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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR Por:Soraya Pereira Ribeiro Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro,julho 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · A Deus, a todos os Anjos e Santos, que me protegem e interferem por mim, ao meu marido e filhos, pela compreensão dos momentos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR

Por:Soraya Pereira Ribeiro

Orientador

Prof. Willian Rocha

Rio de Janeiro,julho 2012

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2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Defesa do Consumidor e

Responsabilidade Civil

Por: Soraya Pereira Ribeiro

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AGRADECIMENTOS

A Deus, a todos os Anjos e Santos,

que me protegem e interferem por mim,

ao meu marido e filhos, pela

compreensão dos momentos de minha

ausência em família e a minha grande

amiga Fátima Aparecida pelo incentivo

pessoal e financeiro.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esta Monografia a todos os

Profissionais da Área do Direito que

sempre buscam aprimorar seus

conhecimentos para aplicá-los no trabalho

do dia a dia, de modo a sempre atuar em

busca da Justiça.

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RESUMO

Esse tema irá tratar do Consumidor vulnerável,na sua inferioridade

decorrente da sua fragilidade,nas relações de consumo.

Assim, nos termos do artigo 2º do CDC, “consumidor é toda pessoa física

ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

Vulnerável,definem os dicionaristas, é aquele “que pode ser fisicamente

ferido”, ou ainda “o sujeito a ser atacado,derrotado,prejudicado ou ofendido”1.

Ou seja, aquele que se encontra em posição de inferioridade, passível de

sofrer ameaça ou violação de seus direitos.

O inciso I do artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor reconhece: o

consumidor é vulnerável.

Tal reconhecimento é uma medida de realização da isonomia garantida

na Constituição Federal. Significa ele que o Consumidor é a parte mais fraca

da relação jurídica de consumo. Essa fraqueza,essa fragilidade,é real,concreta

e decorre de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho econômico.

O primeiro está ligado aos meios de produção,cujo conhecimento é

monopólio do fornecedor. E quando se fala em meios de produção não se está

apenas referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação e

distribuição de produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas

também ao elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o

que, quando e de que maneira produzir,de sorte que o consumidor está a

mercê daquilo que é produzido.

É por isso que, quando se fala em “escolha” do consumidor,ela já nasce

reduzida. O consumidor só pode optar por aquilo que existe e que foi oferecido

no mercado. E essa oferta foi decidida unilateralmente pelo fornecedor,

visando seus interesses empresariais, que são, por evidente, os da obtenção

de lucro.

1 Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,2001, p 2884

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O segundo aspecto, o econômico , diz respeito a maior capacidade

econômica, que por via de regra, o fornecedor tem em relação ao consumidor.

É fato que haverá consumidores individuais com boa capacidade econômica e

ás vezes até superior á de pequenos fornecedores. Mas essa é a exceção da

regra geral.

Na maioria das vezes o consumidor, por ser o mais fraco na relação de

consumo fica a mercê do Judiciário para a solução dos seus problemas,

problemas estes que em muitas vezes não foi esse consumidor quem deu

causa, justamente devido a sua vulnerabilidade.

Certo é que o Código de Defesa do Consumidor ,vem sendo

gradativamente mais ampliado, mais divulgado, de modo a atender a

complexidade da vida social.

E mais, sendo o consumidor a parte vulnerável, é necessário,portanto se

promover a sua proteção, por intermédio dos meios legislativos e

administrativos. Compete ao Estado proteger efetivamente o consumidor por

meio de ação governamental.

A ação governamental é feita por meio da instituição de Orgãos de

Defesa do Consumidor (PROCON,IDEC), da Secretaria de Direito Econômico

(SDE), do Ministério Público, do Sistema Nacional de Metrologia, Normatização

e Qualidade Industrial (SINMETRO), entre outros.

No Rio de Janeiro, temos a ANACONT (Associação Nacional de

Assistência do Consumidor e Trabalhador), Procon do Rio de Janeiro,

Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa (Alerj) e, o

Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), com

profissionais devidamente treinados, outrora no próprio Procon, quando ainda

pertence à Secretaria de Economia e Planejamento, e hoje pela Secretaria de

Justiça da Cidadania, para o devido desempenho das atribuições envolvidas e,

Delegacias especializadas.

Outros Estados da República, quase todos contam com órgãos semelhantes.

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Ainda, temos a manutenção de assistência jurídica integral e gratuita que

é fundamental para a educação e proteção do consumidor, propiciando o

efetivo acesso à justiça. A assistência gratuita é disciplinada pela Lei 1.060/50

e pelo art. 5º, inciso LXXIV da CF.

A instituição de Delegacias Especializadas no atendimento aos

consumidores vítimas de infrações penais prevista no art. 5º do CDC e a busca

efetiva daqueles que cometem crimes de consumo.

E por fim, a criação dos Juizados Especiais e de Varas Especializadas no

julgamento de causas relativas às relações de consumo é instrumento para a

efetivação dos direitos de consumidores.

8

METODOLOGIA

Busca de informações em livros jurídicos, páginas na internet, casos

concretos tirados de processos judiciais e administrativos,etc

.

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................10

CAPÍTULO I - O Consumidor e suas características.......................................13

CAPÍTULO II - Princípio da Vulnerabilidade....................................................16

CAPÍTULO III – A vulnerabilidade do consumidor e a busca do equilíbrio......21

CAPÍTULO IV- Casos reais de equiparação ao consumidor vulneravel..........27

CONCLUSÃO..................................................................................................30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.......................................................................35

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INTRODUÇÃO

O direito de consumo é característica da sociedade contemporânea que,

dentro do sistema capitalista, procura efetivar os direitos fundamentais da

pessoa humana. Compreende um campo jurídico dedicado à proteção da

coletividade consumidora de bens produzidos ou serviços oferecidos, objetos

de comercialização. Especialmente regulado pelo Código do Consumidor,

Constituição da República, Arts. 5°, inc. XXXII; 24, inc. VIII; 150, §5°; 170 inc.

IV; 175, parágrafo único, inc. II; e demais normas relacionadas.

A evolução do Direito do Consumidor deu-se com o aumento das

indústrias, com a introdução da robótica e da informática ocorrida durante a

Revolução Industrial. Em consequência desse momento histórico, tivemos o

crescimento das relações de consumo. A princípio, os negócios eram

realizados interpessoalmente, onde os fornecedores (produtores) mantinham

uma ligação contratual direta e imediata com seus consumidores, que

compravam mercadorias específicas, àquelas destinadas a sua sobrevivência.

Com o advento da industrialização, conjugada com a produção em larga

escala, fizeram aumentar o volume de negócios, que passaram a ser

pluripessoais e difusos. Esse período ficou conhecido como “movimento

consumerista”. Atualmente não é diferente, desenvolvemos nossa legislação

para atender aos anseios da população. Vivemos em uma comunidade

consumerista, e por isso que devemos estar sempre atentos aos nossos

direitos e deveres. Em razão do aumento da oferta e demanda de produtos e

serviços, notadamente tivemos uma ampliação exorbitante das relações

negociais. Começamos, então, a observar a necessidade da criação de

institutos que fossem capazes de dirimirem conflitos advindos dos atos

negociais ocorridos entre consumidores e fornecedores.

Principiou-se,então,o surgimento de pequenas organizações direcionadas

para a solução de conflitos nas relações de consumo. A partir deste momento,

11

buscou-se resguardar os interesses das pessoas mais vulneráveis na

transação comercial, e ao mesmo tempo defender os direitos da parte inversa

na relação negocial, que é denominado de empresário (reclamado).

A proteção e defesa do consumidor tiveram acento na Constituição da

República de 1988, não sendo ponderada em Constituições anteriores. Em

suas prescrições podemos notar a determinação da competência do Estado

em promover, na forma prevista em Lei, a defesa do consumidor. Em 11 de

setembro de 1990, fora promulgada a lei que dispõe sobre a Proteção do

Consumidor e traz outras providências. Salienta-se que podemos nos embasar

em outros instrumentos normativos (ex.: Ação Civil Pública – Lei n° 7.347,

24.07.85), que dão sustentáculo às entidades que defendem os direitos dos

consumidores. Dispomos de inúmeros dispositivos no Código de Proteção e

Defesa do Consumidor, que diante de uma análise aprofundada, podem não

aparentar, mas na realidade servem de respaldo à defesa do fornecedor, não

com o intuito de favorecê-lo, mas de buscar a harmonia nas relações de

consumo. A Lei já comentada tem como fito primordial e imediato a busca da

harmonia nas relações de consumo, ou seja, a lisura das relações negociais

entre os agentes econômicos (empresários) e entre seus consumidores,

destinatários final dos produtos e serviços, prevenindo ou punindo os abusos,

protegendo o livre mercado e incentivando a correta concorrência.

Temos ainda a harmonização do Código Civil com o Código de Defesa

do Consumidor, que encontra menos resistência á sua aplicação porque temos

uma ordem jurídica mais consentanea com os princípios por ele consagrados.

A exemplo o Código do Consumidor tem o principio cardeal a boa-fé. Pois o

Código Civil, em vários lugares, consagrou também a boa-fé até com mais

veemência que o Código do Consumidor (arts. 113,422,187). Na área da

responsabilidade civil também não há colisão, porque o Código Civil seguiu a

mesma sistemática do Código de Defesa do Consumidor – prevalência da

responsabilidade objetiva fulcrada no risco criado pela atividade e pelo

produto (arts. 927, parágrafo único, e 931).

De resto em algumas questões tópicas, e apenas em relação as normas e

não a princípios, poderemos encontrar antinomia entre o Código Civil e o CDC,

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a ser resolvida pela regras do artigo 2º e parágrafos da Lei de Introdução

(LICC) ainda em vigor. Mas,no geral, o Código Civil de 2002 veio na mesma

linha e, em certos pontos, até mais avançado que o Código do Consumidor.

Como produto da pós-modernidade, provocou o Código de Defesa do

Consumidor uma implosão na Teoria Geral dos Contratos de tal ordem que,

passados mais de dez anos de sua existência, ainda há resistência e um certo

desconhecimento das diretrizes desse microssistema.

Não se tem mais dúvida de que o Código de Defesa do Consumidor é

uma arma garantidora dos direitos de cidadania na esfera das relações de

consumo, até então regradas pelo Código Civil de 1916.

E, para que se possa entender bem este instrumento de pós-

modernidade, é necessário que não se veja nele um substitutivo moderno do

Código Civil, mas o seu complemento a reger, especificamente, as relações de

consumo numa economia cada vez mais sofisticada e oligopolizada.

Quando se pretende fazer uma análise comparativa, deve-se ter em

mente que o CDC é produto legislativo da pós-modernidade, em que se

procura estabelecer os regramentos, apreendendo o mais possível as

características de cada um. Daí a posição de serem estabelecidos diversos

microssistemas.

Como o CDC surgiu em uma época de grande defasagem do direito civil

perante a realidade social, ocupou um espaço que não era exatamente o seu,

principalmente no que toca à parte principiológica do Direito das Obrigações.

Pretendeu o legislador brasileiro proteger o consumidor, optando por dar

um enfoque pluralista à expressão, que abrange o consumidor médio, mais ou

menos atento, incluindo-se na dimensão o consumidor sem instrução, sem

recursos financeiros. É o consumidor em potencial.

13

CAPÍTULO I - O CONSUMIDOR E AS SUAS CARACTERISTICAS

O Código de Defesa do Consumidor, Lei 8078/90, até mesmo visando à

sua eficácia no ordenamento jurídico pátrio, tratou de trazer já em seu art. 2º, o

conceito de consumidor, qual seja: artigo. 2º. Consumidor é toda pessoa física

ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Verifica-se que o conceito trazido pela lei é bastante amplo, e tem

conotação econômica e não jurídica, evitando tornar-se obsoleto e deixar de

abarcar todo e qualquer sujeito que atue no mercado de consumo e possa ser

inserido na categoria de consumidor. Assim temos que consumidor pode tanto

ser a pessoa física como a jurídica.

Para serem consideradas vulneráveis as empresas, pessoa física, tem

que estar adquirindo produto ou serviço fora de seu campo de especialidade e

precisam comprovar que a vulnerabilidade de fato ocorreu. Como exemplo,

temos uma livraria que adquire um computador, esta é considerada vulnerável,

posto que seu entendimento é sobre livros e não acerca de informática.

O Código de Defesa do Consumidor considera consumidor não somente

o adquirente de determinado produto ou serviço, mas também aquele que o

utiliza, embora não o tenha adquirido. Assim, mesmo que entre determinado

indivíduo e um fornecedor não tenha havido qualquer relação negocial, mas

aquele primeiro utiliza ou usufrui produto ou serviço ofertado ao mercado de

consumo por este último, haverá entre ambos relação de consumo, atraindo os

direitos e deveres inerentes a cada um dos agentes consumeristas. São os

chamados consumidores por equiparação.

O Código de Defesa do Consumidor, ainda prevê, em seu art. 17, que se

equiparam a consumidor “todas as vítimas do evento danoso”,

(independentemente de a pessoa ter adquirido, ou não, o produto ou o

serviço), ocorrido no mercado de consumo e, em seu art. 29, quando inicia o

capítulo V, que dá tratamento às práticas comerciais (dentre elas as abusivas),

14

que se equiparam a consumidor, ainda, “todas as pessoas determináveis ou

não, expostas às práticas nele previstas”.

Ainda, além da figura principal de Consumidor, assim entendida a pessoa

física ou jurídica, que adquire ou utiliza produtos e serviços como destinatário

final (art. 2º, caput), o CDC também considera como Consumidor a

Coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas

relações de consumo, como previsto no parágrafo único do referido dispositivo

legal.

O único requisito imposto pelo CDC para que alguém seja considerado

Consumidor é que este seja o destinatário final do produto ou serviço adquirido

ou utilizado. Em outras palavras, significa que, para haver relação de consumo,

não basta que o produto ou serviço seja destinado ao insumo da atividade

produtiva de outro agente econômico, mas é necessário que lhe seja dada

nova destinação, com sua retirada do mercado de consumo.

Assim, se houver entre dois agentes do mercado consumerista relações

de cunho negocial, não dispostas sob a égide do Código de Defesa do

Consumidor, pode-se dizer que tal relação será regida pelo Código Civil ou

qualquer outra legislação específica, que não o CDC.

Nas relações jurídicas mantidas entre duas pessoas jurídicas, há quase

sempre muita dificuldade para se determinar a aplicação do CDC, sob o

argumento de que não haveria relação de consumo. No entanto, tal

entendimento é equivocado e não merece persistir, em virtude do quanto já

exposto. Assim, coube à jurisprudência e à doutrina aclarar os caminhos a

serem percorridos pelos operadores do direito, a fim de extirpar toda e

qualquer dúvida sobre a imperiosa aplicabilidade do Código de Defesa de

Consumidor.

Muito tem sido discutido, no âmbito do STJ, a respeito da amplitude do

conceito de Consumidor. A ministra do STJ Nancy Andrighi ressalta que “a

aplicação do CDC municia o Consumidor de mecanismos que conferem

equilíbrio e transparência às relações de consumo, notadamente em face de

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sua situação de vulnerabilidade frente ao fornecedor”. Este aspecto

(vulnerabilidade ou hipossuficiência) deve ser considerado para decidir sobre a

abrangência do conceito de consumidor estabelecido no CDC para as relações

que se dão em uma cadeia produtiva.

Ademais, não pode ser olvidado que para a configuração de uma relação

de consumo, deve estar presente o pressuposto básico do direito

consumerista, a vulnerabilidade de uma das partes: o Consumidor.

Para Cláudia Lima Marques 22, “destinatário final é o consumidor final, o

que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo [...], aquele

que coloca um fim na cadeia de produção e não aquele que utiliza do bem

para continuar a produzir na cadeia de serviço”.

E ainda temos a excepcional vulnerabilidade do consumidor no tocante a

idade, quer se trata de criança ou de idoso; a saúde pode colocar o

consumidor em desvantagem exagerada, na medida em que, por estar

precisando de ajuda,dele se pode abusar. Da mesma maneira, o consumidor

analfabeto ou sem um mínimo de conhecimento de transações e negócios

pode ser vítima dos maus fornecedores.

2 2 V. MARQUES, Cláudia Lima. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. [et al.]. 2ª ed. rev. atual. e ampl., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006

16

CAPÍTULO II – O PRINCIPIO DA VULNERABILIDADE

A proteção do consumidor nasce como um imperativo da sociedade de

massas, na qual, em vista do grande volume e dinamicidade de produção,

comércio e consumo, o Estado passa a ter o dever legal de tutelar àqueles que

apresentam sinais de fragilidade e impotência diante do poder econômico do

fornecedor. Nesse sentido foi a deliberação da Assembleia Geral da ONU, a

qual afirmou, na Resolução n.39/248, de 10 de abril de 1985, que “os

consumidores se deparam com desequilíbrio em termos econômicos, nível

educacional e poder aquisitivo”. O Consumidor não está educado para o

consumo, e que, em razão disso, é lesado por todos os modos e maneiras,

diuturnamente, vendo, com frequência, serem desrespeitados os seus direitos

básicos consagrados pela ONU e pela legislação brasileira, como saúde e

segurança, escolha, informação e ressarcimento”.

É nesse contexto de presumida posição de hipossuficiência do

consumidor, tido como a parte mais fraca nas relações de consumo, que o

Estado brasileiro positivou, constitucionalmente, o dever estatal de promoção

da defesa do consumidor (art. 5°, inciso XXXII da CF) e estabeleceu, em seu

Código de Defesa do Consumidor, o princípio da vulnerabilidade deste como

um dos princípios da Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4°,

inciso I da Lei 8.078/90).

Percebendo-se que o Estado fundamenta sua função-dever de

garantidor dos direitos do consumidor no fato de este ser forçado a submeter-

se a quem é titular do controle sobre os bens de produção, surge dúvida se

não só as pessoas naturais, que consomem com fins domésticos, merecem tal

proteção, mas se também as pessoas jurídicas, quando não estão exercendo

suas atividades profissionais, podem ser consideradas vulneráveis a ponto de

fazerem jus à tutela estatal. Isso porque o princípio da vulnerabilidade,

originariamente, considera consumidor, leigo e frágil, somente a pessoa natural

para protegê-la face os fornecedores, assim como outrora o Direito do

Trabalho surgiu para proteger o trabalhador dos abusos do empregador

17

Percebe-se que o legislador tornou objetiva a definição de consumidor do

art. 2° do CDC, embora ela, a princípio, seja contraditória ao princípio da

vulnerabilidade, e, com isso, buscou dissipar a controvérsia sobre se a pessoa

jurídica pode ou não ser protegida pela legislação consumerista. Isso porque,

uma vez expressamente mencionada no art. 2°, nem a jurisprudência nem a

doutrina podem escusar-se de reconhecer à pessoa jurídica tal status.

A definição do Código é objetiva e clara: consumidor é todo aquele,

pessoa física ou jurídica, que adquire ou utiliza produto ou serviço como

destinatário final, não fazendo menção à necessidade de se comprovar a

vulnerabilidade no caso concreto. Contudo, a partir do exposto, entende-se

que qualquer interpretação do CDC não pode nunca olvidar-se do princípio da

vulnerabilidade, uma vez que este consiste em base de todo o

desenvolvimento do Direito do Consumidor e como tal foi positivado no art. 4°

do CDC. Assim, uma interpretação sistemática percebe o princípio da

vulnerabilidade em todos os conceitos dispostos ao longo do Código, incluindo

o de destinatário final. Dessa forma, estando esse conceito impregnado pela

ideia de vulnerabilidade, pode-se inferir que o consumidor é vulnerável

exatamente porque é o destinatário final de uma cadeia de produção e

comércio, dependendo de todos aqueles que têm controle dos meios de

produção e circulação dos bens e serviços, nisto já consistindo sua

vulnerabilidade, e apenas limitando-se a fazer uso do produto de forma a

exauri-lo em benefício próprio ou de terceiro. Em outras palavras, a

vulnerabilidade é um elemento caracterizador da posição de destinatário final e

não algo a mais que possa ser presumido (no caso de pessoa natural) ou

exigido faticamente (no caso de pessoa jurídica),

Considera-se a discussão sobre a vulnerabilidade da pessoa jurídica

dispensável, uma vez que é possível interpretar que o legislador já encontrou

forma de localizá-la na definição de consumidor, tanto para pessoa natural

quanto para jurídica, qual seja, considerando a posição de destinatário final

como intrinsecamente vulnerável. Por conseguinte, para configuração da

pessoa jurídica como consumidora, há que se cogitar, simplesmente, de sua

18

posição de destinatária final e eliminar a possibilidade de ela, no caso

concreto, ter sido intermediária ou realizado atos pertinentes à esfera do direito

privado geral ou do direito empresarial. Mas a situação de vulnerabilidade da

pessoa jurídica deve ser demonstrada e será aferida casuisticamente.

Como regra geral os contratos se baseiam no princípio do pacta sunt

servanda. No entanto, como advento do Código de Defesa do Consumidor

este princípio foi relativizado pela jurisprudência pátria, que vem

reiteradamente reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor nas relações

jurídicas e admitindo a revisão das cláusulas contratuais abusivas pelo Poder

Judiciário. A propósito, o CDC em seu artigo 6º assegura como direito básico

do consumidor a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam

prestações desproporcionais ou sua revisão em razão dos fatos

supervenientes ou que as tornem excessivas.

Urge salientar que não se exige que esses fatos supervenientes sejam

imprevisíveis, como na clássica teoria da imprevisão, bastando que sejam

inesperados.

É ainda importante destacar que o princípio da vulnerabilidade não deve

ser confundido com a noção de hipossuficiencia, conceito que se aplica só no

âmbito processual e que exprime situação na qual se acha o consumidor

quando se depara com grave obstáculo á obtenção da prova do fato

constitutivo de seu direito. Trata-se de requisito necessário a fundamentar a

inversão do ônus da prova e somente nessa perspectiva cabe ser invocada. A

hipossuficiencia do consumidor, que não é apenas econômica, deve ser por

ele provada e avaliada á luz de outros dados, como seu grau de instrução, a

natureza do serviço prestado, as condições em que o fornecedor desempenha

suas atividades,dentre outras. O consumidor será sempre vulnerável, mas nem

sempre hipossuficiente.

Em suma, vulnerabilidade é um estado da pessoa, uma situação

permanente ou provisória que fragiliza o consumidor. Há uma presunção

absoluta de vulnerabilidade,iuris et iure em favor de todos os consumidores. Só

não é presumida a vulnerabilidade da pessoa jurídica e do profissional quando

se tratar de consumo intermediário, necessita de prova in concreto.

19

Nesse mesmo enfoque temos três tipos de vulnerabilidade do

consumidor: 3

•a técnica:esta vulnerabilidade está associada aos meios de produção que são

monopolizados pelo fornecedor. No entanto, quando se fala em meios de

produção não se limita apenas aos aspectos técnicos e administrativos para

fabricação de um determinado bem ou prestação de um determinado serviço,

mas também pelo fato que é o fornecedor quem escolhe o bem a ser

produzido, quando e como será produzido, ficando o consumidor submetido a

estas condições. Essa preocupação já é antiga nos direitos dos consumidores,

o Direito a Informação reflete exatamente essa debilidade.

Esse aspecto da deficiência dos consumidores é presumido para os

consumidores não profissionais e, é excepcionalmente deferida aos

consumidores profissionais. A profissionalidade não exclui o desconhecimento

técnico de determinado produto, assim mais prudente análise casuística.

Entretanto, nesse sentido, há possibilidades deferidas pelo código ;

•jurídica (ou científica): também tida como vulnerabilidade cientifica, ou seja,

carece de informação jurídica ou cientifica, presumida para os consumidores

não profissionais e pessoas físicas. Derivado da função social dos contratos,

do principio da boa fé objetiva, consagrados no CDC e que ganharam força

com o Código Civil.

Considerando-se a questão dos contratos de massa, nota-se a relevância

desta questão. A vulnerabilidade jurídica tem íntima relação com a boa-fé e a

declaração de vontade mitigada presente nos contratos dessa natureza. É a

vulnerabilidade jurídica que enseja a interpretação mais favorável ao

consumidor das cláusulas dúbias e a nulidade das que violem seus direitos

básicos.

O dever de lealdade que se deve guardar em função da boa-fé, da

eticidade e da probidade cabendo ao judiciário tutelar as situações contratuais

3 Por todos, MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor,4,ed. São Paulo:RT, 2002

20

e pré-contratuais nas quais for verificado que não houve preocupação com a

boa-fé e faze-las adstringirem-se a tal limite.

Em suma, temos que o aspecto técnico e jurídico da vulnerabilidade

nessa hipótese se faz presente na questão dos contratos de adesão e, ainda,

na extensão da proteção pelo princípio da boa-fé, na fase de formação,

execução e, ainda em momento posterior a execução;

•fática (sócio-econômica): pode ser verificar a vulnerabilidade fática na

contraposição da situação do produtor ou fornecedor do bem ou serviço ao

consumidor, assim aquele que dispuser de maior poderio econômico ou, ainda,

que dominar, monopolizar serviço ou produto essencial está em posição de

franca vantagem.

Nota-se que empresas que prestam serviços essenciais, como a CEG, a

LIGTH ou a CEDAE em regime de monopólio se utilizam dessa posição para

realizar cobranças por via obliquas, isto é, ameaçam ou até mesmo cortar

estes serviços por elas prestados, para forçosamente coibir o pagamento do

serviço ainda não quitado. Trata-se de verdadeira forma de abuso do poder

econômico violando a dignidade humana no seu aspecto de direito á moradia

digna.

A vulnerabilidade fática é semelhante a hipossuficiencia que refere-se a

fatores econômicos. Em contrapartida, por esta condição de hipossuficiencia

os consumidores dispõem de foro privilegiado de forma a neutralizar os efeitos

da cláusula de eleição do foro muito comum nos contratos de adesão que

poderiam importar em dispêndio excessivo aos consumidores. Verifica-se

ainda outro privilégio advindo da hipossuficiencia que é a assistência judiciária

gratuita.

21

CAPÍTULO III – A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR E A BUSCA DO EQUILIBRIO

Os problemas sociais surgidos da complexidade cada vez maior da

sociedade moderna e os reclamos indivíduos e grupos indicaram a

necessidade de tutelar o consumidor. É de CAPELLETTI a arguta observação

de que a sociedade contemporânea se caracteriza pelo ”fenômeno de de

massa”, salientando que, do ponto de vista econômico, a produção é uma

produção de massa, o comércio é de massa; o consumo por sua vez, também

é tipicamente de massa. Isto significa dizer que o ato e uma pessoa ou de uma

empresa envolve efeitos que atingem uma quantidade enorme de pessoas e

categorias. No aspecto consumo, por exemplo, basta que um produto

apresente um mínimo defeito, e já milhares ou milhões de consumidores

sofrerão um dano. O mesmo seja dito em relação á publicidade: uma fraude

publicitária, do tipo publicidade enganosa, poderá afetar milhões de pessoas.

Em ambos os casos haverá um “dano de massa”, a exigir uma resposta

protetiva que efetivamente tutele o consumidor.¨4

Em decorrência, surge a tutela, mas não surgiu assim aleatória e

espontaneamente. Trata-se como se vê, de uma reação a um quadro social,

reconhecidamente concreto, em que se vislumbrou a posição de inferioridade

do consumidor em face do poder econômico do fornecedor, bem como a

insuficiência dos esquemas tradicionais do direito substancial e processual que

já não tutelavam novos interesses identificados como coletivos e difusos.

A seu turno, o Estado abandonou sua posição individualista-liberal para

assumir um papel social mais intenso, intervindo na economia para garantir os

direitos e interesses dos consumidores. A tutela surge e se justifica, enfim, pela

busca do equilíbrio entre as partes envolvidas.

A primeira justificativa para o surgimento da tutela do consumidor está

assentada no reconhecimento da sua vulnerabilidade nas relações de

consumo. Trata-se da espinha dorsal do movimento, sua inspiração central,

base de toda a sua concepção,pois, se , a contrário sensu, admiti-se que o

consumidor está cônscio de seus direitos e deferes, informado e educado para

22

o consumo, atuando de igual para igual em relação ao fornecedor, então a

tutela não se justificaria.

É facilmente reconhecível que o consumidor é a parte mais fraca na

relação de consumo. A começar pela própria definição de que consumidores

são os que não dispõem de controle sobre os bens de produção e, por

conseguinte, devem submeter-se ao poder dos titulares destes. Para

satisfazer suas necessidades de consumo é inevitável que ele compareça ao

mercado e, nessas ocasiões , submeta-se ás condições que lhe são impostas

pela outra parte, o fornecedor.

O consumidor não sabe tudo que o fornecedor sabe sobre a prestação do

serviço ou o fornecimento do produto. Não conhece suas características, não

percebe seus riscos, não imagina que pessoas possam estar envolvidas no

processo produtivo, nem mesmo como este se desenrola. Ele não está apto a

defender seus direitos tal como o fornecedor, o contrato e seus termos não lhe

são familiares, e muitas vezes não tem á sua disposição um Advogado ou

Contador. Não é capaz de barganhar na negociação dos pactos, sujeitando-se

á regra do “pegar ou largar”. Na relação de poder que se estabelece no

mercado, sua posição é francamente desfavorável, ficando submetido ao

fornecedor porque não tem controle dos meios de produção.

Essa relação de hipossuficiencia é multiforme, podendo ocorrer por

desinformação, quando consome medicamento sugestionado pela massiva

propaganda dos meios de comunicação ou influenciado por orientação

desqualificada, sem estar informando corretamente de sua indicação ou dos

efeitos nefastos á sua saúde. Também pode ocorrer por fraude, quando lhe

vendem farinha de trigo embalada como antibiótico ou o adoçante artificial

sacarina, de preço menor e prejudicial a saúde se consumido em grandes

quantidades, embalado como se fosse adoçante natural stévia, mais caro e

inofensivo ao organismo. Pode ocorrer, ainda, quando o produtor não dê ou

não honre a garantia do bem produzido, como no caso do eletrodoméstico que

se estraga no dia da compra ou logo após e o produtor se esquiva de

substituir o produto defeituoso ou até mesmo as peças que impendem o seu

4 Mauro Cappelletti, Formações sociais e interesses sociais diante da Justiça Civil, Revista, cit.,v.5,p. 130.

23

perfeito funcionamento. Nessa extensa lista, que poderia ser aumentada

casuisticamente muitas vezes, chega-se a conclusão de que o consumidor

não está educado para o consumo, e que, em razão disso, é lesado por todos

os modos e maneiras, diuturnamente, vendo, com frequência, serem

desrespeitados os seus direitos básicos consagrados pela ONU e pela

legislação brasileira, como saúde e segurança, escolha, informação e

ressarcimento.

Hoje há consenso universal acerca da vulnerabilidade do consumidor. Já

não se questiona sobre esse ponto. Em todos do mundo ocidental há esse

reconhecimento. E a ONU novamente se pronuncia claramente a respeito do

assunto: na resolução n. 29/248, de 10-4-1985, reconheceu que os

consumidores se depararam com desequilíbrio em termos econômicos, nível

educacional e poder aquisitivo, o que conflita com o direito de acesso a

produtos e serviços seguros e inofensivos (normas,item 1). Parece induvidoso

que a expressão “desequilíbrio” usada na Resolução tem o significado de

vulnerabilidade.

Após a manifestação da ONU, também no Brasil se operou uma tomada

de consciência em favor do consumidor. O tema, pela primeira vez, foi tratado

em âmbito constitucional, com especial destaque, no capítulo relativo aos

Direitos e Garantias Fundamentais. No inciso XXXII do artigo 5º da

Constituição de 1988, como já se viu, o legislador constituinte assegurou que o

Estado promoverá a defesa do consumidor. A inserção é por demais incisiva.

O Estado – aqui no sentido de Poder Público (União,Estados e Municípios) –

declara a defesa do consumidor como dever seu e direito do cidadão, ao

mesmo tempo em que promete instrumentos protetivos para a sua

defesa,logicamente por entender necessária e indispensável essa defesa no

quadro atual da vida brasileira. E isso justamente porque reconhece a situação

de hipossuficiencia e vulnerabilidade. Não fosse assim e não se justificaria a

tutela, pois não se outorga tutela a quem dela não necessita.

Além do dispositivo constitucional, em que há reconhecimento implícito da

vulnerabilidade, em outro diploma legal ocorreu declaração expressa dessa

circunstancia. Trata-se do CDC (Lei n. 8.078/90) que, em seu artigo 4º,I,

24

declarou a vulnerabilidade do consumidor como um dos princípios da Política

Nacional de Relações de Consumo, visando coibição de abusos.

Os objetivos da Política Nacional das Relações de Consumo são: o

atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito á dignidade,

saúde e segurança dos consumidores, a proteção de seus interesses

econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, a transparência e harmonia

das relações de consumo. Assim , toda a interpretação do CDC deve ser feita

com o intuito de atingir tais objetivos.

Após traçar os objetivos, o legislador, por meio dos incisos do artigo 4º do

CDC, informa quais os princípios que devem ser observados e efetivados , seja

pelo Poder Público ou pelos fornecedores, nas relações de consumo. São eles

o Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor, Ação governamental

para proteção do consumidor, Controle de qualidade e segurança dos produtos

e serviços, Coibição e repressão das práticas abusivas, Racionalização e

melhoria dos serviços públicos, Estudos das constantes modificações do

mercado de consumo.

Certo é que a prática abusiva é expressão genérica e que afronta a

principiologia e a finalidade do sistema de proteção ao consumidor, bem como

se relaciona com o abuso do direito (art. 187 do CC). São comportamentos

ilícitos e nem há a necessidade do consumidor ser lesado.

Assim sendo, mesmo que o cliente sem pedir, tenha recebido o cartão de

crédito internacional, e tenha gostado da iniciativa da administradora, mesmo

assim, trata-se de prática abusiva.

Descreve o CDC tais práticas nos arts. 39, 40 e 41 e, merece destaque o

Decreto 2.181 /97 que dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de

Defesa do Consumidor (SNDC) que estabelece as normas gerais para

aplicação das sanções administrativas previstas no CDC.

Observe-se ainda que as cláusulas abusivas são nulas de pleno direito

conforme prevê o art. 51 do CDC que é um natural corolário da reprimenda

que recebe as práticas abusivas.

25

O art. 6, inciso VI do CDC consagra o princípio da efetividade da

prevenção e da reparação de danos ao consumidor. Pontifique-se que são três

idéias distintas: real efetividade, da prevenção e da reparação.

Efetivo é aquilo que atinge o seu objetivo real. O CDC como aporte

normativo traça um microssistema jurídico autônomo voltado para a proteção

do consumidor e, foi estruturado por princípios e valores particulares e

específicos.

É frugal ouvir nas hordas acadêmicas e jurídicas que o CDC é

paternalista, ou que acabou com os contratos ou com a autonomia da vontade,

ou ainda que fomenta a maléfica indústria do dano moral. Tudo não passa de

toleimas oriundas da total ignorância sobre os princípios e as finalidades do

sistema jurídico consumerista.

Lembremos que a igualdade buscada e defendida no princípio da

isonomia, requer que seja trate os iguais igualmente, e os desiguais ,

desigualmente na proporção de suas desigualdades.

A razão de ser do CDC é porque o consumidor é vulnerável, sendo o

sujeito de direito mais fraco na relação jurídica, e não pode estar exposto a

ofensas, violações e agressões por parte do segmento mais alto e dotado de

poder econômico.

Ao lado da idéia da efetividade, se encontra em primeiro lugar, o firme

propósito de prevenir a ocorrência de danos ao consumidor. E a prevenção é

possível por meio da educação e da divulgação dos direitos básicos do

consumidor.

A tutela jurisdicional através de medidas cautelares ou de provimentos

antecipatórios, é a forma de prevenção. Decorre daí, a necessidade da efetiva

reparação dos prejuízos causados ao consumidor.

Pois bem . Essa Política Nacional das Relações de Consumo não será

completa se não dispuser sobre a coibição dos abusos praticados no mercado

de consumo. Deve garantir-se não só a representação dos atos abusivos,

como a punição de seus autores e o respectivo ressarcimento, senão também

a atuação preventiva tendente a evitar a ocorrência de novas práticas

26

abusivas, afastando-se aquelas que podem causar prejuízos aos

consumidores, como concorrência desleal e utilização indevida de inventos e

criações industriais. A coibição preventiva e eficiente dessas práticas

representará desestímulo aos potenciais fraudadores. A contrário sensu, a

ausência de repressão, ou mesmo o afrouxamento, representará impunidade,

e, pois, estímulo.

27

CAPITULO IV – CASOS REAIS DE EQUIPARAÇÃO AO

CONSUMIDOR VULNERAVEL

PRECEDENTE

Essa nova compreensão concretizou-se no julgamento do Resp n.

716.877, realizado em 2007, na Terceira Turma. O recurso era de um

caminhoneiro que reclamava a proteção do CDC porque o veículo adquirido

apresentou defeitos de fabricação. O caminhão seria utilizado para prestar

serviços que lhe possibilitariam sua mantença e a da família. O recurso foi

atendido. O relator, ministro Ari Pargendler, afirmou em seu voto que a noção

de destinatário final não é unívoca. “A doutrina e a jurisprudência vêm

ampliando a compreensão da expressão ’destinatário final’ para aqueles que

enfrentam o mercado de consumo em condições de vulnerabilidade”, disse.

As hipóteses ficam claras com a explicação do ministro Pargendler: “Uma

pessoa jurídica de vulto que explore a prestação de serviços de transporte tem

condições de reger seus negócios com os fornecedores de caminhões pelas

regras do Código Civil. Já o pequeno caminhoneiro, que dirige o único

caminhão para prestar serviços que lhe possibilitarão sua mantença e a da

família, deve ter uma proteção especial, aquela proporcionada pelo Código de

Defesa do Consumidor”.

COSTUREIRA

Foi reconhecida a possibilidade de aplicação do CDC e garantiu a uma

costureira a validade da norma consumerista para julgamento de uma ação

contra uma empresa fabricante de máquinas e fornecedora de softwares,

suprimentos, peças e acessórios para atividade confeccionista. A costureira,

moradora de Goiânia (GO), havia comprado uma máquina de bordado em 20

prestações. Ela protestava, entre outros, contra uma cláusula do contrato que

elegia o foro de São Paulo, sede da empresa, para dirimir eventuais

controvérsias.

28

A ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso no STJ (Resp n.

1.010.834), salientou que se admite a aplicação das normas do CDC a

determinados consumidores profissionais, desde que seja demonstrada a

vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. Para a ministra, “a

hipossuficiência da costureira na relação jurídica entabulada com a empresa

fornecedora do equipamento de bordar – ainda que destinado este para o

incremento da atividade profissional desenvolvida pela bordadeira –

enquadrou-a como consumidora”.

No caso, a Terceira Turma analisou a validade de cláusula de eleição de

foro constante no contrato. Como foi adotado o sistema de proteção ao

consumidor, os ministros entenderam serem nulas “não apenas as cláusulas

contratuais que impossibilitem, mas as que dificultem ou deixem de facilitar o

livre acesso do hipossuficiente ao Judiciário”.

FRETEIRO

Em outro caso julgado na Terceira Turma, os ministros julgaram recurso

de um freteiro que adquiriu caminhão zero quilômetro para exercer a profissão

(Resp n. 1.080.719). Ele pedia que fosse aplicada a inversão do ônus da

prova, prevista no CDC, em uma ação de rescisão contratual com pedido de

indenização, em razão de defeito no veículo.

A Terceira Turma considerou que, excepcionalmente, o profissional pode

ser considerado consumidor “quando a vulnerabilidade estiver caracterizada

por alguma hipossuficiência, quer fática, técnica ou econômica”.

O caso era de Minas Gerais. A decisão do STJ reformou entendimento do

Tribunal de Justiça estadual e determinou a concessão do benefício da

inversão do ônus da prova.

29

PRODUTOR RURAL

Recentemente, a Terceira Turma decidiu aplicar o Código Civil (CC), em

vez do CDC, num litígio sobre a venda de defensivos agrícolas a um grande

produtor de soja de Mato Grosso. O relator do recurso é o ministro Massami

Uyeda (Resp n. 914.384).

A questão chegou ao STJ depois que o Tribunal de Justiça de Mato

Grosso reconheceu haver relação de consumo caracterizada entre a empresa

e o produtor rural. Na ocasião, o Tribunal local entendeu que ser produtor de

grande porte não retiraria dele a condição de consumidor, uma vez que os

produtos adquiridos foram utilizados em sua lavoura, o que o tornaria

destinatário final do produto.

Inconformada, a empresa recorreu ao STJ. O ministro reformou o

entendimento. “O grande produtor rural é um empresário rural e, quando

adquire sementes, insumos ou defensivos agrícolas para o implemento de sua

atividade produtiva, não o faz como destinatário final, como acontece nos

casos da agricultura de subsistência, em que a relação de consumo e a

hipossuficiência ficam bem delineadas”, afirmou.

No caso analisado, o STJ afastou a aplicação da inversão do ônus da

prova e possibilitou o prosseguimento, na Justiça estadual, da ação revisional

do contrato de compra, porém amparada na legislação comum, o Código Civil.

30

CONCLUSÃO

Pelo exposto, plena deve ser a luta pela defesa dos direitos dos

consumidores, que sejam referentes a sua esfera patrimonial, quer seja aos

direitos pessoais que alcançam as esferas da afetividade e da

moralidade,individual ou social.

Assim, o direito do consumidor visa uma efetiva e integrada política de

assistência á parte economicamente mais fraca nas relações de consumo,

através de propagandas de educação, informação, serviços de consulta legal,

estabelecendo modelos e procedimentos facilmente acessíveis para fazer

conscientes, os consumidores de seus direitos, bem como das suas

obrigações.

Com o advento da legislação consumerista acerca da responsabilização

dos fornecedores, trouxe além do equilíbrio contratual nas Relações Jurídicas

de Consumo, uma forma de direta ou indiretamente obrigar tais fornecedores,

sejam eles de qualquer natureza, de ao “promoverem” um produto ou

prestarem um serviço junto ao mercado, façam este de forma consciente,posto

que sua má elaboração será objeto futuro de ação de responsabilização e por

conseguinte indenização aos consumidores lesados, os quais diante de toda

sistemática e evolução capitalista não se fazem mais omissos.

Em decorrência, após o surgimento do Código de Defesa do Consumidor

e dos Juizados Especiais, observa-se grande evolução na efetivação de

direitos e garantias do consumidor, não somente pela doutrina, mas

efetivamente pela jurisprudência.

O único ponto ainda guerreado pelo consumidor, principalmente aquele

mais vulnerável, é o entendimento majoritário dos Tribunais no sentido de que,

a exemplo a compensação por dano moral só deverá ocorrer quando houver

um dano considerável, uma afronta significativa á dignidade da pessoa. Nesse

diapasão, caso haja uma mera quebra contratual, ou um mero aborrecimento,

sem que tenha efetivo dano á psique do cidadão, não há que se falar em

indenização por dano moral.

31

Contudo, dependendo do caso, mesmo que o consumidor não seja

exposto a uma situação humilhante, mesmo que não haja uma ofensa á sua

dignidade, ele deveria possuir uma compensação por danos morais, haja vista

a perda considerável de seu tempo, o estresse pelo qual terá que passar para

sanar um imbróglio que sequer deveria ter surgido e a inibição de práticas

reiteradas por parte das empresas.

Por derradeiro, salienta-se a perda de tempo útil do consumidor,

principalmente deste vulneravel, onde a ocorrência sucessiva e acintosa de mau

atendimento , gerando a perda de tempo útil, tem levado a jurisprudência a dar

seus primeiros passos para admitir a reparação civil pela perda do tempo livre.

Há alguns anos, um novo estágio da massificação do consumo inaugurou-

se em nossa sociedade. Massificado o consumo, massificaram-se as

respectivas demandas, fazendo com que milhares de consumidores

passassem a lidar com uma série de infortúnios junto aos fornecedores para

tentar solucionar os problemas decorrentes das relações travadas entre esses

dois sujeitos. É certo que as diversas questões que cercam nosso cotidiano

demandam algum tempo para ser solucionadas, o que nos leva a afirmar que é

perfeitamente normal “perder” ou “investir” nosso tempo para tratar das

questões do dia-a-dia, inclusive aquelas relacionadas ao consumo, uma vez

que essa atividade é, por todos, realizada ao longo das 24 horas do dia.

Mas, quais são os efeitos que sofremos quando a solução de simples

demandas de consumo requer tempo considerável, extravasando os limites da

razoabilidade? Como vem ocorrendo, é razoável exigir do consumidor que

perca um tempo precioso para solucionar questões dessa natureza, quando ao

mesmo tempo há outros afazeres e problemas mais sérios a solucionar no

decorrer do dia?

O tempo é hoje um bem jurídico e só o seu titular pode dele dispor. Quem

injustificadamente se apropria deste bem causa lesão que, dependendo das

circunstâncias pode causar dano que vai além do simples aborrecimento do

cotidiano, ou seja, dano moral.

32

A importância do tempo, no entanto, não se limita à ideia que cada um de

nós tem sobre suas implicações, isto e, à subjetividade que envolve a análise

de sua influência em nosso cotidiano. Na seara jurídica, o tempo é parâmetro

objetivo utilizado para criar e extinguir direitos. No direito pátrio, encontra-se

presente na própria Constituição Federal, como direito fundamental implícito na

norma que assegura a razoável duração do processo e os meios que garantam

a celeridade de sua tramitação, tanto no âmbito judicial quanto no

administrativo (art. 5º, LXXVIII). Foi com vistas nesse direito fundamental que o

CNJ criou a campanha chamada “Metas: bater recordes é garantir direitos”,

cujo objetivo é o de “assegurar o direito constitucional à ‘razoável duração do

processo judicial’, o fortalecimento da democracia, além de eliminar os

estoques de processos responsáveis pelas altas taxas de congestionamento”.

No âmbito legislativo, o tempo e o modo como o consumidor deve ser

atendido é disciplinado pelo Decreto nº 6.523/08 (Lei do SAC), que

regulamenta o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90). O aludido

decreto dispõe, especificamente, sobre: (i) seu âmbito de aplicação; (ii)

acessibilidade do consumidor ao serviço; (iii) qualidade do atendimento; (iv)

acompanhamento das demandas pelo consumidor; (v) procedimento para

resolução das demandas; (vi) pedido de cancelamento do serviço. O que a

leitura desse diploma nos permite constatar é que a celeridade no atendimento

ao consumidor é uma de suas tônicas.

Dentre os tribunais que mais têm acatado a tese da perda do tempo útil

está o TJRJ, podendo-se encontrar aproximadamente 40 acórdãos sobre o

tema no site daquele tribunal, alguns da relatoria do insigne processualista

Alexandre Câmara, o que sinaliza no sentido do fortalecimento e consequente

afirmação da teoria. Confiram-se algumas ementas:

DES. LUIZ FERNANDO DE CARVALHO - Julgamento: 13/04/2011 - TERCEIRA

CAMARA CIVEL.CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. FALHA NA PRESTAÇÃO

DE SERVIÇO DE TELEFONIA E DE INTERNET, ALÉM DE COBRANÇA INDEVIDA.

SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. APELAÇÃO DA RÉ. AUSÊNCIA DE

DEMONSTRAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE UMA DAS EXCLUDENTES PREVISTAS NO

ART. 14, §3º DO CDC. CARACTERIZAÇÃO DA PERDA DO TEMPO LIVRE. DANOS

33

MORAIS FIXADOS PELA SENTENÇA DE ACORDO COM OS PARÂMETROS DA

RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

IGUALMENTE CORRETOS. DESPROVIMENTO DO APELO.

DES. ALEXANDRE CAMARA - Julgamento: 03/11/2010 - SEGUNDA CAMARA CIVEL

Agravo Interno. Decisão monocrática em Apelação Cível que deu parcial provimento ao

recurso do agravado. Direito do Consumidor. Demanda indenizatória. Seguro

descontado de conta corrente sem autorização do correntista. Descontos indevidos.

Cancelamento das cobranças que se impõe. Comprovação de inúmeras tentativas de

resolução do problema, durante mais de três anos, sem que fosse solucionado. Falha

na prestação do serviço. Perda do tempo livre. Dano moral configurado. Correto o valor

da compensação fixado em R$ 2.000,00. Juros moratórios a contar da citação.

Aplicação da multa prevista no § 2º do artigo 557 do CPC, no percentual de 10% (dez

por cento) do valor corrigido da causa. Recurso desprovido.

DES. MONICA TOLLEDO DE OLIVEIRA - Julgamento: 27/10/2010 - QUARTA

CAMARA CIVEL. Apelação. Danos morais. Contrato para instalação do serviço OI

VELOX ( banda larga internet). Inadimplemento contratual por parte da operadora que

alegou inviabilidade técnica por impropriedades da linha telefônica. Sentença de

procedência. Dano moral fixado em R$ 2.000,00. Apelos de ambas as partes. A

princípio, o inadimplemento contratual não acarreta danos morais, porém, pelas

peculiaridades do caso concreto, se verificou a ocorrência de aborrecimentos anormais

que devem ser compensados. Violação ao dever de informação, art. 6º, III, do CDC.

Grande lapso temporal entre a data da celebração do contrato e a da comunicação de

que a não seria viável a prestação dos serviços por impropriedades técnicas da linha

telefônica do Autor. Teoria da Perda do Tempo Livre. Por mais de um ano, o Autor

efetuou ligações para a Ré na tentativa de que o serviço de internet fosse corretamente

instalado, além de ter recebido técnicos da Ré em sua residência, mas que não

solucionavam os problemas. Indenização bem dosada em R$ 2.000,00. Pequeno

reparo na sentença para fixar a correção monetária desde a data do arbitramento e

juros moratórios a partir da citação. Provimento parcial ao recurso do autor.

Desprovimento ao recurso do réu.

Outra consideração se faz necessária. No dia 07/05/2012, a Revista Consultor Jurídico

(ConJur) noticiou a suma das ideias defendidas pelo Desembargador José Renato

Nalini durante o seminário Liberdade de Imprensa, organizado pelo Instituto

Internacional de Ciências Sociais (IICS), realizado em São Paulo, nos dias 03 de

04/05/2012 (3). Na ocasião, o insigne magistrado defendeu a tese de que a

judicialização cria uma sociedade que não dialoga. A nosso juízo, a tese estaria

inteiramente correta, não fosse essa tormentosa situação pela qual passam milhares de

consumidores.

34

Finalmente, cabe lembrar que os fornecedores atuam no mercado de

consumo assumindo os riscos do empreendimento, tese inspiradora da teoria

da responsabilidade civil objetiva do fornecedor. Sendo assim, se este decide

explorar empresa, deve arcar com os danos eventualmente decorrentes de sua

atuação, inclusive o dano extrapatrimonial causado ao consumidor por

despojá-lo de seu tempo útil.

Deste modo, demonstra-se a necessidade de proteger o consumidor, seja

na pessoa física ou na pessoa jurídica; quando reconhecida a situação de

vulnerabilidade, principio basilar da legislação consumerista. Os princípios

instituídos pelo CDC devem ser interpretados de forma a atingir sua função na

sociedade,tendo em vista a possibilidade de promoção da justiça social, da

produção jurisdicional equânime dentro dos limites da segurança jurídica, que

é um dever do Estado.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcelos e. O conceito jurídico de consumidor. São Paulo: RT, v. 628, fev. de 1988.

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LOPES, José Reinaldo de Lima. Responsabilidade civil do fabricante e a defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992.

MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: O novo regime das relações contratuais. 5ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2005.

MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe; BENJAMIN, Antônio Herman Vasconcelos. Manual de Direito do Consumidor. 2ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2009.

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http://www.fernandezempresarial.com.br/localizacao.asp http://www.aba.adv.br/index.php?action=verartigos&idartigo=52 GUGLINSKI, Vitor Vilela. Danos morais pela perda do tempo útil: uma nova modalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3237, 12maio 2012 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/21753>. Acesso em: 14 ago. 2012.