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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
MÁRCIA DIAS PIRES DA SILVA
ORIENTADORA
SIMONE FERREIRA
Rio de Janeiro
2011
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Rio de Janeiro
2011
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Márcia Dias Pires da Silva
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me dar forças nessa
caminhada.
Agradeço a minha família por sempre me dar
forças para continuar os meus estudos.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha família, a minha
amiga Alexsandra da Silva Fortunato e as minhas colegas
de trabalho que sempre me deram carinho e atenção para
que eu pudesse desenvolver esse trabalho e tornaram a
minha vida mais rica e feliz.
RESUMO
Essa monografia tem por objetivo mostrar a importância do lúdico na
educação infantil de acordo com vários referenciais teóricos. O lúdico
proporciona grande benefício físico, intelectual e social a criança, isto por que
eles são uma atividade que dão prazer e ajudam no desenvolvimento. Através
do lúdico as crianças aprendem a viver, ganhar e perder e começam a
distinguir o real do imaginário, trabalhar as suas emoções, equilibrar as
tensões, construir a sua individualidade e personalidade. O educador deve se
valer desse recurso para observar e conhecer melhor seus alunos, pois na hora
de brincar as crianças se expressam frente ao mundo que as rodeiam.
METODOLOGIA
Esse trabalho foi realizado a partir de pesquisas bibliográficas de
diversos autores utilizando como referência Piaget, Vygostky e Wallon para
abordar o lúdico na educação infantil e de registros fotográficos em uma creche
pública no município do Rio de Janeiro.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 08
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................................................................... 10
CAPÍTULO 2
A HISTÓRIA DO BRINQUEDO ....................................................................................... 15
CAPÍTULO 3
O LÚDICO NA APRENDIZAGEM .................................................................................... 21
CAPÍTULO 4
O JOGO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM ................................................... 30
CAPÍTULO 5
OS JOGOS E BRINCADEIRAS BRASILEIRAS .............................................................. 43
CONCLUSÃO ................................................................................................................. 50
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 51
ANEXO 1 ........................................................................................................................ 52
ÍNDICE ........................................................................................................................... 59
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por finalidade mostrar a importância do
lúdico na educação infantil.
O lúdico tem papel essencial na educação infantil, pois ele é um
grande aliado do prazer e sem ele o processo de aprendizagem seria muito
tedioso.
Através do lúdico a criança passa a estruturar suas emoções e
constrói os seus conhecimentos.
Sendo assim as creches devem se valer desse recurso, pois ele
favorece de forma positiva um bom desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo
das nossas crianças, porém é indispensável que seja garantida a criança a
liberdade de escolher entre a variada oferta de brincadeiras aquela que mais
corresponde ao seu interesse.
Visto que é possível mediante ao lúdico na educação infantil formar
indivíduos com autonomia, motivados e capazes de aprender.
No primeiro capítulo será abordado sobre O conceito de educação
infantil e a importância das creches.
No segundo capítulo será abordado sobre A história do brinquedo.
No terceiro capítulo será abordado sobre O lúdico na aprendizagem.
No quarto capítulo será escrito sobre O jogo como facilitador da
aprendizagem, os tipos de jogos e os jogos na concepção de Wallon, Piaget e
Vygostky.
E no quinto capítulo será abordado sobre O jogo e brincadeiras
brasileiras e as influências que recebemos dos Portugueses, Índios e Negros.
9
Ao final desse trabalho deverá ficar esclarecido como é importante
que a criança aprenda brincando e o porquê delas dedicarem grande parte do
seu tempo para essas atividades.
10
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO INFANTIL
A primeira creche de que se tem notícia surgiu em Paris em 1844 e
tinha apenas o objetivo de dar comida ignorando as demais necessidades da
criança como abrigo, segurança física e psicológica, carinho, companhia,
proteção do adulto e brinquedos.
Em 1837, Froebel criou o que se chamou de jardim de infância com
um ambiente organizado a fim de promover o desabrochar das potencialidades
da criança, a liberdade de expressão e da criatividade.
As idéias de Froebel tiveram grande influência na formação de um currículo de
atividades centrado nas necessidades que possibilitem o desenvolvimento da
criança.
No Brasil até o final do século XX a educação pré-escolar do pobre
teve um olhar filantrópico de caráter assistencialista e eventual.
O primeiro jardim da infância foi inaugurado em 1895 em São Paulo
e somente em 1970 devido ao processo de urbanização e a inserção da mulher
no mercado de trabalho levaram a um aumento significativo na demanda por
vagas nesse segmento.
Em 1977 foi criado no Ministério da previdência e Assistência Social
a LBA com objetivo de coordenar o serviço de diversas instituições e eram
responsáveis pelo atendimento de crianças de 0 a 6 anos.
Em 1995 a LBA foi extinta, porém o governo federal continuou a
repassar recursos para as creches por meio da assistência social e nesse
período intensificou-se a separação entre o atendimento nas creches de 0 a 3
11
anos, visto como algo destinado as camadas populares e a pré-escola
segmento voltado para as classes altas e média.
As creches totalmente financiadas pela assistência social eram
vistas como alternativa de subsistência para as crianças mais pobres e
estavam orientadas para cuidados em relação à saúde, higiene e alimentação.
Já a pré-escola passou a ser encarada como a porta de entrada das crianças
ricas na educação.
A constituição de 1988 determinou que a educação passasse a ser
vista como um direito da criança facultativo à família e não como direito apenas
da mãe que trabalha fora, com isso a educação infantil passou a ser objeto de
planejamento, legislação e de políticas sociais e educacionais.
Em 1990 o Estatuto da Criança e adolescente reafirmou os direitos
constitucionais em relação a essa modalidade de ensino.
Em l994 o MEC publicou o documento que se chamou Política Nacional de
Educação Infantil que estabeleceu metas como a expansão de vagas e a
necessidade de qualificação dos profissionais.
Em 1996 foi promulgado a emenda constitucional que cria a lei de
diretrizes e bases (9394/96) que finalmente menciona a creche dentro do
sistema de educação infantil para atendimento da criança de 0 a 3 anos,
completando-se com a educação pré-escolar para crianças de 4 a 6 anos e
define a educação infantil como sendo a primeira etapa da educação infantil
tendo por finalidade o desenvolvimento integral da criança até os 6 anos de
idade, em seus aspectos físicos,psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade. A lei 9394/96 ainda vai
mais além, quando determina no seu artigo 31, que a avaliação na educação
infantil, far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento,
sem objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
Estes são indícios de que o desenvolvimento infantil começa a ser entendido
12
em suas características e levado em consideração no planejamento do sistema
de educação geral.
O objetivo da creche atual tem caráter educativo e visa garantir
assistência, alimentação, saúde e segurança com condições materiais e
humanas que tragam benefícios sociais e culturais em meio período ou em
horário integral e ter uma rotina planejada e organizada para garantir a
qualidade do atendimento e com isso proporcionar maior conforto e segurança
às crianças.
A criança que falta ou se atrasa com freqüência deixa de participar
de uma rica experiência, dificultando a integração das atividades.
O currículo numa creche deve ser eminentemente centrado na
criança, com características de atendimento mais psicológico que pedagógico e
realizado de forma ainda mais assistemática, com diferenças mais significativa
de estar centrado em um maior número de necessidades, visto que seu
trabalho se estende à alimentação, sono e higiene, em que a atuação
psicopedagógica também se deve exercer.
Um bom currículo deve oferecer um trabalho que acompanha e
supervisionam brincadeiras em espaços onde se apanha sol, essas devem ser
bem interessantes e que permitam a criança expressar os seus pensamentos e
fantasias e o uso de materiais diversos como, barbantes, jogos, histórias,
desenhos, pinturas, modelagem e brinquedos bem coloridos e interessantes
como mostra em anexo 1 foto 1 e 2. Essas atividades se realizam entre os
horários do banho, do soninho e da alimentação das crianças.
Essa faixa de ensino pode ser o melhor lugar para uma criança
crescer se planejada para oferecer condições ótimas de estímulo ao seu
desenvolvimento, pois ela se socializa e desenvolve habilidades e melhora o
desempenho escolar futuro e é o verdadeiro alicerce da aprendizagem, aquela
que deixa a criança pronta para aprender.
13
A educação infantil, portanto é o momento ideal para que as
crianças desenvolvam as suas capacidades de interação com o mundo, pois
nessa faixa etária ela anseia por movimentos.
As vivências proporcionadas nesse segmento devem proporcionar
prazer e o bem-estar através de uma multiplicidade de experiências e diante
disso a criança começa a direcionar os seus desejos, qualificar os seus afetos
e elaborar as suas idéias e ampliar os seus espaços de relação, permitindo
uma melhor avaliação e percepção das diferenças individuais do grupo a que
pertence
Através do lúdico a creche favorece desenvolvimento motor e
mediante a isso as crianças vivenciam e compartilham descobertas,
desenvolvem o ritmo, lateralidade, coordenação motora buscando experiências
com o seu corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal.
Ao final da educação infantil espera-se que a criança;
- Falem de forma clara e adequada;
_ Expressem suas opiniões e idéias em pequenos e grandes grupos;
-Compreendam as instruções dadas por seus pares e adultos;
- Consultem livros, revistas e outros materiais impressos, demonstrando
interação com a linguagem escrita;
- Consigam manipular lápis, canetas, pincéis, para escrever, desenhar, pintar e
usar os dedos para modelar e criar;
-Saibam fazer registros simples por escrito, com ou sem ajuda;
-Identifiquem o uso da linguagem em determinados gêneros textuais como:
histórias de faz-de-conta, jornal, poesia, bilhete;
-Sugiram alternativas para resolução de problemas;
-Criem sugestões para novas atividades, jogos e brincadeiras;
-Finalizem as atividades antes de se engajarem em outras;
14
-Situem-se dentro de seus contextos, reconhecendo-os como tais (lar, escola,
bairro, cidade);
Reconheçam fenômenos naturais, com postura investigativa,
elaborando hipóteses e perguntas sobre aspectos relativos à sua observação
da natureza e ou acontecimentos sociais;
-Reconheçam números, quantidades formas, categorias de objetos e suas
características, relacionando-os com a vida cotidiana;
- reconheçam a si e aos seus pares e adultos (na família, escola);
-Encontrem inserção nos grupos aos quais pertencem, identificando a sua
contribuição e a dos outros;
-Situem-se no tempo e espaço um determinado objeto ou acontecimento;
-Reconheçam os valores de convivência relacionando-os com as situações
vividas;
-Reconheçam seus sentimentos e os dos outros, sendo capazes de falar sobre
eles;
-Demonstrem interesse em ajudar os outros e peçam ajuda quando sentirem
necessidade;
-Sintam-se confiantes para se movimentar dentro de seus espaços, em
diferentes momentos e com as pessoas que integram o ambiente;
-Saibam cuidar de si e seus pertences;
-possuam conhecimento sobre o seu corpo, no que diz respeito aos seus
movimentos (lento e rápido), controle e possibilidades, identificando suas
partes e possíveis funções;
-Cuidem de seu corpo físico, demonstrando confiança e segurança ao expandir
o movimento
15
CAPÍTULO 2
A HISTÓRIA DO BRINQUEDO
“Olhar para o brinquedo, é se confrontar com o que se é ou, ao
menos, com a imagem do mundo e da cultura que se quer mostrar
a criança. O brinquedo é um objeto que traz em si uma realidade
cultural, uma visão de mundo e da criança”. (Brougére, 1995,
p.105).
A história dos brinquedos se mistura com a história das crianças que
brincam com eles.
Os brinquedos surgiram desde as grandes civilizações antigas, e boa parte
permanece inalterada ao longo dos tempos. Os brinquedos não foram
invenções de fabricantes especializados, nasceram nas oficinas de
entalhadores de madeira, de fundidores de estanhos, etc. (Von, 2001).
“A história do brinquedo é tão antiga quanto à história do
homem. A viagem pela história dos brinquedos nos faz percorrer
culturas, estilos, modos de vida usam de materiais, relações
pessoais.”(Von, 2001, p 20)
O brinquedo é visto como um suporte da brincadeira, e a brincadeira
é algo pertencente à criança. Através do brinquedo, a criança cria, enfatiza a
16
importância do desenvolvimento cognitivo. Brincando, a criança se comporta
além de sua idade. Nossos pais, herdaram diversos brinquedos inventados em
outros países, como por exemplo, do Egito herdamos o jogo da velha e as
bolinhas de gude; da China herdamos o dominó, os cata-ventos e as pipas; da
Grécia e da Roma, herdamos as pernas-de-pau e marionetes. Como podemos
perceber os materiais utilizados para a fabricação desses brinquedos eram
bastante variados. Mais tarde vieram os metais, o vidro, o papel.
Benjamin (1995) afirma: ‘’De todos os materiais, o mais apropriado
ao brinquedo é a madeira por sua resistência e por sua capacidade de
absorver cores’’. Há brinquedos não muito resistentes que quebram com
facilidade, causando frustração na criança.
Porto (1996), sobre o brinquedo, afirma que ‘’dependendo do
material, o brinquedo oferece possibilidades variadas’’.
Na Idade Média, os brinquedos eram um produto secundário das
indústrias manufatureiras. Nasciam das mãos dos entalhadores de madeira,
dos produtores de vela e dos artesões e não eram destinados à criança,
serviam apenas para uso doméstico. As crianças não eram as únicas e usá-los,
pois não eram tidos como brinquedo de criança. Segundo Von (2001), as
bonecas eram objetos de colecionadores ou estatuetas religiosas. Após algum
tempo, a boneca se tornou brinquedo para as meninas. Nessa época, as
crianças eram inseridas desde muito cedo no mundo dos adultos, onde
também participavam dos jogos e do trabalho.
A partir do Renascimento, as brincadeiras foram dando lentamente
lugar ao brinquedo (objeto) que foi se tornando uma especialidade das
crianças, ocupando papel importante; era um dos principais mediadores entre
elas e o mundo.
Durante o século XVIII, começou a surgir uma fabricação
especializada de brinquedos, que teve de enfrentar restrições corporativas. As
17
indústrias proibiam que os carpinteiros pintassem suas bonecas de madeira, e
a produção de vários materiais obrigava diversas indústrias a dividirem entre si
o trabalho mais simples, o que encarecia a mercadoria. As firmas exportadoras
começaram a comprar brinquedos produzidos nas manufaturas da cidade e
distribuí-los na indústria artesanal e no comércio varejista.
Existiam jogos tais como de construir e de demolir construções, os
que envolvem bonecos, os de rolar arcos, pular obstáculos e cordas, aqueles
que reproduzem situações de trabalho realizado por adultos, as cirandas e os
jogos de esconder.
No século XIX, a produção de brinquedos se tornou objeto de uma
indústria específica e era artigo de luxo que apenas os nobres possuíam.
Alguns brinquedos foram classificados imediatamente como do
universo feminino e outros do masculino. O espaço família (panelinha, fogões)
é associado às meninas, e o universo externo de trabalho, ao menino. No
contexto atual, essa visão vem sendo questionada, uma vez que é a criança
que deve escolher com o quê e do que vai brincar. (anexo 1 foto 3 e 4)
Segundo Benjamin (1995), na segunda metade do século XIX
ocorreu a mudança daquele mundo de coisas mínimas que as crianças tanto
gostavam e que os adultos utilizavam para ornamentar suas casas. A partir daí,
os brinquedos se tornam maiores e sua forma e seu tamanho muda, perdendo
aos poucos seu aspecto discreto, minúsculo e sonhador. Cada vez mais as
crianças passam a brincar sozinhas, alterando suas interações e experiências
lúdicas, intensificando o afastamento do adulto e da criança. Em outros
tempos, o brinquedo era peça do processo que ligava pais e filhos, enfocando
a substituição de coisas minúsculas, que povoavam as estantes as crianças e
sala de artes dos adultos. Quanto mais avança a industrialização, mais ele se
esquiva ao controle da família.
18
O brinquedo deixa de ser o resultado de um processo doméstico de
produção que unia adultos e crianças e cada vez mais as crianças passam a
brincar sozinhas, sem parceria do adulto, prejudicando na sua interação e as
experiências lúdicas (Porto, 1996).
Desde a metade do século XX, o brinquedo industrializado já
circulava na cidade, mas era restrito à classe média. Até então, as cidades
grandes não eram tão violentas como nos dias de hoje. Havia espaços para
brincar na rua, no quintal e nas praças, as crianças da mesma idade e de
mesma origem social brincavam juntas. A oportunidade de interagir com outras
crianças, seja em casa, em grupos da comunidade ou durante atividades em
espaços da aprendizagem, dava uma contribuição inestimável ao processo de
construção da identidade e de seu desenvolvimento. Os adultos ainda
contribuíam, confeccionando bonecas de pano, riscando amarelinha.
Gradativamente os adultos se afastaram das brincadeiras e do convívio com as
crianças, e o espaço das crianças também foi se limitando, até se tornar local
de consumo.
Atualmente, a quantidade de brinquedos é enorme e sua qualidade
varia tanto no brinquedo artesanal, quanto no brinquedo industrializado. Os
brinquedos mais vendidos são os anunciados pela televisão, atraídos pela
mídia por brinquedos caros e industrializados, prejudicando a sua autonomia
de produzirem e escolherem seus brinquedos. Sobre essa manipulação que as
crianças estão sofrendo pela mídia, Brougére 1995 afirma:
“Através do brinquedo, como meio da televisão, a criança vê
sua brincadeira se rechear de novos conteúdos, de novas
representações que ela vai manipular transformar ou respeitar
apropriar-se do seu mundo. Da mesma forma como para
conteúdos televisivos, os fenômenos do modismo e da mania
reagem à vida dos brinquedos”. (Brougére, 1995. P.58)
19
De acordo com (Porto, 1996.), hoje, o brinquedo tornou-se um objeto
de consumo numa sociedade que vende qualquer objeto como brinquedo; o
que ocorreu foi que as indústrias perceberam que as crianças são ótimas
consumidoras e que elas são consumidoras em formação. A criança fica
confusa com tanta diversidade, e acaba mudando de idéia sobre o que gosta a
cada nova propaganda e desenho. Os brinquedos contemporâneos incorporam
um imaginário criado por desenhos animados, personagens da mídia e contos
de fadas.
Hoje os pais se preocupam em comprar brinquedos caros
desconhecendo que quanto mais atraente se torna o brinquedo para os olhos
do adulto, mais distante se torna para a brincadeira das crianças. Seria
importante que os pais e consumidores compreendessem que o conteúdo do
brinquedo não determina a brincadeira e sim que a criança brinca também com
brinquedos tradicionais, construídos com materiais simples e de fácil acesso,
tais como latinhas, caixas e garrafas. Com esse materiais podem ser
construídos os carrinhos, bonecas de pano, fantoche. O ato do brincar é que
revela o conteúdo do brinquedo e da brincadeira. Para a criança tudo vira
brincadeira, mesmo às vezes não possuindo relação do objeto que ela possui e
o que ela imagina, já que o brinquedo exerce grande influência no
desenvolvimento da criança.
Exemplos do avanço da tecnologia em relação ao brinquedo são as
bonecas e os carrinhos. As bonecas que surgiram há 40 mil anos, eram feitas
de barro, e em 1930 passam a ser feitas de pano, em sua maioria seus
formatos eram redondos. Hoje as bonecas são mais resistentes, possuem
medidas perfeitas, cabelos loiros (em sua maioria), olhos lindos e brilhantes,
andam, dormem, falam, choram, dançam, cantam. E os carrinhos que
aparecem simultaneamente aos carros originais no séc. XX passaram a ser
confeccionados com madeira, e hoje possuem controle remoto, os faróis
acendem, as portas abrem e fecham.
20
A história do brinquedo permite que se compreenda que ao longo
dos séculos, a criança e o brinquedo assumiram outros significados, de acordo
com determinações histórico-culturais. O tratamento dispensado às crianças
está relacionado aos valores econômicos, sociais e culturais do período em
questão.
O brinquedo estará sempre presente na vida da criança e do adulto.
“No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual
de sua idade, além de seu comportamento diário, no brinquedo é como se ela
fosse maior do que é na realidade.” (Vygotsky, 1984, p 117).
A criança viaja, em um momento imagina ser um neném e em outro
imagina ser a mãe do neném. Ela cria diversas situações na brincadeira e os
papéis se reconstroem a cada momento, num mundo de fantasia.
As crianças sempre brincaram. Desde as épocas mais antigas,
crianças procuram decifrar o mundo através de adivinhas, faz-de-conta, jogos
com bola, arco e bonecos. Brincar é de fato a atividade principal da criança.
Assim como o brinquedo e as brincadeiras evoluíram, a maneira de brincar das
crianças evolui à medida que elas crescem e se desenvolvem.
21
CAPÍTULO 3
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
“O jogo é um caso típico das condutas negligenciadas pela
escola tradicional, dado o fato de parecerem destituídas de
significado funcional. Para a pedagogia corrente, é apenas um
descanso ou o desgaste de um excedente de energia. Mas
esta visão simplista não explica nem a importância que as
crianças atribuem aos seus jogos e muito menos a forma
constante de que revestem os jogos infantis, simbolismo ou
ficção, por exemplo,”. (Jean Piaget, p 158)
O lúdico é uma necessidade do ser humano, pois é um momento de
divertimento e através dele a criança pode se expressar, descarregar energias
e agressividade, interagir com outras crianças, se desenvolver, aprender.
É fundamental tomar consciência de que a atividade lúdica infantil
fornece informações elementares a respeito da criança, suas emoções, a forma
como interage com seus colegas, seu desempenho físico motor, seu estágio de
desenvolvimento, seu nível lingüístico, sua formação moral.
O lúdico implica para a criança muito mais do que o simples ato de
brincar. Através do brincar ela está se comunicando com o mundo e também
está se expressando. Para o educador o brincar constitui um “espelho”, uma
22
fonte de dados para compreender melhor como se dá o desenvolvimento
infantil.
Quando pensamos na atividade lúdica, devemos levar em
consideração:
- O tempo e o espaço de brincar:
- A relação entre meios e fins:
_ O(s) parceiro(s) do jogo
- Os objetos do jogo:
- As ações do sujeito: físicas e / ou mentais.
Através das brincadeiras a criança desenvolve suas aptidões
perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor. Para
que a criança desenvolva o controle mental de sua expressão motora, os jogos
e as atividades lúdicas devem realizar atividades considerando seus níveis de
maturação biológica. Os jogos e atividades lúdicas dirigidas proporcionam a
aprendizagem das crianças e ajudam no equilíbrio sócio afetivo.
Os jogos são estimuladores e incentiva novas descobertas, o que
proporcionam à criança uma aprendizagem de grande prazer.
Desde a sua tenra idade a criança brinca incansavelmente, não
pára. A brincadeira, para elas, é muito mais que uma diversão, é onde elas se
descobrem pessoas com seus próprios significados e personalidade, e onde
mostram a sua singularidade, à que vieram ao mundo.
Os jogos e as atividades lúdicas agradam, divertem e exercem
inegavelmente influência na vida e no comportamento das crianças. Por isso, o
ato de brincar e jogar são tão fundamentais, é um ato do ser que cresce; ele
percebe, então, o mundo, brinca com simulações e aprende, portanto, a se
defender, alimentar e sobreviver enfim.
23
As atividades lúdicas na educação infantil têm como fundamento o
crescimento social da criança com toda a sua singularidade, são onde a própria
desenvolverá suas habilidades pessoais que viabilizam criar identidade e
exercer autonomia sobre suas decisões e atitudes. A participação das crianças
nas brincadeiras e jogos exerce uma contribuição favorável para a
aprendizagem, deliberada pela ação, expressão e liberdade.
Pelo fato de a criança ser um ser inquieto, a brincadeira torna-se,
quase que, uma resposta do corpo ao mundo, e na educação infantil ela pode
ser usada para seu crescimento frente ao mundo que a rodeia.
A brincadeira na educação infantil significa liberdade expressiva da
criança e aquisição de atitudes que serão necessárias para a sua vida. Ela tem
uma multiplicidade de funções, que resultam em um amplo desenvolvimento de
aspectos específicos da mesma.
Há vários elementos que podem ser utilizados como subsídios para
se obter um bom resultado, sendo importante que seja dado um ‘’trabalho’’ que
incorpore as atitudes das próprias crianças.
O jogo na educação infantil tem vários ramos a serem seguidos e
aproveitados, pois a própria criança se encarrega de fazê-la ser proveitosa.
Tudo é novidade para elas e tirando proveito disso, o educador pode integrá-
las com objetos novos que estimulem nelas a imaginação e a curiosidade e até
mesmo objetos montados (brinquedos e jogos feitos de sucatas) ver anexo 1
fotos 5,6 e7. As crianças se identificam com a brincadeira e com o jogo, e pode
o educador apropriar-se disso e canalizar essa identificação para proporcionar
e propiciar conhecimentos, experiências pessoais ou coletivas, familiar e social
da criança, que deve ser respeitada pelo educador, e também proporciona o
respeito pelo próximo e a autonomia.
24
Através dessas atividades de caráter lúdico o educador favorece
também a consolidação de hábitos, a melhoria da aptidão física, a socialização,
a criatividade visando à formação da personalidade.
Na educação infantil, as atividades dadas em formas de atividades
lúdicas e jogos têm mais chances de serem absorvidas pela criança, e,
portanto, as mesmas têm que ser vivas e associadas ao interesse delas, sendo
muito mais que um passatempo, sendo útil ao crescimento da mesma.
O educador, portanto, precisa reconhecer lúdico e nos jogos um
espaço de investigação e construção de conhecimento sobre diferentes
aspectos do meio social e cultural, no qual as crianças estão inseridas.
No lúdico e jogos é possível trabalhar com as crianças todos os
sentidos do nosso corpo, cada uma delas trabalha um ou mais dos nossos
cinco sentidos, tal qual: cabra-cega: que trabalha a visão, onde podemos
mostrar às crianças a falta que ela nos faz; trabalha também a audição, pois
ficamos a volta da criança que está com os olhos vendados, e ela tem que
identificar de onde vem o som.
Um jogo que podemos usar como fonte de observação é a de imitar,
que é uma atividade importante para as crianças, pois através da mesma é
permitido e ela compreender que ela é um indivíduo diferente dos demais.
Sendo assim, é importante planejar atividades que permitam a movimentação
livre das crianças e estimulem a elas a tomarem iniciativas de realizarem
determinadas coisas em situações específicas.
Nada substitui essa etapa do processo de conhecimento, a intenção
nessa fase da vida é ampliar a forma de vê-la e capacitar o desenvolvimento
nos aspectos:
• Corporais
• Estéticos
• Éticos
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• Cognitivos
• Inserção Social.
O jogo acompanha todas as fases da vida do ser humano, não se
brinca desde quando nasce, mas se aprende a brincar e jogar desde que tenha
semelhante (adulto ou criança mais velha), por perto incentivando de alguma
forma, direta ou indiretamente.
A atitude de brincar e jogar na fase da criança passa por diferentes
etapas de acordo com a idade da criança, ou seja, sofre diversas mudanças no
processo desenvolvimento infantil, tornado-se necessário que haja uma
escolha de brinquedos, jogos e atividades de acordo com a idade mental do
grupo.
“A criança aprende a brincar assim como aprende a se
comunicar e a expressar seus sentimentos, desejos e
vontades. Os adultos e as crianças mais velhas têm papel
importante nessa aprendizagem quando se dispõe a brincar”.
(Rubem Alves, 1996 p 72).
É importante que o educador seja sensível às necessidades das
crianças dando objetos (brinquedos) e jogos que estimulem o aprendizado.
Quando chega ao 1º ano de vida, é necessário que os brinquedos
sejam funcionais, ou seja, prático e/ou experimental. O próprio corpo da criança
é um elemento de brincadeira, ela se experimenta (ainda mais se tiver um
espelho) fazendo movimentos com as pernas, braços e dedos, balbuciam
palavras, agarra e sacode objetos e os leva à boca. Costuma se interessar por
objetos de cores fortes e por músicas.
Na faixa dos 2 a 3 anos, já usa ilusão, dando vida a tudo que está a
sua volta, qualquer coisa é transformado em brinquedo:
26
• Mesas transformam-se em jaulas, túneis, casas, cabanas.
• Cadeiras são: trens, ônibus, carros, cercados.
• Blocos de construção viram ruas, torres, pontes.
• Cabo de vassoura vira cavalo, vassoura da bruxa (keka), tudo se transforma
na imaginação da criança, o que a fantasia mandar a criança transforma.
Portanto, é importante que tudo que está à volta da criança facilite e
valorize essa ação transformadora que a imaginação dá a elas.
Na faixa dos 4 a 6 anos os brinquedos costumam ser de representação e
construção.
Nessa fase a criança brinca imitando atividades que vivencia e
conhece. As crianças nessa fase costumam representar os atos das pessoas
que as rodeiam, agem como mães, pais, professora, filha (o), motorista.
Vygotsky (1978) ressalta que através da brincadeira e dos a criança
se projeta no mundo dos adultos aprendendo novas significações, separando o
objeto real do seu significado.
Alcançando a definição funcional de conceitos ou objetos, e ainda
desenvolve formas de comportamentos socialmente constituídos.
Portanto, podemos considerar que a criança, que está em todo
momento, nos observando, ‘’imagina-se’’ vivendo a mesma situação que os
adultos vivem, e então tiram disso o seu aprendizado.
Mas, contrapondo Vygotsky, Piaget diz que: ‘’O conhecimento da
criança é constituído, isto, é a inteligência é constituída num processo de
interação ativa da criança com o mundo externo’’.
Para Brougere (1992), olhar para o brinquedo é se confrontar com
que se é ou, ao menos, com a imagem do mundo e da cultura que se quer
mostrar à criança. O brinquedo é um objeto que traz em si uma realidade cultural,
uma visão de mundo e de criança.
27
Pedagogos como Froebel, Montessori e Decroly, valorizam o valor
educativo dos jogos e levaram muitos educadores reconhecerem a importância
dessa atividade como recurso pedagógico.
Cabe ainda ressaltar que o lúdico e os jogos permitem decidir,
pensar sentir emoções distintas, competir, cooperar, construir, experimentar,
descobrir e aceitar limites.
As atividades lúdicas proporcionam a criança, como sujeito à
oportunidade de viver entre o princípio do prazer e o princípio da realidade.
Brincando a criança vai, lentamente, estabelecendo vínculos, brinca
com os objetos externos e internos num processo de trocas intensas com a
realidade e com a fantasia. O lúdico proporciona ao sujeito liberar o medo do
novo e do desconhecido. A criança brinca com o desconhecido para torná-lo
conhecido, brinca com o medo para que possa dominá-lo.
Brincar é uma ação que ocorre no campo da imaginação, assim, ao
brincar estará fazendo uso de uma linguagem simbólica, o que se faz retirando
da realidade coisas para serem significadas em outro espaço. Quando a
criança com uma peça de sucata e imagina que é um caminhão está
estabelecendo uma relação de imaginação e criação.
O lúdico permite que esta troca intensa entre o que está dentro e o
que está fora ocorra, pois a brincadeira não está dentro nem fora.
Ao brincar com o objeto a criança o vai percebendo em suas
diferentes dimensões, descobre seus atributos, sua utilidade, classifica-o,
podendo mais tarde modificar suas estruturas. É através do brincar que a criança vai
descobrindo o que pode e o que não pode.
Assim, "a criança à qual tudo é permitido e à qual todos os
obstáculos são removidos não se dá condições de se estruturar logicamente a
realidade, conseqüentemente, de representá-lo" (OLIVEIRA, 1998, p 75).
28
A brincadeira contribui de forma espetacular para a construção da
auto imagem positiva.
Piaget nos diz que o desenvolvimento moral da criança se constitui
de três fases. São elas: anomia, heteronomia e autonomia.
• Anomia: Se caracteriza por brincadeiras individuais. As crianças brincam
com um grupo de amigos, porém individualmente. Apesar de estarem no
mesmo espaço físico não significa que estejam brincando juntas, cada uma
dessas crianças brincam consigo mesma. A brincadeira é com seus
objetos internos e sua visão de mundo é bastante egocêntrica: somente o seu
ponto de vista é percebido.
• Heteronomia: Nessa fase as crianças aceitam as regras do jogo, aqui já se
brinca em grupo, porém, as regras do jogo não podem sofrer modificações
Propostas pelos participantes do próprio grupo, as regras são vistas
como imutáveis, a criança ainda não se concebe com um criador de regras,
percebe-se mais como um executor, aquele que segue a regra. A regra, neste
caso é percebida como algo sagrado. No decorrer desta fase, a criança vai
mudando sua posição no que diz respeito às regras. É muito comum criar
regras próprias e não comunicar ao parceiro a sua decisão, ela é uma regra
pessoal, unilateral.
“A criança heterônema não assimilou ainda o sentido da
existência de regras: não as concebe como necessárias para
regular e harmonizar as ações de um grupo de jogadores e por
isso não as segue à risca; e justamente por não as conceber
desta forma, atribui-lhes uma origem totalmente estranhas à
atividade e aos membros do grupo”. (TAILLE, 1992, p 118)
29
Nesta fase, a criança ainda percebe o mundo apenas do seu ponto
de vista, é conhecida como a fase egocêntrica, situa-se no estágio pré-
operatório que Piaget descreveu. Para estas crianças ainda é muito difícil
abandonar o seu ponto de vista para entender o outro, aqui, quando se está
jogando é muito interessante observar que todos querem ganhar, e por isso as
regras são abandonadas para que se atinja o seu objetivo: Ganhar.
No final desta fase as crianças procuram seguir as regras com
exatidão, elas são cobradas uns dos outros e em situação de conflito se faz
necessário a presença de um adulto para servir de juiz.
• Autonomia: A criança já abandonou sua fase egocêntrica e agora já começa
entender o sentido social da regra: regular e harmonizar as ações coletivas.
Com o amadurecimento o sujeito já se vê como um legislador,
aceitando e acatando decisões coletivas. Assim, antes do jogo começar, as
regras são discutidas e aceitas e o jogo inicia-se tendo por base as regras
combinadas anteriormente. O jogo, segundo Huizinga (1996), "... cria-se a
ordem e é ordem”.
Somente jogando com dados da realidade e da imaginação que o
ser humano pode lidar com as imperfeições desta realidade e reorganizá-las.
O jogo proporciona ao sujeito ritmo, harmonia, ordem, estética,
tempo, espaço, tensão contraste, variação, solução equilíbrio e união.
30
CAPÍTULO IV
O jogo como facilitador da aprendizagem
Os jogos auxiliam na aprendizagem e na parte psicológica, pois
através deles percebemos o estado emocional e a forma com que a criança se
interage com os colegas, o meio, seu desempenho físico – motor, seu
desenvolvimento lingüístico e até mesmo sua formação moral.
O jogo exercita a mente, o físico e a cidadania, por que além de ser
uma atividade física ela vai muito além de um simples ato de brincar, pois
através do jogo a criança se comunica com o mundo mediante as expressões.
O jogo é a melhor forma de aprender, pois com ele aprendemos a memorizar e
pensar para a solução de problemas.
Os objetivos dos jogos infantis na aprendizagem é tornar o ensino de
conteúdos e a assimilação mais prazerosa e fácil para a criança, promovendo
através da criatividade das atividades um maior interesse dos alunos e ainda
desenvolvendo a coordenação, atenção, socialização, além de outros aspectos
necessários para a aprendizagem, ou seja, a criança aprende brincando.
O educador deve levar em conta as necessidades e interesses da criança para
que as atividades propostas tenham uma resposta positiva.
O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio estimulador das
inteligências. O espaço do jogo permite que a criança realize tudo que deseja.
Quando entretido em um jogo, o indivíduo é quem quer ser, ordena o que quer
ordenar, decide sem restrições. Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica
do desejo de ser grande, do anseio em ser livre. Socialmente, o jogo impõe o
controle dos impulsos, a aceitação das regras, mas sem que se aliene a elas,
posto que são as mesmas estabelecidas pelos que jogam e não impostas por
qualquer estrutura alienante. Brincando com sua espacialidade, a criança se
31
envolve na fantasia e constrói um atalho entre o mundo inconsciente, onde
desejaria viver, e o mundo real, onde precisa conviver. Para Huizinga (apud
ANTUNES, 1998, P 17) o jogo não é uma tarefa imposta, não se liga a
interesses materiais imediatos, mas absorve a criança, estabelece limites
próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra ritmo com harmonia.
Existem expressivas diferenças entre os jogos para crianças não
alfabetizadas e crianças que se alfabetizaram. Para as primeiras, os jogos
devem ser vistos como leituras da realidade e como ferramenta de
compreensão de relações entre elementos significantes (palavras, fotos,
desenhos, cores etc.) e seus significados (objetos). Nessas relações, Piaget
(apud ANTUNES, 1998) destaca quatro etapas que, em todos os jogos, podem
ser claramente delineadas: os índices, relações significantes estreitamente
ligadas aos significados (é o caso de uma pegada de um animal indicando sua
passagem pelo local); os sinais, relações indicadoras de etapas e marcações
dos jogos (como é o caso do apito ou dos sinais de início, término ou etapas),
os símbolos, relações já mais distantes entre os significantes e o significado
(fotos, desenhos, esquemas) e, finalmente, os signos, elementos significantes
inteiramente independentes dos objetos (como as palavras e os números).
Utilizando essas etapas, a seleção dos jogos que eventualmente se empregará
deverá evoluir de jogos estimuladores de índices aos estimuladores de signos,
e, desta forma, jogos que estimulam o tato, a audição, o paladar devem
preceder aos que estimulam ou se apóiam em sinalizações e após estes se
tornam inteiramente válidos os que levam à descoberta de símbolos (pesquisar
revistas, recortar, colar, desenhar, dramatizar) e após, os que exploram
símbolos e que já pressupõem a compreensão de letras e desenhos de objetos
correspondentes às palavras.
32
4.1- Tipos de Jogos
Existe uma infinidade de jogos, de todos os tipos e formas, os
tradicionais de tabuleiro, jogos com sons, cores, jogos de cartas, jogos
corporais, jogos de computador, jogos apenas com papel e lápis, jogos
matemáticos e possuem várias classificações: Jogos de construção,
treinamento, estratégicos, de aprofundamento, jogos motores, cognitivos,
competitivos, cooperativos, individuais e em grupo.
- Os jogos de construção são utilizados para introduzir algo, para explicar,
exemplificar o que precisa ser ensinado, e muitas vezes estando por dentro,
participando, entendendo a função, as crianças aprendem muito mais rápido.
Quando forem se referir a tal assunto, provavelmente lembrarão-se da
experiência;
- Para as crianças pequenas que estão iniciando o processo de alfabetização,
os jogos em que há muitas cores, sons, formatos, influencia a curiosidade, a
criança começa a assimilar as coisas, e a distinguir o que é som, cor, forma,
letras e números;
- Os jogos de computadores ganharam força hoje qualquer criança tem acesso,
e pelo avanço da tecnologia, não há como evitar, pois é importantíssimo que a
criança desenvolva esse conhecimento, pois ajudam no raciocínio, rapidez,
coordenação motora, matemática, memorização, leitura, e diversas outras
áreas;
- Existem muitos jogos de tabuleiro, e de computador, em que são necessárias
estratégias para chegar a um objetivo, ajudando acriança a pensar, achar
soluções, e tomar decisões;
- Os jogos corporais e as dinâmicas, ajudam as crianças a se expressarem
melhor, desinibirem, perderem a timidez, ajudam na coordenação motora, e
nas relações pessoais;
33
- Os jogos de treinamento são importantes para as crianças memorizarem,
praticarem aquilo que já aprenderam. Como exemplo os caça-palavras,
palavras-cruzadas, ligar os pontos, quebra-cabeça;
- É de grande importância também os jogos cooperativos e em grupo, para
desenvolverem desde pequenos o valor do trabalho em grupo, onde é preciso
a ajuda e participação de todos;
- Os jogos de perguntas e respostas ajudam na rapidez de raciocínio, na lógica,
na forma de pensar, e na memorização de determinado assunto;
- Existem também muitos jogos matemáticos em que há a utilização de peças,
que ajudam no aprendizado, na contagem, e no raciocínio, assim a matéria não
se torna algo tão abstrato;
- Até os simples jogos em que só é preciso uma folha e um lápis, possuem
grande importância no desenvolvimento, como exemplo o jogo da velha, forca
e adedonha.
A competição nos jogos precisa ser abordada de maneira delicada,
para não criar uma rivalidade, as crianças precisam aprender a perder, e se
posicionarem corretamente diante da vitória. E isso precisa ser introduzido
desde a infância, pois é algo comum ao longo da vida.
4.2 - O jogo na concepção de Piaget
Para Piaget (1978) as origens das manifestações lúdicas
acompanham o desenvolvimento da inteligência vinculando-se aos estágios do
desenvolvimento cognitivo. Cada etapa do desenvolvimento está relacionada a
um tipo de atividade lúdica que se sucede da mesma maneira para todos os
indivíduos.
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Piaget identifica três grandes tipos de estruturas mentais que
surgem sucessivamente na evolução do brincar infantil: o exercício, o símbolo
e a regra.
a) jogos de exercício;
b) jogos simbólicos;
c) jogos de regras;
Jogos de exercício
Caracteriza a fase que vai desde o nascimento até o aparecimento
da linguagem este tipo de jogo tem como finalidade o próprio prazer como, por
exemplo, quando a criança empurra uma bola, vai atrás dela, volta e recomeça,
ela o faz por mero divertimento. Esses jogos caracterizam a fase do
desenvolvimento pré-verbal.
Na criança a atividade lúdica supera amplamente os esquemas
reflexos e prolonga quase todas as ações.
Até os 18 meses os esquemas sensório-motores adquiridos pela
criança dão lugar a uma espécie de simples funcionamento por
prazer.Entretanto, esses exercícios lúdicos não são específicos dos dois
primeiros anos de vida e reaparecem durante toda a infância.Quando o objetivo
do jogo não dá mais lugar a qualquer aprendizagem, ela acaba por
cansar.Assim que a criança começa a falar, o jogo de exercício diminui.
Piaget distingue duas categorias desses jogos:
Jogos de exercícios sensório-motores
• Jogos de exercícios simples – limita-se a reproduzir fielmente uma
conduta adaptada a um fim utilitário. Pertencem a essa categoria todos os
35
jogos sensório-motores como, por exemplo, puxar um barbante e fazer rolar um
carrinho, etc.
• Combinações sem finalidade – O indivíduo passa a construir
novas combinações, geralmente acontecem diante de um material novo. Esses
jogos são instáveis, há neles movimento pelo movimento.
Combinações com finalidade (lúdica) – Faz –se acompanhar de
imaginação representativa e torna-se jogo simbólico, socializa e torna-se um
jogo regulado e conduz a adaptações reais e sai do domínio do jogo para
entrar no domínio da inteligência prática.
Jogos de exercício do pensamento
• Jogos de exercícios simples – Fazer perguntas pelo simples
prazer de perguntar “por quê?”.
• Combinações sem finalidade – Relato sem coerência,
desorganizado, pelo simples prazer de combinar palavras e conceitos.
• Combinações com finalidade – Inventar pelo prazer de construir.
Essas combinações são instáveis, a fabulação converte-se facilmente em
imaginação simbólica, por já constituir um ato de pensamento.
Jogo Simbólico
O jogo simbólico é a representação corporal do imaginário, e apesar
de nele predominar a fantasia, a atividade psicomotora exercida acaba por
prender a criança à realidade. Na sua imaginação ela pode modificar sua
vontade, usando o "faz de conta", mas quando expressa corporalmente as
atividades, ela precisa respeitar a realidade concreta e as relações do mundo
real. Por essa via, quando a criança estiver mais velha, é possível estimular a
diminuição da atividade centrada em si própria, para que ela vá adquirindo uma
socialização crescente.
36
As características dos jogos simbólicos são:
• Liberdade de regras (menos as criadas pela criança);
• Desenvolvimento da imaginação e da fantasia;
• Ausência de objetivo explícito ou consciente para a criança;
• Lógica própria com a realidade;
• Assimilação da realidade ao "eu".
No jogo simbólico a criança sofre modificações, à medida que vai
progredindo em seu desenvolvimento rumo à intuição e à operação. E
finalmente, numa tendência imitativa, a criança busca coerência com a
realidade.
Na pré-escola, o raciocínio lógico ainda não é suficiente para que ela
dê explicações coerentes a respeito de certas coisas. O poder de fantasiar
ainda prepondera sobre o poder de explicar. Então, pelo jogo simbólico, a
criança exercita não só sua capacidade de pensar, ou seja, representar
simbolicamente suas ações, mas também, suas habilidades motoras, já que
salta, corre, gira, transporta, rola, empurra, etc. Assim é que se transforma em
pai e mãe para seus bonecos ou diz que uma cadeira é um trem.
Didaticamente devemos explorar com muita ênfase as imitações sem modelo,
as dramatizações, os desenhos e pinturas, o faz de conta, a linguagem, e muito
mais, permitir que realizem os jogos simbólicos, sozinhas e com outras
crianças, tão importantes para seu desenvolvimento cognitivo e para o
equilíbrio emocional.
Jogos de Regras
A regra supõe, necessariamente, relações sociais ou interindividuais.
A regra é imposta pelo grupo e sua violação constitui uma falta. Os jogos de
37
regras podem conter exercícios sensórios – motores como, por exemplo,
bolinhas de gude ou imaginação simbólica como adivinhações ou charadas.
Neles a regra é o elemento novo que resulta da organização coletiva das
atividades lúdicas.
Há duas espécies de regras:
• Transmitida – São os jogos que se tornam “institucionais”, no
sentido de realidades sociais que se impõe por pressão de sucessivas
gerações como, por exemplo, a bolinha de gude que supõem a ação dos mais
velhos sobre os mais novos.
• Espontâneas – Jogos de regras de natureza contratual e
momentânea. Vêm da socialização dos jogos de exercícios simples ou dos
jogos simbólicos, e de uma socialização que comporta tanto relações entre
indivíduos mais novos e indivíduos mais velhos, como relações entre crianças
de uma mesma geração.
Os jogos de regras são na definição de Piaget, combinações
sensórias – motoras (corridas, jogo de bolinhas, de bola) ou intelectuais
(cartas, xadrez) com competição e cooperação entre indivíduos,
regulamentados por um código transmitido de geração em geração ou por
acordos momentâneos.
Os jogos de regras podem ter origem:
• Costumes adultos - que caíram em desuso (de origem mágica -
religiosa) como, por exemplo, a amarelinha que representava na sua origem o
desenho dos templos.
• Jogos de exercícios sensórios motores – que se tornaram
coletivos como, por exemplo, pular sela e corridas.
• Jogos simbólicos – Passaram a coletivos, esvaziando –se de seu
simbolismo como, por exemplo, gato e rato, polícia e ladrão.
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A partir da análise do jogo de regras interessa saber como os
indivíduos se adaptam as regras em função da idade e do desenvolvimento
mental e qual a consciência que os indivíduos têm das regras.
Do ponto de vista da consciência das regras temos:
• Primeiro estágio – A regra ainda não é coercitiva, ela é suportada
• Segundo estágio – É considerada sagrada e intangível, pois a
modificação é igual à transgressão.
• Terceiro estágio – è considerada como uma lei imposta pelo
consentimento mútuo, cujo respeito é obrigatório, permitindo-se transformá-la
desde que haja consenso geral. E a fase de maior autonomia, e a tomada de
decisões permite o desenvolvimento do raciocínio, através das diferentes
posturas.
O Jogo na concepção de Wallon
Para Wallon, o fator mais importante para a formação da
personalidade não é o meio físico, mas sim o social. O autor chama a atenção
para o aspecto emocional, afetivo e sensível do ser humano e elege a
afetividade, intimamente fundida com a motricidade, como desencadeadora da
ação e do desenvolvimento da ação e do desenvolvimento psicológico da
criança.
Para o autor, a personalidade humana é um processo de construção
progressiva, onde se realiza a integração de duas funções principais:
• A afetividade, vinculada à sensibilidade interna e orientada pelo
social;
• A inteligência, vinculada às sensibilidades externas, orientada
para o mundo físico, para a construção do objeto.
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Wallon enfoca a motricidade no desenvolvimento da criança,
ressaltando o papel que as aquisições motoras desempenham
progressivamente para o desenvolvimento individual. Segundo ele, é pelo
corpo e pela sua projeção motora que a criança estabelece a primeira
comunicação (diálogo tônico) com o meio, apoio fundamental do
desenvolvimento da linguagem. É a incessante ligação da motricidade com as
emoções, que prepara a gênese das representações que, simultaneamente,
precede a construção da ação, na medida em que significa um investimento,
em relação ao mundo exterior.
Na concepção de Wallon, infantil é sinônimo de lúdico. Toda
atividade da criança é lúdica, no sentido que se exerce por si mesma antes de
poder integrar-se em um projeto de ação mais extensivo que a subordine e
transforme em meio.
Deste modo, ao postular a natureza livre do jogo, Wallon o define
como uma atividade voluntária da criança. Se imposta, deixa de ser jogo; é
trabalho ou ensino.
Wallon, ao classificar os jogos infantis, apresenta quatro categorias:
• Jogos funcionais;
• Jogos de ficção;
• Jogos de aquisição;
• Jogos de fabricação;
a) Jogos funcionais
Caracterizam-se por movimentos simples de exploração do corpo,
através dos sentidos. A criança descobre o prazer de executar as funções que
a evolução da motricidade lhe possibilita e sente necessidade de pôr em ação
40
as novas aquisições, tais como: os sons, quando ela grita, a exploração dos
objetos, o movimento do seu corpo. Esta atividade lúdica identifica-se com a
“lei do efeito”. Quando a criança percebe os efeitos agradáveis e interessantes
obtidos nas suas ações gestuais, sua tendência é procurar o prazer repetindo
suas ações.
b) Jogos de ficção
Atividades lúdicas caracterizadas pela ênfase no faz-de-conta, na
presença da situação imaginária. Ela surge com o aparecimento da
representação e a criança assume papéis presentes no seu contexto social,
brincando de “imitar adultas”, “casinha”, “escolinha”, etc.
c) Jogos de aquisição
Desde que o bebê, “todo olhos, todo ouvidos”, como descreve
Wallon, se empenha para compreender, conhecer, imitar canções, gestos,
sons, imagens e histórias, começam os jogos de aquisição.
d) Jogos de fabricação
São jogos onde a criança se entretém com atividades manuais de
criar, combinar, juntar e transformar objetos. Os jogos de fabricação são quase
sempre as causas ou conseqüências do jogo de ficção, ou se confundem num
só. Quando a criança cria e improvisa o seu brinquedo: a boneca, os animais
que podem ser modelados, isto é, transforma matéria real em objetos dotados
de vida fictícia.
O jogo na concepção de Vygotsky
A partir de suas investigações sobre o desenvolvimento dos
processos superiores do ser humano, Vygotsky apresenta estudos sobre o
papel psicológico do jogo para o desenvolvimento da criança.
41
O autor enfatiza a importância de se investigar as necessidades,
motivações e tendências que as crianças manifestam e como se satisfazem
nos jogos, a fim de compreendermos os avanços nos diferentes estágios de
seu desenvolvimento.
Caracterizando o brincar da criança como imaginação em ação,
Vygotsky elege a situação imaginária como um dos elementos fundamentais
das brincadeiras e jogos.
Segundo Vygotsky, o brinquedo que comporta uma situação
imaginária também comporta uma regra relacionada com o que está sendo
representado. Assim, quando a criança brinca de médico, busca agir de modo
muito próximo daquele que ela observou nos médicos do contexto real. A
criança cria e se submete às regras do jogo ao representar diferentes papéis.
Para Vygotsky, a brincadeira se configura como uma situação
privilegiada de aprendizagem infantil, à medida que fornece uma estrutura
básica para mudanças das necessidades e da consciência.
Outro aspecto evidenciado pelo estudioso é o papel essencial da
imitação na brincadeira, na medida em que, inicialmente, a criança faz aquilo
que ela viu o outro fazer, mesmo sem ter clareza do significado da ação. À
proporção que deixa de repetir por imitação, passa a realizar a atividade
conscientemente, criando novas possibilidades e combinações. Dessa forma, a
imitação não é considerada uma atividade mecânica ou de simples cópia de
modelo, uma vez que ao realizá-la, a criança está construindo, em nível
individual, o que nos observaram outros.
É, portanto, na situação de brincar que as crianças se colocam
questões e desafios além de seu comportamento diário, levantando hipóteses,
na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos pela
42
realidade na qual interagem. Assim, ao brincarem, constroem a consciência da
realidade e, ao mesmo tempo, vivenciam a possibilidade de transformá-la.
Fazendo referência à característica de prazer, presente nas
brincadeiras, Vygotsky afirma que nem sempre há satisfação nos jogos, e que
quando estes têm resultado desfavorável, ocorre desprazer e frustração.
43
CAPÍTULO V
OS JOGOS E BRINCADEIRAS BRASILEIRAS
Alguns brinquedos, jogos e brincadeiras tradicionais entre as nossas
crianças tem origem nos povos que aqui chegaram no início da nossa
colonização são eles os índios , os negros e os portugueses.
Atualmente num mundo cada vez mais globalizado existe a
tendência de que muitas brincadeiras tradicionais percam espaço na
preferência infantil, porém jogos como peteca, amarelinha, a ciranda, a pipa e a
cama de gato continuam tendo um grande valor cultural.
Os primeiros brinquedos e brincadeiras das crianças brasileiras
eram ligados a natureza, como banhos de rio e passeios pelo mato.
Os índios faziam para seus filhos brinquedos como arco e flecha,
petecas e bonecos de barro cozido.
Depois com a colonização do País pelos Portugueses surgiram as
pipas, bodoques, dominós e teatro de marionetes.
A presença dos escravos negros trouxe as cantigas de ninar e
importantes personagens do nosso folclore como Saci-Pererê, mula sem
cabeça, cuca , cantigas de roda e adivinhas.
No século XIX chegaram os primeiros brinquedos que foram
fabricados na Europa e chegaram ao Brasil com a família real portuguesa e
começaram a fazer parte das brincadeiras infantis das famílias brasileiras era
ela a bola de gude, soldadinhos de chumbo, espada e bonecas de porcelana.
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No final do século XIX chegam também ao Brasil a bola de futebol, a
bicicleta, carrinhos, trens de metal e bonecas de madeira.
Porém a imaginação das crianças brasileiras fez com que elas construíssem
seus próprios carrinhos de rolimã, cavalos de pau e bonecas de pano.
No início do século XX começou a funcionar no País a primeira
indústria de brinquedos que lançou diversos jogos como os de vareta e
bonecas mecânicas.
Nos anos 60 surge a boneca Susi, autorama, carrinhos elétricos e o
forte apache.
No final do século XX a indústria de brinquedos brasileiros deu um
enorme salto em criatividade e lançou jogos de estratégia, robôs e vídeo
games.
5.1 – Influencia Portuguesa:
A influência portuguesa foi preponderante nas brincadeiras e jogos
infantis das crianças brasileiras.
Cascudo (2001) afirma que grande parte das práticas lúdicas da
infância brasileira com adivinhas, parlendas, cantigas de roda, histórias de
príncipes, rainhas, assombrações, bruxas e brinquedos, como pipa, pião,
bodoque, jogos de pedrinhas, amarelinha, entre outros, fazem parte da cultura
européia e por isso, segundo Amado (2005) estão, gradativamente entrando
em declínio devido: primeiramente, à cadência a modas ditadas pelas classes
cultural e economicamente favorecidas, e ao seu desejo de ostentação e de
luxo, depois do consumismo desenfreado de produtos acabados e de fácil
aquisição que, no entanto, retira da criança o prazer de descobrir, de inventar,
de fazer e de partilhar (P.306).
45
O folclore português foi, portanto, sendo passado de geração em
geração através da oralidade, e assim, foram sendo conhecidas as lendas,
contos e superstições e as brincadeiras infantis.
Com a ampla miscigenação existente na população brasileira, é
difícil concluir com precisão, qual a influência específica de brancos, negros e
índios nos jogos tradicionais infantis nos dias atuais. Mas segundo KISHIMOTO
(1999: 20-1): “é possível, em alguns casos, efetuar um estudo, especialmente
em contextos onde o predomínio dessas etnias é muito grande, como nos
engenhos de açúcar ou nas tribos indígenas espalhadas pelo país, no fim do
século e começo deste.”
Muitas adivinhas, parlendas e versos foram sendo incorporados ao
cotidiano das crianças brasileiras; personagens como a Cuca, a Mula sem
Cabeça, o Bicho–papão, trazidas pelos portugueses começaram a originar
brincadeiras infantis tendo estas personagens como tema central, e também,
jogos como a amarelinha, a bolinha de gude, jogo de botão e o pião tendo a
mesma aceitação como tinha no passado e sofrendo algumas adaptações de
acordo com quem está brincando, mas sem que com isso tire toda a graça e a
beleza das brincadeiras.
5.2 – A influencia Indígena: Em KISHIMOTO (1999:60), encontra-se singular descrição de
brincadeiras indígenas sendo até hoje realizadas, “a prática de utilizar aves
domésticas como bonecos, bem como o uso do bodoque e do alçapão para
pegar passarinhos e depois criá-los são tradições que permanecem na infância
brasileira.”
Destacar a influência indígena nas brincadeiras infantis, não é muito
fácil, devido à imensidão da sua contribuição no nosso folclore. A mulher
indígena influenciou a base familiar do povo brasileiro, como por exemplo, os
alimentos, o uso de remédios caseiros, alguns aspectos da higiene, utensílios
46
de cozinha e uma série de outros costumes presentes até hoje no dia-a-dia do
nosso povo.
Em algumas tribos as mães fazem os brinquedos para os seus
filhos, como por exemplo, a figura de animais em barro cozido. Na tradição
indígena as bonecas de barro e as figuras que predominam são do sexo
feminino, não são “simples brinquedos, mas elementos de religiosidade.”
As crianças indígenas têm na brincadeira uma forma de aprender
várias atividades do dia-a-dia da sua tribo. As brincadeiras não são um simples
passatempo e sim atividades que preparam para a vida adulta formando um
futuro caçador. As meninas desde pequenas acompanham e auxiliam suas
mães nas tarefas domésticas tais como: cozer a mandioca, fazer farinha, colher
legumes da roça, cuidar dos irmãos. Os brinquedos são um meio de fazer o
pequeno indiozinho a compreender aos poucos, sem a pressão existente na
cultura da criança das cidades, como funciona e é organizado o meio em que
vive. As crianças indígenas não são castigadas, nem reprimidas; sua criação
transcorre sem violência e com base na solidariedade, isto é, quando uma
criança ganha algo, logo reparte com as demais crianças de seu meio. Falando
um pouco dos brinquedos indígenas, há os que até nos dias atuais.
Permanecem nas brincadeiras infantis das crianças brasileiras,
como: o ‘jogo do fio’, conhecido também por ‘cama de gato’; a ‘matraca’, cujo
“movimento de virar e esticar o fio produz um ronronar que diverte os meninos”
(KISHIMOTO, 1999:65); a peteca, cuja apreciação é feita por adultos e
crianças indígenas (sua origem é estritamente brasileira, proveniente de tribos
tupis do Brasil); os jogos de pegador,envolvendo figuras de animais e também “como
todas as crianças, os índios gostam de brincar com animais e
insetos.”(KISHIMOTO,1999:64)
Há entre os indígenas a falta de competitividade, que é “uma
característica das populações primitivas, de vida comunitária, pois precisam da
cooperação para sua sobrevivência (KISHIMOTO, 1999:67); mesmo entre os
adultos não há a figura de um vencedor, não há competição nos jogos que são
realizados.
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O primeiro brinquedo do indiozinho é o chocalho de unha de veado
ou de casca de frutas e tão logo passe a engatinhar, brinca no chão com
pedacinhos de madeira, cava a areia, quando já anda brinca de montar a
cavalo em seus irmãos maiores e rodam pião.
O sentido do jogo como conduta típica de criança, não se aplica ao
cotidiano de tribos indígenas.
Atirar com arco e flecha não é uma brincadeira, é um treino para
caça. Imitar animais é comportamentos místicos tanto de adultos como de
crianças, reflexos de símbolos totêmicos antigos.
Misturados com os adultos, participando de tudo na tribo, pequenos
curumins não se distingue por comportamentos particulares como o brincar.
Adultos e crianças dançam, cantam, imitam animais, cultivam suas
atividades e trabalham para sua subsistência. Mesmo os comportamentos
descritos como jogos infantis não passam de forma de conduta de toda tribo.
As brincadeiras não pertencem ao reduto infantil.
5.3 – Influencia Negra:
Para compreender quais as brincadeiras das crianças originaram-se
dos negros, é preciso que se conheça e entenda sua cultura, sua procedência
o que devido à escravidão. Identificar a influência negra nas brincadeiras
infantis brasileira é tarefa difícil, pois desde que o negro saiu da África para
servir de escravo no Brasil, misturou-se ao cotidiano do período e até mesmo
por falta de documentação da época e também pelo fato da infância não
despertar o interesse de estudiosos.
Sofrida tornou-se difícil, pois o africano para não sofrer mais do que
já sofria, realizou adaptações em sua cultura, acontecendo, por exemplo, a de
ordem religiosa, cujas imagens católicas incorporaram aspectos de sua
religião.
48
Há ainda o fato de que para reprimir rebeliões, os negros eram
separados dos negros provenientes de um mesmo local, ou seja, misturavam-
se aos negros vindos de várias partes da África, acontecendo de nem mesmo
falarem a mesma língua.
Na época da escravidão era costume o menino branco brincar com
meninos negros que lhe serviam como cavalos de montaria, burros de leiteira
de carro de cavalo, em que um barbante servia de rédea e um galho de
goiabeira como chicote. Os sinhozinhos reproduziam nas brincadeiras as
relações de dominação.
As meninas, ao brincarem os jogos de faz de conta, reproduziam a
vida do engenho onde as meninas eram tratadas como servas pelas
sinhazinhas. Entretanto, longe do controle dos adultos essa relação se invertia
nas brincadeiras de pião, papagaio, matar passarinhos, subir em árvores, a
liderança era dos moleques negros que viviam soltos de pé no chão.
As mães africanas, as amas de leite modificaram as canções de
ninar de origem portuguesa e em vez de papão, surgiu o Saci-Pererê, a mula
sem cabeça, as almas penadas, a cuca, mo boitatá, o lobisomem. Essas
superstições, lendas e histórias eram contadas pelas amas negras as crianças
da casa grande e senzalas.
A linguagem infantil também foi influenciada pelas amas como, por
exemplo, Cacá, mimi, neném, dodói, tatá. Segundo KISHIMOTO (1999:28)
Em relação aos jogos e brinquedos africanos, Câmara Cascuda, e,
superstições e Costumes (1958: 50-7), afirma ser difícil detectá-los pelo
desconhecimento dos brinquedos dos negros anteriores ao século XIX. Com
centenas e centenas de anos de contato com o europeu, o menino africano
sofreu influência de Paris e Londres. Além do mais, há brinquedos universais
presentes em qualquer cultura e situação social como as bolas, danças de
roda, criação de animais e aves, corridas, lutas de corpo, saltos de altura,
distância, os quais parecem, segundo o autor, estarem presentes desde
tempos imemoriais em todos os países.
49
Uma dúvida paira sobre qual jogo, brincadeira é proveniente dos
negros, Câmara Cascuda hipotetiza, dizendo que ao vir para o Brasil, não se
tem certeza de que as crianças negras “tiveram ambiente para repetir as
brincadeiras do continente negro, ou aceitaram e adotaram as locais, vividas
por outros meninos.” (KISHIMOTO, 1999:28) Como a cultura naquela época
era passada através da oralidade, provavelmente as crianças negras possam
ter tido a oportunidade de difundir entre as demais crianças que aqui já se
encontravam o repertório de suas brincadeiras ou podem ter encontrado
barreiras principalmente na linguagem.
A cultura negra deixou sua marca transmitida através da oralidade,
pois a mãe-preta sempre contava às crianças histórias de sua terra, como as
lendas, os contos, os mitos, os deuses. Se essa cultura foi oralmente
transmitida talvez seja possível que tais elementos estejam ainda presentes
nas brincadeiras infantis.
50
CONCLUSÃO
O lúdico é uma necessidade do ser humano, quando joga e brinca a
criança aprende a flexibilizar os seus pensamentos e adaptar melhor os seus
conhecimentos e atitudes, através deles a criança tem a oportunidade de
experimentar, criar e descobrir. Eles têm a função de trabalhar a mente e o
corpo, pois exercitam diversas funções que são muito importantes na vida da
criança e mediante a essas atividades a criança conhece e percebe o seu
corpo e o que pode realizar com ele.
No momento do jogo e da brincadeira a criança pode pensar
livremente, ousar, imaginar e determinar as suas ações e tomar as suas
decisões e assim se exercita cognitivamente, socialmente e afetivamente.
Mediante ao comportamento e do modo como a criança joga e brinca
percebemos a maneira de como ela vê o mundo e de como utiliza a sua
inteligência, sua capacidade de argumentar, organizar e construir.
Essa pesquisa buscou mostrar a partir de pesquisas bibliográficas o
importante papel dos jogos e do lúdico na formação da criança na educação
infantil, pois eles vão proporcionar à criança como sujeita a oportunidade de
viver entre o princípio do prazer e o da realidade e assim propiciar o seu
desenvolvimento biopsicossocial.
51
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, P.N. Educação Lúdica, Prazer de estudar Técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola, 1987.
ARAÚJO, Vânia Carvalho. O Jogo no contexto da educação psicomotora. Editora Cortez.
BENJAMIN. W. Reflexões: A criança, o brinquedo e a educação.São Paulo: Summus, 1984.
CHATEAU, Jean. O Jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1987.
FRIEDMANN, Adriana. O Brincar na brinquedoteca.
FRIEDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender. O Resgate do jogo Infantil. Editora Moderna. São Paulo, 1996.
GILLES, Jogos e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
KISHIMOTO, Tisuko Morchida. O jogo, a criança e a educação. Petrópolis : Rj Vozes, 1993.
KISHIMOTO, Tisuko Morchida.O jogo, a criança e a educação. Petrópolis: Rj Vozes, 1999.
PIAGET, Jean. Formação do simbolismo na criança, Zahar. Rio de Janeiro. 1973.
RIZZO, Creche organização, currículo, montagem e funcionamento. Bertrand Brasil, 2006- 4º edição.
RODRIGUES, Maria. O desenvolvimento do pré-escolar e o jogo.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Sucata vira brinquedo. Porto Alegre. Artes Médicas, 1995.
Von, Cristina. A História do Brinquedo. Para as crianças conhecerem e os adultos se lembrarem. São Paulo, Ed. Alegro, 2001.
52
ANEXO 1
FOTO 1
Brinquedos coloridos e interessantes.
53
ANEXO 1
FOTO 2
Brinquedos coloridos e interessantes.
54
ANEXO 1
FOTO 3
Fogão e panelas, brinquedos do universo feminino.
55
ANEXO 1
FOTO 4
Carrinhos brinquedos do universo masculino.
56
ANEXO 1
FOTO 5
Brinquedo de Sucata.
57
ANEXO 1
FOTO 6
Brinquedo de Sucata.
58
ANEXO 1
FOTO 7
Brinquedo de Sucata.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
AGRADECIMENTO ........................................................................................................ 03
DEDICATÓRIA ............................................................................................................... 04
RESUMO ........................................................................................................................ 05
METODOLOGIA ............................................................................................................. 06
SUMÁRIO ....................................................................................................................... 07
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 08
CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................................................. 10
CAPÍTULO II
A HISTÓRIA DO BRINQUEDO....................................................................................... 15
CAPÍTULO III
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................................................................... 21
CAPÍTULO IV
O JOGO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM ................................................. 30
4.1 – Tipos de jogos ........................................................................................................ 32
4.2 – O jogo na concepção de Piaget, Walton e Vygotsk ................................................ 33
CAPÍTULO V
OS JOGOS E BRINCADEIRAS BRASILEIRAS ............................................................. 43
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5.1 – Influências Portuguesa ........................................................................................... 44
5.2 – Influências Indígenas .............................................................................................. 45
5.3 – Influências Negras .................................................................................................. 47
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 50
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 51
ANEXO 1 Fotos .............................................................................................................. 52
Figura 1 brinquedos coloridos e interessantes .......................................................... 52
Figura 2 brinquedos coloridos e interessantes .......................................................... 53
Figuras 3 espaço da família brinquedos do universo feminino ................................ 54
Figuras 4 espaço da família brinquedos do universo feminino ............................... 55
Figuras 5 brinquedos de sucatas. .............................................................................. 56
Figuras 6 brinquedos de sucatas ................................................................................ 57
Figuras 7 brinquedos de sucatas ................................................................................ 58