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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA NAS CAUSAS DE VALOR INFERIOR A 60 SALÁRIOS-MÍNIMOS Por: Claudia Nascimento de Amaral Orientador Prof. José Roberto Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · a solução judicial substitutiva da vingança privada. Essa demora, cuja responsabilidade pode ser imputada ... liderada por Fredie

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA NAS CAUSAS DE VALOR

INFERIOR A 60 SALÁRIOS-MÍNIMOS

Por: Claudia Nascimento de Amaral

Orientador

Prof. José Roberto

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA NAS CAUSAS DE VALOR

INFERIOR A 60 SALÁRIOS-MÍNIMOS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Processo Civil.

Por: Claudia Nascimento de Amaral

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, irmãos e a Pedro Silva

Santana de Lima a quem este trabalho

fica indissociável pelo incentivo,

inteligência e carinho com que

participaram na sua elaboração.

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RESUMO

No presente trabalho, pretende-se, através da apreciação da doutrina

brasileira, bem como da jurisprudência, analisar o caráter absoluto da

competência dos Juizados Especiais Federais, especialmente, nas causas que

versem sobre prestações de trato sucessivo, bem como naquelas que tratam

de dano moral – nas quais o magistrado não está vinculado ao valor indicado

pela parte como correspondente ao dano sofrido.

Tendo como base a ratio das regras de competência dos Juizados

Especiais Federais, o presente trabalho analisará as consequências advindas

do declínio de competência, pelo juízo federal, nas causas em que a pretensão

econômica do demandante estiver no limite do valor previsto no artigo 3º, §3º

da Lei nº 10.259/01.

Nesse sentido, será analisado o prejuízo da parte demandante com o

declínio de competência e consequente remessa dos autos ao Juizado

Especial Federal.

A partir disso, far-se-á um estudo sobre a importância do contraditório

no processo civil atual, abordando a necessidade de intimação da parte autora

para que se pronuncie sobre o valor da causa indicado na petição inicial.

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METODOLOGIA

Os métodos que conduziram à presente monografia consistiram na

leitura de livros de renomados doutrinadores brasileiros no âmbito do Dirito

Processual Civil, bem como a consulta jurisprudencial.

No desenvolvimento do estudo, as matérias tratadas em cada capítulo

foram pesquisadas e introduzidas separadamente, para, ao final da

monografia, se chegar a uma união de todo o trabalho e, por conseguinte, à

conclusão.

Por fim, foi feito um resumo do trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I - A Competência no Processo Civil

13

CAPÍTULO II - O Contraditório no Processo Civil Atual

34

CAPÍTULO III – O Declínio de Competência nas Causas com Valor

Inferior à 60 Salários Mínimos

40

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

54

ÍNDICE 56

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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INTRODUÇÃO

Inegável é que a sociedade, bem como aqueles que militam na ciência

do Direito sempre buscaram uma tutela jurisdicional efetiva e célere. Conforme

salienta Frigini:

“O espírito que sempre norteou o legislador foi o de que a

composição das pretensões resistidas se desse de forma

mais rápida possível. E isso se percebe no dirito romano,

como bem explica MOREIRA ALVES e até bem antes.

Realmente, narra o Livro do Êxodo (Cap. 18, vers. 13/27)

que o sogro de Moisés, vendo-o, sozinho, a decidir as

querelas do populoso povo que libertara da escravidão do

Egito, admoesta-o no sentido de escolher homens

capazes de resolver pequenas demandas, reservando

para si as mais importantes. Nascia ali, por volta do

século XIII a.C., a semente de como seriam resolvidas as

causas menores.” (RONALDO FRIGINI, 2007, p. 48 e 49)

Porém, a complexidade das normas procedimentais, ou seja, as

formalidades da Justiça implicavam na longa duração dos processo e, por

conseguinte, na frustração da população em obter uma resposta judicial rápida

e adequada.

“Os Juízes cumprem os ritualismos impostos pela lei e,

com essa obediência procedimental, postergam no tempo

a solução judicial substitutiva da vingança privada.

Essa demora, cuja responsabilidade pode ser imputada

em grande parte ao cumprimento de solenidades

processuais, mercê da falta de estrutura do Judiciário,

motivou, no limiar do novo século, a "busca de uma forma

diferenciada de prestação jurisdicional", onde o Juiz

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pudesse, mediante compreensão procedimental e

cognição sumária, atender a essa "cultura" da celeridade

"que se formou em confronto com o valor 'segurança',

solucionando o conflito em prazo breve, provendo, o

quanto possível, 'bem e depressa". (LUIZ FUX, 1997, P.

204-214).

Interessante a visão de Montesquieu sobre o assunto. Segundo o

célebre filósofo, a pesar de necessárias para a liberdade, “se examinarmos as

formalidades da justiça em relação à dificuldade que um cidadão enfrenta para

fazer com que devolvam seus bens ou para obter satisfação por um ultraje,

acharemos sem dúvida que existem formalidades demais.” (MONTESQUIEU,

1993, P. 619).

Visando simplificar as normas de processo, o legislador brasileiro

regulamentou, no Código Processual Civil de 1973, o procedimento sumário,

em que os atos processuais devem ser praticados de forma mais célere.

Além disso, ao longo dos anos foram feitas inúmeras reformas

processuais buscando uma melhor e efetiva prestação jurisdicional, não

apenas quanto à celeridade do processo, mas também quanto a necessidade

de garantir a composição da lide.

No entanto, percebeu-se que, além do excessivo formalismo imposto

pela legislação processual brasileira, o aumento demográfico gerou um

consequente aumento das demandas judiciais.

Isto porque, com o crescimentos das cidades, “o tipo de

relacionamento que se estabelece entre as pessoas, mesmo entre vizinhos, é

muito formal, impessoal e frio”. Tal fato, nas lições de Kazuo Watanabe,

dificulta a solução natural e pacífica dos conflitos de interesse, através da

conciliação entre as partes. (WATANABE, 1985, p. 273-277).

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Ademais, o avanço tecnológico, e a consequente profusão da

informação, possibilitaram o acesso à justiça pela camada menos favorecida

da população. Esta evolução da consciência jurídica gerou não apenas um

aumento de demandas judiciais, mas também alargou a variedade de conflitos

submetidos ao Poder Judiciário. Com isso, pequenas controvérsias com

profundas repercussões sociais, que antes eram desconhecidas pelos

operadores do Direito, passaram a constar do rol das demandas propostas.

Foi neste cenário de clamor social pela garantia de acesso à Justiça,

bem como por um Poder Judiciário célere e despido de formalidades

excessivas, que em 1984 foi editada a Lei nº 7.244.

Este diploma legislativo, que dispunha sobre a criação e

funcionamento do Juizado Especial de Pequenas Causas, criou novo órgão da

Justiça ordinária, com estrutura e princípios próprios, voltados para um

julgamento rápido e eficaz das demandas a ele submetidas.

Nos termos do art. 3º da Lei nº 7.244/84, a submissão do feito ao

procedimento do Juizado de Pequenas Causas consistia em direito do autor,

não havendo qualquer imposição à propositura da ação nestes órgãos.

Sensível ao fato de que os Juizados Especial de Pequenas Causas

aproximavam a justiça do povo, atendendo ao anseio da população de ter seus

problemas solucionados – de forma pronta, eficaz e sem custos excessivos –

pelo Poder Judiciário, o constituinte, ao elaborar da Constituição Federal de

1988, fez incluir em seu art. 98, inciso I a obrigatoriedade de criação de

Juizados Especiais pelos entes federados.

“Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e

os Estados criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou

togados e leigos, competentes para a conciliação, o

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julgamento e a execução de causas cíveis de menor

complexidade e infrações penais de menor potencial

ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo,

permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e

o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro

grau;”

Visando regulamentar este dispositivo constitucional, foi editada em

1995, a Lei nº 9.099, que alargou o campo de atuação dos juizados ao prever

como causas de menor complexidade aquelas cujo valor não exceda a 40

salários mínimos (na Lei nº 7.244/84 o valor era de 20 salários mínimos).

Além disso, o legislador acrescentou outras demandas ao rol de

competências dos Juizados Especiais, ao incluir nas causas de menor

complexidade demandas específicas, como por exemplo a ação de despejo

para uso próprio.

Ao dispor sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis no âmbito

da Justiça Federal, através da Lei nº 10.259/2001, o legislador optou por

restringir a competência deste órgão somente às causas cujo valor discutido

não ultrapasse aquele referente à 60 salários mínimos. Conforme salienta

Frigini:

“...devendo-se considerar a demanda em sua totalidade,

isto é, se forem feitos pedidos cumulados, será a soma de

todos eles; se mais de um for o autor, em litisconsórcio

ativo facultativo, englobam-se os pedidos de cada qual,

não sendo possível tomar-se individualmente a pretensão

para efeito do critério valorativo.” (RONALDO FRIGINI,

2007, p. 61).

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Todavia, mister ressaltar que, uma das principais inovações trazida

pela Lei nº 10.259/01, refere-se ao caráter absoluto da competência dos

Juizados Especiais Federais nos locais onde instaladas varas deste órgão.

Os Juizados Especiais, conforme demonstrado, tem por objetivo

propiciar a obtenção de uma tutela jurisdicional célere e efetiva, inserindo-se

os referidos órgãos no contexto da acessibilidade à justiça.

A principal questão do presente estudo versa sobre o possível

equívoco da decisão declinatória da competência, pelos juízes federais a um

dos juizados especiais federais nas causas nas causas cujo valor é próximo

daquele previsto na Lei nº 10.259/2001.

Isto porque, ao declinar de sua competência a um dos Juizados

Especiais Federais, o Juízo imporia ao autor da demanda a renúncia dos

valores que este poderia auferir acima do limite de sessenta salários mínimos,

ferindo o objetivo de uma tutela jurisdicional efetiva, ensejador da criação dos

Juizados.

Esta Monografia se restringirá a analisar o caráter absoluto da

competência dos Juizados Especiais Federais, especialmente, nas causas que

versem sobre prestações de trato sucessivo, bem como naquelas que versem

sobre dano moral (nas quais o magistrado não está vinculado ao valor indicado

pela parte como correspondente ao dano sofrido).

No primeiro capítulo será feita uma análise da competência no

processo civil e da competência dos Juizados Especiais Federais.

Posteriormente, no segundo capítulo, será abordada, de modo sucinto,

a importância do contraditório no processo civil atual.

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Finalmente, o terceiro e último capítulo irá tratar do tema específico da

monografia, onde serão feitas considerações acerca da competência cível dos

juizados especiais federais e da necessidade de intimação da parte para se

que pronuncia sobre o valor da causa antes da decisão declinatória de

competência.

A partir dos estudos realizados, bem como da análise da jurisprudência

que será feita a cada capítulo, poderemos concluir se a decisão declinatória de

competência nas causas cuja pretensão econômica estiver no limite do valor

previsto no artigo 3º, §3º da Lei nº 10259/2001 é ou não equivocada.

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CAPÍTULO I

A COMPETÊNCIA NO PROCESSO CIVIL

1.1 – Considerações Gerais

A jurisdição, segundo Didier1, é a função atribuída a terceiro imparcial

para, mediante um processo, realizar o Direito de modo imperativo e criativo,

tutelando situações jurídicas concretamente deduzidas, em decisão

insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível pela

coisa julgada material.

Como expressão do poder estatal, a jurisdição, não obstante ser una e

indivisível, precisa de limites, dentro dos quais, o juiz pode exercer,

legitimamente, a atividade jurisdicional.

Essa limitação da função jurisdicional, que é feita de acordo com as

atribuições dos órgãos jurisdicionais, dá-se por questão de conveniência, com

a finalidade de assegurar uma distribuição da justiça mais ágil e de melhor

qualidade.

A competência define estes limites à atividade jurisdicional (divisão de

trabalho), sendo estabelecida em diversas fontes, como por exemplo, na

Constituição Federal, lei complementar, lei ordinária e regimento interno dos

tribunais.

A competência2 é exatamente a medida de jurisdição de cada órgão

que compõe o Poder Judiciário. É ela que delimita em quais casos e em

relação a quais controvérsias, o órgão jurisdicional tem o poder de emitir

1 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil Vol. 01, 12ª Edição. Bahia: Ed. Jus Podium, 2010, página 83. 2 Importante ressaltar que a doutrina pátria, liderada por Fredie Didier Jr., entende que a competência é instituto da teoria geral do direito, não sendo, portanto, exclusivo do processo.

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provimentos, delimitando, por conseguinte, o grupo de controvérsias que lhe

são atribuídas.

“A competência é exatamente o resultado de critérios

para distribuir entre vários órgãos as atribuições relativas

ao desempenho da jurisdição. A competência é o poder

de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos por lei. É

o âmbito dentro do qual o juiz pode exercer a jurisdição. É

a medida da jurisdição. (DIDIER JR., Fredie. 2010 página

121)

Forçoso concluir, portanto, que a competência representa os limites

legais impostos ao exercício válido e regular do poder jurisdicional pelos

órgãos jurisdicionais. É a competência que torna legítima a atuação do órgão

jurisdicional em um processo concretamente considerado.

“A jurisdição está presente em todos os órgãos do Poder

Judiciário, tendo em vista que o juiz, com a investidura no

cargo, dotado está do poder de dizer o direito, ou seja, da

função judicante. Na medida em que a prestação

jurisdicional é um serviço público e, como tal, deve ser

realizado a contento, não obstante todas as carências, há

uma necessidade prática de divisão do trabalho e das

tarefas, a fim de otimizar ou, quando menos, viabilizar o

exercício da função como um todo. Essa razão de ordem

prática norteia, em geral, a fixação da competência dos

órgãos judiciais. Sob o prisma teórico, a jurisdição pode

ser entendida como o poder, enquanto a competência é o

exercício delimitado daquele. Tecnicamente, portanto, a

jurisdição estará sempre presente para o juiz, podendo

faltar-lhe, entretanto, a competência.” (ALUISIO

GONÇALVES DE CASTRO MENDES, 2009, p. 35).

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1.2 – Princípios da Competência

Há dois princípios que regem a competência, seja ela jurisdicional ou

não: princípio da tipicidade da competência e princípio da indisponibilidade da

competência.

Segundo Canotilho, citado por Fredie Didier Jr., esses princípios “

compõem o conteúdo do princípio do juiz natural. O desrespeito a tais

princípios implica, consequentemente, o desrespeito ao princípio do juiz

natural.” (DIDIER JR., Fredie, 2010, página 122)

1.2.1 – Princípio da Tipicidade da Competência

Segundo este princípio, a competência precisa estar prevista

expressamente em um diploma legal.

Conforme ensina Fredie Didier, no ordenamento jurídico brasileiro, a

“distribuição da competência faz-se por meio de normas constitucionais, de leis

processuais e de organização judiciária.” Acrescenta o renomado jurista, que

há, ainda, a distribuição interna da competência feita pelos próprios tribunais

através de seus regimentos internos3.

No entanto, o STF há muito vem admitindo a existência de

competências implícitas (implied power). A título ilustrativo, transcrevo trecho

do voto proferido pelo Ministro Luiz Gallotti, quando do julgamento do Pedido

de Intervenção nº 14 – Distrito Federal, in verbis:

“Embora a competência do Supremo Tribunal seja de

ordem constitucional, porque fixada na Constituição e

inampliavel por lei ordinária, todavia, além dos casos

expressos, há alguns de competência implícita, ou por

3 DIDIER JR., Fredie. Op. Cit, página 122

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força de compreensão, que sempre foram admitidos, pelo

método construtivo, quer no Brasil, quer nos Estados

Unidos.

Entre nós, muitas vezes reconheceu o Supremo Tribunal

essa competência implícita, em face da Carta de 1891,

quer no tocante as suas atribuições originárias, quer

relativamente às da Justiça Federal.

Quanto a estas, é de lembrar o que ocorreu com relação

ao processo e julgamento dos crimes que interessam à

administração federal (peculato, moeda falsa,

contrabando, etc.). A Constituição de 1891 não cogitara

da competência da Justiça Federal para processá-los e

julgá-los. Apesar disso, o Supremo Tribunal considerou

implícita essa competência, como decorrente da índole

do nosso sistema federativo M

E, no tocante à competência originária do Supremo

Tribunal, este a reconheceu em mais de uma hipótese

não prevista expressamente pela Constituição de 1891.”

(STF, IF nº 14, Tribunal Pleno, Julgamento 20/01/1950,

DJ de 26/01/1950, página 880, in www.stf.jus.br em

15/03/2012 às 11:02)

Segundo a Corte Suprema, nosso ordenamento jurídico não admite o

vácuo de competência, ou seja, não pode haver situação em que não haja

órgão competente para processar e decidir determinado caso concreto.

Frise-se que a competência implícita admitida pelo STF não se

confunde com a competência residual da Justiça Estadual. Isto porque, o texto

constitucional expressamente prevê que a competência da justiça estadual

será fixada na lei de organização judiciária do respectivo tribunal.

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“No entanto, o STF admite que se reconheça a existência

de competências implícitas (implied power): quando não

houver regra expressa, algum órgão jurisdicional haverá

de ter competência para apreciar a questão. Veja o caso

dos embargos de declaração: não há regra constitucional

que preveja como competência do STF ou do STJ o

julgamento de embargos de declaração interpostos contra

as suas decisões, embora seja inegável que a atribuição

de competência para julgar determinadas causas embute,

implicitamente, a competência para julgar esse recurso.

É fundamental perceber que não há vácuo de

competência: sempre haverá um juízo competente para

processar e julgar determinada demanda. A existência de

competências implícitas é, portanto, indispensável para

garantir a completude do ordenamento jurídico.” (DIDIER

JR., Fredie, 2010, página 123)

1.2.2 – Princípio da Indisponibilidade da Competência

As regras de competência fixadas na norma legal não podem ser

transferidas para órgãos diferentes daqueles a quem a lei as atribui. Logo, é

vedado ao órgão jurisdicional alterar suas próprias regras de competência, seja

através da abdicação de sua competência, seja através da avocação de

competência atribuída a órgão jurisdicional diverso.

As regras de competência são fixadas por lei formal, estes limites da

jurisdição, portanto, somente podem ser alterados pelo próprio legislador.

Dessa forma, a indisponibilidade refere-se ao órgão jurisdicional e não ao

órgão legislativo a quem compete a fixação das regras de competência.

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1.3 – Kompetenz Kompetenz

Princípio de origem alemã que ganha relevo, no ordenamento jurídico

pátrio, com a divisão constitucional da competência da justiça estadual e da

justiça federal.

Isto porque, ao prever taxativamente a competência da justiça federal, a

Constituição Federal impôs ao magistrado o ônus de somente conhecer a lide

após o reconhecimento de sua competência.

O princípio do Kompetenz-Kompetenz estabelece, justamente, que todo

juiz tem a competência para examinar a sua própria competência, ou seja, por

mais incompetente que o órgão jurisdicional seja, a ele sempre restará uma

competência: a de dizer se é ou não competente para o processo e julgamento

do caso concreto.

Conforme salienta Marinoni4, a competência para apreciar sua própria

competência para examinar determinada causa decorre da cláusula que

outorga ao magistrado o poder de verificar a satisfação dos pressupostos

processuais.

Tendo em vista que a competência é um dos pressupostos processuais,

é natural que o juízo ao qual distribuída a demanda tenha, ao menos, o poder

de decidir sobre sua competência para conhecer a ação.

Dessa forma, sempre que arguida a incompetência de determinado

órgão jurisdicional, prima facie, a análise da matéria será feita pelo próprio

juízo tido por incompetente.

4 MARINONI, Luiz Guilherme. Manual do Processo de Conhecimento. 3ª Edição. São Paulo? RT, 2004, página 51.

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Nas palavras de Fredie Didier Jr. “para todo órgão jurisdicional há

sempre uma competência mínima (atômica): a competência para o controle da

própria competência.” (DIDIER JR., Fredie, 2010, página 123).

1.4 – Classificação da Competência

1.4.1 – Competência Originária e Competência

Derivada/Recursal

Originária é a competência para conhecer e julgar a causa pela primeira

vez, ou seja, é a competência para fazer o primeiro exame da causa. Ela pode

ser atribuída tanto ao juízo monocrático, que é a regra, quanto ao tribunal,

como nas hipóteses de ação rescisória.

A competência derivada é aquela atribuída ao órgão jurisdicional que

revisará decisão anteriormente proferida. Excepcionalmente, esta competência

será conferida aos juízos de primeira instância5, como por exemplo nos

embargos infringentes de alçada (art. 34 da Lei nº 6.830/80).

1.4.2 – Competência Absoluta e Competência Relativa

A competência absoluta é a regra criada para atender ao interesse

público (correto exercício da jurisdição e o bom funcionamento do Poder

Judiciário) tendo natureza cogente, ou seja, não admite qualquer flexibilização,

seja por vontade das partes, seja pela própria lei (conexão ou continência).

5 Importante ressaltar que a competência derivada nos juizados especiais é atribuída ás turmas recurais, órgãos distintos do juízo. Não é porque estas turmas são formadas por juízes que esta hipótese se amolda a exceção. A competência recursal é da turma e, portanto, adequa-se à regra geral.

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A incompetência absoluta pode ser alegada por qualquer das partes, ou

reconhecida de ofício pelo magistrado, enquanto o processo estiver pendente6.

Além disso, esta incompetência pode alegar a incompetência absoluta por

qualquer forma, uma vez que a lei não exige uma forma preestabelecida.

A incompetência absoluta gera uma nulidade absoluta. Após o trânsito

em julgado, toma-se um vício de rescindibilidade, significando que mesmo

após esse momento processual poderá ser alegada por meio de ação

rescisória (art. 485, II, CPC).

Já a competência relativa visa atender ao interesse de uma das partes

e, por conta disso, só pode ser alegada pelo réu78 e no primeiro momento que

lhe couber falar nos autos, sob pena de preclusão. Nesta hipótese, haverá a

prorrogação da competência, ou seja, o juiz que inicialmente era incompetente

tornar-se competente.

Ademais, a norma processual exige que o réu alegue a incompetência

relativa por meio de peça processual autônoma9, trata-se de petição escrita

formal, diversa da contestação, que gera um incidente processual. Trata-se,

pois, segundo Fredie Didier Jr., de requisito processual de admissibilidade do

incidente de exceção de incompetência.

6 Nos tesmos do artigo 113, §1º do CPC, a parte que deixar de alegar a incompetência absoluta na primeira oportunidade em que lhe cabe falar nos autos arcará com as custas do retardamento. 7 Nos termos da súmula 33 do STJ, a “incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.” 8 Segundo entendimento assente no STJ, o Ministério Público tem legitimidade para arguir a incompetência relativa em benefício de réu incapaz. “PROCESSO CIVIL. MINISTÉRIO PUBLICO. CUSTOS LEGIS. INVENTÁRIO. QUALIDADE DE PARTE. INCAPAZ. COMPETÊNCIA RELATIVA. LEGITIMIDADE DO MP PARA ARGÜIR EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. - O Ministério Público, quando atua no processo como custos legis, o que acontece em inventário no qual haja menor interessado, tem legitimidade para argüir a incompetência relativa do juízo. Para tanto, deve demonstrar prejuízo para o incapaz. Não demonstrado o prejuízo tal legitimidade não se manifesta.” (STJ, REsp 630968, Processo nº 200400200124, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, 3ª Turma, DJ 14/05/2007, página 280 – grifos nossos) in www.stj.jus.br em 15/03/2012 às 11:10 9 Vide artigos 112, 299 e 304, todos do Código de Processo Civil.

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No entanto, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que é possível

alegar incompetência relativa no bojo da contestação, desde que não cause

prejuízo ao autor10.

Além disso, as regras de competência relativa têm natureza dispositiva,

podendo ser alteradas por conexão ou continência, bem como pela vontade

das partes. Esta modificação pode ocorrer de maneira tácita (por exemplo: não

oposição da exceção de incompetência) ou expressa (por exemplo: foro de

eleição ou cláusula de escolha de foro ou foro contratual11).

Frise-se que a incompetência, qualquer que seja ela, absoluta ou

relativa, não gera extinção do processo. O reconhecimento da incompetência

leva à remessa dos autos ao juízo competente, nos termos do art. 113, §2º do

CPC.

“...Melhor, portanto, compreender a competência como

pressuposto para a apreciação do mérito pelo juiz, não

gerando, entretanto, a sua falta a extinção do processo,

mas, sim, a decisão interlocutória de remeter os autos ao

órgão competente.” (ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO

MENDES, 2009, p. 36).

10 “PROCESSO CIVIL. INCOMPETÊNCIA RELATIVA. ARGÜIÇÃO EM PRELIMINAR NA CONTESTAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO. I - Não obstante seja a exceção, oposta por meio de peça processual autônoma, o meio correto de se argüir a incompetência relativa, constitui mera irregularidade a sua alegação como preliminar da contestação, devendo ser observado o princípio da instrumentalidade do processo, se a finalidade essencial do ato foi atingida e não houve prejuízo à defesa da parte contrária. II - O artigo 100, I, do Código de Processo Civil, cuja inconstitucionalidade é argüida, não foi a norma aplicada na definição da competência, mas sim a regra disposta no caput do artigo 94 do mesmo Código. Recurso não conhecido, com ressalvas quanto à terminologia.” (STJ, REsp 169176, Processo nº 299800225846, Rel. Min. Castro Filho, 2ª Seção, DJ 12/08/2003, página 185 – grifos nossos) in www.stj.jus.br em 15/03/2012 às 11:22 11 Ao celebrar um negócio jurídico, as partes podem escolher onde as causas relacionadas àquele negócio terão de tramitar (foro). Nos termos do art. 112, parágrafo único do CPC, em qualquer contrato de adesão pode o juiz, de ofício, anular a cláusula de eleição de foro e remeter o processo de ofício ao domicílio do réu. Contudo, este declínio deve ocorrer no primeiro em que lhe couber falar nos autos, sob pena de preclusão, nos termos do art. 114 do diploma processual civil.

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23

Porém, na hipótese de incompetência absoluta, seu reconhecimento

gerará, ainda, a anulação dos atos decisório praticados pelo juízo

incompetente.

1.5 – Distribuição da Competência

A primeira grande distribuição da competência no ordenamento jurídico

brasileiro é feita pelo texto constitucional.

A Constituição Federal de 1988 criou cinco grandes organizações de

órgãos jurisdicionais: Justiça Federal, Justiça dos Estados, Justiça do

Trabalho, Justiça Militar, e Justiça Eleitoral

O constituinte estabeleceu taxativamente a competência da justiça

federal, da justiça do trabalho, da justiça militar e da justiça eleitoral, sendo a

competência da justiça estadual residual, ou seja, tudo aquilo que não estiver

previsto no texto constitucional como competência de qualquer daqueles

órgãos jurisdicionais será da competência da justiça estadual.

Importante salientar que, não obstante sejam administradas pela União,

a justiça do trabalho, a justiça militar e a justiça eleitoral não compõe a Justiça

Federal, sendo consideradas justiças especializadas.

A justiça estadual e a justiça federal são consideras justiças comuns,

uma vez que a ela compete o processo e julgamento de uma generalidade de

causas.

Feita a distribuição pela Constituição, há uma nova etapa da distribuição

da competência, ora por lei federal, ora por lei estadual, cuidando, obviamente,

da justiça dos estados. Há, ainda, as Constituições estaduais, que organizam

as jurisdições em cada Estado, portanto, distribuem competência também.

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24

Frise-se que os regimentos internos dos tribunais, não obstante não

criar competência para o tribunal, distribuem a competência já atribuída ao

tribunal pelo ordenamento jurídico e a distribui internamente, entre os órgãos

do tribunal12.

Distribuída a competência pela legislação saberemos qual os juízos que

teoricamente podem julgar a causa, mas para saber o juízo competente para o

processo e julgamento de um caso concreto é necessário concretizar a

competência.

Logo, somente através dos critérios de determinação da competência

será possível saber qual, dentre todos os juízos prima facie competentes, tem

efetivamente competência para processar e julga o feito.

1.6 – Critérios para Determinação da Competência

Estes critérios tem por objetivo identificar o juízo competente para

conhecer, processar e julgar o caso concreto. São este critério que deverão ser

observados no momento da concretização da jurisdição.

“Chiovenda estabeleceu os critérios de determinação da

competência em três grupos: a)objetivo, englobando o

valor da causa, sua natureza (competência por matéria) e

a qualidade das pessoas litigantes; b) funcional, em

consideração às funções que se chama o magistrado a

exercer no processo; c) territorial, relacionado com a área

geográfica atribuída a cada órgão judicial.” (ALUISIO

GONÇALVES DE CASTRO MENDES, 2009, p. 37)

12 Importante observação deve ser feita acerca do regimento interno do STF. O texto constitucional de 1969 dava ao STF competência para legislar sobre os processos que nele seriam processados e julgados. Neste cenário foi editado o Regimento Interno de 1980, que segundo entendimento à época era lei. Com o advento da atual Carta Magna, a regra prevista na de 1969 deixou de existir, mas os ministros do STF continuam entendendo que o seu Regimento Interno tem natureza de lei.

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25

1.6.1 – Critérios Objetivos

Levam em consideração os elementos da demanda (partes, pedido e

causa de pedir) posto em juízo como dado relevante para a determinação da

competência.

1.6.1.1 – Em Razão da Pessoa

Regra de competência absoluta que leva em consideração a qualidade

da pessoa para fixação da competência. É o que acontece com boa parte das

regras de competência da Justiça Federal. Presente um ente federal em juízo,

a justiça federal é competente.

Esse é o ensinamento trazido por Aluisio Mendes, que ao explicar a

competência em razão da pessoa, assim estabelece:

“No concernente ao critério objetivo, Chiovenda destacou

a competência em razão M da qualidade das pessoas

litigantes... levando em conta a realidade italiana da

época, afirmou que 'já teve grande importância na

formação de jurisdições especiais (privilegiadas); mas

hoje, por si só, não influe mais na competência do juiz,

salvo em casos excepcionalíssimos'. Por sua vez, no

Brasil, a competência ratione personae é de grande

importância, sendo o principal e tradicional critério para a

fixação da competência da Justiça Federal, além de se

fazer também sentir na Justiça dos Estados, diante das

Varas de Fazenda Pública. Certo é, no entanto, que o

Código de Processo Civil de 1973 deixou de elencar, no

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26

seu bojo, a competência em razão da pessoa. Entretanto,

a falta não é relevante para a exclusão do critério...”

(ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES, 2009, p.

38)

Conforme salientado pelo eminente jurista, o principal exemplo desta

competência é a criação de varas especializadas, por norma de organização

judiciária, para julgar demandas envolvendo a Fazenda Pública. Nesta

hipótese, todavia, somente a fixação da competência do foro é que será

relevante, não sendo influenciada pela existência de vara especializada para o

processo e julgamento das demandas contra a Fazenda Pública.

“ Súmula 206 – A existência de vara privativa, instituída

por lei estadual, não altera a competência territorial

resultante das leis de processo.” (in www.stj.jus.br em

15/03/2012 às 16:54)

1.6.1.2 – Em Razão da Matéria

Regra de competência absoluta determinada em virtude da natureza da

relação jurídica de direito material posta em Juízo.

“Assim, é a causa de pedir, que contém a afirmação do

direito discutido, o dado a ser levado em consideração

para a identificação do juízo competente. É com base

neste critério que as varas de família, cível, penal etc. são

criadas.” (FREDIE DIDIER JR., 2010, página 139)

As normas de competência em razão da matéria estão previstas não

apenas nas normas de organização judiciária, como faz previsão o art. 91 do

CPC, mas também na Constituição da República e nas leis estaduais.

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Quando prevista no Código de Organização Judiciária, determinarão a

competência do juízo, com a criação, por exemplo, de varas especializadas13,

com o escopo de especializar o trabalho do Juiz e serventuário da Justiça para

melhor prestação jurisdicional.

1.6.1.3 – Em Razão do Valor da Causa

O valor da causa é definido a partir do valor do pedido. Ante o disposto

no art. 111 do CPC, estre critério de definição da competência é regra relativa

que, portanto, admite modificação.

Este critério de definição da competência tem como um dos seus

exemplos mais relevantes a fixação da competência dos juizados especiais

cíveis. No entanto, segundo salienta Fredie Didier Jr. a questão gera

controvérsias.

“O art. 111 do CPC permite a modificação da competência

em razão do valor da causa. Seria portanto, um exemplo

de competência relativa. É por isso que o sujeito pode

optar por demandar ou não perante o Juizado Especial

Cível, no caso de uma demanda cujo valor é inferior ao do

teto dos Juizados Especiais.

No entanto, a questão não é tão simples.

A competência dos Juizados Especiais Federais, onde

houver, é absoluta (art. 3º, § 3º da Lei Federal n.

10.259/2001). O mesmo ocorre com os Juizados

Especiais Estaduais da Fazenda Pública (art. 2º, § 4º da

13 A guisa de esclarecimento, a vara especializada não modifica a regra de competência de foro.

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Çeo n. 12.153/2009). Cria-se, pois, uma regra de

competência em razão do valor da causa que é absoluta.

Do mesmo modo, quando há competência em razão do

valor da causa, o juízo é absolutamente incompetente

para conhecer das causas que extrapolem o limite

estabelecido.” (FREDIE DIDIER JR., 2010, página 139)

1.6.2 – Critério Funcional

Segundo Didier, a competência funcional “relaciona-se com a

distribuição das funções que devem ser exercidas em um mesmo processo.”

Esta regra leva em consideração os atos endoprocessuais, ou seja, aspectos

relacionados às atribuições exercidas pelo juiz ao longo da marcha processual.

Dessa forma, para se determinar o juízo competente para a prática de

determinado ato, basta analisar função já exercida no processo por

determinado órgão.

“Explicando o que seria o critério funcional, Chiovenda

afirmou que 'extrai-se da natureza especial e das

exigências especiais das funções que se chama o

magistrado a exercer num processo. Tais funções podem

repartir-se entre diversos órgãos na mesma causa (assim,

há juízes de primeiro gráu e segundo gráu, juízes da

cognição, juízes da execução), ou devem confiar-se ao

juiz de dado território, em vista, exatamente, de suas

exigências, abrindo lugar a uma competência em que o

elemento funcional concorre com o territorial.” (ALUISIO

GONÇALVES DE CASTRO MENDES, 2009, p. 39)

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A competência funcional é absoluta e costuma ser dividida pela doutrina

clássica em competência funcional vertical e competência funcional

horizontal14. Na competência funcional vertical a divisão de competência se dá

entre duas instâncias diferentes. É o que acontece, por exemplo, com a

competência originária e derivada. Já na competência funcional horizontal o

legislador redistribui as funções, sem que haja mudança de instância. O

exemplo mais claro desta divisão de funções se dá no processo penal. Na

hipótese de competência do tribunal do júri, cabe ao juiz pronunciar e ao júri

condenar. Se o júri condena, volta para o juiz dosar a pena.

No entanto, segundo o entendimento majoritário da doutrina a

competência funcional é classificada da seguinte forma15:

1.6.2.1 – Quanto às Fases do Procedimento

Consiste na fixação da competência para a prática de atos que se

sucedem ao longo do mesmo processo, quando o procedimento mediante o

qual se desenvolve é distribuído em fases significativamente distintas.

Dessa forma, se no curso do processo a prática de determinado ato em

comarca diversa for necessária, não terá o juízo para o qual distribuído o

processo competência para determinar a realização daquele ato, devendo o

mesmo determinar o deslocamento dos autos ou a expedição, por exemplo, de

carta precatória.

Assim, pode acontecer de numa mesma fase do procedimento haver

mais de um juiz competente, mas não para a prática do mesmo ato.

14 Vide art. 93 do Código de Processo Civil 15 “Vicente Greco Filho sistematizou muito bem a competência funcional, que pode ser: a) por graus de jurisdição (originária ou recursal); b) por fases do processo (cognição e execução, p.ex); c) por objeto do juízo: uniformização de jurisprudência (art. 476 do CPC, declaração de inconstitucionalidade em tribunal (art. 480 do CPC) etc.” (FREDIE DIDIER JR., 2010, página 140/141)

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1.6.2.2 – Por Grau de Jurisdição

Divide-se em Competência Funcional Recursal e Competência

Funcional Originária. Nesta, a lei escolhe determinados órgãos jurisdicionais

para conhecer e julgar a demanda originariamente, podendo ser tanto o juízo

singular quanto os Tribunais. Naquela, há uma competência hierárquica,

existindo um órgão revisor da decisão prolatada pelo órgão originário.

1.6.2.3 – Pelo Objeto do Juízo

Ocorre quando participam para a elaboração de uma mesma decisão

dois diferentes órgãos jurisdicionais. (p.ex: Incidente de uniformização de

jurisprudência e declaração incidental de inconstitucionalidade).

1.6.3 – Critério Territorial

Regra que determina em que unidade territorial a demanda deve ser

processada e julgada, ou seja, trata-se de critério distribuidor da competência

em razão do lugar.

A fixação deste critério pela legislação pátria é ampla e específica.

Entretanto, o presente trabalho não tem por escopo a análise da competência

territorial dos juizados especiais federais, razão pela qual apenas lançamos o

conceito geral da competência territorial, afim de não escapar do foco central

de estudo.

1.7 – Concretização da Jurisdição

É o “caminho” a ser percorrido para determinar o juízo competente.

Diante de um caso concreto e na busca do órgão jurisdicional competente para

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o julgamento da demanda, o operador de direito deve buscar a fixação de

competência.

“O princípio do juiz natural estabelece que a demanda

seja formulada sempre perante um julgador cuja

competência foi abstratamente fixada, em geral por regra

legal prévia.” (ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO

MENDES, 2009, p. 41)

Primeiramente, deve-se identificar se o juízo brasileiro é competente

para o processo e julgamento da causa. Tratando-se de competência interna,

cabe indagar se a causa se enquadra em uma das hipóteses de competência

originária dos Tribunais de Superposição, nos termos dos artigos 102 e 105,

ambos da Constituição Federal de 1988.

Não sendo hipótese de competência originária do STJ ou do STF, o

operador do Direito deve analisar se o processo é da competência da justiça

especial (Justiça do Trabalho, Justiça Militar ou Justiça Eleitoral) ou da justiça

comum (Justiça Estadual e Justiça Federal).

Em sendo competente a justiça comum, devem ser observadas as

disposições dos artigos 108 e 109 da Carta Magna, que fixam a competência

da justiça federal. Isto porque, conforme anteriormente salientado, a

competência da justiça estadual é residual, ou seja, somente será competente

a justiça estadual quando a hipótese não se amoldar aos dispositivos legais

supracitados.

Descoberta a justiça competente, deve-se verificar se o processo é de

competência originária do Tribunal respectivo (Tribunal Regional Federal ou

Tribunal de Justiça) ou do primeiro grau de jurisdição.

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Sendo de competência do primeiro grau de jurisdição, faz-se

necessário determinar a competência do foro.

Foro é o local onde o juiz exerce as suas funções; é a unidade territorial

sobre a qual se exerce o poder jurisdicional (lembre-se que o Estado é

soberania de um povo sobre dado território). Na Justiça Estadual cada

comarca representa um foro, enquanto na Justiça Federal cada seção

judiciária representa um foro. Determinado o foro competente, a tarefa do

operador poderá ter chegado ao final.

Haverá hipóteses, entretanto, em que no mesmo local, conforme as leis

de organização judiciária podem funcionar vários juízes com atribuições iguais

ou diversas. Dessa forma, ainda deverá ser definido juízo competente (que é a

vara, o cartório, a unidade administrativa).

Nestes casos, a definição da competência observará no mais das

vezes as Leis de Organização Judiciária (responsáveis pela criação de varas

especializadas em razão da matéria e da pessoa); o Código de Processo Civil

(definição de qual juízo é competente quando duas ações são conexas e

tramitam no mesmo foro - art. 106, CPC); ou, ainda, os critérios de distribuição

abstratamente fixados, nos termos do art. 251 e 252 CPC16.

Concretizada a jurisdição, com a propositura da ação17, ocorrerá a

Perpetuatio Jurisdicionis (art. 87 do CPC). Assim, posteriores modificações no

estado de fato ou de direito da causa pendente não alterarão a competência

(Súmula 58 do STJ).

16 Onde houver mais de um juiz ou escrivão abstratamente competentes, os processos deverão ser sorteados entre todos, de forma alternada e de acordo com o princípio da igualdade. Com isso, conforme salienta Fredie Didier Jr. “fixa-se a competência concreta do juízo, transformando a 'competência cumulativa de todos em competência exclusiva de só um dentre todos.' (DIDIER JR., Fredie, 2010, página 126)

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Todavia, conforme o ensinamento de Fredie Didier Jr., há exceções à

regra da perpetuação da jurisdiição.

“Excepcionam-se os seguintes casos: a) Supressão do

órgão judiciário – por exemplo, a extinção de uma vara

cível; b) Alteração superveniente da competência em

razão da matéria ou da hierarquia – porque são espécies

de competência absoluta, fixadas em função do interesse

público, motivo pelo qual outras modalidades de

competência absoluta devem estar aí abrangidas

(máxime, a territorial absoluta do art. 95 do CPC).

Frise-se que a interpretação da segunda das ressalvas

previstas em lei (parte final do art. 87) deve ser

sistemática e extensiva, pois a todas as luzes, o

legislador, ao restringir as exceções à 'competência em

razão da matéria ou hierarquia', quis referir-se, em

verdade, a todas as modalidades de competência

absoluta, cometendo a mesma gafe dos arts. 102 e 111

do CPC.” (DIDIER JR., Fredie, 2010, página 124)

1.8 – Conflito de Competência

Consiste em um incidente processual de competência originária de um

tribunal que tem por objeto um conflito entre dois ou mais juízos18 sobre a

competência para julgar determinada causa.

17 Nas comarcas de juízo único, considera-se proposta a ação quando a petição for despachada pelo juiz. Havendo mais de uma vara competente, a propositura da ação dá-se com a distribuição (art. 263 CPC). 18 Note que o conflito pode se dar entre juízes, ou seja, juiz contra juiz; entre juiz e tribunal a que não esteja vinculado; e entre tribunais, desde que não haja relacionamento hierárquico entre eles. Frise-se que o STF nunca é sujeito de um conflito porque o que ele disser prevalece sobre a manifestação dos demais órgão do Poder Judiciário.

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Dessa forma, somente haverá conflito de competência enquanto o

processo estiver pendente de julgamento. Nesse sentido o enunciado da

Súmula 59, do STJ: “Não há conflito de competência se já existe sentença com

trânsito em julgado proferido por um dos juízos conflitantes”.

O conflito de competência pode ser positivo – quando ambos os juízos

se considerarem competentes para processo e julgamento do feito – ou

negativo – aquele em que ambos se afirmam incompetentes para julgar o

processo.

O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer dos juízos

conflitantes, pelas partes19 e também pelo Ministério Público. Importante

ressaltar que se o Parquet não suscitar o conflito, será obrigatória sua

intervenção no processo na qualidade de custos legis.

19 “A parte que ofereceu exceção de incompetência não pode suscitar o conflito, pois já teve a oportunidade de manifestar-se sobre a competência e optou por argüir a exceção (art. 117 do CPC). O objetivo da lei, segundo Athos Gusmão Carneiro, foi impedir que a parte utilizasse, simultaneamente, ambos os meios de controle da competência. Entende o autor que é possível o uso sucessivo desses mecanismos de controle da competência. É possível, por exemplo, que, após a exceção de incompetência, surja o conflito: o juízo que recebeu a causa em razão da declinação pode negar a sua competência, não a aceitando.” (FREDIE DIDIER JR., 2010, página 169)

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CAPÍTULO II

O CONTADITÓRIO NO PROCESSO CIVIL ATUAL

2.1 – Princípio do Contraditório

Há uma tendência muito clara de que a atividade estatal que afete o

interesse de alguém – seja administrativa ou jurisdicional – tem que se realizar

através do contraditório.

Esta tendência fez com que a Constituição Federal de 1988, elevasse

o princípio do contraditório à direito fundamental, garantindo “aos litigantes, em

processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral ... o contraditório

e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” 20.

O princípio do contraditório tem duas dimensões: formal e substancial.

Em sua dimensão formal, o princípio do contraditório é aquele que garante a

todos o direito de participar do processo que lhe diga respeito, que possa

afetar o seu interesse. Ou seja, o Estado não pode agir contra alguém sem lhe

dar o direito de participar do processo.

No entanto, não é qualquer contraditório que é garantido. Segundo a

dimensão substancial do contraditório, a participação da parte no processo

deve ser apta a influenciar o conteúdo da decisão. A dimensão substancial do

contraditório é o poder de intervir, de influenciar no convencimento do juiz.

A participação no processo, que é garantida pelo aspecto formal, tem

que ser uma participação apta, ao menos teoricamente, a influenciar naquilo

que o juiz vai dizer.

20 Vide art. 5º, LV da Constituição Federal de 1988.

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Logo, é preciso que se dê ao sujeito os instrumentos para que possa

exercer amplamente a sua defesa, que é reforço de poder processual para

poder convencer o juiz das suas afirmações.

Possível afirmar, portanto, que o direito de produzir provas em juízo,

bem como o direito a ampla defesa, nada mais são do que consequências da

dimensão substancial do contraditório porque de nada adiantaria um

contraditório meramente formal, sem dar à parte o poder de interferir na

decisão.

Conclui-se, dessa forma, que o contraditório tem que ser formalmente

devido (de participar) e substancialmente devido (dar à parte a oportunidade

de influenciar).

2.2 – Princípio da Boa-Fé Processual

“O princípio do devido processo legal, que lastreia todo o

leque de garantias constitucionais voltadas para a

efetividade dos processos jurisdicionais e administrativos,

assegura que todo julgamento seja realizado com a

observância das regras procedimentais previamente

estabelecidas, e, além disso, representa uma exigência

de fair trial, no sentido de garantir a participação

equânime, justa, leal, enfim, sempre imbuída pela boa-fé

e pela ética dos sujeitos processuais.

A máxima do fair trial é uma das faces do princípio do

devido processo legal positivado na Constituição de 1988,

a qual assegura um modelo garantista de jurisdição,

voltado para a proteção efetiva dos direitos individuais e

coletivos, e que depende, para seu pleno funcionamento

da boa-fé e lealdade dos sujeitos que dele participam,

condição indispensável para a correção e legitimidade do

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conjunto de atos, relações e processos jurisdicionais e

administrativos.” (Trecho do Voto do Min. Gilmar Mendes

no Julgamento do AI 529733. STJ, AI 529733/RS, Rel.

Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, DJ 01/12/2006, página 97)

O diálogo processual, garantido pelo contraditório é iluminado pelo

princípio da boa-fé processual, que impõe o comportamento ético das partes.

A boa-fé aparece nos livros, ora como princípio, ora como norma que

impõe condutas, criando direitos e deveres (boa-fé objetiva), ora como fato,

como elemento psíquico (boa-fé subjetiva).

Quando a doutrina se refere à boa-fé como princípio fala-se na

chamada boa-fé objetiva, ou seja, como norma que impõe condutas leais à

todos aqueles que de qualquer forma participam do processo.

O princípio da boa-fé impõe que o comportamento seja ético, que ele

esteja em conformidade com a boa-fé e não a vontade de quem pratica o ato.

Dessa forma, ainda que a parte esteja bem intencionada, caso se comporte

contra a boa-fé objetiva, o comportamento será ilícito e, portanto, deve ser

reprimido.

“Não se pode confundir o princípio (norma) da boa-fé com

a exigência de boa-fé (elemento subjetivo) para a

configuração de alguns atos ilícitos processuais, como o

manifesto propósito protelatório, apto a permitir a

antecipação dos efeitos da tutela prevista no inciso II do

art. 273 do CPC. A boa-fé objetiva subjetiva é elemento

do suporte fático de alguns fatos jurídicos; é fato,

portanto. A boa-fé objetiva é norma de conduta: impõe e

proíbe condutas, além de criar situações jurídicas ativas e

passivas. Não existe princípio da boa-fé subjetiva. O

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inciso II do art. 14 do CPC brasileiro não está relacionado

à boa-fé subjetiva, à intenção do sujeito do processo:

trata-se de norma que impõe condutas em conformidade

com a boa-fé objetivamente considerada,

independentemente da existência de boas ou más

intenções.” (DIDIER JR., Fredie, 2010, página 62)

Conforme salienta Fredie Didier Jr, uma das consequências da

aplicação do princípio da boa-fé no processo é a vedação do abuso do direito.

O exercício abusivo caracteriza-se pelo uso anormal ou anti-funcional do

direito, independentemente do interesse de prejudicar alguém. Em outras

palavras, no abuso de direito não há desafio à legalidade estrita de uma regra,

porém à sua própria legitimidade, posto vulnerado o princípio que fundamenta

e lhe concede sustentação sistemática. A ilicitude consiste na violação da

norma pela conduta humana, inferida por um juízo de valor.

Ademais, o princípio da boa-fé veda o comportamento contraditório

(venire contra factum proprium). Esta vedação obsta que alguém possa

contradizer o seu próprio comportamento, após ter produzido, em outra

pessoa, uma determinada expectativa. É, pois, a proibição da inesperada

mudança de comportamento (vedação da incoerência), contradizendo uma

conduta anterior adotada pela mesma pessoa, frustrando as expectativas de

terceiros.

Outro fator de preservação da confiança alheia advindo da boa-fé

objetiva, é a supressio (verwirkung). A supressio é o fenômeno da perda de

determinada faculdade jurídica pelo decurso do tempo, que não se submete a

prazos rígidos. Na supressio as expectativas são projetadas pela injustificada

inércia do titular, somada a existência de indícios objetivos de que o direito não

mais seria exercido.

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“Além dessas concretizações, o princípio da boa-fé impõe

deveres de cooperação entre os sujeitos do processo. A

importância desses deveres é, atualmente, tão grande,

que convém separar o seu estudo, dando-lhe um item

próprio adiante.” (DIDIER JR., Fredie, 2010, página 65)

2.3 – Princípio da Cooperação

A boa-fé que ilumina o contraditório gerou o chamado dever de

cooperação. As partes e o juiz têm de cooperar entre si, como se fosse uma

comunidade de trabalho, para que o processo chegue ao resultado mais justo

possível.

Nas palavras de Fredie Didier Jr, o “princípio da cooperação define o

modo como o processo civil deve estruturar-se no direito brasileiro.” É este

princípio que torna devido os comportamentos necessários à obtenção de um

processo justo e leal.

O princípio da cooperação gera para o juiz três deveres: de

esclarecimento, de consulta e de proteção/ prevenção.

Quanto ao dever de esclarecimento, o juiz tem a obrigação de

esclarecer os seus posicionamentos às partes e de pedir esclarecimento a elas

quanto às suas manifestações.

Além disso, tem o juiz o dever de consultar as partes sobre ponto de

fato ou de direito sobre o qual elas ainda não puderam se manifestar. Esse

dever tem a ver com o princípio do contraditório porque se o juiz se manifesta

sobre uma questão sobre a qual não se pronunciaram as partes, ele não teve a

oportunidade de ser influenciado em sentido contrário, de ser convencido de

que estava errado, de que a solução não era aquela.

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40

Segundo Fredie Didier Jr., mesmo em relação às questões que o juiz

pode conhecer de ofício, deve ser assegurada à parte a possibilidade de

influenciar na decisão do magistrado.

Isto porque, a matéria cognocível ex officio pelo juiz é aquela que pode

ele dela conhecer sem consultar as partes. No entanto, ressalta o eminente

jurista, conhecer de ofício é conhecer do tema sem que ninguém o provoque, o

que não significa dizer que a decisão deve ser proferida sem prévia

manifestação das partes sobre o assunto.

Por fim, o juiz tem o dever de, constatada alguma irregularidade

processual, apontar o defeito processual e dizer como ele pode ser corrigido.

Assim o juiz – ao perceber que o processo tem algum defeito,

irregularidade – tem o dever, inerente à cooperação, de apontar onde está o

defeito e dizer como o defeito será corrigido. Se o juiz é o condutor do

processo e percebe que tem um defeito que vai comprometer a validade do

processo, ele tem que indicá-lo. Trata-se, segundo a nomenclatura de Fredie

Didier Jr, do chamado dever de prevenção, variante do dever de proteção.

“ No direito brasileiro, esse dever de prevenção está

concretizado, por exemplo, no art. 284 do CPC, que

garante ao demandante o direito de emendar a petição

inicial, se o magistrado considerar que lhe falta algum

requisito; não é permitido o indeferimento da petição

inicial sem que se dê a oportunidade de correção do

defeito. Não cumprindo o autor a diligência que lhe fora

ordenada, a petição inicial será indeferida (art. 295, VI,

CPC” (DIDIER JR., Fredie, 2010, página 82)

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41

CAPÍTULO III

O DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA NAS CAUSAS COM

VALOR INFERIOR À 60 SALÁRIOS MÍNIMOS

3.1 – Competência Cível do Juizado Especial Federal

Nos termos do art. 98, I da Constituição Federal de 1988, os juizados

especiais são “competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de

causas cíveis de menor complexidade”.

“As leis 9.099 é 10.259 consumaram a previsão

constitucional, adotando critérios objetivos, como o valor é

a natureza da causa ou do procedimento, é subjetivos,

como a qualidade das partes, firmando uma concepção,

mesclada de pequena causa é menor complexidade, para

a criação de uma nova justiça é de um novo procedimento

sumaríssimo, informados pela simplicidade, oralidade,

economia processual, informalidade é celeridade, na

busca da ampliação do acesso a justiça é da efetividade

do direito processual.” (ALUISIO GONÇALVES DE

CASTRO MENDES, 2009, p. 196)

Os Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal, objeto de estudo

do presente trabalho, foram instituídos pela Lei nº 10.259/2001. Ao contrário

da diretriz adotada pela Lei nº 9.099/95 – que dispõe sobre os juizados

especiais no âmbito da justiça estadual – a lei dos juizados especiais federais

estabeleceu o caráter absoluto da competência destes órgãos judiciais21.

21 Vide art. 3º, § 3º da Lei 10.259/01, in verbis: “§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.” Importante ressaltar que o acesso ao juizado especial será facultativo, no entanto, nos locais em que ainda não tiver sido instalado referido órgão judicial.

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Conforme salienta Aluisio Gonçalves, a Lei nº 10.259/2001

estabeleceu a combinação de três parâmetros para a fixação da competência

dos juizados especiais federais: o valor da causa (art. 3º, caput); a matéria ou

procedimento (art. 3º, § 1o); e, a qualidade da parte (art. 6º).

“Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível

processar, conciliar e julgar causas de competência da

Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos,

bem como executar as suas sentenças.

§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial

Cível as causas:

I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição

Federal, as ações de mandado de segurança, de

desapropriação, de divisão e demarcação, populares,

execuções fiscais e por improbidade administrativa e as

demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos

ou individuais homogêneos;

II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações

públicas federais;

III - para a anulação ou cancelamento de ato

administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária

e o de lançamento fiscal;

IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de

demissão imposta a servidores públicos civis ou de

sanções disciplinares aplicadas a militares.”

“Art. 6o Podem ser partes no Juizado Especial Federal

Cível:

I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas

e empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei no

9.317, de 5 de dezembro de 1996;

II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas

públicas federais.”

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43

Observa-se, portanto, que excluídas as hipóteses arroladas no art. 3º,

§1º da lei dos juizados especiais federais22 e figurando como sujeito

processual qualquer das partes previstas no art. 6º da referida lei2324, será da

competência do referido juizado as causas – da competência da justiça

federal25 – com valor de até 60 salários mínimos26.

Importante ressaltar que, nas palavras de Ronaldo Frigini, “o valor do

bem da vida é o norte absoluto para o estabelecimento da competência”27. Isto

porque, não há demandas especificas que, independentemente do seu valor,

devam ser propostas necessariamente perante o juizado especial federal.

O valor da causa deve corresponder ou, ao menos aproximar-se, do

real proveito econômico pretendido pela parte autora, razão pela qual deve o

demandante atentar para os exatos termos de seu pedido.

A fixação do valor da causa ocorre no momento da propositura da

demanda, correspondendo, nos termos do art. 259 do Código de Processo

Civil, a soma do principal, da pena e dos juros vencidos até a propositura da

ação, na ação de cobrança de dívida; a quantia correspondente à soma dos

valores dos pedidos formulados, na hipótese de cumulação de pedidos; ao

22 De acordo com o Enunciado 09 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais: “Além das exceções constantes do § 1º do artigo 3º da Lei n. 10.259, não se incluem na competência dos Juizados Especiais Federais, os procedimentos especiais previstos no Código de Processo Civil, salvo quando possível a adequação ao rito da Lei n. 10.259/2001.” in www.ajufe.org.br em 18/03/2012 as 13:55. 23 De acordo com o Enunciado 09 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais: “O incapaz pode ser parte autora nos Juizados Especiais Federais, dando-se-lhe curador especial, se ele não tiver representante constituído.” in www.ajufe.org.br em 18/03/2012 as 13:57. 24 CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DECLARATÓRIA. POLO ATIVO. ESPÓLIO. LEI Nº 10.259/2001. ROL EXEMPLIFICATIVO. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. … II - Em que pese ao fato de o espólio não figurar na lista prevista pelo art. 6º, inciso I, da Lei nº 10.259/2001, tal rol não é exaustivo, devendo a competência dos Juizados Especiais Federais basear-se na expressão econômica do feito, a teor do art. 3º, caput, da citada norma. Precedente: CC nº 92.740/SC, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI , DJe de 22/09/08. ...(STJ CC – 97522, Processo nº 2008.01.64497-8, Rel: Min. Francisco Falcão, 1ª Seção, DJE 25/05/2009) 25 Os critérios de sua fixação são absolutos, estado previstos taxativamente na Constituição Federal (arts. 108 e 109 da CF/88). Logo, eles não podem ser alterados por lei de hierarquia inferior. 26 De acordo com o Enunciado 15 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais: “Na aferição do valor da causa, deve-se levar em conta o valor do salário mínimo em vigor na data da propositura da ação.” in www.ajufe.org.br em 18/03/2012 as 14:00.

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pedido de maior valor, quando alternativos os pedidos; o valor do pedido

principal, em havendo pedido subsidiário; o valor do contrato, quando o litígio

tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão

de negócio jurídico; a soma de 12 prestações mensais, na ação de alimentos;

a estimativa oficial para lançamento do imposto, na ação de divisão, de

demarcação ou de reivindicação.

Todavia, quando a pretensão versar sobre prestações vincendas,

deve-se considerar, além do disposto no art. 260 da legislação processual civil,

os parâmetros fixados pelo art. 3º, §2º da Lei nº 10.259/200128. Nestas

hipóteses, tomar-se-á em consideração o valor das prestações vencidas,

acrescido da soma do valor de 12 prestações vincendas.

Determinado o valor da causa e sendo este, de acordo com a

legislação processual civil29, inferior a sessenta salários mínimos deverá a

demanda ser submetida necessariamente ao juizado especial federal. Porém,

em sendo superior a 60 salários mínimos, a competência será da vara federal.

Dúvida poderá surgir quanto a possibilidade de o autor renunciar ao

valor que exceda ao de alçada para se submeter ao rito da Lei nº 10.259/01.

Segundo o Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais - FONAJEF30, é

vedada a fragmentação da demanda, bem como a renúncia de parcelas

vincendas, como meios de acesso ao juizado especial federal.

Interpretação a contrario senso do enunciado 20 do FONAJEF permite

afirmar, por conseguinte, que pode o autor da demanda abrir mão do valor que

27 FRIGINI, Ronaldo. Op. Cit. Pagina 61. 28 “O dispositivo em questão também peca por ser incompleto, principalmente se comparado com o art. 260 do diploma processual pátrio, porque expressa que ‘a soma de 12 (doze) parcelas não poderá exceder o valor referido no art. 3º, caput’, da Lei 10.259/2001, quando, na verdade, o limite deverá ser observado levando-se em conta não apenas as parcelas vincendas, mas, também, as parcelas vencidas é todos os demais aspectos mencionados nos arts. 259 é 260 do CPC.” (ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES, 2009, p. 198) 29 Vide artigos 258 a 261 do Código de Processo Civil. 30 Enunciados 17 e 20 do FONAJEF, respectivamente. in www.ajufe.org.br em 18/03/2012 as 14:05.

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supere ao de alçada – imposto pelo art. 3º, caput da lei dos juizados especiais

federais – desde que este excesso seja referente a prestações vencidas.

Assim, somente estará afastada a competência do juizado especial

federal, caso o valor das prestações vencidas não ultrapasse o limite legal,

mas haja prestações vincendas que façam com que a demanda atinja valor

superior ao de alçada.

Outra hipótese que gerou discussão na doutrina e na jurisprudência

refere-se a competência dos juizados especiais federais para a execução dos

seus julgados, quando o título executivo ostentar valor superior ao de alçada,

em decorrência de encargos inerentes à condenação.

Conforme anteriormente salientado, o valor da demanda deve ser

aferido na data da propositura da ação, não abarcando os acessórios e

consectários da obrigação reconhecida pelo título executivo judicial. Além

disso, segundo lição de Carreira Alvim, a renúncia do autor quanto ao

excedente do valor de alçada, para que a demanda seja proposta perante o

juizado especial federal “só atinge as prestações vencidas, por não ter

cabimento a renúncia de prestações vincendas, referentes ao credito futuro.” 31

Logo, o fato de a execução ter valor superior ao de alçada não alterará

a competência para a execução dos juizados especiais federais e nem

implicará a renúncia a percepção dos juros, correção monetária e ônus da

sucumbência.

Nesse sentido o voto proferido pela Min. Maria Isabel Gallotti, quando

do julgamento do Recurso em Mandado de Segurança 33.155, cujo voto assim

consignou, in verbis:

31 ALVIM, J.E. Carreira e ALVIM, Luciana Gontijo Carreira. Comentarios a Lei dos Juizados Especiais Federais Civeis, 2006, Curitiba: Ed. Jurua. 2ª Edicao, pagina 39.

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“Fixado o valor da pretensão do autor quando do

ajuizamento da inicial, renunciando ele, por imposição

legal (art. 3º, § 3º), ao valor que exceder a alçada dos

Juizados, não se põe em dúvida a competência do

Juizado para a execução da sentença, mesmo que

ultrapassado este valor por contingências inerentes ao

decurso do tempo, como correção monetária e juros de

mora, os quais incidem sobre aquela base de cálculo

situada no limite da alçada, além dos honorários de

advogado, encargo este que também encontra

parâmetros definidos em lei (CPC, art. 20).” (STJ, Registro

2010/0189145-8, 4ª Turma, Julgamento 28/06/2011, Dje

29/08/2011, pagina 02 in www.stj.jus.br em 18/03/2012 às

17:00).

No entanto, quando da análise da jurisprudência atual, verifica-se que

nova dúvida, quanto a competência absoluta dos juizados especiais federais,

vem surgindo nas causas que versam sobre prestações de trato sucessivo,

bem como naquelas que versam sobre dano moral, nas quais o magistrado

não está vinculado ao valor indicado pela parte como correspondente ao dano

sofrido.

Observa-se que, nestas hipóteses, as partes têm optado por propor a

demanda perante vara federal, não obstante naquele momento o valor da

causa seja inferior à 60 salários mínimos, a fim de fazer jus ao montante total

da condenação32.

32 Vide: TRF2, AG 184252, Processo nº 2009.02.01.019022-2, Rel. Des. Fed. Carmen Silva Lima de Arruda, 6ª Turma Especializada, E-DJF2R 27/09/2010, página 259/260.

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No entanto, os magistrados com jurisdição nestas varas, têm

declinado ex officio de sua competência, com fulcro no art. 3º, §3º da Lei nº

10.259/0133.

Este declínio da competência pode causar à parte lesão grave e de

difícil reparação, posto que lhe impõe a renúncia ao montante que excede o

valor de alçada dos juizados.

3.2 – Da Necessidade de Intimação da Parte para Adequar o

Valor da Causa

Não obstante a oportunidade de emenda à inicial somente seja

legalmente obrigatória nas hipóteses de indeferimento da inicial com a

consequente extinção do processo, nos termos do art. 284 do Código de

Processo Civil, nas hipóteses em que a remessa dos autos a outro juízo possa

causar prejuízo à parte, deve lhe ser dada oportunidade para se pronunciar

sobre a matéria.

Neste sentido a lição de Humberto Theodoro Jr., que defende que

verificando o magistrado que a petição inicial apresenta lacunas, imperfeições

ou omissões, ao invés de indeferi-la de plano, deve o juízo determinar que o

autor a emende, ou complete, na forma do art. 284 do Código de Processo

Civil.34

Dessa forma, somente será legítima a retificação de ofício do valor da

causa, com a consequente remessa do feito para o juizado especial federal,

quando o autor não cumprir a determinação judicial para corrigir o valor da

causa ou não justificar a propositura perante a vara federal.

33 Vide: TRF2, CC 10185, Processo nº 2011.02.01.000852-9, Rel. Des. Fed. Liliane Roriz, 2ª Turma Especializada, E-DJF2R 11/03/2011. in www.trf2.jus.br em 20/03/2012 às 11:40. 34 THEODORO JR., Humberto. Curso de Dirito Processual Civil, Vol 01 – 47ª Edição, 2007: Editora Forense, página 400 e seguintes.

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Conforme previsão expressa da Lei nº 10.259/01, as causas cujo valor,

no momento da propositura da ação, for inferior à 60 salários mínimos, devem

ser processadas e julgadas pelos juizados especiais federais.

“O Código de Processo Civil é claro e conclusivo ao

estabelecer, como regra geral, nos artigos 111 e 102, que

a competência em razão do valor e do território são

derrogáveis (incompetência relativa) e, a contrario sensu,

que as fixadas pelo critério da matéria, da função e da

qualidade das partes são inderrogáveis (incompetência

absoluta). Contudo, a regra geral pode ser excepcionada

diante de norma especial que, naturalmente, prevalecerá.

Nesse passo, o legislador estabeleceu, no §3º do artigo

3º da Lei nº 10.259/2001, a competência absoluta ou

inderrogável dos Juizados Especiais Federais.

No mesmo sentido, o artigo 14 da Resolução nº 30/2001,

da Presidência desta Eg. Corte, prescreve:

'Art. 14. No foro onde estiver instalado Juizado

Especial, sua competência é absoluta'”.(Trecho

do voto proferido pelo JF Conv. Aluisio Gonçalves

de Castro Mendes no julgamento do AG

196508)35

Indubitável é que incumbe à parte autora, quando da propositura da

ação, fixar valor da causa compatível com o conteúdo econômico que deseja

obter, sendo-lhe facultado, conforme anteriormente explicitado, renunciar a

parcela do crédito que eventualmente exceder ao limite previsto na Lei nº

10.259/01, a fim de demandar no juizado especial federal.

35 Vide: TRF2, Ag 196508, Processo nº 2011.02.01.001752-0, Rel. JF Conv. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, 1ª Turma Especializada, E-DJF2R 08/04/2011, página 152/153.

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Contudo, quando, não obstante o valor da causa – segundo os

critérios dos arts. 258 a 261 do CPC – no momento da propositura esteja

dentro dos limites do valor de alçada, mas pela morosidade processual, seja

possível afirmar que ao final do processo, o valor da pretensão será superior a

60 salários-mínimos e não se possa depreender das razões apresentadas na

petição inicial que é intenção da parte proceder a renúncia, deve o magistrado

intimar a parte para que se manifeste sobre a matéria antes de decidir pela

remessa dos autos ao juizado especial federal.

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

VALOR DA CAUSA. JUIZADO ESPECIAL FEDERAL.

JUÍZO FEDERAL DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA.

EMENDA DA INICIAL. ADEQUAÇÃO DO VALOR. I. A

competência dos Juizados Especiais Federais Cíveis é

absoluta e fixada em função do valor da causa,

consoante disposto no art. 3º, e seu § 3º, da Lei n.

10.259/2001. II. No entanto, deve-se observar que, não

estando o valor da causa de acordo com os critérios da

lei, o Juiz Federal, ao despachar a inicial, não deve

desde logo declinar da competência para o Juizado

Especial, mas, sim, determinar emenda da petição, sob

pena de indeferimento (art. 267, I, do CPC c/c art. 295,

VI, do CPC). III. No presente caso trazido à colação, o

MM. Juízo de 1º grau, determinou a remessa dos autos

ao Juízo Especial, sem antes intimar o Agravante para

que o mesmo procedesse à emenda à inicial, com a

alteração do valor dado a causa. IV. Agravo de

Instrumento provido, para determinar o retorno dos autos

do processo para a vara de origem, a fim de que seja

procedida à intimação da Parte Autora, a fim de emendar

a petição inicial, atribuindo à causa valor compatível com

a pretensão deduzida em Juízo.” (TRF2, AG 188659,

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50

Processo nº 2010.02.01.006662-8, Rel. Des. Fed. Reis

Friede, 7ª Turma Especializada, E-DJF2R 06/09/2010,

página 183 e 184).

Isto porque, permitir que o magistrado, de ofício, reduza o valor

atribuído à causa obrigará a autora a renunciar os valores excedentes ao limite

da competência dos Juizados Especiais Federais, impedindo que o

demandante usufrua em sua totalidade das repercussões financeiras do

julgado.

O mesmo procedimento deve ser observado quando a pretensão não

puder ser valorada com exatidão no momento do ajuizamento da ação, como

por exemplo nas ações indenizatórias por dano moral.

Nestas, a parte autora ao formular sua demanda aponta legitimamente

a reparação pecuniária que entenda devida por todo o constrangimento e

sofrimento experimentados em razão da alegada conduta ilegal da ré.

Assim é que ao alterar o valor da causa na hipótese vertente, o juízo

da vara federal estará procedendo à verdadeira antecipação de seu

entendimento sob o mérito da lide sem, contudo, empreender qualquer

instrução probatória e garantir o efetivo contraditório. Logo, a decisão

declinatória de competência nestas hipóteses acaba por assinalar de pronto o

eventual valor indenizatório devido ao demandante.

Neste sentido o voto proferido pelo Des. Fed. Poul Erik Dyrlund

quando do julgamento do Conflito de Competência nº 2003.02.01.0006433, in

verbis:

“PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA.

VARA FEDERAL E JUIZADO ESPECIAL FEDERAL.

VALOR DA CAUSA. INFERIOR A 60 SALÁRIOS

MÍNIMOS. LEI Nº 10.259/01. PRINCÍPIO DA

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INAFASTABILIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL. 1. O

artigo 3º da Lei nº 10.259/01 determina que: “Art. 3º.

Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar,

conciliar e julgar causas de competência da Justiça

Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem

como executar as suas sentenças”. 2. Noutro giro, o

artigo 17, parágrafo 4o , norma de caráter heterotópico

(TRF 4a Região, 5a Turma, AI nº 2002.04.01.031578-

8/SC, julg. 13/02/03, ITRF 4a R/nº 145), estabelece:“§4o

Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido no

§1o, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do

precatório, sendo facultado à parte exeqüente a renúncia

ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo

pagamento do saldo sem o precatório, da forma lá

prevista.”. 3. Da conjugação destes preceptivos legais,

infere-se, a uma, que, eventual renúncia deve ser

expressa, e não tácita, por se tratar de tema

envolvendo disponibilidade patrimonial, o que não se

presume; a duas, que a competência absoluta (§3º,

art. 3º Lei 10.259/01) foi instituída em favor do

interessado, e não como forma de prejudicar os seus

direitos, pelo que cabe a este optar pelo Juízo mais

conveniente, sendo interditado à parte ré, este o sentido

da norma, obstar a referida opção, possuindo aquele o

caráter concorrente, nestes termos, e não excludente; e,

por derradeiro, que exegêse diversa da exposta,

implicaria em vulnerar o princípio da inafastabilidade

da tutela jurisdicional, bem como o acesso efetivo à

mesma, o que conduz ao reconhecimento da

competência do Juízo Federal da 16a Vara da Seção

Judiciária do Rio de Janeiro.”(TRF2, CC

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200302010006433, Rel. Des. Federal Poul Erik Dyrlund,

8ª Turma Especializada, DJ 13.04.2005, p. 185 – grifos

nossos)

Dessa forma, a intimação da parte para se manifestar sobre o valor da

causa é medida recomendada.

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CONCLUSÃO

Os juizados especiais foram criados com a finalidade de assegurar à

população uma tutela jurisdicional efetiva e célere, tendo suas regras de

competência sido instituídas em favor do interessado e não como forma de

prejudicar os seus direitos.

Dessa forma, sempre que o processo e julgamento pelo rito dos

juizados especiais federais ensejar qualquer prejuízo à parte, deve ela ser

intimada a se manifestar nos autos do processo.

A obrigatoriedade de intimação da partes é reforçada pelos princípios

norteadores do Processo Civil atual, especialmente, o princípio do

contraditório, da boa-fé processual e da cooperação.

Pelo princípio da cooperação, o juiz não pode decidir com base em

questão a respeito da qual as partes não puderam se manifestar e, por

conseguinte, não tiveram a oportunidade de influenciar na decisão proferida,

apresentando argumentos em sentido contraditório, que demonstrariam o

equívoco da solução adotada.

Além disso, a atuação do magistrado deve ser no sentido de garantir a

participação equânime, justa e leal das partes no processo, a fim de assegurar

seja alcançado o melhor resultado possível.

Logo, não basta que o processo esteja em conformidade com as

normas legais, é preciso que o próprio processo seja adequado a tutelar os

direitos das partes.

A definição do valor da causa, nas causa de competência da justiça

federal, tem nuances de extrema importância pois, além de corresponder - ou

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ao menos aproximar-se – do real proveito econômico pretendido pela parte

autora, é critério fixador da competência do juízo.

Quando a pretensão econômica estiver no limite da norma legal, cabe

à parte optar pelo juízo mais conveniente entre aquele em que receberá o valor

integral – tendo, contudo, que se submeter a rito com maiores formalidade e,

por conseguinte, mais demorado – ou aquele em que receberá apenas o limite,

renunciando expressamente ao excedente, porém com celeridade.

Além disso, eventual renúncia a valores que excedem os 60 salários-

mínimos previstos no art. 3º da Lei nº 10.259/01, por se tratar de direito

patrimonial disponível, deve ser expresso e não tácito, razão pela qual

impossível presumir que a parte renunciou a tais valores.

Dessa forma, inexistindo a demonstração de violação a critério legal ou

incongruência fática no valor indicado na petição inicial para a causa, deve

prevalecer o valor atribuído pelo autor, sendo defeso ao magistrado declinar de

ofício de sua competência para o juizado especial federal.

A prolação de decisão declinatória da competência, nas causas cuja

pretensão econômica estiver no limite do valor previsto no artigo 3º, §3º da Lei

nº 10259/2001, é medida equivocada.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 - ALVIM, JOSÉ EDUARDO CARREIRA; CABRAL, LUCIANA G. CARREIRA

ALVIM. Comentários à lei dos juizados especiais federais cíveis: (Lei 10.259/01

adaptada à Lei 9.099/95). 2ª Edição, rev. e atual. Curitiba: Juruá, 2006.

2 - DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 13ª Edição, cidade:

Ed. Jus Podium. 2011.

3 - Enunciados do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais/

FONAJEF, disponível em <www.ajufe.org.br>

4 - FRIGINI, Ronaldo. Comentários à lei dos juizados especiais cíveis. 3ª

Edição Leme, SP: J. H. Mizuno, 2007.

5 - FUX, Luiz. A ideologia dos juizados especiais. Revista de processo, vol. 22,

n. 86, p. 204-214, abr./jun. 1997.

6 – Jurisprudência. Disponível em: <http://www.jf.jus.br/juris/unificada>.

7 - MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo. 5ª Edição, cidade:

Revista dos Tribunais. 2011.

8 - MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Competência cível da justiça

federal. 2ª Edição, rev., atual. e ampl. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais,

2006.

9 - MONTESQUIEU, Charles de. O espírito das leis (tradução de Cristina

Murachco), 1ª Edição, São Paulo: Martins Fontes,1993.

10 - THEODORO JR., Humberto. Curso de Dirito Processual Civil, Vol 01 – 47ª

Edição, Editora Forense: 2007.

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11 - WATANABE, Kazuo. Juizado especial de pequenas causas: filosofia e

características básicas. In: Revista dos Tribunais, v. 600, pp. 273-277, out.

1985.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

DEDICATÓRIA 03

RESUMO 04

METODOLOGIA 05

SUMÁRIO 06

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I - A COMPETÊNCIA NO PROCESSO CIVIL

13

1.1 – Considerações Gerais 13

1.2 – Princípios da Competência 15

1.2.1 – Princípio da Tipicidade da Competência 15

1.2.2 – Princípio da Indisponibilidade da Competência 17

1.3 – Kompetnz Kompetenz 18

1.4 – Classificação da Competência 19

1.4.1 – Competência Originária e Competência Derivada/ Recursal 19

1.4.2 – Competência Absoluta e Competência Relativa 19

1.5 – Distribuição da Competência 21

1.6 – Critérios para Determinação da Competência 23

1.6.1 – Critérios Objetivos 23

1.6.1.1 – Em Razão da Pessoa 24

1.6.1.2 – Em Razão da Matéria 25

1.6.1.3 – Em Razão do Valor da Causa 26

1.6.2 – Critério Funcional 27

1.6.2.1 – Quanto às Fases do Procedimento 28

1.6.2.2 – Por Grau de Jurisdição 28

1.6.2.3 – Pelo Objeto do Juízo 29

1.6.3 – Critério Territorial 29

1.7 – Concretização da Jurisdição 29

1.8 – Conflito de Competência 32

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CAPÍTULO II - O CONTRADITÓRIO NO PROCESSO CIVIL ATUAL

34

2.1 – Princípio do Contraditório 34

2.2 – Princípio da Boa-Fé Processual 35

2.3 – Princípio da Cooperação 38

CAPÍTULO III – O DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA NAS CAUSAS COM

VALOR INFERIOR À 60 SALÁRIOS MÍNIMOS

40

3.1 – Competência Cível do Juizado Especial Federal 40

3.2 – Necessidade de Intimação da Parte para Adequar o Valor da Causa 46

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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ÍNDICE 56

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: O DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA NAS CAUSAS DE

VALOR INFERIOR A 60 SALÁRIOS-MÍNIMOS

Autora: Claudia Nascimento de Amaral

Data da entrega: 22/03/2012

Avaliada por: José Roberto Conceito: