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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO TÉCNICO EM CONTABILIDADE (PÓS-MÉDIO) Por: José Paulino Marçal Orientadora: Profª. Geni Lima Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS … · A palavra cheques vem de um período em que se cobravam os primeiros impostos na Inglaterra, ... Foi justamente este o maior pecado da Escola

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CURSO TÉCNICO EM CONTABILIDADE (PÓS-MÉDIO)

Por: José Paulino Marçal

Orientadora:

Profª. Geni Lima

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CURSO TÉCNICO EM CONTABILIDADE (PÓS-MÉDIO)

Apresentação de monografia à

Universidade Cândido Mendes como

condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Docência do Nível Superior.

Por José Paulino Marçal

3

AGRADECIMENTOS

A todos que me deram força para concluir mais este Curso e em especial;

A minha esposar, por ser a pessoa maravilhosa que é;

Aos meus alunos que me ensinaram tanto;

A meu Pai e Mãe que muito me incentivaram e me hospedaram durante o

período das aulas;

Aos Professores do FORDOC e aos meus amigos do Grupo de trabalho do

Curso, que com orientações e exemplos de vida, fizeram meu caminho mais fácil;

À Direção, e todos os funcionários do Colégio Estadual Irmã Cecília Jardim

que me ajudaram de forma admirável, me fornecendo recursos e meios para a

confecção deste trabalho;

Aos meus colegas da TESOG da Prefeitura Municipal de Petrópolis, por me

ajudarem e entenderem, a necessidade de me ausentar em muitos momentos;

A todas as pessoas do Instituto A Vez do Mestre, que me receberam

com tanto carinho.

4

DEDICATÓRIA

A todos os candidatos e já alunos dos

cursos de contabilidade (em todos os

níveis) espalhados pelo nosso Brasil.

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RESUMO

A pesquisa histórica permite identificar, resgatar e analisar marcos

relevante da evolução da sociedade, no mundo e no Brasil. Um marco importante

é o impacto das ocorrências econômicas, políticas e sociais no ensino, pois tais

mudanças demandam profissionais mais bem preparados. Em função do exposto,

este trabalho apresenta o resultado de pesquisa realizada nas áreas de

Contabilidade, sobre a evolução do ensino de Contabilidade no Brasil, e o impacto

que alguns eventos econômicos, políticos e sociais tiveram nessa evolução.

Será apresentado o desenvolvimento do Corpo Docente nas Universidades

e o ensino da contabilidade, bem como a evolução a formação destes

professores.

Será discutida a pesquisa no ensino da contabilidade. O estudo

apresentará também um levantamento na formação em nível pós-médio, como

complemento aos objetivos do trabalho e por fim um relato do Colégio Estadual

Irmã Cecília Jardim, único em Petrópolis com o Curso Técnico em Contabilidade.

.

6

METODOLOGIA

A pesquisa é histórica, documental, bibliográfica e descritiva. Foi analisada

a legislação nacional sobre o ensino Comercial e contábil promulgada no Brasil,

do século XIX até os dias atuais. Foram identificadas ocorrências relevantes no

cenário nacional, a partir da chegada da Família Real, em 1808, e os efeitos que

esse fato e outros que se sucederam tiveram sobre a regulamentação do ensino

da Contabilidade no Brasil. Os resultados obtidos permitiram identificar como

algumas ocorrências econômicas, políticas e sociais afetaram o ensino contábil e

a forma como a legislação analisada evoluiu até os dias atuais.

Acredita-se que as informações do estudo podem gerar resultados positivos

para o planejamento da ação docente tanto das Instituições quanto dos

coordenadores para avaliação da formação de professores e o estudo e pesquisa

na contabilidade.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPITULO I

Contabilidade: Histórico e Evolução desta Ciência 08

CAPITULO II

Ensino da Contabilidade: Uma Análise Crítica 21

CAPITULO III

A Realidade Local 31

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 48

ÍNDICE 53

8

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

Contabilidade: Histórico e Evolução desta Ciência

A presente pesquisa tem como finalidade expor a importância da

contabilidade como ferramenta competitiva no mundo contemporâneo em que

estamos inseridos e evidenciar o não reconhecimento da profissão contábil, desde

seus cursos técnicos, e, mesmo esta sendo tão antiga. Como relata Iudícibus

(1997, p.31) “A essencialidade e, por que não dizer, a extraordinária beleza desta

nobre e antiga disciplina são por poucos reconhecidas, e estes poucos são

normalmente, pessoas de grande experiência e descortino.”

Muitos usuários, tanto internos como externos, não têm explorado todo seu

contingente de informações. Seja por desconhecimento das informações que se

pode obter ou por mera subestimação da ciência. A segunda alternativa acaba se

igualando à primeira, uma vez que o agente subestimador não conhece sua

importância em uma economia de mercado, como essa que praticamente o mundo

inteiro se encontra nesse século XXI.

Frente a esse cenário de competitividade acionária e o número cada vez

maior de multinacionais, torna-se até ignorância não entender que a contabilidade

é de extrema importância para o crescimento e o destaque em qualquer

empreendimento.

Cabe, especialmente, aos profissionais da área mostrar que o contador não

é um mero “guardador de livros” e nem um profissional substituível por sofwares.

9

A contabilidade como ciência antiga e de eficiência comprovada não pode

perder sua importância real. E é diante da certeza de sua eficiência que

procuramos evidenciar tal importância ao longo do tempo em alguns lugares do

mundo.

1.1 - A Origem da Contabilidade

Não há um conhecimento direto sobre quem inventou a contabilidade, mas

sabe-se que é uma ciência nobre e antiga que se confunde com a evolução

histórica do homem, onde a própria contabilidade conta essa história, com seus

registros contábeis valiosíssimos para os historiadores.

Podemos dizer que a contabilidade iniciou-se empiricamente com o homem

primitivo. Sua maneira rudimentar de contar já era um modo de inventário, pois

tinha como objetivo o controle do seu patrimônio, como rebanhos, fardos de

alimentos, instrumentos de caça e pesca e outros bens quantitativos. O que

mostra que o homem da antigüidade já tinha a preocupação com a riqueza e a

propriedade (como acontece atualmente). Desde os primórdios o homem teve que

ir aperfeiçoando sua maneira de contabilizar, na medida em que as atividades se

tornavam mais complexas.

De acordo com a história da contabilidade, primeiramente esse processo de

conta era feito na memória dos homens, logo após surgiram as gravuras, no

término da Era da Pedra Polida. Nas gravuras continham figuras e numerais.

Registravam-se a cara do animal e o número correspondente a quantidade

de cabeças. Os primeiros registros completos de contabilidade surgiram com a

civilização Sumério-Babilônica, esses povos faziam seus registros em peças de

argila. Foi com essa civilização que a contabilidade teve o seu verdadeiro

nascimento.

10

A contabilidade tinha como foco principal o controle, posteriormente com a

evolução do homem, tornava-se fundamental para o comércio. Com o comércio de

troca de bens, a contabilidade continuou quantitativa, tendo uma evolução lenta

até o aparecimento da moeda. Com a criação de sistemas monetários tal ciência

evoluiu significativamente.

Os Egípcios representaram um papel de extrema importância para essa

primeira evolução da contabilidade, pois, asseguram-se, que foram os primeiros

povos a utilizar um valor monetário em seus registros. As escriturações eram

feitas em papiros, e o sistema contábil tornava-se dinâmico com registros diários.

Há registros de 6000 anos antes de Cristo onde já havia uma fiscalização,

que era realizada pelo Fisco Real. No inventário egípcio, continha bens móveis e

imóveis, e já era feito, de modo primitivo, controles financeiros e administrativos.

Os Gregos evoluíram a forma de contabilizar dos Egípcios, em 2000 a.C. já

havia apuração do saldo com a confrontação de contas de Custos e Receitas e

estenderam a escrituração contábil para a administração pública e bancária.

No Período Medieval, denominado “Era Técnica” devido às grandes

invenções, houve o aperfeiçoamento e o crescimento da contabilidade, por causa

do advento do capitalismo. Nessa época havia de maneira rudimentar o Débito e o

Crédito. Nesse período iniciava-se o trabalho assalariado, tornando a

contabilidade mais complexa, onde surge pela primeira vez a conta “Capital”.

O método das Partidas Dobradas teve origem na Itália, surgindo como

conseqüência e necessidade da Contabilidade de Custos. Nessa mesma região

surgia uma das principais, talvez a principal, escola de contabilidade, sendo esta a

Escola Italiana, que será abordada no segundo tópico desse artigo.

11

A história da contabilidade mostra que nossa cultura deriva quase que

inteiramente de outras culturas e que a contabilidade não foi apenas conseqüência

da evolução do homem, e sim, um alicerce para que tal evolução acontecesse,

pois a partir do sistema de contas, que o homem se organizou, dando o passo

fundamental para uma evolução mais acelerada, deixando de ser primitivo e

passando a raciocinar de maneira organizada, conseqüentemente com a evolução

humana, a contabilidade se tornou o pilar fundamental para um mundo capitalista.

Podendo-se afirmar que um sistema de contabilidade não falta nem mesmo na

mais rudimentar das organizações.

1.2 - Origem dos Vocábulos da Nomenclatura da Área Contábil

A contabilidade é representada por um vocabulário rico que se associa com

sua evolução histórica. Uma herança deixada nos primórdios da contabilidade e

muitas vezes de origem fascinante. Portanto, os profissionais contabilistas têm

que se orgulhar de tal herança.

De acordo com Iudícibus (1997), a maior parte das palavras é proveniente

de um período de Renascença, período esse onde podemos citar fatos como: o

primeiro registro de um sistema completo de escrituração por partidas dobradas,

em Gênova na Itália; e a ligação entre contabilidade e a matemática com o livro do

frei Franciscano Luca Pacioli – Summa de arithmetica, geométrica, proportioni et

proportionalitá – onde incluía uma seção sobre sistema de partidas dobradas, e

apresentava o raciocínio que se baseava nos lançamentos contábeis.

A seguir um breve exemplo desse rico vocabulário:

Palavras que resultam da Renascença: débitos, créditos, lançamentos de

diário, razão, contas, balancetes, balanços etc.

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A palavra contabilidade surge na Itália com o termo contabilitá.

A palavra créditos, vem da mesma raiz da palavra credo, ou seja, algo em

que se acredita, como a profissão de fé cristã enunciada no Credo dos Apóstolos,

também pode referir-se a pessoas nas quais se acredita, como credores

(depositando nelas confiança, emprestando-lhes dinheiro). A origem latina é

credere, cuja contração é cr, nos lançamentos de diário.

O termo patrimônio originou-se junto com a idéia de herança, onde o legado

deixado por uma pessoa não era dissolvido, mas passado aos filhos ou parentes,

essa herança era denominada patrimônio, e logo o termo passou a ser utilizado

para quaisquer valores, mesmo que estes não tivessem sido herdados.

Dívidas, devedores, debêntures e débitos, são palavras que resultam da

base debere, ou dever, cuja contração é dr, nos lançamentos de diário.

A palavra cheques vem de um período em que se cobravam os primeiros

impostos na Inglaterra, onde fichas eram colocadas em um pano xadrez, em um

quadrado indicando dinheiro devido e em outro dinheiro pago, uma espécie

rudimentar e visual de partidas dobradas. O pano sendo xadrez, levou ao similar

inglês do Internal Revenue Service americano, denominado Exchequer. Mais

tarde, ao serem emitidos títulos públicos, eles se tornaram conhecidos como letras

do Exchequer.

1.3 - Escola Européia, em destaque a Italiana

O expoente mais importante dentro da contabilidade européia foi sem

dúvida a escola Italiana.

13

A contabilidade passou por um importante amadurecimento, tornando-se

uma disciplina adulta e completa do século XIII ao século XVII na Itália, quando

diversas cidades italianas serviram de entrepostos comerciais. A Escola Italiana foi

de grande importância para a difusão de tal ciência pelo mundo.

Também foram italianos os primeiros grandes escritores contábeis, como

Pacioli, Fábio Besta, Giuseppe Cerboné, Gino Zappa, entre muitos outros.

Frei Luca Pacioli em sua grande obra de 1494 (Tratactus de Computis et

Scripturis – contabilidade por partidas dobradas), já tratava da teoria contábil do

débito e do crédito, inventários, livros mercantis, registros de operações, lucros e

perdas, levando-se a acreditar que nessa época já se formava o “corpo” da

contabilidade que se conhece atualmente. Pode-se dizer, portanto, que foi nesse

período que a contabilidade mais evoluiu em sua teoria.

Os séculos seguintes foram caracterizados pelo avanço dessa teoria já

consolidada e pela implantação da prática.

No século XIX, período conhecido como científico, a teoria contábil avançou

de acordo com as novas necessidades que se apresentaram, mas foi nos EUA

que a contabilidade evoluiu para a prática.

Foi justamente este o maior pecado da Escola Italiana: o excesso de teoria.

Os autores da época, em sua maioria, preocuparam-se mais em mostrar a

contabilidade como uma ciência do que comprovar as idéias que surgiam.

Consistia na difusão idealista, sem pesquisas. Muitas das teorias não tinham

aplicação e o uso exagerado das partidas dobradas inviabilizava a flexibilidade

necessária.

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Pouco a pouco acontecia a queda do nível de algumas faculdades em

contraposição ao interesse com que as camadas de estudantes acompanhavam

os assuntos contábeis.

Todos esses pontos desfavoráveis da escola Italiana acabaram pesando

demais até que por volta de 1920 entrou em decadência.

Segundo Iudícibus (1997, p. 33) mesmo na Itália, nas faculdades do norte

do país, muitos textos apresentam influência norte-americana e as principais

empresas contratam na base de experiência contábil de inspiração norte-

americana.

1.3.1 - A Escola Norte-Americana

A Escola Norte-Americana ganhou importância com a decadência da

Escola Italiana, se diferenciando desta, basicamente por preocupar-se mais com a

prática do que com a teoria, fato que levou autores brasileiros a acreditarem que a

teoria norte-americana fosse fraca, o que não é verdade, como mostram as obras

The Theory and Measurement of Business Icome, de Edwards & Bell, trabalho de

Hendriksen e o trabalho de Mattessich.

É importante salientar o porquê da teoria e prática contábeis terem

avançado justamente nos EUA, país geograficamente distante dos centros onde a

contabilidade surgiu e se desenvolveu. Como assevera Iudícibus, por volta de

1920 já surgiam nos EUA às grandes corporations, o país enfrentava um

desenvolvimento significativo, o mercado de capitais também se desenvolvia e

passou a existir também o investimento pesado em pesquisas.

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Esses fatores associaram-se formando um verdadeiro campo fértil para o

crescimento de uma contabilidade nova, que se relacionava diretamente ao grau

de utilidade, de praticidade.

No que se refere às pesquisas, pode-se dizer que não há nada mais

positivo para evolução de uma ciência que a pesquisa e os EUA não pecaram

nesse sentido. Inédito no mundo, o Instituto dos Contadores Públicos Americanos

é um órgão de pesquisa contábil. O FASB (Financial Accouting Standard Board) e

o SÉC (equivalente a CVM do Brasil) têm contribuído também para pesquisas

sobre procedimentos contábeis.

Os diferentes setores da sociedade, como universidades, órgãos de

pesquisa, Bolsa de Valores, Governo, trabalham em equipe nas pesquisas sobre

princípios contábeis.

Os livros didáticos americanos também são mais práticos, sendo que os

autores partem dos relatórios da contabilidade para a partir daí chegar aos

detalhes dos lançamentos originários.

Porém, nem tudo foi positivo dentro da Escola Americana, esta apresentava

alguns defeitos, conforme relato abaixo:

1. Pouca importância atribuída à sistematização dos planos de contas, pelo menos

nos livros-texto;

2. Apresentação dos tópicos dos livros de forma não ordenada, dificultando

distinguir, às vezes, os de maior importância;

3. Pouca consideração – por parte dos cargos responsáveis pela edição de

princípios contábeis, pelo menos até pouco tempo atrás – pelo problema

16

inflacionário, embora algumas das melhores obras sobre “indexação” tenham sido

escritas por autores americanos e alemães. (IUDÍCIBUS, 1997)

Enfim, pode-se dizer que a Escola Americana, ao contrário da Italiana,

preocupou-se com o usuário da informação contábil. Os EUA continuando nesse

ritmo acelerado de desenvolvimento e dando prosseguimento ao investimento em

pesquisas através de seus diversos órgãos, como o American Institute of Certified

Public Accountants, o Special Commitees, a The Accounting Research Division, o

The Accounting Principles Board, o Financial Accounting Standards Board, a AAA

(American Accounting Association) e o SEC (Security Exchange Commssion),

pode-se dizer que a ciência contábil seguramente continuará evoluindo,

beneficiando não só os EUA, mas o mundo inteiro.

1.3.2 - A Contabilidade no Brasil

No Brasil houve influências tanto da Escola Italiana quanto da Escola

Americana, sendo que a primeira foi a que influenciou inicialmente o país, porém

foi na Escola Americana que o Brasil se baseou para formação da Lei das

Sociedades por Ações, que ocorreu a partir da Resolução nº 220 e da circular nº

179 do BC e para a implantação do ensino acadêmico.

A Escola de Comércio Álvares Penteado, criada em 1902, foi a primeira

escola especializada no ensino da contabilidade. Nesta instituição professores de

grandes nomes, como Francisco D’Auria, Frederico Herrmann Júnior, Coriolano

Martins, abriram precedentes para a pesquisa contábil. Segundo Iudícibus (1997),

D’Auria teve o mérito de ser o mais “brasileiro” dos autores famosos da época, no

sentido de que conseguiu formar o que se poderia chamar de embrião de uma

autêntica escola brasileira, mas foi na Faculdade de Ciências Econômicas e

Administrativas da USP, fundada em 1946, que o Brasil ganhou seu primeiro

17

núcleo efetivo, propiciando o surgimento de escritos contábeis importantes por

alguns desses mesmos professores.

Hoje, a contabilidade brasileira apresenta-se em uma situação paradoxal: a

qualidade das normas contábeis é superior à qualidade atual dos profissionais da

área. Tal fato se deve, em parte, a expansão do número de Universidades pelo

país, sendo a maioria privada, oferecendo cursos de baixa qualidade. Porém,

pode-se constatar que por outro lado existem contadores de grande qualificação,

capazes de editar normas de tal escalão.

1.3.3 - Perspectivas da Contabilidade e da Profissão Contábil no Brasil

Em termos de mercado de trabalho para o Contador as expectativas são

excelentes, pois estamos entrando em uma era em que se está começando a

reconhecer toda a importância da função contábil. Porém, com a evolução, exige-

se algo mais do profissional que atua nessa área. Essa nova visão de contador, é

de um profissional que esteja em constante evolução, que deixe de ter uma

postura de escriturador, “guarda-livros” ou “despachante”, e que se torne o “anjo-

da-guarda” da empresa, estando apto a tomar decisões, a liderar, ou seja, ser um

profundo conhecedor da empresa e se tornar o pilar indispensável para a

continuidade e o crescimento da mesma.

Essa postura, segundo Perez, apud Marion (2003, p.32):

“Vai mais além de acumular cifras para preparar um balanço para

efeitos impositivos. Vai mais além que registrar automaticamente

uma ou várias operações: um software adequado pode produzir

melhores rotinas”.

18

A Contabilidade é uma profissão que oferece um leque amplo de

alternativas profissionais, e atualmente algumas especializações têm oferecido

boa remuneração e satisfação profissional, como: administração financeira, custos

e auditoria, pois bons profissionais nessa área ainda é escasso.

Entretanto, para que uma evolução concreta ocorra, em especial no Brasil,

é necessário investir na formação de tais profissionais e pesquisas, e não

depender apenas de adaptações de princípios norte-americanos. Institutos como

IBRACON (Instituto Brasileiro de Contadores) vê-se na necessidade de investir

maciçamente em pesquisas mais aprofundadas de princípios contábeis, porém

isso exige recursos difíceis de serem obtidos. Ocorre a mesma necessidade com

Universidades dedicarem fundos e esforços à pesquisa contábil, no sentido de

treinar, manter e atualizar seu corpo docente, com a participação de docentes que

se dediquem inteiramente a tais pesquisas e à vida acadêmica, porém essa

carreira não é muito atrativa devido a remuneração que está abaixo do nível

salarial do mercado.

Apesar das dificuldades e do caminho para o progresso contábil no Brasil

ser muito longo, temos muitas possibilidades de ascensão. Segundo Iudícibus

(1997, p. 40):

Fomos expostos às duas grandes tendências contábeis, aprendemos os

pontos fortes e as fraquezas de cada uma delas e temos condições, se houver

muito esforço e recursos, de solidificar uma verdadeira escola brasileira de

Contabilidade.

1.4 - O Uso da Tecnologia na Contabilidade

A Contabilidade, como já vimos, era feita de forma bastante primitiva.

Primeiramente era apenas um cálculo mental, depois com o surgimento da escrita,

19

o homem começou a registrar as suas contas misturando números com figuras,

sendo feitas em pedras, argila (como os Sumério-babilônicos), ou até mesmo em

papiros (como os Egípcios), mas posteriormente, com os avanços da tecnologia,

com o invento da calculadora e em um passado próximo, do computador a

contabilidade se tornou mais ágil e dinâmica.

Atualmente, a escrituração contábil se dá de forma muito prática e rápida. A

inserção da figura do computador no processo de contabilidade compensou a

relação do binômio custo-benefício.

Os softwares específicos da área têm facilitado enormemente os cálculos,

os informes etc.

Os sítios também têm contribuído significativamente com a exposição dos

relatórios contábeis para os usuários externos e ajudado de maneira muito

importante às pesquisas sobre os assuntos contábeis diversos.

Mas o advento da tecnologia não substitui, de forma alguma, a figura do

Contador, sendo esse essencial para a empresa, primeiro porque é obrigatório,

segundo porque nenhuma máquina toma decisões, analisa fatores internos e

externos, busca soluções nem mesmo pensa de forma humana e flexível, portanto

nada substitui o ser humano. É uma idéia errônea pensar que máquinas

substituem o homem, elas são feitas para o auxilio na profissão, para a agilidade

das informações, e nesse sentido cumprem muito bem com o seu papel.

20

CAPÍTULO II

ENSINO DA CONTABILIDADE: UMA ANÁLISE CRÍTICA

2.1 - O Curso de Ciências Contábeis

O ensino superior de Contabilidade surgiu da necessidade de continuar o

processo de evolução do ensino comercial que tinha como primeira escola a

Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado iniciada em 1902. Machado

(1982:43) faz um breve histórico, onde se vê que os cursos comerciais tiveram

sempre como meta ser essencialmente práticos, fato que nem sempre

conseguiram atender à demanda das empresas, cuja organização ainda era

incipiente. Na medida em que as estruturas organizacionais se sofisticaram, surgiu

a necessidade de profissionais com formação mais sólida para participarem da

cúpula diretiva. É nesse sentido a defesa da criação dos cursos de Ciências

Contábeis, feita por Frederico Herrmann Júnior (nascido em 1896) que segundo

Lopes de Sá (1997:152) ele produziria muitas obras de valor, entre as quais se

destacou Contabilidade superior (cuja primeira edição é de 1936), em uma Editora

que ele mesmo fundaria, a Atlas, de São Paulo, que depois foi dirigida por seu

filho Luiz Herrmann. A Atlas tornou-se a principal base de editoração de obras

contábeis no Brasil.

A criação do curso de Ciências Contábeis se deu através do Decreto-Lei

7.988 de 22/09/45, e foi tido como o marco da criação dos cursos de Ciências

Contábeis no Brasil, devendo se destacar que na realidade o citado Decreto-Lei

criou o curso de Ciências Contábeis e Atuariais, conferindo aos formandos o grau

de Bacharel em Ciências Contábeis e Atuariais. Numa análise legal e crítica, a

criação dos cursos de Ciências Contábeis se deu efetivamente com o advento da

Lei 1.401 de 31/07/51, que desdobrou o curso de Ciências Contábeis e Atuariais

em dois, possibilitando aos concluintes receberem o título de Bacharel em

21

Ciências Contábeis. Vale salientar ainda que mesmo havendo uma questão

polêmica em relação às datas, no Brasil, comemora-se o Dia do Contador em 22

de setembro.

Da criação do curso até hoje, nota-se um crescimento exagerado na

quantidade de cursos autorizados pelo MEC e um ponto crítico em todo esse

processo é a qualidade do ensino, conforme Strassburg (2003:95) afirma que os

primeiros cursos de Ciências Contábeis, segundo dados do MEC, surgiram na

década de 40, nos estados do Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e

São Paulo. Tendo passado seis décadas, a quantidade de cursos chega a 500 ou

já passa disso. É uma quantidade grande de cursos dos quais não se conhece a

qualidade (...).

O problema da qualidade de ensino de Contabilidade é algo antigo e passa

por um fator determinante que é o professor, fator este já pesquisado na Revista

Paulista de Contabilidade por Salvador (1946) citado por Machado (1982:38),

onde coloca:

“O curso de contabilidade, ministrado nas escolas

de comércio, além de não satisfazer

completamente às nossas necessidades, é quase

de um modo geral ministrado com pouca

eficiência, visto a dificuldade de se encontrar bons

professores, além de outras circunstâncias – tais

como grande número de alunos em cada classe,

falta de uma boa disciplina – e mesmo a

deficiência das aulas quanto ao seu sistema

prático, que de prática propriamente dita pouco

tem”.

22

Verifica-se então que a melhoria dos cursos de Ciências Contábeis se dá

desde o início pelo compromisso e uma maior dedicação por parte dos

professores, tratando a docência com mais profissionalismo e não como mero

complemento do seu orçamento, como também uma participação mais adequada

das IES nos investimentos em recursos humanos e principalmente na capacitação

didático-pedagógica dos professores de Contabilidade.

2.2 - O Professor de Contabilidade

Valcemiro Nossa em 1999 afirma que no Brasil, infelizmente, o ensino

superior foi, ao longo dos anos, sendo sucateado em nome da democratização de

oportunidades. Prédios, equipamentos e, principalmente, professores foram

improvisados para que tivesse um número maior de cursos e vagas (...).

No mesmo trabalho aborda ele ainda que uma das principais deficiências

no ensino de Contabilidade é a “falta de preparo do corpo docente”.

Nota-se então que com a proliferação desenfreada das IES – Instituições

de Ensino Superior na área de Contabilidade essa situação se agrava e é gerada

uma necessidade grande de professores capacitados, porém em contrapartida, o

mercado não dispõe e surgem os professores improvisados, como afirma

Strassburg (2003:96): São aqueles que não têm uma experiência anterior com o

magistério e, sim, na maioria das vezes, no dia-a-dia das empresas. No caso da

Contabilidade, geralmente possuem a graduação ou, no máximo, especialização.

Para suprir essa carência de professores, as universidades públicas pela

falta de realização de concursos, contratam vários professores em início de

23

carreira para suprir essa lacuna existente, surgem o chamados “professores

substitutos” que com prazo determinado geralmente não podem realizar um bom

trabalho.

Fora isso ainda surgem os estudantes dos cursos de mestrado que sem

mesmo nunca terem entrado em uma sala de aula como professores, se arriscam

a implantar uma metodologia de ensino fundamentada na complexidade e nas

crueldades que seus professores aplicaram no decorrer do curso. Uma das

críticas que se pode fazer é que muitos tiveram uma carreira acadêmica

meteórica, passando da graduação para o mestrado e muitas vezes nunca

aplicaram o que falam em sala de aula na prática.

É notado que a preparação para o magistério passa por um conjunto de

detalhes que se não forem seguidos geram traumas irreparáveis em relação à

imagem do profissional que os estudantes desejam ser. O aluno tem sempre como

referencial o seu mestre e geralmente os professores de Contabilidade não tem

passado uma imagem adequada que inspire confiança na profissão que irão

seguir, pois na maioria das vezes não tem uma boa apresentação, ou seja, mal

vestidos e nem sempre essa postura condiz com o mundo dos negócios, local

onde os alunos, sonham estar inseridos futuramente.

Existem muitos professores bons nos cursos de Ciências Contábeis, mas

com certeza isso é fruto de um talento nato e somente isso não supre a carência

que existe, pois como sugere Valcemiro Nossa (1999) se o corpo docente não

estiver qualificado para ensinar a matéria com dedicação e compromisso –

qualquer disciplina que for dada, o professor dá o que sabe e da maneira como

sabe.

Ele ainda esclarece que:

24

“No ensino da Contabilidade, geralmente grande

parte dos professores é recrutada entre

profissionais de sucesso (!) em seu ramo de

atuação que, em sua maioria, estão

despreparados para o magistério, não tendo

noção do que é exigido para formação de alunos.

O professor não deve estar preocupado apenas

em passar para o aluno os conhecimentos que

sabe, mas fazer o aluno aprender a aprender e

para isso é preciso estar preparado”.

O estar preparado passa pela qualificação do corpo docente das IES e, no

intuito de reforçar o presente argumento, citamos ainda Mazzotti (2001: 130) que

diz:

Enquanto não conseguirmos qualificar todos os professores dos cursos de

Ciências Contábeis e obter todos os outros recursos necessários para a criação

do curso ideal que desejamos ou imaginamos, precisamos realizar as mudanças

que julgamos necessárias e aceitar todas as correções de rota, sempre que

necessário.

Verifica-se que os esforços para a melhoria do ensino e do exercício da

profissão contábil vêm de todos os lados – docentes, discentes e IES, mas é

necessário incentivar o estudante para a ‘pesquisa’ e criação de opiniões próprias,

onde não sofra influências de professores ou autores, pois o homem e o cidadão

são livres para formar suas próprias convicções. Temos vários professores que

por questões de preferência referenciam alguns autores e suas opiniões, mas

durante o curso de Ciências Contábeis, os estudantes devem cobrar de cada

professor e em cada disciplina uma variedade de opções em relação às

bibliografias e os materiais disponibilizados onde possam também contestar as

25

citações, fato este que possibilita a participação nas aulas, não como meros

expectadores e sim como formadores do conhecimento em sala de aula.

2.3 - Metodologias de Ensino em Contabilidade

Silva (2001: 40) em seu artigo Mudanças de paradigma no ensino da

Contabilidade esclarece tudo que desejamos expor sobre nossas convicções em

relação às metodologias de ensino utilizadas em Contabilidade onde demonstra

em seu pensar a necessidade de diversificar constantemente as técnicas, os

métodos, e, em conseqüência, o ensino-aprendizagem será um processo mais

produtivo e prazeroso. Apresenta ainda que o conhecimento é personalizado,

como afirmam as teorias construtivistas, e a realidade é dinâmica, o estudo da

Contabilidade deve ser também pessoal e precisa estimular o aluno a utilizar

métodos de reflexão permanente(...). O ensino precisa ser visto como convite à

exploração e à descoberta e não apenas transmissão de informações e de

técnicas.

A utilização de jogos de empresas e dinâmicas de grupo traz para a sala de

aula a realidade do exercício profissional, onde as pessoas se juntam, formam

suas equipes e definem seus objetivos, cumprem ordens e regras pré-definidas

nas atividades apresentadas pelos professores. São nos grupos que eles revelam

suas características peculiares, como: interesse, aptidões, intenções e desejos,

inibições, frustrações, expectativas e medos, afirmam Albiganor e Rose Militão

(2000:14).

Silva ainda expõe (2001:41):

“A qualidade necessária aos cursos de

Contabilidade impõe mudança de paradigma. Isto

significa abandonar o modelo emanado da

26

concepção pedagógica tradicional e tecnicista e

adotar uma pedagogia que busque a autonomia e

a reciprocidade entre educadores e educandos. A

formação de cidadãos críticos, responsáveis e

conscientes só pode ser atingida através de uma

concepção pedagógica que possibilite ao aluno

construir o conhecimento através de sua própria

experiência”.

Tal afirmação nos mostra que é necessário vivenciar em sala de aula através das

disciplinas, fatos e casos que confirmem a importância e necessidade da teoria

estudada. É com essa preocupação que os estudantes de Ciências Contábeis

devem viver em suas instituições, sempre cobrando uma metodologia de ensino

que mostre qual a relação do que está estudando com a realidade do mercado de

trabalho que irá enfrentar, não meras discussões teóricas e filosóficas sem

nenhuma aplicação prática.

2.3.1 - O Aluno de Ciências Contábeis

Na maioria das vezes o aluno do curso de Ciências Contábeis não teve

como primeira opção no vestibular estudar Contabilidade, outros cursos vieram em

primeiro lugar na sua preferência.

Uma outra quantidade de alunos veio para o curso pela perspectiva de

arrumar uma colocação no mercado de trabalho mais fácil ou pelo desejo de fazer

um concurso público e ter uma estabilidade financeira e, em último lugar a

influência por parte dos familiares, já que mesmo os pais sendo profissionais de

Contabilidade, não sonham o mesmo para seus filhos. Em face de toda essa

mistura de perfis dos estudantes de Contabilidade, ainda temos os Técnicos em

Contabilidade que vendo as dificuldades do mercado de trabalho, se arriscam

buscar uma vida melhor com a formação superior.

27

Com todos os tipos de alunos apresentados, temos ainda um indicador

negativo que é a situação de se trabalhar o dia inteiro e à noite ter que ir assistir

aula. O fator tempo cria uma grande dificuldade tanto para alunos como para

professores de se ter um bom aprendizado dos conteúdos e adaptando Marion

(2001: p. 9) o que vemos são as IES a cada semestre colocarem no mercado de

trabalho uma quantidade enorme de pessoas frustradas em terminar o curso de

Ciências Contábeis sem se sentirem aptas para o exercício da profissão de

Contador.

2.4 - O Currículo do Curso de Ciências Contábeis

A estrutura curricular atual em muitas faculdades de Ciências Contábeis

está baseada no método cartesiano de indução, ou seja, das partes para o todo,

vai de encontro com a opinião de Mazzotti (2001:129) que segue o método

sistêmico de ensino da Contabilidade, baseado na escola norte americana e

propõe esse método que apresenta uma visão global do curso, da ciência, da

profissão e de suas aplicações. É preciso ver o conjunto, as relações entre as

partes e não isolá-las, como se tivesse existência independente.

Deixando essa questão de lado, para evitarmos polêmicas desnecessárias,

entendemos que todas as IES elaboram seus currículos para os cursos de

Contabilidade, definindo o perfil do profissional que deseja formar e nem sempre o

perfil esperado combina com o realizado, fato este originado por determinações do

Estado – leia-se MEC, onde através dos seus processos avaliadores – PROVÃO,

SINAES e etc., não oferece liberdade para a instituição educativa e os alunos

(principais interessados), criarem, pensarem e criticarem os parâmetros aí

vigentes que nada colaboram para se produzir conhecimentos e também não

contribuem para a formação de cidadãos, pois antes de qualquer profissional,

existe um cidadão com direitos constitucionais para liberdade de expressão e a

uma educação sólida que lhe permita uma vida melhor na sociedade. Educação

28

sólida esta fincada na linha de raciocínio que é defendido na presente análise, ou

seja, a melhoria na qualidade de ensino e essa melhoria como afirma Nossa

(1999), não depende somente das mudanças curriculares e estruturais das

instituições de ensino superior, mas principalmente, da seriedade, dedicação e

compromisso assumido pelos professores na capacidade de formar bons

profissionais e não apenas informá-los sobre alguns conteúdos.

É necessária uma maior dedicação por parte dos professores de

Contabilidade em realizar um planejamento das aulas, pois como é percebido

pelos alunos, existe muito improviso nas aulas por falta de tempo ou até mesmo

pela falta de compromisso com o ensino, é esperado que os professores tentem

atingir com criatividade os conteúdos programáticos, agregando também um

pouco de cultura ao ensino-aprendizagem.

2.5 - Pesquisa Científica em Contabilidade

A pesquisa nos cursos de Ciências Contábeis é muito carente devido a

vários fatores, mas principalmente o fator disponibilidade de tempo é

determinante, pois a maioria dos alunos faz o curso no período noturno e para se

fazer pesquisa demanda tempo. As linhas de financiamentos para a pesquisa e a

concessão de bolsas para iniciação científica são poucas e também com um grau

de dificuldade exagerado para conseguí-las, as exigências são tantas que a

maioria desiste no meio do caminho. Outro ponto crítico é a quantidade reduzida

de professores pesquisadores no campo da Contabilidade, geralmente são os

mestres e doutores que despertam a necessidade de pesquisar e como o número

é pequeno dos detentores destes títulos, o trabalho da reflexão de forma

especializada torna-se pouco.

Para fundamentar o que estamos apresentando, citamos um dos maiores

pesquisadores na área contábil, Marion (1998: 2) onde declara: Ironicamente

29

podemos dizer que o professor de Contabilidade, de maneira geral, constitui uma

das categorias que menos pesquisa na área contábil. Não nos referimos à

pesquisa de novas descobertas na área profissional, mas sim no que tange ao

ensino da Contabilidade.

Por muitos autores já foi dito que a universidade ou qualquer instituição de

ensino superior é o local mais adequado para a investigação científica, mas

mesmo assim, com todo ambiente apropriado para tal, isso não ocorre, pois

segundo Marion (2001:11) Elas se propõe simplesmente a transmitir o

conhecimento através de mera cópia daquilo que já existe. Não criam, não

inovam, não ensinam os alunos a construir conhecimento. Tal situação resulta no

perfil profissional que o Curso de Ciências Contábeis forma, ou seja, pessoas com

um grau de limitação muito grande, que não repensam suas ações ou buscam

novos horizontes para o exercício profissional, desejam somente fazer concursos

públicos ou montar um escritório de Contabilidade.

A ânsia de se descobrir coisas novas, o ato de investigar determinado

assunto, gera um crescimento cultural muito grande, pois quando estamos

pesquisando um assunto, nos deparamos com muitos outros que nunca

imaginávamos existir ou que nunca havíamos pensado sobre aquilo. A prática da

leitura é algo que deve fazer parte do nosso dia a dia e não somente leituras sobre

legislação societária, tributária e técnica, mas também na direção reflexiva e fora

de nossa área.

Algumas ações foram tomadas por parte das IES para incentivar a pesquisa

científica, uma delas foi à obrigatoriedade de entrega de uma monografia para

conclusão do Curso de Ciências Contábeis, mas na prática, pela falta de tempo

dos alunos para pesquisar e dos professores para orientar, esse trabalho tornou-

se mera cópia de trabalhos prontos disponibilizados ou vendidos através da

30

internet, uma verdadeira brincadeira de faz de conta, onde em nome de uma

formatura, são entregues trabalhos de qualquer maneira , sem um critério mais

apurado por parte de quem avalia essas chamadas ‘pesquisas’ no campo da

Contabilidade. Nessa ordem, devemos concordar com Marion (2001:11) que

afirma em relação as IES: Podemos dizer que estas instituições deveriam ser

verdadeiras usinas geradoras de ‘desenvolvimento contábil’, de construção de

conhecimento, de competência contábil e, por que não dizer, da excelência

contábil, mas isso não existe, faltam pesquisas.

31

CAPÍTULO III

A Realidade Local

3.1 - Histórico

O curso Técnico em Contabilidade vem crescendo em grande escala nos

últimos anos, mas o Colégio Estadual Irmã Cecília Jardim, situado na Rua

Machado Fagundes, 316, Petrópolis, Rio de Janeiro é o único da Região Serrana

que possui o curso pós-médio em Contabilidade

Alto nível de conhecimento em pouco espaço de tempo, pois são 03 módulos

distribuídos em 18 meses, excelente aceitação e boa remuneração profissional. A

melhor e maior porta de entrada para quem ainda busca experiência no mercado

de trabalho. Mercado expressivo aqui na região e nas cidades vizinhas. Profissão

registrada e regulamentada pelo Conselho Regional de Contabilidade, um dos

órgãos de maior credibilidade do País, dispondo de convênios com Universidades,

Fundações, oferecendo cursos em diversas categorias, além de bolsas integrais

ou parciais de estudos, empregos e estágios.

3.2 - Aulas

As aulas são proferidas num clima de liberdade e democracia, onde os

alunos participam num ambiente de seriedade e ao mesmo tempo de

descontração para que os alunos desenvolvam suas habilidades e para que

percebam que o sucesso de sua aprendizagem depende na sua maior parte da

participação de todos nas aulas.

Eles são estimulados ao máximo a participar das aulas, (principalmente)

depois desse curso que estou completando, onde aprendi algumas técnicas de

incentivo a participação, para que possam buscar a integração do saber científico

com o saber empírico da escola com a comunidade.

32

O conteúdo do programa é sempre feito por ocasião do encontro anual dos

professores no início do ano letivo.

Ao mesmo tempo em que levamos conhecimento técnico e pedagógico,

também incentivamos a todos a serem perseverantes na escolha feita no primeiro

ano do Curso afim de que possam obter uma linha de trabalho para a vida.

3.2.1 - Planejamento

É feito em grande parte no horário de permanência na escola, onde disponho

de janelas (Horário Vago) e que utilizo para tal e outra parte é feita em minha

residência, sempre que posso.

3.3 - Avaliação do Processo de Ensino

A avaliação do processo de ensino é feita normalmente com provas

periódicas (Bimestrais), trabalhos, projetos e debates.

Exercícios são dados sempre que um novo tema é dado aos alunos

evolvendo exercícios do tipo:

a) Fixação: Em grupo, Individual e por graus de dificuldade;

b) Exercícios Complementares: Soluções diferenciadas.

No que se refere aos projetos, fomos convidados a participar de três deles

durante ao ano letivo de 2002, envolvendo as seguintes atividades (Pousada,

Cinema e Academia de Ginástica).

33

3.4 - Conselho de classe

Devido a natureza do colégio os Conselhos de Classe são efetuados a

cada bimestre e conta com a participação da maioria dos professores e aqueles

que por algum motivo não conseguem participar do Conselho tomam

posteriormente ciência dos temas ali discutidos .

Nos conselhos, principalmente os que ocorrem nos terceiro e quarto

bimestres, com o objetivo de torná-los menos cansativos são discutidos os

assuntos gerais e estuda-se somente os casos dos alunos que estão fora da

média geral e que precisam de alguma forma receber algum tipo de orientação e

incentivo para que se esforcem mais e venham melhorar no bimestre seguinte.

3.5 - Material de Apoio

A Instituição dispõe de retroprojetor, projetor de Slides, Vídeo com TV., que

são utilizados por todos os professores quando programados junto ao inspetor do

colégio. Também dispõe colégio de um acervo de fitas educativas em áreas afins

que também são utilizadas pelos professores.

3.6 - Participação da Feira de Conhecimentos

Todos os alunos participam deste evento por se tratar de para a maioria de

programa curricular normal e para outros Temas Transversais, mas que são

palpitantes e sempre agregam valores em outras matérias.

É notável como a participação é unânime, pois o colégio no dia da Feira de

Ciências, não faz outra coisa senão apresentação dos trabalhos, que envolve

professores, funcionários, familiares e pessoas que são convidadas a fazerem

apresentações durante o evento.

34

3.7 - Anexo I - Aulas Passeio

No que se refere aos novos projetos a serem adotados e executados durante

o curso, os que mais chamam atenção e que os alunos gostam de participar são:

Visita ao Escritório de Contabilidade e a Associação dos Profissionais de

Contabilidade de Petrópolis, Visita a Expo Petrópolis, no Palácio Quitandinha,

Visita à Delegacia da Receita Federal (Nova Iguaçu), Visita ao Supermercado

Sendas (Para mostrar o conteúdo de Custeio de Estoques), Palestra sobre o MEI

(Microempresário Individual), Dia do Contador (25 de abril de cada ano –

Convênio com a Universidade Católica de Petrópolis).

35

CONCLUSÃO

Tudo leva a crer que a melhoria dos cursos de Ciências Contábeis passa

por uma maior participação do corpo docente e discente na constituição de

normas e avaliações ligadas ao curso, pois quando vemos, as formatações já

estão prontas e definidas, simplesmente devemos cumpri-las e isso não passa de

mero autoritarismo governamental para atender seus próprios interesses e

comodidades.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – 9.394 de

17/12/1996 estabelece em seu artigo 52 inciso II que as IES deverão ter em seus

quadros: Um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de

mestrado e doutorado.

Numa visão crítica em relação ao curso de Ciências Contábeis, vemos que

tal legislação terá dificuldades para ser cumprida quando atingir o prazo

determinado, pois levando em conta a escassez de cursos em nível de mestrado e

doutorado, onde somente temos o doutorado da USP – Universidade de São

Paulo e alguns poucos mestrados espalhados pelo Brasil, é fato real que se fosse

criada uma legislação mais clara em relação à exigência de titulação para

professores em Contabilidade, provavelmente o MEC teria que fechar todos os

cursos em atividade no país, pois se são poucos os mestres e doutores em outras

áreas, imaginem em Contabilidade, seria impossível e impraticável o cumprimento

de uma norma nessa ordem.

Nota-se então que o curso de Ciências Contábeis passa por um momento

crítico em relação à titulação de professores para o exercício do magistério. A

pouca produção científica e pesquisa em nossa área justifica-se, pelo fato de

36

poucos professores terem alguma titulação em nível de mestrado e doutorado e

sim mera experiência profissional, que para as exigências legais, não tem tanta

importância.

Espera-se que as IES façam a sua parte no presente contexto, criando

estratégias e planos para a carreira docente e que realmente valorizem o

professores de Contabilidade para que eles tenham o reconhecimento do seu real

valor na formação profissional do Contador. É necessário que as IES possibilitem

a criação de metodologias de ensino onde sejam realizados treinamentos com os

professores e tentem sanar as deficiências na utilização de recursos modernos

com o apoio da informática no ensino superior de Contabilidade. Tudo indica que é

necessária a criação de mais laboratórios para servirem de suporte às disciplinas

ministradas no curso de graduação em Ciências Contábeis, bem como, incentivar

o uso de jogos de empresas, estudos de casos e recursos computacionais. Cabe

também as IES, manter professores em regime integral, investir na formação e

aperfeiçoamento do seu quadro de docentes e estimular a pesquisa e a

participação em congressos. Tudo isso resultando numa melhor remuneração

para que possa haver uma maior dedicação e exclusividade por parte dos

professores, evitando-se assim que os docentes fiquem alternando-se de uma

instituição para outra em busca de sua independência social e econômica.

Que os discentes cobrem seus professores de forma constante, os novos

conhecimentos e nas aulas possam participar ativamente do processo ensino-

aprendizagem e não como meros expectadores em busca de uma simples nota

para aprovação nas disciplinas.

Por fim deve-se lembrar que o professor é peça fundamental no processo

ensino-aprendizagem e nos dias de hoje, ensinar bem é saber selecionar os

37

assuntos em face ao grande número de informações disponíveis, principalmente

na Internet e lembrar-se que não podemos esperar verdades absolutas, pois todo

conhecimento é inacabado. Que os professores promovam a interação entre ele e

seus alunos, sempre numa postura mais humilde, descendo do pedestal onde

alguns se colocam e rompendo barreiras que o ensino conservador impôs ao

longo dos anos. A atuação do professor de Contabilidade deve estar preocupada

com a metodologia utilizada, a motivação para o estudo do conteúdo e também

com o processo de comunicação, pois nota-se que muitos professores não

conseguem ser claros em suas exposições e nem conseguem explicar o assunto

que têm a transmitir.

Diante do exposto e acrescendo o problema de se ter poucos colégios que

promovam o contato do aluno com a contabilidade, e, nenhuma movimentação

dos órgãos governamentais, conclui-se então que cabe às forças internas das

escolas existentes, comprometidas com a melhoria na qualidade do ensino da

Contabilidade, resgatar as observações apresentadas nesta análise. Para isso

parece necessário estabelecer laços de cumplicidade entre os docentes,

discentes, o Estado e até mesmo as IES em uma luta democrática e aberta para

promover a produção de conhecimentos que espelhem a realidade do exercício da

profissão de Contador, produzindo e fortalecendo uma cultura inovadora, aberta e

crítica quanto aos assuntos que estejam a sua volta.

38

BIBLIOGRAFIA

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MARTINS, Eliseu; LOPES, Alexsandro Broidel. Teoria da Contabilidade: nova

abordagem. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2005

40

ANEXOS I

Visita ao Escritório de Contabilidade e à Associação de Contadores de Petrópolis

Visita à Delegacia da Receita Federal (Nova Iguaçu).

41

ÍNDICE INTRODUÇÃO 08

CAPITULO I 08

Contabilidade: Histórico e Evolução desta Ciência 08

1.1 - A Origem da Contabilidade 09

1.2 - Origem dos Vocábulos da Nomenclatura da Área Contábil 11

1.3 - Escola Européia, em destaque a Italiana 12

1.3.1 - A Escola Norte-Americana 14

1.3.2 - A Contabilidade no Brasil 16

1.3.3 - Perspectivas da Contabilidade e da Profissão Contábil no Brasil 17

1.4 - O Uso da Tecnologia na Contabilidade 18

CAPÍTULO II 20

Ensino da Contabilidade: Uma Análise Crítica 20

2.1 - O Curso de Ciências Contábeis 21

2.2 - O Professor de Contabilidade 22

2.3 - Metodologias de Ensino em Contabilidade 25

2.3.1 - O Aluno de Ciências Contábeis 26

2.4 - O Currículo do Curso de Ciências Contábeis 27

2.5 - Pesquisa Científica em Contabilidade 28

CAPÍTULO III 31

A Realidade Local 31

3.1 - Histórico 31

3.2 - Aulas 31

3.2.1 - Planejamento 32

3.3 - Avaliação do Processo de Ensino 32

3.4 - Conselho de classe 33

3.5 - Material de Apoio 33

3.6 - Participação da Feira de Conhecimentos 33

3.7 - Anexo I - Aulas Passeio 34

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 40

ÍNDICE 41

42