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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PROJETO A VEZ DO MESTRE PARALISIA CEREBRAL E DANÇA Elaine Lima de Mello Rio Janeiro/2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PARALISIA CEREBRAL E DANÇA

Elaine Lima de Mello

Rio

Janeiro/2005

Elaine Lima de Mello

PARALISIA CEREBRAL E DANÇA

Rio

Janeiro/2005

Monografia apresentada como exigência parcialà conclusão do Curso de Pós-Graduação em Inclusãoda Universidade Candido Mendes. Orientadora: MarySue Pereira.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por mais esta

oportunidade de aprendizado. A minha família e

os meus amigos que apóiam e acreditam no meu

crescimento como profissional.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à todos que

compreendem a grandeza do mundo e suas

diferenças e conseguem perceber a

individualidade de cada um. Respeitando,

interagindo e acima de tudo crescendo...

“ Nada chega ao espírito sem passar antes pelas ações.”

Aristóteles

SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................... 6

METODOLOGIA.............................................................................................................7

INTRODUÇÃO:...............................................................................................................8 I- O QUE É PARALISIA CEREBRAL ?.........................................................................10

II- A DANÇA COMO INCLUSÃO..................................................................................25 III- SUPERANDO BARREIRAS.................................................................. .................38

CONCLUSÃO................................................................................................................45 ANEXO...........................................................................................................................47 BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................52 ATIVIDADES CULTURAIS.............................................................................................54 ÍNDICE...........................................................................................................................56 FOLHA DE AVALIAÇÃO................................................................................................57

RESUMO

A atividade de dança é prazerosa e não competitiva. Os alunos descobrem

que o corpo, a voz, o olhar, tudo “fala” e tem muitas possibilidades de

expressão.Ao revelar o potencial expressivo a pessoa consegue fazer

transparecer seus estados de ânimo, limites e interesses com mais precisão. A

criatividade de cada um se manifesta e um novo mundo do deficiente entra em

cena.Criando juntos aprende-se a trabalhar em grupo. A dança aproxima aos

alunos.Com certeza um dos resultados mais empolgantes do trabalho é a

possibilidade de romper com “limites” do atendimento especial através da

aproximação dos portadores de necessidades especiais com os outros, superando

limites, sentindo-se capazes e confiantes em seu potencial.

METODOLOGIA

Trabalho desenvolvido a partir da leitura bibliográfica para o aprofundamento do tema . autores que pesquisam o desenvolvimento das crianças com paralisia cerebral bem como a história da dança, foram o alvo do estudo devido a crença de que todos podem dançar e através da dança podem se sentir capazes e felizes. Também foi realizada a pesquisa exploratória, através de estágio na APAE- Teresóplis, RJ.

INTRODUÇÃO

Chama-se de paralisado cerebral (PC) a todo portador de deficiência física

originada de lesão cerebral, de qualquer ordem, adquirida antes, durante, e

também após o nascimento, provocada pela falta de oxigenação no cérebro,

cujas causas são variadas. Pode ser provocada pelo sofrimento durante o

nascimento (a criança não respira e dá-se a falta de oxigenação no cérebro);

durante a gravidez com alguma doença contraída pela mãe, como por exemplo,

rubéola; exposição ao Raio X, etc... O fator Rh- da mãe, sendo o filho Rh+

também pode causar dano cerebral, além disso, a deficiência também aparece

após o nascimento através de um traumatismo craniano, ou de uma doença como

sarampo.

Segundo o diretor clínico da Associação de Assistência à Criança

Defeituosa (AACD), Dr. Ivan Ferraretto, aparecem, por ano, 30.000 portadores de

paralisia cerebral. Este dado foi divulgado na Folha de S. Paulo, no mês de maio

de 1996. em 1989, o mesmo médico constatava que os casos de paralisia cerebral

aumentavam, por ano, 16.000. Ou seja, a incidência está quase dobrando de

número em seis anos. E, pior ainda, segundo este profissional, 80% dos casos

poderiam ser evitados se houvesse um pediatra na sala de parto, juntamente com

o obstetra. Ainda mais lamentável é a constatação de que este procedimento é lei

e, quase 90% dos hospitais não a cumprem.

Infelizmente sabemos que o compromisso com a saúde pública é um

assunto politicamente complexo. Maior que a deficiência física ou mental, é a

deficiência de humanidade, de respeito ao próximo, e de responsabilidade social.

Poderíamos evitar que uma criança com paralisia cerebral sofresse com o

preconceito, as barreiras de acesso aos espaços físicos, o ingresso em

estabelecimentos de ensino ou futuramente, ao mercado de trabalho e

principalmente, com o espanto e piedade que os paralisados cerebrais despertam

na sociedade em geral.

Todo esse sofrimento, toda essa dificuldade causa no indivíduo um enorme

isolamento social, além de uma queda na sua auto-estima e no seu autoconceito,

e faz com que se sinta realmente incapaz.

Assim o objetivo deste trabalho monográfico é o de reverter a idéia que

temos de “deficiência”, e para isso, no primeiro capítulo será abordado o conceito

de Paralisia Cerebral, como ocorre e quais os graus de comprometimento. Como a

sociedade recebe o paralisado cerebral em processo de inclusão será o tema do

segundo capítulo, e por fim no terceiro capítulo a dança será citada como a fonte

inspiradora do portador de paralisia cerebral para vencer as barreiras do dia a dia

e sentir-se realizado como um ser humano, capaz como todos nós de expressar a

arte através da emoção que envolve a dança.

I- QUE É PARALISIA CEREBRAL?

A Paralisia Cerebral (PC), foi descrita pela primeira vez em 1860 pelo Dr.

William Little, tendo relacionado estas alterações com a hipóxia perinatal o dos

traumas de parto como fatores determinantes de lesões cerebrais irreversíveis.

A expressão “Paralisia Cerebral”, foi praticamente cunhada por Freud em

1897, onde a expressão empregada foi “Paralisia Cerebral Infantil”, dando a

entender que o paciente acometido por ela ficará imobilizado, fato este que ocorre

somente com uma parcela dos pacientes, como efeito progressivo da hipertonia

(excesso de Tônus muscular), devido à gravidade da lesão ou quando há

inadequação ou ausência da fisioterapia. Como não havia fisioterapia no Século

XIX, pode-se concluir a razão da expressão. Em virtude da má colocação verbal

na identificação desta “patologia” alguns especialistas têm adotado o termo

“Incapacidade Motora Cerebral-IMC”, procurando evitar qualquer tipo de

associação, do termo, com julgamento da capacidade mental da pessoa (quando

esta capacidade é afetada, trata-se deficiências múltiplas).

A paralisia Cerebral apresenta um conglomerado de complexidades. A

literatura refere-se a paralisia cerebral, como decorrência da falta de oxigenação

do tecido nervoso ou alguma agressão relacionada ao cérebro imediatamente

antes, durante ou após o processo de nascimento. Os padrões da agressão ao

cérebro caem em padrões que não são sempre concisamente organizados.

As categorizações iniciais dos tipos de paralisia cerebral têm-se mostrado

inconsistentes, pois uma única criança pode mudar de uma categoria diagnóstica

para outra durante o processo de maturação.

Usualmente dividem-se as lesões cerebrais em três tipos:

• Pré Parto - Esta classificação está relacionada com a ameaça de

aborto, choque direto no abdômen na mãe, exposição aos raios-X nos primeiros

meses de gestação, incompatibilidade de Rh da mãe e do pai, infecções

contraídas pela mãe durante a gravidez (rubéola, sífilis,

toxoplasmose), mãe portadora de diabetes ou com toxemia de gravidez e

hipertensão da gestante.

• Parto – Neste período pode-se ocorrer uma falta de oxigenação ao

nascimento da criança (o bebê demora a respirar, lesando parte(s) do cérebro).

Em uma revisão bibliográfica identifica-se facilmente as lesões causadas por

partos difíceis, principalmente nos fetos muito grandes de mães pequenas ou

muito jovens (a cabeça do bebê pode ser muito comprida durante a passagem

pelo canal vaginal). Um parto muito demorado ou o uso do Fórceps, manobras

obstétricas violentas e os bebes que nascem prematuramente (antes dos 9 meses

e pesando menos de 2 quilos), possuem um maior risco de apresentar paralisia

cerebral.

• Pós parto – O período recém-nato, também apresenta os seus riscos e

a literatura cita casos de crianças que ao passarem por um longo período de febre

muito alta (39ºC ou superior) logo nos primeiros meses de vida ou que sofreram

uma desidratação com perda significativa de líquidos, adquiriram lesões cerebrais,

acarretando em incapacidades motoras e sensoriais como seqüelas. Não só

nestes casos, mas também, em casos de infecções cerebrais causadas por

meningite ou encefalite, ferimento ou traumatismo na cabeça, falta de oxigênio por

afogamento (asfixia), envenenamento por gás ou chumbo (utilizado no esmalte

cerâmico, nos pesticidas agrícolas e outros venenos), além de sarampo e o

traumatismo crânio-encefálico até os três anos de idade, são fatores de risco para

a paralisia cerebral.

Para uma maior compreensão do processo evolutivo da paralisia cerebral,

torna-se necessários alguns conhecimentos sobre neuro-desenvolvimento

embrionário e fetal humano normal, onde os aspectos anatômicos e funcionais do

sistema nervoso da criança e do adulto, quando bem compreendidos facilitam a

distinção das malformações, anormalidades estruturais ou agressões exógenas

sobre o sistema nervoso central (SNC).

O desenvolvimento do neocórtex humano envolve multiplicação celular,

migração, diferenciação, amadurecimento dos neurônios, de glia e dos vasos

sanguíneos.

O conhecimento destas etapas facilita o raciocínio aprimorado dos

mecanismos responsáveis pelas diferentes alterações neurológicas a partir de

lesões congênitas ou adquiridas no período pré e perinatal.

O desenvolvimento do cérebro tem início logo após a concepção e continua

após o nascimento.

Ocorrendo qualquer fator agressivo ao tecido cerebral antes, durante ou

após o parto, as áreas mais atingidas terão a função prejudicada e dependendo da

importância da agressão, certas alterações serão permanentes caracterizando

uma lesão não progressiva.

Dentre os fatores potencialmente determinantes de lesão cerebral

irreversível, os mais comumente observados são infecções do sistema nervoso,

hipóxia (falta de oxigênio) e traumas de crânio. O desenvolvimento anormal do

cérebro pode também estar relacionado com uma desordem genética, e nestas

circunstâncias, geralmente, observa-se outras alterações primárias além da

cerebral. Em muitas crianças, a lesão ocorre nos primeiros meses de gestação e a

causa é desconhecida.

O tipo de alteração do movimento observado está relacionado com a

localização da lesão no cérebro e a gravidade das alterações depende da

extensão da lesão. A paralisia cerebral é classificada de acordo com a alteração

de movimento que predomina. Formas mistas são também observadas.

Dificuldade de sucção, tônus muscular diminuído, alterações da postura e

atraso para firmar a cabeça, sorrir e rolar são sinais precoces que chamam a

atenção para a necessidade de avaliações mais detalhadas e acompanhamento

neurológico.

A história clínica deve ser completa e o exame neurológico deve incluir a

pesquisa de reflexos primitivos (próprios do recém-nascido), porque a persistência

de certos reflexos além dos seis meses de idade pode indicar presença de lesão

cerebral. Reflexos são movimentos automáticos que o corpo faz em resposta a um

estímulo específico. O reflexo primitivo mais conhecido é o reflexo de Moro que

pode ser assim descrito: quando a criança é colocada deitada de costas em uma

mesa sobre a palma da mão de quem examina, a retirada brusca da mão causa

um movimento súbito da região cervical, o qual inicia a resposta que consiste

inicialmente de abdução (abertura) e extensão dos braços com as mãos abertas

seguida de adução (fechamento) dos braços como em um abraço. Este reflexo é

normalmente observado no recém-nascido, mas com a maturação cerebral,

respostas automáticas como esta são inibidas. O reflexo de Moro é apenas um

dentre os vários comumente pesquisados pelo pediatra ou fisioterapeuta.

Depois de colhida a história clínica e realizado o exame neurológico, o

próximo passo é afastar a possibilidade de outras condições clínicas ou doenças

que também evoluem com atraso do desenvolvimento neurológico ou alterações

do movimento como descritas anteriormente.

Exames de laboratório (sangue e urina) ou neuroimagem (tomografia

computadorizada ou ressonância magnética) poderão ser indicados de acordo

com a história e as alterações encontradas ao exame neurológico. Estes

exames, em muitas situações, esclarecem a causa da paralisia cerebral ou podem

confirmar o diagnóstico de outras doenças.

Em geral, o diagnóstico de paralisia cerebral sugere que o indivíduo em

questão tem algum distúrbio central de postura e movimento. Além disso, o

processo de identificação com freqüência mostra partes do corpo que estão

primariamente envolvidas. Diplegia, hemiplegia e quadriplegia indicam

respectivamente que os membros inferiores, um lado do corpo, ou os quatro

membros, estão afetados.

O fisioterapeuta precisa estar consciente de que a categorização da

paralisia cerebral é baseada em descrições de características observáveis: é uma

descrição sintomática. Tanto o Dr. Little, quem primeiro identificou a condição com

Dr. Freud, estavam descrevendo as tentativas espontâneas de movimento fora da

postura de repouso. Esses padrões de movimento característicos foram

identificados como espasticidade, atetose, hipotonicidade e ataxia.

Espasticidade

Quando a lesão está localizada na área responsável pelo início dos

movimentos voluntários, trato piramidal, o tônus muscular é aumentado, isto é, os

músculos são tensos e os reflexos tendinosos são exacerbados. Esta condição é

chamada de paralisia cerebral espástica.

As crianças com envolvimento dos braços, das pernas, tronco e cabeça

(envolvimento total) tem tetraplegia espástica e são mais dependentes de ajuda de

outras pessoas para a alimentação, higiene e locomoção. A tetraplegia está

geralmente relacionada com problemas que determinam sofrimento cerebral

difuso grave (infecções, hipóxia e traumas) ou com malformações cerebrais

graves.

Quando a lesão atinge principalmente a porção do trato piramidal

responsável pelos movimentos das pernas, localizada em uma área mãos

próxima dos ventrículos (cavidades do cérebro), a forma clínica é a diplegia

espástica, na qual o envolvimento dos membros inferiores é maior do que dos

membros superiores. A região periventricular é muito vascularizada e os

prematuros, por causa da imaturidade cerebral, com muita freqüência apresentam

hemorragia nesta área. As alterações tardias provocadas por esta hemorragia

podem ser visualizadas com o auxílio da neuroimagem (leucomalácea

periventricular). Por esse motivo, a diplegia espástica é quase sempre relacionada

com prematuridade. Esta forma é menos grave do que a tetraplegia e a grande

maioria das crianças adquirem marcha independente antes dos oito anos de

idade.

Na hemiplegia espástica, são observadas alterações do movimento em um

lado do corpo, como por exemplo, perna e braço esquerdos. As causas mais

freqüentes são alguns tipos de malformação cerebral, acidentes vasculares

ocorridos ainda na vida intra-uterina e traumatismos crânio-encefálicos. As

crianças com este tipo de envolvimento apresentam bom prognóstico motor e

adquirem marcha independente. Algumas apresentam um tipo de distúrbio

sensorial que impede ou dificulta o reconhecimento de formas e texturas com a

mão de lado da hemiplegia. Estas crianças tem muito mais dificuldade para usar a

mão.

As crianças com espasticidade tendem a desenvolver deformidades

articulares porque o músculo espástico não tem crescimento normal. Flexão e

rotação interna dos quadris, flexão dos joelhos e equinismo são as deformidades

mais freqüentes nas crianças que adquirem marcha. Além destas, as crianças

com tetraplegia espástica podem desenvolver ainda, luxação paralítica dos

quadris e escoliose.

Atetose

Quando a lesão está localizada nas áreas que modificam ou regulam o

movimento, trato extrapiramidal, a criança apresenta movimentos involuntários,

movimentos que estão fora de seu controle e os movimentos voluntários estão

prejudicados.

Esta condição é definida como paralisia cerebral com movimentos

involuntários forma coreoatetósica ou distônica. O termo coreoatetose é usado

para definir a associação de movimentos involuntários contínuos, uniformes e

lentos (astetósicos) e rápidos, arrítmicos e de início súbito (coreicos).

A criança com paralisia cerebral tipo distônica apresenta movimentos

intermitentes de torção devido a contração simultânea da musculatura agonista e

atagonista, muitas vezes acometendo somente um lado do corpo. A paralisia

cerebral com movimentos involuntários está freqüentemente relacionada com

lesão dos gânglios da base (núcleos localizados no centro do cérebro, formados

pelos corpos dos neurônios que compõem o trato extra-piramidal), causada por

hiperbilirrubinemia neonatal. A bilirrubina é um pigmento amarelo liberado das

hemácias (células do sangue que transportam o oxigênio) quando elas se

rompem. Nas incompatibilidades sanguíneas, este pigmento pode ser liberado em

grande quantidade. O recém-nascido torna-se ictérico (a pele e as conjuntivas

assumem uma cor de tonalidade amarela). Assim como esse pigmento de

deposita na pele, pode se depositar também nos gânglios da base.

Os movimentos involuntários podem ser leves ou acentuados e são

raramente observados durante o primeiro ano de vida. Nas formas graves, antes

desta idade a criança apresenta hipotonia (tônus muscular diminuído) e o

desenvolvimento motor é bastante atrasado. Muitas crianças não são capazes de

falar, andar ou realizar movimentos voluntários funcionais e são, portanto,

dependentes para a alimentação, locomoção e higiene.

Hipotonicidade

A hipotonicidade é outra categoria de paralisia cerebral, mas pode também

mascarar condições degenerativas não diagnosticadas. O quadro hipotônico em

um bebê jovem pode também ser um precursor de atenose.

Ataxia

A paralisia cerebral atáxica está relacionada com lesões cerebelares ou das

vias cerebelares. Como a função principal do cerebelo é controlar o equilíbrio e

coordenar os movimentos, as crianças com lesão cerebelar apresentam ataxia, ou

seja, marcha cambaleante por causa da deficiência de equilíbrio, e apresentam,

ainda incoordenação dos movimentos com incapacidade para realizar movimentos

alternados rápidos e dificuldades para atingir um alvo. Por exemplo, se a criança

for apertar um botão que liga/desliga um aparelho elétrico com o seu indicador, ela

tem dificuldade para comandar o movimento de maneira a colocar o dedo

exatamente sobre o botão e no final do movimento observa-se um tremor grosso.

Quando a lesão é muito extensa, o atraso do desenvolvimento motor é importante

e é possível que a criança nunca seja capaz de andar sem apoio. Assim como nas

formas extrapiramidais

de paralisia cerebral, durante o primeiro ano de vida, a alteração observada é a

hipotonia. A alteração mais freqüente encontrada é ataxia associada a sinais

piramidais (tônus muscular aumentando e reflexos tendinosos exacerbados).

Ataxia pura em crianças com paralisia cerebral é rara.

O termo paralisia cerebral implica em alterações do movimento, mas a

presença de outros distúrbios deve ser investigada e o sucesso do tratamento

depende da abordagem correta de todos os problemas associados.

Retardo Mental

A avaliação da função intelectual em crianças com certos tipos de

envolvimento é difícil, porque a maioria dos testes normalmente aplicados para

avaliar desenvolvimento cognitivo requer respostas verbais e motoras, e um

julgamento baseado apenas nas impressões iniciais pode levar a uma conclusão

incorreta.

Muitas crianças com disartria graves, a principio consideradas como

intelectualmente deficientes, a partir do momento que puderam se comunicar

utilizando-se de meios alternativos, foram reconhecidas como sendo muito

mais capazes intelectualmente do que se supunha. De qualquer maneira, a alta

incidência de alterações cognitivas em alguns tipos de paralisia cerebral é

reconhecida. O retardo mental é mais comumente observado nas crianças com

tetraplegia espástica.

Epilepsia

Os neurônios (células nervosas) estão permanentemente gerando impulsos

elétricos. Esta atividade elétrica ocorre, normalmente, de uma maneira

organizada. Quando certos grupos de neurônios entram em atividade excessiva e

hipersincrônica, ou seja, vários neurônios entram em atividadse elétrica ao mesmo

tempo, ocorre um distúrbio do funcionamento do sistema nervoso central. Esses

episódios de descarga elétrica anormal são chamados de crises epiléticas. Estas

crises podem evoluir com hiperextensão e contrações musculares (convulsões),

perda súbita do tônus muscular, perda ou alteração temporária da consciência e

alteração temporária do comportamento.

Uma criança em crise pode apresentar os seguintes sinais: contrações

musculares generalizadas ou localizadas, movimentos rítmicos com a cabeça,

desvio do olhar para cima ou para o lado, movimentos rápidos de piscar os olhos,

movimentos mastigatórios, ausência de resposta a uma solicitação verbal

episódios breves de olhar parado ou vago, ou crises de medo.

Quando existe dúvida quanto á possibilidade da criança estar apresentando

qualquer um desses sinais, o melhor a fazer é registrar as alterações observadas

procurando descrever o sintoma, que parte do corpo envolveu, a hora em que

ocorreu e quanto tempo durou. Somente o médico, muitas vezes com o auxílio do

eletroencefalograma (EEG), pode confirmar se a criança está realmente

apresentando crises e orientar o tratamento correto. O EEG pode ser visto como

uma extensão do exame neurológico e o que ele registra é basicamente a

atividade elétrica espontânea do cérebro. Muitas vezes, mesmo para o pediatra ou

neurologista é difícil definir se as crises são realmente epiléticas ou se estão

relacionadas com outros tipos de distúrbios. Nestes casos, os estudos feitos com

EEG prolongado e vídeo podem esclarecer o diagnóstico.

Além da epilepsia, muitas condições podem determinar crises convulsivas

isoladas tais como desidratação grave, hipoglicemia, infecções cerebrais ou

intoxicações. O que caracteriza a epilepsia é a repetição de crises não

provocadas, ou seja, não determinadas por um processo patológico agudo.

A Liga Internacional contra a Epilepsia classifica as crises em generalizadas

e parciais. As generalizadas envolvem o cérebro como um todo. As parciais

permanecem restritas a uma certa área do cérebro e os sintomas dependem da

área envolvida. Uma criança com paralisia cerebral pode apresentar qualquer tipo

de crise.

A crise do tipo tônico-clônica generalizada é a que mais preocupa os pais

ou outras pessoas que a presenciam, mas na maioria das vezes ela lê

autolimitada e para em dois a dez minutos. Na presença de uma crise tônico-

Clônica generalizada, a criança deve ser protegida de traumas, as contrações

musculares não devem ser contidas e a cabeça deve ser mantida em posição

rodada lateralmente para evitar aspirações no caso de vômitos. Não se deve

tracionar a língua ou introduzir qualquer objeto na boca da criança. A respiração

pode se alterar durante a crise, mas se normaliza nos primeiros minutos. Quando

a criança apresenta crises sub-entrantes, sem retomar a consciência entre uma e

outra, ou uma crise tônico-clônica com mais de 20 minutos de duração, ela entra

em estado de mal epilético (status epilepticus). O estado de mal epilético é uma

emergência pediátrica.

O tratamento da epilepsia deve ser introduzido assim que se faz o

diagnóstico. Nas fases iniciais do tratamento com anticonvulsivantes algumas

crianças apresentam sonolência, mas esta reação tende a desaparecer ao final de

um certo período. Qualquer reação deve ser relatada ao pediatra ou neurologista a

algumas delas, como irritabilidade ou do tipo alérgica justificam a substituição do

anticonvulsivante. Quando as crises são controladas, melhora tanto motora

quando cognitiva pode ser observada e mesmo tendo cessado as

crises, o tratamento deve ser mantido por no mínimo dois ou três anos. Uma vez

iniciado o anticonvulsivante, a dose somente deve ser alterada conforme

orientação médica. A suspensão súbita da medicação pode desencadear estado

de mal epilético com possibilidade de agravamento do quadro neurológico.

Algumas formas de epilepsia são resistentes ao tratamento com

anticonvulsivantes.

Alterações Visuais

Quando a criança nasce o seu sistema visual não é ainda maturo. A fóvea,

parte da retina responsável pela acuidade visual não está completamente

desenvolvida. As células desta região passam por um processo de crescimento e

organização e somente alcançam a maturidade por volta dos quatro anos de

idade. Normalmente, em torno dos três meses de vida a criança já é capaz de fixar

e acompanhar um objeto em movimento, mas a visão binocular se desenvolve

entre o terceiro e o sétimo mês.

Na paralisia cerebral, o estrabismo é freqüente. Catarata (opacidade do

cristalino), coriorretinite (inflamação da coróide e da retina) e glaucoma (aumento

da pressão ocular) são desordens oculares comumente encontradas nas

infecções congênitas.

Aproximadamente 2/3 dos prematuros de peso abaixo de 1250g

desenvolvem algum grau de retinopatia do prematuro. Nos prematuros, o oxigênio

usado para tratar a síndrome de esforço respiratório pode alterar o crescimento

dos vasos sanguíneos da retina predispondo a miopia, estrabismo e glaucoma.

Nos casos mais graves, uma cicatriz fibrosa descola a retina do fundo do olho

determinando perda da visão. Mesmo se tomando todas as medidas para previnir

a retinopatia do prematuro, ela pode ocorrer, e por esse motivo, todos os

prematuros tratados com oxigênio devem ser referidos para avaliações

oftalmológicas periódicas durante os primeiros meses de vida.

A córtex visual é a região do lobo occipital responsável pela recepção e

decodificação da informação enviada pelos olhos. Uma lesão nesta área pode

determinar perda visual que neste caso é chamada de deficiência visual cortical

(DVC). As causas mais freqüentes de DVC são hipoxia, infecções do sistema

nervoso central, traumatismo cranioencefálico e hidrocefalia. Os testes

eletrofisiológicos completam a avaliação clínica e podem determinar se a causa da

deficiência visual está nos olhos ou no cérebro. O eletroretinograma avalia a

função retiniana e o potencial evocado visual avalia as vias nervosas do olho até a

córtex visual. Na DVC, apesar dos testes iniciais indicarem deficiência importante,

muitas crianças desenvolvem alguma função visual e estimulação favorece

alguma maneira o desenvolvimento da visão.

É importante se fazer a diferença entre DVC e atraso da maturação visual

nas crianças que apresentam resposta inadequada aos estímulos visuais. As

crianças com atraso da maturação visual, geralmente, não tem história de

problemas durante a gestação ou o nascimento e tem exame oftalmológico

normal, embora apresentar algum atraso do desenvolvimento psicomotor. O

prognóstico é bom ocorrendo melhora espontânea da função visual com o

desenvolvimento da criança.

Todas as crianças com diminuição das resposta aos estímulos visuais ou

alterações oculares devem ser avaliadas por oftalmologista interessado no

diagnóstico e tratamento das doenças oculares infantis.

Deficiência Auditiva

Todas as crianças de risco devem ser “triadas” nos primeiros meses de vida

com audiometria de tronco cerebral. Esta técnica consiste de estimulação das vias

acústicas e captação dos potenciais bioelétricos gerados nas vias cocleares no

interior do tronco encefálico. Os principais fatores de risco são: suspeita dos pais

de que a criança não está ouvindo; infecções congênitas (rubéola, toxoplasmose,

citomegalia); malformações do pavilhão auricular, face ou palato (céu da boca);

baixo peso ao nascer (abaixo de 1500g); hiperbilirrubinemia neonatal grave;

meningite bacteriana; asfixia perinatal; e uso de medicações tóxicas para o ouvido

(estreptomicina, kanamicina e outros aminoglicosídeos).

O diagnóstico precoce possibilita a intervenção precoce favorecendo o

processo de aprendizagem. A criança deve ser acompanhada desde os primeiros

meses por uma equipe especializada. Os aparelhos auditivos podem ser usados a

partir de qualquer idade e devem ser indicados assim que for identificada a perda

auditiva permanente.

Dificuldades Para Alimentação

Desordens na sucção, mastigação e deglutição são comuns nas crianças

com envolvimento total. Todos estes fatores contribuem para uma ingesta

alimentar abaixo das necessidades. Além disso, muitas crianças com limitações

motoras são mantidas por longos períodos com dietas próprias para bebes. A

oferta monótona de certos tipos de alimento, tais como, leite e derivados,

farináceos ou sucos após seis meses de idade pode determinar quadros de

anemias carenciais (principalmente por falta de ferro), desnutrição e infecções de

repetição. A criança desnutrida não cresce normalmente e sua resposta aos

estímulos que promovem o desenvolvimento é prejudicada.

A dieta deve ser planejada de acordo com as características clínicas e as

limitações de cada criança. Por exemplo, para facilitar a deglutição e reduzir o

refluxo de parte do conteúdo gástrico para o esôfago, recomenda-se manter a

criança com a cabeça e o tronco em posição semi-elevada durante e por alguns

minutos após cada refeição. Nas crianças com refluxo gastresofágico, as refeições

devem ser de menor volume e oferecidas em intervalos de tempo menores para

que não haja prejuízo do total de nutrientes ingeridos em um dia. As crianças com

dificuldade para deglutirem líquidos, devem ser alimentadas com pequenos

volumes de dieta pastosa e de sucos engrossados com frutas e gelatinas

procurando-se assim manter um bom nível de hidratação.

Constipação Intestinal

Quanto mais tempo as fezes permanecem no colo, maior é a absorção de

água e mais endurecidas elas ficam resultando em constipação. A constipação

intestinal crônica decorre de vários fatores, dentre eles, pequena

ingestão de fibras e líquidos, atividade física reduzida, e uso de medicações como

antiácidos e certos antiepilépticos.

A ingestão adequada de líquidos em geral, alimentos ricos em fibras tais

como frutas (mamão, abacaxi, laranja com bagaço, ameixa preta, manga,

melancia), verduras (principalmente as folhagens cruas), leguminosas (feijão,

ervilha, lentilha) e alimentos integrais melhoram o funcionamento intestinal e são

medidas que devem ser recomendadas se o colo (intestino grosso) ainda não

estiver dilatado.

Quando a constipação é grave e não se observa resposta às orientações

iniciais, os alimentos ricos em fibras devem ser suspensos imediatamente e a

possibilidade de megacolo deve ser investigada. O tratamento correto do

megacolo (dilatação do intestino grosso) requer a orientação de um pediatra com

experiência neste tipo de problema.

Todo esforço para que o período gestacional seja o mais saudável possível

através da manutenção de uma boa nutrição e da eliminação de uso de álcool,

fumo, drogas e medicações sabidamente teratogênicas deve ser feito, pois estas

medidas estarão contribuindo para a prevenção de alguns tipos de paralisia

cerebral. A rubéola congênita pode ser prevenida se a mulher for vacinada antes

de se engravidar. Quanto à toxoplasmose materna, medidas de higiene, como não

ingerir carnes mal cozidas ou verduras que possam estar contaminadas com fezes

de gato são importantes. As gestantes com sorologia positiva devem ser

adequadas tratadas, diminuindo assim os riscos de infecção fetal. A

incompatibilidade Rh pode ser facilmente prevenida (vacina anti-Rh+) e

identificada. Quando a bilirrubina não conjugada no recém-nascido atinge níveis

críticos, a criança deve ser submetida à ex-sanguíneotransfusão (troca de parte do

volume sanguíneo). O tratamento adequado da incompatibilidade sanguínea

reduziu em muito a incidência da paralisia cerebral com movimentos involuntários.

Por isso tanto quanto a melhoria do sistema de saúde, a conscientização da

gestante é importante para o nascimento de uma criança saudável.

II - A DANÇA COMO INCLUSÃO

Ao controlar seus movimentos, passos e gestos é o ser humano com seu

corpo, capaz de exprimir, transmitir ao público receptor seus anseios, tensões e

sentimentos pela linguagem corporal – DANÇA.

Reportando-nos a estudos desenvolvidos por arqueólogos e antropólogos

pressupomos que o homem primitivo dançava para simbolizar sua força e vigor

físico – uma rudimentar tentativa de comunicação; só posteriormente é que a

dança nasce como forma de ritual. Os arquivos encontrados nas escavações

mostram gestos rítmicos, repetitivos, às vezes, levados ao paraxismos, retratam

danças em torno de fogueiras, diante das cavernas ou parecem aquecer o corpo

antes das atividades de caça ou combate. Assim, desde as mais remotas

organizações sociais a dança se faz presente como manifestação de expressão e

comunicação e de celebrações: forças da natureza, tais como, mudança de

estações ou celebrações bélicas, antes ou após os combates. Ela está presente

em todos os momentos solenes da existência do homem: guerra e paz,

casamento, funerais, semeaduras e colheitas.

Os grandes saltos, são movimentos de ousadia, coragem: de avanço e

nunca de desânimo; de alegria, nunca de timidez ou retraimento. Aos pequenos

saltos nos associamos a graça, leveza e alegria. A seqüência de pessoa,

deslizamentos no solo poderá denotar fuga, medo. As posições de equilíbrio

denotam expectativas, espera a possibilidade de caminhar para frente como nos

“arabesques”. As torções do dorso ou contrações da totalidade do corpo podem

descrever situações emocionais de dor, desespero ou simulações. Os

deslocamentos rápidos do corpo nas diagonais como os “chaines”, “piques”, dão-

nos sensação de aproximação em velocidade dos corpos.

Sempre existiu, através do tempo e do espaço, conflitos que se traduziam

pela necessidade da disciplina pretendida pelo educador e a liberdade reclamada

pelo educando. Foram os filósofos que trouxeram ao campo da pedagogia as

influências do Hedonismo. Segundo Penna Marinho, esta visão educacional

nasceu após o Renascimento, quando “especialistas especularam sobre os

fundamentos da Educação e advogaram para as crianças mais liberdade, mais

alegria, mais felicidade, reagindo contra situações em que elas se encontravam

perenemente ameaçadas, amedrontadas e castigadas” ( Marinho, 1984).

Se estudarmos a vida de qualquer povo, das civilizações mais primitivas até

nossos dias, encontraremos sempre como expressão de uma cultura e como

educação das crianças aos jogos, os desportos e a dança.

As Danças, em todas as épocas da história e/ou espaço geográfico, para

todos os povos é representação de suas manifestações, de seus “estados de

espírito”, permeios de emoções, de expressão e comunicação do ser e de suas

características culturais. É ela que traduz por meios de gestos e movimentos a

mais íntima das emoções acompanhada ou não de música e do canto ou de

ritmos peculiares.

Como toda atividade humana, a Dança sofreu o destino das formas e das

instituições sociais. Assim, estas perspectivas abrem uma relação entre as

peculiares, características e o caráter dos movimentos dançantes e o

desenvolvimento sócio-cultural dos povos em todo os tempos.

Desde tempos imemoráveis a Dança como atividade humana é forma de

manifestação, a primeira, também como comunhão mística do homem com a

natureza e com os deuses. As expressão dinâmicas das emoções do homem

primitivo-dança-ritmo-procuravam estabelecer um encontro consigo, com os outros

e com as forças da natureza. Pressionada pelo ritmo natural, a dança na vida do

homem primitivo presidia a todos os acontecimentos-

nascimento/morte;guerra/paz;cerimônias religiosas e de iniciação; tinham

emocionalmente um caráter ritualístico. Esse sentido da dança-magia do homem

primitivo, que presidia a todos os acontecimentos de suas vidas visava sempre o

mesmo fim: a saúde, a vida, a fertilidade, o vigor físico e sexual marcado pelo

caráter religioso, terapêutico, estético e educativo.

Como educação das crianças entre povos primitivos ainda hoje a Dança

deve proporcionar situações que lhes possibilitem desenvolver habilidades várias

de possibilidades de movimento, exercer possibilidades de autoconhecimento e

ser o agente efetivo da harmonia entre a razão e o coração.

Sempre inspirado na atividade divina, a Dança da Índia segue os conceitos

de energia, sabedoria e a arte brota de uma mesma raiz divina que produz e

coordena a vida. Esses conceitos se relacionam dentro de um raciocínio que nada

tem a ver com a lógica ocidental. Expressam a integração de elementos opostos –

espírito e matéria – gerando o ritmo da natureza que tanto passa pela

contemplação mística quanto pela sensualidade; não separa o sagrado do

profano. Tem assim a dança do povo hindu um caráter de intervenção e volta-se

sobre este prisma para o caráter educacional.

Na Índia milenar, a Dança segue quatro estilos ou correntes coreográficas

com concepção de drama: “Bharat Natyam, Kathakali, Manipuri e Kathak”. No

momento, cumpre esclarecer a última citada a qual contém aspectos altamente

educativos. O “Kathak” deriva da arte de contar “histórias educativas” e mostra

uma forte influência islâmica nos temas dançados. O intérprete deve ser hábil em

expressar a narrativa linear bem como todas as sensações que a mesma desperta

nos educandos.

Essas danças na Índia permanecem irraigadas à cultura hindu graças à

permanência de danças vinculadas às tradições milenares, resguardadas em seus

temas e as suas formas de execução.

As danças do Japão, variadas e espontâneas,integravam festas rituais

como o plantio de arroz, a da noite no retorno das almas, a da floração das

cerejeiras, a barca das lanternas.

Masculinas ou femininas, estas danças ilustram lendas ou crenças sobre a

relação entre divindades e natureza. A teatralização de costumes populares e

práticas religiosas que são a “dengake e a surugaki” e se assemelhavam às

pantominas romanas e se alternam entre o enfoque dramático e cômico. (Portinari,

1989).

Mais do que outros países orientais, o Japão abriu-se às influências

estrangeiras convivendo em igual significação o tradicional e o moderno na cultura

japonesa, e o ballet ganha no Japão muitos adeptos.

Na antiga China, a Dança teve lugar privilegiado na corte imperial;

integrava-se a dois princípios básicos da cultura chinesa representados pelo Yo, a

música, e Li, os rituais. Através desses ritos, honrava-se a memória dos ancestrais

e o espírito do Grande Mestre (Deus, guia) que representava a fonte da virtude.

Com o domínio da dinastia dos Chou (1.122-255 a.C), a China alcança o

maior esplendor de sua cultura. Foram fundadas escolas em sistemas verticais

(hoje corresponderia as sistema atual) dentro das quais se praticava lutas,

desportos e danças. Dentre as danças na Educação, a dança das espadas era

praticada pelo exército e nas escolas, creio, como forma de dar forças e vigor

físico e desenvolver a coragem e o destemor.

No reinado de Chum Huang Ti que sobe ao trono aproximadamente em 246

a. C., era usada uma pantomina bélica, que representava a vitória do soberano

sobre os nobres rebeldes. Os superespetáculos de caráter didático era encerrado

como educação dos súditos e fortificar a sua fiel obediência ao imperador deus.

Na monarquia absoluta de Ying-Chang, as danças eram também

praticadas. Com o imperador Han-Wu-Ti que sucedeu o anterior, estabelece o

cerne da cultura chinesa e nela inclui danças realizadas em cerimônias com cunho

educacional (Marinho, 1984).

Dentre as civilizações antigas, cuja dança tinha o caráter sagrado, se

destaca o Egito. Como tal, a dança tinha um caráter eminentemente ritualístico,

voltada para a adoração de divindades como Osíris, Ísis, seu filho Horus –

trindade básica da religião egípcia.

Dado o caráter sagrado das danças egípcias, o cunho educacional se dilui.

Entretanto, cabe ressaltar que o festival de Abydos realizava-se de acordo com

indicações em hierógrifos era garantido pelo ensino do esquema do festival

através de anotações. As indicações do hieróglifos (codoficação dos

ensinamentos) garantiam a repetição de um esquema. Portinari analisa que havia

diretivas para a ação precedida pela identificação de cada deus. Os personagens

usavam máscaras e executavam um gestual estipulado acompanhado por cantos

e danças.

Os hebreus, sendo uma austera civilização centrada numa divindade única

e material, raramente utilizavam a dança no culto, pois são proibidos de

representar seres vivos.

Há, entretanto, algumas alusões às danças nos livros como os salmos, mas

sempre de forma vaga: Louvemos Javé através de cantos e danças.

O povo hebreu é o único a não ter transformado sua dança em arte, denota

Bourcier (1970).

Segundo o historiador André Cagnot, os hebreus teriam aprendido a dançar

durante o cativeiro no Egito (Portinari: 1989). Por este motivo, a Dança de Salomé,

possivelmente como arte da sedução, teria conotações da arte egípcia.

Os gregos deram importâncias à Dança desde os primórdios da civilização.

Ela aparece em mitos, lendas, cerimônias, literatura e também como matéria

obrigatória na formação do cidadão (Portinari, 1989).

O ideal da perfeição grega consiste na harmonia entre o corpo e o espírito;

a beleza das formas físicas e o espírito forte eram requisitos altamente solicitados

pela educação grega. Assim, os exercícios de esporte e da arte de danças eram

integrados desde a infância, a formação do soldado-cidadão.

Es Esparta Antiga, os jovens praticavam a embateria, ginástica rítmica que

lhes dava resistência e agilidade necessárias à vida militar.

Em Atenas, só era considerado educado o homem que além da política e

filosofia soubesse também tocar algum instrumento, cantar e dançar.

Portinari (1980: 34) relata: “Platão (428-347 a.C.) refere-se à dança

integrada ao aprendizado da música e do canto, dizendo nas LEIS que as artes

corais são imprescindíveis ao homem educado”. Enfatiza, porém, que há duas

espécies de música e dança: uma nobre e uma ignóbil. A nobre imita o que é belo

e correto, devendo assim ser ensinada às crianças, pois contribui para o equilíbrio

da mente e o aprimoramento do espírito.

O pensamento ocidental sobre o qual Aristóteles exerceu poderosa

influência deu atenção às questões da Dança na Educação, mas como atividade

profissional. Entretanto, a música e a dança lhe pareciam indignas do cidadão.

A Dança recomendada pelos filósofos gregos era aquela que cultivava a

disciplina e a harmonia das formas.

Na Grécia, a Dança constituía parte fundamental da Educação; realizada de

várias formas, era empregada a partir de cinco anos até o limiar da velhice.

A educação, na Grécia, consagrada às crianças e jovens era dividida em

plano educacional, elaborada por Platão resumindo em cinco etapas. Era,

entretanto, na primeira etapa que a música e a dança exerciam maior ênfase na

formação dos jovens, Sócrates dizia: “Devemos começar pela música antes que a

ginástica”. Para os gregos, a música era aliada ao movimento emocional; parte da

educação das crianças de 7 aos 17 anos (Marinho, 1984).

Os cantos e as danças visavam exaltar Apolo, o mais querido dos deuses

para os gregos que acompanhavam-no com cantos.

As espartanos usavam a dança como uma atividade de maior importância

para a educação dos guerreiros, atribuindo-lhe elevado desenvolvimento de forma,

sobretudo como meio de preparação para a luta e o pugilato. Consideravam-na de

grande importância para a preparação corporal, que chegavam a dizer que os

melhores dançarinos se convertiam nos melhores guerreiros.

Os gregos, com exceção do ballet, conheciam todos os tipos de danças,

afirma Diem, das atuais às em desuso. Praticavam danças individuais, grupais e

em grandes conjuntos. As mais comuns eram os rituais funerais, guerreiras e

folclóricas, expressionistas e pantomínicas com motivos da natureza e com os

ritmos da fecundidade. Algumas eram sistematizadas por uma série se exercícios

para correções posturais e do movimento, hoje educação de movimento.

A filosofia era primordial para os gregos. Os filósofos Homero, Sócrates,

Platão, Pindar, Sólon, Pitágoras praticavam também Danças. Devemos dar ao

corpo e ao espírito toda a beleza de que são capazes? Era uma máxima de

Platão. Assim, a integração da filosofia às artes era objeto de inspiração para a

educação da Grécia, destacando-se o canto e a dança como principais entre elas.

“As formas criadas e registradas nas pinturas e esculturas foram de

tamanha beleza que mais tarde tornaram-se objetos de inspiração e estudo por

parte dos que se propuseram a organizar o ensino da Dança e aos reformadores

da época moderna” (Knackfuss, 1988).

Também entre os romanos, apesar de menor intensidade e diversidade. A

Dança se fez presente em sua educação.

As mulheres eram educadas nos “gineceus” para as tarefas do lar e

algumas vezes aprendendo danças, música, poesia e canto.

Os exercícios físicos em Roma eram praticados com finalidades militares e

não com a preocupação estética dos gregos. Entretanto, o jovem aos 16 anos, ao

entrar na escola de retórica, também recebia como educação estudos

complementares de ciência e artes,onde a música e a dança pouco a pouco

ganhavam aceitação (Marinho, 1988).

Entretanto, segundo Knackfuss (1988), em Roma a dança experimenta um

declínio devido ao profissionalismo para a diversão. Os dançarinos migraram para

Roma em busca de fama e prestígio. Esntretanto, não encontraram ambiente

profícuo, porque a dança romana só fazia parte de rituais religiosos.

Com o interesse pelas danças gregas e etruscas, por volta de 200 a.C., a

dança assume importância na vida privada. Cada família de patriarcas mantinha

um professor grego para que as coreografias fossem ensinadas aos filhos

restringindo-se, entretanto, às representações de movimentos. A dança romana

espetáculo é marcada pelas pantominas e danças imitativas do Oriente. Só não

tomava parte na vida espiritual de Roma como para dos gregos.

Percebendo o seu desnível em relação aos gregos,os romanos contrataram

professores para reproduzir a dança de outros povos. Com isso, o ensino da

Dança passa a ser institucionalizado pela primeira vez na história da dança, para

atender a uma determinada classe social – a dos patrícios.

A similaridade de Roma, na Idade Média, com a estratificação de classes

sociais, os senhores feudais colocavam a seus serviços professores de dança.

O ensino da dança se estabelece com duas tendências: de um lado o poder

dos aristocratas pela solicitação da vida palaciana com seus gestos e movimentos

refinados executam danças características e peculiares à sua classe social;

enquanto do outro lado, os anseios das comunidades campesinas reunidas em

sociedades e cultos secretos preservam as formas tradicionais das manifestações

populares.

A Idade Média, período longo que se estende de 476 a. C. até 1453, com a

tomada de Constantinopla pelos árabes, pouco espaço cedeu à Dança. Esse

período chamado pelos renascentitas de “Idade das Trevas” manteve um clima de

instabilidade e proibição para as danças, dada a substituição da autoridade civil

pela autoridade eclesiástica graças à forte interferência do cristianismo triunfante.

Algumas vezes era dúbia a atitude da Igreja e a dança era condenada por

um lado e tolerada por outro. Nas pregações meio intervencionistas da Igreja na

forma de educar os cristãos, a dança era destronada graças a certos episódios

bíblicos como o martírio de São João Batista, decorrente da sedutora dança de

Salomé.

Entretanto, o uso de danças de caráter místico foi comum dentro das

Igrejas, como forma da mesma canalizar para o culto os fiéis necessitados de se

educar na palavra de Jesus: se dançava as carolas, espécies de roda em torno do

altar.

A dança, de uma forma geral, hibernou por vários séculos até que no

Renascimento surge através da dança macabra – uma espécie de histeria coletiva

– o teatro religioso com cunho educativo, ou seja, o de submeter o homem em

cenas de submissão aos desígnios divinos, forma de intervenção ou educação.

Educar os neófitos, na nova fé, a dança com narrativas fantasiosas era um

apelo para a dança teatral com elementos e enredos de apelo popular que durou

até o século XVIII nos países na Península Ibérica e na Itália.

A intervenção de cunho educacional era tão forte, fracas à força do enredo

que misturava passado e presente:

• Danças de interlúdio executadas na “boca do inferno” (representações);

• Atores com máscaras de caveiras dançavam de foice em punho.

Após a austera doutrina de Lutero com repressão às danças pois as

mesmas impediam a representação das passagens bíblicas, a dança na Idade

Média hibernou fortemente. Mais uma vez a Igreja a reprimira.

A Dança na Renascença também sofre influência das idéias humanistas:

expressar um conceito de beleza em que corpo e espírito deveriam formar um

todo harmonioso.

Desde meados do século XIV o reflorescimento é influenciado pelo início de

uma nova era.

A consciência do homem como senhor de si mesmo e do mundo, sepultou

os padrões medievais e revolucionou o pensamento e a estética.

Em Florença, Lourenço de Médicis lança a moda dos “trionfis” que duravam

vários dias.

A coreografia dos triunfos eram majestosas e os próprios nobres serviam de

intérpretes. Imitando a antiga Grécia, a dança passa a fazer parte da educação

nos nobres. Tornava-se necessária a figura do mestre de dança que ensinasse os

passos e fizesse a remarcação da coreografia em torno do tema escolhido pelo

nobre que o empregava; geralmente eram judeus convertidos.

Batalha analisa que por volta do século XIII, iniciou-se a distinção entre as

danças de camponeses e a dança dos nobres. Basicamente, consistiam nas

mesmas danças; contudo, os cavaleiros cultivavam a galanteria e com roupas

mais refinadas modificaram os movimentos para adaptá-los à limitação de

movimentos no tronco e coluna e eliminação das danças altas (executadas com

saltos). Este é um ponto de partida para a separação entre as danças populares

dos camponeses e as danças eruditas praticadas pelos nobres. As classes

camponesas continuavam a ser ensinadas pelas famílias e comunidades e os da

corte iniciam um processo de ensino específico de aperfeiçoamento de

movimentos, tornando-se cada vez mais complexo seu aprendizado (Batalha,

1988).

A distinção de danças para indivíduos de diferentes classes sociais

proporcionou um acréscimo de contribuições e conhecimentos para os da classe

aristocrática que causaram ao ensino um afastamento cada vez maior dos

objetivos renascentistas de integrar globalmente o ser humano.

Com o virtuosismo italiano e a finesse francesa, a dança que já se

academizara, transforma-se em dança teatral, para espetáculos. Estabelece,

assim um hiato entre a Dança/Educação e a Dança/Arte.

A partir do século XIX começa um movimento contra a formalização do

aprendizado da dança. As duas correntes, a moderna, que surgia, e a acadêmica

tradicional, passam a possuir divergências estruturais em suas teorias

fundamentais filosóficas onde são exigidos aos professores competências

diferenciadas de ensino. É que o Impressionismo, que influenciava outras

manifestações artísticas, também se estabelece entre a arte de dançar. Com

características bem diversas, a nova tendência da Dança se originou de princípios

filosóficos a partir de teorias de Rousseau, Marx, Darwin e convergem para o

movimento expressivo do homem, introduzindo ao ensino da dança outros valores

e atitudes e, conseqüentemente, habilidades e conhecimentos mais abrangentes

das possibilidades do movimento.

Nesse panorama do século XIX, surgem vários inovadores, dentre os quais

se destacam três principais precursores deste movimento de dança.

Jacques Dalcrose, que criou o método denominado “Eurritmia”, descoberta

da reprodução dos sons e ritmos reproduzindo-os no corpo que dava liberdade de

criação aos alunos. A surritmia influencia a dança fortemente devido ao preparar,

com esta influência, certas correntes do nosso século.

Isadora Duncan (americana), de inspiração filosófica em Platão, cujo ideal

era o bem-estar comum através da arte e em Witman cuja ideologia nacionalista

previa para o americano ser a civilização do futuro. Com bases no naturalismo de

Rousseau, Isadora assim antevia a dança com os movimentos partindo do interior

de cada ser de forma impressionista. Rudolf Laban, que integrando a dança a

outras artes, estudou o domínio dos movimentos, criou um sistema de anotações

e incluiu elementos interpretativos ao processo do ensino da Dança.

Assim, o ensino da Dança Moderna, segundo as diretrizes de seus

precursores, deve ter como base as leis que regem a mecânica corporal; deve ser

uma expressão global do corpo, onde a emoção, sensibilidade e criatividade se

tornam o foco central, ou seja, se convertem em uma expressão máxima

ensejando ao homem a possibilidade de se auto-realizar e de se auto-conhecer

exercida de forma contextual pelos que a exprimem.

Dessa forma, a Dança, não mais privilégio de uma classe, se torna uma

forma de desenvolvimento e aprimoramento do homem, possibilitando enveredar

para os caminhos de sua auto-realização. Assim, o Ensino da Dança torna-se

também um meio de inclusão, a partir do momento que integra o indivíduo em sua

sociedade, em sua cultura, possibilitando o encontro com o outro em harmonia,

com prazer, aumentando a auto-estima de pessoas que não são vistas como

capazes, mas o são!

No próximo capítulo será relatado a história de uma pessoa com paralisia

cerebral que, através da dança de salão, superou barreiras.

III – SUPERANDO BARREIRAS

Como professora de dança de salão, Elaine Lima de Mello passou alguns

dias na APAE, onde conheceu dois jovens com paralisia cerebral: Carlos

Leonardo Cezário Alves e Márcio Takahashi, e ensinou a eles a arte da dança.

Cada aluno participou de seis aulas de dança de salão, onde

desenvolveram a postura, ritmo, coordenação e orientação espacial; respeitando

suas limitações.

Para surpresa de todos, as aulas se transformaram em estímulo para que

Márcio e Carlos Leonardo tivessem menos falta na instituição, mais alegria

durante o dia; desenvolveram também a sua auto-estima e o sentimento de

confiança e ao mesmo tempo de realização.

Para que cada aula pudesse se realizar, a professora antes de tudo, teve

que ter muita paciência e amor, dons necessários a qualquer profissional que

deseja fazer diferença na vida de crianças e jovens com necessidades especiais.

Tanto Márcio quanto Carlos Leonardo se apaixonaram pela dança e

conseguiram “crescer” enquanto seres humanos, não porque conseguiram dançar,

mas porque descobriram que são capazes de superar obstáculos.

Márcio Takahashi

Data de nascimento: 21/01/1985.

Ingressou na APAE: 15/09/1986.

Márcio nasceu no Paraná e não consta na ficha da instituição dados sobre

o pré-natal e o parto. Somente a informação de retardo no desenvolvimento

psicomotor.

Cadeirante, usa calha na perna esquerda e consegue andar com apoio de

outra pessoa. Braço e mão direita bastante atrofiados. Controla a baba com

dificuldade. Não fala.

05/01/2004

Primeiro dia de aula: Márcio chegou com um lindo sorriso e de cadeira de

rodas (fisicamente é muito comprometido, não fica em pé sem apoio). A aula foi

impolgante, não reclamou e se esforçou bastante.

12/11/2004

Segunda aula: Márcio chegou novamente de cadeira de rodas, não estava

disposto e a aula não rendeu. Talvez por sentir muita dificuldade em locomover-

se.

19/11/2004

Terceira aula: novamente na cadeira, porém muito sorridente, Márcio

revelou gostar de música animada. Ele se esforça porém cansa. Seu

comprometimento é muito grande e ele as vezes é vencido pelo cansaço.

26/11/2004

Márcio não está bem de saúde, não compareceu a APAE, por tanto não

teve aula.

03/12/2004

A aula foi ótima, apesar de suas dificuldades, Márcio de esforça e

emociona. Hoje teve uma sessão de fotos, ele curtiu mas ficou tímido.

No início das aulas de dança de salão, não foi cogitada a idéia de

progressos físicos, mas mesmo assim ele pediu para fazer a aula emocionou a

todos quando souberam que ele já andava com dificuldades, porém sozinho, pois

a um ano, desde que sua mãe faleceu não queria mais andar.

A professora tomou a liberdade de brincar com ele, dizendo: “você precisa

voltar a andar para que possamos dançar juntos”. Naquele momento ele se

levantou e disse: “Eu ando”.

A professora teve que se segurar para não chorar de emoção e agradece a

Deus por poder ser um instrumento de alegria na vida de Márcio.

10/12/2004

Última aula: a professora não teve coragem de revelar que seria o último

dia de aula, disse apenas que sairia de férias, deu a Márcio uma foto dos dois

dançando juntos, ele guardou e não quis mostrar a ninguém.

Carlos Leonardo Cezário Alves

Data de nascimento: 21/08/1983.

Ingressou na APAE: 04/11/1986.

Gestação normal, com acompanhamento médico. Parto cesariana,

realizado com dificuldades devido hipófise fetal severa, provocando paralisia

cerebral e tetraplegia.

Atualmente sua comunicação verbal é mínima, fala com dificuldade.

Fisicamente comprometido, perna esquerda com mais dificuldade os braços e as

mãos bem atrofiadas. Anda sozinho, mas não consegue se alimentar sozinho. Usa

lápis de carpinteiro para escrever e lápis de cera para pintar, pois tem dificuldade

de segurar objetos pequenos. Está sempre bem humorado, possui um sorriso

muito expressivo e um olhar capaz de emocionar a todos, sem dúvida uma

criatura apaixonante.

05/11/2004

Primeiro dia de aula: um auxiliar foi buscá-lo, a professora ansiosa,

preparava a música quando Carlos Leonardo chegou com um lindo sorriso e os

olhos úmidos de emoção.

Passou todo o tempo de aula se esforçando para o melhor desenvolvimento

possível, trabalharam somente com boleros.

12/11/2004

Segunda aula: novamente o mesmo sorriso e os mesmos olhos

emocionados. Ele gravou todos os exercícios anteriores. Dançaram bolero,

samba, soltinho e forró. Ele disse que de todos os ritmos o que mais gostava era o

forró.

De uma semana para a outra é nítida a alegria que vem transparecendo e

desenvolvendo sua afetividade e auto-estima.

19/11/2004

Terceira aula: Carlos Leonardo gosta de música animada por que é “alto

astral”. Hoje surpreendentemente gravou os exercícios anteriores e vem se

esforçando para dançar cada vez melhor.

Durante a música concentra-se em dançar sem babar, não tem espasmos e

as vezes segura forte no braço da parceira, porém consegue manter-se ereto e

manter a cabeça em pé olhando para a professora.

26/11/2004

É cada dia mais apaixonante a alegria com que Carlos Leonardo chega na

sala de aula e o seu esforço, sua busca por um melhor movimento, porém os

progressos são lentos.

03/12/2004

É impressionante! A professora não precisa das comandos e Carlos

Leonardo já se movimenta sozinho tentando obedecer o espaço disponível,

repetindo os movimentos ensinados anteriormente. Quando é feito algum

comentário seus olhos ficam cheios de lágrimas, emociona-se e solta aquele

sorriso que renova qualquer ser humano.

Hoje foi o dia da sessão de fotos, ele gostou da idéia e curtiu dançar sendo

fotografado.

No início deste trabalho, a intenção era melhorar a parte motora do aluno,

porém cada movimento flui naturalmente, onde a parte física é trabalhada, mas o

emocional tem sido fundamental: pelo sorriso na chegada, pelo esforço durante a

aula e até mesmo, pela tristeza quando chega a última música (e ele sempre

acaba dançando mais uma música).

A professora e o aluno têm uma relação de afetividade possibilitando

ambos a ver o mundo de maneira mais bela. Carlos Leonardo faz com que a

professora perceba na dança, cada sentido e a sua função. Por vezes dançar para

ele é uma maneira de se aproximar de prazeres tão simples. Sentir, sonhar e

almejar movimento e alegria ao mesmo tempo...

10/12/2004

Hoje foi o último dia de aula, a professora entrou chorando na instituição e

teve que se controlar bastante para não chorar na frente de Carlos Leonardo, que

ao chegar trazia o maior sorriso e ganhou da professora um presente: uma foto

das aulas de dança.

Antes de começar a aula a professora comentou que entrariam de férias,

pois não teve coragem de dizer que não voltaria mais.

A aula foi excelente, ele desenvolveu habilidades no movimento e curte a

música! É impressionante como Carlos Leonardo desenvolveu a auto confiança

em tão pouco tempo.

A Dança uma paixão que envolve vários sentidos. O ato de dançar pode ser

emocional, pode ser por instinto, por fuga, por alegria, por êxtase. Quando se

dança envolve a parte física trabalha-se músculos, sentidos, parte motora,

lateralidade, alongamento, coordenação.

Dançar envolve sentimentos nobres como estar amando ou sentido

saudades... Ou extravasando orgulho, vaidade, ausência, dor... Acima de tudo

dançar é inclusão, tentativa de um melhor movimento, uma busca por uma

expressão usando métodos...

Para um PNES uma maneira de mostrar para o mundo o que sente, o que

pensa. Trabalha o ego, a superação, a emoção, a expressão. Além de toda parte

física já citada. O trabalho com dança deve ser consciente das limitações

individuais. E acima de tudo uma comunicação com o mundo!

CONCLUSÃO

A arte da dança faz parte das culturas humanas e sempre integrou o

trabalho, as religiões e as atividades de lazer. Os povos sempre privilegiaram a

dança, sendo esta um bem cultural e uma atividade inerente à natureza do

homem.

Toda ação humana envolve a atividade corporal. A criança é um ser em

constante mobilidade e utiliza-se dela para buscar, o conhecimento de si mesma e

daquilo que a rodeia, relacionando-se com objetos e pessoas.

Ela se movimenta não só em função de respostas funcionais (como ocorre

com a maioria dos adultos), mas pelo prazer do exercício, para explorar o meio

ambiente, adquirir melhor mobilidade e se expressar com liberdade.

A atividade da dança na escola e fora da mesma pode desenvolver a

criança, o adolescente, o adulto ou o idoso. A compreensão de sua capacidade de

movimentos, mediante um maior entendimento de como seu corpo funciona.

Assim poderá usá-lo expressivamente com maior inteligência autonomia,

responsabilidade e sensibilidade.

Um dos objetivos educacionais da dança é a compreensão da estatura e do

funcionamento corporal e a investigação do movimento humano.

A dança é uma forma de integração e expressão tanto individual quanto

coletiva em que se exercita a atenção, a percepção, a colaboração e a

solidariedade.

A dança é também uma fonte de comunicação, inclusão e de criação no

exercício da espontaneidade. Contribui para o desenvolvimento da criança no que

se refere a consciência e a construção de sua imagem corporal.

Nessa interação poderá reconhecer semelhanças e contrastes buscando

compreender e coordenar as diversas expressões e habilidades. Com respeito e

cooperação.

Ao planejar as aulas o professor considera o desenvolvimento motor. Por

isso é importante que a dança seja desenvolvida na escola com espírito de

investigação e liberdade para que a criança tome consciência da função dinâmica

do corpo, do gesto e do movimento, como uma manifestação pessoal e cultural.

Para o professor na aula de dança é importante criar clima de atenção, sem

que se perca a alegria.

Nem sempre a originalidade é necessária em cada aula. Pois os alunos

gostam e necessitam da repetição de atividades.

Essa experimentação possibilita que descubram suas capacidades e

adquiram segurança ao se movimentar e possam atuar e recriar a partir de suas

descobertas.

Pessoas portadoras de deficiência, podem e devem fazer aulas de dança,

pois mais que um exercício motor, a dança é a expressão da alma humana.

ANEXOS

BIBLIOGRAFIA

ABPC, (Associação Brasileira de Paralisia Cerebral), “Paralisia Cerebral-aspectos

práticos”, editora Memnon, S. Paulo, 2001.

ALVES, Rubens. A alegria de ensinar. São Paulo, Ars Poética, 1994.

BABIN, P. e KOULOUMDJIIAN, M. F. Os novos modos de compreender. São

Paulo, Ed. Paulinas, 1989.

BARBOSA, A. M. Arte e Educação no Brasil: das origens ao modernismo. São

Paulo, Perspectiva, 1978.

BOBATH, K, “A deficiência motora em pacientes com Paralisia Cerebral”. Editora

Manole, S. Paulo, 1989.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental – Parâmetros Curriculares

Nacionais. Brasília, MEC/SEF, 1997/1998.

CAMARGO, M. L. M. de Música/movimento: um universo em duas dimensões.

Ed. Vila Rica, BH, MG, 1994.

FREIRE, Paulo – Educação e mudança. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.

FUZARI, M. F & FERRAZ, M. H. A arte na educação escolar.São Paulo, Cortez,

1993.

GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980.

HASELBACH, Bárbara. Dança, Improvisação e Movimento. Rio de Janeiro, Ao

Livro Técnico, 1989.

LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. São Paulo, Summers Editorial, 1978.

MARQUES, Isabel A. Ensino de dança hoje: Textos e Contextos. São Paulo,

Cortez, 1999.

________, Dançando na escola, São Paulo, Cortez, 2003.

OSSONA, Paulina – Educação pela dança. São Paulo, Summus Editorial, 1988.

PAVAN, Lianza S, “Diagnóstico e Tratamento da Espasticidade”, S. Paulo, 2001.

UNPRED, Darcy Ann, “Fisioterapia Neurológica”, 1ª Edição, S. Paulo, Ed. Manole,

1994.

ATIVIDADES CULTURAIS

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO......................................................................................................01 DEDICATÓRIA..............................................................................................................02 AGRADECIMENTO.......................................................................................................03 EPÍGRAFE....................................................................................................................04 RESUMO...................................................................................................................... 05 METODOLOGIA............................................................................................................07 INTRODUÇÃO..............................................................................................................08

I- O QUE É PARALISIA CEREBRAL ?........................................................................ 10

II- A DANÇA COMO INCLUSÃO..................................................................................25 III- SUPERANDO BARREIRAS.................................................................. .................38

CONCLUSÃO................................................................................................................45 ANEXO...........................................................................................................................47 BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................52 ATIVIDADES CULTURAIS.............................................................................................54 FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................................................57

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

PROJETO A VEZ DO MESTRE

CURSO: Pós-Graduação em Educação Inclusiva ORIENTADORA: Mary Sue Pereira

CURSISTA: Elaine Lima de Mello

AVALIADA POR: .........................................................................GRAU:.............

Apreciação crítica do relatório final, recomendações, sugestões:

........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

.......................................................................................... .......................................................................................................... ..........................................................................................................

Rio, ............de.............................................de 2005.

..........................................................................................................

Assinatura do Supervisor