérias-primas agropecuárias devem fatalmente se inserir, sejam eles
pequenos ou grandes produtores, agricultores familiares ou patronais, fazendeiros ou
assentados” (Estado de São Paulo, 1º Caderno, 05/07/2005, p. A2).
Porém, segundo Fernandes e Welch (2004), agronegócio é o novo nome do modelo de
desenvolvimento econômico da agropecuária capitalista. Esse modelo não é novo, sua origem
está no sistema plantation, onde grandes propriedades foram utilizadas na produção para
exportação. Desde os primórdios do capitalismo e em suas diferentes fases, esse modelo
passou e vem passando por adaptações e modificações, aumentando a produtividade e
intensificando a exploração da terra e do homem.
Segundo eles, o agronegócio tentou mudar o enfoque dos problemas gerados pelo
latifúndio. Em suas palavras,
Agronegócio é uma palavra nova, da década de 1990, e é também uma construção
ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura capitalista. O
latifúndio carrega em si a imagem da exploração, do trabalho escravo, da extrema
concentração da terra, do coronelismo, do clientelismo, da subserviência, do atraso
político e econômico. É, portanto, um espaço que pode ser ocupado para o
desenvolvimento do país. Latifúndio está associado com terra que não produz, que
pode ser utilizada para reforma agrária.
A imagem do agronegócio foi construída para renovar a imagem da agricultura
capitalista, para “modernizá-la”. É uma tentativa de ocultar o caráter concentrador,
predador, expropriatório e excludente para dar relevância somente ao caráter
produtivista, destacando o aumento da produção, da riqueza e das novas tecnologias.
Da escravidão à colheitadeira controlada por satélite, o processo de exploração e
dominação está presente, a concentração da propriedade da terra se intensifica e a
destruição do campesinato aumenta (FERNANDES & WELCH, 2004, p.2).
Entretanto, quando analisamos as palavras de Marcos SawayaJank tem se a impressão
de que o agronegócio é o que existe de mais eficiente e avançado para o desenvolvimento da
agricultura brasileira, porém, precisamos analisá-lo mais criticamente, pois o que se tem na
verdade é um avanço que se constitui a partir da reprodução e exploração daquilo que há mais
frágil e atrasado em nosso país.
Baseado na leitura de especialistas sobre o assunto como Oliveira (2006) Stédile
(2005) podemos afirmar o agronegócio tem algumas características, a saber: produção
especializada de alguma commodities, monocultivos em alta escala, produção destinada a
exportação, dependência do mercado no que e quanto produzir, uso intensivo de capital
(máquinas e equipamentos) e tecnologia com uma dependência de elementos externos a
propriedade, forte integração com a indústria, a circulação da produção em outros países, o
preço dos produtos não se dá pelo custo de produção mas é definido pela mercados de ações,
ou seja pelo capital financeiro.
A agricultura brasileira foi marcada pelo legado da modernização, que se consolidou e
repercutiu na transnacionalização da agricultura e em sua inserção definitiva na divisão
internacional do trabalho. Com a internacionalização da agricultura e dos complexos
agroindustriais, ocorreu o fenômeno de padronização dos sistemas produtivos, porém, mesmo
sendo múltiplas as fontes de matéria-prima, a origem e o destino dos produtos, o que
sobressai é um único o padrão produtivo para todo o mundo.
Assim, por exemplo, da mesma maneira que se fala no carro mundial, fala-se no
frango mundial, no novilho mundial. Se pegarmos, por exemplo, um suíno que é
engordado na Holanda, na ração dele tem soja brasileira e trigo canadense, a gaiola é
de aço indiano e os medicamentos alemães ou são feitos em outro lugar qualquer
(SILVA apud AGRA e SANTOS, 2007, p. 4).
Conclui-se que o processo de modernização da agricultura brasileira, significa sua
transnacionalização e inserção no jogo da divisão internacional do trabalho. Esse que estão
voltados para a formação dos complexos agroindustriais e para a modernização dos
latifúndios.
Outro predicado divulgado pela mídia, pesquisadores, governo é que o agronegócio se
destaca na economia brasileira, por contribuir com o superávit na balança comercial, segundo
o MAPA (2013) no acumulado de doze meses, de julho de 2012 a junho de 2013, as
exportações do agronegócio cresceram 4,2%, ultrapassando R$ 100 bilhões, o equivalente a
42% do total das exportações brasileiras. Os principais produtos destinados para exportação
são soja, carne bovina, frango, acúçar, milho, suco de frutas, café, entre outros. O Gráfico 1
(abaixo), nos mostra os principais produtos exportados em 2003 e em 2013 fazendo um
comparativo de como essas cultivos vem aumentando com decorrer dos anos
Gráfico 1: Principais Produtos Exportados em 2003 e 2013.
Entretanto, agronegócio possui a maior parte das terras do país, mas são das pequenas
e médias propriedades que veem a maior parte dos alimentos responsáveis por abastecer o
mercado interno.
O Atlas Fundiário Brasileiro, publicado pelo Incra, indicava que 62,4% da área dos
imóveis cadastrados fora classificada como não-produtiva e apenas 28,3% como
produtiva. Estas informações revelam, pois, a contradição representada pela
propriedade privada da terra no Brasil, retida para fins não-produtivos. Inclusive na
prática, o único compromisso social que os latifundiários deveriam ter seria o
pagamento do imposto territorial rural (ITR), mas não é o que ocorre (OLIVEIRA,
2001, p. 187).
Assim, mesmo estando em desvantagem em relação ao agronegócio, os camponeses
são aqueles que abastecem a mesa dos brasileiros, produzindo mais da metade de toda a
produção consumida no Brasil de mandioca, tomate, banana, feijão, batata-inglesa, caju, café,
guaraná, cacau, uva, ovos, leite, rebanho suíno, aves, etc. Além de produzirem a maioria
absoluta da produção de legumes e hortaliças.
Conforme exposto no documento do II Plano Nacional de Reforma Agrária do
Governo Lula 2003-2006, a agricultura familiar camponesa corresponde a,
[...] 4,1 milhões de estabelecimentos (84% do total), ocupa 77% da mão-de-obra no
campo e é responsável, em conjunto com os assentamentos de reforma agrária, por
cerca de 38% do valor bruto da produção agropecuária, 30% da área total, pela
produção dos principais alimentos que compõem a dieta da população – mandioca,
feijão, leite, milho, aves e ovos – e tem, ainda, participação fundamental na
produção de 12 dos 15 produtos que impulsionaram o crescimento da produção
agrícola nos anos recentes (OLIVEIRA, 2007, p. 151).
No Brasil, os camponeses são responsáveis por produzirem proporções significativas
da produção agropecuária do país, produzindo: uva 97%, mandioca 93%, guaraná 92%,
banana 85%, feijão 79%, tomate 77%, batata-inglesa 74%, pimenta-do-reino 74%, agave
73%, caju 72%, mamão 60%, coco 67%, trigo 61%, arroz 39%, maçã 35% e a maioria
absoluta, ultrapassando os 90% da produção dos hortigranjeiros. Produzem também, 27% do
rebanho bovino, 87% do rebanho suíno, 88% do plantel das aves, e, 64% da produção dos
ovos e 55% de leite (OLIVEIRA, 2007).
Desta forma, a pequena propriedade que detém apenas 20% da área ocupada do Brasil,
foi responsável por 43% da renda gerada no campo e 46% do valor da produção agropecuária.
Em contra ponto, as grandes propriedades que controlam mais de 44% da área ocupada total,
foram responsáveis por apenas 21% do valor da produção e 23% da renda gerada; e as médias
propriedades que controlam 36% da superfície ocupada, responsáveis por, 32% do valor da
produção e 34% da renda (OLIVEIRA, 2007).
Verifica-se aqui a lógica contraditória do desenvolvimento capitalista, que por um lado
concentra as terras nas mãos de poucos, gerando uma população despossuída de meios de
produção, que não possuem outro meio de sobreviver a não ser vendendo suas forças de
trabalho ao preço que o mercado queria pagar (OLIVEIRA, 2001).
Os dados do Censo 2006 mostram uma estrutura fundiária ainda concentrada no país,
onde os estabelecimentos não familiares apesar de representarem 15,6% dos estabelecimentos
do país, ocupam 75,7 % da área ocupada; enquanto 84,4%, cerca de 4.367.902
estabelecimentos ocupam a área de 24,3 (CENSO/IBGE, 2006). O Censo de 2006 demonstra
claramente essa situação peculiar a qual o Brasil se encontra, onde a concentração da terra e
renda da produção encontra-se nas mãos do agronegócio, embora a maior produção de
alimentos seja realizada pelos pequenos proprietários. Sendo assim, verifica-se que grande
parte das terras do país não está cumprindo sua função social, ao contrario, vem repercutindo
a desigualdade social.
Oliveira (2006) ainda reforça que o agronegócio é responsável por produz
commodities para o mercado mundial e não alimentos para consumo da população local.
Assim, entre os 200 países que o Brasil exporta sua produção, os principais mercados são,
sobretudo China, Estados Unidos, Países Baixos, Japão, Hong Kong, Rússia, Coréia do Sul,
Alemanha, Venezuela, Arábia Saudita (MAPA, 2013), como pode ser observado no gráfico a
seguir.
Gráfico 2: Principais destinos das Exportações do Agronegócio em 2013.
O Brasil torna-se assim, um dos grandes competidores no mercado externo, não
surpreendendo que das 100 maiores empresas voltadas ao agronegócio que atuam no Brasil,
38 delas são de capital predominantemente estrangeiro. Observa-se a exploração dos
trabalhadores do campo e um Governo omisso a eles, mas em compensação muito cordial ao
capital esterno que vai se instalando cada dia mais nas terras brasileiras, destruído nossas
reservas naturais e explorando a população que aqui vive (Anuário do agronegócio/Revista
Exame, junho 2008).
Já com relação aos Estados da federação brasileira, que mais vem contribuindo para as
exportações podemos observar que São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul,
Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pará tem maior relevância
como pode ser observado no Gráfico 3, a seguir:
Gráfico 3: Participação das Unidades da Federação no Total de exportações do
agronegócio em 2013.
Dentre a todos os dados que foram apresentados até o momento, optamos por
direcionar o foco de nossas análises a três cultivos de predominância do sistema do
agronegócio, sendo eles, a soja, o milho e a cana-de-açúcar. E assim para termos um
panorama se sua evolução, selecionamos alguns Estados brasileiros que nos mostram essa
evolução como, por exemplo, São Paulo, Alagoas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul.
Brasil, o celeiro do mundo: A evolução do cultivo de Milho, Soja e Cana-de-
açúcar entre os anos de 1990 e 2012.
Dando sequência a analises desse texto, optamos agora for direcionar nosso foco a
essas três culturas produzidas no Brasil principamente pelo agronegócio, tentando fazer um
esboço aqui de como essas tem se territorializado ao longo dos anos em diferentes territorios
de nosso país. Iniciamos assim essa análise apresentando os dados referente ao cultivo da
Cana-de-açúcar no Brasil.
Mapa 1- Cultivo de Cana-de-acúçar no Brasil entre os anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.
O Brasil se tornou um importante produtor mundial de cana-de-açúcar, sendo
responsável por produzir cerca de metade da produção mundial desse produto, tendo uma
participação equivalente a 46,4% da produção mundial (Observatório Social, 2014, p. 18). O
açúcar passou a ser uma das commodities internacionais com maior ascendência da cotação
internacional, perdendo apenas para o óleo de girassol, o petróleo, e o óleo de soja.
(Observatório Social, 2014, p. 19). O setor sucroalcooleiro passou também a ter grande
importância na economia brasileira, a produção de cana-de-açúcar passou a representar 0,8%
do PIB e o complexo sucroalcooleiro foi responsável por mais de 6,0% do total das
exportações.
Esse aumento da relevância do Brasil na produção de Cana-de-açúcar foi um reflexo
direto de um maior investimento no cultivo dessa cultura, assim como podemos observar no
Mapa 1 (acima). Em 1990 as áreas de maior concentração da produção de Cana-de-açúcar no
Brasil eram mais concentradas na região sudeste e em parte da Nordeste. Com a evolução dos
incentivos para a mesma, chegamos a 2012 com uma produção ainda parecida na região
nordeste, porém o que ressaltamos foi a intensificação massiva da produção no sudeste,
atingindo também agora a região centro-oeste.
Mapa 2 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado de São Paulo nos anos de
1990, 1997, 2004 e 2012.
O estímulo a plantação de cana de açúcar que pudemos observar no mapa tem um
elemento central, a produção de mercadorias e a obtenção de lucros extraordinários. A partir
de 2003, foi lançado o veículo flex-fuel no mercado doméstico e assim o crescimento do uso
do etanol tanto no Brasil como em muitos outros países cresceu. Então ele pode ser variável
no mercado, ora produz açúcar, ora etanol dependo dos resultados econômicos.
Como podemos observar mais claramente no Mapa 2 (acima), ouve uma crescente
expansão da produção de Cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, esta que por sua vez,
passou a substituir a produção de soja e milho no estamos, além também das demais culturas
como laranja e café por exemplo, que também eram presentes nessas região.
Nas áreas produtoras de cana-de-açúcar, no Estado de São Paulo, segundo a CPT
(Comissão Pastoral da Terra), dos 5 milhões de hectares plantados, apenas 20% é
proveniente de pequenos e médios produtores. Esta instituição afirma, ainda, que as
áreas plantadas de cana na região de Ribeirão Preto (SP) são de propriedade de oito
famílias. Em São Paulo, a corrida pela compra ou arrendamento de terras para a
cana-de-açúcar tem sido intensa suficiente para gerar conflitos entre as usinas de
açúcar e álcool com as empresas produtoras de suco de laranja (CAVALCANTE &
FERNANDES, 2011, p. 24).
No Mapa 2 (acima), e também no Mapa 3 (abaixo) podemos observar a substituição
dos cultivos de milho e/ou soja por cana de açúcar entre os anos de 1990 a 2012 e como ela
vai se territorializando no decorrer desses anos.
Mapa 3 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado de Alagoas nos anos de
1990, 1997, 2004 e 2012.
Até por volta da década de 1990 a produção da cana se concentrava nos estados no
Norte e Nordeste do país, e em alguns do Centro-sul, com maior enfoque em São
Paulo. Atualmente já se expandiu para estados como Goiás, Minas Gerais e Mato
Grosso. Minas Gerais e São Paulo são hoje os dois estados que mais produzem
açúcar e álcool oriundos da cana-de-açúcar, e conseqüentemente são os estados
concentradores das usinas sucroalcooleiras do país. O governo de Minas Gerais tem
incentivado a territorialização de usinas juntamente com a iniciativa privada desde
meados de 1990, e desde então tem crescido o número delas, principalmente no
Triângulo Mineiro, onde as condições climáticas e relevo são propícias para o
cultivo da cana-de-açúcar (MATOS & OLIVEIRA, 2012, p. 2).
Mesmo com esse novo componente no mercado, etanol3, que tem sua base produtiva a
cana de açúcar e o seu custo de produção é muito mais barato se comparado com a gasolina
que é produzida a partir do petróleo, ou seja, o produto etanol passou a ter o mesmo uso do
produto gasolina, ambos passam a serem vendidos a um preço que oscila em torno do preço
médio da gasolina, a patamares internacionais, o que expressa a mais valia extraordinária que
3Segundo Gonçalves (2007) o etanol em meados de 2005 tinha seu preço de venda pela indústria em US$
0,3/litro e em fevereiro de 2006 estava custando US$ 0,52/litro de álcool. (P.168)
este setor está gerando para quem se apropria dessa fonte, enquanto não se encontrar
tecnologia que possa alterar essa relação. Portanto, o campo tende a deixar de produzir
comida para produzir energia (GONÇALVES, 2007).
Outra lavoura que tem ganhado cada vez mais espaço nas terras brasileiras é a da soja,
essa que por sua vez, tem batido recordes na produção de commodities para a exportação. De
acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão que é ligado ao
Ministério da Agricultura, a produção de grãos, inclusive o de soja vem batendo recordes de
produção ano após anos, e em 2014 deve bater um novo recorde, produzindo cerca de 196
milhões de toneladas, representando um aumento de 5,2% em relação à safra do ano de 2013.
Dessas commodities a líder em produção continua sendo a soja com aproximadamente 90
milhões de toneladas, obtendo um aumento de 10% os 81 milhões de toneladas do ano
anterior (VEJA, 18/01/2014).
A Conab divulgou que o total da área plantada para o cultivo de grão deve chegar a
55,39 milhões de hectares em 2014, sendo 4% maior que o ano anterior, quando foram
plantados cerca de 53,26 milhões de hectares. Este aumento foi impulsionado pelo cultivo da
soja que terá cerca de 29,55 milhões de hectares de área plantada este ano, sendo que
finalizou os anos de 2013 com 27,73 milhões de hectares (VEJA, 18/01/2014).
Esse aumento de áreas plantadas destinadas ao agronegócio fez com que entre os anos
de 2003 a 2012, o preço médio do hectare no Brasil, teve um crescimento de 227%, o dobro
da inflação registrada no período, passa um hectare a custar R$7.470,00. Os investimentos em
terra superaram os investimentos tradicionais em ouro, dólar e na bolsa de valores. Uma das
principais causas para o superaquecimento do mercado de terras está o crescimento do
agronegócio, que tem auferido grandes lucros no mercado internacional com a exportação de
commodities como soja, milho e algodão, além do crescente apetite mundial pelo etanol.
Podemos observar no Mapa 4 (abaixo), as áreas de produção de soja no Brasil e junto a ela
sua territorialização.
Mapa 4 – Cultivo de Soja (em grão) no Brasil entre os anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.
No mapa acima, podemos observar o aumento intensivo das áreas plantadas de soja
nas ultimas duas décadas, pode-se perceber que esse cultivo era em grande parte presente na
região sul e sudeste e em parte do nordeste em 1990, e no decorrer dos anos começou a se
especializar por todo o território, não sendo encontrado apenas em uma parte da região norte.
Além disso, observa-se que de 2004 para 2012 houve intensificação dessas áreas de cultivo
nas regiões que ela já tinha predominância, como podemos observar nos estados do sul,
sudeste e centro-oeste. Destacaremos aqui mapas de três estados sendo eles, Rio Grande do
Sul, Goiás e Mato Grosso, onde podemos visualizar tanto o surgimento de novas áreas de
plantio da soja, tanto a substituição da plantação do milho por soja e também por cana-de-
açúcar.
Mapa 5 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado do Rio Grande do Sul nos
anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.
No Mapa 5, fica-nos nítido o crescimento na produção de soja no Brasil. Essa cultura
cresceu exorbitantemente nas últimas três décadas e hoje já corresponde a 49% da área
plantada em grãos no Brasil, firmando-se com um dos principais produtos da agricultura
nacional e da balança comercial. Ela é cultivada especialmente nas regiões Centro Oeste e Sul
do país.
Essa espacialização da soja por diferentes estados brasileiros revela simultaneamente a
expansão da fronteira agrícola e os interesses da economia mundial. Cabe, portanto, enfatizar
o papel das políticas públicas no que tange a essa commodities, pois o acréscimo dessa
monocultura inibe a produção de outros gêneros agrícolas oriundos da agricultura camponesa,
que vivencia fortes especulações em função dessa fronteira agrícola sob a conivência das
políticas públicas (FERREIRA, 2012).
Outra cultura em larga expansão no Brasil que também contribui para a expansão da
fronteira agrícola e os interesses da economia mundial são a produção e comercialização de
milho. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, totalizando 53,2 milhões de
toneladas na safra 2009/2010. O principal destino da safra são as indústrias de rações para
animais (MAPA, 2014).
Segundo Claudio de Miranda Peixoto, Diretor de Marketing e Regulamentação da
DuPont Pioneer (2014) o Brasil possui uma área cultiva de milho de 15,12 milhões de
hectares e produção de 82 milhões de toneladas. Com essas proporções é o terceiro maior
produtor e o segundo maior exportador mundial de milho.
O milho é cultivado em diferentes sistemas produtivos, mais é plantado principalmente
nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, assim como podemos observar no Mapa 6
(abaixo)
Mapa 6 – Cultivo de Milho (em grão) no Brasil entre os anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.
A projeção realizada pelo Ministério da Agricultura indica aumento de 19,11 milhões
de toneladas entre a safra de 2008/2009 e 2019/2020. Em 2019/2020, a produção deverá ficar
em 70,12 milhões de toneladas e o consumo em 56,20 milhões de toneladas. Esses resultados
indicam que o Brasil deverá fazer ajustes no seu quadro de suprimentos para garantir o
abastecimento do mercado interno e obter excedente para exportação, estimado em 12,6
milhões de toneladas em 2019/2020. Número que poderá chegar a 19,2 milhões de toneladas
(MAPA, 2014).
O Brasil está entre os países que terão aumento significativo das exportações de milho,
ao lado da Argentina. O crescimento será obtido por meio de ganhos de produtividade.
Enquanto a produção de milho está projetada para crescer 2,67% ao ano nos próximos anos, a
área plantada deverá aumentar 0,73%.
Conforme Claudio de Miranda Peixoto, Diretor de Marketing e Regulamentação da
DuPont Pioneer (2014) a produtividade brasileira aumentou em mais de 200%. Se pensarmos
em termos de regiões, pode-se observar que as regiões Centro-Oeste e Sul têm as maiores
produtividades. Estas duas regiões possuem produções mais tecnificadas, tanto em termos de
uso de insumos mais modernos quanto em termos de uso de maquinarias. No caso do Centro-
Oeste, também foram desenvolvidas cultivares que se adaptam mais às condições de solo e
clima desta região. Associada à produção de soja, que é altamente tecnificada, a produção do
milho no Sul e no Centro-Oeste tomou um caráter totalmente comercial e, ultimamente, com a
participação do Brasil no mercado internacional tem estimulado ainda mais a produtividade
nestas regiões.
Segundo a EMBRAPA (2014) os níveis de produtividade do Nordeste são
historicamente muito baixos, sendo inferior a 1.000 kg/ha até o início dos anos 2000. A partir
do início desta década, os níveis de produtividade aumentaram até alcançar a média de 1.300
kg/ha nos últimos anos; isto principalmente pelo aumento da produção de milho nas regiões
Oeste da Bahia, Alto do Rio Parnaíba no Piauí e Sul do Maranhão. Apesar dos melhores
níveis de produtividade nestas regiões, ainda os índices do Nordeste ficam bem abaixo da
média brasileira.
Em resumo, as regiões que têm melhores produtividades são aquelas que produzem
comercialmente, com condições melhores, com uso de tecnologias modernas, com cultivares
adaptadas às regiões, com possibilidade de maior mecanização e mercado bem definido para o
produto. Por outro lado, as regiões com menores produtividades são aquelas onde a produção
de milho é feita de forma quase artesanal, com sementes vindas de grãos e muitas vezes não
adaptadas à região, com baixo nível de uso de insumos modernos e para consumo próprio
(EMBRAPA, 2014).
Para chegar a estes índices de produtividade, é importante lembrar que é utilizado um
conjunto de tecnologias como sementes melhoradas, plantio direto, utilização de inseticidas,
herbicidas, adubação química que tem impactos sobre o meio ambiente (desmatamento,
contaminação do lençol freático, entre outros) e a vida da população que provavelmente teve
que sair de seu território para dar lugar a esses cultivos, e ainda a saúde dos consumidores
finais desses produtos, a médio, longo prazo, mas os índices, ou melhor o mercado, não está
preocupado com essa dimensão.
Os principais países que importaram milho do Brasil em 2012 foram: Egito, Coreia do
Sul, Taiwan (Formosa), Irã, Marrocos, Arábia Saudita, Japão, República Dominicana,
Malasia, Colômbia. A China ficou na posição de 17º e os Estados Unidos em 19º (MAPA,
2012).
No Mapa 7 (abaixo) observamos que o cultivo de milho vai sendo aos poucos
substituído pela soja no Estado de Santa Catarina entre os anos de 1990 e 2012.
Mapa 7 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado de Santa Catarina nos
anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.
Já nos Mapa 8, que representam os Estado do Paraná observa-se que os cultivos de
milho e soja têm grande expressão nos estados todavia, na ultima década começa a ser
substituído pela cana de açúcar.
Mapa 8 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado do Paraná nos anos de
1990, 1997, 2004 e 2012.
Considerações Finais
Conforme as atividades das empresas agrícolas, observamos que os novos sujeitos
territorializaram novos cultivos e, portanto, houve a criação de novas territorialidades ligadas
ao modelo modernizante. Essas novas territorialidades se consolidaram em função da
desterritorialização do agricultor regional, dos seus métodos, cultivos, hábitos culturais e
relações sociais, e de sua reterritorialização, em muitos casos, no espaço urbano, onde perdeu
o poder de cultivar a terra. A adição de capital no espaço leva à corrente migratória em dois
sentidos: a expulsão dos sujeitos que não se adaptam aos níveis técnicos e de capital; e a
inserção, nesse espaço, de atores dotados das novas capacidades exigidas para movimentar as
inovações técnico-científicas, gerando, consequentemente, novos usos do território.
Como podemos observar nos três cultivos estudados há uma expansão territorial em
curso com a finalidade de “produzir” alimentos propagandeado pelos setores do agronegócio.
Todavia, um objetivo ainda mais estratégico alcançado tem sido o controle do território.
Assim, saímos da discussão sobre a apropriação territorial para a constituição de cadeias
produtivas, quando tratávamos da apropriação do território pelas tradings, nas formas relativa
e absoluta, para a discussão sobre a reprodução funcional do território agrícola. Trata-se,
nesse caso, de uma relação indissociável, pois as empresas do agronegócio se apropriam da
cadeia produtiva da soja, do milho ou da cana-de-açúcar ao mesmo tempo em que se
apropriam do território funcionalmente. Isso significa que o campo, as cidades, as infra-
estruturas de transporte e energia e os sistemas públicos de educação e saúde, são organizados
e reorganizados para atender suas demandas. Assim, o território do agronegócio é efetivado
pela relação contratual das empresas com as propriedades agrícolas, e pela receptividade do
Estado e da sociedade. A relação de dominação se amplia com o interesse expansionista das
empresas, que, como afirmamos, acaba concentrando as propriedades de forma absoluta. Essa
articulação empresarial tem sido tão bem sucedida que nem mesmo as atuais crises do setor
têm intimidado seu poder de apropriação do território.
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Sites utilizado para elaboração dos mapas:
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. http://www.ibge.org.br/
PHILCARTO. http://philcarto.free.fr/
http://www.ibge.gov.br/