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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS PENAIS JORGE PADILHA DIAS EXCLUSIVIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIL PRATICADOS POR POLICIAIS MILITARES EM SERVIÇO Porto União 2013

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS PENAIS

JORGE PADILHA DIAS

EXCLUSIVIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR NOS CRI MES

DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIL PRATICADOS POR POLIC IAIS

MILITARES EM SERVIÇO

Porto União

2013

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JORGE PADILHA DIAS

EXCLUSIVIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR NOS CRI MES

DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIL PRATICADOS POR POLIC IAIS

MILITARES EM SERVIÇO

Monografia apresentada como exigência para obtenção do Título de Pós Graduação em Ciências Penais, do Curso ministrado pela Universidade Anhanguera – UNIDERP – sob a orientação do professor Leonardo Henrique da Silva.

PORTO UNIÃO

2013

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RESUMO

No presente trabalho se estudará o Inquérito Policial Militar (IPM), com objetivo

principal em demonstrar a competência exclusiva da Polícia Judiciária Militar

(PJM) para instaurá-lo nos crimes dolosos contra a vida de civil praticados por

policiais militares em serviço, e afastar a possibilidade da instauração paralela

do Inquérito Policial (IP) sobre o mesmo fato pela Polícia Judiciária Civil. Neste

contexto, buscar-se-á demonstrar através da legislação, da doutrina, e da

jurisprudência pátria, que não pode o policial militar responder a dois

procedimentos administrativos pela prática do mesmo fato, ou seja, IPM e IP

sob pena de violação aos seus direitos e garantias fundamentais. Por fim, se

tem como objetivo principal assegurar que o IPM é o instrumento legal e

imparcial, para apurar a materialidade e a autoria dos crimes dolosos contra a

vida de civil praticado por policial militar em serviço, o que dará condições ao

titular da ação penal na formação de sua opinião a cerca do delito, e assim dar

ou não continuidade a persecução penal.

Palavras Chaves: Inquérito Policial Militar, Polícia Judiciária Militar, Crimes

Dolosos Contra a Vida de Civil.

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ABSTRACT

In this work will examine the police investigation (IPM), with main objective to

demonstrate the exclusive competence of the Military Judicial Police (PJM) to

introduce it in intentional crimes against the civil life practiced by military police,

and ward off the possibility of setting up parallel police investigation (IP) on the

same fact by the Judicial Police. In this context, seek to prove by means of

legislation, doctrine and case law, that military police can't respond to two

administrative procedures by the practice of the same fact, i.e. IPM and IP

under penalty of violating their rights and fundamental guarantees. Finally, if the

main objective is to ensure that the IPM is the legal and impartial instrument to

determine the materiality and the authorship of malicious crimes against civil life

practiced by military police service, which will give the holder conditions of

criminal action in the formation of their opinion about the Delhi.

Key words: Military police investigation, Military Judicial Police, intentional

Crimes against the civil life.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................08

1.1. Tema.................................................................................................09

1.2. Delimitação do Tema........................................................................09

1.3. Problema de Pesquisa......................................................................10

1.4. Hipóteses..........................................................................................11

1.5. Relevância da Pesquisa...................................................................11

1.6. Objetivos da Pesquisa......................................................................12

1.7. Justificativa da Pesquisa..................................................................12

1.8. Método..............................................................................................13

2. CAPÍTULO I – DIREITO PENAL............... .......................................14

2.1. Direito Penal Militar...........................................................................16

2.2. Crime Militar......................................................................................18

3. CAPÍTULO II – POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR. ............................22

3.1. Inquérito Policial Militar.....................................................................25

4. CAPÍTULO III – EXCLUSIVIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL

MILITAR NOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA CIVIL..... ...............29

CONCLUSÃO.......................................... ....................................................35

REFERÊNCIAS............................................................................................37

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1. INTRODUÇÃO

O Estado é o titular do direito de punir e deve buscar, dentro do devido

processo legal, uma punição ao autor do ilícito penal. Somente após, a

investigação que comprove os indícios de materialidade e de autoria do crime

pode o Estado embasar a ação penal, e posteriormente efetivar o jus puniendi,

com a segurança para penalizar aquele que é realmente culpado. Assim deve

agir o Estado democrático de direito, o qual terá maior credibilidade na

aplicação da sanção penal, bem como na distribuição da justiça.

Será, em regra, mediante a instauração do Inquérito Policial (IP) – nos

crimes comuns – e do Inquérito Policial Militar (IPM) – nos crimes militares –

que o Estado dará início a sua pretensão punitiva contra aquele que

desrespeitou a norma penal.

No presente trabalho, mediante uma pesquisa teórica, se estudará o

IPM, desde a sua instauração, até sua conclusão, enfatizando a competência

exclusiva da Polícia Judiciária Militar (PJM) para instaurá-lo nos crimes dolosos

contra a vida de civil praticados por policiais militares em serviço. Esse

instrumento administrativo investigativo sempre será realizado quando a

autoridade militar tomar conhecimento da ocorrência de um crime de natureza

militar, com o objetivo de se apurar a materialidade e a autoria do delito, e ao

final dar condições ao Ministério Público de iniciar ou não a ação penal.

O IPM é instaurado pela autoridade militar tanto no âmbito das Forças

Armadas quanto no âmbito das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros

Militares estaduais, e do Distrito Federal, que pode ser o Comandante Geral, o

Chefe do Estado Maior, os Comandantes Regionais, e de Batalhões, atribuição

que também poderá ser delegada a outro Oficial. Após sua conclusão, restando

caracterizado os indícios de materialidade e de autoria do crime, os autos

serão remetidos a justiça militar, e da mesma forma, se da apuração ficar

comprovado um crime comum de competência da Justiça Comum, a ela serão

remetidos os autos.

No caso da ocorrência de um crime doloso praticado por policial militar

no exercício de sua função, em que a vítima for civil, surge à discussão a cerca

da competência para apuração da infração penal, se é da Polícia Judiciária

Militar ou da Polícia Judiciária Comum. No entanto, é pacífico o entendimento

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referente ao julgamento dessa espécie de crime, o qual fica a cargo da Justiça

Comum perante o Tribunal do Júri.

Pode-se a firmar, que o IPM é o único meio adequado a apurar essa

espécie de crime, e este procedimento na esfera estadual será presidido por

um Oficial da Polícia Militar – investigando policial militar – ou por um Oficial do

Corpo de Bombeiros Militar – investigando bombeiro militar – e não o inquérito

policial instaurado equivocadamente pelo delegado de polícia civil para apurar

o mesmo fato.

A divisão do referido trabalho se dará em três capítulos, no primeiro será

feito um breve relato da história do direito penal comum e militar, trazendo à

baila a diferenciação entre crime comum e crime militar, o que facilitará a

compreensão da justificativa ao tema proposto.

No segundo capítulo, se conceituará a Polícia Judiciária Militar e a sua

competência para a instauração do IPM, bem como a conceituação e a

demonstração deste procedimento administrativo, desde a sua instauração até

a conclusão com o envio dos autos a Justiça Militar ou Comum.

Ao final, no terceiro capítulo, serão apresentados os dispositivos legais,

com embasamentos doutrinários, e jurisprudenciais, que confirmem a

competência exclusiva da Polícia Judiciária Militar, em instaurar o IPM nos

crimes dolosos contra a vida de civil praticados por policiais militares em

serviço, fato que assegura ao indiciado o respeito a seus direitos e garantias

fundamentais de não responder a mais de um procedimento administrativo

pelo mesmo fato.

1.1. Tema

Exclusividade do Inquérito Policial Militar nos crimes dolosos contra a

vida de civil praticados por policiais militares em serviço.

1.2. Delimitação do Tema

O estudo a ser realizado tem por objetivo apresentar a competência

exclusiva da Polícia Judiciária Militar para a instauração IPM na apuração da

materialidade e da autoria dos crimes dolosos contra a vida de civil praticados

por policiais militares em serviço.

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Neste contexto, busca-se demonstrar, através da legislação, da doutrina,

e da jurisprudência pátria, que não pode o policial militar responder a dois

procedimentos administrativos pela prática do mesmo fato – IPM instaurado

pela Polícia Militar e Inquérito Policial (IP) instaurado pela Polícia Civil – sob

pena de violação aos direitos e garantias fundamentais do investigado, os

quais estão assegurados no rol do artigo 5º da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88).

Por fim, assegurar que o IPM, é um procedimento legal, imparcial, e

exclusivo para apurar a materialidade e a autoria do crime doloso contra a vida

de civil praticado por policial militar quando em serviço, instrumento que

fornecerá condições ao titular da ação penal em dar ou não continuidade a

persecução criminal.

1.3. Problema de Pesquisa

O IPM é um procedimento administrativo de investigação utilizado pela

Polícia Judiciária Militar, destinado a apurar a materialidade e a autoria dos

crimes militares, bem como as circunstâncias em que eles ocorreram, a fim de

servir de base para o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, titular

da ação penal.

Pode ser realizado pela autoridade militar, tanto no âmbito das Forças

Armadas quanto no âmbito das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros

Militares estaduais, e do Distrito Federal. Porém, se ao final do IPM restar

caracterizado um crime que seja da competência da Justiça Comum, a ela

serão remetidos os autos.

Quando ocorre um crime doloso contra a vida de civil praticado por

policial militar no exercício de sua função, surge à discussão a cerca da

competência para apuração da infração penal, se é da Polícia Judiciária Militar

ou da Polícia Judiciária Civil. Pacífico é o entendimento referente ao julgamento

dessa espécie de crime, o qual fica a cargo da justiça comum perante o

Tribunal do Júri.

Assim, surge o problema da pesquisa: a Polícia Judiciária Militar possui

a competência exclusiva para apurar mediante o IPM os crimes dolosos contra

a vida de civil praticados por policiais militares em serviço?

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1.4. Hipóteses

No âmbito estadual, a Polícia Judiciária Militar é exercida pela Polícia

Militar e pelo Corpo de Bombeiros Militar, representada pela autoridade militar,

que pode ser o Comandante Geral, o Chefe do Estado Maior, os Comandantes

Regionais, e de Batalhões, atribuição que poderá ser delegada a outro Oficial

para a instauração do IPM. (ASSIS, 2009)

Partindo do pressuposto, de que à Polícia Judiciária Militar compete à

apuração dos crimes militares praticados pelos militares federais e estaduais, e

a Emenda Constitucional nº. 45/2004 consolidou que o crime doloso contra a

vida de civil praticado por militar deve ser apurado pela Justiça Castrense, da

mesma forma previsto no artigo 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar

(CPPM), acrescentado pela Lei nº. 9.299, de 7 de agosto de 1996, porém, com

o processo, ou seja, a segunda fase da persecução penal transcorrendo no

juízo comum, com o julgamento pelo Tribunal do Júri.

Pode-se a firmar que o IPM é o único meio adequado a apurar essa

espécie de crime, e este procedimento na esfera estadual será presidido por

um Oficial da Polícia Militar – investigando policial militar – ou por um Oficial do

Corpo de Bombeiros Militar – investigando bombeiro militar – e não o Inquérito

Policial instaurado equivocadamente pelo delegado de polícia civil.

1.5. Relevância da Pesquisa

A pesquisa aqui proposta é extremamente relevante no aspecto pessoal,

pois é mediante a conclusão deste trabalho científico que se poderá ostentar o

título de pós-graduação em Ciências penais.

Do ponto de vista acadêmico não a o que se discutir a cerca de sua

relevância, já que o tema em tela não é tratado na academia, e somente em

um trabalho específico é que pode ser trazido a baila.

Por fim a relevância social desta pesquisa científica deve ser levada em

consideração, principalmente no que diz respeito aos direitos e garantias

fundamentais do investigado no IPM, o qual também merece ter respeitados os

institutos supramencionados, valores imprescindíveis em um Estado

Democrático de Direito.

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1.6. Objetivos da Pesquisa

Definir o conceito de Polícia Judiciária Militar, bem como demonstrar

sua competência para a instauração do IPM nos crimes militares.

Descrever o procedimento do IPM nos crimes dolosos contra a vida de

civil quando o autor for policial militar e estiver em serviço, até a conclusão dos

trabalhos com o envio dos autos a Justiça Militar ou Comum.

Apresentar os dispositivos legais, com embasamento doutrinário e

jurisprudencial que confirmem a competência exclusiva da Polícia Judiciária

Militar em instaurar o IPM nos crimes dolosos contra a vida de civil praticados

por policiais militares em serviço.

1.7. Justificativa da Pesquisa

O policial militar, ao cometer um crime militar, será investigado através

do IPM instaurado pelo comandante da Organização Policial Militar (OPM) a

qual pertence. Ocorre que, quando o crime praticado no exercício de sua

atividade for doloso contra a vida de civil surgem divergências acerca da

competência para apuração dos fatos. Muitas vezes o policial militar é

submetido a duas investigações paralelas, referente ao mesmo crime, uma

pelo IPM instaurado pela Polícia Militar, e a outra através do Inquérito Policial

pela Polícia Civil, e esta situação não pode ser admitida em um Estado

Democrático de Direito, já que fere os direitos e as garantias fundamentais do

investigado.

A CRFB/88, em seu artigo 125, § 4º, prevê que, no crime doloso contra a

vida de civil praticado por militar estadual, a competência para processar e

julgar o acusado é da justiça comum pelo do Tribunal do Júri. Porém, a

investigação deve ser realizada pela Polícia Judiciária Militar, e concluído o

IPM, serão os autos encaminhados a Justiça Militar estadual, que entendendo

estar caracterizada a materialidade e a autoria do crime remeterá os autos a

Justiça Comum para que processe e julgue o acusado.

Muito se discute a cerca da competência da Polícia Judiciária Militar na

apuração dos crimes dolosos contra a vida de civil praticado por policial militar

em serviço através do IPM. Contestam principalmente os delegados de polícia,

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que são contrários a esse procedimento, alegando a competência da Justiça

Comum, e por essa razão o crime deveria ser investigado pela Polícia

Judiciária Comum, bem como sua parcialidade devido ao corporativismo, já

que o policial militar vai ser investigado por outros integrantes da corporação, a

qual tem interesse direto na apuração dos fatos.

Quanto à competência, resta claro que será da justiça comum o

processo e julgamento somente, porém a investigação é competência exclusiva

da Polícia Judiciária Militar.

As instituições militares são baseadas nos princípios da hierarquia e

disciplina, o que garante a credibilidade, e a transparência nos atos realizados

pela corporação. Assim, o IPM servirá de resposta a sociedade, trazendo a

baila o que realmente aconteceu, com total isenção, pautada na ética, e

profissionalismo por parte da autoridade militar, no intuito de preservar a

imagem da instituição.

1.8. Método

O Método empregado será o categórico dedutivo, uma vez que se

buscará explicar mediante uma pesquisa teórica, a exclusividade do IPM nos

crimes dolosos contra a vida de civil praticados por Policiais Militares em

serviço, e ao final chegar a uma conclusão a cerca desse procedimento a cargo

da Polícia Judiciária Militar.

Utilizar-se-à para cumprir o objetivo neste trabalho de procedimentos

técnicos mediante uma pesquisa eminentemente bibliográfica.

Segundo Gil (2009, p.44) “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com

base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos

científicos [...].”

Será utilizada a abordagem ou enfoque hermenêutico do problema

através da pesquisa qualitativa, isto é, a interpretação dos fenômenos com a

atribuição dos seus significados.

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2. DIREITO PENAL

Desde os tempos mais remotos, em que o homem passou a viver em

sociedade, já existiam normas para regular o convívio social. Assim, na

sociedade primitiva surgiu o Direito Penal, onde a justiça era feita pelas

próprias mãos – autotutela – como forma de garantir a paz.

Porém, devido à falta de organização da sociedade primitiva, a punição ao

infrator da lei era desproporcional ao mal causado. (TELES, 2002)

“A punição repousava, primitivamente, nas mãos do próprio lesado pelo

crime, que, colimando sua repressão, conduzia-se à desforra”. (PEDROSO,

2001, p.16)

Durante a evolução do direito penal, sua primeira fase ficou conhecida

como vingança privada, isto se deve ao fato do ofendido ou pessoas próximas

a ele possuírem o direito de ir à desforra sem limites contra o autor do crime.

Em que pese a Lei de Talião ser considerada uma forma extremamente rígida

de punir quem a infringisse, foi através dela que a sociedade passou a

estabelecer os limites para as penas aplicadas aos autores de crimes, ou seja,

passa a limitar a vingança privada. (TELES, 2002)

Dotti (2005, p.125) citando trecho da Bíblia sagrada lembra que:

A pena de Talião (do latim talis = tal, tal qual) consistia em impor ao delinqüente um sofrimento igual ao que produziria com sua ação. Assim consta na Bíblia: “Pagará a vida com a vida; mão com mão, pé por pé, olho por olho, queimadura por queimadura” (Êxodo, XXI, versículos 23 a 25). Aquela antiga modalidade de sanção penal caracterizou uma moderação relativamente ao exercício da vingança como reação à ofensa e consta no Código de Hamurabi, na legislação mosaica e na Lei das XII tábuas.

Em toda civilização antiga, o direito penal era o meio utilizado para

exercer a vingança, o ofendido podia revidar a agressão que tivesse sofrido de

forma desproporcional. As penas eram cruéis passando da pessoa do acusado

e alcançavam a sua família, não havia um processo adequado, e através da

força era obtida a confissão do réu. (DOTTI, 1998)

Posteriormente surge a fase da composição penal (transação

pecuniária), que consistia na obrigação do réu em ressarcir a vítima ou a sua

família pelos danos causados ao invés de ser castigado fisicamente, porém

este instituto devido às desigualdades sociais deixou de ser aplicado. Na idade

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média é instituída a pena corporal, pelo soberano, com características cruéis,

como a tortura, suplícios, e processo secreto. (Assis, 2009)

O Marquês de Beccaria, em sua consagrada obra dos delitos e das

penas, no ano de 1764, doutrinava que:

Uma crueldade que o uso consagrou na maioria das nações é a tortura do réu durante a instrução do processo, quer para forçá-lo a confessar um delito, quer por ele ter caído em contradição, quer ainda para descobrir os cúmplices, ou por quem sabe qual metafísica e incompreensível purgação da infâmia, quer, finalmente, por outros delitos de que poderia ser autor, mas dos quais não é acusado. (BECCARIA, 1997, p. 69)

Devido ao movimento iluminista ocorreu uma grande mudança no direito

penal, sendo um dos principais pensadores Cesare Bonesana, o Marquês de

Beccaria. Com suas idéias surge no Direito Penal o período humanitário e,

posteriormente da origem as legislações favoráveis aos preceitos por ele

defendidos.

A história relata que no Brasil o direito penal não foi diferente do utilizado

por outros povos. Influenciado pelo direito penal português no período colonial,

com as Ordenações Afonsinas, e posteriormente, com as Ordenações

Manuelinas e Filipinas. Prevaleciam as penas cruéis, de morte, o cerceamento

de defesa, a desigualdade na aplicação da pena, parcialidade dos julgadores, e

julgamentos arbitrários. Contudo, este período vingativo, de opressão e

violência no Brasil teve importantes mudanças com a Constituição Imperial de

1824, devido à independência do Brasil de Portugal.

Foi à primeira Constituição brasileira que consagrou os princípios da

igualdade, da irretroatividade da lei penal, bem como aboliu as penas de

açoites, cruéis, de marcas com ferro quente, e a tortura. A Constituição Federal

do Brasil de 1891, expressamente tratou de importantes princípios

fundamentais, tais como, do juiz natural, da reserva legal, da intranscendência

– nenhuma pena passará da pessoa do réu. Aboliu as penas de morte (exceto

nos crimes militares em tempo de guerra), de banimento, e a de galés. (TELES,

2002)

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2.1. Direito Penal Militar

O direito penal militar é doutrinariamente considerado como direito

penal especial, pois ao contrário do direito penal comum – o qual é aplicado à

maioria das pessoas – visa sancionar determinado grupo em razão da situação

ou condição em que se encontram. Nessa esteira tem-se o direito penal militar

como especial, já que vai tutelar o bem jurídico inerente a razão de ser das

instituições militares.

É um direito penal especial, já que suas normas são aplicadas na grande

maioria das vezes aos militares, em razão da ofensa a deveres especiais, os

quais estão diretamente ligados a hierarquia e a disciplina. (DA COSTA, 2005)

Sabe-se que, o direito penal militar já era conhecido por algumas

civilizações da antiguidade, porém foram os romanos que o elevaram a

condição de instituto jurídico. O sucesso romano nos campos de batalhas se

deu em virtude da disciplina e organização de seu exército, o qual era regido

com recursos disciplinares e jurídicos eficazes na aplicação das sanções

impostas aos militares.

As penas eram capitais – decapitação, fustigação, e escravidão –

corporais ou aflitivas – castigo, multa, trabalhos forçados, transferência de

milícia, degradação, rebaixamento, e a baixa infamante – disciplinares ou

morais – ficar o militar fora das trincheiras nas batalhas, comer em pé, dormir

ao relento, realização de trabalhos manuais pelos graduados idênticos a de

seus subordinados. Em algumas situações a determinação do imperador era

de que se instaurasse um inquérito para se ter certeza ou não da autoria do

delito, mas as penas eram aplicadas ao militar romano na maioria das vezes

sem a instauração de processo para apurar os fatos, ficando a cargo dos

oficiais comandantes a imposição da sanção ao seu livre arbítrio. (MORETTI,

2004)

Porém as punições aplicadas aos integrantes do exército romano se

baseavam em castigos corporais, como a bastonada, por exemplo, situação

que só é modificada com a expansão territorial do império romano, pois sua

estratégia era dominar os povos através da força e depois civilizá-los mediante

as leis. Portanto os romanos foram referência para as civilizações modernas

tanto pelas leis quanto por suas táticas militares. (LOUREIRO NETO, 2010)

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Através do direito penal militar serão tutelados os bens jurídicos de

ordem militar – hierarquia, disciplina, serviço e administração militar – tanto no

âmbito federal, onde estão inseridas as Forças Armadas quanto no âmbito

estadual abrangendo às Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares.

(NEVES; STREIFINGER, 2008)

No Brasil o Direito Penal Militar teve influência portuguesa,

especificamente com as Ordenações Filipinas. Posteriormente os Artigos de

Guerra do Conde de Lipe em 1763, composta de 29 artigos, previa as penas de

fuzilamento, expulsão com infâmia, morte, e cinquenta golpes de prancha de

espada. (NEVES; STREIFINGER, 2008)

Em 1808, D. João VI através de alvará instituiu o Conselho Supremo

Militar e de Justiça. Mas é a partir de 20 de outubro de 1834, mediante uma

Provisão é que os crimes militares passam a ser divididos nas espécies de

crimes militares cometidos em tempo de paz e em tempo de guerra. O primeiro

Código Militar brasileiro foi o Código da Armada (Decreto nº. 18 de 7 de março

de 1891), o qual foi aplicado ao Exército (Lei nº. 612, de 28 de janeiro de 1899)

e à Aeronáutica (Decreto-lei nº. 2.961, de 20 de janeiro de 1941). (LOUREIRO

NETO, 2010)

Surge em 24 de janeiro de 1944, através do Decreto-lei nº. 6.227, o

primeiro Código Penal Militar brasileiro. Hodiernamente está em vigor o Código

Penal Militar (CPM) instituído pelo Decreto-lei nº. 1.001, de 21 de outubro de

1969, que passou a ter vigência desde 1º de janeiro de 1970.

Sabe-se que o direito penal militar é especial, pois a aplicação de suas

sanções se da quase que exclusivamente aos militares integrantes das Forças

Armadas, das Polícias Militares, e dos Corpos de Bombeiros Militares, com

objetivo de proteger os valores dessas instituições. (ASSIS, 2009)

Significa dizer, que o direito militar visa orientar e organizar a atividade

dos militares, os quais em face à população civil possuem muito mais deveres

e obrigações, e justamente por isso se faz necessário a existência de um

arcabouço jurídico próprio. (ROTH, 2003)

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2.2. Crime Militar

O conceito de crime militar remonta a antiguidade, especificamente em

Roma, onde servia para disciplinar e organizar os exércitos, o que garantiu a

supremacia romana sobre seus adversários.

Os bens jurídicos tutelados no crime militar são “aqueles pertinentes ao

serviço, à administração, à disciplina e à hierarquia, isto é, bens jurídicos em

que se consubstancia a razão de ser das instituições militares”. (DA COSTA,

2005, p. 05)

Na doutrina o conceito de crime militar está estabelecido de acordo com

os critérios em ratione materiae, ratione loci, ratione personae, ratione temporis

e ratione legis, ou seja, em razão da matéria, do local, da pessoa, do tempo, e

da lei.

O critério ratione materiae exige que se verifique a dupla qualidade militar – no ato e no agente. São delitos militares ratione personae aqueles cujo sujeito ativo é militar, atendendo exclusivamente à qualidade militar do agente. O critério ratione loci leva em conta o lugar do crime, bastando, portanto, que o delito ocorra em lugar sob administração militar. São delitos militares ratione temporis os praticados em determinada época, como por exemplo, os ocorridos em tempo de guerra ou durante o período de manobras ou exercícios. (ASSIS, 2004)

Segundo Célio Lobão (2011, p. 27) “os critérios ratione materiae, ratione

personae, e ratione loci subordinam-se ao critério ratione legis (fato delituoso

tipificado na lei (Código Penal Militar)”.

Atualmente, crime militar é o que a lei define como tal, e o critério

utilizado para denominá-lo é o ratione legis – em razão da lei – ou seja, só

haverá crime militar quando houver previsão legal na legislação penal militar.

Este critério é o mais importante, pois tem força constitucional de validade e

eficácia para a aplicação da lei ao fato concreto. (LOBÃO, 2009)

“Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de

transgressão disciplinar ou crime propriamente militar, definidos em lei”, artigo

5º, LXI, da CRFB/88. (BRASIL, 2013)

Neste diapasão, a própria CRFB/88 ao afastar a necessidade do

flagrante ou da ordem judicial para a realização da prisão pelo cometimento do

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crime militar, já expressa uma das diferenças entre crime militar e crime

comum.

Quando a CRFB/88 expressa “(...) crime propriamente militar, definidos

em lei”, está se referindo ao CPM, pois é este diploma legal que tipifica os

delitos castrenses. Além dos crimes militares próprios (que só o militar pode

cometer), o CPM versa sobre os crimes militares impróprios (tanto o militar

quanto o civil podem cometer).

Em seu artigo 9º o CPM prescreve o que é crime militar:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011). (BRASIL, 1969)

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Vale lembrar que o artigo 9º do CPM trata dos crimes militares em tempo

de paz. Já em seu artigo 10 menciona os crimes em tempo de guerra, e essa

tipificação está prevista na parte especial do codex castrense dos artigos 355 a

408, os quais não serão objetos de estudo no presente trabalho.

Os Crimes previstos no artigo 9º, I, do CPM podem ser propriamente

militares – não previstos ou tipificados na lei penal comum de forma diferente,

por exemplo, deserção, desrespeito a superior hierárquico, dormir em serviço –

em que somente o militar será o sujeito ativo, exceto o crime de Insubmissão

(artigo 183) em que só o civil pratica. Bem como impropriamente militares no

artigo 9º, II, do mesmo diploma legal – possuem tipificação idêntica na lei penal

comum podendo ser praticados tanto por militar da ativa, da reserva ou

reformado quanto por civil.

Importante dizer que, a configuração tanto de crime militar próprio

quanto de crime militar impróprio somente será concretizada com a existência

do tipo penal na parte especial do CPM, juntamente com as circunstâncias

previstas nos incisos II, e III do artigo 9º, parte geral do mesmo diploma legal.

Corroborando com o entendimento supra mencionado Cícero Robson

Coimbra Neves ( 2010, p. 06) leciona que:

Na diferenciação entre os incisos I e II, deve-se notar que a lei penal militar usa o critério de semelhança ou não do delito militar praticado a um delito previsto na legislação penal comum. Assim, quando um militar da ativa praticar um crime militar que somente esteja capitulado no Código Penal Militar ou que esteja neste diploma capitulado de forma diversa da legislação penal comum, deverá ser aplicado o inciso I, que não possui alíneas complementadoras da tipicidade. Por outro bordo, se o crime praticado pelo militar da ativa possuir capitulação no Código Penal Militar e na legislação penal comum, será aplicado o inciso II com suas alíneas complementadoras.

Jorge Cesar de Assis (2011, p. 25) ensina que:

(...) uma vez constatado um fato delituoso, ao qual se imputa, preliminarmente, a pecha de crime militar segue dois passos básicos: 1º) verificar se aquele fato está descrito na Parte Especial do Código Penal Militar e; 2º) se aquele fato se enquadra em uma das várias hipóteses do art. 9º, encerrando aqueles critérios já conhecidos de todos: ratione legis, ratione materiae, ratione personae, ratione loci e ratione temporis.

O inciso III, do artigo 9º do CPM prevê expressamente os crimes

militares praticados por militar inativo (da reserva ou reformado) e por civil.

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O civil apenas comete crime militar contra as instituições militares

federais, em que a competência será da Justiça Militar Federal para processar

e julgar o fato. Por outro lado, se o civil atentar contra as instituições militares

estaduais será considerado crime comum de competência da Justiça Comum

estadual. Desde que, em ambas as situações, o fato praticado também tenha

previsão na lei penal comum, caso contrário o fato será atípico. (RAMOS; DA

COSTA; ROTH, 2011)

Situação esta definida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na súmula

– não vinculante – nº. 53 prescrevendo que “Compete a Justiça Comum

estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições

militares estaduais”. (Brasil, 2013)

Isto se deve ao fato da competência da Justiça Militar estadual apenas

em processar e julgar os militares estaduais conforme o § 4º, do artigo 125, da

CRFB/88, o qual expressa que “compete à Justiça Militar Estadual processar e

julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei [...].”

(BRASIL, 1988)

A CRFB/88, em seu artigo 42, nos trás o conceito de militar estadual,

prevendo que “Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros

Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são

militares dos Estados, do Distrito Federal (...)”. (BRASIL, 1988)

Portanto, a competência da Justiça Militar Estadual para processar e

julgar somente o policial militar e o bombeiro militar dos Estados e do Distrito

Federal decorre tanto da competência ratione personae quanto competência

ratione legis. ( LOBÃO, 2010)

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3. POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR

A Polícia Judiciária atua como auxiliar da Justiça mediante a

investigação e o esclarecimento das infrações penais, e é através dela que o

Estado iniciará a repressão ao delito praticado, com o objetivo de apurar

autoria e materialidade dos fatos. (ROSA, 2009)

Sabe-se que uma das funções da Polícia Judiciária é investigar a autoria

e materialidade das infrações penais, essa é a previsão expressa no § 4º,

artigo 144, da CRFB/88:

Ar. 144... § 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. (BRASIL, 1988)

Mediante a interpretação do dispositivo constitucional supramencionado

pode-se afirmar que, de forma implícita são três as Polícias Judiciárias

brasileiras existentes, ou seja, a Polícia Judiciária Comum (Polícia Civil); a

Polícia Judiciária Federal (Polícia Federal); e a Polícia Judiciária Militar, que no

âmbito estadual, compete a Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros Militar,

representada pela autoridade militar. A CRFB/88 é clara no que tange a

competência da polícia civil, a qual ressalvada a competência da União, tem

como atribuição o exercício da Polícia Judiciária somente na apuração dos

crimes comuns. (ASSIS, 2009)

São as instituições militares que possuem a prerrogativa para exercer os

atos de Polícia Judiciária Militar, com previsão legal nos artigos 7º e 8º do

Código de Processo Penal Militar (CPPM), os quais elencam tanto o rol das

autoridades de Polícia Judiciária Militar quanto da competência para a

apuração dos crimes militares.

O exercício da Polícia Judiciária Militar fica a cargo da autoridade militar

(comandante/Chefe/Diretor) no âmbito das instituições militares – Forças

Armadas, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Sabe-se que nas

Polícias Militares as autoridades competentes para exercer os atos de Polícia

Judiciária Militar são o Comandante Geral; o Chefe do Estado Maior; os

Comandantes Regionais; o Chefe ou Diretor (dependendo do organograma da

instituição), e os Comandantes de Batalhões.

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Corroborando o entendimento supracitado, Lobão (2009, p. 46) explica

que:

Na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros Militares, a polícia judiciária militar é exercida pelo Comandante-geral da corporação militar estadual, em relação aos militares integrantes dos quadros da referida corporação sob seu comando; pelos oficiais que exercem comando ou chefia, em unidades ou repartições militares estaduais [...].

O artigo 7º do CPPM ao prever o exercício da Polícia Judiciária Militar

menciona quais são as autoridades competentes para exercer os seus atos:

Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos têrmos do art. 8º, pelas seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdições: a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território nacional e fora dêle, em relação às fôrças e órgãos que constituem seus Ministérios, bem como a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou transitória, em país estrangeiro; b) pelo chefe do Estado-Maior das Fôrças Armadas, em relação a entidades que, por disposição legal, estejam sob sua jurisdição; c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, fôrças e unidades que lhes são subordinados; d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos, fôrças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando; e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios; f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados; g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços previstos nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; h) pelos comandantes de fôrças, unidades ou navios; (BRASIL, 1969)

Segundo o entendimento doutrinário de Jorge Cesar de Assis (2009, p.

32), “O rol de autoridades com competência para exercer as atividades de

polícia judiciária tem que ser adaptado às mudanças sofridas desde a edição

do Código e, principalmente após a Constituição Federal de 1988”.

E neste diapasão afirma que:

Dentro do conceito genérico de Comandantes de Forças, referidos na letra ‘h’ deste artigo, estão o Comandante-Geral, o Chefe do Estado-Maior, os Comandantes Regionais e os Comandantes de Unidades, tanto das Polícias Militares quanto dos Corpos de Bombeiros Militares. (ASSIS, 2009, p. 33)

De acordo com os parágrafos, 1º a 5º, do artigo 7º do CPPM, as

atribuições de Polícia Judiciária Militar podem ser delegadas a outro Oficial que

esteja sob o comando da autoridade delegante, desde que, hierarquicamente

superior ao indiciado no IPM.

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“Na atividade de polícia judiciária militar, a delegação do seu exercício

constitui regra geral e é feita sempre por Portaria do Comandante, Chefe, ou

Diretor”. (ASSIS, 2009, p. 33)

Segundo o Manual do IPM da Polícia Militar de Minas Gerais, a Portaria

“É o documento que contém a ordem da autoridade de Polícia Judiciária Militar

(Cmt da OPM, Chefe, Diretor, etc.), determinando a apuração do delito e

delegando ao Oficial o poder para realizar o trabalho”. (POLÍCIA MILITAR DE

MINAS GERAIS, 1985, p. 43)

A competência da Polícia Judiciária Militar vem expressa no artigo 8º do

CPPM:

Art. 8º Compete à Polícia judiciária militar: a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos à jurisdição militar, e sua autoria; b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério Público as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos, bem como realizar as diligências que por êles lhe forem requisitadas; c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar; d) representar a autoridades judiciárias militares a cêrca da prisão preventiva e da insanidade mental do indiciado; e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e responsabilidade, bem como as demais prescrições dêste Código, nesse sentido; f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à elucidação das infrações penais, que esteja a seu cargo; g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e exames necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar; h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de apresentação de militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil competente, desde que legal e fundamentado o pedido. (BRASIL, 1969)

A Polícia Judiciária Militar possui a atribuição de apurar os crimes

militares mediante a instauração do IPM, com o objetivo de fornecer ao

Ministério Público os elementos necessários para o prosseguimento da ação

penal ou ao arquivamento do IPM. Bem como realizar diligências quando

requisitada pela Justiça Militar ou pelo Ministério Público, além de cumprir os

mandados de prisão expedidos pela Justiça Castrense, representar pela prisão

preventiva ou provisória do indiciado, entre outras, pois o rol de suas

atribuições previstas no artigo 8º do CPPM não é taxativo. (LOBÃO, 2009)

A CRFB/88 faz referencia a Justiça Militar estadual, aos militares

estaduais e ao tratamento dispensado aos casos que envolvem os civis na

qualidade de vítimas de ações dos militares. Em se tratando de crime doloso

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contra a vida, o processo e julgamento competem à Justiça Comum, o que não

retira da esfera de competência da Polícia Judiciária Militar a apuração desse

delito através do IPM.

“Não resta dúvida de que o homicídio doloso praticado contra civil

continua sendo crime militar, a previsão do art. 205 e a própria sistemática do

CPM autorizam esta convicção”. (ASSIS, 2009, P.190)

O artigo 205 do CPM prevê o crime de homicídio cujo tipo penal é “Matar

alguém”. (BRASIL, 1969)

Segundo Ronaldo João Roth (2004, p. 111), ao abordar os atos da

Polícia Judiciária Militar, menciona que a lei nº. 9299/96 direciona a

competência da Polícia Judiciária castrense para a apuração dos crimes

militares:

(...) remetendo à apreciação do Júri Popular os delitos dolosos contra a vida cometidos pelos militares contra civis, reservou a apuração desses fatos à Polícia Judiciária Militar pelo simples fato de que aqueles crimes continuam sendo militares. Observa-se, portanto, que, enquanto as Polícias Civis exercem permanentemente, através dos Delegados de Polícia, a Polícia Judiciária Comum, as Polícias Militares, restritivamente, por meio de certas autoridades militares, correspondentemente àquelas enumeradas no artigo 7º do CPPM, exercem a Polícia Judiciária Militar, concorrentemente com as missões de preservação da ordem pública e de polícia ostensiva.

Portanto, cabe à Polícia Judiciária Militar investigar os crimes dolosos

contra a vida de civil praticados por policiais militares em serviço, através do

IPM, e posteriormente remeter os autos ao Juiz militar, o qual dará vistas ao

Ministério Público, e depois os enviará para a Justiça Comum, a qual realizará

o processo e o julgamento do acusado perante o tribunal do júri. (ROTH, 2004)

3.1. Inquérito Policial Militar

Todo o procedimento administrativo referente ao IPM está expresso no

CPPM, iniciando com o artigo 9º, que trás a finalidade do IPM, até a sua

dispensa prevista no artigo 28.

O IPM é um procedimento investigatório, realizado pela autoridade

militar tanto no âmbito das Forças Armadas quanto no das Polícias Militares e

Corpos de Bombeiros Militares, com a finalidade específica de apurar as

infrações penais castrenses e sua autoria, tais como as definidas no artigo 9º

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do CPM. No entanto, havendo infração à lei, onde a competência é da Justiça

Comum, os autos do IPM a ela serão remetidos. (TOURINHO FILHO, 2007)

O CPPM dispõe em seu artigo 9º a finalidade do IPM:

Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos têrmos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação penal. (BRASIL, 1969)

A instauração do IPM se inicia através de uma portaria expedida pela

autoridade militar, que pode ser de ofício na esfera de sua jurisdição ou de

comando onde ocorreu o crime militar; por delegação de autoridade militar

superior; pela requisição do Ministério Público; devido à decisão da Justiça

Militar; mediante requerimento da vítima ou de seu representante legal; através

de sindicância surgindo indícios de crime militar. (BASTOS JUNIOR, 1976)

Quando chegar ao conhecimento da autoridade judiciária castrense, que

ocorreu um crime militar, ela deve de ofício instaurar o IPM através de portaria,

pois não depende de provocação para fazê-lo. Pode ainda delegar essa

competência a um Oficial que esteja sob seu comando, sempre de posto

superior ao do investigado, ou dependendo o caso, do mesmo posto desde que

mais antigo.

A delegação de competência para conduzir o IPM deve ser destinada a

um Oficial com o posto no mínimo de Capitão, o qual será denominado

encarregado do IPM. Caso a autoridade delegante ainda não houver

designado o escrivão do IPM, o encarregado deverá fazê-lo, sendo está função

atribuída a 1º ou 2º Tenente, se o indiciado for Oficial, e a Subtenente ou

Sargento caso o indiciado seja praça. O escrivão prestará o compromisso de

preservar o sigilo e cumprir com suas obrigações no IPM. (BASTOS JUNIOR,

1976)

Este critério de antiguidade do encarregado em relação ao indiciado no

IPM se dá em virtude do princípio da hierarquia, que junto com o princípio da

disciplina, é o alicerce que sustenta as instituições militares.

Pode a autoridade militar ao tomar conhecimento de um crime expedir o

ato de delegação para que um Oficial seja encarregado no IPM, e juntamente

expedir a portaria para sua instauração, nesse caso o encarregado inicia

imediatamente a apuração dos fatos, porém, não expedida a portaria junto com

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o ato de delegação o encarregado deverá expedir o documento e assim

instaurar o IPM. (LOBÃO, 2009)

Uma vez instaurado o IPM, o Oficial encarregado, de acordo com o

artigo 13 do CPPM, deverá ouvir o ofendido, as testemunhas, e o indiciado;

realizar o reconhecimento de pessoas, coisas e acareações; determinar que

seja realizado o exame de corpo de delito e outras perícias cabíveis; efetuar

buscas e apreensões; reconstituição do fato, entre outras. (BRASIL, 1969)

O prazo para conclusão do IPM é de 20 dias com indiciado preso, a

contar do dia da prisão, e de 40 dias se o indiciado estiver solto, a contar da

data de instauração do IPM. Podem ser esses prazos dilatados pelo Juiz militar

por mais 20 dias ou por um período de tempo maior se o caso assim exigir,

ouvido o Promotor de Justiça Militar.

Ao final do IPM, o encarregado fará um relatório circunstanciado, de

todos os atos realizados, e as diligências ou perícias que não foram possíveis

realizar. Expondo sua opinião a respeito da caracterização ou não de crime

militar, comum, ou de transgressão disciplinar.

Se houve a delegação de competência, o encarregado remeterá os

autos à autoridade delegante para que proceda a solução, podendo esta

restituir os autos do IPM ao encarregado para a realização de novas

diligências, concordar com o relatório do encarregado, ou discordar, e nesse

caso a autoridade delegante deverá avocar a competência para solucionar da

forma que entende ser a correta.

Posteriormente com a conclusão do IPM os autos serão remetidos à

Justiça Militar. Após o recebimento dos autos do IPM, o Juiz militar dará vistas

ao Promotor de Justiça Militar, o qual poderá pedir o arquivamento – não há

indícios de autoria ou o fato não constitui crime – requisitar novas diligências,

desde que imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, ou denunciar o

indiciado dando início à ação penal na Justiça Castrense.

Quando o crime apurado no IPM for doloso contra a vida de civil, o

Promotor de Justiça Militar procederá da mesma maneira, exceto, no caso de

comprovada a autoria e materialidade do delito, hipótese em que os autos

serão remetidos à justiça comum, onde se dará o prosseguimento da ação

penal, e o julgamento do acusado pelo tribunal do júri. (LOBÃO, 2009)

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Conquanto processado e julgado pela Justiça Comum (Tribunal do Júri), é a Justiça Militar quem diz se o crime é ou não doloso contra a vida, e desta forma é a polícia judiciária militar a competente para investigá-lo, sendo o inquérito policial militar o instrumento hábil para tal mister. (ASSIS, 2009, P.190)

Importante lembrar que, no caso de entender o membro do Ministério

Público Militar, que o fato constitui crime de homicídio culposo (quando não há

a intenção de matar) o acusado será julgado pela Justiça Militar, porém se o

entendimento for o de que se apresenta uma excludente de ilicitude – legítima

defesa, ou estrito cumprimento do dever legal – mesmo sendo a vítima civil o

IPM será arquivado.

Mesmo que o encarregado do IPM conclua pela inexistência de crime

militar ou de crime comum, ou pela inimputabilidade do indiciado, a autoridade

delegante não poderá arquivar o IPM, pois este ato é exclusivo do Juiz militar

mediante o pedido do Ministério Público Militar, conforme a previsão legal nos

artigos 24 e 25 do CPPM.

A ação penal não depende da instauração do IPM para ser iniciada, ou

seja, o IPM não é indispensável. Assim, se o Ministério Público obtiver outros

meios de provas que subsidiem a denúncia será dado início a segunda fase da

persecução penal em juízo. Um exemplo de quando o IPM pode ser

dispensado, é no caso do auto de prisão em flagrante conter elementos

capazes de embasar a denúncia. (LOBÃO, 2009)

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4. EXCLUSIVIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR NOS CRIMES

DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIL

Crimes dolosos são aqueles em que o agente possui a livre vontade e a

total consciência para cometê-los, ou seja, age com a intenção de praticar o

crime.

Sabe-se que os crimes dolosos contra a vida estão previstos no

ordenamento jurídico pátrio tanto no código penal comum quanto no código

penal militar. Porém, com mais frequência ocorrem o homicídio – artigo 121

caput, § 1º, e § 2º, do código penal comum, e artigo 205, caput, § 1º, e § 2º, do

código penal militar – e a tentativa de homicídio.

Esses crimes quando consumados ou tentados, ofendem o mais valioso

dos bens jurídicos tutelados pelo direito, que é a vida, e por essa razão possuem

uma maior reprovação social.

Em 7 de agosto de 1996 passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico

a Lei nº. 9.299, a qual acrescentou à alínea ‘c’, do inciso II, do artigo 9º do CPM,

um novo critério para a classificação do crime militar, que é a atuação em razão

da função. (LOBÃO, 2011)

Logo, se pode afirmar que o requisito supramencionado demonstra

claramente que o crime doloso contra a vida de civil praticado por policial militar

em razão da função é crime militar, pois está previsto no CPM, como crime

impropriamente militar:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - ... II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: (...) c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996). (BRASIL, 1969)

Por militar em serviço ou atuando em razão da função, entende-se que é

o militar em situação de atividade, no serviço ativo, ou seja, militar da ativa, que

se inicia com a sua incorporação na instituição militar se findando com a

passagem para a inatividade ou com a exclusão/demissão da instituição

conforme a legislação pertinente, sendo aplicado tanto aos militares das forças

armadas quanto aos militares estaduais. (LOBÃO, 2012)

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O policial militar no exercício da atividade de policiamento ostensivo de

preservação da ordem pública, missão constitucional prevista no artigo 144, V,

§ 5º, da CRFB, é considerado em serviço, logo, qualquer delito que venha a

cometer nessa situação, em tese, será de natureza militar.

Também a Lei nº. 9.299/96 incluiu o parágrafo único ao artigo 9º do

CPM, que se refere aos crimes militares em tempo de paz, atribuindo à

competência da Justiça Comum o processo e julgamento dos crimes dolosos

contra a vida de civil praticados por militares. “Salvo quando praticados no

contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19

de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela

Lei nº. 12.432, de 2011)”. (BRASIL, 1969)

O artigo 303, do Código Brasileiro de Aeronáutica, alterado pela Lei nº.

12.432/2011, prevê a possibilidade da destruição de aeronave estrangeira ou

brasileira, durante ação militar, desde que com o consentimento do Presidente

da República ou por autoridade por ele delegada. (LOBÃO, 2011). Porém não

será objeto de estudo no presente trabalho.

Ainda a Lei nº. 9.299/96 alterou o caput do artigo 82 do CPPM

acrescentando a este artigo o § 2º passando a vigorar da seguinte forma:

Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz: § 2° Nos crimes dolosos contra a vida, praticados c ontra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum.

Antes do advento da Lei nº. 9.299/96, os crimes dolosos contra a vida de

civil praticados por militares eram processados e julgados pela Justiça Militar.

Com a vigência da citada lei, a competência passou a ser da Justiça Comum

para processar e julgar os acusados por essa espécie de crime. (Lima Filho,

1996)

Sabe-se, que os motivos que levaram a mudança de competência para

processar e julgar os militares, acusados de cometerem crimes dolosos contra

a vida de civil se deve a pressão da opinião pública, em virtude das ocorrências

em que policiais militares estavam envolvidos, por exemplo, pode-se citar as do

Carandiru, da Candelária, de Vigário Geral, da Favela Naval, e de Eldorado dos

Carajás.

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A Lei nº. 9.299/96 também é originária da investigação realizada pela

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 1992, a qual foi instaurada com o

objetivo de apurar o extermínio de crianças e adolescentes em algumas

regiões do Brasil, com fortes indícios de que os autores dos crimes seriam

Policiais Militares. Isto demonstra a parcialidade do legislador em relação às

Polícias Militares. (RAMOS; DA COSTA; ROTH, 2011)

“Dita lei, tem todo um histórico apto a demonstrar a tendência

discriminatória contra a Justiça Militar Estadual e as Polícias Militares

brasileiras”. (ASSIS, 2009, p. 152)

Pode-se afirmar, que a falta de conhecimento do direito penal militar e

da Justiça Militar Estadual, também contribuiu para o surgimento da referida lei

em nosso ordenamento jurídico.

No que tange ao crime doloso contra a vida de civil praticado por militar,

a lei nº. 9.299/96 não retirou a sua característica de crime militar, mas sim

deslocou a competência do julgamento para a Justiça Comum, o que foi

consolidada na CRFB/88 em seu art. 125, § 4º, pela Emenda Constitucional nº.

45/04.

“Nem a Lei 9.299/96, nem a EC 45/04 retiraram a natureza militar do

crime de homicídio, operando apenas um deslocamento de competência de

questionável técnica jurídica”. (ASSIS, 2009, P.190)

Ronaldo João Roth, ao lecionar sobre a Lei nº. 9.299/96 afirma que:

Manteve, todavia, a referida lei, a investigação policial militar (IPM) sobre o homicídio praticado contra civil na alçada da Polícia Judiciária Militar (PJM), prevendo que, concluído o IPM, os autos serão remetidos à Justiça Comum (§ 2º do artigo 1º). Assegurou ainda a nova lei, ao inserir nova redação à alínea “c” do inciso II do artigo 9º do CPM, que a conduta do militar em razão de sua função, quando isso tipificar qualquer dos crimes militares previstos na Parte Especial do CPM, será crime militar e, portanto, de competência da Justiça Castrense (artigo 1º). (2004, 191)

A CRFB/88 é clara no que tange a competência da polícia civil, a qual

ressalvada a competência da União, tem como atribuição o exercício da polícia

judiciária somente na apuração dos crimes comuns. (Assis, 2009)

Contudo a Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (ADEPOL),

em 1997, impetrou perante o Superior Tribunal Federal (STF) uma ação direta

de inconstitucionalidade (ADI) nº. 1494-3/1997, DF, sob a alegação de que a

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instauração do IPM para apuração dos crimes dolosos contra a vida de civil

seria inconstitucional, mas após análise do caso assim decidiu o STF:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCOSNTITUCIONALIDADE – CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA, PRATICADO CONTRA CIVIL, POR MILITARES E POLICIAIS MILITARES – CPPM, ART. 82, § 2º, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 9.299/96 – INVESTIGAÇÃO PENAL EM SEDE DE I.P.M. – APARENTE VALIDADE CONSTITUCIONAL DA NORMA LEGAL – VOTOS VENCIDOS – MEDIDA LIMINAR INDEFERIDA. O Pleno do Supremo Tribunal Federal– Vencidos os Ministros CELSO DE MELO (Relator), MAURÍCIO CORRÊA, ILMAR GALVÃO e SEPÚLVEDA PERTENCE. (BRASIL, 1997)

Inconformada com o indeferimento do pedido, a ADEPOL ajuizou outra

ADI, de nº. 4164/DF, em 21 de outubro de 2008, com as mesmas

características, termos e pedidos da ADI nº. 1494-3/97, DF, sendo que o STF,

com o objetivo de instruir a ação, recebeu da Advocacia-Geral da União, um

parecer do qual se extrai em defesa da constitucionalidade do exercício da

Polícia Judiciária Militar na investigação através do IPM nos crimes dolosos

contra a vida de civil praticados por policial militar em serviço o seguinte texto:

O art. 1º da lei 9.299/96, ao modificar a redação do art. 9º, item II, alínea “c”, do Código Penal Militar, caracteriza como crime militar doloso contra a vida cometido contra civil, desde que “em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar”. A apuração desses ilícitos é feita mediante inquérito policial militar, por força do art. 144, § 4º, in fine, combinado com o art. 8º, I, do Código de Processo Penal Militar. (BRASIL, 2008, p. 06) “os crimes em tela, como previstos expressamente na legislação vigente (art. 9º , II, “c”, do CPM), e na legislação anterior, são crimes militares, não são crimes comuns”. (BRASIL, 2008, p. 20) Não pode restar dúvidas de que o crime praticado por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil, é um crime militar, já que assim previsto no Código Penal Militar, em 1969, assim recepcionado pela Constituição Federal, em 1988, e mais, assim confirmado, diante da alteração legislativa procedida pela Lei nº. 9299/96. (BRASIL, 2008, p. 27)

A Secretaria-Geral de Contencioso da Advocacia-Geral da União

(SGCT/AGU), no parecer publicado em 12/05/2010, se posicionou favorável a

constitucionalidade do IPM na apuração dos crimes dolosos contra a vida de

civil praticados por policiais militares, opinando pela improcedência do pedido

na ADI 4164-DF/2008, com a declaração da constitucionalidade do preceito

impugnado. (BRASIL, 2010)

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Praticado um crime doloso contra a vida de civil no exercício da sua

atividade, muitas vezes, o policial militar é submetido a duas investigações

paralelas sobre o mesmo fato, uma mediante o IPM instaurado pela Polícia

Militar, e a outra através do inquérito policial pela Polícia Civil, o que é

inadmissível em um Estado Democrático de Direito, pois fere os direitos e

garantias fundamentais do investigado.

Sabe-se que a dupla investigação pelo mesmo fato também viola os

tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário, fato

que é eivado de ilegalidade e causa constrangimento ao investigado.

Conforme a decisão do STF, a qual é erga omnes, e de acordo com o

ordenamento jurídico pátrio, submeter o policial militar em serviço ou em razão

da função, a dois procedimentos investigatórios (IPM e Inquérito Policial), nos

crimes dolosos contra a vida de civil caracteriza constrangimento ilegal, uma

vez que viola o direito consagrado no artigo 6º da Declaração Universal dos

Direitos Humanos, o qual prevê que todo o investigado deve ser tratado com

dignidade. (COSTA, 2005)

A Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de São José da

Costa Rica – da qual o Brasil é signatário prevê em seu artigo 29 que:

Artigo 29 - Normas de interpretação Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretada no sentido de: a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indivíduo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista; b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos Estados; c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democrática representativa de governo; d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza. (SÃO PAULO, 2013)

Importante dizer que, os delegados de polícia contestam a competência

da Polícia Judiciária Militar na apuração dos crimes dolosos contra a vida de

civil, alegando que no IPM existe parcialidade devido ao suposto

corporativismo, já que a investigação ficará a cargo de outros integrantes da

corporação, a qual tem interesse direto na apuração dos fatos.

Não deve prosperar o argumento de que há corporativismo e

parcialidade na instauração do IPM, pois este procedimento é a coleta

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provisória de elementos que fundamentam a denúncia, uma vez que as provas

serão colhidas na fase processual mediante o contraditório e a ampla defesa

do acusado. (LIMA FILHO, 1996)

Importante lembrar, que a Polícia Militar pertence à administração

pública direta do Estado, logo todos seus atos, inclusive os de Polícia Judiciária

Militar, devem ser pautados de acordo com o que preceitua o artigo 37, caput,

da CRFB/88, ou seja, devem estar em consonância com os princípios da

legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência.

A instituição Policial Militar, além de obedecer aos princípios da

administração pública, se alicerça nos princípios da hierarquia e da disciplina, o

que garante a credibilidade, e a transparência nos atos realizados pela

corporação. Portanto, o IPM servirá de resposta a sociedade, trazendo a baila

os fatos, com total isenção, e profissionalismo por parte da autoridade militar,

no intuito de preservar a imagem da corporação, em perfeita consonância com

os dispositivos constitucionais e legais em nosso ordenamento jurídico.

“Corporações que têm esse valor e essa história não podem aceitar

o açoite das ofensas ao seu brio, nem tratamento qu e não corresponda ao

respeito que lhes é devido”. (FILOCRE, 2010, [p.17] ). Grifei.

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CONCLUSÃO

Quando ocorre um crime doloso contra a vida de civil praticado por

policial militar em serviço ou em razão da função, a apuração do fato deve ser

exclusivamente através do IPM.

Essa competência fica a cargo da Polícia Judiciária Militar, que é

exercida pela autoridade policial militar – Comandante Geral, Chefe do Estado

Maior, Diretor ou Chefe, Comandantes Regionais, e de Batalhões, competência

que pode ser delegada a outro Oficial. Assim a Polícia Judiciária Militar, de

acordo com os preceitos constitucionais e legais, possui legitimidade para dar

início à primeira fase da persecução penal.

Muitas vezes, o delegado de polícia, de forma equivocada,

ultrapassando os limites de sua competência constitucional, prevista no artigo

144, IV, § 4º, da CRFB/88, instaura o inquérito policial para apurar o crime

militar, ou seja, crime doloso contra a vida de civil praticado por policial militar

em serviço ou em razão da função, paralelamente ao IPM, com objetivo de

apurar o mesmo fato.

Os argumentos geralmente apresentados são de que o referido crime é

de competência da Justiça Comum, bem como o procedimento realizado pela

Polícia Judiciária Militar não atende ao princípio da imparcialidade, devido ao

corporativismo, já que a investigação fica a cargo de um Oficial da mesma

instituição a qual pertence o investigado.

Quanto à competência para o processo e julgamento não resta dúvida

que é da Justiça Comum pelo Tribunal do Júri, no entanto conforme a

jurisprudência do STF a competência para a investigação, do crime doloso

contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço ou em razão da

função, é exclusiva da Polícia Militar, mediante a instauração do IPM.

A respeito do corporativismo, importante dizer que, outras instituições

são responsáveis por apurar os crimes que seus componentes praticam, é o

caso da própria Polícia Civil, da Polícia Federal, do Ministério Público, do Poder

Judiciário, e do Poder Legislativo, e não surgem argumentos contrários a esses

procedimentos, nem tampouco se fala em corporativismo.

Os princípios da hierarquia e da disciplina, que norteiam as instituições

militares garantem que o IPM seja realizado de forma imparcial, sem

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corporativismo, com o objetivo de apurar os crimes militares em que o policial

militar for o autor, e principalmente nos dolosos contra a vida de civil, pois a

investigação não interessa apenas á instituição militar, mas também a

sociedade.

Contudo, a argumentação contrária a instauração do IPM na apuração

dos crimes dolosos contra a vida de civil cai por terra, pois mesmo se

ocorresse uma suposta proteção ao investigado, o Ministério Público Militar

não está vinculado ao parecer final da autoridade de Polícia Judiciária Militar.

Sendo o representante do Parquet o fiscal da lei, por óbvio que irá

proceder no sentido de que ela prevaleça, e restando claro nos autos do IPM, a

materialidade e autoria do crime doloso contra a vida de civil praticado por

policial militar em serviço ou em razão da função, os autos serão remetidos

pela Justiça Militar estadual a Justiça Comum, para iniciar o processo e

julgamento pelo Tribunal do Júri.

Vale lembrar que, nenhuma pessoa que venha a ser investigada,

independentemente do crime que cometeu, ou se existir a suspeita de ter

praticado o delito, é submetida a duas investigações pelo mesmo fato, mas

esse direito não vem sendo respeitado quando o investigado ou suspeito é

policial militar, situação que viola os direitos e garantias fundamentais

tutelados pelos tratados de direitos humanos em que o Brasil é signatário, e

pela CRFB/88.

Neste diapasão, e com fundamento nos tratados e convenções de

direitos humanos, dos quais o Brasil é signatário, bem como com o

embasamento na CRFB/88, na legislação, na doutrina, e na jurisprudência

pátria, pode-se afirmar que, não tem competência o delegado de polícia para

apurar o crime doloso contra a vida de civil praticado por policial militar em

serviço ou em razão da função, e no caso de ser instaurado inquérito policial

para investigar, essa espécie de crime, esse procedimento estará eivado de

ilegalidade.

Portanto, a competência da Polícia Judiciária Militar implícita na

CRFB/88, e de forma expressa no CPPM, assegura à autoridade militar, de

forma exclusiva, o exercício pleno de suas atribuições para a investigação

mediante o IPM na apuração de crime doloso contra a vida de civil praticado

por policial militar em serviço ou em razão da função.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE