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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADES E GARANTIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL GUILHERME QUEIROZ DE MELLO DECLARAÇÃO “DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”. ITAJAÍ (sc), 23 de Novembro de 2010. ___________________________________________ Professor Orientador: Msc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADES E GARANTIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

GUILHERME QUEIROZ DE MELLO

DECLARAÇÃO

“DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”.

ITAJAÍ (sc), 23 de Novembro de 2010.

___________________________________________ Professor Orientador: Msc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes

UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADES E GARANTIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

GUILHERME QUEIROZ DE MELLO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof. Msc. Fernanda Sell de Souto Gou lart Fernandes

ITAJAÍ, 23 de Novembro de 2010

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILID ADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

ITAJAÍ, 23 de Novembro de 2010

GUILHERME QUEIROZ DE MELLO

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Guilherme Queiroz de Mello, sob o

título RESPONSABILIDADES E GARANTIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL, foi

submetida em 23 de Novembro de 2010 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Prof. Msc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes

(Orientadora) e Prof. Msc. Emanuela Cristina Andrade Lacerda (Examinadora) e

aprovado com a nota [Nota] ([nota Extenso]).

ITAJAÍ, 23 de Novembro de 2010

Prof. Ms c. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes Orientador e Presidente da Banca

Prof. Ms c. Emanuela Cristina Andrade Lacerda Coordenação da Monografia

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SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................... VI

INTRODUÇÃO ................................................................................... 8

CAPÍTULO 1 ........................................ ............................................ 10

PREVISÃO VÍCIOS E DEFEITOS NO CÓDIGO CIVIL E NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ..................................................... 10

1.1 CONCEITOS E TIPOS DE VÍCIOS PREVISTOS NO CÓDIGO CIVIL ........... 10

1.2 TIPOS DE VÍCIOS NO CÓDIGO CIVIL: .............. ........................................... 15

1.3 CONCEITO DE DEFEITO ............................................................................... 16

1.4 DISTINÇÃO ENTRE VÍCIO E DEFEITO NO CÓDIGO CIVIL ......................... 18

1.5 DIFERENÇA ENTRE VÍCIO E DEFEITO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ..................................................................................................... 19

1.6 CONCEITOS E TIPOS DE VÍCIOS PREVISTOS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ............................................................................................... 21

1.7 OS TIPOS DE RESPONSABILIDADE .................. ......................................... 24 1.7.1 Responsabilidade civil e responsabilidade pen al ................................... 24 1.7.2 Responsabilidade subjetiva e objetiva........ ............................................. 26 1.7.3 Responsabilidade solidária e subsidiária .... ............................................ 27 1.7.3.1 Responsabilidade solidária ................ .............................................................. 27 1.7.3.2 Responsabilidade subsidiária .............. ............................................................ 30

CAPÍTULO 2 ........................................ ............................................ 31

GARANTIA .......................................... ............................................. 31

2.1 A GARANTIA E SEUS FUNDAMENTOS JURÍDICOS ....... ........................... 31

2.2 GARANTIA LEGAL ................................ ........................................................ 35 2.2.1 Garantia legal no Código Civil ............. .................................................... 35 2.2.2 Garantia no Código de defesa do consumidor .. ...................................... 38

2.3 GARANTIA CONTRATUAL ........................... ................................................ 40

2.4 CONTINUIDADE DA GARANTIA NA REVENDA DO IMÓVEL . .................... 41

2.5 TERMO INICIAL PARA PROPOSITURA DA AÇÃO ........ ............................. 41

CAPÍTULO 3 ........................................ ............................................ 44

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RESPONSABILIDADES NA CONSTRUÇÃO CIVIL ............. ........... 44

3.1 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ OBJETIVA E D A FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS À RESPONSABILIDAE DO CONSTRUTO R ......... 44

3.2 QUADRO GERAL DE RESPONSABILIDADES DO CONSTRUTOR ............ 45

3.3 RESPONSABILIDAE PELA PERFEIÇÃO DA OBRA ........ ............................ 50

3.4 RESPONSABILIDADE PELA SOLIDEZ E SEGURANÇA DA O BRA .......... 51

3.5 RESPONSABILIDADE DOS ENGENHEIROS E ARQUITETOS .................. 52 ANEXO................................................................................................56

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ................................ 65

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..................... ..................... 67

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RESUMO

Atualmente, o país e o setor de construção civil têm passado

por transformações aceleradas em seu cenário produtivo e econômico. Em 2008,

segundo o IBGE, a expansão do setor da construção acompanhou o crescimento

de 5,1% do Produto Interno Bruto - PIB, com a atividade de construção crescendo

8,9%, e a elevação real da formação bruta de capital fixo, que avançou 13,8%,

maior acréscimo desde o início da série histórica em 1996. Evidenciando que o

setor da construção é um dos mais importantes alicerces econômicos e também

social, pelo elevado numero de empregos gerados.

Percebe-se assim, uma nova realidade que coloca desafios

importantes para as empresas de construção civil, entre eles o da sua

sobrevivência em um mercado cada vez mais exigente e competitivo. Visto que os

clientes privados aumentam as exigências em relação à qualidade das obras.

Além da crescente transformação na indústria econômica

deste setor, existem outros fatores indutores da competitividade atuando no

ambiente nacional.

No aspecto legal, entra em vigência o Código de Defesa do

Consumidor que estabelece uma série de regras para as relações entre

produtores e consumidores. O Código impõe sanções pesadas aos responsáveis

técnicos, no caso de o produto apresentar falhas em uso ou vícios de construção

e veda a colocação no mercado de produtos e serviços em desacordo com as

normas técnicas brasileiras elaboradas pela ABNT.

Ainda nesta questão, são utilizados diversos códigos e leis

que muitas vezes entram em contradição, pelo setor não possuir um modelo legal

adequado e eficaz. É importante tanto para o consumidor como para o

empresário estabelecer normas, responsabilidades e garantias através de um

instrumento, ou sistema seguro a fim de minimizar futuros problemas entre

consumidor e produtor.

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Destacam-se também, as ações das entidades de classe do

setor da construção civil, que tem buscado atuar com programas setoriais de

melhoria da qualidade, tanto nos segmentos produtores de materiais, quanto nos

segmentos de empresas construtoras, com forte ênfase na conscientização

setorial para a qualidade e produtividade.

Apesar de todo esse processo crescente voltado a melhoria

da qualidade no setor, ainda encontra-se problemas entre consumidor e produtor.

Quando se compra uma habitação, não se espera que pelo menos num futuro

próximo, esta venha a causar problemas, mas nos casos em que tal acontece,

pretende-se uma reparação rápida e sem incômodos adicionais.

A realidade, porém, mostra que numerosas construções,

recentemente construídas, apresentam patologias. Além disso, na maioria das

situações, os problemas inerentes á reparação dos danos por parte dos

responsáveis apenas são solucionados nos tribunais.

Por isso, seria necessário a criação de um sistema eficaz de

garantias e responsabilidade na construção civil, com a finalidade de assegurar

um suporte na responsabilidade dos diversos intervenientes de uma obra.

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INTRODUÇÃO

O objetivo geral do presente trabalho é identificar as

responsabilidades e garantias na construção civil, analisando-se para tal a

realidade nacional.

Como objetivos específicos, tem-se:

1) Verificar o prazo legal que o construtor deverá prestar

garantias por danos ocorridos no imóvel.

2) Determinar as circunstâncias que o adquirente do

imóvel pode perder a garantia do bem.

3) Delinear as responsabilidades e garantias (direito) do

consumidor e do responsável pelo imóvel (construtora).

Levantou-se para o presente trabalho as seguintes Hipóteses:

1) O Código Civil é a melhor ferramenta para estabelecer

os vícios, defeitos, garantias e responsabilidade na construção civil.

2) O Código de Defesa do Consumidor é a melhor

ferramenta para estabelecer os vícios, defeitos, garantias e responsabilidades na

construção civil.

3) Os vícios, defeitos, garantias e responsabilidades são

defendidos de modo mais abrangente tanto no Código Civil quanto no Código de

Defesa do Consumidor.

Para tanto, principia–se:

No Capítulo 1, trata de esclarecer os vícios e defeitos no

Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor.

No Capítulo 2, apresenta as garantias e seus fundamentos

nos aspectos jurídicos.

No Capítulo 3, são discorridas as responsabilidades na

Construção Civil.

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Quanto à Metodologia empregada, o presente trabalho

apresenta uma revisão bibliográfica sobre o tema proposto. A pesquisa buscou

publicações nacionais e internacionais que abordam esta temática. A pesquisa

bibliográfica foi a principal estratégia metodológica adotada por atingir os

propósitos deste estudo.

Por fim, como técnica, a pesquisa bibliográfica compreende

a leitura, seleção, fichamento e arquivo dos tópicos de interesse para a pesquisa

em pauta, com vistas a conhecer as contribuições cientificas que se efetuaram

sobre determinado assunto.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre as responsabilidades e garantias na construção civil.

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Capítulo 1

PREVISÃO DE VÍCIOS E DEFEITOS NO CÓDIGO CIVIL E NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

1.1 CONCEITOS E TIPOS DE VÍCIOS PREVISTOS NO CÓDIGO CIVIL

Vício (do latim vitium) é um defeito grave que torna uma

pessoa ou coisa inadequada para certos fins ou funções; é qualquer deformação

física ou funcional1. Defeito (do latim defectum) é imperfeição, deficiência,

deformidade, vício, enguiço2. As palavras tem o mesmo significado no dicionário,

observando-se que o defeito é um vício, enquanto o vício não é definido como um

defeito3.

Nos dicionários jurídicos, as palavras vícios e defeito são

utilizadas em sentido equivalente, vício representando defeito e defeito

representando vício4.

O art. 784, parágrafo único, do Código Civil, conceitua o

vício intrínseco como sendo o defeito próprio da coisa, que se não encontra

normalmente em outras da mesma espécie5. Ou seja, vício intrínseco e defeito

próprio se equivalem, pois ambos representam a mesma situação. O texto que

remanesce desse dispositivo legal não diferencia vício de defeito. Em verdade,

1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo dicionário da Língua Portuguesa . 2 ed. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p.1774. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo dicionário da Língua Portuguesa . p 577 3 CALDAS AULETE. Dicionário Contemporâneo da Lingua Portuguesa . 3 ed., Rio de Janeiro:

Ed. Delta, v. 2, p 955. 4 DINIZ, Maria Helena, Dicionário Jurídico .São Paulo: Saraiva, 1998, v.74, p.729. 5 CC: “Art. 784. Não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa

segurada, não declarado pelo segurado. Parágrafo único. Entende-se por vício intriseco o defeito préprio da coisa que se não encontra normalmente em outras da mesma espécie”.

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somente a partir do CDC é que se estabeleceu claramente a distinção entre vício

e defeito, que não foi feita nem pelo CC de 1916 nem pelo CC de 2002.

Os vícios aparentes não estão previstos de forma expressa

no Código Civil. Os vícios aparentes são aqueles visivelmente constatáveis por

qualquer pessoa, não necessariamente um técnico ou alguém dotado de

diligência ou percepção extraordinárias6.

O código Civil prevê os vício redibitórios como ocultos e dá

ao contratante o direito de enjeitar a coisa ou reclamar o abatimento do preço.

Vício Ocultos são aqueles não constatáveis de imediato, porque não aparentes,

ou porque foram dissimulados, ou ainda porque somente são verificáveis por

pessoa com aptidão técnica ou com preparação fora do comum7.

Os vícios ocultos podem ser classificados em simples e

redibitórios.

Vícios ocultos simples são aqueles que apresentam apenas

essa característica ( de serem ocultos), sem , contudo, terem gravidade tal que

tornem a coisa imprópria ao uso a que é destinada ou lhe diminuem o valor. São

deficiências reparáveis, sem comprometimento posterior ao uso ou ao valor do

imóvel8.

Vícios ocultos redibitórios são aqueles previstos no art. 441

do Código Civil, que tornam a coisa imprópria ao uso a que é destinada ou lhe

diminuem o valor9.

6 NASCIMENTO, Tupinambá M. C. do. Responsabilidade Civil no Código do consumidor .

Rio de Janeiro: Aide, 1991, p 113. 7 NASCIMENTO, Tupinambá M. C. do. Responsabilidade Civil no Código do consumidor p.

113. 8 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil . São

Paulo: Pini, 2008, p. 52. 9 CC. “Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios

ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”.

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Para Maria Helena Diniz, vícios redibitórios são defeitos

ocultos existentes na coisa alienada, objeto de contrato comutativo, não comuns

às coisas congêneres, que a tornam imprópria ao uso a que se destina ou lhe

diminuem sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria

se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente ação para redibir o

contrato ou para obter abatimento do preço10.

Na doutrina de Orlando Gomes:

“Para haver vício redibitório é preciso, em primeiro lugar, que o defeito da coisa seja oculto. Se está à vista, presume-se que o adquirente quis recebê-la assim mesmo. Necessário, em segundo lugar, que o vício exista no momento da conclusão do contrato. Se aparecer posteriormente, quando já se encontra no domínio do adquirente, a garantia, obviamente, não pode invocada. Entendem alguns que, se o defeito se manifestar depois da perfeição do contrato, mas antes da tradição da coisa, haverá vício redibitório. O momento da existência seria, então, o da execução do contrato pelo alienante. Por fim, é indispensável que o vício oculto torne a coisa imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminua o valor. Se insignificante, não atingida sua utilidade ou o seu valor, vício redibitório não é11”.

Assim para que o vício seja redibitório, é necessário que

atenda cumulativamente ao seguinte:

a) Que surja em uma coisa adquirida por contrato

comutativo (oneroso)12;

b) Que o vício exista no ato da contratação;

c) Que seja oculto;

10 DINIZ, Maria Helena, Tratado Teórico e Prático dos Contratos . São Paulo: Saraiva, 1993,v. I,

p.115. 11 GOMES, Orlando. Contratos . Rio de Janeiro: Forense, 1997,p.94. 12 Os contratos onerosos podem ser aleatórios ou comutativos. Contratos comutativo é aquele

(bilateral e oneroso) no qual a estimativa da prestação a ser, recebida por qualquer das partes pode ser efetuada no mesmo ato em que o contrato se aperfeiçoa; é o contrato com equivalência das prestações pactuadas pelas partes; aquele em que cada contratante, além de receber do outro a prestação equivalente à sua, pode verificar, de imediato, essa equivalência. A compra e venda é um exemplo de contrato comutativo, como, de resto, a maior parte dos contratos onerosos é constituída por contratos comutativos.

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d) Que seja desconhecido do adquirente;

e) Que seja grave;

f) Que prejudique a utilização da coisa ou lhe diminua o

valor, e

g) Que seja insanável.

Nos termos do artigo 44313 do Código Civil, o alienante

responderá por vício redibitório, conhecendo ou não o vício da coisa. A diferença

entre as duas situações está em que, se o alienante tinha conhecimento do vício

oculto, deverá restituir o que recebeu, acrescido de perdas e danos, ao passo

que, se desconhecia o vício, deverá apenas restituir o valor recebido, acrescido

apenas de despesas do contrato.

Um vício oculto não é necessariamente redibitório, mas o

vício redibitório, este sim, deve ser oculto. Um encanamento que venha se revelar

parcialmente obstruído com o uso, por exemplo, é um vício para que recebeu as

chaves daquele imóvel e não o utilizou, mas não é vício redibitório por que o

problema não é de natureza grave, (em geral pode ser desobstruído sem maiores

problemas). Para ser considerado redibitório o vício deve, além de oculto, ser de

natureza grave, que torne o imóvel impróprio para o fim que se destina ou lhe

diminua o valor, o que não acontece no caso de uma corriqueira obstrução de

encanamento.

Já os vícios redibitórios, além de graves, devem ser ocultos

por conceito legal. Exemplo clássico de vício redibitório é o em caso de enchente

por chuvas normais, fato de que o adquirente só tomará ciência por ocasião da

primeira ocorrência. Trata-se de algo oculto, existente á época da celebração do

negócio e de natureza grave, pois sem dúvida compromete o uso e deprecia o

imóvel em relação a outros que não tenham esse tipo de problema. Portanto, nem

13 CC. “Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com

perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato”.

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todo vício oculto ( encanamento entupido) é redibitório, e todo vício redibitório

(imóvel em local sujeito a enchente) é oculto, porque assim deve ser pelo conceito

legal.

A diferenciação é importante porque os vícios redibitórios

têm tratamento jurídico diferenciado em relação aos vício ocultos simples. No

caso de vício redibitório, a coisa pode ser enjeitada quando o vício torná-la

imprópria ao uso a que é destinada ou lhe diminua o valor, o que não ocorre em

qualquer situação de vícios ocultos simples14.

Os vícios referentes à solidez e segurança das obras estão

previstos no artigo 618 do Código Civil15. Pela sua própria natureza, os vícios

referentes à solidez e segurança são, em regra, defeitos (afetam a segurança).

Segundo ensinamento de Pontes de Miranda:

“O conceito de solidez não apresenta dificuldade para a

apreciação das espécies. Quanto à segurança, não se pode

entender que só se reflita à ausência de possíveis danos

provindos de desabamentos ou rompimentos de escadas.

Há os perigos de incêndio, de umidade grave, de anti-

higiene e de gases16”.

Vejamos com esse entendimento doutrinário e

Jurisprudencial tratam a questão de solidez e segurança:

14 Do latim (redhibere – restituir, devolver), redibir, é fazer com que o vendedor tenha novamente o

que tinha. 15 CC:”Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o

empreiteiro de matérias e execução responderá, durante o prazo irredutível de 5 (cinco) ano, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo. Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos 180 (cento e oitenta) dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito”.

16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil , 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 414.

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“Não ocorrência, prescrição, ação de indenização, defeito,construção, prédio urbano, hipótese, condomínio, ajuizamento, ação judicial, posterioridade, cinco anos, entrega, imóvel, decorrência, stj, entendimento, prescrição vintenária, observância, código civil,previsão, prescrição qüinqüenal, exclusividade, prazo, garantia,segurança, construção. Possibilidade, exclusão, condomínio, pólo ativo, ação de indenização, hipótese, declaração expressa, desistência da ação, ocorrência, extinção do processo sem julgamento do mérito, ressalva, possibilidade, condômino, ajuizamento, diversidade, ação judicial,objetivo, condenação, construtora, reparação de danos, defeito,imóvel”17.

Gonçalves observa que isso se justifica perfeitamente pelo

progresso e desenvolvimento da indústria da construção civil e pela necessidade

de se preservar a incolumidade física e patrimonial das pessoas que possam ser

afetadas pelos mencionados vícios e defeitos18

1.2 TIPOS DE VÍCIOS DO CÓDIGO CIVIL19:

Vícios Aparentes , são aqueles visivelmente constatáveis

por qualquer pessoa, sem necessidade de que sejam um técnico ou dotado de

diligência ou percepção extraordinárias.

Vícios Ocultos , são os vícios não constatáveis de imediato,

porque não são aparentes, ou foram dissimulados, ou somente são verificáveis

por pessoa com aptidão técnica ou com percepção fora do comum.

Vícios Redibitórios , são os vício ocultos de que é

portadora a coisa objeto de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso a

que se destina ou prejudicam sensivelmente ao valor.

17 STJ, REsp. 215832, REl. MIn. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 07/04/2003 p. 289. 18 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. p. 414. 19 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini, 2008, p. 56.

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Vícios Referentes à Habitalidade – Segurança dos

Moradores ( são efeitos), Vícios de habitalidade ou de segurança dos moradores

- trata-se de uma especificação jurisprudencial que, dentro da classe dos vícios

referentes à “solidez e segurança”, entendeu o conceito de “segurança”

vinculando-a aos moradores, como é o caso de: infiltrações generalizadas,

umidade grave, questões de salubridade, perigos de incêndio, de gases, anti-

higiene (no tocante à edificação, a segurança já está compreendida no conceito

de estabilidade – solidez)

Vícios Referentes à Solidez da Edificação (são defe itos),

Vícios referentes à solidez da edificação, dentro da classe dos vícios referentes à

“solidez e segurança”, são aqueles que afetam ou podem afetar a sua

estabilidade, ou seja, podem causar a sua ruína ( destruição total ou parcial),

criando uma ameaça de destruição da obra, ainda que não imediata, mas

iminente.

1.3 CONCEITO DE DEFEITO

Nos termos do Artigo 12, § 1º do Código de Defesa do

Consumidor, o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele se

espera legitimamente, considerando-se sua apresentação, o uso risco razoável e

a época em que foi colocado em circulação20.

O defeito é noção que depende a valoração. O grau de

defeito deve ser valorado tendo em vista a periculosidade do produto e todas as

circunstâncias do caso concreto. Afirma-se que um produto é defeituoso quando

é mais perigoso para o consumidor ou usuário do que legítima ou razoavelmente

podia esperar. O cerne da definição é a segurança do produto e não aptidão ou

idoneidade deste para a realização do fim a que é destinado21.

20 CDC. “Art. 12 (...) § 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele

legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II – o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi colocado em circulação”.

21 ROCHA, Silvio Luiz Ferreira da. Responsabilidade Civil do Fornecedor pelo fato do

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Rocha, citando lição de João Calvão da Silva, diz que o

conceito de segurança é mais amplo do que o de aptidão do produto, pois são

freqüentes os casos de produtos aptos à função para a qual foram concebidos e

fabricados, e que causam danos na realização dessa específica função. Por

exemplo, um contraceptivo ou fármaco pode ser idôneo e eficaz para o fim a que

se destina, entretanto pode causar efeitos secundários. Assim, o produto pode ser

apto e não necessariamente seguro22.

Já o serviço é defeituoso quando não oferece a segurança

que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as

circunstâncias relevantes, entre as quais o modo de seu fornecimento, o

resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi

fornecido23.

Sanseveriano registra que defeitos são falhas do produto ou

do serviço que afetam a segurança legitimamente esperada pelo consumidor,

causando-lhe danos pessoais ou patrimoniais24.

Na procura da uniformização de regras no tocante aos

produtos, a Comunidade Européia editou diretrizes aos seus países membros,

entre elas a Diretiva nº 374/85, que em seu artigo 6º, trazia o conceito de defeito,

relacionado-o à segurança25.

produto no direito Brasileiro . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, v. 4, p. 95.

22 Ibid., p. 96. 23 CDC. “Art. 14 (...) § 1º - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o

consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:I - o modo de seu fornecimento;II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;III - a época em que foi fornecido.

24 DIRETIVA Nº 374/85 – “Art. 6º Um produto é defeituoso quando não prevê a segurança a qual a pessoa espera obter, levando em consideração todas as circunstâncias, inclusive: a) a apresentação do produto; b) o uso para o qual razoavelmente se espera seja o produto utilizado; c) a época em que o produto foi utilizado”.

25 CDC. “Art. 12 (...) § 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II – o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi colocado em circulação”.

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18

1.4 DISTINÇÃO ENTRE VÍCIO E DEFEITO NO CÓDIGO CIVIL

Embora as expressões sejam freqüentemente utilizadas

como sinônimas, é preciso fazer distinção entre vício e defeito, porque são

tratados de modo diferente pelo CC e pelo CDC, tendo conseqüências jurídicas

diversas. Para o CDC, defeito e vício não são expressões sinônimas e recebem

tratamento jurídico distintos, com normas específicas aplicáveis quando se tratar

de defeitos, e outras normas quando se tratar de vícios. Vale dizer que, nas

relações de consumo, as conseqüências de um defeito são diferentes das

conseqüências de um vício.

Já o Código Civil não distingue vício de defeito e utiliza

essas expressões como sinônimas. Refere-se a expressão “vícios ou defeitos”

nos artigos 441, 443, 568, 614, 618 e 2.027, sem, contudo, explicar o que seja

um, ou o que seja o outro. Somente no parágrafo único do art. 784, quando busca

definir o conceito de vício intrínseco da coisa segurada, o Código Civil diz tratar-

se de defeito próprio da coisa, que não se encontra normalmente em outras da

mesma espécie. Nesse caso, a explicação está no fato de o problema ser da

própria coisa e de não se encontrar normalmente em outras da mesma espécie,

não se tratando de distinção entre vício e defeito.

Contudo, isso não significa que as relações apenas civis,

isto é, não abrangidas pelo CDC, deixem de existir conseqüências relevantes

derivadas dessa distinção entre vício e defeito.

Sempre que se trata de vício referente à segurança da obra

ou de seus moradores, estar-se-á diante de um defeito, conforme o conceito que

se formou no CDC. E, embora denominados vícios, esses defeitos receberão o

tratamento de vícios de solidez e segurança, que são diferentes receberão o

tratamento de vícios de solidez e segurança, que são diferentes do tratamento

dos vícios apenas ocultos bem como dos redibitórios.

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19

1.5 DIFERENÇA ENTRE VÍCIO E DEFEITO NO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR26

VÍCIO, o produto ou serviço é viciado quando não apresenta

qualidade esperada, mostrando-se inadequado ao uso a que se destina. Há

responsabilidade por vícios, aplicando-se os artigos 18 a 25 do CDC. A

responsabilidade do fornecedor é mais restrita: substituição do produto,

reexecução do serviço, rescisão do contrato, abatimento no preço e

ressarcimento por perdas e danos.

DEFEITOS, o produto ou serviço defeituoso é aquele que se

mostra perigoso, colocando em risco a segurança do consumidor. Há

responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, devendo ser aplicados os

artigos 12 a17 do CDC. A responsabilidade do fornecedor é mais extensa: deve

ser reparada a totalidade dos planos patrimoniais e extra patrimoniais sofridos

pelo consumidor.

O CDC, no art. 12, explica claramente o que é defeito do

produto, assinalado que o produto é defeituoso quando não ofereceu a segurança

que dele legitimamente se espera, e indica os fatores que devem ser

considerados para essa apreciação. No art. 14, é explicitado claramente que o

serviço é defeituoso quando não oferece a segurança que o consumidor dele

pode esperar, indicando em seguida os fatores que devem ser considerados para

essa apreciação. A partir desses conceitos, aquilo que não constituir defeito, que

não afetar a segurança, entra par ao rol geral dos vícios.

No entendimento de Sanseverino, produto ou serviço

defeituosos, para o CDC, é aquele que se mostra perigoso, colocando em risco a

segurança do consumidor, enquanto o produto ou serviço viciado é aquele que

não apresenta a qualidade esperada, mostrando-se inadequado ao uso que se

destina27. Já para Alberto do Amaral Junior, a determinação do caráter defeituoso

26 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini, 2008, p. 64. 27 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade Civil no Código do consumidor e

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20

do produto não deve ser feita em função da aptidão para certo fim, mas em razão

da segurança legitimamente esperada pelos consumidores28.

Enquanto os defeitos podem afetar a segurança, não apenas

do consumidor mas também de terceiros, os vícios, em regra, afetam apenas o

próprio produto ou serviço.

Para distinguir defeito de vício, deve ser considerada, ainda,

a época em que o produto foi colocado em circulação, à evidência de que não se

considerará defeituoso um produto ou serviço que não contenha determinado

avanço tecnológico, desenvolvido ou normatizado posteriormente à sua

fabricação ou execução, e que venha fazer mais segurança.

Um produto ou serviço pode conter um vício, sem ser

inseguro. Porém, se o produto ou serviço contiver um vício e ao mesmo tempo for

inseguro, nesse caso temos um defeito. Assim, pode-se dizer que o defeito

compreende um vício, mas o vício não é sempre um defeito, por não atingir

necessariamente a segurança.

Em resumo, defeito é toda anomalia que, comprometendo a

segurança que legitimamente se espera da fruição do produto e serviços, termina

por causar danos físicos ou patrimoniais aos consumidores. Se essa anomalia

compromete a funcionamento do produto ou serviço, mas não apresenta risco à

saúde e segurança do consumidor, não se fala em defeito, mas em vício29.

a Defesa do Fornecedor, p 151.

28 AMARAL JUNIOR, Alberto do. A Responsabilidade pelos vícios do Produto no Código de Defesa do Consumidor, Revista Direito do Consumidor , p. 103 abr/jun 1992.

29 ALMEIDA, João Batista de. A proteção Jurídica do Consumidor . 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 90.

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21

1.6 CONCEITOS E TIPOS DE VÍCIOS PREVISTOS NO CÓDIGO DE DEFESA

DO CONSUMIDOR

A construção civil e os imóveis em geral têm especificidades

que os diferenciam dos produtos e serviços de um modo geral e que devem ser

levadas em consideração quando da aplicação dos preceitos do CDC. Um

elemento a ser considerado diz respeito a gravidade do defeito oculto. A lei

brasileira assim, o faz, quando especifica que os vícios devem tornar a coisa

imprópria ou inadequada ao fim a que se destina, ou devem diminuir-lhe o valor, a

exemplo dos diplomas estrangeiros, quem , em se tratando de problemas de

menor gravidade, seguem a máxima de minimis non curat lex ( de coisas mínimas

não cuida a lei)30.

Para o CDC, tem-se como produtos ou serviços viciados (

art.18,§ 6º;19, §2º; 20, § 2º)31.

30 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no Novo Código Civil e no Código de Defesa

do Consumidor . São Paulo: Atlas, 2003 p. 66. 31 CDC: “Art. 18 - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem

solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.(...) § 6º - São impróprios ao uso e consumo:I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam”.

“Art.19 - Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:I - o abatimento proporcional do preço;II - complementação do peso ou medida;III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.(...) § 2º - O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais”.

“Art. 20 - O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;III - o abatimento proporcional do preço.(...) § 2º - São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem

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22

Houver fornecimento em disparidade, qualitativa ou

quantitativa, com as indicações constantes da oferta ( mensagem publicitária,

recipiente, embalagens etc.), respeitadas as variações decorrentes de sua

natureza.

Houver falha qualitativa ou qualitativa, tornando-os

inadequados ou impróprios ao consumo a que se destinam ( produtos alterados,

adulterados, avariados etc. ou cujo prazo de validade já tenha vencido) ou que

lhes diminua o valor”.

O CDC disciplina os vícios aparentes (ou de fácil

constatação), a eles se referindo expressamente no art. 26, no qual estabelece o

prazo decadencial de 30 (trinta) para a reclamação, caso se trate de produtos não

duráveis, e 90 (noventa) dias, caso se trate de produtos duráveis (CDC, art. 26, I

e II)32.

Os vício ocultos estão previstos no § 3º do art. 26 do CDC,

no qual é estabelecido que , na hipótese de que trata, o prazo decadencial para a

reclamação inicia-se no momento em que for evidenciado o defeito.

Vícios de qualidade são aqueles que tornam os produtos

inadequados ou impróprios para consumo ao qual são destinados ou lhes

diminuam o valor. A inadequação ou impropriedade pode ocorrer em face do

decurso do prazo de validade, da deterioração do produto, da nocividade, do

desacordo com as normas técnicas de fabricação, ou pela falsificação. A

inadequação pode derivar ainda de não-observação dos padrões de aferição de

qualidade, bem como da disparidade do produto em relação a outros produtos do

mercado33.

como aqueles que não atendam às normas regulamentares de prestabilidade”.

32 CDC: “Art.26 - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:I-30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto não duráveis;II-90 (noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto duráveis”.

33 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini, 2008, p. 66

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23

Em relação aos serviços, vício de qualidade são aqueles que

os tornam impróprios à sua fruição ou lhes diminuem o valor. A impropriedade dos

serviços pode ocorrer por inadequação aos fins que razoavelmente deles se

espera, ou também pelo não-atendimento às normas regulamentares da

prestabilidade, tal como previsto no caput e § 2º do art. 20 do CDC. O vício de

qualidade pode ser observado também quando o serviço ofertado difere em

qualidade do serviço posteriormente executado34.

Vícios de quantidade são os que ocorrem quando,

guardadas as variações admissíveis em relação à natureza do produto, o

conteúdo líquido se mostra menor do que o estabelecido nos recipientes.

Conforme o disposto no art. 19 do CDC, embora a quantidade inferior não altere a

qualidade do produto, o consumidor é prejudicado, pois pagou por quantidade

maior do que a recebida.

O Código de Defesa do Consumidor disciplina a questão dos

vícios de quantidade, dando ao consumidor o direito de obter: abatimento

proporcional do preço (art. 19, I); complementação do peso ou medida(art.19,II);

substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo em

perfeitas condições de uso (art. 19, III); ou restituição da quantia monetariamente

atualizada, sem prejuízo das perdas e danos (art. 19, IV).

Em relação aos serviços, os vícios de quantidade ocorrem

quando há disparidade quantitativa dos serviços executados, em relação a

quantidade de serviços ofertados no contrato ou na mensagem publicitária, nos

termos dos arts. 18, caput, e 20, caput, do CDC. Nesse caso, o consumidor é

lesado por pagar por serviços que não foram executados.

Os vícios previstos no CDC podem ser classificados da

seguinte forma:

34 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini, 2008, p.68.

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24

Vícios Aparentes , são aqueles visivelmente constatáveis

por qualquer pessoa, sem necessidade de que sejam um técnico ou dotado de

diligência ou percepção extraordinárias.

Vícios Ocultos , são os vícios não constatáveis de imediato,

porque não são aparentes, ou foram dissimulados, ou somente são verificáveis

por pessoa com aptidão técnica ou com percepção fora do comum.

Vícios de Qualidade dos Produtos, são aqueles que

tornam os produtos inadequados ou impróprios para o consumo ao qual são

destinados, ou lhes diminuem o valor.

Vícios de Quantidade dos Produtos, são os vícios que

ocorrem quando, guardadas as variações admissíveis em relação à natureza do

produto, o conteúdo líquido se mostra menor do que o estabelecido no recipiente.

Vícios de Qualidade dos Serviços, São aqueles que

tornam os serviços impróprios à sua fruição ou lhes diminuem o valor.

Vícios de Quantidade dos Serviços, Ocorrem quando há

disparidade quantitativa dos serviços executados, em relação à quantidade de

serviços ofertados no contrato ou na mensagem publicitária.

1.7 OS TIPOS DE RESPONSABILIDADE

1.7.1 Responsabilidade civil e responsabilidade pen al

Responsabilidade, no sentido jurídico, significa o dever que

alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da violação de um direito de outrem.

A responsabilidade civil visa transmitir segurança às

pessoas, garantindo a reparação do dano que por ventura lhes for causado.

Servem ainda como sanção civil, para inibir novas condutas que vão contra o

ordenamento jurídico.

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25

O artigo 186 do Código Civil prevê que comete o ato ilícito

aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar

direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral35.

E o artigo 927 do Código Civil estabelece que quem, por ato

ilícito, causar o dano a outrem, fica obrigado a reparar o dano36.

No CDC, a responsabilidade e o direito de indenização estão

previstos no artigo 6º, VI, que estabelece que é direito do consumidora efetiva

prevenção e reparação de dano patrimonial e morais, individuais, coletivos e

difusos37.

A responsabilidade penal ou criminal é decorrente de fatos

considerados crimes, se causados pelo construtor, como por exemplo:

desabamento, ou seja, a queda da construção em virtude de fator humano;

desmoronamento, isto é, que resulta da natureza; incêndio (quando provocado

por sobrecarga elétrica), intoxicação ou morte por produtos industrializados

(quando estes foram mal manipulados na produção ou quando não constem

indicações de periculosidade), contaminação provocada por vazamento de

elementos radioativos e outro; a promoção da construção em solo não-edificável,

ou no seu entorno, assim considerando em razão do seu valor paisagístico,

ecológico, artístico, histórico, cultural, religioso, sem autorização da autoridade

competente ou em desacordo com a concedida. As ocorrências descritas são

incrimináveis, havendo ou não lesão corporal ou dano material, desde que seja

caracterizado o perigo à vida ou à propriedade, derivado da atividade do

construtor, ou que para ele tenha construído.

35 CC:”Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” 36 CC:” Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a

repará-lo”. 37 CDC:” Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VI - a efetiva prevenção e reparação de

danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.

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26

Não há substancial diferença entre o ilícito civil e o ilícito

penal, no sentido de que ambos representam violação de um dever jurídico ou à

lei.

No Ilícito civil, o agente infringe uma norma de direito privado

e, causando dano, fica obrigado a repará-lo. Todavia, com a matéria é de

interesse apenas do prejudicado, se este se resignar a sofrer prejuízo, nenhuma

conseqüência advirá para o causador do dano.

No ilícito penal, o agente infringe uma nota de direito público,

e seu comportamento perturba a ordem social, constituindo crime ou

contravenção. A reação da sociedade, ou do ordenamento jurídico, é

representada pela aplicação de uma pena que, em regra, atinge a liberdade do

ofensor. As penalidades criminais recaem sobre o profissional, depois da apurada

a culpa (negligência, imprudência ou imperícia).

1.7.2 Responsabilidade subjetiva e objetiva

A regra básica da responsabilidade civil no direito privado é

a responsabilidade com culpa. Para a teoria clássica, a culpa era fundamento da

responsabilidade civil. Em não havendo culpa, não havia responsabilidade38.

Contudo, em determinadas situações previstas em lei, o

legislador admitiu a responsabilização do agente independentemente da culpa,

denominada responsabilidade objetiva. O que difere a responsabilidade subjetiva

da objetiva, pois, é a culpa.

Segundo Miguel Reale, na orientação seguida pelo Código

Civil, “as duas formas de responsabilidade se conjugam e dinamizam, sendo a

responsabilidade subjetiva escolhida como norma, com regra geral, já que o

indivíduo deve ser responsabilizado, em princípio, por sua ação ou omissão

38 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil . p. 21.

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culposa ou dolosa”. No entanto, observa: “isto não exclui que, atendendo a

estrutura dos negócios, se levem em conta a responsabilidade objetiva”39.

Com efeito, o Código Civil de 2002 ampliou as hipóteses de

responsabilidade objetiva, em que a prova da culpa do causador do dano não se

faz mais necessária.

Na responsabilidade objetiva, basta a demonstração do

dano e do nexo causal entra a conduta e o resultado. Pouco importará se o

agente atuou com culpa (negligência ou imperícia); pode inclusive ter tomado todo

o cuidado possível para que o dano não ocorresse, mas, se este se deu, deverá

repará-lo. Vale dizer, na responsabilidade objetiva, a atitude culposa ou dolosa do

agente causador do dano é de menor relevância, pois desde que exista relação

de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o

dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente40. O

agente só afastará sua responsabilidade se provar a ocorrência de caso fortuito,

força maior ou culpa exclusiva da vítima.

1.7.3 Responsabilidade solidária e subsidiária

1.7.3.1 Responsabilidade solidária

Obrigação solidária é espécie de obrigação múltipla,

configurando-se pela presença de mais de um indivíduo em um ou em ambos os

pólos da regulação obrigacional. Há solidariamente, portanto, quando na mesma

obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com

direito ou obrigado à dívida toda.

Na obrigação solidária, cada titular, isoladamente, possui

direito ou responde pela totalidade da prestação, embora aos outros assista o

direito de reversão. Vale dizer que, havendo solidariedade, o credor tem direito a

39 REALE, Miguel. Diretrizes Gerais sobre o Projeto do Código Civil. In Estudos de Filosofia e

Ciência do Direito . São Paulo: Saraiva, 1978,p. 176-177. 40 ROFRIGUES, Silvio. Direito Civil . Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 4, p.11.

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28

exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a

dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores

continuam obrigados solidariamente pelo resto41.

A solidariedade não se presume: resulta da lei ou da

vontade das partes. Significa que pode ser legal, ou convencional42, ativa ou

passiva.

A responsabilidade dos diversos profissionais envolvidos na

prestação dos diversos serviços da construção civil, em regra, é solidária. Isso

quer dizer que a vítima pode escolher que irá ajuizar a ação: contra um, alguns ou

todos.

O Código Civil dispõe que os bens do responsável pela

ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos À reparação do dano

causado, e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente

pela reparação (art. 942). No parágrafo único desse dispositivo, o CC prevê a

solidariedade entre as pessoas designadas no art. 932, entre as quais se insere o

empregador ou comitente, pelos seus empregados, serviçais e prepostos, no

exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele43 .

Já no âmbito das relações de consumo, a solidariedade está

prevista em vários dispositivos do CDC.

41 CC:” Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial

ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto”.

42 CC:” Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda”.

43 CC:” Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação”.

CC:” Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele”.

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29

O parágrafo único do artigo 7º estabelece que, tendo mais

de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos

danos previstos nas normas de consumo.

O artigo 18 estabelece que os fornecedores de produtos de

consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de

qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a

que se destinam ou lhes diminuam o valos.

O artigo 19 estabelece que os fornecedores respondem

solidariamente pelos vícios de quantidade dos produtos.

O §1º do artigo 25 estabelece que, havendo mias de um

responsável pela provocação dos danos, todos responderão solidariamente pela

reparação.

O §2º do artigo 25 estabelece que, sendo o dano causado

por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis

solidários seu fabricante, construtor ou importador, e o que realizou a

incorporação.

O artigo 28, §3º, estabelece a responsabilidade solidária

entre as sociedades consorciadas pelas obrigações decorrentes do CDC.

Para José Brito Filomeno, com a responsabilidade do

fornecedor é objetiva, decorrente da simples colocação no mercado de

determinado produto ou prestação de dado serviço, o consumidor pode intentar

as medidas contra todos os que estiverem na cadeia de responsabilidade que

propiciou a colocação do mesmo produto no mercado ou então a prestação do

serviço44.

44 GRINOVER ET. AL. Código Brasileiro de defesa do Consumidos comentado s pelos

autores do anteprojeto. p. 90.

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30

1.7.3.2 Responsabilidade subsidiária

Originário do latim subsidiarius (que é de reserva, de

reforço), o verbete subsidiário designa o que é “secundário, auxiliar ou supletivo”,

pressupondo o principal, a que vem reforçar. Dessa forma, responsabilidade

subsidiária é a que vem reforçara responsabilidade principal, desde que não seja

esta suficiente para atender aos imperativos da obrigação.

O Código de defesa do consumidor prevê a

responsabilidade subsidiária entre as sociedades integrantes dos grupos

societários e as sociedades controladas, e responsabilidade solidária entre as

sociedades consorciadas, pelas obrigações decorrentes das relações de

consumos45.

Diante da manifesta insuficiência dos bens que compõem o

patrimônio de quaisquer das sociedades componentes – quer se trate de

sociedade de comando ou filiadas – o consumidor lesado poderá prosseguir na

cobrança contra as demais integrantes, em via subsidiária.

A responsabilidade subsidiária permite, em síntese, que

outro elemento da cadeia seja chamado à responsabilidade, caso o anterior não

indenize a vítima.

Pelo Vicio acarretar danos aos adquirentes, é indispensável

que este busque amparo legal na legislação vijente. Para tal legislação funcionar

com eficácia, é imprecindível as garantias do imóvel

45 CDC:” Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em

detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração: § 2° As s ociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 3° As sociedades consor ciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código”.

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Capítulo 2

GARANTIAS

2.1 A GARANTIA E SEUS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A garantia é um instituto que resguarda o contratante ou

consumidor contra riscos que se manifestam após a instauração da relação

jurídica negocial46. É ela inerente à própria compra e venda, inspirada no princípio

da boa-fé, e delimita as responsabilidades do fornecedor e do consumidor. A

garantia é obrigação contratual, que gera o dever de indenizar, de modo que,

embora por fundamentação diversa, assemelha-se, no resultado, às

conseqüências do inadimplemento das demais obrigações contratuais.

Existem duas espécies de garantia: a legal e a contratual.

De acordo com o disposto nos artigos 24 e 25, do Código de

Defesa do Consumidor47, a garantia legal, por decorrer da lei, não pode ser

suprimida, total ou parcialmente, pela vontade das partes. Em contrapartida, a

garantia contratual tem livre conteúdo (art. 50 do CDC48) e se manifesta em

termos escritos em um contrato. Os termos de garantia podem dizer respeito ao

46 “Excepcionalmente, para os vícios de qualidade por insegurança, é possível a sua utilização,

sem que esteja presente qualquer negócio jurídico da parte da vítima. É a hipótese, sem que esteja presente qualquer negócio jurídico parte da vítima. É a hipótese do bystander, onde relação jurídica entre vítima e fornecedor pode haver, mas não é negocial” (BENJAMIN, Antõnio Herman de Vasconcellos. In HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes (coord). Novo Código Civil: Interfaces no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 107.).

47 CDC:” Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor”.

CDC:” Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores”.

48 CDC:” Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito”.

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direito (garantia dor evicção, por exemplo), ou podem abranger os vícios (de

qualidade e quantidade).

Simão, em seu livro Vícios do Produto no Novo Código Civil

e no Código de Defesa do Consumidor, faz uma síntese da doutrina sobre as

teorias que existem para explicar os fundamentos da garantia, que merece ser

reproduzida. O citado autor inicia por Orlando Gomes49, que busca esses

fundamentos em três teorias: teoria da evicção parcial, teoria do erro e teoria do

risco. A teoria que fundamenta a garantia no princípio da evicção parcial,

acentuando que, se (a garantia) fosse semelhante à evicção, ao alienante restaria

a obrigação de indenizar (como ocorreria em casos de evicção), o que não se

aplica aos casos de incidência de vícios, que em regra, prevêem apenas a

redibição do contrato com a devolução da coisa e do preço (e não a indenização).

A teoria do erro considera a vontade do alienante viciada

quando baseada em erro sobre as qualidades essenciais do objeto. Contudo,

para Orlando Gomes, os fundamentos dessa teoria não seriam os mias próprios

para a garantia, por receberem tratamentos legais diferenciados: no casso de

erro, a conseqüência é a anulação do contrato e, no caso dos vícios ocultos, há a

possibilidade de abatimento do preço. Por fim, a teoria do risco, que se

fundamenta na imposição legal ao alienante da responsabilidade pelos vícios da

coisa. Esta é afastada por Orlando Gomes sem maior fundamentação, por

entender que não se aplica aos vícios.

A teoria do erro considera a vontade do alienante viciada

quando baseada em erro sobre a qualidade essencial do objeto – constitui um dos

principais fundamentos da garantia, não podemos ser afastada pela mera

consideração de que o erro implicaria necessariamente anulação. Ou seja,

sempre que possível, deve-se preservar o negócio, reservando-se ao contratante

o direito de reclamar a indenização, e não necessariamente busca a anulação do

negócio. Esse raciocínio parte da máxima de que, quem pode o mais pode o

menos, isto é, se é possível postular a anulação do negócio, que é o mais, parece

49 GOMES, Orlando. Contratos . Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 94

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razoável que se possa postular o menos, que é manter o negócio com o

recebimento de indenização correspondente ao vício.

Serpa Lopes50 classifica as teorias em dois grupos: (a)

responsabilidade do contratante como um consectário necessário da natureza

jurídica do contrato; e (b) a teoria eclética, que tem por base a idéia do erro.

Silvio Rodrigues51, secundado por Simão52, afasta-se da

noção de erro e de inexecução do contrato e fundamenta a garantia na boa-fé,

que constitui princípio informados do direito contratual. Com efeito, o princípio da

boa-fé previsto no art. 422 do Código Civil53, constitui, o fundamento da

responsabilidade por vícios ocultos e deve nortear todos os contratos, quer

decorrentes de uma relação de consumo, quer decorrentes uma relação apenas

civil. Assim, é de se prestigiar a expectativa de se estar contratando ou adquirindo

algo que se pressupõe ter determinados requisitos básicos de qualidade que lhe

são intrínsecos, pois é justamente nessa expectativa que reside a boa-fé do

contratante ou adquirente.

De certa forma, a boa-fé objetiva congrega todas as outras

teorias que, cada qual com sua visão, buscam fundamentos para a garantia,

como é o caso da teoria do erro, da teoria do risco, do princípio da evicção

parcial, que, resistem às críticas de Orlando Gomes e servem de fundamento

para garantir.

A boa-fé objetiva opera seus efeitos nas hipóteses de

redibição ou abatimento do preço, pois a garantia circunscrita ao redor dos vícios

redibitórios visa a proporcionar estabilidade aos negócios jurídicos relacionados à

50 SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso de Direito Civil , 6 ed.Rio de Janeiro: Freitas Bastos,

v. 3, p. 176 ss. 51 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil . Dos Contratos e das Declarações Unilaterais de Vontade.

São Paulo: Saraiva, 2002, v. 3, p. 105. 52 SIMÃO, Vícios do Produto no Novo Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor .

São Paulo: Atlas, 2003, p. 86. 53 CC:”Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente

reclamar abatimento no preço”.

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transferência de bens de um contratante ou outro, fazendo com que o adquirente

de certa coisa sinta-se tranqüilo quando à utilidade objetivada no bem adquirido,

razão pela qual a questão da “culpa” perde um pouco seu sentido54.

A boa ou má-fé é relevante para efeito de reparação, pois,

se o alienante não conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o recebeu mais

as despesas do contrato, ao passo que, se conhecia, restituirá o que recebeu

mais perdas e danos, conforme dispõe o artigo 443 do CC55.

O Código Civil não fixa um prazo mínimo de garantia para os

negócios de direito privado não abrangidos pelo direito do consumidor. Mas

Caramuru ressalva que é evidente que esse silêncio não poderá representar a

exoneração completa e absoluta da garantia, até porque a existência de tal

exigência é algo que está de acordo com a função social do contrato56.

Com efeito, tendo em vista a função social do contrato,

mesmo que o Código seja silente e não haja estipulação de prazo de garantia no

negócio jurídico, é de considerar-se um prazo e garantia pelo qual se

responsabilize o alienante, devendo tal lapso de tempo ser estabelecido tendo por

base os usos e costumes aplicáveis aos contratos ou, não havendo, devem

aplicar por analogia os prazos do Código de Defesa do Consumidor.

54 SANTOS, Caio Augusto Silva. Dos Vícios Redibitórios no Novo Código Civil e no Código de

defesa do Consumidor . In HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes (coord). Novo Código Civil: Interfaces no Ordenamento Jurídico Brasileir o. p. 74.

55 CC:” Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato”.

56 FRANCISCO, Caramuru Afonso. Código Civil de 2002 : o que há de novo?. São Paulo: Juarez de Oliveira Ed., 2002, p. 109.

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2.2 GARANTIA LEGAL

A garantia legal consiste em alternativas fixadas na própria

lei, como meios de proteção e segurança outorgados ao contratante ou

adquirente, para se ver recomposto do prejuízo trazido pelo vício57.

2.2.1 Garantia legal no Código Civil

O construtor responde pela boa qualidade da obra que

realizou, responsabilizando-se pelos defeitos que possa apresentar.

Na construção civil, os vícios normalmente são ocultos, pois

os aparentes se presumem conhecidos pelo dono da obra quando do seu

recebimento. Por isso a lei estabelece o prazo de 5 (cinco) anos, instituindo em

favor do dono da obra garantia pela qual o empreiteiro responde, por culpa

presumida, pelos vícios ocultos que ponham em risco a solidez e segurança da

obra.

Alguns doutrinadores consideram essa garantia do

empreiteiro como uma responsabilidade excepcional. A excepcionalidade decorre

do fato de que, normalmente, quem recebe uma obra encomendada libera a

pessoa que a entregou – importando, em princípio, na cessão de

responsabilidade – o que não ocorre no caso do artigo 61858, que abre exceção a

regra59.

57 SANTOS, Caio Augusto Silva. Dos Vícios Redibitórios no Novo Código Civil e no Código de

defesa do Consumidor . In HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes (coord). Novo Código Civil : Interfaces no Ordenamento Jurídico Brasileiro. p. 107.

58 Civil. RECURSO ESPECIAL. Ação de indenização por perdas e danos e rescisão contratual. Julgamento “extra-petita”. Inocorrência. Responsabilidade do construtor. Defeitos na construção. (...) A entrega do imóvel ao comprador não corresponde ao exauri mento, por parte do empreiteiro, construtor ou financiador de imóvel residencial, de sua obrigação contratual ante a impossibilidade de que haja, nesse instante comprovação plena da segurança e solidez da unidade residencial.

Recurso não conhecido (STJ-3ªT., REsp 590385-RS; 2003/0162546-7, Rel. MIn. Nancy Andrighi, j. 5/10/2004, DJ 5/9/2005, p. 399).

59 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instruções de Direito Civil .p. 205.

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A importância desse prazo foi salientada por Hely Lopes

Meirelles:

“É generalizada a convicção de que esse prazo não foi estabelecido para atender exclusivamente aos interesses do proprietário, mas também, e principalmente, ao interesse de toda a coletividade. Trata-se, destarte, de prazo imperativo, de ordem pública, não sendo possível ao construtor dele se eximir, nem reduzir a sua amplitude por meio de cláusula contratual. Resulta da lei, independente de cláusula que o consigne, e não admite modificação pela vontade das partes60”.

Ainda sobre o prazo de garantia previsto no art. 1.245 do

Código Civil de 191661 e no seu correspondente art. 618 do Código de 2002,

comentava Hely Lopes Meirelles:

“O prazo qüinqüenal dessa responsabilidade é de garantia, e não de prescrição, como erroneamente têm entendido alguns julgados. Desde que a falta de solidez ou de segurança da obra apresente-se, dentro de cinco anos de seu recebimento, ação contra o construtor e demais participantes do empreendimento subsiste pelo prazo prescricional comum (...), a contar do dia em que surgiu o defeito”62.

No fundo a responsabilidade do construtor decorre antes

princípio geral da responsabilidade civil, do dever de reparação dos danos, dos

direitos que são assegurados aos adquirentes, da proteção à sociedade, enfim,

decorre antes desses princípios, do que da garantia estabelecida expressamente

no texto legal.

60 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de Construir . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979, p.

226; CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil . São Paulo: Malheiros, 2002, p. 294.

61 CC DE 1916:” Art. 1.245. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante 5 (cinco) anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo, exceto, quanto a este, se, não o achando firme, preveniu em tempo o dono da obra”.

62 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de Construir . p. 255.

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A jurisprudência firmou o conceito de que no prazo de

garantia referente à solidez e segurança da obra o construtor responde de forma

objetiva63. Assim entendeu o STJ :

“Ementa: Recurso especial. Ausência de contrariedade a lei. Responsabilidade do construtor. Prazo de garantia da obra. Recurso não provido. Não viola os arts. 178, parágrafo 5, iv, 1243 e 1245 do cod. Civil a decisão que afasta a prescrição arguida por se cuidar de ação indenizatoria pelos danos, considerados de grande monta, pelos quais e o construtor responsavel”.

Isto é, a garantia legal dá a essa responsabilidade do

construtor o caráter de responsabilidade objetiva, de tal sorte que, naquele

determinado período, se executa a regra geral do ônus da prova estatuída no art.

333,I, do Código de Processo Civil64, fazendo com que o contratante, comprador

ou seus sub-rogados fiquem liberados de provar a culpa do construtor (devem

provar apenas o nexo causal), pois a lei considera a culpa presumida do

construtor. Importante lembrar que a responsabilidade pode ser afastada se o

empreiteiro demonstrar que o evento danoso decorreu de caso fortuito, fato de

terceiros ou culpa da vítima (mau uso ou falta de manutenção).

Existe alguma divergência na doutrina sobre o alcance da

garantia prevista no art. 618 do CC65: contempla toda e qualquer modalidade

contratual, ou apenas a empreitada mista (materiais e serviços)? Sobre esta

questão, Marcos Aurélio S. Viana analisa o entendimento de diversos autores

(J.M. de Carvalho Santos, Alfredo de Almeida Paiva, José de Aguiar Dias e Hely

Lopes Meirelles) e conclui que independentemente da espécie e da natureza do

63 STJ, REsp 9.375- SP (915467-4), Rel. MIn. Cláudio Santos, DJ 30/3/92. 64 CPC:” Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu

direito”. 65 CC:” Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o

empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo. Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito”.

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contrato de construção, o construtor será sempre o responsável, por cinco anos,

pela solidez e segurança da obra66

O artigo 447 do CC67 dispões que, nos contratos onerosos, o

alienante responde pela evicção. De acordo com a definição de Maria Helena

Diniz:

Evicção é a perda da coisa, por força de decisão judicial, fundada em motivo jurídico anterior, que o confere a outrem, seu verdadeiro dono, com o reconhecimento em juízo da existência de ônus sobre a mesma coisa, não denunciado oportunamente no contrato.

Assim, o vendedor permanecerá vinculado devido aos riscos

da evicção.

2.2.2 Garantia no Código de defesa do consumidor

O CDC não se refere ou se aplica especificamente a

determinados produtos. Aplica-se de modo geral a todos os produtos e serviços

fornecidos em uma relação de consumo, de modo que não relaciona – e nem

seria possível relacionar – todos os itens, produtos ou serviços que são

compreendidos pelas suas regras ou garantias.

A garantia que se extrai do CDC para a construção civil é de

adequação do produto quanto à sua qualidade, quantidade e ao uso que

razoavelmente dele se espera, respeitadas as variações decorrentes de sua

natureza. O art. 24 do CDC refere-se expressamente à garantia legal de

adequação do produto ou serviço, prevendo que independe de termo expresso e

que é vedada sua exoneração por cláusula contratual do fornecedor68.

66 VIANA, Marco Aurélio S. Contrato de Construção e Responsabilidade Civil . 2 ed. São

Paulo: Saraiva, 1981, p. 57. 67 CC:”Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta

garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública”. 68 CDC: ”Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo

expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor”.

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O art. 18, § 1º, do CDC69, por exemplo, estabelece um prazo

que dá ao fornecedor a oportunidade de acionar o sistema de garantia do produto

e reparar o defeito no prazo máximo de 30 (trinta) dias70. Ou seja, trata-se de

garantia legal, de tal sorte que, não sendo sanado o vício dentro desse prazo, o

consumidor pode exigir alternativamente e à sua escolha: a substituição do

produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; a restituição

imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais

perdas e danos; o abatimento proporcional do preço.

Tal prazo de garantia, estabelecido na lei, pode ser

aumentado ou reduzido por convenção das partes, nos termos do disposto no art.

18, § 2º, do CDC71, não podendo ser inferior a 7 (sete) nem superior a 180 (cento

e oitenta) dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser

convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

Outra garantia que se extrai da lei, particularmente nas

relações de consumo, diz respeito à adequação dos produtos e serviços aos fins

que razoavelmente deles se esperam. Essa garantia decorre do § 6º do art. 18 do

CDC, que considera impróprio ao uso e consumo os produtos nocivos à vida ou à

saúde, em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, ou se

revelem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem

como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade72.

69 CDC:” Art. 18. (...) § 1° Não sendo o vício sanad o no prazo máximo de trinta dias, pode o

consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço”.

70 V.TR 851/253 (nota 34). 71 CDC:” Art. 18 (...) § 2° Poderão as partes conven cionar a redução ou ampliação do prazo

previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor”.

72 CDC:” Art. 20. (...) § 2° São impróprios os servi ços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade”.

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2.3 GARANTIA CONTRATUAL

A garantia contratual nasce da convenção estabelecida entre

os sujeitos de determinada relação negocial. A sua existência é voluntária –

depende da vontade das partes – apesar da força que a lei lhe outorga, se existe.

Disso resulta, conseqüentemente, que a lei é apenas a causa mediata, quanto a

vontade das partes é sem dúvida a própria razão de ser, isto é, representa a sua

causa imediata, diferente do que ocorre com a garantia legal73.

A garantia contratual pode ser concedida por liberdade do

fornecedor, em termo escrito, como previsto no art. 50 do CDC74. É facultativo e

complementar à garantia legal. Complementar porque não exclui a garantia legal

estabelecida no art. 18, § 1º do CDC ( que é norma de ordem pública e não pode

ser derrogada pela vontade das partes). Se a garantia contratual é igual à legal,

nada lhe acrescenta. Por conseguintes, resta-lhe o caráter complementar.

Quando se trata de prazos de garantia, por vez se estabelece uma certa confusão

pelo fato de a garantia contratual ser complementar à legal, quando se entende –

equivocadamente, a nosso ver – que o prazo de garantia contratual deve ser

somado ao prazo de garantia legal.

No caso de solidez e segurança, por exemplo, em que existe

um prazo de garantia legal de 5 (cinco) anos estabelecido pelo art. 618 do CC,

nada impede que um construtor ou equipamento queira dar, por hipótese, um

prazo de garantia de 8 (oito) anos em relação a esse tipo de vícios, contando da

conclusão dos serviços ou entrega do imóvel, o que não significa que estará

obrigado por um prazo de garantia de 13 (treze) anos ( cinco anos de garantia

legal mais oito anos da garantia contratual), mas apenas pelo prazo concedido.

73 SANTOS, Caio Augusto Silva; GODOY, Paulo Henrique Silva. Dos Vícios Redibitórios no Novo

Código Civil e no Código de defesa do Consumidor . In HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes (coord). Novo Código Civil : Interfaces no Ordenamento Jurídico Brasileiro. p. 108.

74 CDC:” Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito”.

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De nada adiantaria conceder a garantia pelo prazo de cinco

anos, porque a lei já concede esse prazo, como tampouco adiantaria conceder a

garantia pelo prazo de três anos, porque prevaleceria o prazo da garantia legal,

que é maior. Assim, o prazo de garantia contratual tem esse caráter

complementar em relação à garantia legal. Inclusive, há inúmeras situações em

que a garantia contratual não se restringe aos prazos, mas ao modo de

exercícios e extensão da cobertura – não previstos na garantia legal - , de forma

que os fornecedores podem complementar a garantia legal com modalidades

diversas que ultrapassem aquele mínimo legalmente previsto.

2.4 CONTINUIDADE DA GARANTIA NA REVENDA DO IMÓVEL

A garantia é dada por quem construiu a obra. É ele quem

responde pelas conseqüências de quaisquer problemas durante o prazo de

garantia legal, seja perante o primeiro adquirente, seja perante os demais que lha

sucedem, dentro do prazo da garantia (legal).

Segundo Del Mar, à garantia contratual, pode ocorrer de o

construtor condicioná-la ao primeiro adquirente, o que se figura lícito devido ao

caráter facultativo dessa modalidade de garantia75. Embora seja questionável

esse tipo de condição estabelecida para o exercício da garantia contratual, não se

pode desprezar o aspecto comercial que implica a promoção da venda de

determinados bens, para o qual o vendedor se utiliza dessa faculdade.

2.5 TERMO INICIAL PARA PROPOSITURA DA AÇÃO

O termo inicial para a contagem do prazo para as ações

típicas de garantia, redibitórias e estimatórias – quanti minoris76 - é contrato de

entrega efetiva do bem, ou seja, da transferência da posse ao comprador.

Entretanto, se o adquirente já estava na posse do imóvel, o prazo conta-se da 75 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini,

2008, p. 91. 76 (Actio) quanti minoris - ação de abatimento ou para menor preço; ação estimatória, ação de

diminuição de preço.

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alienação, reduzido à metade, conforme disposto no artigo 445 do Código Civil77.

Os prazos referentes a essas ações são decadenciais, pois o direito e a ação que

protegem nascem simultaneamente, do mesmo fato e no mesmo momento, e a

ação representa o próprio direito.

Às vezes acontece que o vício, embora já existente, não

pode ser constatado logo no primeiro uso da coisa, de forma que o prazo para a

propositura da ação, nessa hipótese, se inicia, não da entrega efetiva, mas da

data em que o adquirente toma ciência da existência dele. Exemplo clássico é do

imóvel que é alvo de enchentes por chuvas normais, em que o adquirente tomará

ciência do problema somente por ocasião da primeira ocorrência78.

Daí que, se o vício, por sua natureza, só puder ser

conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência,

até o prazo máximo de 1 (um) ano para os imóveis (art. 445, § 1º, do CC)79.

Nos termos do Art. 446 do CC80, existindo cláusula de

garantia, não correrão os prazos previstos no artigo 445; porém o adquirente deve

denunciar o defeito ao alienante nos 30 (trinta) dias seguintes ao seu

descobrimento, sob pena de decadência. O legislador criou, aqui, uma novidade,

que é decadência intercorrente.

77 CC:” Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no

prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.”

78 Nesse sentido acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que decidiu pela caracterização de vício redibitório na alienação do imóvel alvo de enchentes por chuvas, sem informação do fato para a compradora, que poderia ter influenciado na decisão da compra ou do preço a pagar; nessa referida decisão, foi determinado o abatimento do preço na compra e venda. 3ªCâmara de Direito Privado do TJSP, Apelação Cível nº 91.205.4/1, da comarca de Santo André, jan. 2000, apud Loureiro, Luiz Guilherme. Teoria Geral dos Contratos no Novo Código Civil. São Paulo: Ed. Método, 2002, p. 142.

79 CC:”Art. 445. (...) § 1o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis”.

80 CC:” Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência”.

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Trata-se de um dispositivo novo, trazido pelo Código de

2002, que merecerá a devida interpretação jurisprudencial. Porém, de início,

parece ser aplicável apenas aos vícios ocultos simples ou redibitórios e não aos

vícios referentes à solidez da obra e segurança dos moradores, previstos no art.

618 do CC81. Primeiramente porque o art. 446 refere-se especificamente ao

“artigo antecedente”, o qual, por sua vez trata apenas dos vícios ocultos

redibitórios.

Em segundo lugar porque, a prevalecer essa regra para os

vícios referentes à solidez e segurança, o construtor poderia ver-se exonerado de

suas principais responsabilidade no tocante à obra, no exíguo prazo de 30 dias

contados do surgimento do vício, caso o interessado não reclamasse, o que não

parece razoável quanto a essa classe de defeitos.

As garantias são indispensáveis para o adquiernte, bem

como para o construtor, assim como a responsabilidades de todos envolvidos no

processo contrutivo do bem.

81 CC:” Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o

empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo”.

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Capítulo 3

RESPONSABILIDADES NA CONSTRUÇÃO CIVIL

3.1 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ OBJETIVA E D A FUNÇÃO

SOCIAL DOS CONTRATOS À RESPONSABILIDAE DO CONSTRUTO R

Para o Código Civil de 1916 os contratos tinham função

quase que exclusivamente econômica. O Código Civil de 2002 alterou

radicalmente a teoria dos contratos ao introduzir os princípios da eticidade e da

socialidade. O princípio da sociedade, já presente na Constituição Federal de

1988, aparece de forma expressa no artigo 421 do CC de 2002, estabelecendo

que a liberdade de contratar deve ser exercida em razão e nos limites da função

social do contrato82.

No campo da eticidade, foram inseridos conceitos legais

indeterminados e expressões abstratas, como: boa-fé, probidade, bons costumes,

impondo a sua observância83. Houve avanço no sentido prático com a adoção do

conceito boa-fé objetiva, de maneira que não é mais suficiente que haja intenção,

mas algo que deve se efetivar.

Mais ainda, na esfera dos contratos, a boa-fé deve ser

respeitada não apenas no momento da contratação, mas também na fase pós-

contratual e, inclusive, depois da conclusão do negócio, pois o mesmo estende

seu efeito ao longo do tempo. Isso é de ser observado sobretudo nas

incorporações imobiliárias em que as unidades são vendidas na planta, ou seja,

82 CC:” Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do

contrato”. 83 CC:” Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como

em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

CC:”Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”.

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ainda por construir, nas quais o cumprimento da obrigação pelos incorporadores

se estende no tempo, depois da assinatura do contrato de compra e venda.

A obrigação dos compradores é realizar o pagamento de

suas prestações na forma estabelecida, e em contrapartida a obrigação dos

incorporadores ou construtores é executar a obra atendendo às normas técnicas,

às previsões do memorial descritivo de acabamento e as demais condições

contratadas, devendo pautar a sua conduta pelos princípios da boa-fé. Mesmo

nos demais casos que tratam apenas da construção, o construtor responde pela

garantia, seja legal (referente a solidez da obra e segurança dos moradores), seja

a garantia contratual, se houver, sendo aplicável, também nesses casos, as

regras da boa-fé. Assim, os princípios da eticidade e socialidade devem

acompanhar a responsabilidade do construtor antes, durante e depois da

conclusão da obra.

3.2 QUADRO GERAL DE RESPONSABILIDADES DO CONSTRUTOR

As responsabilidade do construtor compreendem84:

Responsabilidade ético-profissional; deriva de imperativos morais, de parceiros geradores do exercício da profissão. Os deveres ético-profissionais não são estranhos às relações jurídicas e, muitas vezes, consorciam-se para fundamentar responsabilidades. O desrespeito aos preceitos éticos previstos no Código de Ética Profissional do Engenheiro, Arquiteto, Engenheiro-agrônomo, instituído pela resolução nº 205/71 do CONFEA, é punido com uma das sanções previstas no artigo 72 da lei 5.194/6685, ou seja, advertência reservada ou censura pública, aplicadas no infrator (sempre um profissional).

Responsabilidade pela perfeição da obra e pelo

atendimento das normas técnicas; o construtor é responsável pela perfeição da

84 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini,

2008, p. 149. 85 Lei nº 5.194/66:” Art. 72. As penas de advertência reservada e de censura pública são

aplicáveis aos profissionais que deixarem de cumprir disposições do Código de Ética, tendo em vista a gravidade da falta e os casos de reincidência, a critério das respectivas Câmaras Especializadas”.

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obra, dispondo o art. 6º do Código de Ética Profissional da engenharia e

arquitetura devem atuar dentro da melhor ética86.

Conforme o CC (art. 615 e 616), o dono da obra pode

enjeitá-la (ou receber abatimento do preço), se o empreiteiro se afastou das

regras técnica.

É considerada prática abusiva e é vedado ao fornecedor de

produtos e serviços (no caso, o construtor), dentre outras práticas abusivas,

colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com

as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas

específicas não existem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, ou

outra entidade credenciada pelo CONMETRO (CDC, art. 39, VIII).

Responsabilidade contratual pela execução da obra; O

construtor é responsável pela inobservância de obrigação contratual (CC, arts.

615 e 616), sem prejuízo da responsabilidade por falta de técnica.

Responsabilidade legal ou contratual (esta última, se o

construtor a houver dado por escrito) pelos vícios e imperfeições da obra; O

construtor é responsável pelos vícios e imperfeições da obra, oriundos de culpa

sua na execução do serviço, ou no emprego do material, mesmo que não afetem

a solidez e segurança da construção (inexecução da obrigação – CC, arts. 389,

186, 615, 927; CDC. Arts. 18 e 20).

Responsabilidade (legal) pela solidez e segurança d a

obra; o construtor é responsável pela solidez e segurança do trabalho, nas

empreitadas relativas e edifícios e outras construções de grande porte, bem como

em razão dos materiais e do solo (CC, art. 618).

86 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini, 2008, p.150.

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O construtor é responsável pelos defeitos da obra, que

afetem a segurança do consumidor ou equiparados (CC, arts. 389, 186, 615, 927;

CDC. Arts. 12 e 14).

Responsabilidade por danos a vizinhos; o construtor é

responsável pela reparação civil de lesões patrimoniais causadas a vizinhos. O

art. 1.299 do CC assegura ao proprietário o direito de levantar em seu terreno as

construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos

administrativos.

A responsabilidade do construtor nesse caso é objetiva (CC,

art. 927, parágrafo único; art. 931) e, dependendo da situação, solidária com o

proprietário (CC, art. 942, parágrafo único), salvo a responsabilidade exclusiva

deste na hipótese prevista nos art. 937, do CC.

Há solidariedade entre os co-responsáveis (CC, art. 945;

CDC, art. 25, § 2º).

Responsabilidade por danos a terceiros; o construtor é

responsável pela reparação civil de lesões patrimoniais causadas a terceiros,

conforme regras comuns da responsabilidade civil (CC, arts. 186 e 927).

A responsabilidade do construtor nesse caso é objetiva (CC,

art. 927, parágrafo único; art. 931).

Dependendo a situação, há solidariedade entre os co-

responsáveis e o dono da obra (CC, art. 942, parágrafo único; CDC, art. 25, §2º).

Responsabilidades por materiais; na empreitada mista

(materiais e mão-de-obra) o empreiteiro responde pelos defeitos do material que

aplica, além da imperfeição dos serviços que executa (CC, arts. 389, 186 e 927).

Na empreitada de lavor (só mão-de-obra), em que o

empreiteiro recebe do proprietário o material a ser empregado na obra, responde

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de maneira absoluta pelo trabalho e de modo relativo pelo material utilizado (CC,

art. 612).

Sendo o dano causado por componente ou peça

incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante,

construtor ou importador e o que realizou a incorporação (CDC, art. 25,§ 1º e 2º,

CC, art. 942, parágrafo único, 186, 927).

O construtor é responsável pelo pagamento dos materiais

que recebe se por imperícia os inutilizar (CC, art. 617).

Responsabilidade pelos atos de seus prepostos; o

construtor é responsável pelos atos culposos e lesivos a estranhos, resultantes de

atividades própria ou de seus prepostos na construção – mestres ou

encarregados de obras – ou ainda de seus operários (CC, arts. 932, II, 933).

Em se tratando de responsabilidade civil por culta

extracontratual (violação a princípio geral de direito), ficam solidários todos os

autores e co-autores da lesão (CC, art. 942, parágrafo único; CDC, art. 25, § 2º).

Responsabilidade pelos riscos da obra; o construtor é

responsável pelos riscos da obra, se ele forneceu os materiais, até o momento da

entrega da obra a quem a encomendou, se este não estiver em mora de receber

(CC, art. 611).

Se o empreiteiro fornecer apenas mão-de-obra, os riscos em

que não tiver culpa correrão por conta do dono (CC, art. 612).

Responsabilidade por danos ambientais; o construtor é

responsável por transgressões às normas de Direito Ambiental, sujeito a sanções

administrativas, penais e cíveis (CF, art. 225, § 3º). Considera-se poluidor a

pessoa física ou jurídica responsável, direta ou indiretamente, por atividade

causadora de degradação ambiental (Lei nº 6.938/81).

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Responsabilidade penal ou criminal; o construtor

responde na esfera criminal por fatos considerados crimes, como: desabamento

(queda de construção em virtude de fator humano); desmoronamento (resulta da

natureza); incêndio (quando provocado por sobrecarga elétrica), intoxicação ou

morte pro agrotóxico (previsão para os engenheiros de outra especialidade, além

da civil); intoxicação ou morte por produtos industrializados (idem, quando

manipulados na produção ou quando não conste indicação de periculosidade);

contaminação (idem, quando provocada por vazamentos de elementos

radioativos e outros).

Tais ocorrências são incrimináveis, havendo ou não lesão

corporal ou dano material, desde que se caracterize perigo à vida ou à

propriedade (Código Penal). O mesmo ocorre em relação aos fatos considerados

crimes ambienteis (Lei nº 9.605/98), como por exemplo: promover construção em

solo não-edificável, ou em seu entorno, assim considerado em razão de seu valor

paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso,

arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade

competente ou desacordo com a concedida; modificar a construção ou local

protegido por lei em razão de seu valor paisagístico, ecológico, cultural, sem

autorização da autoridade competente ou de forma diferente da autorização

concedida; destruir, danificar maltratar plantas em locais públicos ou privados;

destruir ou danificar florestas nativas ou plantas, entre outros.

Outras responsabilidade do construtor; Responsabilidade

trabalhista, decorrente das relações de trabalho entre o construtor, com o

empregador, e seus empregados87.

Responsabilidade social e previdenciária, pelo recolhimento

das verbas social e contribuições previdenciárias do pessoal empregado na obra.

Responsabilidade por tributos, referentes àqueles incidentes

sobre a atividade de construção.

87 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini, 2008, p.151.

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Responsabilidade técnico-administrativa, pelo atendimento

aos parceiros legais e regulamentadores da atividade profissional, ou de

exigências formais para a realização da obra.

3.3 RESPONSABILIDAE PELA PERFEIÇÃO DA OBRA

É um tipo de responsabilidade que não necessita constar em

contrato, pois trata-se de responsabilidade contratual, já que é inerente ao vínculo

existente entre o construtor e o dono da obra.

Conforme cita Meirelles:

A responsabilidade pela perfeição da obra é o primeiro dever legal de todo profissional ou firma de engenharia, arquitetura ou agronomia, sendo de se presumir em qualquer contrato de construção, particular ou publica, mesmo que não conste de nenhuma cláusula de ajuste. Isso porque, a construção civil é, modernamente, mais que um empreendimento leigo, além da peritia artis do prático do passado, a peritia techinica do profissional da atualidade”88.

É fundado nesse dever de perfeição, observa o citado

mestre, que o Código Civil autoriza quem encomendou a obra a rejeitá-la, quando

defeituosa, ou recebê-la com abatimento no preço, se assim lhe convir. Com

efeito, o Código Civil estabelece, no art. 615, que o dono da obra poderá rejeitá-la

se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos donos dados, ou das

regras técnicas em trabalhos dessa natureza89.

Ainda segundo Meirelles, tanto o autor do projeto quanto seu

executor respondem pela imperfeição da obra, até que se apure a quem cabe a

incorreção profissional, equiparável à culpa comum. Essa culpa profissional surge

com a inobservância de norma técnica, de método recomendável, ou ,

88 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de Construir. p. 252. 89 CC:” Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é

obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em trabalhos de tal natureza”.

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simplesmente, da falta de cuidados usuais na elaboração do projeto ou na sua

execução90.

3.4 RESPONSABILIDADE PELA SOLIDEZ E SEGURANÇA DA OBRA

A responsabilidade pela solidez e segurança da obra está

prevista no art. 618 do código Civil91. Trata-se de cláusula legal aplicável a

qualquer modalidade de construção, empreitada ou administração. Nota-se que o

dispositivo legal enfatiza a aplicação desse prazo a obras consideráveis, isto é, de

grande vulto, como é o caso da construção de edifícios.

São requisitos para que haja a responsabilidade pela solidez

e segurança da obra: (a) o vício de solidez e segurança da obra deve ser oculto

tendo em vista que o Código Civil não tutela o vício aparente, já que os considera

conhecidos e aceitos quando do recebimento; (b) a obra deve ser considerável,

de grande vulto, tais como a construção de edifício, casa, pontes, estradas; e (c) o

vício deve comprometer a solidez e segurança da obra, “de modo a criar um

estado de insegurança quanto a possibilidade de ruína92.

A responsabilidade pela solidez e segurança da obra deve

ser analisada em consonância com a responsabilidade profissional dos

engenheiros, arquitetos e construtores.

Em princípio, a responsabilidade pela perfeição da obra e

pela sua solidez e segurança é integral e única do construtor, mas pode ser

transferida ao autor do projeto ou partilhada com os seus equiparados

(incorporador), ou que nele interfiram conforme a culpa de cada um93.

90 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de Construir . p. 252. 91 CC:” Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o

empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo”.

92 ROCHA, Silvio Luiz Ferreira da. Responsabilidade Civil do Fornecedor. p. 83. 93 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de Construir. p. 254.

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3.5 RESPONSABILIDAE DAS PESSOAS ENVOLVIDAS NA CONST RUÇÃO

3.5 RESPONSABILIDADE DOS ENGENHEIROS E ARQUITETOS

Nas construções modernas verifica-se a intervenção de

inúmeros profissionais especializados nas diversas áreas da construção civil, não

havendo subordinação entre eles, tendo em vista que possuem o mesmo grau de

formação científica e a mesma responsabilidade técnica pelo serviço prestado.

O engenheiro, o arquiteto ou a sociedade construtora são

autônomos no desempenho de suas atribuições e respondem técnica e

legalmente por seus trabalhos, quer os executem pessoalmente, quer os façam

executar por prepostos ou auxiliares.

A lei número 6.496/77 instituiu a “A anotação de

responsabilidade Técnica” (ART) na prestação de serviço de Engenharia, de

Arquitetura e de Agronomia. Á qual fica sujeito todo o contrato, escrito ou verbal,

para a execução de obras ou prestação de quaisquer serviços profissionais

referentes ás categorias supralistadas. A ART define, para os efeitos legais, os

responsáveis técnicos pelo empreendimento de Engenharia, Arquitetura ou

Agronomia e deve ser efetuada pelo profissional no CREA (conselho Regional de

Engenharia, Arquitetura e Agronomia), conforme Resoluções emanadas do

CONFEA94.

A ART é instrumento básico para a fiscalização do exercício

da profissão, permitindo identificar se a obra ou o serviço estão sendo realizados

por profissional habilitado. Além disso, é a garantia técnica e contratual ao

94 Lei nº 6.496, de 7/12/1977: “Art 1º - Todo contrato, escrito ou verbal, para a execução de obras

ou prestação de quaisquer serviços profissionais referentes à Engenharia, à Arquitetura e à Agronomia fica sujeito à "Anotação de Responsabilidade Técnica" (ART)”.“Art 2º - A ART define para os efeitos legais os responsáveis técnicos pelo empreendimento de engenharia, arquitetura e agronomia. § 1º - A ART será efetuada pelo profissional ou pela empresa no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), de acordo com Resolução própria do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA)”.

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profissional e ao cliente na prestação de serviços ou obras de Engenharia,

Arquitetura ou Agronomia.

A ART é importante para a sociedade por diversos fatores:

em primeiro lugar porque permite que a sociedade identifique os responsáveis por

determinado empreendimento e as características do serviço prestado; em

segundo, porque, em caso de sinistro e acidentes, a ART identifica

individualmente os profissionais responsáveis, auxiliando na respectiva acareação

desses junto ao Poder Público; e, ainda, porque a ART garante os direitos básicos

estabelecidos no art. 6, inciso I, do CDC, ou seja, a proteção a vida, saúde e

segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos

e serviços considerados perigosos, pois condiciona tais práticas a profissionais

habilitados e identificados como são os engenheiros. Nesse sentido seria

interessante que a sociedade técnica estabelecesse uma periodicidade para a

realização de vistorias nas edificações, de modo geral, e que, em determinadas

situações, depois de longo tempo decorrido da sua conclusão, houvesse a

obrigatoriedade de renovação da ART, pois com o passar do tempo verificam-se

alterações de toda ordem que podem comprometer o seu desempenho – além de

inovações que trazem maior segurança -, sendo benéfico para a sociedade que

um profissional assuma novamente a responsabilidade técnica pela edificação,

pois isto certamente fará com que sejam revisados todos os subsistemas e

instalações, assegurando um desempenho satisfatório durante os anos

seguintes95.

Para os profissionais, a ART é importante porque garante os

direitos autorais, funciona como contrato de trabalho ou de serviço entre as

partes, define os limites de responsabilidade e viabiliza o Acervo Técnico.

Quando a concepção geral que caracteriza um projeto for

elaborada em conjunto por profissionais legalmente habilitados, todos serão

considerados co-autores do projeto, com os direitos e deveres correspondentes;

quando houver profissionais ou organizações de técnicos especializados que 95 DEL MAR, Carlos Pinto, Falhas responsabilidades e garantias na construção civil , Ed. Pini, 2008, p. 155.

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colaboram numa parte do projeto, deverão ser mencionados explicitamente como

autores da parte que lhes tiver sido confiada, devendo assinar todos os

documentos, como plantas, desenhos, cálculos, pareceres, relatórios, análises,

normas, especificações e outros documentos relativos ao projeto96.

Ainda no caso de projetos, o art 21 da Lei número 5.149, de

24 de setembro de 1966, prevê que, sempre que o autor convocar para o

desempenho de seu cargo o concurso de profissionais especializados e

legalmente habilitados, serão estes havidos como co-responsáveis na parte que

lhe diga respeito97. Quando o contrato englobar atividades diversas no campo da

Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia e no caso de co-autoria ou co-

responsabilidade, a ART deverá ser desdobrada, por tantos formulários quantos

forem os profissionais envolvidos na obra ou serviço98.

No caso de ampliação, prosseguimento ou conclusão de

qualquer empreendimento de Engenharia, Arquitetura ou Agronomia, dispõe o

parágrafo único do artigo 20 da Lei número 5.194/66 que a responsabilidade

técnica caberá ao profissional ou entidade registrada que aceitar esse encargo,

devendo o Conselho Federal adotar resolução quanto às responsabilidades das

partes já executadas ou concluídas por outro profissional99. O que se recomenda

96 Lei nº 5.194, de 24/12/1966: “Art. 19. Quando a concepção geral que caracteriza um plano ou,

projeto for elaborada em conjunto por profissionais legalmente habilitados, todos serão considerados co-autores do projeto, com os direitos e deveres correspondentes”.

“ Art 20 Os profissionais ou organizações de técnicos especializados que colaborarem numa parte do projeto, deverão ser mencionados explicitamente como autores da parte que lhes tiver sido confiada, tornando-se mister que todos os documentos, como plantas, desenhos, cálculos, pareceres, relatórios, análises, normas, especificações e outros documentos relativos ao projeto, sejam por eles assinados”.

97 Lei nº 5.194, de 24/12/1966: “Art. 21. Sempre que o autor do projeto convocar, para o desempenho do seu encargo, o concurso de profissionais da organização de profissionais, especializados e legalmente habilitados, serão estes havidos como co-responsáveis na parte que lhes diga respeito”.

98 CONFEA- Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Resolução nº 425, de 18/12/1998. “Art. 2º - A ART define, para os efeitos legais, os responsáveis técnicos pela execução de obras ou prestação de quaisquer serviços de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, objeto do contrato. §1º - Quando o contrato englobar atividades diversas no campo da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia e no caso de co-autoria ou co-responsabilidade, a ART deverá ser desdobrada, através de tantos formulários quantos forem os profissionais envolvidos na obra ou serviço”.

99 Lei nº 5.194, de 24/12/1966: “Art. 20, parágrafo único. A responsabilidade técnica pela

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é a elaboração de um laudo sobre as obras executadas para documentar aquilo

que já foi feito – e como foi feito – a fim de prevenir responsabilidades.

A fiscalização de obras e serviços técnicos está prevista

como atividade do engenheiro, do arquiteto e do engenheiro agrônomo, no artigo

7º, e da Lei, número 5.194/66100, de modo que o profissional é responsável pelos

serviços técnicos de fiscalização que prestar. Se houver, além do construtor, um

profissional fiscal da obra ou organização de técnicos designado para essa

função, responderão esses solidariamente com o construtor, conforme o contrato,

porque ficam todos vinculados profissionalmente e empenhados na perfeição

técnica da obra.

Em matéria de construção civil há uma cadeia de

responsabilidades que parte do autor do projeto e vai até o seu executor

técnico101.

ampliação, prosseguimento ou conclusão de qualquer empreendimento de engenharia, arquitetura ou agronomia caberá ao profissional ou entidade registrada que aceitar esse encargo, sendo-lhe, também, atribuída a responsabilidade das obras, devendo o Conselho Federal dotar resolução quanto às responsabilidades das partes já executadas ou concluídas por outros profissionais”.

100 Lei nº 5.194, de 24/12/1966: “Art 7º As atividades e atribuições profissionais do engenheiro, do arquiteto e do engenheiro-agrônomo consistem em: (...) e) fiscalização de obras e serviços técnicos”.

101 MEIRELLES, Hely Lopes, Direito de Construir p. 327.

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ANEXO (APRESENTAÇÃO)

Vício (do latim vitium) é um defeito grave que torna uma

pessoa ou coisa inadequada para certos fins ou funções; é qualquer deformação física ou funcional.

Defeito (do latim defectum) é imperfeição, deficiência,

deformidade, vício, enguiço. Nos dicionários jurídicos, as palavras vícios e defeito são

utilizadas em sentido equivalente, vício representando defeito e defeito representando vício.

Vícios ocultos simples:

� São aqueles que apresentam apenas essa característica (de serem

ocultos), sem gravidade tal que tornem a coisa imprópria ao uso a que é destinada ou lhe diminuam o valor.

� São deficiências reparáveis, sem comprometimento posterior ao uso ou ao valor do imóvel (encanamentos entupidos).

� Vícios ocultos redibitórios: � São os vícios ocultos, que a tornam imprópria ao uso a que se

destina ou lhe prejudicam sensivelmente o valor. ○ Local sujeito a enchentes ○ Barulho da casa de máquinas, etc.

Vícios ocultos redibitórios:

� Para que o vício seja redibitório, é necessário que atenda cumulativamente o seguinte:

○ Que surja em uma coisa adquirida por contrato comutativo (oneroso);

○ Que o vício exista no ato da contratação; ○ Que seja oculto (desconhecido do adquirente); ○ Que seja grave; ○ Que prejudique a utilização da coisa ou lhe diminua o valor, e ○ Que seja insanável

DIFERENÇA ENTRE VICIO E DEFEITO NO CDC

Vício, o produto ou serviço é viciado quando não apresenta qualidade esperada, mostrando-se inadequado ao uso a que se destina.

Defeito, o produto ou serviço defeituoso é aquele que se mostra perigoso, colocando em risco a segurança do consumidor.

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Para praticamente não existir vícios aparentes em um imóvel, algumas construtoras utilizam-se de meios em que ambas as partes ( cliente e construtor) posso checar mutuamente tais vícios e praticamente erradicá-los. Assim utiliza-se um termo de vistoria, onde é feita uma minuciosa checagem de itens pelo adquirente, dando aceite ou não na entrega do imóvel.

CONSTRUTORA XXXXXXXXX

Balneário Camboriú, . XXXXXXXXXXXXXXXX

ED. XXXXXXXXXXXXX

Rua XXXXXX, XXX Aptº XXX

Nesta Prezado Cliente,

TERMO DE VISTORIA — Apartamento XXX — Apresentamos-lhe o presente termo, a fim de que seja efetuada a vistoria do imóvel pra a entrega das chaves. 2. Quando da vistoria, sugerimos a V.Sa. verificar todos os itens relacionados a seguir, marcando com um “X” a respectiva coluna e registrando, no Anexo, as irregularidades por ventura encontradas. 3. Eventuais itens não constantes da relação abaixo deverão ser relacionados no “Relatório de Irregularidades”, anexo, aquelas porventura encontradas. 4. Solicitamos devolver-nos, datada e assinada, uma via deste conjunto.

ITEM DISCRIMINAÇÃO PERFEITO ESTADO

IRREGULAR (REL. ANEXO)

1 SALA

1.1 Pintura das paredes e tetos

1.2 Funcionamento porta e fechadura

1.3 Funcionamento das esquadrias de alumínio,

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1.4 Estado dos perfis, vidros e vedação

1.5 Pisos, azulejos e rejuntamentos

1.6 Soleiras

1.7 Rodapés ITEM DISCRIMINAÇÃO PERFEITO

ESTADO IRREGULAR (REL. ANEXO) 2 COZINHA

2.1 Pintura das paredes, portas e tetos

2.2 Funcionamento dos sifões e ligações

2.3 Funcionamento das esquadrias de alumínio,

2.4 Estado dos perfis, vidros e vedação

2.5 Pisos, azulejos e rejuntamentos

2.6 Funcionamento dos registros de pressão

2.7 Porteiro eletrônico

2.8 Churrasqueira

3 BANHEIRO SOCIAL

3.1 Pintura da porta e do teto

3.2 Funcionamento portas e fechaduras

3.3 Funcionamento das esquadrias de alumínio,

3.4 Estado dos perfis, vidros e vedação

3.5 Pisos, azulejos e rejuntamentos

3.6 Soleiras

3.7 Aparelhos sanitários

3.8 Bancada do sanitário

3.9 Funcionamento dos registros de pressão

3.10 Funcionamento dos sifões e ligações

4 BANHEIRO SUÍTE

3.1 Pintura da porta e do teto

3.2 Funcionamento portas e fechaduras

3.3 Funcionamento das esquadrias de alumínio,

3.4 Estado dos perfis, vidros e vedação

3.5 Pisos, azulejos e rejuntamentos

3.6 Soleiras

3.7 Aparelhos sanitários

3.8 Bancada do sanitário

3.9 Funcionamento dos registros de pressão

3.10 Funcionamento dos sifões e ligações

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ITEM DISCRIMINAÇÃO PERFEITO ESTADO

IRREGULAR (REL. ANEXO)

5 DORMITÓRIO SOCIAL

5.1 Pintura das paredes, porta e teto

5.2 Funcionamento portas e fechaduras

5.3 Funcionamento das esquadrias de alumínio,

5.4 Estado dos perfis, vidros e vedação

5.5 Pisos, azulejos e rejuntamentos

5.6 Soleiras

5.7 Rodapés

6 DORMITÓRIO SUÍTE

6.1 Pintura das paredes, porta e teto

6.2 Funcionamento portas e fechaduras

6.3 Funcionamento das esquadrias de alumínio,

6.4 Estado dos perfis, vidros e vedação

6.5 Pisos, azulejos e rejuntamentos

6.6 Soleiras

6.7 Rodapés

7 Limpeza geral do apartamento

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Atenciosamente,

CONSTRUTORA XXXXXXXXXXXXXXXX

_______________________ _____________________ XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Diretor Comercial ENGENHEIRO CIVIL _________________________________________________________ DECLARO que, nesta data, realizei a vistoria de recebimento da unidade acima identificada, cujo resultado assinalo abaixo:

Todos os itens vistoriados encontram-se em perfeito estado.

Os itens assinalados na coluna “Irregular” encontram-se discriminados no “Relatório de Irregularidades”, anexo.

Solicito suas providências, acaso necessárias, para solucionar as irregularidades assinaladas acima. Balneário Camboriú, _______________________

_________________________________

XXXXXXXXXXXXXXXXXX

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GARANTIAS NO CÓDIGO CIVIL E NO CÓDIGO DO CONSUMIDOR :

O prazo de garantia é aquele estabelecido na lei ou no contrato, durante o qual o construtor responde pelo vício, independentemente de culpa. Deve repará-lo, salvo se provar uma das causas excludentes da responsabilidade (mau uso, falta de manutenção, ação de terceiro, caso fortuito ou força maior).

A garantia que se extrai do CDC para a construção civil, é de

adequação do produto quanto à sua qualidade, quantidade e ao uso que razoavelmente dele se espera, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza. O art. 24 do CDC refere-se expressamente à garantia legal de adequação do produto ou serviço.

Como nem o CC nem o CD tratam especificamente das

garantias dos materiais utilizados em uma construção, segue tabela normativa da ABNT que trata deste assunto.

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NORMA DE DESEMPENHO - PRAZOS DE GARANTIAABNT/CB-02

PROJETO 02:136.01-001/1 - Tabela D.1 – Prazos de gara ntia

PRAZOS DE GARANTIA MÍNIMOSSistemas, Elementos,

Componentes e Instalações1 ano 2 anos 3 anos 5 anos

Fundações, estrutura principal, estruturas periféricas, contenções e arrimos

Segurança e estabilidade globalEstanqueidade de fundações e contenções

Paredes de vedação, estruturas auxiliares, estruturas de cobertura, estrutura das escadarias internas ou externas, guarda-corpos, muros de divisa e telhados

Segurança e integridade

Equipamentos industrializados (aquecedores de passagem ou acumulação, motobombas, filtros, interfone, automação de portões, elevadores e outros)Sistemas de dados e vos, telefonia, vídeo e televisão

InstalaçãoEquipamentos

Sistema de proteção contra descargas atmosféricas, sistema de combate a incêndio, pressurização das escadas, iluminação de emergência, sistema de segurança patrimonial

InstalaçãoEquipamentos

Porta corta-fogo Dobradiças e molas

Instalações elétricas tomadas / interruptores / disjuntores / fios / cabos / eletrodutos / caixas e quadros

Equipamentos Instalação

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NORMA DE DESEMPENHO - PRAZOS DE GARANTIAABNT/CB-02

PROJETO 02:136.01-001/1 - Tabela D.1 – Prazos de gara ntia

PRAZOS DE GARANTIA MÍNIMOSSistemas, Elementos,

Componentes e Instalações1 ano 2 anos 3 anos 5 anos

Instalações Hidraúlicas e Gáscolunas de água fria, colunas de água quente, tubos de queda de esgoto, colunas de gás

Integridade e vedação

Instalações Hidráulicas e GásColetores / ramais / louças / caixas de descarga / bancada / metais sanitários / sifões / ligações flexíveis / válvulas / registros / ralos / tanques

Equipamentos Instalação

Impermeabilização Estanqueidade

Esquadrias de madeira EmpenamentoDeslocamentoFixação

Esquadrias de Aço FixaçãoOxidação

Esquadrias de alumínio e de PVC Partes móveis(inclusive recolhedores de palhetas, motores e conjuntos elétricos de acionamento)

Borrachas, escovas, articulações, fechos e roldanas

Perfis de alumínio, fixadores e revestimentos em painel de alumínio

Fechaduras e ferragens em geral FuncionamentoAcabamento

Vidros Fixação

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NORMA DE DESEMPENHO - PRAZOS DE GARANTIAABNT/CB-02

PROJETO 02:136.01-001/1 - Tabela D.1 – Prazos de garantia

PRAZOS DE GARANTIA MÍNIMOS

Sistemas, Elementos, Componentes e Instalações

1 ano 2 anos 3 anos 5 anos

Revestimentos de paredes, pisos e tetos internos e externos em argamassa / gesso liso / componentes de gesso acartonado

Fissuras Estanqueidade de fachadas e pisos molháveis

Má aderência do revestimento e dos componentes do sistema

Revestimentos de paredes, pisos e tetos em azulejo / cerâmica / pastilhas

Revestimentos soltos, fretados, desgaste excessivo

Estanqueidade de fachadas e pisos molháveis

Revestimentos de paredes, pisos e teto em pedras naturais (mármore, granito e outros)

Revestimentos soltos, gretados, desgaste excessivo

Estanqueidade de fachadas e pisos molháveis

Pisos de madeiraTacos, assoalhos e decks

Empenamento, trincas na madeira e destacamento

Piso cimentoado, piso acabado em concreto, contrapiso

Destacamentos, fissuras, desgaste excessivo

Estanqueidade de pisos molháveis

Selantes, componentes de juntas e rejuntamentos

Aderência

Pintura / verniz (interna / externa) Empolamento, descascamento, esfarelamento, alteração de cor ou deterioração de acabamento

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RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR E RESPONSABILIDADE P ELA SOLIDEZ E SEGURANÇA DA OBRA:

O período de responsabilidade é aquele durante o qual o construtor responde pela boa execução do contrato. Em princípio é maior que o prazo de garantia. Decorre da obrigação contratual assumida pelo construtor de entregar a obra em perfeitas condições, de acordo com a boa técnica, e por essa obrigação pode ser chamado a reparar as falhas durante todo o prazo prescricional, que se inicia com a entrega ou conclusão dos serviços, ou, dependendo do caso, do surgimento do vício ou defeito. O vício de construção constitui uma inexecução da obrigação.

Em princípio, a responsabilidade pela perfeição da obra e pela sua solidez e segurança é integral e única do construtor, mas pode ser transferida ao autor do projeto ou partilhada com os seus equiparados (incorporador), ou que nele interfiram, conforme a culpa de cada um.

Se houver, além do construtor, um profissional fiscal da obra

ou organização de técnicos designada para esse trabalho, responderão esses solidariamente com o construtor, conforme o contrato, porque ficam todos vinculados profissionalmente e empenhados na perfeição técnica da obra.

Há uma cadeia de responsabilidades que parte do autor do

projeto e vai até o seu executor técnico . A jurisprudência tem admitido a responsabilidade do

construtor por defeitos referentes à solidez e segurança, mesmo depois de decorridos cinco anos.

Jurisprudência do STJ: Entendimento de que a responsabilidade do construtor pelos

vícios, manifestados no prazo de cinco anos, decorre da cláusula de garantia. Essa regra não exclui a ação de indenização uma vez comprovada a culpa do construtor .

Entendimento de que as falhas de construção como decorrentes de inexecução contratual e da falta de solidez e segurança do prédio, prescrevem em 10 anos.

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POR QUANTO TEMPO SUBSISTE A RESPONSABILIDADE DO CON STRUTOR POR VÍCIOS DE SOLIDEZ E SEGURANÇA?

1. GRUPO QUE DEFENDE POR TEMPO ILIMITADO:

Na doutrina anterior ao cdc e ao cc de 2002, formou-se o

entendimento no sentido de que os vícios referentes à solidez e segurança deveriam surgir no prazo de 5 anos, e poderiam ser reclamados no prazo prescricional de 10 anos.

A jurisprudência passou a admitir que os vícios referentes à

solidez e segurança poderiam ser reclamados do construtor, mesmo que surgidos depois do prazo de 5 anos da entrega da obra ou conclusão dos serviços, mas não estabeleceu uma limitação de tempo para o surgimento desses vícios.

2. GRUPO QUE DEFENDE POR TEMPO LIMITADO Nos sistemas construtivos para os quais a sociedade técnica

estima uma vida útil superior a 10 anos (estrutura - vida útil de 40/60 anos) a questão é complexa, porque envolve o confronto de princípios jurídicos e há diferentes enfoques do assunto.

O entendimento respalda-se em dois dos princípios

consagrados pela constituição federal, que são os da segurança e da estabilidade das relações jurídicas.

Baseia-se na premissa de que os prazos, de modo geral,

não podem permanecer indefinidos, sob pena de as relações sociais e jurídicas permanecerem sujeitas indefinidamente a revisões.

A lei limita o direito no tempo, para que seja atingida a

almejada estabilidade nas relações. Desse modo operam a prescrição e a decadência, ora extinguindo o direito, ora a pretensão, pelo decurso do tempo.

Quer seja pelo princípio da estabilidade, quer seja pelo princípio da segurança das relações jurídicas, parece razoável a fixação de um tempo de prova da construção ou edificação, a partir do qual o construtor ficaria exonerado de suas responsabilidades. (uma presunção técnica - probabilística).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já foi mencionado, o setor da construção é

fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. Por isso, da

importância de tomar medidas que garantam a sua qualidade, nomeadamente no

que à cobertura de danos diz respeito. A realidade nacional carece de um sistema

de responsabilidades e garantias que confira uma maior proteção aos

proprietários de novos imóveis, bem como de imóveis alvo de obras de

manutenção, reparação e reabilitação.

A legislação no Brasil encontra-se dispersa e é, por vezes,

ambígua, o que dificulta não só o seu estudo, mas também a sua interpretação.

Ao longo deste trabalho procurou reunir-se a legislação existente sobre esta

matéria como forma de facilitar a sua análise, bem como para fornecer um

documento útil a possíveis estudos posteriores.

No que concerne as garantias e responsabilidades, pode

constatar-se que no Brasil carece da implementação de algumas medidas. Nas

obras particulares apenas está prevista uma garantia de cinco anos,

independentemente do tipo de defeito, não existindo qualquer seguro associado.

Já a responsabilidade é tratada de uma maneira mais

detalhada, especificando todos os possíveis tipos de responsabilidade tanto do

construtor ou empreiteiro como de seus responsáveis técnicos, engenheiros,

projetistas entre outros.

Apôs este estudo teórico, quanto as hipóteses, têm-se que:

A hipótese 3 restou a mais adequada, pois tanto o Código

Civil como o Código de Defesa do Consumidor se complementam quando tratam

das responsabilidades e garantias.

É fundamental que o setor invista em melhoria contínua da

qualidade, o que certamente diminuirá o número de falhas no processo do

produto. Outro aspecto importante a ser construído é o de relacionamento. As

experiências com programas de relacionamento entre clientes e fornecedores

vêm constituindo não só uma das principais formas de disseminar os conceitos de

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qualidade, como tem sido também ferramentas multiplicadoras para o seu

aprimoramento, garantia de sucesso e competitividade, quando calcadas no

comprometimento mútuo em atender ás responsabilidades e obrigações em uma

relação de parceria, baseada na confiança.

Procedimentos voltados para a parceria no relacionamento

clientes/fornecedores, no caso específico da indústria da construção, têm-se

mostrado, na prática, para as empresas que os buscam, ora como alternativas de

sobrevivência, ora como vantagem competitiva, principalmente procurando

solucionar problemas de qualidade do produto final, prazo, produtividade,

desperdício e custos, sem, no entanto, estarem sendo motivo de ações com fundo

legal.

Com a realização deste trabalho reuniu-se legislação,

vigente no Brasil, que até a data se encontrava dispersa, o que dificultava o

estudo das práticas vigentes relativamente à cobertura de danos na construção. A

informação reunida ao longo deste trabalho constitui um documento que poderá

ser útil para estudos posteriores relativos a responsabilidades, garantias e

seguros na cobertura de danos na construção. Em nível de desenvolvimentos

futuros seria interessante se a análise realizada neste estudo fosse explorada e

se estendesse a países, que aqui não foram abordados.

As considerações aqui apresentadas indicam a importância

da temática na análise da prática destas responsabilidades e garantias e a

necessidade de reflexão e busca contínua e coletiva de toda empresa para a

superação de seus defeitos e conflitos, assim como para a utilização consciente e

adequada dessa ferramenta legal visando o constante aperfeiçoamento das

empresas de construção civil.

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