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Universidade Anhanguera-Uniderp Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes HOSTILIZAÇÃO DE EMPREGADA GESTANTE: CHOQUE CAPITAL-TRABALHO E LESÕES A DIREITOS FUNDAMENTAIS JONAS PATREZZY CAMARGOS PEREIRA DOURADOS (MS) 2011

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Universidade Anhanguera-Uniderp

Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes

HOSTILIZAÇÃO DE EMPREGADA GESTANTE: CHOQUE CAPITAL-TRABALHO E LESÕES A DIREITOS

FUNDAMENTAIS

JONAS PATREZZY CAMARGOS PEREIRA

DOURADOS (MS) 2011

Livros Grátis

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JONAS PATREZZY CAMARGOS PEREIRA

HOSTILIZAÇÃO DE EMPREGADA GESTANTE:

CHOQUE CAPITAL-TRABALHO E LESÕES A DIREITOS

FUNDAMENTAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Pós-Graduação Lato Sensu Televirtual

como requisito parcial à obtenção do grau

de especialista em Direito e Processo do

Trabalho.

Universidade Anhanguera-Uniderp Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes

Orientador: Prof. Me. Wilson de Jesus Machado Miranda

DOURADOS (MS) 2011

DEDICATÓRIA

Lembrei-me de Susy e Miguelito, a quem dedico este trabalho. E para isso, motivos não me faltam.

AGRADECIMENTOS

À Deus, porque suas misericórdias se renovam a cada manhã (Lamentações 3:22-23).

EPÍGRAFE

Se alguns homens pelejarem e um ferir [sic] uma mulher grávida, e for causa de que aborte, certamente será multado (Êxodo 21:22).

RESUMO

Este trabalho se propõe a abordar o assédio moral cometido contra grávidas no

ambiente de trabalho. O estudo se inicia com conceitos, denominações e requisitos

para configuração do assédio praticado contra os trabalhadores em geral e, após,

identifica os casos específicos em que as gestantes são moralmente assediadas

pelo simples fato de estarem em período de gravidez. O texto traça paralelo entre

capital e trabalho, de modo que a demanda exigida por aquele não pode ofender a

dignidade deste. Defende, ainda, que as medidas preventivas são a principal forma

de evitar que ocorra terror psicológico no ambiente laboral. Todavia, uma vez

consumado o assédio, surgem consequências jurídicas que culminam na

possibilidade de rescisão indireta do contrato de trabalho e na indenização pelo

dano material ou moral. Por fim, o texto indica que a extensão do dano provocado à

gestante é maior que o assédio cometido contra trabalhadoras não grávidas, pois o

dano psicológico causado à mãe também causa danos à saúde do feto. Nessa

esteira, havendo dano agravado, o valor de indenização também deverá ser

majorado. A pesquisa desenvolvida foi unicamente bibliográfica, com referencial

teórico oriundo de doutrinas jurídicas e, principalmente, de artigos de ciências da

saúde e psicossociais.

Palavras-chave: assédio moral, gravidez, ambiente de trabalho.

ABSTRACT

This work proposes to approach the harassment committed against pregnant in the

workplace. The study begins with concepts, descriptions and conditions for the

configuration of harassment committed against the workers in general and, then,

identifies the specific cases where pregnant women are morally harassed simply

because they are in period of pregnancy. The text draws parallels between capital

and labor: the demand required by that can not offend the dignity of this. The article

argues that preventive measures are the main way to avoid the occurrence of

psychological terror in the workplace. However, when the harassment is finished,

there are legal consequences that culminate in the possibility of indirect rescission of

employment and compensation for material or moral damage. Finally, the text

indicates that the extent of damage caused to the mother is bigger than the

harassment committed against no pregnant women, because the psychological harm

caused to the mother also harms the health of the fetus. So, with aggravated

damage, the amount of compensation should also be increased. The research was

developed with theoretical legal doctrines and, especially, by health and psychosocial

sciences essays.

Keywords: bullying, pregnancy, work environment.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIRR – Agravo de Instrumento em Recurso de Revista

Cipa – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

Fap – Fator Acidentário de Prevenção

j. – julgado em

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PL – Projeto de Lei [da Câmara dos Deputados]

PLS – Projeto de Lei do Senado

RE – Recurso Extraordinário

RO – Recurso Ordinário

RR – Recurso de Revista

STF – Supremo Tribunal Federal

TRT – Tribunal Regional do Trabalho

TST – Tribunal Superior do Trabalho

1

SUMÁRIO

1. PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................................. 5

2. OBJETIVO .............................................................................................................. 7

3. METODOLOGIA ..................................................................................................... 8

4. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 9

4.1 O bônus: relação trabalho-dignidade ............................................................ 9

4.2 O ônus: binômio trabalho-assédio ............................................................... 10

4.2.1 Assédio moral no trabalho. Conceitos e denominações ............................ 10

4.2.2 Parece, mas não é. Requisitos para configuração do assédio .................. 12

4.2.3 Modalidades de assédio ............................................................................ 17

4.3 O assédio moral na gravidez: a gestante como vítima em potencial ........ 18

4.4 Tutela jurídica específica .............................................................................. 20

4.4.1 Proteção à maternidade e à família sob a ótica da Constituição Federal e

da OIT. Direitos fundamentais aplicados vertical e horizontalmente .................. 20

4.4.2 Projetos de lei............................................................................................ 23

4.5 Reflexos extracontratuais do assédio moral contra gestantes e medidas de prevenção ........................................................................................................ 25

4.5.1 Antes: medidas preventivas ...................................................................... 25

4.5.2 Durante: o dano duplo – prejuízos à saúde da mãe e do nascituro .......... 26

4.6 Reflexos no contrato de trabalho ................................................................. 27

4.6.1 Dever de indenizar: responsabilidade civil do empregador por ato próprio

ou de prepostos e ônus da prova ....................................................................... 27

4.6.2 Rescisão indireta ....................................................................................... 30

4.7 O dano duplo e sua mensuração.................................................................. 31

5. DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 33

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 40

2

7. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 42

3

INTRODUÇÃO

O assédio moral vem sendo amplamente discutido entre sociólogos,

psicólogos e médicos desde a segunda metade da década de 1990, quando a

psiquiatra e psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen desenvolveu amplo estudo

sobre o tema, que abordou o assédio as relações familiares, sociais e no ambiente

de trabalho.

A partir dos conceitos desenvolvidos por essas ciências é que se

trasladou a noção de assédio moral ao mundo jurídico. Desde então os juristas

também se dedicam a estudá-lo e, como não poderia deixar de ser, buscam fonte de

pesquisa nas ciências alheias à doutrina jurídica.

A partir do início dos anos 2000 surgiu uma série de leis estaduais e

municipais para coibir a prática de assédio moral no âmbito das relações de trabalho

dos respectivos servidores públicos, porém, ainda não há lei federal que

regulamente os ônus a serem suportados por quem pratica assédio na iniciativa

privada.

Tendo em vista a inexistência de sistematização legal, coube à doutrina e

à jurisprudência estabelecerem os parâmetros para reconhecimento jurídico do

assédio mediante o entrelaçamento de conceitos da psicologia e regras de

responsabilidade civil.

Este trabalho aborda essas considerações preliminares, conceitos,

denominações diversas e os requisitos, os quais podem ser visualizados nas

relações de trabalho em geral. Porém, o foco do desenvolvimento foi a investigação

das causas de assédio moral praticado especificamente contra empregadas

gestantes.

A doutrina tão somente insere a trabalhadora grávida no rol de vítimas em

potencial. E nada mais. Não há literatura jurídica sobre o assédio desferido contra

gestante. Há muito material bibliográfico no que se refere ao assédio moral

considerado no universo dos trabalhadores em geral, mas nada específico sobre

grávidas.

A proposta, portanto, é enfrentar o assédio moral sob o ponto de vista da

vítima gestante, pois a mulher em estado gravídico passa por um momento único e

diferenciado do ponto de vista fisiológico, emocional e psíquico, logo, o

4

enfrentamento do assédio praticado contra essa trabalhadora também deve ser visto

de maneira diferenciada.

Mais que isso, a investigação bibliográfica aponta que o dano causado à

gestante vítima de assédio é igualmente repassado ao feto, que absorve todos os

sentimentos negativos sofridos pela mãe naquele período. O resultado danoso,

portanto, é duplo, pois gera prejuízo à saúde da mãe e do filho.

O texto procurou abordar os argumentos utilizados pelos empregadores

para prática de assédio contra gestante, pois não raramente o simples fato de estar

grávida passa a ser motivo de assédio moral. O nexo entre gravidez e assédio

muitas vezes é identificado por motivo meramente capitalista: interessa-se somente

o lucro, sem se preocupar com a dignidade da trabalhadora, daí a prática de terror

psicológico para forçar a empregada a pedir demissão e, em seu lugar, contratar

outro trabalhador que produza mais que uma gestante. É a subversão do conceito

de reengenharia do trabalho.

O texto também aborda os modos de combate ao terror psicológico em

duas vertentes: preventivo e repressivo.

Inegavelmente, deu-se ênfase às medidas preventivas, pois antevêem o

mal e evitam as consequências nefastas verificadas quando o assédio se consuma.

Na vertente repressiva, foram identificados dois reflexos imediatos no contrato de

trabalho: autorização de se pleitear rescisão indireta e a respectiva indenização por

dano material, moral ou ambos.

Também foi ressaltado que o quantum indenizatório deve seguir a

extensão do dano: uma vez que se causa gravame à saúde da mãe e do feto, a

indenização deve necessariamente ser majorada por conta do duplo dano causado

pelo mesmo ciclo de assédio.

Toda essa estruturação permitirá concluir, ao fim, que a trabalhadora

gestante deve ser vista como uma empregada que passa por um momento

fisiológica e emocionalmente diferenciado. Não se trata de uma doença que

prejudicará o desenvolvimento da empresa nem de um estranho ser blindado por

uma “entidade” chamada estabilidade provisória.

O objetivo final, portanto, é imprimir a ideia de que a gestação deve ser

vista como passo inicial para formação da família, que é o fundamento básico da

vida em sociedade, e não como fato desagregador de capital ou de lucro.

5

1. PROBLEMA DE PESQUISA

Os que militam na seara trabalhista não raramente se deparam com

empregadas que passaram a ser discriminadas no trabalho tão logo ficaram

gestantes. Em geral são funcionárias que não possuem histórico de

desentendimentos com outros empregados, com superiores ou com o próprio

empregador; ao revés, mantêm um relacionamento profissional salutar e mostram-se

extremamente dedicadas às funções que lhes cabem. Entretanto, o puro fato de

estarem em estado gravídico é bastante para que sejam discriminadas no ambiente

de trabalho.

As narrativas de situações dessa natureza vão desde as mais variadas

hostilizações ao aumento de atribuições sem critério profissional que o justifique,

impondo-lhes aumento excessivo de responsabilidade.

As “justificativas” para esse assédio moral? Depende do assediador. No

caso de assédio entre colegas de mesma hierarquia, é comum que isso ocorra, a

título de exemplo, por inveja. No caso do subordinado que assedia o superior, por

vezes se encontram razões de discriminação pela idade (chefe mais novo à frente

de uma equipe de funcionários mais antigos). Entretanto, a maior incidência ocorre

no dito assédio descendente, quando o superior hierárquico assedia o subordinado.

Nesses casos, dentre os vários e escusos motivos, destacam-se as causas

eminentemente capitalistas.

A livre concorrência impõe às empresas um dinamismo extraordinário

para se manterem no mercado e, a depender da situação, a gestante não produz tal

como a empresa gostaria, de modo que se torna financeiramente mais viável a

contratação de novo trabalhador a manter funcionária cuja produção está aquém da

esperada – não porque a empregada assim deseja, mas por limitações naturais

típicas da gravidez.

Em razão de a gestante estar protegida por estabilidade provisória, em

muitos casos o empregador se vale de artifícios ardis para dissuadi-la a pedir

demissão: nítido caso de assédio moral. Em situações mais gritantes, as normas

protetivas são ignoradas por completo a ponto de culminar em demissão sem justa

causa durante o período gestacional.

6

Entretanto, o aspecto puramente capitalista – frio, a propósito – não pode

prevalecer sobre direitos fundamentais da trabalhadora, nem se presta como

justificativa para sustentar tais manobras, tanto que a família, base sobre a qual se

funda a sociedade, foi merecedora de especial atenção constitucional.

Embora a legislação assegure direitos à gestante, o enfrentamento do

assédio moral implica consequências dentro e fora do contrato de trabalho. As

situações diretamente oriundas do contrato são resolvidas, a priori, por meio dos

mecanismos de prevenção e reparação de danos que as legislações trabalhista, civil

e penal estabelecem. Contudo, muito mais danosos são os prejuízos adjacentes, os

quais causam prejuízos de ordem social, psíquica e à saúde da trabalhadora.

Nessa esteira, a proposta deste texto é trazer ao debate o confronto de

forças entre capital e trabalho, e identificar maneiras que possibilitem a defesa da

gestante contra o assédio moral no trabalho, com enfoque nas normas

constitucionais e internacionais protetivas do trabalhador em geral e na tutela

jurídica específica à empregada gestante.

Não se trata, pois, de analisar o assédio moral em sua generalidade,

compreendido como o universo dos trabalhadores, e sim nos aspectos peculiares

que envolvem o terror psicológico contra as trabalhadoras grávidas, uma vez que

lhes foi atribuída garantia constitucional específica que visa à proteção à

maternidade e à família.

7

2. OBJETIVO

Com o desenvolvimento do trabalho se pretende:

Identificar as situações em que ocorre hostilização da empregada

gestante pelo simples fato de estar em período de gravidez;

Analisar os requisitos para configuração de assédio moral;

Analisar os princípios fundamentais que tutelam a empregada gestante;

Destacar que as hostilizações reiteradas decorrentes da gestação

configuram assédio moral;

Analisar os mecanismos que a legislação assegura para salvaguarda

dos direitos fundamentais da empregada gestante.

8

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para redação deste trabalho foi do tipo

eminentemente bibliográfica, com análise de livros, periódicos, além dos necessários

entendimentos dos tribunais.

Os procedimentos de trabalho compreenderam leituras de

reconhecimento e seletiva de livros, periódicos e acórdãos para o fim de identificar o

objeto de estudo. Após, houve necessidade de leituras crítica e interpretativa do

material bibliográfico e jurisprudencial encontrado. Por derradeiro, a problematização

e redação do texto, com referência às fontes utilizadas.

Convém destacar que sobre assédio moral no trabalho existe farto debate

doutrinário e jurisprudencial, entretanto, especificamente sobre assédio moral contra

empregadas gestantes há pouca discussão em âmbito jurídico, que em geral apenas

menciona as grávidas como trabalhadoras que fazem parte do grupo de vítimas em

potencial, ao lado de idosos, pessoas com deficiência etc., mas não há doutrina

específica sobre o assunto.

A jurisprudência, quando enfrenta o tema, vai mais a fundo que a própria

doutrina, razão pela qual importante fonte bibliográfica para esse estudo foi análise

de lições extraídas de julgados diversos.

Outras significativas referências de pesquisa foram textos de ciências da

saúde e psicossociais, estes sim com estudos específicos sobre as gestantes.

9

4. REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 O bônus: relação trabalho-dignidade

Etimologicamente, a palavra trabalho advém de tripalium1, instrumento de

tortura para supliciar escravos. Ser submetido ao tripalium era sinônimo de

sofrimento. A ideia inicial, portanto, associa o trabalho a uma situação penosa.

A evolução do pensamento filosófico através dos séculos gradativamente

incorporou novos valores à definição de trabalho, conforme o contexto social de

cada época. Ao ingressar na era capitalista, mais precisamente durante as

revoluções industriais, Karl Marx lhe atribuiu um valor social, que passou a ser

enxergado como atividade produtora de valor econômico, mas subordinada à

valorização do capital2.

O objetivo do trabalho, sob o aspecto capitalista, é produzir bens e

serviços com o fim de lucro, não obstante atualmente se agreguem outros valores

inerentes à sociedade contemporânea, como a associação entre trabalho e

qualidade de vida.

A diferença entre o trabalhador atual e aquele dos tempos da escravidão

é basicamente oriundo do conceito de liberdade e igualdade estabelecido pelos

ideais iluministas: embora o trabalho desempenhado por um servo ou por um

escravo também tivesse o objetivo de produzir lucro, não era um trabalho livre. A

relação entre senhor e servo era regida pelo direito das coisas, pois aquele exercia

domínio3 sobre este.

A partir da evolução dos conceitos de igualdade e liberdade, esses ideais

foram incorporados em textos normativos diversos, como o Tratado de Versalhes

(1919)4, Declaração da Filadélfia (1944)5 e Carta das Nações Unidas (1948)6 e,

1 Definição etimológica de Eduardo Antonio Bonzatto, Doutor em História Social pela

PUC/SP: “trabalho: do latim, tripaliu, instrumento de tortura, consiste num gancho de três pontas, cuja função é a evisceração ou a retirada e exposição das tripas, região de intensa dor e de lenta agonia”. BONZATTO, E. A. Tripalium, p. 1.

2 MARX, K. O Capital – Parte III: a produção de mais valia absoluta, p. 1-5. 3 Domínio, aqui, em sentido técnico-jurídico (propriedade), mas não se pode renegar que

também havia exercício de domínio no sentido sociológico: poder que um indivíduo exerce sobre o outro.

4 Tratado que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial (embora de fato estivesse encerrada desde 11 de novembro 1918 por meio do Armistício de Compiègne) e criou, dentre outros, a Organização Internacional do Trabalho.

5 Emenda à Constituição da OIT. 6 Artigo 23º, parágrafo 1: “Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do

trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego”.

10

internamente, em vários dispositivos constitucionais (art. 1º, incisos III e IV; art. 6º;

art. 7º; art. 170 e art. 193, todos da Constituição de 1988).

Não é, portanto, qualquer trabalho que dignifica, mas apenas o trabalho

livre. Na dinâmica sociedade atual, não basta que o trabalho seja livre: também deve

ser decente7. Essa conjugação de liberdade e decência traz dignidade à pessoa na

medida em que contribui para a sociabilização do trabalhador e para o

desenvolvimento da sociedade em geral, quer em aspectos econômicos, políticos ou

de bem-estar.

4.2 O ônus: binômio trabalho-assédio

4.2.1 Assédio moral no trabalho. Conceitos e denominações

No ambiente de trabalho nem tudo acontece de forma a respeitar a

dignidade do trabalhador e os direitos da personalidade. Várias situações de

menosprezo surgem no dia a dia e que configuram verdadeiro assédio moral. Na

definição de Marie-France Hirigoyen,

Por assédio em um local de trabalho temos que entender toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho8.

No Brasil se utilizam conceitos oriundos das literaturas médica e

psicossocial, os quais exercem considerável influência nas doutrinas jurídicas.

Embora não haja lei que permita realizar interpretação autêntica, alguns juízes,

como Mauro Schiavi9, valem-se da legislação portuguesa como parâmetro

conceitual, conforme permitido pelo artigo 8º da Consolidação das Leis do Trabalho,

aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. A propósito, reza o

Código do Trabalho português, na redação revista pela Lei 7/2009, de 12 de

fevereiro:

7 Não por outra razão os slogans da OIT para o ano de 2011 são: “Decent work – a

better world starts here”, e “Decent work – working together to make decent work a global reality”. Trata-se, na verdade, de uma agenda de ações criada em 2008 por meio da qual a OIT procura debater ideias para a criação de novos empregos, garantir os direitos trabalhistas, estender a proteção social e promover o diálogo com a sociedade.

8 HIRIGOYEN, M. F. Assédio moral, p. 66. 9 SCHIAVI, M. Aspectos polêmicos e atuais do assédio moral na relação de

trabalho, p. 5-6.

11

Artigo 29º Assédio 1 – Entende-se por assédio o comportamento indesejado, nomeadamente o baseado em factor de discriminação, praticado aquando do acesso ao emprego ou no próprio emprego, trabalho ou formação profissional, com o objectivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afectar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador. 2 – Constitui assédio sexual o comportamento indesejado de carácter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objectivo ou o efeito referido no número anterior. 3 – À prática de assédio aplica-se o disposto no artigo anterior. 4 – Constitui contra-ordenação muito grave a violação do disposto neste artigo.

A expressão assédio moral tem sido amplamente utilizada pela doutrina e

jurisprudência brasileiras, embora outros termos equivalentes sejam encontrados a

depender da fonte doutrinária que se adota. Em países nórdicos e de influência

germânica10, por exemplo, utiliza-se a expressão mobbing; em países de

preponderância britânica se utiliza bullying11; nos Estados Unidos o termo mais

frequentemente utilizado é harassment; no Japão, ijime; nos países em que houve

influência francesa, harcèlement moral e suas respectivas traduções (acoso, assédio

etc.)12.

Embora esses termos têm sido utilizado indistintamente no mundo jurídico

como se sinônimos fossem, no âmbito das ciências psicossociais se percebem

diferenças tênues entre as expressões:

- o termo mobbing relaciona-se mais a perseguições coletivas ou à violência ligada à organização, incluindo desvios que podem acabar em violência física; - o termo bullying é mais amplo que o termo mobbing. Vai de chacotas e isolamento até condutas abusivas com conotações sexuais e agressões físicas. Refere-se mais a ofensas individuais do que à violência organizacional; - o assédio moral diz respeito a agressões mais sutis e, portanto, mais difíceis de caracterizar e provar, qualquer que seja a procedência13.

De qualquer forma, para os fins jurídicos a diferença entre as

terminologias acaba por ser irrelevante, pois a consequência que o Direito lhes

atribui é a mesma.

10 Inclusive na Itália, em razão da influência da doutrina alemã. 11 Na província canadense do Québec, escolheu-se harcèlement psychologique para

evitar uso de expressões inglesas. 12 Sobre as diversas denominações, ver, por todos: HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no

trabalho, p. 76-87. 13 HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 85.

12

4.2.2 Parece, mas não é. Requisitos para configuração do assédio

No Brasil não há legislação federal que aborde o assunto, embora

existam leis municipais, estaduais14 e vários projetos em tramitação no Congresso

Nacional. Para mitigar essa ausência de lei, coube à doutrina e jurisprudência

sistematizar o que realmente é assédio para separar daquilo que, embora possa

causar algum desconforto no ambiente de trabalho, não configura terror psicológico.

As definições jurídicas se originaram a partir de construções formuladas

por ciências diversas, face à transdisciplinariedade que envolve o tema, porém, com

algumas adaptações para adequá-las ao universo jurídico.

Embora um ou outro ponto seja diferente conforme a corrente doutrinária

adotada, a lição de Maria Aparecida Alkimin sintetiza, com propriedade, os quatro

requisitos básicos para caracterização de assédio: sujeitos (assediador e

assediado), conduta danosa, reiteração dessa conduta e consciência do agente que

a pratica15.

O sujeito ativo é quem causa o sofrimento psicológico: pode ser superior

hierárquico, o próprio empregador, colegas de mesma hierarquia e, em alguns

casos, os empregados subalternos também figuram como assediadores.

Independentemente da posição ocupada no ambiente de trabalho, o sujeito ativo

tem que pertencer ao corpo de empregados para configuração do assédio; assim, o

mobbing não resta evidenciado quando a agressão parte de uma pessoa alheia (um

cliente, e. g.).

Para se configurar esse terror psicológico o assediante deve se valer de

expedientes cuja intenção seja ofender a vítima no aspecto da honra subjetiva de tal

modo que perca os sentimentos de autoestima, dignidade e capacidade físico-

intelectual16.

Para Pamplona Filho, a conduta abusiva deve ser passível de

caracterização de ilícito civil17, do contrário configurará mero dissabor. Não é,

14 No Estado de Mato Grosso do Sul, v. Lei nº 2.310, de 9 de outubro de 2001, que

“dispõe sobre a aplicação de penalidades à prática de assédio moral no âmbito da administração pública estadual”. No Município de Dourados, v. Lei 2.769, de 25 de agosto de 2005, que “dispõe sobre a aplicação de penalidade à prática de assédio moral nas dependências da administração pública municipal direta, indireta, autarquias e fundações públicas”.

15 ALKIMIN, M. A. Assédio moral na relação de trabalho, p. 42-58. 16 SCHIAVI, op. cit., p. 3. 17 PAMPLONA FILHO, R. M. V. Noções conceituais sobre o assédio moral na

relação de emprego, p. 6.

13

portanto, qualquer conduta que configura assédio. A título de exemplo, o poder

diretivo do empregador que embora eventualmente rígido seja exercido dentro dos

limites da razoabilidade, não se traduz necessariamente numa conduta assediadora,

conforme decidiu o TST:

RESCISÃO INDIRETA. CONTRATO DE TRABALHO. FUNÇÃO. MUDANÇA. CAIXA PARA A DE PROVADOR DE ESTOQUE. ATIVIDADE INSERIDA NO ROL DE ATRIBUIÇÕES PREVISTAS NO AJUSTE. Não constitui falta grave, configuradora de rescisão indireta do contrato de emprego, conduta do empregador consistente em mudança de função, de caixa para a de atendimento a provador de estoque, se ambas as atividades inserem-se no rol de atribuições do cargo para a qual empregada é contratada. Daí por que a conduta do empregador, ao mudar a função do empregado, sem redução de remuneração, encontra-se na esfera do poder diretivo do empregador, configurando o jus variando autorizado por lei18 […].

Arremata Marie-France Hirigoyen19 no apontamento de outras situações

que não configuram assédio, como o estresse laboral puro e simples, conflitos

abertos, gestão por injúria, más condições de trabalho dentre outros.

Essas situações, por óbvio, comportam exceções, mormente em se

considerando que por vezes são fases que antecedem uma conduta assediadora. O

mesmo comportamento pode ou não caracterizar assédio, a depender da situação

concreta e, principalmente, da intenção do agente.

O estresse isoladamente considerado, por exemplo, não é fator para

determinar se o empregado sofre assédio. Entrementes, se culminar numa síndrome

de burn out, resta nítido que foi apenas uma fase predecessora e que,

consequentemente, levou o trabalhador ao esgotamento total.

Da mesma forma são os conflitos abertos: a ofensa às escâncaras é uma

forma de desentendimento que não configura assédio porque – pelo menos em

teoria – cada um pode se defender abertamente em igualdade de condições.

Por estarem em patamar de igualdade, as pessoas envolvidas nessas

situações respondem uma hostilidade com outra, ao passo que no assédio a vítima

18 TST. RR nº 190200-53.2009.5.09.0072. Relator: Ministro Emmanoel Pereira, j. 4 maio

2011. No mesmo sentido: HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 34-36: as imposições profissionais legítimas, avaliações de desempenho e críticas construtivas não constituem assédio moral, desde que não sejam utilizadas com propósito de represália.

19 HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 18 et seq.

14

fica inerte à submissão do assediador. É, segundo Marie-France Hirigoyen, “o lado

positivo do conflito20” exatamente porque permite defesa.

Nesse mesmo sentido é a expressão cunhada pelo Desembargador do

Trabalho Couto de Menezes, para quem o assédio é caracterizado quando a ofensa

é feita “ao pé do ouvido”, e não abertamente, verbis:

DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. INEXISTÊNCIA. A moral individual é apresentada pela honra da pessoa, o seu nome, boa fama, a sua alto [sic] estima e o apreço de que goza perante terceiros. O dano moral, por sua vez, é o resultante de ato ilícito que atinja o patrimônio da pessoa, ferindo sua honra, decoro, crenças políticas e religiosas, paz interior, bom nome, auto-estima [sic] e liberdade, originado sofrimento psíquico, físico ou moral propriamente dito. Por outro lado, assédio moral, manipulação perversa, terrorismo psicológico ou, ainda, mobbing, bullying ou harcèlement moral, é um mal que, apesar de não ser novo, começa a ganhar destaque na sociologia e medicina do trabalho, estando por merecer também a atenção dos juristas. O assédio é um processo, conjunto de atos, procedimentos destinados a expor a vítima a situações incômodas e humilhantes. De regra, é sutil, no estilo “pé de ouvido”. A agressão aberta permite um revide, desmascara a estratégia insidiosa do agente provocador. O assédio moral, a exposição prolongada e repetitiva do trabalhador a situações humilhantes e vexatórias no trabalho, que atenta contra a sua dignidade ou integridade psíquica ou física é indenizável, no plano patrimonial e moral […]21.

“O assédio moral caracteriza-se antes de tudo pela repetição22”. É

requisito para sua constatação, portanto, que a conduta danosa do assediador seja

reiterada. A sistematização de atitudes em princípio inofensivas ou sem importância

é que causam abalo psicológico na vítima. As agressões pontuais, nesse sentido,

podem configurar um ato de violência no sentido amplo, mas não especificamente

assédio.

Por oportuno, aresto do TRT da 17ª Região que traz o conceito e os

elementos caracterizadores do assédio de forma bastante didática, com ênfase ao

requisito da repetição da conduta do agente:

ASSÉDIO MORAL. CONFIGURAÇÃO. O que é assédio moral no trabalho? É a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias, onde predominam condutas negativas, relações desumanas e

20 HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 25. 21 TRT (17. Região). RO nº 0160700-65.2002.5.17.0006. Relator: Desembargador

Claudio Armando Couto de Menezes, j. 10 jul. 2003. 22 HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 30.

15

anti-éticas [sic] de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas a um subordinado, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a Organização […]23.

Por conta da necessidade de reiteração da conduta, somente os

trabalhadores que realmente façam parte do quadro de funcionários permanentes da

empresa podem ser vítima de assédio. Para Maria Aparecida Alkimin, do rol de

sujeitos passivos excluem-se, portanto, todos aqueles que transitória ou

esporadicamente transitem pelo ambiente de trabalho24.

Diferentemente, os ensinamentos de Mauro Schiavi levam à conclusão

em sentido contrário, pois “uma conduta repetida de forma sistemática em um único

dia de trabalho pode configurar assédio moral25”. Sob esse ângulo, até mesmo um

prestador de serviços que trabalha apenas um único dia numa empresa pode ser

vítima de terror psicológico.

Deveras há dificuldade em identificar qual o alcance da expressão

“conduta reiterada”, vez que se trata de conceito aberto. Tendo em vista que não há

regra que estabeleça quanto tempo a conduta assediadora deve perdurar para,

enfim, caracterizar-se o mobbing, a análise é feita conforme as circunstâncias de

cada caso, segundo a ordem de agressividade da lesão: quanto maior a

perversidade, mais rapidamente se restará evidenciado o assédio26.

Por derradeiro, há que se analisar a consciência do agente. A intenção de

quem pratica assédio moral é causar abalo psicológico na vítima até segregá-la do

ambiente de trabalho. Essa conduta praticada reiteradamente revela o objetivo

danoso pretendido pelo agente, ou seja, há dolo específico em causar dano.

Maria Aparecida Alkimin, contudo, argumenta que deve ser analisado

apenas o resultado danoso. Se o agressor, embora não tenha pretendido o

resultado, violou um dever funcional preexistente, pode-se falar em assédio moral

culposo. Para a ilustre professora:

23 TRT (17. Região). RO nº 0114200-72.2001.5.17.0006. Relator: Desembargador José

Carlos Rizk, j. 19 set. 2002. 24 ALKIMIN, op. cit, p. 43. 25 SCHIAVI, op. cit, p. 4. 26 Registre-se, entretanto, que a literatura menciona situações graves em que apenas

uma conduta é bastante para configuração de assédio: v. PAMPLONA FILHO, op. cit., p. 8, com menção aos ensinamentos de Alice Monteiro de Barros e abordagem a casos de assédio sexual. No mesmo sentido, HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 31, em que refere a “agressão particularmente humilhante”.

16

No aspecto da conduta ilícita do assediante, este pode agir dolosamente […], porém, se violar esse dever preexistente sem a intenção de causar dano à vítima do assédio moral, consideraremos a conduta culposa. Nesse diapasão, para o Direito Brasileiro, basta que a conduta do assediante viole o ordenamento jurídico, seja penal, civil ou trabalhista, pouco importando para a responsabilização do agente se agiu com dolo ou culpa, se tinha ou não consciência do resultado danoso, nascendo da conduta antijurídica e do resultado danoso o dever de reparar o dano27.

Entre os italianos o entendimento teórico é o mesmo:

[...] gli autori del mobbing risponderanno anche del procurato danno professionale, nei casi in cui il danno è riferibile a reiterati comportamenti personali, colposi o dolosi: in tale ipotesi, il datore di lavoro è, in ogni caso, responsabile28”.

Vê-se que a doutrina italiana – pelo menos em tese – admite assédio

moral culposo, contudo, deve se ressaltar que essa modalidade é vista apenas

teoricamente, pois a casuística mencionada apenas faz referência a assédio doloso.

Não obstante tais argumentos, a ideia defendida pela professora Maria

Aparecida Alkimin mistura o conceito de reparação de dano em sentido amplo com

assédio moral.

A indenização deveras pode ocorrer quando o dano adveio de atitude

dolosa ou culposa; entretanto, para a configuração do assédio devem ser

observados requisitos específicos: o mobbing somente existe quando há condutas

agressivas reiteradas com propósito único de prejudicar insidiosamente.

Neste sentido, a propósito, é a lição de Dallegrave Neto:

Tanto o assédio sexual como o moral são admitidos apenas na forma dolosa, vez que o assediante quando molesta a vítima o faz adrede, com o objetivo deliberado de se satisfazer sexualmente ou de destruir emocionalmente a vítima29.

Com respeitosa vênia à doutrina que admite a modalidade culposa, não

há como ofender reiteradamente e com finalidade de exclusão sem que o agressor

assim o queira, pois são atitudes incompatíveis entre si.

27 ALKIMIN, op. cit., p. 53-54. 28 CARACUTA, F. Il mobbing e la tutela giudiziaria, p. 15. 29 DALLEGRAVE NETO, J. A. Responsabilidade civil no direito do trabalho, p. 268.

Também para as ciências psicossociais há necessidade de haver intenção do agente em prejudicar ou magoar: v. HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 63-65.

17

4.2.3 Modalidades de assédio

Entre os juristas, o assédio moral é classificado unanimemente em vertical

(ascendente ou descendente) e horizontal. Estudiosos das ciências psicossociais, ao

seu turno, preferem falar em relações assimétricas e relações horizontais.

O assédio nas relações assimétricas ocorre quando “o agressor se

encontra em uma posição hierarquicamente superior à vítima30”; corresponde ao

assédio vertical descendente, expressão utilizada com maior frequência no âmbito

jurídico. Já o assédio nas relações horizontais ocorre “entre companheiros de

trabalho ou através da agressão ao superior por seus subordinados31”. A esse a

doutrina jurídica classifica em duas categorias diferentes: assédio vertical

ascendente e assédio horizontal em sentido estrito.

Fala-se em assédio vertical descendente quando a agressão psicológica

parte do empregador ou superior hierárquico contra o empregado. A violência, nesse

caso, vem “de cima para baixo”, na expressão utilizada por Maria Aparecida

Alkimin32.

Márcia Novaes Guedes insere dentro da modalidade vertical descendente

o assédio estratégico, por meio do qual os superiores praticam reiteradas agressões

contra um subordinado para obrigá-lo a se afastar da empresa ou até mesmo pedir

demissão. Em regra, essa estratégia é utilizada quando se tem interesse em renovar

o quadro de funcionários33.

No assédio ascendente, ao contrário, a agressão é feita contra o superior.

Por derradeiro, o assédio horizontal é aquele cometido entre colegas de serviço que

estão numa mesma posição hierárquica. Ambas as situações geralmente ocorrem

quando há um chefe mais novo à frente de um grupo de funcionários de mais idade,

promoções indesejadas pelos demais colegas de trabalho, dentre outras.

Para evitar qualquer dessas formas de assédio, o Código do Trabalho de

Portugal, em norma de caráter propedêutico, prevê que é dever do empregador

“respeitar e tratar com urbanidade o trabalhador” (art. 120º, alínea a), mas também é

dever do empregado “respeitar e tratar com urbanidade e probidade o empregador,

30 NAKAMURA, A. P. et al. Assédio moral, p. 3. 31 Id., p. 4. 32 ALKIMIN, op. cit., p. 61. 33 GUEDES, M. N. Terror psicológico no trabalho, p. 39-40.

18

os superiores hierárquicos, os companheiros de trabalho e as demais pessoas que

estejam ou entrem em relação com a empresa” (art. 121º, item 1, alínea a).

Estudo conduzido por Marie-France Hirigoyen indicou que 58% dos casos

de assédio moral são do tipo unicamente descendente (o superior assedia o

subordinado); outros 29% são de fontes mistas (superiores e colegas são os

assediadores) e 1% é do tipo ascendente (o subordinado assedia o superior)34.

4.3 O assédio moral na gravidez: a gestante como vítima em potencial

Em regra, os grupos minoritários são as vítimas de assédio. Destacam-se

os novatos ou aqueles de idade mais avançada, readaptados, empregados com

estabilidade provisória (dirigentes sindicais, membros de Cipa, gestantes), dentre

outros. Segundo lições da psicologia, no geral as vítimas são pessoas

extremamente competentes, mas que se tornam estigmatizadas e deixam de ser

pessoas para se tornarem coisas35.

Pesquisa realizada por Marie-France Hirigoyen apontou que predomina o

assédio moral nos indivíduos acima de 50 anos porque são considerados “menos

produtivos e não suficientemente adaptáveis36”. Embora o estudo feito na França se

pautou no quesito etário, o mesmo fundamento se aplica às gestantes em razão das

peculiaridades do estado gestacional.

Durante a gravidez a mulher passa por diversas transformações

fisiológicas e psíquicas. No primeiro trimestre, por exemplo, ocorre hipersonia

(sente-se mais sono que o usual), náuseas, vômitos, alterações hormonais que

causam desde o aumento de apetite a oscilações de humor. No segundo trimestre

são mais comuns as alterações corporais. No terceiro trimestre, por fim, aumenta

significativamente o peso e fragilidade emocional causada por medos diversos37.

Essa soma de fatores leva a mulher a ter mais limitações que o habitual, e

isso não é respeitado no ambiente de trabalho. O empregador almeja lucro, então, o

chefe cobra o cumprimento de metas. Com a diminuição natural do ritmo de trabalho

causada pela gravidez, é certo que haverá descontentamento. Para o empregador,

34 HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 111. 35 NAKAMURA, op. cit., p. 4. 36 HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho, p. 95. 37 FERNANDES, P. C. Uma investigação sobre as diversas formas de comunicação

entre mãe e feto, p. 6.

19

pouco importa se a trabalhadora está em estado puerperal ou não: o que lhe

interessa é que o trabalho seja feito segundo as imposições do mercado.

Segundo a psicóloga Paula Corina Fernandes

[…] a sociedade funciona como um agente que nega o estar grávida, que é visto como um mal ou doença, é também recebido como perda econômica e de rendimento, já que a mulher tem leis que a protegem, porém tais atitudes levam muitas vezes a ambientes intoleráveis de trabalho e recorrentes licenças médicas por parte da mulher38.

As formas de produção do capitalismo moderno reeditaram a submissão

do trabalho ao capital, mas as consequências malévolas continuam suportadas

unicamente pelo trabalhador, dentre as quais a extrema intensificação do trabalho.

Exige-se intensamente que se produza, não interessa sob quais

condições, pois o neoliberalismo econômico imprimiu a ideia de consumo

exacerbado. O sujeito, nesse aspecto, fica em segundo plano. Somente interessa à

empresa, sob essa ótica, o trabalhador que produz.

Marx afirmava que “são exigidos custos para manter o operário como

operário e para fazer dele um operário39”, e concluía: “o desgaste do operário é

portanto tomado em consta do mesmo modo que o desgaste da máquina40”. Assim,

empregador algum pretende deixar seu capital à mercê de uma empregada gestante

que não consegue acompanhar a rapidez da linha de produção, sob pena de ter

maior custo e menor lucro.

Ressalte-se, ademais, que atualmente as mulheres ocupam diferentes

postos de trabalho, que vão desde mão de obra braçal a serviços de qualificação

específica. O Estado de Mato Grosso do Sul, a título de exemplo, experimenta uma

explosão de crescimento de usinas sucroalcooleiras, indústrias de papel e celulose e

de fertilizantes, nas quais são encontradas trabalhadoras no desempenho de

atividades rurais, administrativas e de áreas especializadas (engenharia, química,

segurança do trabalho etc.).

Os interesses capitalistas, nessa esteira, pretendem se sobrepor ao

aspecto humano e dignificante do trabalho. Nenhum supervisor almeja ter a linha de

produção interrompida porque uma trabalhadora, em decorrência da gravidez, não

pode trabalhar em ritmo frenético como outrora o fazia. 38 FERNANDES, op. cit., p. 6. 39 MARX, K. Trabalho assalariado e capital, p. 15. 40 Id., ibid.

20

Considerando que há um arcabouço de normas jurídicas que tutelam a

maternidade, o empregador prefere se valer de atitudes perversas para forçar a

gestante a pedir demissão, com isso contrata outra pessoa que não esteja grávida

para não prejudicar os objetivos exclusivamente financeiros da empresa.

Para tanto, o empregador ou preposto se vale de estratagemas como

isolar a trabalhadora, retirar-lhe atribuições ou acrescê-las excessivamente de modo

incompatível com as necessidades de uma gestante. Até o comportamento de

ignorar o estado gravídico pode ser considerado mobbing.

O juiz Mauro Schiavi ainda aponta a ridicularização, o tratamento com

menosprezo diante dos colegas de serviço e humilhações: atitudes que pressionam

a empregada para desestabilizá-la emocional e profissionalmente até culminar em

pedido de demissão ou afastamento por motivos de doença41.

O pior, segundo visão das psicólogas Angela Maria Pires Caniato e Eliane

da Costa Lima, é que essas estratégias de gestão são já se tornaram “um modo de

vida, configurando-se como um processo perverso de subjetivação social42”.

Pouco importa se o comportamento agressivo ocorre na forma de assédio

moral lato sensu ou assédio moral organizacional (que culmina em burn out). A

propósito, Dallegrave Neto distingue tais modalidades da seguinte maneira:

Enquanto o mobbing tem como objetivo a exclusão da vítima do mundo do trabalho, discriminando-a e estigmatizando-a perante o grupo, no assédio moral organizacional o que se visa é a sujeição de um grupo de trabalhadores às políticas mercantilistas da empresa43.

De qualquer forma, ambas são modalidades ofensivas que lesam direitos

fundamentais da trabalhadora, de modo que devem ser coibidas. São condutas

perversas per se, qualquer que seja a vítima. Quando se trata de trabalhadora

gestante, entrementes, os danos são particularmente agravados, pois o estado

gravídico induz cautela e tratamento especiais.

4.4 Tutela jurídica específica

4.4.1 Proteção à maternidade e à família sob a ótica da Constituição Federal e da OIT. Direitos fundamentais aplicados vertical e horizontalmente

41 SCHIAVI, op. cit., p. 10. 42 CANIATO, A. M. P. et al. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 4. 43 DALLEGRAVE NETO, op. cit., p. 271.

21

No que se refere a assédio moral, a proteção aos direitos fundamentais

dos trabalhadores em geral encontram breve tutela jurídica na CLT, quando o texto

consolidado define as situações de justa causa do empregador (artigo 483).

Especificamente sobre a proteção à maternidade, há disposição que proíbe a

rescisão do contrato de trabalho pelo fato puramente isolado de trabalhadora estar

em estado de gravidez (artigo 391).

Em tese, a lei confere ao empregado o direito de resistência quanto aos

desmandos do empregador ou a possibilidade de pleitear rescisão indireta do

contrato de trabalho e receber indenização pelas verbas eventualmente devidas.

Entretanto, a possibilidade de resistência somente ocorre em teoria. Na

prática, o empregado não exerce esse direito por variadas razões, dentre as quais –

e principalmente – o medo de ficar desempregado. Se não existe garantia de

emprego, tampouco há como resistir a agressões psicológicas do empregador.

A tutela jurídica conferida unicamente pelo direito privado, portanto, não

se mostra suficiente para remediar o assédio moral, razão pela qual deve ser

buscada a aplicação de princípios gerais de ordem constitucional. Nessa esteira

ensina Márcia Novaes Guedes:

Não obstante uma variada gama de direitos de créditos dos trabalhadores tenha sido guindada à categoria de direitos fundamentais (C. Federal, art. 7º e incisos), sem garantia de emprego, todas as normas de proteção, até mesmo aquelas voltadas à proteção de direitos fundamentais, se fragilizam e perdem eficácia Talvez, partindo da leitura do § 1º do art. 5º da C. Federal, seja adequada uma aplicação da teoria da Drittwirkung, facultando-se ao trabalhador o direito de se manter no emprego e não ser molestado em sua dignidade. Assim, podendo requerer ao juiz que faça cessar os atos atentatórios ao livre desenvolvimento de sua personalidade no trabalho [...]44.

A igualdade formal entre empregador e empregado não deve se sobrepor

à realidade, em que o poder econômico revela nitidamente que o trabalhador se

encontra em posição hipossuficiente, o que justifica a aplicação da teoria alemã de

da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (Drittwirkung der Grundrechte45).

44 GUEDES, op. cit., p. 115. 45 Para o STF, “as violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito

das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes privados”. STF. RE nº 201819. Relator: Ministro Gilmar Mendes, j. 11 out. 2005.

22

A relação essencialmente contratual deve ser mitigada face à

sobreposição dos princípios constitucionais de proteção à dignidade, valor social do

trabalho, tutela da intimidade, vida privada, honra e discriminação no trabalho

(artigos 1º, 5º, 6º e 7º, todos da Constituição Federal).

A Constituição Federal de 1988 representa a decisão política fundamental do povo brasileiro de que valores devem nortear a condução dos negócios públicos e privados em nosso País. Nessa senda, a força normativa de seus preceitos impõem-se tanto n relações firmadas com as entidades da Administração Pública, quando naquelas estabelecidas entre particulares, pois, do contrário, estar-se-ia permitindo que a autonomia da vontade se sobrepusesse aos direitos e garantias fundamentais estabelecidas pelo poder constituinte originário, o que, desde que superado o formalismo positivista tão prestigiado no século XIX e na primeira metade do século XX, não mais se admite, tendo em vista o reconhecimento do conteúdo eminentemente valorativo dos princípios fundamentais positivados em nossa Carta Política Fundamental. Em face disso, ao firmar o contrato de trabalho com seu empregador, o empregado não se despoja dos direitos inerentes à sua condição de ser humano, que devem ser respeitados pelo tomador dos serviços, em face dos postulados da dignidade da pessoa humana e da boa-fé objetiva (art.s 1º, IV, da Carta Magna e 422 do Código Civil46.

De igual forma, os direitos decorrentes de tratados internacionais não

excluem aqueles já consolidados na ordem jurídica interna (art. 5º, § 2º, da

Constituição Federal). Dada a relevância do tema, a Organização Internacional do

Trabalho reservou três convenções específicas sobre a proteção à maternidade,

além de outra sobre proibição de discriminações em geral.

Em 1919 foi adotada a Convenção nº 3, a que o Brasil ratificou em 1934 e

denunciou em 1961. Posteriormente, a adotou-se a Convenção nº 103, em vigor no

Brasil desde 1965. A mais recente foi adotada em 2000, porém, sem ratificação.

Em regra essas convenções tratam apenas de licença maternidade e

proibição de despedida arbitrária da gestante, o que já está incorporado no

ordenamento jurídico brasileiro desde a promulgação do texto constitucional, porém,

mais importante do que o texto em si é o caráter didático e educativo que lhes

prestam: tal proteção não somente assegura a igualdade de acesso da mulher ao

emprego, como garante a continuidade da renda, muitas vezes vital é necessária

para o bem-estar de toda a família.

46 TST. AIRR nº 183240-63.2007.5.02.0067. Relator: Ministro Vieira de Mello Filho.

Brasília, j. 24 ago 2011.

23

Some-se a isso a Convenção nº 111, que versa sobre proibição de todas

as formas de discriminação em matéria de emprego e profissão.

Análise conjunta dessas convenções permite concluir, portanto, que

salvaguardar a saúde de mulheres grávidas e lactantes e protegê-las da

discriminação no trabalho é uma condição indispensável para alcançar uma

verdadeira igualdade de oportunidades e de tratamento para homens e mulheres no

trabalho e permitir aos trabalhadores que aumentem suas famílias em condições de

segurança.

4.4.2 Projetos de lei

Até o momento não existe no Brasil legislação específica sobre assédio

moral nas relações trabalhistas regidas pela CLT, nem para tutela dos trabalhadores

em geral, nem especificamente para as grávidas.

Existem, entretanto, leis esparsas em níveis municipal e estadual – para

regulamentarem o assunto no âmbito da legislação administrativa a ser aplicável aos

respectivos servidores, pois somente a União pode legislar sobre direito do trabalho

no âmbito das relações de trabalho da iniciativa privada (art. 22, inciso I, da

Constituição Federal).

Ressalte-se, contudo, que não existem leis específicas sobre assédio

moral, mas há legislação que tipifica o assédio sexual como crime (art. 216-A do

Código Penal, na redação dada pela Lei 10.224, de 15 de maio de 2001) que,

todavia, apenas é abordado no seu aspecto penal, pois também não há lei alguma

em âmbito civil ou trabalhista.

Há vários projetos de lei em tramitação no Congresso que visam a

regulamentar as consequências do assédio moral nas relações de trabalho. Alguns

chegaram a ser arquivados, porém, dada a relevância do tema, muitos outros foram

propostos, o que acarretou desarquivamento dos anteriores e o apensamento às

novas proposições para apreciação conjunta.

Dentre as diversas propostas, uma das mais antigas é o PL nº 2369/2003,

que procura definir o assédio a partir do constrangimento causado repetidamente

por superiores e colegas de trabalho. O projeto enfatiza que “o comportamento deve

ser repetido, pois é óbvio que apenas uma brincadeira de mau gosto não configura

24

assédio” e que “o stress causado por esse tipo de comportamento depende de sua

repetição47”.

Diferentemente da proposta anterior, que cria lei nova sem alterar

qualquer legislação em vigor, o PL nº 2593/2003 procura inserir no artigo 483 da

CLT três novas alíneas que permitem ao empregado pleitear rescisão contratual

indireta quanto houver situações de assédio moral. A construção do projeto partiu de

estudos de medicina do trabalho que demonstram os danos à saúde causados por

assédio.

De fundamentação mais completa, o PL nº 4593/2009 parte de extensos

estudos de jurisprudência e doutrinas brasileiras e estrangeiras. Procura criar uma

lei específica sobre o assunto, porém, não obstante ser mais bem fundamentado, o

PL nº 6625/2009 define com mais clareza as situações que caracterizam o assédio

moral e tipifica melhor suas respectivas repressões.

Todas as proposições citadas estão apensadas ao PL nº 6757/2010,

oriundo do PLS nº 79/2009. Neste, porém, abandonou-se a denominação “assédio”

e preferiu utilizar o termo “coação moral”.

Da análise desses projetos, constata-se que todos se preocuparam

apenas com o assédio em suas formas horizontal e descendente – sobretudo.

Todavia, a modalidade ascendente é tão danosa quanto as demais. Nesse caso,

caso algum daqueles projetos forem aprovados sem emendas, há que ser feita

interpretação sistemática e extensiva para que também se preste a devida tutela

jurídica ao chefe assediado, do contrário se criará tratamento desigual a situações

juridicamente semelhantes.

Esses projetos preveem a proibição de assédio psicológico apenas nas

relações estritamente regidas pela CLT, de modo que a priori não se aplicariam aos

empregados domésticos nem aos rurais. Igualmente aqui se deve emprestar

interpretação sistemática e extensiva para englobar esses trabalhadores no universo

de proteção da futura norma jurídica.

Por derradeiro, no Senado atualmente tramita o PLS nº 136/2011, que

versa sobre medidas de proteção à mulher no mercado de trabalho48, principalmente

no que se refere aos salários menores quando comparado aos dos homens que

47 PL nº 2.369/2003, p. 4. 48 Diferentemente dos demais, PLS nº 136/2011 prevê expressamente a tutela às

trabalhadoras urbanas e rurais.

25

exercem igual função. Dentre as várias formas de discriminação, o projeto apresenta

um rol exemplificativo no qual engloba a proibição ao assédio moral, físico,

patrimonial, psicológico e sexual (art. 2º, inciso VI).

4.5 Reflexos extracontratuais do assédio moral contra gestantes e medidas de

prevenção

4.5.1 Antes: medidas preventivas

O assédio moral é combatido, na essência, por prevenção. Márcia

Novaes Guedes aponta que os custos do assédio são extremamente mais elevados

que a adoção de medidas anti mobbing, entretanto, as empresas procuram

simplesmente negar a existência do fenômeno a combatê-lo49.

Essa prevenção se dá por meio de transparência na relação entre

superiores e subordinados, investimento em cursos e programas de defesa,

permissão de acesso amplo de representantes sindicais ao ambiente de trabalho,

dentre outras ações.

Dentre as variadas formas de prevenção do assédio corporativo, Márcia

Novaes Guedes aponta a preguiça como uma das mais importantes. Não a preguiça

desidiosa, e sim um comportamento ocioso saudável. A ideia é que a empresa

incentive momentos de ócio no ambiente de trabalho para que os funcionários se

abstraiam da sobrecarga de tarefas e possam dedicar um tempo, ainda que mínimo,

à preservação da saúde50.

Em linhas gerais o trabalhador, diante de uma situação discriminatória,

teme o ajuizamento de ações para reclamarem seus direitos. Paira o medo de não

conseguir outro emprego equivalente, pois passará a integrar a “lista suja” de

empregados que se voltam contra os empregadores. Nessa esteira, a prevenção

impede o rompimento desse equilíbrio social e evita atritos futuros.

Além de evitar o dano in concreto ao trabalhador, as ações preventivas

geram reflexos benéficos no desenvolvimento da atividade empresarial, pois

melhoram a imagem da empresa no ambiente interno e externo, além de diminuir

despesas indenizatórias.

49 GUEDES, op. cit., p. 149. 50 Id., p. 155.

26

4.5.2 Durante: o dano duplo – prejuízos à saúde da mãe e do nascituro

O assédio moral causa dano à saúde do trabalhador. Em regra é uma

patologia psíquica, mas em alguns casos surgem inclusive danos físicos. Rodolfo

Pamplona Filho argumenta que não há necessidade de haver o dano concretamente

considerado, pois a mera finalidade de excluir o trabalhador do ambiente de trabalho

já é bastante para caracterização do assédio51.

Não por outra razão que o PL nº 7202/2010 pretende estender o conceito

de acidente de trabalho e atribuir tratamento de acidente laboral por equiparação ao

assédio moral52.

No caso de gravidez, a trabalhadora está sujeita aos mesmos os danos à

saúde que os demais trabalhadores. Entretanto, o estado gravídico atua como

agravante, pois a depender da situação pode colocar a própria gestação em risco.

Não bastasse isso, o dano deve ser duplamente sopesado, pois o que

acontece com a mãe durante a gravidez é repassado ao nascituro. Estudos

demonstram que as emoções da mãe refletem na evolução do feto53. Neste sentido,

para a psicóloga Paula Corina Fernandes:

Outro ponto importante é a transferência da anticorpos maternos ao feto, na qual a relação imunológica mãe-feto, começa na concepção, no qual uma mãe com stress pode influenciar negativamente o desenvolvimento imunológico de seu feto, ou podem ocorrer anomalias da relação mãe-feto que resultam em nascimentos prematuros e até em abortos, já que desde os primórdios da gestação o feto manifesta de maneira simbólica, mesmo sem linguagem, compreensão do “dito” e tem meios de manifestar o que sente através de alegria, dor ou sofrimento. Dentro disso, o papel da mãe não é apenas o de cuidar, alimentar e transferir anticorpos, mas proporcionar um ambiente que garanta um desenvolvimento cognitivo e emocional favoráveis54.

No mesmo sentido é o entendimento de Domingos Mantelli, segundo o

qual as emoções da mãe influenciam a diretamente a evolução da gravidez e o

desenvolvimento da vida intrauterina. À mãe, gritos, ofensas, estresse e momentos

de tristeza podem gerar complicações como cefaleia, contrações antes do momento

51 PAMPLONA FILHO, op. cit., p. 6. 52 PL nº 7.202/2010, que “altera a alínea b, do inciso II, do art. 21, da Lei 8.213/91, para

dispor sobre situação equiparada ao acidente de trabalho do regime geral de previdência social”. Segundo o projeto, passa a ser considerado acidente de trabalho “a ofensa física ou moral intencional, inclusive de terceiro”.

53 FERNANDES, op. cit., p. 3. 54 Id., p. 5.

27

adequado, sangramento vaginal sem causa aparente e várias outros sintomas,

mesmo que esteja clinicamente sem alterações. Todos esses sentimentos são

repassados ao feto, que desenvolverá um mecanismo de rejeição

inconscientemente e, ao nascer, apresentará traumas e problemas psicológicos que

se pensam ser de origem desconhecida55.

4.6 Reflexos no contrato de trabalho

4.6.1 Dever de indenizar: responsabilidade civil do empregador por ato próprio ou de prepostos e ônus da prova

Tratar uma gestante com ofensas diretas, atribuição de serviços pesados

incompatíveis com a gravidez, exercer pressões excessivas para cumprimento de

metas ou, ao revés, isolar a trabalhadora do ambiente de trabalho, são atitudes

discriminatórias em face da condição de grávida.

Frise-se que os objetivos puramente empresariais de percepção de lucro

não podem justificar práticas dessa natureza, que vilipendiam a dignidade e a

personalidade da trabalhadora.

O impacto moral e psíquico sofrido pela empregada, enquanto

trabalhadora e mulher, em face dos insultos à sua dignidade e personalidade,

submetem-na a situação perigosa para o seu estado gravídico e para o

desenvolvimento do feto, o que torna inquestionável o direito à indenização por dano

moral – além de ser vexatória e degradante. Neste sentido:

DANO MORAL. ATRIBUIÇÃO DE SERVIÇOS INADEQUADOS À GRAVIDEZ. RESTRIÇÃO AO USO DO BANHEIRO. OFENSAS VERBAIS. INDENIZAÇÃO DEVIDA. Confirmando a prova dos autos, a adoção pela reclamada, de forma injuriosa de gestão, valendo-se de reiterada prática de constrangimento moral imposto por superior hierárquico, com atribuição de serviços inadequados ao estado gravídico da empregada, restrição ao uso do banheiro e ofensas verbais, é de se manter decisão que deferiu à obreira indenização por dano moral decorrente da degradação do ambiente laboral e manifesto atentado à dignidade da demandante, como trabalhadora e mulher56.

55 MANTELLI, op. cit., p. 1. 56 TRT (2. Região). RO nº 03255.2006.421.01.00-0. Relator: Desembargador Ricardo

Artur Costa e Trigueiros, [s.d.].

28

Destarte, constatada a existência de assédio, incidem as regras de

responsabilização civil direta ou indireta para reparação do dano causado à

trabalhadora; seja dano material, seja exclusivamente moral, ou ambos.

Fala-se em responsabilização direta quando o próprio empregador pratica

o assédio. A responsabilidade, aqui, é subjetiva: devem estar presentes o dano, o

ato ilícito e o nexo de causalidade, com a observação de que o “dano decorre da

inexecução contratual do empregador (contratante) que ignora o dever de respeito,

proteção e lealdade em relação ao empregado (contratado)57”.

Nesse caso, o feito se resolve pela subsunção da regra básica de

responsabilização civil prevista no artigo 927 do Código Civil: quem causa dano

deve repará-lo.

Há casos, porém, em que o assediante não é o empregador em si, mas

um funcionário. A responsabilização, agora, passa a ser objetiva: o empregador será

responsabilizado independentemente de ter culpa ou não, pois é dele o risco da

atividade econômica (artigo 2º da CLT). A lição de Dallegrave Neto é nesse sentido:

A responsabilidade do empregador por ato de seu empregado perante terceiro é sempre objetiva, seja pela presunção absoluta de culpa in eligendo e in vigilando (Súmula nº 341 do STF), seja pela aplicação do art. 933 do Código Civil, que responsabiliza o empregador ainda que não haja culpa de sua parte58.

O empregador, caso queira ser ressarcido pela conduta inidônea, que

intente ação regressiva contra o funcionário que cometeu o assédio ou, conforme o

caso, promova a respectiva denunciação à lide.

Rodolfo Pamplona Filho anota que para existir assédio não há

necessidade de haver dano algum, pois basta a mera ofensa a direito da

personalidade. Entretanto, para que haja responsabilização civil deve existir dano in

concreto: A necessidade do dano não é um elemento da caracterização do assédio moral, mas, sim, da responsabilidade civil decorrente de tal conduta. [...] A doença psíquico-emocional, como patologia, pode advir do assédio, mas não necessariamente ocorrerá, nem é elemento indispensável, pois o que é relevante, para a caracterização do mobbing, é a violação do direito da personalidade, cuja materialização ou prova dependerá do caso concreto59.

57 DALLEGRAVE NETO, op. cit., p. 275. 58 Id., p. 276. 59 PAMPLONA FILHO, op. cit., p. 9.

29

Embora possa se perceber a sutil diferença no campo didático, em âmbito

pragmático se verifica que o dano é uma consequência lógica do assédio, tornando-

os indissociáveis.

Por derradeiro, acrescente-se que a prática de assédio gera

consequências diversificadas e independentes entre si: o empregador responde na

ordem trabalhista (justa causa), civil (indenização) e criminal, se for o caso.

Embora haja exceções, em regra o assédio deve ser provado por quem o

alegou. Quem assedia, entretanto, o faz sorrateiramente: as agressões são tão

insidiosas que dificultam à vítima angariar o conjunto probatório necessário para

instruir ação judicial.

Prova irrefutável dificilmente haverá, mas a vítima deve apresentar pelo

menos um início que permita o exercício de subsunção pelo magistrado, como

correspondências eletrônicas, gravações telefônicas, laudos médicos, bilhetes,

anotações, dentre outros.

Mauro Schiavi leciona que o juiz deve ser maleável na análise das provas,

pois o assediador age às portas fechadas:

O juiz deve ser [sic] guiar principalmente pelas regras de indícios e presunções, pelas regras de experiência do que ordinariamente acontece (Artigos 335 do CPC e 852-D da CLT), pela prova indireta, pela razoabilidade da pretensão e dar especial atenção à palavra da vítima60.

Dallegrave Neto defende, inclusive, a inversão do ônus da prova:

Considerando o caráter contratualmente vulnerável da vítima, a sua hipossuficiência e a dificuldade de produzir prova sobre os fatos que se cometem longe do olhar das testemunhas (qui clam comittit solent), ao juiz será recomendável que se inverta o ônus da prova, determinando que ao agente recaia o encargo de comprovar a inexistência de qualquer prática de assédio no ambiente de trabalho61.

A despeito da valiosa lição, a inversão do ônus da prova não deve ser

vista como regra. O trabalhador é hipossuficiente quando se está diante de uma

relação de direito material. No âmbito processual, entretanto, prevalece a igualdade

entre as partes, mas nada impede que seja invertido esse ônus – como medida

60 SCHIAVI, op. cit., p. 14. 61 NETO, J. A. Responsabilidade civil no direito do trabalho, p. 281.

30

excepcional – quando houver prova em poder unicamente do empregador, como

análise de gravações audiovisuais, por exemplo.

A valoração da prova deve ser feita sob critério de razoabilidade, pois a

exigência de demonstração irrefutável do assédio, sob o escoro de argumento

friamente processual, acaba por convalidar o comportamento do assediador. Assim,

mesmo se não houver prova contundente, mas existir indício harmonioso de provas

que levem a crer pela existência do assédio, não há porque afastá-lo.

4.6.2 Rescisão indireta

O principal efeito da caracterização de assédio moral – no âmbito

trabalhista – é a possibilidade de o empregado pleitear rescisão indireta do contrato

de trabalho, isso sem mencionar os efeitos civis, previdenciários e, às vezes,

criminais. A justa causa do empregador restará caracterizada quando este cometer

uma ou mais faltas previstas no artigo 483 da CLT.

Importante destacar que para a caracterização da rescisão indireta é

realmente necessário que o empregador tenha cometido falta grave que cause

prejuízos ao empregado e torne a manutenção do vínculo empregatício inviável.

Além disso, deve haver relação de causa-efeito entre o ato faltoso do

empregador e a despedida indireta, bem como a imediatice dos fatos. Não cabe,

portanto, pleito de rescisão indireta para fatos ocorridos há muito tempo, pois nesse

caso se presume perdão tácito.

Não implica afirmar, contudo, que haverá perdão implícito pela ofensa a

direitos fundamentais. A lesão a esses direitos pode ser reparada enquanto não

houver decadência do direito, mas isso em análise meramente civil. O que não pode

é pleitear a rescisão contratual indireta, que é o procedimento disciplinado em

âmbito trabalhista. Para este é indispensável a providência seja tomada tão logo

ocorra o assédio caracterizador da justa causa do empregador.

Uma das situações específicas de justa causa do empregador é a

exigência de serviços superiores às forças do empregado (artigo 483, alínea a). No

caso de mulheres em geral, há regra específica que veda o trabalho físico excessivo

incompatível com a condição física (artigo 390 da CLT). Às gestantes, em especial,

a situação se agrava ainda mais em razão das limitações físicas impostas pela

gravidez, que implica maiores cuidados.

31

Acresça-se a isso a parcela de grávidas em situação de risco cuja saúde

deve ser cuidadosa e constantemente monitorada para que não haja perigo de

morte para a mãe ou para o filho, o que leva à situação de perigo de mal

considerável (artigo 483, alínea c).

Por essas razões, resta claro, segundo Maria Aparecida Alkimin, que:

[...] o assédio moral voltado para práticas discriminatórias, também configura violação à garantia fundamental do trabalhador, que é a dignidade humana, bem como grave violação dos deveres contratuais por parte do empregador, caracterizando justa causa para a rescisão contratual por parte do empregado assediado62.

Por vezes o conjunto de atos caracterizadores do assédio moral pode se

subsumir – concomitantemente – em todas as alíneas do artigo 483 da CLT. Em

decorrência do requisito da reiteração de condutas para configuração de mobbing,

as diferentes atitudes do assediador não são isoladamente consideradas. Vale dizer:

não são vários assédios, e sim vários atos que, somados, constituem o assédio.

Entretanto, essas diferentes condutas reforçam o comportamento faltoso

que ensejam justa causa do empregador e, a depender da situação, podem servir

como agravante na mensuração de quantum indenizatório.

4.7 O dano duplo e sua mensuração

Não existe parâmetro de tarifação de dano moral em matéria trabalhista,

de modo que cabe ao julgador fixá-lo de acordo com o livre convencimento motivado

(sistema aberto). Maria Aparecida Alkimin indica oito circunstâncias a serem

analisadas para valoração do quantum indenizatório: intensidade da dor sofrida pela

vítima; gravidade e natureza da lesão; intensidade do dolo e condição econômica do

agente causador do dano; possibilidade de retratação; tempo de serviço; idade da

vítima, cargo e posição hierárquica ocupada na empresa; permanência temporal dos

efeitos do dano e antecedentes do assediador63.

No caso de assédio moral contra grávidas, há inegáveis prejuízos à mãe

e ao nascituro: durante os meses de gravidez o feto está diretamente ligado a todos

62 ALKIMIN, op. cit., p. 96. 63 Id., p. 115-116.

32

os sentimentos da mãe, sejam bons ou ruins, logo, os sofrimentos causados à mãe

refletir-se-ão na criança.

Há, portanto, considerável fator agravante a ser ponderado na

mensuração do dano, de modo que é possível utilizar esse critério para aumentar

valor da indenização.

Some-se a isso a possibilidade de ressarcimento material por lucro

cessante, pois em não raras ocasiões o assédio acarreta desemprego da vítima

(prejuízo alimentar) ou redução da capacidade laborativa.

33

5. DESENVOLVIMENTO

Desde o final da Década de 1990 passou a se falar mais frequentemente

em assédio moral nas relações de trabalho. A abordagem do assunto se iniciou na

França a partir de estudos com enfoque na área psicológica e social capitaneados

por Marie-France Hirigoyen e, logo após, expandiu-se às ciências jurídicas.

Os conceitos das ciências psicossociais diferenciam mobbing, bullying e

assédio moral propriamente dito. Em regra, utiliza-se mobbing para assédio em nível

organizacional; bullying para terror psicológico individual e se reserva a expressão

assédio moral em sentido estrito para as agressões pessoais que ocorrem de forma

sutil, às vezes camufladas em brincadeiras ou gracejos.

Esses conceitos foram trasladados ao universo jurídico e cada país optou

por utilizar uma expressão sem estabelecer as diferenças que as ciências

psicossociais fizeram. No Brasil não foi diferente. Utiliza-se qualquer dos termos

indistintamente.

Essa diferença conceitual possui uma razão de ser no âmbito das

ciências psicológicas, pois a depender do tipo de agressão é que o profissional

define o tratamento ou a terapia mais apropriada.

No âmbito jurídico, entretanto, mais importante do que a forma da

agressão é a proteção ao bem jurídico. O que se tutela juridicamente é a dignidade

da pessoa humana, de modo que não interessa se a agressão ocorre em nível

organizacional, individual ou sutil: a consequência de todas essas modalidades é a

mesma, de modo que a tutela jurídica também é a mesma. Daí se justifica tratar os

conceitos de mobbing, bullying e assédio moral como sinônimos.

No Brasil não existe legislação específica sobre assédio moral nas

relações de trabalho privadas, embora há várias leis estaduais e municipais que

abordam o assunto no âmbito dos respectivos servidores públicos. Como não há

legislação federal específica, coube à doutrina e à jurisprudência construírem um

arcabouço de regras que visem à proteção do trabalhador assediado por meio da

interpretação analógica ou extensiva de outras normas que tutelam os direitos dos

trabalhadores.

O assédio moral é a conduta camuflada ou sorrateira efetuada por meio

de gestos, palavras ou outro ato, que visa a abalar psicologicamente a vítima,

34

ofendendo sua honra subjetiva. Difere-se da agressão física ou manifestamente

aberta (mesmo que sem contato físico) porque nesses casos a vítima pode se

defender. A conduta assediante é praticada insidiosamente e, dessa forma, mina a

possibilidade de a vítima se defender.

Importante destacar que tanto a doutrina quanto a jurisprudência apontam

que um ato isolado não configura assédio moral. Há necessidade de haver uma

reiteração de condutas. Não há uma regra objetiva para se definir quanto tempo o

ato deve ser repetido para que seja considerada assédio.

Entretanto, deve ser feita leitura cum grano salis e ter como parâmetro

não o aspecto temporal em si, e sim a gravidade da conduta. Um único ato que visa

à obtenção de favorecimento sexual pode configurar assédio sexual64. Por ser uma

conduta de extrema gravidade, não há necessidade que se repita por dias a fio para

se evidenciar o assédio.

Em razão de ser necessária a reiteração de conduta, Maria Aparecida

Alkimin acentua que há necessidade de que as pessoas envolvidas (assediador e

assediado) façam parte do quadro de funcionários da mesma organização. Segundo

a professora, quem transitoriamente exerce atividade numa empresa não pode ser

sujeito ativo nem passivo de assédio. Mauro Schiavi ensina de modo diferente: para

o ilustre magistrado, a cadeia de atos que compõem o assédio pode se iniciar e ser

concluída no mesmo dia. Nesse aspecto, até mesmo uma pessoa que circula no

ambiente de trabalho por apenas um dia pode ser ator ou vítima de assédio.

Com a devida vênia, registra-se discordância à professora Maria

Aparecida Alkimin e, em parte, aos ensinamentos do magistrado Mauro Schiavi. Isso

porque a evolução dos meios de comunicação colocam em evidência um mundo

sem fronteiras. Não há necessidade de que assediador e assediado estejam

fisicamente no mesmo ambiente de trabalho. Um ato de assédio pode ser praticado

virtualmente e, nesse sentido, é irrelevante que os sujeitos pertençam ao quadro de

funcionários da mesma empresa ou que mantenham contato físico.

A título exemplificativo, funcionário que presta serviço a uma empresa

pode, movido por inveja, praticar ato de assédio moral virtual com o objetivo de

coagir a vítima a pedir demissão e, com isso, ocupar-lhe a vaga.

64 O assédio sexual está inserido como espécie do gênero assédio. Pela gravidade da

conduta, o legislador preferiu tipificá-lo, inclusive, como crime.

35

O objetivo de quem assedia é prejudicar a outrem ou aferir uma vantagem

pessoal. Para que se configure o assédio moral é necessário, portanto, que o

assediador tenha consciência do que faz. Como lembrou o professor Dallegrave

Neto, quem ofende tem a nítida intenção de ofender.

Registra-se, novamente, a discordância aos argumentos dos ilustres

professores Maria Aparecida Alkimin e Fernando Caracuta, para os quais o assédio

moral também pode advir de conduta culposa. Da mesma forma é o PL nº

2369/2003, que procura punir a empresa com multa em caso de assédio moral,

independentemente de o agente ter, ou não, a intenção de constranger: ou seja, por

dolo ou culpa do assediador65.

Com a devida vênia, não há como assediar culposamente: o próprio

conceito de assédio exige que o agressor pratique atos de terror psicológico de

forma reiterada; não há como ofender reiteradamente sem que haja dolo para tal,

pois a conduta é premeditada.

Os aspectos teóricos até então abordados possuem relevante

importância, pois fornecem fundamento para se saber se realmente houve, ou não,

assédio moral. Isso porque nem sempre o que parece ser uma conduta assediante

de fato o é. A exemplo, uma conduta isolada que causa aborrecimento.

Durante o dinamismo do mundo empresarial, por vezes a conduta de um

chefe pode ser mal interpretada, ou, no uso do poder de direção, toma medidas que

deixa os funcionários descontentes. Salvo se houver um conjunto de elementos em

sentido contrário, atos isolados dessa natureza não necessariamente são

manifestações de assédio moral no trabalho.

A rápida identificação das situações de assédio moral no trabalho é

relevante em aspectos multifacetários, pois se configurado o assédio surgirão

consequências e obrigações diversas às quais a empresa não se pode furtar.

Inegavelmente a fase preliminar é revestida de maior importância: a

subsunção dos acontecimentos no ambiente de trabalho ao conceito de assédio

moral permite que o gestor aja de modo a conscientizar os trabalhadores e adotar

medidas preventivas, sob pena de, uma vez concretizada a ação assediante, gerar

consequências mais gravosas tanto para a organização quanto para a empregada:

65 A modalidade culposa prevista no PL nº 2.369/2003 destoa até mesmo da definição

constante do art. 2º do Projeto.

36

nos aspectos econômico e jurídico para a empresa, e de saúde e psicossocial para a

trabalhadora.

A prevenção evita, ainda, o temor quanto ao ajuizamento de ações: é

elevado o número de trabalhadores que temem reclamar e depois não conseguir

outro emprego equivalente, pois passarão a integrar a “lista suja” de empregados

que se voltam contra empregadores.

Para concretizarem essas ações preventivas deve-se investir na formação

contínua de todos os trabalhadores, quer de nível estratégico e tático, quer de nível

operacional, para que sejam identificadas e coibidas as situações de assédio.

Até o momento se abordou o assédio moral em caráter amplo, aplicável a

quaisquer trabalhadores. É certo, ainda, que todas as modalidades de mobbing

devem ser combatidas, entretanto, mais gravosa é a agressão psicológica às

gestantes.

Estudos de profissionais da área de saúde citados neste trabalho

apontam que durante o período gravídico a mãe passa por metamorfoses que

induzem à sonolência, vulnerabilidade emocional, fraquezas diversas e outros

fatores que contribuem para diminuição do ritmo de trabalho. Não porque a

trabalhadora assim o deseja, mas por uma convergência de fatores biológicos que

ocorrem naturalmente nesse período. E tudo isso em uma gestação normal, pois em

muitos casos há gravidez de risco que o simples fato de estar grávida possibilita

perigo de morte à mãe, ao feto ou a ambos.

Alie-se, ainda, as necessárias ausências ao trabalho para realização de

exames de pré-natal ou, se gravidez de risco, afastamentos para tratamento de

saúde, o que contribui ainda mais para que o empregador enxergue a gestante não

como uma mulher em período especial, e sim como uma funcionária cuja produção

não rende como gostaria.

Por conta dessa diminuição no ritmo de trabalho, o assédio é a maneira

pela qual o empregador pretende extirpar da empresa uma trabalhadora que não é

vista como mãe, e sim como pessoa não produtiva. E assim o faz até que a

empregada peça demissão ou se afaste por problemas de saúde.

Acrescente-se o fato de a grávida trazer consigo outra vida, que será

igualmente prejudicada em situação de assédio sofrido pela mãe. São dois pesos e

duas medidas: em idênticas situações, o assédio sofrido por uma trabalhadora

gestante é potencialmente mais danoso que o mesmo assédio que vitima uma

37

trabalhadora não grávida, pois todo o sofrimento causado à mãe é repassado ao

filho. Dano duplo, portanto, uma vez que o mesmo ato vitima mãe e filho.

A família é a base sobre a qual se funda o Estado. A proteção à gravidez,

nesse ciclo, é o início de uma série de ações do Estado que visam,

consequentemente, à proteção da família. Não basta que a Constituição estabeleça

medidas protetivas direcionadas ao Estado se na relação entre particulares não se

respeitam regras de proteção básica à trabalhadora.

Nessa esteira se insere a aplicação horizontal dos direitos fundamentais.

A jurisprudência do STF, a corroborar argumentos da doutrina alemã, inclina-se no

sentido de que é perfeitamente possível aplicar os direitos fundamentais

horizontalmente, ou seja, na relação entre particulares.

Vale dizer: se o Estado deve proteger a maternidade, a família e a

dignidade de todo cidadão (aplicação vertical dos direitos fundamentais: relação

Estado-particular), as regras protetivas desses direitos fundamentais devem

igualmente ser observadas nas relações privadas (aplicação horizontal: de particular

para particular).

O período de gravidez, portanto, deve ser compreendido como uma

época de transformação para a mãe. Exigir esforços incompatíveis com a

capacidade de forças da gestante é agressão que equivalente a trabalho forçado.

Na casuística, a título de exemplo, exigir – reiterada, coercitiva e

humilhantemente – de gestante que trabalha em borracharia, oficina mecânica ou

como motorista de indústria sucroalcooleira é o mesmo que determinar a execução

de tarefa incompatível com as forças que uma grávida pode exercer. O mesmo

ocorre com as pressões exacerbadas para cumprimento de metas e a atribuição de

tarefas em quantidade superior à capacidade de trabalho da parturiente.

Exige-se do empregador certa flexibilidade, pois a mesma tarefa que era

exercida antes do estado gravídico pode não ser executada durante a gravidez, ou

pelo menos não da mesma forma ou agilidade.

Deparando-se com tais situações, o empregador tem o dever de

readaptar a trabalhadora em outra função para o fim de garantir seu direito ao

trabalho digno, sob pena de assédio moral por ofensa direta à dignidade da

trabalhadora. É nesse momento que o gestor precisa ter sensibilidade bastante para

rever conceitos: a ânsia pela produtividade e lucro deve ser mitigada para dar

espaço à dignidade plena da gestante.

38

Além das consequências danosas de ordem social, psicológica e à saúde

da trabalhadora e do nascituro, o assédio moral gera dois efeitos eminentemente

jurídicos: o primeiro é autorizar a grávida a pedir rescisão indireta do contrato de

trabalho. A dita justa causa do empregador se revela nítida, pois não raramente as

situações de assédio se subsumem em todas as alíneas do artigo 483 da CLT.

O segundo reflexo é o inegável direito à indenização pelo dano moral (e,

por vezes, até mesmo material). Destaca-se, a propósito, que as consequências

negativas do ato assediante causam feridas duplas (mãe e filho), o que funciona

como agravante no momento de se fixar indenização, pois estas devem ser

pautadas pela extensão do dano.

Volta-se ao exemplo anterior: coeteris paribus, o assédio sofrido por uma

trabalhadora gestante deve ser indenizado a maior que o mesmo assédio que vitima

uma trabalhadora não grávida. Assediar moralmente uma grávida no ambiente de

trabalho é ofender duas vezes, pois trará consequências à mãe e ao filho, o que

torna o assédio contra essas trabalhadoras ainda mais ofensivo e nefasto.

Criar uma família é um objetivo acalentado por muitas pessoas. No

entanto, a gravidez e a maternidade são momentos especialmente vulneráveis para

as trabalhadoras, que necessitam de proteção especial para evitar danos à sua

saúde ou de seus filhos.

O trabalho é o maior dos fatores de produção da sociedade e é por ele

que se constrói a cidadania que, em seu turno, atribui ao homem dignidade. A

empresa, nessa esteira, deve cumprir uma função social, de modo que não adianta

aferir lucro se a trabalhadora, prestes a criar uma família – que é a base da

sociedade – é tida como objeto descartável pelo simples fato de estar grávida.

A mudança de paradigma de que se necessita é incorporar a ideia de que

gravidez não é doença, e sim um estado momentâneo e especial que deve ser e

respeitado. Compreender as particularidades do estado de gestação acaba por ser

mais vantajoso ao empregador que praticar assédio até que a trabalhadora não

suporte mais o ambiente de trabalho e se vê obrigada a pedir demissão.

O empreendedor consciente sabe que nada irá perder com o respeito às

limitações da trabalhadora gestante. Se assim agir, não haverá choque algum entre

capital e trabalho, pois ainda que o ritmo e a produção diminuam, não haverá custos

39

futuros com indenizações, dispêndios com tratamento médico ou aumento da carga

tributária66.

66 Em casos de reconhecimento de incapacidade laborativa pela Previdência Social, com

fixação de nexo técnico entre incapacidade e a natureza da lesão, aumenta-se a contribuição da empresa ao Fator Acidentário de Prevenção (Fap), pois se trata de situação equiparada a acidente de trabalho.

40

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalhou procurou abordar o assédio moral praticado contra

empregadas gestantes no ambiente de trabalho. A partir de pesquisa

exclusivamente bibliográfica, foram identificados o conceito e os requisitos para sua

caracterização.

Das lições extraídas da psicologia e sociologia, constatou-se que

naquelas áreas de trabalho as denominações mobbing, bullying e assédio moral em

sentido estrito são expressões distintas, embora inseridas no mesmo contexto;

porém, ao importar esses conceitos para as ciências jurídicas, não mais subsiste a

necessidade de separação conceitual, pois o tratamento jurídico que lhes é atribuído

é o mesmo.

Inicialmente se abordou o assédio em sentido amplo, que vitima os

trabalhadores em geral. Deu-se enfoque à análise jurisprudencial uma vez que não

há legislação sobre o assunto no âmbito das relações de trabalho que ocorrem na

iniciativa privada.

Após investigação dos elementos que o configuram e da identificação de

hipóteses semelhantes mas que não caracterizam assédio moral, partiu-se à análise

das situações que envolvem especificamente as trabalhadoras grávidas.

Embora existam várias obras sobre assédio moral, não foi identificada

doutrina jurídica específica sobre assédio contra gestantes, o que levou a recorrer

aos ensinamentos de ciências da saúde e psicossociais.

A conjugação de fatores que permeiam o dinâmico mundo das relações

empresariais permitiu identificar as situações em que ocorre hostilização da

empregada gestante pelo simples fato de estar em período de gravidez. Concluiu-se,

no caso de assédio vertical, que o empregador se vê diante de uma diminuição da

capacidade ou do ritmo de trabalho da empregada durante a gestação e, para não

perder em competitividade, vale-se de condutas de assédio moral para coagir a

trabalhadora a pedir demissão ou afastamento.

Para coibir tais práticas, foi analisado o arcabouço de regras e princípios

que tutelam a empregada gestante no ambiente de trabalho, em especial a teoria da

aplicação horizontal dos direitos fundamentais, cuja finalidade é aplicar comandos

constitucionais de proteção de direitos na relação entre particulares.

41

Com a identificação do problema e subsunção à regra jurídica adequada,

foram analisadas as medidas que podem ser adotadas antes ou depois da conduta

danosa. Deu-se ênfase às medidas preventivas de conscientização a ser praticada

pelo próprio empregador, mediante educação continuada dos prepostos.

Todavia, uma vez concretizado o dano, ocorrem duas consequências

diretas: surge, de imediato, a autorização para que a empregada pleiteie rescisão

indireta do contrato de trabalho, além da respectiva indenização.

No que se refere à rescisão indireta, foi destacado que as práticas de

assédio moral contra gestante se subsumem em quase todas – senão todas – as

modalidades previstas no art. 483 da CLT, e não raramente ocorrem várias

simultaneamente.

A indenização por dano material depende da efetiva comprovação do

prejuízo ou do lucro cessante, como ocorre ordinariamente nos demais casos de

responsabilização civil.

Há peculiar diferença, contudo, no que se refere à indenização pelo dano

moral. Foi destacado, a partir de ensinamentos de especialistas da saúde, que a

ofensa causada à mãe durante o período de gravidez é potencialmente danosa ao

feto, pois este absorve os sentimentos da mãe. Nesse aspecto, há uma

multiplicidade de danos que acaba por agravar a ofensa, logo, o quantum

indenizatório também deve ser majorado.

Por derradeiro, foi constatado que na literatura sobre assédio moral a

gestante foi inserida no rol das vítimas em potencial sem que lhes dispensasse

maior atenção. Para outros grupos de risco existem algumas regras deontológicas

que podem ser extraídas de legislações próprias, como as minorias raciais e idosos,

porém, não há normatização alguma que proteja especificamente as grávidas.

Destarte, longe de findar a discussão, instigam-se pesquisas adicionais

sobre o assunto, inclusive de base empírica, de modo que o trabalho da gestante

seja visto não como algo oneroso ou inimigo do capital, e sim como um momento

especial que marca o início da proteção jurídica que se deve dispensar à família.

42

7. REFERÊNCIAS

ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de trabalho. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2011.

BONZATTO, Eduardo Antonio. Tripalium: o trabalho como maldição, como crime e como punição. Revista Direito em Foco, Amparo, SP, v. 3, mar. 2011. Disponível em: <http://www.unifia.edu.br/projetorevista/artigos/direito/Direito_em_foco_Tripal ium.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2011.

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, Poder Executivo, Rio de Janeiro, RJ, 9 ago. 1943, p. 11937.

______. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 jan. 2002, p. 1.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que

isento completamente a Universidade Anhanguera-Uniderp, a Rede de Ensino Luiz

Flávio Gomes e o professor orientador de toda e qualquer responsabilidade pelo

conteúdo e ideias expressas no presente Trabalho de Conclusão de Curso.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e

criminalmente em caso de plágio comprovado.

Dourados (MS), em 17 de novembro de 2011.

Jonas Patrezzy Camargos Pereira

Hostilização de empregada gestante: choque capital-trabalho e lesões a direitos fundamentais de Jonas Patrezzy Camargos Pereira é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial 3.0 Unported.

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