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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO E A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DO
TRABALHADOR
Por: Renata Araújo Leão
Orientador
Prof. Adélia Araújo
Niterói
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO E A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DO
TRABALHADOR
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão de Recursos
Humanos
Por: Renata Araújo Leão
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AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, à Deus, pela fé que eu tenho nele. À minha
família, ao meu pai e meu irmão por todo apoio e incentivo. À minha mãe, pela
dedicação e coragem em formar os seus filhos. Esta monografia é uma
homenagem ao seu esforço para que eu chegasse até esta etapa da minha vida.
Agradeço à Universidade Candido Mendes por todo o suporte oferecido para
a minha formação e, principalmente, agradecer à minha orientadora, pelo
estímulo recebido e pela excelente orientação. Aos demais professores desta
instituição que também fizeram parte deste trabalho em salas de aula.
Gostaria de agradecer ainda à todos os meus amigos que permaneceram ao
meu lado, incentivando para que eu nunca desistisse dos meus sonhos. E para
não correr o risco de ser injusta, agradeço a todos que passaram pela minha vida
e que de alguma forma contribuíram para o meu crescimento.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha mãe por todo apoio, incentivo e coragem nestes
anos de estudo. Sem você nada disso seria possível.
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RESUMO
O presente estudo apresenta ideias sobre assédio moral em ambiente de
trabalho contextualizado ao processo de organização e divisão do trabalho,
apontando como a lógica capitalista determina as relações sociais e trabalhísticas
através do poder concedido de forma hierárquica (horizontalmente). O ritmo
acelerado imposto aos trabalhadores mostra-se impulsionado pela necessidade
de aumentar a produção, no entanto, o trabalhador sente-se esgotado por não ter
capacidade e/ou condições físicas e psicológicas de manter suas atividades bem
sucedidas. O assédio moral é a ação repetitiva de cunho vexatório, repressor,
humilhante com objetivo de ferir a integridade psicológica podendo causar
desestruturação psíquica, doenças psicossomáticas e até escoriações em caso
de agressão física. As agressões ocorrem, geralmente, no setor de serviços e
comércio, pois abrange maior número de funcionários, dentre eles mulheres,
negros, idosos, estagiários que são atingidos mais diretamente pelo agressor. As
consequências são diversas e tendem a deixar a vítima envergonhada, com medo
de expor as humilhações que está sendo submetida e não procurar ajuda. Este
quadro é comum, porém dificulta a identificação dos problemas que iniciaram o
assédio dentro do ambiente de trabalho e consequentemente a solucionar. Desta
maneira, os recursos humanos tem papel fundamental na análise da organização
do ambiente de trabalho, pois lança um olhar holístico capaz de avaliar as
relações de poder ali presentes e trabalhar com foco. Articular melhor os
funcionários através de atividades coletivas de cuho educativo, capacitação, levar
a informação e o conhecimento de Leis Trabalhistas para todos os trabalhadores
com intuito de aproximar os trabalhadores e tentativa de amenizar os impactos
das relações hierárquicas. Essas alternativas mostram-se viáveis e aplicáveis no
cotidiano das organizações, insituições, empresas pois apresentam caráter
integrador, buscando reestruturar as relações entre trabalhadores e instituições,
conscientização e o bem estar dos trabalhadores.
6
METODOLOGIA
Por ser um assunto recente, porém não menos importante, o estudo propõe
articular diferentes referenciais sobre assédio moral, contextualizando o processo
de formação e organização interna do país à construção cultural desigual e
negligente, em especial no ambiente de trabalho. O trabalho foi realizado em três
etapas, sendo necessário selecionar bibliografias referentes ao tema, algumas
indicadas durante as aulas da Pós-Graduação e outras por importância e
afinidade com o tema.
A primeira etapa foi a definição do tema e suas problemáticas, a relevância
do tema para a formação em Recursos Humanos e de que forma o estudo
contribui para maior espraiamento do assunto. O interesse pelo tema cresceu
visto a quantidade de trabalhos, estudos e pesquisar já realizadas apresentando e
dados valiosos. A pesquisa sobre assédio moral e assédio moral em ambiente de
trabalho foi vasta e trouxe esclarecimentos e informações exprimidas ao longo do
deste trabalho.
A segunda etapa foi selecionar os autores que abordavam o tema dentro
de uma mesma perspectiva, apesar de atuarem em área diferentes, como
Psicologia, Sociologia, Serviço Social e Direito, e dentro dessas áreas suas
especificidades. Esse momento de leitura, releitura e compreensão das
informações foi fundamental para conseguir articular os meus pensamentos com
os autores e a partir daí estruturar melhor a interdisciplinaridade do trabalho.
Essas áreas de conhecimento tiveram maior relevância na pesquisa, pois
apresentaram maior afinidade com a problemática do estudo, envolvendo
aspectos psicossociais, culturais e econômicos.
7
As fontes de pesquisa foram diversas, contando com livros, artigos, textos,
jornais, revistas e conteúdos passados em sala de aula. Sites de busca online
auxiliaram bastante para o levantamento de reportagens, entrevistas e
documentários. A abordagem dada pelas diferentes áreas do conhecimento indica
a necessidade de investigar e delimitar os problemas, buscando alternativas
viáveis e contemplativas em diferentes escalas.
Na terceira etapa foram realizados ajustes junto à orientadora com objetivo
de construir um texto coeso, reunindo dados e as informações que embasam e
justificam a escolha pelo tema. Foi o momento de organizar os esboços do
trabalho, esclarecendo as dúvidas pertinentes e corrigindo quando necessário.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Conceitos e formas de assédio moral 12
1.1 Fragilidades do trabalhador 20
CAPÍTULO II - Direito do trabalhador 24
CAPÍTULO III – Recursos humanos – um olhar atento 29
CONCLUSÃO 35
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 39
ANEXOS 40
9
INTRODUÇÃO
A palavra trabalho pode ser compreendida como "fonte de libertação, fator
de cultura, progresso e realização pessoal, e também o conceito de paz social, de
bem-estar coletivo e dominação racional do universo". O trabalho também está
associado à dignidade do ser humano, pela razão de o colocar como
administrador do universo, um ser privilegiado em relação aos demais seres, visto
que apenas ele pode realizar trabalho com discernimento e liberdade, explorando
e transformando, através de um esforço consciente, o espaço geográfico e os
elementos que o compõem. Uma outra visão acerca do trabalho está ligada à
semântica da palavra, que significa torturar, sendo histórica e socialmente
relacionada ao sentido moral de sofrimento, fadiga, encargo; sendo caracterizada
como uma penalidade, um castigo imposto ao homem decaído, sendo uma forma
de punição aos seus erros e desobediências.
Compreendendo que a sociedade é um sistema complexo formado de
componentes distintos ligados entre si por relações econômicas, políticas e
culturais é preciso relacionar a função do trabalho às suas diferentes formas de
organização. O critério de organização do ambiente de trabalho deve ser a
ideologia de seus participantes. No entanto são regidos por interesses que
norteiam o desenvolvimento econômico da sociedade, deixando em segundo
plano aspectos culturais e as subetividades do ser humano. Após a Revolução
Industrial, ocorrida na Europa no século XVIII e no século XIX/XX no Brasil, o
mundo conheceu a divisão internacional do trabalho que trouxe em si a práxis dos
ideiais capitalistas, desqualificando, pressionando e punindo o trabalhador que se
submete à esta situação por estar atado nos nós do individualismo,
competitividade, ganância, poder hirárquico e aquisitivo, desorientado pelo
acúmulo de tarefas, responsabilidades profissionais e pessoais.
10
Tendo em vista que no Brasil a primeira forma de trabalho, introduzida pelo
portugueses, foi o regime de escravidão na qual a relação existente entre
empregador e emepregado era a mesma entre metrópole e colônia, fomentada
pelo sentido do consumismo, da mercadoria, da lógica do valor quantitativo da
natureza e do ser humano. As condições de trabalho não condiziam com as
necessidades básicas para o trabalhador ser bem sucedido em suas atividades,
além de não ter direitos e ser obrigado a ser expor à violências morais e físicas. A
mão de obra nativa (indígena), num primeiro momento e africana por mais de dois
séculos, no território americano, foi a força de trabalho que impulsionou e
financiou o processo de industrialização europeu no sentido mais hostil capitalista
contribuindo para a formação de uma cultura agressiva materializada através do
assédio moral.
O longo período de expansão territorial do pós-guerras, o qual teve como
base um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de
consumo e configurações específicas de poder político-econômico, interrompe-se,
e da início a uma época de rápidas mudanças, fluidez e incertezas. É nesse
contexto que começaram a surgir, como opção à crise, indícios de um novo
regime de produção capitalista estendendo as bases para uma acumulação de
maior proporção, em escala global controlada e submetida, indiscutivelmente, às
técnicas modernas de administração e divisão do trabalho. Todavia, essas
técnicas produziram, ao mesmo tempo, uma forma de pensar e de se comportar
absolutamente destrutiva e opressiva. As diversas formas de organizar a
produção e o trabalho, gerados ao redor do mundo, foram captados por condições
econômicas e sociais, e estão sujeitos a adaptações, mesmo em seus países de
origem, para continuarem sobrevivendo.
Apesar de haver direitos sociais que garantem a integridade física e mental
dos trabalhadores, dentro do contexto histórico e cultural em que o Brasil
11
encontra-se imerso, a negligência ética enraizou-se no modo de organização do
trabalho assustadoramente e transformou as relações sociais em problemas de
alta repercursão na saúde mental e física do trabalhador. Em se tratando de
assédio moral, conduta imoral imposta por um sujeito a outro sujeito influenciado
por diversos fatores, nota-se que há uma lacuna perante a sociedade em definir e
explicar determinada conduta, bem como que consequências traz ao trabalhador
que sofre com tal agressão.
Com o intuito de melhor compreender as origens do tema, recente ainda no
Brasil, o estudo propõe uma análise sobre o conceito de assédio moral no
trabalho expondo as fragilidades da hierarquia montada em ambientes de trabalho
que dificultam a germinação do espírito de cooperação e solidariedade entre os
próprios trabalhadores; acumular base teórica para dialogar com (recursos
humanos) as leis trabalhistas, salientando os deveres e obrigações, muitas vezes
desconhecidos pelos trabalhadores; apresentar e exemplificar formas de assédio
moral, e mostrar alternativas viáveis que envolvam a organização do ambiente de
trabalho.
12
CAPÍTULO I - CONCEITOS E FORMAS DE ASSÉDIO MORAL
A base teórica e pesquisas acerca do tema são em número reduzido no
Brasil frente à intensificação e a gravidade do fenômeno, comprova-se isto
através da observação do crescente número de Leis, projetos de Lei e discussões
sindicais sobre o assédio moral. No entanto é importante ressaltar que o assédio
moral em ambiente de trabalho é consequência de transformações no cenário
organizacional nas últimas décadas. A estruturação hierárquica que constituem as
empresas, indústrias, fábricas, escolas, escritórios, entre outros, validam uma
divisão de poder de classe expressa por atitudes não éticas.
A centralidade social no emprego e a relevância quantitativa da classe
operária contribuiram para que a partir do século XIX e durante a maior parte do
século XX se associasse a expressão “trabalhadores” a “empregados”. Essa
introjecção arquetípica gera uma correlação que beira a identidade nas
construções simbólicas de nossa sociedade, conforme advoga Santos (2009).
As novas exigências do ambiente de trabalho produzem abuso de poder,
informações e instruções confusas, ofensas repetitivas, agressões, acusações,
maximização do erro causando sentimentos de medo, incertezas, angústia,
tristeza e ansiedade. Isto no revela uma imensa dificuldade em conviver num
ambiente com pessoas e ideias diferentes.
A turbulência do mercado de trabalho concretiza-se na organização do
ambiente, nas condições materiais e imateriais que consolidam sua importância
conforme uma hierarquia a ser seguida e respeitada pelos demais. Há controle
dessa ordem através da coersão. Segregação, discriminação, inferiorização são
13
formas de agredir física e moralmente um ser humano. Apesar da gravidade do
quadro, o assédio moral tem se apresentado num quadro crescente no Brasil
demandando ações práticas que busquem alternativas sádias quanto à
degradação social, cultural, política e moral dos trabalhadores.
Em sua obra “Assédio moral no Direito do Trabalho (2010)”, Jane Matos do
Nascimento afirma que o assédio moral é visto por como uma patologia social,
exteriorizando-se como uma doença comportamental, geradora de graves danos
de ordem física e psicológica, inviabilizando o convívio saudável no ambiente de
trabalho. Esse comportamento seria fora do comum esperado na sociedade, seria
um comportamento não pensado no coletivo, intencionado por um interesse
único.
Conforme define Freitas (2008), assédio moral é a conduta abusiva,
intencional, freqüente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho e que visa,
diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir, psiquicamente, um
indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo a
sua dignidade e colocando em risco a sua integridade física e profissional.
Assédio moral no trabalho é considerada por Maciel (2007) como toda
exposição prolongada e repetitiva a situações humilhantes e vexatórias no
ambiente de trabalho, caracterizadas por relações hierárquicas autoritárias, onde
a vítima é hostilizada, inferiorizada diante dos colegas e segregada pelos
mesmos.
Seguindo o mesmo raciocínio sobre assédio moral, Meire Xavier Melo, em
“O Assédio moral das relações de trabalho: assédio moral, questões trabalhistas e
14
comportmentais (2010)”, afirma que é toda tentativa repetida de agredir a
dignidade da pessoa através de comportamentos abusivos e constragedores com
intuito de ferir a integridade psicológica causando desestruturação psíquica e
doenças psicossomáticas.
Assédio moral também está ligada à degradação das condições de
trabalho através do estabelecimento de comunicações não éticas – abusivas
caracterizadas pela repetição por longa duração de um comportamento hostil que
um superior ou colega(s) desenvolve(m) contra um indivíduo que apresenta, como
reação, um quadro de miséria física, psicológica e social prolongado, como
defende Leymann (1990).
Alicerçada na base material, a sociedade enxerga, mas nem sempre
compreende, os valores quantitativos e contraditórios à que está submetida ao
longo da sua formação social e cultural, seja no trabalho, na escola ou em outras
atividades exercidas. Isto porque para melhor compreender as ações antrópicas é
fundamental sentir-se consciente de sua função social, ter leitura própria dos fatos
e autonomia nas decisões.
O diálogo articulado entre os autores acima apresenta coerência na
explanação sobre o assédio moral no trabalho, apontando as origens arraigadas
no abuso de poder, na manipulação perversa, nas ofensas ao caráter, situações
constragedoras e agressões física e psicológica que acarretam na
desestabilidade do trabalhador, tanto em rede pública como privada, no campo ou
na cidade. As péssimas condições de trabalho que muitos profissionais
encontram ao longo de sua carreira causam danos seriíssimos ao trabalhador,
pois o mesmo sente-se desestimulado a executar sua função já que não há
infraestrutura que garanta sua itegridade física, psicológica e moral.
15
As relações de poder atravessam todas as esferas da sociedade, o
econômico, político, social, cultural produzindo saberes sobre o corpo do indivíduo
e a vida da população. A necessidade de moldar a sociedade faz com que as
subjetividades sejam aniquiladas, continuamente, através de condutas antiéticas,
oprimindo e reprimindo determinados funcionários da organização de acordo com
o cargo, nível hierárquico, ou seja, importância que cada pessoa tem na
estruturação e organização da instituição.
A divisão (internacional) do trabalho é marcada por flexibilizar as relações
trabalhistas abrindo margem para interpretações maldosas movedoras do assédio
moral. Tal fato implica na saúde física e mental do trabalhador, pois a partir do
momento em que há condutas coersitivas, humilhantes e vexatórias o funcionário
sente-se desasgragado, não incorporado ao ambiente de trabalho e não enxerga
caminhos para se entrosar aos demais. Envergonhado pela situação, o
trabalhador assediado sente-se incomodado, mas em muitos casos não consegue
uma brecha para expôr suas dificuldades momentâneas.
O trabalho assume dimensões enormes na vida do homem. Pensar em
assédio moral requer estruturar um pensamento sobre organização social,
levando em consideração à flexibilidade, o individualismo, a competitividade e
subordinação dos trabalhadores. Cultura é a prática de valores, e na verdade, a
socidade atual sobrevive num contexto onde os valores estão se fragmentando de
tal forma à deixar de lado o autoreconhecimento, a referência inicial que é de se
enxergar como humano, independente de sua função profissional.
Dessa visão única, de não enxergar as sigularidades, nasce a intolerância.
Disciplinar o corpo a um único movimento, condicionar-se a horários e atividades
16
cansativas, escutar sem ter poder de réplica, salário baixo e atrasado. Vida de
trabalhador não é fácil.
“Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é
objeto de investimentos tão urgentes; a escala, em primeiro
lugar, do controle não se trata de cuidar do corpo em
massa, grosso modo, como se fosse uma unidade
indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente; de
exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao
nível mesmo da mecânica – movimentos, gestos atitude,
rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo
ativo”.(FOUCAULT,1998 p.117)
Segundo Hirigoyen (2005) a forma mais frequente e com consequências
mais graves para a saúde é o assédio moral vertical, que ocorre quando um
empregado é agredido por um empregado em cargo superior, situação em que a
vítima se sente isolada, inibida e com dificuldade para encontrar uma solução. Já
no assédio horizontal, as agressões podem ser causadas por uma simples
inimizade, pela competitividade, racismo e ao sexismo. Ocorre quando há
agressões no mesmo nível hierárquico. Na maioria das vezes a degradação das
relações de trabalho atua associada à alta competitividade nas organizações. O
desejo e o poder de controlar os trabalhadores agrega-se a demanda de vigiar o
comportamento e manter a ordem de qualquer forma, mesmo que isso cause
danos.
Como tentativa de calar suas vítimas, fazem desacreditar na pessoa
através da utilização de argumentos falsos, mal entendidos e não ditos. Pode
ocorrer também um esforço para ridicularizar o outro, humilhá-lo, cobrí-lo de
17
sarcasmo até fazê-lo perder a confiança em si, com o uso de difamações,
calúnias, mentiras e comentários maldosos.Nesse caso, quando a vítima está
esgotada ou deprimida, concretiza-se o assédio.
A desqualificação da vítima é praticada de maneira sutil, insinuante e
não-verbal por meio de alusões desestabilizadoras. A deterioração forçosa das
condições de trabalho, com intenção de fazer a vítima parecer incompetente, abre
margem a críticas para justificar seu rebaixamento e poder demiti-la. Com uma
atitude de desprezo e de provocação, normalmente o agressor leva a vítima a um
comportamento agressivo e impulsivo, utilizado para afirmar que a mesma é
desequilibrada e perturba o trabalho dos colegas.
A diferença entre mulheres e homens ainda nã foram superadas, as
limitações são gritantes e muitas vezes prejudiciais à sociedade. Apesar da
inserção feminina no mercado de trabalho e principalmente na educação (básica
até superior) indicar o potencial de qualificação das mulheres, estas ainda não
submetidas a trabalhos culturalmente ditos “femininos” e a cargos mais baixos.
Aos poucos a mão de obra feminina vem sendo valorizada e recompensada pelos
mesmos esforços feitos pelos homens, no entanto vale ressaltar que o assédio
moral atinge muitas mulheres, principalmente em ambientes com sexo masculino
em maioria.
As mulheres podem ser vítimas de assédio moral continuamente e até virar
assédio sexual, algo mais apeltativo por parte do agressor, que busca atenção da
vítima ou tirar proveito da posição hierárquica que ocupa. A falta de ética também
acontece em outras situações em que patrão força situações constragedoras,
manipula atitudes e ameaça a vítima.
18
Porém não acontece somente com mulheres, destaca-se esse resrespeito
também entre funcionários negros, que são submetidos a agressões racistas. As
ásperas palavras utilizadas ao se referir ao trabalhador negro, remetendo-se ao
passado de escravidão ainda é comum em muitos ambientes de trabalho. O
tratamento hostil só atrapalha a inserção da vítimia ao grupo, fazendo com que o
mesmo sinta-se diferenciando devido a sua cor de pele e desqualificando todo
seu caráter e profissionalismo.
O idosos são vítimas de assédio moral, devido principalmente a sua idade
mais avançada e algumas limitações vindas com esta. A falta de paciência, não
incorporação e integração do idoso ao grupo ocorre, em maior incidência, por
conta das inovações tecnologicas ocorridas nos embientes de trabalho e a não
atualiação dos funcionários. Desta maneira, idosos são afastados de seu cargo de
origem e passam a exercer cargos inferiores ou com tarefas não adequadas para
eles.
O isolamento da vítima, a falta de comunicação expressa por atitudes
indiretas de desqualificação e delegando-lhe tarefas inúteis e degradantes,
solicitando um trabalho extra, fazendo pouco caso após o término são formas de
agressão física. Quando o assédio já está bem declarado e visível para todos,
podem ocorrer outras formas de violência, como a verbal, a física ou a sexual.
Analisar o assediador e entender suas atitudes é um primeiro passo para
incrementar o combate ao assédio moral no ambiente de trabalho, Heloani (2003)
acredita que elas não são pessoas doentes ou frágeis. Normalmente, por não se
deixarem dominar, ou por não se curvarem a uma autoridade sem
questionamento sobre o acerto de suas determinações, tornam-se alvos das
agressões.
19
“Os aparatos e a estrutura organizacional, quando
articulados de maneira a estruturar uma política de violência,
configuram o que pode ser denominado de violência ou
assédio organizacional, que tem como principais formas de
expressão as estratégias abusivas de gestão, como por
exemplo: a gestão por injúria, a gestão por estresse e a
gestão por medo (SOBOLL, 2008 p.81).”
Para Guedes (2003) num processo de assédio moral existem três atores, o
agressor, a vítima e os espectadores e partir disso traça-se os “perfis dos
agressores” em instigador, casual, frustrado, crítico, puxa-saco, invejoso, egoísta
e, “os perfis das vítimas” em distraído, prisioneiro, paranóico, passivo,
dependente, brincalhão, hipocondríaco,seguro de si, camarada, medroso,
sensível, introvertido. Ressalta-se ainda que as vítimas mais frequentes de
assédio moral no trabalho as mulheres, os homossexuais, os negros, jovens,
idosos e categorias que já sofrem preconceitos e exclusões pela sociedade por
diversos motivos.
No ambiente de trabalho, a estrutura hierárquica prevalece e traz consigo
valores deturpados que justificam atitudes não coerentes. O controle e a
manutenção da ordem se faz presente todo o tempo conforme a pesquisa
realizada pela médica do trabalho Margarida Barreto (ver anexo 2), que
exemplifica as situações de assédio moral mais freqüentes, como dar instruções
confusas e imprecisas, ignorar a presença de funcionário na frente de outros,
pedir trabalhos urgentes sem necessidade, fazer críticas em público,
sobrecarregar o funcionário de trabalho, impor horários injustificados, fazer
20
circular boatos maldosos e calúnias sobre a pessoa, forçar a demissão, insinuar
que o funcionário tem problemas mentais ou familiares, transferí-lo do setor para
isolá-lo, retirar seus instrumentos de trabalho (telefone, computador, ar
condicionado), vigilância constante sobre o trabalho que está sendo feito,
desvalorização da atividade profissional do trabalhador, indução do trabalhador ao
erro, não só para criticá-lo ou rebaixá-lo, mas também para que tenha uma má
imagem de si mesmo, indução da vítima ao descrédito de sua própria capacidade,
marcação de reuniões sem avisar o empregado e posterior cobrança de sua
ausência na frente dos colegas, ridicularizações das convicções religiosas ou
políticas,dos gostos do trabalhador.
Sob condições desagradáveis e hostil de trabalho, o rendimento do
funcionário tende a cair, não só o rendimento profissional mas também o pessoal,
pois não há como dissociar vida pessoal e profissional, ambas se complementam.
A falta de compreensão e o abuso de poder são as fontes principais de
desavenças no ambiente de trabalho e estendem-se até as relações familiares e
pessoais, deixando transparecer algum tipo de insatisfação. O potencial enquanto
ser humano esmorece, pois está descrente de si próprio, deixando facilmente
manipular suas ações através de contínuas perturbações mentais. A rapidez e
fluidez de informações faz com que a produção seja cada vez mais veloz para
acompanhar as demandas externas e fazer frente ao mercado internacional.
Nota-se que a organização interna das empresas e instituições são pré
moldadas, estruturadas em divisões hierárquicas que dificultam a aproximação
entre os cargos. A cobrança e vigilância são fatores destrutivos das relações
sociais, pois atribui desconfiança e falta de autonomia para desenvolver funções.
Num ambiente destes o trabalhador não se sente a vontade em executar funções,
passando a não realizá-las com ânimo e competência.
21
O histórico colonial grafou o país, principalmente, pelas disparidades
sociais, culturais e econômicas refletidas de forma nada sutil nas relações sociais
e dentre elas as relações trabalhistas. Dentre muitos trabalhadores(as), mulheres,
negros, índios, idosos e portadores de deficiência representam a maior parte da
sociedade brasileira, no entanto não são tratados com o mesmo respeito que
deveriam. A desvalorização e desqualificação de algumas pessoas devido a sua
opção sexual, cor da pele, tipo de cabelo, religião e gênero são sinais de
intolerância, raíz do assédio moral.
A forma de segregar empregados e empregadores também demonstra o
grande abismo sócio cultural existente no Brasil, pois aponta como a sociedade
separa os que trabalham e o que que mandam nos trabalhadores. Cria-se uma
relação dominante/dominado, na qual quem comanda o jogo procura submeter
perda da identidade, ou seja surge uma relação de subordinação e logo
transforma-se em uso excessivo de poder hierárquico.
22
1.1- Fragilidades do trabalhador
Moura (2006) considera que as vítimas são escolhidas por suas
qualidades cobiçadas pelo agressor desprovido das mesmas. Com isso, destrói
as vítimas para também destruir o que não tem, como a integridade, a saúde, a
honestidade, a competência, amigos, a criatividade, a dedicação ao trabalho,
entre outros. Assim, normalmente, os alvos para o assediador são pessoas
competentes, que se destacam mais.
Pela submissão as regras e conformismo, os indivíduos sofrem uma
invasão da personalidade. Os comportamentos devem ser obedientes e
normativos. Os indivíduos são obrigados a dissimular-se. O indivíduo deixa de
participar do coletivo e torna-se cada vez mais apático. Instala-se assim a
discordância entre o indivíduo que trabalha e a organização. Se uma pessoa está
sobrecarregada de tarefas sem os meios adequados para executá-las, logo
estressada, e precisa de um certo tempo para julgar se é ou não tratamento
exclusivamente destinado a ela. Foucault (1998) afirma que as instituições sociais
modernas produzem indivíduos sociais muito mais móveis e flexíveis que antes,
envolvidos numa subjetividade que não está fixada na individualidade e sim
intensamente governada pela lógica disciplinar.
A prática do assédio moral leva à perda do sentido em relação à função do
agredido, seja como profissional, seja como ser humano, pois a ele não é
explicado os motivos da humilhação realizada pelo superior ou pelos colegas.
Segundo Razouk (2008) à humilhação, agressão e desvio de conduta não há
solidariedade, afinal, quem é assediado é o outro, sendo cômodo não tomar
posicionamento perante colega e agressor. Infelizmente, no Brasil é incipiente a
consciência de que é da união dos trabalhadores que fomentará o fortalecimento
23
da classe. Afirma ainda que em 2000, a OIT (Organização Internacional do
Trabalho) criou uma comissão para estudos do custo do assédio moral na
segurança e saúde dos trabalhadores, com o intuito de descrever o fenômeno e
apurar os custos.
A conclusão foi de que todos os atores- o trabalhador diretamente
lesionado, os colegas ameaçados, o agressor, o Estado e a sociedade-
envolvidos neste processo perdem. Sabe-se que o trabalho em ambientes
insalubres aliado a pressões psicológicas e constante fiscalização favorece ao
surgimento de diversas doenças profissionais que, não raramente, são ignoradas
até mesmo pelos médicos do trabalho.
Diante de um quadro inteiramente desfavorável à execução tranquila e
segura do serviço que foi lhe conferido, o trabalhador assediado moralmente
sente-se ansioso, despreparado e inseguro vulneráel à doenças ou acidentes
ocupacionais. A vítima desevolve uma série de sintomas a partir da experiência
traumática, aliada ao estresse, como crises de choro, palpitações, insônia, dor de
cabeça, depressão, falta de ar, distúrbios digestivos e tentativa de suicídio. (ver
tabela 1)
O assédio moral também pode se dar pelas humilhações realizadas, direta
ou indiretamente, nas relações de trabalho não ocorrendo, necessariamente,
dentro do ambiente e no horário de serviço, mas sempre em função dessa
relação. De fato, o assédio moral traz implicações para a vítima, para a
organização de trabalho e também para a sociedade. Segundo Cassito (2003), as
consequências do assédio moral para o trabalhador e sua família podem
aglomerar raiva, violência, ressentimento, desconforto físico. Além disso, pode
24
ocorrer a dimiuição de laços familiares e das relações de amizade, o que pode
levar ao abandono de compromissos sociais.
As consequências das agressões são seriíssimas, pois causam transtornos
de cunho físico e mental imensuráveis. A pressão externa pode impactar
negativamente as outras funções sociais como a falta de compromisso e
responsabilidades; intolerância aos problemas familiares; problemas conjugais,
perda de renda e desistímulo pessoal e profissional.
Além dos efeitos danosos na vida da vítima e das conseqüências jurídicas
em relação ao contrato de trabalho, podendo inclusive gerar a rescisão de
contratos, há que se destacar que a instabilidade criada no ambiente de trabalho,
degrada-o, comprometendo a produção e, em sendo a empresa condenada a
prejuízos de natureza econômica, pondo em risco sua saúde financeira, ou seja, o
assédio moral não é um bom negócio para ninguém, nem para o empresário, nem
para os trabalhadores e menos ainda para a sociedade.
O assédio moral inevitavelmente instala um clima desfavorável na
empresa, de tensão e competição. As consequências podem provocar o aumento
do número de pessoas inaptas para o trabalho, incremento de custos
adicionais de aposentadoria, sequentes substituição de pessoas e de
treinamento de novos funcionários, redução da qualidade do produto, queda da
produtividade individual e grupal, declínio da motivação, satisfação e criatividade,
degradação do clima interpessoal e perda de pessoas qualificadas.
A queda da produtividade, seguida pela redução da qualidade do serviço,
ambas geradas pela instabilidade que o trabalhador sente no posto de trabalho
25
tendem a causar danos à imagem da empresa. Os reflexos na sociedade podem
envolver a perda de trabalhadores produtivos, aumento de custos médicos,
aumento do desemprego e o aumento no número de suicídios.
A exigência de concentração e atenção, o controle excessivo, típicos das
formas de organização do trabalho fordista/taylorista e toyotista, estão
diretamente realcionados à fadiga crônica e a exaustão emocional, conforme
Freire (2008) afirma que a violência urbana também está relacionada com
síndormes pós-traumáticas relacionadas ao trabalho dos bancários, por exemplo,
que lidam com metas excessivas de produção e podem sofrer com assaltos em
agências.
Alterações como o Transtorno Obsessivo Compulsivo e Transtorno Bipolar
também foram associados ao assédio moral, LEYMANN (1990). A situação do
assédio moral é similar a qualquer tipo de traumatismo psíquico pelo fato de que
mesmo cessando o estímulo que faz sofrer, as sequelas permanecem ao ponto
de evoluir para um Transtorno de Estresse Pós- Traumático até uma sensação de
vergonha recorrente ou mesmo modificações duradouras de personalidade. A
desestabilização ou desvalorização persistem, mesmo que a pessoa seja
afastada de seu agressor, mantendo-a refém de uma cicatriz psicológica,
HIRIGOYEN (2002).
A dificuldade de se expressar e a humilhação são sentimentos comuns
tanto nos casos de assédio moral como em qualquer outro tipo de sofrimento que
possa vir a ocorrer no ambiente de trabalho. A perda do sentido ocorre pelo
discurso do agressor que faz com que a vítima acredite em mentiras ditas a seu
próprio respeito. Transtornos psíquicos e destruição da identidade são prováveis
de acontecer no sentido da pessoa perder o autocontrole e se sentir distante de si
26
mesma, apresentando traços depressivos. Como qualquer traumatismo violento, o
assédio pode produzir uma violação do psiquismo e levar a vítima a delirar de
forma transitória, casos em que se instalam psicoses.
Há necessidade de mantê-se no emprego, tendo este como única ou
pricipal fonte de renda familiar, muitos trabalhadores aceitam determinadas
situações e acostumam-se com o desrespeito e punição dos patrões. Os
transtornos psicológicos e debilidades físicas constraídos por consequência
dessas relações trabalhistas são complexas e danosas. As profissões que lidam
diretamente com público sofrem muita pressão, tanto interna para a produção,
como externa para um rápido e bom atendimento. Médicos, professores,
bancários, recepcionistas, sofrem assédio muitas vezes do público a quem presta
serviço, mesmo não tendo nada, diretamente, a ver com o problema ou
inquietação.
O objetivo do trabalhador é ser eficiente, seja como for, mesmo quando
não é oferecida boa infraestrutura. O trabalhador deve desenvolver e executar
sua função da melhor maneira possível, independente de suas limitações
pessoais. Esse desleixo com o trabalhador parece ser antigo, e ao mesmo tempo,
atual no país, ao passo da falta de interesse de educar os cidadãos para o
trabalho, para compreender seus direitos, saber cumprir suas obrigações e
deveres e ter assim respaldo para quaisquer intempéries.
27
CAPÍTULO II – DIREITO DO TRABALHADOR
O Direito deve ser encarado como um instrumento de concretização da
justiça, desde que visualize os direitos humaos fundamentais como embasamento
central de suas decisões. O direito intervém precisamente porque há
comportamento de desvio no meio social, sendo o direito a resposta social a
conduta anômica, independente da posição teórica que o observador tome, o
direito é sempre entendido como norma social obrigatória, como advoga
(ROCHA,2008).
A Consolidação das Leis Trabalhistas era uma necessidade do governo
Getúlio Vargas, decretada em 1º de maio de 1943 sofreu mudanças específicas
até o fím do século XX, mas de significativo foi a equiparação gradual dos
trabalhadores rurais e urbanos. Carteira de trabalho assinada desde o primeiro
dia de serviço, exames médicos de admissão e demissão, repouso semanal
remunerado, salário pago até o 5º dia útil do mês,Vale-Transporte com desconto
máximo de 6% do salário, Licença Maternidade de 120 dias, com garantia de
emprego até 5 meses depois do parto, FGTS: depósito de 8% do salário em conta
bancária a favor do empregado, horas-extras pagas com acréscimo de 50% do
valor da hora normal, garantia de 12 meses em casos de acidente; faltas ao
trabalho nos casos de casamento (3 dias), doação de sangue (1 dia/ano),
alistamento eleitoral (2 dias), morte de parente próximo (2 dias), testemunho na
Justiça do Trabalho (no dia), doença comprovada por atestado médico aviso
prévio de 30 dias, em caso de demissão, Seguro-Desemprego, são alguns dos
direitos assistidos pela CLT, como informa Celso Teixeira Junior, estudante de
Direito, em Assédio Moral: motivo de rescisão indireta do contrato de trabalho.
28
É importante e necessário lembrar que o assédio moral no trabalho vai de
encontro ao art. 5° da Constituição Federativa do Brasil, que dispõe sobre os
direitos de igualdade do homem, pois fere o princípio da dignidade da pessoa
humana, que assegura o mínimo de respeito que o ser humano deve ter.
Garante o “Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato
e pleitear a devida indenização quando:...e) praticar o empregador ou seus
prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama –
calúnia, difamação, injúria, dano moral”. Como prevê a CLT, o empregador deverá
ser penalizado com o pagamento de indenização caso um empregado ou familiar
seja vítima de dano moral praticado por um superior hierárquico, ou mesmo
colegas. Ocorre que, na maioria dos casos de assédio moral, o trabalhador, não
suportando a carga psíquica, pede a rescisão do contrato de trabalho.
“Ressalta-se, que como as consequências do psicoterror
no trabalho são degradantes à saúde metal da vítima,
podendo causar traumas irreversíveis e ao extremo das
tentativas de suicídio, o assediado pode ficar incapacitado
para voltar ao mercado de trabalho, devendo a indenização
não só abarcar as despesas com tratamento médico, mas o
dano aos direitos personalíssimos, tais como a dignidade, a
honra e a imagem, devendo incluir uma pensão no montante
ao que recebia no trabalho para o qual se inabilitou,
garantindo sua subsistência e de sua família”. (SANTOS,
2010 p.11)
Aguiar (2003) afirma a ligação do assédio moral com o dano moral, pois
ambos são vinculados aos agravos causados ao trabalhador no exercício da sua
29
função. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) defende o termo “saúde”,
com relação ao trabalho, pois “abrange não só a ausência de afecção ou de
doenças, mas também os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e
estão diretamente relacionados com a segurança e a higiene no trabalho”,
também defende o direito do trabalhador ao “trabalho decente”, ou seja, “um
trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de
liberdade, eqüidade, e segurança, sem discriminação, e capaz de garantir uma
vida digna a todas as pessoas que vivem de seu trabalho.
A saúde do trabalhador é a chave para o sucesso de qualquer empresa!
Dele vem toda a força e motivação para produzir com qualidade e em quantidade
necessária. Porém com a pressão mercadológica o trabalhador sofre serviente,
sem ter conhecimento sobre seus direitos, deveres e obrigações enquanto
cidadão. A flexibilização das leis trabalhistas afrouxou, nesse ponto, os direitos e
benefícios dos trabalhadores, deixando-os mais vulneráveis ao excesso de
autoridade. A terceirização de profissionais não garante ao trabalhador a carteira
assinada, ou seja, o compromisso com a empresa, deixando assim uma lacuna
na relação empregatícia e facilitando a ação do agressor.
Desde a década de 1940 a CLT existe mas não é de acesso a todos os
trabalhadores. A princípio as leis trabalhistas só eram válidas no meio urbano,
privilegiando assim os trabalhadores da cidade, funcionários industriais que
deveriam se encaixar na lógica Fordista de produção, mecanizada ,uniformizada e
disciplinada. A organização interna dos trabalhadores dentro das empresas
fordistas remetem um sistema de vigilância contínua, todos os trabalhadores
uniformizados iguais, cada um com sua função, sem ter direito de saber o que o
outro faz, tão pouco errar sua tarefa. Os operários são submetidos ao gerente que
organiza e ordena o salão principal, dá-se então a divisão entre o trabalho
intelectual e o físico.
30
Por meio da agroexportação o Brasil acumulou capital suficiente par atrair
indústrias alocando-se no meio urbano e atraindo populações rurais das regiões
vizinhas e mais distantes, como uma nova oportunidade de trabalho.
O meio rural, entre tanto, passa por uma modernização dos meios de
produção, deixando mecanizado e compatível aos moldes previstos pela
Revolução Verde, que com intuito de disseminar e desenvolver melhor a
biotecnologia expandiu a fronteira agrícola brasileira, devastando biomas naturais
e exaurindo a força de trabalho dos brasileiros. O trabalho em condições sub
humanas as quais os desbravadores da Amazônia foram expostos, populações
nativas submetidas a regime de servidão e escravos africanos explorados e
torturados físicamente e mentalmente por seus donos/senhores.
As relações se reproduzem até hoje, nitidamente no meio urbano, e um
pouco menos divulgada no meio rural. A informalidade do campo durante anos foi
o celeiro de atrocidades quanto à dignidade dos trabalhadores. O interesse pelos
recursos naturais e áreas para produção de monocultura dizimou populações
tradicionais e espalhou o medo. A submissão e a subserviência direcionam o
trabalho no Brasil, ditando um ritmo acelerado e não questionador.
A dicotomia entre campo cidade se estreita também nas condições de
trabalho, mesmo com as indústrias cobrando melhor desempenho de cada
trabalhador, o uso das técnicas e as leis trabalhistas facilitam o desenvolvimento
do trabalho. Já no meio rural as condições de trabalho se apresentavam e se
apresentam até hoje precariamente, sendo os trabalhadores submetidos a larga e
exaustiva jornada de trabalho, alimentação e higiene inadequada e
31
informalmente. O trabalhador não pode ter, de forma alguma, sua integridade
moral e física, tocada ou agredida. (anexo 4)
Ao longo do desenvolvimento econômico que o Brasil não poupa esforços
para estar inserido, as relações trabalhistas sofreram grande desagastes, ou
flexibilização que causou certo desequilíbrio no ambinte de trabalho. A legislação
já não é muito conhecida pelos trabalhadores e pouco difundida pelas instituições
e empresas. A balança de interesses está formada, no entanto, independente do
cargo que a pessoa ocupe, o trabalhador deve ser reconhecer como trabalhador e
respeitar seu próximo, reconhecendo-o como tal. A desvalorização de algumas
profissões se reflete na sociedade, causando transtornos ainda maiores.
Para o bom desenvolvimento e funcionamento de intiruições, empresas e
organizações, a preocupação com o trabalhador deve ser constante, alertá-lo e
previní-lo de situações vexatórias, constrangedoras e coersivas é mais do que
obrigação do estabelecimento, pois isto garante a saúde do trabalhador. Pensar
em aproximar e enrredar o lado profissional ao pessoal para que o trabalhador
sinta-se confortável em seus posicionamentos e seguro de suas ações.
Ao contrário disso, o trabalhador vem sofrendo constantemente com
agressões morais, normalizadas pela sociedade e, assim, aceitas. A
complexidade dos fatos não esconde a face oculta das agressões, que podem a
ser omitidas pelos demais colegas, dependendo do grau da agressão ou do nível
hierárquico exercido pelo agressor. O medo atinge diretamente a vítima e
indiretamente a todos os funcionários. Neste caso o corporativismo torna-se
prejudicial a toda equipe de trabalho que negligencia os fatos e tende a
intensificar as agressões.
32
Sem oportunidade de expressar o que está ocorrendo a vítima sente-se só
e busca refúgio dentro de si próprio, envergonhando-se dos fatos. A demissão é
um ato de coragem e decisivo quando não há mais solução para os importunos,
porém as reações ao assédio moral podem ser mais desastrosos, como danos à
saúde causando o afastamento do trabalhador e até mesmo ao suícidio. Apesar
disso, a lei garante ressarcimento aos familiares prevendo alguns imprevistos no
ambiente de trabalho.
33
CAPÍTULO III - RECURSOS HUMANOS – UM OLHAR ATENTO
As empresas que contam com um departamento de Recursos Humanos,
contam com um departamento específico para recrutar, qualificar, cuidar,
supervisionar e motivar os seus funcionários. Investir nessa área tem sido uma
prática comum no mercado de trabalho. O sucesso do desenvolvimento e da
implantação de um sistema de gestão da qualidade em uma empresa depende
fortemente da participação e envolvimento das pessoas que nela trabalham, ou
seja, para que o sistema de gestão da empresa seja eficaz, é importante que o
sistema de gestão de recursos humanos seja bem estruturado.
Esta área tem crescido e ganhado notoriedade devido aos grandes
impactos negativos que empresas e instituições tem sofrido, como processos
jurídicos devido a lesões físicas, morais e psicológicos que alguns trabalhores
sofreram. De certa torna-se importante dar maior visibilidade ao assunto e
aprofundar o conhecimento a cerca de medidas que possam anemizar e/ou findar
as agressões.
Desse modo a empresa deve estar aberta a passar por algumas
reformulações estruturais e investir em seus funcionários para além de sua vida
profissinal. Descentralização das decisões; redução de níveis hierárquicos;
supervisão democrática; ambiente físico seguro e confortável; além de condições
de trabalho capazes de gerar satisfação; oportunidade de crescimento e
desenvolvimento pessoal, são algumas das medidas que podem ser tomadas
para melhorar o ambiente de trabalho. Criar e manter uma boa relação entre os
funcionários deve ser o objetivo maior das instituições e o papel que cabe ao
profissional de Recursos Humanos.
34
A dinâmica grupal na área de Recursos Humanos objetiva testar a
capacidade do indivíduo, compreensão das normas do empregador e gerar a sua
socialização através da conscientização dos empregados, num trabalho que deve
envolver todos os níveis hierárquicos da empresa, conscientizando-os, também,
sobre a existência do problema, sua considerável freqüência e a possibilidade de
ser evitada. Chiavenato (2003) conceitua que recursos humanos é uma área
interdisciplinar que tem a capacidade de envolver inúmeros conceitos oriundos de
varias áreas, por tratar diretamente com o ser humano.
A composição de uma equipe multidisciplinar feita por médico do trabalho,
psicólogo, assistente social, advogado trabalhista, representante do sindicato e
acompanhamento da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), é essencial para
avaliar os fatores psicossociais, identificar e determinar os problemas, admitir a
existência desses problemas, definir a violência moral, informar e sensibilizar o
conjunto dos funcionários acerca dos danos à saúde em conseqüência do assédio
moral, informando ao empregador dos custos para a empresa. A
multidisciplinaridade auxilia muito na resoluções de problemas sociais graves,
pois com a contribuição de cada visão, cada foco diferenciado monta um mosaico
de opções.
As instituições, empresas e organizações devem oferecer condições de
trabalho favoráveis as necessidades e ao desenvolvimento do ser humano e que
garantam a qualidade de vida através da ética, do respeito e da solidariedade.
Difundir esses princípios é, também, função dos profissionais de Recursos
Humanos visto que torna-se de responsabilidade da organização, a vida de cada
funcionário. A diferença está justamente na igualdade entre os funcionários,
independente do nível hierárquico que representa, a dignidade e o respeito devem
imperar no ambiente de trabalho.
35
Também é função da equipe elaborar política de relações humanas e
éticas em atos na busca de melhores formas de organizar o trabalho a fim de
minimizar só efeitos negativos do emprego na saúde e bem estar geral dos
trabalhadores; difundir o resultado das práticas preventivas para o conjunto dos
trabalhadores através de seminários, palestras, dinâmicas de grupo com intuito de
difudir o respeito, a dignidade e a cidadania.
A qualidade de vida no trabalho pode ser definida como uma forma de
pensamento envolvendo pessoas, trabalho e organizações, onde se destaca a
preocupação com o bem-estar do trabalhador e com a eficácia organizacional; e a
participação dos trabalhadores nas decisões e problemas do trabalho, segundo
França (1996). Como o trabalhador passa boa parte do seu tempo no ambiente
de trabalho, a qualidade desse ambiente também depende não só os
trabalhadores, mas principamente da intenção da empresa. Um ambiente
tranquilo, arrumado, equipado, oferecendo infraestrutura e funcionários aptos,
tende a ser bem sucedida.
A autonomia é fundamental para se trabalhar em equipe, pois dá brechas a
ideias inovadoras, maior potencial e confiança oferecida aos funcionários e
oportunidade de crescimento com o poder de decisão. A circulação de informação
baseada em capacitação, que é a aquisição de mais conhecimento e formação,
que é a capacidade de pensar, analisar, aplicar e socializar o conhecimento
adquirido de forma horizontal e justa é o primeiro passo para conscientizar e
aproximar os fucionários preparando-os para desafios mais complexos.
36
O segundo passo é a formulação de atividades educativas de cunho
informativas para ajudar no processo de ensino-aprendizagem, inserida em
dinâmicas com vídeos, apostilas e cartilhas didáticas que estimulem o interesse
do trabalhador pelas leis trabalhistas. Espera-se assim que o trabalhador tome
consciência de sua classe, ajudando a disseminar e praticar a ética. O trabalho
deve ser compreendido como um forma de educar, disciplinar, construir nossa
identidade, conquistar nosso espaço na sociedade, ser crítico, identificar
mudanças no espaço social em que vive e a colaborar para que essas mudanças
ocorram, sempre em função de alguma melhoria coletiva.
Entretanto de nada adianta a conscientização dos trabalhadores ou o
estabelecimento de regras disciplinares, se não forem criados, na empresa,
espaços de confiança, para que as vítimas e/ou trabalhadores possam se queixar
ou levar sugestão. Tais espaços devem garantir sempre o sigilo das informações,
sendo fundamental para o bem estar e segurança do coletivo.
Neste sentido, o setor de Recursos Humanosé fundamental para passar
confiança aos trabalhadores, para que possam construir uma relação afetuosa e
não superficial, buscando ouvir os trabalhadores, saber quais alterações
necessárias para harmonizar o ambiente.
As relações que acontecem no cotidiano operacional das Instituições tem
efeitos sobre sentimentos, valores, caráter, saúde, consciência e comportamento
das pessoas. As instituições tem expectativas de que as pessoas ajam com
seriedade, competência e ética, no exercício de suas responsabilidades no
trabalho. De forma recíproca, as pessoas também tem expectativas de que as
instituições, no exercício da vida no trabalho, respeitem as necessidades vitais do
desenvolvimento humano.
37
CONCLUSÃO
O tema abordado no estudo apresenta grande informação acerca das
relações sociais existentes no ambiente de trabalho embasado nas relações
hierárquicas de poder, inserido na lógica capitalista (fordista/taylorista) no qual o
trabalhador foi transformado num indíviduo discplinado, cobrado, egoísta e
reprimido devido às exigências do desenvolvimento econômico desigual e
contraditório. Os trabalhadore são submetidos à péssimas condições de trabalho
(infraestrutura) situações de humilhação, constragimento e agressões físicas,
deixando escoriações no corpo e traumas psicológicos.
As vítimas são geralemente pessoas que apresentam maior fragilidade,
tanto comportamental como intelectual e o agressor enxerga ali uma grande
oportunidade de apresentar o seu poder e impor uma falsa superioridade. Os
alvos são, em grande maioria, estagiários, negros, mulheres e idosos submetidos
a cargos inferiores. Estes casos ocorrem, em maior frequência, em escolas,
bancos, escritórios, consultórios, dentre outros estabelecimentos comerciais e
pretadores serviços, tanto da rede pública quanto da rede privada. Isto indica
como a organização do ambiente de trabalho não está sintonizada com os
trabalhadores, pois há abuso de poder horizontalmente, e assim fragilizando a
relação entre os trabalhadores e diminuindo o rendimento dos mesmo e
consequentemente da empresa.
Porém a vida do trabalhador não se resumo ao aspecto profissional, mas
também a aspectos pessoais, que exigem dele subjetividades muitas vezes não
consideradas pelo trabalho. A aceleração do ritmo de trabalho numa busca
incessante por melhores resultados de produção impõe ao trabalhador um novo
ritmo de vida, novas perspectivas, metas, obrigações e acúmulo de tarefas que
38
fogem de seu controle. A vigilância sobre o trabalhado desenvolvido coage o
trabalhador, retira sua autonomia tanto pessoal quanto profissional. Vítima de
desrepeito contínuo e aborrecedor, torna-se desgostosa e desestimulada,
transparecendo isto no ambiente de trabalho e familar, deixando a situação mais
delicada. Medo, vergonha, pele marcada, falta de apetite, dores de cabeça,
depressão,transtornos psicológicos, faltas frequentes, são algumas das
características mais presentes nos casos de assédio moral. Apesar da CLT
garantir muitos direitos ao trabalhador, estes são desconhecidos por muitos o que
facilita a ação do agressor.
O assédio moral se dá de forma diferente no meio urbano e no meio rural,
pois cada um tem suas peculiaridades e se caracterizam por seus modos de
produção. A cidade apesar de proporcionar maior circulação de informação, o
nível de esclarecimento entre os trabalhadores é baixo, facilitando a alienação
produtiva. O meio rural está mais distante das vigilâncias públicas, o que facilita a
ação maléfica de trabalhadores de cargos mais altos, repetindo ações
semelhantes ao coronelismo, de décadas passadas.
A função do profissional de Recursos Humanos é atuar nesta questão,
conseguir enxergar dentro das instituições e organizações as diferentes relações
de poder e reestruturar através de atividades coletivas, a organização interna no
ambiente, deixando-o mais aberto e coeso. Atividades educativas, como
palestras, vídeos, debates, reuniões, cursos, que envolvam todos os setores da
insituição apresenta grande potencial para integrar o grupo, identificar e aproximar
os trabalhadores, mostrando a eles a importância do bem estar físico e
psicológico de todos e o poder que uma equipe bem articulada tem. As
informações sobre os direitos trabalhistas também são fundamentais para que
não haja abuso de poder, pois sem conhecimento de deveres, direitos e
obrigações o trabalhador é enganado e sai prejudicado.
39
Conscientização e incorporação coletiva aos processos comuns da
organização do ambeinte de trabalho são fundamentais para mostrar aos
trabalhadores o quanto é importante a função de cada um, e assim se sinta-se
auto confiante para desenvolva sua tarefa da melhor maneira possivel sem
presicar ser vigiado e talvez, punido. Propôr dinâmicas, terapias, oficinais culturais
também são alternativas que possibilitam a participação dos funcionários,
deixando-os mais a vontade para expressarem suas dificuldades profissionais e
pessoais. Os profissionais que atuam nessa direção precisam contar com o apoio
de diferentes áres de conhecimento, pois é um assunto amplo que exige
conhecimentos coerentes e , principalmente, éticos.
Nesse sentido, cursar esta Pós Graduação ampliou meu campo de visão,
me dando maior segurança par atuar na área de Recursos Humanos e trabalhar
com posicionamento mais definido e conhecimento mais apurado. Elaborar,
desenvolver e concluir este estudo espraiou meus conhecimentos em diferentes
áreas, principalmente na área do Direito e das Ciências Sociais, que contribuiram
de forma positiva para a formulação do mesmo.
40
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http://associacao.reagir.zip.net/
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/
44
ÍNDICE DE ANEXO
Anexo 1 – Internet <Reportagem>
Anexo 2 – Internet <Entrevista>
Anexo 3 – Figura
Anexo 4 – Internet <Reportagem>
45
ANEXO 1
INTERNET
Acesso no dia 06/07/2011
http://www.saude.rj.gov.br/imprensa-noticias/6843-transtornos-mentais-
sao-a-maior-causa-de-licencas-medicas-no-trabalho
Transtornos mentais são a maior causa de licenças médicas no
trabalho(*)
(*) Manuela Adelaide Galvão da Rocha (RJ)
Seg, 04 de Julho de 2011 12:20
Estima-se que 450 milhões de pessoas no mundo sofram com algum tipo de
transtorno mental. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS), que
afirma, ainda, que a maioria dos casos não é tratada ou sequer identificada. Segundo
a Superintendência de Perícia Médica e Saúde Ocupacional da Secretaria de Estado
de Saúde (SES), as doenças mentais representam cerca de 50% das licenças
médicas concedidas aos servidores. Entre as patologias mais frequentes estão a
depressão, ansiedade, fobia e síndrome do pânico.
- Os transtornos mentais se tornaram a principal causa de incapacidade dos
profissionais devido à influência de agentes estressores, como o trânsito, o fluxo e a
quantidade de trabalho, a poluição e a violência. O trabalho da perícia consiste em
avaliar se determinada doença torna o paciente incapaz de realizar sua atividade
profissional. Em alguns casos, a pessoa pode ser realocada para outro setor -, explica
o superintendente de Perícia Médica e Saúde Ocupacional, Eduardo Santos.
Transtornos mentais são qualquer anormalidade, sofrimento ou
46
comprometimento de ordem psíquica ou mental, que podem comprometer o
desempenho da pessoa na sua vida social, pessoal e profissional. A doença pode ser
desencadeada por diversos fatores que interagem entre si. Entre eles, estão fatores
sociais, como o trabalho; os psicológicos, como medos e perdas; e os fatores
biológicos, doenças do corpo que podem desencadear transtornos mentais, entre elas
o câncer e o HIV. Um fenômeno que pode acontecer hoje em dia é a co-morbidade de
transtornos mentais, ou seja, uma pessoa poder ter ao mesmo tempo diferentes
transtornos, como o alcoolismo e a depressão.
- Qualquer ser humano, ao longo de sua vida, poderá ter um transtorno mental.
No entanto, a saúde mental não recebe a mesma atenção e importância dadas à
saúde física -, esclarece o médico psiquiatra da área técnica de Saúde Mental da
SES, Carlos Eduardo Honorato.
O diagnóstico é realizado com base em uma série de sinais e sintomas que
devem ser recorrentes e que causem perturbação da homeostase pessoal, em uma ou
mais esferas da vida. É fundamental consultar um profissional capacitado aos
primeiros sinais e sintomas. Através do diagnóstico e intervenção precoce do
problema, o paciente tem mais chances de cura. Caso contrário, o problema pode se
tornar crônico, o que prolonga o seu tratamento.
Os tratamentos variam de acordo com a natureza de cada caso. No entanto,
baseiam-se em dois pilares fundamentais e complementares: o farmacológico, com
medicamentos, e o psicoterapêutico, com diferentes tipos de terapia, que vão desde
as comportamentais, que utilizam técnicas como a dessensibilização e o confronto
com o problema, até as psicanalíticas, que analisam a partir do significado simbólico
dos sintomas para cada paciente. Caberá ao profissional de saúde indicar o
tratamento adequado para a recuperação da saúde mental do paciente.
Saúde do Trabalhador - A Divisão da Saúde do Trabalhador da Secretaria de
Estado de Saúde (SES) possui 15 Centros de Referência em Saúde do Trabalhador
(Cerest) no Estado do Rio de Janeiro. Os centros ajudam a implementar nos
municípios ações de promoção à saúde do trabalhador, prevenção e diagnóstico de
47
doenças adquiridas durante o expediente, a notificar acidentes ocorridos em serviço, e
o tratamento e a reabilitação dos trabalhadores. São vinculados à Rede Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) e têm o objetivo de inserir a
saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS). As unidades estão
localizadas nas seguintes localidades: duas no Rio de Janeiro, Niterói, Maricá, Cabo
Frio, Campos dos Goytacazes, Itaperuna, Nova Friburgo, Petrópolis, Três Rios, Volta
Redonda, Angra dos Reis, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, além do Centro de
Referência do Estado, localizado na capital, que coordena os demais centros.
CPRJ - O Estado possui um núcleo atuante e bastante capacitado para o
tratamento de transtornos mentais que funciona no Centro Psiquiátrico do Rio de
Janeiro (CPRJ). A unidade oferece tratamento multidisciplinar com psiquiatras,
enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. O objetivo do
CPRJ é coordenar a articulação entre a atenção à crise e a assistência necessária ao
processo de ressocialização da população atendida, de forma ágil, com atendimento
humanizado, resolutivo e integrado. O CPRJ está localizado na Praça Coronel
Assunção, s/nº, Saúde.
Exemplos de transtornos mentais:
- Esquizofrenia
- Transtorno de ansiedade
- Depressão
- Fobia
- Síndrome do pânico
- Alcoolismo
- Dependência química (substância ilícitas e proibidas)
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ANEXO 2
ENTREVISTA
Acesso no dia 20/06/2011
http://www.assediomoral.org/spip.php?rubrique75 - Assédio moral:
risco não visível no ambiente de trabalho
Uma tragédia pessoal levou a ginecologista Margarida Maria Silveira Barreto
a buscar novos rumos em sua vida e em seu trabalho. Pouco tempo depois, a
saúde do trabalhador ganhava uma apaixonada e dedicada pesquisadora, cujo
interesse se voltou para o, até então pouquíssimo discutido no país, tema do
’assédio moral’. Hoje, Margarida integra o grupo de profissionais responsável pelo
site ’Assédio moral no trabalho. Chega de humilhação!’, e viaja por todo o país
divulgando e incentivando discussões sobre a questão que afeta um sem número
de trabalhadores. "Só no site, nós recebemos cerca de 300 denúncias por dia’,
disse Margarida, que é autora do livro ’Violência, saúde, trabalho - uma jornada
de humilhações’ (Educ, 2000 e 2006), em recente palestra na ENSP.
Informe ENSP: O que é assédio moral? Ele pode ser considerado uma
doença do trabalho?
Margarida Barreto: O assédio moral pode ser definido como a
exposição de trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e
humilhantes durante o exercício de sua função, de forma repetitiva e prolongada
ao longo da jornada de trabalho. É uma atitude desumana, violenta e sem ética
nas relações de trabalho, que afeta a dignidade, a identidade e viola os direitos
fundamentais dos indivíduos. No Brasil, o termo ’assédio moral’ veio na esteira do
’assédio sexual’, até porque o verbo assediar tem, segundo o dicionário Aurélio, o
49
significado bem específico de "colocar o outro num cerco, não dar trégua e
humilhar até quebrar a sua força, quebrar sua vontade". Outras denominações
também usadas são ’assédio psicológico’, ’tortura psicológica’ e, em alguns
casos, ’violência moral’.
O assédio moral não é uma doença, mas um risco não visível no ambiente
de trabalho. Quando se identifica o assédio moral como doença, a tendência é de
culpabilizar o trabalhador e de colocar a discussão no marco da biologia. Isso leva
a um reducionismo muito grande, pois isola o problema e retira da análise o
contexto social, as formações socioeconômicas e o processo histórico. Deixa de
se considerar a existência das pessoas em sociedade e o indivíduo em sua
relação com o outro, num cenário específico, que é o mundo do trabalho com a
lógica do lucro.
É muito importante que as pessoas entendam, e essa é a nossa batalha.
Nós já levamos essa discussão para profissionais da Saúde, para as
universidades e para os sindicatos. De cinco anos para cá, no entanto, nosso foco
tem sido a área do Direito - juízes, advogados, promotores, OAB, etc. -, pois
percebemos que havia uma certa incompreensão no sentido do julgamento, e o
problema acabava sendo atribuído à personalidade e à sensibilidade do
assediado, ficando descartada a questão do ambiente de trabalho.
Informe ENSP: O que leva ao assédio moral?
Margarida Barreto: Para se entender a questão do assédio moral, é
importante, antes de tudo, compreender as mudanças radicais que o mundo do
trabalho sofreu nesses últimos 20 anos. Entre outras coisas, podemos falar da
questão da ’reestruturação’ intensiva das empresas, que se caracteriza,
principalmente, pela demissão em grande escala. O resultado é que aqueles que
ficam acabam sobrecarregados, realizando tarefas que corresponderiam a dois ou
três funcionários. Outro conceito muito usado é o da ’flexibilização’ que, na
verdade, acaba sendo a flexibilização dos direitos, do tempo e da saúde do
trabalhador. O trabalhador, cuja jornada de trabalho era de oito horas, passa a
50
estar 24 horas por dia à disposição da empresa. Seu tempo passa a ser o tempo
do poder e da produção. Tem ainda a questão da ’empregabilidade’, na qual o
trabalhador é responsabilizado pela sua própria atualização, a fim de se tornar
empregável, isto é, um indivíduo pronto para atender ao chamado do mercado de
trabalho. O trabalhador deixa de ser um ’trabalhador’ para virar um ’colaborador’,
ou seja, nós nos tornamos colaboradores da nossa própria exploração. Tudo isso
afeta diretamente a forma como as pessoas se relacionam no ambiente de
trabalho e acabam formando um terreno propício para o assédio moral.
Informe ENSP: Qual o papel das empresas e organizações nos casos de
assédio que ocorrem com seus funcionários?
Margarida Barreto: O assédio moral é um processo que se
caracteriza pelo encadeamento de propósitos e de atuações hostis que, quando
tomados separadamente, podem parecer insignificantes, mas cujas repetições
constantes têm efeitos bastante nocivos. Ele desestabiliza emocionalmente a
vítima do assédio, destrói o coletivo e a rede de comunicação no ambiente de
trabalho. O assédio moral é um indicador da existência de violência instituída e
institucionalizada e da imposição da lógica organizacional. Quando escutamos as
vítimas de assédio, fica muito claro que há dois fatores fundamentais de
causalidade dessa prática: a forma de organizar o trabalho e a cultura
organizacional que banaliza a violência em nome da produtividade. No Brasil,
ainda é normal uma postura de fuga das empresas. Elas raramente assumem que
possa haver um caso de assédio moral no seu âmbito, e isso acaba fortalecendo
a idéia, que a Justiça cada vez mais manifesta, de responsabilidade solidária da
empresa nos casos de assédio moral.
Informe ENSP: Quais as principais características do assédio moral?
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Margarida Barreto: Em quase todo caso de assédio moral, é possível
identificar cinco momentos muito distintos, como se fosse uma raiz que se repete
em todos os lugares. O primeiro passo do assediador é impedir a vítima de se
exprimir. Então, nada do que ela diz tem valor ou deve ser ouvido. Daí, começa a
fase do isolamento, que ela tenta superar aumentando o seu ritmo de trabalho e
sua produção. Como isso não resolve, ela entra num caminho de auto-isolamento.
Na continuidade do processo, o objetivo passa a ser desconsiderá-la junto dos
seus colegas, desmerecendo seu trabalho, e desacreditá-la no seu ambiente de
trabalho até, finalmente, comprometer a sua saúde. O interessante é que, para
isso, utilizam-se estratégias muito sutis e até muito sedutoras.
Informe ENSP: No que consiste o assédio moral? Como se dá o
processo? Que táticas são utilizadas pelo assediador?
Margarida Barreto: Eu aponto as táticas de relacionamento, de isolamento,
de ataque e as ações punitivas de cunho pedagógico e disciplinar. Na questão do
relacionamento, visando quebrar as relações existentes, há um incentivo à
competitividade e à excelência, o que acaba fortalecendo o individualismo. No
isolamento, a impressão que se tem é que o assediado tem uma doença
contagiosa, ninguém quer ser visto com ele. As pessoas são colocadas na
’geladeira’, isto é, num lugar onde não valem nada, são ’queimadas’, por meio de
fofoca, ou, simplesmente, ’esquecidas’, uma tática muito usada com os que
retornam de licença médica. Os ataques, por sua vez, são sempre velados, nada
é muito explícito. O assediador fala mal com terceiros sobre o trabalho da vítima,
ou sobre os riscos que ela corre de perder o emprego, deixando que ela ’ouça a
conversa’, por exemplo. Mas há ainda as ações punitivas, mais comuns no Norte
e no Nordeste do país, mas que também ocorrem em outras regiões. Essas
práticas de abuso de poder têm, claramente, o objetivo de sujeitar corpos e
mentes não só do assediado, mas também dos demais. Quando presenciam as
humilhações impostas ao assediado, as pessoas tendem a trabalhar mais e a se
calar por medo de serem os próximos a sofrer abusos, perder o emprego ou ser
identificado com a pessoa que está mal no ambiente de trabalho.
52
Quanto às ações, elas são as mais variadas possíveis - gritos, gestos
grosseiros e obscenos, comportamento hostil, intolerância, perseguição
sistemática e até violência física - cujo objetivo é desestabilizar emocionalmente a
vítima, destratá-la, ridicularizá-la publicamente. As ameaças de desemprego, por
sua vez, levam muitos a tolerarem o assédio, as acusações e a atribuição de
apelidos depreciativos ou constrangedores, prática muitas vezes justificada pela
imagem que o brasileiro tem de ser brincalhão. A insinuação de roubo é a facada
final que se pode dar num assediado. Uma acusação injustificada é capaz de
desestruturar qualquer pessoa.
Informe ENSP: Qual o perfil de assediadores e assediados?
Margarida Barreto: As pesquisam mostram que cerca de 90% dos
assediadores são superiores hierarquicamente aos assediados, mas há casos em
que o assédio é praticado pelo conjunto dos colegas e, até mesmo, por um
subordinado. Quanto ao sexo, há homens e mulheres, dependendo mais do cargo
que ocupam. Em mais de 10% dos casos com mulheres, o processo parte de um
caso de assédio sexual. No caso dos homens, o assédio sexual se torna bastante
delicado quando o assediador também é homem, pois isso quebra a reação da
vítima.
Quanto aos assediados, eles são justamente aqueles que, de alguma forma,
quebram a harmonia, porque questionam, sugerem e apontam problemas. São,
geralmente, pessoas que buscam soluções para o coletivo, que se preocupam
com os demais, ou seja, são os questionadores e, pasmem, os solidários. Como
ele reclama, ele acaba sendo visto como aquele que vive fazendo drama ou
criando casos, mas isso não é verdade. Outro grupo importante é dos portadores
de doenças causadas pelo próprio trabalho. De forma geral, os mais velhos e as
mulheres, principalmente as negras.
Informe ENSP: Quais os custos, quais as conseqüências do assédio
moral?
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Margarida Barreto: Para o trabalhador, o assédio representa
um grande sofrimento, que começa com o medo, a ansiedade, a vergonha e o
sentimento de culpa, entre outros. Como o sofrimento é a ante-sala do
adoecimento, as coisas vão piorando, o estresse aumenta e isso pode levar
inclusive a vícios diversos e ao suicídio. Quando começa o processo de
sofrimento, o trabalhador fica imerso numa zona cinzenta em que ele não entende
o que está havendo. É como se ele entrasse num túnel de emoções tristes, que
acabam criando uma rede imaginativa que leva à repetitividade do pensamento.
Ele só consegue pensar nisso. O sofrimento poda a sua criatividade e pode até
afetar sua memória. E isso não ocorre por fragilidade da pessoa, mas é uma
conseqüência natural do que ela está passando. As reações são variadas, uns
podem engordar e outros emagrecer em demasia e sem motivo aparente. Pode
haver diminuição da libido, isolamento social e reprodução da violência sofrida no
ambiente doméstico. No caso dos homens, quando eles chegam a desistir ou
perder o emprego há ainda um agravante. Como, culturalmente, o homem é tido
como provedor da casa e, por um certo machismo, não deve demonstrar
fraqueza, o assédio pode deixá-lo completamente desestruturado, levando ao
suicídio.
A empresa, por sua vez, sofre os efeitos da diminuição da competitividade,
redução da produtividade, com perda de lucratividade, perda de trabalhadores
qualificados, aumento de doenças e acidentes, aumento do absenteísmo, perdas
econômicas, por pagamento de indenizações e processos, e perda de imagem,
entre outros. Por fim, perde o Estado que, além de perder o potencial de
trabalhadores produtivos, ainda vê aumentarem os gastos da previdência.
Informe ENSP: O que fazer para evitar o assédio moral?
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Margarida Barreto: Em primeiro lugar, é importante ter em mente que o
assédio moral não começa como assédio. Ele sempre começa com uma situação
de conflito não resolvido. E aí, acho importante diferenciar bem o conflito - algo
positivo, que pode desencadear novas idéias e crescimento mútuo, que envolve
tarefas claras, objetivos coletivos e comunicação sincera, honesta e respeitosa -
do assédio moral - no qual imperam as tarefas confusas, as ordens ambíguas, o
boicote e o individualismo, a falta de ética e a comunicação indireta, evasiva,
difícil, autoritária e desrespeitosa.
O momento ideal de intervenção é durante o conflito, ou seja, antes que ele
evolua para um caso de assédio moral. Por que está se prolongando? O que está
interferindo? Se o conflito começa a virar um caso de assédio, é necessário fazer
uma prevenção primária, que envolve, entre outras coisas, uma tomada de
posição da empresa, informando que não vai tolerar a prática do assédio moral, a
realização de campanhas de sensibilização antiviolência, a elaboração e
distribuição de cartilhas ou outro material informativo, além do estímulo às
atitudes respeitosas nas relações interpessoais, o que é bastante complicado,
porque mexe com a política de gestão da empresa. Caso isso ainda não resolva,
deve ser feita a chamada ’prevenção secundária’, com criação de grupos de apoio
e sensibilização, reconhecimento do problema, escolha de um mediador para
negociar soluções e permitir o entendimento, planificação e reorganização do
trabalho, visando prevenir e abolir o risco de perseguição psicológica, etc.
Quando nada disso resolve, o jeito é administrar as conseqüências e, entre as
providências possíveis, pesquisar as causas do assédio moral e sua relação com
a organização do trabalho; verificar as falhas da organização de trabalho que
impedem a ajuda mútua e a colaboração entre os trabalhadores; rever normas,
códigos de conduta e processos avaliativos.
Informe ENSP: De um tempo para cá, esse tema começou a ser
discutido mais profundamente na Fiocruz. Como é a questão do assédio
moral nas empresas públicas?
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Margarida Barreto: Não existe um local que não exista assédio moral. Ele
ocorre em empresas privadas, empresas públicas, organizações não-
governamentais, instituições filantrópicas, sindicatos e igrejas e em todo lugar
onde há trabalhadores. O assédio nas empresas públicas está muito ligado às
políticas de ascensão funcional e ao modelo de gestão. De certa forma, o que eu
venho observando é que o processo tende a ser mais perverso e penoso do que
nas empresas privadas, pois a pessoa suporta o assédio sempre com esperança
de que, quando mudar o comando, as coisas mudem. Por outro lado, como a
pessoa não pode ser mandada embora, ela, muita vezes, é colocada à disposição
e começa a rodar por vários setores, sempre carregando um estigma que, muitas
vezes, faz com que ela volte a ser assediada. Nós já vimos casos de assédio em
empresa pública com duração de oito anos, enquanto na empresa privada o
máximo foi de um ano e meio.
56
ANEXO 3
FIGURA 1
Acesso no dia 06/07/2010
http://era.org.br/2011/06/assedio-vc-sabia/
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ANEXO 4
REPORTAGEM
Acessado no dia 20/06/2011
http://www.brasildefato.com.br/node/5241
Fazendeiro é condenado por trabalho escravo (*)
Para procurador do Trabalho, condenação de Edgar Antunes é um fato
inédito no estado
08/12/2010
(*)MPT/AL
O fazendeiro Edgar Antunes, ex-presidente da Associação dos Plantadores de
cana do Estado de Alagoas (Asplana) e atual presidente do Hospital do Açúcar,
foi condenado pelo juiz da 2ª Vara Federal, Guilherme Masaiti Hirata Yendo, a
três anos e seis meses de reclusão, por manter empregados em condições
análogas a de escravo. Baseado no artigo 149 do Código Penal, o magistrado
atendeu a pedido de ação do Ministério Público Federal, fundamentada em queixa
crime encaminhada pelo Ministério Público do Trabalho, em 2008.
Antunes, dono das fazendas Prata, Mato Grosso e Lagoa Redonda, localizadas
nos municípios de Porto Calvo e Jacuípe, Litoral Norte do Estado, mantinha
trabalhadores em condições degradantes, com péssimas condições de higiene,
transporte em condições perigosas e humilhantes, comprovadas pela fiscalização
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Por ter bons antecedentes e não ter
cometido o crime com uso de violência e/ou grave ameaça, Edgar Antunes teve a
pena de privação de liberdade convertida em prestação de serviços comunitários
e prestação pecuniária, além de pagamento de multa.
58
Para o procurador do Trabalho Rafael Gazzanéo, que encaminhou a queixa crime
ao MPF, a condenação de Edgar Antunes, por prática de trabalho análogo a de
escravo, é um fato inédito em Alagoas. “Acredito que essa decisão poderá mudar
o cenário de trabalho degradante que ainda vemos em nosso país e beneficiar
milhares de trabalhadores rurais que ainda são desrespeitados em sua dignidade
e submetidos a essa prática humilhante”, destacou.
Gazzanéo lembra que, em 2007, o MPT ajuizou ação civil pública contra o
fazendeiro após constatação de irregularidades trabalhistas nas fazendas Prata,
Mato Grosso e Lagoa Redonda. Nesse mesmo ano, a Justiça do Trabalho
homologou acordo judicial na referida ação. O empresário teve de pagar
indenização por dano moral coletivo no valor de 30 mil reais, além assumir o
cumprimento de várias obrigações trabalhistas.
Atuação do MPT
Em 2007, o MPT recebeu denúncia formalizada pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, a partir de fiscalizações realizadas nas três fazendas de Edgar
Antunes, destinadas ao plantio de cana-de-açúcar. “Foi constatado que, além de
trabalho clandestino, admissão de trabalhador sem carteira assinada, o
empresário não fazia o depósito do FGTS dos empregados nem concedia férias
nos doze meses subsequentes ao período aquisitivo. Prática que em muito se
assemelha às práticas escravistas”, ressaltou.
Na ação, o procurador Gazzanéo destacou que além de não oferecer
condições adequadas ao trabalhador, o fazendeiro mantinha sistema de
armazém, os conhecidos barracões, onde os empregados eram obrigados a
comprar o que precisavam consumir. “O empregador, num efeito ‘bola de neve’,
colocava-se em posição de eterno credor do empregado, que, ao fim, trabalhava
sem receber remuneração ou recebia parcela ínfima do salário ajustado”,
denunciou.
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Para Gazzanéo, a conduta de Edgar Antunes desrespeitava a dignidade dos
trabalhadores e a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). “Nas fazendas não
havia registro dos empregados em livros, fichas ou sistema eletrônico. Também
não era disponibilizado controle de jornada que permita anotação da hora de
entrada e saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico”.
Nas fazendas investigadas não havia implantado o Serviço Especializado em
Segurança e Saúde do Trabalhador (SESTR) nem a Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural, conforme determina a Norma
Regulamentadora 31, do Ministério do Trabalho e Emprego. “A conduta do
empresário rural era um afronta à NR-31. Ele descumpria, de forma
absolutamente desumana, essa norma em questão, colocando em risco a saúde
e a integridade física de seus empregados”, justificou.
Os trabalhadores eram transportados em veículos inadequados e sem
autorização, pelos órgãos competentes. Além de tudo, os trabalhadores rurais
eram mantidos em alojamentos sem as mínimas condições de higiene e sem
água potável. “Para se ter idéia, os empregados faziam as necessidades
fisiológicas ao ar livre, no mato mesmo, e para tomar banho tinham de ir ao açude
da fazenda, compartilhando a água com animais e lavadeiras de roupa”, disse
indignado o procurador na fundamentação da ação.
Diante da gravidade do problema, além da atuação junto à Justiça do
Trabalho, o procurador Gazzanéo também encaminhou, em março de 2008,
documentação ao MPF, uma queixa crime, com provas sobre a conduta ilegal de
Edgar Antunes, o que resultou na atuação do órgão na Justiça Federal e
condenação do empresário.