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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE UNIDADE TIJUCA – RJ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE LATERALIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Por Andréa Tereza Sartório Soares PROFESSORA ORIENTADORA: MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA RIO DE JANEIRO 2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

UNIDADE TIJUCA – RJ

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE

LATERALIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Por

Andréa Tereza Sartório Soares

PROFESSORA ORIENTADORA: MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA

RIO DE JANEIRO

2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

UNIDADE TIJUCA – RJ

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE

LATERALIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Monografia apresentada a Universidade Cândido Mendes como

requisito para a conclusão do curso de pós-graduação Lato-Sensu

em Psicomotricidade na disciplina de Metodologia da Pesquisa

Por: Andréa Tereza Sartório Soares

Professora Orientadora: Maria Esther de Araújo Oliveira

RIO DE JANEIRO

JUlHO/2002

DEDICATÓRIA

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Dedico este trabalho aos professores Mário Heleno Machado e Ilka Maria Alves,

pela oportunidade e credibilidade no meu potencial como educadora em minhas primeiras turmas

de um grupo escolar.

Dedico também aos meus alunos por me permitirem um trabalho prazeroso e me

ajudarem no caminhar da minha vida profissional.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus pelo dom da vida e da sabedoria, pois se não por

ele, a semente não germinaria e eu aqui não estaria.

Agradeço aos meus pais por sempre me apoiarem, acreditando em

mim, e me deixando a melhor herança, que são os meus estudos.

Agradeço também a Washington de Lima e Silva, por nas horas

mais difíceis desse meu novo caminhar, estar sempre por perto como amigo e

namorado, ajudando-me a crescer profissionalmente em mais uma etapa de

conhecimentos e como pessoa, na sensibilidade e humildade.

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RESUMO

Esta pesquisa tem como finalidade, mostrar a importância da lateralidade no desenvolvimento infantil, para que futuramente não venha acarretar uma serie de deficiências no que se refere ao comprometimento motor na fase da puberdade e adulta. Abordamos alguns aspectos na latitude, como: a definição; os tipos de laterização, que podem ser: a destralidade verdadeira, a sinistralidade verdadeira, a falsa sinistralidade e a falsa destralidade; as perturbações da laterização, como: a lateralidade cruzada e a ambidestralidade; a evolução e desenvolvimento da lateralidade na infância e na puberdade; o conhecimento de “esquerda direta”. Temos também alguns tipos de avaliação relacionados a lateralidade com testes e atividades grafomotoras que podem ver a nos dá resultados positivos para uma boa lateralização, evitando qualquer perturbação futura.

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SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................04 INTRODUÇÃO.......................................................................................................06 CAPÍTULO I 1 – O QUE É LATERALIDADE?.........................................................................07

1.1 – Definições.............................................................................................07 1.2 – Hipóteses sobre a prevalência manual..............................................08 1.3 – Origens da lateralidade.......................................................................10

CAPÍTULO II 2 – TIPOS DE LATERALIZAÇÃO.......................................................................12

2.1 – Destralidade Verdadeira......................................................................13 2.2 – Sinistralidade Verdadeira....................................................................13 2.3 – Falsa sinistralidade..............................................................................14 2.4 – Falsa Destralidade...............................................................................14

CAPÍTULO III 3 – PERTURBAÇÕES DA LATERALIZAÇÃO...................................................16

3.1 – Lateralização Cruzada.........................................................................16 3.2 – Ambidestralidade.................................................................................17

CAPÍTULO IV 4 – EVOLUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LATERALIDADE.......................19

4.1 – Lateralização e Desenvolvimento na Infância...................................19 4.2 – Lateralização na Puberdade...............................................................21

CAPÍTULO V 5 – LATERALIDADE E CONHECIMENTO “ESQUERDA-DIREITA”................22 CAPÍTULO VI 6 – AVALIAÇÃO DA LATERALIDADE..............................................................24

6.1 – Testes de Lateralidade........................................................................24 6.1.1 – Dominância Lateral.........................................................................24 6.1.2 – Orientação direita-esquerda............................................................25

6.2 – Atividades Grafomotoras....................................................................25 6.2.1 – Evolução do Grafismo.....................................................................26 6.2.2 – Atividade Psicomotora através do Grafismo...................................26 6.2.3 – Simbolismo e Interpretação do Desenho........................................27 6.2.4 – Atividade Gráfica e a Reeducação..................................................27

CONCLUSÃO........................................................................................................29 GLOSSÁRIO..........................................................................................................30 BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................32

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INTRODUÇÃO

Existe um predomínio motor com dominância em um dos lados do

corpo, preferencialmente, onde apresenta maior força, precisão e rapidez,

executando a ação principal, embora, sendo auxiliado pelo outro lado que

também é importante, funcionando os dois lados de forma complementar,

apresentando-se em origem fisiológica e cultural, mas também em três níveis:

mão, olho e pé.

Algumas teorias explicam o porquê da preferência de um lado do

corpo em relação a outro, e evidências sobre a evolução da lateralidade em

função do cérebro, confiadas basicamente em dados clínicos, por Neurologistas,

em uma lesão unilateral que ocorre nos primeiros tempos de vida.

A prática de atividades recreativas, referentes a lateralização da

criança na vida escolar e em uma determinada seqüência lógica, partindo de

atividades simples para as mais complexas, podem favorecer e muito no

desenvolvimento infantil, sendo habituais e diferenciadas e em uma certa série de

repetições, sem que se torne de uma forma autoritária e repetitiva, mais de modo

prazeroso.

Explicitando lateralidade, visando os benefícios no desenvolvimento

infantil e a sua importância quando bem trabalhada, prevenindo uma deficiência

nas fases da adolescência e adulta.

Esta pesquisa atingiu através de experimentos e observações em

alunos de um grupo escolar, do primeiro segmento do ensino fundamental,

relatando citações exploratórias, experimental e bibliográfica.

A deficiência no aprendizado da lateralidade na infância como

habilidade motora, pode ser extensa, devido ao problema individualizado da

criança em relação à própria assimilação em cima de limites e atenção.

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CAPÍTULO I

1 – O QUE É LATERALIDADE?

Buscando em vários autores, como Faria(2001), uma definição

do termo “lateralidade”, encontramos várias definições com uma terminologia

diferenciada, porem, em essência parecem concordantes entre si.

1.1 – Definições:

A Psicomotricidade é uma modalidade global educativa, que leva a

tomar consciência de si mesma, de seu espaço, de seu esquema corporal, de sua

coordenação, do domínio do tempo, de seus gestos e movimentos, para a

afirmação da lateralidade.

A lateralidade é uma das habilidades motoras com um grande índice

de dificuldade na assimilação do desenvolvimento infantil, onde sabemos que a

lateralização constitui um elemento importante na adaptação psicomotora.

Existem problemas apresentados pela lateralidade, mais ainda não

se sabe ao certo qual a fundamentação desses dois tipos de origens: a fisiológica

e a cultural, e sim que a lateralidade é de grande importância para o

desenvolvimento psicomotor.

A lateralidade é parte da assimetria, onde há um predomínio em

partes de lados opostos distribuídas em torno de um centro ou eixo.

Segundo Negrine (1987), ele nos afirma que é bom enfatizar que a

lateralidade corporal refere-se ao espaço interno do individuo, que o capacita a

utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço que o outro em atividades que

requeiram habilidade, caracterizando-se por uma assimetria funcional.

Para Le Boulch (1984), a lateralização é: “Uma tradução de um

predomínio motor referido aos segmentos direito ou esquerdo do corpo”.

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A lateralidade é definida por Romero (1988) como predomínio de um

lado do corpo sobre o outro, sendo à utilizada com maior regularidade para referir-

se à predominância de uma mão sobre a outra, por ser mais freqüente.

É também considerada como a propensão do ser humano em utilizar

de forma preferencial, um lado do corpo em relação ao outro nos níveis de: mão,

olho e pé.

Podemos observar através de atividades de coordenação motora

fina (utilização das mãos), a preferência dos membros superiores, e de atividades

de equilíbrio e de atividades motoras (utilização dos pés), a preferência dos

membros inferiores, diz a Professora de Educação Física Carla Cristina Medeiros

Fontes da Silva de CREF 8243; já no que se refere à visão (utilização dos olhos),

pode ser percebida através de atividades viso-motoras ou óculo-manual, e

podemos também detectar através de alguns exames na área da oftalmologia,

onde também percebemos esse tipo de preferência nos relata a Doutora Sonia

Moura de CRM 5253791-6.

Segundo a Doutora Claudice Maria Paz Duarte de CRO 27299, a

lateralidade também pode ser observada através de sua arcada dentaria, onde

um dos lados tem dentes mais comprometidos e mais gastos pela mastigação. É

muito difícil um leigo, constatar essa preferência pelo lado dominante.

1.2 – Hipóteses sobre a prevalência manual:

De acordo com hipóteses e teorias sobre a dominância em relação à

lateralidade, sabemos que ela é existente em um dos lados do cérebro, e que

funciona de forma cruzada. Isto quer dizer que, no destro, encontramos uma

dominância do córtex cerebral esquerdo; e no sinistro, o hemisfério cerebral

direito controla e coordena as atividades do lado esquerdo.

Esta conclusão foi tirada dos estudos realizados por Broca

(Guilherme, 1983) em indivíduos com afasia. Ele verificou que um distúrbio no

hemisfério cerebral esquerdo provocaria uma hemiplegia.

Le Boulch (1984) destaca que a dominância hemisférica cerebral é a

base anatômica da prevalência manual. Do ponto de vista anatômico, podemos

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dividir o cérebro em dois hemisférios, o direito e o esquerdo, cada um com

determinadas funções específicas.

A dominância hemisférica cerebral é um dos fatores utilizados para

explicar a lateralidade, segundo Romero (1988).

O lado direito do cérebro domina o lado esquerdo do corpo e o lado

esquerdo domina o lado direito do corpo.

O predomínio lateral é funcional e relativo, não significando mesma

proporção de destros e sinistros.

Quando há dominância do hemisfério esquerdo, temos o indivíduo

destro e, quando ocorre a dominância do hemisfério direito, temos o indivíduo

sinistro.

Na hipótese da influência do meio psico-social-afetivo e educacional,

a preferência por uma determinada dominância lateral, se dá através do

aprendizado. Aprendendo a escrever com a mão direita ou esquerda, de acordo

com o nosso meio, seja por imposição, por imitação, por questão afetiva, etc.

A lateralização é a tradução de uma assimetria funcional. Os

espaços motores do lado direito e do lado esquerdo não são homogêneos. Esta

desigualdade vai se tornar mais precisa durante o desenvolvimento e vai

manifestar-se durante os reajustamentos práxicos da natureza intencional (Le

Boulch, 1984).

Coste (1992) coloca que é somente a partir do momento em que os

movimentos se combinam e se organizam numa presença de um lado do corpo

predominante, que ajustará a motricidade.

Segundo Faria (2001) nossa cultura é orientada para favorecer a

opção de uso da mão direita, a pressão é usualmente exercida sobre as crianças

para que mudem o uso preferencial da mão esquerda, a bem da direita.

Há uma teoria que tenta explicar a preferência lateral através da

hereditariedade e genética. O fato é que este tipo de transmissão ainda

permanece desconhecido. Segundo Oliveira (1997), muitos pesquisadores como

(Ajuriaguerra, 1984) e (Guillarme, 1983), o fator hereditário não deve ser rejeitado,

mas também não se pode considerá-lo como desempenhado um papel único.

Outros fatores são necessários para explicar o desenvolvimento da lateralidade.

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Ajuriaguerra (1984), Defontaine (1980), Guillarme (1983), Brandão

(1984) acreditam que nenhuma dessas hipóteses ou até teorias sozinhas são

suficientes para explicar o fenômeno da lateralização. Ela é o resultado da

associação de diversos fatores, posição esta, com a qual também concorda,

afirma Oliveira (1997).

1.3 – Origens da lateralidade

O termo lateralização, que vem do latim e quer dizer “lado”, tem sido

tema de estudo de muitos autores que se dedicam ao estudo da

Psicomotricidade, da linguagem e das dificuldades de aprendizagem.

Segundo Springer e Deutsch (1998), a evidência clínica que trata

dos efeitos da lesão cerebral prematura nas funções da linguagem exerce um

papel central na formação do pensamento atual referente ao desenvolvimento da

assimetria. Outra evidência que sustenta a idéia de que a assimetria cerebral tem

sua origem cedo na vida, vem dos estudos anatômicos de fetos e crianças.

Um grupo de pesquisadores, relatou uma correlação estatisticamente significativa

entre a direção preferida para virar a cabeça na infância e a preferência lateral na idade de sete

anos, embora a correlação não seja grande. Há pelo menos duas explicações possíveis para esta

relação. A primeira sustenta que a preferência em virar a cabeça na infância, afeta o

desenvolvimento posterior da preferência manual. Uma segunda possibilidade é que tanto a

preferência de virar a cabeça como a posterior preferência manual, estão relacionadas porque são

determinadas pelos mesmos conjuntos de mecanismos cerebrais.

Oliveira (1997, pag.68) nos diz que (Brandão, 1984), faz uma análise

exaustiva sobre a origem fisiológica ou cultural da lateralidade desde o

nascimento até a sua definição. A criança não demonstra qualquer dominância;

pega os objetos com as duas mãos, de forma proporcional para os dois lados. Ele

conclui que:

“O bebê de 16 semanas era ambidestro; com 40 semanas será unidestro, com 28 semanas é biunidestro (Gesell). O bebê entre os 7 e 8 meses tanto pode usar a mão direita como a esquerda,

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mas com o tempo, uma das mãos torna-se mais ligeira e hábil – ela torna-se dominante”.

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CAPÍTULO II

2 – TIPOS DE LATERALIZAÇÃO

O predomínio lateral é funcional e relativo, não significando a mesma

proporção de destros e sinistros.

De Meur e Staes (1984) destacam a existência de três tipos de

lateralidade:

a) lateralidade homogênea – a criança é destra ou sinistra do olho,

do ouvido, da mão e do pé;

b) lateralidade cruzada – a criança é, por exemplo, destra do olho e

da mão e sinistra do pé;

c) ambidestra – a criança é forte tanto do lado esquerdo quanto do

direito.

Para Harrow (1983), lateralidade é a consciência interna que a

criança tem dos lados direito e esquerdo de seu corpo, não se tratando de um

conceito adquirido, mas de programas de atividades cuja finalidade é o

desenvolvimento de acuidades sensoriais e habilidades motoras, já que a criança

é exposta a uma grande quantidade de estímulos que aumentam esta

consciência. Como ela utiliza ambos os lados de seu corpo em muitos tipos de

atividades, desenvolve a eficiência nos movimentos e aumenta seu vocabulário

motor.

Ao examinar algumas bibliografias, destaca-se Coste (1992) que

define quatro tipos de lateralização:

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2.1 – Destralidade Verdadeira:

A dominância cerebral esta à esquerda. Todas as realizações

motrizes são determinadas à direita. É, de fato, o caso estatisticamente mais

freqüente: o hemisfério esquerdo comanda o hemicorpo direito, o que leva o

indivíduo a uma utilização preferencial desse hemicorpo na realização prática.

O destro verdadeiro é aquele que possui a mesma dominância nos

três níveis: mão, olho e pé, do lado direito.

Ao hemisfério esquerdo pertencem: as gnosias (conhecimento

sintético, identificação de coisas já vistas, ouvidas ou tocadas, do corpo em sua

totalidade); as praxias ideatórias e ideometrizes (estabelecem a organização no

tempo e no espaço de movimentos em seu nível mais alto); elaboração de

conceito (em nível elevado, são elaborados os conceitos e representações

mentais, a partir dos quais são codificados os símbolos da linguagem, cujo alvo é

a compreensão e a expressão escrita ou falada); e a utilização de palavras e

números (a qual, no adulto, depende do hemisfério dominante).

O destro bem lateralizado apresenta dominância do hemisfério

esquerdo, o que não parece ser totalmente aceito para o caso oposto.

2.2 – Sinistralidade Verdadeira:

A dominância cerebral traduz uma especialização à direita dos

hemisférios.

Broca (1969) pôs em evidência essa origem cerebral do sinistrismo.

Pesquisas recentes sobre as funções simbólicas mostram que na

realidade, o sinistrismo não corresponde exatamente a uma recíproca absoluta do

destrismo.

Na maioria dos casos, é erroneo pensar que o canhoto está

organizado sistematicamente às avessas em relação ao indivíduo destro.

Na maioria dos casos de sinistrismo ou dominância cerebral direita.

Assim, a maioria dos sinistros possui dominância do hemisfério esquerdo.

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O sinistro verdadeiro é aquele que possui a mesma dominância nos

três níveis: mão, olho e pé, do lado esquerdo.

Na literatura existem poucas afirmações a respeito das funções

específicas do hemisfério direito. Romero (1988), baseando-se em Defontaine,

ressalta que uma deficiência nesse hemisfério origina uma hemiassomatognosia

(negligência do espaço esquerdo) e danifica a memória topográfica (relação

corpo-espaço). Apresenta como exemplo: a agnosia viso-espacial; a agnosia das

fisionomias; a apraxia de vestir-se; e certas apraxias construtivas.

2.3 – Falsa Sinistralidade:

Na maioria dos casos, trata-se de um acidente, sendo o sinistrismo

(também chamado mancinismo) conseqüência de uma paralisia, de uma

amputação, que tornou impossível a utilização do braço direito. O individuo,

originalmente destro, foi materialmente impedido de o ser.

A criança, hereditariamente destra mas em que a parte do sistema

nervoso central que controla a motricidade sofreu uma lesão, torna-se canhota.

2.4 – Falsa Destralidade:

A organização é inversa da observada na falsa sinistralidade.

Certo número de crianças tem de início tendência a usar a mão

esquerda, porém, sob influência do meio educativo, aprendem a usar a mão

direita em determinadas tarefas, particularmente no grafismo, tornam-se

aparentemente destros, mas esta nova opção corre o risco de ser vaga, e estas

crianças podem permanecer sinistras especialmente no que diz respeito ao olho

diretor ou ao pé.

São diversos os motivos que ocasionam um desvio da lateralidade.

Por exemplo: um acidente que provoque uma amputação ou uma paralisia no

lado dominante faz com que a pessoa passe a usar o outro lado.

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Podem ocorrer, também casos em que esta mudança de prevalência

modifique-se por motivo de identificação com alguém ou por imposição dos pais

ou professores ou por motivo afetivo ou por qualquer outro.

Este assunto de lateralidade, desvio da escolha da mão, mudança

de prevalência remete-nos a um outro que tem causado muita polemica entre os

diversos pesquisadores do assunto. É o problema das teorias e hipóteses que

explicam o porquê entre os diversos pesquisadores do assunto. É o problema das

teorias e hipóteses que explicam o porquê da preferência, pelo indivíduo, de um

lado do corpo em relação ao outro.

Segundo Negrine (1986), o aspecto fundamental no

desenvolvimento da lateralidade é que a criança não seja forçada a adotar

nenhuma postura. É necessário que se criem situações em que ela possa se

expressar espontaneamente e, em que se defina o seu lado dominante sem que

haja pressões de qualquer ordem do meio exterior.

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CAPÍTULO III

3 – PERTURBAÇÕES DA LATERALIZAÇÃO

Diversos autores, como Oliveira(1997), Estabeleceram uma

relação estreita entre lateralidade destra e linguagem. Uma vez que os centros da

linguagem se encontram localizados no hemisfério esquerdo, pode-se explicar os

transtornos desta esfera, tais como: dislalia, inversões, omissões, gagueira e

outros, nas crianças que têm problemas de lateralidade.

O problema reside quando uma pessoa apresenta uma lateralidade

cruzada ou é mal lateralizada, o que pode resultar em muitos efeitos negativos,

como : a dificuldade em aprender a direção gráfica; dificuldade em aprender os

conceitos esquerda e direita; comprometimento na leitura e escrita; má postura;

dificuldade na coordenação motora fina; dificuldade de discriminação visual;

perturbações afetivas; distúrbio da linguagem e do sono; dificuldades da

estruturação espacial; e o aparecimento de maior número de sincinesias.

3.1 – Lateralidade Cruzada:

A lateralidade cruzada é uma predominância diferente no mesmo

indivíduo para os diversos órgãos sensoriais. Para detectá-la, examina-se mais

comumente a dominância da mão, do olho e do pé. E para defini-la deve-se estar

de acordo com a sua natureza (normal ou patológica), seu grau (mais ou menos

forte) e sua homogeneidade (homogênea ou cruzada).

Quando uma sinergia muscular é solicitada, e um indivíduo é destro

para uma atividade e sinistro para outra, também pode-se definir como

lateralidade cruzada.

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O domínio parcial de uma das partes do corpo, possuindo

dominância no segmento, como por exemplo, um indivíduo que é destro de pé e

de mão e sinistro de olho, também é uma lateralidade cruzada.

Podem ocorrer, entretanto, alguns casos em que a criança contrarie

a tendência natural e passe a utilizar a mão não dominante. Diremos que tem

lateralidade cruzada, quando se usa a mão direita, o olho e o pé esquerdo ou

qualquer outra combinação. Desta maneira, a pessoa pode apresentar

destralidade contrariada (um destro usando o mão esquerda) e sinistralidade

contrariada (um sinistro usando mão direita).

A proporção de destros é, sem dúvida, muito maior do que a de

canhotos.

Contudo, o meio ambiente em que viemos foi feito pelo e para o

destro, desde objetos mais simples como tesoura, régua, cartas de baralho,

algumas espécies de carteiras em sala de aula, até a nossa escrita. Ela é

realizada da esquerda para direita e de cima para baixo e isto favorece o destro,

fazendo com que em vários casos o sinistro verdadeiro (fisiologicamente), torne-

se um individuo com lateralidade cruzada (imposição) na prevalência manual.

3.2 – Ambidestralidade:

Se uma pessoa domina espontaneamente os dois lados do corpo,

isto é, executar os mesmos movimentos tanto com um lado como com o outro, o

que não é muito comum, é chamada de ambidestra.

A ambidestria é um fator que tem merecido vários estudos. Algumas

atividades como a dança e a educação física têm incentivado bastante o domínio

dos dois lados. Afirma-se que a ambidestria não pode ser tolerada, pois prejudica

o desenvolvimento da criança e acarreta várias conseqüências como diminuição

da habilidade e velocidade manuais, aparecimento de sincinesias de imitação,

influência no desenvolvimento das funções intelectivas, no ajustamento emocional

e afetivo da criança, um atraso inicial da linguagem e alterações da escrita.

Um indivíduo ambidestro é forte tanto do lado esquerdo quanto do

direito.

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A ambidestria também acontece quando não existe um predomínio

claro estabelecido e se usam indiscriminadamente os dois lados. Considera-se,

ainda, as variações de lateralidade. Neste caso, não se poderiam deixar de incluir

nesta categoria os sinistros contrariados, ou seja, aqueles que têm sua

dominância discordante entre um ou outro órgão dos sentidos e entre um membro

e outro (lateralidade cruzada). É tão grande a variação dentro da lateralidade que

esta classificação não engloba a totalidade dos casos individuais (Negrine, 1986).

Ele ainda enfatiza (Brandão, 1984, pag. 189):

“Para que uma criança se torne hábil, capaz de executar com velocidade todas as suas atividades, é necessária uma especialização entre a mão esquerda e a direita, isto é, que ela tenha desenvolvido definitivamente a sua lateralidade”.

A lateralização é a base da estruturação espacial e é através dela

que uma criança se orienta no mundo que a rodeia.

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CAPÍTULO IV

4 – EVOLUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LATERALIDADE

Para respondermos se a lateralidade muda com a idade, precisamos

obter medidas de lateralidade em pessoas de idades diferentes e comparar o grau

de assimetria presente em cada grupo etário. Esta abordagem tem sido usada

mais extensivamente nas pesquisas de audição dicotômica.

Outras medidas também têm sido usadas para tratar da questão da

mudança na lateralidade com a idade.

Podemos analisar até que ponto as diferenças básicas entre o

cérebro esquerdo e o cérebro direito, encontradas nos adultos, se encaixam neste

quadro de mudanças físicas e funcionais na infância. Estas assimetrias emergem

enquanto a criança se desenvolve ou estão presentes no nascimento ou até

mesmo antes? Quais os papéis exercidos pelos fatores genéticos e ambientais no

estabelecimento da assimetria? O padrão de assimetria pode ser mudado e, em

caso afirmativo, quais são os fatores que o limitam?

As respostas têm o potencial de contribuir de diversas formas

importantes para a nossa compreensão das desordens de linguagem, tanto em

crianças como em adultos.

4.1 – Lateralização e Desenvolvimento na Infância

A criança precisa experimentar os dois lados sem interferências. Ela

precisa se descobrir. Os pais têm que ter muito cuidado para não direcioná-la.

A lateralidade deve surgir naturalmente, da própria criança, e não

ser imposta.

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Para Le Boulch (1976), a motricidade infantil evolui através de uma

série de estágios, sendo os mais importantes o período da infância, que é

caracterizado pela organização psicomotora e o período da estruturação da

imagem corporal e da pré-adolescência e adolescência, caracterizado pela

melhora da performance, particularmente na parte motora.

A lateralização participa em todos os níveis do desenvolvimento da

criança. Seria desnecessário dizer que ela só se instalará definitiva e eficazmente

na medida em que tiver passado por todas as etapas do seu próprio

desenvolvimento: a coordenação óculo-motora, que realiza o ajustamento entre a

motricidade mais delicada e a percepção visual, é sem dúvida uma das mais

decisivas, porquanto constitui simultaneamente a organização de percepções de

diferentes ordens (táteis e visuais) e o instrumento de uma ação sobre o mundo

coordenado e diversificado, envolvendo tanto a estruturação espacial quanto a

coordenação motora. A estruturação espacial é, sem dúvida, parte integrante da

lateralização. Para que a criança possa discriminar a sua direita da sua esquerda

e investir tal distinção em seu próprio comportamento, é necessário que,

correlativamente, ela possua a estrutura, isto é, a forma e a dimensão abstrata

que lhe dá o meio de viver no espaço.

A lateralização processa-se na esteira da espacialização da criança

ou, melhor dito, acompanha cada um dos seus passos: localização no próprio

corpo, projeção de seus ponto referenciais a partir do corpo e, depois,

organização do espaço independentemente do corpo.

A criança possui organicamente as estruturas apropriadas à

aquisição de uma lateralidade adequada à sua adaptação, essas estruturas não

bastam, porém, para realizar a adaptação. A mãe coloca na mão da criança a

colher para que ela aprenda a comer, ou o lápis para as suas brincadeiras

gráficas. A criança estabelecerá a sua lateralidade segundo a relação que

mantiver com seus pais, sobretudo com a mãe.

Na escola, a criança, na classe dos “pequenos” (3 – 4 anos),

começa por uma educação sensório-motora. Só no ano seguinte, e mais ainda no

terceiro ano, o das aprendizagens pré-escolares de ler e escrever, é que ela vai

ter oportunidade de escolher uma das mãos em vez da outra, e de manifestar,

portanto, perturbações de lateralidade.

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Na classe dos “grandes”, a criança (5 – 6 anos) vai aprender o gesto

gráfico, a reprodução de formas escritas, o encadeamento de diferentes modelos

de base necessários à aprendizagem da escrita.

4.2 – Lateralização na Puberdade:

Na puberdade, a lateralização pode ou não estar comprometida, isto

se, ela foi bem desenvolvida de forma pura e normal. O jovem quando bem

lateralizado, tem parte do desenvolvimento motor em alta, pois ele apresentará

uma boa estrutura espaço-temporal, uma boa escrita e linguagem, e

provavelmente sem dificuldades na aprendizagem em geral. Mas quando a sua

lateralização está de certa forma comprometida, esse adolescente ou jovem, pode

vir a apresentar perturbações na lateralidade (lateralidade cruzada ou

ambidestralidade), no que pode causar varias deficiências e/ou dificuldades.

O adolescente quando chega na fase da puberdade, deseja que o

seu desenvolvimento motor tenha obedecido às mudanças biomecânicas

ocasionadas pelo crescimento físico, pela maturação neurológica e pelo

desenvolvimento cognitivo.

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CAPÍTULO V

5 – LATERALIDADE E CONHECIMENTO “ESQUERDA-DIREITA”

Não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em

relação ao outro, a nível da força e da precisão) e conhecimento “esquerda-

direita” (domínio dos termos “esquerda” e “direita”).

Para De Meur e Staes(1984), o conhecimento “esquerda-direita”

decorre da noção de dominância lateral. É a generalização, da percepção do eixo

corporal, a tudo que cerca a criança; esse conhecimento será mais facilmente

apreendido quanto mais acentuada e homogênea for a lateralidade da criança.

O conhecimento “esquerda-direita” faz parte da estruturação

espacial por referir-se à situação dos seres e das coisas, mas está de tal forma

vinculado à noção de dominância lateral que colocamos essa aprendizagem

imediatamente após a da lateralidade.

O conhecimento estável da esquerda e da direita só é possível aos 5

ou 6 anos e a reversibilidade (possibilidade de reconhecer a mão direita ou a mão

esquerda de uma pessoa à sua frente) não pode ser abordada antes dos 6 anos,

6 anos e meio.

A partir dos 7 anos, a criança se torna capaz de uma

descentralização mais importante dos seus pontos de referência, e será capaz de

projetar em outrem essa discriminação espacial de partes do seu próprio corpo. A

direita e a esquerda, já não dependem somente uma da outra, mas também do

ponto de vista da pessoa que as considera. A criança apercebe-se, de que as

fronteiras delimitadas por esses termos modificam-se incessamente em função

dos seus próprios deslocamentos.

A criança atinge por volta dos 10 anos, a descentralização completa.

Ela manipula as noções de direita e esquerda sobre o outro, sobre o mundo

exterior, independentemente de sua própria situação.

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N. Galifret-Granjon realizou uma adaptação dos dados de Piaget. Dividiu em três

categorias distintas: reconhecimento no próprio eu, reconhecimento do outro e posição relativa de

três objetos.

A reeducação dos distúrbios da lateralidade particularmente

perturbadores nas aprendizagens escolares passam pela reeducação de duas

estruturas fundamentais da adaptação psicomotora do individuo: o esquema

corporal e a estruturação espaço-temporal.

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CAPÍTULO VI

6 – AVALIAÇÃO DA LATERALIDADE

Através de atividades, ou mesmo, teste de lateralidade e

atividades grafomotoras, é que pode-se fazer uma breve avaliação de

lateralidade.

6.1 – Testes de Lateralidade:

Veremos agora, a descrição de alguns testes no que se refere uma das fazes

da avaliação, como: a dominância lateral e a orientação direita-esquerda.

6.1.1 – Dominância Lateral:

Durante o crescimento, naturalmente se define uma dominância

lateral na criança: será mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo. A

lateralidade corresponde a dados neurológicos, mas também é influenciada por

certos hábitos sociais.

Podemos descobrir a dominância lateral a nível de membros

inferiores, membros superiores e nos olhos; e no ponto de vista no que se refere a

força, precisão. Veremos uma bateria de testes:

A) Distribuição de Cartas: É uma prova de desempenho motor, que

leva mais em conta o movimento do que o resultado. O teste é

cronometrado, onde se destaca a mão ativa;

B) Diadococinética: Movimento de marionetes. É a flexibilidade e a

rapidez do movimento que se anota;

C) Jogo da Amarelinha: Empurrar o objeto com um pé, sobre o qual

a criança se desloca, de acordo com linhas traçadas no chão,

anota-se o pé escolhido;

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D) Dar Chutes: Escolha de um pé e habilidade da criança para

chutar uma bola;

E) Pontaria: A criança olha através de um orifício aberto numa folha;

o orifício é colocado diante do olho diretor, determinando a

direção ocular;

F) Alcance Visual: Percebe-se a desenvoltura no fechamento de um

olho, põe em jogo o olho diretor, a acuidade de visão e a

motricidade palpebral.

É difícil contentarmo-nos com um único teste para apreciar a

lateralidade, seja qual for o rigor da prova.

6.1.2 – Orientação Direita-Esquerda:

Quando a criança está lateralizada, pode-se ensiná-la a distinguir a

direita da esquerda e a dominar o emprego dos termos “direita” e “esquerda”.

A criança se orientará a partir de pontos de referência estáveis,

depois trocando esses pontos de referência; e em seguida solicitando que cruze

as instruções, transpondo-as em uma outra criança que está de frente para ela.

Exercícios de reconhecimento “esquerda-direita”, formam um todo

com os exercícios de lateralidade, como por exemplo:

A) Imitação de movimentos em face a face;

B) Execução de movimentos de acordo com instrução verbal;

C) Execução de acordo com uma figura esquemática;

D) Reconhecer o corpo através dos termos “esquerda” e “direita";

E) Jogos cantados.

Os sinistros quase em sua totalidade são desfavorecidos, pois

algumas atividades fazem com que participe os dados relativos ao esquema

corporal. Será necessário distinguir o que depende de um desconhecimento do

esquema corporal, cuja integridade está na base de uma boa lateralização.

6.2 – Atividades Grafomotoras:

Coste (1992, pag. 65) enfatiza:

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“O aspecto projetivo e dinâmico do desenho torna-se então uma linguagem das emoções perceptivas e corporais vividas e integradas. Tal definição incita-nos a ver no grafismo pictórico da criança um elemento semiológico importante em relação íntima com os fenômenos da maturação e da adaptação”.

O desenho e a atividade grafomotora constituem um índice do

desenvolvimento práxico e gnósico (realização e intelecção) da criança, índice

que traduz a conquista de sua individualidade.

6.2.1 – Evolução do Grafismo:

No decorrer do segundo ano aparecem os primeiros traçados da

criança; tratando-se de uma atividade motora sem intenção figurativa: são

garatujas e arabescos.

A partir dos 3 anos, as garatujas evoluem e impregnam-se de uma

intencionalidade significante mais nítida: é a época em que a criança comenta e

explica o seu desenho.

A representação da forma humana, por volta dos 4 – 5 anos, ainda

está ligada à vivência interna e subjetiva.

No quadro de evolução do grafismo, podemos perceber que se dá

dos 9 meses aos 12 anos de idade.

6.2.2 – Atividade Psicomotora através do Grafismo:

O elemento psicomotor mais importante em ação no grafismo é, sem

dúvida alguma,a coordenação óculo-motora que se realiza: com a junção entre o

olho e a mão, estabelece-se a motricidade apurada no próprio ato do traçado.

O corpo inteiro inscreve no desenho suas tensões e seu ritmo. Na

função tônica, subentende-se e determina-se a qualidade do gesto gráfico.

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Imprimindo no traçado as hesitações e emoções da criança. O ato gráfico

necessita de uma difusão adequada no tono, com vistas à harmonia ótima do

equilíbrio estático e dinâmico; na coordenação, refere-se a motricidade fina e a

junção perceptivo-motora. As sincinesias dificultarão o gesto gráfico, opondo-se

ao controle, à inibição voluntária do traçado; no caso de grafismo e espaço-

tempo, o desenho é o resultado das possibilidades de integração e da

representação de pontos de referencia espaciais (alto-baixo, direita-esquerda), os

quais da experimentação sensório-motora. O tempo e o espaço aparecem ainda

nos temas escolhidos ou no modo de representá-los. O ritmo em ação no traçado,

que depende do ritmo do próprio corpo, lê-se na rapidez, brevidade ou

alongamento dos traços, leves ou carregados.

6.2.3 – Simbolismo e Interpretação do Desenho:

O desenho da criança traduz a percepção que ela tem de seu

próprio corpo e das pessoas que a cercam, do mundo objetivo (que nunca é

transcrito em sua realidade) e do mundo fantasmático, de seu mundo relacional.

O desenho articula num ato motor os elementos significantes e uma visão do

mundo.

O aspecto projetivo do desenho é amplamente utilizado pelos testes

psicométricos e psicoafetivos, e quando se trata de interpretar esses desenhos,

toda interpretação dá margem às projeções daquele que participa no discurso.

6.2.4 – Atividade Gráfica e a Reeducação:

É licito supor que o traço vertical pode ser o representante do corpo,

a partir do qual se organizam as relações espaciais e objetais.

Utilizando a representação gráfica e a reeducação, com a finalidade

de favorecer a atividade gnósica e a integração das referências espaciais; a

criança reproduz no papel experiências, deslocamentos, formas corporais ou de

objetos, que ela acabou de encontrar no decorrer da sessão.

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O desenho, exercício lúdico, que requer o exercício da motricidade

fina, testa e favorece a memorização, e a conceptualização e a abstração a partir

de uma atividade cinestésica concreta.

Os ponteados ou os traços desenhados segundo espaçamentos

maiores ou menores, sustentados por estimulações sonoras, permitirão a

educação rítmica.

É na atenção prestada ao conjunto de atividades significantes e

comunicativas que a criança encontra, o meio de se reapropriar de seu corpo

como instância central de suas relações com o mundo e com os outros.

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CONCLUSÃO

Tendo em vista que a criança percebe seu próprio corpo por meio de

todos os sentidos, ele ocupa um espaço no ambiente em função do tempo, capta

imagens, recebe sons, sente cheiros e sabores, dor e calor, movimenta-se.

A lateralidade é a “bússola” de nosso corpo, é através dela que o

corpo se situa no meio ambiente, manifestando-se ao longo do desenvolvimento e

das experiências. Mas, pudemos observar que a definição da lateralidade antes

da fase escolar é fundamental para um perfeito desenvolvimento das

aprendizagens da leitura, da escrita, do cálculo, entre outras. As crianças, com

idades mais elevadas, em sua maioria, apresentam maior preferência lateral

manual, pedal e ocular, aonde se conclui que, ao chegarem à idade escolar,

provavelmente elas já apresentarão lateralidade definida para os três segmentos.

Justificando a importância do estudo, a criança ingressaria na fase

escolar já com sua preferência lateral detectada, o que poderá vir a evitar futuros

transtornos em seu desenvolvimento e/ou em seu aprendizado, pois, a

lateralidade contrariada poderá acarretar diversos transtornos nesta área.

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GLOSSÁRIO

ADAPTAÇÃO î Adequação.

AFASIA î Estado psicopatológico em que o doente, por lesão cerebral, perde a

capacidade de falar.

AGNOSIA î Incapacidade de interpretar o significado das sensações recebidas

pelo sistema nervoso; impossibilidade de adquirir o conhecimento.

AMPUTAÇÃO î Corte, mutilação, aleijamento.

APRAXIA î Forma de alteração da manipulação dos objetos; perda do

conhecimento do uso de objetos ou incapacidade de executar corretamente

movimentos úteis.

ASSIMETRIA î Falta de simetria.

ASSIMILAÇÃO î Tornar semelhante, processo de interpretação.

DICOTÔMICO î Dividido ou subdividido em dois.

DISLALIA î Dificuldade em articular palavras, em regra por lesão dos órgãos

externos da linguagem.

GESTO î Movimento do corpo.

GESTUALIDADE î De gesto, movimento do corpo, especialmente da cabeça e

dos braços, mímicas.

HEMIPLEGIA î Paralisia de um dos lados do corpo.

HEMISFÉRIO î Metade de uma esfera (direito e esquerdo).

MALEABILIDADE î Qualidade do que é maleável, flexibilidade.

MANCINISMO î Uso predominante da mão esquerda.

PLASTICIDADE î Maleabilidade.

PRAXIA î Movimento intencional, organizado, tendo em vista a obtenção de um

fim ou de um resultado determinado.

PREDOMÍNIO î Domínio principal.

PROPENSÃO î Tendência, inclinação.

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SIMETRIA î Partes que estão em lados opostos de uma linha ou plano médio,

ou distribuídas em torno de um centro ou eixo.

SINCINESIAS î Comprometimento de alguns músculos que participam e se

produzem, sem necessidade, durante a execução de outros movimentos

envolvidos em determinada ação. É involuntária e geralmente inconsciente.

UNILATERAL î Situado de um único lado, que vem de um lado só.

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