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Judicialização da Saúde em Atenção Domiciliar UNIDADE I - ATENÇÃO DOMICILIAR NO CONTEXTO ATUAL DO SUS A Unidade Compreendendo o direito à saúde e a estrutura do SUS está estruturada em duas etapas Saúde Pública e SUS: Estrutura, Competências e Serviços. Em Saúde Pública, apresentaremos a amplitude da saúde no Brasil, analisando como o conceito abrangente de saúde está expresso na Constituição Federal e como isso impacta na judicialização de políticas públicas e na necessidade de maior especialização do Poder Judiciário. Em SUS: Estrutura, Competências e Serviços, analisaremos o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua estrutura abrangendo a organização em regiões de saúde, a hierarquização, em níveis de complexidade de serviços, a competência constitucional e as desigualdades entre os entes federativos e as instâncias de decisão CIT, CIB e CIR. Por fim, trataremos da integralidade da assistência à saúde atendida pelo SUS por meio do rol de ações, serviços e medicamentos previstos na RENASES e RENAME. Após percorrer cada uma das etapas, coloque em prática os conhecimentos adquiridos, realizando as atividades propostas. Saúde Pública A judicialização tem sido um tema muito debatido na área da saúde pública nos últimos tempos. Por isso é importante refletir algumas questões: Primeiramente, é fundamental entendermos o que significa judicialização do direito à saúde de um modo geral. Em seguida, analisarmos as estruturas organizativas do SUS para então compreendermos os seguintes aspectos: Quando se pode e deve demandar contra o Estado na garantia do direito à saúde. O motivo pelo qual, muitas vezes, as decisões judiciais acabam sendo desestruturantes da organização do SUS na medida em que rompem com a igualdade de atendimento. 1.Saúde pública x judicialização 1.1. Políticas públicas Judicializar políticas públicas é um fenômeno recente que considera os seguintes fatores: a gama de direitos sociais e individuais garantidos pela Constituição Federal aos cidadãos; a inadequação dos serviços públicos às necessidades da população; maior conhecimento do cidadão de seus direitos.

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Judicialização da Saúde em Atenção Domiciliar

UNIDADE I - ATENÇÃO DOMICILIAR NO CONTEXTO ATUAL DO SUS

A Unidade Compreendendo o direito à saúde e a estrutura do SUS está estruturada em duas etapas – Saúde Pública e SUS: Estrutura, Competências e Serviços.

Em Saúde Pública, apresentaremos a amplitude da saúde no Brasil, analisando como o conceito abrangente de

saúde está expresso na Constituição Federal e como isso impacta na judicialização de políticas públicas e na necessidade de maior especialização do Poder Judiciário.

Em SUS: Estrutura, Competências e Serviços, analisaremos o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua estrutura

abrangendo a organização em regiões de saúde, a hierarquização, em níveis de complexidade de serviços, a competência constitucional e as desigualdades entre os entes federativos e as instâncias de decisão – CIT, CIB e CIR.

Por fim, trataremos da integralidade da assistência à saúde atendida pelo SUS por meio do rol de ações, serviços e

medicamentos previstos na RENASES e RENAME.

Após percorrer cada uma das etapas, coloque em prática os conhecimentos adquiridos, realizando as atividades propostas.

Saúde Pública

A judicialização tem sido um tema muito debatido na área da saúde pública

nos últimos tempos. Por isso é importante refletir algumas questões:

Primeiramente, é fundamental entendermos o que significa judicialização do

direito à saúde de um modo geral. Em seguida, analisarmos as estruturas organizativas do SUS para então compreendermos os seguintes aspectos:

Quando se pode e deve demandar contra o Estado na garantia do direito à saúde.

O motivo pelo qual, muitas vezes, as decisões judiciais acabam sendo desestruturantes da organização do SUS na medida em que rompem com a igualdade de atendimento.

1.Saúde pública x judicialização

1.1. Políticas públicas

Judicializar políticas públicas é um fenômeno recente que considera os seguintes fatores:

a gama de direitos sociais e individuais garantidos pela Constituição Federal aos cidadãos;

a inadequação dos serviços públicos às necessidades da população;

maior conhecimento do cidadão de seus direitos.

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Hoje, um aspecto inquietante da crise do estado contemporâneo é exatamente a distância entre aquilo que o cidadão

espera do Estado e o que ele consegue satisfazer. No caso da saúde, especificamente, essa insatisfação quanto ao atendimento das necessidades do indivíduo em relação aos direitos consagrados na Constituição Federal tem levado a

sociedade a demandar perante o Poder Judiciário a efetividade dos direitos.

1.2. Especialização do poder judiciário

Os serviços públicos aumentaram, consideravelmente, em razão dessa

gama de direitos reconhecidos pelo Estado e previstos na Carta

Constitucional, em 1988.

Com isso, passou-se a exigir do Poder Judiciário maior especialização nos diversos setores públicos, visto que para cada setor há uma lei ordinária

básica, que o estrutura e confere, muitas vezes, diretrizes, princípios e bases organizativas complexos. Neste contexto, torna-se necessário que o

cidadão compreenda seus direitos e deveres e como eles podem ser garantidos somente por leis, a fim de adquirir uma visão crítica sobre o

tema.

2. Saúde: Direito previsto na Constituição

O direito público subjetivo implica na possibilidade do cidadão

demandar contra o Estado, no sentido de obter um direito, se a norma jurídica reconhecer como um direito individual e um dever do Estado.

Logo, de um lado vemos o sujeito detentor do direito e de outro, o Estado responsável em prover esse direito.

Ou seja, somente é possível o cidadão demandar contra o Estado se a

Constituição ou as leis específicas garantirem, formalmente, o direito requerido. Sendo assim, a Carta Magna garante os direitos e o Estado

cumpre, pois todos os governantes juram o cumprimento à

Constituição.

2.1. Acesso universal e igualitário

Neste caso, a pessoa pode demandar contra o Estado a sua satisfação, uma vez

que esse direito está reconhecido formalmente na Constituição Federal. Esse direito é uma consequência do previsto nos artigos 6º e 196 da CF.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

2.2. Amplitude da saúde no Brasil

Estamos discutindo a saúde no Brasil, enfocando o direito previsto na Constituição Federal.

Considerando a amplitude da saúde no Brasil, reflita os seguintes aspectos:

a relação entre o direito de todos e o dever do Estado;

as políticas públicas que garantem o acesso à saúde;

as mediações que resolvem os conflitos;

os desafios encontrados nesse âmbito.

3. Síntese

Você lembra o que aprendemos até aqui?

Verificamos que o direito à saúde, expresso no art. 196 da Constituição, abrange as políticas sociais e econômicas que

visam evitar o agravo à saúde – determinantes e condicionantes da saúde ou qualidade de vida interferindo nas condições de saúde da pessoa – e as ações e serviços que promovem a saúde, previnem as doenças e recuperam ou

melhoram a saúde das pessoas com agravos – promoção, prevenção e recuperação da saúde.

Nesse sentido, é essencial refletir o papel do SUS nesse conceito amplo, que inclui qualidade de vida como sendo um

dever de todos, do Estado e de seus setores, incluindo a saúde, a sociedade, a empresa, o indivíduo, entre outros.

A partir da leitura desta unidade, reflita sobre as seguintes questões:

Como o conceito abrangente de saúde está expresso no art. 196 da Constituição Federal?

O que cabe ao SUS, de fato, assegurar ao cidadão?

Compete ao SUS garantir ações próprias da assistência social, educação, trabalho, moradia entre outras?

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Sistema Único de Saúde (SUS)

1. Como surgiu o SUS neste contexto?

A Constituição, em seu art. 198, criou o Sistema Único de Saúde, com base nas seguintes considerações vistas

anteriormente:

a saúde é um direito de todos e dever do Estado;

o acesso às ações e serviços de promoção prevenção e recuperação é universal e igualitário, ou seja, todos

têm direito.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

1.1. Regionalização de serviços

Observe a seguir, a representação gráfica da regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde,

lembrando que a emergência possui acesso livre:

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1.2. Demandas judiciais

Ante essa competência comum a todos os entes federativos para

cuidar da saúde, as demandas judiciais tanto podem ter como réu o município, como o Estado ou a União no âmbito da competência

solidária.

Esse é um dos pontos que precisa ser melhor compreendido para

se entender o problema da judicialização da saúde, que ocorre porque há demandas contra qualquer ente da Federação sem se

distinguir seu porte nos seguintes níveis:

socioeconômico;

demográfico;

epidemiológico;

de organização de serviços no âmbito do SUS.

1.3. Outras questões relevantes

Dentre outros pontos relevantes que também precisam ser compreendidos estão:

A definição da integralidade da assistência à saúde (seu conteúdo);

As demandas por medicamentos não registrados na ANVISA (em desrespeito à legislação brasileira);

Os beneficiários de planos de saúde e suas demandas contra o SUS.

2. Competência constitucional

A competência comum para cuidar da saúde é

denominada de executiva ou administrativa e confere um dever a todos os entes federativos

para cuidar da saúde pública.

Os entes federativos – União, Estado, Distrito Federal e

Municípios – são desiguais: assimétricos do ponto de

vista econômico, social, demográfico, geográfico e no que tange à organização de serviços. Isso exigiu do

legislador ordinário a necessidade de distribuir essa competência entre os entes federativos.

2.1. Desigualdade entre os entes federativos

Por causa da desigualdade entre os entes federativos, a Lei 8080/1990 – Art. 15 ao 18 – definiu as competências no

âmbito de cada um. Contudo, no caso da saúde, não foi suficiente para diminuir as desigualdades federativas, uma vez que entre estados e muito mais entre municípios, há profundas desigualdades nos campos social, econômico,

cultural, sanitário, demográfico e geográfico.

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Por exemplo, o município de São Paulo possui cerca de 13 milhões de habitantes e uma renda per capita muito maior que 70% dos municípios brasileiros que tem menos de 20 mil habitantes.

Nesse sentido, torna-se essencial dimensionar o papel de cada ente federativo na rede de ações e serviços de saúde, os quais devem se organizar de maneira regionalizada (regiões de saúde), nos termos do Decreto 7.508, de 2011.

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/lei8080.pdf

3. Síntese Você lembra o que aprendemos até aqui?

Até o momento, nosso estudo apontou as seguintes reflexões:

As diferenças existentes, em especial, entre os municípios.

A organização do SUS deve ser em regiões de saúde.

As regiões devem garantir pelo menos entre 60 a 70% da integralidade da assistência à saúde.

Agora, imagine um município de pequeno porte, integrado na região de saúde apenas para garantir a atenção básica em seu território.

Você entende que o Judiciário deveria obrigar esse município a realizar serviços de referência, por exemplo, um

transplante ou um medicamento de alto custo vinculado à assistência à saúde hospitalar que não é de sua competência e sim, do Estado?

4. Organização do SUS

O SUS se organiza mediante a integração das ações e dos serviços de saúde de um ente federativo com o outro, na

rede dessas ações e desses serviços.

Isso demonstra que os entes federativos, embora gozando da mesma autonomia federativa, são interdependentes no âmbito do SUS, devendo integrar seus serviços uns com os outros na região de saúde.

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4.1. Instâncias de decisão do SUS

O SUS conta com instâncias de deliberação colegiadas, que formam espaços de decisão consensual dos entes federativos em relação a temas como organização de serviços em rede e definição das políticas e programas de saúde

e das referências.

Essas instâncias são:

Comissão Intergestores Tripartite – CIT

Comissão Intergestores Bipartite – CIB

Comissão Intergestores Regional – CIR

A recente lei 12.466, de 2011, reconheceu as instâncias de gestão deliberativa do SUS, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASEMS) e Conselho Nacional de Secretários Estaduais da Saúde (CONASS).

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12466.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2011/decreto/D7508.htm

4.2. Partilha de recursos federativos

O SUS conta, ainda, com recursos próprios dos entes federativos(Município: 15%; Estado: 12%; União: o valor

do ano anterior acrescido da variação nominal do PIB) acrescidos das partilhas dos recursos federativos.

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5. Integralidade da assistência à saúde

No âmbito do SUS, a garantia da assistência à saúde deve ocorrer de maneira integral, unindo as ações preventivas

com as curativas e atendendo às necessidades de saúde da população.

5.1. RENAME e RENASES

É fundamental tratar da integralidade da assistência à saúde tendo em vista que ela expressa o que o SUS irá

garantir ao cidadão em termos de ação e serviço na rede de atenção à saúde.

Por isso, o decreto 7.508, de 2011, dispôs sobre a Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES), a qual

deve consubstanciar a integralidade garantida pelo SUS, acompanhada da Relação Nacional de Medicamentos do SUS (RENAME).

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5.2. Rol de ações, serviços e medicamentos

A RENAME e a RENASES devem compreender de maneira justa um rol de ações, serviços e

medicamentos capazes de atender à integralidade da

assistência à saúde, sempre pautada em políticas públicas que a expresse. Esse aspecto é muito

relevante para se discutir a judicialização da saúde. Se não existir a política pública por omissão do poder

público, nascerá para o cidadão seu direito às ações e aos serviços ali previstos.

Assista a reportagem que trata do aumento da lista de medicamentos oferecidos pelo SUS.

Fonte: Governo aumenta para 810 a relação de medicamentos oferecidos pelo SUS. TV NBR. Disponível em: https://www.youtube.com/user/TVNBR?feature=watch.

Acesso em: 29 mai. 2013.

6. Síntese

Você lembra o que aprendemos até aqui?

Vimos que a Lei 8.080/1990 – art. 7º § II – define a integralidade da assistência à saúde dizendo tratar-se de um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços que devem ser garantidos no sistema.

Neste sentido, haveria sentido uma determinação judicial impor a um ente federativo a garantia de todo e qualquer serviço que integre a RENASES?

Ao fazer essa reflexão, lembre-se de que o sistema de saúde é composto pelos serviços de diversos entes, na região

de saúde ou entre regiões de saúde, os quais se integram em uma rede. Ninguém faz sozinho da vacina ao

transplante.

UNIDADE II - COMPREENDENDO A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

Em Judicialização da Saúde, veremos o posicionamento da Justiça mediante o conflito entre cidadão e Estado e as

premissas para se compreender o que pode ser objeto de ação judicial. Em seguida, a partir dos indicadores de demandas judiciais e de seu impacto no cenário da judicialização, analisaremos a atuação do Judiciário no

enfrentamento dessas questões. Verificaremos ainda o modo pelo qual as demandas judiciais desestruturam a organização do SUS bem como as falhas do SUS e os interesses de mercado impactam na construção da saúde

pública.

Ao final, coloque em prática os conhecimentos adquiridos, realizando a atividade proposta.

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1. Conceitos Iniciais

A Judicialização da saúde, conforme visto anteriormente, é um fenômeno recente, com aproximadamente 10 anos.

Ela vem impondo debates e reflexões entre os dirigentes sanitários e as autoridades judiciárias visando encontrar um caminho que possa, de fato, ser a forma democrática pela qual o cidadão faz valer um direito seu que esteja sendo

descumprido pelas autoridades públicas.

1.1. Confronto cidadão x Estado

A judicialização reflete uma luta entre o que o cidadão entende que lhe deve ser garantido e o Estado lhe garante de maneira insatisfatória ou

aquilo que o cidadão gostaria que lhe fosse garantido, mas não

encontra respaldo na lei. Por isso a defesa de ambos os lados – cidadão e Estado –, com o Juiz ao centro, de modo imparcial, a pender

por um lado ou outro, conforme entender alguma proteção legal está sendo descumprida.

1.2. Objeto de ação judicial

Para se entender o que pode ser objeto de uma ação judicial é preciso conhecer a saúde, sua organização, suas

atribuições e os direitos e deveres do cidadão. É essencial saber:

como ocorre a forma do acesso que deve ser ordenado, não podendo ser uma simples porta aberta;

o conteúdo da integralidade da assistência à saúde;

qual ente federativo é responsável pela satisfação daquele direito pretendido.

2. Medidas e ações do judiciário

O crescente número de demandas judiciais no âmbito da saúde torna o quadro da judicialização da saúde agravante.

Observe os quadros a seguir, que mostram o quantitativo de novas ações nos anos de 2010 e 2011:

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2.1. Decisões do STF e do CNJ

Em 2009, ante a grande demanda judicial e as incompreensões

do SUS, o Supremo Tribunal Federal (STF) realizou uma audiência

pública. O Ministro Gilmar Mendes concluiu, em sentença, no

âmbito de uma demanda judicial, determinadas questões de

política sanitária como um caminho orientador para as decisões

das demandas.

Em 2010, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu a Recomendação 31, contendo importantes

orientações nesse campo.

2.2. Impacto na estrutura da saúde

A situação judicial, após essas iniciativas e realizações importantes do Judiciário, não conseguiu estancar ou filtrar as

demandas judiciais justas daquelas de caráter duvidoso ou improcedentes.

A judicialização continua a garantir serviços públicos aos usuários de planos de saúde sem o devido ressarcimento

previsto na Lei Federal 8.656, desorganizando o planejamento da saúde e sua estrutura.

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2.3. Falhas, conflitos e interesses

Não podemos deixar de considerar as falhas do SUS na prestação

de serviços de saúde. A não efetividade do direito à saúde por

responsabilidade do Poder Público deve realmente ser coibida,

não se justificando de nenhuma forma.

Assista ao vídeo, em que o Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais entre 2010 e 2014, Antônio Jorge de

Souza Marques, fala sobre como o Estado de Minas Gerais enfrenta as situações complexas da judicialização da

saúde. https://www.youtube.com/watch?v=FQyKmnW0gT8

É necessário discernir as circunstâncias e tentar agir de maneira justa, compreendendo o SUS e propondo as ações

judiciais relacionadas à falta da efetividade da garantia do direito à saúde. Por outro lado, é fundamental saber

distinguir situações que não estão compreendidas no âmbito do SUS e que são garantidas, muitas vezes, pelo Poder

Judiciário. Não se pode negar que há situações em que os interesses de mercado estão acima do interesse na

construção da saúde pública.

3. Síntese

Você lembra o que aprendemos nestes capítulos?

Vimos que o cenário da judicialização é preocupante e que para enfrentar essa questão, o judiciário tomou algumas

providências.

Acesse a decisão do Ministro Gilmar Mendes, em suas conclusões, e a Recomendação 31 do CNJ e reflita, de maneira

crítica, se elas podem ajudar na desjudicialização da saúde.

UNIDADE III - COMPREENDENDO A JUDICIALIZAÇÃO NO CONTEXTO DA ATENÇÃO DOMICILIAR

Em Judicialização da Atenção Domiciliar, explicaremos os aspectos gerais da Atenção Domiciliar tais como sua

definição e garantias, a exigência de vínculo para a solicitação dos serviços e a anuência da equipe do SUS para sua

concretização.

Além disso, distinguiremos a assistência domiciliar da assistência social, visto que muitas das demandas judiciais

submetem-se ao campo da assistência social. Em seguida, analisaremos as demandas mais prevalentes no âmbito do

SUS. Neste contexto, veremos como o SUS é utilizado como balcão de serviços tanto para seus usuários que

demandam serviços, ações e medicamentos fora da RENASES e RENAME tanto para os usuários da saúde privada que

utilizam o SUS como complementar ao plano de saúde, ferindo o princípio de igualdade. Por fim, refletiremos sobre a

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atuação da Agência Nacional de Saúde (ANS) diante dessas questões e abordaremos a proposta de mediação

sanitária.

Ao final, coloque em prática os conhecimentos adquiridos, realizando a atividade proposta.

1. Aspectos Gerais

Como funciona a judicialização da Atenção Domiciliar?

A assistência domiciliar está prevista na Lei 8.080/1990,

art. 19-I e na Portaria MS nº 963, de 2013.

A Lei 8.080 dispõe sobre o atendimento domiciliar e a

internação hospitalar. Além disso, define como

assistência de atendimento e internação domiciliares...

A Portaria MS nº 963, de 2013, dispõe o que significa a

assistência domiciliar, estabelecendo critérios para o seu

funcionamento e financiamento, incluindo esses serviços

na rede de atenção às urgências.

1.1. Exigência de vínculo

O primeiro ponto a ser destacado para que o cidadão tenha direito à assistência domiciliar é ele estar vinculado

ao SUS. A Portaria 963/2013 dispõe o que significa a assistência domiciliar, estabelecendo critérios para o seu

funcionamento e financiamento, incluindo esses serviços na rede de atenção às urgências.

A solicitação dos serviços da AD pode ser feita por quem necessitar (paciente,familiares e profissionais de saúde)

devendo haver a anuência da equipe do SUS para sua concretização.

1.2. Assistência domiciliar x assistência social

É comum se confundir a assistência domiciliar com assistência social. Muitos serviços de saúde acabam se

confundindo com a assistência social que é uma das três áreas da seguridade socialinterfere na saúde, mas não é

saúde. A Lei Complementar 141, em seu artigo 4º, § VIII, veda que as ações de assistência socialsejam consideradas

como ações e serviços de saúde.

Muitos dos pedidos perante o Poder Judiciário estão submetidos ao campo da assistência social. Por isso, é

fundamental analisar se a situação da pessoa na atenção domiciliar está em conformidade:

com o artigo 3º da Lei Complementar 141 que dispõe sobre o que são ações e serviços de saúde;

com a RENASES e a RENAME;

com o artigo 19-I da Lei 8080 e a Portaria 963/2013.

Assista ao vídeo, em que a autora Dra. Lenir Santos discute a Lei Complementar 141 e esclarece como funcionam as

despesas da saúde e as competências dos entes.

Fonte: Traduzindo o SUS. Redetecnologicaunb. Disponível

em: https://www.youtube.com/watch?v=ZFoZl1KarOE&feature=share&list=TLlZ0lbUdNbUo. Acessado em: 15 mai. 2013.

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2. Demandas judiciais

Nas decisões judiciais, o setor jurídico do ente demandado deve

dialogar com o Juiz apresentando seus argumentos no tocante ao

respeito à lei e às competências que foram definidas como sendo

as dos municípios na região de saúde, em especial para quem

assinou contrato organizativo de ação pública, previsto

no Decreto 7.508/2011.

A judicialização nesse campo tem ocorrido no âmbito de satisfação de direitos previstos na Lei 8.080 e nem sempre

garantido pelo Poder Público.

Assista ao vídeo a seguir que trata das diversas demandas judiciais no âmbito da saúde pública, dos problemas

encontrados e das decisões em favor dos pacientes do SUS.

Fonte: Justiça Seja Feita destaca decisões do Judiciário em favor de pacientes do SUS. Disponível

em: http://www.tvjustica.jus.br/index/detalhar-noticia/noticia/233706. Acesso em: 24 mai. 2013.

2.1. Demandas judiciais prevalentes no âmbito do SUS

Em recente levantamento, não encontramos dados que registrem a demanda judicial específica da Atenção Domiciliar.

Contudo, as demandas judiciais mais frequentes na Atenção Domiciliar podem ser resumidas em:

insumos, medicamentos, equipamentos e dietas;

inclusão de paciente sem critérios corretos;

manutenção indefinida da internação domiciliar sem critérios;

enfermagem 24h.

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Demandas judiciais prevalentes no âmbito do SUS

Em uma pesquisa realizada para melhor conhecimento das demandas judiciais foram relacionadas algumas situações.

São elas:

I. Medicamentos que muitas vezes estão à disposição do paciente e mesmo assim ele demanda contra o Estado;

outras vezes realmente os medicamentos estão em falta. Se esses medicamentos estão na RENAME, obrigatoriamente

deveriam estar à disposição do paciente.

II. Medicamentos sem registros na ANVISA.

III. Medicamentos que têm registro na ANVISA, mas não estão na RENAME.

IV. Medicamentos experimentais em outros países.

V. Fraldas descartáveis com marcas já determinadas.

VI. Leite.

VII. Determinado tipo de alimentação, como vegetais.

VIII. Exames de apoio diagnóstico.

IX. Procedimentos ambulatoriais e cirúrgicos.

X. Assistência domiciliar com pedido de prótese e órtese e material de apoio como cama hospitalar, entre outros.

XI. Enfermagem e outros profissionais para assistência domiciliar.

XII. Respiradores, aspiradores de secreção, curativos de alto custo, insumos de uso diário, dietas industrializadas.

XIII. Internação compulsória mesmo fora do perfil definido pela Portaria Ministerial, acompanhamento de

enfermagem 24 horas.

XIV. Manutenção indefinida do cuidado domiciliar, não permitindo que a alta seja um critério do profissional de saúde

do SUS.

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2.2. Planos de saúde x SUS

No contexto das demandas judiciais, surge a questão sobre os usuários dos planos de saúde que mesmo pagando

pelos serviços, recorrem ao SUS para a aquisição de remédios, exames entre outros, não garantidos pelos planos.

Leia um trecho da reportagem Os planos de saúde e o SUS, do Estadão:

Fonte: Os planos de Saúde e o SUS. Estadão. Disponível em: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-planos-de-saude-e-o-

sus-imp-,1031967. Acesso em: 24 mai. 2013.

2.2.1. Desestruturação do sistema

Dessa forma, a hipótese do usuário do plano de saúde

querer utilizar o SUS como se este fosse um balcão de

serviços fora do plano desestrutura o sistema e fere o

principio da igualdade ao acesso às ações e serviços

de saúde, uma vez que as demais pessoas cumprem

todos os trâmites necessários para estar no SUS.

2.3. Atuação da Agência Nacional de Saúde

Muitas vezes, as demandas contra o SUS são realizadas por pessoas que têm plano ou seguro-saúde, quando a

demanda deveria ser contra seu próprio plano.

Mesmo no caso de haver determinação de atendimento mediante medida liminar, a Agência Nacional de Saúde (ANS)

deveria, imediatamente, requerer o ressarcimento nos termos do disposto na Lei 9.656/1998.

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Nesses casos, a Agência incorre em falta por não requerer o ressarcimento constituindo-se em uma renúncia de

receita pública. Seria uma medida facilitadora se o Juiz, ao lado de determinar que o SUS atenda a pessoa detentora

de plano de saúde, impusesse a imediata cobrança do ressarcimento pela ANS, sob pena de multa, como o faz com o

gestor da saúde.

2.4. Mediação Sanitária

O Estado de Minas Gerais tem adotado a Mediação Sanitária como uma forma de tornar menos deletéria a questão da

judicialização a fim de chegar a decisões que realmente sejam mais justas para todos. Na Mediação Sanitária, o

Ministério Público, o Poder Judiciário e o Poder Executivo (Secretaria de Saúde) tentam uma mediação antes de

qualquer decisão, permitindo que todas as partes possam de fato expor suas considerações e somente depois o juiz

decide.

Sabe-se que ainda falta muito para se chegar a uma solução para essa questão, mas há vários caminhos que vêm

sendo construídos para tentar encontrar soluções de justiça social no campo da saúde pública. Até o presente

momento, a judicialização continua intensa e desestruturando o SUS em sua organização e seu financiamento.

Assista ao depoimento do Promotor Dr. Gilmar de Assis, que menciona os principais fatores de causa da mediação

sanitária e fala sobre os resultados das ações e as novas perspectivas para o futuro do serviço de saúde em Minas

Gerais. https://www.youtube.com/watch?v=uguls3uCvv8.

3. Síntese

Vimos sobre a Judicialização da saúde e o projeto Mediação Sanitária como uma medida para o enfrentamento das

complexas demandas de saúde, de forma a possibilitar a construção de políticas públicas de saúde universais,

integrais e igualitárias.

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GLOSSÁRIO

- A Autonomia federativa: A autonomia federativa está prevista no art. 18 da Constituição Federal. Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

- C CIB: Comissão Intergestores Bipartite. O Decreto 7.508/11 reconhece como instâncias de decisão do SUS as Comissões Intergestores; Tripartite, no âmbito nacional; Bipartite,na esfera estadual; e Regional, no campo das Regiões de Saúde. A CIB é o fórum de negociação entre gestores do Estado e Municípios, na implantação e operacionalização do Sistema Único de Saúde (SUS). Como um colegiado de decisões bipartite, a CIB é composta por dez membros, sendo cinco representantes da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) e cinco, do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (COSEMS). A CIB visa promover a orientação, a regulação e a avaliação dos aspectos operacionais do processo de descentralização das ações e serviços de Saúde, em todo domínio do Estado. Clique para acessar a lista de contatos das CIBs. CIR: Comissão Intergestores Regional. O Decreto 7.508/11 reconhece como instâncias de decisão do SUS as Comissões Intergestores; Tripartite, no âmbito nacional; Bipartite,na esfera estadual; e Regional, no campo das Regiões de Saúde. As

Comissões Intergestores Regionais (CIR), anteriormente denominadas Colegiados de Gestão Regional (CGR), são estruturas criadas pelo Pacto pela Saúde, com o objetivo de qualificar o processo de regionalização no SUS,garantindo o exercício da ação cooperativa entre os gestores nas regiões de saúde, formando um espaço de governança em âmbito regional. CIT: Comissão intergestores tripartite. O Decreto 7.508/11 reconhece como instâncias de decisão do SUS as Comissões Intergestores; Tripartite, no âmbito nacional; Bipartite, na esfera estadual; e Regional, no campo das Regiões de Saúde. A Comissão Intergestores Tripartite (CIT) é um espaço de articulação e expressão das demandas dos gestores federais, estaduais e municipais. Alguns de seus objetivos são: pactuar estratégias para implantação e operacionalização; estabelecer acordos sobre questões operacionais da implantação dos serviços, programas, projetos e benefícios; atuar como fórum de pactuação de instrumentos, parâmetros, mecanismos de implementação e regulamentação; pactuar os critérios e procedimentos de transferência de recursos para cofinanciamentos. Saiba Mais: Clique aqui CONASEMS: O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que congrega as secretarias municipais de saúde ou órgão equivalente e seus respectivos secretários ou detentor de função equivalente. Seu objetivo é promover ações conjuntas que fortaleçam a descentralização política, administrativa e financeira do Sistema Único de Saúde (SUS) e atuar em prol do desenvolvimento da saúde pública, da universalidade e igualdade do acesso da população às ações e serviços de saúde. CONASS: O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que se pauta pelos princípios que regem o direito público e que congrega os Secretários de Estado da Saúde e seus substitutos legais, enquanto gestores oficiais das Secretarias de Estado da Saúde (SES) dos estados e Distrito Federal. Seu objetivo é promover a articulação e a representação política da gestão estadual do SUS, proporcionando apoio técnico às Secretarias Estaduais de Saúde, coletiva e individualmente. Constituição: A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, promulgada em 5 de outubro de 1988, é a Carta Magna que regula e organiza o funcionamento do Estado, limita poderes e define os direitos e deveres dos cidadãos. Clique para acessar na íntegra.

- I Internação Domiciliar: Atenção e Internacão Domiciliar no SUS

Aspectos Norteadores Neste momento em que as reflexões sobre a necessidade de reforma da atenção hospitalar avançam pelo país, a proposta de implementação da modalidade de internação domiciliar pode vir a contribuir de forma decisiva para o (re) ordenamento interno da rede de serviços de saúde, bem como as novas definições de papéis que se fazem necessárias. A constituição e implantação de ações específicas nesta área justificam-se pela possibilidade de melhor utilização dos serviços hospitalares devido à disponibilização de um conjunto de atividades prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao paciente com quadro clínico que exijam cuidados especializados, mas que não necessitam, obrigatoriamente, de internação hospitalar. Esta discussão remete ao conjunto de atividades prestadas no domicílio, a pacientes que exijam atenção mais intensa, mas que possam ser mantidos em casa, desde que disponham de atenção contínua de um cuidador treinado e supervisão por pelo menos um membro da equipe de saúde. Neste sentido, assume vulto o papel desempenhado pela equipe do Programa Saúde da Família no sentido de promover maior interação e responsabilização frente a usuários singularizados em territórios específicos, com novos deveres na atenção à saúde. A implementação desta modalidade de assistência além de promover atenção humanizada aos usuários tem vulto potencialmente importante para a construção de relacionamentos na rede de atenção á saúde, em vários níveis da assistência.

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Assim, a internação domiciliar deve estar articulada ao processo de reforma da atenção à saúde no SUS e como tal contribuir para o atendimento das necessidades de saúde da população, e, portanto, ser instrumento da defesa da vida individual e coletiva. A interação entre as equipes de serviço de atenção domiciliar com as demais, incluindo a do ESF, tem um componente agregador no processo de qualificação da atenção prestada aos usuários do SUS.

Estratégia: Trazer reflexões acerca do papel e integração das equipes do ESF com esta modalidade assistencial, identificando vínculos, parcerias e atividades complementares que levem em conta as características sociais, epidemiológicas e demográficas do território de saúde, visando estabelecimento de redes, mecanismos de referência e contra-referência, discussão dos papéis das equipes multidisciplinares de saúde e qualificação da atenção prestada, no âmbito do domicílio. A legislação, como segue, refere-se ao histórico da Política de Internação Domiciliar: Portaria MS/GM N° 2.529, de 20 de outubro de 2006 - Institui a Internação Domiciliar no âmbito do SUS; Lei N° 10.424, de 15 de abril de 2002 – Acrescenta capítulo e artigo à Lei 8080 de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento de serviços correspondentes e dá outras providências, regulamentando a Assistência Domiciliar no SUS; Portaria MS/GM N° 520, de 25 de março de 2004 – Institui Grupo de Trabalho por representantes dos órgãos abaixo relacionados, para elaborar proposta de Política de Atenção Domiciliar, no âmbito do SUS; Resolução ANVISA N° 11, de 26 de janeiro de 2006 – Dispõe sobre regulamento técnico de funcionamento de serviços que prestam Atenção Domiciliar; Portaria SAS N° 629, de 25 de agosto de 2006 – Descentraliza para os gestores Estaduais/Municipais de saúde, o registro das habilitações no SCNES, conforme descrito na tabela a seguir, para os estabelecimentos aptos a realizarem procedimentos referentes aos cuidados prolongados, Internação Domiciliar, planejamento familiar/esterilização, cuidados intermediários neonatal, e de cirurgia por videolaparoscopia, após as devidas deliberações na instância da Comissão Intergestores Bipartite; Portaria MS/GM N° 2.818, de 08 de novembro de 2006 – Restabelece na tabela do Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH/SUS), o grupo de código 85.100 12-9 Internação Domiciliar e seus respectivos procedimentos. Situação Atual: Existe 71 hospitais cadastrados no serviço 1301 – internação domiciliar, conforme Portaria GM nº2416 de 23 de março de 1998, e Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES – Relatórios – Habilitações – 1301 – Internação Domiciliar. Perspectivas: - A partir da regulamentação da Portaria GM/MS nº. 2.529, de 19/10/2006, haverá a garantia do repasse dos recursos financeiros para habilitação das equipes de internação domiciliar – R$ 50.000,00 para investimentos e R$20.000,00/mês para o custeio; operacionalização dos fluxos para análise das propostas e habilitação das equipes e monitoramento e avaliação do processo.

- L Lei 8080/1990: A Lei 8080/1990 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Seu artigo 15 trata das atribuições dos entes federativos. Seus artigos 16 ao 18 tratam, respectivamente, das competências da Direção Nacional, Estadual e Municipal do Sistema Único de Saúde-SUS. Clique aqui para acessar, na íntegra, a Lei 8080/1990. Lei 9.656/1998: Art. 1o Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a sua atividade, adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes definições: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) [...] § 1o Está subordinada às normas e à fiscalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS qualquer modalidade de produto, serviço e contrato que apresente, além da garantia de cobertura financeira de riscos de assistência médica, hospitalar e odontológica, outras características que o diferencie de atividade exclusivamente financeira, tais como: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) a) custeio de despesas; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

b) oferecimento de rede credenciada ou referenciada; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) c) reembolso de despesas; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) d) mecanismos de regulação; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) e) qualquer restrição contratual, técnica ou operacional para a cobertura de procedimentos solicitados por prestador escolhido pelo consumidor; e (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) f) vinculação de cobertura financeira à aplicação de conceitos ou critérios médico-assistenciais. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

- R RENAME: A Relação Nacional de Medicamentos (RENAME) consiste em uma lista com os medicamentos essenciais para tratar as doenças mais comuns na população. O Ministério da Saúde é responsável por sua publicação e com base nela, estados e municípios constroem sua própria relação de medicamentos. Esses medicamentos possuem um ou mais princípios ativos, registrados na Anvisa e que apresentam menor custo nas etapas de armazenamento, distribuição, controle e tratamento. Além disso, todas as fórmulas apresentam valor terapêutico comprovado, com base em evidências clínicas. Clique aqui para acessar os anexos da RENAME.

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RENASES: A Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde – RENASES compreende todas as ações e serviços que o SUS oferece ao usuário para atendimento da integralidade da assistência à saúde. Ela está organizada da seguinte forma: Ações e serviços da atenção primária; Ações e serviços da urgência e emergência; Ações e serviços da atenção psicossocial;

Ações e serviços da atenção ambulatorial especializada e hospitalar; Ações e serviços da vigilância em saúde.

- S SUS: O Sistema Único de Saúde, criado no Brasil em 1988 com a promulgação da nova Constituição Federal, tornou o acesso gratuito à saúde direito de todo cidadão. Fonte: Portal Brasil. Saiba mais: Entendendo o SUS: saiba mais sobre o Sistema Único de Saúde.

REFERÊNCIAS

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as decisões trágicas. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2001.

BARROSO, Luiz Roberto. Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática. Online: disponível na internet

via www.oab.org.br. Arquivo consultado em 07 de maio de 2013.

NATIONAL ASSOCIATION FOR HOME CARE & HOSPICE. Basic Statistics About Home Care: Updated 2010. Washington, DC, 2010.

NOGUEIRA, R. P. A segunda crítica social da saúde de Ivan Illich. Interface: comunicação, saúde, educação, Botucatu, v. 7, n. 12, p. 185-190, fev. 2003.

SCHRAMM, J. M. A. et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciênc. Saúde

Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, p. 897-908, 2004.

SENA, R. R. et al . Atenção domiciliar como mudança do modelo tecnoassistencial. Rev. Saúde Pública, São Paulo,

v. 44, n. 1, fev. 2010 .

SILVA JR., A. G. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o debate no campo da saúde coletiva. 2. ed. São Paulo: Editora Hucitec, 2006.

SANTOS, Lenir (org.). Direito da Saúde no Brasil. Campinas: Saberes Editora, 2010.

SANTOS, Lenir. O SUS não é uma farmácia pública. Online: disponível na internet via www.idisa.org.br/colaboradores.

Arquivo consultado em 07 de maio de 2013.

SANTOS, Lenir. Os contornos jurídicos da integralidade da assistência à saúde. Boletim de Direito Administrativo. São Paulo: editora NDJ, 2007.

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CRÉDITOS

GOVERNO FEDERAL

Presidência da República Ministério da Saúde

Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na

Saúde (SGTES) Departamento de Gestão da Educação na Saúde

(Deges) Secretaria Executiva UNA-SUS

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Reitor Ricardo Vieiralves de Castro

Vice-Reitor

Paulo Roberto Volpato Dias Sub-Reitora de Graduação

Lená Medeiros de Menezes Sub-Reitora de Pós-graduação e Pesquisa

Monica da Costa Pereira Lavalle Heilbron

Sub-Reitoria de Extensão e Cultura Regina Lúcia Monteiro Henriques