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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM OS MEIOS ELETRÔNICOS E A REVOLUÇÃO NO PROCESSO BRASILEIRO Por: Priscila Kopke Lima Costa Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · 2.200/01, de 24 de agosto de 2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira como instrumento fundamental

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PS-GRADUAO LATO SENSU

FACULDADE INTEGRADA AVM

OS MEIOS ELETRNICOS E A REVOLUO NO PROCESSO

BRASILEIRO

Por: Priscila Kopke Lima Costa

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2011

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PS-GRADUAO LATO SENSU

FACULDADE INTEGRADA AVM

OS MEIOS ELETRNICOS E A REVOLUO NO PROCESSO

BRASILEIRO

Apresentao de monografia Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obteno do grau de especialista em Direito Privado

e Civil.

Por: Priscila Kopke Lima Costa

3

AGRADECIMENTOS

A todos aqueles que me incentivaram e

contriburam para a elaborao desta

monografia.

4

DEDICATRIA

minha querida filha, pelas horas de

ausncia na dedicao a este trabalho.

5

RESUMO

A presente monografia trata da recente revoluo no processo brasileiro

que a informatizao do processo judicial.

O objetivo central deste trabalho , pois, refletir acerca da influncia da

tecnologia sobre o ordenamento jurdico brasileiro e a informatizao do

processo judicial, incluindo os meios eletrnicos disponveis atualmente para a

prtica e comunicao dos atos processuais.

Pretende-se, ainda, apontar os procedimentos j adotados pelos

principais tribunais do pas, no que concerne ao peticionamento eletrnico e a

virtualizao dos processos.

Ao final deste estudo, verificar-se- que o direito brasileiro vem se

adaptando s mais modernas tecnologias, encontrando-se, j nos dias de hoje,

diante de uma mudana de enorme impacto no apenas para os operadores

do direito, mas para a sociedade em geral, que o advento do processo

eletrnico, trazendo maior celeridade e transparncia aos procedimentos

judiciais, e, conseqentemente, tornando a justia mais eficiente.

6

METODOLOGIA

Pesquisa bibliogrfica e documental atravs de livros acadmicos sobre

o tema, leis, artigos da internet e nos sites da Justia Federal Seo

Judiciria do Rio de Janeiro, do Tribunal de Justia do Estado do Rio de

Janeiro, alm do Superior Tribunal de Justia, Supremo Tribunal Federal e

Tribunal Superior do Trabalho.

7

SUMRIO

INTRODUO 08

CAPTULO I - A Influncia da Tecnologia sobre o Ordenamento

Jurdico Brasileiro 10

CAPTULO II - A Certificao Digital no Brasil 25

CAPTULO III A Prtica de Atos Processuais atravs de Meios

Eletrnicos 31

CAPTULO IV Os Procedimentos Relativos Informatizao dos

Processos adotados pelos principais Tribunais 43

CONCLUSO 70

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 72

ANEXOS 77

NDICE 110

FOLHA DE AVALIAO 112

8

INTRODUO

O desenvolvimento de novas tecnologias sempre significou perspectiva

de progresso para a humanidade.

Historicamente, j se assistiu a vrias mudanas sociais ocasionadas

por alteraes nos meios de produo.

Nas ltimas dcadas, observou-se incomensurvel avano no mbito da

tecnologia da informao, com a globalizao dos meios de comunicao e a

sua convergncia de forma a proporcionar acesso irrestrito a qualquer tipo de

informao.

Com a chegada da era digital, modificaram-se as relaes sociais

existentes, criando-se, ainda, outras que antes no existiam, o que provocou

alteraes nas relaes jurdicas e discusses no meio jurdico acerca das

repercusses da internet sobre o direito.

Dessa forma, tem-se muito discutido em como a tecnologia vem

afetando o judicirio e o processo judicial em si.

Esta revoluo, cujos efeitos apenas comeam a despontar, sem

dvidas ir transformar o processo como o conhecemos hoje.

O chamado Processo Virtual dispensa o uso do papel e a movimentao

fsica dos processos, possibilitando a tramitao digital das aes judiciais.

Com efeito, a substituio do papel por imagens j permite a consulta de

autos processuais na tela do computador atravs de um simples clic do

mouse; tambm j se faz possvel o ingresso em juzo mediante a simples

transferncia de arquivos eletrnicos; de igual forma, citaes e intimaes j

vm sendo efetuadas atravs de mensagens eletrnicas.

9

Em suma, h a reduo do servio burocrtico, conferindo-se maior

agilidade e segurana ao trmite processual, alm de se democratizar a

divulgao do processo, que fica disponvel para consulta via internet.

Enfim, o peticionamento e processo eletrnico, j nos dias de hoje,

comeam a deixar de ser exceo para tornarem-se regra em um futuro bem

prximo, trazendo maior celeridade e transparncia aos procedimentos

judiciais, o que importa em grande impacto, no apenas para os operadores do

direito, mas como para a sociedade como um todo, razo pela qual o estudo

da informatizao do processo judicial de fundamental relevncia.

CAPTULO I

10

A INFLUNCIA DA TECNOLOGIA SOBRE O

ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO

No restam dvidas de que o avano da tecnologia digital repercutiu

em inegvel alterao nas relaes humanas e, conseqentemente, nas

jurdicas, provocando reviravoltas sociais e reaes no ordenamento jurdico.

A internet, a cada dia mais acessvel a um nmero cada vez maior da

populao mundial, gerou inmeras mudanas nos hbitos cotidianos

daqueles que a utilizam, estabelecendo novos padres de conduta (de

consumir, de se relacionar, de produzir conhecimento), promovendo, alm da

incluso social, o despertar das pessoas para o ilimitado mundo da informao

e do conhecimento.

Todos os dias milhes de pessoas se comunicam virtualmente e de

forma instantnea atravs da internet por meio de mensagens eletrnicas ou e-

mails, fruns, chats, blogs, fotologs, comunidades virtuais, como se no mais

existissem as barreiras do tempo e do espao.

E, nos dias atuais, tamanho o avano tecnolgico, que j possvel

acessar a internet de qualquer lugar, inclusive, do telefone celular.

Bem, certo que o Direito no poderia permanecer esttico frente a

tamanho desenvolvimento tecnolgico e digital, sob pena de no mais

responder s solicitaes da realidade social.

Dessa forma, tambm o legislador precisou buscar, no dinamismo do

desenvolvimento tecnolgico e do mbito das comunicaes humanas, formas

para aprimorar a prtica dos atos processuais e dar maior celeridade

tramitao processual.

11

H muito que modificaes legais vm ocorrendo no sentido de se

tentar tornar o sistema legal ptrio compatvel com a evoluo tecnolgica e as

mudanas sociais dela advindas.

E, com efeito, verifica-se que a previso da utilizao de meios

eletrnicos, embora caminhe a passos lentos, no novidade na legislao

brasileira.

No ano de 1991, a Lei 8.245/91, em seu artigo 58, inciso IV, j admitia

a utilizao do telex, do fac-smile ou de qualquer outra forma prevista no

Cdigo de Processo Civil, para a citao, intimao ou notificao das pessoas

jurdicas, desde que autorizado no contrato, in verbis:

Art. 58. Ressalvados os casos previstos no

pargrafo nico do art. 1, nas aes de despejo,

consignao em pagamento de aluguel e acessrio da

locao, revisionais de aluguel e renovatrias de locao,

observar-se- o seguinte:

(...)

IV desde que autorizado no contrato, a citao,

intimao ou notificao far-se- mediante

correspondncia com aviso de recebimento, ou, tratando-

se de pessoa jurdica ou firma individual, tambm

mediante telex ou fac-smile, ou, ainda, sendo necessrio,

pelas demais formas previstas no Cdigo de Processo

Civil;.

Em 1999, com o advento da Lei n 9.800/99, a chamada lei do Fax,

passou-se a permitir a transmisso de atos processuais, que dependiam de

petio escrita, por sistema de transmisso de dados e imagens tipo fac-smile

ou similar:

12

Art. 1 permitida s partes a utilizao de

sistema de transmisso de dados e imagens tipo fac-

smile ou outro similar, para a prtica de atos processuais

que dependam de petio escrita.

primeira vista, pareceu um grande avano em relao legislao

anterior, eis que a aludida lei previa a utilizao de qualquer tipo de

transmisso de imagens e dados por equipamento similar ao fac-smile,

entretanto, a jurisprudncia predominante entendeu que o e-mail no se

enquadrava no conceito citado pela referida norma legal.

Referida lei, todavia, trazia ainda uma considervel limitao frente ao

pretendido avano, posto que obrigava as partes a juntar o original da petio

aos autos, dentro de um prazo de 5 (cinco) dias, o que ocorria, especialmente,

em razo da insegurana que at ento existia quanto aos documentos de

carter eletrnicos, que podiam ser facilmente manipulados, posto que ainda

no existia, quela poca, rgo competente para conceder aos documentos

digitais validade jurdica, conforme se ver melhor adiante:

Art. 2 A utilizao de sistema de transmisso de

dados e imagens no prejudica o cumprimento dos

prazos, devendo os originais ser entregues em juzo,

necessariamente, at cinco dias da data de seu trmino.

Pargrafo nico. Nos atos no sujeitos a prazo,

os originais devero ser entregues, necessariamente, at

cinco dias da data da recepo do material.

Pois bem. No ano de 2001, foi editada a Medida Provisria n

2.200/01, de 24 de agosto de 2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves

Pblicas Brasileira como instrumento fundamental de tecnologia, administrao

e legislao para garantir a autenticidade, a integridade, e a validade jurdica

de documentos em forma eletrnica.

13

Ainda, nesse mesmo ano, houve a aprovao do projeto que daria

ensejo Lei 10.358, de 27 de dezembro de 2001, atravs da qual se

pretendeu acrescentar um pargrafo nico no artigo 154 do Cdigo de

Processo Civil, a fim de permitir a prtica de atos processuais por meios

eletrnicos. Porm, a iniciativa contou com o veto presidencial que postergou o

avano.

O pargrafo nico, posteriormente vetado pelo Executivo, contava com

a seguinte redao:

Pargrafo nico. Atendidos os requisitos de

segurana e autenticidade, podero os tribunais

disciplinar, no mbito da sua jurisdio, a prtica de atos

processuais e sua comunicao s partes, mediante a

utilizao de meios eletrnicos.

Na justificativa do veto, foi afirmado pela Presidncia da Repblica

que:

A superveniente edio da Medida Provisria n

2.200, de 2001, que institui a Infra-Estrutura de Chaves

Pblicas Brasileira ICP-Brasil, para garantir a

autenticidade, a integridade e a validade jurdica de

documentos em forma eletrnica, das aplicaes de

suporte e das aplicaes habilitadas que utilizem

certificado digitais, bem como a realizao de transaes

eletrnicas seguras, que, alis, j est em funcionamento,

conduz inconvenincia da adoo da medida projetada,

que deve ser tratada de forma uniforme em prol da

segurana jurdica.

14

No obstante, a lei n 10.259/01, que instituiu os Juizados Especiais

Federais, em seu artigo 8, 2, j previa a autorizao para que os Tribunais

Regionais Federais disciplinassem a prtica de atos processuais e intimao

das partes por meio eletrnico:

Art. As partes sero intimadas da sentena,

quando no proferida esta na audincia em que estiver

presente seu representante, por ARMP (aviso de

recebimento em mo prpria).

1 As demais intimaes das partes sero feitas

na pessoa dos advogados ou dos Procuradores que

oficiem nos respectivos autos, pessoalmente ou por via

postal.

2 Os tribunais podero organizar servio de

intimao das partes e de recepo de petio por meio

eletrnico.

A mesma lei tambm previu a reunio de Turmas Recursais

distncia:

Art. 14. Caber pedido de uniformizao de

interpretao de lei federal quando houver divergncia

entre decises sobre questes de direito material

proferidas por Turmas Recursais na interpretao da lei.

1 O pedido fundado em divergncia entre

turmas da mesma Regio ser julgado em reunio

conjunta das Turmas em conflito, sob a presidncia do

Juiz Coordenador.

2 O pedido fundado em divergncia entre

decises de turmas de diferentes regies ou da proferida

em contrariedade a smula ou jurisprudncia dominante

do STJ ser julgado por Turma de Uniformizao,

15

integrada por juzes de Turmas Recursais, sob a

presidncia do Coordenador de Justia Federal.

3 A reunio de juzes domiciliados em cidades

diversas ser feita pela via eletrnica.

Mas o verdadeiro avano s ocorreu no ano de 2006, por primeiro,

com o advento da Lei n 11.280, de 16 de fevereiro de 2006, atravs da qual a

legislao processual finalmente foi alterada para consagrar a admisso da

utilizao dos meios eletrnicos na prtica de atos processuais em nosso

ordenamento jurdico ptrio, desde que atendidos os requisitos nela

enumerados.

A referida lei finalmente incluiu o pargrafo nico ao artigo 154, do

Cdigo de Processo Civil, concedendo aos tribunais a liberalidade de

disciplinar a prtica e a comunicao oficial dos atos processuais por meios

eletrnicos, desde que atendidos os requisitos de autenticidade, integridade e

validade jurdica, o que ocorre atravs da interveno do ICP Brasil. A

redao do pargrafo nico do artigo 154 do CPC foi a seguinte:

Art. 154 ...

Pargrafo nico. Os tribunais, no mbito da

respectiva jurisdio, podero disciplinar a prtica e a

comunicao oficial dos atos processuais por meios

eletrnicos, atendidos os requisitos de autenticidade,

integridade, validade jurdica e interoperabilidade da Infra-

Estrutura de Chaves Pblicas Brasileira ICP-Brasil.

Outrossim, tem-se que em 30.11.2006 foi aprovado em plenrio o

Projeto de Lei n 71/2002, que se encontrava em tramitao desde o ano de

2001 nas casas legislativas (n 5.828/2001 na origem), e que deu origem Lei

n 11.419/2006, que disciplina o uso da tecnologia no processo judicial, vez

que dispe sobre a informatizao do processo, dando tratamento legal ao uso

16

de documentos eletrnicos com assinatura digital, comunicao de atos e

transmisso de peas processuais por meio eletrnico no mbito do Poder

Judicirio, e d outras providncias.

O conjunto de alteraes levadas a efeito pelo advento da referida lei

abriu a oportunidade concreta para que a Justia brasileira adentre, de uma

vez por todas, era digital, tornando, assim, possvel uma maior proximidade

entre o cidado e o Poder Judicirio, alm de pretender dar fim famigerada

morosidade processual.

Trata-se de uma modernizao sem precedentes, que est a

revolucionar o processo tal como at ento o conhecamos, para estabelecer

um procedimento totalmente informatizado.

Com efeito, uma das mais impactantes mudanas est na eliminao

do papel, ou sua substituio por imagens, o que j est a possibilitar a

consulta dos autos processuais em telas de computador.

Da mesma forma, j se faz possvel o ingresso de aes em juzo

mediante simples transferncia de arquivos eletrnicos, tudo atravs de um

clic com o mouse.

O frum, por sua vez, como local fsico para onde se dirigem partes e

advogados, tambm perder, paulatinamente, muito da sua importncia,

porque os autos estaro permanentemente na web, disponveis para serem

acessados e manuseados a qualquer tempo.

Percebe-se, assim, que o processo eletrnico tramita em um ambiente

100% digital, apresentando, como principal caracterstica, a imaterialidade.

E isso tambm dever contribuir para a diminuio do tempo de

tramitao dos processos, haja vista a reduo dos atos de intermediao, eis

17

que no sero mais necessrias aberturas de vistas, certides, juntadas de

peties e expedies de mandados de citao e intimaes, por exemplo,

devendo, tudo, ser realizado eletronicamente, reduzindo-se, ainda, aquele

tempo em que o processo, autos fsicos, permanecia parado, aguardando a

prtica desses expedientes ou a remessa para um ou outro rgo ou

magistrado, sem o transcurso, porm, de prazo para a prtica de atos

processuais.

No processo eletrnico o trabalho manual ser eliminado: tudo ser

feito automaticamente pelo sistema de computao. Assim, o processo

chegar tambm mais rpido ao juiz.

Tambm algumas ordens judiciais j se tornaram bem mais rpidas e

eficientes, a exemplo dos atos de constrio e a penhora on line realizada via

convnio firmado entre os Tribunais e o Banco Central do Brasil, denominado

hoje de Bacen-Jud. A ordem de bloqueio judicial efetuada pelo prprio

magistrado, de forma on line, isto , eletronicamente, mediante a utilizao de

senha pessoal, e o sistema vasculha valores depositados em instituies

financeiras do pas inteiro, dificultando a frustrao da penhora por ato do

devedor, visto que este no dispor de tempo hbil para eventual

remanejamento dos recursos porventura existentes em suas contas bancrias

e/ou aplicaes financeiras.

H, tambm, o Sistema de Informaes ao Judicirio (Infojud), que

permite o acesso pelos magistrados s declaraes de Imposto de Renda de

contribuintes, dos ltimos cinco anos, o que, antes, podia levar meses, at que

a Receita as enviasse, atravs de ofcio, a ser juntado aos autos dos

processos.

E a tendncia a assinatura de convnios e a incorporao de cada

vez um maior nmero de banco de dados, eletronicamente ligados, ao Poder

Judicirio, tal como tambm j ocorre com alguns cartrios de registro de

18

imveis, Detrans, Polcia, Receita Federal e cadastros de restrio ao crdito,

de forma que as ordens judiciais sero expedidas diretamente a estes rgos,

sem formalismos inteis, conferindo maior agilidade e presteza aos

procedimentos judiciais e impedindo fraudes.

E, diante de todas estas medidas, parece mesmo que o conhecido dito

popular ganhou, mas no levou, est com os dias contados na Justia

Brasileira.

As comunicaes entre juzes e tribunais tambm passaro a ser

integralmente eletrnicas. As cartas precatrias, rogatrias e de ordem

tambm podero ser expedidas por meio eletrnico, com indubitvel ganho de

tempo, dispensando-se as cpias de documentos.

Todas as citaes, notificaes e intimaes tambm devero ser

feitas por correio eletrnico, atravs de mensagens de texto, e-mail, ou outro

meio escrito, com confirmao de recebimento eletrnica.

As audincias devero ser registradas em meio eletrnico, e,

possivelmente, podero ser realizadas tambm distncia, mediante a

utilizao do recurso de videoconferncia.

Finalmente, os advogados devero peticionar exclusivamente por meio

eletrnico, podendo faz-lo em qualquer dia, a qualquer momento, em

qualquer lugar, 24 (vinte e quatro) horas por dia, 7 (sete) dias por semana, uma

vez que o processo eletrnico pode ser operado em horrio integral.

E tais alteraes trazem implicaes no apenas de ordem econmica

e ambiental, mas como tambm na prpria mentalidade das pessoas,

principalmente, dos operadores do direito.

19

Com efeito, ser preciso esforo para se abandonar a forma tradicional

de peticionamento, leitura e redao de textos. Veja-se que j se faz possvel,

por exemplo, a comprovao de divergncia jurisprudencial e a indicao de

precedentes judiciais atravs da simples utilizao de links, que se constitui na

citao da URL ou endereo do site onde possvel encontrar, na internet, o

contedo do julgado a que se quer fazer referncia.

Enfim, ser preciso deixar o atual apego ao processo de papel, e

adaptar-se ao novo processo em autos virtuais.

Esta no ser a primeira vez, entretanto, que observamos o impacto da

tecnologia sobre o Direito, a exigir dos seus operadores a necessria

adaptao para o exerccio do labor dirio de suas profisses, como bem

salientaram Cndido Rangem Dinamarco e Damsio E. de Jesus em suas

respectivas obras:

Aos anti-reformistas lembro as vacilaes da

jurisprudncia das primeiras dcadas do sculo, quanto

validade ou invalidade de sentenas datilografadas (e no

mais grafadas de prprio punho) (DINAMARCO, Cndido

Rangel, 1998, p. 07).

A diferena entre a primeira e segunda fase, a

anterior com mquina de escrever e a atual, com o micro,

a mesma entre andar no lombo de um burro e voar num

jato. Um abismo. Irreversvel. Atualmente, a tarefa de

escrever artigo, livro ou tese, emend-los, ampli-los,

restringi-los, corrigir erros ou mudar ttulos realizada em

muito menos tempo. Alguns trabalhos so feitos em

minutos; as correes, emendas, supresses etc., em

segundos. Terminado um trabalho, como se ele fosse

uma esttua e eu o escultor, vou alterando, melhorando,

20

substituindo palavras e frases. Dou-me ao luxo de

procurar palavras repetidas no mesmo pargrafo ou na

mesma pgina para substitu-las por sinnimos. (JESUS,

Damsio E. de, www.jus.uol.com.br/revista/texto/1755).

Essa ser, ento, a era da Advocacia Digital, ou ainda do

advogado.com.

Sobre o assunto, importante transcrever, ainda, a viso da Ministra

Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal:

O apego ao formato-papel e s formas

tradicionais de apresentao das peties e arrazoados

no nos deve impedir de vislumbrar as potencialidades de

emprego das novas tecnologias. No limiar do terceiro

milnio devemos, tambm ns do Poder Judicirio, estar

prontos para utilizar formas novas de transmisso e

arquivamento de dados, muito diversos dos antigos

cadernos processuais, recheados de carimbos, certides

e assinaturas, em nome de uma segurana que, embora

desejvel, no pode constituir obstculo oportunidade,

ainda em nosso final de sculo, de assistir ao ingresso

dos pleitos em Juzo mediante simples transferncia de

arquivos eletrnicos, desde os escritrios de advocacia;

consulta dos autos processuais em de computador; ao

confronto entre as peas produzidas pelas partes e os

elementos de prova, atravs de um clic de mouse ou de

um comando de voz, ao arquivamento de enormes

massas de informaes em Cds e sua pesquisa

mediante a utilizao de recursos de busca aleatria e

hipertexto. Toda essa tecnologia j disponvel e

ingressa na vida diria para reduzir a repetio de

21

esforos e tarefas rotineiros e permitir a utilizao de

nosso tempo em tarefas efetivamente criativas. Vista

desta perspectiva, a discusso sobre o uso de uma

mquina j quase obsoleta, como o fac-smile, parece

nem se justificar. Ela, todavia, serve para testar nossa

capacidade de adaptao ao novo, sem que percamos de

vista o permanente anseio de fazer melhor Justia.

(www.juspodivm.com.br/ noticias/noticias_1671.html).

Ainda, nas palavras de Sergio Renato Tejada Garcia, secretrio-geral

do Conselho Nacional de Justia no binio 2006/2008:

A morosidade a anttese da justia. Justia

atrasada no justia, seno injustia qualificada, j

dizia Rui Barbosa. Injustia que se estende para todo o

Pas. Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econmica

Aplicada (Ipea) divulgou trabalho mostrando que a

ineficincia na justia responsvel pela reduo em

25% da taxa de crescimento de longo prazo do Pas. Ao

contrrio, ainda segundo o Ipea, com uma justia eficiente

o Brasil poderia crescer mais 0,8% ao ano e aumentar a

produo nacional em at 14%. A taxa de desemprego

cairia quase 9,5% e os investimentos aumentariam

10,4%. O Judicirio tem tomado diversas iniciativas para

mudar esta situao. Entre elas, reformas do sistema

recursal e dos procedimentos, o incentivo realizao de

debates e audincias de conciliao e o incentivo

aplicao de penas alternativas, entre outras. Mas o

combate lentido da Justia no requer s reformas

legislativas. H que se investir tambm em ferramentas

que auxiliem juzes e tribunais a cumprir suas funes de

forma menos burocrtica. Neste campo, igualmente h

22

muitas aes em andamento, mas uma delas tem o

potencial de revolucionar a tramitao de processos no

judicirio: o chamado processo virtual, ou processo

eletrnico, em desenvolvimento pelo CNJ e j utilizado

por alguns tribunais. O processo eletrnico funciona

atravs de um portal de internet no qual os usurios

magistrados, servidores da justia e advogados pblicos

e privados so previamente cadastrados e identificados

com login e senha. Comparecendo o cidado na sede da

justia, sua pretenso lanada diretamente no sistema.

Se preferir constituir advogado, este elaborar a petio

inicial e, de seu prprio escritrio, a encaminhar.

Acionando o boto enviar, seja pelo servidor da justia,

seja pelo advogado, a petio inicial ser distribuda

instantaneamente e, nesse momento, o interessado

receber na tela do computador a informao de que o

processo foi distribudo, que nmero obteve no protocolo,

qual a vara e qual o juiz julgar a causa. Recebendo a

ao virtual, o juiz, depois de verificar a regularidade da

causa e decidir eventual pedido de liminar, determinar a

citao do ru, que feita tambm eletronicamente,

clicando um boto. E essas providncias podem ser

tomadas por bloco. Alm de funcionar em tempo real, o

processo eletrnico faz desaparecerem todas as barreiras

impostas pelo tempo e pela distncia, podendo o

processo ser acessado a todo momento e por todos os

interessados ao mesmo tempo de qualquer lugar. Alm

de combater a morosidade processual, o processo virtual

ainda melhora o acesso Justia e a transparncia do

Poder Judicirio. Isso porque o processo eletrnico pode

ser manejado em horrio integral, isto , as portas da

Justia esto sempre abertas para o jurisdicionado. A

23

publicidade tanta quanto a rede mundial da Internet

permite. Outro grande beneficiado o meio ambiente,

pela economia de papel e de toda a gua necessria para

a sua fabricao. H, ainda, economia de mo-de-obra

dos servios burocrticos da justia, tais como elaborao

de mandados de intimao, carga de autos a advogados

e outros, trabalho que simplesmente desaparece com o

processo eletrnico. H economia, tambm, com prdios,

arquivos, armrios, etc. No s para a Justia que os

custos baixam com o processo virtual: para os advogados

tambm. Na mesma proporo em que a burocracia do

processo se reduz para a justia, reflete-se a reduo de

trabalho nos escritrios de advocacia, que podem

controlar com maior preciso os prazos processuais,

reduzir gastos com cpias reprogrficas, com arquivos,

bem como diminuir despesas com deslocamentos sede

da Justia.

(www.juspodivm.com.br/noticias/noticias_1671.html).

Podemos concluir, portanto, que o processo virtual assumir um outro

ritmo processual, o qual no obedecer mais a trmites fsicos, mas ser

ditado por rotinas digitais, reduzindo-se sobremaneira o tempo de soluo dos

litgios, o que significa, alm da reduo de custos, uma maior confiana do

jurisdicionado no Poder Judicirio, e, por conseguinte, na Justia, atendendo,

assim, a um dos principais anseios da sociedade moderna.

24

CAPTULO II

A CERTIFICAO DIGITAL NO BRASIL

A certificao digital a tecnologia que prov os mecanismos

necessrios para dar segurana jurdica s informaes e transaes

eletrnicas, garantindo a autenticidade, confidencialidade, integridade e a

validade jurdica de documentos em forma eletrnica, impedindo a sua

adulterao, assegurando-lhes, dessa forma, curso legal.

Dessa forma, para tornar o processo eletrnico possvel e,

principalmente, seguro, necessria a atuao da ICP-Brasil, que uma

cadeia hierrquica e de confiana que conferir autenticidade a estes atos de

comunicao virtual e de peticionamento eletrnico, atravs da certificao

digital.

A ICP-Brasil - Infra-Estrutura de Chaves Pblicas Brasileira, foi criada

atravs da Medida Provisria n 2.200, de 24 de agosto de 2001, dando incio

implantao do Sistema Nacional de Certificao Digital no Brasil, que, por

25

sua vez, rene em torno de si um conjunto de entidades, padres tcnicos e

regulamentos, elaborados para suportar um sistema criptogrfico com base em

certificados digitais.

O modelo adotado pelo Brasil foi o de certificao com raiz nica,

sendo que o Instituto Nacional de Tecnologia da Informao ITI, que uma

autarquia federal vinculada Casa Civil da Presidncia da Repblica, est na

ponta do processo como Autoridade Certificadora Raiz da Infra-Estrutura de

Chaves Pblicas Brasileira.

Trata-se de rgo pblico cujo objetivo manter a Infra-Estrutura de

Chaves Pblicas Brasileira, seguindo as regras de funcionamento

estabelecidas pelo Comit Gestor da ICP-Brasil, cujos membros so

nomeados pelo Presidente da Repblica, entre representantes dos poderes da

Repblica, bem como segmentos da sociedade e da academia, como forma de

dar estabilidade, transparncia e confiabilidade ao sistema.

ele o pilar que sustenta o nosso modelo de certificao digital, sendo

quem possui a atribuio de emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os

certificados das autoridades certificadoras de nvel imediatamente

subseqente ao seu. Tambm incumbe a ele credenciar e descredenciar os

demais participantes da cadeia, supervisionar e fazer auditoria dos processos,

popularizar a certificao digital e promover a incluso digital, atuando sobre

questes como sistemas criptogrficos, software livre, hardware compatveis

com padres abertos e universais, convergncia digital de mdias, entre outras

(INSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAO, 2011).

A quantidade de entidades credenciadas na ICP-Brasil vem

aumentando de forma cada vez mais acelerada, dada a percepo, pelos

diversos setores, das inmeras possibilidades de uso dos certificados digitais.

26

A primeira autoridade certificadora do Poder Judicirio do mundo

brasileira. Trata-se de Autoridade Certificadora da Justia (AC-JUS), composto

por representantes do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justia,

Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral, Superior Tribunal

Militar, Conselho Nacional de Justia, Conselho da Justia Federal, e o

Conselho Superior da Justia do Trabalho.

Sua implementao possibilitou a definio de regras e perfis de

certificados, especficos para a aplicao no Judicirio, resultando da

necessidade crescente de transpor a mesma credibilidade e segurana para os

documentos digitalizados.

Na prtica, o certificado digital funciona como um documento pblico

virtual que permite a identificao segura de uma mensagem ou transao em

rede de computadores. como se fosse uma carteira de identidade virtual,

sendo que, por meio dele, que as assinaturas digitais so certificadas.

O processo de certificao digital utiliza procedimentos lgicos e

matemticos para assegurar a confidencialidade, a integridade das

informaes e a confirmao da autoria do documento ou transao eletrnica.

Com ele, um documento eletrnico assinado digitalmente por uma

terceira parte confivel, ou seja, uma Autoridade Certificadora (AC) auditada

pelo ITI, que, por sua vez, associa uma entidade (pessoa, processo, servidor) a

um par de chaves criptogrficas: uma chave pblica que conter os dados de

seu titular, tais como nome, endereo eletrnico, registro civil, Cadastro de

Pessoa Fsica, nome e assinatura da Autoridade Certificadora que o emitiu; e

uma chave privada correspondente.

O resultado dessa operao matemtica que utiliza a criptografia,

permite aferir, com segurana, a origem, autoria e a integridade do documento,

resguardando a sua privacidade e segurana, bem como protegendo o

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contedo de suas informaes frente a terceiros no autorizados, alm de

garantir o armazenamento e a integridade de dados.

A assinatura digital , pois, semelhante assinatura manuscrita, tendo

por funo comprovar a autoria de determinado conjunto de dados, que, no

caso do processo eletrnico, so as peas e documentos que o instruem. Ela

se torna vinculada ao documento eletrnico e, caso seja feita qualquer

alterao, a assinatura se torna invlida.

O documento se torna, ainda, inviolvel, posto que, depois de

criptografado, enviado como texto cifrado pelo emissor, sendo que s atravs

do uso da chave privada pelo receptor ser decifrado.

Assim, havendo coincidncia entre as duas chaves, pblica e privada,

conclui-se que a informao enviada integra e a identidade de quem a

transmitiu autntica.

E nesse contexto que se inserem as Autoridades Certificadoras

(ACs), que so entidades pblicas ou pessoas jurdicas de direito privado

credenciadas AC-Raiz, responsveis pela emisso dos certificados digitais,

vinculando pares de chaves criptogrficas ao respectivo titular.

Nos termos do artigo 60 da MP n 2.200/01, competem-lhes emitir,

expedir, distribuir, revogar e gerenciar os certificados, bem como colocar

disposio dos usurios listas de certificados revogados e outras informaes

pertinentes e manter registros de suas operaes.

Desempenha como funo essencial a responsabilidade de verificar se

o titular do certificado possui a chave privada que corresponde chave pblica

que faz parte do certificado. Ela quem cria e assina digitalmente o certificado

do assinante, onde o certificado emitido pela AC representa a declarao da

identidade do titular, que possui um par nico de chaves (pblica/privada).

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Outrossim, as Autoridades de Registro (ARs), tambm exercem

importante papel na distribuio das chaves. So elas as responsveis pelo

processo final na cadeia de Certificao Digital, responsveis por atender os

interessados em adquirir certificados, bem como coletar os documentos para

encaminh-los s Autoridades Certificadoras responsveis pela emisso.

Por fim, o certificado digital somente estar pronto para uso aps a

instalao, no equipamento do usurio, da cadeia de certificao da ICP-Brasil,

do programa SafeSing do dispositivo criptogrfico, assim como de um drive de

leitora de carto, comumente chamado de smartcard, na hiptese da

certificao digital utilizar esse sistema. Outra opo utilizar um dispositivo

semelhante a um pen drive, chamado de Token, com memria suficiente para

armazenar dados e senhas.

No caso dos advogados o smartcard ou carto inteligente o seu

prprio carto profissional, onde as informaes do certificado digital ficaro

armazenadas no chip existente na carteira de advogado.

No restam dvidas de que so infinitas as possibilidades de

aplicaes da assinatura digital, encontrando-se, dentre elas, as seguintes:

comrcio eletrnico; processos judiciais e administrativos em meio eletrnico;

facilitar a iniciativa popular na apresentao de projetos de lei, uma vez que os

cidados podero assinar digitalmente sua adeso s propostas; assinatura de

declarao de renda e outros servios prestados pela Secretaria da Receita

Federal; obteno e envio de documentos cartorrios; transaes seguras

entre instituies financeiras, como j vem ocorrendo desde abril de 2002 com

a implantao do Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB; Dirio Oficial

Eletrnico; identificao de stios na rede mundial de computadores, para que

se tenha certeza de que se est acessando o endereo realmente desejado;

dentre outros.

29

J as principais vantagens da certificao digital so: agilidade,

reduo de custos e segurana.

Com efeito, a certificao digital hoje permite que processos que

tinham que ser realizados pessoalmente ou por meio de inmeros documentos

em papel, possam ser feitos totalmente por via eletrnica. Conseqentemente,

os processos tornam-se menos burocrticos, cleres e, por conseguinte, com

menores custos. Por isso, seus reflexos socorrem tanto Administrao, como

ao cidado.

De acordo com o artigo 10, da MP n 2.200-2, os documentos

eletrnicos assinados digitalmente com o uso de certificados emitidos no

mbito da ICP-Brasil tm a idntica validade jurdica que os documentos

escritos com assinaturas manuscritas.

Importante salientar, outrossim, que os documentos eletrnicos

assinados digitalmente por meio de certificados emitidos fora do mbito da

ICP-Brasil tambm tm validade jurdica, mas esta depender da aceitao de

ambas as partes, emitente e destinatrio, conforme determina a redao do

2 do art. 10 da MP n 2.200-2.

E, diante do que restou at aqui exposto, evidente que a tecnologia

h muito tempo influencia os rumos da sociedade e, em sendo o Direito reflexo

dos acontecimentos sociais, por bvio que ele tambm afetado, evoluindo

junto aos avanos tecnolgicos.

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CAPTULO III

A PRTICA DE ATOS PROCESSUAIS ATRAVS DE

MEIOS ELETRNICOS

Os atos processuais das partes, tradicionalmente, sempre foram

praticados pessoalmente ou por intermdio de seus procuradores, nos

respectivos fruns em que tramitam os processos.

Aps o advento da Lei n 11.419, de 19 de dezembro de 2006, que

instituiu o processo eletrnico oficialmente no Brasil, porm, foram

disciplinadas a comunicao e a transmisso de atos processuais atravs de

meios eletrnicos, da seguinte forma:

Art. 1 O uso de meio eletrnico na tramitao de

processos judiciais, comunicao de atos e transmisso

de peas processuais ser admitido nos termos desta Lei.

1 Aplica-se o disposto nesta Lei,

indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista,

bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de

jurisdio.

2 Para o disposto nesta Lei, considera-se:

I meio eletrnico qualquer forma de

armazenamento ou trfego de documentos e arquivos

digitais;

II transmisso eletrnica as seguintes formas de

identificao inequvoca do signatrio:

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a) assinatura digital baseada em certificado

digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada,

na forma da lei especfica;

b) mediante cadastro de usurio no Poder

Judicirio, conforme disciplinado pelos rgos

respectivos.

Art. 2 O envio de peties, recursos e a prtica

de atos processuais em geral por meio eletrnico sero

admitidos mediante uso de assinatura eletrnica, na

forma do art. 1 desta Lei, sendo obrigatrio o

credenciamento prvio no Poder Judicirio, conforme

disciplinado pelos rgos respectivos.

1 O credenciamento no Poder Judicirio ser

realizado mediante procedimento no qual esteja

assegurada a adequada identificao presencial do

interessado.

2 Ao credenciado ser atribudo registro e meio

de acesso ao sistema, de modo a preservar o sigilo, a

identificao e a autenticidade de suas comunicaes.

3 Os rgos do Poder Judicirio podero criar

um cadastro nico para o credenciamento previsto neste

artigo.

Art. 3 Consideram-se realizados os atos

processuais por meio eletrnico no dia e hora do seu

envio ao sistema do Poder Judicirio, do que dever ser

fornecido protocolo eletrnico.

Pargrafo nico. Quando a petio eletrnica for

enviada para atender prazo processual, sero

consideradas tempestivas as transmitidas at as 24 (vinte

e quatro) horas do seu ltimo dia..

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Da leitura dos artigos supra transcritos evidencia-se, pois, as normas

que esto a estabelecer um procedimento completamente informatizado para

os processos judiciais, dando tratamento legal ao uso de documentos

eletrnicos com assinatura digital, comunicao de atos e transmisso de

peas processuais por meio eletrnico no mbito do Poder Judicirio.

O artigo 3 da referida Lei, deixa claro que, consideram-se realizados

os atos processuais no dia e hora do seu envio, sendo de se destacar, aqui,

que todas as regulamentaes internas dos Tribunais consideram realizados

os atos processuais no dia e hora do seu recebimento pelo sistema

informatizado.

Por sua vez, o seu pargrafo nico confere importante inovao no que

diz respeito ao tempo da prtica dos atos processuais, uma vez que, a regra

processual prevista no CPC, atinente ao horrio hbil para a prtica dos atos

processuais, prev que Os atos processuais realizar-se-o em dias teis, das

6 (seis) s 20 (vinte) horas (art. 172, caput, do CPC).

Verifica-se, pois, que as disposies do artigo 172 do Cdigo de

processo Civil foram mitigadas pelo disposto no artigo 3, pargrafo nico,

acima transcrito, e tambm no artigo 10, 1 e 2, da Lei 11.419/2006, que

dispe o seguinte:

Art. 10. (...)

1 Quando o ato processual tiver que ser

praticado em determinado prazo, por meio de petio

eletrnica, sero considerados tempestivos os efetivados

at as 24 (vinte e quatro) horas do ltimo dia.

2 No caso do 1 deste artigo, se o Sistema do

Poder Judicirio se tornar indisponvel por motivo tcnico,

o prazo fica automaticamente prorrogado para o primeiro

dia til seguinte resoluo do problema.

33

Significa dizer que, nos processos eletrnicos, as peties eletrnicas

sero consideradas tempestivas desde que enviadas at s 23 horas, 59

minutos e 59 segundos, do ltimo dia do prazo, observando-se o horrio oficial

de Braslia.

E, no caso de indisponibilidade do sistema, haver a prorrogao

automtica do prazo para o primeiro dia til seguinte soluo do problema.

Observe-se que, em vista da Lei 11.419/2006, at mesmo a citao e a

penhora, em casos excepcionais, podero ser realizadas em horrio diferente,

respeitado o artigo 5, XI, da Constituio Federal.

Por conseguinte, podemos concluir que tambm os prazos para a

prtica dos atos processuais sofreram substancial alterao pela Lei

11.419/2006, haja vista o disposto, alm dos artigos acima transcritos, tambm

no artigo 4, e seus pargrafos, a seguir transcrito:

Art. 4 Os tribunais podero criar Dirio da

Justia eletrnico, disponibilizado em stio da rede

mundial de computadores, para publicao de atos

judiciais e administrativos prprios e dos rgos a eles

subordinados, bem como comunicaes em geral.

1 O stio e o contedo das publicaes de que

trata este artigo devero ser assinados digitalmente com

base em certificado emitido por Autoridade Certificadora

credenciada na forma de lei especfica.

2 A publicao eletrnica na forma deste artigo

substitui qualquer outro meio e publicao oficial, para

quaisquer efeitos legais, exceo dos casos que, por

lei, exigem intimao ou vista pessoal.

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3 Considera-se como data da publicao o

primeiro dia til que seguinte ao da disponibilizao da

informao no Dirio da Justia eletrnico.

4 Os prazos processuais tero incio no primeiro

dia til seguinte ao considerado como da publicao.

5 A criao do Dirio da Justia eletrnico

dever ser acompanhada de ampla divulgao, e o ato

administrativo correspondente ser publicado durante 30

(trinta) dias no dirio oficial em uso.

Dessa forma, tem-se que a partir da vigncia da Lei 11.419/2006, o

Dirio da Justia eletrnico passou a ser o instrumento oficial de veiculao e

comunicao de atos processuais s partes, substituindo a verso impressa,

sendo considerado como data da publicao o primeiro dia til seguinte ao da

disponibilizao da informao no Dirio da Justia eletrnico, sendo ainda

que, a contagem dos prazos processuais, ter incio no primeiro dia til que

seguir ao considerado como data da publicao.

De acordo com a parte final do 2, do citado artigo 4, porm, no

podero ser supridos pela publicao virtual os casos cuja previso legal

exijam intimao ou vista pessoal.

No que concerne intimao eletrnica, assim dispe o artigo 5, da

Lei 11.419/2006:

Art. 5 As intimaes sero feitas por meio

eletrnico em portal prprio aos que se cadastrarem na

forma do art. 2 desta Lei, dispensando-se a publicao

no rgo oficial, inclusive eletrnico.

1 Considerar-se- realizada a intimao no dia

em que o intimando efetivar a consulta eletrnica ao teor

da intimao, certificando-se nos autos a sua realizao.

35

2 Na hiptese do 1 deste artigo, nos casos

em que a consulta se d em dia no til, a intimao ser

considerada como realizada no primeiro dia til seguinte.

3 A consulta referida nos 1 e 2 deste artigo

dever ser feita em at 10 (dez) dias corridos da data do

envio da intimao, sob pena de considerar-se a

intimao automaticamente realizada na data do trmino

desse prazo.

4 Em carter informativo, poder ser efetivada

remessa de correspondncia eletrnica, comunicando o

envio da intimao e a abertura automtica do prazo

processual nos termos do 3 deste artigo, aos que

manifestarem interesse por esse servio.

5 Nos casos urgentes em que a intimao feita

na forma deste artigo possa causar prejuzo a quaisquer

das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer

tentativa de burla ao sistema, o ato processual dever ser

realizado por outro meio que atinja a sua finalidade,

conforme determinado pelo juiz.

6 As intimaes feitas na forma deste artigo,

inclusive da Fazenda Pblica, sero consideradas

pessoais para todos os efeitos legais..

Nesta medida, tem-se que as intimaes, queles que previamente se

cadastraram junto ao rgo judicante, sero realizadas por meio eletrnico e

atravs de acesso ao portal prprio de cada Tribunal, dispensando-se, assim,

a publicao em dirio oficial impresso ou eletrnico. (Art. 5, caput).

Considerar-se- realizada a intimao na data em que o intimando

acessar o portal do rgo judicante e abrir a mensagem com o inteiro teor da

intimao. (Art. 5, 1). Nos casos em que a consulta se d em dia no til, a

36

intimao ser considerada como realizada no primeiro dia til seguinte. (Art.

5, 2).

Ocorrer, no entanto, a intimao presumida ou automtica, se aps o

decurso do prazo de 10 (dez) dias corridos, contados da data do envio da

intimao, a consulta no houver sido realizada. (Art. 5, 3).

Destarte, como forma alternativa, dispe o 5 que, por determinao

do juzo, a intimao poder realiza-se por outro meio, que no o eletrnico,

para os casos em que possa causar prejuzo a quaisquer das partes ou nos

casos que restar evidenciada tentativa de burla ao sistema.

E, conforme dispe o artigo 6 da Lei 11.419/2006, as citaes, tanto

quanto as intimaes, de qualquer pessoa, fsica ou jurdica, inclusive, da

Fazenda Pblica, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e

Infracional, tambm podero ser feitas por meio eletrnico, observadas as

mesmas formas e cautelas previstas no art. 5, impondo-se como condio

apenas que a ntegra dos autos esteja acessvel ao citando, in verbis:

Art. 6 Observadas as formas e as cautelas do

art. 5 desta Lei, as citaes, inclusive da Fazenda

Pblica, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal

e Infracional, podero ser feitas por meio eletrnico,

desde que a ntegra dos autos seja acessvel ao citando..

Disciplinou, ainda, a referida Lei que, no que diz respeito s cartas

precatrias, rogatrias e de ordem instrumentos conhecidamente demorados

de comunicao de atos processuais bem como, de um modo geral, todas as

comunicaes oficiais (cartas, ofcios e comunicaes), devero ser feitas,

preferencialmente, por meio eletrnico, o que, certamente, conferir maior

agilidade, presteza e eficincia no cumprimento das ordens judiciais, evitando-

se, ainda, as perdas e/ou extravios, na forma do disposto no artigo 7:

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Art. 7 As cartas precatrias, rogatrias, de

ordem e, de um modo geral, todas as comunicaes

oficiais que transitem entre rgos do Poder Judicirio,

bem como entre os deste e os dos demais Poderes, sero

feitas, preferencialmente, por meio eletrnico..

Enfim, e conforme tambm dispe o artigo 9, e seus pargrafos, no

processo eletrnico, todas as citaes, intimaes e notificaes, inclusive da

Fazenda Pblica, sero feitas por meio eletrnico, na forma da Lei

11.419/2006, sendo que as citaes, intimaes, notificaes e remessas que

viabilizem o acesso ntegra do processo correspondente sero consideradas

vista pessoal do interessado para todos os efeitos legais.

Outrossim, no que diz com o peticionamento eletrnico, dispe a Lei

11.419/2006, em seu artigo 10, caput:

Art. 10. A distribuio da petio inicial e a

juntada da contestao, dos recursos e das peties em

geral, todos em formato digital, nos autos de processo

eletrnico, podem ser feitas diretamente pelos advogados

pblicos e privados, sem necessidade da interveno do

cartrio ou secretaria judicial, situao em que a autuao

dever se dar de forma automtica, fornecendo-se recibo

eletrnico de protocolo..

Observa-se, pois, que a Lei n 11.419/2006 dispensou aqui a

participao direta dos auxiliares da justia, disciplinando a distribuio da

petio inicial e a juntada de peties diretamente pelo advogado. prevista,

ainda, a autuao automtica dos processos, mediante recibo eletrnico de

protocolo.

38

O 3, do artigo 10, da Lei 11.429/2006, prev que obrigao do

Judicirio disponibilizar aos interessados equipamentos de digitalizao e de

acesso rede mundial de computadores, para a distribuio de peas

processuais. Atente-se, porm, que a digitalizao dos documentos no

incumbncia do Judicirio.

Cabe acrescentar, aqui, que apesar de no possuir esse dever, a

OAB/RJ tambm tem ajudado alguns Tribunais, ao equipar as salas dos

advogados com computadores com acesso internet e scanners, alm de

leitores de carto para certificao digital.

O artigo 11 e seus pargrafos, da Lei 11.429/2006 dispem acerca da

validade do documento eletrnico, os quais sero considerados originais para

todos os efeitos legais, ou seja, com idntica fora probante do documento

original, ressalvada a alegao motivada e fundamentada de adulterao antes

ou durante o processo de digitalizao, nos seguintes termos:

Art. 11. Os documentos produzidos

eletronicamente e juntados aos processos eletrnicos

com garantia de origem e de seu signatrio, na forma

estabelecida nesta Lei, sero considerados originais para

todos os efeitos legais

1 Os extratos digitais e os documentos

digitalizados e juntados aos autos pelos rgos da Justia

e seus auxiliares, pelo Ministrio Pblico e seus

auxiliares, pelas procuradorias, pelas autoridades

policiais, pelas reparties pblicas em geral e por

advogados pblicos e privados tm a mesma fora

probante dos originais, ressalvada a alegao motivada e

fundamentada de adulterao antes ou durante o

processo de digitalizao.

39

2 A argio de falsidade do documento original

ser processada eletronicamente na forma da lei

processual em vigor.

3 Os originais dos documentos digitalizados,

mencionados no 2 deste artigo, devero ser

preservados pelo seu detentor at o trnsito em julgado

da sentena ou, quando admitida, at o final do prazo

para interposio de ao rescisria.

4 (VETADO)

5 Os documentos cuja digitalizao seja

tecnicamente invivel devido ao grande volume ou por

motivo de ilegibilidade devero ser apresentados ao

cartrio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados

do envio de petio eletrnica comunicando o fato, os

quais sero devolvidos parte aps o trnsito em julgado.

6 Os documentos digitalizados juntados em

processo eletrnico somente estaro disponveis para

acesso por meio de rede externa para suas respectivas

partes processuais e para o Ministrio Pblico, respeitado

o disposto em lei para as situaes de sigilo e de segredo

de justia..

Importa salientar que a garantia de origem, mencionada pela norma

legal, equivale assinatura digital com o uso de certificados emitidos no mbito

da ICP-Brasil.

Deve-se ficar atento, ademais, aos prazos de guarda dos originais dos

documentos digitalizados, que devem ser preservados at o trnsito em

julgado da sentena ou o fim do prazo para interposio de ao rescisria.

Outrossim, cumpre mencionar que, quando se tratar de documentao

por demais volumosa, ou documento cujo contedo fique ilegvel quando

40

digitalizado, os originais podero ser apresentados em cartrio dentro do prazo

de 10 (dez) dias, contados do envio da petio comunicando o fato, cujos

originais sero devolvidos parte aps o trnsito em julgado.

No tocante aos atos processuais praticados pelo escrivo ou chefe de

secretaria, destacam-se os pargrafos que a Lei n 11.419/2006 acrescentou

ao artigo 169 do CPC. O primeiro deles veda expressamente o uso de

abreviaturas pelas pessoas que intervm nos atos e termos praticados no

processo.

J o segundo dispe que quando se tratar de processo total ou

parcialmente eletrnico, os atos processuais praticados na presena do juiz

podero ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em

arquivo eletrnico inviolvel, na forma da lei. Nesses casos, haver registro em

termo que ser assinado digitalmente pelo juiz e pelo escrivo ou chefe de

secretaria, bem como pelos advogados das partes.

Por seu turno, o terceiro pargrafo diz que no caso do pargrafo

anterior, eventuais contradies na transcrio devero ser suscitadas

oralmente no momento da realizao do ato. Se no o for, incorrer a pena de

precluso, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a alegao e a

deciso no termo.

Destarte, importante salientar todas as demais alteraes introduzidas

pela Lei n 11.419/2006 ao Cdigo de Processo Civil em vigor, a saber: o

acrscimo de pargrafo nico ao artigo 38, admitindo a possibilidade de

assinatura digital da procurao juntada as autos; do 2 do art. 154, que

dispe que Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos,

transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrnico, na forma da lei;

de pargrafo nico ao artigo 164, dispondo que a assinatura dos juzes, em

todos os graus de jurisdio, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei;

do 3 ao artigo 202, prevendo a possibilidade de expedio das cartas

41

precatria, rogatria ou de ordem por meio eletrnico, situao em que

tambm a assinatura do juiz dever ser eletrnica; do inciso IV ao artigo 221,

para permitir a citao por meio eletrnico; do pargrafo nico do artigo 237,

prevendo a possibilidade de as intimaes serem realizadas de forma

eletrnica; dos incisos V e VI, ao artigo 365, para inserir no rol de documentos

que fazem a mesma prova que os originais, os extratos digitais de bancos de

dados pblicos e privados, bem como as reprodues digitalizadas de qualquer

documento, pblico ou particular; do 2, ao artigo 399, prevendo a

possibilidade de fornecimento de documentos em meio eletrnicos pelas

reparties pblicas; do 2, ao artigo 417, que determina seja observado o

disposto nos 2 e 3 do art. 169 do CPC, no que concerne produo de

prova testemunhal, quando se tratar de processo eletrnico; do 4, ao artigo

457, que determina seja observado o disposto nos 2 e 3 do art. 169 do

CPC, no que concerne lavratura do termo da Audincia de Instruo e

Julgamento, quando se tratar de processo eletrnico; e, finalmente, do

pargrafo nico ao artigo 556, que dispe que Os votos, acrdos e demais

atos processuais podem ser registrados em arquivo eletrnico inviolvel e

assinados eletronicamente, na forma da lei, devendo ser impressos para

juntada aos autos do processo quando este no for eletrnico.

CAPTULO IV

OS PROCEDIMENTOS RELATIVOS

INFORMATIZAO DOS PROCESSOS ADOTADOS

PELOS TRIBUNAIS

Repita-se aqui que o pargrafo nico, do artigo 154, do Cdigo de

Processo Civil, introduzido pela Lei n 11.280/2006, disps que os tribunais,

42

no mbito da respectiva jurisdio, podero disciplinar a prtica e a

comunicao oficial dos atos processuais por meios eletrnicos.

Acontece que, como os tribunais tm baixado normas ligeiramente

diferentes para a prtica dos atos processuais por meios eletrnicos, sobretudo

no que se refere petio eletrnica, faz-se de suma importncia consultar as

resolues ou instrues normativas de cada tribunal, as quais foram

concebidas com arrimo em todas as Leis mencionadas anteriormente,

notadamente a Lei 11.419/2006.

Importa salientar, desde logo, que em todos os tribunais analisados, o

judicirio, apesar de incentivar o uso da tecnologia, deixou o risco de possveis

problemas expressamente sob a responsabilidade dos usurios dos servios.

Este captulo trata, portanto, dos procedimentos relativos

informatizao dos processos adotados pelo Supremo Tribunal Federal, pelo

Superior Tribunal de Justia, pelo Tribunal Superior do Trabalho, pela Justia

Federal, Seo Judiciria do Rio de Janeiro, e, finalmente, pelo Tribunal de

Justia do Estado do Rio de Janeiro, individualmente analisados a seguir.

Outrossim, ao final faz-se pequena referncia a algumas medidas que

esto sendo adotadas pelo CNJ Conselho Nacional de Justia, objetivando o

regramento do acesso aos autos eletrnicos, bem como a padronizao dos

processos eletrnicos nos tribunais.

4.1 O Procedimento no Supremo Tribunal Federal

A histria da petio eletrnica na mais alta Corte Brasileira teve incio

com a Resoluo n 287, de 14 de abril de 2004, que institui o e-STF, sistema

que permite o uso de correio eletrnico para a prtica de atos processuais, no

mbito do Supremo Tribunal Federal. Ela foi assinada pelo ento presidente

do STF Ministro Maurcio Corra, com arrimo no art. 13, XVII, e 363, I, do

43

Regimento Interno da Corte Suprema e o decidido na Sesso Administrativa

do dia 25 de maro de 2004, Processo Administrativo n 285.293, bem como o

disposto na Lei 9.800/1999.

O chamado e-STF foi criado para ser um sistema de transmisso de

dados e imagens, tipo correio eletrnico, para a prtica de atos processuais,

nos termos e condies previstas na Lei 9.800/99 (art. 1 da Resoluo STF n

287/04).

Importa salientar que por meio da Resoluo 287/04, as peties e

documentos enviados eram impressos e protocolados pela Coordenadoria de

Registros e Informaes Processuais durante o horrio de atendimento ao

pblico, nos dias teis, das 11 s 19 horas, sendo que as peties

encaminhadas aps s 19 horas somente eram protocoladas no dia til

imediatamente posterior.

Ainda, verifica-se que o usurio do sistema no ficava desobrigado do

posterior protocolo dos originais, devidamente assinados, em at cinco dias, na

forma do disposto no art. 2 e pargrafo nico da Lei 9.800/99.

Aps o advento da Lei 11.419/2006, nova Resoluo, de n 344/2007,

foi criada pela ento presidente, Ministra Ellen Gracie, para regulamentar o uso

do meio eletrnico na tramitao de processos judiciais, na comunicao de

atos e na transmisso de peas processuais na Suprema Corte.

A Resoluo 344/2007 dispunha que, para utilizar o processamento

eletrnico, o usurio deveria ser cadastrado previamente para acessar o

programa disponibilizado pelo STF.

Em 29 de novembro de 2007, foi assinada tambm pela Ministra Ellen

Gracie a Resoluo n 350/2007, que regulamentou o recebimento de

peticionamento eletrnico, com certificao digital, para a prtica de atos

44

processuais nos autos que tramitam, por meio fsico ou eletrnico, no mbito

do STF.

Segundo a Resoluo 350/2007 o envio de petio eletrnica com

certificao digital era um servio de uso facultativo, disponvel no portal oficial

do Supremo Tribunal Federal na internet (www.stf.gov.br), diariamente, das

06h s 24h, ressalvados os perodos de manuteno do sistema.

O acesso ao sistema permanecia condicionado ao prvio

cadastramento eletrnico, sendo ainda que a petio eletrnica, com

certificao digital, deveria ser enviada com todos os documentos que a

instrussem, ficando dispensada a posterior apresentao dos originais ou

fotocpias autenticadas.

No fim de outubro de 2009, em decorrncia da evoluo tecnolgica, o

Servio de Petio Eletrnica do STF sofreu alteraes, passando a ser

obrigatria a certificao digital para todos os usurios, que precisaram fazer

um recadastramento no portal do STF para ter acesso ao sistema.

Alm da certificao eletrnica, dispunha-se de quatro alternativas

para apresentao de peties, iniciais ou incidentais: fisicamente, na Seo

de Recebimento e Protocolo de Peties do STF; pelo correio; via fax,

observando-se as disposies normativas pertinentes espcie; ou,

temporariamente, para o e-mail [email protected], condicionada a validade do

ato apresentao dos originais Secretariado Tribunal, conforme disposto na

Lei 9.800/99.

O Recurso Extraordinrio (RE) foi o precursor do processo eletrnico

na Corte, com incio em junho de 2007, embora os advogados ainda possam

optar por apresentar o recurso por meio eletrnico ou em papel.

http://www.stf.gov.br/mailto:[email protected]

45

Em 20 de outubro de 2009, o ento presidente do STF, Ministro Gilmar

Mendes, assinou a Resoluo n 417, tornando obrigatrio, a partir de 1 de

fevereiro de 2010, o uso do sistema eletrnico para ajuizamento de seis

classes processuais de competncia originria do STF, so elas: ADI (Ao

Direta de Inconstitucionalidade), ADPF (Argio de Descumprimento de

Preceito Fundamental), ADO (Ao Direta de Inconstitucionalidade por

Omisso), ADC (Ao Direta de Constitucionalidade), RCL (Reclamao) e

PSV (Proposta de Smula Vinculante).

No dia 1 de agosto de 2010, foram includas atravs da Resoluo n

427/2010 outras oito classes no sistema e-STF: AC (Ao Cautelar), AR (Ao

Rescisria), HC (Habeas Corpus), MS (Mandado de Segurana), MI (Mandado

de Injuno), SL (Suspenso de Liminar), SS (Suspenso de Segurana) e

STA (Suspenso de Tutela Antecipada).

Para essas 14 classes processuais foi suspenso o recebimento dos

processos em meio fsico, sendo aceitos, apenas, de forma eletrnica,

proporcionando maior agilidade das aes, alm de reduzir custos e diminuir o

impacto ambiental.

Desde ento, em qualquer classe, a requerimento da parte ou de ofcio

por determinao do Ministro Relator, tem-se determinado a converso de

processos fsicos em eletrnicos (art. 29, da Resoluo 427/2010). As peties

e subseqentes atos e peas referentes aos feitos convertidos para meio

eletrnico somente podero ser encaminhadas em meio fsico por 2 (dois)

meses, contados a partir da publicao da converso, sendo digitalizadas e

autenticadas por servidor do Tribunal. (art. 30 e pargrafos, da Resoluo

427/2010).

Admitido o Recurso Extraordinrio, caso se trate de processo

eletrnico, o rgo judicial de origem dever transmiti-lo ao Supremo Tribunal

Federal, obrigatoriamente, via e-STF (art. 23, da Resoluo 427/2010).

46

Os pedidos de habeas corpus impetrados em causa prpria ou por

quem no seja advogado, defensor pblico ou procurador, conforme disposto

no artigo 20, da Resoluo n 427/2010, constituem exceo e podero ser

encaminhados ao STF em meio fsico, mas devero ser digitalizados antes da

autuao, para que tramitem de forma eletrnica.

Houve polmica, entretanto, com relao aceitao do habeas

corpus, em particular, por meio exclusivamente virtual, pelo STF. Assim que

o Conselho Federal da OAB, reunido em sesso plenria no dia 22/03/2011,

por unanimidade, decidiu encaminhar ofcio ao presidente do STF, ministro

Cezar Peluso, a fim de que a Presidncia do Tribunal faa valer a impetrao,

inclusive por advogados, de habeas corpus entregues em meio fsico, sob o

fundamento de ofensa finalidade do instituto, alm de afronta s

prerrogativas profissionais dos advogados, em homenagem, ainda, ao princpio

constitucional da ampla defesa.

As peas essenciais da respectiva classe processual, bem como

documentos complementares, devem ser carregados da seguinte forma, sob

pena de rejeio: em arquivos distintos de, no mximo, 10 MB (dez

megabytes); na ordem em que devam aparecer no processo; nomeados de

acordo com a regulamentao prpria; em formato PDF; livres de vrus ou

ameaas que possam comprometer a confidencialidade, disponibilidade e

integridade do Portal do STF.

Cumpre destacar, ainda, que se considera realizado o ato processual

no dia e na hora do seu recebimento pelo e-STF, sendo que a petio enviada,

para atender ao prazo processual, ser considerada tempestiva quando

recebida at s 24 (vinte e quatro) horas do seu ltimo dia, considerada a hora

oficial de Braslia (art. 12, da Resoluo 427/2010).

47

No que diz com o acesso aos autos e visualizao de peas

eletrnicas, de acordo com as Resolues n 427/2010 do STF e n 121/2010

do Conselho Nacional de Justia, consideram-se pblicas as certides e atos

decisrios produzidos pelo Tribunal, bem como os dados bsicos dos

processos. Por esta razo, tais certides e atos decisrios esto sempre

disponveis para consulta na pgina eletrnica do e-STF, no menu

acompanhamento processual.

J a visualizao das peas eletrnicas dos feitos que tramitam na

Corte passou a ser realizada, desde 22/11/2010, apenas por meio do Portal do

Processo Eletrnico, que exige o credenciamento do consulente e a utilizao

de certificado digital nos padres exigidos pelo ICP-Brasil.

As aes de controle concentrado de constitucionalidade, bem como

os recursos extraordinrios paradigmas de repercusso geral, por serem de

interesse coletivo, so disponibilizados para consulta irrestrita, no site do STF.

Os feitos que tramitam em segredo de justia podero ser acessados

somente pelos advogados e partes cadastrados no processo.

No que concerne s comunicaes processuais, por meio eletrnico, o

STF informa em seu stio haver celebrado convnios com a PGR

Procuradoria Geral da Repblica, AGU Advocacia Geral da Unio, e PGFN

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, tendo por objetivo o envio de

intimaes e citaes eletrnicas, o que, em breve, permitir essa inovao no

trmite processual.

O e-STF est ininterruptamente disponvel para acesso, salvo nos

perodos de manuteno do sistema (art. 14, da Resoluo 427/2010).

A ntegra da Resoluo n 427/2010, atualmente em vigor, que

regulamenta o processo eletrnico no mbito do Supremo Tribunal Federal e

48

d outras providncias, j com as alteraes sofridas em decorrncia da

posterior Resoluo n 442/2010, segue no Anexo 1 do presente trabalho.

4.2 O Procedimento no Tribunal Superior do Trabalho

A histria do Tribunal Superior do Trabalho, no que diz respeito

petio eletrnica, se iniciou com a Instruo Normativa n 28, publicada no

Dirio da Justia em 07 de junho de 2005, e que Dispe sobre o Sistema

Integrado de Protocolizao e Fluxo de Documentos Eletrnicos da Justia do

Trabalho (e-DOC), e que implantou na Justia do Trabalho um sistema de

envio eletrnico de documentos para a prtica de atos processuais.

Importante salientar que referida norma no trata somente do

procedimento perante o Tribunal Superior do Trabalho, pois o e-DOC tambm

est acessvel nas pginas dos Tribunais Regionais do Trabalho, na internet.

Referida norma veio a permitir o envio, facultativo, por e-mail, tanto de

peties, como de documentos, durante o horrio do expediente forense,

sendo o protocolo realizado somente com o recebimento do arquivo pelo

tribunal, no se responsabilizando a Justia do Trabalho por falhas tcnicas na

transmisso.

A vantagem do e-DOC sobre os outros tribunais reside no fato de que,

desde o incio, dispensava-se a posterior apresentao dos originais ou de

fotocpias autenticadas (art. 3, da Instruo Normativa n 28).

Outra diferena tambm o fato de que o acesso ao e-DOC, desde o

incio, tambm exigia a utilizao, pelo usurio, de uma identidade digital, a ser

adquirida perante qualquer Autoridade Certificadora credenciada pela ICP-

Brasil, e de seu prvio cadastramento perante os rgos da Justia do

Trabalho (art. 4, da Instruo Normativa n 28).

49

Atendendo, porm, necessidade de regulamentao, no mbito da

Justia do Trabalho, da Lei n 11.419/2006, que dispe sobre a informatizao

do processo judicial, em 13 de setembro de 2007, foi assinada a Instruo

Normativa n 30/2007.

J no artigo 2 da referida instruo normativa, destaca-se o

compromisso assumido pelos Tribunais Regionais do Trabalho de, dentro do

prazo de 1 (um) ano, disponibilizarem em suas dependncias e nas Varas do

Trabalho, para os usurios dos servios de peticionamento eletrnico que

necessitares, equipamentos de acesso rede mundial de computadores e de

digitalizao de processos, para a distribuio de peas processuais.

No mais, verifica-se que os servios de peticionamento eletrnico e a

prtica de atos processuais em geral por meio eletrnico, permaneceram

sendo admitidos somente mediante o uso de assinatura eletrnica, admitindo-

se esta, no entanto, sob as seguintes modalidade: assinatura digital, baseada

em certificado digital emitido pelo ICP-Brasil, com uso de carto e senha; ou

assinatura cadastrada, obtida perante o Tribunal Superior do Trabalho ou

Tribunais Regionais do Trabalho, com fornecimento de login e senha (arts. 3 e

4 da Instruo Normativa n 30/2007).

Para uso de qualquer das duas modalidades de assinatura eletrnica

necessrio o prvio credenciamento do usurio perante o Tribunal Superior do

Trabalho ou Tribunal Regional do trabalho mediante o preenchimento de

formulrio eletrnico, sendo que, no caso de assinatura digital, em que a

identificao presencial j se realizou perante a Autoridade Certificadora, o

credenciamento se dar pela simples identificao do usurio por meio de seu

certificado digital e remessa do formulrio preenchido; no caso de assinatura

cadastrada, o interessado dever comparecer, pessoalmente, perante o rgo

do Tribunal no qual deseja cadastrar sua assinatura eletrnica, munido do

formulrio preenchido, onde obter as senhas e informao para

operacionalizao de sua assinatura eletrnica.

50

Nos termos do 1, do art. 5, da Instruo Normativa n 30/2007, o e-

DOC permanece sendo um servio de uso facultativo, disponibilizado no Portal

da Justia do Trabalho (Portal-JT), que o stio corporativo da intituio,

abrangendo todos os Tribunais trabalhistas do pas, na internet. A meno ao

uso facultativo se justifica enquanto no generalizada a virtualizao do

processo no mbito da justia do trabalho.

As peties, acompanhadas ou no de anexo, apenas sero aceitas

em formato PDF, no tamanho Maximo, por operao, de 2 MB (Megabytes),

no se admitindo o fracionamento de petio, tampouco dos documentos que

a acompanham, para fins de transmisso (art. 6 e pargrafo nico, da

Instruo Normativa n 30/2007).

Manteve-se, ainda, a norma que dispensa a posterior apresentao

dos originais dos documentos ou de fotocpias autenticadas, inclusive, aqueles

destinados comprovao de pressupostos de admissibilidade do recurso (art.

7, da Instruo Normativa n 30/2007).

responsabilidade dos Tribunais a recepo das peties transmitidas

pelo e-DOC, sua impresso e de seus documentos, caso existentes,

anexando-lhes o comprovante de recepo gerado pelo sistema, enquanto no

generalizada a virtualizao do processo, que dispensar os autos fsicos; bem

como verificar, diariamente, no sistema informatizado, a existncia de peties

eletrnicas pendentes de processamento. (art. 10, da Instruo Normativa n

30/2007).

responsabilidade do usurio o sigilo da assinatura digital, no sendo

oponvel, em qualquer hiptese, alegao de seu uso indevido; a equivalncia

entre os dados informados para envio (n do processo e unidade judiciria) e

os constantes da petio remetida; as condies das linhas de comunicao e

acesso ao seu provedor da internet; a edio da petio e anexos em

51

conformidade com as restries impostas pelo servio, no que se refere

formatao e tamanho do arquivo enviado; o acompanhamento da divulgao

dos perodos em que o servio no estiver disponvel em decorrncia de

manuteno (art. 11, da Instruo Normativa n 30/2007).

O art. 12 da referida Instruo Normativa, por sua vez, dispe que

consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrnico no dia e na

hora de seu recebimento pelo sistema e-DOC. E em seus 1 e 2, est

disposto que, quando a petio eletrnica for enviada para atender a prazo

processual, sero consideradas tempestivas quelas que forem transmitidas

at as 24 (vinte e quatro) horas do seu ltimo dia, cabendo aos usurios

observar o horrio estabelecido como base para recebimento, como sendo o

do Observatrio Nacional, devendo atentar, ainda, para as diferenas de fuso

horrio existentes no pas.

No que concerne comunicao e informao dos atos processuais

no portal da Justia do Trabalho, incluem-se o Dirio da Justia do Trabalho

Eletrnico (DJT), para a publicao de atos judiciais e administrativos dos

Tribunais e Varas do Trabalho, e que substitui qualquer outro meio de

publicao oficial, exceo dos casos que, por lei, exigem intimao ou vista

pessoal (art. 14 e 15, da Instruo Normativa n 30/2007).

As intimaes sero feitas por meio eletrnico no Portal-JT aos que se

credenciarem na forma da Instruo Normativa n 30/2007, dispensando-se a

publicao no rgo oficial, inclusive eletrnico (art. 16 e pargrafos, da

Instruo Normativa n 30/2007).

As cartas precatrias, rogatrias e de ordem sero transmitidas

exclusivamente de forma eletrnica, atravs do Sistema de Carta Eletrnica

(CE), dispensando-se a remessa fsica de documentos (art. 17, da Instruo

Normativa n 30/2007).

52

No mais, verifica-se que a Instruo Normativa n 30/2007, que

regulamenta o processo eletrnico no mbito da Justia do trabalho, segue a

trilha do disposto na Lei 11.419/2006, dispensando-se maiores consideraes,

posto que j fora objeto de estudo em captulo anterior.

Por fim, cumpre consignar que em 27 de julho de 2010, o Presidente

do Tribunal Superior do Trabalho, Ministro Milton de Moura Frana, instituiu o

Ato n 342, que regulamenta o processo judicial eletrnico no mbito do

Tribunal Superior do Trabalho, dispondo em seus artigos 1 e 2 que os

processos que ingressarem no TST, a partir de 2 de agosto de 2010,

tramitaro em meio eletrnico, formado por arquivos enviados pelos Tribunais

Regionais do Trabalho na forma prevista no Ato Conjunto TST/CSJT n

10/2010, peties e documentos apresentados pelas partes, atos processuais

praticados e pareceres emitidos pela Ministrio Pblico do Trabalho.

A ntegra da Instruo Normativa n 30/2007 e do Ato n 342/2010 (j

com a posterior alterao introduzida pelo Ato n 415/2010) do TST, seguem

nos Anexos 2 e 3 do presente trabalho.

4.3 O Procedimento no Superior Tribunal de Justia

A histria da petio eletrnica no Superior Tribunal de Justia

posterior do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior do Trabalho,

havendo sido implantada atravs da Resoluo n 2, de 24 de abril de 2007,

criada com base na Lei 11.419/2006 e assinada pelo seu ento presidente,

Ministro Barros Monteiro.

Referida resoluo instituiu o recebimento de petio eletrnica (e-

PET), no mbito do Superior Tribunal de Justia, permitindo aos credenciados

utilizar a internet para a prtica de atos processuais, independente de petio

escrita, no caso dos processos de competncia originria do presidente, dos

habeas-corpus e dos recursos em habeas-corpus, sendo ainda, um servio

53

facultativo, disponvel na internet, no portal do Superior Tribunal de Justia (art.

1, e pargrafo nico, da Resoluo n 2/2007).

Dispe, ainda, o artigo 3 da referida resoluo que o envio da petio

por meio eletrnico e com assinatura digital dispensa a apresentao posterior

dos originais ou de fotocpias autenticadas.

O artigo 4 impe a necessidade da utilizao do servio de

certificao digital. Dessa forma, a obteno de um certificado digital perante

Autoridade Certificadora credenciada junto Infra-Estrutura de Chaves

Pblicas ICP-Brasil, o primeiro passo para o peticionamento eletrnico no

STJ, sem o qual no possvel utilizar o servio. Ainda, apesar de no constar

expresso da referida resoluo, faz-se necessria tambm a realizao de

credenciamento prvio no sistema do e-STJ.

O artigo 6 prev ser responsabilidade do STJ promover a tramitao

das peties e seus anexos, caso existentes; verificar, diariamente, no sistema

informatizado, a existncia de peties eletrnicas pendentes de

processamento; bem como informar, em caso de indisponibilidade de acesso

ao aplicativo de petio eletrnica, o perodo de ocorrncia.

de exclusiva responsabilidade dos signatrios de peties

transmitidas por meio eletrnico, nos termos do artigo 7 da resoluo, o sigilo

da chave privada da sua identidade digital, no sendo oponvel, em qualquer

hiptese, alegao de seu uso indevido; a conformidade entre os dados

informados no formulrio eletrnico de envio, como o n do processo do

processo e a unidade judiciria, e os demais constantes da petio remetida;

as condies das linhas de comunicao, o acesso ao seu provedor da internet

e a configurao do computador utilizado; a confeco da petio e anexos em

conformidade com os requisitos dispostos no portal de acesso, no que se

refere formatao e tamanho dos arquivos transmitidos eletronicamente; o

acompanhamento da divulgao dos perodos em que o servio no estiver

54

disponvel em decorrncia de manuteno do stio do STJ; bem como o

acompanhamento do regular recebimento da petio no campo especfico para

preenchimento do formulrio.

O art. 8 da referida resoluo, por sua vez, dispe que se consideram

realizados os atos processuais por meio eletrnico no dia e na hora de seu

recebimento pelo sistema, disposto que, quando a petio eletrnica for

enviada para atender a prazo processual, sero consideradas tempestivas

quelas que forem transmitidas integralmente at as 24 (vinte e quatro) horas

do seu ltimo dia, cabendo aos usurios observar o horrio oficial de Braslia

obtido junto ao Observatrio Nacional, devendo atentar, ainda, para as

diferenas de fuso horrio existentes no pas.

Posteriormente, em 05 de novembro de 2007, foi assinada a

Resoluo n 9, que alterou o artigo 1 da anterior Resoluo n 2, de 24 de

abril de 2007, basicamente, para suprimir da sua redao originria a limitao

aos processos de competncia originria do presidente, dos habeas-corpus e

dos recursos em habeas-corpus, estendendo o peticionamento eletrnico

naquela Corte, assim, para todos os tipos de processos do Tribunal.

Conforme se l da pgina do STJ na internet: O peticionamento

eletrnico facultativo e foi colocado disposio dos profissionais do Direito

para agilizar a prestao jurisdicional, ampliando e facilitando o acesso ao STJ.

Ele permite o envio eletrnico de peties iniciais e incidentais, cuja tramitao

poder ser acompanhada on-line pelo usurio credenciado.

Para anexar peties no sistema eletrnico obrigatria a converso

dos arquivos para o formato PDF, que o nico formato aceito, sendo o

tamanho dos arquivos limitados a 5 Mb (Megabytes), podendo serem

anexados at 100 (cem) arquivos por petio, no total de 500 Mb (Megabytes)

por pea eletrnica enviada. Caso a soma dos arquivos que formam a petio

ultrapasse tal limite, os arquivos restantes podero ser remetidos em uma nova

55

mensagem, informando-se no campo AUTOR que se trata de complemento

da petio anterior, devendo citar-se o nome do autor da ao.

Outrossim, atravs da Resoluo n 08/2007, posteriormente alterada

pela Resoluo n 11/2007, foi institudo o Dirio da Justia Eletrnico do STJ

(DJe), meio eletrnico pelo qual o Tribunal passou a veicular seus atos

judiciais, administrativos, e suas comunicaes em geral, na forma do que

faculta a Lei 11.419/2006.

Os atos do Tribunal deixaram de ser veiculados na verso impressa do

Dirio de Justia em 29 de fevereiro de 2008.

Atualmente, encontra-se em vigor a Resoluo n 1, de 10 de fevereiro

de 2010, assinada pelo ento Presidente Ministro Cesar Asfor Rocha, e que

regulamenta o processo judicial eletrnico no mbito do Superior Tribunal de

Justia, instituindo o e-STJ (art. 1).

Essa nova resoluo, alm de repetir as normas anteriormente j

citadas para o peticionamento eletrnico, acresceu outras especificamente em

relao ao sistema processual eletrnico (e-STJ), disponvel,

ininterruptamente, 24 horas por dia, para a prtica de atos processuais,

ressalvados os perodos de manuteno do sistema, sendo ainda que, nos

casos de indisponibilidade do sistema por motivo tcnico, os prazos legais

ficaro prorrogados para o primeiro dia til seguinte soluo do problema

(arts. 6 e 7).

Dispe, ainda, o art. 8 que a Secretaria do Tribunal colocar

disposio dos usurios externos terminais de auto-atendimento, nas

dependncias do Superior Tribunal de Justia, com acesso ao sistema de

digitalizao e computadores ligados aos servios processuais.

56

Os processos recursais tambm devem ser digitalizados e transmitidos

pelos tribunais de origem ao STJ em arquivo, no formato PDF, via e-STJ (art.

10).

J os processos recursais e originrios que forem recebidos por meio

fsico, devero ser digitalizados pela Secretaria Judiciria, passando a tramitar

eletronicamente, devolvendo-se os autos fsicos, aps certificada a

digitalizao, ao tribunal de origem. No caso de processos originrios da

competncia da Corte Especial, os autos fsicos devero permanecer

guardados at o julgamento definitivo (art. 13 e pargrafos). Nos processos

originrios, da competncia dos demais rgos julgadores, os originais

entregues em meio fsico sero devolvidos ao interessado aps a sua

digitalizao (art. 17).

Na hiptese de processos recursais recebidos por meio fsico e

virtualizados exclusivamente no ambiente do STJ, o resultado do julgamento

dever ser impresso em papel e remetido ao rgo de origem; porm, nos

tribunais onde j estiver institudo o procedimento de envio e recebimento em

formato eletrnico, o resultado do julgamento dever ser encaminhado

eletronicamente (art. 14).

livre a consulta pblica aos processos eletrnicos pela rede mundial

de computadores, mediante uso de certificado digital, exceto aos processos

criminais de competncia da Corte Especial e aos que correrem em segredo

de justia, bem como queles indicados pelo Relator, os quais s podero ser

consultados pelas partes e pelos procuradores constitudos no feito (art. 15).

A ntegra da Resoluo n 1, de 10 de fevereiro de 2010, do STJ,

seguem no Anexo 4 do presente trabalho.

Por fim, cabe salientar que, atualmente, o STJ recebe processos

eletrnicos de 31 dos 32 tribunais federais e estatuais sob sua jurisdio.

57

Quase 90% dos 290 mil processos em tramitao na Corte so digitais. Esses

processos, no entanto, foram formados em papel e digitalizados, ou seja, no

so virtuais desde o seu nascimento.

Recentemente, em meados de junho deste ano, o STJ recebeu do

Tribunal Regional Federal da 4 Regio, sediado em Porto Alegre e com

jurisdio nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran, o

primeiro lote de processos que j nasceram virtuais, sendo, pois, esta a

primeira corte de segundo grau a enviar para o STJ processos de tramitao

eletrnica desde a origem.

Destarte, torna-se curioso mencionar que o STJ reviu seu anterior

posicionamento, havendo recentemente decidido que as informaes sobre

andamento processual divulgadas pela internet, nos sites do Poder Judicirio,

tem valor oficial e podem ser tomadas como referncia para a contagem de

prazos recursais, o que algo completamente inovador em sua jurisprudncia,

a qual entendia que o andamento processual divulgado pela internet tinha

efeito meramente informativo, sem carter oficial, devendo prevalecer as

informaes constantes do processo.

Em outras palavras, significa dizer que, a teor do novo posicionamento,

eventuais diferenas entre as informaes dos sites e aquelas constantes dos

processos, causadas por falhas tcnicas ou erro dos servidores, no podero

gerar prejuzo s partes.

O Ministro Massami Uyeda, relator do primeiro recurso em que foi

adotado tal entendimento (REsp. 1.186.276), considerou que a tese at ento

dominante na Corte perdeu sua fora aps a edio da Lei n 11.419/2006,

afirmando ainda que agora est vigente a legislao necessria para que

todas as informaes veiculadas pelo sistema sejam consideradas oficiais.

58

Esse mesmo posicionamento foi adotado, novamente, ainda, no