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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS – GRADUAÇÂO EM “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NO DIREITO DO CONSUMIDOR Por: Rodrigo Sergio Requião Menezes Santos Orientador Prof: Jean Alves Almeida Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS - avm.edu.br · as questões de fato”. ( Ada Pellegrini Grinover, 1998, p.99) Como já ressaltado a prova é elemento básico e essencial para a

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS – GRADUAÇÂO EM “LATU SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NO DIREITO DO

CONSUMIDOR

Por: Rodrigo Sergio Requião Menezes Santos

Orientador Prof: Jean Alves Almeida

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS – GRADUAÇÂO LATU SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NO DIREITO DO

CONSUMIDOR

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Processo Civil

Por: . Rodrigo Sergio Requião Menezes Santos

3

AGRADECIMENTOS

Em especial aos meus pais Regina e

Marcelo,Dr. Pimenta Junior (mestre e

amigo), a minha esposa Bianca, os

professores do Curso e a outras

pessoas que moram no meu coração e

de uma forma ou de outra contribuíram

para a realização deste sonho.

4

DEDICATÓRIA

.A minha mãe Regina, ao meu pai

Marcelo, e ao minha esposa Bianca por

estarem sempre ao meu lado me

apoiando e me ajudando a ser um ser

humano cada vez melhor.

5

RESUMO

A sociedade atual passa por constantes transformações, com a luta diária pela

proteção dos direitos dos consumidores. A qualidade de vida, a segurança e a

saúde mental e física são os objetivos constantes a serem alcançados. A

inversão do ônus da prova prevista no Código de Defesa do consumidor é uma

das inovações mais importantes trazidas por esta Lei, a Lei n. º 8.078 de 1990,

que criou esse mecanismo para que, sendo o consumidor hipossuficiente em

relação aos conhecimentos técnicos do produto ou da prestação do serviço, e

possuindo ainda este, alegações verossímeis, possa o magistrado determinar

a inversão do ônus da prova.

6

METODOLOGIA

As reflexões aqui apresentadas tomam como base a experiência no ramo e

como aluno de direito um estudo descritivo, elaborado através de pesquisa

bibliográfica a partir do código de defesa do consumidor, bem como leitura de

obras doutrinarias, obtidas em livros e internet. O crescimento deste campo, e

o aperfeiçoamento do processo civil possibilitam estas inovações importantes

para sociedade, trazidas nesse caso pela Lei n.º 8.078 de 1990, o já conhecido

Código de Defesa do Consumidor que inovou nosso ordenamento jurídico,

trazendo o conceito da inversão do ônus da prova nas Relações de Consumo.

Foi realizada uma análise sobre o conceito de prova, das relações de

consumo, bem como o momento ideal para a aplicação da inversão do ônus

prova e o Código de Defesa do Consumidor.

7

SUMÁRIO

INTRODUCÃO 08

CAPITULO I DA PROVA 10

CAPITULO II DO ÔNUS DA PROVA 17

CAPITULO III O MOMENTO PROCESSUAL PARA A INVERSÃO DO ÔNUS

DA PROVA 29

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA 52

INDICE 54

8

INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento econômico, a globalização, as relações de

bens de consumo são constantes no mundo em que vivemos, na verdade em

todos os momentos da vida das pessoas. Sendo assim, não é de se espantar

que resultem dessas relações inúmeros conflitos, garantir a efetividade do

principio da igualdade, bem como assegurar os meios para que os direitos do

individuo e da coletividade cabe ao Estado.

Para esclarecer melhor, um exemplo seria a compra de uma

televisão, e em dois dias ela começa a fazer ruídos no som, desta forma fica

fácil notar que surgiu um conflito pois o consumidor comprou o produto novo

pensando estar em bom estado de funcionamento, e, na realidade, adquiriu um

bem problemático, mas, este é apenas um simples exemplo corriqueiro e

isolado.

No intuito de frear a atitude de fornecedores inescrupulosos que

lesam o patrimônio dos consumidores, a sociedade começou a clamar por uma

proteção às relações de consumo. Surgiram assim leis protetoras dos

consumidores em diversas partes do mundo, e como não podia ser diferente,

também no Brasil.

A Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, criou o Código de Defesa

do Consumidor, e trouxe uma serie de princípios especiais voltados para a

regulação de todas as relações de consumo e inovações tão expressivas, que

alguns autores definem o diploma como criador de um microsistema legal, ou

seja, determina um universo que possui características próprias, e que para a

sociedade contemporânea, que é uma sociedade de produção e de consumo

de massa, é imprescindível, porque tais regramentos servem para assegurar o

9

necessário equilíbrio das relações de consumo e garantir uma prestação

jurisdicional justa.

O Código de Defesa do Consumidor prevê a inversão do ônus da

prova, um instrumento que veio para facilitar a defesa dos interesses dos

consumidores em juízo. O referido instrumento segue uma inovadora linha de

raciocínio, que entende que isonomia é tratar os desiguais desigualmente.

Seguindo esta linha de raciocínio, a prova é elemento essencial para a

resolução dos conflitos. As produções da prova e da contraprova pelos

litigantes no processo são inerentes ao principio do contraditório e da ampla

defesa.

10

CAPÍTULO I

DA PROVA

1.1 – Considerações Gerais

Este instituto, de importância fundamental para a solução

dos conflitos de interesse, tem ampla abrangência em nosso ordenamento

jurídico na medida em que a atividade probatória é parte integrante do

processo judicial.

A importância singular deste instituto é verificada quando

das alegações feitas pelas partes, pois as afirmações feitas pelo autor podem

ou não corresponder à verdade, assim como as alegações da parte ré.

Vejamos os ensinamentos da Professora Ada Pelegrini

Grinover:

“As duvidas sobre a veracidade das informações de fato

feitas pelo autor ou por ambas as partes no processo, a

propósito de dada pretensão deduzida em juízo,

constituem as questões de fato que devem ser resolvidas

pelo juiz, a vista da prova dos fatos pretéritos relevantes. A

prova constitui, pois, o instrumento por meio do qual se

forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência de ou

inocorrência dos fatos controvertidos no processo.

11

No dizer das Ordenações Filipinas, ‘a prova é o farol que

deve guiar o juiz nas suas decisões’(Liv. III, Tit. 63) sobre

as questões de fato”. ( Ada Pellegrini Grinover, 1998, p.99)

Como já ressaltado a prova é elemento básico e essencial

para a solução dos conflitos de interesse, e neste sentido, não podemos deixar

de citar sua relação com o principio do devido processo legal, previsto em

nossa constituição em seu artigo 5°, inciso LIV.

Segundo o renomado Professor Nelson Nery Junior, trata-

se de principio fundamental do processo civil, sendo considerada a base que

sustenta os demais princípios.

Este princípio proporciona aos litigantes a oportunidade de

apresentarem em juízo as provas constitutivas de suas pretensões. A

produção da prova e contraprova apresentadas pelas partes são inerentes ao

principio do contraditório e da ampla defesa.

1.2 - Conceito de Prova

O conceito da prova é vasto de extensa conceituação e

gera uma diversidade de interpretações, mas se justifica pela ausência de

precisão da palavra na legislação, pois hora significa meio de prova e em

outras ocasiões refere-se ao ato processual instrutório ou conjunto de

elementos voltados para o convencimento do Magistrado acerca dos fatos

alegados.

12

Simplificando, prova é todo e qualquer meio de percepção

empregado pelo homem com a finalidade de se comprovar a veracidade de

uma alegação.

No âmbito processual, definimos como a busca pela

demonstração da existência ou a veracidade dos fatos alegados pelas partes,

ou seja, é o meio pelo qual as partes podem demonstrar os fatos constitutivos

do seu direito e, assim, fazer valer sua pretensão jurídica.

O Ilustre Professor Arruda Alvim conceitua prova como:

“os meios definidos pelo direito ou contidos por

compreensão num sistema jurídico, como idôneos a

convencer o juiz da ocorrência de determinados fatos, isto

é, da verdade de determinados fatos, os quais vieram ao

processo em decorrência de atividade principalmente, dos

litigantes”. (Arruda Alvim, 2003, p.460)

Conceito similar também é apresentado pelo Professor

José Frederico Marques:

“Meio e modo utilizados pelos litigantes com o escopo de

convencer o juiz da veracidade dos fatos por eles

alegados, e igualmente, pelo magistrado, para formar sua

convicção sobre os fatos que constituem a base empírica

da lide. Torna-se possível reconstruir, historicamente, os

acontecimentos geradores do litígio, de sorte a possibilitar,

com a sua qualificação jurídica, um julgamento justo e

conforme o Direito”. (José Frederico Marques, 1999,

p.336)

13

Desse modo, processualmente, é todo elemento que

possa contribuir para a formação da convicção do juiz com relação a da

existência de determinado fato controvertido pode ser conceituado como

prova.

Assim, qualquer duvida existente sobre alegações das

partes, se constituem em questões de fato que deverão ser dirimidas pelo juiz,

com base nas provas produzidas nos autos.

Neste sentido, evidencia-se que todas as provas são

dirigidas ao juiz, com a finalidade exclusiva de seu convencimento.

Assim ensina o Ilustre Professor Vicente Greco Filho:

"A finalidade da prova é o convencimento do juiz, que é o

seu destinatário. No processo, a prova não tem um fim em

si mesma ou um fim moral ou filosófico: sua finalidade

prática, qual seja, convencer o juiz. Não se busca a

certeza absoluta, a qual, aliás, é sempre impossível, mas a

certeza relativa suficiente na convicção do magistrado."

(Vicente Greco Filho, 1996, p.233)

Com base nas definições doutrinárias apresentadas

podemos observar a existência de um conceito objetivo e um conceito

subjetivo de prova. Quanto ao conceito objetivo, entendemos que é o

instrumento capaz de demonstrar a veracidade dos fatos, confundindo-se com

o meio de prova, ou seja, a forma pela qual as partes pretendem demonstrar

que determinado fato ocorreu.

14

Quanto ao conceito subjetivo, temos que prova é a certeza

quanto à existência de um fato, ou seja, é à eficácia da prova, que é produzida

sob o prisma do julgador, cabendo a ele deferi-la ou não.

Cabe aqui ressaltar que determinados tipos de fato não

precisam ser provados, justamente por sua existência externa, sendo eles:

fatos notórios; fatos incontroversos, presunções absolutas; fatos afirmados por

uma parte e confessados por outra.

A doutrina majoritária entende que as normas que regulam

as provas têm natureza processual, pois regulam o meio através do qual o Juiz

formará sua convicção com intuito de decidir a demanda.

1.3 – Objeto da Prova

Toda prova é produzida pelas partes visando convencer o

Juiz da causa de que suas alegações são verídicas, mas para que possam

surtir o efeito desejado é necessário definir o objeto da prova.

A fase saneadora do processo se constitui no momento

adequado para esta definição. Como previsto no artigo 331, § 2°, do Código de

processo civil, não sendo obtida a conciliação, o Juiz deve fixar os pontos

controvertidos, decidindo as questões processuais pendentes e determinando

as provas a serem produzidas.

Segundo a doutrina tradicional, os fatos são o objeto da

prova no processo civil, entendendo ainda que pela prova, busca-se a verdade

15

das alegações, sendo certo que as decisões ou julgamentos se baseiam na

apuração dos fatos sobre os quais versa a ação.

De outro lado, deve ser destacada a corrente que entende

que o objeto da prova são as afirmações feitas pelo autor quanto aos fatos

ocorridos, e a resposta oferecida pela parte ré acerca dos fatos ocorridos.

Já a professora Ada Pellegrini Grinoner afirma que a prova

diz respeito aos fatos, in verbis:

“Constituem objeto da prova as alegações de fato e não os

fatos alegados.” (Ada Pellegrini Grinoner, 1999, p.156)

E ainda o professor Luiz Guilherme Marinoni:

“O que se prova são as afirmações de fato. O fato não

pode ser qualificado de ‘certo’, ‘induvidoso’ ou ‘verdadeiro’;

o fato apenas existe ou não existe. Como o direito existe

independentemente do processo, este serve apenas para

declarar que o direito afirmado existe; isto é, prova-se a

afirmação de fato, para que se declare que o direito

afirmado existe. Acentue-se que a sentença de cognição

exauriente limita-se a declarar a verdade de um

enunciado, ou seja, que a afirmação de que o direito existe

é, de acordo com as provas produzidas e o juízo de

compreensão do juiz, verdadeira; em outras palavras, o

direito que o processo afirma existir pode, no plano

substancial, não existir e vice-versa. Não se prova que o

direito existe, mas sim que a afirmação de que o direito

existe é verdadeira, declarando-se a existência do direito

16

(coisa julgada material)”. (Luiz Guilherme Marinoni, 1994,

p.204)

Em síntese, e na pratica, a verificação do objeto de prova

está nas afirmações controvertidas, ou seja, os fatos pertinentes alegados

pelas partes que guardem relação com a solução da lide e cuja evidenciação

se torne imprescindível, para o convencimento do magistrado.

17

CAPITULO II

DO ÔNUS DA PROVA

2.1 – Conceito de Ônus da Prova

O vocábulo ônus é derivado do latim e significa carga,

peso. O ônus da prova é o encargo de provar, mas sem a obrigação de

produzi-la.

Processualmente, este ônus corresponde à faculdade da

parte em produzir provas de suas alegações, sendo certo que ao quedar-se

inerte, deixará de usufruir dos benefícios de sua produção.

Neste sentido ensina o Professor Moacyr Amaral Santos:

“onus probandi traduz-se apropriadamente por dever de

provar, no sentido de necessidade de provar. Trata-se

apenas de dever no sentido de interesse, necessidade de

fornecer a prova destinada à formação da convicção do

juiz quanto aos fatos alegados pelas partes.” (Moacyr

Amaral Santos, 2004, p.298)

O ônus da prova é, portanto, a faculdade da parte em agir

positivamente, a fim de comprovar suas alegações, evitando uma situação de

desvantagem. Se a parte não quiser correr o risco de sofrer as conseqüências

18

do estado de duvida do magistrado, deverá produzir suas provas, ônus da

prova é principalmente interesse da parte em oferecer as provas.

Vale destaque o ensinamento do Professor Humberto

Theodoro Junior:

“consiste na conduta processual exigida da parte para que

a verdade dos fatos por ela arrolados seja admitida pelo

juiz. Não há um dever de provar, nem à parte contrária

assiste o direito de exigir a prova do adversário. Há um

simples ônus, de modo que o litigante assume o risco de

perder a causa se não provar os fatos alegados e do qual

depende a existência do direito subjetivo que pretende

resguardar através da tutela jurisdicional. Isto porque,

segundo máxima antiga, fato alegado e não provado é o

mesmo que fato inexistente”. (Humberto Theodoro Junior,

2003, p.381)

2.2 – Distribuição do ônus da prova

O ônus da prova, em regra, é distribuído segundo o artigo

333 do código de processo civil, incumbindo ao demandante à prova do fato

constitutivo de seu direito e ao demandado a prova dos fatos extintivos,

modificativos ou impeditivos daquele.

Por fato constitutivo, entendemos que são aqueles que

fazem nascer a relação jurídica, é aquele que uma vez demonstrado leva a

procedência do pedido autoral. Já os fatos extintivos, são aqueles que fazem

cessar a relação jurídica, os impeditivos impossibilitam que um determinado

19

fato provoque seus efeitos e os modificativos visam modificar a relação

jurídica.

Nesse sentido merece destaque:

“Art. 333. O ônus da prova incube:

I – ao autor, quando ao fato constitutivo do seu direito;

II – ao réu, quanto a existência de fato impeditivo,

modificativo ou extintivo do direito do autor.

Parágrafo Único. É nula a convenção que distribui de

maneira diversa o ônus da prova quando:

I – recair sobre direito indisponível da parte;

II – tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício

do direito”.

A distribuição do ônus da prova serve para orientar a

atividade processual, determinado a quem incube a demonstração ou

comprovação do seu direito evitando prejuízos decorrentes da não

comprovação nos autos.

Por outro lado, tornam-se desnecessárias quando já

existem nos autos provas suficientes para o julgamento da lide, não

20

importando quem a produziu, restando apenas pendente a aplicação da norma

jurídica aos fatos comprovados nos autos.

Porem, esta regra comporta exceções e em nosso

ordenamento jurídico verificamos casos em que a distribuição do ônus da

prova se opera de forma diversa.

2.3 – Ônus da prova no processo do consumidor

O código de Defesa do Consumidor inovou nosso

ordenamento jurídico, trazendo novos institutos na esfera das relações de

consumo, visando facilitar o acesso à justiça pelos consumidores.

Dentro do âmbito litigioso, o mais importante é a inversão

do ônus da prova.

Este instituto visa garantir o princípio da igualdade,

assegurando todos os meios para que os direitos, tanto os individuais quantos

os coletivos passem a ser mais efetivos, dentro do processo do consumidor.

Ponto interessante e controverso entre a doutrina e a

jurisprudência paira no momento processual adequado para aplicação da

inversão do ônus da prova, previsto no artigo 6°, VIII, da Lei n° 8.078/90, que

será matéria de discussão neste estudo.

“Art. 6º - "São direitos básicos do consumidor:

(...)

21

VIII – A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive

com a inversão do ônus da prova, a ser favor, no processo

civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou

quando foi ele hipossuficiente, segundo as regras

ordinárias de experiências;"

Neste caso, é permitido ao Magistrado inverter as regras

de distribuição do ônus da prova, abandonando as regras previstas pelo artigo

333 do Código de Processo Civil, de acordo com os respectivos requisitos:

subjetivo e objetivo. O primeiro, relacionado à verossimilhança das alegações

segundo as regras de experiência e o segundo com relação à hipossuficiência

do consumidor.

Nesse sentido, devemos destacar que a inversão do ônus

da prova é direito do consumidor, mas não significa que o Magistrado sempre

deverá dispensar o consumidor de comprovar suas alegações, ou que com a

inversão, seja julgado procedente o pedido.

Cabe aqui destacarmos posicionamento do ilustre

processualista Humberto Theodor Junior :

“a inversão do ônus da prova prevista no CDC pressupõe

dificuldade ou impossibilidade da prova em si. A prova

para ser transferida de uma parte para outra tem de ser,

objetivamente, possível. O que justifica a transferência do

encargo respectivo é apenas a insuficiência pessoal do

consumidor de promovê-la. Se este, portanto, aciona o

fornecedor, argüindo fatos absolutamente impossíveis de

prova, não ocorrerá à inversão do onus probandi, mas a

22

sucumbência inevitável da pretensão deduzida em juízo”.

(Humberto Theodoro Junior, 2004, p. 140)

Acontece que somente haverá a inversão do ônus da

prova se estiver presente um dos requisitos previstos no artigo 6°, VIII, da Lei

n° 8.078/90.

Segundo ensinamento do ilustre doutrinador João Batista

de Almeida, devemos ter no princípio da isonomia, pilar básico que envolve

essa problemática, in verbis:

"Os consumidores devem ser tratados de forma desigual

pelo CDC e pela legislação em geral a fim de que

consigam chegar à igualdade real. Nos termos do art. 5o

da Constituição Federal, todos são iguais perante a lei,

entendendo-se daí que devem os desiguais ser tratados

desigualmente na exata medida de suas desigualdades".

(João Batista de Almeida, 2008, p.426)

Nesse sentido, fica claro que as partes que integram a

relação de consumo, qual sejam, o consumidor e o fornecedor, são partes

desiguais na ordem técnica e econômica, tendo em vista que o fornecedor dos

produtos ou serviços possui a técnica da produção e o poder econômico muito

maior ao do consumidor.

A vulnerabilidade do consumidor é clara, e sua proteção

como uma garantia legal é uma grata conseqüência da evolução jurídica

trazida pela Lei 8078/90.

23

Esta proteção é um direito conferido ao consumidor para

facilitar sua defesa especificamente no processo civil. A aplicação do referido

direito ficará a critério do magistrado quando forem verossímeis as alegações

do consumidor, ou quando este for hipossuficiente.

Se o magistrado constatar que estão presentes uns dos

requisitos para a inversão do ônus da prova, após verificar segundo as regras

de experiência que as alegações do autor são verossímeis ou que o

consumidor é hipossuficiente inverterá o ônus da prova.

2.3.1 – Conceito de Verossimilhança

Por verossimilhança podemos entender que é algo que se

assemelha à verdade.

Através deste princípio o magistrado deverá, ao analisar a

narrativa dos fatos ocorridos, bem como as provas produzidas junto a peça

inicial, chegar a uma presunção da verdade, uma verdade aparente. Contudo,

o magistrado deverá aplicar este principio com a sabedoria que lhe é peculiar,

atentando para que não seja relativizada por demais a aplicação deste

princípio, pois é indispensável que do processo resulte efetiva aparência de

verdade material, sob pena de indeferimento por ausência de provas.

O principio da verossimilhança não exige a certeza da

verdade, mas deverá existir uma verdade aparente, devidamente demonstrada

nas alegações da parta autora, que diante as regras de experiência,

pertinentes ao julgador, o convença em aplicar a inversão do ônus da prova.

24

Nesse sentido devemos destacar a definição de Humberto

Theodoro Junior:

“A verossimilhança é juízo de probabilidade extraída de

material probatório de feitio indiciário,do qual se consegue

formar a opinião de ser provavelmente verdadeira a

versão do consumidor. Diz o CDC que esse juízo de

verossimilhança ,haverá de ser feito “segundo as regras

ordinárias da experiência”(art.6º,VIII).Deve o

raciocínio,portanto,partir de dados concretos que,como

indícios, autorizem ser muito provável a veracidade da

versão do consumidor. (Humberto Theodoro Junior, 2001,

p. 236)

O que é exigido do consumidor, ou seja, da parte autora, é

que da exposição dos fatos ocorridos decorra uma verdade aparente, que as

alegações sejam verossímeis de tal modo que no momento da leitura, possa

aferir forte conteúdo persuasivo. Mas como se trata de medida extrema,

deverá o magistrado aguardar a apresentação da contestação para comparar e

valorar o grau de verossimilhança das alegações contidas na inicial.

Por fim deve ser destacado, que como a norma é um tanto

abstrata, porquanto o legislador utilizou-se de termos vagos e imprecisos,

como “regras ordinárias de experiência", a interpretação da norma ficará

sempre por conta do aspecto da razoabilidade e do bom senso que todo juiz

deve ter.

25

2.3.2 – Conceito de Hipossuficiência

Por hipossuficiência devemos entender que é um critério

que se da em razão da capacidade técnica do consumidor, porém existem

divergências quanto a este entendimento, devendo destacar que a tanto a

doutrina quanto jurisprudência tem estendido este conceito para também

englobar a hipossuficiência econômica, devendo este critério também ser

analisado pelo magistrado no momento de se inverter o ônus da prova.

A hipossuficiência do consumidor é derivada da presunção

de vulnerabilidade, e se demonstra pela capacidade inferior do consumidor,

tanto no aspecto econômico, quanto no social, técnico e informativo do produto

e do serviço, de suas propriedades, de seu funcionamento, dos aspectos que

podem ter gerado o acidente de consumo e o dano, das características do

vício, entre outras.

Deve ser destacado que no texto legal, o legislador deu

importância relevante ao princípio da hipossuficiência, acrescentando ao texto

legal a condição alternativa, para garantir que mesmo que as alegações

afirmadas pela parte autora não sejam consideradas verossímeis, o ônus da

prova poderá ser invertido com a comprovação da condição de hipossuficiente

do consumidor.

Cabe ainda destacar posicionamento jurisprudencial, que

estende o conceito de hipossuficiência para também englobar o aspecto

econômico do consumidor:

“Apelação. Ação de indenização por danos materiais e

morais. Código de defesa do consumidor. Contrato de

seguro saúde. Procedimento cirúrgico. Fornecimento de

26

prótese negado pela seguradora, inobstante cláusula

contratual em sentido contrário. Emissão de cheque como

garantia de pagamento do material utilizado no

procedimento operatório. Sentença que julgou procedente

o pedido. Inversão do ônus da prova em desfavor do

fornecedor do produto ou serviço em razão da

hipossuficiência técnica e econômica do consumidor,

conforme art. 6º, inciso VIII, da Lei nº 8.078/90. Apelante

que não trouxe aos autos prova capaz de afastar a sua

responsabilidade. Comportamento da apelante em afronta

à teoria da qualidade, em razão do vício do serviço. Dano

moral in re ipso. Configuração de violação à honra

subjetiva da consumidora, na medida em que o

comportamento da apelante lhe impôs sofrimento que

ultrapassou a normalidade. Dano moral corretamente

arbitrado. Sentença que se confirma. Apelo improvido”.

(Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Relator

RONALD VALLADARES, DJU 24/10/2006, p. 57/60)

Contudo, existe ainda entendimento diverso que

igualmente merece destaque:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RELAÇÃO DE

CONSUMO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA. Ao adunar que, em geral,

o consumidor é a parte fraca no mercado de consumo (art.

4º), inclui o Código de Defesa do Consumidor, dentre as

medidas protetivas previstas no art. 6º, a possibilidade de

inversão do ônus da prova (inciso VIII).

27

Pressupõe-se, assim, determinada dificuldade ou

impossibilidade de ser, concretamente, provado o fato

alegado por aquele a quem, de acordo com a regra geral,

o ônus fora dirigido. Deve representar, por conseguinte,

uma real impossibilidade de ser a prova produzida pelo

consumidor, estando o fornecedor em melhores condições

de realizá-la. Não fica, portanto, condicionada

à insuficiência de recursos da parte agravada: está

relacionada, tão somente, a hipossuficiência do

consumidor em produzir a prova. PARCIAL PROVIMENTO

DO RECURSO. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de

Janeiro, 2006.002.16679, Relator MALDONADO DE

CARVALHO, DJU 19/01/2007, p. 54/56)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO INDENIZATORIA.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAÇÃO.

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. REGRA INSERTA NO

ARTIGO 6º DA LEI 8078/90. Verossimilhança ou

hipossuficiência técnica da parte. Inversão do ônus

probandi. Direito de opção entre custear a prova ou sofrer

as conseqüências de sua não apreseentação,

hipossuficiência técnica não é sinônimo de

hipossuficiência econômica. A inversão do ônus da prova

se justifica no Código de Defesa do Consumidor na

proteção do consumidor diante da relação de consumo,

tendo em vista a hipossuficiência técnica e a

verossimilhança do fato alegado, sendo certo ser o juiz o

destinatário das provas para a formação do seu

convencimento na busca da verdade real. Inversão do

28

ônus da prova, não é o mesmo que inversão do custo da

prova, por não se confundir a hipossuficiência técnica com

a hipossuficiência econômica, RECURSO IMPROVIDO.

(Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,

2006.002.10105, Relator RONALDO ALVARO MARTINS,

DJU 01/11/2006, p. 65/69)

29

CAPÍTULO III

O MOMENTO PROCESSUAL PARA A INVERSÃO DO

ONUS DA PROVA.

3.1 – Inversão do ônus da prova na sentença

Como diversas matérias presentes em nosso ordenamento

jurídico, o momento processual para a inversão do ônus da prova gera

posicionamentos divergentes entre a doutrina e a jurisprudência.

Nesse momento veremos o posicionamento defendido por

quem entende que o momento adequado para a inversão do ônus da prova é

na sentença.

Para quem defende este posicionamento, a regra para a

distribuição do ônus da prova é regra de juízo, sendo certo que a oportunidade

pertinente para sua aplicação é na sentença, pois nesse momento o juiz já

estaria apto para analisar todas as provas colhidas, constatando se houveram

falhas na produção destas que possam conduzir a alguma duvida ou incerteza.

Por ser considerada como norma de julgamento, o juiz não

poderia concluir sobre o ônus da prova antes de se encerar a fase instrutória

do feito, sob o risco de ser entendido como um prejulgamento prematuro,

sendo certo que o momento processual para a análise da aplicação das regras

de distribuição do ônus da prova seria por ocasião do julgamento da demanda

30

e jamais quando do recebimento da inicial, no saneador ou no curso da

instrução probatória.

Segundo a corrente doutrinaria que defende que a

inversão deve ser aplicada na sentença, justifica que esta aplicação não

conduz à ofensa do princípio da ampla defesa, no caso do fornecedor, que

teoricamente, seria surpreendido com a inversão, tanto menos para o

consumidor.

Nos termos do artigo 6º, inciso VIII do CDC, tanto o

consumidor quanto o fornecedor têm ciência de que, serão invertidas as regras

do ônus da prova, desde que o juiz considere como verossímeis os fatos

narrados pelo do consumidor ou se for este hipossuficiente. Além disso, o

fornecedor dispõe de material técnico sobre o produto ou serviço capaz de

comprovar o ocorrido, já o consumidor tem a presunção de vulnerabilidade.

Muitos doutrinadores fundamentam suas teses afirmando

que as regras para a inversão do ônus da prova são de julgamento da causa,

sendo certo que, somente após terminada a instrução do feito, no momento da

valoração das provas, estaria o magistrado habilitado a afirmar se existe ou

não a possibilidade da inversão do ônus da prova.

Nesse sentido devemos destacar o posicionamento de um

dos maiores doutrinadores que defendem esta corrente, segundo Nelson Nery

Junior:

"a parte que teve contra si invertido o ônus da prova (...)

não poderá alegar cerceamento de defesa porque, desde

o início da demanda de consumo, já sabia quais eram as

regras do jogo e que, havendo non liquet quanto à prova,

31

poderia ter contra ela invertido o ônus da prova." (Nelson

Nery Junior, 2002, p.696)

Cabe ainda destaque ensinamento da ilustre Promotora de

Justiça Célilia de Matos:

"O fornecedor pode realizar todo e qualquer tipo de prova,

dentre aquelas permitidas em lei, durante a instrução para

afastar a pretensão do consumidor. Se o demandado,

fiando-se na suposição de que o juiz não inverterá as

regras do ônus da prova em favor do demandante, é

surpreendido com uma sentença desfavorável, deve

creditar o seu insucesso mais a um excesso de otimismo

do que a hipotética desobediência ao princípio da ampla

defesa". (Célilia de Matos, 1995, p. 187)

Vejamos acórdãos que sustentam este posicionamento:

“CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – Ação

revisional de contrato de compromisso de compra e venda

- Inversão do ônus da prova - Determinação no saneador -

Inadmissibilidade – Matéria a ser considerada na sentença

- Caso, ademais, em que a prova recairá sobre fatos que

não são do conhecimento exclusivo do fornecedor,

descaracterizada assim a hipossuficiência técnica,

requisito para aplicação da regra do artigo 6º inciso VIII do

CDC – Recurso provido. (Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo, Agravo de Instrumento n. 361.936-4/0, Relator

Morato de Andrade, DJU 16.11.04)

32

PROVA - Ônus - Inversão - Cautelar de produção

antecipada de provas - Requerimento formulado pelos

autores impondo a obrigação à ré - Inversão pretendida

por representar relação de consumo e diante de

hipossuficiência - A inversão deve ser examinada por

ocasião da prolação da sentença - Ademais, a aplicação

do disposto no inciso VIII, do artigo 6º, do CDC, não

significa inversão do custo da prova - Agravo provido.

(Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Agravo de

Instrumento n. 405.246-4/0, Relator Élcio Trujillo, 26.07.05)

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - Ação

revisional de contrato de compromisso de compra e venda

- Inversão do ônus da prova - Determinação no saneador -

Inadmissibilidade - Matéria a ser considerada na sentença

- Caso, ademais, em que a prova recairá sobre fatos que

não são do conhecimento exclusivo do fornecedor,

descaracterizada assim a hipossuficiência técnica,

requisito para aplicação da regra do artigo 6º inciso VIII do

CDC - Recurso provido. (Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo, Agravo de Instrumento n. 361.936-4/0, Relator

Morato de Andrade, 16.11.04)

3.2 - Inversão do ônus da prova na decisão saneadora

O Código de Defesa do Consumidor foi criado com o

intuito de facilitar a vida do consumidor de boa-fé, porém o legislador se omitiu

ao determinar qual seria o momento adequado para fosse aplicada, ou não, a

33

inversão do ônus da prova. De certo que a lei define que a inversão do ônus

prova está a critério do juiz, após verificar os seus elementos de sua

admissibilidade e não visando ferir o princípio do contraditório e da ampla

defesa.

O Magistrado deverá analisar sempre com base nas

regras ordinárias de experiência, se há incidência de um, ou dos dois

requisitos que determinem a inversão do ônus da prova, proferindo sua

decisão.

Como já ressaltado, existem divergências sobre qual o

momento adequado para se aplicar as regras de inversão do ônus da prova no

processo do consumidor, e o presente estudo, tem como objetivo expor os

fatos pertinentes a matéria, posicionamento majoritário, bem como contribuir

com sua singela opinião a respeito do assunto, concluindo que o melhor

momento processual para que as partes tomem conhecimento da inversão ou

não do ônus da prova é no despacho saneador, antes do juiz proferir a

sentença, deixando desta forma, tanto o réu, quanto o autor, prevenidos

quanto aos ônus probatórios, possibilitando ainda a ampla defesa e o

contraditório.

Desta forma, todas as partes saberão exatamente suas

obrigações, contribuindo tanto para a comprovação do direito do fornecedor,

quanto do consumidor, que não poderá mais ser surpreendido por decisões

equivocadas, como em casos onde o magistrado, mesmo tendo o autor

demonstrado sua condição hipossuficiente e/ou a verossimilhança de suas

alegações, profere sentença sem a inversão do ônus da prova.

O mestre João Batista de Almeida entende que o

momento processual adequado para o deferimento ou indeferimento da

34

inversão deverá ser entre a propositura da ação e o despacho saneador, sob

pena de prejuízo tanto para a defesa do fornecedor ou do consumidor.

Dessa forma considera-se de extrema importância a

manifestação do magistrado, para definir se o elemento verossimilhança e/ou a

hipossuficiência do consumidor estão presentes, concluindo, desta forma que a

decisão sobre a inversão ou não do ônus da prova deverá estar entre o pedido

inicial e o despacho saneador.

Assim, o Professor Voltaire de Lima Moraes ensina que:

"... o momento adequado para a decretação da inversão

do ônus da prova dar-se-á por ocasião do saneamento do

processo, quando, inexistosa a audiência de conciliação, o

Juiz tiver fixado os pontos controvertidos, aí sim, em

seguimento, decidirá as questões processuais pendentes,

dentre as quais o cabimento ou não da inversão do ônus

da prova (art. 331, § 2o , do CPC), ficando dessa forma

cientes as partes da postura processual que passarão a

adotar, não podendo alegar terem sido surpreendidas,

especialmente aquela que recebeu o encargo de provar".

(Voltaire de Lima Moraes, 1999, p. 85)

Nesse sentido encontramos inúmeras decisões de nossos

Tribunais:

“AÇÃO INDENIZATÓRIA - Acidente automobilístico em

rodovia pedagiada - Aplicação das normas do Código de

Defesa do Consumidor e ordem para a inversão do ônus

da prova - Despacho que, à vista da atual fase do

35

processo, relega para momento oportuno o exame desses

temas - Inocorrência de lesividade aos autores - Inversão

do ônus da prova que, ademais, deve mesmo ser decidida

só por ocasião do saneamento - Denunciação da lide pelo

réu ao segurador - Cabimento, por se cuidar de

providência admitida tanto pela lei comum como pela

especial - CDC que só a impede nas ações assentadas no

artigo 13 - Recurso parcialmente conhecido e nessa parte

improvido”. (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

Agravo de Instrumento n. 897.338-0/5, Relator Arantes

Theodoro, 30.06.05)

“CONSUMIDOR. AÇÃO DE RESCISÃO DE CLÁUSULAS

CONTRATUAIS. Requerida, na inicial, a inversão do ônus

da prova, o Juízo a quo não se pronunciou, apenas

determinando que as partes especificassem as provas que

pretendiam produzir momento adequado para decidir a

respeito da inversão prevista no art. 6º, III, do CDC, é o

despacho saneador, quando o Juiz determina a respeito

das provas (art. 331, CPC). No presente recurso, o autor-

agravante insurge-se contra o indeferimento de seu

requerimento quanto à produção de prova oral. Contudo,

caso decretada a inversão, até poderá ficar dispensado de

produzir tal prova. Anulação parcial do feito, ex officio, a

fim de que o Juízo a quo se pronuncie a respeito da

inversão do ônus da prova, prejudicado o exame do mérito

do agravo”. (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,

Agravo de Instrumento Nº 70009044348, Relator Luiz

Lúcio Merg, DJU 28.10.2004)

36

“CONSUMIDOR - CODIGO DE DEFESA - INVERSAO DO

ONUS DA PROVA - NECESSIDADE DE EXPRESSA

DETERMINACAO JUDICIAL. Quando, a critério do juiz,

configurar-se a hipótese de inversão do ônus da prova,

nos termos do art. 6, inc-VIII, do CDC, sob pena de

nulidade, é mister a previa determinação à parte, em

desfavor de quem se inverte o ônus, para que prove o fato

controvertido. A inversão, sem esta cautela processual,

implicara em surpresa e cerceamento de defesa”. (Tribunal

de Justiça do Rio Grande do Sul, Apelação Cível Nº

194110664, Relator Márcio Oliveira Puggina, DJU

18.08.2004)

“INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - Inteligência do artigo

6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor.

Considerando que as partes não podem ser

surpreendidas, ao final, com um provimento desfavorável

decorrente da inexistência ou da insuficiência da prova

que, por força da inversão determinada na sentença,

estaria a seu cargo, parece mais justa e condizente com

as garantias do devido processo legal a orientação

segundo a qual o juiz deva, ao avaliar a necessidade de

provas e deferir a produção daquelas que entenda

pertinentes, explicitar quais serão objeto de inversão”.

(Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Agravo de

Instrumento n. 121.979-4, Relator Antonio Carlos Marcato,

DJU 10.11.99)

37

3.3 – POSICIONAMENTO JURISPRUDÊNCIAL

Tanto em nossa doutrina quanto em nossos tribunais, não

é pacífico o posicionamento quanto ao momento processual mais adequado

para que seja declarada a inversão do ônus da prova.

Como a letra fria da lei não deixa claro o momento

adequado para a inversão do ônus da prova no Código de Defesa do

Consumidor, existem doutrinadores que defendem que a declaração do ônus

da prova seria uma regra de juízo e não de procedimento, e nesse sentido não

exigiria um momento próprio, podendo ficar tal julgamento reservado para o

final do processo, quando da prolação da sentença.

Entretanto, existe também posicionamento contrário, tanto

na doutrina quanto na jurisprudência, que defendem a existência da

obrigatoriedade da inversão do ônus da prova antes da sentença, como

decorrência do princípio do contraditório e da ampla defesa, para dar às partes

condições de defesa dentro do processo.

Quem adota o primeiro entendimento, reforça

argumentando que o Juiz não pode decidir antecipadamente porque a inversão

do ônus probatório, no caso do artigo 6º, VIII, depende da verossimilhança da

alegação do consumidor ou de sua hipossuficiência, e na maioria dos casos

essas circunstâncias dependem de análise das provas.

Seguindo esse primeiro entendimento, destacamos os

julgados a seguir:

“Ementa: PROCESSO CIVIL - Intimação - Nulidade -

Inocorrência - Advogada substabelecida (e que atuou

38

como "free lancer") presente à audiência de conciliação,

onde se proferiu a decisão - Intimação da decisão na

pessoa da referida causídica - Admissibilidade - Cláusula

proibitiva de intimação dirigida à substabelecida -

Inadmissibilidade - Ressalva que afronta aos princípios da

instrumentalidade das formas, da economia processual e

da paridade de tratamento - Quesitos admissíveis, mesmo

quando oferecidos fora do prazo fixado - Prazo

estabelecido no art. 421, § 1o, do CPC, não sendo

preclusivo, não impede a indicação de assistente-técnico

ou a formulação de quesitos, a qualquer tempo, pela parte

adversa, desde que não iniciados os trabalhos periciais.

PROVA - Perícia – Ônus – Inversão no momento do

saneador -Inadmissibilidade - Ação declaratória de

inexigibilidade de título - O momento próprio para eventual

inversão desse ônus é o da sentença e não o do saneador

- Na atual fase cabe ao juiz apenas advertir os litigantes a

respeito daquela possibilidade, de modo que o direito ao

contraditório possa ser exercido na plenitude pelo réu,

para que este não seja surpreendido com as

conseqüências da não produção de prova que o julgador

pode achar que está a cargo de quem está se defendendo

- Custeio da prova pericial compete à autora nos termos

dos arts. 19, § 2" e 33 do CPC e nem teria efeito diferente,

ainda que admissível, na fase referida, a inversão do ônus

probatório - j Autora, por ser beneficiária da gratuidade

processual, está dispensada do pagamento, cabendo ao

juiz nomear perito que aceite receber seus honorários no

final, daquele que ficar vencido, ou oficiar ao Estado para

que este pague as despesas ou indique agente de seu

39

quadro que esteja habilitado a realizar a perícia. Recurso

provido, com observação”. ( Tribunal de justiça do Estado

de São Paulo, Agravo de Instrumento 7328064500,

Relator Álvaro Torres Júnior, DJU 23.07.2009)

E mais:

"... não há que se falar em preclusão, uma vez que a

matéria referente à inversão do ônus da prova pode ser

examinada pelo juiz até a sentença, que, aliás, é o

momento propício para utilização do instituto, já que se

cuida de regra de julgamento e não de procedimento."

(Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Apelação Cível

nº 19245, Relator Des. Sydney Zappa, DJU 21.09.2001)

"... Conquanto este Tribunal já tenha se pronunciado sobre

a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor às

operações bancárias, também já se tem assentado que a

inversão do ônus da prova, ali prevista, é matéria a ser

dirimida pelo juiz por ocasião da apreciação do mérito da

causa..." (Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,

Apelação Civel nº 7994, Relator Des. Jair Ramos Braga,

DJ 08.11.2001)

Também é esta a posição adotada pelo renomado Kazuo

Watanabe, ao comentar:

"Quanto ao momento da aplicação da regra de inversão do

ônus da prova, mantemos o mesmo entendimento

40

sustentado nas edições anteriores: é o do julgamento da

causa. É que as regras de distribuição do ônus da prova

são regras de juízo, e orientam o juiz, quando há um non

liquet em matéria de fato, a respeito da solução a ser dada

à causa." ( Kazuo Watanabe, 2001, p. 735).

Assim, ainda nesta linha de raciocínio argumenta o

professor Watanabe citando entendimento sustentado por Cecília Mattos

prossegue no seu argumento: "Efetivamente, somente após a instrução do

feito, no momento da valoração das provas, estará o juiz habilitado a afirmar se

existe ou não situação de non liquet, sendo caso ou não, conseqüentemente,

de inversão do ônus da prova. Dizê-lo em momento anterior será o mesmo que

proceder ao prejulgamento da causa, o que é de todo inadmissível." (Kazuo

Watanabe, 2001, p. 736).

Por outro lado, existe corrente doutrinaria que rejeita este

entendimento, explicitado nos julgados acima, afirmando que a

permissibilidade de que a inversão do ônus da prova seja declarada somente

na sentença, configura uma verdadeira armadilha processual, ferindo os

princípios do contraditório e da ampla defesa.

Esta corrente doutrinaria, defende o entendimento que as

partes devem ter o conhecimento prévio dos critérios de distribuição que serão

utilizados pelo juiz, para terem a oportunidade de provar suas alegações no

momento ideal, evitando serem ao final surpreendidas por um provimento

favorável ao seu adversário.

Sustenta ainda que no momento em que o consumidor

ingressa em juízo, o magistrado diante das alegações, tem, desde já, todas as

41

informações que lhe são necessárias para averiguar se estão presentes os

requisitos legais que permitem a declaração da inversão do ônus da prova.

Ao passo em que se a inversão for aplicada somente na

sentença, poderia ferir o princípio da ampla defesa porque a esta altura as

partes não poderiam mais produzir novas provas, já que é na fase instrutória

onde cabe produzir as provas que lhes interessam, dentro da sistemática

processual da regra geral prevista no artigo 333 do Código Processual Civil.

Da leitura dos trechos de julgados a seguir citados, poder-

se-á vislumbrar que realmente existe uma tendência pela inversão do ônus da

prova antes do término da instrução:

"A inversão do ônus da prova, como exceção à regra geral

do art. 333, do CPC, depende de decisão fundamentada

do magistrado antes do término da instrução processual,

sob pena de não poder ser adotada na sentença, o que

incorreria em cerceio de defesa, devendo ser decidida, de

preferência, no momento do saneador, podendo, todavia,

ser decretada no despacho inicial, após especificação das

provas, na audiência de conciliação ou em qualquer

momento que se fizer necessária, desde que assegurados

os princípios do contraditório e ampla defesa." (Tribunal de

Alçada de Minas Gerais, Acórdão: 0301800-0, Dês.

Alvimar de Ávila, DJU 01.03.200).

“Consumidor. Prova. Inversão do ônus da prova. Artigo 6º

Código de Defesa do Consumidor. Sentença de

improcedência. Julgamento antecipado. Em lides

submetidas ao regramento contido no Código de Defesa

42

do Consumidor não pode o Juiz julgar o feito de forma

antecipada se há pedido, não apreciado, de inversão do

ônus da prova. Hipótese em que a autora contratou

fornecimento de persianas que, alegadamente, foram

entregues fora das especificações contratadas.

Requerimento de inversão do ônus da prova feito na inicial

e reiterado após o despacho em provas. Sentença que

julgou improcedente o pedido, tomando de surpresa a

parte autora que não teve oportunidade de produzir

provas, após a fase inicial. Cerceamento do direito de

defesa da autora que teve seu pedido julgado

improcedente a despeito do pedido de inversão do ônus

da prova não ter sido apreciado pelo Juiz. Sentença

cassada ex officio, de plano”. ( Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro, Apelação Cível nº

2006.001.70186, Des. Relator MARCO ANTONIO

IBRAHIM, DJU 16.01.2007)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - DESPACHO

SANEADOR - OCASIÃO DO JULGAMENTO SOBRE A

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - AGRAVO PROVIDO.

"O momento adequado para a decretação da inversão do

40 ônus da prova dar-se-á por ocasião do saneamento do

processo, quando, inexitosa a audiência de conciliação, o

Juiz tiver fixado os pontos controvertidos, aí sim, em

seguimento, decidirá as questões processuais pendentes,

dentre as quais o cabimento ou não da inversão do ônus

da prova (art. 331, §2º, do CPC), ficando dessa forma

cientes as partes da postura processual que passarão a

adotar". (Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina,

43

Agravo de Instrumento 00.012499- 0, Relator Des. Sérgio

Roberto Baasch Luz, DJU 22/02/2001)

REVISÃO CONTRATUAL. INSTITUIÇÃO BANCÁRIA.

APLICABILIDADE DO CDC. INVERSÃO DO ÔNUS DA

PROVA. ARTIGO 6º, VIII, DO CDC. É SABIDO E

CONSABIDO QUE AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS,

VIA DE REGRA, TEM POR USOS E COSTUMES A NAO

ENTREGA AOS SEUS DEVEDORES DE DOCUMENTOS,

PRINCIPALMENTE

CONTRATOS, QUE ENTRETERAM NEGOCIAÇÕES. E,

SEM

DÚVIDA, UMA ESTRATÉGIA NEGOCIAL. NO ENTANTO,

AO

JUDICIÁRIO, QUE TEM CONHECIMENTO DISSO,

PELAS REGRAS ORDINÁRIAS DE EXPERIÊNCIA, NAO

CABE NELA

ASSENTIR, MAS VALER-SE DE TAL CONHECIMENTO

PARA A SATISFAÇÃO DA PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL A "FACILITAÇÃO DA DEFESA DO

CONSUMIDOR". FIXAÇÃO DO MOMENTO DA

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. O MOMENTO

OPORTUNO E TECNICAMENTE CORRETO PARA O

JUIZ DETERMINAR A INVERSÃO PROBATÓRIA É O

QUE ANTECEDE A INSTRUÇÃO DO FEITO. AGRAVO

PROVIDO. ( Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande

do Sul, AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 599098845,

RELATOR ROBERTO EXPEDITO DA CUNHA MADRID,

DJU 05/05/1999).

44

ACORDAM OS INTEGRANTES DA QUINTA CÂMARA

CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO

PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE VOTOS, EM DAR

PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, DE ACORDO

COM O VOTO DO RELATOR. EMENTA: AGRAVO DE

INSTRUMENTO - ACAO REVISIONAL DE CONTRATO

C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO - DETERMINAÇÃO DE

EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS - INVERSÃO DO ÔNUS

DA PROVA - CDC, ART. 6º., VIII - custos da Perícia

competem a quem requereu a prova - invertido o ônus da

prova, a perícia passa a ser de interesse do fornecedor -

agravo parcialmente provido. O Código de Defesa do

Consumidor aplica-se nas questões envolvendo discussão

de cláusulas de contratos bancários. "O juiz pode ordenar

ao banco réu a juntada de cópia de contrato

e de extrato bancário, atendendo aos princípios da

inversão do ônus da prova e da facilitação da defesa do

direito do consumidor em juízo. (stj 4a turma resp

264083/rs - rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar – DJ

20/08/01)". Ao juiz é facultada a inversão do ônus da

prova, com fundamento no artigo 6º, inciso VIII, do CDC,

sempre que entender que é verossímil a alegação ou que

seja hipossuficiente o consumidor. Os custos da realização

de perícia competem a quem requereu a prova, mas, a

partir do momento em que foi deferida a inversão do ônus

da prova, a aferição da necessidade de realização ou não

da mesma passa a ser do fornecedor. Caso não queira

arcar com este ônus, bastara deixar de realizar a perícia,

havendo de sofrer as conseqüências processuais de não

produzi-la. A prova pericial passa a ser do seu interesse,

45

não obstante requerida pela parte contraria, pois e a

oportunidade que tem de comprovar que são

insubsistentes os argumentos trazidos pela mesma na

ação de conhecimento, tendo em vista a decretação da

inversão do ônus probatório (4a. CÂMARA CÍVEL,

ROBERTO DE VICENTE, TJPR, Julg: 25/05/2004).

ACORDAM OS DESEMBARGADORES INTEGRANTES

DA 6ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE VOTOS, EM

REJEITAR OS EMBARGOS. EMENTA: EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO. OMISSÃO. INOCORRÊNCIA. INVERSÃO

DO ÔNUS DA PROVA. MATÉRIA QUE DEVE SER

ALEGADA E DEFERIDA NO MOMENTO PROCESSUAL

ADEQUADO. EMBARGOS REJEITADOS. 1. "Não há que

se falar em omissão do julgado por não aplicar o direito tal

como pretendido pelo embargante". 2. "A inversão do ônus

da prova, ainda que admitida, hipoteticamente,

possibilidade de aplicação, embora se trate de regra de

julgamento, não pode trazer surpresa para o processo, de

modo que, deve ser requerida e declarada judicialmente

no momento oportuno, sendo inviável o seu deferimento

em grau de recurso" (6ª CÂMARA CÍVEL, AIRVALDO

STELA ALVES, TJPR, Julg: 14/04/2004).

Nesse sentido, diante o posicionamento emanado por

nossos tribunais, verifica-se que, na prática, ao serem julgados os casos

concretos, têm-se vislumbrado a necessidade de que a inversão do ônus da

prova seja declarada antes de encerrada a instrução, quando ainda não esteja

46

preclusa a nenhuma das partes a produção de prova que esteja sob o seu

ônus.

Seguindo esse entendimento, o Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro, já sumulou seu entendimento, in verbis:

“Súmula nº 91

DIREITO DO CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA

PROVA. DETERMINAÇÃO NA SENTENÇA.

IMPOSSIBILIDADE PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO.

“A inversão do ônus da prova, prevista na legislação

consumerista, não pode ser determinada na sentença”.

Referência : Súmula da Jurisprudência Predominante nº

2005.146.00006 - Julgamento em 10/10/2005 – Votação:

unânime – Relator: Desembargador Silvio Teixeira –

Registro de Acórdão em 29/12/2005 – fls.

011317/011323”.

Vale ainda destacarmos julgado neste sentido:

“Ementa INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. RELAÇÃO DE

CONSUMO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

DETERMINADA NA SENTENÇA DE MÉRITO.

NULIDADE. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA

DEFESA E DO CONTRÁDITÓRIO. SÚMULA Nº91 DO

TJRJ.A inversão autorizada pelo Código do Consumidor

não poderia ter sido aplicada numa oportunidade em que o

47

fornecedor já não podia se manifestar a respeito,

impedindo-o de confeccionar prova que entendesse

cabível no caso vertente.Ao inverter o onus probandi na

sentença esgrimida , violou o Órgão monocrático os

princípios do contraditório e da ampla defesa. Verbete

sumular nº 91 do TJ.RJ.Recurso provido

monocraticamente, nos termos desta decisão”. ( Tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Apelação Cível nº

2007.001.22077, Dês. Relator RICARDO RODRIGUES

CARDOZO, DJU 13.06.2007)

48

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que não obstante a regra contida no

artigo 333, do Código de Processo Civil, que dispõe que o ônus da prova

incumbe a quem alega, o Código de Defesa do Consumidor surgiu no

ordenamento jurídico brasileiro, inovando, e prevendo a possibilidade da

inversão do ônus da prova à favor do consumidor, desde que observados os

respectivos requisitos elencados no artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa

do Consumidor, quais sejam, verossimilhança da alegação e hipossuficiência

do consumidor.

Devemos destacar ainda, que a inversão do ônus da prova

nas relações de consumo, surgiu como uma faculdade para o magistrado, que

somente a exerce quando certo de que se encontram presentes na demanda,

pelo menos um dos requisitos elencados no dispositivo legal acima referido.

Com relação ao momento processual para que o juiz

proceda a respectiva inversão do ônus da prova, verificou-se a existência de

divergências doutrinárias. Como a lei não deixa expresso qual seria o

momento adequado, há quem defenda a declaração do ônus da prova seria

uma regra de Juízo e não de procedimento, e por isso não exigiria um

momento próprio, podendo ficar tal julgamento para a sentença.

Porém, existe também posicionamento majoritário, na

defesa de que existe a obrigatoriedade prévia do Juiz inverter o ônus da prova

antes da fase decisória, como decorrência do princípio do contraditório e da

ampla defesa, para dar às partes condições de defesa dentro do processo.

49

Assim, concluímos que a intenção do instituto da inversão

do ônus da prova a favor do consumidor não é apenas equilibrar a relação de

consumo, mas também garantir a adequada e efetiva proteção processual

sendo direito básico do consumidor, a facilitação da defesa de seus direitos

que, entre suas espécies está à inversão do ônus da prova, somente sendo

admitida a favor do consumidor e, até mesmo, em ações coletivas.

Necessitando para concessão da inversão do ônus da prova, os respectivos

requisitos, sendo estes, a verossimilhança de suas alegações e a

hipossuficiência do consumidor. O primeiro requisito corresponde à noção de

algo que se assemelha à verdade, que parece verdadeiro, ou seja, a simples

possibilidade da alegação ser verdadeira já o segundo requisito corresponde

ao consumidor que, em relação a um dado fornecedor, estivesse em posição

de desvantagem no que se refere à demonstração do direito alegado.

Presentes estes requisitos o juiz estará obrigado a inverter o “onus probandi”,

não sendo facultado a ele inverter ou não.

Portanto, a inversão do ônus da prova é produzida ope

iudicis, ou seja, trata-se de inversão judicial, o que não deixa de ser uma

inversão do ônus da prova legal, na medida em que os requisitos para a

inversão vêm estabelecidos em lei.

Portanto, presentes os requisitos para concessão da

inversão do ônus da prova, o magistrado deve invertê-la fundamentadamente,

em favor do consumidor. Devendo esta inversão ocorrer no momento do início

da atividade probatória, e não no momento da sentença, impedindo assim que

qualquer das partes seja surpreendida, e com isto compatibilizando a inversão

do ônus da prova em favor do consumidor com a garantia constitucional do

contraditório.

50

De todo o exposto, verifica-se que as regras de inversão

do ônus da prova no sistema processual do CDC se destinam a equilibrar a

relação processual, estabelecendo tratamento desigual a pessoas desiguais,

nos limites de suas desigualdades, o que é decorrência da garantia

constitucional do processo justo, consubstanciado na cláusula due process of

law.

Com todo respeito aos que opinam em sentido contrário, o

entendimento que parece ser mais apropriado a atender não só os princípios

norteadores da tutela do consumidor, como também os princípios de

efetividade processual, de economia processual, da segurança jurídica e da

ampla defesa é o de que o juiz deve se pronunciar sobre a inversão do ônus

da prova até o despacho saneador.

Quem alega que o magistrado que inverte o ônus da prova

no despacho saneador, corre risco de um prejulgamento, parcial e prematuro,

é negar que os magistrados tenham condições de se amparar nas tais "regras

ordinárias de experiência", devendo sempre amparar suas decisões no

conjunto probatório já produzido. Parece mais correto entender que o

Legislador ao autorizar o juiz a tomar esta decisão "segundo regras ordinárias

de experiência", entendeu que a facilitação da defesa dos direitos do

consumidor em juízo é tão importante que em seu nome, pode-se correr o

pequeno risco deste "prejulgamento".

A Lei n° 8.078/90 veio com o objetivo de regulamentar a

situação do consumidor face à sua reconhecida vulnerabilidade nas relações

de consumo.

Esta proteção jurídica que se dá ao consumidor, em razão

de sua vulnerabilidade, proporciona o amplo acesso à ordem jurídica justa, o

51

que significa o equilíbrio no contraditório e a igualdade de meios de prova entre

as partes.

O artigo 6°, inciso VIII do Código de Defesa do

Consumidor, estabeleceu como um direito básico do consumidor a facilitação

da defesa de seus direitos, com a possibilidade da inversão do ônus da prova

em seu favor.

Ao ser concedida a inversão do ônus da prova ficará a

cargo do fornecedor a responsabilidade de provar o dano e o nexo de

causalidade entre o produto/serviço e o evento danoso, cabendo a produção

de provas capaz de ilidir a presunção de verossimilhança ou a hipossuficiência

que favorece o consumidor, assim como, as excludentes de responsabilidade

previstas no Código de Defesa do Consumidor.

52

BIBLIOGRAFIA

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São Paulo: Malheiros Editores, 1998.

ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. v. 2. 8. ed. São Paulo: RT,

2003.

MARQUES, José Frederico apud TUCCI, Rogério Lauria. Curso de Direito

Processual Civil –Processo de Conhecimento. São Paulo: Saraiva, 1999.

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, 11ª ed. São Paulo:

Saraiva, 1996.

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URGÊNCIA, Porto Alegre: Sérgio: Fabris, 1994.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. SP:

Saraiva, 2004, p. 298

THEODORO JUNIOR, Humberto. Direitos do Consumidor, Rio de Janeiro:

Forense, 2004.

ALMEIDA, João Batista. A proteção jurídica do consumidor, 6ª edição, São

Paulo: Saraiva, 2008.

NERY E NERY. Nelson Junior e Rosa Maria de Andrade.CPC comentado, São

Paulo, 6ª ed, p. 696, ed. RT, 2002.

53

MATOS, Cecília. O ônus da prova no CDC. Artigo in Justitia, abril/junho, São

Paulo, 1995.

MORAES, Voltaire de Lima.In Revista de Direito do Consumidor, nº 31, julho-

setembro, 1999. Ed.RT.

54

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Da Prova 10

1.1 – Considerações Gerais 10

1.2 – Conceito de Prova 11

1.3 – Objeto da Prova 14

CAPÍTULO II

Do Ônus da Prova 17

2.1 – Conceito de Onus da Prova 17

2.2 – Distribuição do Ônus da Prova 18

2.3 – Onus da Prova no Processo do Consumidor 20

2.3.1 – Conceito de Verossimilhança 23

2.3.2 – Conceito de Hipossuficiência 25

CAPÍTULO III

O Momento Processual para Inversão do Onus da Prova 29

3.1 – Inversão do Ônus da Prova na Sentença 29

3.2 – Inversão do Ônus da Prova na Decisão Saneadora 32

55

3.3 – Posicionamento Jurisprudencial 37

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA 52

ÍNDICE 54