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UNIVERSIDADE CANCIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Reuso de água na ótica da gestão ambiental.
Ana Lucia Rodrigues do Nascimento
Orientador Professor Francisco Carrera
Rio de Janeiro 26 de fevereiro de 2010
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UNIVERSIDADE CANCIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Reuso de água na ótica da gestão ambiental
Pós graduação em Gestão Ambiental
Ana Lucia Rodrigues do Nascimento
3
Resumo
Este trabalho visa alertar a sociedade, seja do Estado do Rio de Janeiro ou do país para a problemática da escassez do recurso natural hídrico. Geograficamente o país possui uma farta reserva hídrica através de bacias hidrográficas espalhadas tanto nas regiões do norte ao sul. É lógico que existe carência na distribuição do recurso, em certas áreas agrícolas de algumas regiões brasileiras. Mas nestes casos existem institutos de pesquisa para solucionar de forma sustentável a carência hídrica. Historicamente nas metrópoles, houve uma degradação excessiva dos rios que passavam próximo as residências e industrias, não havendo uma preocupação tanto da população como dos governantes, até porque este recurso era abundante e se auto-depurava, pois a população era de certo modo pequena. Com o passar dos séculos, devido ao crescimento populacional e a alta exploração insustentável do recurso hídrico, tornando-se assim a poluição uma realidade constante. Mas enfim, a sociedade e governantes se envolveram em solucionar ou amenizar de forma sustentável a problemática da degradação do recurso hídrico. Desde a Conferência da ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, os governantes, a população e empresários se conscientizaram em realizar ações e projetos sustentáveis para a utilização da água. Temos como exemplo os vários exemplos de reuso da água, tanto no nordeste, com as cisternas que recolhem a água da chuva, como o uso da água cinza para a reutilização em descargas sanitárias. Visto que além dos benefícios ambientais, o reuso também é uma economia de custo; quanto mais a pessoa reutiliza a água, menos ela pagará pelo consumo.
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Sumário Introdução pág.5
Histórico do recurso hídrico pág.6
Legislação pág.13
Agenda 21 pág.15
Escassez do recurso hídrico pág.17
Necessidade de reuso pág.19
Reutilização do recurso hídrico pág.21
Aproveitamento de água da chuva pág.24
Águas residuárias pág.25
Reuso de águas cinzas pág.26
Recarga de aqüíferos pág.27
Risco à saúde da prática do reuso pág.28
Benefícios do reuso para fins agrícolas pág.29
Reuso na agricultura e saúde pública pág.30
Casos exemplares pág.31
Conclusão pág.33
Referencias pág.34
5
Introdução
A escassez de um importante recurso natural do planeta - a água –
tornou-se um agravante para a população mundial. Certos países convivem
durante séculos com uma escassez de água regional – Israel - por exemplo.
A revolução industrial deu o ponta-pé inicial no crescimento econômico
mundial inicialmente capitalista, logo após globalizado atualmente inclinando-se
para a sustentabilidade.
Ironicamente, os primeiros despejos de resíduos seja sólido ou líquido,
tanto de residências e/ou indústrias eram feitos em rios que passavam próximo.
Mundialmente, segundo hidrólogos e demógrafos, o consumo humano
de água doce duplica a cada 25 anos. Embora o colapso do abastecimento
seja uma realidade em muitos lugares, sobretudo em bairros da periferia de
centros urbanos densamente povoados, ainda assim vive-se a ilusão de que a
água é um recurso infinito.
Surgiu a necessidade de uma gestão que trabalha-se a reutilização
deste recurso hídrico, as cidades e algumas industrias durante muito tempo,
realizaram o reuso denominado de indireto ou não planejado pois lançavam
seus efluentes a montante dos rios para serem novamente captados a jusante
por outros usuários graças ao poder de auto depuração natural dos rios.
O aumento da demanda de água e a poluição dos mananciais têm
despertado a preocupação de vários setores da sociedade, que se mobiliza
para tentar garantir uma relação mais harmônica entre as suas atividades e os
recursos hídricos.
A Agenda 21 dedicou importância especial ao reuso deste recurso
natural , recomendando aos países participantes da ECO 92 realizada na
cidade do Rio de Janeiro, a implementação de políticas de gestão dirigidas
para o uso e reciclagem de efluentes, integrando proteção da saúde pública de
grupos de risco, com práticas ambientais adequadas.
Este trabalho aborda a temática da reutilização da água potável no
Estado do Rio de Janeiro, para que este recurso hídrico seja usado de forma
sustentável.
6
Histórico do recurso hídrico no Estado Rio de Janeiro
A história do abastecimento de água do Estado do Rio de Janeiro
remonta desde o início de sua ocupação e das lutas entre portugueses e
franceses alojados na Ilha de Villegagnion, que se utilizavam a melhor fonte de
suprimento de água, que era o Rio Carioca.
Em 1565, na cidade implantada por Estácio de Sá, entre a Urca e o Pão
de Açúcar, havia apenas o que, na época, era chamada de “lagoa de água
ruim”. Um poço então foi aberto e, com o tempo, não mais conseguia abastecer
aos que ali chegavam de Portugal e precisavam morar. Os índios Tamoios
então cederam as águas do Rio Carioca.
Em 1607, os padres franciscanos ao virem para o Brasil, conseguiram
do Conselho da Câmara que lhes fossem doados terrenos do Morro de Santo
Antonio até a beira da Lagoa de Santo Antonio, aí se estabelecendo. Como o
local era ermo, o Conselho da Câmara aforou-o a Antonio Felipe Fernandes
pelo prazo de 35 anos, para estabelecimento de um curtume, cujos couros
seriam lavados nas abundantes águas do local.
O mau cheiro do curtume espalhou-se pelas redondezas, incomodando
aos padres, cujas reclamações insistentes obrigaram a Câmara a melhorar o
esgotamento regular da Lagoa, alargando a vala no ano de 1641, tornando-se
uma das primeiras obras de saneamento da cidade.
Em 1617, já moravam na cidade 4.000 pessoas e Vaz Pinto criou uma
taxa para quem bebesse vinho, que custearia as obras de ampliação dos
sistemas de águas.
Em 1723 foi construído o Aqueduto do Carioca, que captava água no
Alto de Santa Tereza, passando pelo atual caminhamento da Rua Almirante
Alexandrino e chegando ao local (que hoje conhecemos como Arcos da Lapa),
onde havia um chafariz em que os escravos recolhiam a água e levavam para
a casa de seus senhores.
Desta época encontram-se relatos de que o Sr. Antonio Rabelo Pereira,
capitão da Fortaleza de São Francisco do Rio de Janeiro, alegando prejuízos
7
causados pela “passagem da água do Carioca por sua chácara”, pedia que
fosse a ele concedida uma porção daquelas águas.
A situação desse chafariz era muito crítica em função do seu traçado
defeituoso e de muitas imperfeições em sua construção, o que ocasionava
constante falta d’água na cidade. Por outro lado, as águas que escorriam pelas
torneiras do chafariz, deixadas abertas, empoçavam e exigiam que lhes fosse
dado escoamento, uma vez que eles despejavam as suas sobras na Lagoa de
Santo Antonio, “alagando a cidade, arruinando as casas e provocando
moléstias malignas”. As constantes brigas nas filas da água, obrigaram a
colocação de uma sentinela para o chafariz. Das providências adotadas,
nasceram a Rua da Vala, (hoje Rua Uruguaiana), Rua da Guarda Velha (hoje
13 de maio) e a Rua do Aljube, (hoje Rua do Acre).
O local era distante e perigoso e aqueles senhores que não dispunham
de escravos em número suficiente para essa empreitada, surgindo assim o
comércio das águas, exercido por escravos e índios aguadeiros, os quais, por
conta dos seus senhores, percorriam os caminhos, levando à cabeça as
vasilhas para vender surgindo assim o primeiro serviço de abastecimento
domiciliar de água que existiu no Rio de Janeiro.
No início do Aqueduto, em Santa Tereza, Gomes Freire construiu o
reservatório do Carioca, próximo ao que chamou de “Mãe D’Água”, bica pública
utilizada nos dias de hoje por excursionistas.
Os cariocas, que tiveram como primeira fonte de suprimento - o poço do
“Cara de Cão” - também se serviam desse recurso para saciar a sede. Alguns
destes poços tornaram-se famosos: do Porteiro (na base do antigo Morro do
Castelo em frente à Rua da Ajuda), o poço da Misericórdia, e o Pocinho da
Glória, (no início da Rua do Catete).
As cisternas, para recolher as águas das chuvas, foram outro recurso e
uma das mais antigas, datando do século XVII, encontra-se no Convento de
Santo Antonio. Exploradas as nascentes do Corcovado, foram sendo
conhecidos mananciais vizinhos na cidade, na direção do Rio Comprido,
Andaraí e Tijuca, Gávea e Botafogo.
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A população clamava por mais água e no final do século XVIII, a
deficiência do serviço teve até implicações políticas, sabendo-se que o alferes
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se propôs a abastecer a cidade
com águas dos mananciais da Tijuca.
Em 1833, uma companhia se candidatou a fazer chegar água encanada
às residências, mas não foi bem sucedida.
Não foram somente os senhores de escravos que fizeram, no Rio, o
comércio da água. No ano de 1840, Sebastião da Costa Aguiar aperfeiçoou o
primitivo comércio, criando uma frota de carroças; elas levavam aos
consumidores “a boa água do vintém”, proveniente da chácara do mesmo
nome, situada no final da rua Aguiar, no Largo da Segunda Feira.
À medida que o Rio de Janeiro crescia, foram sendo aproveitados os
mananciais explorados. A distribuição domiciliar ainda era privilégio de poucas
residências particulares, além das repartições públicas e templos religiosos.
Os principais mananciais explorados no século XIX e princípio do século
XX formaram os sistemas de Santa Tereza (Carioca, Lagoinha e Paineiras); o
da Tijuca (Maracanã, São João, Trapicheiro, Andaraí, Gávea Pequena,
Cascatinha); o da Gávea (Chácara da Bica, Piaçava, Cabeça, Macacos); o de
Jacarepaguá (Rio Grande, Covanca, Três Rios, Camorim); o de Campo Grande
(Mendanha, Cabuçu, Quininha, Batalha) e o de Guaratiba (Taxas e
Andorinhas).
Com o tempo foram construídos os reservatórios da Caixa Velha da
Tijuca (1850); o da Quinta da Boa Vista (1867); o da Ladeira do Ascurra (1868),
no Morro do Inglês e o do Morro do Pinto (1874).
No ano de 1876, o Governo Imperial, com o engenheiro Antonio Gabrielli
iniciou a construção da rede de abastecimento de água em domicílio e, assim,
foi possível a “abolição do antigo barril carregado à cabeça e das incômodas e
imundas bicas das esquinas”. Já se cogitava a medição da água fornecida.
Inicialmente, algumas dezenas de mananciais locais foram aproveitados, mas
no atual quadro do abastecimento, significam menos que 1% do consumo de
água do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense. Alguns desses mananciais
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atendem a uns poucos moradores que se localizam próximos ao ponto de
captação.
Pelo Regulamento 39, de 15 de janeiro de 1840, a concessão da água
que era feita por requerimento ao Ministério do Império, não podia exceder a
duas penas e o suprimento poderia ser suspenso no caso de estiagem. Por
este regulamento, a concessão que antes era gratuita, passa a ser cobrada em
forma de taxa, no valor de 100$0 por pena como “donativo gratuito”.
A regulamentação da cobrança adveio do Decreto 8775, de 25 de
novembro de 1882, com a instalação da pena d’água, instrumento regulado
pelas dimensões de um orifício praticado no diafragma do registro de
graduação conforme as pressões normais de trabalho dos respectivos
encanamentos, para um fornecimento de 1200 litros de água em 24 horas, que
já estava previsto em um relatório de 1862, da "Inspectoria Geral de Obras
Públicas da Corte".
Em 1898, foi iniciada a instalação de hidrômetros autorizada pela Lei
489, de 15 de dezembro de 1897 e o Decreto 2794, de 13 de janeiro de 1898,
“dá a regulamentação para a arrecadação de taxas de consumo de água na
Capital Federal”. Relativamente à arrecadação faz-se a cobrança das taxas de
pena nos meses de agosto de cada ano, e as de hidrômetro, por semestre, em
agosto do mesmo ano e fevereiro do ano seguinte.
A cidade do Rio de Janeiro continua em franca expansão e o aumento
populacional demonstra a necessidade de água para sua sobrevivência. O
clamor popular leva Sua Majestade Imperial a determinar que se buscasse
água em uma fonte abundante que, por si só, fosse capaz de satisfazer a todas
as necessidades, empreendendo-se, para esse fim, uma grande obra, que
atendesse a gerações futuras a solicitude do presente Reinado. Daí surge o
sistema determinado de “Sistema Acari ou de Linhas Pretas”, que foi utilizar-se
das águas da serras de Duque de Caxias e Nova Iguaçu, que são as captações
de São Pedro (1877), Rio D’Ouro (1880), Tinguá (1893), Xerém (1907) e
Mantiqueira (1908), cortando toda a Baixada Fluminense e trazendo esta água
para a Metrópole. As captações de regimes torrenciais e até o ano de 1940,
representavam 80% do volume de água disponível.
10
Do outro lado da Baía da Guanabara, no ano de 1892, teve início a
captação de águas para Niterói, oriundas da Serra de Friburgo, vindo
diretamente para o Reservatório de Correção, em Niterói. Outro manancial de
serra também utilizado para Niterói, nessa mesma época, foi o da Barragem de
Paraíso, em Teresópolis.
No início do século XX, devido às grandes estiagens, a administração de
serviço público de sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro
resolveu abandonar os estudos de reforço de suprimento de pequeno porte,
voltando-se para soluções de grande porte e apresentou dois projetos: um o
sistema Ribeirão das Lajes e a captação de águas dos rios Santana e Paraíba
do Sul. O primeiro foi executado, mas o segundo, teve que ser alterado uma
vez que se chocava com o da concessionária do serviço de energia elétrica,
que produzia energia através da transposição da Serra do Mar, das águas do
rio Paraíba do Sul, captando em Santa Cecília.
O rio Guandu foi o caminho utilizado pela LIGHT para o escoamento das
águas do rio Paraíba do Sul quando foi edificado o complexo Paraíba-Vigário
para geração de energia do Rio de Janeiro. Isto foi possível com a transposição
das águas do rio Paraíba do Sul para a bacia do rio Ribeirão das Lajes, feita
com uma instalação complexa, constituída das usinas elevatórias de Santa
Cecília e Vigário, bem como, dos reservatórios de Santa Cecília, Santana e
Vigário.
A energia elétrica desses subsistemas é gerada primeiramente nas
Usinas de Fontes e Nilo Peçanha. A seguir, as águas, já no talvegue do
Ribeirão das Lajes, formam o reservatório de Ponte Coberta, gerando
novamente energia na Usina de Pereira Passos. Somente após o ano de 1940,
a cidade do Rio de Janeiro deixou de ter o seu sistema de abastecimento de
águas sujeito a regimes sazonais de vazão, que se dividem nas chamadas
“grandes adutoras” e “pequenas adutoras”. Estes mananciais de pequeno porte
dentro dos limites do atual município do Rio de Janeiro, que são hoje cerca de
40 sistemas de captação superficial de água de boa qualidade, necessitam
somente de desinfecção e são utilizados para atender áreas urbanas em cotas
11
elevadas, próximas das captações, devido às dificuldades em atendê-los pelos
sistemas principais.
Isto só foi possível com a construção, no ano de 1940, da 1ª Adutora de
Ribeirão das Lajes e, em 1949, da 2ª Adutora da “Usina de Fontes Velhas” da
LIGHT, o que oferecia uma indispensável garantia de abastecimento perene e
ininterrupto. Este sistema proporcionou, a partir de 1949, uma vazão de 5100
litros por segundo a mais para o Rio de Janeiro.
Durante o mandato do prefeito Hildebrando de Góes, o engenheiro José
Franco Henriques, Diretor do Departamento de Águas, sugeriu a construção de
uma terceira adutora de grande diâmetro, com capacidade para 225 milhões de
litros por dia, a Guandu - Leblon, utilizando as águas do rio Guandu, já
previstas pelo engenheiro Henrique de Novaes.
No início da década de 50, o contínuo crescimento das demandas de
água da cidade do Rio de Janeiro, levou à captação das águas do rio Guandu,
já acrescidas de águas dos rios Paraíba, Piraí, Ribeirão das Lajes, Poços e
Santana.
Em 1951, iniciou-se um planejamento para suprir as necessidades de
água até 1970 e o manancial escolhido foi o rio Guandu, com uma capacidade
de 1,2 milhões de litros por dia.
O projeto inicial acabou se estendendo e, ao invés de terminar no
Reservatório do Engenho Novo, a adutora foi prolongada até a Zona Sul, no
Reservatório dos Macacos, onde entrou em operação no ano de 1958. Nesta
época, havia o ideal de abastecer 7,5 milhões de pessoas no ano de 2000 e,
por este motivo, em 1966 foi inaugurada a segunda adutora do Guandu, a
Adutora Veiga Britto, com a entrada em operação da Elevatória do Lameirão,
considerada a maior estação subterrânea do mundo.
Em Niterói, no ano de 1954, entrou em carga o sistema de captação do
Canal de Imunana com tratamento na ETA (estação de tratamento de água) do
Laranjal para uma vazão de mais de 500 litros por segundo. O Canal de
Imunana veicula as vazões de contribuição dos rios Guapiaçu e Macacu,
conduzindo-as à calha natural do rio Guapimirim. As características físicas,
químicas e bacteriológicas da água desse manancial, com base nos resultados
12
de análises e exames efetuados, demonstraram a necessidade de tratamento
completo para a sua potabilização.
A ETE (estação de tratamento de esgotos) da Penha foi acionada em
julho de 1960 com capacidade para processar 1686 litros de esgotos por
segundo e atender aproximadamente 1.000.000 de habitantes.
Em 1957, foi criada a superintendência de Urbanização e Saneamento
(SURSAN) e, em 1961, ocorreu um caos no abastecimento da cidade a partir
de uma ocorrência na Elevatória de Alto Recalque da Antiga Adutora do
Guandu. Neste mesmo ano, o Departamento de Águas foi incorporado a
SURSAN e a administração pública teve de recorrer a um empréstimo externo
para realizar obras, através de um contrato de, aproximadamente, 90 milhões
de dólares com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID.
Várias obras de construção de reservatórios foram feitas com este
recurso e criou-se a Companhia Estadual de Águas da Guanabara (CEDAG).
O Governo do Estado concedeu a CEDAG, a partir de 1966, o direito de
cobrar as contas de água.
A CEDAG remodelou seus reservatórios, substituiu tubulações, montou
seu cadastro próprio de consumidores, equipou-se com computadores da mais
alta tecnologia para aquele momento e iniciou a implantação da telemetria em
seu controle do sistema adutor. Até o ano de 1975, a CEDAE conseguiu
superar em parte seus problemas.
13
Legislação
A Constituição de 1988 estabelece que a água é um bem da União ou
dos estados, ressaltando que o seu aproveitamento econômico e social deve
buscar a redução de desigualdades.
Com base na Constituição de 1988 , foi elaborada a Política Nacional de
Recursos Hídricos (Lei 9.433 de 1997 ), que define a água como um bem de
domínio público, dotado de valor econômico. A Política também estabelece
diretrizes para o melhor aproveitamento.
Na Lei 9.433, o Capítulo IV trata dos instrumentos definidos para gestão
dos recursos hídricos, como a outorga pelo direito de uso da água e a cobrança
correspondente. Um dos objetivos da cobrança pelo uso da água é incentivar a
sua racionalização, que pode contemplar medidas de redução do consumo por
meio de melhorias no processo e pela prática de reúso.
A mesma lei também abrange em seu Capitulo II, Artigo 20, Inciso 1,
estabelece, entre os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos, a
necessidade de “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária
disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos
usos”.
Verificou-se, por intermédio dos Planos Diretores de Recursos Hídricos
de bacias hidrográficas - em levantamento realizado a fim de se conhecer mais
profundamente a realidade nas diversas bacias hidrográficas brasileiras - que
há a identificação de problemas relativamente à questão de saneamento
básico, coleta e tratamento de esgotos e propostas para a implementação de
planos de saneamento básico.
Entretanto, não se consegue identificar atividades de reuso de água
utilizando efluentes pós-tratados, isso deve-se ao fato, talvez, do ainda relativo
desconhecimento dessa tecnologia e por motivos de ordem sócio-cultural
A primeira regulamentação que tratou de reúso de água no Brasil foi a
norma técnica NBR- 13.696, de setembro de 1997. Na norma, o reúso é
abordado como uma opção à destinação de esgotos de origem essencialmente
doméstica ou com características similares.
14
O artigo terceiro da Resolução No 54 de 28 de novembro de 2005
estabelece as modalidades de reuso da água:
I – reuso para fins urbanos: utilização de água de reuso para fins de
irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos,
desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio,
dentro da área urbana;
II – reuso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reuso
para a produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;
III – reuso para fins ambientais: utilização de água de reuso para
implantação de projetos de recuperação do meio ambiente;
IV – reuso para fins industriais: utilização de água de reuso em
processos, atividades e operações industriais; e,
V – reuso na aqüicultura: utilização de água de reuso para a criação de
animais ou cultivo de vegetais aquáticos.
15
Agenda 21
A Agenda 21, recomendou aos países participantes da ECO 92, a
implementação de políticas de gestão dirigidas para o uso e reciclagem de
efluentes, integrando proteção da saúde pública de grupos de risco, com
práticas ambientais adequadas.
No Capítulo 21- “Gestão ambientalmente adequada de resíduos líquidos
e sólidos”, Área Programática B - “Maximizando o reuso e a reciclagem
ambientalmente adequadas”, estabeleceu, como objetivos básicos: "vitalizar e
ampliar os sistemas nacionais de reuso e reciclagem de resíduos", e "tornar
disponível informações, tecnologia e instrumentos de gestão apropriados para
encorajar e tornar operacional, sistemas de reciclagem e uso de águas
residuárias".
A prática de uso de águas residuárias também é associada, e suportiva,
às seguintes áreas programáticas incluídas nos capítulos 14 - “Promovendo a
agricultura sustentada e o desenvolvimento rural”, e 18 - “Proteção da
qualidade das fontes de águas de abastecimento - Aplicação de métodos
adequados para o desenvolvimento, gestão e uso dos recursos hídricos”,
visando a disponibilidade de água "para a produção sustentada de alimentos e
desenvolvimento rural sustentado" e "para a proteção dos recursos hídricos,
qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos".
Ressalta também no capitulo 18 o abastecimento de água potável e
saneamento, mostram as metas e atividades que os estados, segundo a sua
capacidade e mediante cooperação devem estabelecer, onde destacamos a
temática do reuso:
Ø Identificar os recursos hídricos de superfície e subterrâneos que
possam ser desenvolvidos para uso numa base sustentável e
outros importantes recursos dependentes de água que se possam
aproveitar e, simultaneamente, dar inicio a programas para a
proteção, conservação e uso racional desses recursos em bases
sustentáveis;
16
Ø Identificar todas as fontes potenciais de água e preparar planos
para a proteção, conservação e uso racional delas;
Ø Expansão do abastecimento hidráulico urbano e rural e
estabelecimento e ampliação de sistemas de captação de água
da chuva, particularmente em pequenas ilhas, acessórios à rede
de abastecimento de água; e
Ø Tratamento e reutilização segura de resíduos líquidos domésticos
e industriais em zonas urbanas e rurais.
Embora não exista, no Brasil, nenhuma legislação relativa, e nenhuma
menção tenha sido feita sobre o tema na nova Política Nacional de Recursos
Hídricos (Lei no.9.433 de 8 de janeiro de 1997), já se dispõe de uma primeira
demonstração de vontade política, direcionada para a institucionalização do
reuso.
A "Conferência Interparlamentar sobre Desenvolvimento e Meio
Ambiente" realizada em Brasília, em dezembro de 1992, recomendou, sob o
item Conservação e Gestão de Recursos para o Desenvolvimento (Parágrafo
64/B), que se envidasse esforços, a nível nacional, para "institucionalizar a
reciclagem e reuso sempre que possível e promover o tratamento e a
disposição de esgotos, de maneira a não poluir o meio ambiente".
17
Escassez do recurso hídrico
Até poucas décadas atrás, os livros clássicos usados nos cursos de
Economia, em todo mundo, davam como exemplo de "bem não econômico",
isto é, aquele que é tão abundante e inesgotável, a água, o oxigênio, o sal de
cozinha, etc, que não tinham, portanto, valor econômico.
Entende-se que existe em larga escala tal recurso no planeta, mas se
tratando de água potável apenas 0,5% está disponível nos corpos d'água da
superfície, isto é, rios e lagos, sendo que a maior parte, ou seja, 95%, está no
subsolo, que é, portanto a grande "caixa d'água" de água doce da natureza.
Em relação a distribuição da água doce no planeta não é homogênea, e
como a respectiva população, está distribuída, vamos verificar que ela está
"mal distribuída": há partes da Terra realmente com falta crônica desse
precioso líquido. O Brasil está muito bem neste aspecto, pois tem cerca de
12% de toda água doce existente na Terra, mas diríamos que sob o ponto de
vista de utilização humana, a mesma está "mal distribuída".
Futuramente poderá faltar água para consumo humano em nosso País,
é necessária uma espécie de gestão política – hídrica nacional para que nas
cidades, no campo, ou mesmo no nosso semi árido Nordestino utilize de forma
sustentável tal recurso.
A água precisa ser tratada como bem econômico que é, essencial à
vida, à saúde, à economia, na indústria, na agricultura e por todos os setores
da sociedade.
A bem da verdade, nota-se uma arregimentação geral na imprensa, nos
governos, na sociedade civil, para a problemática da escassez ; tarifas baixas
ou mesmo pífias impedem as companhias de abastecimento de se
capitalizarem, para expandir a rede, combater os vazamentos crônicos
existentes nas redes hidráulicas (manutenção), e ainda por cima, incentivam o
desperdício que permanece quase sempre generalizado nos lares, nas
indústrias, na agricultura.
Impedem também a construção de ETEs, Estações de Tratamento de
Esgoto, essenciais para a saúde e a economia, pois o esgoto de hoje, é a água
18
potável de amanhã. É louvável que no Estado do Rio de Janeiro há uma
preocupação da ETE ALEGRIA em melhoria no tratamento da água.
Nesse contexto, torna-se imprescindível o uso racional da água. O
destino da água em casa no Brasil, cerca de 200 litros diários, é: 27% consumo
(cozinhar, beber água), 25% higiene (banho, escovar os dentes), 12% lavagem
de roupa; 3% outros (lavagem de carro) e finalmente 33% descarga de
banheiro, o que mostra que, tanto nas cidades como nas indústrias se existirem
duas redes de água, reusando "água cinzenta" (que são as águas resultantes
de lavagens e banho) para descarga de latrinas, pode-se economizar 1/3 de
toda água.
Apesar que com o aumento da temperatura nos meses de dezembro a
fevereiro há um maior consumo –e consequentemente – desperdício d`água
principalmente no Estado do Rio de Janeiro pois culturalmente a população
imagina que este recurso é inesgotável.
Tanto nas grandes cidades como em vários municípios menores, o
sistema de esgoto é o principal poluente dos rios, nascentes e reservas
florestais, em muitos casos práticos, não há tempo para a natureza usar seus
mecanismos naturais de autodepuração e diluição.
Devemos atentar ao fato de que os aqüíferos subterrâneos estão
seriamente afetados, devido a prática da agricultura que utiliza agrotóxicos com
o intuito de combater pragas.
A sociedade brasileira precisa se mobilizar para impedir e/ou minimizar
o agravante da falta do recurso hídrico, o fato é que as grandes metrópoles
utilizam cada vez mais a água e deparamos com realidades de longos
períodos de estiagem, além do normal, provocando assim um êxodo sócio-
ambiental.
Tanto o capitalismo como a globalização se expandiram de tal forma,
que utiliza de forma insustentável o recurso hídrico e conseqüentemente
poluindo cada vez mais as bacias hidrográficas.
19
Necessidade de reuso
Nas regiões áridas e semi-áridas, a água se tornou um fator limitante
para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades
gestoras de recursos hídricos, idealizam novas fontes de recursos para
complementar a pequena disponibilidade hídrica seja para metrópoles ou
agricultura.
No polígono das secas do nosso nordeste, que já existe há 75 anos,
para a transposição do Rio São Francisco, visando o atendimento da demanda
dos estados não riparianos, da região semi-arida, situados ao norte e a leste de
sua bacia de drenagem.
Não devemos esquecer que a seca do sertão semi-árido pode ser
caracterizada como uma “politicagem” pois vários projetos já foram estudados
mas devido a uma falta de consenso ou comodismo cultural a população
nordestina sempre estará prejudicada. Infelizmente a transposição do Rio São
Francisco não valerá de nada, pois os seus afluentes não recebem a mesma
quantidade hídrica de anos anteriores.
Diversos países do oriente médio, onde a precipitação média oscila entre
100 e 200 mm por ano, dependem de alguns poucos rios perenes e pequenos
reservatórios de água subterrânea, geralmente localizados em regiões
montanhosas, de difícil acesso. A água potável é proporcionada através de
sistemas de desalinação da água do mar e, devido à impossibilidade de manter
uma agricultura irrigada, mais de 50% da demanda de alimentos é satisfeita
através da importação de produtos alimentícios básicos.
O fenômeno da escassez não é, entretanto, atributo exclusivo das
regiões áridas e semi-áridas; muitas regiões com recursos hídricos
abundantes, mas insuficientes para atender a demandas excessivamente
elevadas, também passam por conflitos de usos e sofrem restrições de
consumo, que afetam o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida.
Em se tratando de bacias hidrográficas, a Bacia do Alto Tietê, dispõe
pela sua condição característica de manancial de cabeceira, vazões
insuficientes e municípios circunvizinhos. Esta condição, tem levado à busca
incessante de recursos hídricos complementares de bacias vizinhas, que
20
trazem, como conseqüência direta, aumentos consideráveis de custo, além dos
problemas legais e político-institucionais associados. Esta prática tende a se
tornar cada vez mais restritiva, face à conscientização popular, arregimentação
de entidades de classe e ao desenvolvimento institucional dos comitês de
bacias afetadas pela perda de recursos hídricos valiosos.
O ”reuso” reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à
substituição da água potável por uma água de qualidade inferior. Essa prática,
atualmente muito discutida, posta em evidência e já utilizada em alguns países
é baseada no conceito de substituição de mananciais. Tal substituição é
possível em função da qualidade requerida para um uso específico.
Dessa forma, grandes volumes de água potável podem ser poupados
pelo reuso quando se utiliza água de qualidade inferior (geralmente efluentes
pós-tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir desse
recurso dentro dos padrões de potabilidade.
Nessas condições , o conceito de "substituição de fontes", se mostra
como a alternativa mais plausível para satisfazer a demandas menos
restritivas, liberando as águas de melhor qualidade para usos mais nobres,
como o abastecimento doméstico.
As águas de qualidade inferior, tais como esgotos, particularmente os de
origem doméstica, águas de drenagem agrícola e águas salobras, devem,
sempre que possível, serem consideradas como fontes alternativas para usos
menos restritivos.
O uso de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento dessas
fontes, se constitui hoje, em conjunção com a melhoria da eficiência do uso e o
controle da demanda, na estratégia básica para a solução do problema da falta
universal de água.
21
Reutilização do recurso hídrico
A crescente demanda por água tratada tem feito do reuso planejado de
água um tema atual e de grande importância, principalmente na nova política
nacional de recursos hídricos. (MACHADO)
A reutilização, reuso, uso de águas residuárias são algumas definições
e/ou gestões para a utilização sustentável do recurso hídrico. Consiste no
processo pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro
fim. Essa reutilização pode ser direta ou indireta, decorrentes de ações
planejadas ou não.
Este não é um conceito novo e tem sido praticado em todo o mundo há
anos, existindo relatos da prática na Grécia Antiga, com a disposição de
esgotos e sua utilização na irrigação. No entanto, a demanda crescente por
água tem feito do reuso planejado da água um tema atual e importância
mundial.
Neste sentido, deve-se considerar o reuso de água como parte de uma
atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o qual
compreende também o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da
produção de efluentes e do consumo de água.
A prática de conservação e reuso de água, que vem se disseminando
em todo o Brasil, consiste basicamente na gestão da demanda, ou seja, na
utilização de fontes alternativas de água e na redução dos volumes de água
captados por meio da otimização do uso.
A gestão da demanda se inicia por um processo integrado de
identificação e medição contínua de demandas específicas de cada sub-setor
industrial.(FIRJAN)
Através do ciclo hidrológico a água se constitui em um recurso
renovável. Quando reciclada através de sistemas naturais, é um recurso limpo
e seguro; através da atividade antrópica, deteriorada a níveis diferentes de
poluição ( chuva ácida e afins), a água pode ser recuperada e reusada para
fins diversos.
22
A qualidade da água utilizada e o objeto específico do reuso,
estabelecerão os níveis de tratamento recomendados, os critérios de
segurança a serem adotados e os custos de capital e de operação e
manutenção associados.
As possibilidades e formas potenciais de reuso dependem de
características, condições e fatores locais, tais como decisão política,
esquemas institucionais, disponibilidade técnica e fatores econômicos, sociais
e culturais.
As inúmeras classificações do reuso serão abordadas abaixo:
O reúso indireto não planejado da água ocorre quando a água, utilizada
em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente
utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não
controlada. Caminhando até o ponto de captação para o novo usuário, a
mesma está sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico (diluição,
autodepuração).
Já o Reúso indireto planejado da água, ocorre quando os efluentes
depois de tratados são descarregados de forma planejada nos corpos de águas
superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira
controlada, no atendimento de algum uso benéfico.
O reuso indireto planejado da água pressupõe que exista também um
controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho,
garantindo assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com
outros efluentes que também atendam ao requisitos de qualidade do reuso
objetivado.
Em se tratando do reúso direto planejado das águas, ocorre quando os
efluentes, após tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de
descarga até o local do reuso, não sendo descarregados no meio ambiente.
Tendo como caso de maior ocorrência, o uso em indústria ou irrigação.
No setor urbano, o potencial de reuso de efluentes é muito amplo e
diversificado. Entretanto, usos que demandam água com qualidade elevada,
requerem sistemas de tratamento e de controle avançados, podendo levar a
custos incompatíveis com os benefícios correspondentes. De uma maneira
23
geral, esgotos tratados podem, no contexto urbano, serem utilizados para fins
potáveis e não potáveis.
A presença de organismos patogênicos e de compostos orgânicos
sintéticos na grande maioria dos efluentes disponíveis para reuso,
principalmente naqueles oriundos de estações de tratamento de esgotos de
grandes conturbações com pólos industriais expressivos, classifica o reuso
potável como uma alternativa associada a riscos muito elevados, tornando-o
praticamente inaceitável. Além disso, os custos dos sistemas de tratamento
avançados que seriam necessários, levariam à inviabilidade econômico-
financeira do abastecimento público.
A sistemática do reuso indireto, se compreende a diluição dos esgotos,
após tratamento, em um corpo hídrico (lago, reservatório ou aqüífero
subterrâneo), no qual, após tempos de detenção relativamente longos, é
efetuada a captação, seguida de tratamento adequado e posterior distribuição.
O reuso indireto implica, reduzir a carga poluidora a níveis aceitáveis;
esta prática do reuso para fins potáveis, na qual a água altamente poluída por
efluentes, tanto domésticos como industriais, é revertida, sem nenhum
tratamento, para outro manancial, também extensivamente poluído por esgotos
domésticos e por elevadas concentrações de cobre, utilizados para controle de
algas, não se classifica, portanto, como reuso indireto.
Na ótica industrial, a prática adequada do reuso, deve ser identificada a
qualidade mínima da água necessária para um determinado processo ou
operação industrial.
Muitas vezes, não existe informação sobre o nível mínimo de qualidade
de água para uma atividade industrial, o que pode dificultar a identificação de
oportunidades de reúso.
É necessário, portanto, um estudo mais detalhado do processo industrial
para a caracterização da qualidade de água. Simultaneamente, é preciso
realizar um estudo de tratabilidade do efluente, para que seja estabelecido um
sistema de tratamento que produza água com qualidade compatível com o
processo industrial considerado.
24
Em alguns casos, a qualidade da água de reuso pode ser definida com
base nos requisitos exigidos por processos industriais como as torres de
resfriamento em que a qualidade mínima necessária é conhecida, devido à sua
ampla utilização em atividades industriais.
Aproveitamento de águas de chuva
As águas de chuva são encaradas pela legislação brasileira hoje como
esgoto, pois ela usualmente vai dos telhados, e dos pisos para as bocas de
lobo aonde, como "solvente universal", vai carreando todo tipo de impurezas,
dissolvidas, suspensas, ou simplesmente arrastadas mecanicamente, para um
córrego que vai acabar dando num rio que por sua vez vai acabar suprindo
uma captação para Tratamento de Água Potável. Claro que essa água sofreu
um processo natural de diluição e autodepuração, ao longo de seu percurso
hídrico, nem sempre suficiente para realmente depura-la.
Uma pesquisa da Universidade da Malásia, deixou claro que após o
início da chuva, somente as primeiras águas carreiam ácidos,
microorganismos, e outros poluentes atmosféricos, sendo que normalmente
pouco tempo após a mesma já adquire características de água destilada, que
pode ser coletada em reservatórios fechados.
Esta utilização é especialmente indicada para o ambiente rural,
chácaras, condomínios e indústrias. O custo baixíssimo da água nas cidades,
pelo menos para residências, inviabiliza qualquer aproveitamento econômico
da água de chuva para beber. O Semi árido Nordestino tem projetos como as
construções de cisternas para água de beber para seus habitantes.
O aproveitamento desta água na industria é benéfica devido às grandes
áreas de telhados e pátios disponíveis na maioria das indústrias. Além de
apresentarem qualidade superior aos efluentes considerados para reúso, os
sistemas utilizados para sua coleta e armazenamento não apresentam custos
elevados e podem ser amortizados em períodos relativamente curtos. (FIRJAN)
25
Esta fonte deve ser utilizada, na maioria das vezes, como complementar
às fontes convencionais, principalmente durante o período de chuvas intensas.
Os reservatórios de descarte e de armazenamento devem ser projetados para
condições específicas de local e de demanda industrial.
Águas Residuárias
Águas residuais ou residuárias são todas as águas descartadas que
resultam da utilização para diversos processos.
Exemplos destas águas são: águas residuais domésticas ( provenientes
de: banhos, cozinhas, lavagens de pavimentos domésticos); águas residuais
industriais ( resultantes de processos de fabricação); águas de infiltração
( resultam da infiltração nos coletores de água existente nos terrenos ou de
tubulações públicas); águas urbanas(resultam de chuvas, lavagem de
pavimentos, regas e afins).
As águas residuais transportam uma quantidade considerável de
materiais poluentes que se não forem retirados podem prejudicar a qualidade
das águas dos rios, comprometendo não só toda a fauna e flora destes meios,
mas também, todas as utilizações que são dadas a estes meios, como sejam, a
pesca, a balneabilidade, a navegação, a geração de energia, entre outros.
Reuso da água presente no esgoto
É o projeto mais aplicado em nível mundial, inclusive no Brasil.
Um esgoto tratado a ponto de ser devolvido aos rios e aqüíferos é
suficientemente limpo para lavagem de ruas, rega de parques e aplicações de
cunho industrial.
No lar essa água tem uso na limpeza de vasos sanitários, rega de
jardins e lavagem de carros. Essa água poderia substituir cerca de 40% da
água potável consumida no lar.
Mas a distribuidora não tem condições de oferecer essa água ao usuário
final, pois isto representaria a instalação de mais um sistema de distribuição de
água, paralelo ao que já foi implantado para a água potável.
26
A implantação de rede dupla de distribuição nas residências e
condomínios deve ser proposta para novos empreendimentos, pois a
implantação em empreendimentos já existentes pode ser de difícil solução e
tornar as obras bastante onerosas.
Fica a alternativa da compra e os obrigatórios cuidados na manutenção
de caras estações de tratamento mono ou multi-familiares, que poderiam
fornecer a água de reuso proveniente do esgoto familiar ou comunitário.
Atualmente grandes construtoras imobiliárias constroem estações de
tratamento durante as obras, com o intuito de amenizar a descarga de
efluentes sólidos ou in natura nas redes de tratamento. Este fato acontece
principalmente na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Mas devido a falta de
fiscalização vários condomínios luxuosos continuam a despejar esgotos in
natura a céu aberto.
Reuso de águas cinza
São provenientes da água do chuveiro, águas de enxágüe de máquina
de lavar e afins.
A grande importância ao se projetar o sistema de reuso de águas cinza é
o dimensionamento dos reservatórios. Deve-se levar em consideração o
volume que deverá ser utilizado nas descargas sanitárias em um máximo de
48h para que desta forma seja evitada a estocagem prolongada que fatalmente
ocasionará odores desagradáveis.
Dentre os cuidados a serem observados devido ao reuso das águas
cinzas é que o reservatório inferior deverá ter um ladrão para que o excesso de
água, ao atingir o limite do volume estipulado para reuso seja direcionada a
rede de esgoto;
O reservatório superior deverá ser esvaziado caso não haja utilização
nas bacias sanitárias em 48h;
O sistema de distribuição das águas cinzas deverá ter coloração
diferenciada;
27
A sedimentação e filtração são essenciais para eliminação de
protozoários e helmintos. A desinfecção é essencial para o sistema de reuso
das águas cinzas em descargas sanitárias para eliminação de bactérias e
vírus.
Após a filtragem. a água deverá ser tratada dentro de um reservatório
com "cloro orgânico" (produto que não formam sub-produtos cancerígenos) o
que garantirá a desinfecção e conservação, deixando a água segura para o
reuso no vaso sanitário.
Recarga de Aqüíferos
A recarga forçada do aqüífero é uma alternativa muito boa, pois cerca de
95% da água doce do Planeta está estocada no subsolo, que tem sido a
grande "Caixa D'Água" da natureza.
Hoje em dia, porém, a enorme maioria de indústrias e condomínios está
largamente construindo cada vez mais poços profundos: de maneira geral,
pode-se dizer que sua produção está em decadência, pois a "procura" supera
muito a "oferta". Além disso, há uma significativa redução da recarga natural de
aqüíferos devido ao aumento de áreas impermeabilizadas.
A recarga artificial de aqüíferos com efluentes tratados pode ser
empregada para finalidades diversas, incluindo o aumento de disponibilidade e
armazenamento de água, controle de salinização em aqüíferos costeiros,
controle de subsidência de solos.
28
Riscos à saúde da prática do reuso
Toda gestão que utilize o reuso d` água deve ser feita de forma
consciente, do contrário os contaminantes presentes na água sejam eles
biológicos ou químicos podem prejudicar tanto o solo como o ser humano,
colocando assim a credibilidade e a viabilidade da implantação do reuso em
risco.
A Organização Mundial da Saúde não recomenda o reuso direto,
visualizado como a conecção direta dos efluentes de uma estação de
tratamento de esgotos a uma estação de tratamento de águas e, em seguida,
ao sistema de distribuição.
É ilustrado por Rodrigues, 2005 a seguinte quadro abaixo:
29
Benefícios do reuso para fins agrícolas
É sabido que vários paises utilizam de forma consciente ou não os
sistemas de reuso, devemos observar que através de padrões específicos é de
fato benéfica e sustentável esta prática.
Além disso minimiza as descargas de esgotos em corpos de água,
preserva os recursos subterrâneos, principalmente em áreas de aqüíferos (na
América do Sul o Aqüífero Guarani).
Preserva o solo devido ao húmus e consequentemente aumenta a
matéria orgânica, a resistência de erosões e retenção de água.
Na ótica social o reuso aumenta a produção de alimentos e elevando
assim a qualidade de vida.
Efluentes adequadamente tratados podem ser utilizados para aplicação
em:
Ø Culturas de alimentos não processados comercialmente: Irrigação
superficial de qualquer cultura alimentícia, incluindo aquelas
consumidas cruas;
Ø Culturas de alimentos processados comercialmente: Irrigação
superficial de pomares e vinhas;
Ø Culturas não alimentícias: Pastos, forragens, viveiros de plantas
ornamentais, fibras e grãos;
Ø Proteção contra geadas.
Devemos atentar ao fato de que o acumulo de contaminantes químicos
(por exemplo nitrato) no solo é um efeito negativo que ocorre quando o sistema
é inadequado ou por longos períodos.; além de causar salinidade em camadas
saturadas pelo acumulo de compostos tóxicos, orgânicos e inorgânicos.
A melhor forma é a irrigação de esgotos de origem predominantemente
doméstica.
“A qualidade da água para irrigação os componentes considerados
importantes em águas de reuso para irrigação agrícola, levando-se em conta
seus efeitos sobre as plantas, são a salinidade, as substâncias tóxicas, o sódio,
o cloro, e os nutrientes.
30
Suas concentrações na água dependem, entre outros fatores, do tipo de
esgotos utilizados, especialmente da parcela de contribuição de efluentes
industriais e dos processos de tratamento empregados na recuperação de
água.”(BLUM 2007)
A aplicação de esgotos por períodos extensos cria pequenos habitats,
levando a proliferação de vetores transmissores de doenças casuais e
espécies de moluscos (caramujos).
É necessário que haja uma medida de controle governamental sobre
sistemas de reuso agrícola a serem aplicados em culturas especificas, pois
nem todas podem utilizar esta prática. Mas sabemos que existem várias
agriculturas que a utilizam sem qualquer consentimento ou consciência.
Reuso na agricultura e saúde pública
Devido ao aumento populacional anual várias extensões de produção
agrícola utilizam de forma desenfreada mananciais. Atualmente estes
mananciais não suprem tais plantações.
A cada ano longos períodos de estiagem obrigam produtores rurais a se
adaptarem; o reuso da água foi uma delas.
Mas devemos atentar ao fato de como é feito este reuso. De uma
maneira em geral, não foram considerados os riscos patológicos desta prática
de reuso. Infelizmente, diversos Estados brasileiros vêm adotando, por
intermédio de suas entidades de controle ambiental ou companhias de
saneamento, algumas normas; inclusive para a aplicação de esgotos e
biossólidos em solos agrícolas, desenvolvidas em paises industrializados, que
possuem características ambientais, técnicas culturais e socioculturais bem
distintos e diferenciadas.
“A intoxicação por compostos químicos, nos casos de ingestão direta,
inalação, consumo de alimentos irrigados com água contaminada, pode ser do
tipo agudo ou crônico, dependendo, entre outros fatores, das concentrações
presentes e do tipo e freqüência do contato” (BLUM 2007).
31
Casos exemplares
Projeto de redução do consumo de água potável pela aplicação de
técnicas avançadas de separação por membranas para o tratamento e reuso
de águas superficiais e efluentes Bayer S. A.
Este projeto visa reduzir o consumo de água potável, fornecido pela rede
publica de abastecimento para o Complexo Industrial da Bayer em Belford
Roxo, com a aplicação de técnicas avançadas de tratamento para o aumento
da eficiência do fornecimento de água industrial.
O projeto consiste em duas etapas: construção de uma estação de
captação de água do Rio Sarapuí e o reaproveitamento de parte do efluente
tratado e descartado pela Estação de Tratamento de Despejos Industriais
(ETDI). Com a iniciativa, a Bayer deixou de consumir cerca de 80 milhões de
litros de água potável por mês da CEDAE.
Alternativa em residências
Usar vasos sanitários com caixa acoplada para limitar o volume de água
por descarga, atualmente existe alguns modelos. Nesse caso pode-se
escolher vasos que sejam projetados para usar um volume mínimo de água, e
que esse volume seja suficiente para uma boa limpeza do vaso (por volta de
seis litros). O usual é em torno de dez litros por descarga.
Em alguns modelos é possível diminuir o nível de água dentro da caixa
de descarga ajustando a torneira bóia para fechar em um nível mais baixo.
Cremos que o mínimo esteja por volta de 4,5 litros por descarga. Existem
outros modelos como os sistemas a vácuo e os banheiros secos.
32
Tratamento de chorume no aterro de Gramacho
O chorume um dos principais agentes contaminantes do solo e
conseqüentemente também dos lençóis freáticos, passou a receber tratamento
específico para tornar-se água potável.
Através de processos químicos e biológicos reduzem seu espectro
poluidor reduzido a níveis mínimos ou ser neutralizado.
No município de Duque de Caxias localizado no Estado do Rio de
Janeiro, localiza-se o Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, realiza medidas
para conter a contaminação do chorume no solo.
O Coordenador do Projeto Luciano Alves relata: ” Através de um sistema
de nanofiltração, o chorume coletado nas canaletas construídas no entorno do
manguezal de Gramacho é tratado, transformando-se em água potável e
posteriormente, lançado na Baía de Guanabara”.
O sistema de tratamento do aterro que atualmente está em fase de
expansão tem capacidade para filtrar até 400 mil litros de chorume por dia.
Eletronuclear
A Eletronuclear a estatal responsável pelas usinas Angra I e II utiliza em
demasia o recurso hídrico em seus processos de geração de energia elétrica.
Os processos que lidam com a água nas usinas tem como principais
circuitos:
Ø Circuito primário: na qual a água passa pelo reator e recebe
grande quantidade de energia na forma de calor.
Ø Circuito secundário: neste a água que se transforma em vapor
gira as turbinas, que por sua vez movimentam o gerador elétrico.
Ø Água do mar: esta é utilizada no sistema de resfriamento da
usina, que passa pelos canos por baixo da central nuclear, não
havendo contato com os reatores.
Os processos de tratamento da água incluem filtros, resinas,
evaporadores e um sistema de controles e monitoramentos das condições
químicas permitindo que ocorra o mínimo de perda d` água.
33
Conclusão
Através de consultas bibliográficas e de sites específicos foi observado
que o assunto abordado neste trabalho é bastante amplo, mas ao mesmo
tempo dispersivo de forma geral.
Houve inicialmente uma preocupação de organizações ambientais para
o consumo consciente da água; mas devemos nos lembrar que em grandes
metrópoles (como Rio de Janeiro e São Paulo) a sociedade não se preocupa
com o gasto excessivo deste recurso hídrico ao ponto de ser uma questão
cultural. Isto já não ocorre no sertão nordestino, onde há vários projetos e
gestões hídricas (como é o caso de Sergipe).
Toda empresa que se instala próximo de um recurso acaba poluindo-o
direta ou indiretamente.
Projetos - piloto de reuso da água surgiram de forma simples por
engenheiros, biólogos e estudiosos no tema.
A Agenda 21 criada na ECO 92 realizada no Município do Rio de Janeiro
se preocupou em alertar a sociedade para o consumo sustentável do recurso
hídrico. Leis são realmente necessárias, porque as leis ambientais brasileiras
são reconhecidas mundialmente, mas devido a carência de fiscalização
empresas, condomínios e áreas rurais que não se preocupam em utilizar de
forma sustentável a água.
É de grande valia que a CEDAE, em suas Estações de Tratamento se
preocupa em tornar a água potável e conseqüentemente distribuir à
população e afins.
Enfim, o recurso hídrico é finito, devemos preservar um dos maiores
aqüíferos da América Latina (o aqüífero Guarani), pois devido as práticas
agrícolas entre outras ações ocorrendo assim a degradação.
Devemos também preservar as bacias hidrográficas reduzindo
instalações de fábricas ou as mesmas se comprometerem em aplicar gestões
ambientais de reuso. Mas principalmente a criação de campanhas de
conscientização para a economia e reuso da água na sociedade,
principalmente nas metrópoles, de que o recurso hídrico através dos anos se
torna cada vez mais escasso e na maioria das vezes poluído.
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Referências
BLUM, José Roberto Coppini. Reuso de água. Editores Pedro Caetano Sanches Mancuso, Hilton Felício dos Santos - Barueri, SP: Manole, 2007.
JB Ecológico, Revista. Artigo: A historia da água no Rio de Janeiro; ed.
no. 74, mar 2005, ano 5, 40 p. RODRIGUES, Raquel dos Santos. As dimensões legais e institucionais
do reuso de água do Brasil:proposta de regulamentação do reuso no Brasil. Dissertação de mestrado, EPUSP-PHD – São Paulo, 2005. 177p.
Conselho Nacional do meio Ambiente – CONAMA. Resolução no. 357,
de 2005.
Artigos eletrônicos
SALDANHA, Carlos José. Reuso da água doce, Revista ECO 21; ed. 86, acessado em 19/01/2010 às 14:16h
Reuso de água, extraído de www.ana.gov.br. Acessado em 22/01/2010
às 8:50h. Reuso de água, extraído de www.portalsaofrancisco.com.br. Acessado
em 18/1/2010 às 10:00h. Técnicas de reaproveitamento, extraído de www.sociedadedosol.com.br.
Acessado em 18/1/2010 às 12:30h. Manual de conservação e reuso da água na industria. FIRJAN; acessado
em 22/1/2010 às 9:00h
Artigo de jornal
VIDA & MEIO AMBIENTE. Chorume vira água potável e limpa a Baía de Guanabara; Jornal O DIA, em 22/3/2009, RJ.