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1 UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORAS (UPPs), UMA REALIDADE QUE A CIDADE DO RIO DE JANEIRO NECESSITAVA Autor: Guilherme Henrique da Conceição Rio de Janeiro RJ Setembro de 2017

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UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORAS (UPPs), UMA REALIDADE QUE A

CIDADE DO RIO DE JANEIRO NECESSITAVA

Autor: Guilherme Henrique da Conceição

Rio de Janeiro – RJ

Setembro de 2017

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho terá como objetivo apresentar a política pública do Programa das

Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs, que foram implantadas durante os anos de 2008 até

o ano de 2016, para controlar o crescimento do crime organizado dentro da cidade do Rio de

Janeiro.

Todavia, não bastava apenas levar a polícia cidadã para os morros cariocas, fato que

seriam necessários haver uma redução dos níveis de desigualdades que formaram a sociedade

carioca com a exclusão dos pobres, moradores de favelas.

Por esta razão, o tema será contextualizado com aspectos históricos mundiais de

valorização dos direitos do homem, até se chegar a formação da sociedade brasileira,

moradora de comunidades carentes de serviços públicos, os quais levaram a população a

passar por graves problemas sociais, que com a ausência do Estado passaram a ser atendidos

em sua maioria com o crime organizado.

No decorrer do trabalho será apresentado como se seguiu o programa das UPPs e

como se disponibilizou a ação de levar às comunidades os serviços públicos. Porém, serão

relatadas as dificuldades que emperraram a continuidade de uma política pública efetiva, pela

falta dos demais setores governamentais em cumprir sua parte nas melhorias dos moradores

de favela.

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2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS SOCIAIS

O Estado Monárquico ou Republicano fortalecido, através de sua história e poder1,

passou por adequações sociais, as quais provocaram alternâncias no convívio da sociedade e

se concentraram na busca da força como predominância. Todavia, com a evolução do Estado

Moderno do Ocidente as leis internas passaram a ter papel de controle social, equilibrando

assim os conflitos em vários aspectos: civil, tributário, penal, trabalhista, dentre outros.

No período da Primeira Revolução Industrial vários problemas passaram a surgir, pois

como se necessitava de mão de obra barata, para dar seguimento à produção de determinados

produtos industrial e consequentemente, os insumos, como foi o caso do carvão mineral para

aquecer as caldeiras industriais, passou-se a verificar o direito ao horário de trabalho, bem

como a exploração da mão de obra infantil, pois a mesma era muito utilizada em minas de

carvão, pois possuíam corpos pequenos e poderiam retirar o carvão de lugares onde um adulto

não conseguiria.

Por exemplo, não haviam os direitos sociais da educação e exploração infantil, bem

como dos direitos trabalhistas. No mesmo período, no século XVIII, o povo requeria seus

direitos civis, os quais não tinham garantia ratificados em normas e eram conquistados pelas

discussões sociais e reinvindicação dos direitos à saúde, propriedade, a educação e ao

trabalho. Cabe ressaltar, que neste período as pessoas viviam a mercê da burguesia, que eram

os donos das indústrias e não tinham oportunidade de crescimento, pois o estudo era

disponibilizado apenas para os ricos, por ser caro.

Estes direitos passaram a ter uma discussão bem presente, com o advento da

Revolução Francesa, que após sua proclamação em 1789, tendo como os seguintes tópicos:

Estes são os artigos tratados na declaração original de 1789:

Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só

podem fundamentar-se na utilidade comum.

Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais

e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a

segurança e a resistência à opressão.

1 O poder de nomeação – Confrontação de pontos de vista singulares, ao mesmo tempo cognitivos e avaliativos,

que é resolvida pelo veredito solenemente enunciado de uma “autoridade” socialmente mandatada, o pleito representa uma encenação paradigmática da luta simbólica que tem lugar no mundo social: nesta luta em que se

defrontam visões do mundo diferentes, e até mesmo antagonistas, que, à medida da sua autoridade, pretendem

impor-se ao reconhecimento e, deste modo, realizar-se, está em jogo o monopólio do poder de impor o princípio

universalmente reconhecido de conhecimento do mundo social, o nomos como princípio universal de visão e de

divisão (nemo significa separar, dividir, distribuir), portanto, de distribuição legítima. Nesta luta, o poder

judicial, por meio dos vereditos acompanhados de sanções que podem consistir em atos de coerção física, tais

como retirar a vida, a liberdade ou a propriedade, manifesta esse ponto de vista transcendente às perspectivas

particulares que é a visão soberana do Estado, detentor do monopólio da violência simbólica legítima.

BOURDIER, Pierre – O poder simbólico, - 12ª ed – Rio de Janeiro – Ed. Bertrand Brasil – 2009;

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Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum

corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane

expressamente.

Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo:

assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão

aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos

direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.

Art. 5.º A lei proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela

lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não

ordene.

Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve

ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são

iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e

empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a

das suas virtudes e dos seus talentos.

Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados

pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem,

executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer

cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso

contrário torna-se culpado de resistência.

Art. 8.º A lei apenas deve estabelecer apenas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada

antes do delito e legalmente aplicada.

Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar

indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá

ser severamente reprimido pela lei.

Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões

religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida

pela lei.

Art. 11.º A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos

direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir

livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.

Art. 12.º A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força

pública; esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade

particular daqueles a quem é confiada.

Art. 13.º Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é

indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de

acordo com suas possibilidades.

Art. 14.º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus

representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de

observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.

Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua

administração. Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem

estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.

Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode

ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir

e sob condição de justa e prévia indenização.2

2 Em 26 de agosto de 1789, na França, os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional,

tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos

males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e

sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes

lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder

Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam

por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples

e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral.

Em razão disto, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo.

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No caso do Brasil, podem ser citados os movimentos da independência da colônia em

1822, que permaneceram até a Proclamação da República em 1889, advindo a quebra do

império e o início da república, pelos seguintes motivos:

A nossa república foi proclamada no dia 15 de novembro de 1889, pelo Marechal

Deodoro da Fonseca, que por meio de um golpe militar, tornou possível a derrubada

da Monarquia, que cedeu espaço para a República Federativa e Presidencialista do

Brasil. Vamos ver agora quais foram as principais causas que levaram a isso, afinal,

um movimento tão grandioso jamais acontece “da noite para o dia”.

O sistema monárquico brasileiro estava claramente em crise, em uma verdadeira

decadência, porque já não servia mais para suprir as necessidades sociais que gritavam cada vez mais. Vale lembrar que o Brasil foi o último país da América a se

tornar uma república, ou seja, fica claro que uma Monarquia, já quase no século XX,

não se sustentava mais. A sociedade estava mudada, carecia de menos autoritarismo,

mais liberdade econômica e mais democracia.

O imperador D. Pedro II estava constantemente interferindo nas decisões da Igreja

Católica e acabou perdendo o apoio dela. Vale lembrar que, nesse momento, a Igreja

Católica ainda era uma instituição muito poderosa e respeitada.

O exército era outro setor que estava descontente com a Monarquia, e razões para

isso não faltavam! Além da corrupção que acontecia na corte, o Império ordenou

que os militares não podiam se manifestar perante a imprensa sem que tivessem uma

autorização do Ministro de Guerra. Essa medida não os agradou em nada.

Os cafeicultores, que eram uma elite poderosa da época, também não apoiavam mais a manutenção do poder monárquico, principalmente porque eles mesmos desejavam

ter mais poder político, o que não era possível durante o império.

A classe média, formada por jornalistas, estudantes, professores, artistas,

profissionais liberais, funcionários públicos e outros estava crescendo cada vez mais

no Brasil, principalmente nos centros urbanos. Essas pessoas desejavam participar

mais das decisões políticas e, por conta disso, se identificavam dos ideais

republicanos, os quais começaram a apoiar.

O movimento republicano começou a crescer e ganhar força, principalmente graças

a todos esses fatores citados acima. Os setores que estavam descontentes com a

monarquia depositaram suas expectativas nesse movimento, acreditando que com

ele seria possível melhorar a situação do país. As grandes cidades do sudeste, como São Paulo, por exemplo, foram as que mais sentiram essa onda republicana se

espalhar.

A Abolição da Escravatura, datada de 1888 foi mais um duro golpe para o

imperador. Os grandes fazendeiros se sentiram desamparados, porque teriam que

pagar para os trabalhadores e isso ia lhes custar muito caro. Se já estavam

descontentes com a Monarquia, esse fato só contribuiu para que esse sentimento se

intensificasse.3

Os direitos do homem evoluíram com o tempo e no século XX foram transformados

em direitos, quando o mundo passava por novos conflitos sociais, vinculando-se a novas

revoluções em diversos países. No caso brasileiro, durante a Revolução de 1930 e,

posteriormente, em 1945 com o Estado Novo, Getúlio Vargas pode garantir alguns direitos

Fonte: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-

cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-

do-homem-e-do-cidadao-1789.html, pesquisada em 14/09/17;

3 https://www.resumoescolar.com.br/historia-do-brasil/resumo-da-proclamacao-da-republica-do-brasil/,

pesquisado em 14/08/17;

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trabalhistas com a criação do Código das Leis Trabalhistas, bem como outras leis importantes

para o ordenamento jurídico pátrio.

Toda explanação anterior veio trazer à sociedade brasileira fundamentada na

Constituição Federal de 1988, tendo nos seus artigos o amparo à proteção da educação, à

saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança, à

previdência social, à proteção, à maternidade, e à infância.

3 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA

O objetivo desse trabalho será abordar o aspecto social que, com seus conflitos

desagua no criminal, o qual veio a formar uma metodologia de política de desigualdade para

com os iguais. O desenvolvimento dos fatos se prenderão ao estado do Rio de Janeiro, em

especial na cidade do Rio de Janeiro, pois o tema será discutir sobre as Unidades de Polícia

Pacificadora – UPPs, para cumprir a vinculação dar justificativa à criação e atender a redução

das desigualdades sociais e com isto diminuir os conflitos que foram criados ao longo de

décadas de distanciamento do poder público a localidades que o crime organizado passou a

imperar.

A política de diminuição da desigualdade não foi assumido na prática diária da

sociedade carioca, bem como na brasileira, discordando quando comparado à Constituição da

República Federativa do Brasil de 19884, a qual trouxe no caput do artigo 5º, e incisos,

também chamado de Princípio da Igualdade - em que todos são iguais, perante a lei:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes;

As formas de controle social criminal, baseadas no cumprimento às leis, baseiam-se

em duas categorias estatais: a da polícia judiciária, também chamada de polícia civil: e a da

justiça criminal, as quais tiveram sua formação num estado monárquico, absolutista, passando

a um estado republicano.

Tomando como ponto de referência a obra de T. A. Marshall 5 - através dos Direitos

Civis, Políticos e Sociais à sociedade inglesa, no século XIX - referente às questões de

4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm, pesquisada em 14/08/17; 5 MARSHALL, T. H. – Cidadania, Classe Social e Status – 1ª ed. – Rio de Janeiro – Zahar Editores – 1967;

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cidadania, a qual se comparada à forma com que se desenvolveu a sociedade brasileira, ao

longo de sua história, observa-se um desenvolvimento de forma diferenciada.

Sendo assim, Roberto Kant de Lima6 se refere à forma discricionária com que a

polícia judiciária atua na seleção de quem pode ou não ter direito, em conformidade com o

sistema judiciário, na sociedade brasileira:

As práticas discricionárias da polícia são reguladas através da ética policial, a qual é

produzida e reproduzida mediante processos "tradicionais" de transmissão do

conhecimento. A tradição inquisitorial da polícia constitui a base da sua identidade.

Portanto, a identidade que é estigmatizada pelo sistema judicial constitui o verdadeiro cerne da identidade policial. A polícia faz de seu estigma sua identidade,

aceitando o controle a ela imposto pelo sistema judicial. Em função disso, projeta os

mecanismos de estigmatização que são responsáveis por sua identidade no sistema

judicial sobre a população que está sob sua vigilância. Os procedimentos de

inquérito policial dirigidos contra as classes baixas da população retratam bem esse

processo. Por seu lado, as classes da população de status mais baixo aceitam seu

estigma e tentam separar-se dos "marginais" através do mesmo critério de

desigualdade que as estigmatizou (numa ordem jurídica supostamente igualitária).

Dizem, então, como que se desculpando de sua condição inferior na sociedade,

sempre sob suspeição inquisitorial: "Eu sou pobre, mas sou trabalhador.

Entretanto, as formas de controle passaram a ter uma autonomia, que veio a culminar

em outro fator prejudicial ao controle estatal. Nas palavras de Michel Foucault:7

Seria hipocrisia ou ingenuidade acreditar que a lei é feita para todo mundo em nome

de todo mundo; é mais prudente reconhecer que ela é feita para alguns e se aplica a

outros; que em princípio ela obriga a todos os cidadãos, mas se dirige

principalmente às classes mais numerosas e menos esclarecidas.

A corrupção se desenvolve no sistema público, através dos interesses privados de seus

agentes ou representantes, como cita Wanderley Guilherme dos Santos, para o “híbrido

institucional brasileiro” 8.

Este processo evolutivo de interesses da elite sobre a população brasileira esquecida,

por uma relação de pertencimento com a classe social - pobreza, pela etnia – negra, de

migrantes nordestinos, no Rio de Janeiro, e pela moradia - favelados. Aspectos que fizeram do

sistema penalizador estatal a receber o encarceramento e continuar a encarcerar, de uma

população que passa a ocupar 95 % (noventa e cinco por cento), no Sistema Penitenciário do

Rio de Janeiro9.

6 http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_10/rbcs10_04.htm, pesquisada em 14/08/17; 7 FOUCAULT, Michel – Vigiar e Punir - Nascimento da Prisão – Tradução de Raquel Ramalhante. 29ª Ed. –

Editora Vozes. 2004; 8 Santos WG. O híbrido institucional brasileiro. In: Santos WG. Razões da desordem. Rio de Janeiro: Editora

Rocco; 1993 9 A crise modifica a perspectiva. Enquanto que, nos anos 50, o olhar se dirigia aos fundamentos do crescimento,

aos avanços técnicos, às ultrapassagens dos limites espaciais, já nos anos 70 o olhar social se desloca para os

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O que ocorre no Brasil pode ser também compreendido a partir de Löic Wacquant em

Prisões da Miséria, quando relata a forma com que os EUA, vem tratando seu sistema

penitenciário.10

A origem deste processo de descontrole social tem suas origens no sistema capitalista,

influenciando e estimulando cada vez mais os aspectos de desvio social criminoso, encontrado

na sociedade brasileira, assim como vários países, sejam em desenvolvimento ou os ditos

primeiro mundo, abordando as palavras de GELSOM ROSENTINO:

Vivemos em uma sociedade capitalista, modo de produção esse que tem origem na

expropriação violenta de camponeses e artesãos e é fundamentado na exploração do

trabalho pelo capital, revestida quase sempre de uma base legal. Ou seja, é um

sistema baseado na violência para a sua existência, mesmo que contando hoje com

formas mais refinadas (embora as “tradicionais” e truculentas ainda estejam em

uso). A luta de classes surge como uma resposta necessária a esse processo, onde

inclusive a violência pode ser também necessária na luta contra a exploração e pela liberdade social. A “paz” no capitalismo nada mais seria do que a continuidade da

exploração pacífica do trabalho...

E a própria existência do crime gera a crescimento do aparato de segurança do

Estado, com investimento em contratação de pessoal e aquisição de armas e

equipamentos, da construção de unidades policiais, delegacias, cadeias e

penitenciárias, crescimento de empresas de segurança privadas, etc. É o que muitos

chamam de “indústria do crime” ou “da violência”. Como disse Karl Marx, certeiro

e irônico, ao afirmar que o delinquente produz delitos, assim como o filósofo produz

ideias, e o poeta, versos. Mas ele produz também “um direito penal, produz o

professor que dá cursos sobre direito penal, e mesmo o inevitável manual onde o

professor resume suas aulas tendo em vista o comércio (...). Produz ainda a

organização da polícia e da justiça, os agentes de polícia, os juízes, os jurados e os carrascos (além) de uma impressão de caráter moral e às vezes trágica, (e) introduz

certa diversão na monótona e serena tranquilidade da vida burguesa”.

Concomitante com essa “indústria” temos as perdas. Na perspectiva econômica, se

consideram dois tipos de perdas ou custos: custos diretos, formados por bens e

serviços públicos e privados gastos no tratamento dos efeitos da violência e

prevenção da criminalidade no sistema de justiça criminal, encarceramento, serviços

bloqueios, as inércias e as permanências dos sistemas sociais. Assim, o número especial dos Annales de 1948,

sobre a América Latina, privilegia o crescimento brasileiro, argentino e mexicano, abandonando a parte andina

do continente. Pode-se ler aí uma visão atlântica da América Latina que desemboca em uma relação sempre mais

intensa com a Europa no quadro do desenvolvimento das trocas e das produções. Esse número dos Annales de

1948 permanece profundamente eurocêntrico. Os artigos da revista concentram-se no estudo dos tráficos, dos

portos, do comércio e da parte litorânea do continente americano, compreendida como chave do

desenvolvimento europeu. (pág. 171) – NORA, Pierre – A História em Migalhas – Cap. 1 Antropologia e Cap. 2

- Histórica e Uma História Serial; 10 Não basta, porém, medir os custos sociais e humanos diretos do sistema de insegurança social que os Estados

Unidos oferecem como “modelo” para o mundo. É preciso também considerar seu complemento sócio-lógico: o

superdesenvolvimento das instituições que atenuam as carências da proteção social (safety net) implantando nas

regiões inferiores do espaço social uma rede policial e penal (dragnet) de malha cada vez mais cerrada e

resistente. Pois à atrofia deliberada do Estado social corresponde a hipertrofia distópica do Estado Penal: a

miséria e a extinção de um têm como contrapartida direta e necessária a grandeza e a prosperidade insolente do

outro. A esse respeito, cinco tendências de fundo caracterizam a evolução penal nos Estados Unidos desde a

virada social e racial esboçada no início dos anos 60, em resposta aos avanços democráticos provocados pelo

levante negro e pelos movimentos populares de protesto que vieram em sua esteira (estudantes, oponentes à

guerra do Vietnã, mulheres, ecologistas, beneficiários de ajuda social) durante a década precedente. –

WACQUANT, Löic; Prisões da Miséria, Tradução André Telles; Ed. Jorge Zahar; Rio de Janeiro; 2001; p. 80;

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médicos, serviços sociais e proteção das residências; e custos indiretos, composto

por perda de investimentos, bens e serviços que deixam de ser captados e produzidos

em função da existência da criminalidade e do envolvimento das pessoas (agressores

e vítimas) nestas atividades.

2.1 - FORMAÇÃO DAS FAVELAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Com a expansão imobiliária foi um dos grandes fatores que facilitaram a formação das

comunidades que foram iniciadas nos morros cariocas. Com o encarecimento dos bairros

cariocas, principalmente, no centro, zona sul e oeste, milhões de moradores pobres não

tiveram como continuar morando em seus casebres nas locais onde o metro quadrado passava

por transformações exponenciais, quanto ao valor.

Surge então à migração dos pobres poder morar em morros próximos, seja nas zonas

valorizadas, ou nas cidades das periferias, aos grandes centros e locais onde a oportunidade de

emprego permanecia presente. Além da ocorrência de êxodo de diversos brasileiros vindos de

outros estados da federação que vinham na esperança de emprego, como foi a chegada de

vários brasileiros vindos das regiões norte e nordeste para buscar empregos, pois na região

sudeste, ainda havia a proposta de um novo eldorado.

Todavia, esta migração de milhões de pessoas pobres, para às localidades que não

demonstravam interesse da elite carioca não trazia consigo a segurança que tinham nas zonas

valorizadas da cidade do Rio de Janeiro, como as doenças graves, inclusive ligadas a falta de

saneamento básico. Além disso, doenças praticamente banidas dos países centrais crescem

vertiginosamente nessas áreas. Dados comprovam o crescimento exponencial de tuberculose

dentre os habitantes das favelas. Para que seja possível ter uma ideia, em 2008, matéria

publicada no Jornal do Brasil afirmava que a favela da Rocinha, localizada na zona sul da

cidade do Rio de Janeiro, registrava a impressionante média de 55 casos mensais de

tuberculose, ou seja, são 600 casos para cada 100 mil habitantes. A ausência de debates

públicos quando se trata de crescimento tão elevado – a Organização Mundial da Saúde

(OMS) considera aceitável apenas cinco casos de incidência do Bacilo de Koch, causador da

doença, para cada 100 mil habitantes – somente se explica por tratar de assolar a população

mais pobre da cidade.

Outro fator importante foi o papel do Estado em se preocupar com obras urbanas de

cunho de aparência e paliativos às necessidades que a população pobre vinha e vem passando

ao longo dos anos, as quais não atacam o problema diretamente. Existia e ainda existe a falta

de políticas públicas capazes de diminuir a desigualdade social entre a elite e a pobreza, onde

não são desenvolvidas políticas de inclusão social, na geração de empregos, habitacionais, ou

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no desenvolvimento de sistema de transportes coletivos eficientes. Para que seja possível

descrever o fato expresso anteriormente, “o Brasil, por exemplo, cresceu 7 por cento ao ano

de 1940 a 1970. Na década de 1980, cresceu 1,3 por cento, e na década de 1990, 2,1 por

cento, segundo o IBGE. Isto significa que, o crescimento econômico do país, nas duas últimas

décadas do século XX, não conseguiu incorporar nem mesmo os ingressantes da População

Economicamente Ativa (PEA), no mercado de trabalho, o que acarretou consequências

dramáticas para a precarização do trabalho e, consequentemente, também para a crise

urbana”.

Com as políticas neoliberais, a partir de 1980, que esse processo ganhou força, já que

houve uma política de privatização, uma acumulação de bens e serviços em poucas mãos, o

que acabou desestabilizando socialmente os países periféricos e lançando milhões de pessoas

na informalidade. Para o sistema, segundo Davis (2006), eles são "óleo queimado", "zeros

econômicos", "massa supérflua" que sequer merece entrar no exército de reserva do capital.

No estado do Rio de Janeiro a realidade não foi diferente. Há um grande crescimento

de favelas na cidade e dados oficiais do Instituto Pereira Passos - IPP trazem a informação de

que cerca de 20 por cento dos habitantes da cidade moram em favelas. Este crescimento mais

vertiginoso faz-se ainda mais visível a partir da década de 1980, que foi conhecida no Brasil

como a década perdida, já que o crescimento econômico foi baixo frente às décadas anteriores

– e está associado a todos os fatores enunciados anteriormente. O alto índice de desemprego,

o crescimento da informalidade, a especulação imobiliária, a falta de política habitacional

para população de baixa renda e o sistema de transportes coletivos precário são apenas alguns

exemplos dos motivos para o crescimento das favelas no Brasil e especificamente no

município do Rio de Janeiro.

Em certa época histórica o governo do estado, com a prefeitura do Rio de Janeiro

adotou a política pública de controle ao crescimento das favelas tendo como objetivo a

construção de muros de contenção que dificultavam a ampliação das comunidades pobres.

No ano de 2009, o discurso do governo para construção dos muros de contenção vem

acompanhado de uma medida ambiental para impedir a devastação da floresta do entorno,

tanto que três dias após a divulgação da construção do muro, as instâncias de governo

passaram a referir-se a ele como “ecolimite”. Em nota oficial o governador afirma: “estamos

investindo na ordem pública, enfrentando o tráfico de drogas e impondo limites ao

crescimento desordenado”.

Essa ideia de murar as favelas e que está sendo posta em prática agora pela parceria

entre governo e prefeitura do Estado do Rio de Janeiro não é nova. Em 2004, o Vice-

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Governador do Estado, Luís Paulo Conde (que é arquiteto), fez essa mesma proposta para

conter o crescimento da Favela da Rocinha, contudo a grande mobilização da academia e da

opinião pública fez com que não a pusesse em prática. O Vice-Governador havia sido

Secretário de Urbanismo e, em seguida, Prefeito da cidade em meados da década de 1990.

A proposta do presente trabalho é pontuar que a política adotada pelos governos

anteriores ao ano de 2008, na cidade do Rio de Janeiro, e vem sendo desenvolvida até os dias

atuais é que os governos continuavam a acreditar que o isolamento dos guetos seria uma

solução para controlar a parte específica da população: a classe pobre, funcionando como uma

política de exclusão, por considera-la inconveniente ou perigosa poderia resolver o problema

principal.

O problema do crescimento: do tráfico de drogas e das favelas, bem como da

desordem urbana encontram-se desenfreados, porque houve descaso do poder público com a

população mais pobre. Escolha de políticas públicas inadequadas e incapazes de caminhar

junto às propostas neoliberais, as quais contribuíram para o crescimento da informalidade,

pois não vinculou uma forma de adequar a instalação de equipamentos, como infraestrutura

de água e esgoto, luz e energia, gás, coleta de lixo, serviço de correio, saúde e educação

facilmente encontradas no asfalto não chegaram às favelas.

Por esta razão, adotou-se o Programa da implantação das Unidades de Polícia

Pacificadoras – UPPs, fazendo com que o Estado pudesse ser fazer presente dentro destas

comunidades pobres, a fim de estabelecida a ordem social e a exclusão da criminalidade, com

prisões dos traficantes de drogas e armas, diminuir a força destas organizações criminosas e

com isso, os serviços públicos e básicos de qualidade pudessem ser implantados e

desenvolvidos para diminuir as desigualdades sociais, respeitando o Princípio da Dignidade

da Pessoa Humana àqueles excluídos da sociedade.11

3 – PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA COM CIDADANIA –

PRONASCI

A partir de 2007 o Governo Federal iniciou o Programa Nacional de Segurança com

Cidadania – PRONASCI, fazendo com que estes espaços sociais ausentes do controle estatal

pudessem voltar ao seu controle. Criou convênios, com os estados e municípios e implantou o

Programa de Ação do Crescimento – PAC. Tinha como objetivo retirar o crime organizado

11 http://www.ub.edu/geocrit/b3w-828.htm, pesquisada em 14/08/17;

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das comunidades e criar as Unidades de Polícia Pacificadora nas comunidades da cidade do

Rio de Janeiro.

Em paralelo, o programa do PRONASCI, tinha um subprojeto e ainda continua

disponibilizando, em cursos presenciais a serem aplicados nas universidades brasileiras e em

cursos de ensino à distância, com financiamento e suporte do Ministério da Justiça, cujo

objetivo era e continua sendo de reciclar policiais e incluir no currículo das Academias de

Polícia a matéria de Cidadania e outras correlatas, para retirar da cabeça dos policiais a ideia

de uma polícia repressora e violenta, fazendo com que o policial passasse a ocupara o espaço

que foi deixado de lado durante décadas, após o regime militar. Passando a levar o policial a

ser mais próximo ao povo e principalmente às comunidades, que via no policial uma imagem

negativa e truculenta, que matava e usufruía de abusos de autoridades, não respeitando os

direitos fundamentais estabelecidos no artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Segue

abaixo, algumas ações do PRONASCI:

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) marca uma iniciativa inédita no enfrentamento à criminalidade no país. O projeto articula

políticas de segurança com ações sociais; prioriza a prevenção e busca atingir as

causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de ordenamento social e

segurança pública.

Entre os principais eixos do Pronasci destacam-se a valorização dos profissionais de

segurança pública; a reestruturação do sistema penitenciário; o combate à corrupção

policial e o envolvimento da comunidade na prevenção da violência. Para o

desenvolvimento do Programa, o governo federal investirá R$ 6,707 bilhões até o

fim de 2012.

Além dos profissionais de segurança pública, o Pronasci tem também como público

alvo jovens de 15 a 29 anos à beira da criminalidade, que se encontram ou já estiveram em conflito com a lei; presos ou egressos do sistema prisional; e ainda os

reservistas, passíveis de serem atraídos pelo crime organizado em função do

aprendizado em manejo de armas adquirido durante o serviço militar.

O Programa está instituído nas 11 regiões metropolitanas brasileiras mais violentas,

identificadas em pesquisa elaborada pelos ministérios da Justiça e da Saúde. São

elas: Belém, Belo Horizonte, Brasília (Entorno), Curitiba, Maceió, Porto Alegre,

Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória. Posteriormente, incluiu-se

também a cidade de Fortaleza e o estado de Santa Catarina.

A execução do Pronasci se dará por meio de mobilizações policiais e comunitárias.

A articulação entre os representantes da sociedade civil e as diferentes forças de

segurança – polícias civil e militar, corpo de bombeiros, guarda municipal, secretaria

de segurança pública – será realizada pelo Gabinete de Gestão Integrada Municipais (GGIM).

O Pronasci será coordenado por uma secretaria-executiva em nível federal e

regionalmente dirigido por uma equipe que atuará junto aos GGIM e tratará da

implementação das ações nos municípios.

Para garantir a realização das ações no país serão celebrados convênios, contratos,

acordos e consórcios com estados, municípios, organizações não-governamentais e

organismos internacionais. A instituição responsável pela avaliação e

acompanhamento do Programa será a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além da

verificação dos indicadores, ainda será feita a avaliação do contexto econômico e

social. O controle mais abrangente do Programa contará com a participação da

sociedade.

Projetos

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13

O Pronasci é composto por 94 ações que envolvem a União, estados, municípios e a

própria comunidade. Alguns destaques:

Bolsa-Formação – Os profissionais de segurança pública receberão novos estímulos

para estudar e atuar junto às comunidades. Policiais civis e militares, bombeiros,

peritos e agentes penitenciários de baixa renda terão acesso a uma bolsa de até R$

400. Para ter direito ao benefício, o policial terá que participar e ser aprovado em

cursos de capacitação promovidos, credenciados ou reconhecidos pela Secretaria

Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça.

Formação Policial - A qualificação das polícias inclui práticas de segurança-cidadã, como a utilização de tecnologias não letais; técnicas de investigação; sistema de

comando de incidentes; perícia balística; DNA forense; medicina legal; direitos

humanos, entre outros. Os cursos serão oferecidos pela Rede Nacional de Altos

Estudos em Segurança Pública (Renaesp), que envolve hoje 66 universidades

brasileiras, entre públicas e particulares, e ainda telecentros para educação a

distância. A meta é chegar a 80 instituições parceiras em todo o país, em 2008.

Mulheres da Paz - O projeto capacitará mulheres líderes das comunidades em temas

como ética, direitos humanos e cidadania, para agirem como multiplicadoras do

Programa, tendo como incumbência aproximar os jovens com os quais o Pronasci

trabalhará. Protejo - Jovens bolsistas em território de descoesão social agirão como multiplicadores da filosofia passada a eles pelas Mulheres da Paz e pelas equipes

multidisciplinares, a fim de atingir outros rapazes, moças e suas famílias,

contribuindo para o resgate da cidadania nas comunidades.

Sistema Prisional - A criação de mais de 40 mil vagas no sistema penitenciário do

país atenderá a públicos específicos. Os jovens entre 18 e 24 anos terão unidades

prisionais diferenciadas. O objetivo do governo federal é separá-los por faixa etária e

natureza do delito e impedir aqueles que cometeram pequenas infrações de se

contaminarem pela influência dos líderes do crime organizado. Além disso, as

mulheres apenadas também terão assistência, como berçário e enfermaria. A

reestruturação do sistema prisional envolve ações que visam à qualificação de agentes penitenciários e a formação profissional de presos.

Plano Nacional de Habitação para Profissionais de Segurança Pública - A categoria

também poderá contar com o Plano Nacional de Habitação para Profissionais de

Segurança Pública, com o apoio da Caixa Econômica Federal. Serão

disponibilizadas unidades populares para servidores de baixa renda, que recebam até

quatro salários mínimos e a cartas de crédito para a compra da casa própria, no valor

de até R$ 50 mil, para aqueles que recebam até R$ 4,9 mil.

Ministérios e Secretarias Parceiras - Algumas ações previstas no Pronasci são fruto

de parcerias com ministérios e secretarias. O Pronasci agirá em conjunto com o

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas regiões em que houver obras de urbanização para recuperação de espaços urbanos e melhoria da infra-estrutura nas

comunidades. Outro exemplo é a parceria firmada com a Secretaria Nacional Anti-

Drogas, da Presidência da República, que ampliará, com o Pronasci, o atendimento

do Viva Voz, projeto já existente que visa orientar jovens e famílias em relação às

drogas Fonte: www.mj.gov.br.12

Em contra partida, também, o governo federal resolveu dar oportunidade de voz à

sociedade civil e aos profissionais de segurança pública de discutirem com gestores da área de

segurança, através da Conferência Nacional de Segurança Pública – CONSEG, em agosto de

12 http://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2012/07/PRONASCI.pdf, pesquisado em 20/09/17;

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2009, diretrizes e princípios a serem propostos e, possivelmente, cumpridos em período pré-

determinados à Segurança Pública em todo o Brasil. Foi a primeira vez que o Governo

Federal deu a oportunidade de levar à sociedade brasileira uma visão igualitária e

horizontalizada, contrariando o que antes se adotava na formação da sociedade, ou seja, uma

visão hierarquizada e verticalizada.

4 - PROGRAMA DAS UPPs APLICADAS À ÁREA DE SEGURANÇA

PÚBLICA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Após apresentação do PRONASCI, por ter sido um marco à conquista da aproximação

do Estado com a sociedade, nos pilares da cidadania democrática, surgiram a partir do ano de

2008, no Morro Dona Marta a primeira Unidade de Polícia Pacificadora, cujo foco era

abranger os principais pontos da cidade do Rio de Janeiro, fazendo com que fossem

construídas em locais abrangentes e que vieram a ser chamados de cinturão de segurança e

que mais tarde estariam estabelecidas em áreas de proteção aos espaços destinados aos

grandes eventos como: à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016:

Fonte13

13

http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/3/lista_de_upps_gera_mal_estar_71548.html - Data da

publicação: 26.03.10, pesquisado em 18/11/10.

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Entretanto, este processo de construção e implantação das UPPs, reaproximando o

Estado dentro das comunidades não foi tão satisfatório, por alguns motivos: aumento das

ocorrências de roubo, em forma de arrastões, nas ruas da Zona Sul e Norte, e a migração das

facções criminosas, que deixaram seus domínios indo para outras regiões, como Baixada

Fluminense e para os municípios de Niterói e São Gonçalo, para dar continuidade as suas

práticas criminosas no tráfico de drogas e outros crimes, ramificando o potencial criminoso.

4.1 – INSTALAÇÃO DAS UPPs

Como o Programa da Implantação das UPPs teve de ser realizado de forma célere,

através do qual passou a ter como marco em 19/10/2008, quando foi instalada a primeira

Unidade de Polícia Pacificadora, no Morro Santa Marta, no bairro de Botafogo, na Zona Sul.

Desde então, 38 UPPs foram implantadas e atualmente a Polícia Pacificadora conta com um

efetivo de 9.543 policiais militares ocupando o espaço que o Estado havia perdido para o

crime organizado.

Para que se possa ter uma noção, hoje são 38 (trinta e oito) UPPs, que se dispõe na

cidade do Rio de Janeiro, na seguinte disposição:

UPPs Instaladas:

Zona Sul

Santa Marta – Instalação: 19.12.2008

Babilônia e Chapéu Mangueira – Instalação: 10.06.2009

Pavão-Pavãozinho e Cantagalo – Instalação: 23.12.2009

Tabajaras e Cabritos – Instalação: 14.01.2010

Escondidinho e Prazeres – Instalação: 25.02.2011

Rocinha – Instalação: 20.09.2012

Vidigal – Instalação: 18.01.2012

Cerro-Corá – Instalação: 03.06.2013

Zona Norte

Borel – Instalação: 07.06.2010

Formiga –Instalação: 01.07.2010 Andaraí– Instalação: 28.07.2010

Salgueiro – Instalação:17.09.2010

Turano – Instalação: 30.10.2010

São João, Matriz e Quieto – Instalação: 31.01.2011

Macacos – Instalação: 30.11.2011

Mangueira – Instalação: 03.11.2011

Nova Brasília – Instalação: 18.04.2012

Fazendinha – Instalação: 18.04.2012

Adeus e Baiana – Instalação: 11.05.2012

Alemão – Instalação: 30.05.2012

Chatuba – Instalação: 27.06.2012 Fé e Sereno – Instalação: 27.06.2012

Parque Proletário – Instalação: 28.08.2012

Vila Cruzeiro – Instalação: 28.08.2012

Jacarezinho – Instalação: 16.01.2013

Manguinhos – Instalação: 16.01.2013

Barreira do Vasco e Tuiuti – Instalação: 12.04.2013

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Caju – Instalação: 12.04.2013

Arará e Mandela – Instalação: 06.09.2013

Lins - Instalação: 02.12.2013

Camarista Méier - Instalação: 02.12.2013

Zona Oeste

Cidade de Deus – Instalação: 16.02.2009

Batan – Instalação: 18.02.2009

Vila Kennedy – Instalação: 23.05.2014

Centro

Providência – Instalação: 26.04.2010

Coroa, Fallet e Fogueteiro – Instalação: 25.02.2011 São Carlos – Instalação: 17.05.2011

Baixada Fluminense

Complexo da Mangueirinha – Instalação: 07.02.201414

A Unidade de Polícia Pacificadora foi considerado um dos mais importantes

programas de Segurança Pública realizado no Brasil nas últimas décadas. Implantado pela

Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, que foi planejado e coordenado pela

Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional, elaborado nos princípios da Polícia

de Proximidade à população.

Este conceito foi instituído para representar além da polícia comunitária e tinha sua

estratégia fundamentada na parceria entre a população e as instituições da área de Segurança

Pública, onde o objetivo principal seria o resgate da confiança da sociedade do local junto ao

Estado, representado pela polícia pacificadora.

O Programa englobava, inicialmente, parcerias entre os governos – municipal,

estadual e federal – e diferentes atores da sociedade civil organizada, tendo como objetivo

principal a retomada permanente de comunidades dominadas pelo tráfico de drogas e armas,

com suas organizações criminosas e assistencialistas. Garantindo, assim, da proximidade do

Estado com a população.

A pacificação, não se limita, apenas, na presença do policial presente às comunidades,

pois outros componentes de equilíbrio social e de continuidade do trabalho do Estado seria

ratificado, com o desenvolvimento social e econômico das comunidades. Verifica-se, então, a

necessidade da abertura à entrada de serviços públicos, infraestrutura, projetos sociais,

esportivos e culturais, investimentos privados, com empresas, bancos dentre outros, passariam

a cria oportunidades de emprego e distribuição de renda, que antes não haviam chegado aos

locais, onde antes o crime organizado impossibilitava esta participação.

O Estado do Rio de Janeiro com suas 38 UPPs em operação abrangem

aproximadamente 264 territórios. Ressalta-se que os efeitos proporcionados pelo programa

14 http://www.upprj.com/index.php/historico, pesquisada em 20/09/17;

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extrapolam as comunidades pacificadas, abrangendo áreas adjacentes, beneficiando direta e

indiretamente uma população bem maior onde foram instaladas.

Este trabalho de instalação das UPPs não foi pacífico, pois o Governo do Estado do

Rio de Janeiro teve de requisitar apoio às Forças Armadas, incluindo Exército, Marinha,

Aeronáutica e Polícia Federal, para que territórios pudessem ser resgatados do crime

organizado, composto pelas facções Comando Vermelho, Terceiro Comando, Amigos dos

Amigos e Milícias, que tinham estas 38 comunidades às suas hegemonias, impondo o medo e

ao mesmo tempo uma política de proximidade, impondo o medo aos cidadãos de bem, com

homicídios, através de tribunais de exceção (proibidos pela Constituição Federal de 1988),

além do poder bélico comparado, ou superior, ao que as Polícias Militar e Civil tinham em

seus paióis de combate. Através destas ações conjuntas o “poder paralelo” pode ser combatido

pela legalidade e o Estado pode se fazer presente na conquista destes territórios.

Outro fato que se faz necessário ser acrescentado, mas que expos muitos policiais foi à

forma de permanência destas UPPs, onde os policiais militares tinham de ficar e ficam até

hoje, estabelecidos em containers de material facilmente perfurado, em caso de confronto

com o crime organizado que não foi totalmente extirpado destas comunidades. Este tipo de

espaço foi altamente negativo, pois muitos policiais vieram a óbito em confrontos constantes

dentro dos 9 (nove) anos de implantação do Programa das UPPs.

5 - RISCOS QUE PODEM COMPROMETER O PROGRAMA DAS UPPs

Atualmente, o estado do Rio de Janeiro vem passando por uma crise financeira jamais

vista a nível nacional, onde o segundo maior PIB estadual da federação deixou de ser

solvente, quanto ao pagamento de suas dívidas, como atraso no pagamento de funcionários,

fornecedores e com o governo federal, quanto compromissos legais assumidos, deixando o

poder executivo a ser alvo de diversos processos judiciais, inclusive criminais cujos crimes

passaram a ser de responsabilidade, improbidade administrativa, desvio de verbas,

superfaturamento, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, que

vieram a ser iniciadas nos dois mandatos do ex-governador Sérgio Cabral Filho, o qual foi

considerado Chefe da Organização Criminosa e condenado em vários processos pela Justiça

Federal.

Este breve comentário acima, foi desenvolvido como forma a introduzir a discussão

para pontuar alguns tópicos que afetam as UPPs direta e indiretamente, para demonstrar um

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que a crise financeira do estado do Rio de Janeiro pode vir a afetar diretamente alguns

elementos sustentáveis ao Programa das UPPs, os quais serão enumerados abaixo:

Em primeiro lugar. o policial militar (e demais profissionais da área de segurança do

estado do Rio de Janeiro – ativos, inativos e pensionistas), que encontra-se cumprindo suas

atividades laborais nas 38 UPPs na cidade do Rio de Janeiro e região metropolitana, quando

deixa de receber seus salários em dia, deixando de receber no segundo dia útil e passando a

receber no décimo dia se sente desestimulado psicologicamente, pois há um sentimento

desmotivacional, pois cumpre com suas atividades em regime de plantão e passa a saber que

outros funcionários estaduais que trabalham no Tribunal de Justiça, Ministério Público,

Defensoria Pública, Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas do Estado e Procuradoria

Geral do Estado recebem no último dia útil do mês que trabalharam.

Em segundo lugar, o governo do estado tinha criado em 2012 o Regime Adicional de

Serviço – RAS, que passou a integrar o orçamento dos policiais militares (e demais

profissionais da área de segurança do estado do Rio de Janeiro – ativos, inativos e

pensionistas), cujos policiais vendiam suas folgas para trabalhar em setores pré-determinados

e autorizados pelos seus chefes e comandantes. Todavia, o mesmo deixou de ser pago, mesmo

depois dos policiais terem cumprido o RAS, fato que veio a trazer insatisfação dos

profissionais de segurança pública do estado.

Em terceiro lugar, a promessa de que os containers, usados como a base das UPPs,

seriam trocados por construções de alvenarias e receberiam uma blindagem para os policiais

se abrigarem em casos de confronto balístico e evitar atentados do crime organizado, serviço

de substituição que não ocorreu.

Em quarto lugar, as viaturas pelos policiais militares (e demais profissionais da área de

segurança do estado do Rio de Janeiro), deixaram de ser revisadas e redução do combustível a

ser utilizado pelas mesmas, comprometendo o pronto emprego e reduzindo às rondas do

policiamento ostensivo.

Em quinto lugar, os helicópteros blindados ou não que faziam ronda e davam apoio às

operações de combate e vigilância, sem substituição de peças e revisões, com as mesmas

consequências das viaturas, apresentadas acima.

Em sexto lugar, a diminuição na aquisição e a falta de novos armamentos e coletes a

prova de balas, utilizados para proteção dos policiais militares (e demais profissionais da área

de segurança do estado do Rio de Janeiro).

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Em sétimo lugar, o não pagamento de outros serviços e fornecedores que atenderiam

diretamente às UPPs, como manutenção de rádios transmissores, dentre outros.

5.1 - CORRUPÇÃO DESENFREADA DO EX-CHEFE DO PODER

EXECUTIVO

Com as investigações da Polícia Federal, a operação chamada de Lava Jato (cujo nome

da operação foi devido a uma casa de câmbio que ficava ao lado de um Lava Jato, em um

posto de gasolina).

Esta operação veio a desvendar um esquema criminoso que tinha como a primeira

vítima, a pessoa jurídica da Petrobrás S.A., que veio a sofrer com enormes perdas financeiras

com compras de equipamentos e serviços superfaturados. A mesma operação iniciou-se no

estado do Paraná, onde a corrupção na Petrobrás S.A. era liquidada financeiramente o

dinheiro desviado de várias empresas, não somente da Petrobrás.

Todavia, o que a Lava Jato do estado do Paraná tem a ver com o esquema no estado do

Rio de Janeiro? Com o avanço das investigações, descobriu-se que empresas como

Odebrecht, Andrade Gutierrez, dentre outras grandes empresas de engenharia, também

atuavam no estado do Rio de Janeiro, principalmente em consócios, que foram criados para

atender às licitações fraudulentas do então governador Sérgio Cabral Filho.

Após a Polícia Federal descobrir ligações dessa casa de câmbio com o ex-governador

do estado do Rio de Janeiro, criou-se uma outra fase da operação Lava Jato, chamada de

Operação Calicute, a qual teve seu nome originado de uma referência à cidade de Calicute, na

costa oeste da Índia. Este local foi palco de uma derrota do descobridor do Brasil, Pedro

Álvares Cabral - um episódio conhecido como a "A Tormenta de Calicute".15

15 A chegada à cidade ocorreu logo depois da passagem de Cabral pelo Brasil em 1500, ainda a caminho das

Índias. Antes dele, Vasco da Gama já havia passado pela região em 1498. Na chegada, a expedição foi

considerada um sucesso - as embarcações portuguesas tiveram uma recepção positiva. Cabral teve êxito na

negociação dos direitos para a comercialização de especiarias na região e havia a possibilidade da instalação de

uma feitoria - como eram conhecidos os postos comerciais europeus em terras estrangeiras. Mas os comerciantes

árabes logo se sentiram ameaçados pela concorrência dos estrangeiros e, temendo perder o monopólio, promoveram um ataque de muçulmanos e hindus contra as instalações dos portugueses. No conflito, o grupo

liderado por Cabral teve parte das embarcações destruídas e perdeu muitos homens. O navegador revidou o

ataque ao saquear e queimar a frota árabe. Além disso, descontente com a incapacidade do governante de

Calicute de explicar o que havia ocorrido, ele ainda ordenou um bombardeio à cidade. – Fonte:

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38016618, pesquisada em 21/09/17;

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No decorrer da operação Calicute, foi descoberta a rede que envolvia estas empresas

de engenharia, que formaram cartéis, ou oligopólios, os quais o governador facilitava que as

mesmas empresas pudessem manter-se, através de processo licitatório, sempre ganhadoras

dos certames e realizando obras de grande vulto que vieram a construir vias de acesso rápido,

como COMPERJ, BRT (Bus Rapid Transit) e VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, ampliação

da Linha 4 do Metrô, com os na cidade do Rio de Janeiro, reforma do estádio do Maracanã,

construção da Vila Olímpica, dentre outras obras. O esquema de corrupção passiva

funcionava da seguinte forma: o ex-governador do Rio de Janeiro exigia 5% do valor da obra,

dos serviços, ou equipamentos e seus secretários exigiam 1% deste valor, como taxa de

oxigênio.

De acordo com a Operação Calicute, outros crimes de corrupção passiva, lavagem de

dinheiro e organização criminosa que envolveriam outras Secretarias de Estado, como as de:

Saúde, Transporte, Obras, EMOP, dentre outras e órgãos do governo do estado foram alvo de

diversas outras operações da Polícia Federal, também chamadas de Desdobramentos da

Operação Calicute.

5.4 - CRISE FINANCEIRA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Em decorrência das despesas estabelecidas com fornecedores, repasses obrigatórios de

verbas ao governo federal, empréstimos assumidos para realizar as obras dos grandes eventos

como Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016, além de ter sido constatado por

vários especialistas e membros de várias instituições estaduais e federais que ratificam uma

má gestão pública das receitas, além do desvio de verbas com improbidade administrativa e o

fechamento das empresas de Engenharia ligadas à Petrobrás, como Oderbrech, Andrade

Gutierrez, dentre outras, criou um déficit nas despesas do estado do Rio de Janeiro em torno

de que deixaram de gerar recursos e consequentemente empregos para o Estado do Rio de

Janeiro.

Em 29/06/17, em Audiência Pública realizada na ALERJ, foi informado pelo

Procurador Geral do Estado que a dívida ativa do Estado já chega ao valor de R$ 77 bilhões.16

Além desse montante exposto acima, foi divulgado na mídia, durante o ano de 2016,

que o governo do estado do Rio de Janeiro concedeu isenção de impostos para várias

16 https://www.pge.rj.gov.br/imprensa/noticias/2017/06/divida-ativa-do-estado-chega-a-r-77-bilhoes, pesquisada

em 21/09/17;

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empresas que não necessitavam de isenção, como por exemplo casas de encontros íntimos, ou

termas, Solarium, na Lagoa, e Monte Carlo, em Copacabana. Receberam isenção joalherias,

como H Stern, que vendia joias à nacional Adriana Ancelmo, presa domiciliarmente, e

envolvida com seu esposo e ex-governador Sérgio Cabral, atualmente preso em uma Unidade

Prisional, investigados e já condenados em 20/09/17, em primeira instância, na Justiça

Federal:

Mergulhado numa crise fiscal que já afeta a prestação de serviços básicos nas áreas

da saúde e educação, o governo do Rio pode ter nos seus livros contábeis parte da

explicação para a situação de desequilíbrio nas contas que se arrasta desde o ano

passado. Um relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) aponta que o governo do estado deixou de recolher em ICMS cerca de R$ 138 bilhões entre 2008 e 2013.17

O espectro das empresas beneficiadas pelas isenções fiscais concedidas pelo

Governo do Estado é mais amplo e variado do que se supunha. Apontadas por

especialistas e políticos como um dos principais fatores que levaram ao atual caos

financeiro fluminense, o benefício também foi concedido às termas Solarium, na

Lagoa, e Monte Carlo, em Copacabana - entre 2008 e 2013, os benefícios

concedidos pelo executivo estadual chegaram a R$ 1,8 milhão.18

O Rio deixou de arrecadar quase R$ 200 bilhões nos últimos anos. Não dá para

desprezar um volume de dinheiro tão grande quanto esse. Sobretudo quando o

Estado está prestes a entrar em um ano com um rombo de R$ 17 bilhões no

orçamento. O problema é que não há uma fiscalização eficiente sobre essa política

de isenções e aí vemos casos como esses", afirmou o presidente da Comissão de

Tributação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual

Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB).19

Todos estes pontos negativos podem vir a colocar em sérios riscos o Programa das

UPPs, pois a insolvência do estado pode levar a redução de custos fixos, os quais sem que

possam ser mantidos comprometem qualquer Programa, pois ele não gera lucros e precisa de

investimento estatal.

A crise financeira do estado afetou não só o governo, como também as empresas

privadas que necessitam da circulação do dinheiro para gerar o fluxo de caixa do mercado.

Um dos grandes problemas sociais, que passam a afetar a sociedade com o desvio de

verbas públicas, desde que não haja punição, é o que se chama a certeza da impunidade. Caso

venha a ocorrer, poderemos passar a ter uma teoria de que o crime compensa e que as leis que

existem em nosso ordenamento jurídico não servem para ser aplicadas para os criminosos do

17 http://blogs.oglobo.globo.com/na-base-dos-dados/post/isencoes-fiscais-do-governo-do-rio-para-empresas-

somam-r-138-bi-diz-relatorio-do-tce.html, pesquisada em 21/09/17;

18 http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/10/isencoes-concedidas-pelo-estado-do-rio-beneficiaram-ate-

mesmo-termas.html, pesquisada em 21/09/17;

19 Idem;

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colarinho branco, que moram na zona sul, estudaram, são políticos e ricos, apenas para os

pobres, negros e moradores de favelas.

Aplicando as palavras de Michel Foucault:

(...) acreditar que a lei é feita para todo mundo em nome de todo mundo, que é mais

prudente reconhecer que ela é feita para alguns e se aplica a outros; que em princípio

ela obriga a todos os cidadãos, mas se dirige principalmente às classes mais

numerosas e menos esclarecidas; que, ao contrário do que acontece com as leis

políticas ou civis, sua aplicação não se refere a todos da mesma forma; que nos

tribunais não é a sociedade inteira que julga um de seus membros, mas uma

categoria social encarregada da ordem sanciona outra falada à desordem (...)20

5.4 – POSSIBLIDADE DE EQUILÍBRIO ÀS CONTAS DO ESTADO DO

RIO DE JANEIRO - UMA OPORTUNIDADE A MANTER O

PROGRAMA DAS UPPs

Em meio a toda crise financeira o estado do Rio de Janeiro assinou o Regime de

Recuperação Fiscal - RRF, com o Governo Federal, seu principal credor. Com este acordo o

estado tem o pagamento da dívida com a União por 3 (três) anos, podendo ser prorrogado por

igual período. Com isso, o governo do estado pretende criar receita, com a arrecadação dos

impostos, taxas e contribuições de melhoria e sanar suas dívidas. Todavia, a contraprestação

exigida pelo governo federal, para com o estado do Rio de Janeiro foi: não realizar concursos

públicos; aumentar a alíquota de retenção ao sistema previdenciário oficial de 11, para 14%

nos salários dos servidores; reduzir o número de cargos comissionados; limitar as despesas

públicas; privatização de empresas estatais, como a CEDAE; dentre outras, no período do

RRF.

Pelo que se pode perceber, se não houvesse o Regime de Recuperação Fiscal,

realmente o Programa das 38 UPPs implantadas poderia estar comprometido. Porém, em

relação à implantação de novas UPPs em outras comunidades, gera uma forte dúvida, pois

três das exigências do acordo assinado estão previstas como contraprestação do estado do Rio

de Janeiro: 1) não realizar concursos públicos; 2) reduzir o número de cargos comissionados;

e 3) limitar as despesas públicas.

20 FOUCAULT, Michel - Vigiar e Punir: Historia da violência nas prisões. 37. ed. Petrópolis: Vozes, 2009, pág.

261;

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6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que se pode verificar o presente artigo procurou apresentar os conflitos sociais,

que fizeram valor o Programa das UPPs no estado do Rio de Janeiro, que decorre de uma

política pública voltada à área de segurança pública, com cidadania decorrente do Programa

Nacional de Segurança com Cidadania – PRONASCI.

As UPPs não forma completamente ratificadas, em face do equilíbrio social não ser

atendido em sua plenitude, pois não basta implantar a polícia militar na favela e deixar de fora

os demais serviços sociais em sua continuidade ausentes.

A crise financeira do estado do Rio de Janeiro poderá afetar diretamente a ampliação

do Programa das UPPs, todavia o equilíbrio fiscal, através do Regime de Recuperação Fiscal

poderá dar uma oportunidade de manter as 38 UPPs, que já foram implantadas nesta nova fase

de reequilíbrio das receitas do estado.

Há que se verificar continuamente, através dos indicadores de desempenho

estatísticos, para que possam ser corrigidas as falhas e implementar melhorias ao que tinha

sido planejado anteriormente, com uma boa gestão de recursos financeiros e humanos, tendo

em vista a crise financeira que passa o estado do Rio de Janeiro, através da manutenção,

complementação e correção dos serviços públicos e privados.

Desta forma, poder avaliar todo trabalho que vem sendo aplicado há 9 anos não seja

posto a deriva, bem como, não se perca todo investimento de credibilidade que o Estado foi

capaz de recuperar, após décadas de afastamento social e de controle em espaços ímpares, nas

favelas cariocas. Com isto, não afetar o que deu certo, até o momento com as UPPs,

respeitando as devidas ressalvas apresentadas no desenvolvimento do presente trabalho.

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7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIER, Pierre – O poder simbólico, - 12ª ed – Rio de Janeiro – Ed. Bertrand Brasil –

2009;

FOUCAULT, Michel - Vigiar e Punir: Historia da violência nas prisões. 37. ed. Petrópolis:

Vozes, 2009;

MARSHALL, T. H. – Cidadania, Classe Social e Status – 1ª ed. – Rio de Janeiro – Zahar

Editores – 1967;

NORA, Pierre – A História em Migalhas – Cap. 1 Antropologia e Cap. 2 - Histórica e Uma

História Serial- 2000;

SANTOS WG. O híbrido institucional brasileiro. In: Santos WG. Razões da desordem. Rio

de Janeiro: Editora Rocco; 1993

WACQUANT, Löic; Prisões da Miséria, Tradução André Telles; Ed. Jorge Zahar; Rio de

Janeiro; 2001;

http://blogs.oglobo.globo.com/na-base-dos-dados/post/isencoes-fiscais-do-governo-do-rio-

para-empresas-somam-r-138-bi-diz-relatorio-do-tce.html, pesquisada em 21/09/17;

http://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2012/07/PRONASCI.pdf, pesquisado em

20/09/17;

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/10/isencoes-concedidas-pelo-estado-do-rio-

beneficiaram-ate-mesmo-termas.html, pesquisada em 21/09/17;

http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/3/lista_de_upps_gera_mal_estar_71548.html -

Data da publicação: 26.03.10, pesquisado em 18/11/10.

http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_10/rbcs10_04.htm, pesquisada em

14/08/17;

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38016618, pesquisada em 21/09/17;

http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-

cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-

1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html, pesquisada em 14/09/17;

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm, pesquisada em

14/08/17; http://www.ub.edu/geocrit/b3w-828.htm, pesquisada em 14/08/17;

http://www.upprj.com/index.php/historico, pesquisada em 20/09/17;

https://www.pge.rj.gov.br/imprensa/noticias/2017/06/divida-ativa-do-estado-chega-a-r-77-

bilhoes, pesquisada em 21/09/17;

https://www.resumoescolar.com.br/historia-do-brasil/resumo-da-proclamacao-da-republica-

do-brasil/, pesquisado em 14/08/17;