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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE SOCIEDADE EMPRESÁRIA IRREGULAR POR AUSÊNCIA DE REGISTRO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS José Aderson Cerezoli Orientadora Professora Liane Linhares. Rio de Janeiro 2008

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · 1.1 - Regras gerais da sociedade empresária 09 1.1.1 - Definição 09 1.1.2 - Distinção entre sociedade empresária e sociedade

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

SOCIEDADE EMPRESÁRIA IRREGULAR POR AUSÊNCIA

DE REGISTRO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

José Aderson Cerezoli

Orientadora

Professora Liane Linhares.

Rio de Janeiro

2008

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

SOCIEDADE EMPRESÁRIA IRREGULAR POR AUSÊNCIA

DE REGISTRO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Apresentação de monografia à

Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Direito Empresarial.

3

AGRADECIMENTOS

Às minhas queridas irmãs Luciana, Sandra,

Marizete, Solange e a todos os meus familiares que

sempre me deram muito apoio.

À Professora Liane Linhares pela orientação.

4

DEDICATÓRIA

A meus pais, Maria Joana e Sabino Cerezoli, e a

Jussara, com todo meu amor.

5

RESUMO

A presente monografia trata de um estudo sobre a sociedade

empresária irregular por falta de registro no Registro Empresarial. O trabalho

desenvolve-se na abordagem da sociedade empresária, do Registro

Empresarial e das conseqüências da ausência do registro da sociedade, tendo

como pontos principais a discussão sobre os efeitos do registro, a existência ou

não de personalidade jurídica em relação às sociedades irregulares e a forma

de responsabilidade dos sócios e administradores no caso de a sociedade ser

ou se tornar irregular.

Como conclusão é exposto que o Registro de Empresa tem efeitos

declaratórios, sendo possível a comprovação da existência da sociedade

irregular por outras formas, mas que não há qualquer vantagem em manter-se

uma sociedade irregular, já que os sócios e administradores não poderão se

valer da responsabilidade limitada, principal atrativo para a constituição de

sociedades empresárias.

6

METODOLOGIA

Na pesquisa exploratória, foram consultadas as obras dos principais

autores sobre o tema, tais como: José Ewaldo Tavares Borba, Sérgio

Campinho, Fábio Ulhoa Coelho e Fran Martins, dentre outros.

Também, foram consultadas as mais diversas fontes que se

dedicam ao estudo do Direito Societário: dissertações, artigos de revistas e de

websites, bem como, as leis correlatas, sempre se baseando nos

ensinamentos dos referidos autores.

No período de elaboração desta monografia, também foi observado

o trabalho da Procuradoria da Junta Comercial do Rio de Janeiro.

Na pesquisa descritiva, buscou-se demonstrar o posicionamento da

Doutrina brasileira sobre o tema enfrentado.

Na pesquisa explicativa, foi realizado um estudo sistemático nos

ensinamentos doutrinários, nas normas e julgados brasileiros, com o intuito de

confirmar ou refutar as hipóteses de soluções para o tema proposto.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1 – SOCIEDADE EMPRESÁRIA, SISTEMA DE REGISTRO E A

SOCIEDADE EMPRESÁRIA IRREGULAR 09

1.1 - Regras gerais da sociedade empresária 09

1.1.1 - Definição 09

1.1.2 - Distinção entre sociedade empresária e sociedade simples 12

1.1.3 - Tipos de sociedades empresárias 16

1.2 - O sistema de registro empresarial 20

1.3 - A constituição da sociedade empresária 27

1.4 - A sociedade irregular 29

CAPÍTULO 2 – SOCIEDADE IRREGULAR E PERSONALIDADE JURÍDICA

36

2.1 - Pessoa jurídica 36

2.2 - Personalidade jurídica e sociedade irregular 37

2.3 - Regime jurídico da sociedade irregular (a sociedade em comum) 42

2.4 - Da desconsideração da personalidade jurídica 42

CAPÍTULO 3 – AS CONSEQÜÊNCIAS DA IRREGULARIDADE DA

SOCIEDADE EMPRESÁRIA 47

3.1 - As conseqüências à própria sociedade 47

3.2 - A responsabilidade dos sócios 47

3.3 - A responsabilidade dos administradores 48

CONCLUSÃO 51

REFERÊNCIAS 53

8

INTRODUÇÃO

A presente monografia ocupa-se em fazer um estudo sobre a

sociedade empresária irregular pela ausência de registro no Registro

Empresarial, abordando também suas conseqüências para as partes

envolvidas.

A sociedade irregular desperta interesse porque é difícil de se

trabalhar com uma ficção jurídica que ainda não possui existência legal, o que

somente ocorre com o arquivamento de seus atos constitutivos no respectivo

registro (artigo 45 do Código Civil).

Este trabalho tem por objetivo estudar a sociedade irregular à luz do

Registro Público da Atividade Empresarial realizado pelas Juntas Comercias,

buscando evidenciar as conseqüências advindas desta situação.

Da mesma forma, intenta fornecer subsídios que auxiliem uma

reflexão sobre a importância de se manter regular o registro das sociedades

empresárias e difundir um alerta sobre as conseqüências da irregularidade

àqueles empresários que se encontram nessa situação.

Observe-se que a atividade empresarial tem elevada importância

para a manutenção da sociedade, de forma que o registro púbico empresarial

busca fornecer uma maior segurança jurídica nas relações desta natureza,

através de sua finalidade precípua de dar publicidade aos atos societários

(artigo 1º da Lei nº 8.934/94).

9

CAPÍTULO I

SOCIEDADE EMPRESÁRIA, SISTEMA DE REGISTRO E

A SOCIEDADE EMPRESÁRIA IRREGULAR

1.1 - A Sociedade Empresária

1.1.1 - Definição

De início, importante fixar o que seja sociedade e suas distinções de

outras entidades jurídicas semelhantes.

O Código Civil em seu artigo 44 cita como pessoas jurídicas, as

fundações, as associações e as sociedades, tendo sido acrescentados pela Lei

nº 10.825/03, as organizações religiosas e os partidos políticos, mas sem

regulamentação.

A fundação, segundo José Edwaldo Tavares Borba, “trata-se de um

patrimônio personalizado, fundado em uma dotação conferida por um

instituidor. Destinam-se as fundações as desenvolvimento de atividades

religiosas, morais, culturais ou de assistência” (BORBA, 2007, p. 7).

Entretanto, essas pessoas jurídicas não representam um fenômeno

associativo, já que, conforme Sergio Campinho, não conjugam “esforços

pessoais para a consecução de objetivos comuns, tenham eles ou não

conteúdo econômico” (CAMPINHO, 2004, p. 33).

As associações “são instituições sem finalidade de lucro. Aplicam-se

a atividades recreativas, esportivas, caritativas, assistenciais, culturais,

religiosas etc.” (BORBA, 2007, p. 7/8).

Nos dizeres de Sérgio Campinho, “a associação é um tipo específico

de pessoa jurídica de direito privado, da qual resulta a união de pessoas que se

organizam para fins não econômicos, não havendo inclusive, entre os

associados direitos e obrigações recíprocos (art. 53)” (CAMPINHO, 2004, p.

34).

É importante deixar registrado que o Código Civil estabelece que as

regras das associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades, conforme

10 seu artigo 44, parágrafo único. No entanto, de acordo com Tavares Borba, a

maioria de tais regras não pode ser aplicada às sociedades, por incompatíveis

(BORBA, 2007, p. 8).

Passando adiante, necessário expor de uma vez o conceito de

sociedade.

Nesse entender, sociedade, conforme leciona Tavares Borba “é uma

entidade dotada de personalidade jurídica, com patrimônio próprio, atividade

negocial e fim lucrativo” (BORBA, 2007, p. 29).

Para Sérgio Campinho, sociedade é:

(...) o resultado da união de duas ou mais pessoas,

naturais ou jurídicas, que, voluntariamente, se obrigam a

contribuir, de forma recíproca, com bens e serviços, para

o exercício proficiente de atividade econômica e a

partilha, entre si, dos resultados auferidos nessa

exploração (CAMPINHO, 2004, p. 36).

As sociedades e as associações têm como principal distinção a

finalidade. Sendo que a sociedade busca o lucro, que também representa a

dos sócios. Já, na associação, “ainda que se apure resultado financeiro, este

se destina para a manutenção dos fins sociais” (BORBA, 2007, p. 9).

Destaca-se dos conceitos expostos, a pessoa jurídica, tendo em vista

ser um “ente capaz de adquirir direitos e assumir obrigações”, passando a

possuir autonomia em relação a seus sócios, por possuir patrimônio próprio

(BORBA, 2007, p. 30).

Nesse correr, Tavares Borba ressalta que é importante para a

caracterização da sociedade a “atividade negocial” é a característica da

sociedade como entidade que tem como objetivo o “mundo dos negócios”

(BORBA, 2007, p. 30). Já Sérgio Campinho fala que a sociedade é voltada

para a exploração de “atividade econômica” (CAMPINHO, 2004, p. 36), mas

não há maior distinção.

11 Outro aspecto relevante nas definições acima se refere ao fim

lucrativo, isto é a essência da sociedade, se não houver distribuição de lucros

entre os sócios, não há sentido para que a pessoa jurídica exista.

Refinando a exposição, vale fixar-se neste momento a definição de

sociedade empresária propriamente dita, distinguindo-se da sociedade simples.

Desse modo, de acordo com Tavares Borba, “as sociedades

empresárias são as que exercem atividades próprias de empresário (art. 982),

inclusive a sociedade dedicada a atividade rural, contanto que se inscreva no

Registro Público de Empresas Mercantis (art. 984)” (BORBA, 2007, p. 24).

Segundo Sérgio Campinho, sociedade empresária é definida da

seguinte forma:

A sociedade empresária é aquela que tem por objeto a

exploração habitual de atividade econômica organizada

para a produção ou a circulação de bens ou de serviços,

sempre com o escopo de lucro. Explora, pois, de forma

profissional a empresa, resultado da ordenação do

trabalho, capital e, porque não, tecnologia (CAMPINHO,

2004, p. 38).

O empresário é definido por Sérgio Campinho como “(...) a pessoa

física ou jurídica que exerce profissionalmente (com habitualidade e escopo de

lucro) atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de

bens ou de serviços no mercado” (CAMPINHO, 2004, p. 14).

O elemento inovador no conceito de sociedade empresária em

relação ao conceito de sociedade, referente, conforme Tavares Borba, às

“atividades próprias de empresário” ou, segundo Sérgio Campinho, à

“exploração habitual de atividade econômica organizada”, será mais bem

exposto adiante, ao se fixar as principais diferenças entre sociedade

empresária e sociedade simples (CAMPINHO, 2004, p. 14).

12 1.1.2 - Distinção entre sociedade empresária e sociedade simples

Diferentemente das sociedades empresárias, as sociedades simples,

de acordo com Tavares Borba, “são as que não dispõem de uma estrutura

organizacional e as que, mesmo dispondo, dedicam-se a atividades intelectuais

rurais (agricultura e pecuária) e a negócios de pequeno porte (pequena

empresa), cabendo registrá-las no Registro Civil da Pessoas Jurídicas”

(BORBA, 2007, p. 24).

De acordo com Sergio Campinho, as sociedades simples podem ser

definidas da seguinte forma:

(...) simples serão as sociedades que adotarem forma de

cooperativa ou que exercerem objeto atinente à

atividade própria de empresário rural ou executarem

atividades definidas por lei como não empresariais,

localizadas no parágrafo único do artigo 966 do novo

Código (...) (CAMPINHO, 2004, p. 39).

Neste ponto, torna-se importante expor que o direito brasileiro, a

partir do Código Civil de 2002, passou a adotar a teoria da empresa, seguindo

o direito italiano.

Desse modo, empresário se tornou aquele desenvolve a empresa,

sendo empresa, segundo Tavares Borba, “a atividade econômica organizada, e

o empresário é o agente dessa atividade, seja este uma pessoa natural ou uma

pessoa jurídica” (BORBA, 2007, p. 16).

De forma semelhante, leciona Sergio Campinho, com suporte na

lição de Rubens Requião, que a empresa “apresenta-se como um elemento

abstrato, sendo fruto da ação intencional do seu titular, o empresário, em

promover o exercício da atividade econômica de forma organizada”

(CAMPINHO, 2004, p. 13).

Importante destacar desse conceito, que a condição básica para se

caracterizar um empresário ou sociedade empresária é a organização, no

13 sentido que “compreenderá a articulação do trabalho alheio e de meios

materiais” (BORBA, 2007, p. 16).

Entretanto, ressalte-se que, no aspecto econômico da empresa,

segundo Jean Pailluseau (PAILLUSEAU, apud LOBO, 1993, p. 22) citado por

Jorge Lobo, as definições podem ser reunidas em dois grupos, sendo que um

traz uma concepção extensiva e outro, um conceito restrito.

Para a primeira corrente, conforme Truchy, empresa é “toda

organização cujo objetivo é prover a produção, a troca, ou a circulação de bens

e serviços. A empresa é a unidade econômica e jurídica na qual são reunidos e

coordenados os fatores humanos e materiais da atividade econômica”

(TRUCHY, apud LOBO, 1993, p. 22), ou, segundo James, é “todo organismo

que se propõe essencialmente a produzir para o mercado certos bens ou

serviços e que independe financeiramente de qualquer organismo” (JAMES,

apud LOBO, 1993, p. 22).

Sob a ótica mais restritiva, define-se empresa, segundo François

Perroux, da seguinte forma:

É uma forma de produção pela qual, no seio do mesmo

patrimônio, se combinam os preços dos diversos fatores

de produção empregados por distintos ajustes do

proprietário da empresa, com vista a vender para o

mercado bens e serviços e obter um lucro monetário que

resulte da diferença entre duas séries de preços

(PORROUX, apud LOBO, 1993, p. 22).

Assim, ressalte-se que, de acordo com Jean Pailluseau

(PAILLUSEAU, apud LOBO, 1993, p. 23), independente da teoria adotada, a

empresa é a organização que reúne fatores humanos e materiais com o

objetivo de produzir ou circular bens e serviços para o mercado.

Apesar de não imprimir maior atenção para as considerações

expostas acima, Jorge Lobo traz a empresa como sendo a mola propulsora do

progresso econômico e social (LOBO, 1993, p. 22).

14 O autor diz que é possível adotar duas posições quanto ao início da

história da empresa: a primeira é de que sendo a história do comércio a história

da civilização e da humanidade (MENDES, apud LOBO, 1993, p. 1), e a

história do comércio, a história da empresa, a empresa teve seu despertar a

aproximadamente trinta séculos antes de Cristo (MENDES, apud LOBO, 1993,

p. 1), no Egito (BURNS, apud LOBO, 1993, p. 1), ou na Índia (MENDES, apud

LOBO, 1993, p. 1), ou na Síria (MENDONÇA, apud LOBO, 1993, p. 1). Por

outro lado, segundo o jurista, a segunda posição, abalizada na teoria clássica

acerca das formas de produção e nos “ensinamentos da escola histórica

alemã” (LOBO, 1993, p. 22), defende que a empresa surgiu apenas na Idade

Média, com a produção e venda de excedentes com o intuito de auferir lucros,

já que até então havia somente uma “economia doméstica” (LOBO, 1993, p.

22) e rural, a qual encerrava tanto a produção quanto o consumo na própria

unidade familiar.

Nesse contexto, expõe Jorge Lobo, que a Revolução Industrial fez

com que o domínio da produção do senhor feudal tivesse um fim, pois agora

era o capitalista que dava impulso à roda do mundo.

No entanto, de acordo com o autor, as empresas, com a inevitável

evolução, trazendo inúmeros inventos tecnológicos, sobretudo após Segunda

Guerra Mundial, tiveram que crescer e, por conseguinte, tornaram-se altamente

necessários a atualização em tecnologias e planejamento eficazes, o que fez

com que o poder empresarial passasse do capitalista para a mão de

administradores altamente capacitados e competentes.

Nesse contexto, observe-se o trecho do texto do mestre Jorge Lobo:

O poder, na realidade, passou para aquilo que a pessoa

em busca de novidades consideraria justificado de

chamar de novo fator de produção. É a associação de

homens de diversos conhecimentos técnicos,

experiência ou outro talento que a tecnologia moderna e

o planejamento requerem. Ela se estende da liderança

da empresa industrial moderna até quase próximo da

15 mão de obra e abrange grande número de pessoas e

grande variedade de talentos. É da eficiência dessa

organização, com o que a maioria das doutrinas

econômicas concorda, que depende hoje o êxito da

empresa moderna (LOBO, 1993, p. 22).

Dessa forma, verifica-se que outra condição caracterizadora do

empresário é a “profissionalidade, voltada para a produção de bens ou

serviços”, de acordo com Sergio Campinho, profissionalidade se expressa pela

habitualidade e escopo de lucro (CAMPINHO, 2004, p. 38).

Nesse entender, para um maior esclarecimento, vale citar as

palavras de Tavares Borba:

A empresa existe quando as pessoas coordenadas ou

os bens materiais utilizados, no concernente à produção

ou à prestação de serviços operados pela sociedade,

suplantam a atuação pessoal dos sócios.

A coordenação, a direção e a supervisão são pertinentes

ao empresário ou à sociedade empresária; o exercício

direto do objeto social, vale dizer, a produção ou a

circulação de bens e a prestação de serviços são

operados pela organização (BORBA, 2007, p. 18).

Ressalte-se que a organização distingue empresário e sociedade

empresária de sociedade simples e a profissionalidade, distingue o empresário

do capitalista.

Há que se observar, também, que aqueles que desenvolverem

atividade intelectual, de natureza científica, literatura ou artística, mesmo que

de forma organizada, não serão empresários, não haverá uma sociedade

empresária, mas sim uma sociedade simples. O Código Civil os exclui

expressamente no parágrafo único do art. 966, já que a atividade intelectual

seria sempre um trabalho pessoal, exceto quando constituam elemento da

empresa, por exemplo, quando uma indústria farmacêutica englobe o trabalho

de pesquisa de descoberta de novos medicamentos.

16 Em relação à atividade rural cabe destacar que pode caracterizar ou

não um empresário. Sendo que o Código Civil em seu art. 971 permitiu que o

trabalhador rural passasse à condição de empresário rural, mediante o registro

na Junta Comercial. De tal modo, o trabalhador rural terá a faculdade de se

submeter às normas de regência da atividade empresarial, já que outro

requisito não há, além do registro na Junta Comercial.

O pequeno empresário definido na Lei Complementar nº 123/2006,

art. 3º, por ser beneficiado com um tratamento favorecido, conforme a

Constituição (art. 179), também poderá se registrar tanto no Registro Civil das

Pessoas Jurídicas, quanto na Junta Comercial.

Advirta -se que a sociedade empresária será registrada na Junta

Comercial e a simples será registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas,

exceto as cooperativas, que apesar de simples terão seu registro obrigatório na

Junta Comercial.

A sociedade empresária e o empresário individual se submetem aos

procedimentos da Lei de Recuperação e Falências, Lei nº 11.101/2005, já as

sociedades simples se submetem às regras da insolvência civil, previstas no

art. 748 e seguintes, do Código de Processo Civil.

Além disso, de acordo com Tavares Borba, as sociedades simples

não estão obrigadas a observar as “normas estritas de contabilidade,

escrituração e levantamento de balanços”, a que se refere o art. 1.179 do

Código Civil (BORBA, 2007, p. 13).

Desse modo, a sociedade se enquadra como empresária, segundo

dois fatores: “(a) exercício de atividade própria de empresário, que é a

atividade econômica organizada; e (b) não incidência das ‘exceções

expressas’, que são relativas ao trabalho intelectual, e, por opção, à atividade

rural e à condição de pequeno empresário” (BORBA, 2007, p. 26).

1.1.3 - Tipos de sociedades empresárias

Sociedade empresária não tem apenas uma espécie, é uma

qualificação que engloba vários tipos societários, sendo: a sociedade limitada,

17 estrito senso, porque a sociedade simples também pode ser limitada ou de

outro tipo compatível com a o objeto desenvolvido (art. 983, do Código Civil), a

sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade

anônima e a sociedade em comandita por ações (BORBA, 2007, p. 26).

O que caracteriza a sociedade limitada é a responsabilidade limitada

dos sócios, ou seja, os sócios respondem tão-somente pelo capital social, que

“é a cifra correspondente ao valor dos bens que os sócios transferiram ou se

obrigaram a transferir à sociedade” art. 1.052 do Código Civil (BORBA, 2007, p.

69).

Observe-se que se o capital não estiver integralizado todos os sócios

respondem solidariamente pela parte não integralizada, independentemente do

sócio que deixou de integralizar sua parte, mas esta responsabilização será

sempre subsidiária (CAMPINHO, 2004, p. 139).

O capital da sociedade limitada é dividido em quotas, que segundo

Tavares Borba “representa uma fração do capital social e, em conseqüência,

uma posição de direitos e deveres perante a sociedade” (BORBA, 2007, p. 46).

Outra característica marcante da sociedade limitada é que ela se

constitui através de um contrato social, o qual agrega as vontades dos sócios

que convergem para um fim comum (BORBA, 2007, p. 31/32).

A sociedade limitada terá necessariamente de incluir em seu nome

empresarial, seja por firma (em que o nome dos sócios, estão descritos no

nome empresarial ou só de alguns deles seguidos da expressão “& Cia”,

designando os sócios que não aparecem na firma) ou denominação (formado

por uma expressão de fantasia e a designação da atividade que desenvolve) a

expressão “limitada” ou na forma abreviada “Ltda” (CAMPINHO, 2004, p. 60).

A sociedade limitada pode ser classificada, segundo Tavares Borba,

como uma sociedade regular, haja vista que a sociedade irregular não será de

responsabilidade limitada (ressalte-se que a irregularidade da sociedade

limitada é o objeto principal desta monografia, portanto será mais bem

abordada adiante); uma sociedade de pessoas, caso prevaleçam as normas

restritivas de transferência da participação dos sócios, neste caso a sociedade

18 será intuitu personae, ou uma sociedade de capital, quando prevalecer a

liberdade associativa da sociedade, mediante a livre transferibilidade das

quotas sociais, agora, a sociedade levará em conta o investimento na

sociedade; uma sociedade limitada, como já dito (BORBA, 2007, p. 73/77).

Para Sergio Campinho, a sociedade limitada, além de se classificar

como uma sociedade de pessoas ou de capital, limitada, é uma sociedade

contratual, por se constituir por um contrato social, de capital fixo, em razão de

seu capital ser “definido e, cláusula do seu ato constitutivo, só se podendo

alterá-lo para mais ou para menos, mediante alteração do contrato social ou do

estatuto”, personificada, conforme disposto expressamente no Subtítulo II do

Título I, do Livro II (Do Direito de Empresa) do Código Civil (CAMPINHO, 2004,

p. 47/55).

A sociedade em nome coletivo e a sociedade em comandita simples

são dois tipos de sociedades empresárias praticamente inexistentes no Brasil,

portanto, só serão abordadas em síntese.

De tal modo, sociedade em nome coletivo é delineada como a única

sociedade em que a responsabilidade dos sócios é ilimitada e solidária, do que

vale citar a lição de Sérgio Campinho:

A sociedade em nome coletivo caracteriza-se como

único tipo societário no Direito brasileiro em que todos os

sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas

dívidas da sociedade. Nessa medida, os sócios – que

necessariamente serão pessoas físicas – responderão,

pelas obrigações sociais, de forma pessoal (com

patrimônio próprio), subsidiária (a responsabilidade do

sócio é sempre em grau subsidiário nas sociedades

personalizadas), solidária (os credores podem exigir a

integralidade do valor de seus créditos de qualquer dos

sócios) e ilimitada (respondem com todas as forças do

patrimônio pessoal) (CAMPINHO, 2004, p. 275).

19 De acordo com, Sérgio Campinho, a sociedade em comandita

simples pode ser definida da seguinte forma:

A sociedade em comandita simples é aquela que

comporta duas categorias de sócio: sócios comanditados

e sócios comanditários. Os primeiros, necessariamente

pessoas físicas, respondem solidária e ilimitadamente,

pelas obrigações sociais; os segundos, pessoas naturais

ou jurídicas, respondem somente pelo valor de suas

quotas de capital. O contrato social deverá discriminar

cada uma dessas classes de sócio (CAMPINHO, 2004,

p. 277).

A sociedade anônima é a sociedade empresária por excelência, cuja

qualidade está fixada expressamente na lei (art. 2º, § 1º, da Lei nº 6.404/76).

De acordo com José Edwaldo Tavares Borba as características

básicas da sociedade anônima são as seguintes:

a) é sociedade de capitais; b) é sempre empresária; c) o

seu capital é dividido em ações transferíveis pelos

processos aplicáveis aos títulos de crédito; d) a

responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço de

emissão das ações subscritas (BORBA, 2007, p. 159).

A sociedade anônima se constitui por um estatuto, conforme art. 87

da LSA.

A sociedade em comandita por ações é uma sociedade praticamente

inexistente, de acordo com Tavares Borba, seu estudo não tem qualquer

interesse prático (BORBA, 2007, p. 159).

Em normas gerais, a sociedade comandita por ações rege-se pelas

mesmas regras da anônima, mas caracteriza-se como uma sociedade de

responsabilidade mista, porque congrega sócios com responsabilidade limitada

e os sócios de responsabilidade ilimitada, que são os administradores ou

diretores, e pode ter como nome empresarial uma denominação ou uma firma,

20 de forma diversa da anônima que somente é de responsabilidade limitada e

tem como nome empresarial uma denominação.

1.2 - O sistema de registro empresarial

De acordo com o exposto acima, sabe-se que o registro das

sociedades simples é realizado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, sendo

que as sociedades empresárias que faz parte do objeto de estudo são

registradas no Registro Público de Empresas Mercantis, inclusive as

cooperativas, que apesar de serem sociedades simples, são registradas nas

Juntas Comerciais (CAMPINHO, 2004, p. 367).

O sistema de registro empresarial no Brasil, com a edição da Lei nº

8.934/94, passou a se designado como “Sistema Nacional de Registro de

Empresas Mercantis – SINREM”, englobando órgão federais e estaduais. O

SINREM é regido pela Lei nº 8.934/94, que dispõe sobre “o Registro Público de

Empresas Mercantis e Atividades Afins”, sendo regulamentada pelo Decreto

1.800/96.

O Código Civil de 2002 também dispõe sobre registro, conforme seu

artigo 1.150 a 1.154, além das normas esparsas aplicáveis. Contudo, ressalte-

se que a lei geral não tem o poder de revogar as disposições especiais da Lei

nº 8.934/94, sendo o Código Civil aplicado, no caso, apenas subsidiariamente.

O Registro, segundo Américo Luis Martins da Silva, “é o lançamento,

a inscrição ou a transcrição, integral ou por extrato, em livro apropriado, de

certos fatos ou atos escritos, escrituras, títulos e documentos em geral” (SILVA,

2002, p. 1).

De acordo com o seu art. 1º, o registro empresarial tem como

principal finalidade, na hipótese em estudo, “dar garantia, publicidade,

autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis,

submetidos a registro na forma desta lei”.

De forma mais clara Sérgio Campinho leciona que o Registro

Mercantil tem por finalidade:

21 a) conferir garantia, publicidade, autenticidade,

segurança e eficácia aos atos jurídicos dos empresários

individuais e das sociedades empresárias; b) cadastrar

os empresários e as sociedades empresárias, nacionais

e estrangeiras, com atividade no País; c) proceder à

matricula e seu cancelamento dos agentes auxiliares do

comércio (CAMPINHO, 2004, p. 367/368).

Em relação à garantia, ressalta Américo Luís que essa finalidade se

revela pelo fato de que o Registro Empresarial atesta a existência do

empresário (SILVA, 2002, p. 19).

A publicidade é atingida pela disponibilização das informações dos

empresários pelas Juntas Comerciais para todos que as buscarem, mas

ressalta Américo Luís que o registro não tem o poder de convalidar atos nulos,

apesar de presumir-se exato e válido o registro até que seja declarada a sua

nulidade (SILVA, 2002, p. 21).

No que tange à autenticidade, vale dizer que o registro fornece uma

presunção de verdade aos atos registrados, de modo que, como ressalta

Américo Luís, “o registro é um ato meramente material de expediente, que não

dá validade ao ato registrável; ele só se presta a dar solenidade ao ato e

autenticação ao instrumento do contrato” (SILVA, 2002, p. 21).

Segundo o autor, as Juntas Comerciais não podem julgar a validades

dos atos registrados, já que têm como finalidade apenas “notificar ao público

sua existência de um modo autêntico” (SILVA, 2002, p. 21).

A segurança se liga à diminuição dos riscos dos contratantes com os

empresários registrados, que através das informações constantes no Registro

Empresarial, poderão avaliar melhores as condições dos negócios que serão

realizados (SILVA, 2002, p. 21).

Quanto à eficácia, afirma Américo Luís que o registro faz com que os

atos registrados produzam efeitos jurídicos. Porém, o autor introduz a ressalva

que em regra o registro não tem valor constitutivo, mas simplesmente de

publicidade, de maneira que a só a inscrição de uma sociedade não lhe confere

22 a qualidade de empresária, a qual pode ser elidida por prova em contrário

(SILVA, 2002, p. 21).

O registro, conforme a lição de Sérgio Campinho, tem natureza

declaratória da qualidade de empresário, de forma que o arquivamento dos

atos constitutivos não é capaz de por si só, sendo necessário o exercício

profissional da atividade (art. 966 do Código Civil) (CAMPINHO, 2004, p. 28).

De acordo com o autor, a inscrição no Registro Empresarial denota a

presunção de que uma pessoa está se dedicando a exercer atividade

empresária, mas essa presunção pode ser elidida por prova mais forte em

sentido contrário (CAMPINHO, 2004, p. 29).

Segundo Sérgio Campinho, a partir do registro da sociedade na

Junta Comercial estará constituída a pessoa jurídica, mas não ostentará a

condição de empresária até que inicie efetivamente a exploração de seu objeto

(CAMPINHO, 2004, p. 28).

A sociedade empresária não nasce do registro, enfatiza Sérgio

Campinho, mas do exercício de atividade própria de empresário, pois mesmo

sem registro a sociedade já existe, porém ostentando a condição de irregular, o

registro, portanto, seve para fornecer a condição de regular à sociedade

empresária e atribuir-lhe personalidade jurídica e outros privilégios

(CAMPINHO, 2004, p. 30).

Segundo o art. 3º da Lei o serviço de registro mercantil será

realizado em todo o território nacional, de forma uniforme, harmônica e

interdependente, pelo SINREM, que é composto pelo DNRC – Departamento

Nacional de Registro do Comércio e pelas Juntas Comerciais.

Como o próprio nome denota, o DNRC é um departamento do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, portanto tem

natureza de órgão da administração pública federal.

Esse órgão tem como funções exclusivas e específicas de órgão

central disciplinador, fiscalizador e supervisor do SINREM (art. 4º da lei nº

8.934/94), do que vale citar as palavras de Américo Luis Martins da Silva:

23 De fato, tal órgão não tem competência para proceder a

qualquer espécie de ato público do registro empresarial,

ou seja, como dito, não tem ele função executiva. Tem

ele sim, competência prevista em lei para traçar

diretrizes gerais para a prática dos atos registrários a

cargo das Juntas Comerciais, bem como controle e

monitoramento da aplicação de tais atos e poderes para

determinar a correção dos desajustes cometidos pelos

órgãos regionais e locais do Registro Empresarial

(SILVA, 2002, p. 1).

As Juntas Comerciais são os órgãos incumbidos diretamente pelo

registro empresarial, são órgãos locais, existindo uma em cada Estado da

Federação e no Distrito Federal, com sede nas respectivas capitais e atribuição

na circunscrição territorial de todo o Estado (art. 5º, da Lei nº 8.934/94).

A Junta Comercial é definida, segundo Américo Luis Martins da Silva,

nos seguintes termos:

Junta Comercial constitui uma entidade ou repartição

pública estadual encarregada de executar o registro

público das empresas mercantis e atividade afins, ou

seja, constitui um órgão público, com estrutura de

colegiado, mantido pelo governo estadual e incumbido

de registrar as pessoas físicas e pessoas jurídicas que

exercem atividade empresarial, conferindo-lhes a

qualidade de empresários legalmente estabelecidos.

Portanto, as Juntas Comerciais têm por função essencial

a execução dos serviços do registro empresarial (SILVA,

2002, p. 1).

Torna-se importante destacar que as Juntas Comerciais, de acordo

com Fábio Ulhoa Coelho, têm natureza híbrida, haja vista que em matéria

administrativa ela insere-se na administração pública estadual, e quando se

trate de matéria técnica de registro de empresa, vincula-se ao DNRC, com

24 exceção da Junta Comercial do Distrito Federal, que é subordinada

administrativa e tecnicamente ao DNRC (COELHO, 2005, p. 39). As juntas

estão subordinadas tecnicamente ao DNRC, órgão federal, e vinculada

administrativamente à administração pública estadual.

As Juntas Comerciais, em regras gerais, têm por funções “executar e

administrar os serviços de registro público de empresas mercantis e atividades

afins” (SILVA, 2002, p. 25), sendo elencadas nos artigos 8º da Lei de Registro

Empresarial.1

Ressalte-se que as Juntas Comerciais podem desconcentrar seus

serviços instituindo delegacias e estabelecendo convênios com órgãos da

Administração direta, autarquias, fundações públicas e entidades privadas sem

fins lucrativos (art. 7º da Lei nº 8.934/94).

No artigo 32 da referida Lei estão descritos os atos pertinentes ao

empresarial a cargo das Juntas Comerciais, prevendo, inclusive, as suas

designações.2

No entanto, para o desenvolvimento do presente trabalho, torna-se

relevante o estudo de apenas uma das modalidades: “O arquivamento: a) dos

1 Art. 8º Às Juntas Comerciais incumbe: I - executar os serviços previstos no art. 32 desta lei; II - elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as normas legais pertinentes; III - processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos e intérpretes comerciais; IV - elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas alterações, bem como as resoluções de caráter administrativos necessárias ao fiel cumprimento das normas legais, regulamentares e regimentais; V - expedir carteiras de exercício profissional de pessoas legalmente inscritas no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins; VI - o assentamento dos usos e práticas mercantis. 2 Art. 32. O registro compreende: I - a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais; II - O arquivamento: a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas; b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976; c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; d) das declarações de microempresa; e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis; III - a autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei própria.

25 documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas

mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas”.

O arquivamento, segundo Américo Luís Martins da Silva, “nada mais

é do que o ato de depósito, promovido pela autoridade pública competente,

para guarda de documentos de interesse do comércio e do empresário

comercial” (SILVA, 2002, p. 47).

O arquivamento, com base na classificação dos atos administrativos

elaborada por José dos Santos Carvalho Filho, pode ser classificado como um

ato administrativo vinculado (CARVALHO FILHO, 2007, p. 114).3

Dessa forma, o registro das sociedades empresárias se efetuará com

o arquivamento de seus atos constitutivos na Junta Comercial de sua sede, o

requerimento de empresário, para o empresário individual, o contrato, para as

sociedades limitadas, em nome coletivo e em comandita simples, o estatuto, no

caso das sociedades anônimas e em comandita por ações.

O arquivamento se inicia com o pedido de arquivamento dirigido ao

Presidente da Junta Comercial (art. 33 do Decreto nº 1.800), sendo distribuídos

a um dos julgadores, se o ato estiver sujeito ao regime de decisão singular (não

compreendido pelo art. 50 do Decreto,4 - art. 51), ou para uma das Turmas de

Vogais da Junta Comercial, se o ato estiver relacionado no art. 50, II, do

Decreto, ou, ainda, ao Plenário da Junta comercial, quando se tratar de

“recursos interpostos das decisões definitivas, singulares ou de Turmas” (art.

50, I).

3 Atos vinculados, como o próprio adjetivo demonstra, são aqueles que o agente pratica reproduzindo os elementos que a lei previamente estabelece. Ao agente, nesses casos, não é dada liberdade de apreciação da conduta, porque se limita, na verdade, a repassar para o ato o comando estatuído na lei. Isso indica que nesse tipo de atos não há qualquer subjetivismo ou valoração, mas apenas a averiguação de conformidade entre o ato e a lei (CARVALHO SANTOS, 2006, p. 114). 4 Art. 50. Subordinam-se ao regime de decisão colegiada: I - do Plenário, o julgamento dos recursos interpostos das decisões definitivas, singulares ou de Turmas; II - das Turmas, o arquivamento dos atos de: a) constituição de sociedades anônimas, bem como das atas de assembléias gerais e demais atos relativos a essas sociedades, sujeitos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins; b) transformação, incorporação, fusão e cisão de sociedades mercantis; c) constituição e alterações de consórcio e de grupo de sociedades, conforme previsto na lei de sociedades por ações.

26 Ressalte-se que a Junta Comercial está autorizada somente a

examinar o cumprimento das formalidades legais (art. 40 da Lei nº 8.934/94).

Os pedidos de arquivamento serão decididos no máximo em dez

dias, para a decisão colegiada, e em três dias, quando a decisão for singular,

contados do recebimento do processo, sob pena de serem considerados

arquivados os atos, com a ressalva do exame das formalidades legais pela

Procuradoria (art. 52 do Decreto), para quem não foi fixado prazo, do que se

conclui ser aquele previsto para as manifestações no caso de recurso ao

Plenário, de dez dias úteis (art. 46 da Lei nº 8.934/94 e 76 do Decreto nº

1.800/96).

Esclareça-se que, em havendo a formulação de exigência pela Junta

Comercial no processo de arquivamento pretendido pelas sociedades, pode ser

interposto “Pedido de Reconsideração”, também dirigido ao Presidente da

Junta Comercial, no prazo de cumprimento das exigências de 30 dias a contar

da data da ciência do interessado ou da publicação do ato, na forma do art. 45

c/c o art. 40, da Lei nº 8.934/94 e art. 65 do Decreto 1.800/96.

Sobrevindo o indeferimento do arquivamento, por decisão definitiva

da Turma de Vogais da Junta Comercial, caberá recurso dessa decisão ao

Plenário (art. 10 da Lei nº 8.934/94 e art. 9º do Decreto 1.800/96), no prazo de

10 dias úteis, da data da intimação da parte ou da publicação do ato no órgão

oficial onde se publicam os atos da Junta Comercial. No caso da Junta

Comercial do Estado do Rio de Janeiro é no Diário Oficial do Estado e no

jornal, “O Diário Comercial”, conforme o art. 46 c/c o art. 50 e 31, da Lei nº

8.934/94 e art. 66 a 68 do Decreto 1.800/96. O Recurso também será dirigido

ao Presidente da Junta Comercial e a Procuradoria da Junta Comercial que

oferecerá as contra-razões no prazo de 10 dias, a partir da intimação (art. 51

da Lei nº 8.934/94 e art. 67, § 1º do Decreto 1.800/96).

É importante ter em mente que o recurso ao Plenário também pode

ser interposto pela Procuradoria da própria Junta Comercial, quando o

interessado será intimado para oferecer as contra-razões (art. 51 da Lei nº

8.934/94 e art. 67, caput, do Decreto 1.800/96).

27 Da mesma forma, da decisão do Plenário da Junta Comercial caberá

recurso ao Ministro da Indústria do Comércio e do Turismo, também dirigido ao

Presidente da Junta Comercial, no prazo de 10 dias úteis a partir da ciência do

interessado ou da publicação do ato, segundo o disposto no art. 47 c/c art. 50

da Lei nº 8.934/94 e art. 69 do Decreto 1.800/96. No entanto, a manifestação

em “contra-razões”, nesse nível, será do Departamento Nacional de Registro

do Comércio, para posteriormente submetê-lo ao Ministro da Indústria do

Comércio e do Turismo (art. 69 do Decreto nº 1.800/96).

1.3 - A constituição da sociedade empresária

As sociedades em geral se dividem em contratuais e estatutárias,

sendo que as sociedades empresárias contratuais são as limitadas, as em

nome coletivo e as em comandita simples, as sociedades institucionais, a

anônima e a comandita por ações.

Como visto, as sociedades contratuais se constituem por um contrato

social plurilateral e as sociedades institucionais, por seus estatutos.

Segundo José Edwaldo Tavares Borba, a sociedade se constitui da

seguinte forma:

(...) através de um instrumento público ou particular,

firmado por todos os sócios, no qual se declaram as

condições básicas da entidade, inclusive nome,

domicílio, capital social, cotas de cada sócio, objeto

social, forma de administração, prazo de existência e

processo de liquidação (BORBA, 2007, p. 31).

Independentemente de ser a sociedade contratual ou institucional,

aplicam-se ao ato as normas do art. 104 do Código Civil referentes aos

requisitos do negócio jurídico, que exige agente capaz; objeto lícito, possível

determinado ou determinável; e forma prescrita ou não defesa em lei.

A capacidade para contratar sociedade empresária é a capacidade

plena, sendo que é admitida a participação de relativamente capaz e incapaz,

mediante assistência ou representação (BORBA, 2007, p. 31).

28 O objeto lícito corresponde que não deve afrontar a ordem jurídica e

que seja realizável (BORBA, 2007, p. 31).

Quanto à forma os atos constitutivos podem ser por instrumento

particular ou público, sendo o contrato para a sociedade limitada e a ata de

assembléia geral e constituição para as sociedades por ações.

De regra, os atos constitutivos encampam a declaração de no

mínimo duas pessoas, mas pode haver no caso de subsidiária integral a

declaração unilateral de vontade, sem contar os casos de unipessoalidade

ocorridas no decorrer da vida da sociedade.

Entretanto, de acordo com Tavares Borba, há de muito tempo na

doutrina controvérsia acerca da natureza do ato constitutivo das sociedades.

Segundo o autor, alguns entendiam havia um “ato coletivo, de instituição ou

corporativo, em virtude do qual as vontades se somariam, de forme paralela,

sem, portanto, se contrapor”. No entanto, ressalta o autor que, para a posição,

agora dominante, baseada na teoria do contrato, arquitetada por Túlio Ascarelli,

o ato constitutivo da sociedade é sim um contrato em que “não há essa

contraposição. Ao invés, as partes se conjugam para um fim comum.

Substituindo-se o sinalagma em que se cruzam os interesses, coloca-se a

identidade de interesses, instrumentalizada na criação da sociedade” (BORBA,

2007, p. 32).

Dessa forma, tais atos devem ser levados a registro no Registro

Público de Empresas Mercantis, ao contrário das sociedades simples que

serão registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, ou até na Ordem dos

Advogados do Brasil, no caso das sociedades de advogados.

Entretanto, repise-se a lição sobre o momento da constituição da

sociedade empresária de Sérgio Campinho exposta acima, segundo a qual a

sociedade empresária se constitui somente quando do inícia efetivo do

desenvolvimento de atividade própria de empresário, tendo o registro na Junta

Comercial apenas efeito declaratório, tornando a sociedade regular e

fornecendo-lhe personalidade jurídica e outros privilégios (CAMPINHO, 2004,

p. 30).

29 1.4 - A sociedade empresária irregular

As sociedades regulares, de acordo com Tavares Borba, são

“aquelas que, contratadas por escrito, têm os seus atos constitutivos inscritos,

conforme o caso, no registro público de empresas mercantis ou no registro civil

das pessoas jurídicas” (BORBA, 2007, p. 73).

Em contraponto às sociedades regulares, segundo o autor, “faltando

o instrumento escrito ou a sua inscrição, a sociedade será considerada

irregular ou de fato” (BORBA, 2007, p. 73).

De forma semelhante, Sergio Campinho, seguindo Eunápio Borges,

leciona que:

(...) “irregulares são as sociedades que se contratam

verbalmente ou as que, embora contratadas por escrito,

não arquivaram o respectivo ato constitutivo no Registro

do Comércio”, agora denominado Registro Público de

Empresas Mercantis (CAMPINHO, 2004, p. 80).

Apesar de corrente na doutrina a expressão sociedade irregular e

sociedade de fato, o Código Civil, ao estabelecer as regras de regência para a

hipótese, resolveu usar a terminologia de “sociedade em comum“ (art. 986).

Ressalte-se que a doutrina mais antiga distinguia sociedade irregular

e sociedade de fato, sendo esta a sociedade sem contrato escrito e aquela a

sociedade com um contrato escrito (FERREIRA, apud COELHO, 2002, p. 393),

mas não registrado. Entretanto, passou-se a entender hodiernamente que são

expressões sinônimas, por não haver distinção em relação às conseqüências

pela falta de registro, “servindo para designar qualquer sociedade a que falte,

quer o instrumento escrito, quer a inscrição desse instrumento” (BORBA, 2007,

p. 73).

Segundo Fran Martins, sociedade de fato é aquela sociedade que

tendo ou não os atos constitutivos escritos, não os registra, “que resulte apenas

de atividade comercial em comum, com ânimo societário”; e a sociedade

irregular, aquela que “se organiza legalmente, arquiva os seus atos

30 constitutivos no Registro do Comércio, mas, posteriormente, pratica atos que

desnaturam o tipo social (...); ou que funciona sem cumprir as obrigações

impostas pó lei” (MARTINS, 1990, p. 262).

Ponto crucial a este estudo, é que se a sociedade empresária não

inscrever seus atos constitutivos (contrato ou estatuto) no registro competente,

o Registro Público de Empresas Mercantis de sua sede, se tornará uma

sociedade irregular. Isso quer dizer que a sociedade empresária deve registrar-

se nas Juntas Comercias, caso a sociedade não promova a sua inscrição ou,

sendo empresária, é registrada no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, seu

registro será inválido, considerando-se uma sociedade irregular.

Entretanto, ressalta Tavares Borba que a irregularidade estaria na

falta de registro, e não no registro inadequado, haja vista que, mesmo assim

estariam asseguradas as finalidades do registro: “a publicidade e a fiscalização

do cumprimento dos preceitos legais aplicáveis”. Segundo o autor, a

irregularidade por inadequação só seria possível se “a inadequação do registro

fosse manifesta, ou quando houvesse evidente intuito de fraudar a lei”

(BORBA, 2008).

Outra questão importante é a relativa à adaptação contratual e

estatutária às novas regras societárias dispostas no Código Civil de 2002, em

substituição ao regime anterior.

O Código Civil em seu art. 2.031 estabelece o seguinte:

Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações,

constituídas na forma das leis anteriores, bem como os

empresários, deverão se adaptar às disposições deste

Código até 11 de janeiro de 2007. (Redação dada pela

Lei nº 11.127, de 2005)

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às

organizações religiosas nem aos partidos políticos.

(Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

31 De acordo com Tavares Borba, toda a realização dos atos dos

constitutivos das sociedades, associações e fundações, suas reformas, bem

como às transformações, incorporações, fusões ou cisões, deveriam ter sido

feitas desde a entrada em vigor do Código Civil (11/01/2003) (BORBA, 2007, p.

5).

Esse entendimento se fundamenta no fato de que as normas de

caráter imperativo do Código incidem sobre as normas contratuais e

estatutárias por serem textos normativos inferiores (BORBA, 2007, p. 5).

Porém, em relação às normas dispositivas5 do Código, que permitem previsão

diversa dos contratos e estatutos, mantêm-se afastadas se as regras

estabelecidas pelos sócios forem compatíveis com as normas impositivas

(BORBA, 2007, p. 5).

Entretanto, segundo Tavares Borba, a perda do prazo legal para a

adaptação não torna a sociedade irregular, mas somente configura falta grave

dos administradores e controladores, que responderão pelos prejuízos

porventura suportados pela sociedade, pelos sócios e por terceiros (BORBA,

2007, p. 6).

Ressalta o autor, que a irregularidade pela não adaptação somente

ocorreria “em situações extremas em que o regime legal da sociedade e seu

registro fossem manifestamente incompatíveis com a nova condição jurídica”.

Seria o caso de uma sociedade, cujo tipo tenha sido abolido pelo Código, que

então teria que se adaptar a um novo tipo societário, como é o caso da

sociedade de capital e indústria, que não mais existe (BORBA, 2007, p. 6).

Nesse correr, Sérgio Campinho sustenta que, nem mesmo no caso

de uma sociedade civil (registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas),

que com o novo Código passou a ser considerada empresária, se deixar de

transferir seu registro para a Junta Comercial, tornar-se-ia uma sociedade

irregular. Isso, porque, segundo o autor, a sociedade que estava na condição

regular segundo as normas do tempo de sua constituição, não poderia perder

5 “considera-se permissiva, supletiva ou dispositiva a lei quando os seus preceitos não são impostos de modo absoluto, prevalecendo no caso de silêncio das partes, isto é, se estas não determinaram, nem convencionaram procedimento diverso”. (MAXIMILIANO, apud, BORBA, 2007, p. 122).

32 essa condição pó força de lei posterior, conforme o art. 2.035 do Código Civil

(CAMPINHO, 2004, p. 80), que estabelece:

Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos

jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste

Código, obedece ao disposto nas leis anteriores,

referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos

após a vigência deste Código, aos preceitos dele se

subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes

determinada forma de execução.

Com relação às implicações de ser uma sociedade considerada

irregular, a princípio, pode-se dizer que a responsabilidade dos sócios será

ilimitada.

Cabe salientar que as principais conseqüências decorrentes da

condição de irregularidade da sociedade empresária advêm da questão da

existência ou não de personalidade jurídica, o que será abordado no capítulo

seguinte.

Por outro lado, verifica-se também a irregularidade da sociedade

empresária quando ocorrer o cancelamento de seu registro pela Junta

Comercial e os sócios continuarem a desenvolver suas atividades

(CAMPINHO, 2004, p. 370).

Os principais casos de cancelamento do registro são a ocorrência no

caso de inatividade (art. 60 da Lei n.º 8.934/94) e quando desconstituído do

registro por defeito do ato constitutivo, mediante decisão judicial (art. 45 do

Código Civil).

Segundo o art. 60, caput, da Lei n.º 8.934/94, a sociedade que

permanecer 10 (dez) anos sem proceder a qualquer arquivamento na Junta

Comercial deverá comunicar que deseja manter-se em funcionamento.

Na ausência dessa comunicação, e desde que notificada

previamente pela Junta (art. 60, § 2º), a sociedade será considerada inativa

perdendo automaticamente a proteção ao seu nome empresarial (art. 60, § 1º).

33 Se a sociedade não comunica espontaneamente que está em

funcionamento, e, além disso, não responde à intimação da Junta Comercial,

surge uma presunção relativa de inatividade que justifica o cancelamento do

registro e a perda da proteção ao nome empresarial.

Esse cancelamento do registro não importa em dissolução regular,

uma vez que para tanto se exige todo um procedimento legal (art. 1.102 e

seguintes do Código Civil).

A sociedade, portanto, não fica extinta em virtude do cancelamento

do registro, uma vez que o objetivo desse cancelamento por inatividade é

apenas o de limpar os cadastros da Junta Comercial, aliviando a carga de

registros, bem como o de liberar a utilização dos nomes empresariais dessas

sociedades.

O interesse protegido pelo art. 60 da Lei 8.934/94 é o de

racionalização do sistema de registro e o de liberação do nome empresarial,

para que terceiros possam utilizá-lo.

O cancelamento do registro, com a conseqüente perda do nome

empresarial, assemelha-se a uma punição, que é aplicada ao empresário que,

descumprindo o art. 60 da Lei nº 8.934/94, não comunica à Junta Comercial a

continuação de suas atividades, não obstante terem transcorrido 10 anos sem

nenhum arquivamento.

Ressalte-se que neste caso, os sócios e administradores poderão

responder diretamente por perdas e danos que causarem pela omissão ou

demora no requerimento do registro dos atos a que estiver o empresário

obrigado a registrar (art. 1.151, § 3º, do código Civil).

A desconstituição do registro refere-se à hipótese de o arquivamento

ter sido realizado em definitivo e será argüida judicialmente, tendo com

legitimados o Ministério Público, Procuradoria Regional do Registro do

Comércio (art. 28 da Lei nº 8.934/94) (BORBA, 2007, p. 217).

Para melhor ilustrar a hipótese, vale citar as palavras de José

Edwaldo Tavares Borba:

34 O controle da legalidade se exerce e se exaure, todavia,

com o arquivamento do ato societário. Uma vez

esgotados os prazos recursais administrativos, verifica-

se a chamada coisa julgada administrativa. O poder que

detém a administração de desconstituir os próprios atos

por vício de ilegalidade (Súmula 473 do STF) não se

aplicaria nesse caso, primeiro porque, tratando-se de um

ato de julgamento, vincula-se a administração à sua

decisão final, e segundo porque nos atos de registro,

atributivos de fé pública, a administração desencadeia,

com o seu ato, inúmeras relações jurídicas, com o

envolvimento de terceiros que contratam com a

sociedade, baseados no registro efetivado. O mesmo

acontece com o registro de imóveis, cujos atos somente

podem ser desconstituídos por decisão judicial (BORBA,

2007, p. 217).

Outra possibilidade de irregularidade da sociedade empresária

ocorre quando as sociedades que necessitam de prévia autorização do Poder

Executivo para funcionar permanecem desenvolvendo a atividade mesmo

depois de revogada a autorização (art. 1.123 do Código Civil).

De acordo com Tavares Borba, a autorização prévia tem como

finalidade possibilitar uma aferição das regularidades das sociedades e da

observância das normas legais destinadas ao resguardo do interesse público.

Dependem de prévia autorização do governo federal, segundo Maria

Helena Diniz, as sociedades que desenvolvam suas atividades de posse de

dinheiro do público, tendo o Poder Público a incumbência de resguardar o

interesse coletivo, “averiguando sua idoneidade, seus estatutos e as garantias

que ofertam àquele”.

As sociedades que necessitam de autorização prévia para seu

registro são elencadas por Maria Helena Diniz:

35 Assim sendo, dependerão da autorização do governo

federal as sociedades estrangeiras (LICC, art. 11, § 1º);

as agências ou estabelecimentos de seguros (Decs. –

Leis n. 2.063/40 e 73/66, art. 74); bancos e instituições

financeiras (Lei n. 4.595/64); empresas de transporte

aéreo (Lei n. 7.565/86; montepio, caixas econômicas,

bolsas de valores (Lei n. 4.728/65, arts. 7º e 8º; Res. n.

39/66; Leis n. 6.385/76 e 6.404/76); e cooperativas (CC,

arts. 1.093 a 1.096; Lei n. 5.764/71, arts. 17 a 21; outrora

não precisavam dessa autorização, como se pode ver

pelos Decs. – Leis. 22.239/32, 581/38, 5.893/43,

6.274/44, 8.401/45, 59/66 e Dec. N. 60.597/67), salvo

sindicatos profissionais e agrícolas (CLT, arts. 511 e s.;

CF, art. 8º, I e II), desde que legalmente organizados. A

competência para a autorização será sempre do Poder

Executivo federal (DINIZ, 2004, p. 786).

Dessa forma, uma vez extinta a autorização para funcionar, a

sociedade dissolve-se de pleno direito, de modo que a sua continuidade se

torna irregular (CAMPINHO, 2004, p. 130).

36

CAPÍTULO II

SOCIEDADE IRREGULAR E PERSONALIDADE

JURÍDICA

2.1 - Pessoa jurídica

Ressalte-se, neste ponto, que existe uma posição que considera a

pessoa jurídica uma mera ficção e outra que a considera uma realidade

(BORBA, 2007, p. 34).

Com fundamento no ensino de Miguel Reale em sua obra, Lições

Preliminares do Direito, a tradição romanística entendia a pessoa jurídica como

uma simples fictio juris, ou seja, uma simples ficção do Direito, pois, quando se

deparavam com problemas tendo que obter um resultado, contornavam-nos,

como se fossem compatíveis com alguma norma já existente e assim,

construíam ficticiamente uma regra que se adequasse ao caso (REALE, 1991,

p. 230).

Segundo o autor, a esse entendimento filiou-se Savigny, preferindo

ver no conceito da pessoa jurídica, apenas um artifício, não existindo, portanto,

como entidade dotada de existência própria (SAVIGNY, apud REALE, 1991, p.

230). Desse modo, os juristas poderiam utilizar-se de normas jurídicas distintas

para responsabilizar um ato associativo, sendo, por isso uma noção incipiente

de pessoa jurídica, surgida ainda na idade média.

Pode-se observar, entretanto, conforme ensina Washington de

Barros Monteiro em sua obra Curso de Direito Civil, tanto no antigo direito

romano quanto no germânico a pessoa jurídica não existia, sendo, inicialmente,

no direito canônico que a pessoa jurídica foi desenvolvida através do

incremento das fundações, pois qualquer ofício eclesiástico provido de

patrimônio próprio era considerado ente autônomo (MONTEIRO, 1994, p. 96).

Todavia, é razoável considerar-se o tema a partir da veemente

discordância de Miguel Reale, quando afirma que essa compreensão da

37 pessoa jurídica não corresponde à realidade, tendo em vista a não

correspondência desta com seus associados (REALE, 1991, p. 230).

Desse modo, Miguel Reale assim define a pessoa jurídica:

Por mais engenhosa que seja, é inegável que a

compreensão da pessoa jurídica como simples ficção

não corresponde à prática do Direito. Antes que o

Código Civil Brasileiro houvesse estabelecido que a

pessoa jurídica não se confunde com a pessoa de seus

membros, a jurisprudência pátria passou por grandes

dificuldades para explicar certos fatos. Se uma

sociedade anônima vem a falir, a falência não atinge a

pessoa dos acionistas. Se uma sociedade civil de

intuitos recreativos falham em seus objetivos e se vê a

braços com imensas dívidas, por estas não respondem

os seus associados. Como, então, justificar tais fatos

com base em mera ficção? (REALE, 1991, p. 230).

De acordo com Tavares Borba, a posição realista hodiernamente é

dominante, já que, segundo o autor “a existência da sociedade como ente

jurídico distinto dos sócios e com vontade própria, às vezes diversa da

daqueles isoladamente, afigura-se inquestionável”. E mais adiante, continua o

professor: “a sociedade é dotada de personalidade jurídica tal como o homem o

é. Uma distinção fundamental deve, porém, estar sempre presente: enquanto o

homem é um fim em si (Kant), a sociedade e um instrumento do homem, ao

qual deve servir” (BORBA, 2007, p. 34).

2.2 - Personalidade jurídica e sociedade irregular

Entretanto o que foi dito, como funciona a questão da personalidade

jurídica nas sociedades irregulares, face o que estabelece o art. 45 do Código

Civil? In verbis:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas

de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no

38 respectivo registro, precedida, quando necessário, de

autorização ou aprovação do Poder Executivo,

averbando-se no registro todas as alterações por que

passar o ato constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a

constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por

defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação

de sua inscrição no registro.

De acordo com o citado dispositivo legal, a sociedade irregular não

possui personalidade jurídica, haja vista depender da sua inscrição na Junta

Comercial.

Tal norma é ratificada pelo art. 985 do Código Civil:

Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com

a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos

seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).

Nesse entender, leciona Sérgio Campinho que o Código Civil não

concedeu personalidade jurídica às sociedades irregulares:

No sistema introduzido não há mais margem para a

discussão acerca da personalidade jurídica das

sociedades empresárias irregulares, embora a disciplina

adotada para reger a responsabilidade dos sócios

perante terceiros não guarde grau de coerência

desejável com a opção de não se conceder a

personalidade jurídica a tais sociedades (CAMPINHO,

2004, p. 80).

No entanto, conforme José Edwaldo Tavares Borba, as sociedades

adquirem personalidade jurídica com a sua constituição, apesar de não ser a

posição adotada pelo Código Civil, tanto que terceiros podem provar sua

existência, segundo o art. 987 do Código Civil, do que vale citar suas próprias

palavras:

39 Embora, segundo o Código Civil, as sociedades só

adquiram personalidade com a inscrição no registro

próprio (art. 895), na verdade adquirem-na com a sua

constituição, tanto que terceiros podem provar a

existência da sociedade não inscrita (art. 987). Não

poderão, todavia, funcionar, isto é, exercer o seu objeto,

sem que os atos constitutivos estejam inscritos e, se

sociedade anônima, também publicados (BORBA, 2007,

p. 35).

Segundo leciona Fábio Ulhoa Coelho, a personalidade jurídica da

sociedade empresária, em consonância com a posição adotada pela lei, se

inicia com o registro de seus atos constitutivos no Registro Empresarial, mas

ressalta que, na verdade, já a partir do momento que os sócios passam a

explorar a atividade econômica em conjunto e existente o contrato, mesmo que

verbal, já existe a pessoa jurídica, haja vista que “o encontro de vontade dos

sócios já é suficiente para dar origem a uma nova pessoa, no sentido técnico

de sujeito de direito personalizado” (COELHO, 2002, p. 16).

Explica o autor que a lei, no que diz respeito ao início da

personalização das sociedades empresárias, é “ilógica, incoerente e destoante

em relação ao conceito de pessoa jurídica” (COELHO, 2002, p. 16/18). Isso se

deve, de acordo com o autor, porque conforme o sistema vigente, apesar de

em regra a sociedade irregular ensejar a responsabilidade ilimitada e direta dos

sócios, no caso de a sociedade empresária deixar de registrar seus atos

constitutivos na Junta Comercial a responsabilidade dos sócios será ilimitada e

subsidiária, exceto em relação ao representante, que responderá diretamente

(artigos 999 e 990 do Código Civil) (COELHO, 2002, p. 16/17).

A esse respeito, torna-se importante transcrever as palavras do

próprio autor:

Como visto, em razão do direito vigente, a

personalização se inaugura com o registro do ato

constitutivo na Junta Comercial, e, portanto, para ser

40 coerente, o sistema legal deveria dar sustentação à

segunda alternativa. Desse modo, todos os sócios da

sociedade empresária irregular deveriam ser

responsabilizados pelas obrigações sociais de forma

direta, não se exigindo dos credores sociais o anterior

exaurimento do patrimônio dela. Ocorre que a lei trata

diferentemente os sócios da sociedade empresária,

enquanto não regularizado o registro, atribuindo

responsabilidade subsidiária à generalidade dos sócios

e, direta somente ao que se apresentar como seu

representante (COELHO, 2002, p. 17).

A personalização da sociedade empresária consagra o princípio da

autonomia patrimonial, pelo qual, segundo Fábio Ulhoa Coelho, “os sócios não

podem ser considerados os titulares dos direitos ou os devedores das

prestações relacionados ao exercício da atividade econômica” (COELHO,

2002, p. 14).

De acordo com Fábio Ulhoa, as conseqüências da personalização da

sociedade empresária podem ser demonstradas através de três exemplos: “a

titularidade obrigacional, a titularidade processual e a responsabilidade

patrimonial” (COELHO, 2002, p. 14).

Sobre o a primeira hipótese, o autor leciona que a titularidade das

obrigações relacionadas ao desenvolvimento da atividade será da pessoa

jurídica da sociedade, e não dos sócios. Sendo que a responsabilização dos

sócios somente ocorreria em casos excepcionais, regulados em normas

especiais (COELHO, 2002, p. 14).

Em relação à titularidade processual, sustenta Fábio Ulhoa que a

sociedade personalizada terá legitimidade para figurar como parte em ações

judiciais referentes às suas obrigações (COELHO, 2002, p. 14/15).

No que tange à responsabilidade patrimonial, ressalta o autor que a

personalização da sociedade empresária a torna responsável direta e ilimitada

pelas suas obrigações com o patrimônio que lhe pertence. Dessa forma, o

41 patrimônio dos sócios são distintos, inconfundíveis e incomunicáveis com os da

sociedade. Os bens da sociedade não pertencem mais aos sócios, estes

mediante contribuição para o capital social, adquiriram uma participação na

sociedade, quotas ou ações, estas sim constituem o patrimônio dos sócios.

Ressalte-se, mais demonstrarão do princípio da autonomia patrimonial

(COELHO, 2002, p. 15).

No entanto, é importante ressalvar que os sócios podem responder

pelas obrigações da sociedade empresária, de forma limitada ao valor das

quotas não integralizadas, no caso das sociedades por quotas (art. 1.052 do

Código Civil), ou ao valor do preço de emissão das ações subscritas ou

adquiridas, quando for sociedade por ações (art. 1.088 do Código Civil e art. 1º

da Lei nº 6.404/76); ilimitada e solidariamente para os sócios com

responsabilidade ilimitada nas sociedades em nome coletivo (art. 1.039 do

Código Civil), comandita simples (art. 1.045 do Código Civil) e comandita por

ações (art. 1.091 do Código Civil), mas nestes casos a responsabilidade será

sempre subsidiária.

Destaque-se, também, que há outros casos em que os sócios

excepcionalmente responderão pelas obrigações da pessoa jurídica, por

exemplo, no caso da desconsideração da responsabilidade jurídica da

sociedade, o que será estudado adiante.

Em relação à sociedade irregular, esses efeitos serão estudados no

próximo capítulo deste trabalho.

Entretanto, como já ressaltado anteriormente, observe-se que o ato

de registro se caracteriza melhor como um ato administrativo declaratório, haja

vista que conforme o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 1.151, do Código Civil6 e

6 § 1º Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos. § 2º Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão.

42 art. 36 da Lei nº 8.934/94,7 os efeitos do registro podem retroagir à data da

realização do ato de constituição.

2.3 - Regime jurídico da sociedade irregular (a sociedade em

comum)

Nesse correr, em que pese o Código Civil, apesar de estabelecer que

a sociedade passa a ter existência legal com o registro, passou a prever um

regime próprio para a sociedade irregular, designando-a de sociedades em

comum, conforme art. 986 e seguintes.

Neste capítulo do Código Civil, são estabelecidas algumas normas

que delineiam as regras básicas de regência das sociedades irregulares,

fixando regras quanto a prova de sua existência, capacidade de estarem em

juízo, responsabilidade dos sócios, aplicação subsidiária das normas sobre

sociedade simples, dentre outras.

No entanto, a aplicação de tais normas será mais bem estudada no

próximo capítulo, cabendo, nesse momento, atentar para o fato de que o

Código Civil ressalvou de tal normatização as sociedades por ações em

constituição, que apesar de não estarem ainda registradas, não se submetem

às regras das sociedades em comum (art. 986 do Código Civil).

2.4 - Da desconsideração da personalidade jurídica

A desconsideração da personalidade jurídica é uma teoria que tem

como objetivo afastar a personalidade jurídica da sociedade a fim de

responsabilizar os sócios e administradores que, por atos ilícitos ou de má fé,

venham a prejudicar terceiros.

A concepção dessa teoria, no entender de Rubens Requião, teve

como ato deflagrador as discussões acerca do litígio entre o comerciante Aaron

Salomon vs. a sociedade Salomom & Co. Ltda, na Inglaterra (REQUIÃO, 2003,

p. 378).

7 Art. 36. Os documentos referidos no inciso II do art. 32 deverão ser apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 (trinta) dias contados de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do arquivamento; fora desse prazo, o arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder.

43 Assim, de acordo com Requião, Aaron Salomon tornou-se credor

com garantia real da Salomom & Co. Ltda., tendo em vista que tinha investido a

mais que o valor de suas quotas quando da fundação realizada por ele mesmo

em 1897, sendo os sócios fundadores, ele, sua mulher e seus cinco filhos.

Após, explica o autor, que a sociedade tornar-se insolvente, em sede litigiosa,

as instâncias superiores inglesas afastaram o princípio da autonomia

patrimonial da Salomon & Co. Ltda., a ponto de ser considerada apenas um

representante de Aaron Salomon. Segundo Requião, os julgadores entenderam

que o comerciante utilizou-se da Companhia para desenvolver suas atividades

de forma a não ser responsabilizado por eventuais dívidas não saldadas e,

assim, a sociedade representante teria direito a obter do representado o

patrimônio para a satisfação das obrigações contratuais.

Apesar dessas decisões terem sido posteriormente reformadas pela

House of Lords,8 conforme Rubens Requião, formou-se a tese que deu origem

à doutrina da disregard of legal entity, desenvolvendo-se principalmente nos

Estados Unidos, onde acabou por formar ampla jurisprudência e, após,

expandiu-se para a Europa.

Essa propagação, pois da disregard of legal entity, de acordo com

Rubens Requião, se deu efetivamente por volta da década de 1950 se

começava a observar que uma vez que o Princípio da Autonomia Patrimonial

previa a total separação entre os bens da pessoa jurídica e de seus sócios,

algumas pessoas agiam de má fé, beneficiando-se da personalidade jurídica de

suas empresas para fraudar a lei e, conseqüentemente, prejudicando terceiros.

Assim, conforme Requião, esses tipos de fraudes ficavam

encobertos pela consideração da personalidade jurídica e só seriam detectados

quando se levantasse o véu (lifting the veil) da sociedade, ou seja, afastando o

princípio da autonomia patrimonial, podendo, assim, evitar e punir a prática de

tais atos ilícitos, responsabilizando os sócios e administradores.

Desse modo, conforme José Edwaldo Tavares Borba, a teoria da

desconsideração da personalidade jurídica tem cabimento nos casos em a

8 Suprema Corte.

44 pessoa jurídica, por má-fé, dolo ou uma atitude temerária, esteja sendo

utilizada para desvios ou aventuras de seus titulares, que não o

desenvolvimento de suas atividades (BORBA, 2007, p. 36).

Ressalte-se, entretanto, de acordo com Tavares Borba, essa teoria

não pretende “anular a personalidade jurídica, mas o de afastá-la em situações

específicas”, ou seja, depende do fato concreto (BORBA, 2007, p. 36).

No Direito Brasileiro, de acordo com o professor Fábio Ulhoa

Coelho, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi introduzida

por Rubens Requião por volta de 1970 e se divide em teoria maior da

desconsideração e teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica

(COELHO, 2002, p. 35/46).

Segundo Fábio Ulhoa, a teoria maior, também denominada de teoria

subjetiva, nasceu “do esforço doutrinário, realizado a partir de decisões

judiciais, o mesmo método, adotado em vista da jurisprudência brasileira,

conduziria ao resultado de uma formulação diferente da teoria” (COELHO,

2002, p. 46). Ele afirma que os juízes brasileiros utilizaram-se do argumento

objeto do estudo de Serick, que investigava o critério o qual os juízes norte-

americanos passaram a se considerar autorizados para ignorar a separação

patrimonial entre sociedade e sócios.

Sendo assim, diz Fábio Ulhoa que a teoria maior da

desconsideração é a mais elaborada, pois busca afastar a personalidade

jurídica da sociedade nos casos em que os responsáveis por atos fraudulentos

e abusivos não possam ser alcançados através de normas de responsabilidade

já existentes. Nesse caso, “distinguem-se com clareza a desconsideração da

personalidade jurídica e outros institutos jurídicos que também importam a

afetação de patrimônio de sócio por obrigação da sociedade” (COELHO, 2002,

p. 35).

Fábio Ulhoa diz que é através da teoria maior da desconsideração

que o juiz é autorizado a ignorar a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas,

para coibir fraudes e abusos praticados por elas. É de tamanha importância

essa teoria, ressalta o autor, que quando se fala da teoria da desconsideração

45 da personalidade jurídica sem qualquer especificação, é porque está se

referindo a versão desta (COELHO, 2002, p. 35).

De outro modo, na teoria menor da desconsideração da

personalidade jurídica, segundo Fábio Ulhoa Coelho (COELHO, 2002, p. 35), é

bem menos elaborada, presume-se menor esforço, contentando-se apenas

com a demonstração pelo credor da inexistência de bens sociais e da solvência

de qualquer sócio, para atribuir a este a obrigação da pessoa jurídica, ou seja,

“o simples prejuízo do credor já possibilita afastar a autonomia patrimonial”.

Sendo assim, o autor complementa dizendo que essa teoria não se preocupa

em distinguir se houve fraude, nem abuso de poder, se a sociedade é solvente,

isso basta para ser responsabilizada.

Assim, Fábio Ulhoa diz que “se a formulação da maior pode ser

considerada um aprimoramento da pessoa jurídica, a menor deve ser vista

como o questionamento de sua pertinência, enquanto instituto jurídico”

(COELHO, 2002, p. 46).

Não obstante, o principal ponto a ser observado é a contextualização

da teoria da desconsideração da personalidade jurídica no ordenamento

jurídico brasileiro no Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, que a

previu em seu artigo 28 e parágrafo 5º; na Lei Antitruste nº 8.884/94, em seu

artigo 18; na Lei de Crimes Ambientais, nº 9.605/98, em seu artigo 4º e,

finalmente, no Código Civil de 2002, que trata do tema em seu artigo 50.

Explica Tavares Borba que, segundo a regra do art. 50 do Código

Civil, admite-se se afastar a absoluta separação dos patrimônios dos sócios em

relação à sociedade, porque a atuação teria sido apenas do sócio e não da

sociedade, o ato foi deflagrado com o objetivo de atender ao interesse do

sócio, sendo que a pessoa jurídica serviu apenas de capa protetiva à pessoa

natural (BORBA, 2007, p. 37).

Observe-se, segundo entende Tavares Borba, que a lei condiciona a

superação da personalidade jurídica quando estiver configurado o uso abusivo

da sociedade, de acordo com o autor, no caso em que a sociedade esteja

sendo desviada de seus fins e interesses, ou quando haja confusão entre os

46 bens da sociedade com os dos sócios ou administradores (BORBA, 2007, p.

39).

É importante destacar que, de acordo com Sérgio Campinho, há

casos em que os sócios respondem diretamente pelos atos contrários aos

contratos ou estatutos e à lei, conforme o art. 1.080 do Código Civil e art. 158,

II da Lei nº 6.404/76 (CAMPINHO, 2004, p. 73).

Para melhor entendimento vale citar a lição de Fábio Ulhoa Coelho,

para o qual a teoria da desconsideração da pessoa jurídica, somente pode ser

aplicada quando não for possível responsabilizar diretamente os responsáveis

pelos atos:

A teoria da desconsideração, como visto, tem pertinência

apenas quando a responsabilidade não pode ser, em

princípio, diretamente imputada ao sócio, controlador ou

representante legal da pessoa jurídica. Se a imputação

pode ser direta, se a existência da pessoa jurídica não é

obstáculo à responsabilização de quem quer que seja,

não há por que cogitar do superamento de sua autonomia

(COELHO, 2002, p. 50).

Nesse entender, ressalta Sérgio Campinho o caso contido na

jurisprudência acima colacionada, afirmando que na dissolução irregular, não é

aplicável a desconsideração da personalidade jurídica, mas a

responsabilização direta dos sócios por ato ilícito, sendo aplicável à hipótese o

art. 1.080 do Código Civil (CAMPINHO, 2004, p. 73).

47

CAPÍTULO III

AS CONSEQÜÊNCIAS DA IRREGULARIDADE DA

SOCIEDADE EMPRESÁRIA

3.1 - As conseqüências à própria sociedade

A condição de irregularidade faz com que a sociedade empresária

sofra restrições e sanções legais.

De acordo com José Edwaldo Tavares Borba, destaque-se a

sociedade irregular não terá capacidade processual ativa, não podendo se

valer de ações judiciárias contra terceiros, exceto no caso de os sócios

provarem sua existência por escrito, conforme o art. 987 e 989 do Código Civil

(BORBA, 2007, p. 75).

A sociedade irregular, conforme Fábio Ulhoa Coelho, não tem

legitimidade para pedir falência e a recuperação judicial, segundo a Lei de

Recuperação e Falência da Empresa nº 11.101/2005. Ressalta também o autor

que os seus livros empresarias não terão eficácia probatória (COELHO, 2005,

p. 125).

Segundo leciona Sérgio Campinho, a sociedade irregular não terá

direito à proteção do nome empresarial, conforme o art. 33 da Lei 8.934/94;

também estará impossibilitada de pleitear a proteção de marca designativa de

seus produtos ou serviços, de acordo com o disposto no art. 128 da Lei nº

9.279/96; e, por fim, aduz que a sociedade sem registro será impedida de

contratar com a Administração Pública, nos termos do art. 28, III, da Lei nº

8.666/93 (CAMPINHO, 2004, p. 81).

3.2 - A responsabilidade dos sócios

Entende-se ser mais significativa a conseqüência advinda aos sócios

da sociedade irregular, que responderão solidária e ilimitadamente, entretanto,

de forma subsidiária, com exceção daquele que contratou em nome da

sociedade, que responderá de forma direta (art. 990 do Código Civil).

48 Ressalte-se, nesse ponto, o que foi dito sobre a personalidade e

sociedade irregular que a lei, no caso de prever a responsabilidade subsidiária

dos sócios da sociedade despersonificada seria ilógica e incoerente e

destoante, já que não se coaduna com o conceito de personalidade jurídica

(COELHO, 2002, p. 16/18).

Importante lembrar, também, que o contrato ou estatuto da

sociedade irregular, desde que provado por escrito, será plenamente válido

entre os sócios (art. 1.154 do Código Civil).

Ressalte-se, inclusive, que os sócios, conforme Sérgio Campinho,

“poderão partilhar o acervo social remanescente na hipótese de extinção da

sociedade, segundo o que foi por eles pactuado” (CAMPINHO, 2004, p. 81).

3.3 - A responsabilidade dos administradores

De acordo com o que dispõe o art. 990, como visto acima, o sócio

representante da sociedade irregular (administrador), responderá de forma

solidária, ilimitada e direta pelas obrigações assumidas em nome da sociedade.

Dessa forma, em que pese a ausência de disposição doutrinária

quanto a responsabilidade tão-somente dos administradores das sociedades

irregulares, sem referir-se aos sócios ou o sócio representante (BORBA, 2007,

p. 75) e (CAMPINHO, 2004, p. 81), vislumbra-se a possibilidade de o

administrador não ser sócio da sociedade irregular (art. 997, VI, do Código

Civil).

Nesse passo, ficam as dúvidas, se o ato da sociedade irregular que

nomeou o administrador não sócio deve ser considerado, mesmo não estando

a sociedade inscrita, e se, uma vez considerado válida a nomeação de

administrador, se aplica a norma da parte final art. 990 do Código Civil, ou as

normas relativas às sociedades simples, conforme o art. 986, parte final.

Nestes termos, observe-se o disposto nos referidos dispositivos

legais:

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos,

reger-se-á a sociedade, exceto por ações em

49 organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas,

subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis,

as normas da sociedade simples.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e

ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do

benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que

contratou pela sociedade.

Quanto à nomeação de administrador não sócio na constância da

irregularidade, vislumbra-se a possibilidade, já que o art. 986 impõe a aplicação

das normas referentes à sociedade simples às sociedades em comum, no que

forem compatíveis.

O que parece é que o art. 990 não pode ser aplicado à hipótese, já

que o mencionado o artigo se refere exclusivamente à responsabilidade dos

sócios, bem como que tal omissão é integralizada pelas disposições referentes

às sociedades simples, conforme o citado art. 986, sendo aplicável o disposto

nos artigos 1.010 a 1.021 do Código Civil.

Dessa forma, considerando o disposto no art. 1.016, conforme

leciona Tavares Borba, o administrador os administradores da sociedade

simples, e, por conseguinte, da irregular, responderão pelas obrigações

assumidas pela sociedade, somente quando agirem com culpa (negligência,

imprudência ou imperícia) (BORBA, 2007, p. 69).

Segundo as lições de José Edwaldo Tavares Borba e Sérgio

Campinho:

Os administradores respondem individualmente

sempre que agirem em desacordo com o contrato

social ou a lei. Na hipótese de uma prática normal, os

atos dos administradores apenas obrigam a

sociedade, não os alcançando pessoalmente

(BORBA, 2007, p. 69).

50 Sempre que agirem com violação da lei ou do

contrato social, ficarão os administradores

responsáveis perante a sociedade e terceiros

prejudicados. Se o terceiro demandar a sociedade e

esta vier a indenizá-lo, poderá ela, pela via da ação

regressiva proposta em face do mau administrador,

reembolsar-se dos prejuízos experimentados

(CAMPINHO, 2004, p. 114/115).

Entretanto, verificando-se que o ato de nomeação se deu por

instrumento em separado, o administrador responderá de forma pessoal e

solidariamente com a sociedade, até que haja a regularização da sociedade

empresária e seja averbada a nomeação no Registro Empresarial, conforme o

art. 1.012 do Código Civil.

Vale destacar que, no caso de o administrador ter a incumbência de

regularizar o registro da sociedade e se omitir ou demorar a requerer o registro,

poderá responder diretamente por perdas e danos que causarem pela omissão

ou demora no requerimento do registro dos atos a que estiver o empresário

obrigado a registrar (art. 1.151, § 3º, do código Civil).

51

CONCLUSÃO

A sociedade empresária irregular é, basicamente, a sociedade que

não possui registro na Junta Comercial de sua sede.

A condição de irregular da sociedade empresária se configura

geralmente de três formas: pelo o desenvolvimento de uma atividade com

objetivo de lucro de forma organizada por um grupo de pessoas, sejam elas

naturais ou jurídicas, mas sem a formulação de um contrato social ou de um

estatuto e seu registro no Registro Empresarial; pela ausência de inscrição dos

atos constitutivos no Registro Empresarial; pela desconstituição do registro, por

decisão judicial; e pelo cancelamento do registro pela Junta Comercial e extinta

a autorização governamental, com a continuação da atividade.

O Registro Empresarial, para esse estudo, tem como principal

função fornecer personalidade jurídica às sociedades empresárias, tanto que

as sociedades empresárias sem registro são chamadas de sociedades

irregulares ou, segundo o Código Civil, sociedade em comum, colocada pela lei

entre as sociedades não personificadas.

A pesar de o Código Civil afirmar que a sociedade irregular não

possui personalidade jurídica, verifica-se que a existência da sociedade

irregular se inicia a partir da reunião dos sócios no desenvolvimento de uma

atividade com o fim de obtenção de lucro, de forma que o seu registro se torna

apenas um ato declaratório e não constitutivo.

A própria sociedade irregular sofrerá com a falta de garantia de sua

existência, não podendo figurar como legitimado ativo em processos judiciais, a

não ser se prova da sua existência por escrito, não tem legitimidade para pedir

falência e a recuperação judicial, seus livros empresarias, não têm eficácia

probatória, não tem direito à proteção do nome empresarial, está

impossibilitada de pleitear a proteção de marca designativa de seus produtos

ou serviços, é impedida de contratar com a Administração Pública, dentre

outras conseqüências.

52 De qualquer forma, estando as normas gerais reguladas pelo Código

Civil, independentemente de sua personalidade jurídica os sócios vão

responder de forma solidária, ilimitada e subsidiária pelas obrigações da

sociedade, com a ressalva de que o sócio representante, não se beneficiará

pelo benefício de ordem fornecido pela subsidiariedade, respondendo este de

forma direta.

Quanto aos administradores não sócios, estes responderão

pessoalmente pelos danos que causarem com culpa, exceto os nomeados em

ato separado que responderá pessoal e solidariamente com a sociedade,

independentemente de comprovação de culpa.

A manutenção de uma sociedade empresária irregular não se

afigura um meio vantajoso de desenvolvimento da atividade empresarial, em

qualquer de seus casos trás graves afetações, principalmente para os sócios,

não podendo se valer das principais proteções que a lei garante aos

empresários em situação regular.

Portanto, não há vantagem em se manter uma sociedade

empresária em situação irregular.

53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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