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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO ALLANY AMADINE AMELIE FREIRE SOARES AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à Renovação da Carteira Nacional de Habilitação MACEIÓ - AL 2013

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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO

ALLANY AMADINE AMELIE FREIRE SOARES

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à

Renovação da Carteira Nacional de Habilitação

MACEIÓ - AL

2013

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ALLANY AMADINE AMELIÉ FREIRE SOARES

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à Renovação da

Carteira Nacional de Habilitação

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof. Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva

MACEIÓ - AL

2013

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ALLANY AMADINE AMELIÉ FREIRE SOARES

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à Renovação da

Carteira Nacional de Habilitação

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.

APROVADO EM ____/____/____

_________________________________________________

PROF. MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA

ORIENTADOR:

_________________________________________________

PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA

BANCA EXAMINADORA

4

DEDICATÓRIA

Ao meu esposo

Marcelo de Aquino

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela dádiva da existência.

6

Todas as flores do futuro estão nas

sementes de hoje.

(Proverbio chinês)

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RESUMO

O trânsito é uma temática emergente e urgente na sociedade mundial, demandando esforços individuais e coletivos que exigem reflexão, educação e mudança de comportamento. Temos, assim, uma temática que perpassa por inúmeros conflitos em todas as áreas que ela envolve, inclusive, a da psicologia. Aqui, no caso mais especifico, a da

Avaliação Psicológica. Infelizmente, a Avaliação Psicológica do trânsito é vista como uma mera formalidade, que não há utilidade na sua execução, que todos os candidatos passam, etc. Verifica-se que a população em geral e mesmo na classe de psicólogos, não tem esclarecimento a respeito dos seus objetivos e da sua importância.Os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos e obrigatórios, de observação e de registro de amostras de comportamentos e de respostas de indivíduos com o objetivo de descrever e/ou mensurar características e processos psicológicos.Geralmente, os candidatos se acham com direito a obter a CNH, que é visto apenas como um documento a mais, como a Carteira de Identidade. Isso gera dificuldades para o psicólogo, pois os candidatos a motoristas desconhecem que estão se submetendo a avaliações que tem por objetivo selecionar aqueles considerados aptos à direção veicular. Em virtude da situação que a avaliação psicológica passa atualmente, devemos buscar soluções que resgatem a relevância dessa avaliação específica para a área do trânsito. A respeito da percepção da avaliação psicológica para a renovação da CNH para motoristas de atividades remuneradas, aplicamos 26 questionários no DETRAN SEDE de Natal no ano de 2013 e a partir dos dados pudemos concluir a falta de interesse pela avaliação, muitas vezes, vistas como uma mera obrigação. Por isso, constatamos um grande número de respostas vagas e sem sentido, bem presentes nos questionários da pesquisa desta monografia.

Palavras-chave: Psicologia do Trânsito, trânsito, Avaliação Psicológica.

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ABSTRACT

Traffic is an emerging and urgent theme in the world society that demands individual and collective efforts that require reflection, education and behavior changes. So, we have a theme that permeates many conflicts in all areas that it involves, including, the psychology. Here, in a more specific case, the Psychological Exam. Unfortunately, traffic Psychological Exam is seen as a formality that there is no utility in its execution, that all candidates pass, etc.. It appears that the general population, and even in the class of psychologists, has no explanation about their goals and their importance. Psychological Exams are mandatory and systematic procedures for observation and record samples of behaviors and responses of individuals in order to describe and / or measure their features and their psychological processes. Generally, candidates consider themselves with the right to obtain CNH, which is only seen as a more document like ID. This creates several difficulties for the psychologist, since the applicants drivers do not know that they are being evaluated and that the exam aims to select those who are considered able to drive. In view of the situation that currently passes psychological evaluation, we must seek solutions to rescue the relevance of this specific exam to the traffic theme. Regarding the perception of psychological evaluation for the renewal of CNH to paid activities drivers, we applied 26 questionnaires in DETRAN headquarters, in the city of Natal, in 2013. Based on the data, we can perceive the lack of interest in the evaluation, often seen as a mere obligation. So, we found a large number of vague responses and meaningless, very often in these monograph research questionnaires. Keywords: Traffic Psychology, traffic, Psychological Exam.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 01 - Distribuição, em porcentagem, quanto à idade dos motoristas de carteira remunerada /RN-2013............................................ 36

GRÁFICO 02 - Distribuição, em porcentagem, quanto ao sexo dos motoristas de carteira remunerada /RN-2013........................... 37

GRÁFICO 03 - Distribuição, em porcentagem, quanto à escolaridade dos motoristas de carteira remunerada /RN-2013........................... 38

GRÁFICO 04 - Distribuição, em porcentagem, quanto ao tempo de CNH dos motoristas de carteira remunerada /RN-2013........................... 39

GRÁFICO 05 - Distribuição, em porcentagem, quanto à média de horas de direção semanal dos motorista de carteira remunerada /RN -2013.......................................................................................... 40

GRÁFICO 06 - Distribuição, em porcentagem, quanto à categoriada CNH dos motorista de carteira remunerada /RN-2013...................... 41

GRÁFICO 07 - Distribuição, em porcentagem, quanto à quantidade de avaliações psicológicas do Trânsito nos motorista de carteira remunerada /RN-2013.............................................................. 42

GRÁFICO 08 - Distribuição, em porcentagem, quanto à quantidade decomentários a respeito da avaliações psicológicas do Trânsito nos motorista de carteira remunerada /RN-2013........ 43

GRÁFICO 09 - Distribuição, em porcentagem, quanto à opinião danecessidade das avaliações psicológicas do Trânsito nos motorista de carteira remunerada /RN-2013............................. 44

GRÁFICO 10 - Distribuição, em porcentagem, quanto à justificativas das avaliações psicológicas do Trânsito nos motorista de carteira remunerada /RN-2013.............................................................. 46

GRÁFICO 11 - Distribuição, em porcentagem, quanto aos principais motivos de acidentesdo Trânsito /RN-2013........................................... 47

GRÁFICO 12 - Distribuição, em porcentagem, quanto ao conhecimento obrigatoriedadedas avaliações psicológicas do Trânsito nos motorista de carteira remunerada /RN-2013............................. 48

GRÁFICO 13 - Distribuição, em porcentagem, quanto à justificativada obrigatoriedade das avaliações psicológicas do Trânsito nos motorista de carteira remunerada /RN-2013............................. 49

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2.REVISÃO BIBLIOGRAFICA .................................................................................. 12

2.1 Surgimento da Psicologia do Trânsito ............................................................ 12

2.2 Psicologia do Trânsito no Brasil ...................................................................... 14

2.3 Conceito de Avaliação Psicológica ................................................................. 23

2.4 Testes psicológicos: conceito, validação e uso ............................................. 28

3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 34

3.1 Ética .................................................................................................................... 34

3.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................................... 34

3.3 Universo ............................................................................................................. 34

3.4 Sujeitos da Amostra .......................................................................................... 34

3.5 Instrumentos de Coleta de Dados ................................................................... 35

3.6 Planejamento para Coleta dos Dados ............................................................. 35

3.7 Planejamento para Análise dos Dados ............................................................ 35

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52

APÊNDICE ................................................................................................................ 54

ANEXO ..................................................................................................................... 56

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1 INTRODUÇÃO

A prática da Psicologia do trânsito é em si, um grande e complexo laboratório,

não só pela sua diversidade, como também pela pouca pesquisa neste campo de

conhecimento. Notamos assim, na nossa ação laboral em avaliação psicológica, um

profundo distanciamento entre o motorista da CNH (carteira Nacional de Habilitação)

e o objetivo dessa avaliação.

Com a criação do Novo Código de Trânsito Brasileiro em 1998, a Avaliação

Psicológica para candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, passou

por algumas alterações sendo implantados novos testes psicológicos e retirados

alguns testes que vinham sendo aplicados há mais de 10 anos neste processo.

A avaliação tem aplicado testes formais de atenção, raciocínio lógico,

personalidade, e também uma entrevista, na qual, analisa-se, entre outros aspectos,

a habilidade de leitura e escrita de cada candidato na avaliação psicológica. Se ele

atender aos requisitos exigidos, será considerado apto e poderá seguir fazendo as

demais provas e aulas específicas. Caso não consiga, retornará para nova avaliação

que chamamos de reteste.

Com a aprovação na avaliação psicológica e demais provas específicas, o

candidato,especificamente, o motorista de carteira com atividade remunerada,

obterá uma permissão para dirigir que é válida por cinco anos. Os que obtiverem a

CNH definitiva deverão retornar em 5 (cinco) anos para fazer a avaliação de

sanidade física e mental.

Este trabalho de conclusão do Curso de Pós-Graduação de Psicologia do

Trânsito investigou questionários aplicados a candidatos à renovação da carteira

remunerada, no momento anterior ao da avaliação psicológica no DETRAN, Sede de

Natal-RN.

Neste estudo, a princípio, foi abordada a história dos testes psicológicos, sua

utilização no processo de obtenção da CNH e a psicologia do Trânsito no Brasil.

Outras questões abordadas referem-se aos dados mais relevantes obtidos na

discussão dos questionários. A Psicologia é uma ciência que estuda o homem e sua

subjetividade, então, a pesquisa realizada reflete a percepção deste homem no que

se refere à área de avaliação Psicológica.

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2.REVISÃO BIBLIOGRAFICA

2.1 Surgimento da Psicologia do Trânsito

O Código Brasileiro de Trânsito define trânsito como “a utilização das vias por

pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins

de circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga.”( Art. 1º, §

1º)Porém, Rozestraten (1988) afirma que as definições de trânsito, em sua maioria,

denotam simplesmente uma movimentação e não implicam a existência de uma

norma que assegure a integridade das pessoas.

Por esta razão, a definição de trânsito proposta pelo autor, (ROZESTRATEN

(1988)), enfatiza a integridade da pessoa, ou seja, que ela deve alcançar sua meta

sem sofrer nenhum dano. Para esse autor, trânsito “é o conjunto de deslocamentos

de pessoas e veículos nas vias públicas, dentro de um sistema convencional de

normas, que tem por fim assegurar a integridade de seus participantes.” O objetivo

da psicologia do trânsito é estudar e analisar todos os comportamentos relacionados

com o trânsito; e, em sentido restrito, o comportamento dos usuários: o do pedestre,

do motorista, do ciclista e do motociclista. Todas as pessoas são alvo e poderão ter

seus comportamentos estudados pela psicologia do trânsito já que todos são

sujeitos, ativos ou passivos, desta atividade.

Rozestraten (1988) divide o trânsito em três subsistemas: as vias, os veículos

e o homem. A questão de atribuir maior relevância ao comportamento humano no

trânsito, em detrimento do estudo das vias e veículos, surge em Rozestraten (2003)

quando afirma que o homem é o subsistema mais complexo do trânsito.

Não é possível pensar no meio urbano sem pensar em trânsito. Sempre

antes da aplicação dos testes, fico em torno de 15 minutos conversando com os

candidatos à CNH a respeito das estatísticas do trânsito, como também, da

necessidade e, ao mesmo tempo, do impacto desse trânsito em nossa sociedade.

Em muitos países, os problemas causados pelo trânsito são enquadrados tanto na

perspectiva do meio ambiente quanto na da saúde pública, tamanha é sua influência

na qualidade de vida das pessoas. No que se refere ao psicólogo do trânsito, tal

complexidade implica em uma formação comprometida com o estudo das cidades e

seu planejamento urbano, assim como com o comportamento humano no trânsito,

com a saúde pública, com o acesso aos bens e serviços sociais e sua qualidade,

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com o convívio humano e a diversidade. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,

2000).

Nessa questão, há que se atentar para o fato de que os deslocamentos no

trânsito (viagens) estão diretamente ligados às características sócioeconômicas da

população (idade, trabalho, renda e local de moradia). Assim sendo, não podemos

considerá-los deforma descontextualizada. É notório que no trânsito surgem

disputas pelo espaço e tempo, com isso, surgem conflitos de interesse de um grupo

social contra outro. Sob o ponto de vista ideológico, a posição que as pessoas se

atribuem e ocupam na sociedade vai condicionar sua disputa pelo espaço através da

eleição e uso de determinados meios de transporte (VASCONCELOS, 2001).

Um fator importante que vai influenciar diretamente a qualidade e a eficiência

da circulação das pessoas são as características sociais, políticas e econômicas de

grupos e classes sociais (VASCONCELOS, 2001). Isso significa que as classes que

detém maior renda têm maiores e melhores facilidades de circulação. Diante desse

contexto, precisamos ressaltar que a função eminentemente social do trânsito é o

atendimento às demandas dos seus participantes. Dentre essas demandas está a

questão da mobilidade, acessibilidade e qualidade de vida. Aspectos estes, de

interesse da psicologia do trânsito.

No entanto, para garantir que o trânsito aconteça satisfatoriamente, não basta

apenas atender às demandas por mobilidade dos transeuntes; sua acessibilidade

também é de vital importância. Seria a facilidade, em distância, tempo e custo, de se

alcançar fisicamente, a partir de um ponto específico na cidade, os destinos

desejados (GOMIDE, 2006). Para Cardoso (2008), acessibilidade trata da

“efetividade do sistema de transporte em conectar localidades separadas”.

A escolha pelo automóvel, por parte de quem tem possibilidades de escolher,

decorre de uma avaliação racional das suas necessidades de deslocamento, frente

aos condicionantes econômicos e de tempo, e frente ao desempenho relativo das

tecnologias de transporte disponíveis (VASCONCELOS, 2001). Contudo, o uso

indiscriminado do automóvel traz externalidades negativas tanto ao meio ambiente

quanto à fluidez do tráfego. Para Hoffmann (2005), a Psicologia do Trânsito

constitui-se num “campo extremamente surpreendente no microcosmo do

comportamento humano e na circulação viária, onde Psicologia Social, Psicologia

Experimental e Psicologia Ambiental se encontram” porque os problemas, variáveis

e pautas de pesquisa podem englobar, por exemplo, desde a pesquisa sobre a

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acuidade visual mínima indispensável a um motorista, até a pesquisa sobre a

representação social do automóvel, feita por determinado grupo.

Nota-se que a psicologia do trânsito é um ponto fértil de intersecção entre

vários campos da ciência psicológica no enfrentamento das amplas questões que

envolvem o trânsito. A Psicologia Experimental é o ramo da Psicologia no qual,

“aspectos emocionais e comportamentais devem ser estudados através da

experimentação científica”. Assim, os ramos da Psicologia Experimental praticada

em laboratório que tradicionalmente mais se associam à Psicologia do Trânsito, são

a Psicofísica, a Psicofisiologia e a Psicologia da Cognição (ROZESTRATEN, 1988).

2.2 Psicologia do Trânsito no Brasil

A Psicologia do Trânsito foi incluída e reconhecida no ano de 2000 pelo

Conselho Federal de Psicologia (CFP). Segundo Rozestraten (1998), a psicologia do

trânsito tem se desenvolvido lentamente no Brasil.

Um trânsito seguro é um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado,

segundo a Política Nacional de Trânsito. Portanto, o psicólogo do trânsito se

preocupa com a questão da segurança, mobilidade e locomoção de forma segura,

realizando estudos para compreender os múltiplos fatores geradores dos acidentes

de trânsito.

A psicologia do trânsito tem por seu objeto de estudo o comportamento dos

cidadãos que participam do trânsito. Ela busca compreender esse comportamento

por meio da observação e experimentação do inter-relacionamento com outras

ciências que estudam o trânsito, além de ajudar valendo-se de métodos científicos e

didáticos na formação de comportamentos mais seguros e condizentes com o

exercício de uma perfeita cidadania. A psicologia do trânsito ocupa-se com os

aspectos comportamentais do problema, seu objetivo de investigação são questões

como:

• A forma como o usuário se comporta diante de situações de risco;

• Como ocorre o cumprimento das leis de trânsito;

• A percepção das normas sociais entre outros problemas.

Alguns fatores que contribuíram para a construção da psicologia do trânsito,

segundo Hoffmann e Cruz (2003), foram:

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• No ano de 1953 foi aprovada pelo CONTRAN, uma resolução que tornou

obrigatório em todo o País, o exame psicotécnico para todos os motoristas;

• No ano de 1962 a psicologia foi reconhecida como profissão;

• Em 1966 foi aprovado o Novo Código de Trânsito Brasileiro, em substituição ao do

ano de 1941;

• Em 1988 foi publicado o primeiro livro de psicologia do trânsito, Conceitos e

Processos Básicos, pelo Dr. Reinier J. A. Rozestraten;

• No ano de 1992 é criada a Associação Nacional de Psicologia do Trânsito

(ANPSITRAN);

• No ano de 1998 entra em vigor o CTB, Código de Trânsito Brasileiro.

O psicotécnico foi a primeira atividade desenvolvida pelos psicólogos no

campo da segurança viária, mas há outros âmbitos de intervenção ainda não

difundidos e pouco explorados que, segundo Hoffmann, (2001) são:

• A educação viária para crianças e adolescentes, refere-se aos programas de

educação viária que devem ser desenvolvidas nos centros de ensino fundamental e

médio;

• Formação de futuros condutores: o psicólogo poderá contribuir na definição dos

objetivos a serem alcançados na formação, na análise da atividade de dirigir e no

treinamento de instrutores e examinadores de trânsito;

• Capacitação de condutores profissionais: desse âmbito, faz parte a formação de

grupos de profissionais do volante: motoristas de táxi, caminhão, transporte coletivo

de passageiros, transportes escolares, cargas perigosas, etc.;

• Condutores envolvidos em acidentes de trânsito: o psicólogo poderá desenvolver

amplas pesquisas em matéria de segurança viária, convênios com órgãos públicos e

organizações privadas que possibilitarão intervenções e mudanças na realidade

atual;

• Condutores infratores, estudo, pesquisa e reavaliação de infratores do CTB: estes

deverão merecer maior interesse e preocupação por parte dos psicólogos, com o

intuito de conhecer os fatores motivadores da infração às normas, a fim de poderem

elaborar e desenvolver programas estratégicos e preventivos em matéria de

segurança viária.

A psicologia do trânsito é uma área a ser explorada e que carece de mais estudos e

construção de conhecimentos, mas também é uma área que trará mais

humanização no trânsito.

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O primeiro setor do mundo social do trabalho, em que se deu a aplicação da

Psicologia, foi o setor de transportes, origem do campo de atuação da Psicologia do

Trânsito. Em 1951, o ISOP iniciou o exame de candidatos para obtenção da Carteira

Nacional de Habilitação (CNH) por meio de entrevistas, provas de aptidão e

personalidade e, em 1962, o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) estendeu o

exame psicotécnico a todos os candidatos a CNH (ALCHIERI & CRUZ, 2006).

De acordo com Pasquali e Alchieri (2001), a instrumentação utilizada pelos

pesquisadores da época estava amparada nos testes psicológicos de inteligência,

aptidão, inventário de personalidade e projetivos; no entanto, as avaliações de

inteligência e de personalidade foram as maiores responsáveis pelo aumento de

publicações de artigos, em periódicos científicos, referentes à avaliação psicológica

nesse período no país. Para os autores, foi considerado o período áureo, o mais

produtivo no Brasil em relação aos testes psicológicos, havendo grande entusiasmo

e crença exagerada no poder desses instrumentos.

No terceiro período, entre 1962 e 1970, houve a regulamentação da

Psicologia como disciplina e como profissão (Lei nº 4.119 de 1962), culminando com

a criação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os Conselhos Regionais de

Psicologia (CRP), Lei º 5.766 de 1974.

A rápida expansão da Psicologia acarretou a queda de qualidade dos cursos

por falta de docentes qualificados, especialmente na área de avaliação psicológica,

provocando um crescente desinteresse pela aprendizagem de medidas psicológicas,

descrédito e banalização no uso dos instrumentos objetivos, associados ao

engessamento na construção e atualização de instrumentos nacionais (ALCHIERI &

CRUZ, 2006). Nesse período, os testes foram criticados e o seu uso, minimizado, o

que representou um forte declínio na produção de artigos, estudos e criação de

instrumentos, tanto no Brasil, quanto em outros países.

As explicações para esta redução se baseavam no movimento cultural de

reação à quantificação (movimento contracultura, questionamento das ideias

tecnicistas e a crítica histórica da associação dos modelos de avaliação com a

cultura americana), ao Positivismo e às suas manifestações técnicas, juntamente

com o advento do Humanismo e da dialética na compreensão do comportamento

humano, que tornava a medida como algo impraticável (PASQUALI & ALCHIERI,

2001).

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No quarto período, entre 1970 e 1990, Pasquali e Alchieri (2001) retrataram

um momento de expansão da Psicologia, mas marcada por crises. Enquanto

surgiam cursos de pós-graduação, que possibilitaram o aumento do ensino e de

pesquisas em avaliação psicológica, faltavam docentes qualificados. Em relação aos

testes psicológicos, foi um período pobre, tendo sido abandonados ou usados sem

atualização de suas normas. A pesquisa foi nula, assim como o foram a produção e

a publicação de artigos, isso se faz sentir no despreparo dos profissionais e

docentes da área de avaliação psicológica até os dias de hoje.

Os psicólogos centravam sua prática em clínicas particulares ou em seleção

pessoal, sem um preparo adequado quanto aos métodos e técnicas disponíveis, o

que provocou uma série de críticas pela sociedade. O problema se estendeu quando

o CFP e os CRPs não se mostraram preocupados com a ausência de estudos dos

instrumentos, deixando a disseminação de testes nas mãos do mercado editorial

que traduziu, adaptou e comercializou instrumentos para os mais diversos

propósitos sem qualquer cuidado com essa prática. Os psicólogos que faziam uso

desses testes, por não terem suficiente conhecimento para perceber a carência

técnica e metodológica, não faziam maiores restrições ao utilizá-los, ensejando uma

reação da sociedade, dos usuários e das vítimas, sobre o uso abusivo e

indiscriminado dessa prática por parte dos psicólogos despreparados quanto à

avaliação psicológica. Numerosos processos judiciais contra decisões pautadas em

resultados de testes psicológicos e por erros dos profissionais, mobilizaram o CFP a

criar a Comissão Nacional de Avaliação Psicológica, cujo objetivo, dentre outros, era

analisar a situação e as principais dificuldades em avaliação psicológica com que o

psicólogo se deparava.

No quinto período, de 1990 até hoje, as repercussões negativas dos testes

psicológicos resultantes dos processos judiciais contrários aos resultados de

avaliações psicológicas, geraram a mobilização de alguns profissionais,

pesquisadores e, em especial, do CFP. As ameaças de ordem judicial para extinguir

o Psicotécnico no Trânsito, em 1997, culminaram com uma tomada de atitude por

parte da classe dos psicólogos e dos Conselhos para verificar os problemas das

técnicas de avaliação psicológica.

Apesar das dificuldades, algumas iniciativas foram e vêm sendo tomadas no

sentido de promover a avaliação psicológica brasileira e lhe conferir a devida

importância. O Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAPP, 1998), composto

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por pesquisadores da área de avaliação, visando à pesquisa científica sobre a

instrumentação psicológica e a criação e validação de técnicas de exame

psicológico, vem procurando promover a área por meio da organização de eventos

científicos, da publicação de livros e de uma revista de Avaliação Psicológica para

unificar as pesquisas, além da representação dos psicólogos junto aos órgãos de

classe. Também é intenção do IBAPP, que haja maior discussão a respeito de como

formar psicólogos em avaliação psicológica (NORONHA, PRIMI & ALCHIERI, 2005).

Atualmente, verifica-se uma participação ativa da categoria na produção do

conhecimento em avaliação psicológica, em diversos trabalhos, pesquisas, ensino e

intervenção profissional, especialmente em virtude da expressiva produção de

artigos, livros e eventos nacionais e internacionais da área. (ALCHIERI& CRUZ,

2006).

O aumento na demanda, por realização de avaliação psicológica para

motoristas, para obter porte de armas, para ingresso nas polícias civil e militar e para

embasar processos judiciais, requer uma análise e solução dos problemas

decorrentes do abuso das avaliações psicológicas e do uso inadequado dos testes

psicológicos. A legislação vem responsabilizar o profissional, exigindo dele,

qualidade na prestação de serviços à sociedade (PASQUALI & ALCHIERI, 2001).

Como foi possível verificar, a Psicologia erigiu-se, principalmente, a partir da

práxis da avaliação psicológica. De forma semelhante, ocorreu à Psicologia Jurídica,

que se baseou na verificação da autenticidade de testemunhos nos processos

judiciais (Psicologia do Testemunho), a partir do processo Psicodiagnóstico. Decorre

dessa prática psicológica, portanto, a importância atribuída pelo Poder Judiciário ao

saber psicológico sobre o indivíduo, a partir do uso de técnicas de exame,

tradicionalmente, considerado um campo pragmático, científico e objetivo do

conhecimento, na obtenção da verdade jurídica.

Os psicólogos, ao procurarem atender à demanda do poder judiciário na

produção de uma verdade sobre o indivíduo, buscaram se especializar nas técnicas

de exame psicológico denominadas de perícias, estudos de casos, exames

criminológicos, etc. Por conseguinte, a exclusividade dessas práticas, confere ao

psicólogo um saber científico psicológico que será aplicado à produção da verdade

jurídica.

Se por um lado existe o psicólogo que atua sem a devida

atualização/qualificação e sem preparo para as solicitações do mercado, por outro,

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não há padrões de atuação na área de avaliação psicológica, tampouco, padrões de

competência profissional para utilização de instrumentos psicológicos. Desse modo,

as práticas de avaliação psicológica podem se tornar formas ineficientes ou abusivas

de intervenção profissional, ensejando a realização de denúncias contra psicólogos

junto aos Conselhos Regionais de Psicologia.

De um modo geral, o assunto tem gerado debates em alguns Conselhos

Regionais de Psicologia, acerca do papel a ser desempenhado pelos psicólogos

diante da demanda do poder judiciário e do trânsito, incluindo as técnicas e

instrumentos empregados. Nesse sentido, Noronha e Freitas (2005) entendem ser

imprescindível que a avaliação psicológica seja repensada e melhor discutida nos

âmbitos nacional e internacional.

Para finalizar esse panorama crítico sobre a evolução dos testes no Brasil,

ressaltamos Noronha (2002), quando afirma que ainda é a formação que orienta a

ação do psicólogo e, para que haja um mínimo de problemas graves e frequentes, é

preciso investir na preparação do profissional.

No Brasil, essa situação começou no início do século 20, quando os primeiros

automóveis e caminhões começaram a circular. Começava um projeto coletivo em

que o transporte rodoviário assumiria um papel fundamental nos deslocamentos. A

locomoção em massa por bondes e trens foi sendo lentamente substituída pelo uso

do automóvel, fruto de opções de políticas urbanas na esfera federal e estadual e da

pressão das elites da época que apoiavam a indústria automobilística do país .

Embora a produção e o uso em massa do automóvel tenham contribuído

sobremaneira no desenvolvimento econômico brasileiro, engendrou sérios

problemas de segurança e saúde pública, em decorrência dos acidentes de trânsito

que começaram a se intensificar na década de 40.

Como consequência, nas décadas de 1940 e 1950, as autoridades buscaram

desenvolver e implementar medidas preventivas, dentre elas, a seleção médica e

psicotécnica. Esta, por sua vez, tinha a finalidade de restringir o acesso ao volante

das pessoas consideradas propensas a se envolver em acidentes de trânsito. A

concessão do documento de habilitação passou a ser considerada pelas

autoridades, um privilégio em que o candidato provaria sua capacidade de conduzir

com segurança, por meio de uma bateria de testes e exames. Discutia-se, ainda, a

necessidade de validade temporária e não mais permanente da habilitação,

instituindo verificações periódicas das condições mínimas da capacidade física e

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psíquica dos motoristas, assim como a identificação dos critérios e da forma de

avaliação dessa capacidade conforme o tipo de habilitação, uma vez que diferentes

categorias de veículos exigiriam diferentes habilidades. Começava a se estruturar o

que se chama de modelo brasileiro de habilitação (HOFFMANN, 2005).

No tocante à tarefa de avaliar as condições psíquicas dos motoristas, essa

estruturação ocorreu com forte influência estrangeira, principalmente, com os

trabalhos desenvolvidos por Tramm, na Alemanha; Lahy, na França; Münsterberg e

Viteless, nos Estados Unidos, e Mira y López, na Espanha, pois não havia, no Brasil,

instrumentos construídos ou validados para realizar este intento.

Nesse momento histórico, no qual havia forte demanda social e justificativas

científicas para implementar um processo de avaliação psicológica de condutores, a

Psicologia começou a contribuir com o trânsito rodoviário brasileiro. A partir da

aplicação de técnicas psicológicas nos motoristas, notadamente pelos engenheiros

(considerados os primeiros “psicólogos do trânsito”), formou-se um campo de

trabalho e uma área de atuação profissional que posteriormente viria a ser chamada

de PSICOLOGIA DO TRÂNSITO (ROZESTRATEN, 1988).

O reconhecimento da profissão de psicólogo no país ocorreu na década de

1960, por meio da Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962 e sua regulamentação pelo

Decreto nº 53.464, de 21 de janeiro de 1964. Nessa época, os psicólogos iniciaram o

movimento de criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de

Psicologia. Vale ressaltar que os profissionais que atuavam na avaliação das

condições psicológicas para dirigir, contavam com a tradição de mais de uma

década na aplicação dos exames psicológicos (HOFFMAN & CRUZ; DAGOSTIN,

2006).

Em função do avanço da legislação de trânsito e da Psicologia aplicada nos

anos de 1960, foi regulamentada, em 1968, a criação dos serviços psicotécnicos nos

Departamentos de Trânsito dos estados. A partir de então, e, com o advento do

código de trânsito brasileiro em 1998, o psicólogo se inseriu no processo de

habilitação nos DETRANs, realizando a avaliação psicológica pericial de motoristas,

outrora denominado de exame psicotécnico, sendo, atualmente, um procedimento

obrigatório para todos os candidatos à obtenção da carteira de motorista,como

tambémna renovação, no caso dos condutores que exerçam atividade remunerada

ao volante, além de mudança e/ou adição de categoria.

21

O DETRAN, como parte integrante do Sistema Nacional de Trânsito, foi criado

em 21 de setembro de 1966, pelo Decreto-lei 5.108, que instituiu o segundo Código

Nacional de Trânsito. Em 23 de fevereiro de 1967, aquele decreto foi modificado

pelo Decreto-lei nº 237, sendo efetivamente regulamentado em 16 de janeiro de

1968, por meio do Decreto-lei n°62.127. Em função dessa nova organização do

sistema de trânsito, cada estado brasileiro procedeu à criação do seu DETRAN, seja

pela estruturação do serviço que outrora não existia, seja pela reestruturação do

serviço administrativo de trânsito. Esta modificação ocorreu na maioria dos estados

nas décadas de 1960 e 1970.

De acordo com aquela regulamentação, os Departamentos de Trânsito

deveriam dispor de um conjunto de serviços a fim de realizar suas atribuições,

dentre elas, o serviço médico e psicotécnico. Esta exigência reconheceu a

importância dos fatores psicológicos na segurança viária, principalmente, para

serem avaliados no processo de habilitação. Além disso, ampliou o mercado de

trabalho para o psicólogo cuja profissão havia sido regulamentada em 1964.

A importância dos DETRANs também ocorreu – e ainda ocorre – na

viabilização de eventos na área de trânsito (congressos, seminários e encontros

científicos), oferecendo apoio financeiro e estimulando a participação dos psicólogos

lotados nos serviços de psicologia, para que divulguem os seus trabalhos. Cabe

destacar a participação dos DETRANs de diversos estados e dos psicólogos dessas

instituições, no I Encontro Interestadual de Psicologia do Trânsito em Ribeirão Preto

em 1983 e nos Congressos Brasileiros de Psicologia do Trânsito, colaborando na

construção de espaços férteis para o desenvolvimento da psicologia, rumo a um

trânsito mais harmônico.

Como visto até aqui, algumas instituições colaboraram, de maneira direta ou

indireta, com a emergência e expansão da psicologia do trânsito (de maneira

específica,) como também, da psicologia brasileira. De maneira geral, a colaboração

se deu especialmente, por meio das atividades relacionadas aos exames

psicotécnicos. Em função disso, a identidade de muitos psicólogos do trânsito, ainda

permanece fortemente associada à avaliação psicológica como atividade

profissional, e aos DETRANs e clínicas psicológicas, enquanto contexto de atuação.

Isso justifica, em parte, as tensões que decorrem da crítica reflexiva à atuação

profissional baseada somente na testagem psicológica e circunscrita a esses

contextos de trabalho. Essa herança histórica continuará servindo como elemento

22

constitutivo da identidade da maior parcela dos psicólogos do trânsito no Brasil.

Entretanto, a problemática da mobilidade vai além do comportamento do motorista,

incluindo todos os comportamentos dos participantes do trânsito: pedestres,

ciclistas, motociclistas, policiais, engenheiros e autoridades, assim como suas

relações com o contexto socioambiental.

No plano acadêmico, esse modo de compreender o trânsito vem sendo

difundido no Brasil, com maior ênfase, a partir da década de 1980, fruto das

reflexões a respeito da efetiva contribuição ou não, da psicologia do trânsito na

segurança viária. O livro do eminente professor Rozestraten, Psicologia do Trânsito:

Conceitos e Processos Básicos, publicado em 1988, sintetiza esse pensamento.

Passados mais de 20 anos, essa obra continua sendo a mais importante introdução

à psicologia do trânsito no Brasil. O Professor Rozestraten, a partir de sua presença,

de suas publicações e traduções, influenciou e inspirou diversos profissionais e

estudantes.

Em 1999, o I Fórum Nacional de Psicologia do Trânsito foi considerado um

marco importante na elaboração de diretrizes para as políticas e normatizações do

Conselho Federal e Conselhos Regionais de Psicologia na área do trânsito, levando

em conta o potencial da área em planejamento urbano e educação. Desse modo,

foram elaboradas diretrizes de atuação, por assim dizer, sugeridas pelo Conselho

Federal de Psicologia, estimulando uma atuação ampla e interdisciplinar, exigindo

outras competências profissionais que englobavam a elaboração de pesquisas no

campo dos processos psicológicos, psicossociais e psicofísicos, para desenvolver

ações socioeducativas, análise dos acidentes de trânsito e orientações para evitar

ou atenuá-los, assim como prestar assessoria e consultoria aos órgãos

públicos/privados do trânsito (Conselho Federal de Psicologia, 2000). Atualmente,

muitas dessas diretrizes servem como indicações do que se pode fazer; isto é, não

representam efetivamente as práticas consolidadas do psicólogo do trânsito.

Diante do histórico apresentado, não podemos nos esquecer de que estamos

em 2013, numa época em que necessitamos construir novas referências e

perspectivas de avanço da Psicologia nas questões relativas à circulação humana. É

preciso ressaltar que a Psicologia e os psicólogos precisam avançar

qualitativamente na discussão acerca dos aspectos sociais, econômicos, éticos e

tecnológicos que envolvem e determinam a prática da Psicologia do Trânsito, como

um exercício profissional social e cientificamente comprometido.

23

As ações e intervenções deverão estar pautadas em princípios estruturados

em conceitos claramente definidos e estrategicamente orientados para possibilitar

um quadro de referência teórico e técnico que dê suporte à prática profissional

daqueles que escolheram trabalhar pela promoção de comportamentos humanos

seguros no trânsito. A ausência de mais pesquisa e psicólogos na área mostra a

escassez de pesquisas e teorias em um campo complexo, promissor e essencial

para a sociedade urbanizada.

2.3 Conceito de Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica é uma atividade importante e privativa do profissional

de Psicologia. De acordo com a resolução nº 012/00 do Conselho Federal de

Psicologia, a avaliação psicológica é um processo científico de coleta de dados,

estudos e interpretação de informações a respeito da personalidade e do

comportamento dos indivíduos e grupos, através de métodos, técnicas e

instrumentos, com objetivos bem definidos que possam atender diversas finalidades,

visando subsidiar as tomadas de decisão.

Há vários conceitos críticos e reflexões sobre questões inerentes à avaliação

psicológica, o que implica em uma reflexão sobre a prática do profissional. Pasquali

(1999) comenta que o termo avaliação possui uma história muito recente. Porém, o

seu uso data da origem dos organismos vivos, consideração formal, no sentido de o

ser humano utilizar códigos de conduta através dos quais as pessoas e as

sociedades julgavam e julgam os comportamentos dos semelhantes. Vale aqui

ressaltar que se deve aos psicólogos do fim do século XIX, a origem da avaliação

formal e sistemática ou informal, na medida em que todo o sujeito avalia seu meio

ambiente e os outros indivíduos, fazendo representações de forma a tomar decisões

de como agir, para garantir sua sobrevivência e manter um nível próprio de

desenvolvimento.

Os testes psicológicos têm um importante e longo caminho percorrido, no que

se refere ao contexto da psicologia como ciência. Por exemplo, foram

fundamentalmente importantes durante a Primeira Guerra Mundial, quando os

militares passaram a ser recrutados e designados para determinadas funções, de

acordo com suas capacidades ou habilidades psicológicas .

24

Vários profissionais são considerados grandes pioneiros neste campo, por

contribuírem para a mensuração das diferenças individuais. Destaca-se, entre eles,

William Wundt, que criou o primeiro laboratório de pesquisa de natureza psicológica

em 1879, o Laboratório de Leipzig. Este, foi seguido pelo americano James

MckeenCatell, que, a partir de 1890, deu continuidade aos trabalhos nesse mesmo

laboratório. Em 1900, o psicólogo francês Alfred Binet influenciou os estudos da

mensuração das diferenças individuais.

Foram grandes as influências no movimento para a utilização de tais

medições psicológicas como testes mentais, quando tinham sido criadas com a

finalidade de determinar e analisar diferenças individuais em relação à inteligência,

às aptidões específicas de conhecimentos escolares, à adaptabilidade vocacional e

dimensões não intelectuais da personalidade. Formiga e Mello (2000) comentam

que a tentativa de avaliar habilidades e traços psicológicos por meio de técnicas

projetivas e/ou objetivas, tem sido um dos alicerces da intervenção e dá

direcionamento para diversas áreas de trabalho da psicologia.

No Brasil, a avaliação psicológica tornou-se conhecida nos anos 50, quando

foi criado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) vinculado à

Fundação Getúlio Vargas. Quarenta anos mais tarde, na década de 90, registra-se o

retorno do interesse pelos testes e outros instrumentos de avaliação psicológica no

País.

A respeito da mensuração psicológica, o pesquisador Pasquali (1999) usa o

conceito de que os instrumentos psicológicos (testes, escalas, questionários)

representam a expressão cientificamente sofisticada de um procedimento

sistemático de qualquer organismo, biológico ou social, a saber, o de avaliar as

situações para tomar decisões que garantam a sobrevivência do próprio organismo,

bem como seu autodesenvolvimento. Considera-se o teste psicológico uma medida

objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento. Os testes psicológicos,

como nas demais ciências, são realizados por uma amostragem, cuidadosamente

escolhida, de um comportamento do indivíduo. Pode ser considerada a possibilidade

de se medir a “habilidade” do indivíduo e se o mesmo tem potencialidade de

aprender ou desempenhar determinada atividade. (ANASTASI & URBINA,2000)

Os testes psicológicos são instrumentos que, dependendo da forma como

forem utilizados, podem contribuir para áreas de atuação do psicólogo.

Anastasi&Urbina (2000) comentam que a disseminação do uso tem sido

25

acompanhada de expectativas irrealistas e alguns usos inadequados. Portanto, é

necessário um amplo conhecimento sobre os testes, não só por parte daqueles que

os elaboram ou aplicam, como também, de qualquer profissional que use os

resultados como fonte de informações, para a tomada de decisões na avaliação e

diagnóstico.

Outras ferramentas utilizadas, além da psicometria, são as técnicas projetivas

que proporcionam um amplo campo de interpretação revelando dados de

personalidade por meio de projeções, embora suas cientificidades sejam

questionadas por não demonstrarem dados quantitativos. Mas são instrumentos que

continuam a ter ampla aplicação na formulação dos diagnósticos, apesar de serem

subjetivos.

Não se pode deixar de considerar questões imprescindíveis para a execução

de uma avaliação eficaz que atenda aos propósitos para a qual foi empregada.

Anastasi&Urbani (2000) afirmam que os princípios básicos para uma boa testagem,

envolvem questões como: a padronização dos testes, ou seja, garantir a

uniformidade de procedimentos na aplicação e pontuação dos testes; amensuração

objetiva de dificuldade, no que se refere à aplicação, à pontuação e à interpretação

dos escores, estes, são objetivos na medida em que são independentes do

julgamento subjetivo de um determinado examinador; a fidedignidade, que é a

consistência dos escores obtidos pelas mesmas pessoas quando retestadas com o

mesmo teste e uma forma equivalente do teste; a validade, isto é, o grau em que o

teste, realmente, mede aquilo que se propõe a medir, quando o teste cumpre sua

função.

1.Normatizações e aspectos sobre o uso de testagem formal na Avaliação

Psicológica

Pela Resolução nº02/2003 do CFP, são considerados testes psicológicos em

condições de uso, aqueles que, após receber parecer da Comissão Consultiva em

Avaliação Psicológica, for aprovado pelo CFP. Eles são métodos ou técnicas de uso

privativo do psicólogo, e são instrumentos de avaliação e de mensuração de

características psicológicas. A Resolução determinou que, além de conterem

fundamentação teórica, também deverão apresentar evidências empíricas de

validação e precisão das interpretações propostas para os escores dos testes,

justificando os procedimentos adotados na investigação. Entre outros aspectos,

testes estrangeiros devem ser adequados a partir de estudos realizados com

26

amostras brasileiras. Todos os testes aplicados no mercado nacional passam pela

avaliação de qualidade do Conselho Federal de Psicologia.

Os testes podem ser padronizados, pois, neste caso, apresentam objetividade no

processo da testagem, também de caráter de uniformidade de procedimentos, na

administração, avaliação e interpretação dos resultados para que este seja o mais

uniforme possível, para a redução de variáveis no resultado.

No campo da mensuração psicológica, também conhecido como psicometria, a

padronização dos resultados são apresentados em forma de escalas, com um grupo

de itens com uma variável e são dispostos em ordem de dificuldade ou intensidade e

escalonados.

Quando se trata de Bateria, é um grupo de testes e sub-testes que são aplicados de

uma única vez a uma única pessoa, no qual são avaliadas as diversas funções,

como, por exemplo, o Teste WISC – Escala Wescheler de Inteligência para crianças

ou a BFM - Bateria de Funções Mentais para Motorista.

Os testes também podem servir para outros fins além daqueles para os quais foram

criados. Eles são ferramentas usadas no processo de avaliação que se prestam à

investigação de:

a) questões diagnósticas, tais como diferenciar entre depressão e demência;

b) predições, como, estimar a probabilidade de comportamento suicida e homicida, e

c) julgamentos avaliativos.

Nenhumas destas prerrogativas citadas podem ser resolvidas somente por meio de

escores de testes formais, mas, em geral, são componentes chaves da avaliação

psicológica. A diferença reside em avaliar vários procedimentos, como, entrevista,

observações, juntamente com a testagem, e, também, outras dimensões de

procedimentos. Segundo Urbina (2007), os resultados levantam dados para o uso na

tomada de decisões.

O aumento na produção e utilização dos meios de transporte no decorrer do

século ampliou os conflitos e as dificuldades relativas à ocupação do espaço público,

crescimento populacional e da frota e, principalmente, no que tange às mortes e

perdas econômicas por disfunções no funcionamento do sistema de tráfego. Cada

vez mais, se mostrou necessária a seleção de pessoas capacitadas para a

circulação com intuito de evitar o acesso ao sistema de pessoas “problemáticas” que

poderia apresentar um mau desempenho como condutor.

27

A partir desta necessidade é que se estabelece o trabalho mais antigo da Psicologia

de Trânsito: a Avaliação Psicológica de motoristas, avaliação esta, que pressupõe,

teoricamente, que existem pessoas que não podem dirigir e outras que possuem as

habilidades e as condições necessárias para assumir o papel de motorista.

Observa-se uma preocupação crescente em relação a questões pertinentes ao

trânsito, principalmente, quanto a acidentes, vidas perdidas e prejuízos financeiros

decorrentes de tais eventos. Na história da psicologia é antigo o desejo de diminuir

os acidentes de tráfego com emprego da seleção por meio de testes psicológicos.

Percebe-se, desde o início do Século XX, o interesse em avaliar as habilidades

necessárias para atuação do condutor no trânsito. Os exames psicológicos para

condutores de veículos no Brasil foram regulamentados em 1966, que constavam de

várias provas perceptivas, de avaliação de nível mental, da personalidade e da

coordenação bimanual.

A resolução nº 353/62, do Código Nacional de Trânsito, regulamentou o Exame

Psicológico para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, o que alterou o

volume de exigências ao profissional de psicologia. A partir desta regulamentação, o

psicotécnico passou a ser chamado de avaliação psicológica.

No decorrer dos anos, a introdução do psicólogo de trânsito se fez necessária para

selecionar pessoas que possuíam condições de assumir o papel de motorista.

Durante muitos anos, em vários países, este era o único referencial atribuído ao

psicólogo que trabalhava com trânsito e, ainda hoje, é muito forte a marca de

“aplicador de testes”, inclusive, entre os profissionais da área.

Os psicólogos começaram a selecionar candidatos a motoristas, antes de ter em

mãos, resultados de estudos científicos sobre os processos psicológicos envolvidos

no ato de dirigir e sem que os testes fossem submetidos a estudos críticos sobre sua

validade e fidedignidade.

Segundo Alchieri, o ensino da avaliação psicológica não se resume ao

conhecimento dos instrumentos e de sua forma de aplicação. É importante a técnica,

mas também a postura, a análise e as condições de entendimento do caso.

As preocupações pertinentes à atuação deste profissional levaram à criação de

resoluções que pudessem preencher estas lacunas durante sua formação, portanto,

a resolução 080/98, do CONTRAN, veio ao encontro destes anseios e, hoje, exige e

regulamenta a realização do Curso de Psicólogo Perito Examinador do Trânsito,

com carga horária mínima de 180 horas/aula e conteúdo pré-definido, sendo

28

obrigatório para todo profissional responsável pela avaliação psicológica, seja em

instituição publica ou em clínica privada.

O exame psicológico prévio se constitui em uma ferramenta indispensável no

trânsito, pois ressalta Gouveia (2002), que o veiculo automotor pode se transformar

numa “arma” das mais deletérias deste país, seja pela forma de conduzir, ou mesmo

devido às condições de insegurança do ambiente. Portanto, é necessário prudência

no momento de entregar uma arma a alguém, sem antes conhecer de quem se trata.

A atenção dos profissionais da psicologia deve estar voltada para o estudo do

comportamento no trânsito, pois pouco se sabe sobre quais fatores permitiriam

diferenciar com exatidão, os bons dos maus condutores.

Gouveia (2002) cita, como exemplo, que seria possível relacionar os resultados dos

exames psicológicos de cada condutor com seu desempenho, em situação real de

transito. Isto geraria um modelo explicativo, o qual ajudaria a traçar o perfil do bom

condutor e auxiliaria na seleção de instrumentos psicológicos mais adequados neste

contexto.

As ferramentas utilizadas nesta avaliação são válidas no que se propõe, mas exige

maiores estudos para se verificar a necessidade de melhorias e redução de erros no

conjunto da avaliação.

2.4 Testes psicológicos: conceito, validação e uso

O exame de Avaliação Psicológica é preliminar, obrigatório, eliminatório, e

complementar para os condutores e candidatos à obtenção da Carteira Nacional de

Habilitação, bem como sua mudança de categoria, aferindo-se psicometricamente

às seguintes áreas de concentração de características psicológicas:

a) - Área Percepto - Reacional , Motora e Nível Mental;

b) - Área do Equilíbrio Psíquico;

c) - Habilidades Específicas.

Da realização dos exames

A área percepto - reacional e motora será avaliada através de técnicas psicológicas

permitindo aferir de forma integrada e interdependente o que se segue:

a) Atenção;

b) Percepção;

c) Tomada de decisão;

29

d) Motricidade e reação;

e) Cognição, e

f) Nível Mental.

A área de equilíbrio psíquico será avaliada através de entrevistas, observação

durante os exames e de técnicas psicológicas, considerando-se:

a) ansiedade e excitabilidade;

b) ausência de quadro reconhecidamente patológico;

c) controle adequado da agressividade e impulsividade;

d) equilíbrio emocional;

e) ajustamento pessoal - social;

f) demais problemas correlatos (alcoolismo, epilepsia, drogadição, entre outros, que

possam detectar contra - indicações à segurança do trânsito.)

As Habilidades específicas e Complementares dizem respeito a :

a) tempo de reação;

b) atenção concentrada;

c) rapidez de raciocínio;

d) relações espaciais, e

e) outras, desde que necessárias ao aprofundamento da avaliação psicológica.

As áreas Percepto Reacional, Motora e de Equilíbrio Psíquico são áreas de

avaliação básica de todo condutor.

A entrevista psicológica deve investigar história pregressa e atual do candidato.

Os instrumentos de avaliação psicológica e seus parâmetrospara as diferentes

categorias serão estabelecidos pelo DENATRAN.

Do Resultado da Avaliação Psicológica

Será considerado segundo o parecer do psicólogo, utilizado no DETRAN RN:

a) APTO;

b) INAPTO TEMPORARIAMENTE, e

c) INAPTO

Os candidatos, inaptos temporariamente, podem fazer o reteste 15 dias após a

reprovação temporária. Até o presente momento, o DETRAN RN não possui junta

psicológica, o que dificulta, e muito, a nossa atuação.

Na permissão para conduzir veículos, o condutor receberá, no caso de aprovação, o

resultado de apto, temporariamente, por 1 (um ) ano.

30

O resultado da avaliação psicológica será colocado em formulário padronizado para

todo o Território Nacional, em planilha própria, distribuída pelos Órgãos Estaduais de

Trânsito das Unidades da Federação e do Distrito Federal. De acordo com

determinação do DENATRAN, nele constam os resultados com a súmula das áreas

avaliadas e suas conclusões.

A aplicação individual de instrumentos de avaliação é indicada para a melhor

qualidade da mesma e da observação do candidato.

Os parâmetros dos resultados da avaliação, seguem especificações dos manuais

dos referidos testes.

Serão utilizados os seguintes instrumentos:

a) Entrevista, e

b) Bateria de Testes.

Para os testes e seus parâmetros utilizados são seguidas, rigorosamente, as

especificações de seus manuais.

As instalações deverão ser adequadas para a realização da Avaliação Psicológica.

Os psicólogos, responsáveis técnicos, deverão ter no mínimo 1(um) ano de

formados.

Estar com o registro de psicólogo atualizado no respectivo Conselho Regional de

Psicologia e ter experiência de um ano na área de avaliação psicológica, bem como,

ter concluído o Curso de Capacitação para psicólogo responsável pela avaliação

psicológica e como Psicólogo Perito Examinador do Trânsito, com carga horária de

180 horas que será ministrado por Universidades e/ou Faculdades Públicas ou

Privadas reconhecidas pelo MEC, reconhecido em território nacional,

independentemente do estado onde tenha sido realizado.

Noções básicas de Metodologia de Pesquisa na área.

Os psicólogos já credenciados têm prazo de 2 (dois) anos para a realização do

"Curso de Capacitação para psicólogo responsável pela avaliação psicológica e

como Perito Examinador do Trânsito".

O psicólogo credenciado deve reciclar-se periodicamente, elevando o nível de

conhecimento e a contribuição a oferecer aos sistemas de Trânsito a critério dos

setores de Psicologia de cada Unidade da Federação.

Os investimentos na formação de mão de obra qualificada para atuarem no Sistema

Trânsito brasileiro são fundamentais. Apenas com o curso de perito, se tornou

obrigatório a formação deste profissional através de um curso de longa duração,

31

considerado uma especialização. Antes os psicólogos cursavam 120 ou 160 horas

de um curso de capacitação, de qualidade, muitas vezes, duvidosa e estavam aptos

a atuar nesse segmento. Atualmente, o psicólogo, para se tornar perito, deve passar

por um curso de 180 horas e a partir de 2015, deve possuir o titulo de especialista

em Trânsito.

A avaliação psicológica é uma função privativa do Psicólogo e refere-se à coleta e

interpretação de informações psicológicas, resultantes de um conjunto de

procedimentos confiáveis que permitam ao Psicólogo avaliar o comportamento. Ela

é aplicada no estudode casos individuais ou de grupos ou situações.

São considerados como procedimentos confiáveis, aqueles que apresentem alto

grau de precisão e validade. Entende-se por precisão, o grau de confiabilidade do

instrumento e por validade, a capacidade para atingir os objetivos para os quais foi

construído.

Há, na avaliação psicológica, procedimentos com regras e situações bem definidas e

um código operacional, de tal forma, que permita a qualquer psicólogo – examinador

– , chegar ao mesmo resultado obtido por outro psicólogo dentro do mesmo período.

Há outros procedimentos que exigem a intervenção interpretativa do examinador,

tais como, julgar a adequação ou a categoria de uma resposta, segundo modelos

existentes e que podem exigir, também, a apreciação das condições do exame e

julgamento de fatores externos, facilitadores ou não, das tarefas propostas.

A primeira etapa a ser vencida, em se tratando de Avaliação Psicológica, é a

definição do que avaliar. Quando a avaliação psicológica tem por objetivo a seleção,

a resposta a este quesito chama-se perfilprofissiográfico.

Existem dois tipos de condutores: um que utiliza o automóvel para locomoção, lazer,

enfim, um facilitador de sua vida; e outro que sobrevive como condutor das

categorias A, B, C, D e E, que é o caso dos taxistas, rodoviários etc.

Há necessidade, portanto, de uma sistematização mais objetiva das características

do perfil do condutor que se avalia hoje. Existem perfis já provisoriamente definidos

pelos psicólogos que atuam na área de Trânsito, que devem ser utilizados, na

medida em que representem satisfatoriamente, o atendimento dos objetivos da

Avaliação.

Reconhece-se, entretanto, a impossibilidade, neste momento, de estabelecer um

perfil diferenciado para condutores amadores e profissionais, o que será objeto de

investigações futuras.

32

O perfil psicológico do candidato à CNH e do condutor de veículos automotores,

deve considerar:

a) Nível intelectual;

b) Nível de atenção;

c) Nível psicomotor;

d) Personalidade e

e) Nível psicofísico.

Os resultados dos itens supracitados devem ser compatíveis às exigências de cada

uma das categorias da CNH.

Os instrumentos de avaliação psicológica mais conhecidos são os testes

psicológicos e as entrevistas psicológicas.

a) Teste Psicológico

1. A existência de dados científicos sobre os instrumentos, sobretudo validade e

precisão;

2. O registro preciso e objetivo de todas as respostas do sujeito, que em

concordância com o tipo de prova, podem ser gráficas, de execução ou verbais;

3. A existência de uma situação padronizada, tanto para a aplicação, quanto para as

condições do material do teste, demonstrando objetividade e clareza nas instruções,

de modo que o teste possa ser administrado igualmente para todos os sujeitos;

4. A presença de normas padronizadas para avaliação e classificação das respostas

que o sujeito apresentou, em relação a um grupo de referência;

A fim de ampliar, organizar e sistematizar as observações colhidas pelos testes

psicológicos, a avaliação psicológica tem como uma de suas principais ferramentas,

a entrevista.

b) Entrevista Psicológica.

A entrevista psicológica é uma conversação dirigida a um propósito definido de

avaliação. Sua função básica é prover o avaliador de subsídios técnicos acerca da

conduta do candidato, completando os dados obtidos pelos demais instrumentos

utilizados.

Apesar de suas vantagens, a entrevista está sujeita a interpretações subjetivas do

examinador (valores, estereótipos, preconceitos, etc.). Deve-se, portanto, planejar e

sistematizar indicadores objetivos de avaliação, correspondentes ao perfil

examinado.

33

Sem a manutenção destas condições, a avaliação psicológica corre o risco de ser

ineficaz e ineficiente, razão, pela qual, deve-se reforçar alguns cuidados básicos do

trabalho com o seu instrumental.

Pode-se encontrar muitos instrumentos de avaliação nos distribuidores, porém,

deve-se selecionar aqueles que sejam adequados aos usuários, ao perfil desejado,

àvalidação, à padronização, aosuporte teórico, dentre outros.

Indica-se a adoção dos seguintes critérios para a escolha dos instrumentos:

a) validação e padronização com amostragem brasileira;

b) manual em português;

c) boa qualidade gráfica e/ou do equipamento e

d) fundamentação teórica reconhecidapela comunidade científica.

A entrevista psicológica, realizada com candidatos à CNH e condutores de veículos,

é obrigatória, devendo considerar aspectos importantes da vida do candidato.

Fica o psicólogo, obrigado a realizar a Entrevista Devolutiva, discutindo de forma

clara e objetiva com o usuário, o resultado de sua avaliação psicológica, orientando

aos Aptos Temporários e aos Inaptos Temporários, quais os procedimentos que

poderão auxiliar na sua adequação futura.

34

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Ética

A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas

fundamentaisconforme determina o Conselho Nacional de Saúde - CNS nº 196/96

do Decreto nº 93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e

normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos:

A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa a

Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao

responder o questionário. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE). Foram coletados dados a respeito de idade, tempo de profissão

e tempo de atuação como condutores de transporte coletivo, para que se possa

obter maiores informações sobre a população pesquisada.

3.2 Tipo de Pesquisa

Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com dupla, combinação de

abordagens, a saber quanti-qualitativa.

3.3 Universo

O presente trabalho científico abrangeu um público restrito de condutores de

Carteira remunerada da cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte.

Abrangendo assim varias turmas do DETRAN sede em motoristas que solicitava a

renovação da CNH, trabalhando por amostragem.

3.4 Sujeitos da Amostra

A amostra deu-se por necessidade de conhecimento da realidade vivenciada

pelos motoristas de CNHcom atividade remunerada que atua no estado do Rio

Grande do Norte. Para tanto, foram colhidas as informações de 26 (vinte e seis)

condutores.

35

3.5 Instrumentos de Coleta de Dados

Construiu-se um instrumento estruturado, um questionário com 08 perguntas

objetivas que levavam a repostas abertas. Composto por perguntas, que abrangem

a caracterização dos sujeitos, cujas variáveis incorporadas tais como idade, tempo

de profissão e tempo atuação como profissional do trânsito, sexo, o conhecimento

sobre a Avaliação Psicológica, sobre a necessidade de fazê-la para tirar a CNH,

número de vezes que fizeram tal avaliação indicam a percepção destes condutores

a respeito da avaliação psicológica.

3.6 Planejamento para Coleta dos Dados

Na oportunidade, o questionário foi entregue pessoalmente aos motoristas,

num total de 26 (vinte e seis) participantes, que concordaram em responder e

participar da pesquisa. Foram respondidos 26 questionários.

3.7 Planejamento para Análise dos Dados

Os dados foram tratados e analisados com auxílio de um software (Excel)

para o tratamento estatístico dos gráficos neste trabalho apresentado. Quanto à

parte qualitativa recorreu-se a análise de conteúdo enquanto técnica para dar

sentido às falas dos sujeitos entrevistados.

36

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A avaliação psicológica, utilizando como referência a percepção dos

motoristas de carteira remunerada, foi realizada no mês de fevereiro de 2013, em

vários candidatos, no próprio DETRAN sede, local onde atuo profissionalmente há

um ano, no município de Natal, Rio Grande do Norte. A referida pesquisa foi

aplicada em 26 candidatos à obtenção da habilitação que exercem atividade

remunerada.

Dentre os itens analisados, temos o perfil etário da população pesquisada.

Convém comentar a diferença existente no grupo, sendo verificado que a maioria

dos candidatos estava entre a idade de 31 a 60 anos. Quanto à Idade, portanto,

pode-se considerar que esta amostra é composta exclusivamente por adultos. Esta

distribuição pode ser visualizada no Gráfico 1.

GRÁFICO 01- Distribuição, em porcentagem, quanto à idade dos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Quanto a idade dos entrevistados, dos 26 motoristas que participaram da pesquisa

verificou-se que 60% estão na faixa etária dos 18 a 30 anos e 40% dos 31 a 60

anos.

37

Nota-se no gráfico 02, uma predominância do gênero masculino na pesquisa,

que demonstra, também, a alta porcentagem de homens que dirigem e que

trabalham com carteira remunerada, em comparação à porcentagem de mulheres

nesta mesma atividade. No dia a dia da nossa profissão, temos salas com número

de homens sempre superiores aos das mulheres, quando não, temos somente salas

com candidatos masculinos.

GRÁFICO 02 - Distribuição, em porcentagem, quanto ao sexo dos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Houve 80 % de respostas na escolaridade do ensino médio, seguido de nível

fundamental e de porcentagens iguais para ensino médio incompleto e superior,

conforme demonstram os dados do gráfico 03. Percebemos na prática das turmas

do DETRAN sede, que o grau de escolaridade é baixo, mesmo tendo 80% das

respostas no Ensino Médio. Quando submetemos o candidato à entrevista, fica

evidente o quanto é fraca essa escolarização, pois comumente, temos letras em

garranchos, falta de domínio da ortografia básica e leitura precária das perguntas da

entrevista.

38

GRÁFICO 03: - Distribuição, em porcentagem, quanto à escolaridade dos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Neste item temos o reflexo do art. 140 do código brasileiro de Transito.

Art. 140. A habilitação para conduzir veículo automotor e elétrico será apurada por

meio de exames que deverão ser realizados junto ao órgão ou entidade executivos

do Estado ou do Distrito Federal, do domicílio ou residência do candidato, ou na

sede estadual ou distrital do próprio órgão, devendo o condutor preencher os

seguintes requisitos:

I - ser penalmente imputável;

II - saber ler e escrever;

III - possuir Carteira de Identidade ou equivalente.

Parágrafo único. As informações do candidato à habilitação serão cadastradas

no RENACH.

As psicólogas do Detran sede já solicitaram inúmeras vezes ao diretor que na

hora de abrir o processo do usuário, este já seja esclarecido se poderá ou não

passa para os exames clínicos, mas infelizmente , por desorganização e interesse,

temos inúmeros casos semanais do art.140.

Fica evidente na pratica de Psicólogo do Trânsito o quanto abaixa

escolaridade reflete no desempenho da avaliação psicológica. Temos assim, uma

39

realidade muito difícil de se lidar ,onde candidatos mal sabem juntar as silabas e

escrever o próprio nome.

No gráfico 04, verifica-se que a categoria “mais de 10 anos” que possui

carteira de motorista, representou 48% da amostra, enquanto as categorias “6 a 10

anos” e “3 a 5 anos” representaram, respectivamente, 28% e 22% da amostra.

Conclui-se que a amostra dessa pesquisa é formada por motoristas experientes,

como demonstra o Gráfico 4. Temos assim que quase metade dos entrevistados já

passou no mínimo duas vezes pela avaliação psicológica.

GRÁFICO 04– Distribuição, em porcentagem, quanto à tempo de CNH dos motorista de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Percebe-se no gráfico 05, que a maioria dos motoristas tem uma média alta

de direção semanal. Temos 60% dirigindo mais de 5 horas por semana, em seguida,

temos 30% de motoristas que dirigem entre 2 a 5 horas e apenas 10% que dirige

entre 1 a 2 horas. Visto que, os motoristas não percebem que quanto maio o tempo

de direção mais expostos eles estarão ao stress e as demais ocorrências

psicossocias do trânsito. Diante do exposto acima, tem-se que, quanto maior for o

tempo de trabalho ao trânsito maior será a probabilidade de surtos e acidentes. Esse

item analisado demonstra a não clareza para os motorista da importância da

avaliação psicológica do transito como instrumento de prevenção e orientação de

40

uma direção segura em realidades como a deles próprios que dependem e passam

horas exaustivas semanais no trânsito.

GRÁFICO 05 – Distribuição, em porcentagem, quanto à média de horas de direção semanal dos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

No gráfico 06, temos a categoria AB como a mais presente nos motoristas de

atividade remunerada. Aqui, a categoria AB abarca cerca de 64% dos motoristas

entrevistados. Notamos, também, que as demais categorias têm representações

bem inferiores da AB. Isso reflete o grande número de taxistas e motofrentistas que

trabalham atualmente nas ruas de Natal.

41

GRÁFICO 06- Distribuição, em porcentagem, quanto à categoriada CNH dos motorista de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Quanto a renovação, gráfico 07, temos 45% dos motoristas na primeira renovação,

seguido de 22% na segunda renovação, 18% na terceira e mais de 4 vezes apenas

com 15%. Com esses dados, vemos que a maioria já está retornando à avaliação

psicológica do Trânsito e mesmo assim, temos nas questões adiante, respostas

vagas.

42

GRÁFICO 07- Distribuição, em porcentagem, quanto à quantidade de avaliações psicológicas do Trânsito submetidasnos motorista de carteira remunerada /RN-2013

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Frente a esses dados percebe-se que existe um descaso ,falta de interesse e

valorização dos motoristas que podem refletir inclusive de como a sociedade

percebe o exame psicológico nos DETRANs. Em resumo, percebe-se aqui que

existem diferentes aspectos a considerar no momento de decidir sobre a adequação

e necessidade da avaliação psicológica. Seu presente e futuro dependem, em

grande medida, da capacidade dos psicólogos de realizar adequadamente sua

atividade e mostrar a utilidade do seu serviço. Espera-se que suas práticas se

deixem sentir na população geral, isto é, nas atitudes que esta apresenta em relação

à avaliação psicológica.

Os resultados apresentados no gráfico 08, demonstram que a maioria dos

motoristas já ouviu falar, de alguma forma, da Avaliação Psicológica do Trânsito.

Constata-se que não é, de certa forma, uma etapa da renovação da CNH,

desconhecida, porém, sem causar motivo pelo conhecimento do objetivo desta

avaliação.

43

GRÁFICO 08- Distribuição, em porcentagem, quanto à quantidade decomentários a respeito da avaliações psicológicas do Trânsito nos motorista de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Os motoristas demonstram em seus retornos na renovação da carteira que

comparecem apenas pela obrigatoriedade e desconhecem o que será avaliado no

exame psicológico.

O exame de Avaliação Psicológica é preliminar, obrigatório, eliminatório, e

complementar para os condutores e candidatos à obtenção da Carteira Nacional de

Habilitação, bem como sua mudança de categoria, aferindo-se psicometricamente

às seguintes áreas de concentração de características psicológicas:

a) - Área Percepto - Reacional , Motora e Nível Mental;

b) - Área do Equilíbrio Psíquico;

c) - Habilidades Específicas.

No gráfico 09, é bastante significativo por demonstrar um índice altíssimo, de

90% dos entrevistados, afirmando que a Avaliação Psicológica do Trânsito não

deveria ser obrigatória. Vemos, assim, que para o motorista entrevistado, a

Avaliação é apenas uma etapa obrigatória sem sentido.

44

GRÁFICO 09- Distribuição, em porcentagem, quanto à opinião sobre a necessidade das avaliações psicológicas do Trânsitonos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Em relação às atitudes contempladas pelos fatores processo de

avaliação e eficácia da avaliação, possivelmente os resultados estão traduzindo a

situação atual de ambigüidade porque passa o profissional dedicado à avaliação

psicológica para condutores. As pessoas, no geral, até acreditam que a avaliação é

eficaz, porém, sobretudo aquelas que estão se submetendo ao processo de

solicitação da CNH, pensam que esta seria dispensável. O problema não parece ser

da avaliação psicológica em si; provavelmente as pessoas vêem que sua presença,

talvez também a da avaliação médica, torna o processo mais oneroso e

dificultoso,por isso sem necessidade.

De acordo com Rozestraten (1988) os processos psíquicos básicos do

comportamento no trânsito abordam desde a tomada de consciência à execução,

passando por estágios de preparo, ação e reação, processos que exigem sempre

um estado de atenção/ vigilância, levando em consideraçãotodo o histórico de vida

do condutor, sua personalidade, atitudes e emoções. Portanto, para lapidar

determinadas habilidades exigidas no trânsito faz-se necessário todo um processo

de aprendizagem. A Avaliação Psicológica se faz indispensável devido a mesma

trazer em sua maior função, a investigação de características de personalidade em

seus testes projetivos; atenção concentrada; memória; raciocínio lógico dentre

45

outras habilidades necessárias para que os condutores se adequem à comunidade

em geral, construindo um trânsito seguro e ajustado.

No gráfico10, temos assim, mais elementos para a compreensão do gráfico anterior.

Temos 40 % dos motoristas sem saber responder o motivo da avaliação periódica

nas carteiras de atividade remunerada, seguido de 25 % de respostas vagas. Esses

dois índices juntos, representam bem mais da metade dos entrevistados , em

repostas, que demonstram a grande desvalorização dos motoristas quanto à

Avaliação Psicológica do Trânsito. Portanto, desconhecem assim os motoristas que

Trânsito e a Avaliação Psicológica são áreas afins,uma vez que essa última consiste

em um processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de

informações a respeito dos fenômenos psicológicos, realizado por meio de

estratégias psicológicas como métodos, técnicas e instrumentos que permitem um

conhecimento de capacidades cognitivas e sensório-motoras, componentes sociais,

emocionais, afetivos, motivacionais, aptidões específicas e indicadores

psicopatológicos (NORONHA, 1999). Esse processo fornece informações

cientificamente fundamentadas que possibilita um diagnóstico visando a orientar,

sugerir e sustentar o processo de tomada de decisão em algum contexto específico.

Desse modo,os psicólogos de trânsito fazem uso da avaliação psicológica para

investigar as características psicológicas dos candidatos à obtenção da CNH ou da

mudança da categoria da CNH.

46

GRÁFICO 10- Distribuição, em porcentagem, quanto às justificativas das avaliações psicológicas do Trânsito nos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

No gráfico 11, constata-se que 70 % dos entrevistados colocam o uso do

álcool como fator principal nos acidentes. Todos os fatores elencados nesse gráfico,

perpassam pela área da psicologia e da avaliação Psicológica. O que chama

atenção nesse item da pesquisa é o stress – fator de campo psicológico –, e o

celular, já se configurando como uma problemática moderna. O trânsito se dá em

um contexto social, portanto, é necessário conscientização a respeito de acidentes.

Ainda existe um grande número de motoristas que acreditam estar imunes em

relação a acidentes, considerando-o algo distante de suas vidas, logicamente

trágico, mas altamente improvável. E que, mudanças no trânsito implicam em

mudanças de comportamentos não facilmente aceitos pelos motoristas, que

requerem alterações de hábitos mais consolidados (por exemplo, aceitação de um

sistema de pontuação de multas na carteira de habilitação, obrigatoriedade do cinto

de segurança, do capacete pelos motociclistas). (HOFFMANN, 2002)

47

GRÁFICO 11- Distribuição, em porcentagem, quanto às principais causas de acidentes,na opinião dos motoristas de atividade remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

É importante ressaltar que o objetivo da AvaliaçãoPsicológica Pericial no

contexto de Trânsito nunca foio de predizer se um determinado indivíduo viria a

seenvolver em acidente ou não, e sim de realizar umtrabalho preventivo, no qual

fosse possível diminuir aspossibilidades de um motorista se expor a situaçõesde

risco. Portanto, não é possível prever que uma pessoa que apresenta traços

agressivos e impulsivos vámanifestar esse comportamento no trânsito ou

emqualquer outra situação, ela pode simplesmente canalizar esse comportamento

quando dirige e manifestá-lo em casa contra os filhos. Assim, em virtude de serum

trabalho preventivo, torna-se necessário evitar que essa pessoa dirija e venha a se

expor em uma situação de risco podendo envolver outras vítimas.Os testes

psicológicos são instrumentos que, dependendo da forma como forem utilizados,

podem contribuir para áreas de atuação do psicólogo. (ANASTAS I& URBINA,

2000).

No gráfico 12, verifica-se que 85 % dos entrevistados afirmam ter

conhecimento da periodicidade do exame Psicológico, nas carteiras remuneradas.

Nesse gráfico constatamos mais uma vez que os candidatos tem a consciência que

passarão por teste a cada5 anos , mesmo nos demais itens demonstrando falta de

interesse e esclarecimento da importância da avaliação Psicológica. A finalidade do

48

exame passava a ser investigar adequações psicológicas mínimas no indivíduo para

que fosse possível que os candidatos à CNH fossem capazes de conduzir deforma

correta e segura. Desse modo, a razão maior desse processo passaria a estar na

necessidade detentar garantir a segurança do condutor e dos demais envolvidos no

trânsito (Conselho Federal de Psicologia, 2000).

GRÁFICO 12- Distribuição, em porcentagem, quanto ao conhecimento da obrigatoriedadedas avaliações psicológicas do Trânsito, nos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Nota-se no gráfico 13, que 60 % dos pesquisados não souberam responder o

motivo da obrigatoriedade da Avaliação Psicológica do trânsito, deixando assim, as

respostas vagas prevalecerem. Nota-se que o item “evitar acidentes”, surge com

apenas 10%, o que respalda a falta de ligação da avaliação com a prevenção de

comportamentos que geram acidentes como vimos no gráfico 11. Portanto, através

desta pesquisa, constatamos a não correlação da Psicologia do trânsito com a

prevenção de acidentes, prevenção de violência no trânsito, enfim, com trânsito

seguro e pacífico.

49

GRÁFICO 13- Distribuição, em porcentagem, quanto à justificativa da obrigatoriedadedas avaliações psicológicas do Trânsito, nos motoristas de carteira remunerada.

Fonte: Dados da Pesquisa. Natal – RN. 2013

Sendo que, 80% dos acidentes no trânsito, segundo Rozestraten (1988), são

devido a fatores humanos. Estes fracassos do comportamento no trânsito chamam a

atenção da sociedade e demonstram, com toda a sua clareza, sua periculosidade.

Em todos os acidentes, pode-se dizer que acontece alguma coisa inesperada para

as pessoas nele envolvidas. Onde o acidente é consequência de um mau

comportamento, de algum processo psicológico que não funcionavam de algum

modo, bem, nos casos em que o fator humano é o principal. Para que se produzam

comportamentos adequados no tratamento, segundo Rozestraten (1988), são

necessárias, pelo menos, três condições:

• A presença de estímulos ou de situações que possam ser observados e

percebidos; quanto mais clara e menos ambígua a situação ou o estímulo, melhor

poderá ser a adaptação comportamental com relação a ela.

• Um organismo em condições de perceber e reagir adequadamente aos estímulos

percebidos, portanto, um organismo sem deficiências sensoriais mentais ou motoras

que prejudicariam sua reação.

• Uma aprendizagem prévia dos sinais das normas que devem ser seguidas, para

que este organismo saiba se comportar adequadamente no sistema complicado do

trânsito.

50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo foi realizado com o objetivo de averiguar a percepção dos

candidatos de atividade remunerada à Carteira Nacional de Habilitação do Estado

Rio Grande do Norte.

Foi verificado, de acordo com a amostra do estudo, que a maioria dos

participantes não reconhece a avaliação psicológica no contexto do trânsito, como

prática importante. É um momento desconexo e sem sentido para a maioria dos

motoristas.

No que se refere aos motivos de se realizar tal avaliação, observamos que

existe uma vaga noção do que este processo pode contemplar em seu todo.

Entendemos que existe um desconhecimento por parte das pessoas leigas, tendo, a

pergunta, suscitado indiferença nos entrevistados, uma vez que, as respostas

mencionadas são bastante vagas aos objetivos a que o exame psicológico se

propõe. Confirma-se tal constatação através das respostas obtidas com várias

perguntas que exploravam a possibilidade de a avaliação para o trânsito ser capaz

de identificar fatores de risco, capazes de auxiliar na diminuição dos acidentes e da

violência do trânsito, sendo que, a maioria das respostas foram vagas, assim,

averiguamos um desconhecimento por parte dos entrevistados quanto à importância

desta etapa na obtenção da CNH.

Sobre o motivo da obrigatoriedade da avaliação psicológica do trânsito em

motoristas de atividade remunerada, tal desconhecimento também é percebido nas

perguntas que questionaram a periodicidade e o rigor dos exames. Muitos dos

entrevistados não tinham conhecimento a respeito da periodicidade, bem como de

sua obrigatoriedade. Esse último aspecto é o mais agravante, pois os entrevistados

não concordaram com a obrigatoriedade da Avaliação.

Uma das hipóteses a ser levantada sobre os resultados da pesquisa é que o

exame psicológico para obtenção da CNH, apesar de não ser uma prática recente,

suscita ainda muitas dúvidas a respeito de sua necessidade e importância.

Percebemos que a maioria dos participantes reconhece a existência de tal exame,

mas sabemos, também, que existe um desconhecimento sobre o que ele se propõe

a avaliar em seu todo. Logicamente, que se as pessoas não conhecem o que se

avalia no exame psicológico, elas também terão dificuldade de responder sobre

51

questões que aprofundam tal temática, embora não possamos desconsiderar o

conhecimento percebido e existente nos participantes deste estudo.

Frisamos, mais uma vez, que a maioria da amostra estudada se mostrou

desfavorável à importância do exame psicológico no trânsito. Acredita-se que a

psicologia possui como compromisso, desmistificar as percepções existentes sobre

as técnicas psicológicas, informando a população sobre a importância de tal exame

e suas finalidades. Sabemos que dentro da área psicológica, também existe

desconhecimento sobre a avaliação psicológica no contexto do trânsito, além de

opiniões contrárias à sua importância. Mas, é verdade que esta prática merece a

nossa atenção, havendo necessidade de mais estudos e pesquisas sobre as

questões que permeiam tal assunto.

Obtivemos, dentre os itens pesquisados, alguns dados significativos e que,

com certeza, contribuiriam para pensar na nossa valorização, enquanto classe, e

quanto à atuação na psicologia do Trânsito. Essa situação não nos desanima e tão

pouco nos desestimula, entendo que nós estamos cientes do nosso compromisso, o

que precisamos, é deixar os motoristas conscientes da importância dessa etapa na

renovação da sua CNH. Precisamos, sim, refletir a respeito do que a sociedade

espera de nós, psicólogos. Quais as respostas que são esperadas de nós e por

quais razões? Será que as expectativas a respeito do nosso trabalho estão

adequadas a nossa realidade de atuação?

É necessário que façamos nossas atividades com clareza e autonomia,

esclarecendo e dando aos candidatos da CNH, orientações e explicações sobre o

nosso trabalho. Todos têm o direito à devolutiva, momento único para acabarmos

com os temores por ele carregados e mostrarmos a importância daquilo que

fazemos. Somente assim, teremos a sociedade a nosso lado, acreditando que nossa

contribuição é fundamental para a melhoria do sistema de trânsito E A

VALORIZAÇÃO DA PSICOLOGIA DO TRÂNSITO.

52

REFERÊNCIAS

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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº 002/2003. Define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos e revoga a Resolução CFP n° 025/2001. Brasília: CFP, 2003.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Cartilha sobre a avaliação psicológica. Brasília, agosto de 2007.

CONTRAN. Resolução nº 168, de 14 de dezembro de 2004. Estabelece normas e procedimentos para a formação de condutores de veículos automotores e elétricos, a realização dos exames, a expedição de documentos de habilitação, os cursos de formação, especializados, de reciclagem e dá outras providências. Disponível em: <http://www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/RESOLUCAO_CONTRAN_168.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013.

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HOFFMANN, Maria Helena. Comportamento do condutor e fenômenos psicológicos. Psicologia, pesquisa e trânsito. São Paulo, v. 1, n.1, p. 17-24, jul../dez. 2005.

HOFFMANN, Maria Helena; CRUZ, Roberto Moraes; ALCHIERI, João Carlos (orgs). Comportamento humano no trânsito. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

53

NORONHA, A.P.P.; PRIMI, R. & ALCHIERI, J.C. Instrumentos de avaliação mais conhecidos/utilizados por psicólogos e estudantes de psicologia. Psicologia Reflexão e Crítica, 2005, vol. 18, nº. 3, p. 390-401.

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URBINA, S. (2007). Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artmed.

54

APÊNDICE

QUESTIONÁRIO

Estamos realizando uma pesquisa sobre Psicologia do Trânsito e sua opinião nos

interessa. É muito simples responder ao questionário, basta seguir as orientações.

Estamos pedindo que você responda o mais sincero e espontaneamente possível. O

questionário é anônimo e não tem respostas certas ou erradas. O que nos interessa

é sua opinião. Obrigado por participar.

Sexo:M ( ) F ( )

Idade: ___________________

Escolaridade :________________

1.Há quanto tempo você possui carta de habilitação? _________________

Menos de 03 anos ( ) 03 a 05 anos ( ) 06 a10 anos ( ) mais de 10 anos

2.Durante a semana, quantas horas por dia, em média você passa ao volante?

Menos de 1 hora ( ) 01 a 02 horas ( )

02 a 05 horas ( ) mais de 05 horas ( )

3.Qual é a sua categoria atual ? _____________________

4.Voce passou por quantas avaliações psicológicas no trânsito?

1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ou mais ( )

5.Você já ouviu comentários a respeito da avaliação psicológica do trânsito?

( ) SIM

( ) NÃO

Se sim, citeabaixo:

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

6.Você acha necessário na renovação da CNH fazer a avaliação psicológica ?

( ) sim

( ) não

Agora justifique a sua resposta:

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

55

7.Cite quais são, na sua opinião, as principais causas dos acidentes de trânsito.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

8.Você sabia que a avaliação Psicológica para motoristas de atividade remunerada é

obrigatória a cada 5 (cinco) anos ?

( ) SIM

( ) NÂO

Porque você acha que é obrigatória ? Justifique.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

56

ANEXO

57