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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL ALTAMIRO RAJÃO O PAPEL DOS ÓRGÃOS DE CONTROLE BRASÍLIA –DF ABRIL DE 2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL

ALTAMIRO RAJÃO

O PAPEL DOS ÓRGÃOS DE CONTROLE

BRASÍLIA –DF

ABRIL DE 2011

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ALTAMIRO RAJÃO

O PAPEL DOS ÓRGÃOS DE CONTROLE

DISSERTAÇÃO APRESENTADA COMO

REQUISITO DA DISCIPLINA DE

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO CURSO DE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM

CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL.

ORIENTADOR: PROFESSOR MÁRCIO DA SILVA ALBUQUERQUE

BRASÍLIA –DF

ABRIL DE 2011

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................

04

2. DISSERTAÇÃO...................................................................................................... 05

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 18

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1. INTRODUÇÃO:

A presente dissertação - apresentada como requisito da disciplina

de Administração Pública, do Curso de Pós-Graduação lato Sensu em

Contabilidade Governamental - busca demonstrar a importância do “Papel

dos órgãos de Controle” no Brasil e responder algumas questões

recorrentes sobre o tema.

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2. DISSERTAÇÃO:

O PAPEL DOS ÓRGÃOS DE CONTROLE

Qual será o papel dos órgãos de controle? Este foi um dos temas

debatidos, em 2009, no seminário “Agenda Nacional de Gestão Pública:

novos e velhos desafios do Estado”, promovido pela Secretaria de Assuntos

Estratégicos da Presidência da República – SAE. Com a iniciativa de gerar um

debate em torno da modernização da gestão pública, foram discutidos os

temas da Agenda Nacional de Gestão Pública, produzidos pelo então Ministro

Roberto Mangabeira Unger e por Jorge Gerdau Johannpeter.

Este tema, o papel dos órgãos de controle, torna-se um dos

questionamentos mais suscitados quando um grande empreendimento

público é paralisado diante de alguma inobservância legal ou técnica. O que

tem se tornado recorrente, com o advento do Programa de Aceleração do

Crescimento – PAC, bem como com as ações de preparação para a Copa do

Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016.

É neste dilema que atualmente a administração pública brasileira passa

pela busca da transição do modelo burocrático para um novo modelo

gerencial. É a administração empreendedora que busca, nos recursos

escassos (limitados), a aplicação adequada e efetiva destes às necessidades

de seus administrados.

Mas seria correto associar o controle da administração pública ao

modelo burocrático? Certamente que não! Ou então, não caberia o controle

num modelo gerencial de administração pública? Tal afirmação anularia os

fundamentos da administração!

E por qual motivo surgem os seguintes questionamentos: Qual será o

papel dos órgãos de controle? Será que ele realmente engessa a

administração pública? O controle pode ser considerado uma forma de

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burocracia e desconfiança nos gestores e nas organizações públicas e

privadas? Ou um formalismo exacerbado? Os órgãos de controle se

fundamentam em marcos legais inadequados e/ou obsoletos? A judicialização

da gestão exige um enfrentamento coordenado? As instituições de controle

constituem os entraves para o desenvolvimento do país? Os preparativos

para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 não serão alcançados

em tempo hábil, em função da burocracia imposta pelos órgãos de controle?

Como se pode ver existe muitas perguntas e dúvidas. Mas, vejamos

cada uma delas:

1. Qual será o papel dos órgãos de controle?

Segundo Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, “Controlar é uma função

inerente ao poder e à administração, porque ocupa tanto ramos da filosofia, da

política, quanto os mais técnicos compêndios e manuais que estudam o

comportamento humano”. E ainda, “O objeto da função de controle, na

atualidade, (...). São, assim, instrumentos da função: a revisão de atos, a

anulação, a admoestação e a punição dos agentes, sempre visando à

reorientação do que está em curso, para obter o aperfeiçoamento”.

São dois os sistemas de controle definidos pela Constituição Federal:

a) O controle interno do governo federal brasileiro, realizado pelos

próprios órgãos do aparelho estatal. No âmbito do Executivo Federal é

exercido pela Controladoria-Geral da União - CGU, responsável pela defesa do

patrimônio público e por contribuir com a transparência da gestão pública do

Governo Federal. Embora, os Poderes Legislativo e Judiciário deverão possuir

os seus próprios sistemas de controle interno.

b) Já o controle externo é exercido pelo Congresso Nacional, com o

auxílio do Tribunal de Contas da União - TCU, que é o órgão técnico que

proporciona ações necessárias ao controle de todos os órgãos da

administração pública (em âmbito dos três poderes) e o suporte necessário

ao poder legislativo federal.

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Além dos controles citados existem ainda os seguintes controles:

judicial/ministério público e o social.

2. O controle engessa a administração pública?

Segundo o então Ministro Roberto Mangabeira Unger e Jorge Gerdau

Johannpeter, no documento Agenda Nacional de Gestão Pública, “a

Administração Pública encontra-se engessada pela rigidez do controle exercido

pelos órgãos competentes”.

Este argumento se fundamenta com a reabertura democrática na

década de 1980, que se esperava a concretização da ideia de transição de

uma administração pública burocrática para uma administração pública

gerencial. Mas não foi isso o que ocorreu.

O universalismo de procedimentos foi reforçado em razão do

retorno da democracia. Este fator favoreceu o ressurgimento da prática do

‘clientelismo patrimonialista’, proporcionando a repulsa desta prática.

Por outro lado, o corporativismo perdeu sua força. O insulamento

burocrático foi rotulado como antidemocrático.

Diante do fortalecimento do segmento político, os tecnoburocratas

estatais, que perdiam paulatinamente o poder de outrora, reagiram

oportunamente no contexto da elaboração da Constituição Federal de 1988.

A política gerencial – mais moderna e voltada para o controle de

resultados –, introduzida pelo Decreto-lei 200/67, sucumbiu aos avanços

conquistados diante da nova ordem constitucional, que introduzira um

controle rígido dos processos.

O retrocesso burocrático, esculpido na Carta Magna, engessou

determinados processos e procedimentos, tornando-os extremamente

centralizados e pouco eficientes na administração pública.

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Embora haja o reconhecimento de que o Instituto do Controle

inibe, até certo ponto, a autonomia e a liberdade de ação do gestor (maior

controle da discricionariedade, como contraponto à excessiva liberdade do

período do Regime Militar), tal argumentação não merece prosperar, uma

vez que os órgãos de controle atuam com base no princípio da legalidade, ou

seja, as leis são as balizas norteadoras das ações dessas instituições.

Portanto, em última análise, não se pode atribuir o engessamento

da administração pública ao instituto e às organizações de controle e, sim, ao

direito e às leis que definem a sistemática de atuação desses órgãos e da

administração pública como um todo.

3. O controle pode ser considerado uma forma de burocracia e

desconfiança nos gestores e nas organizações públicas e

privadas? Ou um formalismo exacerbado ou discricionarismo

irrestrito?

Ainda no documento Agenda Nacional de Gestão Pública, foi dito que

“a desconfiança gera mais burocracia formal e impossibilita ações inovadoras e

iniciativas”, como também “a oscilação viciosa entre o formalismo rígido e o

discricionarismo irrestrito”.

A bem da verdade, estas afirmações correspondem a uma parte da

realidade. Para ilustrar, será citado um caso concreto.

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal – CBMDF é uma

instituição organizada e mantida pela União, conforme preceito

constitucional. Entretanto, a sua administração cabe ao Governo do Distrito

Federal.

No ano de 1995, o então governador do Distrito Federal Cristovam

Buarque designou o coronel José Rajão Filho ao cargo de comandante geral

daquela instituição militar. Num período de apenas 19 meses de comando, o

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coronel Rajão realizou mais de 50 construções sem dispor de recursos da

União e nem do Distrito Federal. Recursos que outrora existiam, e com os

quais, antes, pouco ou quase nada se fazia. Dentre as suas realizações, estão

as seguintes construções: o Colégio Militar Dom Pedro II, 3 policlínicas,

quartéis de bombeiros nas cidades do Cruzeiro, de Taguatinga, Riacho Fundo,

Santa Maria, São Sebastião e do Paranoá (todas estas cidades-satélites do

Distrito Federal), além de outros empreendimentos governamentais.

Ao invés de ser premiado por uma gestão empreendedora, pois

realizou diversas benfeitorias para o CBMDF e para a população do Distrito

Federal (recursos que outros gestores tinham e “aplicavam apenas na

manutenção das unidades”), foi alvo de inúmeros processos no Tribunal de

Contas do Distrito Federal.

Os recursos que eram vinculados ao segmento da saúde não poderiam

ser aplicados na construção de policlínicas para o atendimento dos militares e

seus dependentes? Este exemplo demonstra o “formalismo rígido”, dito pelo

então Ministro Mangabeira Unger.

Este episódio se tornou emblemático para o CBMDF, principalmente

para os oficiais de carreira (pois, quando chegam ao último posto, assumem o

papel de gestores da instituição), que concluem que “não vale a pena ser

idealista, pois o sistema, ao invés de premiar, pune aqueles que pautam por este

caminho”. De fato, o citado episódio afetou de tal maneira a cultura

organizacional da instituição que, passados quase 20 anos do comando do

Coronel Rajão, atualmente, mesmo com um volume significativamente maior

de recursos à disposição do órgão militar, não se viu mais uma gestão

empreendedora e com tantos resultados.

É perceptível a ocorrência dessas situações, tais como julgamentos

com conotações políticas, principalmente nos tribunais de contas

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estaduais/distrital/municipais. Isto se dá por duas razões fundamentais: a

indicação “política” dos Conselheiros e a aproximação de tais instituições

com os chefes do executivo. Por incrível que pareça, a mudança “político-

partidária” do cargo do chefe do executivo influencia o curso das ações

desses tribunais. O que é lamentável, uma vez que não há vinculação, em

respeito ao princípio da independência ou autonomia que é conferido aos

Tribunais de Contas.

4. Os órgãos de controle se fundamentam em marcos legais

inadequados e ou obsoletos?

Foi dito que “os diversos marcos legais que balizam o funcionamento

da administração pública estão em colapso”. Com o devido respeito, há certa

dose de exagero quanto ao tema.

Não reconhecer que as leis devam ser constantemente

aperfeiçoadas é negar a necessidade da evolução do direito, que é um reflexo

da própria sociedade. Entretanto, alardear que tudo que está posto não serve

ou não se aplica aos casos concretos é reduzir o direito constitucional e

administrativo em vigor a nada.

Embora esta questão realce a necessidade de um trabalho em

conjunto dos órgãos de controle com os três poderes, mas principalmente

com o executivo e o legislativo, com os fins do aperfeiçoamento da legislação

hoje em vigor, também se deve buscar a promoção e a integração entre as

visões das áreas jurídicas e de gestão, com base numa análise crítica das

atuais dificuldades encontradas pelo Estado na consecução dos objetivos da

Sociedade Brasileira e na formulação e inovação de novos referenciais

comuns para a atuação estatal.

Portanto, com certa medida, de fato torna-se fundamental a

construção de um ambiente de cooperação e confiança no setor público, na

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busca de um novo direito, menos policialesco e formalista, sintonizado com

as capacidades individuais, institucionais e sociais do país.

5. A judicialização da gestão exige um enfrentamento

coordenado?

Foi dito que “a atuação combinada, porém descoordenada dos

órgãos de controle, tem levado ao crescente processo de judicialização das

políticas públicas e gerado ambiente de incerteza jurídica com graves prejuízos

para o desempenho dos três níveis de Governo”.

A necessidade de coordenação dita pelo então ministro nos leva a

entender que propõe a instituição de uma entidade (órgão ou conselho) com

poderes acima das instituições de controle.

Se, de fato, o pensamento original passa por este caminho, deverá

ser rechaçado com toda força e intensidade necessária para que não saia do

campo das ideias.

Tal proposta é de toda natimorta, uma vez que, ao tratar de

institutos e de organizações de controle, está realmente se tratando de

Poderes – e de seus atributos, sendo o de maior relevância, a Independência

entre si –, de Remédios e Princípios Constitucionais, extremamente

relevantes para a Sociedade Brasileira. Seria a imposição de “cabrestos” aos

Poderes constituídos, hipótese inaceitável para uma Ordem Constitucional de

Direito e Democrática existente no Brasil.

Por exemplo, os princípios de interdição à arbitrariedade, os

princípios da razoabilidade, da racionalidade, da proporcionalidade

constituem diretrizes constitucionais, ou seja, são exigências da própria

constituição sob a atuação da administração pública.

É possível, então, deduzir que o controle jurisdicional para a

verificação da decisão discricionária tem o objetivo de responder aos

interesses gerais, por meio de controle de existência da motivação, da

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coerência e da lógica, examinando-se a relação entre a decisão administrativa

e a realidade.

Conforme as lições de Montesquieu, que, “quando na mesma

pessoa ou no mesmo corpo de magistratura o poder legislativo está reunido ao

poder executivo, não existe liberdade, pois se pode temer que o mesmo

monarca ou mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las

tiranicamente.

Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver

separado do poder legislativo e do executivo. Se estivesse ligado ao poder

legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois

o juiz seria legislador. Se estivesse ligado ao poder executivo, o juiz poderia ter a

força de um opressor.

Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos

principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer

leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as

divergências dos indivíduos”.

Pelas razões acima, e outras, conclui-se que esta ideia é inaceitável!

Entretanto, realmente torna-se fundamental o afastamento da

insegurança jurídica nas formas de atuação direta e indireta do Estado e de

suas relações com o mercado e com a sociedade, bem como deverá ocorrer a

superação de abordagens ideologizadas, que levam o debate jurídico-

administrativo ao conflito dos extremos.

Portanto, a superação das ideologias, a busca pelo

aperfeiçoamento do direito administrativo e o não enfraquecimento dos

institutos e órgãos de controle são formas de buscar a superação da

judicialização.

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6. As instituições de controle constituem os entraves para o

desenvolvimento do país?

De maneira nenhuma! Segundo o ministro-substituto do TCU André

Luiz de Carvalho, o trabalho dos órgãos de controle é fundamental para a

saúde dos cofres públicos. “O TCU busca o melhor aproveitamento dos

recursos, trabalhando na fiscalização contábil, orçamentária, operacional e

patrimonial”, e “em 2009, foram fiscalizadas 219 obras, contra 197 no ano 2000.

Em termos de números absolutos, não houve um aumento significativo, mas o

volume de recursos fiscalizados cresceu. Foram R$ 4 bilhões em 2000, contra R$

35 bilhões em 2009”.

Portanto, deve-se buscar um equilíbrio nesta relação: controle x

desenvolvimento. Nem a gestão da construção do país pode se dar à revelia

da lei e nem a ordem jurídica pode ser percebida como um problema para a

construção do país.

7. Os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas

de 2016 não serão alcançados em tempo hábil em função da

burocracia imposta pelos órgãos de controle?

Segundo a reportagem da Folha de S.Paulo, a Copa 2014 terá 98,5%

de dinheiro público.

“Relatório do TCU mostra que setor privado só banca R$ 336 milhões

dos R$ 23 bilhões em obras.

A Copa do Mundo da iniciativa privada ruiu. Um estudo do TCU

(Tribunal de Contas da União) mostra que sairão dos cofres públicos 98,56% dos

R$ 23 bilhões orçados para as obras de 2014.

Isso menos de dois anos após o presidente do COL (Comitê

Organizador Local), Ricardo Teixeira, declarar que a maioria dos gastos do

próximo Mundial seria bancada com dinheiro privado.

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A maior parte das verbas virá dos bancos governamentais (Caixa

Econômica Federal e BNDES) e da Infraero, estatal que administra os aeroportos

do país. Juntas, as três empresas públicas investirão cerca de R$ 16,5 bilhões até

a abertura da Copa.

Responsável por financiar as obras de mobilidade urbana nas 12

cidades-sedes, a Caixa irá repassar R$ 6,6 bilhões para os governos estaduais e

municipais.

Já o BNDES investirá R$ 4,8 bilhões – R$ 1,2 bilhão em mobilidade

urbana e R$ 3,6 bilhões para as arenas. Segundo o estudo do TCU, a Infraero

gastará cerca de R$ 5,1 bilhões para a reforma e a ampliação dos aeroportos.

O órgão federal não computou na conta os bilhões que os governos

vão destinar para organizar o esquema de segurança do Mundial.

No trabalho realizado pelo TCU, a iniciativa privada aparece

investindo apenas R$ 336 milhões, ou 1,44% dos R$ 23 bilhões do torneio. A verba

não sairá de nenhuma empresa e virá dos cofres dos clubes que vão reformar ou

construir estádios.

Internacional e Atlético-PR já confirmaram que vão investir nos seus

estádios para o Mundial. Segundo o órgão, os paranaenses vão gastar R$ 113

milhões na Arena da Baixada. Já os gaúchos destinarão R$ 133 milhões para

reformar o Beira-Rio.

Em São Paulo, o Corinthians pretende construir uma arena em

Itaquera.

O clube do Parque São Jorge ainda tenta viabilizar o novo estádio. Na

conta do TCU, o Corinthians investirá R$ 90 milhões. A intenção da Fifa é realizar

a abertura da Copa na arena de Itaquera.

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A verba privada no Mundial é menos de 10% do que o BNDES vai usar

para financiar os projetos das arenas.

Em 2007, quando o país ganhou o direito de abrigar a Copa pela

segunda vez, a CBF, responsável pela candidatura brasileira na Fifa, estimou que

o país gastaria pouco menos de R$ 2 bilhões com estádios. A conta atual já

superou os R$ 5 bilhões.

A projeção de investimento dos brasileiros supera a cifra gasta pelos

sul-africanos no Mundial-10. A África do Sul pagou R$ 3,9 bilhões para erguer dez

estádios, dois a menos do que no Brasil.

Alguns dos projetos da África do Sul são arquitetonicamente mais

ousados do que os brasileiros, como o do Soccer City, em Johannesburgo, além

das arenas da Cidade do Cabo e de Durban.”

A matéria jornalística fala por si.

Mas como não controlar os gastos com os preparativos para os

jogos, se os recursos a serem utilizados serão quase na sua totalidade

públicos? Não se admite mais a política do “pão e circo”!

Outra observação lamentável é a falta de efetividade nos

investimentos nos equipamentos de mobilidade urbana, como, por exemplo,

nos aeroportos brasileiros. Estes são realizados anualmente, com cifras que

ultrapassam a casa dos bilhões de reais. E o que se vê, hoje, na mídia

nacional? A informação de que os investimentos nos aeroportos não são

suficientes e que não estarão prontos na data da realização dos eventos

esportivos.

E não são apenas os aeroportos, pois estes deverão ser interligados

com os metrôs (os veículos leves sobre trilhos – VLTS e os “Bus Rapid

Transit” – BRTS) e demais transportes urbanos. Deverão ser feitos mais

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investimentos no transporte interestadual. As rodovias precisam de ajustes, a

malha ferroviária é inadequada e a aeroviária está saturada nas principais

ligações do país. Além dos setores citados (estádios e transportes), há ainda a

necessidade de pesados investimentos nos setores de telefonia, hotelaria e

capacitação de pessoal.

E por que razão não se fez nada (ou quase nada) até agora? Tudo

leva a crer, lamentavelmente, pelo fato de que a maior parte dos

investimentos serão públicos, e por esta razão deverão estar sujeitos à Lei de

Licitações e Contratos (Lei 8.666/93). Entretanto, o inciso IV do seu artigo 24

prevê a possibilidade de “dispensa de licitação” nos casos de emergência.

Pois, se tudo ficar para última hora, certamente, este caso se tornará

emergencial, acarretando na contratação de obras superestimadas e

ocasionando na execução de obras superfaturadas. Gargalos estes pagos

pelos cofres públicos!

Portanto, eis a razão de tanta pressão sob os órgãos de controle

em relação aos temas em questão.

Por fim, diante das respostas às questões acima, verifica-se o

importante papel dos órgãos de controle, que desempenham atividades nas

relações entre Estado e sociedade, contribuindo para a garantia do regime

democrático.

Na medida em que a sociedade vai se constituindo e se

organizando, surgem as necessidades a serem preenchidas. Entretanto, não

se pode permitir o comprometimento das liberdades, dos direitos e das

garantias individuais.

É neste sentido que Celso Ribeiro Bastos ensina que “de um lado

representa o marco avançado do Estado de Direito, que procura jugular os

comportamentos, quer individuais, quer dos órgãos estatais, às normas jurídicas

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das quais as leis são a suprema expressão. Nesse sentido, o princípio da

Legalidade é de transcendental importância para vincar as distinções entre o

Estado constitucional e o absolutista, este último de antes da Revolução

Francesa. Aqui havia lugar para o arbítrio. Com o primado da lei cessa o

privilégio da vontade caprichosa do detentor do poder em benefício da lei, que

se presume ser a expressão da vontade coletiva.

De outro lado, o princípio da legalidade garante o particular contra os

possíveis desmandos do Executivo e do próprio Judiciário. Instaura-se, em

consequência, uma mecânica entre os Poderes do Estado, da qual resulta ser

lícito apenas a um deles, qual seja o Legislativo, obrigar os particulares”.

Da relação estatal com a sociedade, surgem as funções próprias do

estado, desenvolvidas por seus órgãos. Estes prestam serviços públicos. São

instituições burocráticas, que desempenham as seguintes funções típicas:

executiva, judiciária ou legislativa.

A união orgânica dessas instituições constitui, de forma ampla e

formal, a administração pública.

Portanto, o Estado deve sim ser submetido à ordem e à eficiência

administrativas, e à eficácia dos seus atos. Esses princípios criam mecanismos

ou sistemas de controle das atividades estatais, defendendo tanto a própria

administração pública como os direitos e garantias individuais e coletivos dos

cidadãos.

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3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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