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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA COMO MEIO ALTERNATIVO À JUSTIÇA DO TRABALHO, NA BUSCA DA CONCILIAÇÃO EM CONFLITOS INDIVIDUAIS AUTORA CECÍLIA LEÃO SOBREIRA ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · às questões relativas ao direito do trabalho brasileiro. Pretende-se estudar o instituto das comissões de conciliação prévia

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA COMO MEIO ALTERNATIVO À JUSTIÇA DO TRABALHO, NA

BUSCA DA CONCILIAÇÃO EM CONFLITOS INDIVIDUAIS

AUTORA

CECÍLIA LEÃO SOBREIRA

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA COMO

MEIO ALTERNATIVO À JUSTIÇA DO TRABALHO, NA

BUSCA DA CONCILIAÇÃO EM CONFLITOS

INDIVIDUAIS

Monografia apresentada à

Universidade Candido Mendes –

Instituto a Vez do Mestre, como

requisito parcial para a conclusão

do curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Direito e Processo do

Trabalho.

Por: Cecília Leão Sobreira.

3

Primeiramente, agradeço a Deus por

estar sempre ao meu lado e me dar força

e determinação para concluir este

trabalho. Agradeço aos mestres da pós-

graduação que me transmitiram muito

conhecimento. Agradeço a todas as

pessoas, que de alguma forma,

contribuíram para a realização deste

trabalho.

4

Dedico este trabalho a minha família que

durante todo o tempo me incentivou e

teve paciência e compreensão durante a

confecção deste trabalho.

5

RESUMO

As Comissões de Conciliação Prévia foram criadas com o objetivo precípuo de incentivar a solução extrajudicial dos conflitos individuais de trabalho a fim de acelerar a solução dos dissídios e desafogar a justiça do trabalho. Os métodos de solução dos conflitos interindividuais e sociais classificam-se basicamente em três grupos: autotutela, autocomposição e heterocomposição. A conciliação feita pelas CCPs é um método de heterocomposição extrajudicial dos conflitos. As comissões podem ser instituídas no âmbito da empresa ou do sindicato. Com relação aos aspectos polêmicos discute-se o caráter paritário, a submissão prévia da demanda à CCP, o título executivo extrajudicial e a eficácia liberatória geral. Quanto à submissão prévia da demanda à CCP, o STF já proferiu decisão liminar em Maio deste ano afirmando que a submissão preliminar não é obrigatória. Em relação à eficácia liberatória geral evidencia-se que essa não gera quitação geral, produzindo efeitos apenas em relação aos créditos discriminados, o que poderá ser observado em acórdãos e opiniões de diversos autores. Conclui-se que as CCPs não atingiram o objetivo principal almejado, constituindo-se o poder judiciário no melhor e mais confiável meio de solução dos conflitos individuais de trabalho.

6

METODOLOGIA

Considerando as justificativas e os objetivos expostos na presente

monografia, é fácil concluir que o estudo aqui proposto foi levado a efeito a

partir do método da pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento

em diversos tipos de publicações, como livros, artigos em revistas, internet e

outros periódicos especializados, além de publicações oficiais da legislação e

da jurisprudência. Foi utilizado o método dogmático positivista.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 9

CAPÍTULO I

COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – CONCEITO, FUNÇÃO SOCIAL,

VANTAGENS E DEFICIÊNCIAS DO INSTITUTO ....................................... 13

1.1 – Conceito e Contexto ............................................................................ 13

1.2 – Função social e vantagens do Instituto ............................................... 15

1.3 – Deficiências do Instituto ....................................................................... 16

CAPÍTULO II

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS ................. 19

2.1 – Histórico . ............................................................................................ 19

2.2– As Recomendações da OIT na conciliação dos conflitos trabalhistas .. 21

2.3 – Métodos alternativos .......................................................................... 24

CAPITULO III

A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL NA SOLUÇÃO DOS LITÍGIOS

TRABALHISTAS ......................................................................................... 32

3.1 – Nos Estados Unidos ............................................................................ 33

3.2 – Na Argentina ....................................................................................... 34

3.3 – Na Alemanha ....................................................................................... 35

3.4 – Em Portugal ......................................................................................... 38

3.5 – Na França ............................................................................................ 39

8

3.6 - Na Itália ................................................................................................ 40

3.7 – Na Espanha ......................................................................................... 41

CAPÍTULO IV

DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA ......................................... 42

4.1 – Da formação da comissão ................................................................... 42

4.2 – Comissão na empresa ......................................................................... 43

4.3 – Comissão no sindicato ........................................................................ 45

4.4 – Dos procedimentos da comissão......................................................... 46

4.5 – Dos efeitos da conciliação ................................................................... 51

CAPÍTULO V

ASPECTOS POLÊMICOS DA LEI 9.958/00- INCONSTITUCIONALIDADES

ARGUÍDAS .................................................................................................. 52

5.1 – O caráter paritário................................................................................ 52

5.2– Direito de ação: a controvertida natureza jurídica da submissão da

demanda ao sistema prévio conciliatório...................................................... 53

5.3 – Título executivo extrajudicial e eficácia liberatória geral ...................... 55

CONCLUSÃO ............................................................................................. 59

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 63

ANEXOS ..................................................................................................... 66

9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um estudo sobre a lei 9.958/2000 que tem por

escopo incentivar a solução extrajudicial dos conflitos trabalhistas a fim de

diminuir a litigiosidade, com repercussões no Judiciário. Isto porque, ao longo

dos anos a população tem aumentado, sem acompanhamento da oferta de

postos de trabalho. Ademais, a rotatividade dos trabalhadores é elevada, uma

vez que não há política de manutenção do emprego e vedação das dispensas

imotivadas.

O presente estudo é de suma importância para os operadores de

direito, sobretudo aos atuantes na Justiça do Trabalho, tendo em vista a grande

polêmica provocada com a instituição das Comissões de Conciliação Prévia,

sob a justificativa de solucionar os conflitos trabalhistas de forma mais rápida e

consensual, sem o acirramento de ânimos que uma contenta judicial

naturalmente provoca, ocasionando dessa forma, o “desafogamento” da

máquina judiciária, tendo em vista que, como órgão integrante do Poder

Judiciário Nacional, a Justiça do Trabalho, nos últimos anos, tem sofrido

severas críticas quanto à morosidade na prestação jurisdicional.

Tendo como um dos fatores determinantes para a demora na

prestação jurisdicional, o exacerbado número de demandas oriundas de

conflitos individuais de trabalho, tornando relevante a crise de eficiência e

credibilidade pelo qual passa o Judiciário, e que atinge particularmente a

Justiça do Trabalho.

Neste campo vale destacar, ainda, que para efeito das aludidas

prerrogativas será preciso preservar o conceito da conciliação extrajudicial, o

que requer a depuração e o afastamento daquelas experiências sociais que

comprometam a credibilidade das Comissões de Conciliação Prévia; posto que

onde houver abuso de direito, finalidade deturpada ou comportamento

10

orientado pela fraude aos direitos do trabalhador brasileiro, a intenção

verdadeira do mencionado instituto jamais será alcançada.

Sob tal ótica, cabe asseverar que são nulos os atos praticados com

o intuito de fraudar, desvirtuar ou impedir a aplicação das normas trabalhistas

de ordem pública, à luz do art. 9º, da CLT, posto que, no direito do trabalho

prevalece o Princípio da Proteção ao Trabalhador, do qual decorrem vários

outros princípios, tais como a Indisponibilidade e a Irrenunciabilidade de

direitos fundamentais, dentre diversos outros.

Com efeito, é preciso haver maior conscientização pela Justiça

Trabalhista, pelos Sindicatos de Classes ou mesmo pelo Governo Federal no

tocante a esta possibilidade de resolução de conflito, sem o ingresso no

Judiciário. Assim, não se pode deixar de ressaltar que as Delegacias do

Trabalho devem manter constante fiscalização junto às CCPs para evitar

fraudes que venham a lesar qualquer uma das partes, lembrando que a boa-fé

deve nortear as Comissões para seu pleno êxito.

Com o intuito de proporcionar um melhor desempenho social da Lei

nº. 9.958/2000, torna-se imperioso a efetiva disposição das empresas e dos

sindicatos patronais e profissionais, em suas negociações coletivas, de

procurar implementar no bojo de suas categorias, mecanismos efetivos para a

constituição e funcionamento das Comissões.

Logo, ao lado dos critérios legais, devem ser traçados outros que

visem à efetiva busca da conciliação, compondo-se o conflito individual de

trabalho, com respeito à dignidade do trabalhador, bem como se observando

os direitos sociais e as garantias fundamentais do cidadão. Indubitavelmente, a

efetiva atuação das Comissões de Conciliação Prévia, ao que tudo indica,

depende da difusão de seus benefícios na sociedade.

A pesquisa que precedeu esta monografia teve como ponto de

partida o pressuposto de que para a solução dos conflitos trabalhistas existem

meios autônomos e heterônomos de resolver as pendências entre o capital e o

trabalho, os quais se constituem em meios alternativos judiciais ou

extrajudiciais e que, ademais são produto da convergência de interesses, tanto

11

da sociedade como do Estado, que têm como foco central dirimir e desvendar o

maior número possível de conflitos no campo laboral.

Nesse cenário, surge a negociação, como instrumento autônomo

que é por excelência, para solucionar esses conflitos; podendo ocorrer na

pendência de um processo judicial ou extrajudicialmente. Se a conciliação é

extrajudicial, ou seja, direta entre os interessados, e não se refere a nenhuma

pendência em juízo, independe de homologação do Judiciário.

A verdadeira razão de ser das Comissões é tentar conciliar os

conflitos individuais oriundos da relação do trabalho, reunindo empregados e

empregadores, no prazo de dez dias, para realizar a sessão de tentativa de

conciliação a partir da data da provocação do interessado, conforme regula a

CLT em seu artigo 625-F.

Visando um trabalho objetivo, cujo objeto de estudo seja bem

delineado e especificado, a presente monografia dedica-se, especificamente,

às questões relativas ao direito do trabalho brasileiro. Pretende-se estudar o

instituto das comissões de conciliação prévia no momento atual, mas fazendo

uma retrospectiva histórica do direito do trabalho com o objetivo de observar a

evolução das tentativas de conciliação de conflitos.

No primeiro capítulo a presente monografia apresenta o tema

conceituando o instituto, abordando sua função social, vantagens e deficiências

com o objetivo de proporcionar uma visão ampla do assunto aqui estudado.

No segundo capítulo inicia-se um aprofundamento do estudo através

de um breve histórico, recomendações e convenções da OIT relacionadas com

o instituto da CCP e os métodos alternativos de solução de conflitos existentes

no direito do trabalho.

No terceiro capítulo estuda-se a relevância do direito comparado

nas diversas formas de solução dos conflitos coletivos do trabalho adotadas em

outros países, no sentido de proporcionar uma reflexão acerca do incentivo aos

institutos da mediação e da negociação coletiva no Brasil.

12

O quarto capítulo tem como objetivo retratar a formação e os

procedimentos da comissão de conciliação prévia, bem como sua atuação nas

empresas e sindicatos.

O quinto capítulo tem o objetivo de ressaltar pontos controvertidos e

analisar as constitucionalidades da matéria em questão.

Dessa forma, o presente estudo consiste em evidenciar as principais

alterações trazidas pelo referido diploma legal, enfatizando as garantias

constitucionais do trabalhador, não pretendendo, em hipótese alguma, esgotar

todas as discussões e questionamentos advindos do implemento das

Comissões de Conciliação Prévia.

13

CAPÍTULO I

COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – CONCEITO, FUNÇÃO SOCIAL, VANTAGENS E DEFICIÊNCIAS DO

INSTITUTO.

Este capítulo introduz o tema tratando dos conceitos de conciliação,

comissão e comissões de conciliação prévia. São abordadas também a função

social, vantagens e deficiências do instituto.

1.1 Conceito e Contexto

O vocábulo conciliação significa “harmonização de litigantes ou

pessoas desavindas.”.

Sérgio Pinto Martins se refere aos termos conciliação e conciliador

(do latim, conciliatore) em seu livro com a finalidade de introduzir o tema e

estipular classificações: quanto à forma que é feita, e quanto à vontade das

partes, assim:

Conciliação vem do latim conciliatione, que tem o sentido de conciliar, ajuste, acordo ou harmonização de pessoas desavindas, composição ou combinação. Conciliador é um terceiro que nem faz propostas ou mediação, apenas aproxima as partes. As próprias partes depois chegam à conciliação. A conciliação tanto pode ser judicial, como extrajudicial (MARTINS, 2001, p. 21).

José Augusto Pinto entende a conciliação como a atividade de

alguém estimular a solução negociada de um conflito de interesses, tentando

aproximar seus protagonistas, para que eles lhe ponham fim. De uma forma

mais sintética e no mesmo sentido, é o pensamento de Octávio Bueno

Magano: “Conciliação é o negócio jurídico em que as partes respectivas, com

assistência de terceiro, põem fim a conflito entre elas existente” (MAGANO,

1984, p. 189). Uma tênue diferença entre os conceitos mostra dois estados da

figura da conciliação, respectivamente, como processo ou método de

negociação e como resultado ou negócio jurídico obtido mediante concessões

14

recíprocas de interesses. Logo, a conciliação cabe nas duas áreas de solução

dos conflitos, em geral, e do trabalhista, em particular, a autocomposição e a

heterocomposição. O fator determinante de sua inserção num desses dois

campos é a presença do terceiro no processo e, pois, a influência de sua ação

pacificadora dos interesses para o resultado (PINTO, 2007, pp. 847-848).

Com efeito, Wagner D. Giglio entende que:

A conciliação, no nosso entender, tem um conceito mais amplo do que o acordo, significando entendimento, recomposição de relações desarmônicas, desarme de espírito, compreensão, ajustamento de interesses; acordo é apenas a consequência material, regra geral econômica, da conciliação das partes (GIGLIO, 2007, pp. 208-209).

Quanto ao termo “comissão” na Lei sob comento, comissão refere-

se a um grupo de pessoas representando, paritariamente, os empregadores e

os empregados.

Comissões de Conciliação Prévia, de fato e de direito, constituem-se

tão-somente um conjunto de pessoas, pois não têm personalidade jurídica

própria; pessoas essas, que na condição de representantes dos empregados e

dos empregadores, reúnem-se com o fito de tentar promover a conciliação de

suas divergências, decorrentes da relação de trabalho, uma vez que não se

pode ignorar que a Justiça do Trabalho é, na sua essência, conciliatória.

É salutar ressaltar o princípio da irrenunciabilidade de direitos que

deve, no mínimo, opor limites às decisões proferidas pelas Comissões. É um

princípio em que há um acordo unânime dos autores quanto a sua vigência e

importância. No Direito do Trabalho ninguém pode privar-se das possibilidades

ou vantagens estabelecidas em seu proveito próprio.

É mister ressaltar que as Comissões têm composição paritária, ou

seja, devem ser compostas por igual número de representantes de empregado

e empregadores, respeitando o princípio da igualdade.

Na visão de Furtado (2000, p. 89), as Comissões são “uma espécie

de filtragem de ações judiciais, ações que, doravante, regra geral, somente

15

serão interpostas caso se esgote a tentativa conciliatória extrajudicial...”. Afirma

Martins que:

A criação das comissões prévias de conciliação assim como dos juizados especiais de pequenas causas trabalhistas é uma reivindicação antiga da doutrina, de forma a tentar desafogar a Justiça do Trabalho do excessivo número de processos. (MARTINS, 2002, p. 77)

A Lei 9.958/2000 alterou o artigo 876 e introduziu o artigo 877 da

CLT, atribuindo aos termos de conciliação lavrados perante as comissões a

força de título executivo extrajudicial, ou seja, o que foi acordado na conciliação

tem caráter obrigatório sob pena de execução. Tal fator dá maior credibilidade

às comissões, obrigando ao empregador cumprir o acordo.

1.2 Função social e vantagens do instituto

As Comissões de Conciliação Prévia exercem uma função social,

pois permitem prevenir conflitos e controvérsias jurídicas que, normalmente,

produzem um ambiente de hostilidade e animosidade entre os sujeitos de uma

relação de emprego, servindo como um autêntico instrumento alternativo,

precursor da harmonia social, paz e solução amistosa extrajudicial entre esses

sujeitos.

Além disso, as Comissões de Conciliação Prévia possuem as

seguintes vantagens: Diminuição de gastos para a empresa, devido a não

obrigatoriedade de contratação de advogado; Solução mais rápida, para o

empregado, de suas pendências trabalhistas, com o recebimento das parcelas

que lhe são devidas; Valor mais baixo da maior parte dessas ações, de modo

que o custo do processo, para o Poder Judiciário, é muito mais elevado do que

o valor pretendido pelo empregado; Não complexidade da maior parte das

reclamações trabalhistas, sendo que cerca de 60% delas resulta em acordo;

Instrumento de triagem das Comissões, porque o conflito pode ser resolvido na

própria empresa ou em âmbito sindical; Diminuição acentuada, na Justiça do

Trabalho, de revelia em matéria fática, de difícil reparação, em decorrência da

16

citação postal, muitas vezes deficiente; Impossibilidade de futuras ações do

empregado sobre matéria já discutida no momento da dispensa ou na vigência

do contrato, pois no acordo conciliatório o empregado dará quitação geral da

demanda, ressalvados títulos não conciliados, conforme parágrafo único do art.

625-E da CLT; Melhor ocupação do tempo do advogado trabalhista na

empresa, pois não se ocupará com audiência para tentar resolver conflito, que

pode ser solucionado nas Comissões de Conciliação Prévia, mas se deterá na

análise de conflitos que importem em matéria de direito; Desafogamento da

Justiça do Trabalho, vide, por exemplo, a diminuição significativa do número de

reclamações trabalhistas e do custo arcado pelo Poder Judiciário, em virtude

da criação, anterior à Lei nº 9.958, de uma espécie de comissão de conciliação

por algumas empresas.

1.3 Deficiências do instituto

Reginaldo Melhado enumera quatro pontos das Comissões de

Conciliação Prévia que devem prejudicar os trabalhadores:

Exigência da conciliação prévia em um contexto político desfavorável aos trabalhadores, ainda insuficientemente organizados; a falta de normas jurídicas disciplinando o processo de criação das comissões na empresa e a eleição dos representantes dos trabalhadores; a omissão do legislador quanto às regras de exceção para afastar o requisito da conciliação prévia em inúmeras hipóteses e a cruel inversão da lógica, ao consagrar a eficácia liberatória independentemente de demanda e transação expressas. (Comissões de Conciliação: a lógica ao avesso, in Revista Genesis, Curitiba, Genesis Editora, março/2000, p. 406).

Além desses, pode-se enumerar outros pontos negativos, cabendo

destacar: os empregados da comissão se houver muitas conciliações a fazer,

deixarão de trabalhar nas suas funções normais, o que diminuirá a

produtividade e aumentará os custos da empresa, pois será obrigada a pagar o

tempo em que o empregado estiver participando da Comissão; a eventual falta

de experiência dos membros da Comissão poderá dificultar o alcance dos

objetivos da conciliação; o empregado, sem qualquer estabilidade, sentir-se-á

17

constrangido em insurgir-se contra a empresa durante a relação de emprego;

ainda que detenha estabilidade provisória, os representantes dos empregados

poderão ficar temerosos em defender, na sessão de conciliação da Comissão

da empresa, os interesses dos seus colegas em detrimento dos interesses do

empregador;

Quanto à questão da estabilidade no emprego é importante tecer

alguns comentários. De acordo com o parágrafo primeiro do artigo 625-D da

CLT temos:

É vedada a dispensa dos representantes dos empregados membros da Comissão de Conciliação Prévia, titulares e suplentes, até um ano após o final do mandato, salvo se cometerem falta grave, nos termos da lei.

Primeiramente, por analogia ao entendimento da Orientação

Jurisprudencial nº 86, da SDI do Tribunal Superior do Trabalho, não há garantia

de emprego no caso de encerramento da atividade da empresa.

A Lei nº 9.958/00 é omissa no tocante ao início da estabilidade

temporária dos representantes dos empregados, o que vem criando uma série

de polêmicas.

Pode-se defender, porém, a estabilidade do empregado a partir do

registro de sua candidatura, por analogia ao art. 8º, VIII, da Constituição

Federal, e ao art. 10, II, “a”, do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias da Constituição Federal de 1988, referentes, respectivamente, à

estabilidade dos dirigentes sindicais e dos cipeiros conforme a seguir:

Art. 8º, VIII - é vedado a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Art. 10º, II, a - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o

18

registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato.

Utilizando-se da mesma fundamentação legal, pode-se ter o

entendimento que a estabilidade tem início com a eleição, pois se a Lei nº

9.958, de 12 de janeiro de 2000, pretendesse a estabilidade temporária dos

representantes dos empregados e respectivos suplentes a partir da

candidatura, assim teria expressamente disposto, como o fez a Constituição de

1988 em vigor.

Cumpre assinalar que os representantes dos empregadores não

gozam do direito de estabilidade provisória porque, contrariamente aos

representantes dos empregados, que são eleitos, são eles indicados pelo

empregador. Sem precisar ser necessariamente empregado, pois a Lei nada

dispõe nesse sentido.

Os representantes dos empregados, porém, devem ser empregados

da empresa, até porque não teriam garantia de emprego se empregados não

fossem. Daí se infere que o aposentado não pode ser membro de Comissão de

Conciliação Prévia instituída pela empresa, salvo se ainda empregado dessa

empresa ou se indicado pelo empregador.

Vale ressaltar que falta grave cometida por membro de Comissão de

Conciliação Prévia não será apurada mediante inquérito para apuração de falta

grave. Isso porque, só contrário com que acontece com o dirigente sindical, em

que o § 3º do art. 543 da CLT estabelece que a falta seja apurada “nos termos

dessa Consolidação”, remetido aos arts. 853 a 855 da CLT, o § 1º do art. 625-B

da CLT não utiliza essa expressão. Melhor seria que a Lei tivesse

expressamente acolhido o procedimento do inquérito para apuração de falta

grave. Havendo inquérito, o empregado membro de Comissão de Conciliação

Prévia, certamente ficaria mais bem protegido, em virtude da necessidade de

prova por parte do empregador e da prevalência dos princípios do contraditório

e da ampla defesa.

19

CAPÍTULO II

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE

CONFLITOS

Este capítulo tem por escopo delinear alguns pontos da discussão

sobre a necessidade objetiva da utilização de outras formas de solução dos

conflitos derivados da relação capital – trabalho, face à exaustão do atual

sistema de solução dos conflitos de interesse, demonstrada no volume

monstruoso de processos em curso.

2.1 – Histórico

A busca pela negociação extrajudicial, como meio de alcançar-se a

tão propagada “paz social”, fim inerente a todos os ramos do Direito, talvez

encontre origem, ao menos em termos de textos escritos e ideais consolidados

conforme bem informa o Ministro João Oreste Dalazen na Recomendação n.

94, de 1952, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prescrevia,

àquela época, a criação de organismos de consulta e colaboração entre

empregadores e trabalhadores, no âmbito da empresa, para prevenir ou

conciliar as respectivas controvérsias, excluindo de suas atribuições apenas às

questões compreendidas no campo da negociação coletiva, por se tratarem

estas de competência de entidades sindicais.

A constituição de 1824 (art. 161), já preceituava que os Juízes de

Paz estavam investidos da função conciliatória prévia, que constituía condição

obrigatória para o exercício de qualquer processo.

Além do mecanismo antes mencionado, outro, mais recente, veio a

demonstrar, pela letra das orientações da OIT, o reflexo da necessidade de se

criarem meios de solução de dissídios e controvérsias por meio da negociação

20

extrajudicial, pois apesar de a Constituição garantir a todos o acesso à justiça,

muitas vezes este pode não ser o melhor caminho.

Assim, a OIT, através da Convenção 154/81, estabeleceu como

princípios o reconhecimento mútuo da representatividade, a aceitação da

legitimação e o reconhecimento da predisposição das partes de estabelecer um

processo de comunicação fundado no diálogo, orientado para o fim de

conciliar.

Vem de longe o reclamo da doutrina brasileira pela

institucionalização de comissões paritárias no âmbito da empresa ou do

sindicato, servindo como instância prévia e obrigatória ao ajuizamento de

qualquer ação individual ou plúrima.

Coube a Luiz José de Mesquita, lançar a idéia-força desse

mecanismo extrajudicial de busca de apaziguamento da inconformidade antes

que adquirisse a feição de conflito, de pretensão resistida. A pedra fundamental

da proposta foi seu estudo precursor,1 ao qual se seguiu o correspondente

projeto de lei n.º 2.819, de 1980. Inúmeras iniciativas legislativas seguiram sua

trilha. A própria Academia Nacional de Direito do Trabalho propugnou por esse

mecanismo compositivo e formulou proposta, acolhendo-o. 2

Outros projetos como o de n. 3118/92, de autoria do deputado Victor

Faccioni, inspirado na iniciativa do Colégio de presidentes e Corregedores dos

Tribunais regionais do País e o de n. 4.768, de 1994, do Poder Executivo

previam a obrigatoriedade de conciliação prévia, com requisito para o

ajuizamento da ação.

Arnaldo Süssekind, Eugênio Roberto Haddoch Lobo, Segadas

Vianna, entre tantos outros esgrimiram argumentos conducentes à criação de

comissões paritárias para compor a dissidência, no local onde brotasse. A

própria Justiça do Trabalho adensou a proposta. Chegou mesmo a elaborar

projetos de lei. O TST propôs um anteprojeto de lei processual do trabalho. No

bojo dessa proposta, de largo espectro, desponta previsão detalhada sobre as 1 Direito disciplinar do trabalho, São Paulo, Saraiva, 1950, pág. 296 aludia à “Comissão Interna de

Empresa”. 2 In Revista LTR, São Paulo, LTR, abril/93, págs. 394/396.

21

“comissões de conciliação prévia”. Em seguida, o colégio de Presidentes dos

Tribunais Regionais do Trabalho abraça proposta similar.

Por fim pela exposição de motivos n. 309, de 28.7.98 o Presidente

da República submeteu ao debate parlamentar o projeto de lei n. 4.694/98,

elaborado pelo Congresso, que mereceu sanção presidencial e, foi

transformado na lei n. 9958, de 12.1.2000.

As comissões se justificam pela possibilidade de solução rápida e

consensual da divergência, sem o acirramento de ânimos que uma contenda

judicial naturalmente provoca. Por efeito decorrencial, contribui para desafogar

a máquina judiciária, pois a garantia constitucional alusiva ao acesso ao

judiciário muitas vezes não consegue realizar a prestação jurisdicional de forma

completa.

A solução amigável de cerca de 50% das ações trabalhistas

propostas – dado consistente nas estatísticas da Justiça do Trabalho – não era

atributo dos órgãos judicantes de 1º grau e, menos ainda, da atuação dos

representantes legais. Esse dado bradava pela ausência da via compositiva

extrajudicial, agora finalmente atribuída pelo Estado aos atores sociais.

A criação de CCP, assim como dos juizados especiais de pequenas

causas, é uma reivindicação antiga da doutrina, de forma, como já dito

anteriormente, a tentar desafogar a Justiça do excessivo número de processos.

Na década de 60, foram propostas 3.333.214 ações. Na década de 70,

4.827.884 ações. Na década de 80, 9.091.374 ações. De 1990 a 1995,

8.911.179 ações. Atualmente, a cada ano são propostas por volta de dois

milhões de ações.

2.2 – As Recomendações e convenções da OIT na conciliação

dos conflitos trabalhistas

A OIT é uma estrutura tripartite, que reúne representantes dos

empregadores, dos trabalhadores e dos governos.

22

As normas internacionais do trabalho são instrumentos jurídicos que

estabelecem princípios e direitos básicos no trabalho. As normas são

preparadas pelos dirigentes da OIT (governo, empresários e trabalhadores) e

aprovadas na Conferência Internacional do Trabalho da OIT. As normas

elaboradas podem tomar a forma de Convenção ou Resolução. Essas podem

ser ratificadas ou não pelos países membros. Caso um país membro decida

ratificar uma convenção, em geral, esta entra em vigor nesse país um ano

depois da aprovação da ratificação.

A prática da negociação coletiva é incentivada pela OIT, por

considerá-la a melhor forma de composição dos interesses nas relações de

trabalho. As diretrizes dessa entidade são consubstanciadas em diversos

documentos.

A ideia de solucionar os conflitos trabalhistas, de forma apartada,

nasce, especificamente, no advento da Recomendação n. 92 da OIT, no

sentido de buscar a resolução de conflitos e buscar a resolução através de uma

comissão paritária.

Sobre a criação dos organismos viabilizadores da conciliação

voluntária entre patrões e empregados tem-se a Recomendação n. 92 da OIT

que sugere a criação de organismos de conciliação voluntária, de base mista,

constituídos de empregados e empregadores, com o objetivo de prevenir e

solucionar conflitos entre eles.

A Convenção 98 da OIT, de junho de 1949, prevê as negociações

coletivas baseadas na tripartição e nos mecanismos alternativos de negociação

e estimula os países conveniados a adotar diversas proposições relativas à

aplicação dos princípios do direito de organização e de negociação coletiva.

O artigo 4º da Convenção 98 assim dispõe:

Deverão ser tomadas, se necessário for, medidas apropriadas às condições nacionais para fomentar e promover o pleno desenvolvimento e utilização de meios de negociação voluntária entre empregadores ou organizações de empregadores e organizações de trabalhadores, com o objetivo de regular, por meio de convenções, os termos e condições de emprego.

23

A OIT, na Recomendação n.º 94, de 1952, propõe a instituição de

organismos de consulta e colaboração entre empregadores e trabalhadores no

âmbito empresarial, visando a conciliar controvérsias, a estimular acordos e a

excluir de seu campo de aplicação apenas às questões próprias da negociação

coletiva pertinente aos sindicatos.

A Recomendação n.º 130 da OIT, de 1967, versa sobre o exame de

reclamações dentro da empresa. Essa recomendação da OIT deixa claro que

nenhuma das disposições ali inseridas poderá limitar o acesso do trabalhador

ao Judiciário, enfatizando que o representante do empregado não poderá ter

nenhum prejuízo pelo fato de exercer essa representação.

Recentemente, o plenário da Câmara Federal aprovou dia 1º de

outubro de 2009, o projeto de Decreto legislativo 795/08, que ratifica a

Convenção 151 da OIT. A proposta será enviada para análise do Senado, para

após ser ratificada pelo presidente da República. A Convenção 151 da OIT

aplica-se a todas as pessoas empregadas pelas autoridades públicas (em

todos os níveis municipal, estadual e federal) e se refere a garantias a toda

organização que tenha por fim promover e defender os interesses dos

trabalhadores da função pública. Ela garante, entre outros, o direito de

negociação, a proteção contra atos discriminatórios no exercício da função e a

garantia de que o servidor possa exercer a atividade sindical sem sofrer

punições.

A ordem jurídica brasileira nunca reconheceu explicitamente o direito

de os servidores participarem da elaboração de regras aplicáveis às relações

de trabalho com o poder público (art. 39, § 3º, CF), ou seja, sempre foi negada

a autonomia coletiva (ou negociação coletiva) aos servidores. Suas condições

de trabalho sempre foram definidas unilateralmente pela União, pelos Estados

Federados, Distrito Federal ou municípios.

A ratificação da Convenção 151 da OIT tem como propósito romper

com os resquícios do Estado autoritário, na medida em que caminha na defesa

24

da tese da autonomia sindical. Aponta, com isso, para o estabelecimento de

novos padrões de relações de trabalho no setor público.

Vale dizer, conforme ensina o mestre Arnaldo Süssekind, que as

recomendações destinam-se a sugerir normas que podem ser adotadas no

ordenamento do país membro da OIT.

Desta forma, certamente devemos aplicar os ensinamentos advindos

do Direito Comparado, mas é imprescindível, considerar os variáveis presentes

no sistema nacional, dentre elas, a desarticulação do movimento sindical,

baixíssimo nível cultural do trabalhador e o crescente descrédito das

instituições estatais.

2.3 Os Métodos Alternativos

Os conflitos são inerentes à vida em sociedade. Não havendo como

os eliminar completamente, torna-se necessário instituir técnicas destinadas a

os solucionar.

Esta afirmação supra é válida para a generalidade das relações

sociais, é uma verdade também para o mundo do trabalho, apesar dos

esforços doutrinários de orientação mais patronal a tratar empregados e

empregadores como parceiros sociais.

São distintos os métodos de solução dos conflitos interindividuais e

sociais conhecidos no mundo ocidental contemporâneo. Classificam-se

basicamente em três grupos: autotutela, autocomposição e heterocomposição.

Diferenciação essencial entre tais grupos encontra-se nos sujeitos

envolvidos e na sistemática operacional do processo de solução do conflito. É

que, na autotutela e autocomposição, apenas os sujeitos originais em confronto

é que tendem a se relacionar na busca da extinção do conflito, o que dá origem

a uma sistemática de solução da controvérsia autogerida pelas próprias partes

(na autotutela gerida na verdade por uma única das partes, como ocorre na

hipótese de greve).

25

Na heterocomposição, diversamente, verifica-se a intervenção de

um agente exterior aos sujeitos originais na dinâmica de solução do conflito, o

que acaba por transferir, em maior ou menor grau, para este agente exterior a

direção dessa própria dinâmica. Ou seja, a solução da controvérsia não é mais

exclusivamente gerida pelas partes, porém transferida para entidade

interveniente3.

O trabalho apresenta neste ponto em seguida as notas

características centrais da autotutela, da heterocomposição e da

autocomposição.

Autotutela: Ocorre quando o próprio sujeito busca afirmar,

unilateralmente, seu interesse, impondo-o à parte contestante e à própria

comunidade que o cerca. A autotutela permite o exercício de coerção por um

particular, em defesa de seus interesses. A cultura ocidental tem restringido as

formas de exercício da autotutela, transferindo ao aparelho de Estado as

diversas e principais modalidades de exercício de coerção.

Essa significativa restrição à sistemática autotutelar de

gerenciamento de conflitos tem merecido tratamento isolado no direito

contemporâneo, remanescendo em algumas poucas situações hipotéticas. No

direito civil brasileiro é o que se passa, com a legítima defesa e no esbulho

possessório.

No direito do trabalho, a greve constitui importante exemplo de

utilização da autotutela na dinâmica de solução de conflitos coletivos

trabalhistas. Entretanto, conforme já anotado,4raramente ela completa seu ciclo

autotutelar, impondo à contraparte toda a solução do conflito: o que ocorre é

funcionar esse mecanismo como simples meio de pressão, visando o alcance

mais favorável na dinâmica negocial coletiva em andamento ou a se iniciar.

Nesse sentido, não se apresenta a autotutela como um método autônomo de

3 O artigo é extraído de duas obras de Maurício Godinho Delgado “Direito Coletivo do Trabalho”, São

Paulo: LTr, 2001, capítulo VI, e "Curso de Direito do Trabalho”, São Paulo: LTr, 2002, capítulo XXXVIII.

4 Delgado, Maurício Godinho, ‘“Direito Coletivo do Trabalho”, São Paulo: LTr, 2001 em especial no capítulo V do livro, "Impasses na Negociação Coletiva – Greve”. Ver também capítulo XXXVII da obra do mesmo autor, "Curso de Direito do Trabalho”, São Paulo: LTr, 2002.

26

solução de conflitos, mas como instrumento a serviço de outra forma de

solução, excepcionalmente da negociação coletiva.

Autocomposição: Ocorre quando o conflito é solucionado pelas

próprias partes, sem intervenção de outros agentes no processo de pacificação

da controvérsia. A autocomposição verifica-se seja pelo despojamento

unilateral em favor de outrem da vantagem por este almejada, seja pela

aceitação ou resignação de uma das partes ao interesse da outra, seja

finalmente, pela concessão recíproca por elas efetuada. Na autocomposição

não há exercício de coerção pelos sujeitos envolvidos.

São modalidades de autocomposição a renúncia, a aceitação ou

resignação, e a transação.

A renúncia ocorre quando o titular de um direito dele despoja, por

ato seu unilateral, em favor de alguém. A aceitação verifica-se quando uma das

partes reconhece o direito da outra, passando a conduzir-se em consonância

com esse reconhecimento. E a resignação ou submissão são a inércia em

reagir em face da manifestação do direito de outrem. A transação, por sua vez,

verifica-se quando as partes que se consideram titulares do direito solucionam

o conflito através de concessões recíprocas.

Registra-se que o direito do trabalho apresenta importantíssima

modalidade de autocomposição, a negociação coletiva conceituada como

transação coletiva.

Heterocomposição: Acontece quando o conflito é solucionado

através da intervenção de um agente exterior à relação conflituosa original. Ao

invés de isoladamente ajustarem a solução de sua controvérsia, as partes

submetem a um terceiro seu conflito, em busca de solução a ser por ele

afirmada ou, pelo menos, por ele instigada ou favorecida.

Na heterocomposição também não há exercício de coerção pelos

sujeitos envolvidos. Entretanto pode haver, sim, o exercício coercitivo pelo

agente exterior ao conflito original, como se passa no caso da jurisdição. A

heterocomposição distingue-se da autocomposição pelo fato de comportar

exercício institucionalizado de coerção ao longo do processo de análise do

27

conflito, assim como no instante de efetivação concreta do resultado final

estabelecido.

São modalidades de heterocomposição a jurisdição, a arbitragem, e

a conciliação.

É evidente que o papel exercido por este agente exterior e a

intensidade de sua intervenção são aspecto que variam significativamente em

consonância com os tipos dos mecanismos heterocompositivos. No método

jurisdicional são muito grandes tanto os papéis como a intensidade interventiva

desse agente exterior: isso também se verifica, ainda que em menor medida,

no método arbitral. Mesmo na conciliação, judicial ou extrajudicial, é

significativo o potencial direcionador e de influência da entidade interveniente,

que pode, sem dúvida, manter o controle de todo o processo conciliador, ainda

que a decisão final caiba às partes.

O mais importante método de heterocomposição de solução de

conflitos interindividuais e sociais existentes na sociedade ocidental é a

jurisdição que se exerce por meio de segmento específico do poder

institucionalizado do Estado, o Judiciário. Os juízes e tribunais são os agentes

especializados para o exercício da jurisdição, que ocorre através do processo

judicial. O resultado da resolução do conflito pela via jurisdicional consuma-se,

quando não há acordo, pela sentença, ato pelo qual o juiz decide a lide entre

as partes processuais, através da aplicação do direito ao caso concreto.

A arbitragem, internacionalmente conhecida, é uma extensão da

negociação coletiva. É o procedimento de solução mediante as partes

submetem o conflito a um órgão ou a uma pessoa que proferirá uma decisão.

Essa pessoa, suprapartes, denomina-se árbitro. A decisão que proferirá tem o

nome de laudo arbitral.

Difere o árbitro do juiz. Ambos decidem. O juiz, no entanto, o faz

investido pelo Estado de funções jurisdicionais. O árbitro não é um juiz. Pode

ser um particular. Nem detém o exercício da jurisdição e não decide em nome

do Estado. As partes se comprometem a acatar a sua decisão, embora esta

não seja dotada de força executória, na medida em que se uma das partes se

28

recusar a cumpri-la só resta submetê-la a um juiz e este sim terá poderes de

constranger as partes.

Existem dois tipos de arbitragem na teoria dos conflitos: a

arbitragem oficial e a particular. A primeira é aquela na qual é árbitro um

funcionário do governo. A segunda é aquela na qual o árbitro é um particular,

um profissional, um perito. Por outro lado, a arbitragem pode ser facultativa ou

obrigatória, conforme as leis do país dispuserem. Há países nos quais as

partes só submeterão seus conflitos a uma arbitragem se quiserem e em outros

a lei as obriga a isso. Somente será válida a arbitragem jus laboral no plano do

direito coletivo, pois somente neste é que podem existir garantias grupais

necessárias para uma equânime distribuição de poder no âmbito dos sujeitos

em conflito. Outra forma de heterocomposição é a conciliação dos conflitos,

que permite pôr um ponto final na disputa, também por meio da própria

deliberação dos litigantes.

A conciliação pode ser extrajudicial ou judicial; aquela é prévia ao

ingresso da ação no judiciário, sendo via de regra colegiada, intentada, por

órgão, sindical ou não com atribuições para esse fim; esta, a judicial ocorre

perante um Tribunal.

A conciliação será judicial, quando processada perante o judiciário,

tanto nos dissídios individuais, caso em que se realiza perante a mesma Vara

do Trabalho ou juiz de direito investido da jurisdição trabalhista, que à falta de

conciliação, julga a lide, como nos dissídios coletivos, antes da sessão de

julgamento, na audiência de conciliação quando o juiz do tribunal se vê

obrigado a apresentar uma proposta de solução.

A Conciliação serve para encaminhar as partes a um acordo ou

solução mutuamente aceitável, utilizando-se o conciliador de suas próprias

faculdades de razoabilidade e persuasão. Distingue-se dos demais métodos

por sua flexibilização, posto que caiba ao conciliador empregar estratégia e

métodos diferenciados conforme o caso.

É o método de solução de conflitos em que as partes agem na

composição, mas dirigidas por um terceiro, destituído do poder decisório final,

29

que se mantêm com os próprios sujeitos originais da relação jurídica

conflituosa. Contudo, a força condutora da dinâmica conciliatória por esse

terceiro é real, muitas vezes conseguindo implementar resultado não

imaginado ou querido primitivamente pelas partes.

Embora próxima às figuras da transação e da mediação, distingue-

se a conciliação em três níveis: no plano subjetivo, em virtude da interveniência

de um terceiro e diferenciado sujeito, a autoridade judicial; no plano formal, em

virtude de realizar-se no corpo de um processo judicial, podendo extingui-lo

parcial ou integralmente; no plano de seu conteúdo, em virtude de poder a

conciliação abarcar parcelas trabalhistas não transacionáveis na esfera

estritamente privada.

A conciliação é, ainda, prévia, ou, até mesmo, posterior à eclosão

dos conflitos; nos casos de atividades essenciais há países que exigem, antes

da greve, a tentativa de conciliação como condição de legalidade da

paralisação ou a arbitragem obrigatória. No Brasil, a conciliação judicial é

intercorrente ao processo após a deflagração do conflito.

A conciliação, portanto, é a solução para o conflito aceita pelas

partes, ao contrário do julgamento, que é a solução para o conflito imposta às

partes.

As técnicas de solução dos conflitos individuais conhecidas são de

diferentes espécies, em conformidade com a experiência jurídica de cada país.

Elas podem priorizar a autonomia da vontade das partes, buscando uma

solução conciliada para o conflito ou, não sendo possível a conciliação,

possibilitar que um terceiro profira uma decisão para o conflito.

A Mediação provém do latim mediato que significa intervenção,

intercessão, intermediação.

Consiste na técnica de composição dos conflitos caracterizada pela

participação de um terceiro, suprapartes, o mediador, cuja função é ouvir as

partes e formular propostas. As partes não são obrigadas a aceitar as

propostas. Só se compõem havendo o acordo de vontades entre ambas. A

mediação é vista também como um componente da negociação, e por esse

30

motivo é que para alguns não se trata de um mecanismo de heterocomposição,

mas de autocomposição, já que o mediador não decide e apenas interfere para

aproximar as vontades divergentes dos litigantes.

É o meio de solução dos conflitos individuais e coletivos de trabalho

pelo qual as partes comparecem perante um órgão escolhido por elas ou

instituído oficialmente, o qual as aproxima, instigando-as a encontrar

autonomamente uma solução.

A mediação é instituição jurídica destinada a auxiliar as partes na

solução de conflitos, sendo a atuação do mediador desprovido de valor

decisório.

No Brasil existem diversos dispositivos legais prevendo a mediação.

A CLT, de 1943 em seu artigo 616, dispõe sobre a sua forma usual e comum,

pelo Ministério do Trabalho, e que, com o nome popular de mesa redonda, é

presidida por um inspetor do Ministério. A Portaria n.º 3097, de 17 de maio de

1988, estabeleceu regras para o procedimento na mediação nos conflitos

coletivos, dentre as quais a exigência do encaminhamento da pauta de

reivindicações para o Ministério, a autuação do pedido, a notificação por via

postal para que a parte contrária compareça à reunião designada, a

representação, na reunião, do sindicato, por seu presidente ou diretores, e da

empresa, por seu titular, diretor ou preposto, implicando o não comparecimento

de umas das partes a lavratura de termo de ausência, que não tem outros

efeitos jurídicos.

O mediador pode solicitar informações e esclarecimentos. Elabora-

se ata da reunião. Não havendo acordo, a parte interessada pode ingressar

com o processo judicial. O Ministério Público do Trabalho também é parte

legítima para fazê-lo na defesa do interesse público, em especial nas greves

em atividades essenciais.

A mediação trabalhista é usada por alguns países indistintamente

como conciliação. Implica na intervenção de um terceiro, o mediador,

habitualmente neutro, mas com um papel mais ativo, pois dele se espera que

apresente propostas para a solução do conflito, que, no entanto, não podem

31

ser impostas. A mediação possui uma noção semelhante em qualquer que seja

o país analisado quanto à carência de poder decisório do mediador.

De um modo geral, duas são as diferenças entre mediação e

conciliação. Na mediação, o mediador é, via de regra, escolhido pelas partes,

embora em alguns casos isso pode não ocorrer, enquanto na conciliação nem

sempre é assim, pois o conciliador pode ser até mesmo o juiz.

32

CAPÍTULO III

A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL NA SOLUÇÃO DOS

LITÍGIOS TRABALHISTAS

É de extrema relevância o estudo no direito comparado das diversas

formas de solução dos conflitos coletivos do trabalho adotadas em outros

países, no sentido de proporcionar uma reflexão acerca do incentivo aos

institutos da mediação e da negociação coletiva no Brasil.

Cumpre ressaltar que na sistemática de diversos países, com no

caso da Alemanha, Itália e Espanha preponderam o princípio da autonomia

privada coletiva, com grande parte dos conflitos solucionados através da

autocomposição, ou seja, mediante negociação coletiva direta entre os atores

sociais.

Desta forma, os métodos heterônomos de composição dos conflitos

coletivos praticamente inexistem, socorrendo-se as partes conflitantes do

Judiciário e eventualmente da intermediação de um terceiro somente na

impossibilidade da solução via negocial direta. O Judiciário é acionado

unicamente na hipótese de conflitos de natureza jurídica, quando é provocado

para interpretar ou aplicar norma coletiva de regência entre as partes, nunca

em relação aos conflitos de natureza econômica.

O modelo alemão é bastante distinto do modelo brasileiro no que

concerne à resolução dos conflitos coletivos, cabendo registrar que naquele

país praticamente inexiste a arbitragem, sendo a mediação método pouco

comum, visto que se dá ênfase à negociação direta entre os interlocutores

sociais. Por sua vez, o modelo italiano também prestigia de forma contundente

a negociação coletiva direta, caracterizada pela celebração dos chamados

contratos coletivos de abrangência nacional, setorial ou empresarial.

Cabe ressaltar que em quase todos os países estruturados, as

organizações sindicais dos trabalhadores são extremamente fortes. Ao

33

instaurar-se um conflito, se reúnem com os empresários, todos imbuídos do

propósito de encontrarem uma convergência de molde a autocomporem as

relações trabalhistas, sem a interferência estatal.

3.1 Nos Estados Unidos

O sistema americano está baseado na descentralização, ou seja, no

baixo grau de centralização do contrato coletivo e no voluntarismo privado,

embora dependa dos tribunais para a homologação dos laudos arbitrais, ainda

que, na prática, na maioria dos casos as partes cumpram sua parte.

As experiências ligadas à arbitragem obrigatória estão relacionadas

a pressões externas, particularmente à existência de um estado de guerra,

tanto a Primeira quanto a Segunda, no qual existia a necessidade da

manutenção de um nível de produção e de regulação dos níveis salariais, em

razão da alta inflação. Tendo a medida, por este motivo originalmente, assumiu

a medida caráter temporário.

Nos EUA, 90% dos contratos coletivos dispõem que as controvérsias

serão resolvidas por árbitros privados. Lá a arbitragem pode ser adotada de

duas formas: arbitragem de queixas (grievance arbitration), que tem por

objetivo dirimir as controvérsias oriundas das convenções coletivas, isto é,

conflitos de natureza jurídica a respeito de aplicação ou interpretação desses

convênios, e arbitragem de interesses (interest arbitration), destinada à fixação

de novas condições de trabalho, com salários, honorários, pensões e

vantagens sociais.

Os árbitros são escolhidos pelas partes livremente, em agências

especializadas como a FMCS (Federal Mediation and Conciliation Service),

órgão público. Ou a AAA (American Arbitration Association), órgão privado.

Ressalte-se que os árbitros considerados competentes são oriundos da

National Academy of Arbitration.

Criada em 1926, a AAA, (Associação Americana de Arbitragem) é

uma organização privada de serviço público, sem fins lucrativos, com

34

escritórios espalhados que faz mediação, arbitragem, intercessão, além de

promover cursos e publicações.

Assim a arbitragem é feita por um órgão de decisão que aprecia a

controvérsia ou reivindicação fora do contrato, o não cumprimento do mesmo

sob as Normas Nacionais, proferindo decisão que pode ser apresentada no

tribunal que tenha jurisdição sobre o mesmo, a saber: de interesses que define

os contratos ou, de direitos, onde já existe um contrato e arbitra direitos.

No entanto, os altos custos e o procedimento cheio de formalidades

são os maiores problemas do sistema de arbitragem americano.

Já a mediação é feita por um facilitador, o qual promove uma

discussão mediada, sendo pessoa neutra que sugere solução sem, no entanto,

impô-la. A mediação pode ser autônoma ou prévia à arbitragem ou outro

procedimento.

Esses procedimentos de resolução de conflitos podem constar de

um manual coletivo de trabalho ou serem usados num determinado conflito.

Mas não se aplicam a questões alheias aos acordos coletivos.

Há nos EUA o procedimento denominado fact-finding que é

obrigatório e está relacionado a um sistema no qual inexiste direito de greve.

Assim, o fact-finding é o último recurso legal nas relações laborais.

Inclui a designação de um terceiro neutro, distinguindo-se dos

acordos de conciliação, que são tripartites. Apesar das críticas, o fact-finding

continua sendo praticado e goza de prestígio dado a sua contribuição para a

solução dos conflitos.

3.2 Na Argentina

Um órgão do Ministério do Trabalho e da Seguridade Social,

SECLO, expede um certificado de que foi esgotado o procedimento de

conciliação obrigatória realizado perante um agente designado pelo Estado

entre uma lista de especialistas, que é elaborada pelo Ministério da Justiça

entre profissionais da área jurídica.

35

A lei n.º. 24635/96 determina regras para a conciliação obrigatória

nos litígios trabalhistas: Art. 1º - Instituiu-se em caráter obrigatório a mediação

prévia a todos os juízos, mediação esta que será regida pelas disposições da

presente lei. Este procedimento promoverá a comunicação direta entre as

partes para a solução extrajudicial da controvérsia. As partes ficarão isentas do

cumprimento deste trâmite se provarem que, antes do início da causa, existiu

mediação perante os mediadores registrados pelo Ministério da Justiça.

As exceções seriam as medidas cautelares, diligências preliminares

e antecipadas. O procedimento é gratuito. O conciliador tem de ter o título de

advogado com antecedentes trabalhistas. O reclamante ou o sindicato

requererão o procedimento mediante petição. O conciliador é designado pelo

serviço Nacional Laboral Obrigatório. Terá o conciliador seus honorários

definidos pelo Ministério da Justiça. Deverá o conciliador apresentar sua

proposta em vinte dias. Se fracassar a conciliação, o conciliador poderá propor

arbitragem.

A tutela jurisdicional diferenciada nos conflitos trabalhistas atulhou

de causas os tribunais e dilatou prazos. Surgiu a preocupação de promover

uma desjudicialização do conflito individual trabalhista, na linha de evolução

também generalizada nos sistemas europeus de solução dos conflitos, o que

determinou a sanção de um regime de conciliação obrigatória nos conflitos

individuais de trabalho, que deve necessariamente transitar como condição

para o exercício da jurisdição.

As atribuições de conciliador foram confiadas a advogados que

exercem livremente sua profissão e que desempenham essa função

conciliatória em seus próprios escritórios. Alcançada a conciliação, deve ser

submetido à Justiça ou à administração do trabalho para homologação, o que

lhe confere efeitos da coisa julgada.

3.3 Na Alemanha

Na Alemanha a arbitragem é utilizada tão-somente para a

interpretação de contratos coletivos, não sendo permitida, salvo em raras

36

exceções, nos conflitos individuais. Há livre negociação sobre a forma de

reajuste a cada ano e acordos de âmbito geral que duram de cinco a dez anos,

são registrados e têm força de lei. Nos acordos há uma cláusula de

obrigatoriedade de paz durante a sua vigência que impede a eclosão de

greves.

O Estado não interfere nos conflitos. Não havendo consenso entre

as partes, os litígios são submetidos ao mediador.

Há uma cultura de democracia participativa implementada desde o

pós Segunda Guerra, imposta pelos vencedores, em particular na indústria do

carvão e do aço, que são os fornecedores de matéria-prima para a indústria

bélica alemã, consubstanciada nos direitos de participação e cogestão na

empresa, exercidos por Comissão de trabalhadores e similares, delegados

sindicais, conforme previsto na lei constitucional de empresas.

Ademais, há a participação dos representantes dos trabalhadores e

suas entidades de classe nos órgãos de gestão das empresas, através das leis

de cogestão empresarial, configurando-se, dessa forma uma verdadeira justiça

coexistência.

A lei constitucional das empresas regula as relações entre

empregados e empregadores, prevendo a existência de uma representação

coletiva dos interesses dos operários. Por meio de uma comissão de

trabalhadores. Nela estão prevista a organização interna da empresa e

execução das tarefas, tais como, nomeação, demissão, limitações ao poder

diretivo do patrão em defesa do assalariado e alocação de recursos humanos,

além da celebração de acordos, que podem ser formais ou verbais na solução

dos possíveis litígios entre trabalhadores e empresa.

Prevê a eleição de empregados ou sindicalistas para os conselhos

fiscais das empresas cogeridas com plenos poderes. Tal participação tem

como efeitos o respaldo das decisões, bem como a proteção e o resguardo do

direito do trabalho.

37

Os delitos contra os órgãos constitucionais de empresa e seus

membros são punidos com pena privativa de liberdade de até um ano, ou

multa.

3.3.1 A internacionalização da experiência alemã na solução de conflitos

laborais.

Em 1999, foi criado um Comitê Mundial de Empresas, formado por

representantes dos trabalhadores em todos os centros pertencentes ao grupo

Volkswagen, internacionalizando definitivamente as atividades dos

representantes dos empregados da empresa automobilística.

O caminho para a implementação desse Comitê foi aberto em 1990,

com a criação de uma Comissão de Empresa de caráter continental, composta

por membros oriundos das diversas fábricas da Volks na Europa, com sede em

Wolksburg.

O grupo concede amplo direito de informação aos representantes

dos trabalhadores, tanto em nível local como internacional. O Comitê Empresa

Mundial não conta com direitos de participação, de acordo com a lei alemã de

comitês de empresas. Não obstante, a lei alemã de participação dos

trabalhadores concede aos membros locais a possibilidade de exercer

influência nas operações estratégicas que ultrapassem os limites de um centro

específico, já que tais operações podem vir a afetar os centros alemães.

Seu objetivo é promover o intercâmbio de informação sobre a

evolução e as estratégias do grupo de conjunto, e garantir que os interesses de

todas as sedes sejam levados em conta de modo equilibrado e conforme o

espírito de solidariedade.

No Brasil a experiência foi oposta. No final dos anos 90 o país

atravessava um período difícil, marcado pela crise econômico-financeira que

abalou os países denominados tigres asiáticos e a América do Sul, e suscitou,

como consequência, a possibilidade de um processo de demissões em massa

38

na fábrica da Volkswagen localizada em Anchieta - São Bernardo, no estado de

São Paulo, onde está a sede central do grupo no Brasil, contando com cerca

de 18.000 postos de trabalho.

O presidente do Comitê Mundial de Empresa, Klaus Volkert, da sede

central de Wolfsburg, intercedeu pessoalmente no conflito que se instalou,

participando ativamente das negociações com a direção local da empresa, que

resultaram num pacote de medidas similar ao da Alianza para El trabajo de

Wolfsburg, composto por redução da jornada de trabalho com redução salarial,

além de outras medidas de flexibilização, mas com garantias futuras de

manutenção do emprego.

Houve resistências por parte dos empregados num primeiro

momento, em particular na questão relativa ao reajuste salarial acordado, mas

foram mantidos os postos de trabalho, pelo menos naquele momento.

O saldo mais importante dessa experiência, sem dúvida, foi a

superação da barreira das fronteiras nacionais entre os representantes

operários na defesa de seus interesses de classe, rumo a um sindicalismo

autônomo, livre e internacional, com condições de fazer face à nova feição

globalizada das relações capital/trabalho, utilizando métodos negociais hábeis

a promover a coexistência harmoniosa dos interesses próprios da patronal,

quais sejam, seus lucros, com uma situação de respeito aos direitos e

garantias fundamentais dos empregados envolvendo desde a questão da

remuneração e das condições de trabalho, até a própria gestão da empresa.

3.4 Em Portugal

No caso português, podem ser citadas como formas de soluções a

mediação, a conciliação e a arbitragem, podendo, por último, ser elaboradas

portarias de regulamentação de trabalho.

As partes podem a qualquer tempo acordar em utilizar a mediação

nos conflitos coletivos que resultem da celebração ou revisão de uma

convenção coletiva. O mediador deverá encaminhar o seu laudo por carta

39

registrada no prazo máximo de vinte dias a partir de sua nomeação, sendo

considerado recusado se ambas as partes não comunicarem expressamente a

sua aceitação no prazo de dez dias de sua recepção. Decorrido o prazo final de

dez dias do recebimento da sua indicação, o mediador deve encaminhar

simultaneamente às partes a aceitação ou recusa das mesmas.

Já a conciliação relativa a conflitos de trabalho poderá ser promovida

conforme as regras presentes na convenção coletiva de trabalho anterior da

categoria profissional, no caso de celebração de uma nova, ou no próprio

documento normativo coletivo, na hipótese da sua revisão. As partes devem

apresentar o pedido de conciliação ao Ministério do Trabalho, que as

convocará para iniciá-la dentro dos quinze dias seguintes.

Caso frustrada uma conciliação ou uma mediação na qual as partes

tenham acordado em iniciar uma arbitragem facultativa, dentro de dois meses

do final do primeiro processo, o Ministério do Emprego e da Segurança Social

poderá determinar uma arbitragem obrigatória.

Por último, encontram-se as portarias de regulamentação de

trabalho, que poderão ser emitidas pelos Ministros do Trabalho e da Tutela ou

responsável pelo setor de atividades se verificadas as seguintes hipóteses:

inexistência de associações sindicais ou patronais; recusa reiterada de uma

das partes em negociar; prática de atos ou manobras manifestamente dilatórias

que, de qualquer modo, impeçam o andamento normal do processo de

negociação.

A Constituição da República Portuguesa em seu artigo 56, item

quatro, afirma que: “A lei estabelece as regras respeitantes à legitimidade para

a celebração das convenções coletivas de trabalho, bem como à eficácia das

respectivas normas”.

3.5 Na França

Podem ser encontrados convenções e acordos coletivos resultantes

da prática negocial francesa. As convenções são negociadas com as Câmaras

40

de empregadores e os acordos com os sindicatos. O Ministério do Trabalho

intervém fortemente nas relações entre capital e trabalho.

Na ocorrência de acordo entre as partes, o mesmo tem a força de

uma convenção coletiva de trabalho, conforme artigo L.524-4 do código do

trabalho.

Já a conciliação pode ser instituída através de convenção coletiva,

de acordo com as cláusulas fixadas pelas partes interessadas. A violação das

condições ali constantes poderá resultar em responsabilidade civil.

O presidente da comissão de conciliação, quando esta é infrutífera,

convida as partes a designarem um mediador visando um acordo amigável

para o conflito coletivo. Caso as partes não queiram designar um mediador, a

autoridade administrativa fá-lo-á a partir de uma lista de personalidades com

autoridade moral e com competência econômica e social. As listas das

personalidades ficam à disposição de consulta e sugestões das entidades

sindicais. As listas são revisadas a cada três anos.

A arbitragem, por sua vez, é encontrada nos artigos 525 e seguintes

do Código Laboral francês. A natureza desse procedimento adia

profundamente a realização dos procedimentos prévios (conciliação e

mediação). Na França, portanto, a arbitragem não faz parte da autonomia das

partes, caracterizando-se como a regulamentação do conflito. O árbitro

também é um terceiro que decide a solução do conflito, sendo importante frisar

que a arbitragem não possui uma boa aceitação nas relações profissionais

francesas. Nem o empregador, nem entidades sindicais são favoráveis ao

instituto. Tal pensamento tem condição de ser modificado no caso de uma

grande crise social.

3.6 Na Itália

O sistema italiano determina que a pessoa que pretender ingressar

com ação individual e não se utilizar dos procedimentos de conciliação,

previstos nos acordos e convenções coletivas de trabalho, pode requerer a

41

conciliação perante a comissão de conciliação ou qualquer dependência desta,

à qual o trabalhador seja subordinado.

A conciliação é facultativa, podendo ser sindical ou administrativa (lei

n.º 533, de 1973). Pode ser feita perante órgãos previstos nos acordos ou

convenções coletivas. Inexistindo esse órgão, a conciliação será feita perante a

comissão de conciliação da circunscrição da sede da empresa ou perante o

pretor.

A comissão pode convocar as partes para reunião em dez dias.

Pode a conciliação ser tentada perante o pretor, por meio de um procedimento

verbal e simplificado. Frustrada a conciliação, o procedimento segue perante o

pretor, com as seguintes etapas: Apresentação da petição inicial; audiência;

defesa; depoimentos; ordem de pagamento do incontroverso em qualquer

momento; perícias.

Há dois procedimentos: o ordinário e o especial; sentença; execução

provisória e recurso para o tribunal comum.

3.7 Na Espanha

Existe na Espanha, o sistema de mediação, arbitragem e conciliação

que pode ser realizado nos órgãos indicados pelos convênios coletivos. Os

acordos celebrados têm força executiva perante o juiz do trabalho. Será

carecedora da ação a parte que ingressar com a reclamação judicial sem

provar que antes houve tentativa de conciliação extrajudicial.

42

CAPÍTULO IV

DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Este capítulo tem como objetivo retratar a formação e os

procedimentos da comissão de conciliação prévia, bem como sua atuação nas

empresas e sindicatos.

4.1 Da Formação da Comissão

As comissões podem ser divididas em:

- De empresa, que são instituídas apenas no âmbito empresarial;

- De grupo de empresas, em que há várias empresas pertencentes

ao mesmo grupo econômico;

- Sindical, que são feitas apenas no sindicato de empregados ou de

empregadores;

- Intersindical, em que sua criação é negociada por mais de um

sindicato, podendo ser empregados e de empregadores.

As empresas e os sindicatos podem instituir comissões de

conciliação, de composição paritária, com representantes dos empregados e

dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar o conflito individual do

trabalho (art. 625-A da CLT).

A hipótese prevista no art. 625-A não representa a aplicação do art.

11 da Constituição, em que nas empresas com mais de duzentos empregados

é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva

de promover o entendimento direto com os empregadores. A redação da lei

não mais se refere a empresas com mais de duzentos empregados, nem o

obreiro vai ser eleito para promover o entendimento direto com os

empregadores. Na verdade, foi instituído um sistema de conciliação dentro da

própria empresa ou no sindicato, não se confundindo, tal previsão celetista com

a determinação do art. 11 da Constituição Federal.

43

A criação das comissões prévias, com atribuição de conciliar os

dissídios individuais de trabalho, é faculdade das empresas e dos sindicatos

dos empregadores e empregados.

A partir dos dezesseis anos, que são a idade mínima para o

trabalho, o empregado poderá pertencer à comissão, conforme o disposto no

artigo 7º, XXXIII, da Constituição. Se o menor for trabalhador, pode participar

da comissão, não sendo necessário ser assistido por seus pais, pois não há

exceção para esse fim na lei. Entretanto, é recomendável que não existam

menores de 18 anos nas comissões, justamente para não se discutir sua

capacidade de participar das comissões e a nulidade do ato, caso haja essa

participação.

Os aposentados poderão ser membros nas comissões sindicais.

Não poderão ser membros nas comissões das empresas, salvo se forem ainda

empregados da empresa ou então o empregador assim os indicar. O

aposentado teria uma experiência positiva a trazer para a empresa, além de ter

mais tempo disponível.

A lei não dispõe se poderão existir parentes na comissão:

As comissões poderão ser constituídas por grupos de empresas ou

ter caráter intersindical. Não serão, portanto, instituídas apenas nas empresas.

Faculta-se a criação das comissões nos grupos de empresas ou entre

entidades sindicais.

A instituição das comissões por grupos de empresas pode ter um

custo menor, pois o empregador é o grupo. O mesmo pode se observar em

relação às comissões criadas no sindicato, pois muitas empresas, ou por terem

poucos empregados ou por não terem interesse, não criarão as comissões.

4.2 Comissões na Empresa

As comissões no âmbito de empresa observam na sua composição

no mínimo dois e no máximo dez membros, sendo que metade dos membros

será indicada pelo empregador, não devendo necessariamente ser

44

empregados, e a outra metade será eleita pelos empregados que trabalhem na

empresa, em escrutínio secreto, fiscalizado pelo sindicato da categoria

profissional.

Haverá tantos suplentes quantos forem os representantes titulares.

Será ainda vedada a dispensa dos representantes dos empregados membros

da comissão no prazo de até um ano após o final do mandato, salvo se

cometerem falta grave.

O representante dos empregados apenas se ausentará de suas

funções habituais quando convocado para atuar como conciliador, sendo este

afastamento computado como tempo de trabalho efetivo.

O empregador apenas dará notícia ao sindicato para a fiscalização

da eleição, mediante aviso de recebimento.

Em relação aos membros dos empregados, será feita ata da

respectiva eleição. A impugnação das eleições dos empregados será feita

perante a Justiça Comum, conforme o entendimento na Súmula 4 do STJ. A

forma de eleição, realizada por escrutínio secreto e não por aclamação.

A comissão no âmbito da empresa não necessita de negociação

coletiva para ser estabelecida. Recomenda-se a elaboração de um estatuto,

com precisão da sua duração e demais regras aplicáveis. Caso a comissão

seja instituída por negociação coletiva, há ampla autonomia das partes

coletivas na estipulação do regramento de regência do colegiado.

Não precisará a comissão ter necessariamente representantes do

sindicato, pois a lei nada dispõe nesse sentido, restringindo-se sua função a

fiscalizar a comissão e dela não participando.

Como se denota, o referido diploma limita-se a dispor sobre a

quantidade mínima e máxima dos seus integrantes, a eleição para os

representantes dos empregados, a indicação do empregador quanto aos seus,

a duração do mandato e a estabilidade para os representantes dos

empregados (suplentes e titulares) e os efeitos da participação destes

membros da comissão no seu contrato de trabalho.

45

4.3 Comissões no Sindicato

A comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua constituição e

normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo. Não

será mais negociada, imposta, facultando-se aos sindicatos criá-la ou não.

A comissão intersindical terá característica bilateral em sua

instituição. A comissão sindical, instituída entre sindicato de empregados e

empresa, também será bilateral. Já a comissão de empresa será criada de

forma unilateral, sem a participação dos representantes dos trabalhadores.

As partes podem convencionar que a comissão funcionará no âmbito

do sindicato. Também não há obrigação de constituição da comissão, por isso

é que há necessidade de negociação coletiva, que terá como resultado

convenção ou acordo coletivo, envolvendo o interesse da categoria profissional

ou dos empregados da empresa respectivamente. A convenção ou o acordo

coletivo estabelecerá a constituição e as normas de funcionamento da

comissão.

A rigor, não se poderá dizer que a comissão será instituída no

sindicato, pois se depender de convenção coletiva será a negociação feita

entre sindicato profissional e sindicato de empregadores. Se for estabelecida

por acordo coletivo, envolverá sindicato dos trabalhadores e uma ou mais de

uma empresa. Nesse sentido, será inviável a instituição da comissão sem que

exista a vontade de outra parte.

A comissão, necessariamente, terá representantes de empregados e

empregadores, não podendo, assim, decorrer de cláusula estabelecida apenas

pelo sindicato de empregados.

Havendo sindicato de categoria diferenciada na empresa, deverá à

referida agremiação participar da negociação coletiva com o sindicato da

empresa ou com a própria empresa a fim de que seja instituída a comissão

sindical.

46

Como a lei determina que as comissões sindicais tenham apenas

suas regras de constituição e de funcionamento definidas em convenção ou

acordo coletivo, as demais questões, como número de membros da comissão,

garantia de emprego dentre outras, não tem vigência de regulamentação na

norma coletiva.

O importante frise-se, é que a comissão a ser instituída no âmbito de

atuação do sindicato não necessita da observância das regras previstas no art.

625-B, desde que se observe quanto aos seus membros à composição

paritária (art. 625-A, caput).

4.4 Dos Procedimentos da Comissão

Menciona o art. 625-A da CLT que a comissão tem a atribuição de

conciliar os conflitos individuais do trabalho, não lhes competindo julgá-los.

Não há valor para a postulação perante as comissões. Pode

envolver a pretensão qualquer valor. Não se restringe a 40 (quarenta) salários

mínimos, como no procedimento sumaríssimo.

O trabalhador avulso também poderá postular perante a comissão,

principalmente se for constituída comissão sindical. Poderá postular a questão

perante a comissão da empresa, se tiver trabalhando nesta. A questão a ser

discutida é trabalhista, embora o avulso não seja empregado.

A Comissão de Conciliação Prévia não tem poderes para instituir a

postulação, em função de que não tem jurisdição, não tem o poder de dizer o

direito no caso concreto que for submetido à sua apreciação. A finalidade da

comissão é apenas a de tentar a conciliação. A empresa não será intimada a

apresentar defesa, pois esta não é cabível, diante de um procedimento

conciliatório. A empresa será ouvida quanto à postulação do empregado, para

que a comissão possa tentar a conciliação. A comissão não poderá requisitar

documentos, determinar diligências, perícias ou ouvir testemunhas, pois sua

função não é instrutória ou arbitral, mas apenas conciliatória.

47

Caso a comissão tenha acesso aos documentos da questão objeto

da postulação, deverá dar tratamento confidencial aos dados obtidos, como é

orientação da Recomendação 163 da OIT.

O funcionamento da comissão necessariamente será paritário, tendo

membros do empregado e do empregador. Caso o membro titular não possa

comparecer no dia da sessão, será chamado o suplente.

Na quitação perante a comissão não precisará haver participação do

sindicato, pois a participação deste só é exigida na assistência à rescisão

contratual.

No termo de conciliação poderá ser explicitada eventualmente

compensação de verba devida pelo empregado ou empregador, com quitação

quanto a esse aspecto.

Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e ao

empregador declaração da tentativa de conciliação frustrada com a descrição

do objeto, firmada pelos membros da comissão, que deverá ser juntada à

eventual reclamação trabalhista (parágrafo 2º do art. 625-D da CLT). Será

impossível a realização da conciliação caso não compareça um dos

interessados.

As partes, se quiserem, serão representadas na conciliação por

advogado que tenha procuração com poderes específicos para tanto. É uma

faculdade da parte. Não há necessidade do comparecimento pessoal da parte

na sessão, podendo ser representada por outra pessoa. O empregador,

inclusive, poderá ser representado por preposto com poderes específicos para

esse fim.

O termo de tentativa de conciliação frustrada será assinado por

todos os membros da comissão, descrevendo o que foi objeto da postulação e,

se possível, por que foi frustrada a conciliação, ou seja, o motivo do impasse.

Se do termo faltar assinatura de um dos membros da comissão que participou

da negociação, haverá nulidade, não tendo nenhum valor o referido

documento, inclusive para efeito de eficácia liberatória geral.

48

As comissões têm prazo de dez dias a partir da provocação do

interessado para a realização da sessão de tentativa da conciliação.

Esgotado o lapso temporal sem a realização da sessão, será

fornecida, no último dos prazos, a declaração de tentativa frustrada de

conciliação, a que se refere o parágrafo 2º do art. 625-D da CLT.

Caso a comissão não designe a data para a tentativa de conciliação

em dez dias, o empregado poderá ajuizar diretamente a ação perante a Justiça

do Trabalho, sem ter passado pela comissão.

O fornecimento da declaração é previsto justamente para comprovar

que o empregado tentou a conciliação antes de ajuizar a ação. A juntada da

declaração será obrigatória para a propositura da ação, como determina a

redação do parágrafo 2º do art. 625-D da CLT.

Aceita a conciliação, será lavrado um termo assinado pelo

empregado, pelo empregador ou seu preposto e pelos membros da comissão e

fornecida cópia às partes (art. 625-E da CLT).

A conciliação poderá ser alcançada de forma parcial em relação a

alguns dos pontos postulados perante a comissão e não ser celebrado acordo

quanto ao restante.

Não precisará o termo ser assinado pelo juiz para ter validade, como

previa o projeto original. A necessidade de homologação do laudo arbitral era

um dos motivos apontados para o insucesso da arbitragem. Agora, pelo

menos, a lei é expressa em considerar o termo de conciliação como título

executivo extrajudicial.

O empregado não está obrigado a aceitar a conciliação, podendo

propor, a partir da sua recusa a ação que entender cabível.

O termo de conciliação é considerado título executivo extrajudicial e

terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente

ressalvadas (parágrafo único do art. 625-E da CLT). Prescreve também o art.

876 da CLT que o termo de conciliação será considerado título executivo

49

extrajudicial, podendo ser executado perante a Justiça do Trabalho, caso não

cumprido.

Não cumprindo a parte o estabelecido no termo de conciliação,

poderá a parte contrária ajuizar ação na Justiça do Trabalho, postulando seu

cumprimento, porquanto tem natureza de título executivo extrajudicial. O

empregado deverá juntar à reclamação cópia do termo de conciliação que não

tenha sido cumprido.

A execução será direta na Justiça do Trabalho, sem falar-se em

reclamação trabalhista com fase de conhecimento. Assim, será executado o

referido título extrajudicial. O réu será citado para pagar o valor em 48

(quarenta e oito horas), sob pena de penhora (art. 880 da CLT).

O juiz não poderá instaurar o processo de ofício, pois a

determinação do art. 878 da CLT diz respeito apenas ao processo que já corre

perante a Vara. No caso, o empregado deverá apresentar petição, em que irá

postular a execução do crédito não pago e que é decorrente do

descumprimento do termo de conciliação.

Não existe prazo de prescrição para executar o termo de

conciliação. A Súmula 114 do TST entende que é inaplicável a prescrição

intercorrente no processo do trabalho. Entretanto, o parágrafo 1º do art. 884 da

CLT permite arguição de prescrição nos embargos à execução. Logo, pode ser

arguida a prescrição. O prazo de prescrição na execução será o mesmo que o

previsto para a propositura da ação de conhecimento (Súmula 150 do STF).

Da lavratura do termo de conciliação não caberá recurso, justamente

por não se tratar de decisão, mas de mero termo de acordo. Se as partes

concordaram com o acordo e o assinaram, não há que se falar em recurso,

nem em homologação.

O referido termo não poderá ser desconstituído por ação rescisória,

por não se tratar de título judicial, mas extrajudicial. Estabelece o art.485 do

CPC a necessidade de sentença de mérito para que seja utilizada a ação

rescisória. O parágrafo único do art. 831 da CLT não se aplica à hipótese

vertente, muito menos a Súmula 259 do TST, em função de que não se está

50

diante de acordo homologado em juízo, mas de termo conciliatório obtido pela

comissão extrajudicial.

Assim, o meio de impugnar o conteúdo do termo de conciliação será

a ação anulatória, desde que provada à existência de erro, dolo, coação,

simulação ou fraude. Determina o art. 486 do CPC que os atos judiciais, que

não dependam de sentença, ou em que esta for meramente homologatória,

podem ser modificados, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.

Como se trata de procedimento voluntário, o meio de impugnar é a ação

anulatória. O juízo competente para ação será a Justiça do Trabalho, por ser a

questão decorrente do contrato de trabalho.

A Comissão de Conciliação Prévia analisará apenas demanda de

natureza trabalhista, não importa a que título, mas não examinará questão

cível, comercial ou de qualquer outra matéria. Essas matérias poderão ser

posteriormente submetidas à apreciação da Justiça do Trabalho. Assim,

qualquer matéria poderá ser discutida perante a comissão, desde que seja de

natureza trabalhista.

Em se tratando de questão trabalhista tanto o empregado quanto o

empregador poderão requerer a conciliação por parte da comissão. Não é

apenas o empregado que tem direito, mas também o empregador. Este poderá

requerer a conciliação para, por exemplo, pagar as verbas rescisórias que o

empregado não queira receber.

O empregador não poderá postular inquérito para apuração de falta

grave perante a comissão, pois tal procedimento é judicial, além do que a

comissão não tem poderes decisórios, mas apenas conciliatórios.

A obrigação tanto poderá envolver prestação de dar quanto de fazer

ou não fazer, pois não há vedação legal nesse sentido.

51

4.5 Dos Efeitos da Conciliação

Dispõe o art. 625-E, em seu caput: “Aceita a conciliação, será

lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu preposto e

pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes”.

Havendo o consenso sobre o conteúdo da demanda proposta,

deverá ser elaborado um termo de conciliação, o qual será assinado pelas

partes e membros da Comissão, sendo fornecida cópia aos interessados.

Por sua vez, dispões o art. 625-E, parágrafo único: “O termo de

conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral,

exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas”.

As inconstitucionalidades arguidas serão discutidas no próximo

capítulo.

52

CAPÍTULO V

ASPECTOS POLÊMICOS DA LEI 9958/00 -

INCONSTITUCIONALIDADES ARGUIDAS

Este capítulo tem o objetivo de ressaltar pontos controvertidos e

analisar as constitucionalidades da matéria em questão.

5.1 O Caráter Paritário

O primeiro aspecto polêmico é em respeito ao caráter paritário que

devem ter as comissões e a limitação de suas atribuições. Significa dizer que,

independentemente de situarem-se tais comissões no âmbito das empresas ou

dos sindicatos, deverão seus componentes representar, em número igual, os

interesses dos empregados e dos empregadores.

A única limitação é conferida quanto ao número de constituintes

destas comissões, quando estas situarem-se nas empresas, requerendo à lei

que se observe o número mínimo de dois componentes e o máximo de dez,

sendo metade composta de representantes do empregador e o restante eleito

pelos empregados. A lei conferiu aos sindicatos a liberdade de constituírem as

comissões em seu âmbito (art. 625-C). As atribuições, no entanto, se tais

comissões forem criadas, ficarão restritas à solução de conflitos individuais do

trabalho, mesmo sendo notória a prerrogativa dos sindicatos na negociação

dos conflitos coletivos.

Quanto à presença do sindicato nas negociações coletivas e

individuais trabalhistas, é bom aqui transcrever-se o teor do art. 8º, III, da CF:

“ao sindicato cabe à defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da

categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”.

Com fundamento nesse direito, parte da doutrina, e alguns setores

da sociedade, estes por meio de ADINs, têm alegado a inconstitucionalidade

53

do art. 625-B da CLT, pois que neste artigo está prevista a negociação

individual, no âmbito da empresa, sem a participação do sindicato.

Desse modo, arguiu-se a inconstitucionalidade deste art. 625-B da

CLT, sob o argumento de afronta aos ditames constitucionais, e também face à

realidade social vivida pelo trabalhador brasileiro, em sua grande maioria

desconhecedora da legislação trabalhista e temente da situação de

desemprego que assola o país, de modo que o medo e a falta de preparo

intelectual podem levá-lo a firmar, perante as CCPs empresariais, pela falta de

um sindicato que os fortaleça e os orientem acordos esdrúxulos e que só

beneficiariam seus patrões.

5.2 Direito de Ação: a controvertida natureza jurídica da

submissão da demanda ao sistema prévio conciliatório

Desde a publicação da Lei 9.958/2000 doutrina e a jurisprudência

se debateram no exame acerca da obrigatoriedade de submeter-se a demanda

trabalhista à apreciação preliminar da Comissão de Conciliação prévia.

Essa submissão é instituída como condição ao exercício pleno do

direito de ação assegurado no art. 5º, inciso XXXIV da CF, que dispõe: “São a

todos assegurados, independentemente do pagamento de taxa: (a) o direito de

petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou

abuso de poder”. O inciso XXXV do mesmo artigo complementa a garantia: “a

lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

A discussão decorre do disposto no artigo 625-D, da CLT, redação

introduzida pela lei 9958/00. A lei estabeleceu os critérios de criação das

comissões, como forma de eliminar o grande volume de ações na Justiça do

Trabalho.

Necessário para a compreensão de a questão destacar que a

referida lei não obriga a criação da comissão prévia. Mas, se criada, impõe ao

trabalhador a submissão prévia de sua demanda. Quando instalada, é

54

necessário que os pedidos sejam submetidos previamente a essa comissão,

que tentará conciliar as partes. Em não havendo conciliação, a comissão

fornecerá certidão para o ajuizamento da ação perante a Justiça do Trabalho.

Diante de tal submissão, alguns juízes extinguiam sumariamente o

processo. Eles entendiam que a obrigatoriedade de submissão prévia da

demanda à comissão revelava-se pressuposto processual de constituição e

desenvolvimento válido e regular do processo. Na sua inobservância, caberia

ao juiz à determinação de extinção do processo sem julgamento do mérito (art.

267, inciso IV do CPC).

Tal posição encontrava justificativa no fato de ter o legislador

disposto no artigo 625-D da CLT (introduzido pela lei 9.958/2000 que instituiu

as Comissões de Conciliação Prévia), que “qualquer demanda de natureza

trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia”, bem como

estabelecendo, no parágrafo 2º, do referido artigo, que a declaração de

frustração da tentativa de conciliação deverá ser juntada à eventual reclamação

trabalhista, e por fim, no parágrafo 3º, que será declarada na inicial a existência

de motivo relevante que impossibilite a submissão da demanda à apreciação

da comissão. Neste último caso, criou o legislador condições para o exercício

do direito de ação, quando este exercício é assegurado, sem restrições de

qualquer ordem, no inciso XXXV, do artigo 5º, da CF.

Desse modo, faz-se necessário transcrever um acórdão que aborda

a questão da não obrigatoriedade da submissão da demanda à CCP:

AUSÊNCIA DE TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA PERANTE A CCP. Em duas ocasiões nos presentes autos, quando das audiências inaugural e em prosseguimento, houve tentativas de conciliação que restaram frustradas, o que revela a falta de ânimo da reclamada em conciliar-se com o reclamante, fato que supre a exigência invocada por esta, ante a verificação da resistência à pretensão e presença do interesse de agir. Seria de um rigor excessivo extinguir o feito, sem julgamento do mérito, para que nova ação fosse ajuizada, formalismo que não se coaduna com os princípios que norteiam o processo do trabalho, afrontando os princípios da celeridade e instrumentalidade. Ademais, não pode tal argumento servir de óbice ao amplo acesso ao Poder Judiciário, direito constitucionalmente garantido. Comprovado nos autos que as tentativas de conciliação propostas pelo Juízo

55

foram recusadas, a falta de cumprimento da formalidade apontada na defesa não lhe traz qualquer prejuízo bem como qualquer utilidade poderá ser extraída com o acolhimento da preliminar, que fica rejeitada. Assim, reforma-se a sentença e determina-se o retorno dos autos à origem para análise meritória dos pedidos elencados na inicial. (TRT/23ª – RE n.º 01191-2008-002-23-00 – Relatora Juíza convocada Carla leal – DJ/MT 29/04/09)

Observa-se no acórdão acima que foi rejeitada a arguição de

carência da ação, em face da não submissão da demanda à Comissão de

Conciliação Prévia.

Nesse mesmo sentido o Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da

2ª Região em seu Provimento CR nº 55/200 estabelece que:

Art. 1º. Submetida a reclamação trabalhista ao Judiciário, deverá o Magistrado instruí-la e julgá-la independentemente de manifestação de Comissão de Conciliação Prévia.

Após nove anos da publicação da lei 9.958/2000 e o ajuizamento de

duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 2139 e 2160) o Supremo

Tribunal Federal decidiu no dia treze de maio de 2009, por maioria de votos,

que demandas trabalhistas podem ser submetidas à Justiça do trabalho antes

que tenham sido analisadas por uma CCP. No entendimento dos ministros do

Supremo, a decisão preserva o direito universal dos cidadãos de acesso à

Justiça.

5.3 Título Executivo Extrajudicial e Eficácia Liberatória Geral

O termo de acordo firmado perante as Comissões de Conciliação

Prévia é considerado título executivo trabalhista extrajudicial e deve ser

executado na Justiça do Trabalho, sendo que sua execução constitui processo

autônomo. Tratando-se da competência para a execução:

É competente para a execução das decisões do juiz ou presidente do tribunal que tiver conciliado ou julgado originalmente o dissídio – art. 877. É competente para a execução de título executivo extrajudicial o juiz que tiver

56

competência para o processo de conhecimento relativo à matéria – art. 877-A. (LIMA, 2008, p. 200).

Ives Gandra da Silva Martins Filho sintetiza o entendimento sobre o

termo de conciliação da seguinte forma:

(...) alcançada à conciliação, o termo firmado entre as partes tem eficácia liberatória geral para a empresa (o empregado dá quitação geral se a demanda diz respeito à rescisão contratual, podendo ressalvar pontos concretos sobre os quais pretende postular em juízo seu direito) e vale como título executivo extrajudicial (o empregado pode executá-lo diretamente na Justiça do Trabalho, sem a necessidade de prévio processo de reconhecimento dos direitos nele inseridos) (CLT, art. 625-E, parágrafo único) (MARTINS FILHO, 2007, p. 157).

O termo de conciliação lavrado perante a Comissão de Conciliação

Prévia recebeu força de título executivo extrajudicial. Logo, quando o acordo

não for cumprido, o respectivo termo fundamentará pedido judicial de execução

(art. 876). Além desse efeito, o devedor é liberado de suas obrigações

trabalhistas pelo termo de conciliação, porém, é permitido consignar ressalvas

quanto a parcelas expressamente mencionadas no documento (art. 625-E,

parágrafo único). Outro efeito da provocação da Comissão é a suspensão do

prazo prescricional, que voltará a correr a partir da frustrada tentativa

conciliatória. (art. 625-G) (GIGLIO, 2007, pp. 216-217).

Detectando o inconveniente da eficácia liberatória outorgada ao

termo de conciliação para conciliações realizadas sem nenhuma assistência

jurídica para o empregado, que geralmente não está ciente dos seus direitos no

todo ou em parte é conveniente transcrever um acórdão:

EMENTA: COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA. EFEITOS DA CLÁUSULA DE QUITAÇÃO AMPLA E GERAL PELO EXTINTO CONTRATO DE TRABALHO. INTERPRETAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 625-E DA CLT CONFORME A CONSTITUIÇÃO. Consoante o disposto no artigo 625-E da CLT, o termo da conciliação celebrada no âmbito da Comissão de Conciliação Prévia "é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas". No

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entanto, isto não significa que o trabalhador, ao firmar aquele termo, possa validamente dar quitação, a seu empregador, de direitos e parcelas diferentes daqueles que tenham constituído o objeto da demanda submetida à CCP e, muito menos, outorgar-lhe quitação plena, geral e irrevogável por todo e qualquer direito decorrente de seu contrato de trabalho. É que essa conciliação extrajudicial está lógica e juridicamente vinculada e limitada ao objeto da demanda submetida à Comissão de Conciliação Prévia, como se depreende conjuntamente dos parágrafos 1º e 2º do artigo 625-D da CLT (que exigem a formulação, por escrito ou a termo, da demanda objeto da tentativa de conciliação e a descrição de seu objeto na declaração da tentativa conciliatória frustrada, a ser juntada na reclamação trabalhista), do artigo 320, caput, do novo Código Civil de 2.002 (segundo o qual a quitação, para ser regular, designará o valor e a espécie da dívida quitada) e do parágrafo 2º do artigo 477 da CLT (o qual limita a validade da quitação dada pelo trabalhador exclusivamente às parcelas rescisórias a ele pagas, de forma discriminada, no termo de rescisão contratual). Esta exegese sistemática da norma legal é a única compatível com a Constituição de 1.988, na medida em que afasta a interpretação meramente literal que, ampliando a quitação para além dos limites da demanda, eliminaria por completo e por antecipação a possibilidade prática de o empregado obter a tutela jurisdicional efetiva de seus direitos trabalhistas alegadamente vulnerados. (TRT/3ª – RE n.º 01046-2006-032-03-00-8 – 5ª T – Rel. José Roberto Freire Pimenta DEJT 18/05/09).

Nota-se no acórdão acima a tendência de não se considerar a

eficácia liberatória geral que a lei pretende dar ao acordo firmado entre as

partes.

O art. 477 da CLT, em seu parágrafo 2º, cuidou de proteger o

trabalhador contra o uso exacerbado da quitação, plena, geral, e irrestrita que

se sobrepunha ao alcance do art. 940 do CC, limitando, com isso, a validade

da quitação quanto à natureza e valor das parcelas especificadas, em respeito

ao instrumento de rescisão ou recibo.

Francisco Meton Marques de Lima considerando preceito do Código

Civil, o artigo 320, infere que a eficácia deve ser limitada às parcelas

elencadas, não abrangendo outros direitos. Não é de admitir-se eficácia

liberatória de parcelas ausentes do pedido inicial, nem de direitos

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irrenunciáveis, ou seja, pela regra geral, ressalvam-se as parcelas quitadas e

não as negociadas (LIMA, 2008, pp. 177-178).

A Súmula 330 do TST usa a expressão eficácia liberatória, enquanto

a lei 9.958 emprega o termo eficácia liberatória geral no parágrafo único do art.

625-E da CLT.

A eficácia liberatória só pode dizer respeito ao que estiver constando

do termo de conciliação e não em relação ao contrato de trabalho, salvo se

assim for descrito no termo.

Prevê o art. 940 do Código Civil que a quitação designará o valor e a

espécie da dívida quitada; o nome do devedor, ou quem por este pagou; o

tempo e lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou quem por este

pagou. Não haverá eficácia liberatória quanto ao que não tenha sido pago.

Assim, a quitação envolve apenas as parcelas e valores pagos e os

títulos. Se não houve o pagamento integral, o empregado poderá reclamar

eventuais diferenças ou até mesmo verbas que não foram pagas e que,

portanto, não foram quitadas. O empregado poderá fazer ressalvas expressas

em relação àquilo que não foi quitado. O fato de a lei fazer referência à

ressalva expressa em nada modifica a questão, pois, mesmo que a ressalva

não seja feita, não haverá quitação quanto à verba não paga ou paga em valor

inferior ao devido.

Portanto, havendo ou não ressalvas específicas no termo de

conciliação, o empregado poderá reivindicar os respectivos direitos perante a

Justiça do Trabalho.

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CONCLUSÃO

A pesquisa que precedeu esta monografia teve como objetivo central

analisar se as Comissões até o momento instituídas são suficientes e

confiáveis, para atingir o objetivo previsto na Lei, partindo da hipótese de que

para a solução dos conflitos trabalhistas existem meios autônomos e

heterônomos de resolver as pendências entre o capital e o trabalho, os quais

se constituem em meios alternativos judiciais ou extrajudiciais e que têm como

foco central dirimir e desvendar o maior número possível de conflitos no campo

laboral.

Nesse cenário surgiram, entre outros meios de negociação, as

Comissões de Conciliação Prévia, para tentar conciliar o conflito individual

oriundo da relação do trabalho, reunindo empregados e empregadores, no

prazo de dez dias.

A solução extrajudicial dos conflitos individuais trabalhistas por

intermédio de Comissões de Conciliação Prévia era, em tese, uma alternativa

válida para pacificar as questões entre empregados e empregadores, não só

após a extinção da relação laboral, mas também durante o vínculo

empregatício.

A presente monografia demonstra que as Comissões de Conciliação

Prévia possuem vantagens e desvantagens. Como principais vantagens

observam-se solução mais rápida para o empregado de suas pendências

trabalhistas e o desafogamento da Justiça do Trabalho, vide, por exemplo, a

diminuição significativa do número de reclamações trabalhistas e do custo

arcado pelo Poder Judiciário.

Com relação às desvantagens, além da obrigatoriedade da

apreciação prévia da demanda trabalhista pelas Comissões, verificam-se,

como já anteriormente citado:

Exigência da conciliação prévia em um contexto político desfavorável aos trabalhadores, ainda insuficientemente organizados; a falta de normas jurídicas disciplinando o processo de criação das comissões na empresa e a eleição dos representantes dos trabalhadores; a omissão

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do legislador quanto às regras de exceção para afastar o requisito da conciliação prévia em inúmeras hipóteses e a cruel inversão da lógica, ao consagrar a eficácia liberatória independentemente de demanda e transação expressas. (Comissões de Conciliação: a lógica ao avesso, in Revista Genesis, Curitiba, Genesis Editora, março/2000, p. 406).

Quanto à obrigatoriedade de submeter-se a demanda trabalhista à

apreciação preliminar da Comissão de Conciliação prévia, o Supremo Tribunal

Federal já proferiu decisão liminar contrária a essa submissão, permitindo que

demandas trabalhistas possam ser submetidas à Justiça do trabalho antes que

tenham sido analisadas por uma CCP, terminando assim com uma

inconstitucionalidade arguida com relação ao direito de ação.

O acúmulo de processos na Justiça do Trabalho não decorre apenas

da chamada cultura do "demandismo", como se costuma dizer. Nota-se que,

muitos autores não fazem referência ao fato de não se considerar o

crescimento do país, seja quantitativamente ou qualitativamente, para

customizar a estrutura do Judiciário, não dispondo assim de uma métrica para

avaliação do mesmo. Acresça-se a isso que, a morosidade e o grande volume

de demandas decorrem também da prática pelos empregadores e seus

patronos de atos meramente procrastinatórios, que engessam a máquina

administrativa e emperram o sistema.

Em 2002, a Anamatra fez um relatório baseado em levantamento

feito nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul

e Rio Grande do Norte e apontou como as irregularidades mais frequentes: a

cobrança de percentual sobre o valor do acordo homologado, tanto do

empregador quanto do trabalhador e a quitação geral de direitos e não apenas

das parcelas objeto da transação. Isto sugere a necessidade de uma

assistência ostensiva aos empregados, através do sindicato ou advogado, em

todas as fases do procedimento, para evitar fraudes.

Em relação à eficácia liberatória geral, segundo Cláudio Cordeiro

Queiroga Gadelha, procurador do trabalho da 19ª região:

A expressão adotada pelo legislador quanto a essa eficácia nada mais representa do que o instituto oriundo do

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direito civil: a quitação. Significa o instrumento liberatório, a prova do pagamento; demonstra a extinção do débito pela solvência. Mas a quitação é ato jurídico, e não coisa julgada. Investigando a sua natureza jurídica, Pontes de Miranda afirma que a quitação não é pacto inibitório do exercício de jurisdição, nem apenas prova de pagamento, mas, em verdade, ato jurídico em sentido estrito. A rigor, a quitação é o reconhecimento escrito do pagamento recebido; não possui a força de extinguir ou negar o animus obligandi. A quitação possui o condão de alforriar o devedor da obrigação, e, evidentemente, provoca inibição no credor quanto ao possível ajuizamento de uma ação trabalhista. Mas na hipótese do trabalhador sentir-se prejudicado com a conciliação feita e a quitação efetuada pelo empregador. Ao trabalhador certamente estará vedada a via de demonstrar sua insatisfação diretamente ao empregador, ou a uma Comissão de Conciliação. Mas, não se encontra interditada, por óbvio, o recurso à via judicial para discutir a quitação passada, pois, é ato jurídico em sentido estrito e de direito material. Não é possível fazer-se confusão entre ação e pretensão. O que a quitação inibe é o exercício da pretensão, e não o exercício da ação. Uma vez sendo a quitação acolhida em juízo, o pedido (pretensão) será julgado improcedente, extinguindo-se o processo com julgamento do mérito; e não a extinção do processo sem julgamento do mérito por carência de ação. (GADELHA, Cláudio Cordeiro Queiroga. Comissões de conciliação prévia (Lei 9958/00). Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 41, maio 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=1237>. Acesso em: 22 nov. 2009.).

Por todo o exposto, evidencia-se com clareza, que o instituto das

CCPs não atingiu o objetivo almejado de pacificação dos conflitos individuais

de trabalho e desafogamento da justiça do trabalho, apresentando muitas

desvantagens aos trabalhadores, além de não serem totalmente confiáveis.

Apesar da boa intenção para solucionar rápida e consensualmente os conflitos

e desafogar a máquina judiciária, o instituto foi desvirtuado por fraudes. Isto se

deve à falta de assistência jurídica aos empregados, que normalmente

desconhecem seus direitos, no todo ou em parte e pela falta da realização de

fiscalização pelas Delegacias Regionais do trabalho. Acrescenta-se a isso, o

fato de ter criado grande insatisfação, por exigir a apreciação preliminar das

demandas às CCPs como condição de ajuizamento da ação, gerando ações

diretas de inconstitucionalidade, as quais já foram julgadas e decididas

favoravelmente ao empregado. Além disso, também não atendeu ao

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empregador, pois, “o termo de conciliação não oferece a segurança liberatória

almejada pelo empregador” (GIGLIO, 2007, p. 217). A quitação civil especifica

a espécie e o valor da dívida quitada sendo inadmissível que a trabalhista

tenha efeito mais amplo, ou seja, liberando o empregador do que não tenha

sido pago.

Por outro lado não desafogou o Judiciário, pois, por não serem

confiáveis, os empregados insatisfeitos com o resultado da conciliação

continuam a ajuizar ações na Justiça do Trabalho. Constitui-se, portanto, o

poder judiciário, no melhor e mais confiável meio de solução dos conflitos

individuais trabalhistas, pois caso as partes tenham intenção de conciliar,

poderão fazê-lo em audiência, na presença do juiz e com a assistência de um

advogado, o que com certeza dará origem a um acordo mais justo, sem a

possibilidade de fraudes e com uma solução rápida do conflito já que esse não

se estenderá além da audiência.

63

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66

ANEXO

LEI N.º 9.958 DE 12 DE JANEIRO DE 2000.

Altera e acrescenta artigos à Consolidação das

Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei 5.452,

de 1º de maio de 1943, dispondo sobre as Comissões de

Conciliação Prévia e permitindo a execução de título

executivo extrajudicial na Justiça do Trabalho.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faz saber que o Congresso

Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT,

aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar

acrescida do seguinte Título VI-A:

"TÍTULO VI - A

DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Art. 625-A. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões

de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representantes dos

empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os

conflitos individuais do trabalho.

Parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo

poderão ser constituídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical.

Art. 625-B. A Comissão instituída no âmbito da empresa será

composta de, no mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as

seguintes normas:

I - a metade de seus membros será indicada pelo empregador e a

outra metade eleita pelos empregados, em escrutínio secreto, fiscalizado pelo

sindicato da categoria profissional;

67

II - haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os

representantes titulares;

III - o mandato dos seus membros, titulares e suplentes, é de um

ano, permitida uma recondução.

§ 1o É vedada a dispensa dos representantes dos empregados

membros da Comissão de Conciliação Prévia, titulares e suplentes, até um ano

após o final do mandato, salvo se cometerem falta grave, nos termos da lei.

§ 2o O representante dos empregados desenvolverá seu trabalho

normal na empresa, afastando-se de suas atividades apenas quando

convocado para atuar como conciliador, sendo computado como tempo de

trabalho efetivo o despendido nessa atividade.

Art. 625-C. A Comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua

constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo

coletivo.

Art. 625-D. . Qualquer demanda de natureza trabalhista será

submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de

serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do

sindicato da categoria.

§ 1o A demanda será formulada por escrito ou reduzida a termo por

qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada

pelo membro aos interessados.

§ 2o Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e

ao empregador declaração da tentativa conciliatória frustrada com a descrição

de seu objeto, firmada pelos membros da Comissão, que deverá ser juntada à

eventual reclamação trabalhista.

§ 3o Em caso de motivo relevante que impossibilite a observância do

procedimento previsto no caput deste artigo será a circunstância declarada na

petição inicial da ação intentada perante a Justiça do Trabalho.

§ 4o Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria,

Comissão de empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma

68

delas para submeter a sua demanda, sendo competente aquela que primeiro

conhecer do pedido.

Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo

empregado, pelo empregador ou seu preposto e pelos membros da Comissão,

fornecendo-se cópia às partes.

Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo

extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas

expressamente ressalvadas.

Art. 625-F. As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez

dias para a realização da sessão de tentativa de conciliação a partir da

provocação do interessado.

Parágrafo único. Esgotado o prazo sem a realização da sessão, será

fornecida, no último dia do prazo, a declaração a que se refere o § 2o do art.

625-D.

Art. 625-G. O prazo prescricional será suspenso a partir da

provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que

lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do

prazo previsto no art. 625-F.

Art. 625-H. Aplicam-se aos Núcleos Intersindicais de Conciliação

Trabalhista em funcionamento ou que vierem a ser criados, no que couber as

disposições previstas neste Título, desde que observados os princípios da

paridade e da negociação coletiva na sua constituição.”.

Art. 2o O art. 876 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT,

aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar

com a seguinte redação:

"Art. 876. As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha

havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os

termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho

e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação

Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo." (NR).

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Art. 3o A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar acrescida do

seguinte artigo:

"Art. 877-A. É competente para a execução de título executivo

extrajudicial o juiz que teria competência para o processo de conhecimento

relativo à matéria."

Art. 4o Esta Lei entra em vigor no prazo de noventa dias da data de

sua publicação.

Brasília, 12 de janeiro de 2000; 179o da Independência e 112o da

República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

José Carlos Dias

Francisco Dornelles